Aqui Freud fala da agorafobia nas mulheres, quando aborda a análise de algumas fobias, e
pontua que neste caso o mecanismo consistiria no “’recalque’ da compulsão de ir apanhar na
rua o primeiro que aparecer, de um sentimento de ciúmes das prostitutas e de identificação
com elas”. A identificação aqui se aproxima do “desejo recalcado de ‘agir como’”.
Sonho da bela açougueira. Nele a açougueira, que não deseje que sua amiga que quer
engordar o consiga (pois ficaria tal qual o eu marido gosta), sonha que se identificou com sua
amiga, e vê a si mesma realizando o que desejava a ela – e na vida real se repete, ao recusar a
realização de seu desejo de comer caviar. IDENTIFICAÇÃO HISTÉRICA.
Aqui a identificação indica o contrário da escolha de objeto narcísica, consistindo numa escolha
de objeto por apoio, pautado no modelo parental.
Capítulo VII. Nele a identificação é postulada “como expressão primária de uma ligação afetiva
com outra pessoa”. Haveria então três tipos de identificação. (1) refere-se ao estádio oral, de
incorporação do objeto (que Freud abordaria posteriormente pela dificuldade de distinguir
identificação e investimento, “diferenciar a modalidade do ser da modalidade do ter”). (2)
identificação regressiva (sintoma histérico), baseada na imitação de um sintoma da pessoa
amada (como a tosse do pai de Dora imitada por ela). Neste caso “a identificação toma o lugar
da escolha de objeto, a escolha de objeto regride para a identificação”., apropriando-se de um
traço único. (3) identificação que ocorre na ausência de quaisquer investimentos sexuais, pela
“capacidade ou vontade de colocar-se numa situação idêntica” de determinado(s) sujeito(s), tal
qual ocorre no contexto das comunidades afetivas, ligando membros de uma coletividade. Esta
forma pauta-se no “vínculo estabelecido entre cada indivíduo da coletividade e o condutor das
massas”.
Em Lacan, J.
No Seminário sobre a identificação Lacan formulou seu conceito de traço unário, que pautou-
se na noção freudiana de “traço único da identificação regressiva” e “fundamenta nele a sua
concepção de um, esteio da diferença”, base da identidade – e não mais marca do único. Com
base no cogito cartesiano, é situado “o fundamento da identificação inaugural, a do sujeito
distinto do eu, no traço unário, essência do significante, que é o nome próprio”. Acresce Lacan
a seguir as demais identificações freudianas, sendo “a identificação primária, na vertente do
pai simbólico, e o terceiro tipo, a identificação histérica, aquela que encontramos em ação na
constituição das massas e que tem por vetor o desejo do desejo do Outro”.