CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
MÉTODOS E TÉCNICAS DA PESQUISA EM GEOGRAFIA HUMANA
PROFESSOR ALEXANDRE QUEIROZ
ALUNA: MYRNA LORENA LIMA RAMOS
Após esse breve discorrer histórico acerca do método, Sposito faz uma interface
com a Filosofia citando a obra de Chauí (1986) Primeira filosofia, na qual propõe uma
série de caracterizações do método. Para a autora, o método tem uma ordem e uma
medida, com ênfase na ordem, que é o encadeamento entre os elementos do método,
podendo ser analítico ou sintético e tendo dentro de si um sentido vago e um sentido
preciso, tendo em vista que é vago por causa da multiplicidade de filósofos que possuem
um método, e preciso, pois apenas são bons métodos aqueles que se mostram mais
eficientes com o menor número de regras. Por fim, de acordo com Sposito, Chauí
caracteriza o método como sendo considerado “dedutivo pelos racionalistas intelectuais
(que partem das ideias para as sensações) e indutivo pelos empiristas (que partem das
sensações para as ideias).” (p. 29). Tal afirmação serve como uma ponte para o tratamento
específico dos métodos mais à frente na obra, não sem antes o autor explicar que indução
e dedução não são métodos, mas sim procedimentos da razão, e de reafirmar que, na obra,
são considerados métodos (por sua difusão na comunidade científica e a existência dentre
deles de leis e categorias) os três a serem nomeados a seguir: o método hipotético-
dedutivo, o método fenomenológico-hermenêutico e o método dialético.
É importante ressaltar que os argumentos dos autores aqui citados são bem
distintos entre si. Porém, é perceptível diante do exposto que o método hipotético-
dedutivo posiciona o objeto à montante do sujeito, já que este irá ocasionar influências
sobre os conhecimentos do pesquisador, que apesar disso deverá buscar a neutralidade
científica. O real tentaria ser compreendido por meio hipóteses e deduções.
Diante do exposto, infere-se então que, no método dialético, sujeito e objeto estão
em constante movimento, não estando um à montante de outro, mas sim em uma relação
de contradição, negação e formação de novos pensamentos que posteriormente serão
submetidos a uma nova negação e assim sucessivamente. Sendo assim, é colocado por
Sposito que os trabalhos que fazem uso desse método tendem a ser mais críticos
justamente por evidenciarem as contradições da realidade bem como seus conflitos.
O autor dá início então ao segundo capítulo do livro, no qual ele discorre acerca
do “ato de conhecer e os diferentes níveis do conhecimento”. Ele inicia dizendo que cada
ser humano conhece de acordo com a forma que sua mente interpreta a realidade. Para
corroborar tal ideia, ele cita Szamósi (1986), que coloca que “A força do cérebro... está
em sua habilidade de desenvolver modelos abstratos do ambiente externo” (p. 18). Essa
maneira subjetiva de se conhecer o mundo faz com que hajam quatro tipos de
conhecimento: o científico, o filosófico, o religioso e o senso comum, embora no livro
seja dado enfoque apenas ao científico (caracterizado por Sposito como minuciosamente
descritivo) e ao filosófico (de acordo com Sposito, abstrato). O conhecimento científico,
para Sposito, “não pode estabelecer verdades absolutas nem definitivas, pois existem
várias maneiras científicas (métodos) pelos quais a realidade pode ser analisada. Sendo
assim, o conhecimento, para ser produzido, necessita da mediação da linguagem. Szamósi
(1986), citado por Sposito, ao falar sobre linguagem, coloca que “o que percebemos são
sempre padrões, seja no espaço ou no tempo, ou em ambos”. A linguagem então
ultrapassa o que chamamos de tempo, nos fornecendo significados padronizados, que
influenciarão a produção do conhecimento em quatro fases (compilatória, correlatória,
semântica e normativa) em um determinado período, intensificando-se isso pelos
interesses de uma determinada classe social, como coloca Schaff (1991), citado por
Sposito.
É importante salientar que a Geografia de base marxista se reforçou nos anos 1970
e transformou o que era tido como concepção de espaço, com o advento do trabalho dos
autores aqui citados ao cenário científico da época, colocando o espaço como central na
interpretação materialista da história, devendo-se tomar as devidas precauções para não
se cair no historicismo de observar o espaço por meio de um “senso comum”, tendo em
vista que muitas vezes este é apresentado de forma mistificada por uma ideologia
dominante. Desta forma ele inicia as discussões sobre o tempo, dando a entender que o
tempo não pode ser compreendido separadamente ao espaço, como o próprio já havia
citado no início do capítulo. Porém, em suas explicações, o autor envereda bastante para
os conceitos físicos de tempo, principalmente ao citar Einstein por meio de Piettre (1997,
p.57). “Existe tempo na medida em que existe movimento”; “a distinção entre passado,
presente e o futuro, apesar de sua persistência não é mais que uma ilusão”. Já Santos
(1978, p.207) coloca que “o tempo não é um conceito absoluto, mas relativo” e que “as
relações entre períodos históricos e a organização espacial também devem ser
analisadas”. Desta forma, infere-se que as categorias de tempo e espaço são essenciais na
compreensão da manifestação da realidade, principalmente em um período de
desenvolvimento de um vasto aparato tecnológico que influencia a diminuição das
distâncias e a construção do espaço em diferentes locais do mundo.
Acho interessante também trazer à tona a inserção feita por Milton Santos do
território nas discussões sobre o Estado-nação por um ponto de vista estruturalista, ao
dizer, citado por Sposito, que este é “essencialmente formado de três elementos: 1. O
território 2. O povo; 3. A soberania” (p. 189), soberania esta que autoriza inclusive a
exploração dos recursos ali existentes. Ou seja, o território configura-se como “condição
básica e referência histórica para a consolidação e expansão do sistema capitalista”,
dotado de descontinuidade, por causa das desiguais apropriações e usos do solo e
desenvolvimento também desigual das redes de comunicação (GAY, 1995) revelando
uma associação direta entre território e poder.
Por último, nesse capítulo, Sposito faz uma exposição da história da Associação
dos Geógrafos Brasileiros – AGB, como uma forma de discutir os próprios paradigmas
da ciência geográfica. De acordo com Sposito, AGB foi criada em 1934 por Pierre
Deffontaines, em São Paulo, mas em 1944 tornou-se uma entidade nacional. Até o ano
de 1978, esta não aceitava estudantes em suas conferências (regra condenada por Milton
Santos, Armen Mamigonian e Roberto Lobato Correa, por exemplo). Foi no III Encontro
Nacional de Geógrafos, realizado em Fortaleza, que esta situação se reconfigurou.
Trazendo à tona a questão dos encontros que são organizados pela AGB e de
outros eventos científicos, Sposito coloca, citando Corrêa (1982), que ocorreram
mudanças paradigmáticas no âmbito da ciência geográfica entre 1956 e 1985,
principalmente no que diz respeito à Geografia Tradicional (havia a pretensão por parte
de alguns geógrafos como Lívia de Oliveira, Antonio Ceron, Speridião Faissol, entre
outros de que a esta tendência fosse sepultada), ao fortalecimento da Geografia
Quantitativa e à inserção dos paradigmas marxistas na ciência geográfica, em 1978, no
III Encontro de Geógrafos Brasileiros. A partir de tal ponto, foi ocorrendo uma maior
valorização das discussões ideológicas e políticas no âmbito dos encontros científicos.
O quinto e último capítulo do livro traz consigo algumas teorias geográficas que,
no decorrer de suas explicações auxiliam na compreensão da história do pensamento
geográfico. A primeira teoria trazida por Sposito é a teoria geomorfológica do Ciclo da
Erosão, elaborada pelo geógrafo e geólogo estadunidense William M. Davis, que
acreditava em diferentes estágios de desenvolvimento das formas de relevo terrestres
(juventude, maturidade, selinidade), privilegiando a análise da orogênese e
desconsiderando as fatores exógenos de formação do relevo. Sendo assim, percebe-se a
influência do darwinismo, muito presente no século XIX e de seu evolucionismo nessa
teoria, bem como e mostra também que o positivismo e seu empirismo eram bastante
influentes na época. Porém, Walter Penck, um geólogo alemão, reage à teoria de Davis
corrigindo tal falha metodológica e tornando esta abordagem mais completa, de forma a
mostrar que na época não existia uma “unanimidade no pensamento geográfico”, e que
os geógrafos do período se preocupavam mais em desenvolver e elaborar metodologias
do que discutir em si o método científico.
O autor finaliza então o livro com uma série de reflexões acerca do pensamento
geográfico e da crise paradigmática da qual ele fala desde o início da obra. Compreendo
que o ponto primordial tocado por Sposito em suas configurações finais refere-se
justamente à ontologia de tal crise, já que de acordo com ele “A superação (...) que poderá
mostrar outros caminhos para a crise paradigmática que ora vivemos, só ocorrerá a partir
do momento que todas as possibilidades dos métodos estiverem esgotadas” (p. 196).
Sendo assim, é perceptível que o autor valoriza a constante discussão acerca dos
paradigmas para sua desconstrução e posterior construção de algo, em um movimento
que eu, a autora deste resumo, considero evidentemente dialético, o que creio ser
corroborável com a citação de Sposito que diz que “é nesse movimento de respeitar os
paradigmas para negá-los e superá-los após sua utilização máxima que poderemos
contribuir para a compreensão do pensamento geográfico” (p.196). Diante do exposto,
penso ser essencial que seja dada à questão do método e de sua elaboração uma maior
atenção dos geógrafos em formação, pois nesse temário que agrega evidentemente o ramo
da história do pensamento geográfico é que obteremos as ferramentas para buscar uma
coerência e competência cada vez maior enquanto profissionais da ciência geográfica.