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O QUE É TEOLOGIA BÍBLICA

2. O que é revelação

2.1. Revelação e conhecimento

“Todo o conhecimento que temos de Deus vem dele próprio, por meio de sua
revelação” (CAMPOS, 2017:62).

Todo conhecimento pode ser dividido em dois tipos: conhecimento de um

objeto e conhecimento de um sujeito.

Para conhecer um objeto, precisamos fazer experimentos com ele: devemos

pesar a pedra para conhecer seu peso. Para conhecer um sujeito, ele precisa se
revelar para nós. Só posso conhecer o que alguém pensa, por exemplo, se ele
expuser, comunicar, revelar seu pensamento, de forma oral ou escrita.

Nosso conhecimento de Deus depende daquilo que Deus revela para nós.
Esse é o ensino de Paulo (1Co 2, 9-12):

[...] Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito. [...] Ora, nós não temos recebido o
espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos
o que por Deus nos foi dado gratuitamente.

Assim, temos que a teologia se baseia em revelação. “Quando fazemos

teologia, não a fazemos com base em ‘Deus em si mesmo’, mas naquilo que Ele
revelou de si mesmo” (CAMPOS, 2017:128).

2.2. Revelação geral e revelação especial

A revelação pode ser distinguida em revelação geral e revelação especial.

A revelação geral abrange a criação. Deus se revela através da Criação, a

Criação aponta para Deus. O Salmista escreveu: “Por toda a terra se faz ouvir a sua
voz” (Sl 19, 4). Toda a criação ecoa a voz de Deus. Toda a criação louva a Deus (v. Sl
148).

A criação nos revela que existe um Deus; mas não nos revela quem é esse
Deus, como devemos adorá-Lo, o que Ele pensa. Para sabermos isso, foi necessária
uma comunicação sobrenatural de Deus para o homem. Deus falou, revelando-se
pessoalmente, revelando suas intenções e propósitos. “Yahweh Deus iniciava a
revelação falando ou comunicando sua palavra a pessoas que ele tinha escolhido
para falar com ele” (VAN GRONINGEN, 2006:16). A revelação especial é o que Deus
disse sobre si mesmo, sobre a Criação e sobre o homem.

Convém observar que as duas formas de revelação são cumulativas, e não

antagônicas. Paulo sabia disso (At 17, 28).

A teologia bíblica é o estudo da revelação especial de Deus. Por isso, nos

tópicos seguintes, falaremos apenas da revelação especial.

2.3. Características da revelação especial

A revelação especial difere da revelação geral em três pontos principais:

• Caráter lógico. A revelação especial se dá verbalmente, por palavras.

• Caráter histórico. Deus fala a alguns homens, em algumas circunstâncias.
• Caráter soteriológico. O propósito da revelação especial está ligado ao
plano de redenção (salvação).

2.4. Iniciativa da revelação especial

Deus, mais precisamente a Sua palavra falada, é o fator iniciante da revelação.

A revelação teve início quando Deus falou: “Disse Deus” (Gn 1, 1).

2.5. Destinatário da revelação especial

O destinatário da revelação é o homem, tanto os autores das Escrituras

quanto nós, que somos seus leitores. Aqui podemos fazer duas observações:
 • Não basta Deus iniciar a revelação. Por causa da nossa condição pecadora,
precisamos ser capacitados por Deus para podermos compreender
corretamente a revelação (geral ou especial). A revelação é divina na origem
e no destino.
• “A revelação não acontece no vácuo” (CAMPOS, 2017:25). Isso quer dizer que
os destinatários da revelação (tanto autores como leitores) estão inseridos em
um contexto histórico e cultural. Por isso, ao estudarmos a revelação,
devemos levar em consideração esse contexto.

2.6. Necessidade da revelação especial

A revelação especial é necessária, dentre outros motivos, porque:

• Deus é infinito e o homem, finito;

• O homem, por causa do pecado, é incapaz de, por si só, interpretar
corretamente a revelação geral.

2.7. Objetivo da revelação especial

“A autorrevelação de Deus a nós não foi feita para um propósito

primariamente intelectual” (VOS, 2010:19).

O objetivo da revelação especial está ligado ao plano da redenção: Deus se

revelou verbalmente para reestabelecer a antiga comunhão entre Ele, a criação e os
homens.