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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 62

A Gênese dos Quatérnios


Robson Coelho Neves
CEFET/RJ
cnrobson@globo.com
Gerard E. Grimberg
Instituto de Matemática/UFRJ/RJ
gerard.emile@terra.com.br

Resumo

Na terceira seção do seu artigo “Teoria das Funções Conjugadas, ou Pares Algébricos; com um Ensaio Preliminar
Elementar sobre a Álgebra como a Ciência do Tempo Puro”, publicado em 1837 nas atas da Academia Real
Irlandesa, Willian Rowam Hamilton (1805-1865) apresenta uma álgebra para “pares numéricos” similar à álgebra
dos “números imaginários” (a expressão “número complexo” foi introduzida por Gauss em 1832, mas Hamilton
usava a expressão “número imaginário”) e mostra que existe uma identificação entre esses “números”
(Hamilton,[1837],p.107). Esta identificação entre pares numéricos (x,y) e números imaginários x + iy, é coerente
com os resultados geométricos obtidos por John Warren sobre representação e operações com linhas no plano,
publicados em 1828 no livro Um Tratado sobre Representação de Raízes Quadradas de Quantidades Negativas
(Warren,[1828]), o que significa dizer que Hamilton obtém uma descrição analítica do plano, simples e eficiente
para operar translações e rotações de pontos. No final da seção, Hamilton promete publicar posteriormente uma
teoria de “tripletos” (Hamilton os chamava de “triplets”) (x,y,z), dizendo inclusive que essa teoria seria uma
“extensão” da teoria dos pares numéricos (Id.,p.111). Hamilton revela no prefácio do seu livro Lectures on
Quaternions, publicado em 1853, que a motivação que o levou a pesquisar uma teoria de tripletos era o desejo de
obter uma representação para o espaço tri-dimensional, ainda desconhecida, que fosse uma extensão dos resultados
obtidos por John Warren para o plano (Hamilton,[1853],p.31). De maneira mais clara, Hamilton pretendia definir
operações com tripletos (x,y,z) de modo que seus resultados pudessem ser interpretados geometricamente via
rotações e translações no espaço. A primeira tentativa de Hamilton neste sentido ocorreu em 1830, mas somente em
16 de outubro de 1843 ele conclui, de maneira surpreendente, que não existia uma teoria algébrica para tripletos nas
condições que ele buscava. Na verdade tal teoria tinha por objetos os “quatérnios” (Hamilton os chamava de
“quaternions”) (x,y,z,w) e, além disso, não era similar a teoria algébrica dos pares numéricos, pois sua multiplicação
não era comutativa. O objetivo deste trabalho é fazer uma descrição de toda a seqüência do processo de gênese dos
quatérnios, identificando os obstáculos encontrados e analisando as conjecturas e experimentações adotadas por
Hamilton para superá-los.

Palavras-chave: tripletos, comutatividade da multiplicação, quatérnios.

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A Gênese dos Quatérnios


Robson Coelho Neves
CEFET/RJ
cnrobson@globo.com
Gerard E. Grimberg
Instituto de Matemática/UFRJ/RJ
gerard.emile@terra.com.br

1. Introdução

Vários trabalhos sobre a representação geométrica dos números imaginários já tinham sido
publicados desde o final do século XVIII . Segundo Crowe (Crowe,[1967],p.5), devemos creditar a
descoberta dessa representação a pelo menos seis pessoas que trabalharam de forma independente: Caspar
Wessel (publicada em 1797), Johann Carl Friedrich Gauss (publicada em 1831), Jean Robert Argand
(publicada em 1806), Abee Buée (publicada em 1806), C. V. Mourey (publicada em 1828) e John Warren
(publicada em 1828).
Inspirado pelos trabalhos de Warren sobre representação e operações com linhas no plano, Hamilton
constrói uma estrutura algébrica para os pares numéricos reais (x,y), similar à estrutura algébrica dos
números imaginários a+bi (a,b são reais, e i , a unidade imaginária, tem a propriedade i 2 = −1 ). Essa
construção, na medida em que permite as identificações entre (x,0) e x e entre (0,1) e i, possibilita também
a identificação entre pares numéricos (x, y ) (ou segmentos orientados com origem no ponto (0,0 ) e
extremidade no ponto (x, y ) ) e números imaginários x+yi, pois de acordo com a álgebra dos pares
numéricos, tem-se que (x,y)=(x,0)+(0,y)=(x,0)+(y,0)(0,1)=x+yi.
Esses resultados de Hamilton permitem que os problemas de translações e rotações de pontos (x,y)
(ou linhas orientadas) no plano sejam resolvidos de maneira simples e eficiente através de operações com
pares numéricos (ou números imaginários). Por exemplo, de acordo com essa representação, a translação
do ponto P = (x P , y P ) , segundo a direção e comprimento da linha com extremidades nos pontos
O = (0,0 ) e A = (x A , y A ) , pode ser obtida pela adição dos pares numéricos (x P , y P ) e (x A , y A ) e resulta no
ponto P' = (x P + x A , y P + y A ) , enquanto a rotação do ponto P de um ângulo positivo θ pode ser obtida pela
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multiplicação dos pares numéricos (x P , y P ) e (cos θ, senθ ) e resulta no ponto
P' ' = (x P . cos θ − y P .senθ, x P .senθ + y P . cos θ ) .

Hamilton pensou ser natural esperar que existisse uma estrutura algébrica similar a dos pares
numéricos capaz de tratar os problemas de translações e rotações de pontos (x,y,z) do espaço (ou
segmentos orientados com origem no ponto (0,0,0 ) e extremidade no ponto (x, y, z ) ) a partir da adição e
multiplicação, respectivamente, com a mesma simplicidade e eficiência. Raciocinando por analogia,
identificou os trios numéricos reais (x,y,z) com as expressões trinômias x+yi+zj (j é uma unidade
imaginária que, tal como i, tem quadrado igual a -1) e tentou definir uma adição e uma multiplicação nos
moldes que pretendia. Hamilton não teve problemas com relação às translações pois, como é fácil ver, o
ponto Q = (x Q , y Q , z Q ) pode ser transladado segundo a direção e comprimento da linha com extremidades

nos pontos O = (0,0,0) e B = (x B , y B , z B ) a partir da adição (similar à adição de pares numéricos) entre os
pontos (x Q , y Q , z Q ), (x B , y B , z B ) e resulta no ponto Q' = (x Q + x B , y Q + y B , z Q + z B ) . A questão das rotações, ao
contrário, demandou grandes dificuldades, visto que na multiplicação de dois tripletos sempre surge o
produto ij, um problema que Hamilton só conseguiu resolver após algo em torno de dez anos de tentativas.
Com exceção de Warren, todos os outros cinco pesquisadores que obtiveram uma representação
geométrica para os números imaginários tentaram, sem sucesso, obter uma expansão desses resultados
para o espaço. Vale dizer que Wessel mostra no seu livro como operar rotações de pontos no espaço em
torno dos eixos “imaginários” (os quais denotava por ηr e εr ), mas não mostrar como operar rotações em
torno de eixos de uma maneira geral. Segundo Crowe (Crowe,[1967],p.8), a razão para isso “é que a
definição dos produtos ηε e εη envolvem sérias dificuldades matemáticas...”, ou seja, Wessel também
se deparou com o problema do fechamento da multiplicação (para ele dos objetos do tipo x + yη + zε ).
Passemos agora a analisar as conjecturas utilizadas por Hamilton para definir uma multiplicação de
tripletos e interpretar essa operação em termos de rotações no espaço.

2. As Conjecturas de Hamilton Sobre a Multiplicação de Tripletos


Antes de se deparar com o problema do produto ij e experimentar conjecturas algébricas para
superá-lo, Hamilton fez uma tentativa geométrica para definir uma multiplicação capaz de operar rotações
de pontos no espaço. Apesar de não ter obtido êxito nessa tentativa, começaremos a analisar o processo de

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gênese dos quatérnios a partir dessa conjectura geométrica, até porque ele a utiliza para validar suas
conjecturas algébricas.

2.1 Conjectura Geométrica


No prefácio do livro Lectures on Quaternions (publicado em 1853) Hamilton revela que sua
primeira conjectura sobre a multiplicação de tripletos, feita em torno de 1830, era de caráter geométrica e
baseava-se no seguinte resultado publicado por John Warren em 1828 (referência dada no resumo) sobre a
representação e operações de “linhas retas” no plano: (Warren [1828],p.21) O produto de duas linhas
retas resulta numa linha reta que é coplanar com as linhas retas fatores, têm comprimento igual ao produto
dos comprimentos das linhas fatores e inclinação igual à soma das inclinações das linhas fatores em
relação à linha unidade.
A multiplicação de pares numéricos definida por Hamilton estava de acordo com esse resultado, pois
dados dois pares numéricos (r cos θ, rsenθ ) e (r ' cos θ' , r ' senθ') , identificados com duas linhas retas de
comprimentos r e r ' e inclinações θ e θ' , respectivamente, sua multiplicação resulta no par
(rr' cos(θ + θ'), rr' sen(θ + θ')) que é identificado com uma linha reta de comprimento rr ' e inclinação θ + θ' .

Baseado no resultado de Warren, Hamilton pensou na seguinte conjectura para rotações no espaço:
“Como as linhas retas no espaço são somadas de acordo com as mesmas regras com as quais são
somadas no plano, elas também poderiam ser multiplicadas de acordo com as mesmas regras com as quais
são multiplicadas no plano, ou seja, multiplicando seus comprimentos e somando seus ângulos polares.”
(Hamilton,[1853],p.39)
Sugestionado pelos resultados obtidos para o plano, Hamilton conclui que sua conjectura poderia
ser pensada via tripletos da seguinte maneira: (Id.)
Se representarmos dois tripletos ou linhas do espaço em coordenadas esféricas (Hamilton não usa a
expressão “coordenadas esféricas”) por
   
   
r cos θ , rsenθ cos φ, rsenθ sen φ e
 123 14243 14243   123 14243 14243  r ' cos θ ' , r ' senθ ' cos φ ' , r ' senθ ' sen φ '
 x   x' 
 y z   y' z' 

o seu produto, também em coordenadas esféricas, deverá ser o tripleto


 
 
1r ' '
424 cos θ ' ', r
3 144244 ' ' senθ ' ' cos φ
3
' ', r
1
' ' sen
4 4
θ
2
' ' sen
4 4
φ
3
' '  ,tal que r ' ' = rr' , θ' ' = θ + θ' e φ' ' = φ + φ'.
 x '' 
 y '' z '' 

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Hamilton observa que, em “coordenadas retangulares”, a expressão para x ' ' na multiplicação de
1 1
tripletos é x ' ' = xx '−(y 2 + z 2 )2 (y '2 + z '2 )2 , mas nada fala sobre as expressões para y' ' e z' ' , apenas
comenta que estas não contrariam a multiplicação de pares numéricos, ou seja, essa multiplicação abrange
a multiplicação de pares numéricos (x,y) caso estes sejam vistos como tripletos do tipo (x,y,0). (Id.)
Embora essa multiplicação esteja de acordo com sua conjectura geométrica, Hamilton observa que
deve abandoná-la, pois a mesma “é inconsistente com o principio distributivo” (Id.), uma das propriedades
da teoria dos pares numéricos que ele pretendia preservar. Parece que tal conclusão fez com que Hamilton
não publicasse essa tentativa integralmente. (Id.)

2.2 Conjecturas Algébricas


Hamilton adota o modelo x+iy+jz para um tripleto (que é identificado com um ponto (x,y,z) ou
uma linha orientado do espaço) nas suas argumentações algébricas ( x,y,z são números reais, i e j são
raízes quadradas de -1 e, em termos de rotações no plano, assim como a multiplicação por i2 resulta numa
rotação dupla de um “ângulo reto no plano xy” , a multiplicação por j2 resulta numa rotação dupla de um
“ângulo reto no plano xz”. (Id.,p.44)) e o seguinte procedimento para analisar suas conjecturas
algébricas: lança uma conjectura sobre o produto ij de modo a fechar a multiplicação, experimenta essa
conjectura num produto algébrico de tripletos (inicialmente usa tripletos particulares) e verifica se a
multiplicação assim definida está de acordo com sua conjectura geométrica.
Ao multiplicar dois tripletos a+bi+cj e x+yi+zj, considerando válidas as propriedades operatórias
dos pares numéricos, Hamilton conclui que: “Parece natural assumir que o produto é (ax-by-
cz)+i(ay+bx)+j(az+cx)+ij(bz+cy), mas o que fazer com ij? Deveria ser da forma α+iβ+jγ?”
(Hamilton,[1843],p.2)
Uma vez identificado o problema, acompanhemos as argumentações de Hamilton.
2.2.1 ij = ± 1
Hamilton experimenta essa conjectura ao observar que o quadrado de ij deve ser igual a 1, pois

(ij)2 = (ij)(ij) = i( ji ) j = i(ij) j = (ii )( jj) = i 2 j2 = (− 1)(− 1) = 1 . Para analisá-la, considera uma multiplicação
particular: a de um tripleto por ele próprio (isto é, o quadrado de um tripleto).
(a+ib+jc)(a+ib+jc) = a2-b2-c2+i2ab+j2ac+ij2bc.

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Trocando ij por ±1 , obtém
(a+ib+jc)2 = (a2-b2-c2±2bc)+i2ab+j2ac.
Hamilton descarta essa hipótese por não satisfazer a sua conjectura geométrica, mais exatamente, o
comprimento do produto de duas linhas não é igual ao produto dos comprimentos das linhas fatores. Essa
conclusão significa que tal multiplicação não preserva a “lei dos módulos”, ou em símbolos, que a
igualdade (Id.)

2
(a 2
)( ) (
+ b 2 + c 2 a 2 + b 2 + c 2 = a 2 − b 2 − c 2 ± 2bc ) + (2ab )2 + (2ac )2 .

não é verdadeira.(Id.)

2.2.2 ij = 0
Hamilton observa que a lei dos módulos é satisfeita nessa mesma multiplicação (quadrado de um
tripleto) caso despreze o termo ij2bc, ou seja, caso conjecture que ij = 0. Vejamos.
De fato, como é fácil verificar,
2
(a 2
+ b 2 + c 2 )(a 2 + b 2 + c 2 ) = (a 2 − b 2 − c 2 ) + (2ab ) + (2ac )
2 2

Hamilton também observa que a linha produto tem inclinação igual à soma das inclinações das
linhas fatores.
Baseados na figura abaixo, façamos uma comprovação dessa observação. (Ressaltamos que
usaremos flechas para representarmos “raios vetores” (ou tripletos), embora Hamilton só tenha utilizado
esta representação em 1866 no seu livro Elements of Quaternions.)

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De fato, se considerarmos que α 1 = α 2 = α = ângulo formado pelos “raios-vetores dos pontos a,b,c”
com o “semi-eixo positivo dos x”, θ = ângulo formado pelo raio-vetor do ponto a2 - b2 - c2 ,2ab,2ac
com o mesmo semi-eixo e aplicarmos o Teorema de Pitágoras na figura.3, teremos que

b2 + c2 (2ab)2 + (2ac)2 4a 2 b 2 + 4a 2 c 2
tgα = e tgθ = = ,
a a 2 − b2 − c2 a 2 − b2 − c2

de onde podemos concluir que tg(2α) = tgθ.


Hamilton abandona essa conjectura, declarando que considerou a hipótese ij = 0 “estranha e
desconfortável”. (Hamilton,[1843],p.3)

2.2.3 ij = -ji = k
Hamilton observa que poderia fazer o termo estranho desaparecer do produto anterior caso
considerasse a “suposição menos radical” ij = -ji = k , uma suposição que, segundo ele, não lhe era
estranha. (Hamilton,[1843],p.45).
Para analisar essa hipótese, Hamilton considera um produto mais geral, porém ainda particular, de
dois tripletos com as mesmas coordenadas retangulares b e c. Vejamos o que ele obtém:
(a + ib + jc )(x + ib + jc) = ax − b 2
− c 2 + i(a + x )b + j(a + x )c + ijbc + jibc
= ax − b 2 − c 2 + i(a + x )b + ijbc − ijbc
= ax − b 2 − c 2 + i(a + x )b + j(a + x )c.
Como no caso anterior, Hamilton observa que aqui também vale a lei dos módulos, ou seja,
2
(a 2
)( ) (
+ b 2 + c 2 x 2 + y 2 + z 2 = ... = ax − b 2 − c 2 ) + [(a + x )b ]2 + [(a + x )c]2 ,
e que a inclinação da linha produto é igual a soma das inclinações das linhas fatores. Baseados na
figura abaixo, façamos uma comprovação dessa observação.

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De fato, fazendo α 1 = ângulo formado pelo raio vetor do ponto a,b,c com o semi-eixo positivo dos
x, α 2 = ângulo formado pelo raio-vetor do ponto x, b, c com o semi-eixo dos x e θ = ângulo formado
pelo raio-vetor do ponto ax - b2 - c2 ,(a+x)b, (a+x)c com o mesmo semi-eixo, podemos constatar que
tg(α1 + α 2 ) = tgθ .

Ainda que essa multiplicação de tripletos não seja geral, Hamilton conclui que a hipótese ij = -ji é
de fato correta , embora não tenha obtido, por essas argumentações, nenhuma “informação sobre o valor
de k” .(Id.) (Embora também contrarie a propriedade comutativa, algo que ele pretendia preservar),

2.2.4 k = 0 Numa Multiplicação Geral – E Surgem os Quatérnios!


Partindo finalmente para uma multiplicação geral de tripletos e considerando ij = -ji, Hamilton
obtem
(a + ib + jc)(x + iy + jz ) = (ax − by − cz ) + i(ay + bx ) + j(az + cx ) + ij(bz − cy ).
Fazendo k=0,
(a + ib + jc )(x + iy + jz ) = (ax − by − cz ) + i(ay + bx ) + j(az + cx ) .
Ao verificar se a lei dos módulos é satisfeita, ou seja, se a igualdade

(a 2
)( )
+ b 2 + c 2 x 2 + y 2 + z 2 = (ax − by − cz )2 + (ay + bx )2 + (az + cx )2
é verdadeira nesse caso, Hamilton conclui (como é fácil ver) que “Não, o primeiro membro excede o
2
segundo por (bz − cy ) ” (Id.) . Em símbolos, isso significa que:

(a 2
)( ) { }
+ b 2 + c 2 x 2 + y 2 + z 2 − (ax − by − cz )2 + (ay + bx )2 + (az + cx )2 = (bz − cy )2 .
A diferença (bz-cy)2 foi fundamental para que ele percebesse como resolver definitivamente o
problema com o produto ij.
“Mas este é (a diferença (bz-cy)2 ) justamente o coeficiente de k no desenvolvimento do produto
(a+ib+jc)(x+iy+jz) se admitimos ij = k e ji = -k, como antes”.(Id.)
“E aqui me veio a idéia de que devemos admitir, de alguma maneira, uma quarta dimensão para o
espaço com o propósito de calcular com tripletos; ou transferindo o paradoxo para a álgebra, que devemos
admitir um terceiro símbolo imaginário k, distinto de i e j, mas igual ao produto deste (nesta ordem); o que
me levou a introduzir quaternions tais como a+ib+jc+kd ou (a;b;c;d)”.(Id.)
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Não bastasse a surpresa dos resultados que Hamilton obtem, também é surpreendente saber que a
solução lhe ocorre quando caminhava com a esposa numa praça da Irlanda, no dia 16 de outubro de 1843,
momentos antes de presidir uma seção na Academia Real Irlandesa (Hamilton descreve esse momento
numa carta para o filho Willian Edwin Archibaldi, datada de 1865, um ano antes do seu falecimento)

3. Multiplicação de Quatérnios
Apesar de ter definido algebricamente a multiplicação de quatérnios, Hamilton não sabia ainda
qual era a natureza de k. Considerando então que a multiplicação de quatérnios respeita a lei dos módulos,
ji = -ij e é associativa, Hamilton conclui que k representa uma linha orientada de módulo 1, é raiz
quadrada de -1 e que, tendo a mesma natureza de i e j, geometricamente, tem direção perpendicular às
direções de i e j.

De fato isto ocorre, pois

2 2 2
k = ij = i . j = 1.1 = 1
e k = ij.ij = i(−ij) j = −i .i = −(− 1)(− 1) = −1 .

A partir dessa interpretação geométrica para i,j e k, Hamilton conclui que a “forma trinomial” ou

“tripleto imaginário” ix + jy + kz pode ser interpretado geometricamente como uma linha orientada (com
origem em (0,0,0) e extremidade no ponto (x,y,z) ) no espaço ou um ponto de coordenadas retangulares
x,y,z do espaço e, consequentemente, que “...o produto de duas linhas no espaço poderia ser expresso por
um quatérnio...” (Hamilton,[1853],p.47). Na figura abaixo ilustramos a interpretação geométrica de
Hamilton para um tripleto imaginário ix+jy+kz.

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Como conseqüência das definições de i,j,k e das propriedades da multiplicação de quatérnios (a única
propriedade que deixa de valer é a comutatividade da multiplicação), Hamilton conclui que ik = iij = (-1)j
= -j, kj = ijj = i(-1) = -i, e assim como ij = -ji, deveria ser verdade que ki = j e jk = i (Hamilton,[1843],p.3).
De posse dessas regras para i,j,k, Hamilton conclui que a multiplicação de duas linhas do espaço tri-
dimensional (via quatérnios) deve ser feita da seguinte maneira:

(ix + jy + kz )(ix '+ jy'+ kz') = i 2 xx'+ijxy'+ikxz'+ jiyx '+ j2 yy'+ jkyz'+ kizx'+ kjzy'+ k 2 zz'
= ... = (− xx '− yy'− zz') + i(yz'− zy') + j(zx '− xz') + k (xy'− yx ')
1424 3 1 424 3 1424 3
x '' y '' z ''

= (− xx '− yy'− zz') + ix ' '+ jy' '+ kz' '.

Observemos que quando o termo − xx'− yy'−zz' é diferente de zero, o produto das linhas é um objeto do
espaço de dimensão quatro, e esse é um indício de que a interpretação geométrica da multiplicação de
quatérnios via rotações de linhas (ou pontos do espaço) não é algo simples. O próprio Hamilton só
esclarece esta questão em 1844 no artigo On Quaternios, um ano após a descoberta dos quatérnios.

Por não ser o objetivo deste trabalho, diremos apenas que a rotação da linha β = xi + yj + zk (ou o ponto

(x,y,z)) de um ângulo positivo a , em torno da direção da linha unitária α = ai + bj + ck , é obtida, segundo


Hamilton, pela seguinte multiplicação de quatérnios:

 a  a   a  a 
 cos +  sen α .β. cos −  sen α 
 2  2   2  2 
.

4. Conclusão

Como vimos, ao tentar obter uma ferramenta capaz de operar rotações no espaço Hamilton se depara
com o seguinte obstáculo: no produto de tripletos x+iy+jz (que são os representantes de linhas ou ponto do
espaço) surge um termo em ij, estranho a um tripleto. Wessel mostra (num trabalho de 1797) como operar
rotações de pontos do espaço, mas em torno apenas das direções dos eixos imaginários. Apesar de não
tecer comentários no seu trabalho sobre como devemos proceder para operarmos rotações de modo geral

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(em torno de qualquer direção), podemos supor que se Wessel tentou fazê-lo deve ter esbarrado nesse

mesmo obstáculo, visto que representava uma linha do espaço de modo similar a Hamilton ( a + bη + cε ,
onde η, ε correspondem a i,j, respectivamente, na representação de Hamilton). Apesar de o problema ser
de caráter geométrico, a solução só surge para Hamilton a partir da conjectura algébrica ij=-ji, algo difícil
de se admitir na época (é pouco provável que alguém na época pensasse na possibilidade de se construir
estruturas algébricas que contrariassem propriedades aritméticas) e a conclusão que surge dessa conjectura
é surpreendente: é preciso recorrer a objetos de dimensão quatro (os quatérnios) para operarmos rotações
no espaço de dimensão três. Diante da impossibilidade de visualização no espaço de dimensão quatro,
Hamilton não vê outra saída que não seja transferir o “paradoxo para a álgebra”, concluindo então que
uma linha do espaço deve ser representada não por um tripleto x+yi+jz , mas sim por um quatérnio
xi+yj+zk. Essas considerações nos fazem supor que a solução do problema só poderia ser obtida por um
grande algebrista, alguém com uma visão moderna sobre o conceito de número, estruturas algébricas e
extensões algébricas. A julgar pelos trabalhos que já havia publicado, Hamilton tinha esses requisitos.
Mesmo tendo conseguido fechar uma multiplicação para quatérnios, restava ainda uma questão de difícil
solução: como uma multiplicação de quatérnios pode operar rotações de linhas, segundo ângulos e em
torno de direções pré-estabelecidas? Essa questão foge aos objetivos desse artigo, mas podemos dizer que
Hamilton apresenta a solução desse problema em 1844, um ano após ter descoberto os quatérnios.
(Apresentaremos um trabalho sobre essa questão numa próxima oportunidade.)

5. Bibliografia
Warren, John,[1828],Geometrical Representation of the Square Roots of Negative Quantities,printed
at Cambridge.

Hamilton,Willian Rowan,[1837], Theory of Conjugate Functions, or Algebraic Couples; with a


Preliminary and Elementary Essay on Algebra as the Science of Pure Time. Transactions of the
Royal Irish Academy, vol. 17, pp. 293-422.

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