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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 15: 7-9 NOV.

2000

DOSSIÊ DEMOCRACIA, POLÍTICOS E PARTIDOS

Apresentação
Paulo Roberto Neves Costa

Como prega Giovanni Sartori (1994), pensar Mas Weber tinha outra preocupação “clássica”:
a democracia exige a construção de “argumentos apontava como ameaça à democracia não só a
corretos corretamente articulados”, dado que seu burocracia alçada à política, mas principalmente a
funcionamento tem como premissa, em geral pou- despolitização da política, além da ausência de
co lembrada, que “idéias erradas sobre a de- garantias para os “direitos do homem”.
mocracia fazem a democracia dar errado”.
A competência técnica é requisito central no
Não é fácil pensar (nem praticar) corretamente processo de administração de sociedades comple-
a democracia, ainda mais numa sociedade onde o xas. Contudo, a restrição da escolha que caracteriza
regime democrático apenas recentemente retomou o ato de governar numa função derivada das assim
o seu processo de institucionalização, como é o chamadas “condições objetivas” é deletéria ao pro-
caso brasileiro. cesso de consolidação democrática em mais de
um sentido. Porque exige que se expurgue da po-
A título de reflexão, podemos nos valer de al-
lítica democrática um de seus princípios funda-
gumas singelas idéias de um punhado de autores
mentais: o enfrentamento entre propostas, a plura-
do século passado para comentar certos fatos e
lidade de interesses, o debate dos contrários e a
comportamentos recorrentes que fazem parte do
responsabilidade das decisões. E também porque
cotidiano nacional a fim de restaurar a “clareza
essa compreensão restrita da ação do governante
mental” que o mesmo Sartori associa à democracia
(a “utopia possível”) apaga do horizonte o fato
(sem a ingenuidade de acreditar que os problemas
básico e inescapável segundo o qual, nas decisões
do funcionamento concreto e da análise teórica
político-administrativas, alguns interesses possam
da democracia têm como causa exclusiva a obs-
vir a ser atendidos, total ou parcialmente, e outros
curidade dos princípios e a confusão das idéias).
não, cabendo aos decisores fazer uma escolha,
Ao olharmos para a “experiência democrática” que é, acima de tudo, política.
no Brasil hoje, observamos, entre outros proble-
Tomando o mesmo problema — o da relação
mas, a existência de uma tensão não resolvida entre
entre democracia e administração — por outro
democracia e discurso técnico, tensão esta que
ângulo, seria preciso considerar aquilo que Schum-
aparece — quer se tome a atitude, quer se tome
peter (1961) chama de a “natureza humana na polí-
as idéias de jornalistas, entidades, políticos, analis-
tica”, ou seja, a dificuldade dos “cidadãos” comuns
tas e “cidadãos” — na prática recorrente da des-
para lidar com problemas que vão além do seu
qualificação (técnica, política ou moral) dos anta-
cotidiano pessoal e profissional. Como resposta a
gonistas — quando não simplesmente sua satani-
essa dificuldade, Schumpeter, assim com Weber,
zação.
insistem na necessidade de institucionalizar regras
Como se sabe, Weber (para quem a desquali- e procedimentos para selecionar líderes políticos
ficação dos adversários é o mais vergonhoso dos e gerar programas de governo a fim de definir di-
excessos que se pode cometer na política), con- retrizes para a máquina burocrática estatal e evitar
siderava como uma característica fundamental do que agentes inescrupulosos ou despreparados che-
Estado Moderno e um ingrediente imprescindível guem ao poder. Só isso permite realizar a demo-
da democracia a existência de uma administração cracia e consolidá-la junto à sociedade.
pública fundada na competência. Este nem de longe
Sem ingenuidade, Weber e Schumpeter ensi-
parece ser o caso brasileiro, para dizer o menos.
nam que a democracia é, efetivamente, uma forma

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 15, p. 7-9, nov. 2000


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APRESENTAÇÃO

de escolha dos governantes, forma essa que traz populares e da formação da cidadania política e
consigo toda uma série de “dificuldades práticas”: da democracia em nosso país. O autor conclui
a manipulação do eleitorado, a apatia política, a que, nestas condições, o clientelismo seria algo
falta de escrúpulos — em especial do Governo — constitutivo, “normal” e até “funcional” para a
na condução das campanhas, as ideologias etc. política brasileira.
Mas acrescentam que a democracia deveria ao
Luzia Helena Herrmann de Oliveira faz um
menos resguardar alguns princípios e valores co-
balanço das principais interpretações do processo
letivamente discutidos e minimamente partilhados,
de retomada das instituições democráticas no Bra-
a serem institucionalizados pelas normas e conven-
sil, em especial dos partidos políticos. Seu percur-
ções.
so pela literatura, além de ilustrativo, tenta mostrar
No Brasil, a exclusão econômica está longe de que a comparação com as experiências democráti-
ser meramente econômica, pois torna difícil que cas recentes, mais especificamente as do sul da
grande parte da população reconheça minimamente Europa, é o meio mais interessante para a constru-
a necessidade de respeitar as regras políticas e ção de um instrumental teórico produtivo sobre o
morais da sociedade. Daí que a desigualdade eco- assunto. Além disso, faz uma discussão teórica
nômica não cause apenas fome e pobreza, mas acerca da consolidação da democracia no Brasil,
reduza bastante a possibilidade da participação e concluindo que a comparação com as experiências
adesão por parte dos “desfavorecidos” na constru- de retomada e consolidação da democracia em
ção e sustentação do arranjo político-institucional países do leste europeu e da América Latina são
e dos valores que lhe são caros. Dessa forma, o mais sugestivas do que a recorrência a modelos
que talvez seja tão ou mais pernicioso do que a clássicos como a poliarquia de Dahl.
desigualdade social, o desemprego, a desarticula-
Simone Diniz investiga a intensa migração
ção da indústria nacional ou a desnacionalização
partidária dos políticos de uma legenda a outra,
da economia, é a não institucionalização da demo-
migração essa que não pode ser explicada pela
cracia, seja enquanto conjunto de regras formais
simples ausência de algum tipo de coibição legal,
estabelecidas para a disputa entre propostas polí-
mas que deve ser vista a partir do cálculo em re-
ticas, seja enquanto cultura política, isto é, com-
lação ao ganho que a troca implicaria. A tese fun-
portamentos e valores éticos fundados sobretudo
damenta-se numa alentada pesquisa empírica e
na convicção e em convenções, e não somente na
atualizada discussão bibliográfica. Para a autora,
letra das leis.
a legislação partidária não “causa” as migrações,
A legitimação através do voto para os mandatos mas cria “exigências” — o prazo pré-estabelecido
públicos democraticamente constituídos não para deferimento da filiação partidária — e gera
autoriza o abandono do debate acerca da necessi- “incentivos” — o tempo maior de propaganda gra-
dade de construção de espaços públicos de mani- tuita a que os partidos têm direito — aos parla-
festações de oposição, de reivindicação, de denún- mentares que buscam mudar para uma agremiação
cia e de crítica. Caso contrário, estaríamos re- que lhe ofereça maiores vantagens.
forçando o caráter delegativo que Guilhermo
Sandro Anselmo Coelho compara as experiên-
O’Donnell (1991) detectou na nossa democracia.
cias partidárias da Democracia Cristã no Brasil
A relevância dos artigos reunidos neste Dossiê (de 1946 a 1964) e no Chile (de 1964 a 1970),
Democracia, Políticos e Partidos para o aprofun- tendo por referência a sua articulação com o po-
damento dessa discussão é completa. pulismo, entendido como forma particular de rela-
ção entre as massas populares e a política no con-
Francisco Pereira de Farias discute a compati-
texto de constituição do capitalismo industrial. Con-
bilidade entre clientelismo e democracia no Brasil,
clui que as propostas da democracia cristã, que, a
a partir de um caso empírico, e constata que esse
princípio, seriam voltadas para a constituição de
tipo de relação, fundada na utilização privada de
uma nova ordem social, tenderam a privilegiar mais
bens públicos com fins político-eleitorais, corres-
a crítica ao socialismo do que ao próprio capita-
ponde à própria estrutura da sociedade capitalista
lismo.
no Brasil. Farias destaca a existência de relações
pré-capitalistas e o caráter acelerado da implantação A preocupação com as instituições democrá-
do capitalismo no campo como condicionantes ticas não deve negligenciar a questão dos valores
da ação dos partidos, da organização das classes e princípios democráticos, já que é difícil tratar

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da democracia sem enfrentar esse problema. Daí Schumpeter e O’Donnell, para não falar de
a pertinência do trabalho de Klaus Frey, que traz, Norberto Bobbio (1986) e de sua denúncia das
para o debate acerca da consolidação e da institu- “promessas não cumpridas” pela democracia —,
cionalização da democracia no Brasil, uma análise e como mostram os artigos do Dossiê que apresen-
bastante sugestiva de um clássico da teoria da de- tamos, a realidade da democracia implementada
mocracia. Encontraríamos em Tocqueville, segun- no Brasil, do passado e do presente, não passaria
do Frey, elementos para tratarmos da instituciona- sequer pelo crivo da crítica liberal contemporânea,
lização de processos como a descentralização do o que dizer de outras perspectivas mais críticas.
poder e a conscientização política.
Os editores da Revista de Sociologia e Política
Em suma, como nos sugerem os pensadores esperam apresentar assim aos seus leitores mais
políticos deliberadamente mencionados na parte uma contribuição para vincular a pesquisa socio-
inicial desta apresentação — Sartori, Weber, lógica e o debate político sobre as grandes questões
da atualidade.

Paulo Roberto Neves Costa (paulornc@humanas.ufpr.br) é doutorando em Ciências Sociais na


Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Professor de Ciência Política na Universidade Federal
do Paraná (UFPR).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOBBIO, N. 1986. O futuro da democracia. Rio SCHUMPETER, J. A. 1961. Capitalismo, socia-


de Janeiro : Paz e Terra. lismo e democracia. Rio de Janeiro : Fundo
de Cultura.
O’DONNELL, G. 1991. Democracia delegativa?
Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 31, p. WEBER, M. 1985. Parlamentarismo e governo
25-40. numa Alemanha reconstruída. São Paulo : Abril
Cultural.
SARTORI, G. 1994. A teoria da democracia
revisitada. São Paulo : Ática. WEBER, M. 1999. Economia e sociedade. Vol
II. Brasília : Edunb.

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