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A FAMÍLIA E O SUCESSO ESCOLAR

GUIA PARA PAIS E OUTROS EDUCADORES


Os Autores

HELENA ÁGUEDA MARUJO é doutorada em Psicologia (Psicoterapia e Aconselhamento) pela


Universidade de Lisboa.
Presentemente é Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Lisboa e Professora Convidada da Universidade Católica Portuguesa.
A par das funções docentes, tem desenvolvido há vários anos formação para pais e professores,
bem como supervisão clínica e educacional de finalistas de psicologia em contextos educativos.
É colaboradora de revistas dedicadas a pais e educadores e esteve como Investigadora
Convidada na School of Education da Universidade de Massachusetts. É mãe de dois filhos.

LUÍS MIGUEL NETO é doutorado em terapia familiar pela Universidade de Massachusetts, U.S.A.,
tendo sido bolseiro da Fulibright. Actualmente é Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e
Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde desempenha funções docentes; exerce
funções de coordenação e supervisão clínica no Serviço de Atendimento à Família da referida
Faculdade. E Externai Examiner na Universidade de Luton, Londres. Presta colaboração mensal
em revistas destinadas a pais e professores. É pai de dois filhos.

MARIA DE FÁTIMA PERLOIRO é licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências


da Educação da Universidade de Lisboa e Professora Adjunta da Escola Superior de Saúde,
colaborando ainda com a Escola Superior de Saúde de Alcoitão. Em clínica privada exerce
também actividade como Psicoterapeuta. E mãe de uma criança.
HELENA ÁGUEDA MARUJO LUÍS MIGUEL NETO MARIA DE FÁTIMA PERLOIRO

A FAMÍLIA E O SUCESSO ESCOLAR


GUIA PARA PAIS E OUTROS EDUCADORES
EDITORIAL PRESENÇA
FICHA TÉCNICA
Título: A Família e o Sucesso Escolar

— Guia para pais e outros educadores Autores: Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto
e Maria de Fátima Perloiro

Copyright: © Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto, Maria de Fátima Perloiro e Editorial Presença, Lisboa,
1998

Capa: Sector Gráfico de Editorial Presença Pré-impressão, impressão e acabamento: Multitipo — Artes
Gráficas, Lda.

1ª. edição, Lisboa, Agosto, 1998

2ª. edição, Lisboa, Maio, 1999

3ª. edição, Lisboa, Setembro, 2002 Depósito legal n. 184 117/02

Reservados todos os direitos para a língua portuguesa à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59
Queluz de Baixo
2745-578 BARCARENA Email: info@editpresenca.pt Internet: http://www.editpresenca.pt
ÍNDICE

INTRODUÇÃO............................................................................9

1. DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DO SEU


FILHO.....................................................................15

1.1 Gostar de aprender, gostar de estudar ............................15


1.2 Apreciar-se e acreditar nas suas competências ..............19
1.3 Saber explicar o sucesso e o insucesso ..........................26
1.4 Ter autodisciplina, ser autónomo e responsável.............34
1.5 Estar atento e concentrado..............................................38
1.6 Treinar a memória...........................................................41
1.7 Ser criativo ......................................................................44
1.8 Gostar de ler e escrever ..................................................49
1.9 Cuidar do bem-estar físico e mental...............................53
1.10 Estudar com colegas e amigos........................................59
1.11 Aprender com o insucesso..............................................62
1.12 Ser diferente....................................................................65

2 DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DA FAMÍLIA71

2.1 Comunicar em família ....................................................71


2.2 Educar para o optimismo................................................79
2.3 Escolher o estilo educativo .............................................83
2.4 Cultivar o autocontrolo ...................................................87
2.5 Elogiar e recompensar ....................................................91
2.6 Disciplinar com amor .....................................................97
2.7 Brincar em família ..........................................................104
2.8 Recorrer aos irmãos ........................................................108
2.9 Ajudar no estudo e nos trabalhos de casa ......................112
2.10 Preparar para testes e exames .........................................119
2.11 Usar tecnologias: computador, Internet e televisão........123
2.12 Lidar com as mudanças na família.................................130
2.13 Escolher o futuro.............................................................134
2.14 Lidar com as mudanças na escola.....140
2.15 Ensinar sem saber ......................... 145

3. DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DOS RECURSOS HUMANOS ......................148

3.1Estabelecer relações positivas entre a família e a escola148


3.2Escolher um explicador ..................................................153
3.3Procurar a ajuda de um psicólogo ..................................156

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....165.
INTRODUÇÃO

O sucesso faz hoje parte do nosso vocabulário corrente, tanto quanto das nossas
aspirações. Vivemos do sucesso e para o sucesso. Como mães e pais, desejamos
ardentemente que os nossos filhos sejam bem sucedidos, e se a escola é actualmente
parte tão central das suas vidas, então ansiamos que tenham sucesso escolar.

A educação formal é, cada vez mais, uma necessidade, uma exigência e um elemento
do crescimento ao qual não é possível nem desejável escapar. Se é vital para a
sobrevivência pela possibilidade de aceder a uma carreira profissional e permitir
maior número de oportunidades, é também uma forma de chegar à felicidade, actual
e futura, e a uma equilibrada integração social. Apesar desta relevância, ou até
mesmo por causa dela, a relação dos jovens com o estudo e com a escola é, mais do
que nunca, problemática, tendo-se transformado numa fonte de múltiplas
preocupações para mães e pais.

Este livro vem falar-vos de sucesso escolar apoiado na família. Não de uma visão de
sucesso (apenas) sinónima de ter boas notas e nunca reprovar, mas de uma visão
mais ampla, em que o sucesso é equacionado com gosto de aprender, estar envolvido
na descoberta e exploração do mundo, ter prazer em avançar, saber para onde se
quer ir e porquê, e em que é emparelhado com ser feliz como pessoa, crente em si e
nas suas possibilidades. Falaremos de um sucesso em que os aspectos afectivos são
fulcrais, e em que o bem-estar pessoal está mais alto e é mais nobre que o resultado
final contabilizado na nota que se tem. Presentemente, se uma criança ou jovem não
é bom aluno, então não é boa pessoa. Ter valor é sinónimo de
ter sucesso quantitativo, o qual escarnece de qualquer outro valor. Vimos por isso
trazer luz sobre a forma como as próprias relações de parentalidade, os estilos
educativos e o clima dentro da família dão o substrato emocional que permite aos
vossos filhos e/ou educandos serem alunos e pessoas equilibradas, satisfeitas
consigo, amantes da vida e prontas a dar o seu melhor.

Falaremos de família, também, numa acepção alargada aos novos formatos, e cada
vez que referirmos mães e pais estaremos não só a pensar em progenitores
biológicos, mas também em pais e mães adoptivos, em padrastos e madrastas, em
avós e avôs, em encarregados de educação, em educadores em geral. De igual forma,
em cada utilização da palavra filho, escolhida por conveniência de formato no texto
(apesar de implicar uma decisão «politicamente não correcta»), estaremos também a
pensar em filha, educando ou educanda.

Todos falam do envolvimento da família na educação de crianças e jovens — seja para


lhe salientar a importância e premência, seja para criticar a sua ausência.

Muito mudou, nos últimos anos, no que toca ao papel dos pais e dos professores na
educação dos mais novos. Das relações de poder às de respeito e cooperação, das
expectativas à complementaridade ou confronto de estilos educacionais, tudo hoje é
diferente, se reformula e busca novos sentidos. Paradoxalmente, a escola tem muitas
vezes vindo a criticar o não envolvimento dos pais, acabando por ter dificuldade em
saber como pedi-lo, aceitá-lo ou estimulá-lo: ora porque os pais e as mães só são
chamados quando há problemas com os filhos ou festas «prontas a consumir», ora
porque recebem como uma ameaça os pais mais críticos e intervenientes. Numa
«bola de neve», em que não se sabe já onde está causa e efeito, a relação foi-se
rigidificando e todos, pais e professores, sentem necessidade de reformular esta
ligação mútua. Os pais querem ser
co-educadores e aceites como tal pêlos professores, e estes querem os pais como
parceiros intervenientes no processo de aprendizagem.

O envolvimento de pais e mães na educação escolar dos filhos é um direito, tanto


como uma responsabilidade e um valor. E hoje claro que a participação activa dos
pais no processo de aprendizagem pode melhorar o desenvolvimento das crianças. Os
pais são, com toda a propriedade, o maior e mais válido recurso que os professores
possuem para ajudar os alunos a terem sucesso e felicidade. Podem, de facto, intervir
de forma positiva no desenvolvimento educativo dos filhos. O interesse crescente das
famílias na educação das suas crianças e jovens — mudança recente e que poderá
levar algum tempo a generalizar-se — não só não está a ser apoiado ou explorado,
como se esgota em dúvidas sobre como fazer. Se para alguns pais e mães o
envolvimento na aprendizagem formal dos seus filhos se reduz ao investir de tempo e
dinheiro para comprar a pasta, os livros e as canetas novas, para outros é vivido como
o centro da vida e uma consequente ingerência na forma como os professores
leccionam e na adequabilidade e justeza das notas que atribuem. O lado bom de tudo
isto é que há um meio-termo equilibrado e saudável.

A ausência de orientações claras, pragmáticas, sistemáticas e apoiadas na


investigação científica, sobre como os pais podem estimular com sucesso a
escolaridade dos filhos é por isso, parece-nos, uma falha a colmatar.

Com este livro vimos convidá-los — a vocês, mães e pais — a serem elementos activos
e informados no sucesso escolar dos vossos filhos. Tentaremos dar uma contribuição
científica sobre como se desenvolvem os comportamentos de motivação e prazer nas
actividades escolares e como podem os pais encorajar os seus filhos a aprender —
sem lágrimas nem lutas desnecessárias, sem gritos nem violências indesejadas — e a
gostar de ser alunos. Vimos desafiá-los a não se limitarem a passar a responsabilidade
educativa para os professores e a assumirem
a relevância que têm na escolarização formal de crianças e jovens. É que, se muitos
supõem ainda que o aluno aprende desde que o professor explique, que basta
trabalhar para assimilar conteúdos, e que o centro do conhecimento é a memorização
e a repetição mecânica, a ciência mostra que a aprendizagem se faz de outras
maneiras. Os aspectos afectivos, sociais e motivacionais são tão ou mais importantes
do que as competências cognitivas ou de estudo, e só uma equilibrada integração de
todos eles pode levar ao sucesso.

No ensino não há analgésicos, cirurgias ou antibióticos, receitas imediatas nem


soluções infalíveis. E se é mais rico, mais prático e mais proveitoso provocar a reflexão
do que fornecer conclusões prefabricadas, há premência de linhas de orientação que
nos auxiliem a reflectir. Ao longo destas páginas oferecemos-lhes alguns caminhos
possíveis, e tentaremos acompanhá-los nesta viagem difícil mas fascinante de educar
um filho. Faremos o possível por lhes mostrar que todas as crianças e jovens podem
melhorar o rendimento escolar, as atitudes perante o estudo e perante si mesmos, os
métodos e estratégias de trabalho e as motivações para terem sucesso — sendo cada
vez mais felizes e optimistas perante a vida e a relação com o mundo.

A si, mãe e pai, vamos demonstrar-lhes como podem tornar-se parceiros dos
professores na construção e manutenção de seres humanos satisfeitos, crentes na sua
própria pessoa, pensadores criativos e trabalhadores autónomos.

Neste livro falaremos de mães e pais como:


apoiantes — prestando serviços à escola, facilitando a aprendizagem em casa,
acreditando e confiando nos professores;

aprendies — observando e descobrindo o próprio comportamento e o dos filhos e


sendo participantes e «alunos» ao aprenderem e concretizarem novas formas de
educar;
professores — co-ensinando em casa formas e conteúdos de estudo e, acima de tudo,
atitudes e comportamentos;

ajudantes e amigos — lendo histórias em casa, levando-os a museus, preparando com


os filhos materiais e projectos;

parceiros na construção da política educativa — participando nas estruturas formais


da escola (associações de pais, conselhos consultivos) em que a presença é
necessária e desejada, e mesmo incentivada pela legislação;

pais!

Vai ser um prazer tê-lo, a si, por companheiro/a nesta viagem que preparámos pelo
universo da Educação com Entusiasmo. O seu filho pode ser, ao seu ritmo e à sua
maneira, uma estrela brilhante no céu escolar, e aqui estamos nós, como ajudantes
de astronautas, para o auxiliar a cruzar a imensidão desta galáxia.
1 DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DO SEU FILHO

1.1 Gostar de aprender, gostar de estudar

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:


• Quer levar o seu filho a apreciar cada vez mais o estudo e a desenvolver a
motivação para aprender.
• Está preocupado porque o seu filho não demonstra qualquer interesse pelo estudo
nem parece gostar de aprender.

Motivação para aprender e para estudar

O desejo, a inquietude, a necessidade e vontade de aprender são essenciais para o


sucesso escolar. Tão ou mais importantes que as aptidões são as motivações e o
interesse para mover o aluno a aprender, a estudar e a esforçar-se.

Para a aprendizagem acontecer é imprescindível ter uma orientação motivacional, já


que a maior parte das estratégias necessárias para o sucesso escolar — como é o
caso da atenção e concentração ou do cumprimento de um horário de estudo — têm
por base estes aspectos afectivos. Eles são uma combinação de força, atracção e
desejo que impelem o estudante à actividade intelectual. Tornam a aprendizagem
numa coisa irresistível, tornam a acção dirigida a um propósito. Quem está realmente
interessado em aprender não descansa enquanto não satisfaz a sua curiosidade e os
seus objectivos. Torna-se, por isso, persistente e mais capaz de superar problemas que
surjam.
Motivações extrínsecas e intrínsecas

Alguns dos nossos filhos estudam impelidos por motivos passageiros, superficiais,
secundários e extrínsecos (querer ganhar ao colega, fugir à punição dos pais ou
conseguir os patins em linha). Mas se bem que, na maior parte das vezes, é por aí que
começa a motivação — este tipo de motivos muitas vezes é típico das crianças mais
novas — ela deve avançar até ao ponto em que o aluno estuda por razões intrínsecas
e projectadas no futuro. Assim, o jovem passará a estudar para poder ter a profissão
de técnico de computador ou de professor de educação física, ou para se sentir bem
consigo mesmo pelo facto de ter dado o melhor e conseguido o que — para si, e de
acordo com as suas capacidades — considera ser um belíssimo resultado. Este último
tipo de motivação implica já o estabelecimento de objectivos pessoais e a
responsabilização pela própria aprendizagem, e traz consigo, frequentemente, uma
tomada de consciência dos processos em jogo e dos factores responsáveis pêlos
sucessos e fracassos, a escolha de estratégias apropriadas às características pessoais
e à tarefa de aprendizagem e a avaliação da sua adequabilidade. Esta é a meta de
qualquer educador. Os alunos que não sabem porque têm êxito ou insucesso escolar
manifestam orientações motivacionais muito mais extrínsecas, sendo que os alunos
conscientes e conhecedores das razões das suas boas notas têm motivações muito
mais intrínsecas e sentem-se responsáveis pelo seu desempenho.

Factores que aumentam o gosto pela aprendizagem e pelo


estudo

Entre os diversos factores que contribuem para aumentar o interesse, a curiosidade e


o impulso energético nos alunos, encontram-se:
• Uma percepção positiva de si mesmo e das suas competências (ver Capítulo 1.2).
• A crença de que tem controlo sobre os acontecimentos da sua vida, em particular
sobre o seu processo e resultados de aprendizagem (ver Capítulo 1.4).
• Uma imagem positiva e valorizada da escola e do que é — e para que serve —
aprender (ver Capítulo 3.1).

Estas características desenvolvem-se, aprendem-se e estimulam-se através:


1. De um ambiente familiar rico em incentivos, vivências e experiências de tipo
cultural, onde se acompanha com atenção e optimismo o percurso escolar da criança
ou jovem e onde os pais são bons modelos ao quererem, eles mesmo, saber mais e
saber melhor — para que se despertem e consolidem interesses intelectuais.

2. De um contexto escolar atraente e entusiasmante, onde o aluno é mais incentivado


e valorizado do que criticado e punido, e onde o professor desperta interesses através
da forma como ensina, do gosto que mostra por aquilo que faz e da simpatia pessoal
que põe na tarefa de ensinar — para que se estimulem no aluno uma imagem
competente de si e a vontade de aprender ao ser recompensado pessoal e
socialmente.

3. Do acesso a um ambiente cultural e literário na comunidade envolvente —


bibliotecas, museus, espectáculos de arte... — para que se estimule a inquietação
cultural.

A criança é curiosa por natureza. Bem incentivada, a curiosidade acompanha o ser


humano ao longo da vida, e deve ser objectivo fundamental de qualquer pai, mãe ou
professor, fomentá-la e mantê-la viva. Para tal, e partindo sempre dos interesses da
criança ou jovem, há que ampliar o círculo de interesses e estimular nele ou nela uma
atitude receptiva. Isto pode ser conseguido com a apresentação apaixonada,
entusiasmada, ou simplesmente animada das experiências ou matérias novas.
A motivação não deve ser, portanto, entendida como um ponto de partida, mas como
um meio para conseguir êxito escolar. A cumprir-se tal premissa o aluno deve sentir,
em casa e na escola, um ambiente de gosto e aceitação, de reconhecimento e
resposta aos seus interesses particulares, e de descontracção e bem-estar férteis.

Se o seu filho estiver desmotivado

Os pais e as mães devem começar por lembrar que a motivação e o gosto se treinam.
Pode aprender-se a gostar. Este lado positivo deverá ser um sinal de esperança para
os pais mais desanimados que não sabem como fazer os filhos ter interesse e
empenharem-se na vida escolar. Aqui ficam algumas pistas que serão completadas ao
longo da leitura deste livro:

1. Inicialmente e de forma provisória, usar estímulos e motivações externas para vir a


conseguir uma motivação interna. Pode usar-se o elogio verbal, o contacto físico
meigo ou um presente desejado como «prenda» pelo atingir de determinado objectivo
escolar (os quadros de honra ou a entrega de taças são usados em algumas escolas
tendo subjacente a anterior premissa).

2. Estabeleça objectivos mais pequenos e mais facilmente atingíveis. Com a


experiência dos mais pequenos sucessos tudo pode mudar — a imagem do aluno
sobre si torna-se mais positiva, os colegas e professores vêem-no também como mais
capaz, e a «bola de neve» inicia-se.

3. Diminua as pressões para que o aluno se interesse. Não se consegue obrigar


ninguém a gostar de uma coisa só porque lhe dizemos que goste. É preciso levá-lo a
apreciar, tornando as situações mais agradáveis, mais descontraídas e investindo na
autoconfiança. O apoio e compreensão
face aos insucessos, associados à ajuda para lidar com as diferenças — em vez de
ameaças, punições e aumento de ansiedade e tensão — ajudam o aluno a querer
tentar.

4. Tenha uma imagem clara — e ajude o seu filho também a tê-la — das razões dessa
desmotivação. Será mais fácil, ao torná-las concretas e palpáveis, resolvê-las e
superá-las.

5. Ajude o seu filho a perceber as razões do sucesso ou insucesso, a melhorar a


imagem que tem de si e das suas competências, e a valorizar-se.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber o que é a motivação para a aprendizagem e para o estudo e os tipos de


motivação que existem.
• Saber como pode, no ambiente familiar, criar mais condições para o seu filho ter
gosto pela aprendizagem e pelo estudo.
• Conhecer algumas estratégias para lidar com um filho desmotivado.

1.2 Apreciar-se e acreditar nas suas competências

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Deseja perceber o que é a auto-estima e os factores que contribuem para o seu


desenvolvimento.
• Quer ajudar o seu filho a sentir-se melhor consigo mesmo.
• Gostava de saber a cada momento o que pode fazer para ajudar o seu filho a
apreciar-se e a perceber-se como uma pessoa especial e competente.
• Quer reparar em si mesmo e perceber que imagem tem do seu filho e como a
espelha, modelando assim a auto-estima dele.

O que é a auto-estima

O seu filho tem uma imagem de si próprio que vai sendo construída à medida que se
desenvolve. Essa imagem denomina-se autoconceito. Quando ele gosta da imagem
que tem de si mesmo, se atribui valor e competências e tem sentimentos positivos em
relação à sua pessoa, então tem uma auto-estima positiva.

Ter uma auto-estima positiva significa, assim, apreciar-se e ter confiança em si próprio
e nas suas capacidades, gostar de ser quem é e ter orgulho em si. Habitualmente,
quando gostamos de nós acreditamos que somos competentes, que temos
possibilidades e virtudes.

No entanto, a auto-estima não é uma qualidade de tudo ou nada. O seu filho pode ter
uma auto-estima positiva em relação a algumas das suas características pessoais (por
exemplo, «Sou um bom jogador de futebol») e uma auto-estima negativa em relação a
outras (por exemplo, «Sou um péssimo cantor»).

Se as expectativas que as crianças e jovens com uma elevada percepção de si têm


sobre a vida, as coisas novas que vão fazer e o seu futuro são positivas, estes alunos
tendem a esperar o sucesso e a ser mais autónomos e menos preocupados com
problemas pessoais. Desta forma, uma auto-estima positiva contribui para um bom
desempenho escolar, pois a maneira como o seu filho se sente e se vê condiciona a
forma como ele age. Se ele gosta de si próprio terá tendência para desenvolver
relações positivas com os colegas, os professores e os pais. Se acha que é competente
e que vai conseguir, espera o melhor dos seus estudos e acabará tendo o melhor (ver
Capítulo 1.3).
Como se desenvolve a auto-estima

Quando mostra por palavras e acções que ama o seu filho, que gosta dele da forma
como ele é, que tem tempo para ouvir o que ele diz, que aceita os seus pequenos
erros e imperfeições, que admira as coisas de que vai sendo capaz, está a
desenvolver nele, progressivamente, uma auto-estima positiva. Se costuma dizer-lhe
«És muito meiguinho», «Tens muito jeito para fazer desenhos», «És bom a fazer
amigos», está a assinalar as coisas que ele faz bem e a valorizar os seus aspectos
melhores.

Pelo contrário, se quando falamos com os nossos filhos sobre eles costumamos dizer
«Tu não fazes nada bem», «És um preguiçoso», «Pareces parvo!» não estamos a
contribuir para o desenvolvimento de uma percepção positiva e competente de si
mesmo, porque os nossos filhos irão acreditar nas nossas palavras e tomá-las pelo seu
valor facial — ainda que para o adulto elas correspondam a uma pontual «perda de
calma».

A auto-estima dos filhos é, portanto, moldada pela forma como as pessoas que lhe são
significativas se relacionam com eles, desde os primeiros tempos de vida.

A construção da auto-estima vai, então, fazendo-se, na família e na escola. É


frequente que os adultos descrevam as crianças e adolescentes usando adjectivos,
pelo que deverão estar conscientes deles e adequá-los para que não denigram.

O seu filho constrói a auto-estima questionando-se sobre os seguintes aspectos:

1. Sou um bom aluno? Sou um bom desportista? Sou um bom filho? Sou um bom
colega e amigo?

A criança e o jovem colocam a si mesmos questões que estão relacionadas com a


ideia de competência para cumprir objectivos, executar tarefas — principalmente
físicas e cognitivas — e estabelecer relações com outros. A sensação de atingir os
objectivos ajuda a construir uma auto-estima positiva. Quanto mais eles valorizam a
área de competência mais impacte
uma imagem positiva ou negativa terá sobre eles. Por exemplo, se um jovem acha
fundamental, para se estar bem na vida, ser-se um bom aluno e for um aluno fraco,
então a percepção que tem de si próprio estará bastante beliscada e ele tenderá a
sentir-se mais infeliz.

2. Os outros valorizam as minhas opiniões? Os meus colegas dão atenção àquilo que
proponho? Os meus pais, amigos e professores gostam de ouvir o que eu tenho para
dizer?

Qualquer criança e jovem gosta de ter sucesso na forma como influencia os outros e
aprecia levá-los a aderir às suas ideias e desejos. Se o contexto familiar ou escolar lhe
é receptivo, terá maiores hipóteses de se sentir bem consigo e a sua vida.

3. Sou uma boa pessoa? Costumo fazer o que está correcto? Sou justo com os meus
colegas?

É comum as crianças e aos jovens questionarem-se e construírem a sua auto-estima


face aos valores morais e comportamentos éticos.

4. As outras pessoas gostam de mim? Tenho amigos? Consigo ter uma namorado/a?

Todas as crianças e jovens precisam de se sentir aceites socialmente, isto é, de


receber atenção e afecto dos outros e reconhecer que são desejados por aqueles que
amam ou valorizam.

5. O que é mais importante para mim? Ser um bom aluno? Um bom desportista? Uma
pessoa sociável e com muitos amigos? Sou bom naquilo que para mim é mais
importante?

A resposta a estas questões dá ao seu filho uma percepção de si mesmo e do seu


valor face aos outros.

Como pode ajudar o seu filho a gostar de si mesmo e a acreditar nas suas
competências?

Pode ajudar o seu filho a gostar de si mesmo seguindo a estratégia dos quatro Cês:
Carinho, Controlo, Competência e Confiança.
1. Carinho/Aceitação

• Tenha manifestações de carinho em relação ao seu filho:


abrace-o e faça com que ele se sinta amado. Se lhe mostrar que gosta dele, mais
facilmente ele gostará de si mesmo.
• Passe tempo com ele e ouça-o atentamente; pergunte-lhe o que gostou mais na
escola nesse dia, o que aprendeu, com quem se divertiu, etc.
• Faça com que ele se sinta único e especial (juntamente com o seu filho pode rever o
álbum de fotografias da família: o que sentiram quando ele nasceu, o que ele fazia de
especial, as graças, as trapalhices, o primeiro dia na escola, etc.).
• Aceite o seu filho tal como ele é para que ele não precise de ser outra pessoa para
lhe agradar. Os talentos e as capacidades do seu filho não são nem melhores nem
piores que os demais, são apenas diferentes dos talentos e capacidades das outras
crianças e jovens.
• Deve respeitar os seus gostos e interesses, mas pode obviamente continuar a
educar o seu filho no sentido daquilo que pensa ser o melhor para ele. Tal facto
implicará, muitas vezes, que tenham opiniões diferentes, o que pode ser a ponte para
momentos saudáveis de diálogo. Aceitá-lo como é não é contraditório com incentivá-lo
a dar o seu melhor.
• De forma alguma dê a entender que o seu amor por ele depende do seu
desempenho escolar.

2. Controlo

• Dê oportunidades ao seu filho para sentir que controla alguns acontecimentos.


Ajude-o, por exemplo, a perceber
que desta vez conseguiu uma boa nota porque estudou muito mais do que o costume.
• Sempre que possível, em vez de ordens, crie alternativas de escolha. As crianças,
tal como os adultos, envolvem-se mais naquilo que eles próprios escolheram. Diga-
lhe:
«Preferes estudar antes ou depois do lanche?» em vez de lhe ordenar «Vai
imediatamente estudar!».
• Dê-lhe oportunidades para «brilhar» e mostrar as suas capacidades. Sempre que
possa coloque-o em situações em que sabe que ele é bom, ou crie actividades que ele
seja capaz de fazer com sucesso. Este é um dos aspectos mais importantes para
melhorar a auto-estima, pois permite centrar em acções concretas e palpáveis ao
elogiar e valorizar comportamentos ou atitudes que a criança ou jovem fazem, em vez
de apenas os descrever, abstractamente, como sendo «bons» ou «bonitos».

3. Competências

• As crianças precisam de ter objectivos de estudo que equilibrem a relação entre


ambições e competências.
• Crie a possibilidade do seu filho ser responsável por pequenas coisas em casa (e.g.
acordar o irmão mais novo, comprar o pão, ir ao correio, pagar a mensalidade da
escola...).
• Sempre que ele faça algo correcto mostre o seu apreço dizendo-lhe que o admira
pelas suas capacidades (e.g. faça certificados de desempenho, cole no frigorífico as
notas positivas que ele teve, um desenho que fez, etc.).
• Esclareça que ninguém faz tudo perfeito e que cada pessoa é melhor numa
determinada coisa. Ninguém é bom a fazer tudo!
• Crie em casa um ambiente agradável onde haja oportunidades para experimentar,
ter sucesso ou falhar sem medo.
4. Confiança

Desenvolva a autoconfiança no seu filho ao:

• Manter expectativas elevadas dentro de metas realistas! (ver Capítulo 1.12).


• Encorajá-lo a fazer o melhor que sabe, sem exigir perfeccionismo.
• Estimular a persistência e as atitudes positivas (ver Capítulo 2.2).
• Fazê-lo sentir-se confortável ao cometer erros, já que essa é talvez a melhor forma
de aprender.
• Convidá-lo para expressar sentimentos quando ele se sente desanimado, não
escondendo ao seu filho os seus próprios falhanços.

Os pais de crianças com auto-estima positiva tendem a’.

• Ter uma atitude de aceitação face aos filhos (ver Capítulo


2.3).
• Saber determinar regras e limites e a ser firmes e consistentes na forma de o fazer
(ver Capítulos 2.3 e 2.6).
• Estar dispostos a ouvir os seus filhos e a ter em conta o que eles dizem,
nomeadamente no estabelecimento de regras de funcionamento na família (ver
Capítulo 2.1).
• Usar uma disciplina não coerciva (discutem com a criança ou jovem a razão por que
determinado comportamento está incorrecto e retiram privilégios em vez de
ameaçarem ou punirem fisicamente (ver Capítulos 2.5 e 2.6).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Compreender o que é a percepção positiva de si mesmo e das suas competências e


como se constrói.
• Aprender a desenvolver no seu filho uma auto-estima positiva.
• Conhecer, para aplicar na prática, os quatro Cês da auto-estima.
• Saber o que caracteriza os pais de crianças que se apreciam e acreditam nas suas
competências.

1.3 Saber explicar o sucesso e o insucesso


Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Pensa que o seu filho deve retirar da experiência escolar não apenas uma colecção
interminável de conteúdos a debitar por escrito ou oralmente em ocasiões específicas,
mas, sobretudo, uma atitude racional, independente e pragmática perante os
acontecimentos da vida.
• Advoga uma disposição optimista, bem-humorada e criativa em relação à vida e
julga que isso é o melhor que lhe pode legar.
• Deu-se conta de algumas observações mais desesperançadas por parte do seu filho
que insiste em fazer parte do clube de niilistas militantes, muito popular lá na escola;
simultaneamente pensa que é da sua responsabilidade que ele saiba encontrar
alternativas de pensamento e acção.
• Observou que a sua maneira pessoal de explicar os pontos altos e baixos da sua
própria vida deveria ser mais edificante e mobilizadora.
• Reparou que existe uma relação muito óbvia entre o seu estilo explicativo pessoal e
o daqueles que estão na sua dependência, isto é, que o seu optimismo é gerador de
optimismo à sua volta, mas que o recíproco também é verdadeiro... em especial para
os mais novos que imitam e amplificam os seus sentimentos de desesperança ou
pessimismo.
• Quando vê uma garrafa meio cheia — de sumo, claro — surpreende-se a afirmar que
ela está quase... meio vazia.

O que é o estilo explicativo e que implicações traz?

Que o mundo e a vida de toda a gente incluem em si próprios coisas boas e coisas
menos boas, pontos mais altos e pontos menos altos, momentos de esperança e de
desesperança, não é novidade para ninguém. Porém, como se tem vindo a verificar
uma crescente sensação de insatisfação generalizada apesar dos avanços de ordem
tecnológica e mesmo económica, tem vindo a ganhar cada vez mais força a ideia de
procurar na forma como as pessoas explicam o que lhes acontece o fundamento da
diferença na maneira de estar na vida. Separam-se, assim, os invulneráveis à
depressão da generalidade dos seres humanos. Tem vindo a concluir-se que o melhor
vendedor — e o melhor vencedor — não é o mais qualificado ou capacitado, mas
aquele/a que encontra em si as forças para não desistir nunca perante as
adversidades e contrariedades da vida (e das vendas). Talvez que a conclusão mais
consequente da Psicologia do século XX seja a de que não apenas o que pensamos
induz o que fazemos — até certo ponto somos o que pensamos/decidimos ser —, mas
também que, a uma pessoa possuidora de um estilo de pensamento mais optimista as
coisas têm tendência a correr melhor (inclusivamente, é-lhe mais favorável a
recuperação ou mesmo a invulnerabilidade face às doenças). Um pouco como
naquelas situações em que o sucesso traz sucesso, a riqueza traz riqueza e o bem-
estar traz mais bem-estar. Enfim, um círculo virtuoso. Ao invés, uma pessoa
pessimista tende não apenas a confirmar as suas piores expectativas e antecipações,
como ainda a encontrar situações mais infernais do que anteriormente julgava ser
possível: um círculo vicioso. Felizmente que nos dois casos há excepções.
Como é composto o estilo explicativo de cada pessoa?

Foram identificadas seis dimensões que são agrupadas duas a duas e que constituem
uma espécie de «rede» que define a maneira como cada pessoa «apanha» os
acontecimentos da sua experiência e da vida em geral. Importa vermos mais em
detalhe as tais seis dimensões de categorização dos acontecimentos:

1. Permanência: identificando a causa dos acontecimentos como persistente.

2. Transitoriedade: identificando a causa dos acontecimentos como modificável ou


pontual.

3. Globalidade: identificando uma causa como afectando diversas situações.

4. Especificidade: identificando a causa como influenciando uma ou algumas


situações específicas.

5. Pessoalidade: identificando a causa como passível de ser atribuída intrinsecamente


a um agente humano, em particular ao próprio.

6. Impessoalidade: identificando a causa como devida a outras pessoas ou


circunstâncias.

Ao agrupar estas dimensões duas a duas, por exemplo, permanente versus transitório,
global versus específico, pessoal versus global, cria-se uma matriz em que se pode
localizar qualquer acontecimento da vida pessoal, social ou circundante.

Vejamos alguns exemplos do tal «monólogo interior» — aquilo que cada um se diz a si
próprio perante diferentes acontecimentos (isto é, positivos ou negativos segundo a
própria pessoa), mas distinguindo uma maneira pessimista e outra optimista de «ver».
Assim, se a criançajovem se transferiu para uma escola diferente e após algum tempo
ainda não tem amigos poderá dizer de si para si «não vou nunca ter amigos na
XXX (expletivo não imprimível) desta escola!» A permanência, isto é, a qualidade da
experiência induzida pela expressão «Não vou nunca» é característica do pensamento
pessimista face a contrariedades. Ou seja, a capacidade de acção do sujeito para
modificar a situação indesejável é minimizada pelo próprio. Agora, imagine por favor
um pensamento que, ao invés do referido, maximize as possibilidades do sujeito em
modificar a situação indesejável. Já pensou? Muito bem. Então por favor escreva-o no
espaço em baixo:

Isso mesmo, é com certeza qualquer elocução que realça o carácter transitório da
situação, do tipo «É necessário algum tempo para fazer amigos quando se muda de
escola». Reparou como a disposição induzida pelas duas frases é diferente?

O recíproco deve verificar-se no que respeita aos acontecimentos positivos, isto é,


para a qualidade da experiência definida pela criança/jovem — ou adulto — como
positiva o esquema explicativo causal deverá realçar a permanência. Bem ao
contrário do aforismo popular «Tudo o que é bom acaba depressa». Será assim para
algumas pessoas cujo estilo explicativo é manifestamente menos positivo e optimista.
Fica a ideia de sermos criteriosos nos aforismos e ditados que escolhemos como
lemas pessoais. Sem nos apercebermos, eles rapidamente se tomam como uma
espécie de segunda natureza. Mas vamos a um exemplo de estilo explicativo
optimista perante um acontecimento classificado como positivo e que,
consequentemente, realce a sua permanência. Experimente primeiro o/a leitor/leitora:

Muito bem. Na boca de uma criança seria qualquer coisa como: «O pai brincou comigo
(acontecimento positivo) porque nos divertimos sempre muito a brincar (classificação
do acontecimento como permanente).»
No que respeita ao segundo ingrediente do estilo explicativo (globalidade
versus especificidade) as coisas passam-se de forma idêntica. Perante um
acontecimento negativo um estilo pessimista acentuará o carácter global da
causa implícita. Observemos um exemplo da vida relacional: «Ninguém gosta
de mim.» Ao invés, um acontecimento que acentua o carácter específico da
causa de um acontecimento negativo «O Xavier não gosta de mim» toma
mais próximo e provável o optimismo e uma linha de acção apropriada.

Como devo estar atento/a ao estilo explicativo do meu filho?

1. Em primeiríssimo lugar tendo atenção ao seu próprio estilo explicativo. Lembre-se


de que, mesmo quando não se lembra, está a ser um modelo para as crianças e
jovens que consigo contactam. Isto, nas situações e episódios agradáveis e, ainda
mais, nas desagradáveis. O seu estilo explicativo, mais do que os conteúdos, tornar-
se-á aquilo que de mais importante deixará para elas e eles. Ficará a sua forma de
encarar a vida mais do que a sua própria experiência. Por isso, pelo menos de vez em
quando, faça um exercício de auto-reflexão sobre o assunto. Use as três dimensões
descritas atrás e pense em dois tipos de acontecimento (um positivo e um negativo).
Veja se a configuração se aproxima mais do optimismo ou do pessimismo. Reveja as
consequências em termos das emoções que sentiu numa e noutra situação, bem
como das acções que decorreram num e noutro caso. Abra a porta das possibilidades
que se iniciariam no caso do seu estilo explicativo ter sido diferente. Por último, retire
as conclusões correctivas que achar mais convenientes. Todos precisamos de uma
«ecologia mental» optimista e de autocontrolo para vivermos com qualidade. As
crianças e jovens têm direito a exigir isso de nós.
2. As reprimendas, ralhetes e críticas são como as constipações: indesejáveis,
desconfortáveis, mas ninguém lhes é incólume. Podem até ser vistos como um
ingrediente importante nas relações entre as pessoas e os contextos de aprendizagem
(as críticas, claro, não as constipações!). Ao fim e ao cabo as pessoas em todos os
sistemas humanos precisam de ter consciência das consequências dos seus
comportamentos para poderem crescer, evoluir, aprender. A questão é que se os
ralhetes e reprimendas podem ser vistos como formas de feedback intrínsecos à
natureza da relação parental e pedagógica, nem todos os ralhetes e reprimendas são
iguais. Alguns servem os tais propósitos de crescimento e aprendizagem, outros
servem só para reduzir a ansiedade dos adultos. Como é que o estilo explicativo pode
ajudar a distinguir as duas situações? Ilustremos de novo com alguns exemplos
práticos.

Em primeiro lugar, consideremos as críticas pessimistas que acentuam (como vimos


atrás) o carácter permanente da acção da criança, não lhe reconhecendo, assim, a
possibilidade de modificar o seu próprio comportamento:

A. «Tomás, o que se passa contigo? Portas-te sempre mal!» B. «Vanda, choraste o


tempo todo em que estive fora. És
uma criança tão sensível!» C. «Carla, disse-te para arrumares os brinquedos do teu
quarto. Por que é que nunca fazes o que te digo?»

Vejamos os mesmos ralhetes/reprimendas, mas agora com a atenção de acentuar o


carácter transitório da acção da criança e, consequentemente, aumentar a
possibilidade de modificação do comportamento por parte desta.

A. «Tomás, hoje estás a portar-te mal e eu não gosto disso!» Faça o favor de escrever
as alterações devidas para os exemplos B e C:

B. _________________________________

C._________________________________
Nos exemplos seguintes pretende-se tomar evidente a diferença entre o
carácter global versus específico da reprimenda.

D. «Ela não gosta de brincar com as outras crianças. Ela é


muito envergonhada.» E. «Tudo bem Susana, não jogaste hoje na equipa.
Deixa lá,
a mãe também não era boa em desporto.» F. «João, és mesmo mau para a
tua irmã!»

Agora exemplifica-se relativamente às mesmas situações, mas com vista à


acentuação dos comportamentos específicos a alterar. Damos uma das
indicações sendo as outras duas, como já sabe, da sua responsabilidade:

D.

E.

F. «João quero que deixes de implicar com a tua irmã.»

Por último, alguns exemplos que ilustram a importância de as avaliações do


comportamento incidirem sobre o âmbito comportamental e na zona de
acção da pessoa, secundarizando os aspectos gerais e passivos:

G. «Não tens jeito nenhum para o desporto.»

H. «És muito egoísta.»

I. «Outra negativa? Estou a ver que nunca conseguirás ser um bom


aluno.

J. O teu quarto está um nojo. És mesmo um porco.

Vamos lá ver as alternativas:

G. «Tens de treinar mais para conseguires melhores resultados desportivos.»

H. «A partir de hoje quero que partilhes os brinquedos com o teu irmão.»


I. «Outra negativa. De hoje em diante é necessário que estudes mais.»

J. _—————————————————

Estilo explicativo, auto-estima e sucesso escolar

A forma como o seu filho compreende as causas dos seus próprios sucessos e
insucessos na escola determina em grande parte a sua auto-estima, levando-o a
sentir-se competente ou incompetente, capaz ou incapaz de os enfrentar no futuro.
Entender a razão dos bons resultados e atribuí-los à capacidade pessoal é fulcral para
uma imagem positiva de si mesmo e para ter motivação, bem validada, para os
repetir. Em contrapartida, explicar os seus insucessos e maus resultados na escola
devido a. falta de capacidade, redunda em desvalorização pessoal e descrédito nas
suas possibilidades pessoais. Sabendo que quanto mais competente o seu filho se vir,
mais estará capaz para se responsabilizar pelas actividades escolares («Se eu sei que
sou esperto e que sou capaz, então vou estudar mais para conseguir um resultado
melhor»), e, consequentemente, mais motivado se encontrará («Se estudar duas
horas por dia até ao ponto vou conseguir tirar, pelo menos, um 4»), facilmente se
percebe a ligação entre estes vectores para o êxito.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Identificar o que é o estilo explicativo e a importância que ele tem nos processos de
aprendizagem e na vida em geral.
• Dar-se conta da relação entre o estilo explicativo dos adultos e o das crianças e
jovens e a sua responsabilidade pedagógica e parental.
• Estabelecer a relação entre estilo explicativo dos sucessos e fracassos e disposição
optimista e pessimista.
• Aprender a corrigir algumas das admoestações (as tais reprimendas que na era
cibernética se chamam feedback)
relacionando-as com o estilo explicativo mais conducente à avaliação e mudança de
comportamentos indesejados.

Se preencheu os espaços para os exercícios propostos (vá lá, ainda está a tempo!)...
está de parabéns!

1.4 Ter autodisciplina, ser autónomo e responsável

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Acha fundamental educar o seu filho a ser disciplinado e responsável.


• O seu filho é muito pouco autónomo, organizado e cumpridor das suas obrigações.
• Gostaria de treinar e desenvolver no seu filho as capacidades de autodisciplina e de
responsabilização pessoal.

O que são a autodisciplina, a autonomia e auto-responsabilização

Construir um adequado sentimento de poder pessoal, de autonomia e de


responsabilidade é um importante alicerce para a vida. Sentir-se responsável e
autónomo é mesmo fulcral para uma auto-estima positiva (ver Capítulo 1.2). Estes
alicerces, que se encontram juntos e se desenvolvem em conjunto, permitem à
criança ou jovem sentir-se capaz e confiante. Ter poder pessoal não significa controlar
os outros, ser manipulativo ou dominador. Significa, sim, ter controlo sobre si mesmo
e estar consciente que as suas próprias acções contribuem para o que acontece na
sua vida, e que aquilo que a criança ou jovem faz não é indiferente nem insignificante.
No nosso caso particular,
é sinónimo de responsabilização pelo próprio processo de aprendizagem, o qual se
deve basear num apropriado autoconhecimento.

Desenvolver a responsabilização pessoal e a autonomia

1. Desde cedo defina tarefas e obrigações em casa. Cada um tem, pelo menos, uma
responsabilidade e recebe consequências — respectivamente boas ou más — por
assumila ou esquecê-la. Levar o lixo para a rua, ajudar o irmão mais novo nos
trabalhos da escola, pôr a mesa, dar de comer ao cão, são pequenos tijolos da
construção da autonomia e responsabilização pessoal.
Esta definição de tarefas — que pode mudar, fazendo-se,
por exemplo, um jogo diário ou semanal em que se colocam numa taça pequenos
papéis onde estão escritas todas as tarefas que é preciso assumir em casa e cada um
tira à sorte um papelinho — implicará depois permitir ao seu responsável
cumpri-la à sua maneira.

2 Face a situações problemáticas que envolvam o seu filho pense com ele de quem é
o problema. Se for sobretudo dele deixe-o resolver sozinho, mesmo se a solução que
ele encontrar não coincidir com aquela que o/a leitor/a escolheria. Pode colocar
questões que ajudem a encontrar soluções. Feita a listagem de possíveis saídas,
ajude-o a escolher uma, de acordo com as consequências que apresenta. Depois,
avalie com o seu filho a forma como o problema foi solucionado.

3 Negociar é outra forma de permitir responsabilidade e controlo pessoal. A utilização


de contratos escritos com o seu filho centrados em comportamentos que desejar
mudar, pode por isso ser muito vantajosa, já que implica o estabelecimento conjunto,
entre pai/mãe e filho/a, de comportamentos ou regras novos ou diferentes (em relação
a tarefas a cumprir em casa, ao horário de estudo, à hora de regressar a casa quando
sai à noite...) e se apoia na responsabilidade de cada um. Todos têm obrigações e
vantagens, e o cumprimento das regras implica ganhos para o jovem. O que fica
escrito é particularmente importante, e tudo deve ser fruto de negociação. Negociar
significa ouvir, ter em conta e respeitar a posição do outro, pondo-o ao mesmo nível
que nós na decisão dos termos do contrato. Acentua-se a sua responsabilização
pessoal no cumprimento e a sua autonomia na escolha dos caminhos a seguir,
sabendo quais serão as consequências — e assumindo-as.

4. Estimular e ensinar o seu filho a desenvolver competências de tomada de decisão.


Para tal deve começar cedo a permitir-lhe decidir: sobre o que quer vestir em cada dia,
a matéria a estudar primeiro, os amigos com quem se dá, o corte de cabelo que exibe,
a decoração a fazer no quarto. Deve, portanto, fornecer-lhe ocasiões e oportunidades
para tomar decisões e, claro, respeitá-las.

Tomar decisões implica ter consciência de todas as alternativas, ver as possibilidades


e consequências de cada uma e escolher a que se considera melhor. Assim, para que
possa treinar o seu filho neste processo cognitivo, sempre que se adeqúe explique-lhe
porque tomou esta ou aquela decisão, o que pensou para chegar lá, as alternativas
que avaliou, as consequências que mediu. Estimule o seu filho a fazer o mesmo
quando toma decisões. Depois siga as opções que tomou e encoraje o filho a fazer o
mesmo.

5. A construção da autonomia passa também pelo desenvolvimento da autoconfiança.


Para lá chegar deve permitir ao seu filho fazer sozinho as coisas de que ele é capaz,
mesmo se não forem de forma tão perfeita como se fosse o leitor a fazê-las. Seja
apoiante sem ser substituto. Incentive verbalmente, de forma específica, a capacidade
de fazer as coisas sozinho, de resolver problemas e de tomar decisões (ver Capítulo
1.2). Diga-lhe, por exemplo: «Lembraste-te de ir ao dicionário e encontraste sozinho o
significado dessa palavra que não sabias!»
Desenvolver a autodisciplina

Assegurar que se organiza o tempo por forma a conseguir cuidar das


responsabilidades pessoais é uma das formas de criar autodisciplina. O mesmo se
passa com a concretização de uma rotina, a qual necessita de sequenciação e
controlo para ser cumprida, pelo que é um bom auxiliar para o desenvolvimento da
disciplina pessoal. Esta é muito aprendida com o modelo dos pais; se estes são
disciplinados na sua vida — chegam a horas ao emprego, cumprem prazos, não se
esquecem de coisas importantes, obrigam-se a fazer o que têm de fazer mesmo que
seja difícil, seja aborrecido ou não apeteça — então estão a ensinar a autodisciplina.
Difícil? Sem dúvida... Mas vale a pena.

Mas todo este processo se apoia numa importante competência: o autoconhecimento.


Esta qualidade pessoal, com tudo o que implica de consciência própria e capacidade
de se avaliar e se autocorrigir vai ser importante para o sucesso escolar, já que a
junção entre o que a criança ou jovem sabe e percebe de si (da forma como aprende,
do que a faz não cumprir, do que a distrai, de quando estuda melhor, do que mais a
motiva) e das opções e estratégias que possui (o que resulta melhor consigo) dão-lhe
dados que lhe permitem escolher as melhores formas de ter êxito pessoal e escolar.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber como desenvolver e estimular a responsabilização pessoal, a autonomia e


a autodisciplina.
• Compreender a importância fulcral do exemplo e da modelagem por parte dos pais
para a aprendizagem destas competências — mesmo quando difíceis de atingir.
• Entender a importância destes alicerces para outras áreas da vida da criança ou
jovem, como para a capacidade de resolver problemas, a auto-estima positiva e o
sucesso escolar.
1.5 Estar atento e concentrado

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

. O seu filho se distrai com muita facilidade quando está a


estudar.

. A professora diz que ele tem capacidades para ser melhor


aluno, mas o facto de prestar pouca atenção impede que
isso aconteça.

. Quer ajudar o seu filho a estar atento e concentrado quando


realiza as actividades escolares.

Atenção e concentração

A atenção tem um carácter eminentemente selectivo. Estar atento significa


estar centrado apenas em alguns aspectos e ignorar os restantes, e é uma
estratégia importante para se poder ter sucesso escolar. O seu filho precisa de
estar com atenção nas aulas, na realização dos trabalhos de casa e nos testes.
A atenção pode ser espontânea e acontece quando conseguimos perceber
(ouvir, ver) qualquer coisa apesar de não fazemos qualquer esforço para
prestar atenção, ou pode ser voluntária quando despendemos algum esforço,
de forma consciente, para tentar focalizar-nos numa certa coisa. A atenção
voluntária é aquela que o seu filho necessita para fazer qualquer trabalho
intelectual.
Para que a atenção seja proveitosa precisamos ter também concentração,
que significa estar imerso física, psíquica e mentalmente num determinado
tema. O seu filho conseguirá estar atento no estudo quando se alhear e
abstrair por completo de estímulos exteriores, devendo por isso tentar afastar
da sua mente estímulos que possam interferir com a concentração.
Estar motivado é outro aspecto fundamental para conseguir estar atento: quando o
seu filho está motivado sente interesse e está mais disponível para aprender.

Causas da distracção

Existem diversas causas para a distracção. Indicam-se em seguida as mais


frequentes:

• Exigir demasiado do aluno relativamente às suas capacidades.


• Apresentar tarefas demasiado fáceis, sem o valor de estímulo e desinteressantes
para o aluno. Se os temas de estudo não evoluem em grau de dificuldade, o aluno
desinteressa-se.
• Ter lacunas importantes em conteúdos básicos. Exigir a um aluno que estude e
aprenda conteúdos sem ter dominado previamente outros conhecimentos que lhes
servem de base pode ser prejudicial.
• Vivenciar problemas a nível individual, familiar ou social. Se existem problemas na
vida da criança ou jovem é quase certo que a distracção é constante, dado que o
jovem está preocupado com outras coisas mais importantes e não consegue
«disponibilizar-se» para se centrar na aprendizagem ou no estudo.
• Experimentar um esgotamento físico, que pode ser devido a doença, convalescença,
alimentação deficiente ou insuficiência vitamínica.
• Estar num ambiente demasiado cómodo e estimulante. É impossível estar
concentrado a trabalhar num sofá muito cómodo, num ambiente onde há muitos
ruídos, com televisão próximo, música a tocar alto ou um vídeo com um filme
atraente.
Como ajudar o seu filho a concentrar-se

1. Arranje um local adequado para ele estudar

• Organize e equipe com ele um local (ou locais) específico(s) onde possa estudar (por
exemplo, o quarto, o escritório, a biblioteca da escola).
• Tome o local próprio para estudar. Não transforme esse espaço num sítio para
sonhar acordado, escrever, comer, etc.
• Certifique-se que a área de estudo não tem o seguinte:
uma boa vista com pessoas interessantes a passar, um telefone, uma televisão, um
amigo(a) muito sociável, um frigorífico recheado de gulodices! Ajude, assim, o seu
filho a controlar os estímulos visuais e auditivos, e se ele lhe disser que estuda melhor
com música, saiba que isso é um enviesamento: ele estuda de forma mais agradável,
mas não necessariamente mais concentrado ou atento. Sabe-se, por exemplo, que a
produção aumenta 20% só pelo facto de se trabalhar numa sala insonorizada. Os
ruídos do interior da casa são os mais distractivos — vozes (que trazem em si uma
mensagem e, portanto, distraem bastante), rádio, aspirador... O estudo com música
e/ou com TV, vício tão arreigado nos estudantes de hoje, é sempre desaconselhável.
Eventualmente, o seu filho poderá ouvir música suave (nunca rock «da pesada»!) se
estiver a fazer trabalhos repetitivos ou mecânicos, como passar a limpo
apontamentos. Mas para estudar, memorizar, resolver problemas ou responder a
questões, quanto menos estímulos auditivos e visuais melhor.

2. Proponha ao seu filho que divida a totalidade do trabalho ou estudo que tem para
fazer em partes mais pequenas, descansando por breves períodos intercalares.
3. Ajude-o a estabelecer metas de estudo realistas. Dizer «Vou estudar sábado o dia
todo», não é uma meta realista! Estabeleça períodos de tempo mais curtos para
estudar, pois assim o seu filho terá mais facilidade em estar atento e concentrado.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Entender o que é a atenção e a concentração.


• Conhecer as principais causas da distracção e como evitá-las.
• Adquirir conhecimentos que postos em prática irão ajudar o seu filho a estar atento
e concentrado.

1.6 Treinar a memória

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Pensa que o seu filho tem dificuldades em memorizar conteúdos escolares.


• Quer ajudar o seu filho a fixar e a recordar uma determinada matéria e não sabe
como fazê-lo.
• Quer saber qual a diferença entre «decorar» e «memorizar».

A memória

A memória é um processo através do qual as pessoas codificam armazenam e


recordam informação. É uma capacidade humana necessária à aprendizagem que
deve exercitar-se e
cultivar-se.
Existem dois tipos diferentes de memória: a memória a curto-prazo e a memória a
longo-prazo. A primeira tem uma
capacidade limitada, e só lá conseguimos guardar- um número restrito de dados.
Alguns autores verificaram já, serem sete (mais ou menos duas), as informações ou
dados apreendidos de cada vez nesta memória Tais dados ficam na memória apenas
por alguns segundos e servem, por exemplo, para reter um número de telefone ou
uma lista de compras.

A memória a longo-prazo pode, ao contrário da anterior, armazenar uma grande


quantidade de informação de uma forma estável. Quando dizemos que conseguimos
ou não lembrar-nos de algo, geralmente estamos a referir-nos à nossa memória a
longo prazo. Para ter um bom desempenho num teste o seu filho precisa de utilizar a
memória a longo-prazo.

Para se ser um bom aluno é importante, para além de muitas outras coisas
apresentadas neste livro, que se saiba fixar e recordar no momento oportuno aquilo
que se estuda.

Memorizar e decorar

Convém fazer uma distinção entre decorar e memorizar. Decorar significa reter
mecanicamente a informação e reproduzi-la tipo «papagaio», isto é, repetir sem
compreender o significado daquilo que se está a dizer. Memorizar significa fixar e reter
ideias com maior garantia de as conservar durante mais tempo, e tem subjacente a
compreensão daquilo que se memoriza. Quando o seu filho tem de memorizar um
determinado assunto passa por três fases distintas: fixação, retenção e recordação.

A fixação intervém na aquisição e assimilação dos conteúdos escolares. Pode ajudar o


seu filho a facilitar o processo de fixação da seguinte forma:

• Ajudando-o a compreender antes de reter a matéria.


• Ensinando-o a ter interesse por aquilo que estuda. Já sabe que é possível ensinar o
seu filho a gostar de matérias que, à partida, ele não aprecia.
Convidando-o a relacionar as ideias umas com as outras ou com coisas anteriormente
aprendidas.
• Ensinando-o a elaborar imagens mentais de forma a visualizar aquilo que está a
estudar.

. Praticando com ele o recurso ao maior número possível de órgãos dos sentidos
quando está a tentar memorizar alguma informação. Este aspecto é importante já que
temos uma memória auditiva (ajuda a recordar aquilo que ouvimos), visual (ajuda a
recordar aquilo que vemos), olfactiva (ajuda a recordar os odores com os quais
contactámos), afectiva (ajuda a recordar emoções ou sentimentos que tivemos).

A retenção da matéria ou da informação significa conseguir reconstituir aquilo que se


estuda. Pode ajudar o seu filho a fazer isto de várias formas: pedindo-lhe que lhe
conte aquilo que aprendeu ou que escreva num papel um esquema ou um
resumo.

A recordação do que foi estudado consiste em conseguir


trazer à mente, no momento pretendido, aquilo que se fixou e que se reteve na
memória. Pode ajudar o seu filho a recordar melhor a matéria para um teste ajudando-
o a utilizar:

1. ) Rimas: ( é o caso de «30 dias tem Novembro, Abril, Junho e Setembro...»).

2) Acrósticos: trata-se de frases construídas de forma a que as letras iniciais das


palavras dêem uma pista para recordar outras palavras (Temos como exemplo «Muito
Calor, Muito Frio», pode ser utilizado para fixar os quatro tipos de clima, Mediterrânico,
Continental, Marítimo
e Frio).

3) Acrónimos: Trata-se de usar uma única palavra em que


as letras representam as iniciais da mensagem que se quer fixar (é o caso de VPATO,
para fixar os cinco sentidos, Visão, Paladar, Audição, Tacto e Olfacto).
Os fracassos escolares são muitas vezes atribuídos a falta de | memória, quando na
maioria das vezes são problemas de atenção, concentração, motivação e falta de
rotina ou estrutura no estudo (ver Capítulo 1.5).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Saber o que é a memória e perceber a diferença entre «decorar» e «memorizar».


• Conhecer as memórias a curto e a longo prazo.
• Ajudar o seu filho a fixar, reter e recordar uma determinada matéria.

1.7 Ser criativo

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• O seu filho acredita que tudo é possível.


• O seu filho faz associações de ideias fora do comum.
• O seu filho faz brincadeiras de «faz de conta» (teatrinhos de imaginação) muito
originais e inovadores.
• O seu filho «fabrica» histórias mais ou menos baseadas em outras do conhecimento
geral, usando novos enredos, personagens, acções e cenários.
• O seu filho faz desenhos e quadros criando elementos e figuras originais.

Contudo... nenhuma das características acima descritas lhe parecem ter que ver com
a vida — sobretudo com os resultados — na escola.

• Ainda, se gostaria que o seu filho fosse mais criativo e não sabe como desenvolver
essa característica.
O que é o pensamento criativo

Como com as coisas mais importantes da vida (por exemplo, beleza, amor, educação)
a definição de criatividade é extremamente difícil, embora um acto, obra ou
pensamento criativos sejam fácil e quase instantaneamente identificados e
valorizados por quase todas as pessoas. Apesar da dificuldade de conceptualização,
alguns especialistas têm vindo a definir a criatividade como uma qualidade do
pensamento evidenciada por algumas pessoas que, associada a algumas
características de personalidade próprias, as leva a mostrar originalidade naquilo que
fazem, dizem e pensam, sendo essa originalidade perceptível para os outros. Outra
característica das pessoas criativas é associada à sua peculiaridade em resolver
problemas e encontrar soluções novas e não habituais para problemas e situações
vividas comummente na vida corrente dos seus semelhantes. Elas demonstram, como
diria o grande épico português, «engenho e arte». Para além da originalidade e
engenhosidade na maneira de encontrar soluções para problemas, as pessoas
criativas evidenciam também flexibilidade e fluência nas suas ideias e pensamento.
Ao somatório destas características alguns especialistas chamaram «pensamento
divergente», isto é, a capacidade de conseguir encontrar soluções sem usar,
exclusivamente, o pensamento lógico. Aos valores do mercado actuais tal é
sumamente importante já que se reconhece amplamente que algumas soluções, quer
da vida corrente do dia-a-dia, quer do mundo empresarial não são, tipicamente,
soluções lógicas. A outra noção associada à criatividade é a de pensamento lateral:
«Se queremos fazer um buraco noutro lugar não aprofundamos o buraco que já está
construído. Construímos um outro num local diferente.» Esta noção de criatividade
chama-nos a atenção para as dimensões de personalidade envolvidas. Com efeito,
habitualmente ressaltam algumas características comportamentais comuns nos
estudos biográficos de pessoas altamente criativas, quer no domínio artístico —
por exemplo, Picass ou Tchaikovsky — quer no domínio científico — Marconi ou
Einstein — quer no domínio do desempenho desportivo — Babe Ruth e Pele. Vejamos
mais de perto as referidas características:

1. Adopção deliberada de riscos, embora consciente e calculada. Trata-se de uma


capacidade de «ver» a vida como uma sequência de desafios a vencer em lugar de
problemas que se repetem infinitamente e que é comum às pessoas criativas. Como
se pode desenvolver esta capacidade? Existe uma condição sem a qual não se
desenvolve o pensamento criativo — mais nos adultos do que nas crianças — e que se
constitui como o primeiro passo no processo de criação: ser capaz de identificar o que
é rotineiro, habitual, familiar. Depois? Bom, a partir daqui começa a ser possível incluir
experiências, soluções e associações novas e, eventualmente, bem sucedidas.

2. Independência é outra das características de funcionamento e da resolução de


problemas das pessoas criativas. Estas, habitualmente, não ficam à espera de
instruções ditadas por outrem para resolverem os problemas que seleccionaram como
significativos. Para elas as convenções e normas sociais sobre a maneira «correcta»
de fazer as coisas é vista de uma forma muito relativa. Uma boa maneira de estimular
a independência dos seus educandos é — Vá lá! É se de vez em quando — não os
proteger das consequências dos seus próprios comportamentos.

3. Não conformismo, decorrente da independência, sendo passível de ser identificável


como a capacidade de funcionar com autonomia relativamente às normas, papéis e
pressões sociais. Habitualmente a obediência acrítica não se casa bem com a
criatividade. Como se pode estimular um não conformismo criativo no quadro de uma
relação entre figura parental e filho ou entre professor e aluno
quando ambas, em princípio, supõem algum grau de adequação e conformismo? De
novo, e como para o caso da estimulação da independência e tomada de riscos, há
que contar com a capacidade de definir o contexto em que as coisas ocorrem mais do
que o seu conteúdo. Assim, ao identificarmos as situações de dependência ou de
seguidismo e fixidez intelectual, torna-se mais fácil exercer o não conformismo,
independência e tomada de riscos saudável. Comece assim a experiência: «Costumas
fazer desta maneira (descrever valorizando). Hoje, para experimentarmos, gostava
que me surpreendesses e fizesses de outra maneira... (observe a reacção e retire as
devidas conclusões).»

4. A produtividade é habitualmente tida como o recurso mais recôndito da


criatividade. De facto, quando vemos ou ouvimos, ou de alguma forma contactamos
com uma obra criativa, desenvolvemos um raciocínio relativamente à sua génese que
é tipicamente tautológico: isto é muito criativo porque o autor tinha um espírito
criativo. É o chamado «mito Mozart», porque nos faz esquecer um ingrediente
essencial do processo criativo. É que este requer treino, prática e trabalho intensos.
Por exemplo, Picasso realizou 29 estudos da obra Lãs Meninas, não contando com o
estudo que fez sobre o trabalho e técnica do seu compatriota Velazquez.

5. A persistência é outra das dimensões da personalidade associada à criatividade. As


pessoas muito criativas não desistem com facilidade, tendo desenvolvido uma
capacidade de absorção pela realização do seu trabalho que pode ser confundida, se
vista de fora, como alheamento ou fanatismo. A capacidade de confiar em si mesmo e
no valor dos seus objectivos, de relativizar as dimensões pessoais envolvidas nas
críticas (formuladas pêlos outros ou pelo próprio), tendo o cuidado de integrar o que
elas possuem de relevante, bem como o fazer atempadas avaliações
racionais dos assédios perfeccionistas (próprios e alheios), ajudam a desenvolver a
persistência. Outras técnicas mais prosaicas incluem o afixar e memorizar frases e
estímulos-sinais relacionados com a conclusão dos objectivos de trabalho. Por fim,
sugere-se ainda a leitura de biografias de autores e artistas criativos para serem
tomados como modelos inspiradores.

Mas pode ensinar-se a criatividade?

Esta é a grande questão. Como todas as grandes questões ela só pode ter uma
resposta: sim e não. Mas vamos por partes. Como pais, professores e educadores
devemos almejar a que as gerações mais novas nos ultrapassem em criatividade.
Temos esse dever moral já que, a par de incontáveis bens, sucessos e realizações,
lhes deixamos alguns problemas que criámos e não fomos capazes de resolver. Vêm à
memória assuntos como ecologia, desequilíbrios de riqueza e organização social,
qualidade de vida e por aí fora. Porém, o carácter paradoxal implícito na expressão
«ensino da criatividade» evidencia-se sempre como quando alguém nos diz «Tens de
ser espontâneo», «Não gostas, mas é para teu bem», «Quero que me domines».
Como resolver o paradoxo?

Incrementar a autoconfiança das crianças e jovens é uma maneira indirecta de


promover a criatividade. Quando Steven Spieiberg começou a dar nas vistas como o
realizador mais jovem de Holiywood, com apenas 21 anos, tinha atrás de si o apoio da
família, concretizado em episódios como a ajuda da mãe no seu primeiro filme. Com
efeito, esta tinha cozinhado para a tal primeira realização amadora — um filme de
horror — uma substância que parecia sangue a partir do doce de amoras. Qual a
lição? Ao apoiar os interesses das gerações mais novas considere mais as ideias deles
e não tanto as suas.
Flexibilizar, imaginar, escutar, são conjugações adaptadas à criatividade. Aproveite
tempos mortos, por exemplo, as esperas pêlos transportes ou o tempo gasto dentro
destes, para fazer jogos de imaginação com o seu filho. Diga-lhe frases do género:
«Se eu pudesse fazer o que me apetece...» e deixe que ele complete a frase. Depois
complete-a você. Outra hipótese: «O que seria possível se os humanos tivessem
pescoços como as
girafas...»

Observar as crianças a brincar é uma fonte inesgotável de ilações e sugestões sobre


criatividade. Repare como elas não se preocupam com a desarrumação e a confusão
quando brincam, como aceitam riscos, mostram perseverança, estão abertas a nova
informação, sugestões e ideias, encontram sempre tempo para fazer o que gostam e
não se restringem pela maneira como as coisas são (ou parecem ser).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Definir pensamento criativo.


• Identificar as noções de pensamento divergente e lateral.
• Identificar ingredientes da personalidade de pessoas criativas.
• Descrever algumas orientações para treino da criatividade.

1.8 Gostar de ler e escrever

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Pretender aumentar no seu filho o gosto pela leitura.


• Desejar melhorar a escrita — criativa ou não — do seu filho.
• Aceitar que o apreço e motivação pela leitura e escrita são pilares centrais do
sucesso escolar.
Ler e escrever: que função?

Juntar letras, dar-lhes sentido, aglomerar palavras e compreendê-las como um todo.


Apreciar a trama, a sequência, a descoberta do fim da história, a beleza da construção
das frases, os mundos que se abrem quando se lê. Criar textos, deixar a imaginação
caminhar solta pela folha ou pelo teclado, saborear o gosto da obra feita. Ler e
escrever, centros de toda a aprendizagem e avaliação escolar, precisam ser um
prazer. É escrevendo que se percebe o pensamento do aluno, que se identifica o que
ele sabe, que se entende a sequência e pontuação das suas ideias; é lendo que se
aprende. Os melhores escritores são os leitores mais ávidos, pelo que ler vai servir de
alicerce à escrita correcta.

O desinteresse pela leitura é um dos problemas do actual ensino. Conhecedores que


somos da relação directa e positiva entre a quantidade de livros lidos e os bons
resultados escolares, preocupamo-nos com o facto de a maioria das crianças não ter
hábitos de leitura nem de escrita e, pior, no retirar prazer desse acto. Quantas vezes o
(aparentemente) simples acto de levar os nossos filhos a ler ou a escrever é uma luta
violenta e exasperante! Quão longe vai o tempo das iluminuras, da deusificação da
obra escrita, do livro como um dos mais preciosos bens... É possível e desejável que
reanimemos e redescobramos o texto escrito, mas não é fácil, hoje, com tanta
concorrência desleal, de meios mais acessíveis e menos exigentes, como a TV.

Estímulo precoce à leitura e à escrita

E desde cedo que se constrói este gosto. É ainda em tempos de colo que os pais
podem e devem levar o filho a descobrir o valor e o prazer do livro, do texto, da
narrativa. Deixá-lo virar as primeiras páginas em contacto físico directo e
meigo, descobrir as imagens e as letras que lhe dão sentido. Começar a retirar prazer
da «leitura» juntamente com o calor, o conforto e a ternura daqueles de quem mais
gostamos. Assim, a criança vai descobrindo que o livro é bom, bonito e útil e que as
letras servem para alguma coisa — não só dão vida às imagens como podem existir
sem elas. Ler à noite, como um ritual de fim de dia, auxilia igualmente a criança nesta
aventura A construção de uma «biblioteca pessoal», o ir visitando as grandes
bibliotecas públicas — algumas hoje já tão atraentes para as crianças — esperando
quinzenalmente pela biblioteca itinerante, indo às livrarias, são tudo formas de levar
as crianças e jovens a aprender a dar uma dimensão mais grandiosa e,
simultaneamente, pessoal do livro, já que podem escolher, requisitar, comprar, de
acordo com os seus interesses.

Podem ainda os pais e as mães levar os filhos a construir os seus próprios livros —
com ou sem desenhos, fotos ou gravuras — mas sempre com uma narrativa que é
criação da criança, seja por sua mão, seja ditada aos pais quando esta ainda não é
literada. Também desde cedo pode ensinar o seu filho a respeitar e admirar os livros
— o cuidado com que se preservam aqueles que vêm de anteriores gerações, por
exemplo, envia essa mensagem aos mais novos.

Pais-modelo

O que fazemos tem mais impacte do que o que dizemos, e há uma tendência natural
para os nossos filhos nos imitarem. Como poderemos exigir-lhes que leiam e
escrevam se nós não o fazemos? Ver os pais e as mães a ler e a escrever, a
comprarem livros para si ou para os outros, a redigirem cartas a amigos ou a
enviarem mensagens na Internet, a receberem revistas por assinatura ou a
escreverem ou lerem por causa do seu próprio trabalho, modela a importância a dar
ao texto
escrito e ensina uma relação privilegiada com a leitura e a escrita. Se tem mais
tendência para ligar a TV do que para pegar num livro, não espere que o seu filho
faça diferente. Torne a sua casa num ambiente rico em cultura e encha-a de livros,
revistas e jornais — que não sirvam só para enfeitar a estante de mogno.

Para olhos que não lêem

E se o seu filho, apesar de todos os passos anteriores, continua a não gostar de ler
nem de escrever?

1. Encoraje-o a ler e a escrever regularmente. Institua uma rotina com momentos de


leitura em família (ou entre educador e educando, mas sempre com o adulto a
acompanhar), lendo em alternância (uma página um, uma página outro, falando do
que lêem), desenhando sobre a história, indo ver o filme com um guião retirado de
um livro lido e discutido, sempre num contexto confortável, de proximidade e bem-
estar.

2. Ofereça-lhe livros ou assinaturas de revistas sobre os temas que ele mais aprecia
Se gosta de carros, música, desporto ou borboletas, dê-lhe para ler material sobre
esses temas. Progressivamente vá alargando o tópico. Aproveite muita da riqueza que
já existe, em publicações de autores portugueses, próprias para as diferentes idades.

3. Não repita todos os dias ao seu filho que «ele tem de ler». Passe antes a
mensagem de forma discreta, usando sobretudo o canal de comunicação não verbal
(trazendo um livro novo para lerem juntos no fim-de-semana, levando-o a uma livraria
para ele escolher um livro, partilhando com ele ideias de um artigo que leu no jornal,
oferecendo-lhe a assinatura de uma revista para jovens ou crianças...).

4. Use a escrita e a leitura como forma de mediar a vossa comunicação em família.


Deixar pequenas mensagens, recadinhos e elogios na secretária de trabalho, enviar
um post-it com
uma mensagem meiga no cesto do almoço, ou pedir-lhe que leia a receita para
cozinharem juntos um prato diferente para o jantar, são formas de «praticar» a leitura
e a escrita sem a
pressão do dever.

5 Estimule a escrita e a leitura através do uso do computador e da TV. Pode aproveitar-


se a atracção que exercem sobre as crianças e jovens para que estimulem e os façam
interessar pela leitura e pela escrita (ver Capítulo 2.14). Por exemplo, a própria leitura
das legendas dos desenhos animados ou dos filmes pode ser um incentivo para os
leitores mais pequenos, a darem os primeiros passos na descoberta das letras; a
escrita de um texto no teclado é muito mais fácil para alguns alunos do
que fazê-lo com a caneta.

6 Interesse-se por tudo o que ele lê e escreve. Envolva-se,


mostre reconhecimento, valorize. Depois disso pode então, se necessário, ajudá-lo a
ver os aspectos a melhorar. Este capítulo serviu-lhe para:

• Confirmar a importância da escrita e da leitura na aprendizagem e no sucesso


escolar. . Saber como pode incentivar o seu filho a ler e a escrever.
• Relembrar que, como educador, é o mais importante modelo e exemplo para
motivar e respeitar para a leitura e
para a escrita.

1.9 Cuidar do bem-estar físico e mental

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

. O seu filho tem maus hábitos alimentares e de sono, uma vida demasiado sedentária
e o tempo livre gasto em tarefas menos próprias.

• Gostaria de saber mais sobre como o seu filho pode ser


mais saudável, no corpo e na mente.
• Acredita quanto a saúde física e mental são relevantes para o sucesso
escolar e felicidade em geral.

Fala-se hoje, mais do que nunca, na relação entre a saúde, a actividade física
e os aspectos psicológicos e emocionais.

O exercício físico

As crianças e os jovens têm, em geral, níveis de actividade muito mais intensos que
os adultos. Naturalmente são mais activos, mas necessitam também dessa actividade
para se desenvolverem de forma equilibrada. As actividades sedentárias — ver TV,
jogar no computador ou na consola, falar horas ao telefone — fazem hoje parte da
ementa diária dos mais novos. Muitas escolas têm o tempo para exercício físico
reduzido às horas semanais da disciplina de Educação Física, que não é suficiente
para uma vida activa saudável. Se o seu filho anda bastante de bicicleta ou skate, faz
surf, nada ou joga futebol, e todos os dias faz algum tipo de actividade física, então
está já no bom caminho para uma vida saudável e descontraída. Se, em
contrapartida, se mexe pouco, crie oportunidades e actividades que o façam exercitar-
se, e não se esqueça de o fazer nos momentos de avaliação ou de exames, pois a
actividade física é um excelente redutor do stress. Cuidado, no entanto, na escolha
das actividades livres, para que sejam do agrado da criança, adequadas ao seu nível
etário, divertidas e relaxantes, e não venham a incorrer no erro de também serem
fonte de stress. Muitas vezes os pais acabam por querer e esperar que o filho seja
muito bom nas actividades desportivas — tanto quanto nas actividades escolares —
criando competitividade excessiva e consequente ansiedade.

Se o exercício físico mais formal não agradar ao seu filho escolha outras actividades
que o ponham também a mexer, como passear, patinar, jogar pingue-pongue, etc. Os
exercícios
que se podem realizar entre paredes (como a natação, o basquete, o futebol de salão,
a patinagem...) têm a vantagem de poderem também ser feitos com mau tempo.

O exercício mental

O uso da imaginação e da antecipação positiva podem ser excelentes auxiliares no


equilíbrio físico e mental. Não é muito habitual ainda, na cultura ocidental, fazermos
uso dos seus benefícios. Habitue o seu filho a utilizar as capacidades imagéticas para
«sonhar» com locais tranquilos, bonitos, repousantes quando se sentir tenso (ver
Capítulo 2.5) e treine com ele, de olhos fechados na cama ou numa cadeira
confortável, a antecipação de bons e optimistas futuros, mais ou menos próximos (ver
Capítulo 2.2).

O repouso e o sono

Há ditados populares férteis em propostas, quer sobre a importância do sono, quer


sobre os seus horários para ser retemperador. A maioria das crianças e jovens tendem
a ser resistentes ao momento de ir para a cama. Dormir retira-os do mundo atraente e
entusiasmante, e estar a pé até tarde é um benefício dos adultos que eles gostariam
de aproveitar desde já.
Os pais, esses guardiães da saúde, devem saber quão estritos terão de ser neste
particular, estabelecendo rotinas e definindo horas de ir para a cama. A rigidez deve
ter um lado de flexibilidade durante os fins-de-semana e as férias, e o deitar mais
tarde, nestas ocasiões, pode mesmo servir como uma das recompensas a atribuir nos
casos de merecidos ganhos.
O número de horas de sono varia um pouco — há crianças e jovens que,
constitucionalmente, necessitam muito de dormir —
mas o ideal será cerca de 9 a 10 horas para a reparação das energias despendidas e
a progressão do crescimento físico.

Repousar não quer apenas dizer dormir. Para as crianças e jovens com dias
superpreenchidos e horários repletos de actividades há que organizar momentos de
descanso. Se o tempo é curto será preferível que os momentos para «não fazer nada
preestabelecido» sejam passados dentro de casa. Se em casa, nestes momentos ele
poderá brincar com o cão ou gato, deitar-se na carpete da sala a olhar para o vazio,
ler um livro que o descontraia, tomar um banho de imersão, ouvir música, ou
simplesmente sonhar. Pode ser um tempo para estar sozinho, para ter o prazer de
fazer o que lhe apetecer — sem pressões, responsabilidades, coisas a cumprir. Se
houver mais disponibilidade, então é de aproveitar uma saída ao parque, até perto da
praia ou ao jardim público.

A alimentação

É uma das dores de cabeça dos pais da actualidade. Com a oferta universalizada da
chamada junk food e fast food, com sabor tão atraente para crianças e jovens e tão
pouco valor nutricional, as lutas diárias ligadas à comida são comuns em muitos lares.
O filho odeia vegetais, nunca escolhe fruta como primeira opção quando tem fome,
adora refrigerantes e doces e, tal como a Mafaldinha, foge à ideia de sopa! Cansados,
muitas vezes não temos força, tempo nem energia para comprar e cozinhar comida
decente, muito menos se isso implica fazer da hora da refeição uma batalha. Mas não
podemos perder esta guerra. Educar hoje os nossos filhos para comer bem pode
protegê-los contra futuras doenças graves, prepará-los melhor para o nível de
actividade física e intelectual que possuem, ensiná-los a cuidar do seu corpo.
Se o seu filho é relutante aos alimentos mais ricos em vitaminas — frutas e legumes
crus, sopas — estabeleça uma
regra: a de ter de comer esses alimentos diariamente durante a semana, pelo menos
duas a três vezes ao dia, e permita-lhe, se o fizer durante a semana sem «refilar», que
coma fast food ao fim-de-semana — as pizas, os hambúrgueres, os refrigerantes, as
batatas fritas.
Evite a todo o custo dar-lhe dinheiro para, nos intervalos da escola, comprar o que
quiser. Invariavelmente eles escolhem comida «má». Não lhe mande comida
«imprópria» na pasta da escola. Diversifique o que se come lá em casa. Se o seu filho
almoça na cantina, tenha o cuidado de saber a ementa e de assegurar um bom
controlo de qualidade. As associações de pais das escolas deverão ter essa atenção,
já que tanto está em risco diariamente. Infelizmente, muitas das cantinas em Portugal
oferecem às crianças e jovens alimentos de má qualidade confeccionados de forma
pouco saudável. É o caso do excesso de congelados para fritar e da reduzida oferta de
saladas e sopas atraentes e criativas.

Em casa, ponha-o na cozinha consigo a inventar refeições. Leve-o, com o seu apoio, a
ler revistas e livros que falem do valor dos alimentos e das consequências da
alimentação saudável. Insista no peixe — porque será que, no espaço de uma
geração, se deixou de apreciar um alimento tão rico? — e reduza, tanto quanto
possível, os açúcares, o sal e as gorduras. Tente educar o seu paladar para apreciar
mais os cereais integrais. Não lhe dê bebidas com cafeína — é o caso dos chás
gelados e das colas tão enraizadas, já, nos hábitos alimentares das nossas crianças e
adolescentes. E, claro, dê o exemplo na sua própria alimentação, ingerindo alimentos
ricos em fibras, vitaminas, cálcio, proteínas.
Assim, não precisa fazer mais do que manter vivos os hábitos típicos da alimentação
mediterrânica, insistindo nas sopas de legumes, nas frutas, no peixe, nas saladas e no
uso do azeite como gordura por excelência.
Quando tiver vontade de desistir de esforços mais intensos para se alimentarem todos
bem lá em casa, lembre-se que a
alimentação pode afectar o comportamento das crianças e jovens. O que se come
pode produzir superactividade ou fadiga (há mesmo crianças e jovens com problemas
de hiperactividade que vêem os seus comportamentos de sobre-excitação
aumentados quando consomem certo tipo de alimento), e mal alimentado, o seu filho
reagirá muito pior face ao stress ou a qualquer mudança na vida.

Os suplementos vitamínicos

Gradualmente, vemos hoje um crescente e justificado interesse nos suplementos


alimentares. Já não conseguimos comer cenouras ou maçãs sem adubos e herbicidas,
nem galinhas que não recebam hormonas para crescerem num ápice. A alimentação
perdeu a qualidade que possuía há alguns anos, e os alimentos não têm o apport
vitamínico de antigamente. Mais do que lamentarmo-nos, devemos contrapor essas
faltas. Durante anos os médicos pediatras ou de clínica geral só receitavam
suplementos vitamínicos quando prescreviam antibióticos. Hoje, sabe-se tanto sobre o
poder de alguns suplementos que começamos todos a render-nos à sua importância
num funcionamento adequado do corpo e do espírito. E o caso da vitamina C que, por
facilmente entrar em deficiência em momentos de maior stress, deve ser ingerida,
suplementarmente, pelo menos nesses períodos, a par de dever estar presente nos
alimentos consumidos — uma boa quantidade de citrinos, tomates, batatas e
hortaliças de folha verde.

Os maus consumos

Levar a criança ou jovem, desde muito cedo, a perceber como a publicidade associa
drogas e álcool com divertimento, sucesso e beleza, e a reconhecer como podemos
ser manipulados
para querer usar comprimidos para dormir, tabaco para gozarmos a vida ou cerveja
para sermos felizes e sociais. Com anos de cuidadoso e subtil «trabalho» nesta linha
poderá abrir os olhos ao seu filho e prepará-lo para os aliciantes da sociedade actual.
Assim, conseguirá ajudá-lo a não se sentir compelido, de forma ingénua e não
informada, a assumir riscos inadvertidos com substâncias que provoquem
dependência e toxicidade. Este capítulo serviu-lhe para:

• Reflectir sobre os hábitos alimentares, de exercício físico e mental do seu filho e da


sua família.
• Perceber a ligação entre o bem-estar físico e mental e o êxito ou fracasso escolar.
• Atender às áreas da vida do seu filho ou da sua família que podem melhorar para
que a saúde geral, e o bem-estar, também melhorem.

1.10 Estudar com colegas e amigos

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Acha importante que o seu filho, por vezes, estude acompanhado por companheiros
e amigos.
• Tem dúvidas sobre as vantagens e limitações do estudo em grupo.
• Deseja conhecer o melhor possível os colegas do seu filho.

Estudar em grupo, em conjunção com colegas e amigos, tem muitas vantagens.


Estudar com outros pode ser motivador e atraente, e chegar a estimular o aluno para
se embrenhar num tema ou trabalho no qual está pouco interessado.
Se bem que estudar em grupo não deva nem possa ser, por razões práticas óbvias, a
regra, e que o aluno estude incomparavelmente
mais vezes sozinho do que acompanhado por parceiros, o estudo em grupo e o apoio
em colegas pode e deve ser uma prática a incentivar — seja pela necessidade de
fazer um trabalho colectivo pedido pêlos professores, seja por decisão própria de
alunos e pais.

Vantagens e riscos de estudar com colegas e amigos

Os riscos são óbvios:

• Distracção mútua.
• Dificuldades em se organizarem e cumprirem os objectivos a que se
propõem.
• Passar mais tempo a conversar, brincar ou jogar do que a trabalhar.
• Experimentarem viver conflitos, mais ou menos abertos (quem lidera o
grupo, como gerir os desacordos...).
• Mais confusão em casa daquele que recebe.

Estes riscos não devem, a nenhum preço, impedir que o seu filho experimente,
o mais cedo possível no seu percurso escolar, o trabalho com colegas.
De facto, as vantagens superam largamente as possíveis limitações, e são as
seguintes:

• Aprendizagem da cooperação.
• Treino em apoio mútuo, com os mais «hábeis» a auxiliarem os menos
«hábeis».
• Complementarização e multiplicação de saberes e materiais.
• Modelagem de comportamentos de trabalho e esforço adequados.
• Aumento de motivação e entusiasmo.
• Resolução autónoma de problemas.
• Treino de escuta e de descentração para ouvir, perceber e integrar o ponto de vista
do outro.
• Relação de maior proximidade e respeito.

Face ao trabalho em grupo, as mães e os pais devem ter uma função de apoio
distanciado, estando por perto para o que for necessário, mas não interferindo na
resolução de problemas e na escolha de estratégias para atingir objectivos. Apenas
em caso de emergência (conflitos descontrolados e prolongados entre os elementos,
incapacidade de encontrar caminhos e decidir papéis e funções para fazer a tarefa),
deverá o adulto mediar soluções e alternativas. Mesmo neste caso, deve ser pouco
mais do que um facilitador de possíveis saídas, tentando que o próprio grupo, em
conjunto, encontre respostas para os seus problemas.

Convide-os, sempre que possível, para se reunirem em sua casa. Assim poderá
conhecer melhor os vários colegas, tipos de trabalho que realizam, como se
relacionam, quem lidera, quem perturba, quem é mais divertido ou mais
responsável... e perceber melhor os amigos escolhidos pelo seu filho. A partir daqui
pode conversar com o seu filho sobre essa escolha, e reflectir sobre as qualidades dos
colegas com quem se dá, ajudando-o a discernir quais são os que o fazem sentir
melhor ou divertir-se mais e quais os que o fazem trabalhar bem e rentabilizar o seu
tempo e esforço. Mas cuidado, nunca escolha por ele; oriente-o só a pensar em que
momentos deve estar com uns ou com outros.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Reconhecer as vantagens — e alguns riscos, de somenos importância — inerentes


ao facto do seu filho trabalhar em grupo, com colegas e amigos.
• Saber como pode e deve ajudar na dinâmica do trabalho grupal em que o seu filho
se insere.
Retirar vantagens, como educador, da experiência de trabalho de grupo feita, com o
seu filho e colegas, na sua própria casa.

1.11 Aprender com o insucesso

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Teve, ou está em risco de ter, um filho com insucesso escolar.


• Mesmo não tendo contactado directamente, na sua família, com casos de insucesso
escolar, gostaria de saber como pode preveni-lo no seu filho.
• Interessa-lhe saber como se pode — e deve — fazer de cada experiência de
insucesso um momento óptimo para aprendizagem.

O insucesso escolar

O insucesso escolar dos nossos filhos apanha-nos, por vezes, desprevenidos. Outras é
como um hábito, tantas as ocasiões em que se repetiu. Em qualquer dos casos —
quando o insucesso aparece em forma de reprovação, atribuível a fraco rendimento, a
faltas à escola ou a mau comportamento — ele provoca sempre emoções fortes,
sentimentos de culpa, críticas, desespero, dúvidas sobre o que fazer. Há vezes em que
o insucesso é mais discreto: não aparece como um «chumbo» mas como uma espada
de Dâmocles constantemente sobre as nossas cabeças. É a angústia de ver chegar as
notas fracas, umas a seguir às outras, intercaladas com notas mais positivas e a
incerteza, até ao último minuto, se o veredicto é passar ou reprovar.
Quantas vezes não sabemos o que e quem culpar, numa tentativa mais ou menos
desesperada de nos agarrarmos a qualquer
coisa, e oscilamos entre apontar responsabilidades aos professores porque são
excessivamente exigentes ou porque não ensinam, ao nosso filho porque não estuda
o suficiente e não está motivado, ou a nós mesmos porque não ajudámos ou exigimos
o suficiente.

Insucesso: inevitável e para sempre?

O insucesso, como tudo, tem um lado positivo. Melhor dizendo, tem dois: pode
prevenir-se para não chegar a acontecer e pode acabar se vier a surgir. Algumas das
propostas apresentadas noutros capítulos deste livro (a nível da motivação em geral,
do interesse pela leitura e escrita em particular, do desenvolvimento de uma boa
relação família-escola, da criação de um adequado ambiente e rotinas de estudo, de
um clima saudável, feito de cooperação, comunicação, positividade e optimismo no
seio da família...) são formas de prevenir e ajudar a combater o insucesso.

O que se pode fazer

1. Prevenir desde cedo. Custa menos, emocional e economicamente, e pode evitar


marcas profundas e estigmas pessoais e sociais. Os anos pré-escolares e de 1.° ciclo
são, indubitavelmente, os mais importantes nesta prevenção. Apoiar, de forma
positiva e estimulante, a natural vontade das crianças aprenderem, dar-lhes uma
imagem positiva da escola, criar-lhes expectativas de confiança sobre si e o seus
sucessos, desenvolver-lhes a crença de possuírem controlo sobre esses sucessos e
despertar o seu interesse para a leitura e a escrita são fulcrais para prevenir
falhanços.

2. Estar atento às crianças e jovens em risco. Os momentos de crise familiar, de


transição escolar e de problemas emocionais
ou de desenvolvimento mais acelerado são alturas que exigem uma atenção
redobrada sobre a criança ou jovem. Nestas fases a pressão e o stress
aumentam sobre o aluno e podem tornar-se insuportáveis e incapacitar
qualquer um para se centrar no estudo e no rendimento. Estão igualmente
em risco as crianças e jovens que vivem permanentemente em contextos
familiares e escolares demasiado rígidos, com adultos autoritários e
repressivos, tanto quanto os que experimentam ambientes de não
frustração, desinteresse por parte dos adultos e permissividade. Não
esqueçamos ainda aqueles que sempre ouviram dizer mal da escola,
desqualificar a sua função educativa ou criticar os professores, nem os que
aprenderam — em casa ou na escola — a não gostar de si e a não acreditar
nas suas capacidades. Todos eles precisam de mudanças positivas rápidas
nas suas vidas para que (re)aprendam a gostar da escola e (re)descubram o
prazer de ser culto.

3. Sublinhar os sucessos, mais do que os insucessos. Chame a atenção para


as partes de uma tarefa que o seu filho fez bem. Numa composição, por
exemplo, reconheça a criatividade ou a clareza de pensamento em vez de
chamar a atenção para os erros, má gramática ou pontuação incorrecta. Terá
tempo e oportunidade para atender a esses aspectos.

4. Festeje quando o seu filho consegue encontrar os seus próprios erros. A


tentativa e o erro são uma boa forma de aprendizagem. Toda a gente comete
erros e ninguém os faz de propósito. Use-os como uma oportunidade para
ensinar em vez de uma ocasião para embaraçar, culpar ou criticar. Admita os
seus próprios erros.

5. Planifique actividades por forma a que seja grande a hipótese de o seu


filho ser bem sucedido. Em vez de um objectivo grandioso ou a longo prazo,
estabeleça antes passos pequenos. Divida as actividades para que uma só
etapa possa ser cumprida à vez.

6. Em vez de dizer «Não sou capaz de fazer isto» diga «Até agora ainda não
fui capaz de fazer isto». O que não formos
capazes de fazer, podemos aprender. Os «não sou capaz» não são perpétuos.

7. Transforme os problemas em desafios. Thomas Edison fez 9990 experiências antes


de inventar a luz eléctrica...

! Uma nota especial para relembrar que os insucessos repetidos contribuem para
sentimentos de incompetência. O medo de voltar a falhar pode, em si mesmo, ser
paralisante, a ponto de tornar a criança ou jovem relutante para tentar. Para superar
este medo deve reconhecer-se e aceitar que um «falhanço» não torna o aluno um
«falhado». Não podemos impedir os nossos filhos de sentir frustração ou tristeza face
às dificuldades ou insucessos, mas sim de se sentirem derrotados e totalmente
incompetentes. Sobretudo, podem ajudá-los a perceber as razões do insucesso e a
lidarem com elas.

Este capítulo serviu para:

• Relativizar os insucessos e reconhecer como sofrer o mínimo possível com eles.


• Perceber como transformar insucessos em sucessos.

1.12 Ser diferente

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• O seu filho é diferente, de alguma forma, da média das crianças ou jovens da sua
idade (se possui algum tipo de deficiência física ou mental, se é sobredotado ou se é
simplesmente mais lento ou tem mais dificuldades de aprendizagem que as outras
crianças ou jovens).
• Tem dúvidas sobre como lidar de forma equilibrada com as diferenças que o seu
filho apresenta.
• Sente que exige demasiado — ou de menos — do seu filho.
• Tem dúvidas sobre o que pode ou deve exigir dele.
Valorizar ou anular as diferenças?

Num mundo em que a concorrência quer imperar, em que a comparação entre os


iguais tende a ser permanente e tantas vezes feroz e em que, paradoxalmente, o
ensino pretende homogeneizar e tornar todos iguais, oscilamos entre valorizar a
diferença ou aniquilá-la.
Todas as pessoas têm valor intrínseco. Cada um tem talentos e capacidades, e estes
talentos e capacidades não são melhores nem piores, nem maiores nem menores; são
simplesmente diferentes dos talentos e capacidades de todos os outros seres
humanos.
Apesar disso, a aceitação da diferença, qualquer que ela seja, é difícil. Porque aceitar
significa reconhecimento incondicional, é tantas vezes impossibilitado pela nossa
necessidade de normalização e equalização.
Quando as crianças e os jovens se sentem aceites como são e pelo que são, não
precisam de tentar tudo por tudo para acabar por ser o que pensam que os outros
desejam que eles sejam. Não necessitam mudar para agradar aos outros nem para se
sentirem amados. As pessoas crescem e desenvolvem-se a ritmos próprios e
diferentes, pelo que a comparação com os outros faz pouco sentido, justificando-se,
isso sim, uma comparação consigo mesmo com o fito de ir conseguindo mais e
melhor.

O que esperar

Todos temos as nossas próprias expectativas e desejos — mais ou menos velados,


mais ou menos expressos — em relação aos nossos filhos. Ter expectativas quer dizer
acreditar (ou não) no valor, potencial e capacidades do outro. O leque das
expectativas é grande e variado. Muitas vezes as expectativas acabam por ser
imposições de exigências para que o nosso
filho seja aquilo que desejamos, e quando esses desejos são irrealistas, quando
colocamos a fasquia bem mais alto do que o nível a que o nosso filho pode chegar, os
desequilíbrios e o mal-estar podem instalar-se.
É papel dos pais incentivar os filhos a trabalhar, a estudar e a gostar de aprender. Para
tanto necessitam saber até onde exigir e quanto esforço impor. Como regra, há que
esperar sempre o máximo do seu filho. Esse máximo difere de criança para criança,
de jovem para jovem, já que tem de alicerçar-se nas capacidades de cada um, nas
possibilidades que encerra, na experiência pessoal e escolar que viveu. Atingir a nota
máxima num ponto pode ser para um aluno um trabalho hercúleo, resultado de
trabalho árduo e muita persistência, e para outro não exigir esforço nem trabalho. Só
conhecendo bem as capacidades do filho estarão pais e mães capazes de saber o que
exigir.

Propomos-lhe que examine as expectativas que tem para o futuro imediato e


longínquo do seu filho. Analise quais as que se têm vindo a concretizar e pense «Será
que as expectativas que tenho são demasiado elevadas? Serão irrealistas?» Chega a
esperar que ele ou outros se comportem de formas que nem você conseguiria em
circunstâncias semelhantes? Espera que o seu filho seja um bom aluno? Acha que ele
tem realmente capacidades para o ser (não só intelectuais, mas também
motivacionais, por exemplo?). Serão as suas expectativas para com o seu filho a
expressão de objectivos que teve e não conseguiu realizar? Como é que as suas
expectativas afectam a relação que tem com o seu filho e com os professores dele?

Reflicta sobre as situações em que diz para si «Não consigo». O que quer
efectivamente dizer, lá no fundo? Quer significar «Sinto-me incapaz»? Ou «Não
consigo porque tenho medo de falhar e não ser aprovado pêlos outros»? Ou «Não faço
o que querem que eu faça porque quero fazer outra coisa diferente»? Cada uma
destas posições subjacentes tem implicações diferentes para a forma como reage e se
comporta.
Tente perceber, quando o seu filho diz o mesmo sobre si próprio ou o seu trabalho —
ou se nega a fazer algo que lhe pede— o que estará por detrás da frase quando diz
«Não consigo!».

Expectativas de sucesso

Como já referimos, a investigação científica tem demonstrado que as expectativas —


sejam de sucesso, sejam de falhanço — tendem a ser profecias que vêm a realizar-se.
Assim, se antecipamos que o nosso filho vai ter dificuldades é muitíssimo provável
que ele as venha a ter — muito mais provável do que se esperarmos que ele não as
tenha.

Mantenha sempre expectativas positivas em relação a si próprio e aos outros, em


particular em relação ao seu filho. Valorize-se e valorize-o. Acredite que toda a gente
tem, à sua própria maneira, recursos para fazer face aos desafios da vida. Diga ao seu
filho quais as expectativas que tem para ele, mas sempre consciente de que
exigências irrealistas podem causar ressentimento, sofrimento, desapontamento ou
raiva. Ninguém espera — nem exige — que um bebé de dois meses fale. Ninguém
espera — nem exige — que um jovem de doze anos ande na universidade. Mas se
exigências deste tipo são tão irrealistas que facilmente saltam à vista, há-as muito
subtis e discretas, deixando no entanto marcas tão grandes quanto as que poderiam
advir destes exemplos. Tente sempre estar conhecedor daquilo que uma criança ou
adolescente da idade do seu filho é capaz, para não exigir de mais nem de menos.
Alguma literatura de Psicologia e Educação que se encontra já no mercado português
pode ser esclarecedora sobre aquilo que é, em princípio, típico das etapas de
desenvolvimento. E tente conhecer a fundo o seu filho, naquilo que ele é mais ou
menos capaz, para não exigir o impossível. Os professores podem ser uns bons
colaboradores neste processo pois por experiência
profissional e possibilidade de comparação do seu filho com tantos outros na mesma
fase da vida estarão capazes de informá-lo sobre a adequabilidade das suas
expectativas.

Lidar com a diferença

Assim, se sabe ou pressente que o seu filho é diferente da maioria das crianças ou
jovens da sua idade comece por tentar confirmar essa crença. Peça a ajuda a
profissionais — seja a professores, médicos ou/e psicólogos, consoante o tipo de
diferença que percepciona — e se vier a confirmar esse facto veja o que pode e deve
fazer para o apoiar. Esse apoio pode ir desde a escola adaptada, no caso de uma
criança ou jovem sobredotado ou com alguma deficiência — até a ajuda de técnicos
de saúde física ou mental no caso de diferenciações que envolvam o corpo ou a
relação com o mundo. Independentemente do tipo de situação, a criança ou jovem vai
precisar de sentir-se amado, apoiado, e o menos diferente possível, já que se encontra
numa fase da vida em que ser como os colegas é para ele fundamental. Se vier a dar-
se conta, de uma forma inesperada, de que o seu filho é diferente, tente ter apoios
para si, também, pois não é fácil para os pais terem a seu cargo crianças ou jovens
que fogem à média. Em qualquer caso, tente pôr em prática as seguintes propostas:

1. Valorize aquilo que é único e especial no seu filho. De qualquer maneira não há
duas pessoas no mundo que sejam fisicamente iguais, que consigam fazer
exactamente o mesmo que as outras, ou que pensem ou sintam precisamente da
mesma maneira.

2. Qualquer que seja a área ou capacidade em que o seu filho seja diferente ajude-o a
perceber as suas potencialidades e a centrar-se nelas. Mesmo aquelas crianças ou
jovens mais limitados, física ou intelectualmente, têm
sempre coisas que conseguem fazer bem. Se tiver um filho com algum tipo de
diferença incapacitante faça com ele, verbalmente ou por escrito, consoante a sua
idade, uma lista dos talentos que possui. Partilhe esta lista com pessoas que são para
ele importantes.

3. Seja sempre um bom modelo. Aponte e valorize os talentos do seu filho e lembre-se
de ser um exemplo para lhe ensinar atitudes cada vez mais positivas.

4. Trate o seu filho e as suas diferenças com respeito. Faça-o sentir o seu amor por ele
e apoie-o a melhorar o que puder ser melhorado.

5. Aproveite essa diferença para levar à tolerância. Privar com a diferença permite que
colegas, amigos e irmãos aprendam a tolerância e a integração ao aceitá-la.

6. Mantenha sempre viva a esperança. Conhecendo limitações e talentos poderá


ajudar o seu filho a subir sempre mais alto e a superar-se a si mesmo, qualquer que
seja a sua fasquia pessoal.

Este capítulo serviu para:

• Perceber que ter um filho diferente da maioria — seja por sobredotação, seja por
deficiência — pode positivamente ser encarado como um desafio para os pais.
• Saber como se deve aceitar essa diferença e transformá-la em ponto de partida para
desenvolvimento dos talentos e potencialidades que a criança ou jovem possuem.
• Perceber quais as expectativas que tem sobre o seu filho, avaliar do seu realismo, e
entender como essas expectativas podem vir a concretizar-se.
• Reconhecer as formas de apoiar a criança ou jovem que é diferente sem a
estigmatizar nem lhe retirar o sentimento de pertença ao grupo de pares de que ela
ou ele tanto necessitam.
2 DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DA FAMÍLIA

2.1 Comunicar em família


Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Sente que a comunicação, no seio da sua família, não é tão harmoniosa,


aberta e respeitadora como deseja.
• Por vezes não sabe como dizer as coisas para conseguir ser ouvido e
entendido.
• Muitas das vezes a comunicação, na sua família, é «uma conversa de
surdos».

Como comunicamos

Já se disse que é impossível não comunicar. Mesmo que não queiramos


comunicar nada, evitando por exemplo, falar, estamos a comunicar sempre
qualquer coisa. Para além das palavras, instrumento mais óbvio da
comunicação e base da partilha verbal, temos ao nosso dispor todo um corpo
que «fala». Desde os olhos às mãos, dos músculos da cara à postura, tudo em
nós comunica. Comunicar implica sempre alguém que envia uma mensagem e
alguém que a recebe.

Comunicação não eficaz

Há formas de falar que são sobretudo críticas. Baseiam-se no desrespeito pelo outro,
no «esquecimento» do seu ponto de
vista e na negação dos seus sentimentos. Ainda que sejam ditas por pais e mães com
a intenção, habitualmente, de os educar da melhor forma, encorajam as crianças e os
jovens a falhar. A ridicularização, o «deitar-abaixo», o culpabilizar, o chamar a atenção
dos erros, a comparação e a rotulação da criança ou adolescente são típicos desta
forma de comunicar. Frases características são «Estás sempre a...». «Tu nunca...». O
humor utilizado neste tipo de comunicação é frequentemente cruel e o toque de quem
assim comunica tende a magoar. As consequências são devastadoras, a longo prazo,
em especial na auto-estima e no sucesso. Os filhos de pais que comunicam desta
forma tendem a sentir raiva e ressentimento e ora aprendem a agredir, ora acabam
passivos, dependentes e sem poder nem controlo sobre a sua vida. Por vezes a
comunicação é feita de uma forma igualmente nefasta, sem no entanto parecer tão
violenta. Crentes de que as crianças e adolescentes são fracos e não sabem fazer as
coisas bem, por vezes os pais comunicam com elas de uma forma que parece
apoiante mas que é, de facto, alicerçante de baixa auto-estima no filho. Culpar as
outras pessoas, a situação ou o destino pêlos erros ou insucessos da criança ou
adolescente retira-lhes responsabilidade pêlos seus actos, convida à dependência e
encoraja o falhanço. Está bem patente nesta forma de falar: «Eu faço-te isso»,
«Coitadinho, isto é demasiado difícil para ti!» ou «É melhor desistires».

Comunicação eficaz

Para haver uma real comunicação — a mensagem que é enviada ser exactamente
aquela que é recebida e percebida — tem de haver, daquele que recebe a mensagem,
vontade de ouvir e entender o outro, capacidade de se colocar no seu ponto de vista
ou forma de olhar o mundo, e identificação de desejos e intenções não ditas. Para isso
há que escutar atenta e respeitosamente o que o outro diz e saber ler as informações
que ele transmite com o seu corpo e voz. Do lado do que envia a mensagem deverá
haver respeito pelo interlocutor na forma como comunica as suas ideias e intenções, e
congruência entre o que diz a nível verbal e não verbal.

A forma de comunicação mais eficaz inclui frases que são simultaneamente meigas e
estruturadoras. São baseadas no respeito, amor e apoio, encorajando auto-
responsabilidade ao mesmo tempo que estabelecem limites e expectativas realistas
para o comportamento e rendimento do filho. Por detrás está a crença dos pais de que
os seus filhos são capazes e são lutadores, e de que os pais ali estão, agora e sempre,
para os apoiar, incentivando-os a serem bem sucedidos. A comunicação não verbal
baseia-se no tocar afectuoso, no olhar suave e aceitante, no tom de voz firme mas
meigo. Frases como «Sei que és capaz!», «Eu quero que deixes de gritar ao teu irmão»
ou «Gosto muito de ti, mas não gosto que andes em lutas ou batas nos teus colegas»
comunicam à criança ou adolescente que se acredita que ele ou ela é uma pessoa
com valor — mesmo quando faz disparates —, que sabemos que é capaz de se
comportar ainda melhor; e têm a utilidade de estabelecer as regras de funcionamento
e de dizer o que é ou não adequado. O uso deste tipo de comunicação envia uma
mensagem explícita de aceitação e incentivo para crescimento pessoal, e resulta em
cooperação, assumir de controlo e de poder por parte da criança ou adolescente,
auto-estima elevada e situações em que todos ganham. Veremos, em seguida, de
forma mais detalhada e partindo de algumas regras básicas, como conseguir
comunicar com eficácia, harmonia e autenticidade com o seu filho para que ele tenha
desejo de o ouvir e aprenda, também, a comunicar com verdade e respeito.

Muitas maneiras de «dizer» as coisas

Referimos que não é só o conteúdo daquilo que dizemos que marca o que acontece
nas nossas relações com os outros,
em especial com o nosso filho. A forma como o dizemos — do tom de voz às formas
verbais utilizadas e à postura — determina a qualidade da nossa comunicação. Não
podemos esperar que sejam o nossos filhos a falar connosco de forma respeitadora,
meiga e verdadeira se nós, a eles, lhes chamamos nomes, os interrompemos
constantemente quando estão a falar, lhes gritamos a toda a hora ou só lhes damos
ordens e fazemos críticas.

Quando quiser falar e ser escutado e entendido

1. Tente utilizar frases começadas por «Eu». É frequente iniciarmos as nossas


conversas com os filhos por «Tu». Este início indicia culpabilização e induz vergonha,
mal-estar e cria sentimentos típicos de quem se acha digno de censura. Centrar a
frase em nós, adultos, retira esse peso de repreensão e, à partida, reduz as hipóteses
de a criança ou jovem se porem «à defesa». Diga-lhe «(Eu) estou zangada contigo»
em vez de «(Tu) fizeste-me zangar» ou «É-me difícil estar calmo quando tu fazes tanto
barulho» em vez de «(Tu) estás a fazer demasiado barulho», ou ainda «(Eu) estou
muito desiludido com o que fizeste» em vez de «Tu fazes-me perder a cabeça».

2. Evite enviar mensagens com duplo sentido ou contraditórias. Muitas vezes dizemos
duas coisas diferentes numa mesma frase ou afirmamos uma coisa para
comunicarmos outra. Este tipo de comunicação é confusa para quem a ouve e deixa
as crianças e os jovens numa «vara de dois bicos». Por exemplo, «Para quem é
inteligente, realmente não sabes lá muito bem resolver os teus próprios problemas»
ou «Eu quero que tenhas confiança em ti mesmo, por isso faz aquilo que te digo».

3. Tenha consciência das mensagens ocultas e disfarçadas que vão no meio de


algumas das coisas que diz. Quantas vezes aquilo que estamos a dizer encobre outras
ideias e afirmações
que não chegam a ser ditas mas são entendidas e percepcionadas pelas crianças e
jovens. É o caso de «Deixa-me fazer isso por ti» (que realmente quer dizer «És um
incompetente, não és capaz de fazer isso»), de «Não me chateies» (que na verdade
significa «Não és importante»), ou ainda de «Só trouxeste quatro cincos no final deste
período; no próximo quero que subas todos os três e quatros que tiveste» (que indica,
de facto «Tens que ser perfeito ou nunca conseguirás agradar-me»).

4. Esteja atento e consciente dos significados escondidos que o tom e as inflexões de


voz, e outros sinais não verbais, podem comunicar. Fica claro quanto este tipo de
comunicação é confusa e deixa na angústia crianças e jovens. Perguntam-se «Afinal o
que está a minha mãe a dizer-me?» já que as palavras dizem uma coisa e o corpo está
a dizer o oposto. Abanar a cabeça enquanto se diz sim ou rir-se ao mesmo tempo que
lhe diz que não gosta do que ele está a fazer é um exemplo desta incongruência. Na
realidade está a transmitir que não... O mesmo se passa quando diz ao seu filho que
está interessado naquilo que ele tem para contar enquanto se atarefa com vinte mil
coisas que vai fazendo à medida que ele fala. A mensagem indirecta é «não estou
realmente interessada naquilo que estás a dizer». Estamos também numa destas
situações quando negamos estar zangados ou irritados mas falamos em tom de voz
alto e agitado.

5. Evite usar frases que denigram ou «deitem abaixo» o seu filho. Se o faz, ele
habitua-se a ser desrespeitado e magoado com as suas frases e vai sentir pouca
vontade em o ouvir ou comunicar consigo. Não o chame a ele, nem se chame a si,
nomes menos agradáveis («Que estúpido que eu sou!»; «És mesmo atrasado
mental!», «És tão mole que até me dás ganas de te dar safanões!»). Não aponte os
erros e faltas de forma a embaraçar o seu filho (isto é particularmente grave quando é
feito em frente a colegas ou amigos, ou face a qualquer tipo de público). Da mesma
forma perca o hábito, se o tem, de sublinhar e ruminar os seus próprios erros em vez
de se encorajar a
superá-los («Enganei-me outra vez! Sou mesmo imbecil» deve ser substituído por
«Enganei-me outra vez. Tenho que estar com mais calma e atenção para não me
enganar mais»). Elimine da comunicação perguntas que levem o outro a reconhecer
falhanços, ou sarcasmo e ridicularização («Então, achavas-te muito espertinho, não
era?» ou «Quem foi o animal que entornou a sopa?»). Frases destas doem como setas
afiadas espetadas no sentimento próprio e na auto-estima (ver Capítulo 1.2).

6. Expresse aquilo em que acredita, as suas opiniões e as suas ideias como o seu
ponto de vista — e não como «a verdade». Se falar sempre demonstrando que tem a
certeza que tem razão e que não aceita outros pontos de vista corre o risco de que o
seu filho se relacione consigo de forma distante ou revoltada, e que o veja como a um
ditador. Se relativizar a sua forma de ver as coisas («Eu não concordo contigo. Acho
que...» ou «Vejo as coisas de maneira diferente, mas explica lá o que é que tu
pensas») ensina o seu filho a respeitá-lo e aumenta a probabilidade de que ele
aprenda também a ser assim. Da mesma forma, aceite as opiniões e ideias do seu
filho como o ponto de vista dele. Aceitar que os outros têm um ponto de vista não
quer dizer que se concorda ou se discorda com o que eles defendem. Significa, sim,
que reconhece que eles têm direito a ter uma opinião.

7. Evite, a todo o custo, rotular-se, bem como ao seu filho. Rotule o comportamento,
não as pessoas: «Teres-te esquecido que tinhas ponto é bastante irresponsável» em
vez de «És um irresponsável» ou «Falsificaste a minha assinatura no ponto» em vez
de «És um falsificador e um mentiroso».

8. Institua momentos para conversas. Se todos os dias falarmos um pouco com o


nosso filho (ao deitar, por exemplo, ou à mesa do jantar) nunca perderemos a prática
nem chegaremos ao dia em que não sabemos como falar nem o que dizer. Alguns
estudos norte-americanos demonstram que os adolescentes psicológica e
emocionalmente mais sãos, e melhores
alunos, são aqueles que têm uma refeição em família onde todos falam — sendo
realmente escutados e respeitados — das coisas importantes do seu dia. A televisão
veio introduzir demasiado ruído nos jantares em família, pelo que é preciso ter a
coragem de a desligar, pelo menos, nesse momento do dia, sabendo quanto se pode
ganhar com esse gesto (ver Capítulo 2.11).

9. Tente ser democrático na forma como comunica. Não se expresse impondo e


exigindo, passando por cima dos desejos e vontades dos outros. Sempre que possível
tome decisões com o envolvimento do seu filho. Desde muito novas que as crianças
podem e devem sentir-se parte das decisões familiares (onde vamos passear no
domingo, quem convidamos para o aniversário, como arrumar a nova mobília do
quarto). Tal envolvimento dá-lhes autonomia e reconhecimento como pessoas
fundamentais no seio da família e mostra-lhes que são importantes. Ensina-lhes,
também, estratégias de resolução de problemas. Quando as decisões envolvem as
crianças e os jovens está meio caminho andado para que se sintam motivadas e
cumpram regras estabelecidas colectivamente.

10. Tente ser assertivo quando comunica com o seu filho. Ao comunicar podemos ser
agressivos (dizendo de nossa justiça, maltratando os outros, fazendo-os sentir
culpados, chamando-lhes nomes, gritando-lhes, ameaçando-os), podemos ser
passivos e tímidos (quase nem abrimos a boca nem dizemos o que sentimos — ou
dizemo-lo baixo, em surdina, a medo — porque achamos que os outros sabem melhor,
que as ideias deles devem ser respeitadas a todo o custo ou porque receamos não
dizer o que é certo), ou podemos ser assertivos (defendemos o nosso ponto de vista e
expressamos as nossas emoções de uma forma que é respeitadora da dos outros,
num tom de voz calmo e firme). Ser assertivo na comunicação com os outros, exige
autocontrol e confiança em si mesmo, características que, tal como tudo o resto, se
podem treinar e desenvolver (ver Capítulos 1.4 e 2.4).
Quando o seu filho lhe fala e você deseja que ele se sinta escutado

1. Pare para o ouvir. Deixe as tarefas que tem em mãos e dedique-lhe toda a sua
atenção. Não esteja apenas interessado — mostre-se interessado. Incline o seu corpo
em direcção ao seu filho, aproxime-se fisicamente dele, olhe-o nos olhos, retire do
ambiente interrupções e ruídos, mesmo barreiras físicas (uma secretária de permeio
pode limitar a proximidade necessária para que o seu filho se sinta mesmo escutado).
Abane a cabeça afirmativamente e emita sons de aprovação em sinal de
reconhecimento pelo que ele transmite; não o interrompa até ele acabar. Todos estes
sinais são congruentes no que dizem ao seu filho: que realmente se interessa por ele
e por aquilo que ele tem a dizer.

2. Coloque-lhe perguntas esclarecedoras e confirmadoras quando ele terminar de


contar o que tinha para dizer. Reflicta naquilo que entendeu e espelhe os sentimentos
que lhe pareceu que o seu filho sentia. Diga-lhe «Aposto que tiveste imenso medo!»
ou «Estou a ver que estás muito zangado com a Prof. de Francês porque achas que foi
injusta na nota que te deu. Pelo que percebi tinhas tido resultados positivos nos
pontos, embora fossem baixos, e ela deu-te negativa, é isso?» Se e quando achar
oportuno dê a sua opinião sobre o que foi dito, como uma sugestão possível entre
outras. Peça sempre primeiro as ideias do seu filho para solucionar um problema.

3. Não o interrompa. Deixe-o acabar. Se está no papel de ouvinte deixe o outro ser
quem fala. Se interromper faça-o apenas com apoios verbais ou não verbais que
estimulem a conversa do seu filho. Isto pode ser difícil para aqueles que comunicam
de forma competitiva — e que esperam com impaciência uma pausa de respiração
para saltar de imediato para dentro do «ringue» da conversa e «ficar com a bola». Há
com certeza uma razão para termos dois ouvidos e apenas uma boca.
4. Atente nas indicações não verbais que lhe envia. Está nervoso? Envergonhado?
Receoso de falar? Entusiasmado por partilhar consigo esta notícia? Ler nas entrelinhas
pode dar-lhe tanta informação sobre o seu filho e o assunto em causa como o
conteúdo do que está a ser dito.

5. Ponha de lado julgamentos e críticas. Entre dentro da experiência e sentimentos


que ele lhe relata e mostra Tente realmente perceber, pôr-se no lugar dele. Nessa
altura esqueça-se momentaneamente de si, bem como das suas preocupações. Não
esteja apenas a pensar naquilo que vai dizer em seguida.

! Lembre-se de que o excesso de permissividade, de autoritarismo, de ofertas


materiais ou a superprotecção são exemplos daquilo que não comunica amor.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Conhecer melhor os tipos de comunicação humana, quer verbal, quer não verbal.
• Saber algumas regras básicas de comunicação que o façam ser um bom modelo de
escuta e expressão pessoal.
• Evitar algumas das ratoeiras da comunicação que produzem incompreensão e mal-
estar entre quem comunica.

2.2 Educar para o optimismo

Este capítulo interessa-lhe particularmente se o seu filho:

• Perante uma contrariedade fica letárgico, deprimido e a «ruminar» sobre coisas


negativas.
• Não mostra entusiasmo nas actividades em que participa, mesmo que sejam de tipo
lúdico.
• Não demonstra grande interesse no «dia de amanhã», nem expressa projectos
quanto ao futuro.
E também lhe interessa se observou, em si próprio/a:

• Uma grande frequência de pensamentos em que antecipa um futuro pessoal e


profissional pouco promissor para o seu filho.
• Se na quarta-feira pensa que ainda faltam dois dias para o fim-de-semana.
• Se lá em casa quando um dos filhos muda de escola todos pensam, apenas, nas
dificuldades que ele vai ter.

Em geral as pessoas optimistas são facilmente identificáveis: acreditam e dão valor a


si próprias e aos outros, têm um discurso positivo sobre a vida e suas circunstâncias,
evidenciam satisfação a respeito das actividades em que se encontram empenhados,
esperam e buscam persistentemente o melhor que o futuro pode trazer. Para além
disso, investigações recentes têm levado a concluir que, em termos médios, uma
pessoa optimista terá também um melhor rendimento. Por exemplo, um atleta de alta
competição que tenha uma atitude optimista e autoconfiante, terá teoricamente
melhor rendimento desportivo. De igual modo um doente em convalescença terá um
melhor prognóstico se a sua atitude denotar optimismo, em comparação com alguém
nas mesmas circunstâncias, mas sem tal qualidade.

O optimismo pode ser definido com uma atitude que algumas pessoas evidenciam,
em particular na maneira como explicam os acontecimentos e comportamentos
próprios e dos outros. A ideia de existir um «estilo explicativo» próprio das pessoas
optimistas tem orientado uma boa parte das investigações actuais sobre o optimismo,
levando a que este seja cada vez mais visto como uma dimensão cognitiva, em
detrimento de estudos anteriores que perspectivavam o optimismo mais como uma
qualidade de carácter ou um sentimento. Ou seja, não é apenas o que as pessoas
optimistas sentem (entusiasmo característico, a vontade de tomar iniciativas e de
iniciar relações
e projectos) que interessa considerar mas, sobretudo, o que se dizem a si próprias e o
que comunicam aos outros nas circunstâncias positivas e negativas da vida.

O tal estilo explicativo de cada pessoa desenvolve-se a partir da infância e, em geral,


sofre alterações ao longo da sua
vida.

Relembrando o que foi dito no Capítulo 1.3, em particular na página 30, se atentarmos
a esta maneira de ver, uma criança optimista perante um acontecimento positivo (por
exemplo, uma boa nota num ponto), tenderá a pensar ou dizer qualquer coisa como:
«Lá está: sou bom a matemática» (causa permanente e pessoal) ou «Foi porque me
preparei bem para o teste» (causa global e pessoal). Se o acontecimento for negativo
(nota fraca), o aluno optimista tenderá a usar os outros pólos das dimensões referidas.
Por exemplo: «A professora fez neste ponto perguntas difíceis» (causa impessoal e
específica) ou «Desta vez não consegui» (causa transitória).

Cultivar uma atitude optimista nos estudantes

A primeira condição para os educadores (pais, professores e encarregados de


educação) propiciarem uma educação para o optimismo aos seus educandos,
ajudando a prevenir depressões, desânimos e desmotivações consiste em, eles
próprios, desenvolverem e expressarem essa característica, mesmo que seja difícil
quebrar a cadeia do «pessimismo automático», isto é, tender a expressar uma visão
acriticamente negativa dos acontecimentos, em particular no que diz respeito à vida e
resultados escolares.

Existem alguns procedimentos que pode exercitar. Em conjunto com o seu filho ou
educando:

1. Leve-o a elaborar uma imagem mental de si próprio a ter sucesso académico, por
exemplo, um bom desempenho num exame. Faça com que ele defina cada vez mais
detalhes da situação que está a imaginar, se possível a «sentir-se» mesmo na
situação imaginada.

2. Induza o seu filho a esperar sempre o melhor, tendo em atenção que para atingir
objectivos é preciso dosear o esforço. De resto, o que é que se perde em pensar que o
melhor ainda está para acontecer? Dê-lhe algumas frases de ajuda para ele dizer em
voz alta ou colar na secretária: «Com trabalho vou conseguir» ou «Tudo se resolve».
Colocar-lhe as questões de maneira a que ele olhe para as coisas boas da situação
ajuda muito na aprendizagem do optimismo. Em vez de perguntar «Como é possível
teres tido outra vez uma nota tão baixa?!» pergunte «Como vais conseguir ter nota
mais alta para a próxima vez?» ou «Que coisa boa te aconteceu hoje na escola?» em
vez de «Como foi hoje o teu dia?» chama a atenção para a resolução da situação ou
para os seus aspectos positivos, treinando o seu filho a olhar para a realidade com
olhos de optimista.

3. Em situações de agitação ou insegurança (por exemplo, período de exames) ensaie


com o seu filho estratégias de relaxamento activo. Leve-o a visualizar uma cena
agradável (uma praia deserta) e repetir para si palavras como «tranquilidade»,
«calma» e «harmonia» (ver Capítulo 2.10).

4. Decida-se a si próprio pela felicidade e sucesso e expresse isso ao seu filho. Cada
um é, em última análise, responsável pêlos seus próprios pensamentos e acções. E
cada um possui o poder de controlar os seus pensamentos e mudar as suas acções se
assim o decidir.

5. Jogue o «jogo do optimismo» com o seu filho. Poderá fazê-lo diariamente, se assim
o entender. Este jogo consiste em conseguir discriminar ao fim do dia um episódio
positivo em que o seu filho tenha participado ou observado. Ajude-o a definir qual a
principal qualidade que ele «emprestou» à situação. Por último, defina um propósito
ou iniciativa para o dia seguinte. A modalidade mais difícil do jogo do optimismo
consiste em jogarem numa situação
negativa (uma nota ou reprovação, por exemplo). Aí interessa descobrir o que se pode
melhorar. Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber a relevância de uma atitude optimista no sucesso escolar e na vida em


geral.
• Reconhecer formas para desenvolver atitudes optimistas no seu filho.
• Perceber o seu papel de modelo no encarar das situações de dificuldade e insucesso
que a vida nos reserva.

2.3 Escolher o estilo educativo

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Tiver frequentemente dúvidas sobre a forma como deve educar.


• Tentar educar o seu filho de uma forma que seja o contrário da forma como o
educaram a si.
• Estiver indeciso sobre se deve ser autoritário e rígido ou permissivo e não frustrante.
• Quiser saber qual o estilo de educação que a investigação científica tem mostrado
ser mais eficiente e positivo para pais e filhos.

Educar é optar, a todo o momento decidir o que fazer, como actuar, o que dizer, como
falar. E essas decisões vão beneficiar ou prejudicar os nossos filhos, não só no
imediato, como no futuro. Se é assustador em termos da responsabilidade que
encerra, é fascinante no que toca ao poder que insinua.

Os pais e as mães são líderes, e um bom líder deve ter visão, orientação e objectivos.
Pergunte-se, neste momento, que visão tem da sua família — em especial do seu filho
— daqui a cinco anos? E dez? Em que medida deseja que o seu estilo de
educar se assemelhe ao da sua família de origem? Em que deseja que seja diferente?
Cada mãe e pai tem o poder de criar uma visão de futuro e de a concretizar, em vez
de deixar ao sabor do dia-a-dia as atitudes e comportamentos que evidencia. Muito
disto passa pela filosofia e estilo educativo que for utilizado e, claramente, de entre as
escolhas que possuem, uns estilos e estratégias são mais positivos, eficazes e pró-
activos do que outros.

Rever as memórias da nossa infância

Muitos de nós vivemos experiências educativas com os nossos próprios pais e


professores que não desejamos repetir. Fazemos o que podemos para educar os
nossos filhos de forma completamente diferente daquela com que fomos educados.
Acabamos por oscilar de um extremo de formato educativo para outro extremo,
criando por vezes novas famílias igualmente com problemas, correndo riscos ao
extremar a nossa abordagem educacional e comunicacional. Outros tiveram
experiências educativas tão positivas que tentam repetir, o mais fielmente possível, o
que os seus próprios pais fizeram. Como educadores, é importante que saibamos do
que fugimos ou o que tentamos reproduzir, que tenhamos uma consciência límpida do
que somos e porque somos e das intenções que temos como pais e mães. Esta
consciência permitirá termos em mãos o nosso estilo de educadores em vez de nos
limitarmos a ser o que o impulso ou a experiência não reflectida nos diz.

Estilos educativos a la carte

As formas de educar costumam agrupar-se, por facilidade, em três grupos distintos: o


estilo autocrático, o permissivo e o
democrático. Esclareçamos cada um deles, em especial no impacte que tem sobre as
crianças:

1. Estilo autocrático

Os pais que utilizam este estilo são do tipo «militar». Impõem a sua vontade através
de uma estrutura rígida de regras, dando muito pouco espaço para a liberdade dos
seus educandos. Tendem a abusar do poder que possuem e controlam todas as
decisões, tomando conta da vida dos outros, acreditando que eles é que têm sempre
razão e não sabem lidar com os sentimentos, nem os seus nem os dos filhos. Ignoram
ou deitam abaixo as opiniões e sentimentos dos outros, usam ameaças e punições
para conseguir, a todo o custo, obediência. São especialistas em magoar os outros,
física ou emocionalmente. Exigem respeito, que frequentemente se traduz em medo,
revolta e raiva contra eles. Vêem a educação como uma luta de poder, em que o
adulto tem, a todo o custo, de ganhar. Deixar os filhos fazerem o que querem é sinal
de fraqueza e prenúncio de futura rebeldia. São pessoas sós, vergadas pela
responsabilidade e pouco autoconfiantes, e tendem a provocar baixa auto-estima nos
filhos e sentimentos de ausência de controlo sobre a sua vida. São receosos, fazem
tudo para evitar a punição (mentir, falsificar, fugir...) e sentem-se permanentemente
culpados, rejeitados e mal amados, incapazes de satisfazer alguém a quem nunca
poderão agradar. Ou acabam submissos ou violentos e revelam pouca autonomia e
pouca responsabilização. Os pais deste grupo continuam a ser os mais comuns no
nosso pequeno país.

2. Estilo permissivo

Os pais permissivos estão do outro lado: dão liberdade a mais, sem impor regras,
limites nem estrutura. Quando há
regras, e estão sempre a mudar, resultam num ambiente de grande
instabilidade e imprevisibilidade, pouco propício ao equilíbrio emocional.
Tendem a acreditar que as crianças não devem ser frustradas nem impedidas
nas suas vontades e aceitam tudo o que os filhos fazem. Na prática, acabam
por negligenciar tudo o que os filhos fazem e do ponto de vista emocional
são ausentes e distantes. Os filhos têm, em consequência, sentimentos de
abandono, e sentem-se desencorajados e incapazes de lidar com rotinas. São
supersensíveis à frustração e à insatisfação, rodeados que estão por
inconsistência e indecisão sobre o que e como fazer.

3. Estilo democrático

A democracia tem demonstrado ser o estilo educativo mais eficaz — o do


meio-termo — em que mãe e pai, muito embora detentores do poder, sabem
partilhá-lo com os seus filhos, adequando a dose à idade, níveis de
desenvolvimento e situação. Sempre que possível, os filhos são chamados
para dar opiniões e tomar decisões colectivas, próprias à família. Estando no
comando, conseguem um grau óptimo de flexibilidade, respeito e
colaboração, já que são sensíveis aos sentimentos dos outros e os respeitam
— mas, claro, respeitando-se também a si. São confiantes, têm uma elevada
imagem de si, e acabam por ter filhos essencialmente responsáveis,
autónomos, autodisciplinados, que se sentem amigos dos pais e ao seu nível
de todas as vezes que se sentem ouvidos e respeitados. São crianças
seguras, sem medo, motivadas, desejosas de cooperarem, já que se sentem
alvo de valor e reconhecimento Os seus pais têm uma forma de liderar a
família «pró-activa», isto é, virada para o futuro — dando novas
oportunidades, dando o benefício da dúvida, não fazendo julgamentos
precipitados — em vez de ser para o passado, e para o positivo em vez de ser
para o inadequado.
Os menus mistos

Infelizmente é frequente que a mãe tenha um estilo educativo (ou a avó, ou o


padrasto) e o pai outro (ou o avô ou a mãe biológica). Para os filhos é altamente
disfuncional que os pais «puxem» cada um para seu lado, sendo um permissivo e
outro autoritário. Estas famílias criam filhos confusos, inseguros, infelizes. O caso é
ainda mais grave se os pais discutirem sobre como educar em frente da criança.
Revela grande mal-estar familiar e dificuldades conjugais e é difícil para todos. As
famílias que experimentarem esta situação devem fazer um claro esforço para
encontrar um melhor balanço entre estilos, e para evitar, a todo o custo, conflitos
educativos na presença dos filhos.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Identificar os vários estilos educativos e tomar consciência do seu estilo primordial.


• Perceber o impacte, junto dos filhos, de cada um dos estilos de educação.
• Entender como a sua própria experiência enquanto filhos ou alunos marca a forma e
as opções da sua forma actual de educar.
• Ver a gravidade das consequências de famílias com mais do que um estilo de
educação, em particular aquelas em que coexistem os extremos de autoritarismo com
permissividade.

2.4 Cultivar o autocontrol

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Lhe acontece muitas vezes irritar-se, gritar, ameaçar, até mesmo bater, quando está
a estudar com o seu filho.
Perde muitas vezes a paciência quando o seu filho traz negativas.

Castiga excessivamente o seu filho quando ele não estuda

Zanga-se imenso quando vê o estado de desarrumação em que o seu filho tem o


quarto.

Perde a cabeça quando o seu filho traz uma falta (de material, de presença, de
comportamento, etc.).

Se descontrola quando vê o seu filho horas a fio em frente aos livros sem fazer os
TPC.

Falemos de descontrolo

As emoções fazem parte integrante da nossa vida. É para nós tão importante que o
nosso filho seja um aluno equilibrado e que tenha pelo menos um mínimo de sucesso
— agora e no futuro — que vivemos com grande emoção tudo o que se prende com a
sua vida escolar. Assim, às vezes as emoções vêm ao de cima de uma forma
descontrolada e... perdemos a cabeça. Gritamos até se ouvir no vizinho do lado,
ameaçamos, ralhamos, chamamos nomes, batemos com as portas até os quadros
caírem das paredes, empurramos, dizemos o impensável.

Quantas vezes ficamos depois a sentir o sabor amargo da culpa? Arrependidos,


pensamos que nunca mais nos vamos descontrolar daquela maneira... mas depois,
noutro momento de frustração ou conflito, não somos capazes de parar a tempo.

O autocontrol é assim, uma das mais importantes qualidades de pais e educadores.


Um adulto descontrolado pode ser perigoso e assustador para uma criança ou
adolescente, e vir a magoar ou violentar, física ou emocionalmente. Por seu lado, os
filhos podem ser uma razão constante para desencadear o descontrolo do adulto. Da
desobediência dogmática ou da actividade imparável vai apenas um segundo até ao
grito ou à palmada.
Como pode controlar-se

Lidar com as nossas emoções, irritações ou zangas não é, portanto, nada fácil. Mandar
no corpo — para que a voz saia calma, as palavras não firam nem ataquem, o olhar
não fuzile e as mãos não magoem — pode aprender-se. Vejamos como:

1. Perceber os sinais de descontrolo em si mesmo:

• A nível fisiológico, sentir a respiração a acelerar, a boca a ficar seca, o coração a


bater mais depressa, a temperatura a subir, os músculos a aumentarem a tensão.
• A nível da comunicação, a intensidade da voz a crescer, as palavras a saírem sem
freio, as mãos a gesticular de forma agressiva e os dedos a apontar.
• A nível emocional, a irritação e a raiva a aumentarem.
• A nível do pensamento, as ideias cada vez mais a terem conteúdos violentos («O
meu filho é insuportável! Nunca faz o que lhe mando. Vou-lhe mostrar quem manda
aqui! Estou capaz de o engolir! Há-de ficar-lhe de exemplo... Vai arrepender-se»).

2. Identificar as situações em que se descontrola mais e com quem (se é nos TPC, se é
com o filho mais velho, etc.).

3. Reconhecer no seu filho sinais de que o/a leitor/a se está a descontrolar. O seu filho
está:

• A afastar-se fisicamente de si.


• A olhar para o chão sem conseguir enfrentar o seu olhar.
• A gritar ou a chorar.
• A encolher-se, mostrando através do corpo que está assustado.
• A fugir, saindo da sala ou refugiando-se num sítio longe de si.
• A procurar outra pessoa da família como que a pedir protecção.
• A dizer-lhe para ter calma, a pedir-lhe para parar.

4. Tentar estratégias diversas para acalmar:

• Respirar fundo e lentamente.


• Contar até 10 em silêncio, enquanto pensa no que vai dizer de seguida (se 10 não
chegar para se acalmar, conte até 1000...).
• Sair momentaneamente de perto do seu filho.
• Pedir à/ao esposa/o que trate provisoriamente do assunto
• Fazer uma actividade que o relaxe (sair dez minutos para um passeio a pé pelo
quarteirão, ouvir uma música que o acalme, sentar-se a ler).
• Controlar os seus pensamentos. Reflectir «Não vou deixar a raiva levar-me a
melhor», «Que importância vai isto ter daqui a uma semana ou um ano?», «Sou capaz
de me controlar e resolver isto com calma», «Se me descontrolo perco a razão».
• Dizer ao seu filho que está a ficar muito enervado e que vai tentar acalmar-se para
depois falar com ele sobre o problema.

4. Evitar entrar em luta de poder. Tente pensar que não se trata de ver quem ganha ou
quem perde, nem de testar quem manda lá em casa. Pergunte-se o que pode fazer
para se acalmar e evitar entrar numa escalada, em que cada um põe mais achas na
fogueira.

! Ninguém consegue estar sempre controlado — e se calhar não deve. As emoções


negativas e a irritação têm o seu lado saudável. A forma controlada como lidamos
com elas — sem agredir ou magoar os outros, sem violência nem desrespeito, sem
fazer coisas de que nos arrependamos a seguir — é que deve ser cultivada.
Cada vez que perdemos a paciência estamos a ser modelo de descontrolo e a ensinar ao nosso
filho que o «normal» quando as pessoas se irritam é gritar, bater com portas, ou chamar nomes
feios
Cada vez que «perdemos a cabeça» desencadeamos medo no nosso filho, e os pais devem ser a
mais importante fonte de segu- j rança das crianças e jovens j

! Se nos descontrolamos com frequência (mais do que uma vez por semana) e estas estratégias
não resultam, o melhor é pedir ajuda a um familiar, amigo ou psicólogo.

! Se não conseguimos controlarnos devemos, mais tarde, pedir ! desculpa ao nosso filho por
termos «perdido a cabeça». Assim ele aprenderá o que é a humildade e o perdão, e saberá que
não é preciso ser perfeito para se merecer o amor de alguém (ver Capítulo 1.2).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber as situações e contextos em que se enerva e irrita de tal forma que acaba
a magoar os outros, em particular o seu filho.
• Dar-se conta do efeito e impacte do descontrolo no seu filho.
• Consciente de 1. e de 2., ter presente um conjunto de estratégias para aumentar o
seu autocontrol.

2.5 Elogiar e recompensar

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Tende, com mais frequência, a criticar e castigar o seu filho do que a elogiá-lo e
recompensá-lo.
• Duvida do poder dos elogios e acredita que a melhor forma de crianças e jovens
aprenderem é apontando-lhes os erros para que os corrijam.
• Sente que a educação em Portugal é demasiado crítica e negativista, não fazendo
sobressair o melhor que há nas pessoas.
• Acha que as crianças e jovens têm obrigação de se portar bem, e que elogios a mais
fazem mal.
• Acredita que as recompensas só ensinam as crianças e jovens a ser interesseiros e
manipuladores.

O que é elogiar e recompensar

Qualquer mãe ou pai já ofereceu prémios aos filhos num ou outro momento da vida.
Quem nunca prometeu um presente se a nota do ponto vier positiva ou uma consola
de jogos contingente à passagem de ano?

Recompensar as crianças e jovens pelo comportamento apropriado é uma prática


educativa corrente para alguns pais e professores, mas é entendido por outros como
um suborno.

Deve-se então usar ou não usar este tipo de estratégias? Ora vejamos. Elogiar e
recompensar por esforços, atitudes e comportamentos adequados é fundamental
para ensinar crianças e jovens a crescerem felizes e a sentirem-se motivados para
certas tarefas — em especial quando essas tarefas não lhes agradam
particularmente. Mas há que saber fazê-lo de forma adequada, porque apoiar a
relação com as crianças apenas nestas estratégias pode ter consequências menos
boas.

Todos nós, adultos, reagimos bem ao elogio e às consequências positivas. Poucos nos
levantaríamos de manhã para trabalhar se não fôssemos pagos para o fazer. As
crianças e jovens sentem muito interesse pelas coisas que lhes trazem um prémio ou
gratificação. Daqui se depreende que uma das melhores formas de estimular as
crianças e os jovens e de as levar a fazer coisas que precisam fazer mas não gostam,
ou não lhes apetece, é através do uso de gratificações e valorizações.
Elogiar

O elogio é, como sabemos, uma verbalização positiva que chama a atenção para as
coisas correctas e agradáveis que a criança ou jovem fez ou para as qualidades que
tem. É um acolhimento entusiasmado do seu comportamento verbal ou não verbal,
das suas atitudes e mudanças, da sua forma de ser. É um ânimo e uma chamada de
atenção sobre o correcto e o bom. Usado com precaução e realismo o elogio pode
operar milagres educativos (ver Capítulo 1.2). Quanto às recompensas ou
consequências positivas de um comportamento ou atitude, estas podem ser pessoais
(sentirmo-nos bem connosco), sociais (sermos admirados, reconhecidos e elogiados
pêlos outros) ou materiais (recebermos um presente ou coisa concreta).

Educar pode, assim, ser entendido como uma permanente atribuição de


recompensas, positivas ou negativas: sorrimos ao nosso filho quando nos diz uma
frase agradável e ralhamos quando faz um disparate, pelo que ele fica a saber quais
as coisas de que gostamos e não gostamos, o que esperamos ou não dele. Atribuir, de
forma clara e explícita, recompensas positivas — «Podes ir passar o fim-de-semana a
casa do Pedro se estudares duas horas por dia durante a semana» — implica dar aos
filhos a possibilidade de escolha.

Porque devemos elogiar e recompensar

A nossa cultura tende a usar mais a crítica e o apontar dos erros para ensinar as
crianças e jovens do que a chamar a atenção, pelo elogio e recompensa, dos aspectos
bons de uma tarefa ou comportamento. A investigação científica tem mostrado, no
entanto, que a educação de crianças e jovens autoconfiantes, responsáveis, seguros e
felizes se apoia mais no apontar do bom do que no corrigir do mau. Assim, com os
devidos cuidados que a seguir se descrevem, tente sempre que
a relação com o seu filho se baseie no êxito, naquilo que ele já consegue fazer e na
chamada de atenção sobre os seus esforços, mostrando assim muito mais satisfação
e alegria pêlos seus comportamentos do que críticas negativas e desqualificações
pêlos seus erros. Por exemplo, se notou que o seu filho, apesar de ter voltado a ter
negativa, se esforçou e estudou mais desta vez, em lugar de lhe repetir «É sempre a
mesma coisa. Tiveste negativa outra vez!» diga-lhe «Gostei muito de te teres
esforçado para estudar mais para este ponto. Continua a estudar assim e vais ver que
da próxima tens positiva». Desta forma ajuda-o a dar atenção às coisas boas que faz
e a aprender a gostar e a confiar em si mesmo.

Quando elogiar e reforçar

1. Quando crianças e adolescentes não estão motivados para uma tarefa (realizar
trabalhos de casa, estudar uma hora por dia, pôr a mesa ou arrumar o quarto) há
necessidade de os motivar, através de recompensas externas — sejam sociais, sejam
materiais — para que comecem a realizar as tarefas.

2. Quando as únicas motivações a que uma criança ou jovem responde são as


materiais, então não há qualquer dúvida em usar esta opção até que ele ou ela
amadureça mais e comece a ter motivações intrínsecas, isto é, internas e pessoais.
Não se esqueça que a fase de motivação externa e material é passageira e será
ultrapassada (ver Capítulo 1.1).

3. Quando as crianças e jovens parecem não se motivar com nada requerem reforços
e recompensas frequentes. Para que estas tenham efeito deverão ser consistentes,
cumpridas sempre que prometidas e apropriadas ao comportamento que se deseja e
à idade da criança ou jovem. Dar ao seu filho um brinquedo ou objecto caro por ter
feito os trabalhos da escola não é uma recompensa adequada. Recomendam-se
pequenas gratificações por atingir objectivos pequenos e a curto prazo.
Pode oferecer-se meia hora a jogar computador depois de completar os trabalhos de
casa ou, numa criança mais pequena, um autocolante de que goste, ou ler uma
pequena história todos os dias para treinar a leitura recentemente adquirida (ver
Capítulo 1.8).

4. Quando as crianças ou jovens fazem qualquer esforço e melhoria, quando se


comportam de forma esperada e adequada, devem ser reforçados. Muitas vezes
tendemos a esperar que os nossos filhos estejam perfeitos num comportamento ou
área, ou que cheguem as notas de final de período para lhes mostrarmos a nossa
satisfação. O uso de elogios e chamadas de atenção sobre o bom e o positivo deve
sempre ser frequente, diário, diversificado. Para tal, os pais necessitam treinar-se para
olhar para as coisas boas que a criança ou jovem faz (veja Capítulo 2.2). Se esperar e
reconhecer os esforços e pequenas melhorias e sucessos que o seu filho faz, terá
muitos mais.

Como elogiar e recompensar

. Não recompense nem elogie indiscriminadamente. As crianças precisam e merecem


feedback realista sobre o seu comportamento e sobre as suas competências. Se
elogiarmos a criança ou jovem sobre tudo o que faz ou sobre tudo o que é, não
estamos a ser sinceros — ninguém é sempre bom em tudo— e além disso não o
ajudaremos nunca a reconhecer que algumas áreas da sua vida necessitam realmente
de melhorias.

2. Ao elogiar um trabalho, em ve de dizer que é uma maravilhosa obra de arte, fale


com as crianças e jovens sobre os factos: «Olha-me só esse céu azul turquesa! Hoje
usaste imensas cores. Vai ficar bonito pendurado no frigorífico». Pense no elogio como
uma forma de dar feedback, directo e concreto, sobre o comportamento, a acção ou o
desempenho.
3. Focalize-se nos talentos especiais do seu filho. Todas as crianças e jovens têm uma
ou mais áreas em que são competentes e que podem servir de fonte de
encorajamento e orgulho. Estimule e apoie esse(s) talento(s) especial(ais) e o orgulho
que ele sentirá nesse sucesso transferir-se-á para outras áreas da sua vida e
comportamento.

4. Olhe para os esforços do seu filho, não para os resultados do seu trabalho. É
frequente que os pais recompensem os resultados e se esqueçam do esforço que foi
colocado na sua realização. Relembre o que a criança ou jovem fazia há três ou quatro
meses e concentre a expressão da sua satisfação no quanto ele ou ela melhorou.

5. As recompensas e elogios que se concentram nas competências e na progressão —


como os cintos de cores diferentes no judo — fortalecerão a vontade da criança ou
jovem em avançar e aprender mais.

6. Deixe bem claro o que está a recompensar e porquê. Só assim evitará que o seu
filho associe os elogios com erros.

7. Nunca prometa coisas que não tem intenção de dar ou que não possa cumprir. Se o
fizer, o seu filho não voltará a acreditar em si nem terá vontade de voltar a esforçar-
se.

8. Assegure-se que as gratificações que oferece são realmente do agrado do seu filho,
caso contrário não são recompensas e não o motivam para fazer o seu melhor.

! Uma criança ou jovem que seja demasiado elogiado cairá na armadilha das superexpectativas.
Sentirá que a única forma de ser aceite e amada é continuar a fazer tudo sempre muito bem.
Elogiar de mais também pode construir um cenário de medo de falhar. As crianças e jovens
ficam tão dependentes da aprovação dos outros que podem ter medo de se arriscar em coisas
novas e diferentes, ou actividades em que sabem que não são boas. Com medo de não serem
capazes de fazer uma tarefa na perfeição, nem sequer tentam fazê-la.
Segundo alguns especialistas, o maior risco das recompensas materiais é deitar abaixo a
motivação que vem espontaneamente de dentro da criança para realizar tarefas ou mudar.
Crianças há que, sabendo que vão ganhar um prémio pela tarefa que vão desempenhar, se
apressam de tal forma a fazê-la que não se preocupam em realizá-la bem ou em compreendê-
la. Mas os estudos também mostram que as recompensas materiais só «estragam» o desejo de
fazer bem quando crianças e jovens estão constantemente a ser aliciados, para tudo e por
todos, com prémios. |
! Não exagere nas recompensas materiais e comece sempre — ou junte sempre — elogios
verbais às prendas que der.

A leitura deste capítulo serviu-lhe para:

• Compreender o que são, porque funcionam e como funcionam recompensas e


elogios.
• Perceber a importância dos elogios e das recompensas na educação dos filhos.
• Conhecer qual a forma mais eficaz de recompensar e elogiar crianças e jovens.

2.6 Disciplinar com amor

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Tem dificuldade em saber quais as melhores formas de disciplinar o seu filho.


• Acha que disciplinar é uma estratégia muito sensível, que pode marcar para sempre
as crianças e os jovens.
• Usa demasiado o controlo e a forma autoritária na relação com o seu filho,
castigando «a torto e a direito».

Nenhum filho cresce em equilíbrio se não tiver sempre, no caminho da sua vida,
regras claras para o seu comportamento e
consequências inequívocas para os seus actos. As crianças e os jovens aprendem o
autocontrol, a auto-responsabilização e a autonomia com os adultos que as educam.
Para tal os pais devem estabelecer, de forma calma e carinhosa, limites razoáveis, o
que ajuda o filho a construir uma percepção clara do mundo e da sua auto-imagem e
o torna mais seguro e cooperativo. Assim, e dentro do possível, a família deve ser um
meio previsível, com estrutura e constância — para que crianças e jovens saibam o
que se espera deles e o que acontecerá se cumprirem ou não o preestabelecido.

O que é disciplinar com amor

É ensinar às crianças e jovens quais os limites para o seu comportamento, sem as


desrespeitar nem violentar. É estabelecer regras e consequências negativas — sempre
que possível negociadas — e ser docemente firme na sua aplicação e cumprimento.
Quando falamos de consequências negativas estamos a falar de castigos (como o não
poder sair ao fim-de-semana com os amigos, não ver o programa preferido na TV, ir
para a cama mais cedo, não ir jogar lá para fora). É também definir cooperativamente
as consequências positivas pelo cumprimento (ir ao cinema, alugar um vídeo).

Os pais têm o dever de orientar e guiar os seus filhos no que é certo ou errado, social
ou familiarmente aceite ou não aceite, e as consequências são uma das formas de
ensinar a valorizar o comportamento.

Como se disciplina com amor


1. Estipule e deixe claras as regras — aquilo que se espera que o filho faça, a forma como se
deve comportar ou reagir. Tente sempre que ele perceba a razão dessas regras e limites e,
sempre que possível, formule-as pela positiva: «Se cumprires o horário de estudo
podes ir jogar uma hora de futebol» em vez de «Se não estudares as horas que
definimos ficas de castigo no quarto até à hora de jantar». De preferência sente-se
com ele e converse sobre as regras a estabelecer. Por exemplo: «As tuas notas estão
fracas e tu precisas estudar mais. Sei que gostas muito de jogar futebol, mas tens
jogado todos os dias em vez de estudares. Como achas que poderemos resolver este
problema?»

2. Assegure-se que ele sabe sempre as consequências com antecedência, ou seja,


que tem realmente uma opção e sabe o que o espera quando decide não cumprir o
estipulado. De novo, entrar em acordo conjunto sobre eventuais castigos (e
recompensas) ajudará o seu filho a sentir-se parte da solução do problema. Sentirá
que tem mais liberdade de escolha e responsabilidade pessoal, e verá o castigo como
justo em vez de o ver como não merecido.

3. Reforce algumas das regras quando não estão a ser cumpridas. Por vezes será
necessário relembrar o preestabelecido quando não está a ser levado a cabo ou criar
consequências negativas no momento — quando surge um problema ou
comportamento sobre o qual não há regras definidas. «Tens que voltar a copiar o
trabalho de uma forma mais limpa para que o professor perceba o que escreveste».
Nestes casos tente sempre ser justo e mantenha-se calmo face à situação (Ver
Capítulo 2.5).

4. Não abuse dos castigos, nem em frequência, nem em intensidade. As crianças e os


jovens que vivem num contexto educativo apoiado em ameaças e castigos tendem a
ser zangadas, irritáveis, inseguras, pouco felizes. O que deseja é que o seu filho
aprenda a ser um bom (ou melhor) aluno e uma boa (ou melhor) pessoa, confiante e
contente com a vida; que tenha vontade de voltar para casa todos os dias porque se
sente aceite e porque os seus pais, se bem que determinados e exigentes nas regras
e limites, sabem sê-lo de uma forma agradável e não
assustadora. Já passou o tempo dos pais-papão e os pais-banana não conseguirem
criar filhos seguros nem autoconfiantes (veja Capítulo 2.4). Com castigos frequentes
e/ou intensos poderá ainda correr o risco de levar o seu filho a não acreditar em si
mesmo e a ganhar medo da mãe ou do pai. Este medo pode transformar-se em
grande ansiedade ou resultar em comportamentos de fuga ou evitamento (veja
Capítulo 2.3).

5. Não deixe nunca de estabelecer os limites e as consequências negativas com


receio de frustrar o seu filho e de o marcar para a vida. A investigação científica nunca
confirmou
— muito pelo contrário — que a ausência de regras e de firmeza crie pessoas mais
equilibradas.

6. Nunca prometa fazer, nem ameace, com coisas que não cumpre. Só provocará
descrédito na sua palavra e aparecerá aos olhos do seu filho como facilmente
manipulável. É preferível escolher uma consequência menos penosa e cumpri-la, do
que ameaçar com horríveis castigos que saem da boca para fora num momento de
descontrolo («Ficas uma semana sem sair do teu quarto!») e depois não ter coragem
de os aplicar.

7. Escolha bem as consequências negativas que vão ser utilizadas. Procure que sejam
lógicas e significativas para o seu filho, de forma a que ele deseje, realmente, evitá-
las. Não perca o bom senso, nem se esqueça que os mais novos têm ainda mais
direito a cometer erros e a ser imperfeitos do que os mais velhos. Tenha, portanto,
sempre presente a idade do seu filho, a sua personalidade, os seus interesses e
limitações quando estiver a discipliná-lo. Siga a regra dos 3 Erres das consequências:
escolha-as Relacionadas com o problema, Respeitadoras do seu filho e
Razoáveis/adaptadas à dimensão do erro.

8. Evite um clima negativo dentro da família. Uma família infeliz é aquela que aponta
permanentemente aos seus membros o que eles têm de negativo; uma família feliz é
a que lembra aos que a compõem aquilo que têm de bom. Nunca envergonhe o seu
filho em público nem exponha os seus insucessos. Não repise constantemente os seus
fracassos e comportamentos
indisciplinados. Depois do castigo, passada a situação negativa, esteja atento aos
esforços do filho e não se esqueça de logo depois, o elogiar e recompensar por
qualquer coisa que faça de bom (estar calmo, ajudar a pôr a mesa, sentar-se a
estudar, ajudar o irmão nos TPC) (ver Capítulo 2.6).

9 Mostre ao seu filho que reconhece e aceita as razões porque ele está a fazer aquilo
que você considera errado. «Percebo que queiras ir brincar em vez de estudar, no
entan to » ou «Compreendo que não gostes de matemática, só que » Este tipo de
abordagem mostra à criança ou jovem que os seus desejos são legítimos e modela a
compreensão mútua O adulto é mais conhecedor e experiente, é quem tem o controlo,
não tem medo de liderar e, em certas circunstâncias tem prioridades diferentes das
do filho, mas não deve usar nenhuma destas prerrogativas para desrespeitar a criança
ou jovem. _

10. Acentue o «mas». «Queres ir brincar em vez de estudar,


mas o estudo vem primeiro e depois a brincadeira». Ou «Não gostas de matemática,
mas tens de a estudar tanto ou mais do que as outras disciplinas para levantares a
nota». Este formato ajuda a criança e o jovem a verem outros pontos de vista e a
perceberem que os desejos não podem sempre ser cumpridos. É uma aprendizagem -
por vezes dolorosa - da supremacia do dever sobre o prazer que acontece nalguns
momentos da nossa vida. ,

11. Proponha alternativas e soluções. «Acho que é boa ideia ires estudar durante três
quartos de hora e depois podes fazer um intervalo de 15 minutos para brincar» ou
«Vamos fazer um horário de estudo por disciplinas e ter o cuidado de pôr mais horas
para trabalhar a matemática. Que achas?» Nem sempre as crianças e adolescentes
são capazes de, sozinhos, encontrar caminhos alternativos que vão contra as suas
vontades Por outro lado, precisam treinar a capacidade de adiar as recompensas e de
deixar para depois das obrigações aquilo de que mais gostam.
12. Use o que conhece dos talentos da criança. Face a situações que exijam controlo
disciplinar às vezes ajuda dizer qualquer coisa que indique à criança que se confia nas
suas capacidades para lidar com a situação e na sua vontade de fazer o melhor
possível. Poderá dizer-se «Sei que isto é difícil para ti mas também sei que és capaz
de enfrentar o problema» ou «Com a tua capacidade de te aplicares e esforçares vais
melhorar as notas».

13. Exija a reparação dos erros. Nalgumas situações, depois de firme mas
calmamente ter dito aquilo que a criança ou jovem não pode fazer, deverá deixar bem
claro o que pode e deve ser feito. «Não aceito que me levantes a voz. Repete o que
disseste, mas agora com voz calma» ou «Não quero que batas com as portas quando
te zangas. Volta a abrir a porta e fecha-a com cuidado. Se estás zangado — coisa a
que tens direito — diz por palavras aquilo que te aborrece para podermos falar sobre o
assunto». Desta forma os limites estão bem claros, mas a criança ou jovem não
sentem o pai ou a mãe como inimigos.

14. Para cada «Não!» que disser ofereça duas possibilidades alternativas. «Não, não
podes sair na sexta-feira e ir à festa da Maria no sábado, porque tens dois pontos na
segunda-feira. Podes ir só à festa de sábado e estudar na sexta e no domingo, ou ir às
duas e estudar também no domingo» Este formato de comunicação encoraja a
independência e as capacidades de tomada de decisão do seu filho. Em simultâneo
marca fronteiras e limites.

15. Ajude o seu filho a expressar os sentimentos, incluindo a zanga, a raiva, os


desejos, as tristezas. Quando se disciplina nem sempre se dá espaço para a expressão
— da parte de pais e filhos — de emoções, sejam positivas ou negativas. Ao abordar
uma situação que exige disciplina expresse e estimule no seu filho a expressão
emocional: «Estou furioso por teres tido tantas faltas de presença. Sinto um grande
desgosto por me teres mentido e por andares a faltar à escola. Trata-se de um assunto
muito grave. Gostava que me explicasses a razão deste
comportamento para podermos resolvê-lo da melhor forma e assegurar que não se
volta nunca a repetir». Depois de o ouvir — escutar, mesmo, sem interrupções — pode
reformular ou reforçar o seu sentir e depois pense com ele em alternativas, saídas e
consequências. Ao aceitar os sentimentos do seu filho está a dizer-lhe que é normal e
bom ter sentimentos, mesmo que negativos; ao expressá-los de forma apropriada
ensina-lhe que há maneiras respeitadoras de fazermos os outros perceber o que
sentimos.

16. Ensine ao seu filho que os erros são oportunidades maravilhosas para aprender.
Comece por ser disso um modelo e use os três Erres de Recuperação depois de ter
feito um «disparate»: Reconheça o erro juntamente com sentimentos positivos;
Reconcilie-se, estando pronto a dizer «Desculpa, não gostei da maneira como reagi»;
e Resolva, centrando-se nas soluções e não na culpabilização.

17. Assegure-se que a mensagem de amor é recebida. Comece por dizer: «Eu
preocupo-me contigo. Estou nervosa/o por causa desta situação. Ajudas-me a
encontrar uma solução?»

! Não esqueça que um grau mínimo de insubordinação e «refilanço» é saudável nas crianças e
jovens — tanto quanto nos adultos. É sinal de crescimento, de necessidade de autonomia e é
inevitável para preparar a independência de vida que virão a ter mais tarde, quando for tempo
de iniciarem a construção do seu próprio futuro. É também sinal de ter direito a pensar e a
sentir diferente. Não pretenda, por isso — nem se alegre com tal — que o seu filho seja sempre
obediente, disciplinado, sem fazer disparates nem cometer faltas. Se for sempre assim, creia, é
mau sinal!

! Lembre-se que a punição é apenas eficaz para pôr fim, no momento, a um determinado
comportamento. Não ensina à criança ou jovem aquilo que ele ou ela deve fazer, portanto não
lhe indica aquilo que se espera dele. Limita-se a apontar o incorrecto. Para além disso, os
efeitos de punições — sejam físicas, sejam verbais ou morais — levarão, a longo prazo, a
ressentimentos,
rebelião, vingança ou submissão assustada. Não vale a pena tanta consequência má a
troco de bofetadas, uma tareia ou uma «descasca» dadas de tal forma que desfaçam
física, emocional ou moralmente o seu filho. Há formas muito mais eficazes, com
consequências positivas mais duradoiras, e que não ensinam ao seu filho que a
violência é a forma de lidar com os problemas.

! Lembre-se que disciplinar com amor significa rejeitar o comportamento inapropriado


ao mesmo tempo que se aceita a criança ou jovem: «Gosto de ti mas não gosto que
digas palavras feias.»

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber a necessidade de uma disciplina firme mas meiga na educação do seu


filho.
• Substituir formas de disciplina demasiado rígidas ou inexistentes por outras mais
eficazes e equilibradas.
• Entender que disciplinar de forma autoritária e violenta traz muitas consequências
gravosas e muito poucas vantagens.

2.7 Brincar em família

Este capítulo interessa-lhe particularmente se;

• Quer saber de que forma brincar com o seu filho pode ajudá-lo a estudar e a
aprender.
• Deseja perceber qual a melhor maneira de equilibrar os momentos para brincar em
família e para estudar.
• Gostaria de ter ideias sobre brincadeiras e jogos para fazer com o seu filho.

Brincar, eu?!

Brincar é algo que muitos de nós, pais e mães, já esquecemos como se faz. Vestidos
com os nossos fatos e gravatas, com
os nossos saltos altos e atarefados com as nossas ocupações de adultos, achamos que
sentarmo-nos no chão e brincar com as crianças mais pequenas ou «perder tempo» a
jogar à bola ou ao Master Mind com os filhos mais velhos já não é para nós. No
entanto, brincar é um hábito que deve ser retomado e estar presente no seio de
qualquer família — mesmo que não fosse pela importância que pode ter na harmonia
do clima familiar e na proximidade que promove nas relações entre todos, não havia
melhor razão que o facto de ser muito divertido!
Desafiamo-los a pensar qual é a melhor imagem, actual, de divertimento: Ver TV?
Dormir a sesta? Trabalhar? Essa imagem inclui os filhos?

As crianças e os jovens, se os deixarem, ocupam a maior parte do seu tempo a


brincar. Desde o nascimento que esta é a forma através da qual aprendem a conhecer
o mundo. Brincar em família é assim uma oportunidade única de partilhar um
momento muito agradável, descontraído e divertido e de, indirectamente, ensinar.
Saber brincar com os filhos é extremamente saudável para si e para eles.

Quando brinca em família está a criar um espaço privilegiado de comunicação num


ambiente descontraído que vai permitir-lhe conhecer melhor os seus filhos, ou até
mesmo reequilibrar qualquer relação mais conflituosa. Pode aproveitar esse momento
para reforçar coisas positivas que eles saibam fazer, consolidar aprendizagens e
desenvolver novas capacidades. Brincar e fazer jogos facilita a integração de
conceitos como:

sorte e azar, honestidade e «batota», regras e excepções, e ganhar e perder,


relativizar e dar atenção ao realmente importante.

As brincadeiras em pares ou em grupo podem desenvolver o sentido de cooperação e


a partilha de conhecimentos. Experimente, por exemplo, jogar à batalha naval ou ao
«Stop» fazendo equipa com o seu filho.

Passear ao ar livre, de eléctrico, comboio ou barco, visitar museus, ver exposições, ir


ao cinema ou teatro, se vividos de
forma descontraída e bem-disposta, apostada em criar momentos sem tensões e sem
lutas, são também formas de brincar e de nos divertirmos em família.

Existem brincadeiras e jogos que pode fazer dentro ou fora de casa. Em seguida
apresentamos ideias de alguns jogos e brincadeiras que todos os pais conhecerão
(embora alguns já as tenham guardado bem fundo nas gavetas mais recônditas da
memória) e que podem escolher, em conjunto, para brincar em família:

1. ) Jogos de interior: ler em conjunto livros e/ou revistas, ver filmes, fazer
desenhos/pinturas ou construções, jogar batalha naval, «Stop», Forca, Risco, Scrable,
Trivial Pursuit Pictionary Monopólio, Jogo da Glória, Master Mind, 4 em Linha, xadrez,
damas, loto, jogos de cartas, jogo do galo, palavra puxa palavra, jogos de
computador, ou brincadeiras mais activas como cócegas ou «lutas de carpete».

2) Jogos de exterior jogos de praia (futebol, volei, jogos de raquetes, construções na


areia, bowling...), brincar às escondidas, apanhada, barra do lenço, «macaca», ao
«pisa», ao «mata» ou, com os filhos mais velhos, fazer um entusiasmante jogo de
basquetebol ou de futebol no relvado do parque.

Quando brincar ou fazer jogos com os seus filhos?

É óbvio que qualquer criança prefere brincar em vez de fazer os trabalhos de casa, ou
qualquer jovem prefere ouvir música do que estudar, pelo que brincar com o seu filho
pode surgir como recompensa após as tarefas escolares. Mesmo que a maioria das
brincadeiras e jogos não tenha o objectivo educacional como aspecto primordial, o
resultado nal acaba por ser esse, promovendo inúmeras aprendizagens. Na maioria
das vezes brincar e jogar deve ser feito depois dos TPC. O «truque» é transformar uma
tarefa originalmente maçadora em
algo divertido, ou recompensar um esforço com um tempo agradável e lúdico com a
mãe, o pai ou toda a família.

Se o seu filho for lento a fazer os trabalhos, talvez esta não seja a melhor forma de
proceder. Na escola alguns professores reservam as brincadeiras quase sempre para o
fim das actividades escolares, e as crianças mais vagarosas podem sentir que nunca
se divertem porque nunca chegam a tempo ao recreio. Em casa, com outras
possibilidades de controlo do ambiente e da criança ou jovem, podem dividir-se os
TPC ou o estudo em mini-sessões e fazer um jogo pelo meio.
Em vez de intercalar com as actividades escolares naturalmente que pode brincar em
família nas alturas de descanso ao fim do dia (se os transportes e o cansaço o
permitirem...), nos fins-de-semana e nas férias. A frequência é, no entanto, um
aspecto importante, pelo que propomos que o faça antes ou imediatamente depois do
jantar, já que não precisa ser uma actividade muito prolongada. Lave a loiça 20
minutos mais tarde ou não veja a telenovela, mas brinque diariamente com o seu
filho.

«E o vencedor é...»

A competitividade é algo inevitavelmente presente no mundo em que vivemos. Fazer


jogos com o seu filho pode ser uma forma de abordar com ele esta ideia da
competitividade fazendo um paralelo com o jogo e a vida real.

Nos últimos anos tem-se tentado que os jogos ou brincadeiras sejam não-
competitivos; no entanto, muitos deles dependem da existência de um vencedor (ex.:
Quatro em linha, Monopólio ou xadrez). Quando faz um jogo com o seu filho é certo
que geralmente se sabe quem é o vencedor, por isso muitos pais se questionam se
devem ou não «deixar» ganhar.

A verdade óbvia é que a maior parte das crianças (e dos adultos, claro...) prefere
ganhar do que perder, mas sabe
também o que é ganhar de verdade ou ganhar porque alguém «deixou». Quando fizer
um jogo com o seu filho tente o seguinte:

1. Centre o jogo na autocompetição. Encoraje o seu filho a melhorar o seu


desempenho cada vez que joga o mesmo jogo (por exemplo, fazer mais pontos, ou
fazer mais rápido).

2. Descubra com o seu filho vários tipos de jogos. Escolha um em que ele consiga
ganhar de «verdade».

3. Não faça apenas jogos que estão dependentes de raciocínio ou destreza, mas
também jogos de sorte e de azar; desta forma o seu filho tem tantas hipóteses de
ganhar como o pai ou a mãe. E descontraia-se, dê umas boas gargalhadas, rebole-se
na relva, faça de novo o pino, reaprenda a emoção de ter todo aquele dinheiro e casas
do Monopólio! Tem tanto a ganhar com estes momentos quanto o seu filho.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Recordar propostas de jogos e brincadeiras.


• Reconhecer como brincar é um elemento essencial da relação saudável entre pais e
filhos.
• Entender como os aspectos mais negativos em jogo, como a competição
desenfreada ou a frustração da perda podem ser ultrapassados ou contornados.

2.8 Recorrer aos irmãos

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Tiver mais do que um filho em idade escolar.


• Quiser potenciar os momentos de estudo de cada um dos seus filhos e o tempo que
despende a ajudá-los.
• Desejar estimular a colaboração e interajuda entre os seus filhos.
Ter mais do que um filho em idade escolar geralmente significa, para os pais, a
multiplicação de tempo e esforços para apoiar os estudos de cada um deles. Nem
sempre equacionamos esse facto como uma oportunidade para colaboração,
desenvolvimento do espírito de interajuda e apoio mútuo, aprendizagem vicariante ou
tutoria. O mais velho dos seus filhos — ou o mais motivado ou competente em termos
de estratégias de estudo — pode ser um óptimo suporte e modelo para o mais novo
ou menos competente.

A investigação científica tem mostrado que não é apenas o que aprende que beneficia
deste processo, já que um jovem tutor, ao ensinar conteúdos escolares a outro,
aprende em maior profundidade e detalhe, cimentando as informações. Quanto ao
«aprendiz», pode vir a perceber mais facilmente a matéria dado que quem lhe explica
está mais próximo do seu tipo de pensamento e de questões — «ganhando» terreno
ao educador adulto.

Juntando estes dados percebemos facilmente como todos têm a ganhar levando os
irmãos a apoiarem-se mutuamente no estudo.

Estratégias a aplicar

O adulto deve servir de orientador — estar por perto a guiar as sessões de estudo,
mediando situações mais complexas ou exigentes. Modelar verbalizações de elogio ao
esforço de ambos — tutor e discípulo — e relativizar as dificuldades é outra das
tarefas do pai ou da mãe neste processo.

Em consonância, deve também auxiliar no autocontrol quando um dos filhos começa


a perder a paciência, fazendo ressurgir a calma e a compreensão mútua («Pedro,
parece-me que estás a ficar impaciente com o teu irmão... Talvez seja melhor
pararmos 10 minutos para lanchar e depois voltar com as baterias da calma
recarregadas», ou «Por vezes é difícil
explicar uma coisa e outras vezes é difícil entendê-la logo. Alexandra, achas que há
outra maneira de explicares ao Salvador como se pode fazer esse exercício?»).
Há que assegurar que os comportamentos são mais elogiados do que criticados. No
sistema de ensino que têm frequentado, os nossos filhos provavelmente aprenderam
que para ensinar é preciso apontar os erros. Chamar nomes e dar sobretudo atenção
às incorrecções faz parte dos nossos guiões culturais. Assim, é natural que aquele que
ensina tenda a ter verbalizações menos próprias («És tão estúpido!», «Mas que
anormal!», «Não percebes uma coisa tão simples?!!»), e o facto de estar
emocionalmente perto do seu discípulo, dado o parentesco, aumenta a probabilidade
destes descuidos de linguagem.’ O adulto deve sinalizar as intervenções menos
próprias e pedir ao que as faz que as substitua por outras mais adequadas. Deve
mesmo explicar ao «tutor» como se constróem as auto-imagens (ver Capítulo 1.2). Em
simultâneo, deve valorizar tanto a criança ou jovem que ensina quanto quem é
ensinado, reconhecendo frequentemente o esforço, paciência e trabalho de ambos.
Um tem generosidade, disponibilidade emocional e conhecimentos, o outro aceita
com humildade ser ensinado.

Ambos os filhos estão assim a colocar os seus talentos em partilha, e a mãe ou o pai
não devem assumir, aberta ou implicitamente, que um filho é melhor do que o outro,
razão pela qual vai ensinar o que é pior. Nunca compare irmãos. Ponha as questões
sempre em termos, não de competências, mas de quantidade de conhecimentos.
Mesmo o que é ensinado deverá ter momentos em que ensina qualquer coisa ao seu
«tutor» — uma canção nova, uma anedota, um passe de futebol. O discurso do adulto
deve contemplar este cuidado («A Rita é óptima a escrever e o David tem imenso jeito
para desenho»).

As sessões de apoio mútuo entre irmãos devem iniciar-se com conteúdos mais fáceis,
quer para aprendiz, quer para «tutor», de forma a que as primeiras experiências
sejam particularmente satisfatórias para todos. O tempo de trabalho deve
ser organizado para que haja oportunidade de um misto de trabalho individual e de
trabalho conjunto entre irmãos. Este último deve ser breve, para não sobrecarregar o
que ensina e não cansar de mais o que aprende.

Deve preparar-se bem o tempo de trabalho colectivo. Se nunca aconteceu um irmão


ajudar outro nas tarefas escolares, ou se tal acontece mas de forma não totalmente
bem sucedida, a formalização de um momento deste tipo tem de revestir-se de
cuidados. Assim, comece por conversar com o mais velho —ou mais motivado, ou
mais estudioso — e avalie da sua disponibilidade e interesse para ajudar o irmão, um
determinado número de vezes por semana, durante um período de meia hora ou uma
hora (depende das idades e capacidades de concentração). Nessa conversa valorize e
dê todo o relevo à ajuda a prestar e à generosidade do «professor». Só esta
preparação, a par do já referido, poderá levar a que a experiência seja positiva para
todos.
Alargue, tanto quanto possível, a conversa «erudita» entre os irmãos. Estimule
diálogos sobre temáticas educativas e informativas, prolongando para fora das
sessões de estudo entre irmãos a cooperação e exploração conjunta do mundo.

| ! O tipo de relação existente entre os irmãos deve previamente ser tida em conta.
Se é habitualmente belicosa, cheia de confrontos e conflitos, de comparação mútua
ou, pelo contrário, de respeito, admiração e carinho, é de esperar que este momento
de estudo espelhe a história anterior da relação. Assim, se no último caso há
hipóteses de que o estudo colectivo seja um momento de prazer e paciência, no
primeiro há que assegurar que, enquanto estudam juntos e se apoiam, os seus filhos
conseguem controlar os seus maus humores

Este capítulo serviu-lhe para:

• Reconhecer as vantagens de colocar um dos seus filhos a apoiar a aprendizagem do


outro.
Perceber como concretizar essa experiência, e qual o seu papel na sua
implementação.
Estar atento aos riscos inerentes ao trabalho de ajuda escolar entre irmãos.

2.9 Ajudar no estudo e nos trabalhos de casa

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Gostava de melhorar o tipo de apoio que dá ao seu filho em termos de estudo e de


TPC.
• Acha que o seu filho não sabe estudar.
• Todos os dias tem «lutas» com o seu filho para que ele faça os TPC.
• O seu filho tem trazido da escola inúmeras faltas por não fazer os trabalhos de casa.
• O seu filho só estuda e só faz os trabalhos de casa com a sua ajuda.

Estudar com eficácia é uma competência que se pode aprender. Por mais estranho
que pareça, ninguém ensina os alunos a estudar. Muito menos se ensina aos pais a
forma como podem apoiar os filhos apesar de, diariamente, muitos fazerem o melhor
que podem e sabem para os auxiliar na preparação de testes ou na resolução dos
trabalhos de casa. Há muitos programas e métodos disponíveis, em literatura de
autores portugueses ou traduções de autores estrangeiros, para ajudar os alunos a
terem bons hábitos de estudo e a controlarem os factores que impedem o sucesso.
Algumas das técnicas comuns a esses programas incluem treinos para ouvir
atentamente, tomar notas de forma correcta, estudar para testes, melhorar a leitura
ou organizar o local e tempo de estudo. Não iremos aprofundar todas estas temáticas,
mas deixar algumas propostas que o
leitor poderá usar para ajudar o seu filho a atingir um tempo de estudo com maior
qualidade e, consequentemente, resultados escolares mais positivos.

Os objectivos dos trabalhos de casa

A utilidade ou legitimidade dos trabalhos de casa (TPC) é uma questão em aberto. A


sua quantidade e frequência é um tema quase sempre presente nas reuniões entre
pais e professores ou directores de turma. Eles existem com um propósito: o de levar
os alunos a praticar, fortalecer e reforçar conteúdos e competências escolares e
auxiliar os professores a avaliarem quão bem está o aluno a compreender uma
determinada temática. Há estudos que mostram que os trabalhos de casa bem
escolhidos e pedidos com parcimónia podem ser um importante factor para o sucesso
escolar.

Os TPC possuem ainda outros valores, já que, se bem realizados, podem desenvolver
a independência, autodisciplina, iniciativa, gestão de recursos e de tempo e sentido
de responsabilidade e competência.

O papel dos pais

Os professores concordam que os pais devem, junto dos filhos, enfatizar a função dos
TPC e mostrar-lhes que o estudo é importante. O papel dos pais será o de pessoa de
recurso quando surgem questões e problemas, oferecendo orientações que
assegurem ao aluno compreender o que lhe é pedido. Quanto mais novo for o
estudante, maior o apoio que necessitará dos pais. Uma regra de ouro subjaz, de
comum acordo, no papel dos pais: que os TPC devem ser da responsabilidade da
criança ou jovem, isto é, que os pais devem sempre estar presentes para confirmar se
o filho necessita de ajuda, se o
trabalho foi compreendido e se está completo, oferecendo um contexto físico e
emocional que lhe permita estudar e aprender, mas nunca se devem substituir ao
filho fazendo-lhe a tarefa.

Concretizando, de entre aquilo que mães e pais podem ensinar aos filhos no que toca
ao estudo e trabalhos de casa, destacamos o seguinte:

1. Estar aqui e agora. Estimulá-los a dar toda a atenção (nas aulas, nos trabalhos de
grupo, no momento de estudo em casa) concentrando-se no que estão a fazer em vez
de deixar a mente divagar por outros lados (ver Capítulo 1.5).

2. Estruturar e gerir o tempo. O tempo de estudo, ao fim do dia, não é hoje muito,
tantas que são as horas de permanência das crianças e jovens na escola. Planear,
fazer e cumprir horários, ter calendários com horas de estudo diário, datas de entrega
de trabalhos ou de testes e expô-los em locais bem visíveis de forma a saber a cada
momento o que se tem de fazer são ferramentas fundamentais. Avaliar diariamente se
se cumpriram ou não os objectivos propostos para esse dia, se se estudaram as horas
e as temáticas preestabelecidas e se o resultado foi positivo é outro aspecto central
do processo de estudo. Ao planificar, não esquecer de deixar sempre tempo para
revisões e — claro! — para brincadeira, relaxamento e descanso. O tempo de trabalho
diário depende da idade e da quantidade de TPC (há quem fale em 10 vezes o ano de
escolaridade, ou seja, 6º ano corresponde a 60 minutos de estudo diário).

3. Estabelecer objectivos. Sem se saber para onde se caminha não se consegue


caminhar a direito nem de forma determinada. Saber o que estudar, quando estudar,
de que forma e com que intenção é importante em qualquer processo de estudo bem
conseguido. A estratégia de definir objectivos, associada à planificação e horários,
permite reduzir ansiedades e tensões e aumenta a probabilidade do aluno estar
motivado, receptivo e concentrado.
4. Observar-se, conhecer-se, avaliar-se e esperar o melhor de si mesmo. Já referimos
como o autoconhecimento e o pensamento crítico são essenciais a um bom
estudante. Perceber porque não estuda, porque tira notas boas àquela disciplina e
más à outra, em que local estuda melhor, qual a estratégia que resulta mais com ele
para estudar... permitirá potenciar o que provoca sucesso e controlar o que é menos
eficaz. Depois, provocar mudanças que facilitem o desenvolvimento e a melhoria em
termos de estudo, terminando com uma avaliação cuidada dos resultados dessa
mudança («Passei a estudar na sala ao pé da mãe e do meu irmão mais novo porque
lá estou mais concentrado; todos estão a trabalhar, a mãe ajuda-me logo se tenho
alguma dúvida e distraio-me menos do que quando estudava sozinho no meu
quarto»). Assim se treina o aprender a aprender. Esperar o melhor de si (acreditando
que vai ser capaz de melhorar a nota, de passar de ano, de estudar mais) foi já
detalhadamente explicado noutros capítulos (1.2,
1.3 e 2.2) e, como vimos, é básico para que o melhor venha, de facto, a acontecer.

5. Ter um local próprio para o estudo. O ambiente físico em casa influencia


grandemente a eficácia do estudo e a qualidade dos TPC. Para começar, o seu filho
deve ter um lugar fixo e permanente para onde se dirija sempre que vai estudar.
Durante muito tempo os pais estiveram convencidos que era melhor mandar os filhos
sozinhos para o quarto estudar. No entanto, há hoje especialistas que recomendam
que o tempo de estudo e de TPC seja feito em família, juntando mãe ou pai e irmãos,
se os houver, todos centrados na aprendizagem. Os pais podem aproveitar este
momento para pôr contas em dia, fazer a lista de compras ou de tarefas para o dia
seguinte, escrever a amigos ou terminar um trabalho escrito. Os benefícios para as
crianças parecem ser ao nível da disponibilidade e acessibilidade dos pais para
apoiarem em problemas que surgem ou responderem a questões. Há maior
probabilidade que os filhos peçam ajuda se os pais estiverem logo ali, e
aqueles também se disporão mais a partilhar detalhes do seu trabalho e sentimentos
sobre a escola em geral. De igual modo, ter mais elementos da família, em
simultâneo, em volta de livros ou escrita, modela competências de estudo e de
trabalho. As acções dos pais, desta forma, demonstram que eles valorizam a
educação, e os filhos aprendem a valorizar a aprendizagem. O espaço, no entanto,
deverá ter algumas características:

• ser minimamente cómodo (mas não demasiado);


• não ter estímulos visuais nem auditivos distractivos (ver Capítulo 1.5);
• manter uma temperatura adequada (o calor produz inacção e sonolência e o frio
mal-estar e inquietação);
• ter luz natural, e quando tal não for possível, difusa (centrada sobre o trabalho e não
sobre os olhos, preferencialmente através de um candeeiro com uma lâmpada
azulada de 60 w);
• possuir mobiliário simples e com uma altura adequada ao tamanho da criança ou
jovem, para que este tenha os pés assentes no chão e as costas direitas e firmes, em
ângulo recto com o resto do corpo, apoiadas no espaldar da cadeira;
• ter boa oxigenação e boa ventilação (o cérebro consome muito oxigénio durante o
trabalho intelectual e se o ar está viciado o rendimento baixa);
• ser um local minimamente alegre, pois se for demasiado sombrio fará o aluno ter
vontade de o evitar.

Antes de se sentar o seu filho deve preparar e pôr tudo junto dele, todos os materiais
de que necessita. Assim que começar o seu filho não deve levantar-se para ir buscar
bolachas, falar ao telefone ou ir afiar o lápis, senão a concentração perde-se.

6. Ser limpo e estruturado. Os pais devem incentivar o filho a ser limpo e organizado
nos livros, cadernos, apontamentos,
para mais facilmente saber onde tem o material, onde procurar matéria, e perceber o
que escreveu. Estes aspectos de asseio exterior ajudam a estruturar o pensamento e
a ter maior clareza de ideias.

7. Organizar-se de forma a ter os trabalhos prontos antes das datas previstas. Deixar
para a última é sempre razão para tensões e imperfeições, e aumenta a probabilidade
de noitadas até às tantas, já «mortos de cansaço», ou impossibilita o terminar nos
prazos. Fazer os trabalhos a tempo e horas é uma das formas de manter o estudo e a
relação com a escola equilibrados e saudáveis.

8. Tomar notas. Para lembrar a matéria que se aprendeu, usando resumos, diagramas,
mapas de palavras ou frases, vocábulos principais... em formato que tenha mais
significado para o próprio. Depois resumir, sublinhar, inventariar as palavras mais
importantes, reescrever, parafrasear, ou seja, dizer o mesmo de outras maneiras. Por
base está a competência, também treinável, de ouvir com atenção nas aulas.

9. Rever notas e matérias atempadamente. fazer resumos mentais depois do estudo e


da concretização dos resumos escritos. Colocar-se questões sobre a matéria e
responder-lhes. Estudar ao longo do tempo e não tudo de uma vez de forma intensa e
concentrada. Começar pêlos resumos, palavras-chave, mapas e diagramas, e só
depois passar ao texto.

10. Pedir ajuda quando não consegue sozinho. Assim que se aperceba de dificuldades,
pedir apoio junto de pais, professores, colegas, explicadores. Pretende-se que o aluno
não passe muito tempo sem ajuda quando começa a ter problemas numa matéria,
para que as dificuldades se não agravem nem compliquem. Aprender a procurar
noutros livros que falem das mesmas temáticas é outro recurso importante.

11. Cuidar de si. Dormir o suficiente, não estar envolvido em mais actividades do que
aquelas que humanamente pode fazer, respeitar o seu corpo nos ritmos que lhe
impõe, na necessidade de exercício e de comida saudável (ver Capítulo 1.9).
E rir-se, rir-se sempre que possa, cultivando o humor, escolhendo os amigos mais
bem-dispostos, lendo livros divertidos e vendo filmes que disponham bem.

Não esquecer que, neste domínio, os deveres devem vir primeiro que os prazeres (é
uma maldade, não é?) e que o brincar ou o ver televisão devem ser consequentes, e
não antecedentes, do estudo ou dos TPC. Deve permitir-se à criança ou jovem algum
tempo breve de descontração ao chegar a casa —para lanchar ouvir um pouco de
música, conversar —, mas depois levá-la a cumprir os deveres e os horários e
objectivos de estudo pré-estabelecidos para cada dia. É que o aluno ainda está na
«onda» do estudo, que não deve ser quebrada antes de fazer os TPC. A seguir, sim, a
recompensa pelo esforço!

Se o seu filho se recusa a estudar ou fazer os TPC tem de estabelecer com ele um
contrato ou um conjunto de regras em que ! fique bem explícito o que ele deve fazer,
porque deve fazer, quando deve fazer, o que ganha se cumprir e o que perde se não
cumprir. Evite desgastar-se a dar diariamente ordens que não são cumpridas, ou a
discutir ou ameaçar. Estabeleça objectivos e comportamentos a cumprir negoceie-os
com o seu filho, e depois deixe-lhe a responsabilidade de escolher as consequências.
(Ver Capítulos | ! 2.5 e 2.6).

Quanto melhor o seu filho perceber porque tem bons ou maus resultados escolares,
melhores as percepções positivas que tem das suas competências e do seu
desempenho. Os pais devem ajudar o filho neste entendimento para que eles se
sintam motivados e tenham noção daquilo que está nas suas mãos melhorar.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Entender melhor a função e vantagens dos TPC.


• Perceber aquilo que não deve fazer quando ajuda o seu filho a fazer os TPC
ou a estudar.
• Saber aquilo que pode e deve fazer para apoiar o seu filho e o ajudar a
estudar melhor — não necessariamente mais, mas com maior eficácia.
2.10 Preparar para testes e exames

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Acha que o seu filho não sabe preparar-se para testes nem para exames.
• Pretende apoiar mais o seu filho nas alturas das avaliações, mas não sabe como
fazê-lo.
• Deseja saber mais sobre estratégias de estudo que preparem o seu filho para os
momentos de avaliação mais importantes.
• Os níveis de ansiedade do seu filho antes e durante os testes ou avaliações são
muito elevados, estando ele sempre muito nervoso e acabando por ter resultados
muito abaixo das suas capacidades e conhecimentos.

Os testes, exames ou avaliações finais caracterizam-se por servirem para perceber o


que o aluno sabe de uma determinada matéria, o que consegue generalizar a partir
das aprendizagens feitas e a capacidade de elaborar e reflectir sobre temas dados.
Teoricamente avaliam os esforços e a capacidade de estudo do aluno estando, com
frequência, inerente e implícita, a avaliação das suas capacidades de concentração,
de atenção, de memorização e de motivação para a disciplina.

Relembra-se que os melhores alunos não são necessariamente os mais espertos, mas
são provavelmente os mais autodisciplinados, responsáveis, motivados, organizados,
crentes em si e no seu controlo sobre os resultados escolares. Uma das características
dos alunos bem sucedidos é saberem preparar-se para testes e saberem realizá-los.
Na preparação e execução de testes e exames, ou de avaliações finais, estão em
causa um conjunto de estratégias que, associadas a outras descritas neste livro, em
particular no capítulo anterior, aumentarão a probabilidade de sucesso escolar do seu
filho. Vejamos os componentes mais importantes dessas competências.
1. Preparação a longo prazo. Preparar-se com antecedência, atendendo a datas e
planeando o estudo por forma a ter tempo para estudar calmamente toda a matéria e
para a rever. Tirar boas notas sobre a matéria, revê-las com regularidade, ler a
matéria à medida que é dada e manter-se sempre em «cima do acontecimento».

2. Organização de materiais. Juntar todos os materiais referentes a uma dada


disciplina ou temática; construir uma listagem dos pontos mais importantes a «cobrir»
para o teste ou avaliação; rever testes ou avaliações anteriores para perceber padrões
de formato e para identificar as áreas em que teve mais dificuldades. Questionar o
professor sobre os domínios de estudo acerca dos quais se concentrar mais, o tipo de
perguntas, etc.; antecipar as questões que virão para o teste — «Se eu fosse o
professor, o que é que perguntava?».

3. Planear um esquema e horário de estudo. Planear, pelo menos, uma semana de


preparação para um teste «normal» de meio de período e 3 ou 4 semanas para uma
avaliação de final de período ou de final de ano. Ser específico nessa planificação: ter
bem claro, na sua cabeça e num papel, quando estudar e o que estudar, cumprindo o
mais possível o planeado. Prever para o estudo mais tempo do que aquele que
realmente é necessário, deixando sempre oportunidade para uma revisão global final.
Estudar primeiro sozinho e depois rever com colegas é uma combinação com algum
sucesso. Manter os hábitos normais diários, evitando «saltar» refeições sem comer ou
dormir menos do que o habitual.

4. Fazer preparação psicológica. Estar preparado, em termos de matéria estudada,


começa por dar confiança ao seu filho. Sofrer da síndrome do sucesso, ou seja, ter a
atitude o mais positiva possível esperando o melhor, acreditando nas suas
capacidades e nos seus esforços pessoais, assim como no facto de o sucesso da tarefa
estar nas suas mãos. Ver o teste ou avaliação como um desafio positivo ao esforço e
ao estudo, e não como uma razão para nervosismo, pânico ou como um
momento para se testar como pessoa( aqui, de novo, o papel dos pais como redutores
de ansiedades em vez de seus potenciadores é fundamental, nomeadamente
ajudando os filhos quando eles não têm resultados tão bons, em vez de os punirem ou
«deixarem de amar» por isso). Não rever nem estudar imediatamente antes do teste.
Em vez disso, aproveitar esses momentos para relaxar, rir, descontrair. Em caso de
excessiva ansiedade, preparar-se em casa, nas noites anteriores, fazendo exercícios
de relaxamento antes de dormir (respirar fundo e lentamente, descontrair os
músculos depois de os contrair, apertando zona a zona do corpo e depois libertando a
tensão) associados a imagens que a criança ou jovem considerem positivas (estar
numa praia deserta cheia de palmeiras, com um mar límpido e a sentir o calor do sol e
a areia macia suavemente na pele... ou imaginar-se a entrar para o teste, a sentir-se
calmo e confiante, a ler as primeiras perguntas e a dizer para si: eu estudei, sei fazer
isto, vou fazer o melhor que for capaz, vou manter-me calmo, respirar lenta e
profundamente...). Usar os exercícios de relaxamento e imagética positiva mesmo
antes de entrar para o teste, preparando a mente para um bom resultado.

5. Ter especiais cuidados imediatamente antes do teste e assim que o receber. Se lhe
for possível escolher, o seu filho deve sentar-se num bom lugar. Está provado que os
da frente são os melhores. Deve logo escrever nome, data, etc., assim que receber a
folha de ponto. Ao receber o enunciado, deve ler rapidamente todas as perguntas
para perceber o tempo que poderá demorar e o valor atribuído a cada uma delas.
Será bom também que tome nota, logo, de alguma da informação que memorizou e
que aparece ali questionada, bem como ideias e palavras-chave de algumas das
respostas. Leia depois calmamente cada pergunta, com cuidado para não fazer
leituras incorrectas.

6. Responder às perguntas na ordem mais adequada. Responder primeiro àquelas em


que tem a certeza da resposta e
depois àquelas sobre as quais sabe qualquer coisa e pode tentar lembrar-se melhor e
desenvolver. Sobre as que desconhece, usar intuição e tentativas com base em
matéria que lhe pareça relacionada. Ir sempre avançando e respondendo às perguntas
que sabe, e só depois vir atrás tentar responder às que não sabe logo. Deixar uns
minutos no final para verificar e reler o trabalho feito, só mudando as respostas se
tiver a certeza de que cometeu um erro de leitura ou de interpretação, ou de que deu
uma resposta inadequada.

7. Ter uma atitude global positiva durante o teste. Continuar a pensar que estudou e
vai ser capaz de tirar uma boa nota. Dizer-se que vai fazer o melhor que puder. Ter
uma atitude firme e de crença pessoal. Se se sentir tenso, com as mãos a suar, o
coração muito acelerado, a respiração ofegante ou as letras a «dançar» em frente aos
olhos, ou ainda se de repente, após ler as perguntas, ficar «em branco», ensine o seu
filho a respirar fundo, fechar os olhos, imaginar sensações positivas, e lentamente ir
reencontrando a confiança e a calma através de um discurso interior positivo. Se, no
entanto, começar a acontecer com frequência o seu filho ficar tão «nervoso» nos
testes que não consegue fazê-los, ou os faz de forma insatisfatória apesar do estudo
realizado, tal significa que se encontra com níveis muito elevados de ansiedade e que
precisa da ajuda de um psicólogo especializado.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Estar atento à especificidade da preparação para os momentos mais importantes e


pontuais da avaliação, como os testes ou avaliações finais.
• Identificar uma lista de estratégias que tornam mais eficazes esses momentos, com
tudo o que lhes é inerente.
• Ajudar o seu filho a lidar com a situação avaliativa mantendo uma atitude de
sucesso e controlando a ansiedade e o nervosismo.
• Reconhecer as situações em que os níveis de ansiedade aos testes são tão elevados
que se tornam incapacitantes para o aluno e necessitam de intervenção psicológica
atempada.

2.11 Usar tecnologias: computador, Internet e televisão

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Tem dúvidas sobre os benefícios do uso do computador ou da televisão na


aprendizagem escolar.
• Coloca questões sobre as vantagens do uso da Internet na aprendizagem escolar.
• Tem dificuldade em «negociar» com o seu filho o tempo de utilização da televisão,
do computador e da Internet.
• Gostaria de saber quais os aspectos educativos da televisão, do computador e da
Internet.

A era tecnológica veio interferir, e fá-lo-á cada vez mais, com o ensino/aprendizagem,
em especial com o papel do professor como detentor do saber. Um mundo de
informação de acesso fácil chegou casas adentro e passou a tomar muito do tempo
livre dos nossos filhos. Com benefícios e malefícios, como tantas outras coisas da
vida, faz parte integrante das vivências, conversas, interacções e metodologias de
trabalho de muitas das crianças e jovens de hoje. Como pais, tentemos estar
informados e potenciemos o lado bom da televisão e do computador.

Os computadores

São muitos os pais que se questionam sobre se é adequado ou não o uso de


computadores para ajudar os filhos a estudar. Qual a resposta? Depende.
Os computadores estão aí e vieram para ficar, quer se goste ou não. Assim, é
importante que os seus filhos tomem contacto com eles — o que são, para que
servem, como se podem utilizar. Ter um computador em casa pode ser útil para
cumprir esta tarefa, mas prepare-se para exercer algum controlo sobre o seu uso! A
utilização excessiva do computador, em especial quando é usado, não para auxiliar
nos trabalhos e estudo, mas para fazer jogos sem qualquer conteúdo educativo, é tão
mau como o visionamento excessivo de televisão. As crianças que passam horas
«agarradas» ao computador não têm tempo para ler ou para conviver e brincar com a
família e os amigos. De forma que pode ser preocupante, vivem num mundo solitário,
em que a interacção com os outros é relegada para segundo plano numa idade em
que algumas das aprendizagens mais importantes são feitas no contacto com os
pares.

Se já tem um computador, considere a hipótese de ensinar o seu filho a trabalhar com


ele em momentos apropriados e determinados por si. Existem no mercado programas
destinados a crianças e jovens com objectivos educativos e muita qualidade. As
crianças gostam de aprender através destes recursos, dado que na maior parte das
vezes se revestem de um aspecto lúdico e são extremamente convidativos e
atraentes.

Existem actualmente diversos materiais didácticos em CD-Rom, como, por exemplo,


enciclopédias, dicionários, jogos pedagógicos, histórias, etc. Uns facilitam o
desenvolvimento de pensamento crítico e capacidade para resolução de problemas,
outros servem para ensinar a fazer processamento de texto, soletrar, fazer contas,
aumentar o vocabulário, a informação e a cultura geral, ou criar novas histórias.

Pode encontrar referências sobre este tipo de materiais em revistas dirigidas a pais
em alguns «sites» da Internet (Exemplo: http//:www.forum.pt).
O uso do computador tem alguns benefícios para o seu filho:

• Pode proporcionar um novo entusiasmo e motivação para a aprendizagem.


• Pode ajudá-lo a aprender ao seu ritmo próprio, oferecendo instruções
individualizadas, tanto para competências básicas, como para estudos mais
avançados.
• Não faz julgamentos negativos quando ele erra, o que nem sempre acontece com os
pais e os professores!
• Põe à disposição a informação que ele quer, quando quer.
• Instrui, divertindo, e permitindo à criança ou jovem uma atitude activa na
aprendizagem.

No ensino, os computadores são especialmente utilizados para familiarizar os


estudantes com:

• Elaboração de textos e relatórios, utilizando um processador de texto.


• Elaboração de cálculo numérico, utilizando uma folha de cálculo.
• Elaboração de gráficos para ilustrar dados através de pro-
gramas de gráficos.

! Ao usarem o computador, evite que os seus filhos brinquem com jogos violentos

! Estabeleça regras e horários para utilização do computador ! Aquando do uso do


computador certifique-se primeiro se o/ /a(s) professor(a)(s) do seu filho permite(m)
que os trabalhos sejam feitos utilizando o processador de texto.

A Internet

Resolvemos separar, da reflexão sobre os computadores, o acesso e utilização da


Internet, por aquilo que tem de específico
e dadas as questões que têm surgido sobre o seu uso por crianças e adolescentes.

As telecomunicações tomaram-se um recurso que elimina fronteiras. Usando um


modem instalado no seu computador pode ligar-se à Internet ou comunicar com
pessoas em qualquer ponto do globo através do email. Pode consultar uma biblioteca
noutro país, comprar livros por catálogo, visitar sala a sala os mais importantes
museus do mundo ou recolher informação para fazer qualquer tipo de trabalho.

O recurso à Internet é por isso, hoje em dia, uma forma rápida de conseguir
informação actualizada sobre qualquer tema. Aprender a procurar, seleccionar,
analisar e sintetizar informação são passos fundamentais para realizar qualquer
trabalho. Estas tarefas, importantes para qualquer processo de estudo, podem ser
praticadas procurando informação na Internet. Apesar da maioria dos «sites» estarem
em inglês (o que pode constituir uma vantagem para o desenvolvimento e
aprofundamento da língua em alunos que já consigam ler alguma coisa) existem já
alguns em português.

O uso do email pode ser uma boa forma de promover a escrita no seu filho, dado que
lhe permite, por exemplo, corresponder-se com amigos escrevendo mensagens.
Através do email pode mesmo entrar em debates sobre temas que lhe interessem,
estando ligado a redes sobre assuntos particulares — e há-os de todo o tipo, alguns
inimagináveis!

Estar ligado à Internet pode tornar-se caro, caso o seu filho passe horas a fio com o
telefone ligado; o acesso a todo o tipo de «sites», entre os quais os pornográficos, que
tanta discussão têm dado nos media, impõem a necessidade de estabelecer regras na
sua utilização. Limitar a quantidade e o tipo de informação que ele pode consultar na
Internet é hoje fácil, dado que os pais podem ter um código de acesso que impeça os
filhos de «viajar» sem a sua autorização. Pode ainda limitar o uso através de regras
claras de utilização negociadas entre vós (ver Capítulo 2.6).
Limite o uso/acesso à Internet através de códigos de acesso. ! Avise os seus filhos para nunca
revelarem na NET o seu número de telefone, morada, escola ou qualquer outra informação
pessoal, e para não responderem a mensagens obscuras ou ameaçadoras.

! Nunca permita um encontro face a face com um correspondente da NET, a não ser que seja do
seu conhecimento e com o seu consentimento.

A televisão

A televisão está presente nas casas de (quase) todas as famílias portuguesas. Se bem
que possa ter algumas vantagens, pode também ter efeitos nefastos no
desenvolvimento dos seus filhos. Vejamos cada um.

Benefícios:

• Permite dar a conhecer outras pessoas, povos, culturas, países... que de outra forma
seria impossível conhecer.
• Estimula a leitura em presença das legendas.
• Melhora a pronúncia de línguas estrangeiras.
• Informa e ensina de forma atraente.
• Diverte e descontrai.
• E uma companheira e babysitter fiel.

Malefícios:

O mais importante malefício tem aparecido associado à transmissão de violência. Os


estudos têm mostrado que as crianças mais expostas à violência na TV são aquelas
em que a violência tende a ser vista como um comportamento aceitável. Da mesma
forma, têm mostrado que essa exposição se traduz em percepções «negras» e
paranóides do mundo ou, como é
mais comummente conhecido, em imitações de comportamentos agressivos
visionados. Infelizmente a violência está presente em muitos programas de televisão
devido ao poder de mercado do seu forte impacte emocional. No entanto, ela não é
toda do mesmo tipo, por isso será importante ajudar o seu filho a distinguir as
diferenças entre a violência nas notícias, desenhos animados, filmes e documentários.
Procure exemplos sobre violência física, ataques verbais, violência sobre a
propriedade e privacidade e desmonte-os. Se a violência for apresentada como
solução para um problema, reflicta com ele sobre formas alternativas que os
participantes poderão encontrar visando uma solução «não-violenta». Analise com ele
o que aconteceria se as bombas, as capotagens de carro ou os tiros acontecessem na
vida real, e leve-o a perceber a construção forçada de sequências e de efeitos.

Outro dos impactes, menos referido mas igualmente importante, da TV prende-se


directamente com o sucesso escolar, já que as crianças que vêem muitas horas de
televisão tendem a ter tempos de atenção e concentração mais baixos que as outras
crianças ou jovens, e a terem uma maior probabilidade de experimentarem insucesso
escolar.

Algumas pistas para viver melhor com a TV:

Não coloque televisões no quarto do seu filho e tenha alternativas à televisão:

• Sempre que o ritmo de vida lho permitir, converse, brinque, passeie com o seu filho!
• Ofereça-lhe livros, revistas, jornais e incentive-o a lê-los.
• Faça com ele jogos e torne-lhe acessíveis actividades lúdicas que ele possa fazer
sozinho ou com amigos.
• Leve-o a fazer desporto, consigo ou com o resto da família.
• Proporcione-lhe material de pintura e de arte, abra-lhe horizontes divergentes.

A não ser que já estejam realmente viciados, são poucos os filhos que preferem ficar a
ver TV a aderir a uma proposta atraente de actividade conjunta com os pais...

Tenha ainda atenção aos seguintes aspectos:

• Seleccione os melhores programas de TV para o seu filho. Há programas


interessantes e educativos. Negoceie com ele essas escolhas. Nunca lhe permita ver
tudo, nem o que ele quiser. Fique com o comando — literalmente. Inquira sobre os
programas que ele gosta de ver e decida se aprova; se não, proponha-lhe um outro
programa e «venda-lhe o produto»...

• De vez em quando veja alguns programas em conjunto com o seu filho, em


particular os que ele mais aprecia. Discuta com ele o programa. Repare nos
comentários e perguntas que ele faz e tente dar respostas.

• Em filhos mais novos, quando houver legendas leia-lhas ou diga-lhe que se ele
quiser lhas pode ler alto, a si.

• Deixe junto ao televisor mapas de estrada ou mapas-mundo para poderem localizar


alguns sítios referidos nos programas.

• Ensine-o a analisar anúncios e a entender alguma falsidade das promessas


publicitárias.

• Fixe limites de tempo e horários para ver televisão.

Tenha por regra que a televisão é para ver depois de fazer os trabalhos de casa.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Reflectir sobre os benefícios e malefícios do computador, da Internet e da televisão.


• Conhecer alguns cuidados alternativos à sua dependência.
2.12 Lidar com as mudanças na família

Este capítulo interessa-lhe se:

• Você e o seu filho atravessam uma fase de transição familiar (nascimento de um


irmão/ã, separação ou divórcio dos pais, falecimento de alguém significativo) e
querem prevenir-se relativamente às possíveis consequências negativas da situação.
• O seu filho viveu (consigo) uma das situações de transição referidas e os resultados
escolares têm vindo, simultaneamente, a degradar-se.
• Conhece alguém a passar pelas situações referidas e quer apoiá-lo/a dando-lhe
conselhos.
• Como sabe que as situações familiares mais desafiantes e stressantes podem ser
mais equilibradamente geridas se previstas e antecipadas, prefere adaptar uma
atitude preventiva e não meramente remediativa.

Mudanças na família: Se não podemos molhar-nos duas vezes no


mesmo rio podemos, ao menos, nadar com segurança contra a
corrente?

O pomposo título que encima este texto pretende chamar a atenção para uma
realidade essencial: todas as famílias passam por fases de recomposição e
redefinição. Está sempre a acontecer qualquer coisa, mesmo na família mais
«estável» do mundo: alguém nasce, morre, muda ou perde o emprego, viaja ou
emigra, alguém começa a sentir e a pensar de outra forma. O rio nunca é o mesmo.
Como todas as crianças e jovens são barómetros com uma sensibilidade apuradíssima
para detectar qualquer alteração do clima familiar, os efeitos destas mudanças podem
vir a fazer-se notar no rendimento escolar. Sentindo-se só, preterida ou isolada, a
criança ou jovem
tenderá a perceber-se como nadando sozinha contra a corrente. Como proporcionar-
lhes segurança? Nestas alturas os adultos com funções educativas têm de actuar
como nadadores salvadores, quais Pamela Anderson e David Hasseldorf! Como fazer?
Primeiro atendendo à devida salvaguarda e atenção de que algumas destas situações
podem ter que levar a recorrer a pessoas exteriores. Incluem-se pessoas num espectro
de relações e profissões que vão da família alargada aos médicos, psicólogos, grupos
de jovens da paróquia, amigos, vizinhos, estruturas e instituições do Estado, enfim,
pessoas e estruturas cuja função e razão de ser última é precisamente a de serem
instâncias de ajuda. Pontual, episódica, dentro de limites específicos de competência,
localizada no tempo, profissional ou amadora, mas sempre ajuda. E não há que ter
medo, receio ou vergonha de pedir ajuda. Fazê-lo é humano e torna-nos (mais)
humanos. Vejamos então mais especificamente algumas linhas de orientação para
ultrapassar estas situações. À partida, uma ideia a reter é que, por muito chuvoso e
enevoado que o dia hoje esteja, no futuro, o sol e o céu azul voltarão a visitar-nos...

Aqui se deixam exemplos de duas mudanças frequentes — entre tantas! — e de


formas de lidar com elas.

O que as crianças precisam de ouvir nas situações de divórcio ou


separação

—Por vezes as crianças pensam que são as responsáveis por existir mal-estar entre os
adultos. É muito importante dizer-lhes (mesmo sendo já jovens) que essa é uma
situação na qual eles não foram implicados. E já agora, que eles não vão poder alterar
a situação, pois esta é da exclusiva responsabilidade dos adultos envolvidos.

— Informe as crianças sobre o que esperar: Quem se vai mudar e quando é que isso
se vai passar. Assegure-se
que o seu ex vai ter tempo no futuro para estar com a criança e manter-se envolvido e
a par da vida dela.

O que você pode fazer (o mais possível):

— Manter, o mais possível, a rotina diária a que criança está habituada: ela irá tornar-
se numa base de segurança e estabilidade.

— Cooperar e apoiar, o mais possível, a relação do seu ex com a(s) criança(s): assim,
irá ajudá-la a separar o que são os assuntos que os adultos têm para resolver (as suas
relações) e a — única — relação de facto indissolúvel do universo das relações
humanas: ser pai ou ser mãe.

— Se a criança passa férias e fins-de-semana com o outro adulto deixá-la — o mais


possível — levar objectos, brinquedos ou amigos de que goste e com quem se sinta
bem. No meio do que é percebido como uma tempestade de mudança, pequenos
abrigos seguros serão sempre bem-vindos.

— Fale com a criança ou jovem mantendo-se sempre controlado/a — o mais possível.


Leve-a a expressar os seus sentimentos por meio de histórias, desenhos, pinturas,
narrativas, música, conversas.

O/A novo/a irmão/ã

«Gosto muito do meu irmão bebé. Podemos devolvê-lo se ele não souber brincar
comigo?»

A «chegada» de irmãos — por nascimento ou por integração de famílias — é sempre


vivida com ansiedade pêlos que «já lá estão». Como minorar os efeitos da inevitável
sensação de se sentir relegado para segundo plano? Em termos de filme, tal
corresponderia à situação de uma estrela que depois de ter sido actor/actriz principal,
passa a desempenhar um papel que,
na melhor das hipóteses, só dará para um Oscar daqueles que são entregues na 2ª
parte da cerimónia de atribuição, conjuntamente com o do melhor filme estrangeiro e
o dos efeitos especiais. Deixam-se algumas orientações:

1. Ao pensar ter outro filho tenha em atenção a diferença de idades entre irmãos. Para
alguns especialistas a diferença mais susceptível é entre os 18 meses e os três anos.
Como no futebol, o sentido de oportunidade é essencial.

2. Prepare as crianças para a mudança. Com as crianças mais pequenas antecipe por
via de histórias ou da leitura de livros sobre o assunto as alterações que vão surgir. Se
ela tiver menos de oito anos fale-lhe contando a história numa perspectiva de uma
«outro/a» menino/a que vive uma situação idêntica. Aproveite para perguntar o que é
que o outro menino sente e pensa da situação «dele». Se não encontrar livros de
histórias tematicamente apropriados, aproveite para fazer um com a sua criança,
usando desenhos, texto e imagens elaborados pêlos dois (ver Capítulo 1.8). Caso se
trate de um adolescente, converse longamente sobre o assunto.

3. Veja os impactes e ondas de choque como ocorrências temporárias. Por vezes, nos
mais novos, eles são bem visíveis:
dão-se as chamadas «regressões», isto é, voltar a falar à bebé, enurese ou encoprese,
dificuldade em dormir, pesadelos. Habitualmente estas situações demoram 3 a 5
meses dando depois lugar ao sentimento de orgulho em «ser irmão/ã mais velho/a».
Nos adolescentes atente em comportamentos de agressividade, isolamento,
depressão ou insucesso escolar repentino.

4. Dê tarefas específicas para o(s)/a(s) mais velhos. As possibilidades dependem só da


sua imaginação, mas nada impede que efectue nomeações de «mãe/pai assistente»,
para ajuda nos estimulantes trabalhos de mudar fraldas e dar banho, ou de
professor/educadora com a tarefa de mostrar e ensinar ao bebé as «técnicas» de
brincar. Arranje maneira das interacções entre as crianças serem saudáveis e
criativas, distinguindo os papéis
entre eles. Uma das ideias mais recentes e de maiores implicações na perspectiva da
Psicologia Evolutiva diz respeito à posição na fratria (ou ordem de nascimento) como
determinante das características-base da «personalidade» que, nesta acepção, passa
a ser mais uma «interpessoalidade». Em conclusão:
como progenitor tenha sempre presente os irmãos como recurso e fundamento do
«ser pessoa» dos recém chegados (ver Capítulo 2.8).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perspectivar as fases de transição do ciclo de vida familiar, em particular nas


situações que envolvem divórcio ou separação dos progenitores e do nascimento de
irmãos/as.
• Ter em conta alguns dos recursos passíveis de serem utilizados nessas situações.
• Considerar algumas sugestões orientadoras relativamente às duas transições
descritas.

2.13 Escolher o futuro

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Quer ajudar o seu filho a fazer uma escolha vocacional.


• Gostava que o seu filho tivesse uma determinada profissão e não sabe se deve ou
não abordar o assunto.
• Quer saber o que pode fazer para desenvolver no seu filho a capacidade de tomada
de decisão face à escolha vocacional.
• O seu filho diz que quer deixar de estudar e não sabe o que há-de fazer.

Todos os pais, mais cedo ou mais tarde, preocupam-se com o futuro profissional dos
seus filhos e se questionam sobre a
forma de os ajudar a escolher uma área vocacional ou uma profissão. A decisão
vocacional é um aspecto importante na vida de qualquer pessoa, dado que condiciona
de certa forma o futuro.

Orientar o seu filho nesta decisão significa mostrar diversos caminhos, tornar
acessível a informação, acompanhá-lo ao longo do processo de decisão e assegurar
que o objectivo é atingido.

Os pais exercem uma grande influência na escolha vocacional dos filhos e, por vezes,
é natural que os filhos tendam a escolher a mesma profissão ou profissões
semelhantes às dos pais. A família pode, assim, orientar a escolha vocacional dos
filhos, mas necessita, por vezes, também, de socorrer-se da ajuda especializada de
psicólogos.

Escolher um agrupamento, área vocacional ou profissão

Os adolescentes têm a capacidade de escolher por si aquilo que desejam, e de fazer


mudanças nas suas vidas. O papel dos pais pode ser o de orientar esta escolha
ponderando com eles as consequências e as melhores soluções. Estes não devem
forçar uma decisão vocacional nos filhos mas sim orientá-la. É importante que o jovem
escolha algo que goste de fazer, mesmo contrariando a vontade da família, pois assim
estará motivado para estudar e terminar um curso ou profissão.

Fazer uma escolha significa tomar uma decisão de entre alternativas. A primeira
grande escolha vocacional surge na altura do 9º ano de escolaridade em que o seu
filho deverá escolher um agrupamento. Esta escolha é importante porque condiciona
as saídas profissionais e, consequentemente, o seu futuro profissional e pessoal.

Pode acontecer que o seu filho esteja certo do que quer escolher, mas pode também
acontecer que esteja indeciso. Neste
último caso é aconselhável que tenha com ele uma conversa agradável sobre os seus
interesses, aptidões e valores. Certifique-se que ele tem informação suficiente. É
impossível escolher entre duas coisas que não conhecemos bem!

Quando pensa comprar um carro e tem duas ou mais alternativas informa-se sobre o
preço, a cilindrada, o conforto, o espaço interior, o tamanho da bagageira, etc. Só
assim poderá fazer uma escolha ponderada. Da mesma forma o seu filho deverá estar
a par de toda a informação sobre os agrupamentos, as disciplinas, os cursos a que
dão acesso, as profissões e as diferentes vias de ensino.

Como desenvolver no seu filho capacidades para fazer uma escolha


vocacional

A escolha vocacional não é algo que possa centrar-se num momento, é antes um
processo que pode ser facilitado se tiver em conta os seguintes aspectos ao longo do
desenvolvimento do seu filho:

• Desenvolvimento do autoconceito
• Os interesses
• As aptidões
• Os valores

O «autoconceito» é a percepção que alguém tem de si mesmo, é aquilo que cada um


pensa de si. O autoconceito evolui à medida que o seu filho vai crescendo e depende
de uma série de factores tais como: a apreciação que os outros fazem dele, o
significado atribuído aos seus comportamentos e ao que os outros dizem dele.

Um «interesse» é a preferência por determinada actividade. Ao longo do


desenvolvimento do seu filho tem decerto
notado que ele revela mais interesse por determinado tipo de actividades e ainda que
estes interesses vão mudando. Ajudá-lo a perceber quais são os seus interesses pode
ser vantajoso para mais tarde poder fazer escolhas vocacionais mais ponderadas.

Tente observar qual o interesse mais marcado do seu filho em relação aos que a
seguir se indicam:

1. Interesse por actividades que envolvem pessoas.


2. Interesse por actividades que envolvem números, dados, factos, registos.
3. Interesse por coisas, máquinas, ferramentas, objectos, peças.
4. Interesse por ideias, arte, ciência, conceitos, problemas, temas da actualidade.

Ajude o seu filho a experimentar e a explorar todos estes tipos de actividades,


conversando com ele sobre as razões porque gosta de umas ou outras.

«Ter aptidão para», significa ter uma competência para fazer algo bem.

Existem diferentes tipos de aptidões. O seu filho pode ter uma aptidão especial para
fazer trabalhos manuais, para escrever, para a matemática, para relacionar-se com as
outras pessoas ou para fazer desporto. Estas aptidões podem não corresponder aos
interesses. Por exemplo, ele pode ter um interesse especial por cantar ou tocar um
instrumento musical, mas não ter uma aptidão especial para essa actividade. Os pais
podem ajudar os filhos a desenvolver aptidões relacionadas com as actividades pelas
quais se interessam. Embora haja aptidões que surgem de uma forma mais
espontânea, é possível desenvolver aptidões na sequência de treino ou prática.

Um «valor» é algo em que acreditamos e que privilegiamos em relação a outra coisa


ou ideia. Um «valor» significa algo que para nós é «válido».
Tente transmitir ao seu filho os valores em que acredita e que pensa poderem fazer
dele uma pessoa íntegra e feliz. Converse com ele tentando perceber quais os seus
valores, abordando, por exemplo, os seguintes temas: local onde gostaria de trabalhar
(no exterior ou no interior);
se gostaria de ter uma profissão de ajuda;
qual a importância que atribui ao ordenado na escolha da profissão;
se sente necessidade em se tornar alguém importante ou famoso e a fazer o quê;
se tem motivação para ser líder ou coordenar uma equipa de trabalho;
se possui motivação para trabalhar directamente com pessoas.

! A realização pessoal do seu filho não depende apenas do estatuto profissional que
vier um dia a alcançar, mas de muitas outras coisas tais como o seu bem-estar
pessoal e as suas relações familiares e sociais.

Quando o seu filho quer deixar de estudar

Querer deixar de estudar é algo que pode passar-se em alunos pertencentes a


qualquer classe social ou cultural.

Muitas são as razões para que isto possa acontecer. Uma delas pode prender-se com o
próprio sistema de ensino, face aos programas muito extensos com os quais os
professores têm dificuldade em entusiasmar os alunos.

Outra razão, geralmente a mais comum, está relacionada com o meio familiar e social
em que o aluno está inserido.

A destruturação e disfuncionalidade familiar, bem como a carência de afecto e a


dificuldade de comunicação entre pais e filhos, levam muitas vezes os alunos a
desinteressarem-se das actividades escolares. Muitas vezes os pais, vendo que os
filhos estudam pouco, acabam por ser um pouco punitivos o que tende a não facilitar
o estudo nem o empenhamento,
dado que cria um círculo vicioso: «Se não estudas és castigado/sou castigado por isso
não estudo.»

Outra situação que pode acontecer é o facto de os pais serem demasiado


superprotectores, retirando a possibilidade aos seus filhos de aprenderem a ter auto-
responsabilidade nas tarefas que são seu dever. (ver Capítulo 1.4). Outros pais
transmitem aos filhos expectativas demasiado elevadas para as suas competências
levando a que os filhos tenham sempre uma ideia negativa do seu desempenho
escolar.

O mais importante para desenvolver no seu filho a vontade de estudar é: conversar


com ele (ver Capítulo 2.1), elevar a sua auto-estima (ver Capítulo 1.2) e definir regras
(ver Capítulo 2.6). Se o seu filho disser que quer deixar de estudar, converse com ele
sobre o assunto tentando perceber quais as razões da sua decisão. Pondere com ele
as consequências. Tente fazê-lo ver que se não concluir o 9º ano não poderá tirar a
carta de condução, se não concluir o 12º ano não poderá ingressar no Ensino
Superior, se não quiser ingressar no Ensino Superior tem ainda outras vias de ensino.
Se ele estiver determinado tente que experimente primeiro trabalhar sem deixar de
estudar para que possa decidir com melhor conhecimento.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Orientar o seu filho na escolha de uma área, agrupamento, disciplina ou profissão.


• Ajudar o seu filho a desenvolver capacidades de tomada de decisão vocacional.
• Saber o que são o autoconceito, os interesses, as aptidões e os valores e que
importância têm na escolha vocacional.
• Perceber o papel de orientadores e guias, e não de ditadores, que os pais têm na
determinação vocacional dos filhos.
• Lidar com o facto de o seu filho dizer que não quer estudar mais.
2.14 Lidar com as mudanças na escola

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• O seu filho vai mudar de escola, de ciclo ou de professor/a.


• Receia a mudança dado que já teve experiências anteriores em que o seu filho
demonstrou ter dificuldade em adaptar-se facilmente a novas situações.
• Está preocupado com as grandes alterações que a entrada num novo ciclo escolar
vai trazer ao seu filho.
• O seu filho se mostra reticente, ansioso ou resistente face à mudança escolar que
vai viver.

Mudar é quase sempre exigente e muitas vezes difícil. Implica adaptações emocionais,
sociais, até físicas e de rotina, que colocam inúmeros desafios. É frequente
encontrarmos pais e mães preocupados porque o filho vai mudar de escola, de
professor/a ou de ciclo; porque vai transitar para formatos relacionais, pedagógicos e
de trabalho escolar divergentes dos que conhece; porque vai ver desmultiplicados os
professores e as matérias e intensificadas as horas de aulas e de estudo. Quantas
vezes as mudanças ligadas à escola causam stress, não só aos pais e mães
preocupados e atentos, como sobretudo às próprias crianças e adolescentes.

Ainda que algumas crianças pareçam ajustar-se facilmente, sem problemas visíveis, a
essas mudanças, sabe-se que a maioria experimenta algumas dificuldades.

Será assim importante que mães e pais desempenhem um papel positivo na redução
desse stress e no embate que as mudanças produzem, escudando possíveis impactes
negativos e ajudando a tarefa já complexa do professor (ver Capítulo
2.12). Mais, será fundamental que eles ajudem a tomar a criança ou jovem adaptável,
flexível e pronto a enfrentar mudanças — terá tantas ao longo da vida!
Crianças e jovens transitam de turma em cada ano que passa, muitas vezes mudando
também de professores, colegas, e até escola. O desejo de se integrar e ser aceite
está sempre presente no aluno, impondo-lhe esforços e adaptações. O primeiro ano
numa nova escola deve ser sempre visto como difícil, já que implica a moldagem a
um mundo totalmente desconhecido e a relação com tanta gente nova.

As adaptações difíceis

As causas das adaptações mais difíceis podem justificar-se perante histórias escolares
desagradáveis no passado, crianças/ /jovens pouco confiantes em si e mal preparados
para novas rotinas e separações, ou mães e pais ansiosos, que transmitem — verbal e
não verbalmente — medos e preocupações excessivas aos filhos. É então preciso
realizar um diagnóstico da situação.

Comece por tentar perceber aquilo que realmente se passa. Será que o seu filho — ou
você mesmo — se está a preocupar com um medo real? Será que é o seu próprio
comportamento, no que diz e no que mostra, que transmite ansiedade e pouca
confiança ao seu filho? Será que ele já não acredita, depois de experiências passadas
negativas, que tudo vai correr bem? Serão os colegas que o gozam? O/A professor/a
que é demasiado rígido/a e o amedronta? As expectativas e o discurso interno da
criança, jovem ou pais é negativo, esperando o pior? Há excesso de exigências? Há no
aluno sentimentos de vergonha por ser repetente? Indícios de desintegração social?
Violência dentro ou fora da sala?

Confronto com as dificuldades

Uma vez percebidas as razões, há que enfrentá-las com acções.


1. Relativizar e controlar as ansiedades e emoções difíceis. Tente que o seu filho — e
você mesmo — entendam aquilo que os preocupa como qualquer coisa passível de
ser controlada. Cientes de que as transições, pela sua universalidade e generalização,
são inevitáveis e necessárias, e até mesmo uma excelente fonte de aprendizagem e
desenvolvimento, deveremos esperar como normais os momentos de adaptação e as
possíveis alterações emocionais e comportamentais. Há que acreditar que a maioria
das mudanças, se bem apoiadas e calmamente enfrentadas, não são limitativas do
desenvolvimento da criança e do jovem, nem são experiências’traumáticas. Sabe-se
que, se bem que alguns alunos se ajustem aos novos contextos e às mudanças de
forma fácil e rápida, sem problemas aparentes, a maioria experimenta algum tipo de
dificuldades. A atenção ao nosso sentir e pensar permite-nos o autoconhecimento,
valioso suporte do controlo sobre nós próprios e a nossa vida.

2. Perceber como aliviar algumas das dificuldades de desajustamento. Desenvolva,


em casa, tarefas e conversas que preparem o seu filho para o que vai encontrar de
diferente e de novo. Estas acções deverão assegurar que se criam expectativas
positivas e antecipações boas, para que crianças ou jovens esperem o melhor, se
entusiasmem e desejem aquilo que está para vir. A confiança constrói-se com
antecipações positivas e com verbalizações optimistas. As descontinuidades serão
menores e menos gravosas se a criança ou jovem ouvir da família descrições
agradáveis e positivas dos acontecimentos e emoções que vai encontrar.

3. O processo de adaptação às mudanças deve começar cedo. A imagem agradável


da escola e da aprendizagem precisa ser construída mesmo antes de a criança iniciar
o percurso escolar. Este processo terá, de preferência, que implicar também a escola,
pelo que os pais a deverão estimular para suavizar
as transições, nomeadamente preparar visitas ao edifício, recreios, e se possível salas,
levando-a a conhecer previamente professores e colegas, director/a da escola, clima e
ambiente. Tal implica um processo interactivo entre pais, alunos e professores, e o
reconhecimento e consciência, da parte da escola e da família, de que as mudanças,
se preparadas, são mais suaves e menos problemáticas para todos. Neste ponto
particular mães e pais necessitam saber como a escola é, o que defende e porquê, e
partilhar com professores o conhecimento e compreensão que têm dos seus filhos e
das suas especificidades e necessidades. Há escolas que preparam vídeos sobre as
salas e actividades, material escrito de apoio sobre regras e filosofia de
funcionamento, ou organizam reuniões no final do ano anterior levando os alunos a
conhecer o novo espaço e contexto social com que vão lidar.

4. Dar apoio emocional. Face a dificuldades de adaptação à descontinuidade há que


conhecer os desafios específicos que as crianças ou jovens vão enfrentar — ter
consciência das experiências que vão ter e das competências necessárias para lidar
com elas. Assim conhecedores, pensar em formas activas para auxiliar os seus filhos
quando lidam com os desafios, as quais devem passar por apoio emocional e carinho,
bem como escuta atenta aos pensamentos e sentimentos envolvidos, a par da
observação do comportamento. No entanto, há que ter o cuidado de não reforçar os
comportamentos desajustados ou perturbados apresentados pelo filho, evitando
excessos de atenção quando os apresenta, e propondo alternativas. Por exemplo, mais
do que nunca o período de transição é uma ocasião vital para desenvolver cooperação
entre a escola e a família por forma a aumentar o ajustamento, o bem-estar e o
sucesso, e a reduzir as desadaptações. Há por isso que abrir canais de comunicação e
de diálogo partilhando, com sensibilidade, as experiências e emoções mais difíceis
que o aluno está a vivenciar, para as poder enfrentar e resolver.
5. Procurar apoio nas situações mais graves. Se as dificuldades de adaptação forem
muito intensas e se prolongarem no tempo (com sintomas como recusa em ir à escola,
tristeza profunda ou desmotivação intensa, começar a fazer chichi na cama, arranjar
artimanhas para faltar — do tipo vómitos, febres baixas, dores de cabeça ou de
estômago, birras — evidenciar terrores nocturnos, tiques que não possuía — como
roer as unhas, gaguejar — mostrar-se demasiado irritável, ou mantiver sempre
verbalizações muito críticas e negativas em relação a tudo o que se passa na escola),
então há que falar com os professores e, se vier a ser necessário, pedir apoio a um
psicólogo (ver Capítulo 3.3).

6. Associar aos novos locais, professores ou experiências momentos de prazer e


divertimento. Se tal não for possível directamente junto da escola — por vezes a
escola não oferece as melhores condições para essas emoções e acontecimentos
positivos — então há que, em família, levar o aluno a pensar em termos de situações
agradáveis que lhe aconteceram («Qual foi a coisa mais agradável que viveste hoje
na escola?») e a identificar aspectos bons, mesmo nas ocasiões mais difíceis
(«Realmente, quando a professora te disse que não te tinhas esforçado mesmo nada
poderia ter sido um pouco menos crítica, mas ao dizer que tinhas outra oportunidade
para refazer o trabalho mostrou que se interessa por ti e acredita nas tuas
capacidades»). Estas estratégias pretendem aumentar a descontracção e a confiança
dos alunos e diminuir-lhes as ansiedades, já que pô-los a pensar nos aspectos bons,
em qualquer circunstância, os ensina a relativizar as dificuldades.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Esperar e antecipar as dificuldades associadas às mudanças e transições escolares.


• Perceber o seu próprio papel, enquanto pai ou mãe, no surgimento e controlo das
ansiedades e antecipações mais negativas.
• Saber como lidar com essas situações e como ajudar a superar as adaptações mais
difíceis estimulando a cooperação escola-família e a relação apoiante junto do seu
filho.

2.15 Ensinar sem saber

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Entende pouco ou nada das matérias que o seu filho anda a estudar.
• Tem menos escolaridade do que aquela que o seu filho já atingiu.
• Aquilo que deu na escola quando era aluno nada tem a ver com o que o seu filho
aprende agora.
• Desejar saber como apoiar o seu filho no estudo sem ter de saber as matérias que
ele dá.

Muita coisa mudou desde que nós, pais, fomos estudantes — dos conteúdos ao grau
de exigência, das metodologias aos tipos de classificação. Alguns de nós nem
chegaram a ter hipóteses ou motivação para estudar até níveis escolares tão elevados
como os que o nosso filho já atingiu. Quantas vezes, ao tentar ajudá-lo no estudo, nos
confrontámos com matérias de que nunca ouvimos falar? Perguntamo-nos, então,
como poderemos auxiliá-lo se os exercícios de matemática são hieróglifos ou se nunca
na vida aprendemos francês?

Para além dos conteúdos

O apoio que poderemos dar ao nosso filho vai além dos conteúdos.
Independentemente dos conhecimentos escolares que temos, do nível de
escolaridade que atingimos, e do que sabemos ou não sabemos das matérias que
está a dar, podemos
orientá-lo e estimulá-lo a ser um aluno equilibrado e a aprender. Assim, o que é
realmente importante não é tanto o conteúdo do que ele aprende mas que:

• Nos interessemos vivamente pela sua vida escolar, pela sua aprendizagem, pêlos
seus resultados.
• Mostremos que acreditamos nas suas capacidades e esperamos dele todo o esforço
para atingir o seu melhor (ver capítulos 1.2 e 2.3).
• Estabeleçamos com a escola uma relação positiva e frequente (ver Capítulo 3.1).
• O auxiliemos para que tenha um bom local de estudo, num espaço organizado e
sem estímulos distractivos, estruture e cumpra um horário de estudo e corresponda às
exigências da escola (trabalhos de casa, material, etc.) (ver capítulos 2.11 e 2.12).
• O ajudemos a aprender estratégias de estudo, donde sobressaiam a leitura
concentrada e frequente, o sublinhar das ideias principais, o resumo, o colocar de
questões a si próprio, a antecipação e preparação atempada de testes (ver capítulos
2.12 e 1.5).
• O recompensemos e elogiemos pelo esforço e bons resultados (os melhores que for
capaz de dar), evitando conotar-lhe a aprendizagem com negatividade, críticas,
ansiedades, inseguranças.
• O rodeemos de um clima emocional e de um estilo de vida que o motive para
aprender, descobrir, explorar, saber — facilitando-lhe o acesso a livros (mesmo que de
bibliotecas públicas, se não houver dinheiro para os comprar), a computadores e
material informático educativo (se houver dinheiro para tanto), a exposições, museus,
bibliotecas, teatros (ver capítulos 2.14, 3.4 e 2.4).
• Lhe proporcionemos, se e quando necessário, apoio externo para se sentir feliz e dar
o seu melhor (explicador, psicólogo...) (ver capítulos 3.2 e 3.3).
• O entusiasmemos a ler, escrever e descobrir o mundo, levando-o a ter objectivos
que passem pela aprendizagem e a acreditar e saborear os seus mais pequenos
sucessos pessoais (ver capítulos 1.8 e 1.10).
• Lhe ofertemos todo o tempo de que dispusermos, de uma forma interessada e
atenta e () façamos sentir amado, comunicando-lhe admiração, paciência e respeito
(ver capítulos 2.1, 2.5, 2.6 e 2.7).
• Lhe proporcionemos um ambiente em que a saúde física e mental sejam apoiadas,
desenvolvidas e modeladas (ver Capítulo 1.9).
• Continuemos ao seu lado mesmo quando falha, tem insucesso, tem receios e
ansiedades ou é diferente da maioria dos outros (ver capítulos 1.11 e 1.12).
• O ajudemos, diariamente, a acreditar que a vida vale a pena e que os problemas
existem para os resolvermos (ver Capítulo 2.2).

Este capítulo serviu-lhe para:

• Ter uma visão global do que pode fazer para ajudar o seu filho a ser o melhor aluno
que as suas capacidades lhe permitirem.
• Apoiar o seu filho na aprendizagem, mesmo que nunca tenha dado nenhuma das
matérias que ele anda a estudar.
3DESENVOLVER AS POTENCIALIDADES DOS RECURSOS
HUMANOS

3.1 Estabelecer relações positivas entre a família e a


escola

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Considera essencial a relação entre a escola e a família para o sucesso escolar dos
alunos.
• Gostava de ter uma relação mais próxima, positiva e frequente com a escola que o
seu filho frequenta, mas não sabe bem como fazê-lo.
• Não gosta da forma como tem vindo a relacionar-se com a escola do seu filho, mas
desconhece como levar a cabo outras formas de relação.
• Não está satisfeitao com a forma como a escola onde anda o seu filho se relaciona
com as famílias dos alunos, e gostava de ajudar a pôr em prática formas mais
positivas.

Não há hoje dúvida que o bom êxito escolar está profundamente relacionado com a
participação positiva dos pais na educação dos filhos. Mas se bem que a maior parte
dos estudos mostrem que pais e mães querem envolver-se na vida escolar dos filhos,
muitos não sabem como fazê-lo, têm pouco tempo disponível, ou estão face a uma
escola que não estimula esse envolvimento.

Infelizmente, e durante muitos anos, a relação escola-família foi, no nosso país, uma
relação essencialmente negativa: a escola só chamava os pais quando os filhos
estavam a ter
problemas, só os convidava para actividades em que não tinham mais do que o papel
de espectadores (como as festas de Natal ou de fim-de-ano) e entendia como
ingerência a visita frequente de pais mais empenhados ou activistas.

Por seu lado, a família relacionava-se com a escola de uma forma crítica ou
desinvestida: apontando dados face a insucessos, indo à escola para «pedir contas»
quando vivia alguma insatisfação com métodos ou conteúdos escolares, e estando
ausente aquando das poucas convocatórias que a escola fazia. Claro que as atitudes
da escola e da família somadas provocavam uma espiral de mal-estar mútuo.

Mais do que nunca pais e professores sentem hoje que necessitam trabalhar em
conjunto para que as crianças tenham sucesso como pessoas e como alunos.

Nota-se um esforço progressivo para melhorar esta relação. Para si, mãe ou pai, aqui
ficam algumas propostas do que pode fazer para inverter esta tendência, em vez de
continuar cepticamente esperando que a escola tome a iniciativa dessa melhoria. Os
pais continuam a ser, apesar de tudo, os primeiros e mais importantes professores das
crianças. Como mãe ou pai o leitor/a tem um conhecimento profundo dos gostos,
necessidades, potencialidades e problemas do seu filho.

1. Comece por ter um papel activo na escolha da escola. As escolas podem investir de
forma diferencial na qualidade do ensino e as propostas dos pais — com todo o seu
apoio — serão invectivas para o melhoramento do seu funcionamento.

2. Pode juntar-se à Associação de Pais da escola, caso já exista, ou juntar energias


para começar a organizar uma. O regime jurídico permite e incentiva o associativismo
dos pais. Esta associação não deve ter um cariz «policiador» ou meramente crítico do
trabalho da escola, mas sim apoiar os professores, e a administração e direcção da
escola, de forma activa e positiva, no trabalho que estejam a realizar. O trabalho da
associação não deve limitar-se, como por vezes acontece, ao
melhoramento das condições do edifício, refeições ou tempos de apoio durante as
férias; ajude a associação a reflectir também em aspectos tanto ou mais relevantes
como a qualidade do ensino e a relação professor-aluno.

3. Esteja atento e envolva-se em todas as actividades que estimulem a participação


dos pais; algumas escolas enviam com regularidade para casa calendários ou jornais
que alertam a família para funções e formas de participação. Trabalhe com outros pais
para assegurar que a escola sabe qual a melhor forma de manter as famílias
informadas, nomeadamente organizando a comunicação de forma a que chegue
também a padrastos e madrastas, pais sem custódia dos filhos e outros adultos com
algum tipo de responsabilidade sobre a criança ou jovem, como é o caso dos avós,
dos explicadores e dos psicólogos. Se a comunicação mais formal ainda não existe,
ajude a escola nessa tarefa (edição de um jornal escrito ou de parede em que pais
possam também participar, circulares informativas das datas mais importantes,
relatos simples do rendimento, comportamento e progresso dos alunos, descrições
dos objectivos e métodos educativos, etc.). A linguagem deve ser simples, o formato e
a leitura fáceis, atraentes e breves, e a elaboração proveniente de gente diversificada.

4. Encoraje a direcção da escola a dispor de oportunidades para a participação


voluntária dos pais: apoio em aulas de computador ou natação, de leitura ou pintura,
possibilidade de ajuda nos recreios, auxílio na concretização de actividades ou
espectáculos artísticos. A realização de acontecimentos destinados à vinda dos pais à
escola deve ter em conta o máximo da sua participação, e não apenas o papel de
espectador. Ainda que muitos pais não queiram ou não possam envolver-se de formas
mais intensas, alguns estarão motivados e disponíveis e serão um óptimo exemplo
para outros mais passivos, desinformados ou receosos. Consoante as idades das
crianças e jovens as actividades de envolvimento deverão ir variando. Por exemplo,
para adolescentes em fase de escolha de futuros profissionais,
a realização de acções com pais exercendo diferentes profissões pode ser uma óptima
e positiva forma de envolvimento; para as crianças do 1º ciclo, uma participação
deste tipo terá outros objectivos, mas pode na mesma ser realizada convidando os
pais para virem falar do que fazem e do que gostam de fazer.

5. Estimule a escola do seu filho a ter um espaço físico (uma sala, se possível) para os
pais. Provocará oportunidades de encontro entre eles, de relação com os professores,
sítio para deixar informações e material, local onde se possam realizar acções de
formação para pais, etc. Se não houver espaço disponível na escola, preparar, pelo
menos, um canto de um hall ou entrada, com a ajuda de biombos e bancos com
almofadas para criar alguma privacidade e vontade de parar.

6. Organize, com outros pais, professores e a direcção da escola, sessões deformação


ou seja, uma pequena «Escola de Pais». Com a ajuda de especialistas em diversas
áreas (educação, psicologia, saúde, etc.) os pais podem ser convocados para vir à
escola aprender e discutir sobre diversas temáticas do seu interesse.

7. Sempre que falar com o professor ou professora do seu filho faça-o de uma forma
positiva e valorizadora do trabalho que ele ou ela está a realizar. Se tiver queixas a
fazer ou propostas de mudança, comece sempre por dizer coisas positivas e
elogiativas, e só depois, com tacto e sensibilidade, aponte dificuldades que o seu filho
está a sentir, e pergunte ao/à professor/a ou director/a de turma o que acha que,
juntos, poderão fazer. Depois informe-ao daquilo que já pensou sobre o assunto e veja
da adequabilidade, tendo em conta o ponto de vista da escola. Se respeitar os
professores e os fizer sentir valorizados, terá muito mais hipóteses de que o respeitem
e valorizem a si. A crítica e a culpabilização não levam longe.

8. Pergunte aos professores do seu filho aquilo que acham que pode, como mãe ou
pai, fazer em casa (em termos de actividades, materiais, etc.) para apoiar o seu filho
nas actividades
escolares. Combine, por exemplo, ler diariamente com ele à noite meia hora ou
construir em conjunto um projecto para a aula de Ciências — e, claro, cumpra o
acordado.

9. Não diga mal da escola nem dos professores frente ao seu filho. Se o fizer só estará
a colocá-lo numa posição crítica e difícil, a dar-lhe possíveis justificações para
possíveis insucessos e a abrir uma porta para que ele se desmotive e faça o mesmo. A
escola e o trabalho dos professores devem sempre ser respeitados, e quando pais e
alunos estão descontentes, deve ser estimulada uma forma equilibrada, calma e
positiva de melhorar a situação. Se tiver críticas, faça-as sempre pela positiva «Temos
que falar com a tua professora de Francês para ver formas através das quais se possa
aumentar o gosto dos alunos por esta língua». Em vez de «A tua professora de
Francês não tem jeito nenhum para levar os alunos a gostarem da língua!»

10. Esforce-se por conhecer o melhor possível os recursos da escola do seu filho, bem
como os materiais que recomendam. Esteja atento, leia as folhas que vêm da escola,
as notícias dos placars, todo o tipo de informações. E utilize esses recursos.

11. Lembre-se da regra dos três Cês na relação família-escola. Para se conseguir que
seja fértil e positiva tem de estar alicerçada na Confiança, na Cooperação e na
Comunicação.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Conhecer um conjunto de formas de envolvimento nas actividades escolares do seu


filho, através da ligação com a escola.
• Saber como pode trabalhar em conjunto com a escola para ajudar o seu filho nos
estudos.
• Perceber como pode estabelecer uma relação próxima, positiva e frequente com os
professores e responsáveis da escola que o seu filho frequenta.
• Melhorar relações de menor sucesso que tenha presentemente com a escola onde
anda o seu filho.

3.2 Escolher um explicador

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• O/A professor/a do seu filho o aconselhou a contratar um explicador mas não sabe
se o deve fazer.
• Questiona a eficácia de um explicador para que o seu filho passe de ano.
• Tem dúvidas sobre se o seu filho precisa ou não de ajuda externa.
• Quer escolher um explicador e não sabe que critérios ter em conta para o fazer.
• Ouviu falar no Apoio Pedagógico Acrescido e não sabe se deve recorrer a este
serviço antes de contratar um explicador.

Ajuda externa para estudar e aprender

Quase todas as crianças precisam de algum tipo de ajuda para estudar, fazer os
trabalhos de casa ou aprender novas coisas. O envolvimento dos professores e dos
pais é indispensável, mas por vezes não é suficiente e torna-se também necessário
recorrer a um explicador.

Quando tal acontece, o primeiro passo é reconhecer se o seu filho precisa, de facto, de
ajuda. Os motivos pêlos quais uma criança pode precisar de uma ajuda adicional
podem ser vários:

• Ter falta de tempo para lhe dar apoio ou a sua disponibilidade ser muito irregular,
não lhe permitindo uma ajuda continuada. Na maior parte das famílias actuais o pai e
a
mãe trabalham, deixando limitado o tempo disponível para estar com os filhos.

• Ter dificuldade em ajudar o seu filho em alguns temas específicos que ele não
consegue perceber sozinho. Alguns assuntos podem tornar-se difíceis para os pais
ensinarem (por exemplo, alguns aspectos de matemática, uma língua estrangeira ou
qualquer outro assunto).

• Não ter obtido até então muito sucesso com o apoio que lhe tem dado.

• O seu filho ter dificuldade em fazer os trabalhos de casa, não ter bom
aproveitamento escolar ou ter reprovado.

• O resto da família estar a ser prejudicada devido ao tempo excessivo que tem de
passar com o seu filho para o ajudar a estudar e a fazer os trabalhos de casa.

• O professor do seu filho ou o psicólogo da escola terem recomendado que ele fosse
acompanhado por um explicador.

• Os momentos em que ajuda o seu filho nos trabalhos de casa serem extremamente
desagradáveis e stressantes.

Tipos de ajuda

As fontes de ajuda podem ser várias: um acréscimo de atenção do professor, o Apoio


Pedagógico Acrescido ou um explicador. Quanto à escolha do tipo de apoio será
sempre melhor contactar com a escola e/ou Director de turma do seu filho e em
conjunto escolherem a melhor alternativa. O Apoio Pedagógico Acrescido é gratuito
nas escolas públicas, e existe para a disciplina de Matemática, Português e Língua
Estrangeira.

Tente perceber se o problema com o seu filho está principalmente ligado a aspectos
de falta de motivação, percepção negativa das suas competências, elevados níveis de
ansiedade, reacções emocionais no seio da família...; se for esse o caso deve
consultar primeiro um psicólogo (ver Capítulo 3.3). No entanto,
se as causas de um possível insucesso escolar lhe parecerem ser sobretudo
académicas e relacionadas especificamente com aspectos escolares, deve colocar a
hipótese de procurar um explicador. A escola do seu filho poderá ter apoios gratuitos;

comece primeiro por explorar este recurso. Para escolher um explicador peça a
opinião dos professores do seu filho ou de outros pais e amigos que tenham já
recorrido a explicadores. Como escolher um explicador?

• Marque um encontro face a face com o explicador. Não decida por um explicador
baseando-se apenas numa conversa telefónica.

• Defina em comum com ele os objectivos que querem atingir com as explicações. Só
desta forma poderá ir avaliando se está ou não satisfeito com o trabalho do
explicador.

• Considere a hipótese de as explicações serem em grupo, individuais ou mistas


(alternando os dois tipos). Tenha, no entanto, em consideração que um número
superior a três alunos é excessivo e não será muito proveitoso.

O preço também deve ser acordado inicialmente e é naturalmente mais barato se for
em grupo.

O facto de a explicação ser em grupo pode ser mais estimulante para a criança ou
jovem, mas se a necessidade de atenção/disponibilidade que o seu filho necessita for
grande, beneficiará mais de explicações individuais.

Marque uma reunião — se tal for viável — entre o explicador e o director de turma ou
professor do seu filho, de forma a que os três possam decidir a melhor forma de
melhorar o rendimento escolar.

Seja pontual no caso das explicações serem fora de sua casa. Assim estará a respeitar
as horas do explicador e a ensinar ao seu filho o que é a pontualidade e o respeito
pelo trabalho daquele professor.
Evite intrometer-se na condução das explicações se estas se realizarem em sua casa,
mantendo um ambiente calmo e silencioso, e evitando conversas longas ao telefone
ou irmãos a perturbarem as sessões.

Não aceite como explicador do seu filho um dos seus professores, por razões éticas e
de conflito de interesses.

! Uma vez começadas as explicações não espere milagres da | «noite para o dia». Na
verdade, deve até pôr em causa explicadores que prometem esses milagres.

! Não vale a pena pagar a um explicador para ele fazer os trabalhos de casa pelo seu
filho, o que se pretende é que ele o ensine a fazê-los.

! Ter explicações não deve ser um momento desagradável para o jovem. É natural
haver alguma ansiedade no 1º dia, dado que se encontra numa situação nova, mas se
esta ansiedade persistir e o seu filho fizer comentários negativos em relação às
explicações, procure primeiro perceber o que se passa e a confirmar-se algum
problema tente outro explicador.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Perceber se o seu filho precisa de ajuda adicional para melhorar o seu desempenho
escolar.
• Conhecer que tipos de ajuda pode procurar.
• Escolher um explicador tendo em conta as necessidades do seu filho.

3.3 Procurar a ajuda de um psicólogo

Este capítulo interessa-lhe particularmente se:

• Acha que o seu filho está com problemas e não sabe como ajudá-lo.
• Os professores ou o médico do seu filho aconselharam a que o leve a um psicólogo.
Sente que precisa de apoio especializado para lidar com o seu filho, com os seus
problemas pessoais, conjugais, ou com a relação entre as pessoas da sua família.

O que é um psicólogo

Tal como os médicos têm especialidades, também os psicólogos podem ser treinados
para trabalhar em educação, em terapia individual, familiar ou grupal, serem
especializados em orientação escolar e vocacional, em desporto, em saúde, em
organizações... Dentro de cada especialidade podem ainda adoptar formas diferentes
de trabalho, consoante os modelos teóricos em que se enquadram. Assim, os
psicólogos clínicos podem ter uma orientação teórica psicanalítica, comportamental
e/ou cognitiva, sistémica, etc.

Todos têm uma função: ajudar a reencontrar equilíbrios perdidos ou adormecidos,


levar a pessoa, a família ou o grupo a descobrir-se e a perceber-se melhor e,
sobretudo, a pôr nas mãos de cada um as estratégias e os instrumentos que as
ajudem a saber lidar com as suas características pessoais e com as situações e
opções, mais ou menos difíceis, das suas vidas.

Diferença entre um psicólogo e um psiquiatra

O psiquiatra é um médico, por isso lida com os problemas psicológicos da mesma


forma que lida com os problemas do corpo: para ele há uma causa interna, somática,
uma disfunção num órgão, e o tratamento faz-se com base em medicamentos. O
psicólogo não é médico e, por isso, pode cuidar dos problemas psicológicos
entendendo-os essencialmente como relacionais, de aprendizagem ou consequentes
de experiências de vida, ou seja, provocados por dificuldades na forma como as
pessoas se dão umas com as outras e pêlos padrões de comportamento, pensamento
e emoções que vão desenvolvendo. Assim, os psicólogos,
ora olham para os problemas como resultado de uma causa interior ao sujeito (o
adolescente tem uma depressão porque tem uma desordem hormonal que já está
presente há três gerações na sua família, por isso trata-se a desordem com
medicamentos e apoio clínico) ou como resultado de desequilíbrios nas experiências
de vida e nas relações com os outros (o menino tem dificuldades de atenção porque
os conflitos conjugais entre os pais o perturbam emocionalmente, não lhe permitindo
concentrar-se, pelo que o tratamento versará os problemas de relação, para chegar à
resolução da falta de atenção da criança).

Os psicólogos que tratam problemas de desajustamento deverão sempre ter em conta


esta dupla vertente (interna e externa, própria ao sujeito e própria do contexto
familiar, escolar,
institucional, cultural... em que se insere).

Nem todos os psicólogos tratam perturbações ou desajustamentos. Alguns são


vocacionados para ajudar as crianças, jovens ou adultos a fazer escolhas vocacionais
e escolares, a ver da adequabilidade das características próprias para uma dada
profissão, a perceber e a melhorar o funcionamento de uma organização ou
instituição, a ajudar desportistas a promoverem o seu rendimento, enfim, um sem-
número de especialidades. Daquilo que a si, pai ou mãe, lhe interessa, sobressaem,
assim, três tipos de psicólogos: de orientação (para ajudar o seu filho nas escolhas do
futuro), o educacional (para ajudar na integração e no sucesso escolar) e o terapeuta
ou clínico (para auxiliar a reencontrar os equilíbrios psicológicos e emocionais). Neste
capítulo falaremos apenas dos dois últimos, já que o de orientação já foi referido no
Capítulo 2.13.

«Ir ao psicólogo? Que horror!»

Um psicólogo não é alguém a quem se recorra apenas quando se está à «beira de um


ataque de nervos» ou em situação de grande perturbação emocional ou
comportamental. Não é também
alguém a quem se vai só quando sentimos que estamos a ficar doidos ou que o nosso
filho não é normal. Alguém dizia, com alguma graça, «Não seja doido, vá ao
psicólogo!».

Esta visão foi ultrapassada pelas mais recentes formas de fazer Psicologia, assentes
em filosofias de apoio, nomeadamente preventivas e de desenvolvimento de
competências, em detrimento das de remediação de males e tratamento de
perturbações já instaladas. Todos temos dificuldades na vida com as quais não somos
capazes de lidar sozinhos; todos temos uma ou outra característica pessoal que pode
ser melhorada, potenciada ou substituída para um melhor bem-estar. É normal termos
dificuldades que não conseguimos ultrapassar sem ajuda do exterior.

Para que seja possível, se tiver que levar o seu filho ao psicólogo, que ele não sinta
que é anormal, nem venha a ser estigmatizado e rotulado como uma criança ou jovem
perturbado, temos todos que trabalhar na construção desta nova imagem, para evitar
que a ida ao psicólogo precise de ser feita «às escondidas», rodeada de segredos,
culpas e vergonhas.

Como sei se o psicólogo que escolhi é bom?

Quando se trata de apoio psicológico a crianças e adolescentes, o psicólogo


educacional ou clínico deve sempre contemplar, com o cuidado e o sigilo devido, o
envolvimento dos familiares e da escola (professores e colegas), e não apenas o
trabalho individual com a criança ou jovem. Quanto mais nova é a criança mais esta
regra se aplica, já que os mais pequenos estão demasiado dependentes do contexto
relacional em que vivem para que a ajuda do psicólogo se possa fazer somente com
ele.
O apoio psicológico a crianças, jovens e famílias deve ser eficiente, pouco prolongado
no tempo e ter um pendor positivo, isto é, deve dar aos clientes novas formas de olhar
o seu
problema e de lidar com ele, em formatos que respeitem todos os envolvidos e
sejam eticamente correctos. Tenderá a ajudar a desenvolver, o mais
rapidamente possível, pessoas autónomas na resolução de futuras
dificuldades, para que, sozinhas, possam enfrentar outros problemas que a
vida lhes venha a trazer. Deve melhorar a comunicação entre os envolvidos e
aumentar o bem-estar, prevenindo problemas futuros. Deve ainda
desdramatizar o problema, evitando culpas excessivas e emocionalmente
violentas, que os pais tantas vezes sentem, quando os seus filhos não estão
bem. Apontar culpas não ajuda a aprender novas formas de estar na vida.

Como sei se o meu filho precisa de um psicólogo?

Se notar que o seu filho está:


— triste, deprimido ou infeliz
— agressivo e violento, seja física seja verbalmente
— não tem amigos
— verbaliza que não gosta de si mesmo e que é um incompetente
— diferente, isto é, que o seu comportamento mudou bastante
— com insucesso escolar
— excessivamente apático e desmotivado
— demasiado ansioso, nervoso ou tenso
— ainda a fazer chichi ou cócó na cama ou pelas pernas abaixo e já tem mais
de 4 anos
—excessivamente tímido, evitando contactos e situações sociais
— extremamente activo, não parando quieto nem sossegado
— medroso, fóbico ou obsessivo
—mais atrasado, em desenvolvimento e competências, do que os colegas da
sua idade
— com dificuldades, aqui não descritas, que estão a perturbar a normalidade da vossa
vida

Então, é possível que precise do apoio de um psicólogo.

Como sei se eu e/ou a minha família precisamos de apoio psicológico?

Se na família:

—há alguém violento — física ou verbalmente — negligente, ameaçador ou


abusador sexual
— existe alguém que se descontrola com frequência
— pai e mãe não estão de acordo sobre as formas de educar, e o exteriorizam,
frequentemente, frente ao filho
— a relação conjugal é conflituosa e/ou violenta
— há pessoas em ruptura ou grandes transições na família (nascimento de
uma criança, morte ou doença grave de um familiar, divórcio, desemprego... e
não parece haver forma de a família conseguir resolver sozinha esses
problemas estão presentes motivos para procurar um profissional de
psicologia).

De uma forma geral, os critérios mais importantes a ter em conta nesta


decisão são a intensidade do problema, a frequência com que ocorre, o
prolongamento no tempo e a gravidade, que se mede a partir das
consequências que o problema tem para o próprio, para os outros com quem
se relaciona, ou para a vida em geral, interferindo com o funcionamento.

Como procurar um psicólogo

Comece por ver se há um psicólogo na escola do seu filho. Se o que pretende é que
ele faça testes de orientação
escolar e profissional, então procure na escola um psicólogo com esta especialização.
Se pretende apoio para resolver um problema emocional, relacional, de
comportamento ou de insucesso escolar, confirme com o psicólogo de orientação da
escola se ele também tem preparação para lidar com estas situações. Se não, o mais
adequado será procurar um psicólogo que seja especializado em psicologia
educacional ou em psicoterapia, seja esta de pendor individual ou familiar. Se a escola
não tiver psicólogo, por vezes os professores conhecem alguns de quem podem dar
referências e contactos. Se não, fale com o seu médico de família ou pediatra da
criança. Por vezes estão ligados a psicólogos e conhecem bons profissionais. Se
continuar sem obter o contacto de um psicólogo em que a escola ou os médicos
confiem, tente as faculdades de Psicologia que possuem serviços de apoio à
comunidade (em Lisboa, Coimbra, Porto e Braga), as escolas de ensino superior
particular onde se lecciona psicologia (Instituto Superior de Psicologia Aplicada/ISPA,
ISMAG, Universidade Lusófona, etc.) e os hospitais pediátricos ou centrais. Algumas
Juntas de Freguesia, Centros de Saúde e Igrejas possuem serviços deste tipo.
Finalmente, restam o contacto com familiares e amigos que já tenham recorrido a
psicólogos — e que podem dar uma ideia da qualidade do serviço prestado — e a lista
telefónica, onde encontrará psicólogos que fazem clínica privada, e cujos recibos
podem ser descontados no IRS. No caso da escolha ser pela lista, procure um que se
intitule terapeuta familiar se achar que o problema envolve mais do que um elemento
da família, um psicólogo educacional ou escolar se achar que o problema se confina à
escola, e um psicoterapeuta se lhe parecer que o problema é de comportamento mais
geral. Alguns anunciam-se como especialistas de adultos, de crianças ou de
adolescentes, e deve ter em conta, também, esta particularidade. Como em qualquer
profissão, há técnicos mais competentes e outros menos qualificados: inquira sobre as
qualificações,
sobre o número antecipável de sessões, e compare preços de, pelo menos, dois
profissionais, antes de iniciar o trabalho de apoio psicológico.

Este capítulo serviu-lhe para:

• Saber quando, porquê e como procurar o apoio de um psicólogo.


• Ficar a conhecer qual o tipo de trabalho que um psicólogo pode fazer com o seu
filho, consigo e sua família.
• Desmistificar a visão anacrónica de que um psicólogo só se consulta quando alguém
está louco.
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/ Know I Cari do it: Building Your Child Self-Confidence. Canadian Mental Health Association
(Panfleto s/d).
Ensinar a Aprender

. 1. A Leitura e a Escrita, Madalena Conente


2. Normas para Apresentação de Trabalhos Científicos, arfos Ceia
3. Textualidade — Uma Introdução, Carlo Ceia
4. Avaliação — Uma Prática Diária, Ana Pais e Manuela Monteiro
5. Indisciplina na Sala de Aula — Como Prevenir? Como Remediar?, Ana Carita e Graça Fernandes
6. O Professor Um Minuto, Spencer Johnson e Constance Johnson
7. Motivação e Sucesso Escolar, A/ain Lieury e Fabien Fenouillet
8. Memória e Sucesso Escolar, Aiain Lieury
9. Os Trabalhos de Casa, Philippe Meirieu
10. A Família e o Sucesso Escolar, Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro
11. Redacção e Composição, Guy Jucquois
12. Como Ensinar a Estudar, Ana Carita, Ana Cristina Silva, Ana Filipa Monteiro e Teresa Paula Diniz
13. A Relação Pedagógica, José Morgado
14. Educar para o Optimismo, Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloro
15.O Desafio da Cidadania na Escola, Luísa Beltrão e Helena Nascimento
16. A Comunicação na Sala de Aula, Helena Vieira
17. Guia da Avaliação, Sa//y Brown, Phil Race e Brenda Smith
18. Saber Educar — Guia do Professor, Ramiro Marques
19. Educar com os Pais, Ramiro Marques
20. A Inteligência da Criança, A/ain Lieury
21. Optimismo e Inteligência Emocional — Guia para Educadores e Líderes, uís Miguel Neto e Helena
Águeda Marujo
22. Televisão, Família e Escola, Vlanue/ Pinto
23. O Director de Turma e a Relação Educativa, Ramiro Marques

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