E. Malatesta
Pedro Kropolkine
A MORAL ANARQUISTA
Liberta
O REI E O ANARQUISTA
Sebastião Faure
S. Agourski
PARALELO ENTRE OS SISTEMAS ECONÓMICOS
'OCIDENTAIS* E 'SOVIÉTICO*
Dr. Roberto das Neves
MARXISMO, ESCOLA DE DITADORES
P e d i d o s a José d c B r i t o , T r a v e s s a d o
C a b r a l , 3 5 A , 1.° T e l e f o n e 3 2 73 54 Lisboa 2
VARLAN
TCHERKESOFF
ERROS E
CONTRADIÇÕES
DO
MARXISMO
MD1
VARLAN TCHERKESOFF
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VAU L A N T C H E R K E S O F F E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
V A R L A N T C H E R K E S O F F
uma reanimação das ideias da ala revolucionária da primeira Inter- Geórgia, mas teve que fugir novamente do país depois da contra-
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D U A S D A T A S HISTÓRICAS
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V A R L A N T C H E R K E S O F F
E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
tàrias. Mas glorificar a data do aparecimento, no horizonte polí- opinião dos demais membros do Congresso. Este, a instância de
t i c o , de Engels, com as suas i d e i a s retrogradas e a sua tática mil J u n g e M a r x , n ã o d e r a a p r o v a ç ã o a essa c a r t a , h o j e famosa.
vezes n e f a s t a , não m e p a r e c e razoável. Falta-me e s p a ç o p a r a r e f e r i r os p o r m e n o r e s das intrigas postas
Estudemos agora a outra data gloriosa, a de 1872-1873, é p o c a em jogo por Engels, Lafargue, Utin e outros, contra os fede-
em que foi "decretado um plano de conduta", que terminou em ralistas em geral e especialmente c o n t r a Bakúnine e James Guil-
Zurique com as declarações q u e todo m u n d o conhece e cujo único laume. L i m i t o - m e a f r i s a r q u e essas i n t r i g a s p r o d u z i r a m a c i s ã o da
r e s u l t a d o possível é o d e sustentar o sistema governamental atua!, Internacional, n o congresso de t r i s t e memória de 1872. Não é co-
tal como está. b a s e a d o n a e x p l o r a ç ã o c a p i t a l i s t a e n o m i l i t a r i s m o , nhecido ainda suficientemente o modo como foi convocado esse c o n -
desconhecido n o passado. E necessário f r i s a r que nos surpreendeu gresso. Basta dizer que Marx e Engels deram ordem ao delegado
um pouco ver Engels encontrar motivos para felicitar M a r x e feli- Sorge, d a secção alemã de N o v a Y o r k , p a r a q u e obtivesse a maior
c i t a r - s e a s i m e s m o , sob, o p r e t e x t o d o s ú l t i m o s c o n g r e s s o s d a I n t e r - q u a n t i d a d e possível de mandatos em branco, e Sorge trouxe, r e a l -
nacional. A glória r e a l de M a r x estriba-se na r e d a ç ã o dos consi- mente, muitíssimos, que foram distribuídos profusamente entre os
derandos e dos estatutos gerais da grande Associação, correspon- partidários de M a r x e E n g e i s . P a r a cúmulo, M a r x e Engels levaram
dendo a o p e r í o d o de 1864 a 1869, a t é o Congresso ti« Basileia," que c o m eles, c o m o m e m b r o s d o C o n s e l h o G e r a l d a I n t e r n a c i o n a l , h o m e n s
m a r c a o apogeu de Marx. que n u n c a h a v i a m s i d o m e m b r o s de q u a l q u e r secção, i n c l u s i v e o famo-
so amigo intimo de Engels, Multeman Barry, correspondente do
Como ninguém i g n o r a , os congressos de 1872 e 1873 deixaram
" S t a n d a r d " e agente dos c o n s e r v a d o r e s ingleses. Com uma maioria
amargas recordações a M a r x , q u e v i u c l a r a m e n t e como o resultado
constituída desse modo, excluíram Bakúnine e G u i l l a u m e , e, com
deles era a condenação à m o r t e d a sua fração c e n t r a l i s t a . De facto
estes, as federações j u r a s s i a n a , e s p a n h o l a , belga, italiana e inglesa.
desde t a l época, a fração m a r x i s t a d a I n t e r n a c i o n a l d e i x o u d s e x i s t i r , Com M a r x , Engels, M . B a r r y e outros, f i c a r a m somente os alemães
e os congressos celebrados até 1882 foram promovidos exclusiva- e alguns grupos isolados de diferentes paises. T o d o s os elementos
m e n t e pelos f e d e r a l i s t a s - b a k u n i n i s t a s " conhecidos pelo n o m e de a n a r - a t i v o s e r e v o l u c i o n á r i o s se r e u n i r a m a o s f e d e r a l i s t a s - a n a r q u i s t a s , q u e
quistas. Mas se M a r x não ficou satisfeito c o m o resultado do con- continuaram, até 1882, convocando os congressos da Internacio-
gresso de 1872. E n g e l s triunfou, pois que desde há muito premedi- nal. (4)
tava provocar u m a cisão no seio da Internacional. Imbuído das Grande datas evocou Engels! Poder-se-á estranhar que uma
ideias retrógradas, como já frisámos, Engels professava ódio im- m a i o r i a l e g a l i t a r i a , s a i d a de bases tão gloriosas, p a c t u a s s e em Zuri-
placável ao p a r t i d o f e d e r a l i s t a - a n a r q u i s t a , e e s p e c i a l m e n t e aos com- q u e c o m os g o v e r n o s , a t a c a s s e os i n d e p e n d e n t e s e p r e g a s s e a guerra?
ponentes da "Aliança Socialista Internacional". Os federalistas
dominavam a Internacional na Suiça, Bélgica, Espanha e Itália.
Engels, na qualidade de m e m b r o do conselho geral da I n t e r n a -
cional e seu correspondente para a Espanha, escrevia, em 24 de
1872, a o c o n s e l h o f e d e r a l e s p a n h o l , u m a c a r t a i n c r í v e l , n a q u a l r e c l a - (4) Não será inútil recordar que J u n g havia se recusado a ir ao C o n -
mava " u m a l i s t a de t o d o s os m e m b r o s d a A l i a n ç a " e t e r m i n a v a por gresso de 1872. "Marx e Engels, disse ele. me rogaram que lósse. . . E u me
esta frase: "Se não recebermos u m a resposta categórica e satisfa- neguei. No dia seguinte, voltaram ã carga. Engels chegou a dizer-me: " E 3
tória p e l a v o l t a do c o r r e i o , o C o n s e l h o G e r a l ver-se-á n a necessidade o único homem que poderá salvar a Associação". Respondi-lhe que só po-
deria ir a Haia sob u m a condição, e era a de que Marx ei êle, Eaigeis, se a b s t i -
de denunciar-vos publicamente", etc. ("Memoire de l a Federation vessem de ir lã".
Jurassienne", p. 250). Engels escrevera essa carta sem pedir a Vê-se como até os seus partidários consideravam nefaata a influência de
Marx e Engels.
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D I T A D U R A E PRETENSÃO
CIENTÍFICA
P a r a se f a z e r u m a i d e i a n í t i d a d a c o n d u t a d e M a r x e E n g e l s como
inspiracíores d o C o n s e l h o G e r a l d a I n t e r n a c i o n a l , é n e c e s s á r i o e x a m i -
nar a s u a a t i t u d e d u r a n t e a C o m u n a de Paris.
P e d i r i n f o r m a ç õ e s a g e n t e q u e e s t a v a se b a t e n d o ! j P a r a quê t a i s
informações? Ao menos, Bismarck e o imperador Guilherme, que
pretendiam mandar, estavam presentes no campo Cs batalha. O
Comité G e r a l , d i r i g i d o por M a r x e Engels, p r e f e r i a estar e m s a g u r a n -
ça, a o c a l o r d a e s t u f a , e d a r i n s t r u ç õ e s d e l o n g e . E que instruções!
N o d i a 4 de a b r i l : " N ã o f o m e n t e i s agitações inúteis n a s províncias".
E m 9 do mesmo mês: " A t é e n t ã o , d e i x a i a g i r os r e p u b l i c a n o s e n ã o
vos c o m p r o m e t a i s em nada".
O c ú m u l o d o r i d í c u l o e d o a b s u r d o desses h o m e n s á v i d o s d o p o d e r
e r a o de q u e r e r d i r i g i r o m o v i m e n t o de c a d a c o m b a t e n t e . Vejam-se
e s t a s i n s t r u ç õ e s d e 23 d e m a r ç o : " G o b e r t deve f i c a r e m L y c n , e H e n -
riet a i e m Fáris. Enviai Estein a Marselha". E estas, de 2 4 : " E n -
viai Cluseret a Paris ( b e l o r e g a l o p a r a os p a r i s i e n s e s ! ) . N o d i a 20,
haviam ordenado: " E m vista das d i f i c u l d a d e s q u e se apresentam
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
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cionais. O Conselho para nada podia intervir nos acontecimentos outro qualificativo mais adequado à nova concepção que f a z i a m do
i n t e r i o r e s de c a d a país. E n t r e t a n t o , sob a direção de M a r x e E n g e l s , socialismo e à recente e distinta situação, q u e g o z a v a m de legisla-
a r r c g o u - s e , p o u c o a p o u c o , o u t r o s d i r e i t o s , c o m o o d e g u i a r as o r g a - dores.
nizações de t r a b a l h a d o r e s , c h e g a n d o até à d i t a t o r i a l l o u c u r a de m a n - O qualificativo desejado f o i logo e n c o n t r a d o . E m l u g a r de " s o -
d a r ordens d a índole das q u o acabamos de m e n c i o n a r . Plenos pode- cialismo revolucionário", entraram a empregar a expressão "socia-
res sobre M a r s e l h a e L y o n a u m i l u s t r e d e s c o n h e c i d o ! ! E que t a t o ! l i s m o científico". Como se e x i s t i s s e u m socialismo para ignorantes!
Dois alemães delegando poderes a u m o u t r o alemão bonacheirão p a r a Seria este o de Saint-Simon, Owen, Proudhon e Tchernychevsky?
dirigir os s o c i a l i s t a s franceses, e n q u a n t o o i m p e r a d o r , os príncipes Desgraçadamente, o adjetivo "científico" presta-se a u m a falsa inter-
alemães e B i s m a r c k estavam em Versalhes! pretação, p o r q u e são p r e c i s a m e n t e os defensores das iniquidades da
J á d e s d e 1870, m e m b r o s i n t e l i g e n t e s d a I n t e r n a c i o n a l , c o m o Guil- organizaçào c a p i t a l i s t a q u e m t e m sempre n o s lábios a p a l a v r a "ciên-
l a u m e e B a k ú n i n e , v i n h a m n o t a n d o essa m a l é f i c a e r i d í c u l a t e n d ê n - cia". Por o u t r o lado, há muito tempo que, n a A l e m a n h a , certa
cia de quererem arvorar-se e m ditadores i n t e r n a c i o n a i s . Esses m e m - classe de r e f o r m a d o r e s " s u i generis", potentados soporiferos, se de-
bros f o r m a v a m u m a c o r r e n t e contrária, que pouco a p o u c o tomava ram a conhecer pela expressão "socialista de c á t e d r a " ("Katheder
corpo. Os p r o t e s t o s s u r g i r a m , c a d a d i a m a i s n u m e r o s o s e v i o l e n t o s , sozialist").
e d a t a d e e n t ã o o o d i o q u e a c a m a i l h a m a r x i s t a c o n s a g r o u aos f e d e - E r a a b s o l u t a m e n t e n e c e s s á r i o d i s t i n g u i r - s e desses sábios o f i c i a i s .
ralistas, especialmente a Guillaume e Bakúnine. Essa camarilha C o m e ç o u e n t à o a c i r c u l a r u m a l e n d a s o b r e a ciência desses h o m e n s ,
empregou toda energia e toda a u t o r i d a d e de que pôde d i s p o r , e n ã o e x c l u s i v a m e n t e deles, b a s e a d a s n a s descobertas especiais, devidas aos
se l i m i t o u às a m e a ç a s . Vimos como ela procurou obter a maioria fundadores d a social-democracia. E m l u g a r de d i z e r e m simplesmen-
n o congresso de H a i a . e m 1 8 7 2 . O seu libelo " A Aliança I n t e r n a c i o - te q u e o i m e n s o desenvolvimento» d a c u l t u r a i n t e l e c t u a l nos obriga
n a l " , p u b l i c a d o p o r essa o c a s i ã o , é u m e x e m p l o s e m i g u a l de calú- a efetuar u m a t r a n s ormação r a d i c a l n a organização c a p i t a l i s t a e do
nias e absurdos. E s t a d o , e q u e a ciênc*a " t o d a i n t e i r a " , s e g u n d o as investigações doo
Depois d a cisão n o c o n g r e s s o de H a i a , as d u a s facões seguiram homens independentes, condena o modo atual de produçào e de
duas táticas m u i t o diferentes. E n q u a n t o os f e d e r a l i s t a s desenvol- c o n s u m o i n d i v i d u a l , q u i s e r a m a t r i b u i r t o d o o mérito a u m a ciência
viam, cada dia mais, a luta no t e r r e n o económico e revolucionário, especial — a da social-democracia. A afirmativa, por demais preten-
Os p a r t i d á r i o s d e u m E s t a d o c e n t r a l i z a d o , q u e e m 1873 h a v i a m decre- s i o s a , n ã o se m a n t é m , d e s d e q u e s e j a e x a m i n a d a convenientemente.
tado u m programa de ação legal e parlamentar, eram arrastados A ciência r e a l é inseparável de t o d a s verdades conhecidas e opera
pelos acontecimentos políticos e p e l a l u t a e l e i t o r a l p a r a o caminho
d a moderação e de c o m p r o m i s s o s contra-revolucionários e colabora-
cionistas, bastante conhecidos. E sabido até que p o n t o n o congresso (6) No congresso de Frankfort, em 1894, u m delegado afirmou: "A m e -
dicina do socialismo deve ser administrada em pequenas doses". Um hon-
lado sábio dizia ultimamente a u m dos nossos amigos: "Que quereis? O
programa dos republicanos radicais é mais adiantado do que o dos socialistas!"
(5) V. História da Internacional por u m burguês republicano", por
E era a pura verdade.
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IS
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O MÉTODO DIALÉTICO
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
V A li L A N T C II i: R K E S O F F
Outra autoridade, glória da Alemanha e da humanidade —
Goethe — não f o r a t a m p o u c o favorável ao método tão c a r o a Engels
minadas "científicas". Esse esforço é, porém, uma necessidade e as seus d i s c í p u l o s ( 9 ) . O espírito científico de G o e t h e não podia,
imposta pelo nosso estudo. Quando, em nome do socialismo cien- evidentemente, a d m i t i r esse f a m o s o método, c e m o q u a l o pró e o
t i f i c o , se p r e g a e m nossos dias a adoração do Estado todo-poderoso, contra são provados com igual facilidade. Êle compreendia que
a autoridade, a ordem, a d i s c i p l i n a , a subqrdinação e outras qua- só e x i s t e u m método de investigação — o método científico. De
lidades consideradas h o n r o s a s nos quartéis; q u a n d o se r i d i c u l a r i z a m a c o r d o c e m e s t e , q u a n d o se f o r m u l a u m a h i p ó t e s e , d e v e - s e verificà-la
as i d e i a s de e m a n c i p a ç ã o , d e l i b e r d a d e e d e s o l i d a r i e d a d e , aplicando- pelo método i n d u t i v o e convertê-la e m t e o r i a q u a n d o a causa rela-
-se-lhes a e t i q u e t a de " u t o p i a s " , e que c a d a exposição das ideias h u - c i o n a l d a s relações estabelecidas p o r indução h a j a sido demonstrada
manitárias e verdadeiras é taxada de ignorância, é indispensável pelo método dedutivo.
investigar onde está a verdade. E, p a r a cúmulo, este m é t o d o de raciocínio n ã o é n o v o . O pró-
A ciência, a grande ciência d o s n a t u r a l i s t a s , ccen os seus sis- prio Engels disse a l g u r e s que Descartes, Spincsa, Rousseau, Diderot
temas de evolução, de t r a n s f o r m i s m o e de materialismo monistico, e Charles Fourier, contemporâneo de Hegel, se h a v i a m s e r v i d o , a d -
que t a n t o r e p u g n a m a Engels ( 7 ) , f o i c r i a d a e se d e s e n v o l v e s e g u n d o miravelmente do referido método. Todos esses filósofos, especial-
o método i n d u t i v o . Todos os grandes espíritos científicos ignoram mente c último, r e a l i z a r a m o s seus t r a b a l h o s e m investigações den-
e atê condenam o "método dialético". Desafio os sociais-democra- tro cies d o m í n i o s da filosofia social e dc socialismo. Como, pois,
tas a que m e c i t e m u m único sábio d o nosso s é c u l o q u e se tenha afirmam que M a r x , Engels e o operário alemão Dietzgen se tenham
servido do "método dialético" nas investigações científicas, a não visto n a necessdade de destobri-lo novamente?
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V A RLAN T C H E R K E S OF F
E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
bem-estar e a abundância p a r a todos. Os h o m e n s d«e b o a - f é desde sociedades cooperativas e mercados livres, de troca contra bónus
ha muPo reconheceram que a sua obra é "o primeiro monumento de trabalho. "O trabalho, dizia êle aos operários, no dia 5 de
do moderno socialismo". dezembro d e 1833, é a f o n t e d a r i q u e z a e p o d e r á f i c a r n a s m ã o s d o s
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V A R L A N T C H E R K E S O F F E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
t r a b a l h a d o r e s , q u a n d o e l e s se e n t e n d a m p a r a ésss í i m " . Owen de- deria e x i s t i r " ( p . 106). "Enquanto; dure o capitalismo, a sociedade
senvolveu u m a atividade sobrehumana p a r a c r i a r esse espírito, es- permanecerá e m estado patológico" (p. 449).
pecialmente dentro das "Trade-Unions". E m 1833, r e c l a m a v a " 8 h o
Na sua obra "Trabalho Recompensado" (1826), Thompson, de-
r a s d e t r a b a l h o e a f i x a ç ã o de u m salário m í n i m o " . No mesmo ano.
p o i s de e n u m e r a r diferentes reformas propostas, afirma que todas
o r g a n i z o u a " U n i ã o G e r a l d a s Classes P r o d u t o r a s " , que, e m algumas
são p a l i a t i v o s , m e s m o a do seguro e pensão p a r a os trabalhadores.
semanas, chegou a c o n t a r m a i s d e 500 m i l m e m b r o s , e n t r e os quavs
O próprio t r a d e - u n i o n i s m o não era, segundo êle, u m a solução para
havia trabalhadores do campo e grupos de m u l h e r e s , o que lhe
o problema social. Como amigo e discípulo d e O w e n , pregava o
permitiu criar, e m 1834, a f e d e r a ç ã o d e toams os o f u r i o s , s o b a d e -
comunismo autónomo.
nominação de " G r a n d e Nacional Trade-Union". O movimento foi
grandioso. A expansão do movimento " t r a d e - u n i o n i s t a " e m 1833- "Trabalho l i v r e , gozo absoluto do produto do trabalho e troca
-1834, segundo pudemos estudar (16), excedia os movimentes de volutária", eis a fórmula de T h o m p s o n ( p . 253 d a o b r a citada).
1874-1875. Descobrir, em 1845, o " s u r p l u s " tão claramente exposto por
A este o r g a n i z a d o r , homem incomparável p o r s u a modéstia, por Thompson, em 1824, n ã o e r a coisa m u i t o difícil, s o b r e t u d o quando
sua generosidade na emancipação dos deserdados, a este espírito e r a c o n h e c i d a a o b r a de T h o m p s o n , c i t a d a p o r M a r x em "O Capital".
positivo, quiseram fazer passar p o r u m lunático!! Quem? Aqueles De t a l f o r m a m e c o m p r o m e t o a d e s c o b r i r a l e i de gravitação, a l e i
que a si mesmos se c h a m a m "socialistas científicos", que repetem periódica d a química ou o equivalente mecânico d o calor. Depois,
algumas fórmulas e a l g u m a s reivindicações isoladas de O w e n , frag- i m i t a n d o M a r x e Engels, poderia r e c l a m a r os m e u s d i r e i t o s à dita-
mentos insignificantes das suas amplas concepções socialistas da dura universal, enquanto Charcot e Maudsley não m e convidassem
s u a n o b r e c a r r e i r a de agitador. a exercer a m i n h a ditadura em Charenton ou Bediam. (17)
Outro "utopista" conhecido de Marx, um "owenista" — W. Para concluir, devo c i t a r a o p i n i ã o de P r o u d h o n , o que Marx
Thompson — n a sua obra "Social Science I n q u i r y " , p u b l i c a d a em e seus m a i s " c i e n t í f i c o s " discípulos t a x o u de s o f i s t a i g n o r a n t e . Pior
1824, tratou da "mais-valia" ("surplus", em inglês), de maneira p a r a M a r x . p o i s f o r m u l a r a , e m 1845, c o m a s u a h a b i t u a l franqueza,
o "excedente" ou "mais-valia" da produção. Nas "Contradições
magistral. Depois de estabelecer que " a riqueza é c r i a d a pelo tra-
Económicas", escreveu Proudhon:
b a l h o tio o p e r á r i o " ( p s . 3 - 4 ) . p e r g u n t a : " P o r q u e , p o i s , o o p e r á r i o n ã o
"Na ciência económica temos d i t o , depois de A d a m S m i t h , que
possui o p r o d u t o i n t e i r o , sem qualquer redução?" (p. 32). "Porque,
o p o n t o - d e - v i s t a sob o q u a l t o d o s os v a l o r e s são c o m p u t a d o s é o d o
responde, se'lhe t i r a , sob a f o r m a d e " r e n t " ( j u r o ) o seu " s u r p l u s " .
trabalho (p. 80). No sentido d a economia política, o princípio "de
E, levanta, em seguida, o u t r a questão: "Esta expoliação é aceita
que todo t r a b a l h o deve deixar u m "excedente" não é outra coisa
volu'àriamente o u imposta à força?" "A força b r u t a , responde, f o i
senão a consagração d o d i r e i t o c o n s t i t u c i o n a l , c o n q u i s t a d o p e l a re-
sempre empregada p a r a a r r a n c a r aos p o b r e s o p r o d u t o d o s e u t r a -
volução, de " r o u b a r o p r ó x i m o " (p. 91).
balho. Toda história nos demonstra esta verdade, com exemplos
Proudhon t e m razão e m dizer q u e o f u n d o das coisas é o di-
que e n c h e r i a m m i l h a r e s de páginas. Se se a d m i t e e s t a r e d e n ç ã o d e
r e i t o de r o u b a r o próximo, pois " m a i s - v a l i a " , " e x c e d e n t e do t r a b a l h o "
u m a p a r t e do p r o d u t o do t r a b a l h o ( " s u r p l u s " ) , sem o consentimento
"surplus", m e h r w e r t h " significam a mesma coisa, a parte do valor
do p r o d u t o r , se disporão a justificar a outra parte, qualquer que
do p r o d u t o d q t r a b a l h o a p r o p r i a d o pela burguesia. Seja qual fôr
s e j a " p s . 34 e 3 5 ) . "Sem o emprego d a força, o monopólio não p o -
a o r i g e m d a acumulação c a p i t a l i s t a , o seu açambarcamento é sempre,
__
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E R R O S E CONTRADIÇÕES T>0 M A R X I S M O
Em milhões de francos
A v a l i a n d o a m é d i a d o a c r é s c i m o e m 125 f r a n c o s p o r a n o , v e m o s
q u e , e m 1896, c a d a s ú b d i t o d e S. M . B r i t â n i c a p o d i a d i s p o r d e u m a
1824 1840 1873 1888
f o r t u n a média de 8.000 f r a n c o s , o u seja, c a d a família operária, m a i s
Casas 7.750 18.000 28.950 42.602 de 4 0 . 0 0 0 f r a n c o s . E quererão p e r s u a d i r - n o s de que, n o s nosso» dias,
Estradas-de-ferro — 250 6.750 13.300 n a I n g l a t e r r a , não s e r i a possível a s s e g u r a r o b e m - e s t a r de t o d o s !
Frotas 175 175 30O 325 Volvamos, e n t r e t a n t o , aos nossos a l g a r i s m o s . Pela arrecadação
Mercadorias 475 575 3.000 3.875 d o i m p o s t o s o b r e sucessões, e n c o n t r a m o s * a s s e g u i n t e s cifras:
Mobilias, objetcs de a r t e . e t c . 6.375 9.000 16.875 21.300
F o r t u n a d e 2.500 a 12.500 f r a n c o s
Para melhor conhecermos o modo de distribuição, necessitamos
c o n s u l t a r os a l g a r i s m o s de impostos sobre t e s t a m e n t o s , heranças e
Anos Francos
sucessões: Segundo os d a d o s o f i c i a i s r e l a t i v o s a o s a n o s d e 1886 a -
1889, a I n g l a t e r r a t i n h a então:
1840 17.936
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ERROS E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
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1860 85.530 30
14.167 18.995 33,6%
1870 130.375 42
1880 210.430 63
1886 250.000 70 250.000 1360 1.859
1.250.000 740 969
Vè-se q u e , e m t r i n t a e seis a n o s , o n ú m e r o d o s c o n t r i b u i n t e s , p o s - M a i s de 1.250.000 52 79
suindo u m a renda anual superior a 5.000 francos, q u a d r u p l i c o u , e,
relativamente à população, triplicou. Os algarismos precedentes 2.152 2.907 35%
Para não apresentar o menor flanco às o b j e ç õ e s , limitamo-nos de 1875-1876: é o de 92.593, r e p r e s e n t a n d o o número de contribuin-
a renda, sobre a indústria, o comércio e os b a n c o s . Comparemos Resulta do exame desta estatística u m a consequência que de
cs a l g a r i s m o s , a v i n t e anos de distância, p a r a que a influência da nenhum medo concorda com a pretensa lei, antes pelo contrário.
pretensa l e i passa manifestar-se melhor. T o m e m o s o número de Nem o n U m e r o dos p o t e n t o c o s do c a p i t a l , n e m o doa p e q u e n o s capi-
c o n t r i b u i n t e s c m 1868-1869 e e m 1 8 8 9 . talistas, diminuiu. O número destes a u m e n t o u m u i t o m a i s rapida-
m e n t e do q u e o dos p r i m e i r o s . Enquanto encontramos u m aumento
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12 000 f r a n c o s francos
ções s o c i a l i s t a s d o p o v o , p o d e m o s f i c a r s a b e n d o c o m a n t e c i p a ç ã o q u a l
1843 87.964 h a b i t a n t e s 7.923 h a b i t a n t e s a s u a c o n d u t a f u t u r a , j á q u e o n ú m e r o de e x p l o r a d o r e s t r i p l i c o u d e s -
1889 333.070 h a b i t a n t e s 21.842 h a b i t a n t e s de e n t ã o e a s u a f e r o c i d a d e não d i m i n u i u . A semana sangrenta de
1871 é u m a u g ú r i o pouco lisongeiro para os o t i m i s t a s e o s parla-
Aumento : 370 % 228 % mentaristas.
, N u m e r o de Renda, em
Anos '
armazéns trancos
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7
A T I T U D E S DO ESTADO N A
ECONOMIA SOCIAL
Se a l e i d a c o n c e n t r a ç ã o c a p i t a l i s t a d e s v i o u m u i t o s s o c i a l i s t a s d a
l u t a económica e levou as massas e x c l u s i v a m e n t e à a g i t a ç ã o eleito-
r a l , isso f o i u m m a l , m a s u m m a l p a r c i a l . N a A l e m a n h a , poc exem-
plo, onde o partido social-democrata se v a n g l o r i a v a de u m triunfo
j a m a i s v i s t o , as c o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o s ã o m u i t o i n f e r i o r e s , n ã o s o -
m e n t e às d a I n g l a t e r r a , o n d e a m a s s a l u t a s e m p r e n o t e r r e n o econó-
mico, mas mesmo a t é às d a F r a n ç a (24). E, e n t r e t a n t o , o m a l s u b -
siste p a r c i a l m e n t e , pois a m a i o r i a dos t r a b a l h a d o r e s , p o r instinto,
se a p e g a à l u t a e c o n ó m i c a , p o r m e i o d a s g r e v e s . Se n o s nossos dias
assistimos a u m nefasto desenvolvimento do Estado todo-poderoso,
que t u d o c e n t r a l i z a , p a r a l i s a as forças p r o d u t o r a s e a v i d a i n t e l e c -
tual, encadeia a p o p u l a ç ã o e u r o p e i a e d e v o r a os p o v o s c o m s e u s m i -
lhões de funcionários e exércitos permanentes, e se especialmente
a m a s s a p o p u l a r se s u b m e t e a o d e s p o t i s m o d e n ã o i m p o r t a q u a l s e j a
a autoridade, a responsabilidade recai, em grande parte, sobre a
escola social-metafísica-autoritária-democrática alemã.
Antes de que a doutrina social-democràtica tivesse alcançado
importante influência, todos espíritos independentes da burguesia,
c o m o d o povo. t e n d i a m à diminuição d a influência do E s t a d o d e n t r o
da vida social, a reduzir o número dos funcionários públicos e a
a l i v i a r as r e s p o n s a b i l i d a d e s f i n a n c e i r a s . Sob a influência d a r e v o l u -
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m u i t o modesta de 446.967.878 f r s . , d a q u a l u m a b o a p a r t e v a i p a r a
os b o l s o s d o s b u r g u e s e s . Em 1885, q u a n d o a s i d e i a s d o " M a n i f e s t o C o m u n i s t a " a i n d a não
mentos m u n i c i p a i s , dos quais u m a terça p a r t e é do mesmo modo salteadores N a p o l e ã o 3.°, M a r n y , P e r s i g n y e o u t r o s heróis d o golpe-
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
Engels. (28) Tào-sõmente a isso denominavam "influência dos modesto filósofo jamais pretendeu o materialismo. Outço econo-
fatõres económicos n a história". mista, Blanqui, menos profundo e menos o r i g i n a l que A d a m Smith,
O c o n j u n t o d o s f a t õ r e s e c o n ó m i c o s , q u e nós c h a m a m o s "econo- formulou, em 1825, d o m o d u s e g u i n t e , o papel que representam os
mismo", não é ainda o "materialismo". O modo de produção é elementos económicos n a história:
somente " u m " fator, o u melhor, u m elemento entre muitos outros " N ã o t a r d e i e m a d v e r t i r que e x i s t i a m e n t r e estas duas ciências
que servem às g e n e r a l i d a d e s evolucionistas, conhecidas pelo nome (a histórica e a econõmico-política) relações de t a l modo intimas
de d o u t r i n a s m a t e r i a l i s t a s . A p a r t e n ã o pode c o n t e r o t o d o ; o eco- q u e n ã o se p o d e e s t u d a r u m a s e m a o u t r a , n e m a p r o f u n d á - l a s - sepa-
n o m i s m o não c o n s t i t u i a d o u t r i n a m a t e r i a l i s t a . Conhecemos muitos radamente ... A p r i m e i r a fornece os f a c t o s , e a " s e g u n d a e x p l i c a as
autores q u e a d m i t i a m a influência das condições e das relações causas". Segui passo a passo os g r a n d e s acontecimentos. Nunca
económicas sobre o desenvolvimento da Humanidade, e que eram, h o u v e m a i s d e d o i s p a r t i d o s q u e se e n f r e n t a s s e m — o dos que que-
entretanto, não somente idealistas e metafísicos, mas até deistas r e m v i v e r d o seu t r a b a l h o e o dos q u e q u e r e m v i v e r d o t r a b a l h o dos
convictos e fervorosos cristãos. Entre outros, temos Guizot, que outros. Patricios e plebeus, escravos e libertos, guelfos e gibelinos,
tratava a história de " a n t a g o n i s m o das classes" na Inglaterra, no vermelhos e brancos, cavaleiros e peões, l i b e r a i s e servis, não são
s é c u l o 17, e q u e e r a t ã o b e a t o como u m trapista. Temos Niebuhr. senão u m a v a r i e d a d e da mesma espécie".
o grande f u n d a d o r d a escola histórica alemã, d a qual M o m m s e n é "A economia politica explica as causas dos factos económicos",
um dos mais brilhantes representantes. Niebuhr. nos princípios disse B l a n q u i . O mesmo d i s s e r a m os seus contemporâneos Mignet,
d o século, d e o l a r o u q u e a l e n d a d e T i t o L í v i o s o b r e a fundação de Agustin Thierry e outros. N a I n g l a t e r r a , J . S. M i l l , n a s u a análise
Roma d e v e ser d e s p r e z a d a , pois é necessário e s t u d a r a h i s t ó r i a se- do p r i m e i r o v o l u m e d a "História d a França", de M i c h e l e t . ao fazer
gundo as condições económicas e sociais do povo r o m a n o . Delas a classificação das escolas históricas, frisa, com a sua habitual
foram extraídos os estudos clássicos sobre a legislação agrária de lucidez, que a história, como ciência moderna, se ocupa das leis
L i c i n i u s , de Sólon e dos G r a c o s . D e l a s s a i r a m as m i n u c i o s a s inves- sociais e cósmicas q u e r e g e m o d e s e n v o l v i m e n t o d a H u m a n i d a d e ("Dis-
tigações de M o m m s e n . M a s N i e b u h r , M o m m s e n e t o d a a escola alemã s e r t a t i c n et d i s c u s s i o n " ) . H. T. Buckle, n a bela t e n t a t i v a que fez
estavam longe do m a t e r i a l i s m o . . . p a r a retraçar a influência d a s leis cósmicas, d a s condições sociais e
Mais ainda. Se r e m o n t a r m o s a o p r i m e i r o h i s t o r i a d o r q u e t e n h a até d a manutenção d a história, disse q u e " a acumulação da riqueza
cogitado d a influência d a s condições cósmicas e económicas sobre é u m d o s p r i n c i p a i s f a t õ r e s , e, s o b r e m u i t o s aspectos, u m dos mais
o progresso e o desenvolvimento da Humanidade, e consultarmc- importantes" (ps. 38, 4 8 , 50 e 5 3 ) . U m contemporâneo de M a r x e
Vico (1668-1744) e o seu t r a d u t o r francês, Michelet, que p o r s u a E n g e l s , m a s q u e os d e s c o n h e c i a por completo, T . Rogers, o a u t o r d a
vez i n s i s t i a sobre o estado económico da nação, v e r e m o s que não g r a n d e o b r a " S e i s Séculos de T r a b a l h o e de S a l á r i o " , p u b l i c o u o s e u
fazem menção ao m a t e r i a l i s m o . O mesmo se v e r i f i c a cem Adam volume "Interpretação Económica da H i s t o r i a " , n o q u a l analisa toda
Smith, outro homem de génio, fundador da economia política, o a história d a I n g l a t e r r a sob o p o n t q - d e - v i s t a económico, pode-se
q u a l e x p r i m i u , e m 1776, a s d u a s f ó r m u l a s fundamentais: a) o tra- chamar " m a t e r i a l i s t a s " a e s t e s sábios d e n a c i o n a l i d a d e s diferentes?
b a l h o é a única o r i g e m da riqueza social; b) o a u m e n t o das rique- Certamente, não. F o r a m sábios, i n v e s t i g a d o r e s d a verdade. Aplica-
zas d e p e n d e d a s condições económicas e sociais do t r a b a l h o e da r a m o método das investigações c i e n t i f i c a s ao e s t u d o d a história, e
relação e n t r e o n ú m e r o de produtores e de não-produtores; este não puderam dar aos r e s u l t a d o s d o s seus trabalhos outros nome
a n ã o ser o de " i n t e r p r e t a ç ã o económica da história".
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ERROS E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
V A B L A N T C H E R K E S O F F
rialismo" a o q u e os sábios chamaram "economismo"? Porque, em mentos. As intempéries l e v a r a m - n o a cobrir o corpo, e assim se
v e z d e d i z e r aos t r a b a l h a d o r e s : "Amigos, a' c i ê n c i a d e m o n s t r a q u e o vestiu. Pela atração de u m f o r t e poder, acercou-se de u m ser que
bem-estar e o progresso do género h u m a n o são c r i a d o s pelo vosso lhe era parecido e p e r p e t u o u a espécie" ("Les Ruines", Paris. Ano
trabalho; que o f u t u r o d a h u m a n i d a d e depende d a nossa felicidade 12 d a R e p ú b l i c a ) .
e d e c o n d i ç õ e s f a v o r á v e i s à vossa a t i v i d a d e p r o d u t i v a ( S m i t h ) , que Era de v e r a decepção q u e o nosso interlocutor experimentou.
por conseguinte, é obrigatório para a classe t r a b a l h a d o r a d e s t r u i r , Se e m V o l n e y f a l t a m as três p a l a v r a s , "saído d a a n i m a l i d a d e " , f o i
o m a i s d e p r e s s a possível, a o r g a n i z a ç ã o d o E s t a d o e d a s c l a s s e s e x p l o - porque a obra de D a r w i n apareceu em 1859, e E n g e l s , se b e m q u e
radoras e opressoras"; porquê, p e r g u n t a m o s , e m vez de fazer u m a oposto ao materialismo dos naturalistas, como veremos adiante,
exposição científica, contou tantas lorotas aos bravos e honrados admitiu, p a r a ser l i d o , a descendência d o h o m e m p o r êle provada.
trabalhadores que confiavam n a sua palavra? Afora isto, q u a l q u e r d i r i a que Engels copiara Volney.
Q u e r e s u l t a d o se o b t é m c o m t ã o e s t r a n h o m é t o d o ? O dos políti- M a s f o i acaso V o l n e y o i n i c i a d o r d a d o u t r i n a d a evolução? Abso-
queiros, homens s e m escrúpulos, i n c a p a z e s , por s u a ignorância, do l u t a m e n t e , não. Espírito c l a r o , c o m t a l e n t o literário incomum, pro-
m e n o r t r a b a l h o i n t e l e c t u a l , e que d e c o r a m dois pequenos folhetos de p a g o u as i d e i a s d o s e u t e m p q . Citando Volney e Blanqui, pretende-
Engels e u m a v u l g a r i z a ç ã o d e M a r x , e q u e c o m t a l b a g a g e m se d ã o m o s p r o v a r q u e a explicação económica n ã o e r a , desde o p r i n c i p i o d o
ares de h o m e n s de ciência. U m a vez e n v i a d o s ao parlamento pelos s é c u l o 18, u m a c o n c e p ç ã o c o n h e c i d a s o m e n t e pelos h o m e n s de génio
trabalhadores enganados e m s u a boa-fé, d e c l a r a m que j a m a i s , antes excepcional, mas u m a doutrina corrente e a c e i t a pelos e s p í r i t o s es-
deles, o socialismo teve representação no parlamento.. . Como se clarecidos. Se Engels a c r e d i t o u que, a s s i m i l a n d o as ideias expan-
nunca tivessem existido Louis Blanc, Proudhon e outros. Q u e de- d i d a s d e s d e m u i t o t e m p o , se c o n v e r t e r i a n u m b e n f e i t o r da humani-
c e p ç ã o p a r a a s pessoas h o n r a d a s , q u a n d o , u m d i a , a b r i r e m os o l h o s dade, enganou-se lastímavelmente. A glória d a descoberta não per-
e compreenderem a mistificação de q u e f o r a m vítimas! t e n c e a V i c o , aos En.ciclopedist.as, a Adam Smith, o u aos filósofos
L e m b r a m o - n o s d e u m a discussão c o m u m j o v e m social-democra- ingleses, a N i e b u h r o u à b r i l h a n t e escola histórica alemã. A ciência
t a , q u e possuía u m a b q a i n s t r u ç ã o e q u e h a v i a l i d o m u i t o , m a s q u e , não tem culpa se E n g e l s fez uma mistura estravagante de várias
desgraçadamente p a r a èle, h a v i a a l g u n s anos que estava embebido coisas; se a m a l g a m o u a metafísica c o m o economismo, e se, i n d i v í -
na leitura dos f o l h e t o s e publicações do p a r t i d o , publicações "censu- d u o pretensioso, se p r o n u n c i o u c o n t r a o m a t e r i a l i s m o d o s natura-
r a d a s " por Engels e Auer. O nosso i n t e r l o c u t o r lera-nos, c e m ares l i s t a s , o único q u e a ciência a f i r m a . P o r m a i s inverossímil q u e p a r e -
t r i u n f a i s , c o m o se fosse u m a c o i s a n o v a e c o m p l e t a m e n t e "materia- ça, o f a c t o d e u - s e , e os o p e r á r i o s a l e m ã e s , q u e t i v e r a m a d e s g r a ç a d e
l i s t a " , u m a p a s s a g e m d a polémica de E n g e l s c o m o p r o f e s s o r Duhring: l e r os f o l h e t o s de Engels, estão c o n v e n c i d o s de que a metafísica de
"Saicia de u m a o r i g e m a n i m a l , a h u m a n i d a d e a p a r e c e u n a história e m H e g e l é a c i ê n c i a c o m os seus s i s t e m a s de t r a n s f o r m i s m o , de evolu-
estado semi-selvagem. Selvagens impotentes diante da natureza, ção e de m o n i s m o . enquanto que a ciência i n d u t i v a de Bacon, de
sem n e n h u m a i d e i a d a s u a própria força e das suas capacidades, os L c c k e , de L a m a r c k , de D a r w i n e de H e m h o l t z é p u r a m e t a f í s i c a . A
h o m e n s e r a m pobres e miseráveis c o m o os a n i m a i s e p r o d u z i a m p o u - ciência d e s i g n a v a sob o n o m e de metafísica u m a parvoíce escolástica,
co m a i s d o q u e e s t e s " . que p r e g o u o a b s u r d o de q u e a n a t u r e z a e t u d o o q u e nos r o d e i a é
Em resposta, a b r i m e s - l h e as " R u í n a s " d e V o l n e y , e êle pôde l e r apenas u m reflexo das nossas ideia i n a t a s , e que, p a r a conhecer o
este t r e c h o , p l a g i a d o p o r E n g e l s : " N a s u a o r i g e m , o h o m e m , nú de m u n d o f í s i c o , é n e c e s s á r i o e s t u d a r , n ã o a n a t u r e z a , m a s ós f a c t o s e os
c o r p o e de espírito, e n c o n t r o u - s e sobre a T e r r a confusa e selvagem. fenómenos s o b r e n a t u r a i s d o espírito, d o q u e d e r i v o u a p a l a v r a " m e t a -
Parecido c o m os r e s t a n t e s a n i m a i s , s e m e x p e r i ê n c i a d o p a s s a d o e s e m física" ( p o r c i m a d a física e d a n a t u r e z a ) .
e n t r e v e r o f u t u r o , e r r o u n o m e i o dos bosques, g u i a d o e g o v e r n a d o tão O golpe m o r t a l nessa estupidez teológica e s o b r e n a t u r a l f o i v i b r a -
somente pela sua n a t u r e z a . Acicatado pela fome, p r o c u r o u os a l i - do p o r B a c o n e L o c k e , p o r V o l t a i r e e os E n c i c i o p e d i s t a s e p o r t o d a
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VA R L A N T C H E R K E S O F F E R R O S E CONTRADIÇÕES DO M A R X I S M O
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MATERIALISMO E ESCRAVIDÃO
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V A R L A N T C H E R K E S O F F ERROS E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
l i s t a i n g l e s a e m F r a n ç a , disse M a r x : "Sentia-se neste pais a necessi- "O nosso corpo foi edificado m u i t o lentamente, pouco a pouco,
dade de u m s i s t e m a p o s i t i v o e "anMmetafísico". A o b r a de Locke
p o r m e i o d e u m a v a s t a série d e a n t e p a s s a d o s vertebrados. O mes-
s a t i s f e z essa necessidade.
m o processo construiu a alma. A a l m a h u m a n a é simplesmente o
C c m o se p o d e compreender, pois (voltamos a p e r g u n t a r aos d i s -
c o n j u n t o d a s nossas sensações, volições, p e n s a m e n t o s , dessas funções
c í p u l o s d e E n g e l s ) , q u e , s e n d o B a c o n e L o c k e os f u n d a d o r e s d o " m a -
fisiológicas que têm p o r órgão elementar as microscópicas células-
t e r i a l i s m o ' * , d a ciência i n d u t i v a , s e j a m c l a s s i f i c a d o s p o r E n g e l s como
gânglios do nosso cérebro. H á h o m e n s de ciência q u e estão p e r s u a -
os fundadores d a metafisica? E como ousam dizer aos t r a b a l h a d o -
didos positivamente de q u e o s protozoários também possuem uma
res que existe u m outro materialismo, diferente do das ciências
a l m a , e q u e e s t a a l m a - c é l u l a se c o m p õ e d e sensações, percepções e
naturais? C o m q u e d i r e n t o é q u e eles, e d u c a d o s n a e s c o l a reacioná-
v o l i ç õ e s , n ã o se d i f e r e n c i a n d o a s q u a l i d a d e s d e c é l u l a s d o s p r o t o z o á -
ria de Hegel, se a t r i b u e m a i n v e n ç ã o d o m a t e r i a l i s m o e combatem
rios. Atualmente sabemos, em definitivo, que a vida orgânica se
o verdadeiro m a t e r i a l i s m o dos n a t u r a l i s t a s ? Como podem dizer aos
desenvolve t a m b é m e m h a r m o n i a c o m " l e i s e t e r n a s " , as m e s m a s q u e
t r a b a l h a d o r e s que a explicação económica d a história, e l a b o r a d a p o r
presidem à evolução do m u n d o orgânico, f o r m u l a d a s p o r L i e l l em
t o d a a c i ê n c i a , f o i p o r eles d e s c o b e r t a , e q u e p r e c i s a m e n t e e s s a des-
1830".
coberta é o verdadeiro materialismo?
Apesar d a s u a pretensão científica, e s t a m o s convencidos de q u e F a l a n d o d a m o r a l h u m a n a , disse H a e c k e l : "Fazei aos d e m a i s o
Engels e seus discípulos a s s i m agiram por ingorância. Se a s s i m é, que q u e i r a i s q u e vos f a ç a m " . Esta prescripção m o r a l , a m a i s elevada
que e s c u t e m , p oi s , o q u e disse u m g r a n d e n a t u r a l i s t a a l e m ã o sobre o que se c o n h e c e , d a t a de m i l h a r e s de anos antes de C r i s t o . Nós a
m a t e r i a l i s m o " v u l g a r " das ciências i n d u t i v a s . T a l v e z a s s i m a p r e n d a m herdámos, sob o n o m e de i n s t i n t o , tendo-a já p r a t i c a d o os nossos
q u e as i d e i a s de" B a c o n e d e L o c k a d o t a d a s p o r M a r x q u a n d o n e m ê l e antepassados, os m a m í f e r o s que v i v i a m e m sociedade".
n e m Engels a s p i r a v a m a u m a d i t a d u r a i n t e r n a c i o n a l , que tais ideias, O h o m e m - a n i m a l , o h o m e m p r o d u t o d a evolução orgânica sob o
e n r i q u e c i d a s , f o r m a m a base d e t o d a a ciência e d a f i l o s o f i a c o n t e m - ponto-de-vista fisiológico — eis o fundamento da ciência atual.
porânea. Todos os sábios, até católicos fervorosos como Secchi e o padre
"A nossa concepção do m o n i s m o , o u f i l o s o f i a unitária (escreveu Moigno, a d o t a r a m a doutrina, pouco mais o u menos nos mesmos ter-
Haeckel), é excessivamente c l a r a e n ã o dá l u g a r a q u a l q u e r e q u í v o c o .
mos de Haeckel. D e facto, n a nossa época, ninguém f a l a d o m a t e r i a -
Para nós são i g u a l m e n t e inadmissíveis o espírito vivente, fora da
lismo como de u m a doutrina aparte. Repetimos: Materialismo é
matéria, e a matéria morta. São c o m b i n a d o s inseparáveis e m cada
sinónimo de ciência. N a época dos E n c i c l o p e d i s t a s , q u a n d o a ciência
átomo. O s e l e m e n t o s d a q u í m i c a a n a l í t i c a são o r e s u l t a d o d e dife-
estava confundida c o m a teologia e a metafísica, o u nos princípios
r e n t e s c o m b i n a ç õ e s d e u m n ú m e r o v a r i á v e l de, á t o m o s p r i m i t i v o s . O
d o século, q u a n d o a d o u t r i n a d o s c a t a c l i s m o s d o m i n a v a a g e o l o g i a e
á t o m o d o c a r b o n o ( o v e r d a d e i r o c r i a d o r d o m u n d o o r g â n i c o ) é, s e g u n -
C u v i e r c o m b a t i a a d o u t r i n a de L a m a r c k e de G e o f f r o y S a i n t - H i l a i r e ,
d o t o d a p o s s i b i l d a d e . a c o m b i n a ç ã o , e m t e t r a e d r o , tí-3 q u a t r o á t o m o s
primitivos. Desde que o nosso planeta esfriou (segundo a hipótese nessa época a controvérsia sobre o materialismo tinha grande i m -
de L a p l a c e ) e q u e o v a p o r se c o n d e n s o u e m á g u a , os á t o m o s de c a r - portância. Mas tíe cinquenta anos para cá dizer-se materialista
bono p r i n c i p i a r a m a s u a a t i v i d a d e c r i a d o r a , u n i r a m - s e c o m os d e - significa simplesmente não ser u m i g n o r a n t e que nega a ciência,
mais elementos e m combinações plasmódicas e capazes de desenvol- n ã o ser u m teólogo, t a l m u d i s t a , metafísico o u s o c i a l - d e m o c r a t a .
v i m e n t o , e d u r a n t e u m l a r g o período o nosso globo f o i h a b i t a d o s o m e n -
Para Engels, que p r i n c i p i a v a a e m a n c i p a r - s e do absurdo meta-
t e pelos protozoários, o u o r g a n i s m o s constituídos de u m a única célula.
f í s i c o s o b a i n f l u ê n c i a d e F e u e r b a c h , as d o u t r i n a s c i e n t í f i c a s deviam
A história d a descendência a n i m a l c o n d u z - n o s , passo a passo, desde
aparecer como u m a espécie de revelação. M a s não havia motivo
o s seres m a i s p r i m i t i v o s , a t r a v é s dos m e t a z o á r i c s , a t é a o h o m e m " .
para atribuir a M a r x e a si m e s m o a invenção destas elementares
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V A R L A N T C H E R K E S O F F E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
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V A RL AN T C H E R K E S O F F
q u e se d ã o a r e s d e d i s c í p u l o s " c i e n t í f i c o s " d o g r a n d e m e s t r e n a f a l s i -
f i c a ç ã o d e i d e i a s , OS l h e c o n s e r v a r ã o f i é i s . São d e m a s i a d o i g n o r a n -
tes p a r a c o m p r e e n d e r e m e a m a r e m a v e r d a d e . T a m b é m eles, c o m o o
m e s t r e , p e r t e n c e m àquela c a t e g o r i a de h o m e n s c o n d e n a d o s p o r D a n t e
a e r r a r pelo I n f e r n o , separados d a h u m a n i d a d e sofredora, por t e r e m
s i d o d e m a s i a d o egoístas n a T e r r a .
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REIVINDICAÇÕES SOCIAIS-DEMO-
CRÁTICAS
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO M A R X I S M O
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO M A R X I S M O
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F a l a n d o f r a n c a m e n t e , a b u r g u e s i a r a d i c a l p e d e r i a não s o m e n t e A t é e m F r a n ç a , o n d e a t r a d i ç ã o d a C o m u n a está t ã o a r r a i g a d a ,
a d e t a r s e m e l h a n t e profissão de fé, p r e t e n s a m e n t e s o c i a l i s t a , c o m o os sociais-democratas, sem suspeitar que fazem o jogo da escola
sistema d o "salário q u a l i f i c a t i v o " , c o m o t a m b é m observar que as reacionàna de Hegel, evitam empregar as palavras "federalismo"
reivindicações d o p a r t i d o social-demccrático f o r m u l a d a s pelo c h e f e e "federação". Nao ousam pregar a organização do "exército do
e f u n d a d o r d o p a r t i d o , L i e b k n e c h t , são m u i t o m o d e r a d a s . E m seu trabalho" nem tão pouco, apesar das suas mais caras aspirações,
ar*1go " O P r o g r a m a d b S o c i a l i s m o A l e m ã o " ( 3 2 ) , L i e b k n e c h t , soò a a abolição das federações lecais, m a s e v i t a m a p a l a v r a d e t e s t a d a p o r
r u b r i c a " O que queremos", e n u n c i a : Hegel. B i s m a r k , E n g e l s , L i e b k n e c h t e o u t r o s , d e s i g n a n d o as s u a s fe-
" L i b e r d a d e a b s o l u t a de i m p r e n s a e do consciência; sufrágio uni- derações p o r " a g l o m e r a ç õ e s " . Estes sábios d o " s o c i a l i s m o c i e n t i f i c o "
versal p a r a todos os c o r p o s representativos, para todos os- s e r v i ç o s ignoram que o termo geológico "aglomeração" significa um amon-
públicos, n a c i o n a i s e m u n i c i p a i s ; e d u c a ç ã o n a c i c n a l , c o m a s e s c o l a s t o a d o de diversos m i n e r a i s , e q u e c s h o m e n s e s o c i e d a d e s se u n e m ,
a b e r t a s a t o d o s , e d u c a ç ã o e i n s t r u ç ã o acessíveis a t o d o s , c o m i g u a l p a c t u a m , aliam-se, federam-se, m a s n ã o se a g l o m e r a m nunca. Fa-
f a c i l i d a d e ; abolição dos exércitos p e r m a n e n t e s e organização de u m a l a n d o d o seu g r u p o p a r l a m e n t a r , p o d e m dizer q u e êle e suas d o u -
milícia n a c i c n a l , de m o d o que cada cidadão seja soldado e cada trinas f o r m a m u m aglomerado de i d e i a s reacionárias, o q u e p e r m i t e
f a l d s d o cidadão; u m t r i b u n a l de a r b i t r a m e n t o internacional; igual- a M i l l e r a n d declarar-se partidário d a santa propriedade individual,
d a d e dos sexos, m e d i d a s de proteção p a r a a classe t r a b a l h a d o r a , l i - assim como Guesde, do coletivismo alemão que acabamos de ana-
mitação das heras de t r a b a l h o , r e g u l a m e n t o s higiénicos", etc. lisar, e D . Deville, contrário á revolução, os q u a i s t o d o s j u n t o s c o n s -
tituem u m aglomerado arcaico, igualmente bom para um museu
(32) l h e Programme of German Scclalísm", Fórum Library. New Y o r k , mineralógico c o m o p a r a u m p a r l a m e n t o de panamistas.
1895. p. 28.
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ÉTICA SOCIAL-DEMOCRÁTICA
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V A II I. A N T n ii 1: R K i: S O I F ERROS E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
descoberta — E m 1873, d e c l a r o u F r i e d r i k E n g e l s . no» s e u Anti- borou aqueles princípios de evolução, b e m como a sua aplicação à
Dúhring, que a m a i s - v a l i a t i n h a sido u m a i m p o r t a n t e descoberta da história.
Karl Marx.
— Mas isso é f a l s o ! — contestámos respeitosamente a Friedrik 4.a descoberta — " A luta-de-classes, como p r i n c i p a l f a t o r n a h i s -
Engels. A mais-valia j a foi apresentada por S i s m o n d i n o S8U l i v r o tória das sociedades humanas" (vejam-se os escritos de Engels, de
N o u v e a u x Príncipes d'Economie Politique, publicado em 1819. u m ano K a r l K a u t s k y , de P l e k a n o f f e outros).
a n t e s d o n a s c i m e n t o de Karl Marx. Depois, em 1824, a t e o r i a da Sobre este ponto, podemos nós afirmar que a luta-de-classes
mais-valia foi elaborada pelo socialista owenista Thompson, o que foi n i t i d a m e n t e concebida pelos pensadores franceses e ingleses, que
se p o d e comprovar pela leitura do seu famoso livro, que teve três* falaram e escreveram muitíssimo sobre ela. E, p a r t i n d o d a grande
edições. R e v o l u ç ã o F r a n c e s a , Seyés, T h o m a s P a i n e , G o d w i n até Guizot. Louis
Blanc, Buret, Blanqui e outros desenvolveram teoricamente a luta-
2. d e s c o b e r t a — " K a r l M a r x e o " a u t o r " d a t e o r i a d o p r e r o e d o
a
de-classes.
valor do t r a b a l h o " .
Os a n a r q u i s t a s e até m u i t o s sábios i n d e p e n d e n t e s disseram .~:cs 5.a descoberta — "A concentração c a p i t a l i s t a pressupõe a ideia
sociais-democratas: Enganais-vos! A teoria do preço e do v a l o r do de que o nUmero de capitalistas diminui, visto que, segundo Karl
t r a t a l h o foi elaborada e estabelecida c e m anos antes da aparição do Marx, u m capitalista aniquila muitos colegas".
Capita], por A d a m S m i t h . E p a r a se c o m p r o v a r a n o s s a afirmação, E nos respondemos aos q u e s u s t e n t a v a m e s t a t e o r i a : v i n t e anos
b a s t a l e r o seu l i v r o W e a l t h o f N a l i o n s , úa n v a i r e x t r a o r d i n á r i o . a n t e s de M a r x . já m u i t o s socialistas t i n h a m escrito sobre a c o n c e n t r a -
ção do c a p i t a l . Entre outros, citaremos Buret e Victor Considerant
3.
a descoberta — "A interpretação económica da História". F r i e - A l é m d i s s o , as e s t a t í s t i c a s t ê m d e m o n s t r a d o q u e o n ú m e r o de c a p i t a -
d r i k Engels c h a m o u - l h e , e x p r i m i n d o - s e obscuramente, a " i n t e r p r e t a - l i s t a s e de e x p l o r a d o r e s d o p r o l e t a r i a d o não diminuiu, antes a u m e n -
ção ma*eria!i:La da H i s t o r i a " . tou consideravelmente. D e s d e 1845, c o m o se p o d e v e r pelas minhas
Estatísticas do t r a b a l h o (FTeedom, a g o s t o de 1894, e d e p o i s , e m 1911
Sobre a interpretação económica d a H i s t o r i a e sobre a missão d o s
e 1912) o n ú m e r o d o s c a p i t a l i s t a s t r i p l i c o u .
seus fatõres económicos, escreveram muitissimo Blanqui, Gustav
Thierry, David Hume e Guizot, n u m tempo em que Marx e Engels
6.a descoberta — A representação parlamentar dos operários,
andavam a p r e n d e n d o a ler e escrever. E e n t r e os contemporâneos
inventada em 1867 p e l o s a l e m ã e s , e a c e i t a e m 1873 c o m o t á t i c a prin-
dos dois socialistas houve m u i t o s pensadores que escreveram sobre
c i p a l do s o c i a l i s m o " c i e n t i f i c o " .
o mesmo assunto, mas que propositadamente foram ignorados por
Sobre este p o n t o devemos recordar aos s o c i a l i s t a s q u e os prou-
eles. Basta citar Gcdkins, Buckle e Thorold Rogers. Ês'c último
chonianos franceses Toulain, Limounsier, Fribourg e outros já
escreveu até u . n l i v r o c o m o t i t u l o A Interpretação Económica da H i s -
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V V 1? L A N T (' II i : r. K E S O F F E R R O S E CONTRADIÇÕES DO MARXISMO
7.a descoberta — " K a r l M a r x f o i o f u n d a d o r d a Associação I n t e r - O r a , a metafísica e o curso metafísico das ideias já t i n h a m sido
nacional dos Trabalhadores". expostos p o r Aristóteles. E, e m tempos mais recentes, Karl Marx
S e m q u e r e r j u l g a r a q u i se M a r x e x e r c e u u m a b o a o u m á influên- designou Hegel como o imperador d a metafísica. Bacon e Locke,
c i a n a I n t e r n a c i o n a l , o q u e é c e r t o — e a s s i m se r e s p o n d e u aos s o c i a - pelo contrário, c r i a r a m o m é t o d o i n d u t i v o d a ciência e do materia-
listas — é q u e êle t e v e u m a p a r t i c i p a ç ã o m u i t o c o n s i d e r á v e l nessa l i s m o das ciências n a t u r a i s ; o outro materialismo — económico o u
Associação. Mas a Internacional fora justamente fundada e m 1862 dialético — não existe c o m caráter científico, a não ser n a cabeça
pelos p r o u d h o n i a n o s , a que já nos referimos, e pelos trabalhadores dos analfabetos "científicos", dos i g n o r a n t e s e dos charlatães.
franceses, T o u l a i n , e t c , j u n t a m e n t e c o m os s i n d i c a l i s t a s i n g l e s e s , à •
frente d o s q u a i s se e n c o n t r a v a m Odger e J u n g . Marx deu-lhes a
1 1 .* d e s c o b e r t a — " M a r x e E n g e l s f o r a m o s p r i m e i r o s a p r o c l a m a r
s u a a d e s ã o d o i s a n o s m a i s t a r d e , n o o u t o n o d e 1864. e m c o n s e q u ê n c i a
a importância d a legislação protetora dos trabalhadores".
c u m " c o n v i t e e p i s t o l a r " de J u n g .
Eis o u t r a falsidade. Já e m 1802, i s t o é, m u i t o s a n o s antes do
8.a descoberta — Karl Marx a t r i b u i - s e a a u t o r i a da frase — A n a s c i m e n t o de K a r l M a r x e F r i e d r i k Engels, o Ministério P i t t (pai)
e m a n c i p a ç ã o dos t r a b a l h a d o r e s há d e s e r o b r a d o s p r ó p r i o s t r a b a l h a - i n t r o d u z i r a n a legislação i n g l e s a , p o r influência e i n i c i a t i v a de Robert
dores . Owen, as p r i m e i r a s leis de fábricas; e, m a i s t a r d e , e m 1809, 1812 e
Deve a d v e r t i r - s e que a r u t u r a c o m p l e t a entre o proletariado e a 1819, s e g u i r a m - s e numerosas leis d a m e s m a natureza. E , e m 1836,
b u r g u e s i a r a d i c a l f o i f e i t a n a s j o r n a d a s d e j u n h o d e 1848, n a s b a r r i - u m a comissão de operários propôs a instituição l e g a l d a j o r n a d a de
c a d a s d e P a r i s , o q u e é t e s t e m u n h a d o p o r t o d o s os h i s t o r i a d o r e s d a 30 h o r a s d e t r a b a l h o d i á r i o . T u d o isto n u m a época e m que M a r x e
época, pelo operário Déjacque e seus contemporâneos, p o r H u g o , p o r Engels estudavam, como rapazes, nos liceus d a A l e m a n h a , daquela
Vidal, por Proudhon, por Herzen e por Turgueneff. Aquela fórmula A l e m a n h a o n d e os o p e r á r i o s t r a b a l h a v a m 14, 16 e 18 h o r a s p o r d i a !
foi i n t r o d u z i d a nos E s t a t u t o s da I n t e r n a c i o n a l , de acordo com os
desejos dos operários franceses, os q u a i s t a m b é m sustentavam que, 12. a descoberta — " A l e i d o salário de t r a b a l h o m í n i m o f o i des-
n o s e i o d a I n t e r n a c i o n a l , so d e v i a m s e r a d m i t i d o s os o p e r á r i o s m a - coberta e m 1947 p o r F r i e d r i k E n g e l s " , afirmou orgulhosamente este
nuais. mesmo sabichão.
E p r o v á v e l q u e fosse o S r . q u e a t i v e s s e descoberto, mas a ver-
y. a descoberta — " O método dialético". Sobre isto deve-se res- dade é que a ciência conhece essa l e i c o m o a l e i de T u r g o t - R i c a r d o .
p o n d e r , s o r r i r t d o , que Aristóteles (nascido n o a n o 384 a . C, e fale- E sobre ela escreveram extensamente Buret, Mill, Lavoley, Lassalle
c i d o n o a n o 232 a . C . ) descreveu este m é t o d o , m e n c i o n a n d o Zenão, e t o d o s os e c o n o m i s t a s . . . — r e s p o n d e r a m - l h e os a n a r q u i s t a s , modes-
o f i l ó s o f o g r e g o d a escola eclética e f u n d a d o r d a escola dos sofistas, t a m e n t e e s e m pretensões de espécie a l g u m a , a c o m p a n h a d o s p o r t o d o s
como descobridor dele ( n ã o c o n f u n d i r este Zenão c e m o Zenão de os v e r d a d e i r o s eruditos socialistas, especialmente os p o p u l i s t a s rus-
Citião, f u n d a d o r d a escola estóica). Por conseguinte, este método sos (narodniki)
não precisava de ser descoberto, e. c o m o d i z W u n d t , " i n t r o d u z i - l o n o
Todavia, os m a r x i s t a s , s a i n d o à estacada, não se c a n s a r a m de
socialismo constituiu um péssimo trabalho, porque, alterando as
afirmar, à g u i z a de contestação, q u e os s o c i a l i s t a s e os anarquistas
i d e i a s , t r a n s f o r m o u os m a r x i s t a s e m sofistas".
que não c o n c o r d a v a m c o m eles não p a s s a v a m de " b u r g u e s e s " e do
"utepistas ignorantes". L o g o , as vozes dos adversários f o r a m abafa-
10. a descoberta — " O método i n d u t i v o , que Bacon e Locke trans- das pelo coro dos p r o d u t o r e s de elogios. A veneração por K a r l M a r x
p o r t a r a m p a r a a filosofia, d e u o r i g e m ao curso metafísico das i d e i a s " e Engels cresceu e fortaleceu-se cada vez mais. E os m a i s fortes
fEngels). n e s t a i d o l a t r i a f o r a m os a l e m ã e s .
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO M A R X I S M O
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t a , e n q u a n t o q u e t o d o s os i n s t r u m e n t o s d e p r o d u ç ã o d e v e m ser c e n -
"Na sua luta gigantesca — gritava enfaticamente Augusto Bebei
tralizados nas mãos do Estado.
— a Alemanha foi o guia da humanidade". E "não é u m acidente
f o r t u i t o a descoberta e a fixação, pelos alemães, das leis seguras da Mas i s t o n ã o é c o m u n i s m o , e s i m opressão, d i s c i p l i n a , s e r v i l i s -
evolução s o c i a l e d a s bases c i e n t i f i c a s d o socialismo. O primeiro mo, escravidão.
l u g a r e n t r e esses a l e m ã e s c o r r e s p o n d e a M a r x e a E n g e l s " (A M u l h e r Os comunistas e socialistas de 1848 u s a v a m duma linguagem
e o Socialismo). muito diferente. Comecei a comparar o "Manifesto Comunista"
com os e s c r i t o s d e s s a época, e v i , c o m o m a i o r assombro, que, n a s
"Da mesma forma que as descobertas de K e p l e r e de Newton
suas l i n h a s gerais e nas suas ideias teóricas fundamentais, esse
sobre o m o v i m e n t o dos corpos celestes, a d e s c o b e r t a de K a r l Marx
"Manifesto" é simplesmente u m a cópia do "Manifesto" de Victor
das leis d a evolução e d a expressão c a p i t a l i s t a s d a indústria apre-
Considerant, isto é — a copia do t r a b a l h o d u m indivíduo que não
senta-se como u m facto c i e n t i f i c o irrefutável. A o " C a p i t a l " de Karl
era c o m u n i s t a n e m revolucionário. Até as dez "medidas" práticas
M a r x c h a m o u - s e a "Bíblia d a classe o p e r á r i a " . . . M a s , esta designação
do " M a n i f e s t o C o m u n i s t a " , sobre a monopolização c o m p l e t a da vida
q u a d r a m e l h o r ao " M a n i f e s t o C o m u n i s t a " , porque representa a quin-
s o c i a l p e l o E s t a d o , c s e x é r c i t o s p r o l e t á r i o s , e, e s p e c i a l m e n t e , a orga-
ta-essencia do socialismo". (Kautzky, n a sua biografia laudatória
nização do t r a b a l h o n o c a m p o , f o r a m p l a g i a d a s de u m o u t r o fran-
d e E n g e l s . e s c r i t a n a época e m q u e éste a i n d a v i v i a e p a r a a qual
cês q u e i g u a l m e n t e não e r a c o m u n i s t a n e m revolucionário. Essas
d e u o seu tácito consentimento).
" m e d i d a s " f o r a m r o u b a d a s a V i d a l , q u e as t i n h a elaborado metodi-
" N o d i a e m que apareceu o " M a n i f e s t o C o m u n i s t a " , a b r i u - s e u m a
c a m e n t e , e m f o r m a de projetos-de-lei, obedecendo a u m sistema c o m -
nova era" (Arthur Labriola).
pleto ar. r e f o r m a s sociais e estatais O resto das ideias f u i encon-
A fama do a u t o r desta "grande, embora pouco volumosa obra"
t r á - l o n o l i v r o de B u r e t , u m f o u r i e r i s t a e r e f o r m a d o r pacifico. O
(palavras de P l e k a n o f f ) cresceu e encheu a mundo inteiro. Em
seu l i v r o i n t i t u l a - s e D a miséria d a classe operária n a I n g l a t e r r a e n a
t o d o s o s países f o r a m g l o r i f i c a d a s a s t e o r i a s d e M a r x . E. d e acordo
França. Q u a n d o , e m 1840, a A c a d e m i a f r a n c e s a de Ciências o rece-
com elas, os camponeses e todos os seres d e v e m , em benefício da
beu, teceu-lhe u m grande elogio. E E n g e l s , q u e c o n t a v a , e n t ã o , 23
humanidade, empobrecer-se, perder a terra a trabalhar fatigante-
a n o s tce i d a d e , v e r t e u - o p a r a o a l e m ã o e p u b l i c o u - o , c o m o s e u n o r n c ,
mente p a r a t o d o s os c a p i t a l i s t a s . Os verdadeiros amigos do povo
como se fosse sua própria obra! Sobre isto, diz-nos o professor
sentiam-se l o u c o s ao e n c a r a r estes l u g a r e s - c o m u n s sobre a necessi-
Andler: " O l i v r o d e E n g e l s é, a p e n a s , a redação, l i g e i r a m e n t e m o d i -
dade d a miséria e do e m p o b r e c i m e n t o progressivos; mas, a grande
f i c a d a , d a o b r a de B u r e t " .
m a s s a dos i g n o r a n t e s m a r a v i l h o u - s e e e n t o o u h i n o s à s a b e d o r i a dos
autores de s e m e l h a n t e s teorias. Em face disto, aciarou-se p a r a m i m a o r i g e m das pérolas " c i e n -
modo particular, o "Manifesto Comunista"; m a s , sobre o comu- o Engels não descobriram nenhuma espécie de l e i científica para
nismo propriamente dito, não se encontra nesse manifesto quase o socialismo. A s u a t e o r i a d o e m p o b r e c i m e n t o necessário dos c a m -
f o r ç a s , e a c a d a u m s e g u n d o a s s u a s n e c e s s i d a d e s — se m e n c i o n a , u m a p a r t e — n a n a t u r e z a , n a história, n a e c o n o m i a , n o s o c i a l i s m o — exis-
única, vez, n o " M a n i f e s t o " . Nesse documento fala-se do monopó- tem semelhantes monstruosidades como g r a u s necessários de evolu-
lio do Estado, d a organização do exército dos t r a b a l h a d o r e s , do t r a - ção p a r a a realização prática do socialismo. Sustentar, e m nome
o m a n d o dos superiores, daqueles a quem, conforme nos diz Engels, sivo dos camponeses, é u m a injúria cometida conscientemente con-
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Confesso, leitor, que, quando descobri que o empobrecimento " i g n o r â n c i a " , a m i n h a " f a l t a de decoro" e o meu "absoluto desco-
necessário do povo t i n h a sido pregado, como a m a i s a l t a das ver- nhecimento da literatura socialista francesa de 1840".
dades, p o r plagiários e pelos seus m a i s f e r v o r o s o s crentes, p o r sequa- Ao mesmo tempo, K a u t z k y cita Louis Blanc e a sua obra sobre
zes d e s l u m b r a d o s e p o r i g n o r a n t e s , a m i n h a a l e g r i a n ã o t e v e l i m i t e s . a organização do trabalho, publicada em 1839. Mas como, n a opi-
E d e s t a m i n h a a l e g r i a c o m p a r t i l h a r a m os v e r d a d e i r o s , os autênticos nião dêie, eu ignoro a literatura socialista francesa de 1840, ddr-
amigos do povo, que me animaram e auxiliaram moralmente nos lhe-ei que no p r i m e i r o c a p i t u l o do m e u l i v r o Páginas d a História do
m e u s t r a b a l h o s de investigação. A p r o v a de t u d o isso encontrei-a Socialismo; d o u t r i n a s e atos d a social-democracia, escrevi: "Na sua
em 1893, q u a n d o comecei a p u b l i c a r , sob a forma de monografia, "Revue du Progrés", que começou a editar em 1839, i n i c i o u Louis
as conclusões a q u e cheguei. Essas monografias foram traduzidas B l a n c a publicação d o seu sistema de socialismo de Estado..."
e m q u a s e t o d o s os i d i o m a s europeus.
Não é estranho que Kautzky, supondo-me desconhecedor da
Aparte as m i n h a s crónicas sobre a concentração do c a p i t a l , os
l i t e r a t u r a socialista francesa de 1840, p e r s i s t a n e s s a afirmativa, va-
resultados das referidas i n v e s t i g a ç õ e s só f o r a m publicados em ale-
lendo-se quase das m i n h a s p a l a v r a s (escritas há u n s p o u c o s de lus-
mão, em 1905. Neste ano, o camarada austríaco Pierre Ramus
tros) para defender o seu p a t r i a r c a ? E assim que, n o u t r a página
traduziu as minhas investigações sobre o plágio do manifesto de
de Neuen Zeit, querendo demonstrar o meu desconhecimento e o
V i c t o r Considerant p o r M a r x e Engels, e i g u a l m e n t e p u b l i c o u o meu
desconhecimento de Labriola da literatura socialista do ano 40,
trabalho, em que afirmo, documentadamente, que Engels pegou no
Kautzky faz esta afirmação: "Observa-se que é uma pura casua-
l i v r o de Buret, traduziu-o para a s u a l í n g u a , e, depois, mandou-o
lidade que T c h e r k e s o f f e Labriola vejam no Manifesto de Conside-
imprimir c o m o seu n o m e , c o m o se fosse o b r a s u a ! A estes t r a b a -
rant as fontes secretas das ideias do Manifesto Comunista. Da
lhos j u n t o u Ramus u m artigo do social-democrata italiano Arthur
mesma f o r m a as p o d e r i a m t e r e n c o n t r a d o n o l i v r o de L o u i s B l a n c ,
L a b r i o l a , que confirma plenamente as m i n h a s descobertas.
o u nos l i v r o s de q u a l q u e r o u t r o s o c i a l i s t a daquele tempo".
Esta circunstância levou Karl Kautzky a publicar u m artigo
Se K a u t z k y t i v e s s e lido a m i n h a obra — e a d m i t i n d o sempre a
n o n . ° 47 d a N e u e n Zeit (de 18 de a g o s t o de 1906) contra o folheto
sua sinceridade n a q u i l o que lê — n u n c a escreveria as f r a s e s ante-
editado p o r R a m u s , a r t i g o que apareceu, quase ao m e s m o tempo, em
riores, visto que, e m lugar de me refutar, confirma e fortifica a
russo, c o m o f o l h e t i m de u m j o r n a l social-democrático d a Geórgia. O
m i n h a demonstração. Nesse t r a b a l h o , d i g o e u : "Que fraco é Kau-
a r t i g o foi escrito especialmente contra m i m e contra Labriola, visto
t z k y n a defesa das pérolas e das descobertas de M a r x e E n g e l s ! Se
que Ramus apenas coligiu o m e u trabalho. Mas Labriola foi mais
náo soubéssemos q u e , e m t e m p o s , ê l e comparou o Manifesto Comu-
longe: teve a coragem e o valor de comparar, de acordo com o
nista à Biblia e os seus autores a Kepler e a Newton, devíamos
m e u p e d i d o , o m a n i f e s t o de V i c t o r C o n s i d e r a n t c o m o manifesto de
supor que êle p r o c u r a , apenas, r i r - s e dos seus mestres e dos seus
Marx-Engels; e, c o m o consequência disso, a f i r m g u que "Tcherkesoff
leitores! A m i n h a demonstração, v e r i f i c a d a por Artur Labriola, de
dizia a verdade quando sustentava que o Manifesto Comunista é
que t o d a s as ideias f u n d a m e n t a i s do M a n i f e s t o de M a r x - E n g e l s sobre
apenas u m a tradução do M a n i f e s t o de V i c t o r Considerant,, oa qual
a luta-de-classes, a c o n c e n t r a ç ã o d o c a p i t a l , a s c r i s e s de produção,
Marx e Engels não acrescentaram nem u m a sílaba sequer daquilo
a r e v o l t a d o s t r a b a l h a d o r e s c o n t r a o c a p i t a l , n u m a p a l a v r a , à. m i n h a
que eles d i z i a m ser descobertas "suas".
a f i r m a ç ã o de q u e t o d a s as i d e i a s q u e c o n s t i t u e m o M a n i f e s t o Comu-
"O a r t i g o d e K a u t z k y d i r i g e - s e , como disse, e s p e c i a l m e n t e contra nista e o marxismo, foram roubadas, por completo, a Victor Consi-
m i m , m a s , c o m o p o s s o p r o v a r , K a u t k y n ã o se d e u a o t r a b a l h o d e ler derant, respondeu Kautzky com a seguinte confissão:
o a r t i g o de Labriola no original italiano. E f o i essa a causa que
"Certamente que todas estas ideias já se e n c o n t r a v a m descritas
l h e d e t e r m i n o u o b o m gosto de r e p r o v a r o m e u " i d i o t i s m o " , a m i n h a
no manifesto de V i c t o r Considerant".
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Quer dizer: M a r x e Engels não p r e c i s a r a m de as descobrir. Ora, isto. Até 1880 n ã o se falou novamente de semedhante manifesto.
e u n u n c a disse o u t r a coisa. M a s , p o r que razão é que K a u t z k y a n d o u E quando escritores ignorantes disseram ao povo, n a s suas p u b l i c a -
m a i s d u m q u a r t o de século a a f i r m a r q u e " t o d a s as i d e i a s d o M a n i - ções políticas, que "as ideias basilares do Manifesto constituem
festo C o m u n i s t a " f o r a m descobertas por M a r x e Engels? Porque é importantes descobertas de M a r x " ; e quando se começou a com-
que K a u t z k y os c o m p a r o u a o g r a n d e N e w t o n ? Porque f o i que Bebei p a r a r M a r x e E n g e l s a K e p l e r e a N e w t o n , é q u e nós lembrámos aos
a f i r m o u solenemente aos operários alemães q u e " t o d a s as leis sociais engraxates, que, graças ao seu desconhecimento geral das coisas,
tinham sido descobertas por M a r x e Engels", quando é certo que esqueciam a l i t e r a t u r a s o c i a l i s t a d e 1840. P o r q u e , se a conhecessem,
os socialistas franceses d e 1840 j á as c o n h e c i a m e q u e V i c t o r Consi- não atribuiriam aos seus mestres aquilo que já estava descoberto.
derant as expôs b r i l h a n t e m e n t e n a s páginas d o s e u Manifesto? Num trabalho muito documentado e imparcial, demonstra o
Em face disto, Kautzky disse: Victor Considerant já estava sábio professor francês Andler nue as c h a m a d a s "descobertas" de
esquecido. E os discipulos deste fourierista, membros da Inter- K a r l M a r f x e F r i e d r i c k E n g e l s " n ã o são senão as opiniões, geralmente
nacional, como Biirkli, por exemplo, nunca disseram que M a r x e coerentes, dos socialistas de t o d a s as escolas até 1848". E Seignobs
Engels p l a g i a r a m Victor Considerant! afirma, n a s u a História da E u r o p a Contemporânea, o seguinte:
M a s , s e r i a V . C o n s i d e r a n t o único esquecido pelas massas operá- "Já antes d e 1848 se f a l a r a d a e x p l o r a ç ã o d o h o m e m pelo ho-
r i a s a e 1850 e 1860? D e 1862 a 1870 n ã o se f a l o u , n a s sessões o u n a m e m , do d i r e i t o ao t r a b a l h o , d a m a i s - v a l i a , d a a n a r q u i a , d a social-
imprensa da Internacional, do Manifesto Comunista de K a r l Marx. d e m o c r a c i a , d a luta-de-classes, do p a r t i d o político operário, d a asso-
Ora, isto leva-nos a a f i r m a r que não só C o n s i d e r a n t , m a s t o d a a ciação i n t e r n a c i o n a l dos t r a b a l h a d o r e s , d a libertação d o p r o l e t a r i a -
literatura socialista de 1840 e a t é o próprio Manifesto Comunista do, d a organização d o t r a b a l h o , d a associação dos p r o d u t o r e s . Tam-
foram esquecidos d a s gerações operárias de 1860. A r e a ç ã o q u e se bém antes dessa época, j á se tinham apresentado projetos de lei
seguiu à revolução de fevereiro de 1848 p e r s e g u i u duramente os p r o t e g e n d o o t r a b a l h o , sobre a socialização d a p r o p r i e d a d e , o impos-
socialistas e exterminou-lhes t o d a a literatura. to progressivo d a s r e n d a s , a g r e v e g e r a l , as 8 h o r a s d e t r a b a l h o , os
"Os socialistas foram obrigados a ocultar-se e a desaparecer congressos operários".
d a arena política... Aproveitando a s lições d a r e v o l u ç õ e s d e 1848, T o d a s estas ideias t i n h a m sido explicadas satisfatoriamente em
os g o v e r n o s i n t e n s i f i c a r a m as suas medidas contra a propaganda 1843 p o r V i c t o r C o n s i d e r a n t , n o s e u M a n i f e s t o , ao qual M a r x e E n -
r e v o l u c i o n á r i a , e, à s o m b r a dessas m e d i d a s , violentas e arbitrárias, gels f o r a m furtar toda a parte teórica, p a r a a apresentarem como
parecia que o m o v i m e n t o socialista estava completamente esmaga- a súmula do m a r x i s m o p u r o , e s p e c i a l m e n t e n o p r i m e i r o capítulo do
do. L . R e y b a u d , que escreveu u m a história d o s o c i a l i s m o , d i z sobre Manifesto Comunista. A t é o título deste p r i m e i r o capítulo — Bur-
o assunto: " O socialismo m o r r e u , e falar dele significa p r o n u n c i a r gueses e Proletários — f o i r o u b a d o a Considerant.
uma oração fúnebre". E s t e capítulo, m u i t o i m p o r t a n t e , d o M a n i f e s t o , c o n t é m 350 l i n h a s .
Assim se e x p r i m e Charles Seignobs n a s u a História d a Europa E, comparando os dois textos, encontramos 36 concordâncias em
C o n t e m p o r â n e a , d e 1903. ideias e no texto. Por outras palavras: a cada ideia plagiada
N o seu prefácio p a r a a edição inglesa d o M a n i f e s t o Comunista. correspondem 10 l i n h a s . Ambos os manifestos principiam quase
Engels escreveu, em 1888, q u e esse m a n i f e s t o t i n h a sido esquecido. textualmente pela mesma genaralização histórica, e as conclusões
A e d i ç ã o a l e m ã desse p l á g i o a p a r e c e u e m 1872. É, p o i s , u m mila- teóricas de a m b o s terminam igualmente c o m a proclamação, como
gre que Búckli e o u t r o s n ã o nos falassem cio e s q u e c i d o manifesto, base f u n d a m e n t a l de u m a s o c i e d a d e l i v r e e solidária.
que se t i n h a convertido numa raridade bibliográfica? Para apresentar a prova concludente do plágio cometido por
Os internacionalistas não conneceram o Manifesto Comunista, Marx-Engels do m a n i f e s t o de V i c t o r C o n s i d e r a n t , expus m i n u c i o s a -
e, p o r c o n s e g u i n t e , n ã o se o c u p a r a m dele. E K a u t z k y devia saber mente a s 36 c o n c o r d â n c i a s , u m a s a o p é das o u t r a s . M a s isto não
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no seu l i v r o "Miséria d a F i l o s o f i a " , n o " M a n i f e s t o Comunista" e no (39) Bray — "Labour's Mirouge and labour's remedy".
(40) Marx-Engels — "Das Kommunisrtishe Mantíest", p. 21.
:artigo necrotógico que publicou no "Sozialdemokrat", de Berlim,
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próprio é u m proletário, u m t r a b a l h a d o r ; a s u a o b r a é u m m a n i f e s t o
científico d o o r o l e t a r i a d o f r a n c ê s . " nifestado a esse r e s p e i t o . Pelo seguinte extrato desse t r a b a l h o d e
Aqui. como se v ê , M a r x expressa-so em termos precisos, apon- Marx os l e i t o r e s p o d e r ã o j u l g a r :
tando Proudhon como u m expoente do socialismo proletário e afir- "O E s t a d o é i n c a p a z de s u p r i m i r a miséria social e a c a b a r com
m a n d o que a s u a o b r a c o n s t i t u i u m m a n i f e s t o científico d o p r o l e t a - o pauperismo. E q u a n d o se p r e o c u p a c o m esses p r o b l e m a s e resolve
riado francês. E m troca, n o Manifesto Comunista, assegura que fazer alguma coisa, não dispõe de o u t r o s recursos senão a benefi-
Proudhon encarna o socialismo burguês e conservador. Já viram cência pública e as m e d i d a s de caráter administrativo. Frequen-
m a i o r contradição? E m quem devemos acreditar, n o M a r x d a Sa- t e m e n t e n e m isso f a z . N e n h u m Estado pode proceder de o u t r a for-
grada Familia, ou no Marx do Manifesto Comunista? E p o r q u e essa m a , p o r q u e , p a r a s u p r i m i r a miséria, d e v e r i a começar p o r s u p r i m i r - s e ,
divergência? Eis a pergunta que fazemos novamente, e, como é p o i s a c a u s a d o m a l está n a e s s ê n c i a , n a n a t u r e z a d o E s t a d o , e n ã o
n a t u r a l , a resposta é também a m e s m a : M a r x queria ocultar a todos em u m a forma determinada dele, como supõem muitos radicais e
o que devia a P r o u d h o n , e p a r a t a l qualquer m e i o e r a lícito. Não revolucionários que a s p i r a m m o d i f i c a r a e s t r u t u r a e s t a t a l p o r outra
pode haver outra explicação para esse fenómeno. Os meios que melhor, E u m g r a v í s s i m o e r r o a c r e d i t a r q u e a m i s é r i a e os t e r r í v e i s
M a r x empregou m a i s tarde n a sua l u t a c o n t r a Bakúnine evidenciam m a l e s d o p a u p e r i s m o p o d e m ser c u r a d o s m e d i a n t e u m a f o r m a qual-
que êle n ã o se c o n s t r a n g i a na escolha. quer do Estado. Se o E s t a d o r e c o n h e c e a existência de certos males
sociais, t r a t a de explicá-los, seja c o m o leis n a t u r a i s c o n t r a as q u a i s
3 n a d a pode fazer o h o m e m , seja c o m o resultados d a v i d a p r i v a d a , n a
qual não pode imiscuir-se, ou, finalmente, como defeitos da admi-
De c o m o M a r x h a v i a sido influído pelas i d e i a s de P r o u d h o n , até nistração pública. Porisso na Inglaterra a miséria é considerada
mesmo pela concepção anarquista, demonstram-no à saciedade os c o m a consequência de u m a l e i n a t u r a l , s e g u n d o a q u a l os s e r e s h u -
seus e s c r i t o s políticos d a época e m que escrevia no "Vorwaerts", de manos a u m e n t a m e m proporção m a i o r que os m e i o s de v i d a . (42)
Paris. O " V o r w a e r t s " e r a u m p e r i ó d i c o q u e se p u b l i c a v a n a c a p i t a l O u t r o s a f i r m a m que a má v o n t a d e dos p o b r e s é a c a u s a d a sua p o -
francesa e m 1844 e 1845, s o b a d i r e ç ã o d e H e n r i B e r n s t e i n . A sua breza. O r e i F r e d e r i c o G u i l h e r m e , d a Prússia, a c h a v a que a causa
tendência era liberal a princípio, mas, depois do desaparecimento está n o s carações p o u c o cristãos dos ricos, e a C o n v e n ç ã o e o P a r -
dos "Anais Germano-Franceses", Bernstein t r a v o u relações o o m os lamento Revolucionário franceses s u s t e n t a r a m q u e os m a l e s sociais
antigos colaboradores desta publicação, e estes o c o n q u i s t a r a m p a r a são a consequência d o â n i m o contra-revolucionário d e m o n s t r a d o pe-
a oausa socialista. De então por diante, o "Vorwaerts" conver- los proprietários. Por conseguinte, na Inglaterra castigam-se os
teu-se e m órgão o f i c i a l d o s o c i a l i s m o , e n u m e r o s o s colaboradores da p o b r e s , o r e i d a Prússia l e m b r a aos r i c o s o s seus d e v e r e s de cristãos,
e x t i n t a publicação d e A . R u g e , e n t r e eles Bakúnine, M a r x , Engels, e a Convenção Francesa c o r t a v a as cabeças dos proprietários.
H e n r i Heine, George Herwegh, e t c , nele p u b l i c a r a m seus trabalhos. T o d o s os E s t a d o s p r o c u r a m a c a u s a d a miséria nos defeitos for-
No n ú m e r o 63 d o " V o r w a e r t s " (7 d e a g o s t o d e 1844) p u b l i c o u t u i t o s o u i n t e n c i o n a i s d a a d m i n i s t r a ç ã o , e, c o n s e q u e n t e m e n t e , julgam
M a r x u m a r t i g o de polémica i n t i t u l a d o " A n o t a ç õ e s críticas ao a r t i g o possível reduzir o m a l mediante reformas administrativas. Mas o
O r e i d a Prússia e a Reforma Social". Nele estudava a natureza E s t a d o não t e m o p o d e r de e n c o b r i r a c o n t r a d i ç ã o e x i s t e n t e e n t r e a
do Estado e demonstrava a incapacidade a b s o l u t a deste organismo boa v o n t a d e da admintração e a sua incapacidade real, porque, se
para minorar a miséria social e acabar com o pauperismo. As
ideias que o a u t o r desenvolvia nesse a r t i g o e r a m puramente anar-
(42) As ' q u e i m a s " de café, carneirc* e trigo nos nossos dias provam o
quistas e estavam em perfeita concordância c o m a concepção que
contrario. Também as restrições nas culturas e outros processos de destrui-
Proudhon, Bakúnine e outros teóricos d o anarquismo haviam ma- ção dos produtos demonstram que se poderia garantir o bem-estar a todos.
(N. do T r ) .
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V A R L A N T C H E R K E S O F F
Na Alemanha, principalmente, onde Proudhon, é quase desco- tos, as ideias, o i d e a l , n ã o t ê m eficáa.a própria n e m influência real
nhecido, puderam circular as m a i s estranhas afirmações. Mas, à na vida; são e x c l u s i v a m e n t e as a p a r ê n c i a s ilusórias d e u m d e t e r m i -
medida que vão senão c o n h e c i d a s as i m p o r t a n t e o b r a s d a v e l h a lite- n i s m o m a t e r i a l sobre o q u a l não e x e r c e m ação. O interesse, m a t e r i a l ,
ratura socialista, vê-se que t u d o q u a n t o é denominado "socialismo económico, é o que rege o m u n d o . Este é o t e m a que t e m t i d o êxito
centifico" se d e v e a o s " u t o p i s t a s " , q u e d u r a n t e tanto tempo foram sob o n o m e de "concepção m a t e r i a l i s t a d a história". É isto o que
esquecidos, p o r causa do gigantesco reclamei f e i t o e m t o r n o d a escola um bando d e p a p a g a i e s , c o m o u s e m óculos, i n f a t i g a v e l m e n t e nos
m a r x i s t a , e de o u t r o s fatõres, q u e r e l e g a r a m ao esquecimento a litera- vem repetindo d e s d e h á m e i o século d e g e r m a n i z a ç ã o d o socialismo.
t u r a socialista do p r i m e i r o periouo. N o e n t a n t o , u m dos m e s t r e s mais O que Engels, o a l t e r ego de M a r x , r e s u m i a nestas p a l a v r a s : "As cau-
i m p o r t a n t e s de M a r x , o que l h e d e u as bases d a s u a evolução s o c i a l i s - sas determinantes de t a l o u q u a l metamorfose o u revolução social
ta, foi precisamente Proudhon, o anarquista caluniado e mal com-
preendido pelos socialistas legalitários.
(43) K a r l Marx, " Z u r der Kritik der Polischen Ekonamie, Vorworf*
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E R R O S E CONTRADIÇÕES DO M A R X I S M O
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a s s i m , se f a z c a d a v e z m a i s s o c i á v e l , i s t o é, s u s c e t í v e l d e a l t r u í s m o ,
n ã o d e v e m s e r p r o c u r a d a s n a cabeça d o s h o m e n s . . . e sim na meta-
a o m e s m o t e m p o q u e de egoísmo. E q u e t a m b é m é d o t a d o de razão,
morfose d a produção e d a t r o c a " . (44)
o u seja, d a f a c u l d a d e de r a c i o c i n a r , de perceber abstrações e de c o o r -
Examinemos o valor desta afirmação.
denar suas ideias a b s t r a t a s . E desta tríplice n a t u r e z a do homem
procedem, n a c o n d u t a d a a t i v i d a d e h u m a n a , três o r d e n 9 de s e n t i m e n -
*
tos: egoístas, altruístas e i m p e s s o a i s o u ideológicos.
* *
Ideias puras? Razão pura? Não; d e i x e m o s isso aos metafísicos.
S i m , dinâmica cerebral. " D e s d e os sábios e s t u d o s de Fouillée e de
Advirtamos imediatamente q u e e l a se a p o i a e m u m a metáfora, T a r d e , n ã o é p e r m i t i d o i g n o r a r q u e as ideias são forças, e as i m a g e n s
uma metáfora substituída pela realidade e à c ê r c a d a q u a l se r a c i o - sugestões q u a s e h i p n ó t i c a s " , (45)
cina como se se t r a t a s s e d a p r ó p r i a r e a l i d a d e . De facto, não existe
supereestrutura cocial. Apenas há n i s t o u m a expressão metafórica
e metafísica, u m a imaginação g r a t u i t a e arbitrária, s u p o n d o precisa- • *
m e n t e , p o r u m a p e t i ç ã o d e p r i n c í p i o , o q u e se t r a t a d e d e m o n s t r a r :
o nada do ideal e a divindade da matéria. B a s t a a b r i r os o l h o s a E s s a v i d a e e s s a a t i v i d a d e a u t ó n o m a d a s i d e i a s nós, a p e s a r do
r e a l i d a d e p a r a desfazer-se esta ilusão. O que nos m o s t r a , c o m efeito, que diz M a r x , podemos comprová-las, sobretudo n o domínio econó-
o m u n d o social é u m a h a r m o n i a orgãnioa onde as i d e i a s , l o n g e de m i c o , n a s relações económicas que M a r x d e c l a r a independentes da
a p a r e c e r e m c o m o u m ca p u i m o r t u u m , c o m o u m e l e m e n t o m o r t o , s e m vontade dos h o m e n s . " U m fenómeno económico — diz m u i justa-
realidade, pelo contrário, a p a r e c e m como u m elemento vivo, vivendo m e n t e J . de Greef — não é u m fenómeno p u r a m e n t e m a t e r i a l " (46).
de s u a própria v i d a , c o m o u m a força autónoma, por toda a parte E especifica: "Os fenómenos económicos, que e u estou de acordo
presente e ativa. com a escola de M a r x e m conceituar como fenómenos fundamen-
C e r t a m e n t e que o h o m e m n ã o é u m p u r o espírito, e suas ideias, tais da estrutura e da v i d a coletiva, i m p l i c a m elementos ideológicos".
a s s i m c o m o seus s e n t i m e n t o s , e s t ã o a m p l a m e n t e s u b m e t i d o s à i n f l u ê n - (47) E, a i n d a , p a r a m e l h o s c o n c l u i r : "Desde o m o m e n t o e m que u m
c i a d o m e i o m a t e r i a l e m q u e se d e s e n v o l v e , do r e g i m e económico sob fenómeno é social, não é j a m a i s p u r a m e n t e m a t e r i a l " .
o q u a l v i v e . Porém, p o r notável q u e seja esta influência, n ã o é e x c l u - Nada mais verdadeiro. T a n t o é verdade, que E s p i n a s pôde dizer,
siva, não é todo-poderosa. " N e m só d e p ã o v i v e o h o m e m " . T e m êle n o seu admirável l i v r o sobre A s sociedades a n i m a i s , que u m a socie-
outras relações^ a l é m das económicas, o u t r a s necessidades que não d a d e é u m " o r g a n i s m o d e i d e i a s " , e Elisée R é c l u s , e m E v o l u ç ã o e R e -
só a s m a t e r i a i s . E se é, c o m o se t e m d i t o , " f i l h o d e u m a b e s t a " , a volução, p ô d e p o r s u a vez, e c o m razão, escrever: " A seiva faz a árvo-
s u a n a t u r e z a , n ã o o b s t a n t e , está l o n g e d a b e s t i a l i d a d e q u e justifica- re; as i d e i a s f a z e m as s o c i e d a d e s . N e n h u m facto histórico melhor
r i a , até c e r t o p o n t o , a tese m a t e r i a l i s t a . A s u a n a t u r e z a é c o m p l e x a . comprovado".
A o m e s m o t e m p o que necessidades m a t e r i a i s , sente necessidades afeti- Q u e se f e z d e p o i s d a a f i r m a ç ã o de M a r x negando, n a s relações
vas e necessidades intelectuais. U m a s e o u t r a s intervêm, o u p o d e m de produção, a função d a v o n t a d e ? N ã o é v e r d a d e que, m a i s de u m a
I n t e r v i r , n a s s i a s relações c o m o m e i o , e t e s t e m u n h a m a s u a posição n a vez, se t e m c o n f u n d i d o fatalismo e determinismo?... Fatalismo:
escala d a v i ' a. i s t o é, c o n c e p ç ã o s i m p l i s t a d a c a u s a l i d a d e . Determinismo: isto é,
O harr m não é " u m simples a n i m a l egoista". É naturalmente
associávp nasce sociável, como todos os a n i m a i s b i - s e x u a d o s , e, (45) Oh. Recolln, "Solidaires", p. 159.
(46) O . de Greef, " L a Soclologle Economlque", p. 122.
(47) G . de Greef, l d . p. 138.
(44) P. Engels, " H e r m Dilhrlng"s Umwaelzung der Wissenschaft".
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V A R L A N T C H E R K E S O F F ERROS E CONTRADIÇÕBI IM» M M I M - . M M
uúniversal e s u b m e t e n d o - s e às suas l e i s . Seja q u a l fôr a s u a potên- um do outro como duas folhas de u m a m e s m a árvore, ronm «i^i •
cia m o t o r a , a ideia não goza de privilégio a l g u m s o b r e n a t u r a l . Reali- galhos de u m m e s m o tronco? P a r a m e l h o r c o n f i r m a ç ã o , cmt\.
d a d e f í s i c a , q u e é, n ã o e s c a p a , p o r s u p e r i o r e j u s t a q u e s e j a , à p r e s - p e n d ê n c i a r e c í p r o c a d o f a c t o p o l i t i c o e d o faetol e c o n ó m i c o n ã o ó t o o
são do m e i o ; e n ã o se t r a t a — n i n g u é m se e n g a n e — d e p a s s a r d e u m p a t e n t e , t ã o r e a l , q u e se v ê e m m u i t o s h o m e n s e g r u p o s d e h o m e m , ,
s i m p l i s m o ao o u t r o e de s u b s t i t u i r , p o r u m a b s o l u t i s m o idealista, o sem inconsequência alguma, sofrerem a ascendência de u m a das
a b s o l u t i s m o m a t e r i a l i s t a , c u j a i n u t i l i d a d e a c a b a m o s de v e r i f i c a r . causas e repudiarem a outra, mostrarem-se, por exemplo, sólidos
apoios d a l i b e r d a d e de consciência, a o m e s m o t e m p o q u e adversários
* irredutíveis do i n d i v i d u a l i s m o económico? Não é claro, e n f i m , que
• * se a p s i c o l o g i a c o l e t i v a q u e e s t a s i d e i a s e e s t e s f a c t o s t r a d u z e m ressal-
ta, s e m dúvida, e m p a r t e , d e interesses económicos, deriva-se ela,
As ideias sofrem a pressão d a s condições económicas. E esta c e r t a m e n t e e p o r o u t r a p a r t e , de fatõres m o r a i s e i n t e l e c t u a i s , f o r a
p r e s s ã o é t ã o c o m u m , q u e se p o d e a f i r m a r q u e , e m s e u c o n j u n t o , d e l a d e t o d a questão de produção e t r o c a ? N e n h u m h o m e m sensato pre-
depende a vida coletiva. Depende dela, porém não e m derivação, tenderá que todos os " l i b e r a i s " , t o d o s os partidários das liberdades
m a s de s u a o r i g e m . E s t a , ao contrário d o que disse E n g e l s , está " n a ca- p o l i t i c a s t e n h a m v i n d o a sê-lo s o b o i m p é r i o d e i n t e r e s s e s m a t e r i a i s ;
beça dos h o m e n s " . E nós p o d e m o s ver, e m todos os d o m í n i o s da nenhum sustentará que não e x i s t e m e n t r e eles — e em grande nú-
v i d a , c o m o m a n i f e s t a seus efeitos aindependência r e l a t i v a d a s i d e i a s , m e r o — homens, cuja atitude é d i t a d a por u m ideal, por superiores
c o m r e l a ç ã o às c o n d i ç õ e s e c o n ó m i c a s . preocupações d e ideias m o r a i s e filosóficas, e s e m c u i d a d o n e m i n -
N a v i d a política, a n t e s de t u d o , n ã o v e m o s a t o d o o momento, fluência de o r d e m económica.
n o decorrer d a história, a d e s e n f r e a d a agitação dos partidos, e ao
"Se n a s fábricas alemãs — diz Menger (48) — trabalhassem
mesmo t e m p o os golpes-de-Estado fazerem pendant com u m regime
negros o u culis chineses, j a m a i s t e r i a nascido u m a s o c i a l - d e m o c r a -
económico p e r f e i t a m e n t e estável? E , p o r a c a s o , se e n c o n t r a r á u m h i s -
cia, mesmo supondo reunidas toda a s condições prévias d a ordem
t o r i a d o r c o n s c i e n c i o s o q u e t e n t e r e l a c i o n a r tctdc-i o a c o n t e c i m e n t o p o l í -
económica" O que é isto senão dizer-se que o econornismo é u m de-
t i c o d a v i d a de u m a n a ç ã o c o m u m a c a u s a económica, de q u e aquele
t e r m i n i s m o s i m p l i s t a , q u e , se a s c i r c u n s t â n c i a s e c o n ó m i c a s c o n d i c i o -
seria fatal consequência?
nam frequentemente u m fenómeno politico, não o necessitam, não o
Porquê? P o r q u e os h o m e n s e o s p a r t i d o s n ã o l u t a m s o m e n t e p o r
p r o d u z e m , e q u e n ã o são elas, e m ú l t i m o caso, senão o e s t a d o m e n t a l ,
m o t i v o s e causas económicas, m a s s i m t a m b é m p o r m o t i v o s e causas
o estado psicológico d o s atores, seu v e r d a d e i r o f a t o r eficiente?
i n t e l e c t u a i s , c o m os q u a i s o i n t e r e s s e m a t e r i a l nada t e m que ver.
Q u a n d o M a r x e Engels, p o r exemplo, a f i r m a m , e m seu M a n i f e s t o C o -
munista, que a liberdade de consciência, e m seu advento na cena
•
p o l i t i c a d o m u n d o , n ã o fez m a i s q u e " p r o c l a m a r , n o d o m í n i o d o s a b e r , • *
o r e i n a d o d a l i v r e concorrência", esquecem que, sejam quais forem,
s o c i o l o g i c a m e n t e , as relações orgânicas q u e u n a m os d o i s fenómenos As circunstâncias económicas tampouco bastam para explicar
e os solidarizem, não é m e n o s certo que n a d a p e r m i t e subordiná-los as filosofias, as m o r a i s , as religiões. As religiões, essas filosofias
um ao o u t r o , estabelecer e n t r e eles u m a relação de c a u s a l i d a d e , m e - i n f a n t i s , e s t ã o l o n g e d e ser, c o m o p r e t e n d e m os m a r x i s t a s , u m p u r o
l h o r q u e r e f e r i - l o s a u m a c a u s a c o m u m . E, de f a c t o , não é p r e c i s a m e n - "reflexo" da situação económica; não são elas s i m p l e s m e n t e um
t e esta " i d e o l o g i a " tão d e s d e n h a d a pelo m a t e r i a l i s m o m a r x i s t a a que consolo enganoso, u m a " n u v e m " que oculta a realidade d a vida m a -
s e r e v e l a , n a a n á l i s e , c o m o a c a u s a c o m u m desses d o i s g r a n d e s factos
históricos, concomitantes, porém independentes, tão independentes
(48) Menger, " E t a t populalre du travai!", p. 219.
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