CAPA
Editorial
Desenvolvimento territorial,
um caminho para o novo rural
A
escolha da abordagem ter-
ritorial para fomentar as po-
líticas de desenvolvimento
rural pode ser explicada por uma série
de fatores que ocorreram no País nos
últimos 20 anos. O meio rural brasileiro
passou durante esse período por grande
efervescência, com as mobilizações em
favor da agricultura familiar e da refor-
ma agrária e com a emergência de ato-
res sociais, como os atingidos por bar-
ragens, os indígenas e os quilombolas.
Esse processo coincide com as discus-
sões sobre o enfrentamento da pobreza
rural e a descentralização de políticas
públicas, com papel mais proativo dos
municípios e do desenvolvimento local.
A proposta do Projeto Dom
Helder Câmara de integrar os vários
assentamentos de reforma agrária
no Semiárido nordestino e os ele-
mentos do Projeto Alternativo de
Desenvolvimento Rural Sustentável e
Solidário (PADRSS) da Contag também
podem ser considerados como embriões
da estratégia territorial. Em 2002, logo
após a vitória do presidente Lula, es-
2 Desenvolvimento Territorial em Foco
sas experiências foram analisadas pela
equipe de transição, que recomendou a
criação de uma secretaria, no âmbito do
Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), para elaborar e executar um
programa para o desenvolvimento rural
com abordagem territorial.
A Secretaria de Desenvolvimento
Territorial (SDT) e o Programa
Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais (Pronat) surgem, en-
tão, com a missão de valorizar a agricul-
tura familiar, enfrentar a pobreza rural e
as desigualdades regionais, integrar as
políticas públicas com um viés de inter-
setorialidade e promover a dinamização
das economias nos territórios rurais.
Começamos com pouco mais de 40 ter-
ritórios e chegamos aos atuais 164. É im-
portante destacar que nenhum território
se retirou do programa e mais de 60 rei-
vindicam o ingresso nele.
O Pronat foi pautado desde a sua ori-
gem por dois elementos fundamentais:
o protagonismo dos atores sociais e o
planejamento da gestão social. A flexibi-
lidade para cada território configurar os
colegiados territoriais de acordo com sua
realidade diferencia esse programa de to-
das as experiências anteriores no Brasil. A
paridade entre governo e sociedade civil
e a possibilidade de elaborar elementos
de planejamento com base em pactos
territoriais também explicitam a inovação
desse modelo de gestão.
A diversidade, a pluralidade e a au-
tonomia dos atores sociais foram os fios
condutores da política de desenvolvi-
mento territorial e sempre estiveram pre-
sentes em nossas ações, a exemplo da
elaboração de planos e programas como
os Planos Territoriais de Desenvolvimento
Rural Sustentável (PTDRS) e o Programa
de Apoio à Infraestrutura e Serviço nos
Territórios Rurais (Proinf), que se comu-
nicam com outros, como o Plano Safra
Territorial, os planos de negócios, os pla-
nos das cadeias produtivas e os planos
de cultura.
O Pronat serviu, ainda, de referên-
cia para a formulação do Programa
Territórios da Cidadania do governo
federal, que integra as ações de 22 mi-
nistérios e conta com um orçamento de

aproximadamente 64,7 bilhões de reais.
Esses recursos estão sendo aplicados ex-
clusivamente nos territórios rurais, para
atender às demandas de segmentos so-
ciais, que historicamente foram excluídos
do acesso às políticas públicas, seja como
beneficiários, seja como sujeitos de pla-
nejamento e de gestão.
Esse novo modelo de gestão de po-
líticas públicas tende a se consolidar e
crescer, tanto do ponto de vista da am-
pliação do número de territórios como
em termos do ingresso de novos atores
sociais, a exemplo de empresários, uni-
versidades e categorias e organizações
sociais de caráter mais urbano. Portanto,
é possível avaliar que a SDT/MDA rea-
lizou um trabalho muito bem-sucedido
nesses oito anos. Conseguimos reposi-
cionar o rural em nossa sociedade, aca-
bar com a ideia de que o campo era si-
nônimo de atraso e, em conjunto com o
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentável (Condraf), elaboramos
uma proposta de política de desenvolvi-
mento para o Brasil rural.
O Pronat foi concebido para 30 anos
e devemos chegar ao fim desse período
com pelo menos 300 territórios rurais no
Brasil. Portanto, não tenho dúvida de que
ainda há muito o que fazer. Temos de me-
lhorar a nossa gestão, criar normativos
Desenvolvimento Territorial em Foco
adequados, ampliar as parcerias, avançar
no modelo organizativo, aumentar o or-
çamento, entre outros desafios.
No entanto, podemos afirmar com
segurança que o processo que criamos é
um caminho sem volta. O resultado das
eleições presidenciais garantiu não só o
projeto democrático e popular iniciado
pelo presidente Lula como a continui-
dade das políticas de territorialidade. As
mudanças de gestores municipais e esta-
duais têm demandado a ampliação dos
programas nos territórios, pois o gover-
no federal tem se relacionado de forma
republicana com esses entes federativos.
Desse modo, esperamos que essa visão
se consolide independentemente das
pessoas que conduzem os governos.
Nós também temos a expectativa de
colocar o que acumulamos nessa área a
serviço do compromisso assumido pela
presidente Dilma de erradicar a miséria e
diminuir a pobreza no Brasil. Nesse sen-
tido, vamos continuar trabalhando para
que o Estado crie as condições para que
a população de baixa renda seja incluída
no processo de desenvolvimento. Enfim,
precisamos fazer uma passagem para
um modelo de desenvolvimento que
não aceite conviver com uma situação
de miséria de uma parcela significativa
de nossa população.
"Conseguimos
reposicionar o rural em
nossa sociedade, acabar
com a ideia de que o
campo era sinônimo de
atraso e, em conjunto
com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento
Rural Sustentável,
elaboramos uma
proposta de política de
desenvolvimento para o
Brasil rural"
Esse desafio requer uma mudança
profunda em nosso País, que somen-
te será sustentada se, além da ação dos
governos, houver forte envolvimento dos
atores dos diversos segmentos da socie-
dade, como trabalhadores (as), empresá-
rios, universidades, igrejas e organizações
sociais, dentre outras. Essas são, então, as
premissas para se acabar com o resquício
de 20 milhões de pobres no País, que se
encontram, principalmente, no meio rural.
Nesse sentido, estamos convictos de que
os gestores públicos e os atores sociais
engajados com o desenvolvimento terri-
torial vão contribuir de forma significativa
para atingir esse objetivo.
Humberto Oliveira
Secretário de Desenvolvimento Territorial
do Ministério do Desenvolvimento Agrário
3
 sumário

Arquivo SDT/MDA

Divulgação

Divulgação
6 9 12
Um novo jeito de fazer política Pública Territorialização avança nos estados Planos territoriais
fortalecem a gestão social
Arquivo SDT/MDA

Paulino Menezes/MDA

Divulgação

25 28 31
Bases de serviço de comercialização: Cooperativismo sustentável e solidário Atores territoriais criam
chave para a dinamização econômica novas formas de organização

4
 Arquivo SDT/MDA

Divulgação

Divulgação
16 19 22
Colegiado territorial: Formadores de uma nova realidade rural Infraestrutura para
protagonista do novo Brasil rural gerar renda nos territórios
Divulgação

Arquivo PDHC

Ronaldo Oliveira

34 37 40
universidades: novos Investir no ser humano Parcerias para fortalecer
atores da política territorial e transformar o Semiárido a agenda territorial

5
Pronat e Programa Territórios da Cidadania
Um novo jeito de fazer política Pública
Presidente Lula faz balanço do Programa Territórios da Cidadania durante o II Salão Nacional dos Territórios Rurais, em 2010
A
precariedade dos serviços públi-
cos de saúde e de educação e a
ausência de políticas para a orga-
nização da produção agrícola e comercial
Criado em 2003, o Pronat
sempre castigaram a população do Território
destacou-se como instrumento
da Baixada Cuiabana, no Mato Grosso. Esses
inovador da gestão pública no
problemas começaram, finalmente, a ser re-
Brasil. O programa concebido
solvidos depois que as políticas de desenvol-
pela SDT/MDA serviu, cinco
vimento territorial foram implementadas. No
anos depois, como base para
entanto, os resultados positivos alcançados
a formulação do Programa
não se devem somente às ações dos poderes
Territórios da Cidadania
públicos, mas, sobretudo, ao protagonismo
dos Colegiados Territoriais.
Os atores sociais sempre tiveram uma
postura bastante engajada nessa região.
O Território da Baixada Cuiabana foi cria-
do no mesmo ano do lançamento do
Programa Desenvolvimento Sustentável
dos Territórios Rurais (Pronat) e, em 2008,
6 Desenvolvimento Territorial em Foco
Ricardo Stuckert / PR
foi incluído no Programa Territórios da
Cidadania (PTC). “A transição de Território
Rural para Território da Cidadania provo-
cou mudanças na maneira do Colegiado
atuar. Mas o importante é que renovamos
o nosso compromisso com o desenvolvi-
mento do território”, avalia Antônio Fátimo,
membro do Colegiado Territorial local.
Entre outros resultados, a inserção do
território no PTC assegurou recursos para
dar início à construção da central de co-
mercialização. Os R$ 2 milhões liberados
pelo programa vão erguer o mercado pro-
dutor e propiciar assistência técnica aos
(às) agricultores (as) familiares dos 14 mu-
nicípios que compõem o território. “Essa é
uma ação estratégica porque o Território
da Baixada Cuiabana concentra o maior
número de pessoas entre os seis territórios
rurais do estado. São cerca de 850 mil ha-
bitantes beneficiados”, enfatiza Fátimo.
A ação já qualificou aproximadamente
1,2 mil agricultores (as) familiares, que en-
frentavam sérias dificuldades para organi-
zar e comercializar a produção interna. O
PTC também contribuiu para viabilizar a
construção de escolas em assentamentos e
promover o acesso dos trabalhadores (as)
rurais à saúde pública.
O programa serviu, ainda, para modifi-
car de forma radical as relações do Estado
com a sociedade. Os critérios para a alo-
cação dos investimentos públicos também
sofreram profundas alterações. “Os recursos
provenientes dos ministérios são discuti-
dos constantemente no território. Isso evita
desperdício de dinheiro público e garante
resultados que realmente necessitamos”,
analisa o membro do Colegiado Territorial.
Cidadania para todos
O governo federal investiu R$ 64,7 bilhões
para o Programa Territórios da Cidadania
desde a sua criação, em 2008. Esse volume
Territórios da Cidadania contemplam diversidade étnica
Em algumas regiões do País, além de
especificidades econômicas e culturais,
a etnia é um fator de grande influência
na vida da comunidade. Nessas áreas
a maioria da população é indígena. Por
isso, além do enfoque territorial, o gover-
no federal constatou que essas regiões
precisariam de ações diferenciadas e pro-
pôs a criação dos Territórios Indígenas da
Cidadania.
O primeiro território dessa natureza
– o Território Rio Negro da Cidadania In-
dígena – foi criado no final de 2008. Ele
abrange três municípios na região do Alto
e Médio Rio Negro, no Amazonas: São
Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio
Negro e Barcelos. Essa unidade territo-
rial surgiu de uma demanda apresentada
Desenvolvimento Territorial em Foco
de recursos colocou as demandas históricas
do meio rural no rol de prioridades do orça-
mento da União e contribuiu para melhorar
a vida de 42,4 milhões de pessoas em 1.851
municípios brasileiros. “Aquele quadro em
que um prefeito de oposição ficava quatro
anos sem receber verba da União é coisa
do passado. Esse panorama foi modifica-
do com uma gestão de interesse público”,
garante Humberto Oliveira, secretário de
Desenvolvimento Territorial do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA).
A representante da Casa Civil da
Presidência da República na coordenação
do PTC, Janine Mello, entende que o pro-
grama selou um novo compromisso com a
população do meio rural, já que ele dinami-
za a liberação de recursos para os municí-
pios: “Os prefeitos agora contam com inves-
timentos carimbados no Orçamento Geral
da União. Portanto, houve uma mudança
qualitativa na relação entre o governo fede-
ral e os estados e municípios”, reforça.
Ela acrescenta que o PTC é uma tentati-
va de levar um “pacote de cidadania”, com
pelas próprias comunidades indígenas ao
presidente Lula, em 2007.
Estima-se que a população indígena nes-
se território represente cerca de 60% a 70%
dos habitantes. A atuação indígena é organi-
zada com base na experiência da Federação
das Organizações Indígenas do Rio Negro,
entidade que atua na região há 20 anos. As
cerca de 30 etnias presentes no território es-
tão divididas em coordenadorias, que inte-
gram a direção da Federação e que, por sua
vez, têm assento no Colegiado Territorial.
Protagonismo – Outra característica mar-
cante é o protagonismo, pois as entidades
indígenas sempre foram muito atuantes
na região. Elas participaram ativamente da
elaboração do PTDRS, que nesse território
ações sociais e de desenvolvimento eco-
nômico de ministérios, até as populações
mais pobres do meio rural. “Nesses três
anos, o programa conquistou visibilidade
internacional e, hoje, é referência mundial
em gestão pública com participação direta
da sociedade”, celebra.
Gênese do programa
A proposta original do PTC foi com-
bater a pobreza e as desigualdades so-
ciais nas áreas rurais com baixos Índices
de Desenvolvimento Humano (IDH) e de
Educação Básica (Ideb). Esse desafio foi
lançado pelo governo federal por meio da
integração das ações de 22 órgãos federais
em todo o País, sobretudo nas localidades
com grande número de beneficiários de
programas de transferências de renda.
A modelagem do Pronat, concebida e
executada pela SDT/MDA a partir de 2003,
foi adotada pelo governo federal como pon-
to de partida para formular o PTC. O progra-
ma foi discutido com representantes de vá-
rios ministérios, em quase todos os estados,
recebeu o nome de Plano de Etnodesen-
volvimento do Território do Rio Negro
da Cidadania Indígena.
Os principais eixos desse Plano são
o acesso a serviços como saúde, edu-
cação, transporte, energia, habitação,
saneamento e cultura. A produção de
alimentos voltada para a sustentabili-
dade alimentar, com geração de renda
e cuidado ambiental, também faz parte
das demandas do etnodesenvolvimento.
Além disso, as lideranças indígenas es-
tabeleceram como prioridades o incre-
mento de atividades turísticas e a logís-
tica de transporte e de escoamento da
produção, pois a região possui cachoei-
ras que impedem a navegação de barcos
grandes em vários trechos.
7
e com governos e organizações sociais. Mas,
por ser uma proposta inovadora, as reações
foram de entusiasmo e receio. “Muitos acha-
vam que haveria competição em suas áreas
institucionais”, lembra Humberto Oliveira. No
entanto, essas resistências foram vencidas e
o PTC foi apontado com um dos programas
prioritários pelo presidente Lula.
Humberto Oliveira recorda que, assim
como o PTC, um dos objetivos do Pronat
foi desconstruir a noção de que o campo
era lugar de atraso econômico, social e
cultural. “A característica mais marcante do
meio rural brasileiro é a diversidade social.
Por isso decidimos elaborar uma política
de desenvolvimento rural sustentável que
reunisse todas as suas dimensões”, destaca.
Estratégia territorial
A gestão social foi utilizada pela SDT/MDA
como diretriz central para a articulação do
trabalho de implementação do Pronat. Esse
critério foi adotado para inovar a maneira
Pacto federativo para fortalecer a estratégia territorial
Os Comitês de Articulação Estadual
(CAEs) são integrados por representantes
dos ministérios que compõem o PTC nos
estados, pelas secretarias estaduais, pelo
delegado federal do MDA e por prefeitos
das cidades que fazem parte dos territó-
rios. Eles funcionam como instâncias de
gestão do Programa Territórios da Cidada-
nia e possuem caráter consultivo.
O papel dessas instâncias é apoiar a or-
ganização e a mobilização dos Colegiados
Territoriais, estimular a articulação das di-
versas políticas públicas nos estados, acom-
panhar a execução do programa e propor a
inclusão de territórios e de novas ações.
Segundo a diretora do Departamento
de Ações Territoriais (Deter/SDT), Fernanda
Corezola, os CAEs são importantes na polí-
8 Desenvolvimento Territorial em Foco
de se fazer política pública no meio rural.
“Temos clareza de que para fazer uma po-
lítica forte no meio rural é preciso investir
muito na sociedade local”, afirma Humberto
Oliveira, que completa: “Quanto mais pes-
soas estiverem cooperando nos territórios,
maior será a mobilização para a elaboração
de projetos para gerar renda e emprego”.
Janine Mello avalia que essa estratégia
territorial significou um avanço sem prece-
dentes na execução de políticas, programas
e ações de governo federal. “Isso acontece,
especialmente, quando os problemas a ser
tratados são complexos, multidimensionais
e de natureza estrutural, como a pobreza
rural”, defende.
A gestora da Casa Civil faz questão
de apontar o Pronat como o programa
que deu origem ao PTC e acredita que
o desafio do governo Lula foi “entender
a estratégia territorial como uma abor-
dagem capaz de superar problemas his-
tóricos, que temos devido à ausência de
tica de desenvolvimento rural territorial por-
que eles fortalecem o pacto federativo em
beneficio da estratégia territorial.
Já Avelino Ganzer, o então diretor de
Agricultura Familiar e Desenvolvimento
Local da Secretaria da Agricultura (Sagri)
e membro do CAE no Pará, considera que
“o comitê tem a capacidade de integrar
as políticas nacionais nos territórios e, ao
mesmo tempo, fazer que as secretarias
estaduais entrem no processo”. Ele afirma
ainda que, em seu estado, o CAE traba-
lha de forma integrada com o Colegiado
Territorial, que fornece as informações de
como estão sendo executadas as ações
em cada território.
Ganzer acredita que o CAE ajuda na
construção de uma nova cultura governa-
integração das políticas públicas nos go-
vernos anteriores”.
Números dos programas
O Pronat apoia 164 territórios rurais em
todo o País. A SDT/MDA desenvolve ações
de fortalecimento da gestão social e das re-
des de cooperação, dinamização econômica
e articulação de políticas públicas em 2,5 mil
municípios, que correspondem a 45% das
cidades do País. O programa beneficia cerca
de 52,2 milhões de pessoas, ou seja, o equi-
valente a 28,57% da população.
O PTC integra ações de 22 órgãos públi-
cos federais para 120 territórios rurais, isto é,
1.851 municípios (33% do total). Aproxima-
damente 43 milhões de brasileiros (23% da
população) vivem nessas localidades.
O público-alvo dos dois programas
são os (as) agricultores (as) familiares, os
(as) assentados (as) da reforma agrária e
as populações tradicionais, como indíge-
nas, quilombolas e pescadores (as).
mental, em que cada governo tem o seu
papel, mas todos trabalham integrados,
com planejamento, para chegar a re-
sultados de interesse comum. “A velha
cultura em que são priorizados interes-
ses políticos de pessoas e grupos ainda
existe. Porém, temos de perseguir e con-
solidar a construção dessa nova metodo-
logia”, propõe.
O diretor da Sagri também defen-
de que a experiência do CAE deve ser
avaliada e melhorada, mas precisa con-
tinuar. “Precisamos, agora, começar a
participar do debate orçamentário nos
níveis municipal, estadual e nacional
para discutir o Plano Plurianual (PPA)
referente ao período de 2012/2015”,
lança o desafio.
 Experiências de territorialização dos estados

Territorialização
avança nos estados
A estratégia territorial do Pronat está sendo implantada com resultados significativos. Treze governadores já adota-
ram o modelo, que, além de garantir transparência e racionalizar os gastos públicos, valoriza o protagonismo social

Arquivo SDT/MDA
SDT/MDA aposta na territorialização dos estados para
alavancar desenvolvimento rural sustentável

A
opinião é unânime entre ges-
tores públicos da Bahia, de
Sergipe e do Ceará: a terri-
torialização nos seus estados deu mais
transparência à administração pública,
uma vez que aproximou os gestores pú-
blicos da sociedade. “O governante que
adota essa prática torna sua gestão mais
clara perante a opinião pública”, afirma
Antônio Rodrigues, à época secretário de
Desenvolvimento Agrário do Ceará. “O go-
verno estadual aprende com as pessoas e
a sociedade entende mais sobre a máquina
pública”, acrescenta.
O Programa Desenvolvimento Sus-
tentável dos Territórios Rurais (Pronat) re-
conhece os territórios como unidades de
planejamento e de gestão integrada de
políticas públicas. O modelo de gestão
concebido pela Secretaria de Desenvolvi-
mento Territorial do Ministério do Desen-
volvimento Agrário (SDT/MDA) já ganhou
adesão de 13 estados.
Além de Bahia, Sergipe e Ceará, os go-
vernos do Acre, Alagoas, Espírito Santo,
Goiás, Pará, Paraíba, Piauí, Rondônia,
Rio Grande do Norte e Roraima também

Desenvolvimento Territorial em Foco 9

 tado permitiram a criação de portas de

Ascom Gov. SE
saída para a população beneficiada por
programas de transferência de renda,
como o Bolsa Família.

Mudanças estruturais
A distribuição de recursos era desigual
antes da introdução do processo de terri-
torialização na Bahia. Algumas prefeituras
recebiam mais atenção do governo esta-
dual em função de alinhamentos políti-
cos ou por terem mais representatividade
na Assembleia Legislativa. “Com a polí-
tica de territórios, a alocação de recursos

Governador Marcelo Deda (PT) priorizou as ações ficou mais igualitária, evitando concen-
de territorialização no estado de Sergipe trações excessivas em determinadas regi-
ões. Há mais justiça nas ações de gover-
no”, analisa Alberto Valença, secretário de

adotaram essa forma de planejamento. melhor se aqueles recursos produziram os Planejamento.

“O recorte territorial certamente vai trazer efeitos desejados”, explica Alberto Valença, A territorialização promoveu, ain-

benefícios muito importantes para as po- secretário estadual de Planejamento. da, mudanças importantes na mentali-

pulações do interior”, acredita Humberto Em Sergipe, a territorialização aumen- dade dos prefeitos cearenses. Segundo

Oliveira, secretário da SDT/MDA. tou a arrecadação, com o crescimento eco- Antônio Rodrigues, antes, os gestores

De acordo com as projeções feitas pelo nômico por meio da criação de distritos municipais buscavam recursos estaduais

secretário de Desenvolvimento Territorial, industriais, da valorização dos arranjos pro- para investir, na maioria das vezes, em

se todos os estados adotassem essa ma- dutivos locais e das cadeias produtivas no infraestrutura. “Eles priorizavam gran-

neira de planejar suas ações, o Brasil teria interior, além de trazer economia para os des obras e se esqueciam das pessoas”,

aproximadamente 325 territórios rurais. cofres públicos. “O planejamento era frag- critica. Atualmente, os prefeitos estão

“Isso, com certeza, melhoraria a maneira mentado e, em muitos casos, havia sobre- priorizando o desenvolvimento econômi-

de fazer gestão pública no País”, acredita. posição de ações em um mesmo espaço, co, com foco no crescimento de cadeias

com desperdício de recursos financeiros e produtivas. “A visão territorial derruba o

Gastos públicos humanos”, lembra Lúcia Falcón, a então se- paradigma de que projetos são mais im-

A territorialização também trouxe maior cretária de Planejamento do estado. portantes do que o (a) cidadão (ã), uma

racionalidade na aplicação dos recursos pú- Na opinião de Antônio Rodrigues, vez que são idealizados pela sociedade.

blicos. Na Bahia, por exemplo, as avaliações além de otimizar os gastos públicos, a É o fim das vaidades políticas”, acredita.

anuais possibilitam a correção do orçamento territorialização do Ceará também incen- Além disso, a política de territorializa-

público para o ano seguinte, à medida que tivou o empreendedorismo rural e possi- ção também minimizou conflitos entre o

ocorrem os investimentos nos territórios. bilitou a criação de políticas de geração poder público e as organizações sociais

“Quando direcionamos a verba para deter- de renda. Essas ações implementadas em algumas regiões. “Quando a gente

minada área, temos condições de analisar nos sete Territórios da Cidadania do es- convocava reuniões para discutir ações

10 Desenvolvimento Territorial em Foco

para um determinado território, havia
grupos que evitavam estar no mesmo am-
biente de seus adversários políticos”, con-
ta Antônio Rodrigues.
Em Sergipe, a territorialização gerou
avanços específicos, como a recuperação
do sistema viário estadual, a descentraliza-
ção dos serviços de saúde e a implantação
de universidades, institutos tecnológicos
e centros profissionalizantes. A parceria
entre a sociedade civil e o poder público
possibilitou outros resultados menos tan-
gíveis, a exemplo da identificação do pa-
trimônio imaterial dos territórios, retratado
no Atlas da Cultura Sergipana e no Guia
Gastronômico dos Territórios.
Metodologias adotadas
Os 13 estados que adotaram a política de
territorialização percorreram caminhos dis-
tintos na implementação das ações de plane-
jamento e de reordenamento administrativo-
orçamentário. O primeiro passo dado pelo
governo baiano nessa direção foi a elabora-
ção de um estudo de viabilidade, logo após
as eleições estaduais de 2006. “Verificamos
que seria mais simples planejar e desenvol-
ver ações para 26 regiões do que para 417
municípios”, constatou Alberto Valença, titu-
lar da Secretaria de Planejamento.
O governo estadual também inseriu
o elemento da territorialização no pro-
cesso de elaboração do Plano Plurianual
Participativo (PPA) para o período de 2008
a 2011. Desse modo, a formulação do PPA
passou em cada um dos territórios baia-
nos, o que permitiu que os Colegiados
Territoriais pudessem, já no primeiro ano
de governo, intervir diretamente nas polí-
ticas públicas.
Desenvolvimento Territorial em Foco
A discussão entre o governo estadual
e os atores territoriais resultou na criação
do Conselho Estadual de Desenvolvimento
Territorial (Cedeter). Essa nova forma de
organização dos territórios tornou-se um
fórum permanente de debate da agen-
da territorial e assumiu o papel de fazer
o acompanhamento da execução orça-
mentária. O Cedeter está atualmente pre-
parando propostas para o segundo PPA
Participativo, que corresponde ao quadri-
ênio 2011-2015.
No caso específico do Ceará, a territo-
rialização começou com a inclusão de se-
tores que historicamente ficaram à margem
do crescimento econômico, como os(as)
agricultores(as) familiares, assentados(as) da
reforma agrária e outros sujeitos políticos
“invisíveis”. A partir dessa premissa foi utili-
zada a mesma metodologia que a SDT/MDA
adotou para fomentar a política territorial em
todo o País.
O governo estadual também instituiu
a Coordenadoria de Desenvolvimento
Territorial do Ceará, que acompanha to-
das as ações dos Colegiados Territoriais
e da administração pública. “A agenda
territorial não pode ser colocada em
segundo plano. Ela permeia todos os
temas relacionados ao desenvolvimen-
to do estado, nas dimensões econômi-
ca, social, ambiental e cultural”, justifica
Antônio Rodrigues.
Segundo o secretário de Desen-
volvimento Agrário do Ceará, a SDT/MDA
foi um parceiro importante em todo o pro-
cesso de territorialização. “A secretaria nos
deu apoio e subsídios técnicos para que o
nosso desejo – do governo e da sociedade
– fosse concretizado”, conta.
"Com a política de
territórios, a alocação
de recursos ficou
mais igualitária,
evitando concentrações
excessivas em
determinadas regiões.
Há mais justiça nas
ações de governo"
Alberto Valença
Sec. Planejamento - BA
Ao contrário das demais experiências,
o marco zero do processo de territorializa-
ção em Sergipe foi um seminário, realizado
em 2007, que norteou as diretrizes sobre
desenvolvimento territorial no estado. Na
ocasião, foram compartilhadas experiên-
cias nacionais e internacionais de planeja-
mento territorial e participativo.
A então secretária de Planejamento res-
gata a origem da territorialização no estado
e a importância da contribuição dos parcei-
ros em nível estadual e federal para a im-
plantação das políticas territoriais no esta-
do: “A expertise da professora Tânia Bacelar,
a contribuição do Banco do Brasil e o apoio
da Universidade Federal de Sergipe na aná-
lise de variáveis para o reconhecimento
dos recortes territoriais, com a experiência
do Programa Desenvolvimento Regional
Sustentável, foram fundamentais para a ini-
ciação do processo”, lembra Lúcia Falcón.
A gestora também destacou a impor-
tância da SDT/MDA no processo de terri-
torialização. “Sem o apoio e o compartilha-
mento das suas experiências certamente
teríamos incorrido em mais erros do que
acertos”, afirma.
11
Gestão social do desenvolvimento – Planos Territoriais

Arquivo SDT/MDA
Piquet Carneiro é uma das cidades do Ceará que adotou os planos territoriais para planejar suas políticas públicas

Planos territoriais
fortalecem a gestão social

Os PTDRS são instrumentos
inovadores de gestão e
controle social das políticas de
territorialidade. Eles promovem a
integração entre as esferas pública
e social e orientam o planejamento
A
A estratégia territorial alimenta
a democracia e solidifica a base.
A tendência é que ela ganhe
mais força com o engajamento da juven-
tude nas decisões do território. Isso vai
Expedito do Nascimento (PSDB/CE), de
Piquet Carneiro.
Ele começou a participar das discus-
sões no Território do Médio Sertão em
2004, quando ainda era secretário de

das políticas públicas baseado em facilitar nosso futuro”. A defesa firme das Agricultura do município. O atual prefeito
metodologias participativas políticas de territorialidade é do prefeito foi protagonista do processo de elabo-

12 Desenvolvimento Territorial em Foco

ração e implantação do Plano Territorial
de Desenvolvimento Rural Sustentável
(PTDRS) em Piquet Carneiro.
Expedito lembra que os argumentos
que utilizou para convencer o então prefeito
a aderir ao PTDRS foram a racionalização do
planejamento orçamentário e, sobretudo,
os resultados positivos nos municípios vizi-
nhos. No Ceará, além de Piquet Carneiro,
duas outras cidades adotaram os planos
territoriais para planejar suas ações políti-
Cultura como eixo de desenvolvimento na Bahia
A formulação de um planejamento
para estimular a cultura nos territórios
da Bahia era uma aspiração antiga dos
gestores da Secretaria Estadual de Cul-
tura (Secult-BA). Esse plano foi materia-
lizado pelos representantes do grupo de
trabalho do Colegiado Territorial da Bacia
do Jacuípe, que, em 2009, apresentaram
uma proposta do que se tornaria, poste-
riormente, o Plano Territorial de Cultura.
A superintendente de Cultura da Bahia,
Ângela Andrade, destaca que a intensa ati-
vidade sociocultural no estado e as expec-
tativas de dinamização econômica do setor
em curto prazo foram levadas em conta na
elaboração do plano. O processo começou
com a mobilização dos Colegiados Terri-
toriais e, em seguida, com a realização de
duas oficinas, que serviram para analisar
o contexto da cultura de cada território e
traçar os programas e projetos prioritários.
Ela entende que esse plano é funda-
mental para disseminar as políticas de
cultura. “Esse documento vai fortalecer os
Desenvolvimento Territorial em Foco
co-administrativas: Madalena, no Território
Sertões de Canindé, e General Sampaio, no
Vale do Curu e Aracatiaçu.
“As políticas públicas foram organizadas
e definidas adequadamente pela parceria
entre poder público e população nos de-
mais municípios do Território Sertão Central.
Por que não daria certo em Piquet Carneiro,
que tem proporções menores?”
Desde 2009, o município é dividido
em núcleos de apoio administrativo, com
grupos de trabalho dos Territórios de Bacia
do Jacuípe, Sisal, Velho Chico, Litoral Sul e
Baixo Sul que já trabalhavam com a pers-
pectiva cultural”, projeta Ângela.
Nos Territórios do Baixo Sul e do Litoral
Sul os Colegiados ainda estão na etapa de
mobilização. Já os Territórios da Bacia do
Jacuípe, do Sisal e do Velho Chico conse-
guiram organizar oficinas nas suas regiões.
A superintendente considera que os prota-
gonistas culturais dos cinco territórios estão
vivendo um momento de “experimentação
metodológica”. “Futuramente, a nossa in-
tenção é expandir essa discussão para os
outros 21 territórios”, sinaliza Ângela.
Estagnação cultural – A superintendente
de Cultura lembra que alguns municípios
baianos estavam “estagnados culturalmen-
te”. Era preciso, portanto, colocar os (as)
gestores (as) municipais e a sociedade em
constante diálogo para desenvolver os po-
tenciais culturais e fortalecer as redes de
cooperação e de sustentabilidade.
estrutura semelhante à dos Colegiados
Territoriais. Trata-se de grupos locais for-
mados por membros do poder público e
associações comunitárias, que discutem
melhorias para a população.
Territorialização avança
De acordo com Expedito, o processo
de territorialização do município permitiu a
descentralização dos recursos da prefeitura,
tornando a gestão mais democrática e orga-
Esse processo se deu de forma acelera-
da, pois 352 dos 417 municípios do estado
assinaram um protocolo de intenções com
a Secult-BA. “Eles assumiram o compromisso
de criar sistemas municipais de cultura e par-
ticipar ativamente da estratégia. Essa foi uma
parceria que nos surpreendeu”, revela Ângela.
O trabalho de elaboração e implemen-
tação dos planos territoriais de cultura não
ficou restrito à Secult-BA. Além dos Cole-
giados Territoriais, o apoio do Ministério
da Cultura, por meio dos Pontos de Cultu-
ra, da Secretaria Estadual de Planejamento
e das dez universidades públicas, foi es-
sencial para afirmar essa política nos terri-
tórios. Ângela também destaca o papel da
SDT/MDA nessa empreitada: “A SDT/MDA
nos deu régua e compasso para desenhar-
mos o desenvolvimento de acordo com a
nossa proposta”. Ela não tem dúvida de
afirmar que a estratégia territorial é trans-
formadora: “Até agora não vi nada igual na
gestão pública. Espero que em dez anos
tenhamos outro País”, lança o desafio.
13
 "O processo de
territorialização
do município tornou a
gestão mais democrática
e organizada e
também permitiu a
descentralização dos
recursos da prefeitura."
Expedito do Nascimento
Prefeito de Piquet Carneiro (CE)
nizada. “Com o auxílio de associações comu-
nitárias, identificamos como poderíamos me-
lhorar o atendimento à saúde e ampliamos o
número de postos de saúde”, exemplifica.
Os avanços obtidos permitem que o
prefeito afirme que a experiência com o
PTDRS foi uma “forma de reinventar a po-
lítica” no seu município. Ele reconhece que
a estratégia de desenvolvimento territorial
sustentável é uma “invenção” do governo
Lula e não demonstra qualquer incômodo
político: “Atualmente temos de escolher
ideias e não siglas”, justifica Expedito.
O Ceará é um dos estados da Região
Nordeste que adotaram o planejamen-
to territorial (vide página 9). O Grupo
de Trabalho pela Territorialização (GTT)
foi instituído pelo Conselho Estadual de
Desenvolvimento Rural Sustentável, por
meio da Resolução 101/2010. O GTT é
formado por representantes da Secretaria
Estadual de Agricultura, da Delegacia
Federal do MDA, do Conselho Estadual de
Desenvolvimento Rural Sustentável e do
Instituto Agropolos.
14
O processo de construção dos
PTDRS nos 13 territórios rurais do Ceará
seguiu as orientações da Secretaria
de Desenvolvimento Territorial do
Ministério do Desenvolvimento Agrário
(SDT/MDA). Foram feitos levantamen-
tos de dados com instituições gover-
namentais e a verificação dessas infor-
mações com os comitês temáticos dos
Colegiados Territoriais. Em seguida,
esses diagnósticos foram validados em
plenárias e as proposições elencadas fo-
ram discutidas em oficinas.
A legitimação do PTDRS de cada ter-
ritório cearense se deu somente após
a última rodada de debates territoriais.
Atualmente, o estado já finalizou sete pla-
nos territoriais. A previsão dos membros
do GTT é de que os demais serão concluí-
dos em fevereiro de 2011.
Metodologia diferenciada
A criação do Território da Cidadania
Indígena Raposa Serra do Sol e São
Marcos foi uma reivindicação das etnias
Ingarikó, Wapixana, Pantamona, Macuxi
e Taurepang, que ocupam uma área de
23 quilômetros quadrados no norte do
estado de Roraima. A adesão à política
de territorialidade faz parte da luta dos
povos indígenas para superar os proble-
mas seculares de opressão cultural e ex-
clusão econômica.
O Plano de Etnodesenvolvimento
Indígena (PEI) nomenclatura dada pe-
los membros do Colegiado Territorial ao
PTDRS – representa o instrumento que
formalizou a inserção das comunidades
indígenas na abordagem territorial. “Esse
foi o segundo passo que demos para
melhorar a condição de vida das comuni-
dades na região”, afirma Dílson Ingarikó,
membro do Colegiado Territorial e asses-
sor de gestão político-institucional do
Conselho dos Povos Indígenas Ingarikó
(Coping). Segundo ele, esse processo co-
meçou com a homologação da demarca-
ção contínua da reserva indígena Raposa
Serra do Sol.
A metodologia participativa que en-
volveu as organizações indígenas e as três
esferas do poder público levou em consi-
deração a valorização de cada cultura in-
dígena do território. “O fator cultural é o
norteador para as demais dimensões do
desenvolvimento”, esclarece Válter Freitag,
consultor do Coping.
A elaboração da metodologia do PEI
contou com a participação de 17 or-
ganizações indígenas que atuam em
Roraima, com destaque para a Aliança
de Desenvolvimento e Integração das
Comunidades Indígenas (Alidicir), a
Associação dos Povos Indígenas (Apirr),
o Conselho Indígena (CIR), a Organização
das Mulheres Indígenas (Omir), a
Sociedade de Índios Unidos (Sodiur) e a
Coping. A Funai também participou ati-
vamente do processo de elaboração da
estratégia metodológica para articular,
sensibilizar e integrar as etnias, bem como
unificar um planejamento que valorizasse
as identidades e o protagonismo de cada
comunidade.
Desenvolvimento Territorial em Foco
 O Coping e a Funai também foram res- senvolvimento, territorialidade, cidadania e indígenas. “Essa união é o primeiro

ponsáveis pela capacitação de 240 agen- políticas públicas. passo para assegurar o etnodesenvol-

tes indígenas de desenvolvimento, sendo O plano está em vias de ser fina- vimento. Sem isso, seria difícil trazer

30 de cada uma das oito regiões indígenas lizado e já apresenta resultados sig- novas visões para a discussão conjun-

do território. A experiência girou em torno nificativos, como a aproximação en- ta e realizar atividades no Colegiado”,

da discussão de questões sobre etnode- tre o poder público e as lideranças ressalta Ingarikó.

PTDRS: presente e futuro

Os Planos Territoriais de Desenvolvi-
mento Rural Sustentável (PTDRS) são o
insumo gerador dos projetos e das infor-
mações para a elaboração da estratégia
territorial. Eles também ajudam os Cole-
giados a identificar os projetos estratégi-
cos para os territórios rurais.
Vale destacar, ainda, a contribuição dos
PTDRS para o resgate da cidadania como
forma de ampliar os direitos civis, sociais e
ambientais para a população rural. “Os ter-
ritórios estão construindo alternativas para
a diminuição das desigualdades sociais e
regionais”, aponta Fernanda Corezola, di-
retora do Departamento de Ações Territo-
riais (Deter) da SDT/MDA.
Atualmente, 136 PTDRS foram con-
cluídos, sendo 74 qualificados em
2010. Os 164 Territórios Rurais apoia-
dos pela SDT/MDA devem finalizar os
planos territoriais em maio de 2011. A
figura ao lado mostra que as regiões
Nordeste e Norte juntas somam 50
PTDRS elaborados. Esses planos estão
disponíveis no Sistema de Informações urbanos é um desafio a ser superado nos gestora também defende a necessidade
Territoriais (SIT) no site da SDT/MDA próximos anos. “É preciso repensar as polí- de os PTDRS serem apropriados por outros
(www.mda.gov.sdt). ticas públicas em nosso País, para superar- atores sociais e de os colegiados influen-
Segundo Corezola, a articulação da di- mos a visão e a tendência excessivamente ciarem de forma decisiva a montagem dos
nâmica rural com a realidade dos centros urbanística do planejamento”, propõe. A Planos Plurianuais em todo o País.

Desenvolvimento Territorial em Foco 15

Gestão social do desenvolvimento – Fortalecimento dos Colegiados

Colegiado territorial:
protagonista do novo Brasil rural

Arquivo SDT/MDA
Recursos do Proinf financiaram a apicultura no Território da Cidadania Planalto Norte, em Santa Catarina

A
s políticas do Programa
Desenvolvimento Sustentável
de Territórios Rurais (Pronat)
vêm mudando de forma significativa as
relações do Estado com o Brasil rural. Os
Colegiados Territoriais estão permitindo
a introdução de novas práticas na gestão
social das políticas para o meio rural. A
participação ativa da sociedade civil or-
ganizada em diálogo com o poder públi-
co contrapõe-se às práticas históricas de
clientelismo político.
Esses novos espaços de representa-
ção social e política formularam, a partir
de consensos e pactuações, estratégias
das políticas públicas, que se materia-
lizam por meio de planos, projetos e
ações concretas.
Os Colegiados Territoriais vêm sendo
construídos desde 2003, como elemento
estruturante da implementação da es-
tratégia territorial. Além de identificar as
demandas dos territórios e de contribuir
para a elaboração dos planos territoriais,
os Colegiados exercem a função de con-
trole social da execução do Pronat e do
Programa Territórios da Cidadania (PTC).

16 Desenvolvimento Territorial em Foco

 Portanto, os Colegiados Territoriais se desta década. O esgotamento desse ciclo a aquisição de equipamentos e para ca-
apresentam como porta-vozes dos seg- provocou sérias dificuldades financeiras pacitar os (as) agricultores (as) familiares.
mentos sociais – agricultores (as) fami- para os (as) produtores (as) familiares. “Esse objetivo foi plenamente alcançado.
liares, assentados (as) da reforma agrá- A crise envolveu outros 13 muni- O resultado foi a manutenção dos (as)
ria, quilombolas, indígenas, entre outros cípios que compõem o Território da fruticultores (as) na cidade de Canoinhas
– que historicamente permaneceram à Cidadania Planalto Norte. Diante dessa e a diversificação na produção”, relata
margem do desenvolvimento socioeco- situação, o Colegiado Territorial cata- Leoberto Weinert, prefeito do município.
nômico no campo. Apesar de essas ins- rinense começou a buscar alternativas No caso de Campo Alegre, está sen-
titucionalidades terem menos de uma de produção e de renda. A fruticultura, do construído um entreposto de mel que
década de existência, já estão deixando em Canoinhas, e a produção de mel, em vai atender cerca de mil famílias de api-
suas marcas no novo Brasil rural que Campo Alegre, foram, então, identifica- cultores de 11 municípios do Território
emergiu a partir do governo Lula. das como cadeias estratégicas para o Planalto Norte. A produção da região
desenvolvimento da região. deverá ser exportada para atender às de-
Superação da crise O passo seguinte foi elaborar um pla- mandas do mercado externo.
A atividade extrativista vegetal que, no territorial para explorar esse potencial
durante muitas décadas, pautou a eco- econômico e buscar recursos do Programa Tomada de consciência
nomia de Canoinhas, em Santa Catarina, de Apoio a Projetos de Infraestrutura e O prefeito de Canoinhas lembra
atingiu um período de exaustão no início Serviço em Territórios Rurais (Proinf) para que produtores (as) rurais e outros
segmentos sociais do território desen-
volveram a consciência de que a bus-
Desafios dos Colegiados Territoriais ca pela sustentabilidade dependia da
A organização dos Colegiados Territoriais deu um salto de qualidade nos últimos criação de um novo modelo de gestão
anos. O I Salão Nacional dos Territórios Rurais, em 2006, começou a discutir a cria- e dos projetos elaborados a partir dele.
ção de uma rede nacional, que foi concretizada durante o IV Encontro Nacional de “Isso foi decisivo para mudar o pano-
Colegiados Territoriais, em março de 2010. Os territórios constituíram também redes rama local. A estratégia territorial fo-
estaduais em todo o País e agora trabalham para consolidar essas organizações. mentou a harmonia e agregação dos
As parcerias firmadas pela SDT/MDA também foram fundamentais para garantir os
atores sociais municipais em busca do
avanços das políticas territoriais. A Secretaria de Desenvolvimento Territorial registra que,
resgate do extrativismo e de outras po-
atualmente, cerca de 11,7 mil entidades atuam nos Colegiados Territoriais. “Não teríamos
tencialidades”, conta.
chegado aonde chegamos sem o trabalho desses parceiros, tanto no setor público como na
Segundo Weinert, o trunfo dessa po-
sociedade civil”, garante Humberto Oliveira, secretário da SDT/MDA.
lítica está na prática da gestão social, que
Ele avalia que a participação de gestores públicos nas ações territoriais ainda é muito
tem o Colegiado Territorial como a prin-
reduzida e que isso dificulta o processo de desenvolvimento. “É preciso estimular a capaci-
tação de gestores públicos que ainda não se envolveram com a política territorial, inclusive cipal ferramenta para buscar o desen-

aqueles que já participam dos Colegiados Territoriais”, aponta. volvimento em conjunto. “É uma forma

O titular da SDT/MDA entende que as prefeituras têm papel fundamental no desenvol- de trabalhar com os desiguais, tentando
vimento rural sustentável. “Elas precisam sair do isolamento local e pensar na amplitude do igualá-los numa ampla perspectiva de
território. Os municípios devem usar as potencialidades e buscar soluções de problemas desenvolvimento”, explica.
comuns ao território”, convoca o secretário. Entretanto, os avanços na área da saú-
O acompanhamento da execução das políticas públicas e o monitoramento de resul- de ainda são acanhados, apesar dos es-
tados e impactos é outro desafio para o próximo período. “O controle social, inclusive em forços para a formação de redes públicas.
situações de denúncias sobre a má condução das ações, traz ganhos para a população dos Segundo o administrador, essa timidez
territórios”, afirma.
se deve, em parte, à pouca participação

Desenvolvimento Territorial em Foco 17


Comitês temáticos de mulheres discutem a questão de gênero nos territórios rurais
dos gestores municipais nas decisões do
território. “Nem todos os prefeitos parti-
cipam do colegiado”, lamenta.
Protagonismo das mulheres
Os Colegiados Territoriais são condu-
zidos por um núcleo dirigente, que exe-
cuta as deliberações das plenárias. Eles
são compostos também por núcleos téc-
nicos, câmaras temáticas e por comitês
setoriais que tratam de segmentos so-
ciais específicos. Essa estrutura é capaz
de captar as demandas da população e
propor ações concretas para os gestores
públicos.
Portanto, cabe ao Colegiado Territorial
ocupar os espaços políticos e apresentar
propostas de políticas públicas. Esse é
18
o caso do comitê de gênero no Espírito
Santo. Até 2005, as reivindicações das
mulheres rurais não constavam da agen-
da do governo estadual e das prefeituras.
A saída encontrada pelo Colegiado
Territorial foi começar a criar comitês
de mulheres. O primeiro deles surgiu no
Território Norte do estado. “Tivemos de
impor a nossa vontade e reivindicamos a
criação do comitê”, afirma Kátia Santos,
representante do Comitê de Mulheres do
Território Norte.
Atualmente, cerca de 30 mulheres
participam do Colegiado Territorial e 10
entidades – sindicatos, movimentos so-
ciais, cooperativas, associações e comu-
nidades tradicionais – passaram a atuar
no comitê de mulheres. Kátia acredita
Arquivo SDT/MDA
que a iniciativa está contribuindo para a
construção de um território mais justo.
“A partir do momento em que nos uni-
mos e reafirmamos o nosso papel dentro
do Colegiado, conseguimos que outras
organizações nos valorizassem”, afirma.
Apesar dos avanços na formação de
grupos produtivos e da assistência à saú-
de da mulher, Kátia constata que ainda há
discriminação no Colegiado. “Se as mu-
lheres lutassem pelo que acreditam, mui-
ta coisa mudaria”, aconselha. Contudo,
ela avalia que muita coisa mudou a partir
dessa organização. “Ter um espaço onde
podemos modificar essa realidade já é
uma grande evolução. O Colegiado per-
mite que tenhamos voz e que sejamos
respeitadas”, conclui.
Desenvolvimento Territorial em Foco
 Formação de agentes de desenvolvimento

Rosenato Barreto/UFCG
O campus de Sumé (PB) é uma conquista
do Colegiado Territorial do Cariri Ocidental

Formadores de uma
nova realidade rural

O
s membros do Colegiado do
Território do Cariri Ocidental, na
Paraíba, reivindicaram em 2006,
O êxito das políticas de
do Ministério da Educação (MEC), a criação
desenvolvimento territorial
de um campus da Universidade Federal
não depende somente do
de Campina Grande (UFCG) na cidade de
planejamento. É necessário
Sumé. A demanda da população da região
ter pessoas capacitadas. É por
entrou em sintonia com a política do go-
isso que a formação do capital
verno federal de democratizar o acesso às
humano é um dos principais
universidades públicas e o resultado dessa
eixos de atuação do Pronat
parceria foi a instalação, em março de 2010,
do Centro de Desenvolvimento Sustentável
do Semiárido (CDSA) no município.
O objetivo do centro é contribuir para a
construção de um novo referencial científico-
tecnológico para o desenvolvimento susten-
tável do Semiárido. O campus também abre
novas perspectivas econômicas, produtivas e
educacionais para a população que habita o
bioma da caatinga, por meio das atividades
de ensino, pesquisa e extensão.
O Cariri Ocidental faz parte dos 60 ter-
ritórios rurais que elegeram a educação
como prioridade estratégica. O Colegiado
Territorial, com o apoio da Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), inves-
tiu na formação de educadores do campo, se
articulou com o Fórum Estadual de Educação
do Campo e mapeou os jovens que não ti-
nham acesso ao ensino superior na região.
O Colegiado Territorial também par-
ticipou da concepção e da estruturação
do campus de Sumé. Essas discussões
resultaram na criação de sete cursos de
graduação: Licenciatura em Educação do

Desenvolvimento Territorial em Foco 19

Campo, Licenciatura em Ciências Sociais,
Superior em Tecnologia e Gestão Pública,
Superior em Tecnologia em Agroecologia,
Engenharia de Produção, Engenharia de
Biossistemas, Engenharia de Biotecnologia
e Bioprocessos, que já receberam a ins-
crição de 680 alunos. O CDSA também
oferece pós-graduação em Educação
Contextualizada no Semiárido.
A construção do campus de Sumé está
inserida na política de desenvolvimento do
Cariri. Desse modo, a mobilização em tor-
no da ampliação da Universidade Federal
de Campina Grande faz parte da dinâmica
do desenvolvimento territorial.
A proposta de capacitação da juven-
tude rural pela Universidade Camponesa
(Unicampo) também está diretamente re-
lacionada com a estratégia de formação e
multiplicação de agentes de desenvolvi-
mento no território. A Unicampo é resulta-
do da parceria entre a UFCG, o Projeto Dom
Helder Câmara, o Centro de Cooperação
Internacional em Pesquisa Agronômica
para o Desenvolvimento e a Confederação
Nacional dos (as) Trabalhadores (as) na
SDT/MDA prioriza parcerias para formar agentes de desenvolvimento
Os agentes de desenvolvimento são
atores sociais cuja missão é difundir as es-
tratégias territoriais e promover a gestão
social de políticas públicas no âmbito do
desenvolvimento rural sustentável. O pro-
cesso de formação parte do conceito de
territorialidade, trabalha com a metodolo-
gia para articular a política de desenvolvi-
mento rural sustentável e detalha os ins-
trumentos utilizados pela SDT/MDA como
o Pronat e o Proinf, entre vários outros.
A capacitação também incentiva a
participação dos atores sociais nos espa-
20
Agricultura (Contag) e já formou 200 li-
deranças desde sua criação em 2003. “A
iniciativa gerou uma discussão sobre a
importância do ensino superior para aten-
der às necessidades da região. Foi a partir
daí que houve a mobilização para trazer a
UFCG para Sumé”, lembra Socorro Silva,
coordenadora da Unidade Acadêmica de
Educação do Campo do CDSA/UFCG.
Comunicação territorial
O envolvimento de jovens no proces-
so de formação de agentes de desenvol-
vimento não é exclusividade do território
paraibano. Na Bahia, uma experiência com
comunicação territorial vem dando visibili-
dade às ações desenvolvidas no Território
do Sisal. Em cinco anos de existência, a
Agência Mandacaru já produziu muitas
notícias online, fotografias e material au-
diovisual sobre os avanços da política de
desenvolvimento territorial na região.
A Agência Mandacaru surgiu a par-
tir de um projeto de geração de renda
para jovens, elaborado pelo Movimento
de Organização Comunitária (MOC) do
ços de decisão que a política territorial ofe-
rece e prioriza a temática de educação do
campo, com foco na identidade cultural e
na realidade do meio rural. A proposta de
formação dos agentes de desenvolvimento
contempla, ainda, a diversidade de gênero e
as agendas dos jovens, quilombolas, indíge-
nas, entre outros, na perspectiva de incor-
porar suas demandas nos planos territoriais.
A SDT/MDA considera que a parce-
ria com organizações sociais e instituições
públicas é essencial para que as ações de
formação de agentes de desenvolvimen-
Território do Sisal. A proposta do MOC era
aliar a formação com a mobilização social
e uma atividade produtiva. “A iniciativa do
MOC foi fundamental para a concretização
de nosso projeto. Eles nos prestam asses-
soria e também contratam os nossos servi-
ços”, explica Camila Oliveira, coordenadora
da Agência Mandacaru.
O projeto é administrado por jovens
entre 16 e 26 anos e sua finalidade não
se limita à produção de conteúdo. “Nosso
objetivo é colocar os jovens como agentes
de comunicação e mobilização em favor
do desenvolvimento. Isso é fundamental
para que eles se insiram no debate territo-
rial”, explica Camila.
A agência tem assento no Colegiado
Territorial e sua atuação está centrada na
identificação dos problemas e apresen-
tação de soluções para as demandas da
juventude rural. O protagonismo nas po-
líticas de desenvolvimento rural sustentá-
vel também garantiu aos seus dirigentes
a participação nos Conselhos Municipais
de Juventude, da Merenda Escolar e da
Criança e do Adolescente.
to apresentem resultados satisfatórios. O
engajamento dos Colegiados Territoriais
também é imprescindível para o sucesso
das experiências de capacitação. “O com-
prometimento do Colegiado com a temá-
tica da educação só enriquece o processo
de formação de agentes, uma das principais
linhas de atuação para o desenvolvimento
territorial”, defende Fernanda Corezola, di-
retora do Departamento de Ações Territo-
riais da Secretaria de Desenvolvimento Ter-
ritorial do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (Deter/SDT).
Desenvolvimento Territorial em Foco

Avanços e conquistas
Desde sua criação, em 2005, a Agência
Mandacaru vem colecionando resultados
positivos. Um deles é a conquista do cur-
so de Comunicação Social no campus da
Universidade do Estado da Bahia (Uneb),
em Conceição do Coité. A reivindicação
partiu dos jovens, que também foram ca-
pacitados nas áreas de fotografia, audio-
visual com foco na cultura e assessoria de
imprensa. O processo de capacitação foi
dado pelos professores da Uneb.
O trabalho de articulação da agência
garantiu, ainda, a participação de jovens no
Comitê Gestor do Pacto Nacional Um Mundo
para Crianças e Adolescentes do Semiárido,
da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A Agência Mandacaru teve papel impor-
tante na formação de vários agentes, seja
reproduzindo o conteúdo de eventos do ter-
ritório, seja buscando parcerias para ‘educar’
jovens”, afirma Camila Oliveira.
A coordenadora do projeto conta tam-
bém que as parcerias foram importantes
porque ajudaram a agência a se estabelecer
como um canal de comunicação confiável,
ainda que gerida por jovens que estão ad-
quirindo experiência. “É uma forma de so-
mar esforços para fortalecer o território por
meio da comunicação. Não basta ter boas
ações desenvolvidas sem dar visibilidade
dentro e fora do território”, defende.
É por essa razão que a Mandacaru
foi selecionada como uma das boas prá-
ticas territoriais da Bahia e convidada
pela SDT/MDA para participar do II Salão
Nacional dos Territórios Rurais.
Agentes multiplicadores
A formação de agentes de desenvolvi-
mento também faz parte das prioridades do
Território do Alto Jequitinhonha, em Minas
Desenvolvimento Territorial em Foco
Gerais. Essa ação é desenvolvida por inter-
médio de 13 grupos de trabalho, que têm a
função de fortalecer eixos temáticos conside-
rados estratégicos para a região, a exemplo
de educação, fruticultura, apicultura e comer-
cialização de produtos da agricultura familiar.
A tarefa dos agentes que participam das
atividades de capacitação é repassar o que
foi aprendido para outras pessoas nas suas
comunidades. Isso significa que, na prática,
eles se transformam em agentes multipli-
cadores. “As pessoas percebem que podem
transformar a realidade que não está tão
boa em uma realidade melhor, produtiva”,
afirma Wagner Abreu, assessor técnico do
Território do Alto Jequitinhonha.
O Colegiado Territorial também traba-
lha a formação de agentes de desenvolvi-
mento mediante a elaboração de estudos
de cadeia produtiva. “O propósito dessa
ação é identificar os potenciais do territó-
rio e orientar os atores sociais de acordo
com a realidade e as demandas da popula-
ção local”, esclarece Abreu.
Cooperativismo
Na Região Sul, a Cooperativa Escola, li-
gada ao Sistema de Cooperativas de Crédito
Rural com Interação Solidária (Cresol), é
o braço dos Territórios Rurais de Santa
Catarina – Alto Vale do Itajaí e Meio Oeste
Contestado – e do Paraná para a capacita-
ção dos (as) agricultores (as) familiares.
A cooperativa já formou 3,5 mil agen-
tes de desenvolvimento em gestão coope-
rativista, financeira, operacional e estraté-
gica. Além dos (as) produtores (as) rurais,
o público-alvo é composto por agentes
comunitários, gestores (as) e funcionários
(as) de cooperativas de nove territórios:
dois de Santa Catarina, Alto Vale do Itajaí e
Meio Oeste Contestado, e sete do Paraná.
“A Agência Mandacaru
teve papel importante
na formação de vários
agentes, seja reprodu-
zindo o conteúdo de
eventos do território,
seja buscando parcerias
para ‘educar’ jovens”
Camila Oliveira
Agência Mandacaru
A proposta da Cooperativa Escola é
desenvolver os empreendimentos rurais e
fortalecer as entidades cooperativas e as-
sociativas por meio da formação do agri-
cultor familiar. A ideia é aliar o conheci-
mento teórico dos técnicos com o acúmulo
prático dos (as) produtores (as), para que
esses adquiram as condições necessárias
para administrar uma cooperativa.
De acordo com Vanderley Ziger, presi-
dente do Sistema Cresol, a aproximação en-
tre técnicos (as) e agricultores (as) resultou
no incremento das condições econômicas
das propriedades rurais e na melhoria da
gestão das cooperativas e das proprieda-
des. “É visível o conhecimento que adqui-
rem. Os (as) agricultores (as) compreende-
ram o processo de gerenciamento de uma
cooperativa, seja ela de crédito, de produ-
ção ou de habitação”, comemora.
O dirigente do Cresol acrescenta que
a implantação da política territorial con-
tribuiu para o processo de formação de
agentes de desenvolvimento territorial,
uma vez que trabalha com heterogenei-
dade territorial. “Eu não posso trabalhar a
capacitação no Vale do Ribeira, no Paraná,
da mesma forma que promovo um curso
no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. São
realidades econômicas e culturais distintas.
A discussão territorial para mim foi funda-
mental”, constata Ziger.
21
Dinamização econômica dos Territórios Rurais

Infraestrutura para
gerar renda nos territórios

Criado para financiar e viabilizar
projetos estruturantes de
apoio à agricultura familiar,
há oito anos o Proinf colabora
com o desenvolvimento rural
sustentável
O
s (as) agricultores (as) familiares
e assentados da reforma agrária
do Território do Médio Sertão,
na Paraíba, identificaram, em 2005, que a
comercialização de seus produtos era um
dos principais problemas na região. As dis-
cussões no Colegiado de Desenvolvimento
Territorial (Codeter) apontaram, então,
para a necessidade de se criar uma feira
para vender o excedente da produção.
Mas, para que a ideia se tornasse realida-
de, era preciso buscar recursos, escolher um
local, comprar barracas e equipamentos e
capacitar os (as) produtores (as) para traba-
lhar com a comercialização direta. Essas de-
mandas foram transformadas em um projeto
territorial, que recebeu apoio do Programa
de Apoio a Projetos de Infraestrutura e
Serviço em Territórios Rurais (Proinf).
O Proinf foi criado pela Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA)
em 2003, para alavancar recursos para pro-
jetos de desenvolvimento rural sustentável
nos 164 territórios rurais. A SDT/MDA in-
vestiu, nos últimos oito anos, cerca de R$
1,5 bilhão, recursos que beneficiaram, dire-
ta ou indiretamente, produtores (as) rurais
de 2,5 mil municípios brasileiros.
A SDT/MDA disponibilizou R$ 70 mil re-
ais desse valor para financiar o projeto do
Território do Médio Sertão. Os recursos do

Divulgação

Feira de Patos, na Paraíba,

comercializa produtos da agricultura familiar

22 Desenvolvimento Territorial em Foco

Proinf foram utilizados para a compra das
barracas, balanças e embalagens. A prefeitu-
ra de Patos, cidade onde a feira foi instalada
– entrou com a doação da área e a liberação
de R$ 3,5 mil. A parceria entre o Colegiado
Territorial, o poder local e o governo federal
deu certo e a feira foi inaugurada em 2008.
Capacitação
Os (as) feirantes fundaram uma asso-
ciação, que é responsável pela organização
do empreendimento. A feira comercializa
a produção de 27 famílias, de 10 cidades
do Médio Sertão, e vende seus produtos,
sempre às quintas-feiras, para os cerca de
100 mil habitantes de Patos.
A oferta de capacitação técnica para
os (as) feirantes foi uma das primeiras
reivindicações da associação. “Quando a
feira foi criada, os (as) agricultores (as) re-
ceberam orientação na área de produção
e comercialização”, conta Flávio Luna. O
consultor acrescenta que, recentemente, a
SDT/MDA concluiu um estudo da cadeia
de hortifruticultura na região, que ma-
peou todas as etapas, desde a produção
até a comercialização, e levantou os cus-
tos e a logística necessária para aperfeiço-
ar o negócio. “Isso é importante para que
eles possam garantir uma variedade ne-
cessária de oferta e adequar a produção à
demanda”, explica Luna.
A população de Patos também saiu ga-
nhando, porque passou a contar com uma
opção de alimentos saudáveis à mesa.
Quando a feira começou a funcionar de
fato, os (as) feirantes ofereciam alimentos
tradicionais e agroecológicos. Porém, os
(as) produtores (as) decidiram que, em no
máximo dois anos, vão se dedicar exclusi-
vamente à produção agroecológica. “Eles
já estão recebendo capacitação técnica
para fazer essa transição e se orgulham
de produzir alimentos sem veneno. Vai ser
uma produção limpa e sustentável”, pro-
mete Luna.
Desenvolvimento Territorial em Foco
Enfoque territorial
O Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviço em Territórios Rurais
(Proinf) foi criado a partir do Programa Desenvolvimento Sustentável de Territórios
Rurais (Pronat), que visa a apoiar agricultores (as) familiares, quilombolas, pescadores,
comunidades ribeirinhas e indígenas. Em princípio, os recursos do programa eram
repassados para projetos de um determinado município, mas posteriormente eles se
adequaram ao enfoque territorial. “Essa mudança garantiu melhor custo benefício em
relação aos projetos anteriores, que precisavam ser replicados nos municípios vizi-
nhos”, afirma Reinaldo Pena Lopes, coordenador do Proinf.
As ações apoiadas pelo Proinf são escolhidas pelo Colegiado Territorial e analisa-
das pela Câmara Técnica do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável
e pela Delegacia de Desenvolvimento Agrário. Depois de aprovado pelas três ins-
tâncias, o projeto é encaminhado para a SDT/MDA autorizar o repasse dos recursos
pela Caixa Econômica Federal, que também contrata os parceiros, paga e fiscaliza a
execução dos projetos.
O projeto vai entrar agora em uma nova feitura de Lapão e o governo federal. O
etapa. A SDT/MDA já destinou R$ 115 mil município doou o terreno e ofereceu in-
para aquisição de veículos, que serão uti- fraestrutura, como água e energia elétrica.
lizados para transportar produtos, equipa- A SDT/MDA, por meio do Proinf, destinou
mentos e utensílios. A cobertura do local, RS 1,2 milhão para a aquisição de cami-
outra reivindicação da associação, também nhões, tratores e equipamentos utilizados
será providenciada, para dar mais conforto no transporte de grãos, no plantio, no
aos (às) feirantes, que sofrem com o calor manejo do solo e no beneficiamento.
na maior parte do ano e com a chuva, nos A esmagadora foi inaugurada em maio
meses de março a junho. de 2010 e o empreendimento é adminis-
trado pela Cooperativa dos (as) Produtores
Biodiesel (as) da Agricultura Familiar do Território
A Bahia já foi a maior produtora de ma- de Irecê (Coafti). Segundo Genildo Alves,
mona do mundo, nos anos 50, mas o plantio presidente da Coafti, ainda não foi possível
perdeu força ao longo das últimas décadas mensurar o aumento na renda das famílias
devido à competição com a China. A aposta produtoras. Porém, ele assegura que a pro-
do governo federal no programa do biodie- dução do óleo agrega, pelo menos, 37%
sel e a instalação de uma esmagadora da de valor ao produto. “Em quatro meses de
oleaginosa na região reverteram essa ten- produção, a cooperativa faturou R$ 6 mi-
dência e trouxeram novas esperanças aos lhões, investidos, em parte, na compra de
(às) agricultores (as) familiares e assentados máquinas e equipamentos”, registra.
da reforma agrária do Território de Irecê. O dirigente da Coafti afirma, com orgu-
A instalação dessa unidade de esma- lho, que o Programa Nacional de Biodiesel
gamento foi resultado do projeto territo- é responsável por 12% da renda da região
rial apresentado, em 2004, pelo Comitê de Irecê. “Hoje o (a) agricultor (a) pode vi-
Gestor do Colegiado Territorial. Assim ver apenas do cultivo da mamona. O preço
como na Paraíba, a demanda foi atendi- está estabilizado e o lucro é garantido”, co-
da por meio de uma parceria entre a pre- memora Alves.
23
Ampliação das parcerias
O sucesso dos empreendimentos apoia-
dos pelo Proinf se deve também às parce-
rias com outras instituições, como Serviço
Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena
Empresa (Sebrae) e Banco do Nordeste
(BNB). O aporte desses parceiros é impor-
tante porque eles possibilitam que, além
da infraestrutura fornecida pela SDT/MDA,
a comunidade beneficiada também receba
apoio técnico e investimentos financeiros
para melhorar e aumentar a produção.
A expertise do Sebrae na área da comer-
cialização tem sido muito útil para os (as)
agricultores (as) familiares. Após montar
uma agroindústria, por exemplo, é preciso
fazer que os produtos tenham saída. É nes-
sa etapa que os consultores especializados
nos pequenos negócios rurais orientam os
(as) produtores (as) sobre questões funda-
mentais, como criação de embalagens, de-
senvolvimento da marca e certificação de
produtos, entre outras. Eles também atuam
na capacitação em técnicas de produção e
gestão dos empreendimentos. “O Sebrae
não pode investir recursos em patrimônio
físico como galpões, máquinas e equipa-
mentos. O que fazemos é oferecer conheci-
mento”, explica Juarez de Paula, gerente da
Unidade de Desenvolvimento Territorial do
Sebrae Nacional.
O gerente explica que essa parceria
não é resultado de um convênio formal
entre as duas instituições: “Nós atua-
mos com estratégias semelhantes para
promover o desenvolvimento. Sempre
participamos do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Rural Sustentável
(Condraf) e acompanhamos as dis-
cussões que deram origem ao MDA,
à SDT e à política de territorialidade.
Também trabalhamos com os conceitos
de territórios e de identidade cultural.
A diferença é que o Sebrae atua tam-
bém com empreendimentos urbanos”,
afirma Juarez.
Essa convergência se confirma nos
Colegiados Territoriais, que, em muitos ca-
sos, contam com a participação de repre-
sentantes do Sebrae. “Ao contrário do que
acontece com o investimento do governo,
o Colegiado não tem autonomia para de-
cidir sobre os recursos do Sebrae, mas dia-
logamos com essa instância para receber
indicações de como e onde usar o dinhei-
ro”, conclui.
“Em quatro meses de
produção, a cooperativa
faturou R$ 6 milhões,
investidos, em parte, na
compra de máquinas e
equipamentos”
Genildo Alves
Presidente da Coafti
Crédito
O BNB também possui linhas de crédito
para fomentar o desenvolvimento territo-
rial sustentável. A liberação desses recur-
sos é condicionada a estudos prévios dos
sistemas produtivos do território e à ela-
boração de planos territoriais de cadeias
produtivas (PTCP) para detectar problemas
e oferecer soluções. Essa medida propor-
ciona mais segurança tanto para o banco
como para os (as) produtores (as), pois são
eliminados os possíveis entraves para o su-
cesso do empreendimento.
Os financiamentos do BNB destinam-
se à revitalização de empreendimentos
que já receberam recursos do Proinf, mas

Instrumentos do Proinf ainda precisam de apoio para funcionar

de forma mais eficiente. “Se há uma casa
Os projetos de infraestrutura executados nos territórios rurais são balizados por um de farinha que não está funcionando
conjunto de ferramentas que potencializam o sucesso das ações. A partir da matriz do Pla- como deveria, investimos tanto na revita-
no Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), o plano territorial de cadeias lização da casa como oferecemos crédito
produtivas faz um diagnóstico de todas as etapas do processo produtivo em cada território. para os (as) produtores (as) de mandio-
Esse estudo preliminar é fundamental para assegurar resultados positivos para os pro- ca, que fornecem a matéria-prima”, ex-
jetos. “Em uma cadeia de apicultura, por exemplo, não adianta fazer uma grande unidade plica Carlos Pinto, gerente de Políticas
de beneficiamento se não há quantidade de mel suficiente. O plano de cadeia vai apontar Territoriais, Ambientais e de Inovação da
quantas colmeias são necessárias, quantas casas de mel, quantos tanques de decantação instituição financeira.
e quantos veículos para transportar o produto até a unidade de beneficiamento”, explica A parceria entre a SDT/MDA e o BNB
Vital Filho, diretor do Departamento de Cooperativismo, Negócios e Comércio (Decoop) nos territórios rurais é antiga, mas a coope-
da SDT/MDA. ração formal foi assinada somente no iní-
A partir do plano de cadeia é feito um plano de negócios do empreendimento para cio de setembro de 2010. “A nossa meta é
definir a infraestrutura necessária para cada projeto. Concluída essa etapa, os Colegiados chegar a 121 ações conjuntas até o fim do
Territoriais elaboram, finalmente, os projetos territoriais para que os empreendimentos pos- ano. Esse número deve crescer significati-
sam acessar os recursos do Proinf. vamente em 2011”, projeta Carlos Pinto.

24 Desenvolvimento Territorial em Foco


Bases de serviços de comercialização:
chave para a dinamização econômica
Cooperativa Nossa Terra, em Erechim (RS), promove atividade de capacitação
A
venda dos produtos sem-
pre foi um grande entrave
para a consolidação da agri-
culta familiar. A criação de Bases de
Serviços de Comercialização (BSC) foi a
solução encontrada pela Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA)
para superar essa deficiência no âmbito
dos empreendimentos familiares.
Desenvolvimento Territorial em Foco
Dinamização econômica dos Territórios Rurais
O papel da BSC é suprir a necessidade
de assessoramento dos empreendimentos
para acesso aos mercados e ampliação e
geração da renda dos (as) agricultores (as)
familiares.
Em nível nacional, o Fórum Brasileiro de
Economia Solidária (FBES) teve participação
fundamental no debate para a criação das
BSCs. “Trouxemos nossa expertise para o
campo da comercialização, da assistência
Arquivo SDT/MDA
técnica, do comércio justo e solidário, e das
bases de serviço de comercialização”, conta
Daniel Tygel, secretário-executivo do FBES.
Segundo Tygel, as BSCs possibilitaram o
atendimento à demanda de assessoria téc-
nica especializada voltada para a comercia-
lização dos (as) agricultores (as) familiares e
dos (as) produtores (as) da economia soli-
dária. “Temos no Brasil várias experiências
de formação relacionadas ao empreende-
25
dorismo familiar, mas nada parecido com as
bases. Foi um passo importante para conso-
lidar a prática da economia solidária no dia
a dia dos (as) agricultores (as)”, afirma.
Essa reviravolta está se tornando possí-
vel graças às ações da SDT/MDA para criar
estruturas de apoio à comercialização, por
meio da liberação de recursos, da identi-
ficação e do credenciamento de cerca de
150 entidades de assessoramento técnico
que atuam nos territórios rurais. A secre-
taria também tem promovido uma série
de eventos nacionais e regionais na pers-
pectiva de criação de uma rede nacional de
bases de serviços.
Os números surpreendem
No sertão nordestino, em apenas cinco
meses, dois mil agricultores (as) familiares
dos Territórios da Cidadania Alto Sertão,
Baixo São Francisco, Sertão Ocidental e Sul
Sergipano aumentaram a comercialização
de seus produtos de forma significativa. De
dezembro de 2008 a abril de 2009, grandes
redes de supermercados locais e os gover-
nos estadual e municipais desembolsaram
R$ 5 milhões para a compra de produtos
da agricultura familiar. Só o setor público
adquiriu R$ 2 milhões em milho, feijão, ba-
tatas, inhames, macaxeira, mel, frutas, en-
tre outras mercadorias.
Esse resultado pode ser creditado
à assessoria dos 20 técnicos capacita-
dos pelo Instituto de Cooperação para
o Desenvolvimento Rural Sustentável
(Icoderus) aos (às) 600 agricultores (as) de
Sergipe. O processo de qualificação gerou
acréscimo de quase 200% na renda dos
produtores (as) familiares. “Antes, o litro do
mel era vendido por R$ 3,50. Hoje, o mesmo
produto, é comercializado a R$ 13,90”, con-
ta o presidente do Icoderus, Alex Chagas.
Essa BSC teve papel importante na criação
da Central de Comercialização da Agricultura
“Temos no Brasil
várias experiências de
formação relacionadas
ao empreendedorismo
familiar, mas nada
parecido com as
bases de serviço e
comercialização."
Daniel Tygel
Secretário-executivo do FBES
Familiar em Sergipe, que deve entrar em fun-
cionamento no início de 2011. Mas o que
deve dinamizar o processo de comercializa-
ção do setor é a construção da Central de
Cooperativas, que vai reunir todas as unida-
des estaduais e inseri-las nas chamadas pú-
blicas e nas vendas em larga escala para su-
permercados. “A intenção é conseguir novos
mercados para todos os cooperados, institu-
cional ou não, mas sem estimular a concor-
rência entre eles”, explica Chagas.
O processo de implantação da BSC em

Surgimento das Bases de Serviços Sergipe, porém, enfrentou vários proble-

mas, como a identificação de técnicos com
A ideia de implantar as BSCs surgiu em 2003. Naquele ano, os principais movimen- foco na agricultura familiar. “Encontramos
tos sociais do campo e as redes de desenvolvimento rural se reuniram para reivindicar muitas pessoas capacitadas, mas que ti-
do governo federal ações concretas de comercialização dos produtos da agricultura nham o viés do agronegócio”, lembra o
familiar. O resultado desse debate apontou para a criação de uma institucionalidade de presidente do Icoderus. Outra dificuldade
assessoramento às unidades familiares “da porteira para fora”. foi fazer os gestores públicos municipais e
A SDT/MDA fez, então, um mapeamento nos territórios e encontrou 45 organi- estaduais entenderem a importância dos

zações sociais que trabalhavam com sistemas de comercialização. Apesar de esses mercados institucionais criados pelos pro-

empreendimentos enfrentarem uma série de dificuldades, eles foram a base para a gramas de Aquisição de Alimentos (PAA) e
de Alimentação Escolar (Pnae) e seus im-
criação das BSCs em 2007. Essa experiência foi analisada, no ano seguinte, na I Con-
pactos no desenvolvimento rural.
ferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, que aprovou
Apesar dos percalços, Alex Chagas é
uma política de fomento das unidades de assessoramento de comercialização da
otimista sobre o futuro do assessoramen-
agricultura familiar.
to técnico realizado pelas BSCs. Ele espera
Essas contribuições foram fundamentais para que outros órgãos públicos se inte-
que, nos próximos dois anos, a agricultura
ressassem pelo tema e para que, em 2008, as BSCs fossem incorporadas ao Programa
familiar sergipana dobre o fornecimento
Territórios da Cidadania do governo federal. Atualmente, a SDT/MDA investe R$ 75 mil
de produtos para a merenda das escolas
em cada uma das 150 BSCs. públicas. Ele também trabalha com a meta

26 Desenvolvimento Territorial em Foco

de exportar para grandes centros consu-
midores, inclusive fora do País.
Mercado externo
As ações voltadas para o mercado ex-
Balanço e perspectivas
O diretor do Departamento de Cooperativismo, Negócio e Comércio (Decoop)
da SDT/MDA, Vital Filho, acredita que a aposta no assessoramento das estruturas

terno também têm garantido resultados
positivos. Recentemente, a Cooperativa
Nossa Terra – BSC que coordena todas
as ações no Rio Grande do Sul – firmou
parceria com uma processadora de laran-
das BSCs foi uma decisão acertada. Ele considera que elas aceleraram o processo
de discussão sobre agricultura familiar e economia solidária nos Territórios Rurais e,
à medida que o processo de criação de redes for ampliado, os resultados políticos
dessa experiência tendem a crescer.

ja para a fabricação de suco orgânico. A
Ecocitrus exporta toda a sua produção e,
após esse convênio, agregou os produtos
do Território Alto Uruguai à sua demanda.
“Estamos fazendo parcerias para comer-
A experiência dos últimos três anos indica que os empreendimentos da agricul-
tura familiar assessorados por essas entidades têm conseguido mais êxito do que os
que não tiveram atendimento especializado. O diretor do Decoop afirma que não se
pode separar a política de fomento da comercialização dos territórios do contexto

cializar o suco de laranja para fora do País,
pois os valores pagos são altos e é uma for-
ma de divulgar o produto no exterior”, afir-
ma Marcelo Cozer, gerente-geral da BSC.
As parcerias da cooperativa também
estadual. “A grande parte da riqueza dos estados está nas regiões metropolitanas e
pensar a economia do território sem levar em consideração as áreas urbanas afeta a
dinamização econômica do meio rural”, destaca.
Vital elenca desafios que precisam ser solucionados, como a ampliação do

alcançam os mercados internos. Além de
comercializar o excedente para outras re-
giões do Rio Grande do Sul, como a Central
de Comercialização de Porto Alegre, já fo-
ram iniciadas negociações com a prefeitu-
apoio às BSCs, bem como a qualificação dos técnicos para melhoria de sua atuação
junto aos empreendimentos. No entanto, as dificuldades não abalam seu otimis-
mo. “Daqui para a frente, o impacto no processo de comercialização será cada vez
mais expressivo”, avalia.

ra de São Paulo, para o abastecimento da

merenda escolar. “O consumo de suco de
laranja deles é altíssimo. Seriam necessá-
rios 500 hectares para atender à demanda
do mercado local”, calcula Cozer.
O plantio da fruta ocupa cerca de seis mil
hectares na região do Alto Uruguai. Antes
das ações viabilizadas pela BSC, alguns agri-
cultores (as) se desfaziam dos pomares por-
que o preço da produção se desvalorizava
nas negociações com os atravessadores.
A Cooperativa Nossa Terra ganhou o
status de BSC em 2008 e sua atuação vem
gerando resultados positivos. O município
de Erechim foi o primeiro do País a comer-
cializar 100% dos recursos do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (Pnae)
com produtos da agricultura familiar.
Diante desse feito, a experiência foi clas-
sificada como exemplo de sucesso pelo
Ministério da Educação.
Parceria estadual
Outro caso da adequação desse instru-
mento de política pública é o envolvimen-
to dos governos estaduais. A Secretaria de
Agricultura Familiar da Bahia, por exemplo,
tem se destacado na gestão territorial. Os
26 Territórios Rurais baianos possuem BSCs,
sendo a metade deles apoiada pela SDT/
MDA. O governo local também investiu na
formação de 28 agentes estaduais de dina-
mização econômica, que atuam como técni-
cos em assessoramento de empreendimen-
tos da agricultura familiar nos 13 territórios
de identidade. “As BSCs têm a função de di-
namizar a economia dos territórios, uma vez
que facilitam o aumento da comercialização,
colocando os (as) agricultores (as) familiares
em contato com os mercados institucionais”,
esclarece Wilson Dias, superintendente de
Agricultura Familiar da Bahia.
Segundo Dias, a atuação das BSCs fez
que os investimentos do PAA nos territó-
rios passassem de R$ 30 milhões para R$
50 milhões por ano. Elas também fizeram
a ponte entre os empreendimentos e as
prefeituras. “Hoje, mais de 60 prefeituras
compram além dos 30% previstos em lei”,
acrescenta.

Desenvolvimento Territorial em Foco 27

Dinamização econômica dos Territórios Rurais
Unicafes organiza cooperativas de produção da agricultura familiar em vários estados do País
Cooperativismo sustentável e solidário
Cooperativas da agricultura
familiar contribuem para as
políticas de desenvolvimento
territorial, cujas estratégias
também visam ao fortalecimento
do cooperativismo no Brasil
28
O
O fortalecimento das coopera-
tivas de produção e de crédito
da agricultura familiar sem-
pre foi uma das metas da Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA).
É por essa razão que a SDT/MDA promo-
veu logo após sua criação, em 2003, uma
Arquivo SDT/MDA
série de encontros para debater medidas
concretas para fomentar o cooperativismo
brasileiro no meio rural.
Os participantes desses encontros indi-
caram a necessidade de criar uma entidade
para incrementar a organização das coope-
rativas dos (as) agricultores (as) familiares.
O fruto dessas discussões surgiu, no ano
Desenvolvimento Territorial em Foco
seguinte, com a formação da Associação dirigentes das cooperativas em gestão e de encontros para estimular a cooperação
Nacional do Cooperativismo de Crédito para oferecer assessoria técnica para seus em rede”, afirma Iara.
da Economia Familiar e Solidária (Ancosol) cooperados. “Os encontros foram impor- A dirigente lembra que as discussões
para ampliar as possibilidades de linhas de tantes para melhorar a eficiência na ad- sobre as políticas de comercialização do go-
crédito para os (as) produtores (as) rurais. ministração das cooperativas. Esse tipo verno federal para os produtos da agricul-
Um ano depois, em 2005, as lideranças de parceria ajudou no fortalecimento da tura familiar também foram de extrema im-
representativas dos (as) agricultores (as) fa- rede”, avalia Valdemar de Oliveira, presi- portância: “Aprendemos como participar do
miliares deram outro passo à frente e consti- dente da Ancosol. Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
tuíram a União Nacional das Cooperativas e do Programa Nacional de Alimentação
de Agricultura Familiar e Economia Redes estaduais Escolar (Pnae) e depois negociamos com
Solidária (Unicafes). A Unicafes nasceu A SDT/MDA também apoiou o proces- a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal). Hoje
com a propósito de reunir as modalidades so de formação e consolidação das coo- vendemos, mensalmente, 50 toneladas de
de produção, comercialização, trabalho, perativas nos estados. A diretora finan- alimentos para atender à rede pública esta-
serviço, crédito e infraestrutura em uma ceira da Unicafes da Bahia, Iara Andrade, dual de educação”.
única entidade. conta que a unidade do MDA desempe- Paralelamente à capacitação so-
Além de criar as condições para esti- nhou, em 2007, papel importante na cria- bre a exploração do mercado institu-
mular a discussão sobre cooperativismo, ção da rede de cooperativas em seu esta- cional gerado pelo PAA e pelo PNAE,
a SDT/MDA vem promovendo nos últimos do. “A secretaria fez um diagnóstico das os (as) agricultores (as) familiares liga-
anos cursos e seminários para capacitar os nossas cooperativas e apoiou a realização dos às 70 cooperativas da Unicafes baia-
na receberam orientações sobre o aces-
so ao crédito e o emprego de técnicas
alternativas de produção, a exemplo da
Mudanças na lei agroecologia. “As nossas parcerias com
a SDT/MDA criaram oportunidades para
As entidades e redes de cooperativismo solidário no Brasil estão há tempos reivin-
o intercâmbio entre os (as) agricultores (as).
dicando alterações na legislação das cooperativas para se adequarem à realidade da
Isso permite que um aprenda com a ex-
agricultura familiar.
periência do outro”, diz a diretoria da
Segundo Silvio Ney, presidente da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Unicafes.
Familiar e Economia Solidária (Unicafes), a Lei Geral do Cooperativismo, de tributação As bases de serviços de cooperativis-
das cooperativas e a regulamentação das cooperativas de trabalho são os três pontos mo, crédito e comercialização também são

centrais que precisam ser modificados com urgência. oferecidas para os (as) agricultores (as) fa-

“Precisamos de uma forma diferente de tributação, pois a cooperativa não é como miliares nos territórios rurais. Elas contam
com estrutura e profissionais especiali-
uma empresa comum. Ela tem fim social. Nós trabalhamos com excedentes, mas não
zados para qualificar o trabalho dos coo-
visamos a lucro”, pondera o dirigente.
perados. Outra ferramenta da política de
A regulamentação das cooperativas de trabalho é outra proposta das cooperativas
desenvolvimento territorial rural utilizada
da agricultura familiar que está sendo analisada pelo Congresso Nacional. “O pro-
pelas cooperativas são os planos de cadeia,
blema é que muitas empresas se revestem de cooperativas de trabalho, o que acaba que consistem em estudos, feitos geral-
dando a impressão de que todas são fraudulentas”, justifica o presidente da Unicafes. mente por técnicos de entidades parceiras,
sobre todas as etapas de uma determinada

Desenvolvimento Territorial em Foco 29

cadeia produtiva para identificar gargalos e
formular soluções.
Territorialidade
A expectativa da SDT/MDA é que haja
maior integração entre as cooperativas da
agricultura familiar e as estratégias de de-
senvolvimento territorial. Segundo Sílvio
Ney, presidente da Unicafes Nacional, os
dirigentes das cooperativas estão desper-
tando para a importância da atuação nos
Colegiados Territoriais: “Os (as) agriculto-
res (as) familiares estão descobrindo que
a Política de Desenvolvimento Territorial
Rural Sustentável rende benefícios diretos
e indiretos e está comprometida com as
reivindicações do cooperativismo”.
O dirigente apresenta argumentos ob-
jetivos para demonstrar que o cooperati-
vismo tem importância fundamental para
a política territorial. “Muita gente que antes
vivia abaixo da linha de pobreza se associou
e está produzindo. O cooperativismo já se
mostrou a forma mais eficiente de inclusão
social e produtiva. Os prefeitos também já “Muita gente que antes
entenderam que o cooperativismo tem o vivia abaixo da linha
poder de aumentar a renda dos municípios”, de pobreza se associou
sustenta. Ele aponta, ainda, um círculo vir- e está produzindo.
tuoso que se forma a partir dessa relação: Os prefeitos também
“Com isso, muda-se a realidade dessas áre- já entenderam que o
as, contribuindo com a produção de alimen- cooperativismo tem o
tos mais saudáveis e a diminuição do êxodo poder de aumentar a
rural e dos bolsões de pobreza”. renda dos municípios”
Para Vanderley Ziger, presidente da
Cresol Baser, o fortalecimento das coo- Sílvio Ney
Unicafes Nacional
perativas nas áreas mais pobres só foi
possível em função dos Territórios Rurais
e dos Territórios da Cidadania. “As coo-
perativas de economia solidária têm o Colegiados Territoriais acabam ajudando o
mesmo foco da política dos territórios. cooperativismo. “Até pouco tempo os (as)
Elas seguem a mesma lógica”, analisa. agricultores (as) familiares não estavam no
Segundo ele, 70% das cooperativas de controle das cooperativas. A organização e
economia solidária atuam nos territó- qualificação dos Colegiados Territoriais é
rios. “Precisamos estreitar os laços para importante para o fortalecimento do coo-
aproveitar ainda mais as políticas públi- perativismo, pois eles aprendem e passam
cas dos territórios”, sustenta. a ser sujeitos, dirigem suas próprias coo-
Ziger acrescenta que as experiên- perativas e se sentem mais donos e mais
cias de autonomia dos atores sociais nos envolvidos no processo”, afirma.

Integração necessária
A organização das cooperativas da agricultura familiar é fun-
damental para que elas tenham força política e representatividade
perante os órgãos governamentais. A defesa desse ponto de vista
é feita por Vital Filho, diretor do Departamento de Cooperativis-
mo, Associativismo, Negócios e Comércio (Decoop) da SDT/MDA.
Vital também defende que as cooperativas precisam se inserir
na política de territorialidade, pois o desenvolvimento sustentá-
vel dos territórios rurais é uma prioridade do governo federal. “O
Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviço em
Territórios Rurais (Proinf) e o Programa Territórios da Cidadania
(PTC), entre vários outros, são exemplos de programas que con-
centram recursos para investimentos não só da SDT/MDA, mas de
vários outros órgãos da administração pública federal”, lembra o
diretor do Decoop.
Desse modo, a conexão entre a abordagem territorial e as de-
mandas dos (as) agricultores (as) familiares é bastante estreita.
“Essa associação de interesses justifica plenamente a necessidade
de avançarmos na integração entre as cooperativas, os Colegia-
dos Territoriais e os instrumentos das políticas de desenvolvimen-
to territorial”, conclui.

30 Desenvolvimento Territorial em Foco

 Gestão e controle social das políticas públicas

Arquivo SDT/MDA
Rede Nacional unificou a organização
dos Colegiados Territoriais

Atores territoriais criam

novas formas de organização

A
política territorial de desenvolvi-
mento rural sustentável se con-
solidou ao longo dos últimos
Criação de redes de colegiados
oito anos. Os avanços obtidos são resulta-
e estímulo à criação de con-
dos do processo de permanente avaliação
sórcios públicos fortalecem os
da estratégia territorial e do surgimento
territórios rurais
de novas institucionalidades, que aperfei-
çoaram as metodologias de intervenção
nos territórios rurais. A criação da Rede
Nacional de Colegiados Territoriais e o sur-
gimento dos primeiros consórcios públicos
intermunicipais são as principais expres-
sões dessas novas formas de organização.
A ideia de se criar uma rede na-
cional surgiu durante as discussões no
III Encontro Nacional de Colegiados
Territoriais, organizado pela Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA)
em 2009, na cidade de Beberibe, no Ceará.
A proposta se tornou realidade no ano se-
guinte, em Brasília, após a quarta edição
do encontro dos representantes dos terri-
tórios rurais de todo o País.
A Rede Nacional foi criada para unifi-
car a forma de organização dos Colegiados
Territoriais e superar as ações isoladas de
cada território rural. A ideia é fortalecê-los
como instâncias de governança, diálogo,
participação, negociação e gestão de po-

Desenvolvimento Territorial em Foco 31

líticas públicas voltadas para o desenvolvi-
mento com enfoque territorial. Além dis-
so, a rede também se propõe a mobilizar
a sociedade civil e o poder público para
consolidar a política nacional de desen-
volvimento rural sustentável, por meio da
construção de pactos em todo o País.
Estrutura
A Rede Nacional é formada por 54
membros titulares e suplentes, e cada es-
tado indica, por meio das Redes Estaduais,
quatro representantes. Essas 108 lideranças
são responsáveis pelo trabalho de coorde-
nação política dos Colegiados Territoriais.
Elas também escolhem sete nomes para
compor a Secretaria Executiva.
Jair Rodrigues, membro do Colegiado
do Território do Baixo Amazonas e da
Rede de Colegiados Territoriais fortalece a estratégia territorial
Apesar de a Rede Nacional ter sido
constituída há menos de um ano, já é pos-
sível constatar os efeitos de sua atuação: o
diálogo entre seus integrantes aumentou
de forma considerável e a comunicação
dos Colegiados Territoriais deu grande
salto de qualidade. Além disso, eles conse-
guiram identificar soluções para problemas
comuns e fortalecer a ação nos territórios
rurais. Nesse curto período de existência,
o trabalho de articulação também já ren-
deu à Rede Nacional o convite para par-
ticipar como observadora permanente do
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentável (Condraf).
A trajetória da Rede Nacional conse-
guiu, ainda, preservar sua autonomia pe-
rante o governo federal e ampliar seus
32
Secretaria Executiva da Rede Nacional, des-
taca as atribuições desta instância: “O papel
da Secretaria é encaminhar as demandas
dos Colegiados Territoriais e dos territórios
rurais aos poderes públicos. Ela também ne-
gocia com os representantes dos governos
federal, estaduais e municipais”.
O dirigente lembra que na última
reunião da Rede Estadual do Amazonas
foi aprovada uma proposta de a tados e municípios para promover a gestão
Secretaria Executiva negociar com a Caixa
Econômica Federal a liberação de recur-
sos do Programa Nacional de Apoio à
Infraestrutura e Serviço nos Territórios
Rurais (Proinf). “Diante dessa demanda,
fomos a Brasília nos reunir com a direção
do banco para tratar dos encaminhamen-
tos necessários para liberar o dinheiro do
Proinf”, conta Rodrigues.
espaços políticos. “As perspectivas para o
crescimento de sua atuação são muito fa-
voráveis. Nossa prioridade agora é buscar
mecanismos para atender nossa base de
representação, que são os territórios ru-
rais”, promete Jair Rodrigues.
Política irreversível – O coordenador
da Rede Nacional, Ubiramar Bispo, con-
corda com essa projeção e reitera a con-
vicção de que a abordagem territorial
deve tornar-se uma política irreversível
de governo. “Isso vai garantir o espaço
do Colegiado Territorial como articula-
dor de políticas públicas, com interlocu-
ção dos poderes federal e estadual, além
de compartilhar experiências internacio-
nais”, defende.
Consórcios públicos
A política de desenvolvimento rural com
enfoque na territorialidade ganhou outro
importante instrumento para qualificar e
potencializar as ações do poder público nos
municípios que possuem baixo nível de de-
senvolvimento humano (IDH). São os con-
sórcios públicos, que começaram a firmar
convênios de cooperação entre União, es-
integrada dos serviços públicos.
A instituição desses consórcios prevê a
criação de uma pessoa jurídica de direito
público, formada pelos entes federados,
que assume a responsabilidade pela ges-
tão das atividades. No caso do modelo
proposto, participam dessa nova institu-
cionalidade os municípios que fazem parte
de um território rural.
Bispo também ressalta a importância da
articulação da Rede Nacional com as ações
do Programa Territórios da Cidadania (PTC)
e acredita que os Colegiados Territoriais
podem se credenciar para intervir na dis-
cussão de outros projetos governamen-
tais, como o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). “Essa integração ainda
está no recorte geográfico, mas na políti-
ca territorial o grande foco é o protago-
nismo do Colegiado nessas iniciativas”,
aposta Bispo.
O coordenador da Rede Nacional garan-
te, ainda, que os movimentos sociais terão
assento na Rede Nacional. “Muitos desses
movimentos já participam dos Colegiados,
mas queremos discussões planejadas com
as direções dessas entidades”, finaliza.
Desenvolvimento Territorial em Foco

Colegiados territoriais articulam consórcios
públicos na Bahia e em outros estados
Apesar de ter sido prevista na Constituição
de 1988, a lei dos consórcios públicos só foi
aprovada em 2005, após negociação en-
tre o Congresso Nacional e um grupo de
trabalho governamental coordenado pela
Secretaria de Coordenação Política e Assuntos
Institucionais, que envolveu a Secretaria
da Casa Civil e os Ministérios da Fazenda,
Integração Nacional, Cidades e Saúde.
A assessora especial da Presidência da
República Paula Ravanelli, que participou das
iniciativas do governo para estimular a criação
dos consórcios públicos nos territórios, afirma
que esse instrumento pode ser usado para
construção e gerenciamento de projetos de
investimentos. “Esse instrumento pode aten-
der às demandas de um município, a exemplo
da construção de galpões de armazenagem
de grãos ou compra de máquinas”, esclarece.
As prefeituras também podem fazer li-
citações conjuntas para adquirir bens e ser-
viços de custos elevados. Essa medida pode
diminuir o impacto das aquisições nos orça-
mentos municipais. “Estamos falando de mu-
nicípios rurais pequenos, que estão localiza-
dos nas regiões mais vulneráveis do País. Se
eles montarem uma estrutura administrativa
única para organizar os processos licitatórios,
as prefeituras vão gastar menos e atender
mais pessoas”, exemplifica Ravanelli.
Os primeiros passos do governo para
utilizar esse instrumento nos municípios
Desenvolvimento Territorial em Foco
rurais começaram a ser dados em 2010.
A Casa Civil da Presidência da República,
em conjunto com o ministérios do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS), da Pesca de Aquicultura (MPA), do
Meio Ambiente (MMA) e a SDT/MDA, se-
lecionaram municípios de 11 territórios ru-
rais, que foram visitados, em setembro, por
técnicos com a missão de explicar as vanta-
gens dessa forma de cooperação. Além de
várias reuniões com os prefeitos, os mem-
bros dos Colegiados Territoriais também
participaram dessas discussões.
Experiência do Consad
O objetivo do governo federal é dis-
seminar os consórcios públicos nos locais
atendidos pelo Programa Territórios da
Cidadania. O ponto de partida foi identificar
os territórios da cidadania onde já havia o
Consórcio Nacional de Segurança Alimentar
e Desenvolvimento Local (Consad), idealiza-
do e organizado pelo MDS. “Esses consórcios
já trabalhavam com a perspectiva de associar
os municípios para desenvolver projetos es-
truturantes. Portanto, essas prefeituras têm
experiência de consorciamento, mesmo que
com limitações”, afirma Ravanelli.
O Consad é uma experiência bem-sucedi-
da do Ministério de Desenvolvimento Social
e Combate à Fome no sentido de associar os
municípios para garantir a segurança alimen-
Ascom Gov. BA
tar e o desenvolvimento das regiões mais
pobres do País. Ele difere dos consórcios pú-
blicos porque agrega, além dos municípios,
entidades da sociedade civil. A assessora da
Presidência da República ressalta que essas
experiências foram construídas sobre a égide
jurídica do direito privado. Nesse sentido, o
desafio colocado para o governo federal foi
apresentar uma alternativa para superar es-
sas limitações. “Uma das diferenças entre os
dois modelos é que a legislação não permite
que o poder público possa repassar recursos
para os consórcios de direito privado”, escla-
rece Ravanelli.
A expectativa do governo federal é de que
os Colegiados Territoriais venham, a partir de
agora, participar ativamente dos consórcios
públicos que estão sendo criados. “Já formu-
lamos um modelo de contrato de construção
do consórcio. Esse documento reconhece o
Colegiado Territorial como instância de parti-
cipação e controle social”, explica.
Os 11 territórios rurais visitados formu-
laram um protocolo de intenções para a
constituição dos consórcios públicos. Esses
documentos devem ser enviados para a
Câmara Municipal de cada município en-
volvido. “Os vereadores vão analisar e au-
torizar a criação dos consórcios. A nossa
estimativa é que todos os territórios ado-
tem essa forma de organização em 2011”,
conclui a assessora da Presidência.
33
Gestão e controle social das políticas públicas
Parceria aproxima
universidades dos territórios rurais
Ação de grupos acadêmicos com
os Colegiados Territoriais permite
a avaliação e o acompanhamento
da política de desenvolvimento
rural nos territórios. A
expectativa é de que os resultados
obtidos possam contribuir para a
melhoria do processo de gestão
da política de desenvolvimento
rural com enfoque territorial em
todos os níveis
Equipes de universidades públicas selecionadas pelo CNPq
começaram a aplicar questionários em 37 territórios
34
A
Política Territorial de Desenvol-
vimento Rural Sustentável ga-
nhou, a partir de 2010, mais um
instrumento que vai ajudar a medir os
resultados das ações – são as células de
acompanhamento e informação. As célu-
las são unidades operativas integradas por
professores(as) e técnicos(as) de universi-
dades públicas, encarregadas de coletar e
analisar dados sobre a gestão para o de-
senvolvimento dos territórios rurais.
O Sistema de Gestão Estratégica (SGE)
é a ferramenta desenhada pela SDT/MDA
para apoiar o trabalho das células e favore-
cer a inserção da academia no processo de
desenvolvimento territorial. A ideia é criar
mais um canal de comprometimento das
universidades com o tema do desenvolvi-
mento territorial rural, além de produzir tra-
balho qualificado para avaliação da política.
Dessa forma, foi celebrado um termo
de cooperação entre a SDT/MDA e o CNPq,
seguido do lançamento, em 2009, de edi-
tal específico para seleção de projetos de
pesquisa e extensão tecnológica de uni-
versidades públicas brasileiras. Os projetos
deveriam ser focados em acompanhamen-
to, monitoramento e avaliação da política.
Além das atividades de coleta e alimen-
tação de dados e informações no SGE, as
equipes dos projetos estão fazendo aná-
lises e avaliações de diversos aspectos e
processos em curso nos territórios. A partir
da socialização dessas análises será possí-
vel que os atores envolvidos em todos os
níveis possam qualificar sua atuação.
Arquivo SDT/MDA
Desenvolvimento Territorial em Foco
Seleção de projetos
O edital lançado para seleção de pro-
jetos de pesquisa e extensão tecnológica
previa o apoio a 60 territórios rurais pre-
viamente definidos. Das 77 propostas
apresentadas, foram escolhidos, pela per-
tinência e pela qualidade técnica, 27 pro-
jetos que envolvem 37 territórios. “Não foi
possível contemplar todos porque muitos
projetos não atendiam ao edital. É difícil
mobilizar as universidades e montar equi-
pes”, explica a gestora responsável pelo
edital no CNPq, Lavínia Aguilar.
Segundo Lavínia, a proposta da SDT/MDA
é algo que vem se tentando há tempos no
Brasil: fazer a universidade sair do ambiente
acadêmico. “É uma forma de interagir com a
sociedade e colocar a academia em contato
com a realidade do País”, diz. Cada projeto se-
lecionado terá duração de três anos e pode
ser estendido após esse período.
Os projetos selecionados contam com
equipes de bolsistas – professores, técni-
cos, estudantes –, além do custeio das ati-
vidades de pesquisa e extensão previstas;
os recursos financeiros são repassados
pela SDT/MDA ao CNPq e, desse, para os
projetos contratados.
Região Sul
Uma das instituições de ensino su-
perior selecionadas foi a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
que vai desenvolver seus trabalhos no
Território Zona Sul do Estado, no Rio
Grande do Sul. Segundo o professor co-
ordenador do projeto, Sergio Schneider, a
equipe do projeto que atuará no território
gaúcho é constituída de um consórcio que
conta com a participação das universida-
des federais de Pelotas e de Santa Maria.
Trata-se de grupo de pesquisa multidisci-
plinar que congrega sociólogos, geógra-
fos e economistas para atuar no tema do
desenvolvimento territorial rural.
Desenvolvimento Territorial em Foco
Schneider lembra que a problemáti-
ca do desenvolvimento territorial cresceu
no Brasil a partir dos anos 2000, quando
surgiram pesquisas e avaliações do Pronaf
Infraestrutura e Serviços que mostravam
a pouca eficácia das políticas com foco
na melhoria da infraestrutura municipal
e local. O professor comentou que vários
analistas e formuladores de políticas discu-
tiram essas limitações e chegaram à con-
clusão que as políticas públicas deveriam
ser reorientadas para um enfoque territo-
rial, abarcando o conjunto de municípios
de determinada região. Uma síntese das
questões e das discussões dessa época
está condensada no livro Políticas Públicas
e Participação Social no Brasil Rural, publi-
cado em 2004.
Segundo Schneider, a discussão so-
bre a abordagem territorial ganhou
força a partir de 2003, quando foi cria-
da a Secretaria de Desenvolvimento
Territorial no MDA. Depois de um perí-
odo inicial de discussões sobre os as-
pectos conceituais da abordagem terri-
torial e da implementação de iniciativas
e ações, iniciaram-se as reflexões sobre
os indicadores territoriais de desenvolvi-
mento. Afinal, lembra Sergio Schneider,
o desafio estava em saber como avaliar
os efeitos e as repercussões das políticas
e das ações no âmbito territorial.
Os projetos financiados pelo CNPq têm como desafio analisar
os impactos a partir das percepções dos beneficiários
Em 2006, a equipe do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural
(PGDR) da UFRGS foi convidada pela SDT/
MDA para realizar estudo exploratório em
quatro territórios rurais, a fim de testar uma
metodologia de indicadores de desenvolvi-
mento territorial. Segundo Schneider, a ten-
tativa da equipe do PGDR foi apresentar uma
proposta viável e exequível, que contemplas-
se tanto os aspectos metodológicos, com
base na referência aos territórios e às escalas
geográficas, quanto a compreensão do de-
senvolvimento como processo de constru-
ção de mecanismos de acesso a ativos por
parte dos próprios atores sociais e dos dis-
positivos de apropriação desses ativos.
A experiência atual do Sistema de Gestão
Estratégica para os territórios rurais repre-
senta avanço em relação às concepções
anteriores. Ela trata de colocar em prática a
metodologia de indicadores territoriais de
desenvolvimento apresentada pelos pesqui-
sadores da UFRGS em 2006, como outros in-
dicadores desenhados pela SDT/MDA.
De acordo com Schneider, o desa-
fio agora é verificar se essa nova visão
de desenvolvimento está dando certo
e analisar quais seus impactos a partir
das percepções dos beneficiários. Mais
do que mero estudo de impacto, os pro-
jetos contratados pelo CNPq pretendem
levantar informações que possam ser
Divulgação
35
úteis tanto para monitorar as políticas de Desenvolvimento Rural Sustentável mo colegiado territorial. “O colegiado é a
da SDT/MDA como fornecer elementos (PTDRS) nos dois territórios envolvidos. referência dentro do território. O funciona-
para os próprios atores dos territórios “Criamos o laboratório na expectativa mento da proposta territorial depende de
poderem conhecer e se apropriar de sua de desenvolver projetos de extensão e um bom funcionamento dos colegiados”,
realidade e, assim, promover o desen- apoiar as comunidades tradicionais”, acredita o professor.
volvimento rural sustentável. “A expecta- afirma Itaan Santos, professor coorde-
tiva é que a gente tenha informações de nador do projeto. Metodologia de trabalho
como realmente essas políticas chegam Itaan lembra, ainda, que no Maranhão Entre as atividades desenvolvidas pe-
aos territórios e como elas são apropria- a equipe vai além dos bolsistas direta- las células estão pesquisas, por intermé-
das pelos atores sociais envolvidos”, ex- mente apoiados pela parceria SDT/MDA/ dio da aplicação de questionários, cujos
plica Schneider. CNPq. “O laboratório é formado por 18 dados irão compor diversos indicadores
O professor acrescenta que trazer as pessoas que acabam se envolvendo em relacionados à identidade territorial, à
universidades para o debate é importan- todos os projetos”. Para ele, o trabalho nas gestão dos colegiados, às capacidades
te porque faz que, independentemente células permite levar a universidade para territoriais, ao Índice de Condições de
das políticas adotadas, “o desenvolvimen- dentro dos territórios e qualificar o conhe- Vida (ICV) e a outros indicadores decor-
to territorial rural continue em pauta”. Ele cimento coletado, produzindo pesquisas rentes do cruzamento das informações
também considera ser dever da universida- que contribuam com o desenvolvimento levantadas e registradas no SGE.
de atuar em favor das populações rurais. “A rural sustentável. A base do trabalho nas células são os
universidade pública tem o compromisso Os colegiados territoriais dos 37 ter- questionários, que medem a evolução das
de trabalhar pelo desenvolvimento da so- ritórios rurais inicialmente envolvidos no ações e a visão dos atores sociais envol-
ciedade como um todo”, afirma. trabalho de pesquisa e extensão das célu- vidos no processo. O primeiro, feito com
las, desempenham papel fundamental no um gestor público local, avalia o grau de
Laboratório da UEMA processo. São os integrantes do colegiado avanço nas capacidades institucionais dos
Nos Territórios Baixo Parnaíba e Lençóis que fornecem grande parte das informa- municípios que constituem o território. O
Maranhenses/Munin, no Maranhão, a equi- ções de que os pesquisadores necessitam segundo e o terceiro, aplicados aos mem-
pe responsável pelo projeto é composta e facilitam o trabalho da equipe nos ter- bros do colegiado, devem identificar as
por professores e alunos do Laboratório de ritórios. “Na aplicação dos questionários identidades territoriais, o processo de ges-
Extensão Rural da Universidade Estadual com a comunidade, por exemplo, é preciso tão do grupo e o poder de diálogo com
do Maranhão (UEMA), que também já esti- apoio de alguém que conheça o território, outros atores sociais.
veram envolvidos com a política de desen- a região”, explica o professor Itaan. O quarto questionário mede o Indíce
volvimento rural sustentável. Além disto, as informações e as análi- de Condições de Vida (ICV) no território.
Alguns integrantes participaram, em ses produzidas por células e equipes dos Ele é aplicado a uma amostra probabilísti-
2009, da avaliação do Plano Territorial projetos vão ajudar na gestão desse mes- ca baseada em critérios usados pelo IBGE e
mede a percepção das pessoas em relação
a melhoras na qualidade de vida.
Células garantem fluxo de informações Os quinto e sexto questionários men-
O SGE está estruturado por três ambientes: o Sistema de Informações Territoriais, suram os efeitos e os impactos dos pro-
que armazena todos os dados referentes a cada território; o ambiente de Resultados da jetos financiados em cada território e as
Gestão Territorial, que avalia os processos da gestão política por meio dos indicadores lições aprendidas no processo de gestão
de desenvolvimento, gestão dos colegiados, gestão de projetos e gestão de programas dos projetos. Também conseguem monito-
e os Ambientes de Gestão, no qual disponibilizam-se as ferramentas para o trabalho rar as ações, definindo a situação do em-
das células de acompanhamento e informação.
preendimento e, caso haja algum ajuste a
Esse último é o que alimenta o sistema, ou seja, permite aos usuários que desen-
ser feito, identificam a causa e a solução do
volvem algum tipo de ação nos territórios um ambiente interativo de gestão. Além das
problema, bem como os responsáveis por
células, o Ambientes de Gestão permite o fluxo de informações relacionadas à rede de
implantar as soluções.
colegiados e às entidades parceiras.

36 Desenvolvimento Territorial em Foco


Projeto Dom Helder investe na organização produtiva da agricultura familiar nos territórios rurais
Investir no ser humano
e transformar o Semiárido
O
Projeto Dom Helder Câmara
(PDHC) é uma experiência que
exercita e pratica ações em fa-
vor do desenvolvimento rural sustentável,
com uma visão sistêmica e holística, cuja
institucionalidade se apoia na interação
entre o Estado e a sociedade. Trata-se de
um olhar diferenciado para o Semiárido
do Nordeste, que se contrapõe a um pas-
sado de políticas públicas descontínuas,
fragmentadas e inadequadas, produzidas
a partir de pacotes tecnológicos desen-
volvidos fora da realidade e do contexto
desse bioma.
Desenvolvimento Territorial em Foco
O PDHC é uma ação da Secretaria de
Desenvolvimento Territorial do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA),
com o apoio do Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (Fida), organis-
mo das Nações Unidas. A sua área de atu-
ação são oito territórios rurais, distribuí-
dos nos estados de Sergipe, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e
Piauí. O projeto atinge 337 áreas de as-
sentamentos da reforma agrária e comu-
nidades de agricultura familiar, localizadas
em 77 municípios, beneficiando mais de
15 mil famílias.
Projeto Dom Helder Câmara
Divulgação
As ações do PDHC estão voltadas
para o desenvolvimento sustentável do
Semiárido nordestino, com base no con-
ceito de convivência com as característi-
cas climáticas da região. A sua proposta
é articular as dimensões sociopolíticas,
ambientais, culturais, econômicas e tec-
nológicas com os processos participati-
vos de planejamento, gestão e controle
social. A motivação principal do projeto é
investir no ser humano para que ele seja
protagonista das transformações orien-
tadoras de uma vida melhor e da supera-
ção da pobreza.
37
Origem do Projeto
O diretor-geral do PDHC, Espedito
Rufino, explica que a participação social é
parte fundamental do projeto desde a sua
criação. “Foram as pessoas que formula-
ram as diretrizes. O Projeto Dom Helder
Câmara surgiu de uma mobilização da
sociedade civil, com o Movimento Muda
Nordeste e a ocupação da Sudene, em
1993. Isso resultou em seminários em dez
estados, nos quais foram discutidas ações
permanentes para o desenvolvimento do
Semiárido. Essa é a origem da concepção
do projeto”, diz Rufino.
A natureza da intervenção do projeto
associa-se, fundamentalmente, ao proces-
so de aprendizagem. Trata-se de desen-
volver novas habilidades e competências
necessárias ao avanço de suas ações na
perspectiva de alcançar os objetivos estra-
tégicos e o cumprimento de sua missão:
“Investindo no ser humano, transformando
o Semiárido”.
O PDHC financia uma assessoria técni-
ca permanente e diferenciada, que busca
animar e facilitar processos de organiza-
ção e qualificação das demandas das fa-
mílias agricultoras para que elas possam
se inserir e acessar um conjunto de polí-
ticas públicas governamentais, que foram
lançadas e aprimoradas nos últimos anos.
Na busca por incorporar a aprendizagem,
o projeto incentiva e apoia a implantação
de unidades demonstrativas e a realização
de intercâmbios, capacitações e formação
de grupos de interesse. O objetivo a ser al-
cançado é bem definido: assegurar que as
famílias aprendam fazendo e exercitando
uma prática diferenciada.
As mudanças ocorridas na comunida-
de Sombras Grandes e Milagres, no Rio
Grande do Norte, mostram o resultado das
ações do PDHC. Até 2005 a população lo-
cal vivia da venda de carvão e da produção
escassa de milho e feijão. Não havia ener-
38
gia elétrica e a água de beber era retirada
de um olho d’água próximo e transportada
no lombo dos animais. Após um estudo
de potencialidades feito na região, a co-
munidade foi indicada pelo PDHC para ser
beneficiária do programa Molhar a Terra,
da Petrobras. A empresa recuperou dois
poços de prospecção de petróleo desa-
tivados, que passaram a ser utilizados na
agricultura irrigada.
A partir daí o PDHC foi buscar novas
parcerias. A primeira delas foi firmada
com a prefeitura de Caraúbas, que integra
o Território Sertão do Apodi. Os recursos
do poder público municipal financiaram a
substituição de 27 casas de taipa por re-
sidências de alvenaria. A medida acabou
com um grave problema de saúde na re-
gião: a doença de Chagas. A comunida-
de também recebeu energia elétrica, por
meio do Programa Luz para Todos, do go-
verno federal.
Responsabilidade social
Ainda em parceria com a Petrobras,
foram implantadas, em 2006, as primei-
ras metas do projeto: hortas e pomares
agroecológicos, minhocário para pro-
dução de adubo, inovações nas culturas
de sequeiro – produzidas nos meses em
que não há chuva –, forragens para pas-
to, investimentos na cadeia de apicultura,
construção da Casa do Mel e compra de
equipamentos. “As ações deram tão cer-
to que no ano seguinte o trabalho em
Sombras Grandes e Milagres foi aponta-
do como a melhor iniciativa de respon-
sabilidade social do programa Molhar a
Terra”, conta Rosane Gurgel, supervisora
do PDHC no Território Sertão do Apodi. A
gestora acrescenta que, naquele mesmo
ano, a Secretaria de Saúde de Caraúbas
“registrou melhoria na saúde da popula-
ção, resultado de uma alimentação mais
rica nas famílias”.
“Foram as pessoas
que formularam
as diretrizes. O
Projeto Dom Helder
Câmara surgiu de
uma mobilização da
sociedade civil, com
o Movimento Muda
Nordeste e a ocupação
da Sudene, em 1993"
Espedito Rufino
Diretor-geral do PDHC
As ações do PHDC nessa comunidade
tiveram mais desdobramentos. Na segun-
da etapa do projeto, outro poço foi per-
furado para irrigação e abastecimento das
famílias. Além disso, foram construídas
adutoras, com apoio do governo estadu-
al, para levar água encanada aos morado-
res. No início de 2009, também foi criada
a Feira Agroecológica de Caraúbas, que
permitiu um escoamento do excedente da
produção. “Em 2005, quando começamos
o trabalho, as famílias tinham renda média
de R$ 80 e hoje esse valor chega a R$ 650”,
comemora Rosane.
A Petrobras também apoia outros pro-
jetos em 59 outras áreas, que envolvem
ações de educação, saúde, comerciali-
zação, construção de poços e cisternas,
sistemas sustentáveis de produção de ali-
mentos e outras iniciativas voltadas para
o protagonismo das famílias. Todas essas
frentes estão permeadas pelas questões
de gênero, geração e etnia. “O apoio da
Petrobras é importante porque agrega ou-
tros parceiros para o PDHC”, afirma o agrô-
nomo Fábio Santiago, responsável técnico
pelos projetos financiados pela empresa.
Desenvolvimento Territorial em Foco

Projetos de agricultura irrigada no Semiáriado nordestino recebem apoio do PDHC e seus aliados
O PDHC também firmou convênios
com órgãos públicos, como Banco do
Nordeste, Embrapa, Incra, universidades,
governos estaduais e municipais, bem
como com federações de trabalhadores (as)
na agricultura. Essas parcerias têm possibi-
litado a integração de políticas públicas
e maximizado os resultados das ações
conjuntas.
Saber prático
Um dos princípios do PDHC é o “apren-
der fazendo”. Cada nova ação se torna um
projeto piloto. A população desenvolve a
iniciativa com orientação técnica, mas tam-
bém aprende com a observação e anotação
dos resultados de cada etapa. “Acreditamos
que não se transfere facilmente tecnologia.
Por isso, criamos unidades demonstrativas
para o aprendizado pela experimentação”,
explica Espedito.
O responsável pelas parcerias com
a Petrobras assinala que em um proje-
to de irrigação, por exemplo, o produ-
tor rural aprende e passa a observar o
manejo da água, os ciclos da plantação
e experimenta formas diferentes de cul-
tivo. “A partir dessa observação podem
Desenvolvimento Territorial em Foco
levar as necessidades encontradas para
as reuniões da associação comunitária,
dos fóruns territoriais e dos conselhos
municipais de desenvolvimento rural
sustentável”, afirma Santiago.
Outro diferencial do PDHC é a des-
centralização e o processo democrático
de tomada de decisões. São as pessoas
da comunidade que escolhem como e
onde será investido o dinheiro. “O que
fazemos é aproximar a população das
políticas públicas”, esclarece Rufino. O
diretor-geral explica, ainda, que o pro-
jeto foi a fonte que alimentou a criação
da política de territórios rurais. “Vem do
PDHC essa nova estratégia de desenvol-
vimento, ou seja, a territorialização da
ação para mobilizar a população nas re-
giões mais pobres”, garante Rufino.
Avaliação
O Fundo Internacional de Desen-
volvimento Agrícola (Fida) investiu apro-
ximadamente 100 milhões de dólares nas
regiões do Semiárido nordestino assis-
tidas pelo PDHC nos últimos 10 anos. O
Escritório de Avaliação Independente do
Fida registrou recentemente os resultados
Divulgação
positivos do Projeto: “As ações desenvolvi-
das pelo PDHC são um exemplo de suces-
so para os brasileiros e para o mundo”.
O órgão também registrou que a
conclusão do projeto e as avaliações
apresentadas em Recife, no final de
2010, comprovaram resultados concre-
tos, que são frutos da parceria entre
o governo brasileiro e o Fida. “O bom
êxito desse programa abriu as portas
para outras etapas de um novo projeto
em áreas carentes do Brasil”, pontuou o
documento do Escritório de Avaliação
Independente.
O relatório sustenta, por fim, que a po-
breza rural foi reduzida, a população teve
acesso à educação, aos recursos técnicos e
aos mercados de consumo. Esses resulta-
dos foram obtidos graças a um “programa
bem articulado”, que atendeu 15 mil famí-
lias nos seis estados atendidos pelo PDHC
e permitiu que os beneficiários pudessem
desenvolver e estruturar os conhecimen-
tos. “Essa gente compreendeu as vanta-
gens de permanecer na própria terra, que,
apesar da seca, o Projeto Dom Helder de-
monstrou que pode produzir benefícios”,
conclui a avaliação do Fida.
39
Desenvolvimento territorial no cenário internacional
SDT/MDA apoiou a realização do 2º Terra Madre Brasil, em março de 2010, em Brasília
Parcerias para fortalecer
a agenda territorial
O
Programa Desenvolvimento
Sustentável dos Territórios Ru-
rais (Pronat) colocou o Brasil
numa posição de destaque no debate so-
O intercâmbio com organismos
bre desenvolvimento rural com abordagem
internacionais deu visibilidade
territorial. A repercussão positiva de nossos
à estratégia de desenvolvimento
casos de sucesso no cenário internacional
rural territorial sustentável e
é resultado das parcerias com organiza-
projetou a experiência brasileira
ções sociais que se dedicam ao estudo do
como referência para outros países
tema em vários países do mundo.
As articulações construídas pela
Secretaria de Desenvolvimento Territorial
do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(SDT/MDA) foram fundamentais para o
País obter o reconhecimento internacional
40
Martin D`Ávila/Divulgação
das políticas desenvolvidas pelo governo
federal. Essas parcerias também contribu-
íram para credenciar a estratégia territorial
como um instrumento eficaz no combate
à pobreza e na promoção do desenvolvi-
mento de áreas rurais vulneráveis de na-
ções ibero-americanas.
Entre os parceiros de primeira hora
da SDT/MDA, destaca-se o Instituto
Interamericano de Cooperação para a
Agricultura (IICA), que acompanha as
políticas de desenvolvimento rural em
diversos países da América Latina des-
de o início da década de 50. “A contri-
buição desse organismo internacional
Desenvolvimento Territorial em Foco
foi extremamente significativa no pro-
cesso de implementação do Pronat. O
IICA compreendeu, desde o início das
discussões, a importância de o governo
federal investir na estratégia territorial”,
lembra Humberto Oliveira, secretário de
Desenvolvimento Territorial.
A contratação dos profissionais espe-
cializados na temática de desenvolvimento
territorial foi feita por intermédio do IICA.
Os termos de cooperação técnica firmados
entre a SDT/MDA e o instituto permitiram
ampliar o número de atores sociais que
reconhecem a estratégia territorial como
um instrumento de desenvolvimento, bem
como viabilizar a articulação territorial.
Os (as) articuladores (as) estaduais foram
elementos imprescindíveis para a criação da
rede composta por mais de 11 mil órgãos
governamentais e entidades da sociedade
civil que atuam nos Colegiados Territoriais.
Para o representante do IICA no Brasil
à época, Carlos Basco, a colaboração no
processo de implementação do Pronat foi
possível devido à experiência do instituto
com políticas similares. “Os trabalhos do
IICA no Brasil levam em conta a experiên-
cia acumulada no México, na Espanha e na
Guatemala. Nós temos aproveitado todo
o conhecimento construído nos últimos
anos, porque a política de desenvolvimen-
to rural territorial tem evoluído bastante
no mundo”, afirma.
Segundo Basco, essa expertise forne-
ceu ao IICA as condições necessárias para
coordenar o Fórum de Desenvolvimento
Rural Sustentável (FDRS), que conta com
a participação do Conselho Nacional
do Desenvolvimento Rural Sustentável
(Condraf), instituições governamentais,
universidades, entidades de fomento e or-
Desenvolvimento Territorial em Foco
ganizações da sociedade civil. Constituído
em 2002, o fórum organiza debates sobre
o desenvolvimento e combate à pobreza
nos territórios rurais.
Integração
O Programa Ibero-Americano de Coo-
peração em Gestão Territorial (Proterritó-
rios) é um instrumento de integração dos
países ibero-americanos, que conta com a
participação de 11 países. A Declaração de
Bariloche, de 2005, é o marco do programa.
A aprovação dessa iniciativa se deu em 2008
e sua efetivação ocorreu no ano seguinte,
durante a Cúpula de Países, no México. “A
criação do Proterritórios consolida a estra-
tégia de desenvolvimento territorial e reve-
la que há interesse dos governos nacionais
de adotar esse modelo inovador”, avalia
Humberto Oliveira.
O movimento em favor da criação do
Programa foi liderado pelo Brasil, Espanha e
México, países protagonistas de desenvol-
vimento rural territorial. De acordo com o
secretário técnico do Proterritórios, Rafael
Echeverri, a experiência territorial brasileira
é muito valorizada em outros países, prin-
cipalmente da América Latina. “O Brasil dá
muitos exemplos para outros países com
os territórios de identidade e o Programa
Territórios da Cidadania”, enfatiza.
O Proterritórios desenvolve ações de
gestão do conhecimento, formação e co-
nectividade. Um de seus objetivos é desen-
volver análises comparadas da organiza-
ção, legislação, metodologias e resultados
das políticas territoriais em cada país. Ele
também se dedica à criação de um banco
de boas práticas territoriais.
O trabalho de formação visa a articular
uma rede de universidades, com mobiliza-
“Os trabalhos do IICA no
Brasil levam em conta
a nossa experiência
acumulada. Temos
aproveitado todo o
conhecimento construído,
porque a política de
desenvolvimento rural
territorial tem evoluído
bastante no mundo”
Carlos Basco
Representante do IICA no Brasil
ção de alunos e professores, para discutir
os temas da agenda do desenvolvimento
territorial. O programa também se propõe
a criar uma plataforma de capacitação para
oferecer cursos e treinamentos às organi-
zações de caráter público e estimular inter-
câmbios de experiências entre os países.
O Proterritórios pretende, ainda, co-
locar a tecnologia como uma aliada na
promoção do desenvolvimento territo-
rial. “A nossa proposta é difundir conteú-
do por meio de um portal e de um canal
de televisão e criar um campo virtual, com
laboratórios e biblioteca em plataforma
web”, prevê Echeverri. Para acessar o site do
Proterritórios digite www.proterritorios.net.
Intercâmbio
A Estratégia Centro-Americana de
Desenvolvimento Rural Territorial (Eca-
dert) é outra articulação de países cen-
tro-americanos para promover o desen-
volvimento rural territorial. O protocolo
de criação assinado em março de 2009
visa a desenvolver 49 linhas de ação, que
devem ser traduzidas em políticas públi-
cas de cada país-membro.
41
 O Brasil foi um dos principais responsá-
veis pela formação do Ecadert e, junto com
México, Colômbia, República Dominicana e
outros países da América Central, vem con-
tribuindo ativamente com o processo de
fortalecimento desse espaço de discussão e
troca de experiências. O intercâmbio técni-
co é um dos principais eixos de sustentação
Consumo saudável e fortalecimento da agricultura familiar
A parceria com a Fundação Slow
Food para Biodiversidade, uma organi-
zação que defende a produção e con-
sumo consciente de alimentos, também
faz parte da agenda de articulação in-
ternacional da SDT/MDA e do conceito
mais amplo de desenvolvimento rural. A
secretaria e o Slow Food desenvolvem,
desde 2004, ações para mapear e iden-
tificar produtos típicos de qualidade dos
territórios brasileiros e valorizar a produ-
ção da agricultura familiar. Esse trabalho
é feito por meio dos projetos Arca do
Gosto e Fortalezas Slow Food.
O primeiro é um catálogo mundial
que identifica, localiza, descreve e divul-
ga sabores quase esquecidos de produ-
tos ameaçados de extinção, mas ainda
42
do Ecadert. “O nosso propósito é mostrar
a experiência do Pronat e do Programa
Territórios da Cidadania (PTC) como se dá a
articulação entre os Colegiados Territoriais”,
afirma Humberto Oliveira. Ele lembra que,
além dos gestores públicos, a iniciativa pre-
tende envolver pesquisadores (as) e prota-
gonistas das ações territoriais.
Carlo Petrini, do Slow Food (e): “O consumo dos
alimentos reflete a organização agricultura no mundo”
com potenciais produtivos e comerciais.
Já as Fortalezas são projetos de desen-
volvimento da qualidade dos produtos
nos territórios, cujas estratégias são apro-
ximar produtores (as), financiar equipa-
mentos, fazer a promoção comercial e
conferir guias de autenticidade. O saldo
dessa parceria contabiliza a criação de
nove Fortalezas e a inclusão de 20 produ-
tos brasileiros na Arca do Gosto.
Para a coordenadora do Slow Food na
América Latina, Lia Poggio, apesar das vá-
rias atividades que já estão sendo desenvol-
vidas, ainda há muito trabalho pela frente.
“Precisamos potencializar todos os projetos
e aumentar o número de produtores (as)
envolvidos. Temos também de realizar cam-
panhas de sensibilização e conscientização
Segundo o coordenador do Ecadert,
Mário Samper, a forte participação popular
é um dos elementos na formulação desse
programa. “Antes de ser definidas as ações,
foram promovidos encontros, incluindo
consultas a grupos de mulheres, jovens,
povos indígenas, organizações camponesas
e de afrodescendentes”, esclarece Samper.
Martin D`Ávila/Divulgação
sobre a importância de produzir e consumir
produtos sustentáveis e de qualidade, bem
como difundir os conceitos de bom, limpo
e justo para valorizar os produtos da agri-
cultura familiar”, explica.
A proposta de atingir e de conscienti-
zar os consumidores é um dos pilares do
Slow Food. De acordo com o fundador
da organização, Carlo Petrini, o tipo de
alimento que consumimos afeta a forma
como a agricultura é organizada no mun-
do. “Se eu como o que se produz de forma
orgânica, que leva em consideração o res-
peito à natureza ou se eu como a comida
industrial, forço diferentes tipos de agri-
cultura. Devemos trabalhar com educação
para que o mundo não seja composto por
consumidores, mas sim por cidadãos (ãs)”.
Desenvolvimento Territorial em Foco
 expediente
Presidenta da República
Dilma Rousseff
Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário
Afonso Florence

Secretária Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário

Márcia Quadrado

Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

Rolf Hackbart

Secretário Nacional de Desenvolvimento Territorial

José Humberto Oliveira

Secretário Nacional de Agricultura Familiar

Laudemir Muller

Secretário Nacional de Reordenamento Agrário

Adhemar Lopes de Almeida

Coordenação do Núcleo de Estudos Agrários

e de Desenvolvimento Rural – NEAD
Joaquim Calheiros Soriano

Coordenação editorial
Berenice Gomes da Silva, Fernanda Corezola

Textos: Erika Meneses, Iara Balduíno, Rafael Nascimento

Revisão: Joíra Coelho e Ana Lúcia Dantas

Projeto Gráfico: Guilherme Werner

Capa e Diagramação: Fabrício Martins

Impressão Gráfica: a definir

Fotos: Leonardo Melgarejo, Martin D’Ávila, Paula Simas,

Regina Santos, Ricardo Stuckert

Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT

Site: www.mda.gov.br/sdt
Endereço: SBN Q. 01, Bl D, Ed. Palácio do Desenvolvimento, 8º andar
CEP70057-900 – Brasília (DF)
Telefones: (61) 2020-0880/0874 – Fax: (61) 2020-0505

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