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Discurso do presidente da

República, Michel Temer,


proferido durante a
formatura da Turma Marielle
Franco (2016-2018), por
ocasião do dia do diplomata
– Palácio Itamaraty, 20 de
abril de 2018
Eu quero cumprimentar, em primeiro lugar, a senhora Marinete da Silva e o senhor Antônio
Francisco da Silva Neto, pais da vereadora Marielle Franco, patronesse desta turma.
Cumprimentar o ministro Aloysio Nunes, em nome de quem naturalmente comprimento
todos os ministros aqui presentes.
Quero cumprimentar o embaixador Marcos Galvão, secretário das Relações Exteriores,
A senhora embaixadora Thereza Quintella, paraninfa da turma.
O senhor embaixador José Estanislau, diretor no Instituto Rio Branco,
A senhora Sarah Walker, que acabou de ser merecidamente homenageada,
O secretário Meinardo Cabral de Vasconcelos Neto, orador da turma, em nome de quem
cumprimento todos os formandos.

E devo dizer inicialmente que, nestas cerimônias de formatura do Instituto Rio Branco, é
extremamente enriquecedor conhecer novas gerações de diplomatas. Ouvir especialmente
o que tem a dizer sobre a realidade nacional e internacional, portanto, sobre o Brasil e sobre
o próprio Itamaraty.
Eu quero, em face do nome da turma, antes de mais nada, eu quero associar-me à
homenagem que a turma muito adequadamente presta à vereadora Marielle Franco. E
homenagem que naturalmente toca a todos. Porque, afinal, o inaceitável e covarde
assassinato da vereadora chocou não apenas do nosso país, mas chocou o mundo.
Marielle teve sua trajetória política brutalmente e covardemente interrompida. Mas seus
assassinos não conseguiram, nem conseguirão, tal como disse o ministro Aloysio Nunes,
matar o que ela representa. Marielle era mulher batalhadora, que lutava por aquilo que
acreditava ser o melhor para o brasileiro e para o próprio Brasil. As investigações sobre o
crime avançam com método e critério. As autoridades competentes trabalham para que os
responsáveis sejam identificados e levados à Justiça.
Eu felicito, portanto, os formandos por este nome que escolheram, como os felicito também
pela escolha da paraninfa, embaixadora Thereza Quintella, que fez aqui um belíssimo
pronunciamento.
E aqui eu tomo a liberdade de dizer o quão importante essas falas referentes especialmente
à presença da mulher no Itamaraty, no corpo diplomático, porque foi, pelo que entendi, a
primeira mulher egressa do Instituto Rio Branco a chegar ao posto mais alto da carreira.
E realmente é interessante este fato. Eu, muitas vezes, examino a Constituição, reexamino
a Constituição, e verifico que no histórico constitucional a regra da igualdade era uma regra
que dizia: “todos são iguais perante a lei”. Pois bem, quando chegamos à Constituinte de
[19]88, nós mudamos esta dicção constitucional para dizer: “homens e mulheres são iguais
em direitos e deveres”. Aliás, se já houvesse esta dicção constitucional, ministro Aloysio,
talvez o nosso mestre Rui Barbosa não tivesse que usar aquela expressão
gramatical, porque hoje está mais claro do que nunca.
Mas para chegar-se a 1988, evidentemente que houve um trabalho anterior extraordinário
da mulher brasileira. Eu me recordo ainda, e o Aloysio há de recordar-se, quando nos
tempos do governo Franco Montoro, em São Paulo - estou falando de 1982 - criou-se, pela
primeira vez, o Conselho Feminino. E, interessante, aquele conselho, o Montoro era muito
entusiasmado com os conselhos, senhores formandos, senhoras formandas, que em
qualquer hipótese ele criava um conselho. Mas o conselho que tinha mais relevância no seu
governo era o Conselho da Condição Feminina, era esta a expressão.
E estes fatos todos é que levaram naturalmente a chegar à Constituição de [19]88, para nela
esculpir a dicção que acabei de mencionar. E foi também, confesso, para dar um dado
pessoal, o que me levou a criar, então secretário da Segurança Pública em São Paulo, a
primeira Delegacia de Defesa da Mulher. Parecia uma coisa até estranha, mas,
evidentemente, senhora embaixadora, as mulheres quando chegavam nas delegacias não
tinham um atendimento adequado, até que, afinal, tendo em vista esses precedentes todos,
eu mesmo me perguntei: “por que não crio uma delegacia com uma delegada, uma escrivã,
10, 15 investigadoras, para atender as mulheres?”. Teve um sucesso extraordinário, tanto
que, ao longo do tempo, muitas outras foram criadas. Mas isto a significar da longa luta, da
longa batalha que as mulheres fizeram, ao longo do tempo, que vejo retratada no discurso
da senhora embaixadora.
E aqui, é interessante, ao lado do discurso da embaixadora Quintella, também a
condecoração outorgada à professora Sarah Walker, que é professora que ajudou, já fui
informado, ajudou a formar gerações e gerações de diplomatas brasileiros. Portanto, se me
permite, eu quero também agradecê-la em nome do governo, portanto registrar o nosso
muito obrigado.
Também quero, eu verifiquei aqui, uma homenagem muito singela, mas muito correta, que
é a funcionária Francisca. É interessante, isto revela como a turma tem uma concepção
social extraordinária, porque não apenas homenagearam os professores, porque, afinal, em
relação aos professores há uma certa reverência, naturalmente, pelos conhecimentos
maiores que podem transmitir. Mas se esquecem, ou poderiam esquecer-se, da funcionária
que, certa e seguramente, muito tempo dedicou a acolher e incentivar os senhores
formandos e as senhoras formandas. Portanto, também eu tomo a liberdade de
cumprimentar a senhora Francisca pelo trabalho que realizou.
E é interessante, neste 20 de abril precisamente, está se celebrando o aniversário de
nascimento do Barão do Rio Branco, que é patrono da diplomacia brasileira. E é um
estadista que esteve a serviço do Brasil e, por isto, Barão do Rio Branco entrou para a
história.
E até eu conto um fato muito particular. Eu, em um dado momento, apresentei uma tese de
doutoramento, a minha primeira tese, versava sobre - não havia trabalho escrito sobre isso
- sobre os Territórios Federais na Constituição Brasileira. E foi quando fui examinar mais
detidamente a atuação extraordinária que teve o Barão do Rio Branco na consolidação da
ampliação das fronteiras brasileiras, e tudo por meio da negociação, não por meio de força
ou de ameaças, mas uma negociação, como convém à diplomacia.
Aliás, quando incorporado o território do Acre ao Estado brasileiro, surgiu até uma pendência
curiosa, porque a Constituição de 1891 não previa a figura do Território Federal, e houve
uma demanda judicial extraordinária, que o estado do Amazonas foi ao Supremo para
pleitear que a incorporação daquela área de terras deveria dar-se ao estado do Amazonas,
mas a área contígua ao estado do Amazonas, já que não havia na Constituição a figura do
território. E demandaram, pelo lado do Amazonas e pelo lado da União, dois juristas
extraordinários, um é o João Luiz Alves, civilista, e outro, Rui Barbosa. Interessante que,
ao longo do tempo, isso começou em 1903, 1904, e só se resolveu com a Constituição de
1934, que veio a criar expressamente a figura do Território Federal.
Mas eu relato este fato para revelar que a mim me entusiasmou muito, naquela
oportunidade, a figura exponencial do Barão do Rio Branco, não é? Eu disse: “interessante
como a diplomacia, como o diálogo, como a conversa, como as relações internacionais
podem ser muito bem conduzidas por gestos desta natureza”.
Por isso quando falo do patrono-geral, do símbolo da diplomacia brasileira, eu digo, ao ouvir
o ilustre orador formando - não é? - esta interação com a sociedade. O seu discurso mostra
que a diplomacia não deve restringir-se apenas a gestos burocráticos, mas, ao contrário,
deve tomar contato com a realidade do País e transmitir esta realidade para o exterior.
E eu que, desde algum tempo, desde a presidência da Câmara, desde a vice-presidência e
agora, tenho tido os maiores contatos com a diplomacia brasileira no exterior, eu vejo como
ela é respeitada, extraordinariamente respeitada. E sobre ser respeitada, não faltam
palavras de elogio ao nosso Itamaraty e aos nossos diplomatas. Não houve uma ocasião
sequer que eu tivesse recebido uma objeção de qualquer natureza, ao contrário, sempre
congratulações.
Portanto, os senhores e as senhoras, se me permitem dizê-lo, de fora à parte a presença
que terão na administração pública interna, têm uma tarefa extraordinária, que é revelar o
bom nome do nosso País aí fora.
Aliás, recentemente, estivemos, eu e o ministro Aloysio Nunes, na Cúpula para as Américas,
e lá acho que tivemos contato com 12, 13 chefes de Estado, e é impressionante a imagem
positiva que as demais nações têm do nosso País. Aliás, muito diferentemente, aliás, do
que acontece internamente às vezes, mas esta boa imagem do País é feita precisamente
pela diplomacia brasileira. São os diplomatas desses países que transmitem as melhores
impressões, as melhores e verdadeiras impressões sobre o nosso País. De modo que aos
senhores e às senhoras vai caber essa tarefa, naturalmente pautado sempre pelo texto
constitucional. Quando se fala que se vai cumprir esta ou aquela tarefa, não se faz por conta
própria, faz-se em função da expressão maior da soberania popular relatada ou fixada no
texto constitucional.
Portanto, seguir rigorosamente o que diz o texto constitucional é exatamente fazer com que
não haja instabilidade entre pessoas e instituições. Porque, como disse o ministro Aloizio,
ao mencionar o trecho constitucional que manda, por exemplo, fazer a integração latino-
americana de nações, essa é uma tarefa que a soberania nacional entregou ao Brasil, a ser
exercida por quem? A ser exercida pela diplomacia brasileira.
Portanto, senhores formandos, eu reconheço que a diplomacia constitui uma atividade
repleta de especificidades. Ninguém é diplomata por oito horas, durante o dia, é-se
diplomata 24 horas por dia. Portanto, o ofício exige uma dedicação permanente, exige
frequentemente sacrifícios pessoais que, não raro, se estendem aos cônjuges, filhos. Diz-
se até, muitas vezes já ouvi isto, que a diplomacia é um sacerdócio, e talvez não haja
exagero nessa afirmação que, no caso, tal como estou tentando revelar, é um sacerdócio
consagrado ao Brasil.
Portanto, ao cumprimentá-los, mais uma vez, eu desejo que continuem as tradições do
nosso Itamaraty que, ao longo do tempo, prestigiaram sempre o nosso País no exterior,
contestaram quando necessário fosse as eventuais agressões verbais ou discursivas em
relação ao nosso País e, portanto, sempre exercitaram um trabalho de engrandecimento do
nosso País.
Eu tenho absoluta convicção, pelo que ouvi do orador, representando, portanto, a vontade
dos senhores formandos e formandas, que os senhores repetirão aquilo que a diplomacia
brasileira já faz, ou seja, enaltecer cada vez mais o nosso País.
Muito sucesso aos senhores.

Discurso do Presidente da
República, Michel Temer, na
Abertura do Debate Geral da
72º Sessão da Assembleia
Geral da ONU – Nova York,
19 de setembro de 2017
Senhor Miroslav Lajčák, presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas,
Senhor António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas,
Senhoras e senhores chefes de Estado, de governo e de delegações,
Senhoras e senhores,
Eu quero inicialmente cumprimentar o presidente da Assembleia Geral por sua eleição.
Conte, senhor presidente, com o apoio da delegação brasileira.

Apraz-me, ainda, saudar o secretário-geral em idioma que nos é comum. Senhor secretário-
geral, eu quero reiterar meus votos de continuado êxito no exercício de seu mandato.

Senhor Presidente,

Têm sido muitos os desafios enfrentados pelas Nações Unidas desde a sua criação. E
sabemos todos que não se cumpriram plenamente as aspirações de seus fundadores.

Mas a verdade é que, nestes mais de 70 anos, a ONU continuou e continua representando
a esperança. A verdade é que a ONU continuou e continua representando a possibilidade
de um mundo mais justo. Um mundo de paz e de prosperidade. Um mundo em que ninguém
tenha que sujeitar-se à discriminação, à opressão, à miséria, em que os padrões de
produção e consumo sejam compatíveis com o bem-estar das gerações presentes e futuras.

A ONU, meus senhores, minhas senhoras já se confirmou como espaço privilegiado para a
construção desse mundo que almejamos. Construção que requer método e realismo, sem
nunca perder de vista os nossos ideais.

Neste momento da história, de tão marcados traços de incerteza e instabilidade,


necessitamos de mais diplomacia e negociação – nunca menos. De mais multilateralismo e
diálogo – nunca menos. Certamente necessitamos de mais ONU – e de uma ONU que tenha
cada vez mais legitimidade e eficácia.

Não por outra razão, sustentamos, ao lado de tantos outros países, o imperativo de reformar
as Nações Unidas. É particularmente necessário ampliar o Conselho de Segurança, para
ajustá-lo às realidades do século 21. Urge ouvir o anseio da grande maioria desta
Assembleia.

Senhor Presidente,

Não é razoável supor que ideias que, no passado, já se mostraram equivocadas possam,
agora, render bons frutos.
Nós recusamos os nacionalismos exacerbados. Não acreditamos no protecionismo como
saída para as dificuldades econômicas – dificuldades que demandam respostas efetivas
para as causas profundas da exclusão social.

A busca do desenvolvimento, em todas as suas dimensões, deve nortear nossa ação


coletiva.

O compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável é de primeira hora. Permeia


nossas políticas públicas e nossa atuação externa. Na presidência da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa, por exemplo, elegemos a Agenda 2030 como eixo de nossas
atividades. Em todas as frentes, o Brasil procura dar sua contribuição para os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável.

Contribuição que, necessariamente, inclui o combate à mudança do clima. Seguiremos


empenhados na defesa do Acordo de Paris. No ano passado, aqui mesmo em Nova York,
depositei o instrumento de ratificação do Acordo pelo Brasil. Essa é matéria que não
comporta adiamentos. Há que agir já.

Meu país – e é com satisfação que o digo – está na vanguarda do movimento em direção a
uma economia de baixo carbono. A energia limpa e renovável no Brasil representa mais de
40% de nossa matriz energética: três vezes a média mundial. Somos líderes em energia
hídrica e em bioenergia.

O Brasil, senhoras e senhores, orgulha-se de ter a maior cobertura de florestas tropicais do


planeta. O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa
questão temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros
dados disponíveis para o último ano já indicam a diminuição de mais de 20% do
desmatamento naquela região. Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos.

Outro importante vetor do desenvolvimento é o comércio. Nosso engajamento é por um


sistema de comércio internacional aberto e baseado em regras. Um sistema que tem por
centro a Organização Mundial do Comércio e seu mecanismo de solução de controvérsias.

Na Conferência Ministerial de Buenos Aires, em dezembro, teremos, uma vez mais, que
enfrentar pendências antigas. São pendências que prejudicam, sobretudo, países em
desenvolvimento. Teremos que avançar no acesso a mercados de bens agrícolas, na
eliminação de subsídios à agricultura que distorcem o comércio. Confiamos que, juntos,
saberemos produzir resultados.

Todos esses esforços concorrem para aquele que é nosso propósito maior: assegurar
oportunidades para todos, em todas as partes.

Senhor Presidente,

Eu terei a honra de assinar, amanhã, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. O


Brasil esteve entre os artífices do Tratado. Será um momento histórico.

Reiteramos nosso chamado a que as potências nucleares assumam compromissos


adicionais de desarmamento.

O Brasil manifesta-se com a autoridade de quem, dominando a tecnologia nuclear, abriu


mão, voluntariamente, de possuir armas nucleares. O Brasil pronuncia-se com a autoridade
de um país cuja própria Constituição veda o uso da tecnologia nuclear para fins não
pacíficos. Um país que esteve na origem do Tratado de Tlatelolco, que, há meio século,
estabeleceu a desnuclearização da América Latina e do Caribe. De um país que, com seus
vizinhos sul-americanos e africanos, fez também do Atlântico Sul área livre de armas
nucleares. De um país, enfim, que, com a Argentina, estabeleceu mecanismo binacional de
salvaguardas nucleares que se tornou, convenhamos, referência para o mundo.

Ao marcarmos a conquista que é o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, cumpre,


contudo, reconhecer: perduram, na agenda de paz e segurança, questões que suscitam
fundada apreensão.

Os recentes testes nucleares e missilísticos na Península Coreana constituem grave


ameaça, à qual nenhum de nós pode estar indiferente. O Brasil condena, com toda a
veemência, esses atos. É urgente definir encaminhamento pacífico para situação cujas
consequências são imponderáveis.

No Oriente Médio, tomo a liberdade de dizê-lo, as tratativas entre Israel e a Palestina


encontram-se paralisadas. Amigo de palestinos e israelenses, o Brasil segue favorecendo a
solução de dois Estados convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras
internacionalmente reconhecidas e mutuamente acordadas.
Na Síria, meus senhores, apesar da desescalada dos últimos meses, ainda se assiste a
conflito com consequências humanitárias dramáticas. A solução que se deve buscar é
essencialmente política – e já não pode ser postergada.

Também no Afeganistão, na Líbia, no Iêmen, no Mali ou na República Centro-Africana, as


guerras causam sofrimentos intoleráveis que, naturalmente, ultrapassam fronteiras.

Percorramos os campos de refugiados e deslocados no Iraque, na Jordânia, no Líbano, no


Quênia. Ouçamos as histórias dos que perderam pais, mães, filhos, filhas. São famílias que
foram tragadas pela irracionalidade de disputas que parecem não conhecer limites. De
disputas que, com frequência inaceitável, se materializam ao arrepio do direito humanitário.

Tem razão o nosso secretário-geral: revigoremos os mecanismos de prevenção de conflitos.


A prevenção passa pela diplomacia. Passa pelo desenvolvimento.

É crucial, indispensável reconhecer o nexo entre segurança e desenvolvimento. O


reconhecimento desse nexo guiou a participação do Brasil na [Missão de] Estabilização das
Nações Unidas no Haiti. Nesta hora em que a Minustah encerra seu mandato, a comunidade
internacional deve manter o compromisso com o povo haitiano. O Brasil certamente o fará.

Na América do Sul, a Colômbia está equacionando conflito de mais de cinquenta anos. O


Brasil continuará sendo parceiro decidido nesse esforço.

Senhor Presidente,
Senhoras e senhores,
De Barcelona a Cabul, de Alexandria a Manchester, reiteradas manifestações de violência
covarde não nos deixam esquecer o mal do terrorismo. É mal que se alimenta dos
fundamentalismos e da exclusão a que nenhum país está imune.

A união se impõe ainda mais em face da capacidade do terrorismo de adaptar-se aos


tempos e aos terrenos. Não seremos acuados pelo terror nem permitiremos que ele abale a
nossa crença na liberdade e na tolerância.

Também, meus senhores e minhas senhoras, o crime transnacional, em tantos de nossos


países, solapa a segurança e a tranquilidade dos indivíduos e das famílias. Apenas de forma
coordenada e articulada daremos combate eficaz ao tráfico de pessoas, de armas, de
drogas, à lavagem de ativos.
Foi nesse espírito que o Brasil organizou, em novembro último, reunião ministerial de países
da América do Sul sobre segurança nas fronteiras. E é nesse espírito que seguiremos
cooperando com países de todo o mundo no enfrentamento do crime organizado.

Senhor Presidente,

Lamentavelmente, ainda são recorrentes as violações dos direitos humanos em todo o


mundo. Tanto dos direitos civis e políticos, quanto dos direitos econômicos, sociais e
culturais. Em todos os lugares, há que garantir que cada indivíduo possa viver com
dignidade, segundo suas convicções e suas escolhas.

O Brasil é um país de liberdades arraigadas, que se fez, e ainda se faz, na diversidade.


Diversidade na etnia, na cultura, de credo, de pensamento. Mais que tudo, é dessa
diversidade que tiramos nossa força como nação. Rechaçamos o racismo, a xenofobia e
todas as formas de discriminação.

Somos parte nos principais tratados internacionais de direitos humanos, na Corte


Interamericana de Direitos Humanos, no Tribunal Penal Internacional. Estendemos convite
permanente aos relatores independentes da ONU.

Temos hoje, meus senhores, uma das leis de refugiados mais modernas do mundo.
Acabamos de modernizar também nossa lei de migração, pautados pelo princípio da
acolhida humanitária. Temos concedido vistos humanitários a cidadãos haitianos e sírios. E
temos recebido milhares de migrantes e refugiados da Venezuela.

A situação dos direitos humanos na Venezuela, lamentavelmente, continua a deteriorar-se.


Estamos ao lado do povo venezuelano, a quem nos ligam vínculos fraternais. Já não há
mais espaço para alternativas à democracia. É o que afirmamos no Mercosul, é o que
seguiremos defendendo.

Senhor Presidente,

O Brasil atravessa momento de transformações decisivas.

Com reformas estruturais, estamos superando uma crise econômica sem precedentes.
Estamos resgatando o equilíbrio fiscal. E, com ele, a credibilidade da economia. Voltamos a
gerar empregos. Recobramos a capacidade do Estado de levar adiante políticas sociais
indispensáveis em um país como o nosso.
Aprendemos e estamos aplicando, na prática, esta regra elementar: sem responsabilidade
fiscal, a responsabilidade social não passa de discurso vazio.

O novo Brasil que está surgindo das reformas é um país mais aberto ao mundo.

É essa atitude de abertura que trazemos à ONU e que levamos ao Mercosul, ao G20, ao
BRICS, ao IBAS e a todos os foros de que participamos. É essa atitude de abertura que
adotamos com cada um de nossos parceiros – na nossa região e além dela.

A América do Sul é nossa vizinhança imediata. E por isso trabalhamos por uma América do
Sul próspera e democrática. Trabalhamos pela crescente convergência dos processos de
integração na América Latina e no Caribe. Exemplo significativo é a aproximação entre o
Mercosul e a Aliança do Pacífico. Juntos, os países desses dois agrupamentos formam um
mercado de quase 470 milhões de pessoas e respondem por mais de 90% do PIB da
América Latina.

A África, por sua vez, é continente a que nos unem fortes laços históricos e culturais. É
continente onde queremos cada vez mais iniciativas de cooperação, cada vez mais
parcerias para o desenvolvimento.

Com a Europa, onde cultivamos antigas amizades, tratamos de incrementar os fluxos de


comércio e investimentos.

E também na Ásia-Pacífico – polo mais dinâmico da economia global – intensificamos


nossas relações com parceiros tradicionais e abrimos novas frentes de intercâmbio.

Assim é a nossa política externa: verdadeiramente universalista.

E, Senhor Presidente, o mais universal dos foros com que contamos é esta Assembleia
Geral.

Aqui nos beneficiamos do mais plural conjunto de perspectivas. Aqui encontramos os


parâmetros e as normas para o convívio respeitoso. Aqui haveremos de nos tornar nações
mais unidas – em nome do desenvolvimento de nossos povos, da dignidade de nossos
cidadãos, da segurança de nosso planeta.

Muito obrigado, senhor presidente. Senhoras e senhores, muito obrigado.


Discurso do Ministro das
Relações Exteriores, Aloysio
Nunes Ferreira, por ocasião
da cerimônia de formatura
das turmas D. Paulo
Evaristo Arns (2014-2016) e
Bertha Lutz (2015-2017), do
Instituto Rio Branco –
Palácio Itamaraty, 20 de abril
de 2017
Excelentíssimo senhor Presidente da República, Michel Temer;

Senhor Presidente do Congresso Nacional, meu caríssimo colega, Senador Eunício


Oliveira;

Senhores ministros, senhora ministra;

Meus colegas de Ministério;

Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Marcos Galvão;

Senhor embaixador do Brasil em Buenos Aires, paraninfo das turmas Paulo Evaristo Arns
e Bertha Lutz, Embaixador Sérgio França Danese;

Senhor Diretor-Geral do Instituto Rio Branco, Embaixador José Estanislau do Amaral


Souza Neto;

Meus prezados colegas do Itamaraty;

Senhoras formandas;
Senhores formandos;

Familiares dos formandos aqui presentes, inclusive o jovem Bernardo, que choramingava
ainda há pouco aqui no nosso auditório, e que saudava a presença aqui entre nós de sua
mãe.

Meus amigos;

O Itamaraty celebra hoje, 20 de abril, com a honrosa presença do senhor presidente da


República, o Dia do Diplomata. É um dia que marca o nascimento do barão do Rio Branco,
e a formatura de novos diplomatas.

A observância dessa data é uma das tradições mais caras ao Itamaraty, e ela é retomada
hoje, com a presença do presidente da República entre nós, depois de um hiato de cinco
anos. Nós estamos voltando à normalidade.

E que sejam as minhas primeiras palavras as de agradecimento ao senhor presidente


Michel Temer, por ter recolocado o Itamaraty no centro da formulação e da execução da
política externa brasileira, seguindo uma rota que conquistou, para nossa diplomacia,
respeito e apreço no Brasil e no mundo. Essa é a orientação que recebi e que todos nós
recebemos do presidente Temer: executar uma política de estado que, sendo universalista
por vocação e também por tradição, tem os seus olhos voltados para o nosso entorno
regional. Até porque esse é um mandamento da nossa constituição: buscar a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina.

A nossa diplomacia há de ser sempre um instrumento a serviço da modernização e da


prosperidade do nosso país; uma política de estado em prol da estabilidade da nossa
região e do mundo.

Em uma conjuntura marcada pela imperiosa tarefa de recuperar a economia brasileira, a


política externa está empenhada em ajudar no processo da retomada do crescimento.

Mas erra, minhas senhoras e meus senhores, quem pensa que as relações internacionais
são feitas apenas de interesses. Sem a argamassa dos valores e dos princípios, aliás,
todos eles fixados, meu caro presidente, na nossa constituição, no artigo 4º da nossa
constituição; sem a argamassa desses princípios, o edifício das relações entre países não
resiste à primeira intempérie.
Nós ganhamos consistência na nossa atuação internacional quando refletimos as
preocupações com os direitos humanos, com a democracia e com a sustentabilidade. E
fazemos isso porque é isso que espera de nós a sociedade brasileira.

É com muita alegria que nós celebramos hoje a formatura das turmas 2014-2016 e 2015-
2017, uma delas conhecida como a turma dos 18 de Copacabana. Aliás, todos
sobreviveram às etapas da sua formação e terão pela frente uma vida longa e feliz.

Eu quero dar as boas-vindas a cada um dos jovens colegas aos quadros do Itamaraty,
felicitá-los pela escolha que fizeram e pelo êxito que alcançaram em um dos concursos
mais competitivos, mais duros do Brasil, e pelo curso que acabam de concluir.

Eu recebi ontem famílias dos nossos formandos, senhor presidente. E eu penso que essa
é a festa dos formando, mas é sobretudo a festa das famílias. A alegria que eu vi em cada
um deles, a emoção que eu vi em cada um dos parentes, dos amigos por essa conquista
foi algo que me tocou, me tocou profundamente. Cheguei a me lembrar, meu caro
presidente, do momento em que eu conclui o meu curso na nossa faculdade de direito,
uma extraordinária proeza.

Pois saibam que se apresentam, nos concursos do Itamaraty, cerca de cinco a seis mil
candidatos para trinta vagas. É um concurso muito difícil, porque são todos muito bem
preparados. Às vezes se apresentam mais de uma vez; duas, três vezes, até conseguirem
ingressar e alcançar o seu objetivo. E à medida que o tempo vai passando, que o Brasil
vai mudando, os concursos acolhem, com seu resultado, pessoas das mais diferentes
regiões e dos diferentes estados do Brasil. É claro que nossos novos ingressantes
estavam concentrados, há até alguns anos, há até algumas décadas atrás, no Rio de
Janeiro, onde ficava o Itamaraty, em São Paulo, em Minas Gerais, nos estados mais
populosos. Hoje, os ingressos estão distribuídos pelo país inteiro e as nossas promoções
refletem a diversidade do nosso país. São o retrato do Brasil. Um retrato que precisa ser
ainda mais focado. Precisamos aprimorar, ainda, os nossos mecanismos de apoio à
diversidade e à inclusão. Mas o fato é que os formandos são um retrato do nosso país. Há
algum tempo, os formandos vinham de famílias de diplomatas, seguindo a vocação que
conquistaram no convívio com seus familiares. Filhos e netos de diplomatas prestavam o
concurso e ingressavam no Itamaraty. Assim como eu, que sou filho e neto de advogados,
vi nascer em mim a vocação para a carreira jurídica. Hoje, não mais. Há uma enorme
diversidade nas famílias de onde provêm nossos jovens diplomatas, que estão iniciando
hoje uma carreira que é única, como já foi bem ressaltado aqui pelos oradores das turmas
e pelo Embaixador Danese, que envolve mudanças, sacrifícios e dedicação, mas traz
também uma enorme satisfação de servir ao Brasil e ao nosso povo.

Uma carreira que é uma espécie de sacerdócio laico, porque vocês já notaram que
ingressaram em uma corporação, no bom sentido da palavra, que atua segundo códigos
regulamentares e que cultiva tradições, para poder cumprir com eficiência as suas tarefas
e atribuições.

Eu, quando cheguei aqui, me deparei inclusive com uma terminologia própria: telegrama.
Não se faz mais telegrama. Mas recebemos telegramas dos postos no exterior, alguns
deles contendo análises primorosas, os quais envio à Vossa Excelência. Quando peço
alguma informação para me orientar, para me subsidiar no contato com autoridades de
outro país, eu recebo "papéis", não informações. É um claro exemplo de antonomásia. Há
até pouco tempo, esses telegramas ficavam armazenados em caixas chamadas
"sarcófagos".

Há um estilo, um modo de falar, que eu aprecio muito, porque é uma expressão que busca
traduzir, na fala, um pensamento bem articulado, disciplinado, elegante. Uma elegância
que não se confunde com esnobismo, mas com bom gosto, equilíbrio. Um estilo alheio à
hipérbole, aos exageros, mas que não deixa de ser muito firme na defesa dos interesses
nacionais. É um estilo conciliatório, mas que busca resultados concretos e a projeção dos
valores da sociedade brasileira.

Eu valorizo a tradição, sem me deixar aprisionar por ela. E esta é uma Casa que valoriza a
tradição. Vocês irão incorporar, na vida cotidiana, a tradição diplomática, que é o que
garante a continuidade na defesa dos objetivos permanentes do estado, a começar por
aqueles que estão inscritos na nossa Constituição Federal. Essa tradição rejeita o
voluntarismo diplomático.

Ficou entre nós a lição de Joaquim Nabuco, escrita em seu Diário, a propósito da missão
de Rui Barbosa em Haia: "não se fica grande por dar pulos. Não podemos parecer
grandes, senão o sendo".

Isso quer dizer que, na defesa de nossos interesses globais, é preciso granjearmos, cada
vez mais, poder para influir de modo decisivo. Essa influência se conquista com esforço
metódico, com avanços econômicos, mas também científicos, culturais, tecnológicos e de
cooperação, capazes de imprimir densidade em nossas relações com outros países. E a
conquista dessas condições passa, necessariamente, como lembra Rubens Ricupero, em
obra editada pela Fundação Alexandre de Gusmão, pelo processo de desenvolvimento.

Uma prioridade da nossa tradição diplomática, inscrita nos nossos códigos de conduta,
nos nossos objetivos, desde a década de 1930, pelo menos.

A atuação de nosso país no mundo tem a seu favor um atributo essencial, que é a
credibilidade lastreada em uma nítida identidade nacional. Vocês já têm ocasião de
constatar, a forma como o Brasil é visto no exterior. Quando nos perguntam quem é o
Brasil, nossa resposta está naquilo que nós fazemos, na forma como nós nos
comportamos.

O Brasil é visto como uma grande democracia, um país amante da paz, comprometido
com o direito internacional e a solução pacífica de controvérsias.

O nosso território, imenso território, foi delineado por atos jurídicos, por acordos e tratados
diplomáticos, que consolidaram não apenas a herança que recebemos dos portugueses,
mas também a conquista territorial laboriosa dos nossos povoadores, dos nossos
sacerdotes, e que foi sacramentada pelos nossos diplomatas.

É um país que se pauta pelo respeito às instituições multilaterais e pela busca concertada
de soluções para os grandes desafios globais, em áreas como comércio e finanças, paz e
segurança, democracia, direitos humanos e mudança do clima.

Nós somos admirados não apenas pela palavra empenhada, pela força da palavra
empenhada, mas, sobretudo, por nossas ações como disse demonstradas em operações
de paz de que participamos, na liderança do processo que permitiu a adoção do acordo de
Paris sobre a mudança do clima, nas negociações em curso para assegurar o
desarmamento nuclear, nos esforços para integrar a nossa região na democracia.

Nós somos admirados também por uma cultura vibrante, pela diversidade da nossa
população, pela força da nossa democracia, pela indústria forte, uma agricultura
competitiva, e esse ativo estratégico extraordinário que é nossa biodiversidade.
Vocês vão representar, meus caros formandos, um país cada vez mais respeitado, um
país que não foge das suas responsabilidades como ator global, de crescente influência
internacional.

Um país que reconhece seus próprios desafios, mas que os enfrenta com desassombro e
sem ter medo de assumir o lugar que lhe cabe no concerto das nações.

É com esse mesmo desassombro que cada um deverá encarar o seu papel ao longo da
vida profissional.

Faço votos de que aproveitem cada etapa da caminhada que elegeram, preservando,
como aconselhou ainda há pouco o Embaixador Danese, o necessário equilíbrio entre os
objetivos profissionais e a realização de uma vida pessoal, que se constrói nos afetos, na
solidez da amizade e no convívio familiar.

Essa carreira a que vocês agora seguem, meus caros amigos, é motivo de orgulho para
todos nós. Felicito-os pela escolha não apenas do paraninfo, mas também do nome do
cardeal D. Paulo Evaristo Arns que, e eu não exagero, foi um herói na luta pela
democracia no Brasil, pelo respeito pelos direitos humanos, e da batalha pela dignidade
humana. E a turma que recebeu o nome de Bertha Lutz também homenageia uma pessoa,
que aliás dá o nome a um dos prêmios instituídos pelo Congresso Nacional para agraciar
as pessoas que se distinguiram na luta pela igualdade das mulheres, o nome de Bertha
Lutz.

Meus caros amigos, eu gostaria de encerrar na lembrança de um discurso que li,


pronunciado por Graciliano Ramos, que foi transcrito pelo seu filho, Ricardo, em um perfil
que traçou do seu pai. Graciliano Ramos, depois de dar várias voltas no seu discurso de
paraninfo, concluiu como eu concluo agora: eu desejo que vocês sejam muito felizes.

Discurso proferido pelo


ministro Aloysio Nunes
Ferreira durante a formatura
da Turma Marielle Franco
(2016-2018), por ocasião do
dia do diplomata – Palácio
Itamaraty, 20 de abril de
2018
Excelentíssimo senhor Presidente da República, Michel Temer;

Senhor secretário-geral das Relações Exteriores, embaixador Marcos Galvão;

Senhor diretor-geral do Instituto Rio Branco, embaixador José Estanislau do Amaral;

Embaixadora Tereza Quintela, paraninfa da Turma Marielle Franco;

Professora Sarah Walker;

Senhora Marinete da Silva e senhor Antônio da Silva Neto, pais da nossa patrona dessa
formatura, Marielle Franco,

Ministros de Estado aqui presentes;

Minhas senhoras, meus senhores pais dos formandos;

Meus caros formandos.

Eu quero começar por agradecer, Presidente Temer, a sua honrosa presença nesta
cerimônia. Desde o ano passado, vossa excelência retoma essa tradição que é um orgulho
para nós: a presença do Presidente da República nessa data tão relevante para a vida dessa
instituição. A data em que comemoramos – basicamente comemoramos – comemoramos a
formatura dos novos diplomatas e também celebramos o aniversários da figura tutelar da
diplomacia brasileira que é o Barão do Rio Branco. Aliás, eu queria mencionar uma
passagem do belo discurso que fez hoje o orador da turma quando ele se refere à
necessidade permanente que nós, que nos dedicamos à política externa, de nos
comunicarmos com a sociedade, de fazermos com que a opinião pública se apodere dos
temas de política externa, mostrando-lhes a vinculação – mostrando aos nossos
compatriotas a vinculação íntima que existe entre os desafios que o Brasil enfrenta no
exterior, como superá-los e a superação dos nossos problemas, as nossas dificuldades, e
dos obstáculos ao nosso desenvolvimento. E o Barão de Rio Branco foi capaz de fazer
isso. Ele foi ministro de Relação Exteriores durante muitos anos e ao mesmo tempo foi
figura cultuada no Brasil. Todas as vezes que chegava ao Brasil depois da sua participação
em conferências internacionais nas quais ajudou a moldar, a definir os nossos limites, ele
era recebido com manifestações de enorme gaudio popular. E quando faleceu foi objeto
também de uma extraordinária manifestação do povo de homenagem a ele, que de alguma
forma foi homenagem também ao papel da diplomacia na construção do nosso país.

Eu não quero, Senhor Presidente, não seria adequado fazer nesse momento um balanço
daquilo que temos feito sob sua direção no Ministério das Relações Exteriores. Penso que
procuramos aqui no ministério sintonizar a política exterior brasileira, os rumos que temos
imprimido a ela ao ambicioso programa de reformas que Vossa Excelência empreende na
Presidência da República. Eu penso que hoje sobretudo, da minha parte, é momento de
ressaltar esta alegria daqueles que hoje ingressam nessa carreira e celebrarmos através
dos formandos essa boa tradição de perseguir o interesse nacional através da sua ação
diplomática. Busca do interesse nacional que não se desvincula do culto de valores, que
são valores, como Vossa Excelência já se referiu na cerimônia do ano passado, expressos
na própria Constituição brasileira: a independência nacional, a busca de solução pacífica
das controvérsias, o primado do direito internacional, uma política externa que contribua
para o desenvolvimento do país, uma política externa que promova a integração da América
Latina do ponto de vista econômico, cultural, político. Enfim, uma política externa que,
baseada em ideias e valores simples, claros, nos fornecem esses valores guias para nos
mover em situações complexas, como é a da situação do mundo de hoje.

Vocês, meus queridos formandos, ingressam hoje numa corporação que é muito ciosa da
sua organização, da sua tradição, do seu valor e da contribuição que presta ao país. E o
discurso do orador da turma foi todo ele orientado nessa linha. Um corpo de servidores do
estado, recrutados em um concurso duríssimo – e é mais uma razão para celebrarmos hoje
essa conquista de vocês e de seus parentes. Uma carreira orientada pelo princípio do
mérito, uma carreira estruturada em regras claras e que precisam tornar-se cada vez mais
claras e transparentes.

Nesse sentido, Senhor Presidente, nós estamos elaborando um anteprojeto que vamos
submeter a Vossa Excelência, de uma nova Lei do Serviço Exterior brasileiro, que busca
exatamente alcançarmos esse objetivo: uma carreira que seja previsível, uma carreira onde
a pessoa que ingressa sabe quais são os passos que deve ultrapassar para ter a progressão
na sua carreira, que haja igualdade de oportunidades a todos na ocupação de postos
importantes, que possa fazer o equilíbrio entre a presença do diplomata em outros países e
a presença aqui na Secretaria de Estado, uma carreira previsível imune a ingerências que
possam provocar a tão detestada carona daquele que ultrapassa o mérito, a avaliação
interna, a avaliação hierárquica em razão de proteções que não levam em conta o mérito
das pessoas. Esse é o sentido que Vossa Excelência imprime à sua gestão e eu agradeço
imensamente o fato de que o senhor, ao longo desses anos, desse tempo em que estou
aqui no ministério, tenha sempre prestigiado esse critério da impessoalidade de do mérito,
mas que é preciso aperfeiçoar.

O discurso da nossa paraninfa nos faz alguns alertas. Nós temos hoje nessa turma um terço
de mulheres. O embaixador Estanislau já me disse que na turma que entra a proporção
aumenta e ultrapassamos 40%. Mas além do ingresso é preciso que as mulheres tenham
oportunidade na carreira para que elas possam ascender sem precisar servir de troféu para
ser exibido aos outros, como apanágio da igualdade. Não se trata apenas de ingressar – e
ingressar já é difícil – mas ascender, ocupar postos de relevo onde possam ter voz que seja
escutada e levada em conta. Esse ingresso, embaixadora Tereza Quintela, ocorreu em 1918
– a primeira diplomata – e ocorreu em razão de uma medida judicial, a partir de um parecer
de Rui Barbosa.

Rui Barbosa, Presidente, que exarou esse parecer a pedido da candidata que foi a primeira
diplomata, valeu-se da gramática para abrir a porta para esse primeiro ingresso. A lei dizia
que o Serviço Exterior Brasileiro estava aberto para brasileiros, e se entendia que brasileiros
eram do sexo masculino. Rui Barbosa então, com recurso à gramática, elucidou a questão
e deu razão à postulante – brasileiros e brasileiras. O que é dramático, senhor Presidente,
é que ontem me dizia a embaixadora Tereza Quintela, é que durante um período entre 1938,
se não me engano, e 1954, as mulheres não podiam, por disposição expressa da lei,
ingressar no serviço diplomático. O serviço diplomático estava aberto apenas a homens.
Sexo masculino. E também foi mediante um recurso judicial que essa porta foi aberta. Foi
aberta por pessoas valorosas como a senhora e outras tantas diplomatas que souberam
afirmar o seu valor ao longo do percurso da vida profissional. Mas o seu discurso é realmente
um alerta, nos coloca diante da preocupação constante de levarmos em conta essa
necessidade de abrir espaço para que as mulheres possam contribuir para a carreira
diplomática, para a vida dessa instituição, na medida do seu valor.

Eu queria, senhor Presidente, fazer uma referência também muito emocionado aos pais da
Marielle Franco, que aqui estão presentes. Tive a ocisão de conhecê-los quando chegava
agora ao ministério acompanhado da minha mulher. Eu queria dizer aos senhores que
também sou pai, sou avô, e a perda de um filho, especialmente nas condições em que
perderam Marielle é algo.. é uma ferida que não se fecha nunca. E eu espero que essa
homenagem que prestamos à sua filha possa de alguma maneira confortá-los e dar-lhes a
certeza de que aqueles que tentaram matar a Marielle pela segunda vez não prevalecerão.
Tentaram matar Marielle pela segunda vez ao espalhar sobre ela a baba nojenta da calúnia.
Saibam que o nome desta turma fará com que o nome dela seja lembrado aqui no instituto
e no Itamaraty. Ele não desaparecerá da nossa memória. Não apenas porque a figura dela
– a figura de uma pessoa que lutou corajosamente pelos ideais da igualdade, da justiça, da
não-discriminação, da não-violência, da dignidade da pessoa humana (e que por isso
mesmo morreu) – o nome dela não será esquecido. Mesmo porque os valores que ela
defendeu são valores hoje amplamente compartilhados pela sociedade brasileira. São
valores que vêm do fundo da sociedade brasileira. O Brasil não aceita, não aceitará
discriminação, violência, intolerância. O Brasil quer viver uma sociedade livre, democrática,
aberta, onde o preconceito não prevaleça, onde as pessoas possam ser valorizadas por elas
mesmas. Não apenas o preconceito, como o privilégio, é algo que não aceitamos mais. O
povo brasileiro não aceita mais. Nessa medida, sua filha Marielle é muito representativa
desse país novo que vai lutando para se livrar de coisas antigas, velhas, arcaicas,
carcomidas, e quer se afirmar como país que todos nós queremos construir aqui entre nós
e que vocês, caros amigos, formandos, novos diplomatas, contribuirão certamente para
fortalecer ao longo de sua atividade.

Eu desejo que vocês sejam sobretudo muito felizes. Aproveitem a carreira. Aproveitem os
postos desafiadores. Não se deixam acomodar pelo culto dos processos que se esgotam
em novos processos. Que não se deixem embotar pela burocracia. Vocês já demonstraram
serem muito representativos do país, pela origem geográfica, pela origem social, pela
formação prévia que tiveram antes de ingressar no Rio Branco – vi ontem filósofos, médicos,
militares, engenheiros que ingressaram na nossa careira e que poderão a partir dessa
formação, da sensibilidade que trazem do Brasil, fazer com que realmente com que vocês
sejam, como disse o orador, a voz do povo brasileiro. Meus parabéns, felicidades a todos.

Texto-base para o discurso


de posse do Ministro de
Estado das Relações
Exteriores, Aloysio Nunes
Ferreira – Palácio Itamaraty,
7 de março de 2017
Querido amigo José Serra, mais uma vez nos encontramos nesta mesma longa estrada de
vida pública que desde jovens decidimos trilhar, e a cujo percurso sempre dedicamos o
melhor de nossas energias.

Você é, sem dúvida, um dos mais destacados líderes políticos de nossa geração. Tive a
honra de trabalhar sob sua direção na Prefeitura de São Paulo e no Governo de nosso
Estado, e testemunhei de perto, até com sacrifício de minhas rotinas domésticas, a sua
devoção à causa pública, o rigor na administração, sua capacidade de reunir e entusiasmar
as equipes ao seu redor e a solidariedade fraterna com que você sempre distinguiu a todos,
e a mim pessoalmente.

Agora, no Ministério das Relações Exteriores, eu vou entrando e você vai saindo. Mas deixa
aqui um legado que constituiu uma base sólida para o cumprimento da missão que me foi
atribuída pelo presidente Temer. Você acaba de produzir uma prestação de contas que
demonstra cabalmente o sentido da reorientação do Itamaraty nessa nova fase da vida
brasileira e das relações internacionais do nosso País. Não preciso insistir sobre isso: minha
ação, à frente do ministério, na sequência e na atualização de sua orientação, falarão mais
do que eu poderia dizer nesse discurso de transmissão do cargo. O que é certo é que, com
o mesmo denodo que você, tratarei de assegurar que nossa política externa esteja sempre
alinhada com os reais valores e os legítimos interesses nacionais.
Cada vez mais está presente na consciência dos cidadãos brasileiros a ideia da
inseparabilidade entre política externa e política interna. Sempre foi assim. Sem me alongar
sobre o tema, permito-me uma lembrança da nossa história e recorro a dois autores que,
entre outros, assinalaram claramente essa conexão, Synésio Sampaio Góis e Gabriela
Nunes Ferreira. A definição do “corpo da Pátria”, o que ele contém, quais os seus limites,
onde ele termina e onde começa o dos seus vizinhos, essa definição que garantiu foros de
legitimidade à ação multissecular de bandeirantes, religiosos, soldados e povoadores foi
obra de diplomatas e dos condutores da nossa política externa. Uma ação levada a cabo
com energia e paciência, e que foi inseparável da própria consolidação do Estado Nacional.
Os setores mais informados da opinião, no início da República, compreendiam bem a
conexão entre esses dois processos: é o que explica, penso eu, em grande parte, a imensa
popularidade de que desfrutou o Barão do Rio Branco.

Volto aos dias recentes e evoco a última campanha presidencial da qual tive a honra de ser
candidato a vice-presidente, ao lado de Aécio Neves, esse extraordinário líder político, a
quem sou ligado por amizade e admiração que só fizeram crescer de lá para cá. No calor
dos debates, na imprensa, no Congresso, onde quer que se reunissem eleitores nessa
campanha apaixonante, despontava sempre a discussão sobre temas que, a rigor, dizem
respeito à política externa. Como promover uma nova inserção, mais competitiva, nos
grande fluxos de comércio, de investimentos e de intercâmbio tecnológicos no mundo
globalizado? Como revigorar o Mercosul, afirmar seu propósito inicial de se constituir uma
área de livre comércio, multiplicar seus acordos com outros países e blocos? Como
valorizar, aos olhos do mundo e aos nossos próprios olhos, o fato de sermos uma grande
potencia agroindustrial, nossas conquistas ambientais e esse extraordinário passaporte que
é a cultura brasileira? De que forma poderemos fazer da nossa política externa um
instrumento para buscar novas oportunidades para o desenvolvimento material de nosso
país? Trata-se de uma exigência de sempre, mas particularmente premente, para
superarmos a atual crise que nos assola e que impõe mais do que nunca a distinção entre
nossos interesses permanentes e os alinhamentos partidários e ideológicos contingentes.
Reafirmo o que tem sido dito desde o início do governo Temer: a política externa tem que
estar a serviço do País e não dos objetivos de um partido, qualquer que seja ele. Não posso
deixar de lembrar a preocupação, cada vez mais presente, com a escalada autoritária do
governo venezuelano, que nos últimos anos esteve presente entre os grandes temas em
debate. A nossa posição frente à Venezuela é emblemática do papel que queremos
desempenhar na América Latina e no mundo. Nossa solidariedade irrestrita com aqueles
que lutam pela liberdade nesse país irmão é a reafirmação do princípio constitucional da
prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil democrático.

As preocupações que acabo de mencionar, presentes também em um amplo espectro de


opiniões políticas, proporciona –espero- uma base para o entendimento entre os atores
políticos, que ultrapassa os limites das atuais situação e oposição. Essa é, aliás, uma das
lições que tiro de minha participação na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional.

Agradeço ao Presidente Michel Temer a confiança que, mais uma vez, deposita em mim.
Depois da liderança do governo no Senado, agora para ajudá-lo a conduzir a política externa
do Brasil.

Conheci Michel Temer em 1963 quando entrei na Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco. Nunca o perdi de vista. Somos colegas na Procuradoria Geral do Estado de São
Paulo e vim a conviver com ele, mais de perto, já no governo Montoro. Fui seu colega na
Câmara, seu companheiro nas fileiras do PMDB. Michel Temer nunca mudou de lado no
seu compromisso com a democracia, com a ordem jurídica e com a justiça em todas as suas
dimensões. É uma honra estar ao seu lado nesse momento em que, com constância, sem
ceder às tentações fáceis do populismo, vem dando rumo ao Brasil, de modo a superarmos
a crise e entregarmos em 2018 um País mais organizado institucionalmente, mais próspero,
voltando a gerar empregos e respeitado na área internacional.

É uma honra assumir a chefia do Itamaraty, instituição que tem dado ao país, ao longo da
história, contribuição valiosa que a nação brasileira reconhece e respeita. Essa instituição é
animada pela convicção de que uma boa política externa deve conciliar a primazia do
interesse nacional com o papel que cabe a um País da estatura do Brasil, por suas
dimensões, seu peso, sua história, como membro da comunidade internacional.

O Brasil anseia por seu desenvolvimento pleno e os brasileiros demandam a aceleração


desse processo. Encaramos a interação com os demais povos e com as economias de todo
o mundo como veículo para o nosso progresso. Estamos, pois, determinados a ampliar e
aprofundar nossa participação integrada na economia mundial, por meio de negociações
que produzam resultados equilibrados e atendam aos interesses de todas as partes. Não
podemos, porém, fazer prova de ingenuidade voluntarista e de curto prazo das concessões
unilaterais: a regra do jogo é e deve continuar a ser a da reciprocidade – particularmente,
mas não somente, na frente econômico-comercial.

Ainda nesse terreno, a intensificação do trabalho de promoção comercial e promoção de


investimentos, reforçado pela vinculação da APEX ao Itamaraty, foi uma prioridade central
da gestão de José Serra que tenciono manter intacta e levar adiante com todo empenho.

Os sinais de melhora na economia e a força parlamentar do governo abrem oportunidades


para uma ação externa mais vigorosa; uma política externa que projeta, sem rodeios ou
hesitações, um País cuja solidez institucional foi testada e aprovada na recente crise do
impeachment, um povo que hoje recupera sua confiança em si e anseia por parcerias que
nos ajudem na retomada do crescimento e na busca da prosperidade.

Pretendo reunir-me com as chefias do ministério, de todas as áreas, para uma conversa
aberta, uma desinibida circulação de ideias sobre os desafios que enfrentamos e sobre o
que se vem fazendo e terá de ser feito. Precisamos partir de um entendimento objetivo e
cuidadosamente refletido da conjuntura internacional. Há muitas incertezas no horizonte,
tendências preocupantes que se acumulam: o protecionismo repaginado, o aumento da
retórica anti-imigração, a atribuição a causas externas de problemas cuja solução, na
verdade, depende muitas vezes de remédios de natureza e aplicação local.

O Brasil não deve se acanhar – ou, ao contrário, se abespinhar – diante dessa conjuntura.
Possuímos inquestionáveis ativos de caráter permanente: grande território e população,
uma das maiores economias do mundo, recursos naturais e ambientais estratégicos,
indústria diversificada, agricultura moderna e possante, imenso mercado interno,
oportunidades atraentes de investimento.

Somos a um só tempo uma potência agrícola, que ajuda a alimentar o mundo, e um dos
países com maior cobertura florestal e de matriz energética mais limpa e diversificada, com
participação de cerca de 40% de fontes renováveis. Esses atributos conferem ao Brasil
papel de relevo no encaminhamento das questões de meio ambiente, de mudança do clima
e de desenvolvimento sustentável.

Temos tradição e credibilidade nos organismos multilaterais e na diplomacia bilateral. Nas


Nações Unidas, o Brasil sempre foi apreciado e respeitado pela qualidade substantiva, pelo
sentido agregador e construtivo de sua atuação. Continuaremos a buscar que a ONU, ainda
que com atraso, reflita em suas instâncias centrais, particularmente no Conselho de
Segurança, a realidade do mundo em que vivemos hoje. O Secretário-Geral António
Guterres sabe que conta com o apoio do Brasil.

Na OMC, da mesma forma, onde o embaixador Roberto Azevêdo acaba de ser reconduzido
para mais um mandato de quatro anos como Diretor-Geral, também temos sido um ator-
chave. O Sistema Multilateral de Comércio continua a ser um dos pilares centrais da ordem
econômica mundial. Não interessa a ninguém retroceder aos tempos da lei da selva.

Devemos também reforçar nossa atuação – a defesa de nossos interesses e a promoção


de nossas ideias e valores – em foros como o G-20, onde se gestaram depois da crise de
2008 importantes ajustes na governança das instituições financeiras internacionais, assim
como no BRICS e no IBAS (Índia, Brasil e África do Sul).

Encontraremos as oportunidades e criaremos os espaços que melhor atendam às nossas


aspirações, valores e interesses, na região e além dela, com a consciência de que o Brasil
é um ator global que continuará a assumir suas responsabilidades sem titubeios.

Continuaremos a dar a necessária prioridade ao nosso relacionamento com as nações da


América do Sul, da América Central, do conjunto da América Latina e do Caribe.

Amanhã mesmo viajarei a Buenos Aires para um encontro com os chanceleres da Argentina,
Paraguai e Uruguai. Manterei, assim, a boa tradição de que logo ao assumir os chanceleres
brasileiros visitem a vizinha nação irmã, parceira maior e prioritária do Brasil. Em nossa
região, a coincidência de visões políticas e de práticas econômicas favorece uma ampliação
significativa de nosso intercâmbio comercial e de investimentos. Enseja uma imprescindível
renovação do Mercosul.

Quero dar seguimento às ações de maior aproximação entre o Mercosul e os países da


Aliança do Pacífico. Está marcado para o começo de abril um encontro nosso com os
chanceleres de Chile, Colômbia, México e Peru.

A situação na Venezuela continua a nos preocupar. Queremos uma Venezuela próspera e


democrática, sem presos políticos e com respeito à independência dos poderes, um país
irmão capaz de reencontrar o caminho do progresso para o bem de sua gente.

As ações com nossos vizinhos para garantir a segurança e o desenvolvimento na faixa de


fronteira são uma das importantes iniciativas do ministro Serra. A explosão de violência
criminosa em nossas cidades, em nossos presídios, está intimamente ligada ao que se
passa – literalmente – ao que passa por nossas fronteiras, nos dois sentidos. Amanhã me
reunirei com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, para debatermos formas de aprofundar
a cooperação entre o Itamaraty e o Ministério da Defesa. Se o crime é crescentemente
transnacional, também o combate que lhe damos há de sê-lo.

As relações com os Estados Unidos também podem ampliar-se de forma expressiva, em


bases mutuamente benéficas. Nossos governos e nossas comunidades empresariais têm
claro interesse na expansão de investimentos recíprocos, na facilitação de comércio, no
aumento da cooperação cientifica e tecnológica, nos projetos comuns em energia, na
indústria de defesa. O desafio está em fazer andar acordos e projetos desenhados há anos,
mas que só agora começam a ser implementados.

Nosso relacionamento com a Europa está prestes, espero, a adquirir uma nova dimensão.
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia está na ordem do dia e poderá propiciar um
salto qualitativo nas nossas relações com a Europa e que, por isso mesmo, não pode ser
visto apenas como a desgravação de algumas linhas tarifárias. Ao falar de Europa, não
podemos deixar de mencionar o leste europeu e a Rússia, um parceiro tradicional que
continuaremos a valorizar.

Fato novo e relevante, nas últimas décadas, tem sido o extraordinário aumento do comércio
e dos investimentos com a Ásia, particularmente com o Japão, também com a Coreia, e
muito acentuadamente com a China. O avanço foi grande e o potencial, com esses e outros
países da região, tais como a Índia e a Indonésia, evidentemente ainda maior. Precisamos
conhecer melhor e fazer mais com esses parceiros. As relações com a China merecem uma
atenção condizente com a escala e a natureza singular do intercâmbio, inclusive com vistas
à identificação e estruturação de novas áreas de cooperação. Com o Japão, nosso parceiro
mais tradicional na Ásia, temos o desafio de renovar sempre um relacionamento que já deu
e continuará dando muitos e bons frutos.

Não devemos esquecer o compromisso histórico e o interesse cada vez maior pelas
relações com nossos parceiros no mundo em desenvolvimento. Sem descuidar das
convergências que temos entre nós, é hora de concretizar as muitas oportunidades para um
comércio ampliado, para investimentos recíprocos e para parcerias empresariais.
O caso da África é uma ilustração deste fato. O continente africano cresceu nas últimas
décadas quase o dobro do que a América Latina. As mais expressivas lideranças africanas
têm deixado claro que não buscam compaixão assistencial, mas investimentos e parcerias
empresariais e tecnológicas. Como potência agrícola, o Brasil está pronto a compartilhar
sua tecnologia agrícola, por exemplo, com parceiros e amigos mediante arranjos
inovadores, maior cooperação entre entidades de pesquisa, intercâmbio de especialistas,
investimentos e parcerias empresariais. Pretendo visitar países da África ainda neste
semestre.

São fortes e conhecidos, também, nossos laços históricos, humanos, econômico-comerciais


com países do Oriente Médio, que devem ser – e serão – objeto de esforço contínuo de
aproximação nesses e em todos os campos.

Senhoras e senhores,

O Itamaraty continuará a dar atenção prioritária ao apoio às comunidades de brasileiros que


vivem no exterior – é uma responsabilidade fundamental do Itamaraty para com nossos
compatriotas emigrados.

A propósito, ressalto que o Brasil continuará a ser um país aberto aos estrangeiros e mais
ainda, porque a nova Lei de Imigração, de minha iniciativa, que revoga dispositivos herdados
do período autoritário coloca o País na vanguarda do direito humanitário.

Assim como o Serra, passei anos da minha vida no exilio sob a proteção do alto
comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e Apátridas, assim como do direito
dos países que nos abrigaram. Nos orgulhamos de que o Brasil seja uma terra de asilo,
dotado de um estatuto dos refugiados, de cuja elaboração tive a honra de participar como
deputado federal ao tempo do governo de Fernando Henrique, e que e um dos mais
generosos do mundo.

Trataremos igualmente de aprimorar práticas destinadas a facilitar a vida de quem nos quer
visitar, como faremos ainda este ano com a implantação do visto eletrônico para nacionais
de alguns países que exigem vistos de cidadãos brasileiros. Conciliar o princípio
fundamental da reciprocidade com o primado da eficiência sempre foi algo que a diplomacia
brasileira quis e soube fazer, nos mais diversos campos.
Quero concluir com uma mensagem de compromisso ao corpo de servidores do Itamaraty.
Ao longo dos últimos nove meses, tive o gosto de apoiar José Serra – inclusive como
presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado – na tarefa que ele cumpriu de
restabelecer as condições de espaço político e disponibilidade de recursos para que este
ministério pudesse voltar a ocupar o lugar que sempre lhe coube no centro das decisões e
das políticas mais estratégicas do Brasil. isso não será revertido, muito pelo contrário: o
Itamaraty continuará a ser um ministério central na defesa e promoção dos interesses
nacionais.

Contem com meu empenho para valorizar as carreiras do Serviço Exterior Brasileiro, bem
como as demais categorias de servidores do ministério, nos limites angustiantes das atuais
restrições orçamentárias. Vou dar atenção especial a questões da administração do
Itamaraty. Estou determinado a assegurar os meios adequados para que o Ministério possa
cumprir suas obrigações com eficiência e para tanto conto com o mesmo respaldo que o
Ministro teve de seus, agora meus colegas na Esplanada.

Política externa é política pública. Política pública estratégica e prioritária, da qual o Brasil
irá necessitar cada vez mais. É uma politica cuja execução exige cada vez mais a integração
do Itamaraty com outras áreas do governo e especialmente, no que tange ao comércio
exterior, com o Ministério da Indústria Comercio e Desenvolvimento. Sempre sob a alta
direção do presidente da República.

Política externa é o honroso ofício dos servidores do Itamaraty e, a partir de hoje, também
o meu.

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