Pescar é aqui o tema: os homens pescam muito e tremem pouco. É isso o que
espanta Vieira. Afirma haver na terra mais maneiras de pescar que no mar. Enumera-as,
utilizando sete vezes o presente do indicativo “pescam”; atente-se na polissemia do verbo
«pescar», numa sagaz e contundente catilinária às atividades predadoras e larápias dos
homens.
catilinária: acusação enérgica e eloquente
Vieira conhece bem os homens, sobretudo os que «pescam» os bens dos outros.
Vieira, qual torpedo, bem quer convencer ou fazer tremer os colonos que
tanto pescam os Índios.
Quatro-olhos:
No mesmo lugar onde tantos Índios vivem “em cegueira”, sem a fé cristã, aí mesmo há
um peixe com “tantos instrumentos de vista”.
Os olhos da parte superior olham para cima; os da parte inferior olham para baixo.
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Como têm inimigos no ar e inimigos no mar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas.
De facto, eles são vítima da predação quer das aves marítimas quer de outros peixes. O
Quatro-Olhos defende-se dos perigos vindos do ar e do mar, uma vez que
dois olhos estão voltados para cima e dois para baixo.
Vieira lamenta a antítese que existe entre o peixe que possui tantos
instrumentos de visão e, na terra, existirem tantos homens que sofrem de
cegueira. É uma cegueira metafórica, pois refere-se àqueles que não querem
ver os erros que cometem.