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“Identidade-A Paz através dos povos originários”1

Gislene Natera Azor


gigiazor@uol.com.br

Resumo: O presente artigo é um breve relato da minha experiência em uma escola


particular, que tem a música como disciplina curricular da Educação Infantil ao 5º ano
do Ensino Fundamental. A proposta de trabalho implantada pela escola foi o tema
“Identidade”, e a minha contribuição para o tema como professora de música, foi propor
a pesquisa, criação e representação musical das crianças sobre seus povos originários,
fortalecendo sua identidade musical e promovendo a possibilidade de troca com outros
alunos da escola e pais. Essa experiência fortaleceu meu estudo científico sobre as
possíveis parcerias que os professores de música precisam realizar, para que a música
viesse a ser respeitada como linguagem dentro do mundo escolar e familiar. Concluí
assim, que o educador musical preocupado em questionar e estimular a música como
linguagem dentro do mundo escolar, precisa cada vez mais, promover e estimular
situações onde a participação dos outros colegas profissionais e pais seja altamente
reconhecida.

Relato de Experiência
Atuo em uma escola particular na cidade de Florianópolis, que possui
profissionais das três áreas artísticas: plásticas, cênicas e música. Apresenta também em
sua proposta pedagógica uma formação continuada para seus professores, onde a
Transdisciplinaridade é desenvolvida e aplicada no colégio. Estes dados, por si só, já
facilitam muito qualquer proposta.
É gratificante o reconhecimento por parte de colegas profissionais,
coordenadorias e pais de alunos sobre o trabalho realizado. Mas como educadora
musical, fica pra mim, sempre o grande desafio: como levarei a música para fora da sala
de aula fazendo-a ser reconhecida como linguagem?
Vou relatar minha experiência com crianças de 07 a 11 anos de idade nesta
escola, sendo que as crianças da Educação Infantil também participaram de forma
bastante ativa.
Iniciei o projeto “Identidade” pedindo para que os alunos trouxessem uma
música que os identificava. Assim que elas foram aparecendo, fomos analisando,

1
Trabalho apresentado no XVI Encontro Anual da ABEM e Congresso Regional da ISME na América
Latina 2007. “Educação Musical na América Latina: concepções, funções e ações” Campo Grande, Mato
Grosso do Sul, 8 a 11 de outubro de 2007.
debatendo e sugerindo o porquê determinada criança gosta desta ou daquela música.
Ficou-nos claro que às vezes pode ser a letra (mensagem), às vezes apenas o ritmo, às
vezes a forma melodiosa. Foi sugerido que algo aconteceu, ou acontece no nosso
cotidiano que está diretamente ligado à formação de nosso “gosto musical”.
Foi também levantada nossa nacionalidade, ou nossa descendência. Percebemos
que é muito variada e fomos pesquisar como tudo começou neste país chamado Brasil.
Os pequenos, para minha surpresa, já tinham a informação da existência dos
índios em terras brasileiras. Começamos então a investigar onde viviam, que sons ali
existiam, seus costumes, suas danças, seus alimentos, seus instrumentos. Cada classe se
interessou mais por um determinado assunto, porém, todas vivenciaram as trocas de
informações, a conscientização das mudanças e a maneira que o índio buscava e ainda
busca sua música, seus instrumentos e seus rituais.
O tema “cultura indígena” ganhou um espaço maior que o esperado, com o
foco no ritual do canto e na construção de instrumentos com materiais da natureza.
Combinamos que nenhum grupo iria apresentar sozinho as músicas que vinham
trabalhando, muito pelo contrário, iria sim, aprender as músicas de outros grupos e
ensinar a canção escolhida pelo grupo para outras turmas.
Quanto à construção de instrumentos, a socialização ainda foi maior: uma
determinada classe iniciava um instrumento e várias outras terminavam, fazendo assim
também, uma grande ponte com os turnos matutinos e vespertinos. Produções
espontâneas de instrumentos musicais, individuais, em duplas e até com a participação
dos pais surgiram nesse momento. Fez-se um acordo coletivo de que todos os
instrumentos construídos seriam doados à escola para estar disponível para todos os
grupos. Com certeza, o afeto, de alguma forma, fez com que as crianças levassem a
proposta musical até as suas casas.
Iniciei uma reflexão sobre o quanto o especialista ainda é solitário dentro da
escola. Percebo que, para que a música seja aceita como mais uma linguagem, o
educador se desdobra em atividades e busca o afeto como o motor para o
desenvolvimento da educação musical. Alan Merriam (1964, p.219-27) preconiza as
várias funções sociais2 da música, conhecidas e respaldadas no meio científico.

2
Segundo citação em HUMMES (2004): 1-expressão emocional; 2- prazer estético; 3-divertimento,
entretenimento; 4- comunicação; 5- representação simbólica; 6- reação física; 7- impor conformidade às
Piaget (1978) menciona o afeto como o motor da ação e,
portanto, como a chave para a construção do conhecimento, [...]
a emoção é a combinação de um processo avaliatório mental,
simples ou complexo, com respostas dispositivas a este
processo, [...] resultando num estado emocional do corpo, mas
também dirigidas ao próprio cérebro [...], resultando em
alterações mentais adicionais. (Damásio, 1996, p.168-169).
(BEYER, 2003, p.106-7).
“...Embora escolhamos usar a música em ocasiões diferentes, para as pessoas
envolvidas com educação, a música tem de ser vista como forma de discurso3 com
vários níveis metafóricos4”. (SWANWICK, 2003, p.38)
Foi preciso então, repensar em como sair da sala de aula, reavaliar o fazer
musical e o que realmente seria para mim, o “aprendizado” de meus alunos. Rubem
Alves5 (2000) argumenta que só aprendemos aquelas coisas que nos dão prazer.
Segundo Lori A. Custodero6 (2006) “O fazer musical é uma experiência transcendente”.
Já David Hargreaves e Marilyn Zimmerman7 (2006) registram que aprender é “O modo
como os indivíduos constroem modelos mentais dos universos que os cercam, e que
lhes permitem mover-se, planejar e expandir seu conhecimento e sua compreensão”.
Estava na hora de eu “aprender” com meus alunos. Eu precisava mostrar à
comunidade escolar o que já havíamos apreendido juntos, ajudá-los a transcender nosso
espaço físico e movimentar-me, expandir meus conhecimentos e abrir minha
compreensão pelo universo de toda aquela escola. Com este objetivo, acabei levando
para a reunião pedagógico-geral meu projeto, onde o foco não era mais a música, e sim,
a importância das relações, do respeito ao próximo e da aproximação de todas as
linguagens.
Aproveitamos o “Festival mundial da Paz” (que aconteceu aqui em
Florianópolis e teve com base fundamental a tribo indígena) para inspirar nossos
colegas profissionais a encontrarem caminhos em suas áreas específicas em busca da

normas sociais; 8-validação das instituições sociais e rituais religiosos; 9-contribuição para a continuidade
e estabilidade da cultura; 10-contribuição para a integração da sociedade.
3
SWANWICK, K.- Ensinando Música musicalmente, p.18, Discurso= É um termo genérico, útil para
toda troca significativa. Engloba o trivial e o profundo, o óbvio e o recôndito, o novo e o velho, o
complexo e o simples, o técnico e o vernáculo.
4
Ibidem, p. 24, Metáfora= é originada do grego antigo, onde Meta= tempo, lugar ou direção e Phéro=
levar.
5
ALVES, R., Estórias de quem gosta de ensinar: O fim dos vestibulares, p.165.
6
CUSTODERO, L.A. - Buscando desafios, encontrando habilidades: a experiência de fluxo e a
educação musical, In: Em busca da mente musical, p. 388.
7
HARGREAVES, D.; ZIMMERMAN, M.. Teorias do desenvolvimento da aprendizagem musical, In:
Em busca da mente musical, p.250-251.
Paz. A escola deu muito apoio e a maioria dos professores acolheu a proposta e passou a
trabalhar o tema de diferentes formas: Contos, Mitos, Alimentos representativos (o pão
da Paz), Atitudes etc. Desta forma, realizamos o “Festival da Paz” com participação de
toda a escola no dia em que o fogo indígena chegou à cidade. Os pequenos
apresentaram rituais indígenas como canções e brincadeiras corporais, convidando em
algum momento os alunos maiores a desafios de coordenação motora. Fechamos o
trabalho do Ensino Fundamental, com a música “A Paz” da Thelma Chan, que abriu as
portas para novos caminhos musicais, saindo assim, da primeira proposta: ritual
indígena. Como o Festival tinha sido divulgado em todas as salas de aulas do colégio, e
todos foram convidados a participar, algumas turmas prepararam com a ajuda ou não de
seus professores, canções sobre a “Paz” como presente para nosso evento. Encerramos
nosso “Festival da Paz”, ganhando o Pão da Paz, feito pelas turmas da Educação
Infantil.
A partir de então, ficou bastante claro para mim, que o professor especialista
precisa reconhecer que os alunos e professores unidocentes estão inseridos em redes
particulares de significado, que sinalizam para suas visões de mundo (de música, de
fazer musical, de aprender música) e que devemos “partir destas experiências” para
acolher o que lhes é familiar e, portanto, significativo.
Minha proposta inicial era continuar desenvolvendo os povos originários e,
portanto, teríamos que repensar sobre os portugueses e africanos. Não havia mais tempo
hábil para desenvolver ambas as propostas, então decidimos coletivamente, realizar
algumas pesquisas sobre os dois povos, levantando suas características e suas
influências musicais em nossas músicas.
A partir daí, novamente apresentei uma pesquisa musical, onde cada sala pôde
escolher se gostaria de dar ênfase ao povo português ou ao povo africano, com o desafio
de preparar um arranjo musical para fecharmos o projeto.
Como desde o início a proposta foi de trocas coletivas, fazer uma apresentação
final somente com os alunos parecia-me desconectada da proposta original. Então,
resolvemos convidar nossos pais para vivenciar e participar de nossas experiências
musicais em sala de aula. Com dados científicos Lori A. Custodero fortalecia minha
proposta perante a escola afirmando:
“A cultura da sala de aula juntamente com a cultura familiar é o que
determina como os desafios musicais podem ser interpretados. Esta
evidência fala a favor da importância de ter em vista sistemas de
ensino que envolvam uma ação conjunta com os pais”.
(CUSTODERO, 2006, p.391).
Nossos encontros com os pais, foram muito produtivos. Tivemos a
oportunidade de fazer com que o pai, a mãe, ou ambos, participassem ativamente de
uma aula de música. Os pais manifestaram sua surpresa em tomar conhecimento do que
seus filhos faziam nas aulas de música. Os conceitos musicais, o porquê das atividades
realizadas, os objetivos e o conteúdo do trabalho com seus filhos foram os comentários
mais gratificantes. Em contrapartida, para as crianças, foi fascinante ensinar seus pais, e
vê-los em alguns momentos, também sentindo algumas dificuldades e enfrentando-as.
Esta experiência me fez supor que os professores unidocentes e pais não
tiveram informação sobre a linguagem musical e que esta falta de informação é que traz
“pesos e medidas” diferentes dentro do mundo escolar e social.
“O trabalho conjunto de generalista e especialista poderá ampliar as ações e as
competências musicais na escola, viabilizando uma educação musical continuada,
presente no currículo escolar de forma significativa na formação da criança”.
(FIGUEIREDO8, 2001, p.36)
O mesmo autor, com bastante propriedade diz que,
A Música ainda continua sendo vista nos sistemas educacionais como
atividade periférica, útil apenas para a manutenção de rituais
cristalizados no contexto escolar (dia das Mães, Páscoa, dia das
Crianças, e assim por diante). Mudar essa concepção demanda uma
ação muito mais eficaz do que aquela que os educadores musicais têm
podido realizar isoladamente em contextos escolares diversificados. A
parceria com professores das séries iniciais pode se tornar relevante
não apenas para a argumentação da área da educação musical, mas
para o desenvolvimento de uma educação mais significativa, menos
fragmentada e mais completa. (FIGUEIREDO9 ,2005, p. 28)
Já temos no Brasil a LDB (Brasil, 1996) e os PCN (Brasil, 1997,1998) que são
documentos importantes na Legislação Educacional. A LDB estabelece que o “ensino
da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (Brasil, 1996,
artigo 26, parágrafo 2º).
Conseguimos algumas informações, que por momentos, nos acalmam.
A mudança na legislação não provocou imediatamente uma mudança
no tratamento das artes e da música em diversos sistemas educacionais
por causa de concepções e práticas de ensino arraigadas em modelos
inadequados. Gerações de indivíduos têm sido privadas de uma
formação consistente em música na escola regular porque não há
clareza nas orientações político-pedagógicas para esta área do

8
FIGUEIREDO, S.L.F. - Professores Generalistas e a educação musical.
9
FIGUEIREDO, S. L. F. - Conferência- Políticas para a educação musical brasileira: realidades e
possibilidades.
conhecimento nos diversos sistemas educacionais do país.
(FIGUEIREDO10 ,2005, p.8)
Para que a mudança aconteça, é preciso que haja um posicionamento de cada
educador musical no seu espaço de trabalho, é preciso que o professor se preocupe cada
vez mais em trabalhar conjuntamente com outras áreas, é preciso que seja estimulada a
pesquisa científica registrando inúmeros casos onde a música consegue ultrapassar os
“muros”, a fim de que consigamos uma mudança político-pedagógica.
...ainda existem muitos desafios para serem vencidos para que a
Educação Musical, como prática e como campo reflexivo, alcance um
grau de maturidade como área de conhecimento, [...] precisamos de
menos currículos tecnicistas e mais socioculturalmente sustentados
[...] a aposta é na real possibilidade da transformação do olhar...
(ARROYO11 ,2000, p.19)
Proponho que os educadores musicais arrisquem em novas práticas e propostas
educacionais que resultem numa transformação do olhar da sociedade sobre este tema.
A música pode e deve ser utilizada como um instrumento de formação do indivíduo,
para que este seja capaz de usar todas as suas potencialidades.

Referências:

ARROYO, M. - Mundos Musicais locais e educação musical. EM PAUTA- v. 13,


n.20, p.95-121, junho de 2002.
____________Um olhar antropológico sobre práticas de ensino e aprendizagem
musical. Revista da ABEM, n.5, p.13-20, setembro de 2000.
ALVES, R.-Estórias de quem gosta de ensinar. Campinas, SP: Papirus; Rubem
Alves M.E. 2000.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB: Lei 9394/96.
Brasília. Disponível em: www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/ L9394.htm. Acesso
em : 04 de abril de 2007.
BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais (1ª a 4ª séries). Brasília: MEC/SEF,
Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
BEYER, E. – O formal e o informal na Educação Musical: O caso da Educação
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Ensino de Música/LEM-CE-UFSM, p. 45-52, Anais... Santa Maria- Rio Grande
do Sul, maio de 2001.
DEL BEM, L.; HENTSCHEKE, L., (org) -Ensino de Música- propostas para
pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003.
DEL BEM, L. – Aprendendo com os professores: Reflexões sobre a formação do
educador musical a partir das concepções e ações de uma professora de música.
IV Encontro Regional da ABEM Sul, I Encontro do Laboratório de Ensino de
Música/LEM-CE-UFSM, p. 45-52, Anais... Santa Maria-Rio Grande do Sul, maio
de 2001.

10
FIGUEIREDO, S. L. F. Educação Musical nos anos iniciais da escola: identidade e políticas
educacionais.
11
ARROYO, M. – Um olhar antropológico sobre práticas de ensino e aprendizagem musical.
FIGUEIREDO, S. L. F. - Professores Generalistas e a Educação Musical. IV
Encontro Regional da ABEM Sul, I Encontro do Laboratório de Ensino de
Música/LEM-CE-UFSM p.26-37, Anais... Santa Maria- Rio Grande do Sul, maio
de 2001.
____________Educação Musical nos anos iniciais da escola: identidade e
políticas educacionais. Revista da ABEM, n.12, p.21-29, março de 2005.
____________A preparação musical de professores generalistas no Brasil.
Revista da ABEM, n. 11, p. 55-61, setembro de 2004.
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____________Políticas para a educação musical brasileira: realidades e
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Festival de Música de Londrina (CD Rom); Conferência, junho de 2005.
HUMMES, J. M. - Por que é importante o ensino de música? Considerações sobre
as funções da música na sociedade e na escola. Revista da ABEM, n.11, p.17-25,
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SOUZA, J. – O formal e o informal na Educação Musical no Ensino Médio. IV
Encontro Regional da ABEM Sul, I Encontro do Laboratório de Ensino de
Música/LEM-CE-UFSM, p. 38-44, Anais... Santa Maria-Rio Grande do Sul, maio
de 2001.
SWANWICK, K. - Ensinando Música Musicalmente. Tradução de Alda Oliveira
e Cristina Tourinho, São Paulo: Moderna, 2003.
Regras da ABNT-Disponível em: www.monografia.net .Acesso em 20 de outubro
de 2006.

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