Editorial
Receita de Bolo de Luz
Ingredientes
Como qualquer pessoa que notar, dificilmente as medidas exatas da receita
estão disponíveis, assim meu medidor foi a experiência, através de erros e
acertos. Quero deixar claro que esta não é uma receita definitiva e que é aberta
a modificações de acordo com a inspiração de cada um.
"Para perfume misture farinha & mel & grossas sobras de vinho tinto: então óleo
de Abramelin e óleo de oliva, e depois, amolece & amacia com rico sangue
fresco" - Liber AL vel Legis III:23
Farinha: Crowley esclareceu mais tarde que trata-se de simples farinha de trigo.
Grossas sobras de vinho tinto: Esta parte confunde a muitos iniciados que não
tem experiência com culinária e se atentam apenas à estética do ritual de
preparação e não à sua praticidade. Algumas espécies de vinho, como o Vinho do
Porto, particularmente o Português, possuem sedimento que se deposita no
fundo da garrafa, quanto mais velho o vinho maior a quantidade de sedimentos.
Mas o que são esses sedimentos? Durante o processo de fermentação do vinho,
as sobras se acumulam no fundo dos barris, que contém sais que acabam
formando um creme tártaro. No Brasil esse creme tártaro não é muito conhecido,
mas temos um substituto para ele, bicarbonato de sódio. O objetivo do
desperdício de vinho na receita é tal e qual o de um fermento, serve para tornar
a massa leve e "aerada". Assim caso uma boa quantidade de desperdício de
vinho não for conseguido uma boa substituição é uma colher de bicarbonato
junto com um xarope de vinho, que pode ser conseguindo ao se aquecer 300ml
de vinho do porto em fogo baixo, mexendo sempre para que o excesso de álcool
e de água evapore, deixando apenas um xarope grosso do vinho.
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"O melhor sangue é o da lua, mensal: então o sangue fresco de uma criança, ou
pingando da hóstia do céu: então de inimigos; então de um sacerdote ou dos
adoradores: por fim de alguma besta, não importa qual." - Liber AL vel Legis III :
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Modo de Preparo
Por mais sobrenatural que possa parecer, você não deve nunca se esquecer que
um bolo de luz não passa de um bolo, sua preparação é tão fácil quanto qualquer
outro. O ideal é que se separe os ingredientes nas proporções abaixo descritas.
Mas antes o próprio cozinheiro pode ser preparado. Faz-se isso com uma receita
que podemos encontrar na Evocação de Bartzebal, o Espírito de Marte, descrita
por Crowley em seu diário Magick of Light. O magista deve se preparar um jarro
com
- 250ml de champagne;
- 250 ml de perrier;
- 125 ml de conhaque;
- 1 pêssego
- 6 cerejas marasquino.
Misture tudo e sirva em um copo com gelo até a boca, só comece a preparar o
bolo depois do segundo copo.
1- Antes de beber sua primeira taça, ligue o forno a 180 graus e deixe pré-
aquecer pelo tempo que levar para tomas os dois copos da bebida, ou por 15
minutos.
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3- Bata tudo até ter uma massa homogênea, se usar batedeira usa velocidade
baixa.
4- Beba mais uma taça da bebida de Evocação de Bartzebal enquanto bate tudo.
Com isso feito, separe uma xícara de xarope de vinho tinto para o recheio,
acrescente uma colher de café de sangue menstrual e misture bem.
Finalizando:
Pegue os bolinhos e com a ajuda de uma seringa ou do apetrecho de confeitaria
correspondente, injete xarope de vinho tinto misturado com o sangue. Então
pegue a cobertura e decore a parte de cima do bolinho, pode usar um apetrecho
de confeitaria, ou simplesmente o modele com uma faca. Você pode ir mais
longe, como o próprio Crowley faria (Exceda! Exceda!) e decorar com alguns
confeitos de estrelas, para nos lembrarmos que cada homem e cada mulher é de
fato uma estrela. Lembre-se que se assar fosse algo fácil para todos, não
existiriam padarias hoje, o ideal é sempre tentar e aprender com os erros. Se a
massa não crescer, deixe descansar ou aumente um pouco a quantidade de
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Índice
Astrum Argentum: Ordem que Exalta a Busca
pelo Sagrado Feminino, Com Carência de Mulheres ………..… 07
Nuit …………………………………………………………………………………….. 26
Kokab ……………………………………………………….. 27
Desvairo ………………………………………………………… 61
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Astrum Argentum:
Ordem que Exalta a Busca pelo Sagrado Feminino,
Com Carência de Mulheres
ΚΕΦΑΛΗ Γ
A OSTRA
Os Irmãos da Α∴Α∴são um com a Mãe da Criança.
Os Muitos são adoráveis ao Um, como o Um o é para os Muitos.
Este é o Amor Destes; criação-parto é a Glória do Um; coito-dissolução é a Glória de
Muitos.
O Todo, assim combinado com Estes, é Glória.
Nada está além da Glória.
O Homem delicia-se ao unir-se com a Mulher; a Mulher em parir uma Criança.
Os Irmãos da Α∴Α∴ são Mulheres: os Aspirantes à Α∴Α∴ são Homens.
Liber CCCXXXIII (Livro das Mentiras)
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Não me sentia uma esotérica louca ali - sempre me atrai por assuntos de
ocultismo mas demorei a cair no certo, nunca me senti a vontade com Wicca e
etc... não teria ninguém me ditando regras e havia uma atração pela força de
querer buscar a si e viver genuinamente.”*
“Não, pois não me considero thelemita. Sou apenas uma pessoa que
estuda Thelema. Não conheci quem realmente seguisse a Thelema, vejo apenas
thelemitas que vivem um extremo caos mental, onde todos pensam ser dono da
real solução. Engolidos pelo próprio ego, se acham herdeiros de uma doutrina
que nem eles mesmo seguem. Apenas status, apenas o sentido de escrever
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longos textos de palavras bonitas que nem mesmo eles entendem, apenas o ego
de ser parte de um grupo fechado, uma tribo, onde um aplaude o outro
(enxergando apenas seu próprio ego).”*
“Se grupos forem entendidos somente os de redes sociais, sim. Acho que
esses ambientes online são bem hostis com mulheres. Já puxei algumas
discussões dentro da comunidade do Thelema BR e a resposta é sempre bem
complicada. Fui chamada de Thelemita Herege, já foi xingada, já fui
questionada… mas enfim… apesar de ver essa hostilidade, não me sinto afetada
porque nas comunidades “offline”, nas comunidades presenciais, encontrei
bastante respeito e apoio.”*
“Não encontrei resistência. Mas já fui refutada e nesse caso, foi por alguém
que contribuiu para meu aprendizado. Se todas as conversas fossem assim... Na
maioria das vezes que observo o grupo, vejo pessoas se chamando de thelemitas
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“Eu não vejo porque simplesmente não participo, mas não me parece nada
confortável entrar lá e debater as coisas... tudo é motivo de piada e deboche.”
Para fechar a entrevista, foi feita a pergunta que não podia faltar: “A
maioria dos Aspirantes a Thelema são homens, você já parou para refletir sobre
isso? Alguma sugestão?”
“Uma vez eu estava conversando com uma garota e ela disse: “Você é tão
legal, não entendo o motivo de você ser thelemita.”. Eu acho mais interessante
pensar nas mulheres do que no excesso de homens no meio. Por que uma
mulher se interessaria por Thelema? Na época que fazia algumas postagens
sobre feminismo libertário em um grupo de Thelema no Facebook recebi uma
mensagem no privado de um artigo falando que Crowley era misógino. A única
coisa que eu conseguia pensar é: “Crowley está morto.” Acredito que temos que
estar preparados para o agora, temos mulheres incríveis que fizeram parte da
história de Thelema, não me considero “Crowleyista”(alguém que segue o que
Crowley com unhas e dentes), mas reconheço que ele teve muitos erros e que
talvez ele tenha reconhecido com o passar dos anos, ou não. Isso realmente não
me importa. Talvez o nosso papel seja divulgar novamente sobre essas mulheres
e fazer a nossa parte. Acho que ser mulher thelemita é um papel relevante
principalmente quando se tem uma percepção distorcida sobre magia sexual
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pelos homens. Como mulher que parece ter um papel secundário na magia, hoje
é considerada a protagonista da história.”*
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Ser mulher, desde que o mundo é mundo (talvez no Eon de Ísis fosse um
pouco diferente) nunca foi fácil. Já vem de nossas ancestrais sermos criadas para
permanecermos na sombra do homem, e isso infelizmente já se tornou parte do
nosso DNA. Por milagre, diversas Super Mulheres foram nascendo com esse DNA
modificado e semeando através dos séculos uma nova consciência do Valor
Feminino, que aos poucos vem sendo cultivada, ganhando mais força e sendo
colhida nessas ultimas gerações.
No início do século XX, Thelema surgia como uma das filosofias que
reconhecia o Poder Feminino como indispensável ferramenta de trabalho, onde o
Sagrado Feminino se tornava uma das principais buscas do Aspirante a Thelema
durante todo o seu processo iniciático. Lamentavelmente, existe por parte de
muitos a má compreensão da busca por esse Sagrado, convertendo-o na procura
por uma entidade e não por uma essência, o que acaba por influenciar um olhar
equivocado no papel do feminino dentro da filosofia.
Temas como Magia Sexual, por exemplo, muitas vezes tratados de maneira
errônea no meio thelêmico, estão se tornando banalizados por aqueles que se
julgam thelemitas sem serem. É importante destacar, que falar em sexo no
universo feminino ainda gera desconforto para muitas mulheres em pleno século
XXI. Assim, como o machismo, a banalização e a falta de esclarecimento de
assuntos ditos polêmicos, contribuem e muito para afugentar o público feminino.
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4. Todo homem deve superar seus próprios obstáculos, expor suas próprias ilusões.
Outros, porém, podem ajudá-lo a fazer essas duas coisas, e podem capacitá-lo a evitar
muitos dos falsos caminhos, que não levam a lugar nenhum, que tentam os pés
cansados do peregrino não iniciado. Eles podem ainda assegurar que ele seja
devidamente provado e testado, pois há muitos que se consideram Mestres que nem
sequer começaram a trilhar o Caminho de Serviço que conduz até lá.
Liber LXI
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treino e se afasta, o afastar faz parte do treino, o abandono não. Ele pode propor
trabalhos extras isso faz parte do treino, o confronto faz parte do treino, o
bullying não, o assédio nunca, a violência jamais. Crowley se referia ao trabalho
do instrutor como “O parceiro de treino (sparring) do seu instruído.” Muitas vezes
isso vai de encontro a nossas capacidades e nossas angústias, assim, somos
contra todo e qualquer sectarismo, ou legalidade ou até mesmo arroubos de
legitimidade, o trabalho é interno e os meios pelo qual todos trabalham está
bastante delineado, mas não há receitas ou mapas e muito menos os pulos de
gato, todo o trabalho começa de fato no ego, e como costumo brincar nosso ego
é o maior carnavalesco de todos, ele adora máscaras e fantasias, então como ele
é capaz de se fantasiar de muitas coisas não se assuste quando ele vestir a
fantasia de SAG, com certeza seria destaque na escola de samba Mangueira.
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Então numa instrução da Santa Ordem não existem Mestres, o instrutor não
é mestre, ele não busca o mestrado, todos devem chegar a Maestria. “pode um
Deus viver como um cão?” ( Is a God to live in a dog? AL II:19) sendo mais
sincero “Pode um Deus viver em um não deus? Em seu Pequenos Ensaios em
Direção à Verdade temos na seção Maestria “O Aeon de Hórus chegou; e sua
primeira flor pode bem ser esta: que, livres da obsessão do fim do Ego na Morte,
e da limitação da Mente pela Razão, os melhores homens uma vez mais
ingressarão de olhos abertos no Caminho dos Sábios, o trilho montanhês do
bode, que leva às Encostas virgens, e daí aos píncaros gelados rebrilhantes da
cordilheira da M A E S T R I A !” e seguindo no verso seguinte do Liber Al temos o
verso arrebatador verdadeiro mantra curativo das enfermidades do ego “Beleza e
vigor, riso exaltado e delicioso langor, força e fogo, são de nós”
“Meus adeptos se mantêm em pé, sua cabeça acima dos céus, seus pés abaixo
dos infernos” Liber Tzaddi
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hoor@abadiadethelema.com
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A coisa mais importante agora é saber a qual prática você quer se dedicar.
Ela pode ser parte do currículo de uma ordem como a Santa Fraternidade A.’.A.’.,
um desejo pessoal de exploração ou mesmo uma curiosidade. Independente de
qual seja a sua prática e a sua motivação, se será asana e pranayama ou
anotações no diário, ela está sujeita à procrastinação. E a primeira arma contra a
frustração de não realizar uma tarefa é entendê-la bem e saber sua real
motivação para depois entender quais são os obstáculos possíveis, mitigá-los e
caminhar feliz na Senda Magicka. Você está fazendo esta prática porque
quer que seu instrutor fique orgulhoso, para postar no grupo de facebook A.’.A.’.
Brasil ou por real Aspiração? É por algum motivo mensurável/comunicável?
Algum motivo de saúde? Juramento da Santa Ordem? Escreva todos os seus
insights sobre suas motivações. Seja convincente.
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Ter uma visão macro da prática, como seu objetivo “supremo” (por
exemplo, o controle físico e mental com Asana) é muito útil para manter a
motivação acesa. Essa motivação macro, multifatorial, mantém a vontade de
praticar muito mais do que apenas se oferecer recompensas para cada passo
dado. Esse grande objetivo, motivador, deve ser dividido em pequenas metas,
tão pequenas que correspondam ao mínimo necessário para fazer o hábito
evoluir: se a meta da minha asana é 15 minutos, que eu aumente diariamente
apenas alguns segundos. Se a meta é escrever no meu diário, o mínimo que eu
posso fazer é escrever uma ou duas palavras. E aumentar a meta
paulatinamente: 5 segundos por dia; 1 palavra a mais por dia; um verso a mais,
no caso de memorização de Libri sagrados. Escreva, na sua folha, qual a
quantidade mínima que você pode aumentar na sua prática para que ela seja
muito fácil. Se é o Ritual Maior do Hexagrama, dívida ele em pequenas partes e
vá acrescentando diariamente.
Não espere que a força de vontade seja igual se você pratica uma jogada
de Tarot no dia ou se você prática 10 rituais e 50 adorações no dia seguinte. A
força de vontade é como o bíceps que você treina ali na academia da esquina (e
se não o faz, deveria, porque o corpo adora um exercício!): se você o usa demais,
maiores as chances de se cansar. Se você quer criar músculos tendo o mínimo de
esforço, o ideal é treinar pouco, num local que faça parte de sua rotina, em doses
paulatinas. O mesmo para a prática: comece com uma quantidade pequena que
não precise de tanta motivação; que seja impossível de se negar. Se quer fazer
50 flexões por dia, comece com uma única ou cinco. E nem preciso comentar da
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coisas. E quando estiver com a prática sendo uma parte de sua rotina, você pode
variá-la e mudar parâmetros para novas explorações, tornando-se a
experimentação mais interessante e diversificada. Quando estiver a fim, escreva
muito. Quando estiver mais ou menos, escreva o necessário. Se inspirado,
desenhe. Se menos inspirado, talvez apenas um rascunho. Mas escreva.
Referências
BOICE, R. Professors as writers: a self-help guide to productive writing. Stillwater,
New Forum Press (1989).
BOICE, R. Procrastination, busyness and bingeing. California State University,
Long Beach (1989).
SCHOUWENBURG, H. Procrastinators and fear of failure: an exploration of reasons
for procrastination. European Journal of Personality, Vol. 6,225-236 (1992).
KOSTRITSKAYA, S.; SHVETS, E. Attaining ‘excellent learner’ habits in the esp
course. National Mining University, Dnepropetrovsk (1998).
Frater Amaranthus
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Nuit
Créditos: https://www.instagram.com/liantony_lopes/
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Kokab (2018)
Se chove esquenta
Se nubla esfria
Ta frio e ta quente
Não se apoquente
Tudo mudará
Esplendorosamente.
Nessa estável ignorância
Te excita ou repulsa
Te pulsa ou paralisa
Não se ruboriza
A natureza é amoral
Inútil ou Prático.
Dinâmico ou extático
É Tahuti, e, é Leghba
Tudo junto e misturado
Com Mercvrio amalgamado.
H418
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Longe de mim ignorar que uma pessoa iniciante dá de cara com uma
profusão de títulos, nomes, rótulos, gurus e fica perdida, mas nesse caso a
própria comunidade pode apresentar uma lista de títulos ou etapas gerais para
se passar aprendendo determinado tema.
Também vamos ignorar só por hoje, que existem pessoas que não importa
o quão mastigado você apresente algo, elas ainda ficarão no mesmo lugar.
Essa cena ilustra bem a busca inicial por uma ordem magicka, influenciada
pelo fantasma do aprendizado estruturado (e as vezes da escassez de opções).
Mais ou menos como alguém querer aprender a tocar um instrumento e pra isso
entrar numa banda. Aprender a ser proeficiente nele vai ser uma consequência
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Assumo aqui minha hipocrisia, como uma pessoa que não tinha muita ideia
de como era a A ∴A ∴ quando assinou o juramento e que hoje a A ∴A ∴ é o ponto
central e condutor da vida. Mas também escrevo isso tendo me dedicado por dois
anos em um trabalho coletivo, para finalmente perceber que eu simplesmente
não curtia aquilo ali, estava lá pelas pessoas, pela prática, para ajudar, pelo
prestigio, mas não para o que a ordem se propunha mesmo.
E como escolher a ordem perfeita pra mim então? Ou sugerir pros outros?
De posse da chave mística de que “aprender” como entendemos formalmente é
um trabalho transversal das ordens, o segredo é fazer escolhas ruins, mas não
muito ruins.
Evite entrar coisas que pedem grandes somas de dinheiro para iniciar, ou
que se propõe como substitutos a tratamento médico. Corra de lugares que
desaconselhem você a ler o que você quiser, seja dizendo que é “do mal” seja
dizendo que vai “te atrasar”. Questione por que o espaço não tem mulheres,
negros, lgbts etc.
Leve em consideração não só o que você ouviu mas como cada situação se
desenrolou. Instituições são compostas de pessoas, e pessoas vacilam, cometem
decisões erradas, o grande mérito dos grupos sérios é a resposta olhando no olho
e dizendo “é, houve isso, não foi legal, hoje não é mais assim”.
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Este comichão não tem nome, mas nos abate quando temos algum tempo de
ordem, nos estabilizamos ali com aquele fluxo, já percebemos que certas dores
de cabeça são cíclicas ou que certos procedimentos são engessados, às vezes
queremos muito mais magia cerimonial e muito menos meditação, ou queremos
muito mais meditação e muito menos magia cerimonial. Depois de meditarmos
sinceramente se a predominância desse desconforto vem de dentro de você ou
do lugar que está, dizemos para nós mesmos: “Deve ter algo melhor!” “Eu
mereço algo melhor!”. Se imagina que agora com bagagem, um verdadeiro
iniciado e com conhecimento, se está pronto para embarcar na odisseia para
encontrar a ordem magicka perfeita.
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Onde está a ordem magicka que mais combina comigo? Aquela que
mistura cabala com rosacrucianismo, Thelema, mas que também ensina sobre
chackras e tem lá uma instrução secreta sobre magia sexual, sem torcer o nariz
para a integração do atabaque nos rituais.
HIPÓTESE DO ZOOLÓGICO:
Segundo John Ball, não haveria evidências de vida extraterreste por que ela
evoluiu bilhões de anos antes de nós, dominou a galáxia e agora decidiram não
interferir conosco, como fazemos com animais em reservas florestais. Nos
debruçando sobre essa hipótese, talvez essa ordem magica perfeita exista, mas
ela é composta apenas pelos mais altos iniciados que foram criados em famílias
de iniciados por séculos e você nunca será capaz de entrar. Será que esse
prognóstico é plausível?
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Precisamos estar preparados sempre pra hipótese que existir uma ordem ideal e
mesmo ser possível entrar nela, nem sempre é suficiente. O crivo e a busca
razoável tem que passar para além disso e se considerar a melhor hipótese ao
seu alcance e não fantasias exóticas. Para isso, já temos a Atlântida.
Talvez exploração seja apenas uma fase, e que depois alguns milhões de anos,
civilizações deixem de ver valor ou achar interessante explorar.
Essa é talvez uma das hipóteses que mais encaixa com o discurso aqui. Diversas
ordens vem deixando de lado a preocupação em treinar iniciantes ou se
propagandear e passam a investir os caros esforços no desenvolvimento da sua
corrente magicka internamente.
Nesses casos pra resolver basta enfiar a cara na bibliografia sobre os temas que
te apaixonam, se algo existe ativo mas que não se propagandeia, provavelmente
será citada em algum lugar.
Estudiosos alegam que pode existir algo muito especial na terra mas ainda não
percebido ou mesmo histórico que fez ela desenvolver vida inteligente em
detrimento de outros planetas com condições iguais.
É preciso se defrontar com o fantasma que talvez você seja muito bom mesmo e
é isso ai que tá ai. Todo esse papo descontraído misturando ficção cientifica e
magia é muito legal, mas também é um recorte super fechado e academicista, e
que talvez como você leitor, tenha algumas dúzias de pessoas com a mesma
vontade, bagagem, determinação, inteligência etc. E que mais do que pagar de
mestre acensionado, talvez o que falte no seu rolê seja uma pessoa boa como
você, construindo algo para todo mundo e não só para fazer a sua imagem
presente.
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Mas afinal, se a gente não vai lapidar o ego, vai trabalhar o quê pra se iluminar,
né? Quebre a cara sempre, se desencante, saia, envie aquele email mandando
aquelas pessoas tomarem no cu, tire um tempo para esfriar a cabeça e recomece
tudo de novo, mas gerencie seus prejuízos.
A cada desencanto, você vai conhecer mais sobre si mesmo, e se tudo der
certo, vai aprender aquele rolamento esperto pra não se machucar ao cair,
levantar e estar pronto para o próximo ciclo.
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rolar no asfalto
Diante de ti,
(As coisas e vidas passeiam livres pela rede que arremessas cedinho na Praia do
Eterno Amanhecer, e rede que livra é só mais um dos prodígios possíveis que
podem rolar entre as tuas colunas.)
A tua teia:
Se o olho vê cadeia
Na caveira.
E assim de um tapa
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Tu és cheia de graça.
Rafael Medeiros
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Encantaria de Codó, tinta nanquim e aquarela (60 x 40). Ricardo Zolinger Zanin.
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No antigo Egito, os Deuses com cabeça de Chacal (sim, havia mais de um)
estavam principalmente envolvidos na jornada dos que foram para o
além. Anúbis, o mais famoso destes, era o Deus do processo de embalsamento e
tinha o título de "O mais importante dos ocidentais". Sendo o Ocidente a terra
dos falecidos. A principal teoria que podemos encontrar em qualquer livro de
mitologia acerca da ligação entre estes Deuses e a morte é que nos primeiros
enterros na areia do deserto, chacais, animais oportunistas e inteligentes, eram
frequentemente vistos mexendo em sepulturas. Certamente estavam tentando
comer parte da carne disponível. Assim, a presença constante destes animais em
sepulturas teria sido o estopim para a construção destes como símbolos
relacionados aos mortos e ao mundo inferior.
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incomodou. Parecia-me que havia algo a mais nessa dinâmica, algo que
permanecia incompreendido.
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1805/features/6508-egypt-middle-kingdom-tomb-paintings. Acesso em
26/10/2018.
Figura 3: Aqui está o Chacal Egípcio, agora reconhecido como um Lobo por
estudos de DNA. Retirado de:
https://news.mongabay.com/2011/01/egyptian-jackal-is-actually-ancient-wolf/.
Acesso em: 26/10/18
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para ter uma ideia de onde começar, mas aconselho fortemente a não se tornar
um “purista” e fazer tudo conforme dita o livro. Não tema que algo dê errado se
você tentar coisas novas. Na minha experiência, na maioria dos casos tudo ou
corre bem ou, pelo menos, sem grandes questões. Mas mesmo quando algo
indesejável acontece, há maneiras de se lidar com isso. Ter algumas pessoas em
sua linhagem mágica para lhe dar uma mão também pode ser importante, mas
não estritamente necessário ao ponto de desencorajar o praticante solitário.
Alguns podem entender isso como uma maneira muito tola de ver as
coisas, mas eu acredito que faz toda a diferença no relacionamento com a
entidade com a qual você deseja trabalhar. Novamente, a experimentação é o
sucesso. Experimentação, porém não deve desprezar a prudência.
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Um aviso final: é claro que tais experiências não podem ser compreendidas de
forma objetiva. Ou seja, por favor, não podemos acreditar que experiências
mágicas como essas possam fornecer dados fidedignos sobre civilizações
antigas. Magia não é história e nem arqueologia.
Espero que esta breve discussão e mais breve ainda relato tenha sido o
suficiente para despertar no leitor a vontade de realizar ou ainda de explorar
mais a fundo suas próprias experimentações.
• “Topdog” pode ser traduzido como Chefão, mas preferi pelo termo em
Inglês para manter a brincadeira com “dog” que é palavra Inglesa para
cachorro.
Referências:
Hornburg, E. The Ancient Egyptian Books of the Afterlife. 1999. Cornell Univ. Pr.
Frater T.S.Q.V.
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seu encontro com John Lennon quando teve que sair do Brasil em exílio devido à
perseguição que sofreu por causa da música aqui em questão. Um exílio que
acabou por proporcionar o encontro de dois gênios internacionais da música. Raul
nos mostra aqui a universalidade da proposta da “Sociedade” ao dizer que
Lennon tinha a ideia da “New Utopian”, ambas as propostas com muitos pontos
em comum. Em um encontro, segundo Raul, de três dias, falaram dos “...
Malucos Belezas do mundo. Porque Maluco Beleza é um estado de espírito”. Eis
um importante conceito para compreender a obra raulseixista: entender a
liberdade e o aprendizado do uso da Vontade para ser um verdadeiro Maluco
Beleza:
Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real...
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Enquanto isso, em outra de suas composições, “Eu sou egoísta”, Raul não fala da
sociedade, mas sim de como cada um e nós lida com as vicissitudes e lutas ao
longo da existência. Enquanto muitas correntes religiosas falam da aniquilação
do ego e da personalidade, nessa canção ele fala do fortalecimento do homem
usando o ego como ferramenta de crescimento. Algo de importância para
aqueles que trilham o caminho thelêmico, principalmente através da “Astrum
Argentum”, da qual o próprio Raul Seixas, junto com Paulo Coelho, assinou o
juramento de Probacionista no inícios dos anos 70. Parte da letra da música “Eu
sou egoísta” nos remete à alusão feita por Mestre Therion aos caminhos da
Pomba e da Serpente:
Conclusão (possível?)…
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“[There] are the Black Brothers, that cry: I am I, they that deny Love, restricting
it to their own Nature.”
Quando Crowley fala dos “irmãos negros”, ele faz referência aos candidatos
da G.D. ou da A.A. que falharam em cruzar o abismo e, ao invés de estarem
sujeitos à dissolução do self e do apego como um verdadeiro mago, ele se
aprisiona na máscara de seu ego, velado no “Eu sou Eu” em Liber Aleph.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
O que essa tensão e conflito pode revelar é que um Magus pode nascer a
qualquer momento, que a hierarquia é irrelevante, e que isto tem a ver com a
perspectiva necessária para se passar pelo abismo, algo nascido da obtenção da
comunicação com o seu próprio anjo, para ser guiado pelo seu próprio daimon e
que só neste feito o homem e a mulher mortal ganham asas. Isto denota uma
perspectiva saturnina em particular que não pode ser outra coisa senão a
aceitação do sofrimento e uma completa indiferença à hierarquia, à medida em
que a constatação da estrela e da constelação no design cósmico é percebida e
contida como uma dança da verdade mística entre o Self e o devir.
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Katy Frisvold
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União Thelêmica
Não há uma linha escrita por Mestre Therion em que se proíba Aspirantes à
Thelema de se reunirem e isto é até recomendado, pois se isso fosse efetivo,
muita confusão e celeuma teriam sido evitadas.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
“ Eles podem, além disso, assegurar que ele seja devidamente provado e
testado, pois há muitos que pensam que são Mestres, os quais sequer
começaram a trilhar o Caminho do Serviço, que para lá conduz.”
Não há, digo de antemão, crítica a nenhuma ordem coletiva, mas uma
exaltação da instrução individual.
Por outro lado, vejo isso acontecer bem mais nos dias atuais do que na
minha época de juventude Thelêmica nos anos oitenta, isso não é uma
constante, mas os organizadores de eventos como os do CALEN estão de
parabéns pela iniciativa, nós da Abadia ja organizamos palestras e ensejamos a
continuidade.
Como já sou idoso, não verei isso acontecer em meu querido Brasil, mas,
tenho firme convicção de que, se me for dado o privilégio, quero nascer no seio
de uma família de thelemitas em uma próxima vida. Bem, desculpe, é apenas o
sonho de um velho ;-
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
Thelemitas uni-vos
Forte abraço
93.93/93
Q.
qvif@abadiadethelema.com
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
Desvario
Confissão:
Momentos obscuros
Sem pensamento,
Sem emoção.
Reina a confusão:
Cega o cristalino olho
Quebra, como caco, a visão.
A lucidez ausente,
Se clareia, é a outros mundos:
Nada por aqui.
E no caos da grande obra
Manobra de um ser
Que talvez não eu
Tão fora de mim, mas tão meu
Um outro alguém:
Mas no mesmo agora.
Dentro implora
Para sair, para existir.
Ambiguidade que me encanta
E também me apavora:
Quer saber? Fica aí.
Que logo vou-me embora.
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Concomitante a saída desta edição, fomos agraciados com uma notícia fantástica
que saiu uma versão nova do Vision and the Voice, com um facsimile de qualidade pelo
thelemita Robert Furtkamp. Em sua publicação escreve:
“Apresento pra vocês em nome da Montanha Violeta, um marco da nossa herança e pela
primeira vez apresentada propriamente, Em tempo do 109 aniversário de LIL…
Esses são os cadernos argelinos do Liber 418 completo, e formatado para impressão
Cada um destes volumes com exceção do Volume V, que contém volume V e VI já que o
Caderno VI contém apenas LIL e efemérides.
A apresentação se dá num formato com a transcrição e original lado-a- lado. Caracteres
e correções/cortes presentes nos mesmos estão presentes, e quaisquer notas dos
volumes estão num breve prefácio (...)”
Então regozije com as boas novas, de graça, e imprimível e quem sabe um dia em
portugês?
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
Este texto é totalmente inspirado no livro In the Dust of our Planet de Eugene
Tracker.
Sendo assim, digo que ao chegar no abismo iremos nos confrontar com o
Planeta, que são todas aquelas sensações e impressões do mundo para além do
nossa capacidade de mudar podemos ver relances disto no final do século XIX
essa mudança de paradigma.
Se antes éramos escolhidos dos deuses, na época moderna descobrimos que não
somos especiais para deus, quiçá este nem existe,e após darwin nem somos uma
espécie especial, após freud nem controle direito do cérebro temos, e não
sabemos como usar nosso corpo para muita coisa, e nossa história pessoal será
perdida e se lembrada, será distorcida pelas gerações futuras. Nosso Ego ainda
tentando se iludir que mantém as rédeas sobre controle, busca um renascimento
da tradição, aquele lugar que éramos especial, ou joga no extremo oposto como
vilões do mundo, como certos grupos de ativismo colocam assim como a
misantropia de grupos satânicos, que é uma última tentativa de ser importante.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
E por que enfrentar tudo isso? Lembro certa vez de ler uma pesquisa base
com moradores perto de uma represa,desde a cidade mais distante onde
pequenos danos seriam causados caso a represa ruísse, até a cidade grudada na
represa. Quando mais próximo dela, menos medo da consequência de uma
rachadura a sociedade da região tinha, ao ponto que os moradores na
proximidades dela, nem tocavam no assunto ou outras vezes tinham uma fé
inabalável que nunca iria ruir. Diversos assuntos que tocam o pessimismo
cósmico nos geram horrores e incertezas, aquele medo do desconhecido criança
tem. Um trabalho devagar em explorar isso nos ajuda a não esquecê-las e ter
uma relação mais saudável com a devastação.
Há outro motivo para trabalhar que esse conceito de Planeta encaixa bem:
o corpo. Tal qual as analogias acimas, nosso corpo trabalha para além do
intelecto, ele cura e cria doenças sem te consultar ele reage de formas
imprevistas, e essa percepção do que o corpo é uma outra fronteira a ser
explorada. E nesse contexto do corpo o mago se entende controlador do Mundo,
não consegue operar por esse prisma, entender o corpo como a Terra, que é a
especialização de médicos e biólogos, também não adianta, cabe a solução de
Planeta, e perceber como seu corpo reage aos inputs e estar ok com
impessoalidade e o não padrão que o Planeta deste tem, e usar isso readequar
sua visão da Terra.
Então temos esses três propostas de pontos de vistas que podem trabalhar
como um registro triplo. ao ocorrer um fenômeno podemos perguntar: Como é
esse fenômeno percebido pelo Mundo, e pela Terra, e como Planeta? ou também,
“Quero fazer X, como fazÊ-lo a partir do olhar de mundo, da Terra e planeta?
*Thagirion é a equivalência a Tipheret na árvore da morte, sendo também a
esfera central. Mas ao invés de ter como representação o Sol, tem como símbolo
um Sol negro.
Alhudhud
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
"ON" é a antiga palavra egípcia para o sol; Enquanto estivermos preparados para
continuar (original: go ON)(nt do tradutor: trocadilho com ir ON que é continuar) tudo
está bem, já que estamos alinhados com o impulso natural da Evolução. Mas podemos
elevar-nos além da ideia comum de Evolução para uma cooperação conscientemente
livre com o Propósito Divino.
O valor numérico de ON é 120. Diz-se que esta foi a Era de Christian Rosencreutz
no momento em que ele passou(orig. passed ON).
ON é formada pelas letras hebraicas Ayin e Nun, assim esta ideia surge na junção
dos caminhos de "The Devil" e "Death".
Pessoas do tipo "No" (não) surgiram do outro lado da Árvore, no Caminho do Sol
Poente. NO pode ser escrito Nun, Vau, ou NU, que foi chamado o pai das águas, o refletor
de Nuit.
A Verdade nunca foi perdida para a Tríade Supernal, mas as Supernais foram
perdidas para a visão do homem. Podemos nos perguntar como isso poderia ser, e o
momento agora está maduro para sua revelação. Mas antes que uma tentativa seja feita
para explicar isso, é melhor que vejamos os Caminhos restantes da Árvore, abaixo de
Tiphereth.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
O Sol Físico é tão impotente para fertilizar todo o Universo, embora Ele seja
totalmente capaz de cuidar de seu próprio Sistema Solar. Ele está bem em seu
lugar na Ordem do Universo; somente quando não compreendemos esse lugar,
caímos em erro.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
Os místicos, por outro lado, sendo do tipo negativo, abriram suas mentes e
almas para a "luz" e muitas vezes confundiram as falsas luzes com a da
Verdadeira. Tendo uma base muito limitada de experiência como base de sua
pirâmide, o ápice era proporcionalmente baixo, e a luz que eles viam naquele
momento atribuíam à própria divindade animal de estimação como seu salvador
e redentor. O Amanhecer da Consciência Solar (Dhyana) tendeu a ser um choque
tão grande que a maioria desses místicos perdeu o equilíbrio por algum tempo,
se não pelo restante de sua encarnação. Se eles foram mais longe, eles foram
literalmente inundados com as Forças das Trevas do Abismo. Alguns deles
realmente viram o Diabo, acreditaram nele e pregaram sua existência para seus
seguidores. Eles certamente nunca dizem Deus.
Muitas dessas pessoas viveram uma vida muito santa e casta, de acordo
com os padrões de seu tempo, antes de chegar a esse estágio. Posteriormente,
os ignorantes acreditaram neles como homens de boa reputação e até se
contentaram em "acreditar" sem mais desejo de experiência real.
Parece que estamos longe dessa questão, mas o Caminho está agora
ABERTO, que antes estava Fechado, Hórus, o Abridor, tomou seu assento no
Oriente, no Equinócio dos Deuses.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira
Dia e Noite só existem para nós neste Planeta; o Sol não viaja pela Terra
para nossa conveniência. Nós, neste Planeta, viajamos ao redor do Sol,
revolvendo à medida que avançamos. Assim, a sua Luz só atinge certas partes da
Terra a qualquer momento, e o resto do Planeta está nas trevas. O Sol está
sempre brilhando e, se considerarmos as coisas do ponto de vista do Sol,
começaremos a brilhar também.
Mas o Sol, embora Pai deste Planeta, é apenas o Filho da Grande Mãe, o
Universo Estelar. Onde então está o Verdadeiro Pai? Esta é a questão que intrigou
os antigos Sut-Typhonianos nos primeiros tempos. A dificuldade surgiu através
das Ilusões Originais do Tempo e do Espaço, que mantiveram o Mundo em
ignorância desde a última Era de Ouro. O Universo é Infinito no Aqui, mas os
homens tentaram circunscrevê-lo. O Infinito está sempre presente no Agora, mas
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os Homens olharam para trás e para frente como se o tempo fosse uma linha.
Existem Dois Infinitos, ou concepções do Infinito, do Infinitamente Grande e do
Infinitamente Pequeno. A extensão do Um nos escapa, o Momento Presente do
Ser Puro nos escapa. O Infinitamente Grande, é Nuit, Matéria continua, Mãe das
Estrelas. O Infinitamente Pequeno e ponto nao extendido, é Hadit, o Eu Essencial
Mais Alto de Todos, a Chama que queima em cada coração do homem e no
núcleo de cada Estrela. Ambos são invisíveis aos nossos sentidos e mentes.
Uma vez que estes são o Infinito, o Centro está em toda parte e a circunferência
em nenhum lugar. Cada ponto no espaço é igualmente o centro do todo, não
havendo limite. O Verdadeiro Pai é Invisível, mas o Centro de tudo. Os homens o
chamavam de "pai do tempo", mas ele é o pai "agora". O Agora se estendeu
como a Serpente do Tempo, Saturno, que tentou Eva, Matéria e causou a Queda,
mas Agora é o Tempo aceito, Agora é o Dia da Salvação. A ilusão do espaço, por
outro lado, tornou difícil imaginar ou encontrar o Centro; estudar as Estrelas
como gostaríamos. Imaginando um possível Limite, os homens não conseguiram
perceber como esse Centro poderia estar presente em todos os lugares no
mesmo momento do Tempo.
Nós dissemos que Malkuth foi confundido com o Planeta Terra, o qual ela é
apenas num sentido restrito. Se unida ao Filho ou ao Sol, ela começa a ver o
universo do ponto de vista dele. Em torno dela giram os planetas do Sistema
Solar, dos quais a Terra é uma das menores. Mas é dito que ela deve ser elevada
ao Trono da Mãe de onde ela caiu. Ela deve ser entendida como a Substância
Original ou assunto pré-elementar. Também seu trono é a Esfera de Saturno, o
mais externo dos planetas (então conhecidos). Ao alcançar a Consciência Solar,
ela não deve imaginar que chegou ao objetivo. Este é o erro cometido por
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A Alma Animal é aquela que percebe e sente, sem ela podemos não
perceber ou sentir as Alegrias do Universo. Desprezada como a filha caída, é
nosso maior tesouro, pois é o reino dos céus na terra. Podemos agora entender o
Mistério da Revelação, da Mulher Vestida com o Sol, tornando-se grande com a
Criança. Como a Besta, tentou Devorar a Criança, e parou o progresso, a fim de
que ele continuasse a ser adorado como o Senhor do Céu. Como a Mulher
escapou para o Egito, ou expandiu-se até os limites da Mãe de Sut, a Órbita de
Saturno e assim por diante até que a Verdadeira Criança foi trazida à Luz dentro
Dela e a luz do Sol e da Lua não eram mais necessários, pois Era o Coroada
Criança no meio da Cidade Santa.
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Xangô, Leão Rei de Oió, tinta nanquim e aquarela (60 x 40). Ricardo Zolinger Zanin
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O Voto de Obediência
Eu recebi uma carta outro dia, me contando sobre como o Voto de Santa
Obediência foi imposto em Pasadena. Através disso eu percebi instantaneamente
que ninguém nesse iluminado distrito tinha a mínima ideia do que é realmente o
Voto de Santa Obediência.
Não tem nada a ver com obediência; é uma prática como feita em qualquer
outro ramo da Yoga. Se você ler Pequenos Ensaios em Direção a Verdade,
encontrará na página 39, uma análise sobre um estado de mente que é
caracterizado pela Indiferença. O estudo desse ensaio deverá ajudá-lo a adquirir
alguma noção das bases filosóficas que delineiam essa prática, mas você não
deve supor que os dois estados podem ser sobrepostos. O transe descrito nesse
livro é fundamental e da ordem do samādhi. Ainda assim, o treino do Voto deve
ser de inestimável valor preliminar para ajudar na consecução do transe.
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Ele deve, em particular, ser cuidado para evitar abusar de sua função. Ele
não deve buscar de qualquer forma influenciar seu pupilo; como eu disse
primeiramente ele não precisa ser o superior espiritual do pupilo, e ele deve ser
muito cuidadoso para não colocar em sua cabeça que ele sabe melhor que o
pupilo o que é bom para ele. Em verdade, o próprio pupilo deve estar apto a
assistir muito notavelmente no progresso da prática, especialmente no que diz
respeito a estágios avançados onde pontos especiais estão envolvidos. Para fazer
isso corretamente, é de primeira necessidade, como no caso de qualquer outra
prática, fazer um registro meticuloso e acurado. O professor deve tentar
estabelecer algum tipo de escala de medição para colocar no registro o grau de
hesitação mostrado pelo pupilo logo de cara ao obedecer à ordem.
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suficiente para ele executar a ordem e pronto. Apesar de saber ser tudo parte de
um jogo, ele deve atuar como se houvesse algo muito sério envolvido.
Será, provavelmente, a melhor escolha deixar que o jogo seja mantido bem
separado do que eu chamarei de sala de aula, pelas primeiras duas semanas,
mas quando uma certa quantidade de desatenção pela ordem for adquirido, pode
ser conveniente estender a operação do jogo as belas moléstias da vida
quotidiana. Ele deve adquirir a faculdade de tratar cada uma dessas ocorrências
com o que eu sinto inclinado a chamar de desprezo simpático.
Aleister Crowley
Fonte: La Gitana Vol. I N. 2
Tradução: I. 156
Sol Invictus
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