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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2012.0000095603

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0002229-

72.2007.8.26.0426, da Comarca de Patrocínio Paulista, em que é apelante

SOCORRO DIANDRA GOMES DE CALADO PINHEIRO (JUSTIÇA

GRATUITA) sendo apelado O JUÍZO.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça

de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso, nos termos

que constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que

integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores

GALDINO TOLEDO JÚNIOR (Presidente sem voto), GRAVA BRAZIL E PIVA

RODRIGUES.

São Paulo, 13 de março de 2012.

JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA

RELATOR
ASSINATURA ELETRÔNICA
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Nº 0002229-72.2007.8.26.0426
Patrocínio Paulista
Apelante: Socorro Diandra Gomes de Calado Pinheiro
Apelado: O Juízo
VOTO Nº 21340

Retificação de nome Admissibilidade, pois a autora não


pode ser obrigada a continuar a utilizar um nome que lhe
causou verdadeiro trauma, em razão do “bullying” sofrido
Supressão do primeiro prenome - Recurso provido.

Trata-se de ação de retificação de registro civil ajuizado por


Socorro Diandra Gomes de Calado Pinheiro, para suprimir o prenome “Socorro”
de seu nome, alegando que, desde a pré-escola até a universidade, seu nome é motivo
de chacota e brincadeiras. Afirmou que tais provocações têm lhe causado problemas
psicológicos e de saúde, como perda da respiração, catatonia e desmaio.

Intimado, o Promotor de Justiça requereu que a autora juntasse


aos autos a folha de antecedentes criminais, bem como certidão negativa de protestos
(fls. 18).

A Secretaria juntou cópia de sentença proferida em processo


mencionado a fls. 17 (fls. 21).

O juiz julgou o feito extinto sem análise do mérito,


reconhecendo a ocorrência de coisa julgada (fls. 23). A decisão foi modificada pelo
acórdão de fls. 44, que determinou o prosseguimento do feito, com sua instrução.

Manifestação do Ministério Público pela procedência da


demanda (fls. 68).

A ação foi julgada improcedente (fls. 75) pelo juiz Fernando


da Fonseca Gajardon,.

Insatisfeita, apela a autora, insistindo na supressão do prenome


“Socorro”, pelos mesmos motivos já expostos.

Recurso tempestivo, preparado e não contrariado.


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É o relatório.

O artigo 56 da Lei de Registros Públicos garante a


possibilidade de, a todo aquele que quiser, alterar seu nome. Deve fazê-lo no
primeiro ano após atingir a maioridade, sem prejudicar, entretanto, os apelidos de
família.

“Artigo 56 O interessado, após ter atingido a maioridade,


poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome,
desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a
alteração que será publicada pela imprensa.”

A regra indica que qualquer um pode modificar seu nome, isto


é, o conjunto das palavras que forma a identificação de uma pessoa. O nome é
formado pelo prenome e pelo sobrenome, pelo menos. E tudo pode ser modificado,
salvo se o sobrenome for o mesmo da família.

“Elementos atuais do nome: - Presentemente, o nome da pessoa


compõe-se de um prenome e do respectivo apelido de família.”
(Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, vol. 1,
Parte Geral, pg. 95)

O pleito da autora não prejudica o patronímico, mas apenas o


prenome. Por isso lhe permite a lei modificá-lo, aliás, administrativamente. Sequer
de decisão judicial ela necessitava, pois a intervenção do Judiciário só se dá se o
pleito for feito depois dessa data, quando precisa ser motivado, conforme é expresso
o artigo 57 da Lei 6015/73.

“Artigo 57 Qualquer alteração posterior de nome, somente por


exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público,
será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o
registro, arquivando-se o mandato e publicando-se a alteração
pela imprensa.”

A regra da liberdade para a alteração do nome no primeiro ano


após atingir a maioridade não era desconhecida do direito anterior. O Regulamento

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18.542/28 em seu artigo 70 estabelecia que “o interessado, no primeiro ano após ter
atingido a maioridade civil, poderá pessoalmente, ou por procurador bastante,
alterar o nome, por averbação, com as mesmas formalidades e testemunhas,
fazendo-se publicação pela imprensa.” Já o artigo seguinte, ainda com a mesma
orientação da legislação atual, dizia que “qualquer mudança posterior do nome, só
por exceção, e motivadamente, será permitida por despacho do juiz togado, em
audiência do Ministério Público, arquivando-se o mandado competente, e fazendo-
se publicação pela imprensa”.

A diferença entre os artigos 70 e 71, citados, verifica-se, em


primeiro lugar, pela possibilidade ampla de alteração no primeiro caso e pela
excepcionalidade da mudança, no segundo. No primeiro, como hoje, não se exige
participação judicial. Na primeira hipótese, como hoje, apenas no primeiro ano após
a maioridade se defere a modificação imotivada. (Rubens Limongi França, Do nome
civil das pessoas naturais, pg. 256 e segs.)

A mesma situação foi mantida com a Lei de Registros


Públicos anterior (Decreto nº 4857/39). Os artigos 70 e 71 desse decreto, derrogados
pelo decreto 5318/40, mantiveram a mesma sistemática dos atuais artigos 56 e 57 da
atual lei de Registros Públicos (lei 6015/73).

A explicação é simples. Não se escolhe o nome ao nascer,


poder atribuído aos pais, ou até a terceiros, se forem estes os declarantes. Mas não se
pode condenar alguém a suportar para sempre um nome com o qual não se adapta,
com o qual não se afina. Por isso o legislador garantiu a todos que escolhessem novo
nome, direito vinculado à simples vontade. Mas estabeleceu prazo para isso, qual
seja, primeiro ano após ser atingida a maioridade.

E não se poderia regular de forma diferente. A natureza do


nome, direito da personalidade, que vai acompanhar e marcar a pessoa, precisa ser
por ela aceito, sob pena de se condenar alguém a amargar sofrimento por toda sua
existência.

“Um dos mais importantes atributos da pessoa natural, ao lado da

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capacidade civil e do estado, é o nome. O homem recebe-o ao


nascer e conserva-o até a morte. Um e outro se encontram eterna e
indissoluvelmente ligados. Em todos os acontecimentos da vida
individual, familiar e social, em todos os atos jurídicos, em todos
os momentos, o homem tem de apresentar-se com o nome que lhe
foi atribuído e com que foi registrado. Não pode entrar numa
escola, fazer contrato, casar, exercer um emprego ou votar, sem
que decline o próprio nome. No sugestivo dizer de Josserand, o
nome é como uma etiqueta colocada sobre cada um de nós, ele dá
a chave da pessoa toda inteira.” (Washington de Barros Monteiro,
op. cit., pg. 97)

Tudo justificava a possibilidade de ter a autora seu nome


alterado, para a supressão do prenome “Socorro”, que já lhe causou muitas
perturbações.

Tentou ela, no início da maioridade, a modificação, que lhe foi


negada judicialmente.

Promoveu, então, esta nova ação, agora amparada em motivo


que reputa sério. Em razão do nome vem sofrendo, em todos os lugares onde
frequenta (escola, trabalho etc.), bullying, que já lhe causou inúmeros transtornos, e
ainda é motivo de problemas psicológicos.

Este processo foi, inicialmente, extinto sem análise de mérito,


forte no reconhecimento da coisa julgada. Acórdão desta Câmara, por maioria de
votos, afastou o referido empecilho para o julgamento.

Se a simples vontade da autora já era motivo para lhe garantir


o direito de alterar seu nome, o motivo que ora apresenta, comprovado por laudo
médico, justifica a modificação com base no artigo 57 da Lei de Registros Públicos.

Art. 57 A alteração posterior de nome, somente por exceção e


motivadamente, após audiência do Ministério Público, será
permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro,

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arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela


imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.

Pouco importa, na hipótese, se o juiz prolator da sentença


acredita ou não ser o nome comum. O que interessa, na hipótese, é o incômodo
suportado por toda uma vida e que causou verdadeiro trauma à recorrente, que tem o
direito de retirar o primeiro prenome como forma de garantir, para si, uma vida sadia.

Segundo a avaliação de fls. 15 e 16, desde a infância, todos


utilizaram o nome da autora como forma de chacota, o que lhe causou verdadeiro
trauma, mostrando-se melhor a retirada do prenome “Socorro” de seu nome do que
exigir que a mesma se submeta a tratamento psicológico para se livrar do sofrimento
causado por espécie de “bullying”.

Nesse sentido, a manifestação do culto e inteligente membro


do Ministério Público (fls. 71):

“Dessa forma, não havendo restrição legal que impeça a


retificação de seu prenome e demonstrado motivo que justifique
sua alteração, não existe motivo plausível para que permaneça o
sofrimento da requerida.

A regra da imutabilidade do prenome, nesse caso, deve ceder para


atender aos fins sociais. Nesse sentido, nos ensina o ilustro Prof.
Miguel Reale que 'diante de certos casos, mister é que a justiça se
ajuste à vida.' (in Lições Preliminares de Direito, José Bushasky
Editor, ano 1973, página 148).”

Verifique-se que o legislador estabeleceu regra ampla para a


modificação motivada. Entre elas, sem dúvida, está a que sujeita a pessoa ao ridículo.
Aliás, o artigo 55 da LRP determina que “os oficiais do registro civil não registrarão
prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores”.

Analisando o dispositivo Rubens Limongi França lembra que


o ridículo comporta diversas gradações e que a ridiculez do prenome por de ser
superveniente, trazendo à colação voto do então Des. Seabra Fagundes:

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“Na espécie arguiu-se a inablicabilidade dos textos citados, porque


o prenome dado a registro não era ridículo em si mesmo, nom
momento de efetuar-se o ato. ... Aqui, porém, interfere a
interpretação construtiva, inferindo do princípio da mutabilidade
do prenome ridículo consequências menos restritas que as
ensejadas pela exegese literal. De certo os dispositivos citados, se
entendidos à letra, pressupõem que o motivo preexista no registro,
mas o seu espírito é permitir a substituição sempre que o nome,
em si, possa expor o indivíduo à chacota, a zombarias, enfim, aos
vexames do ridículo.” (in Enciclopédia Saraiva do Direito, vol. 54,
pg. 262).

É esse exatamente o caso dos autos. O nome, elemento


formador de nossa identidade, garantido e reconhecido como direito da personalidade
e, por isso, com natureza de direito constitucional, deve ser analisado concretamente,
nunca desvinculado do sujeito que o detém. Por isso é capaz de levar ao ridículo
alguém e ser motivo de orgulho para outro.

Mas não se defende ou ataca o próprio nome, mas se busca


proteger quem o detém. Se se o detentor tem sua integridade psíquica lesada em
razão do nome, é porque no caso é ele ridículo e, por isso, justificador de um pedido
de alteração.

Há que se lembrar, por fim, que não se pode dar à


imutabilidade prevista nas leis uma proteção que ultrapasse o amparo que merecem
os homens. O interesse social, antigamente, ainda justificava maior abrigo ao nome,
pois era por meio deste que se individualizava alguém, que se lhe entregava direitos,
mas também se lhe impunha as obrigações.

Hoje a identificação se faz, antes, pelos registros públicos,


como o Registro Geral e o CPF. Não há mais razão para a idolatria à imutabilidade
do nome, máxime quando após autorização de mudança são tomadas inúmeras
cautelas, como os ofícios aos registros públicos.

Por tudo isso a pretensão da autora merece ser atendida.


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Assim, determina-se que seja oficiado o Cartório de Registro


Civil para que seja suprimido do nome da autora o prenome “Socorro”, passando ela
a chamar-se apenas “Diandra Gomes de Calado Pinheiro”.

Dessarte dá-se provimento ao recurso.

JOSE LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA


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