Referências bibliográficas; CAPRA, Bernt A. The Turning Point (Mindwalk) / O Ponto De Mutação. Local: Monte Saint-Michel, Normandia, França. Produtora Atlas. 1990. 1 hr 52 min.
O diretor do filme se baseia no livro do mesmo nome, “O Ponto de Mutação”,
escrito por Fritjjof Capra, publicado em 1983. No livro, o autor aborda a necessidade de mudanças rápidas nas atitudes para se encontrar a solução dos grandes problemas que acometem o mundo. O escritor conduz, através da leitura, a uma reflexão sobre algumas descobertas na área da Física ocidental sob a ótica dos conceitos da filosofia oriental; levando os leitores a pensar e analisar o fato de que não se pode separar um problema para se resolver separadamente do seu contexto, ao contrário, por ser parte de um todo ele deve ser visto holisticamente; como um relógio (todo), que é composto por pequenas engrenagens (partes). O imenso relógio na sala onde os três se encontram desencadeia toda a discussão. Capra analisa a realidade apresentada sob os mais variados ângulos das ciências, tais como a psicologia, a sociologia, a economia, a matemática e a medicina. Tanto o livro, como o filme apresentam a ideia de que todo ponto de mutação resume-se na transição do velho para o novo, na renovação, e isso tendo como ponte de acesso a percepção, a visão que o homem tem do mundo e o que nele o incomoda. O filme trata do encontro de três pessoas num castelo medieval de Mont Saint Michel, no litoral da França: um candidato à presidência dos Estados Unidos, desmotivado pelo fato de não poder ter um discurso próprio, mas, sim, ter que repetir o que seus assessores acham que as pessoas querem ouvir dele; uma cientista, especialista em Física, cujos ideais são traídos ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa e um dramaturgo (poeta) em crise de meia idade que quer fugir da eterna competitividade das grandes metrópoles. Nesse encontro os personagens, em suas reflexões sobre o papel dos mecanismos que regem o mundo, levam a uma cogitação de uma nova realidade, estabelecendo uma relação entre todas as coisas, baseando-se em discursos como os de Descartes e Einstein, além de abordar paradigmas da ecologia, da política, da poesia, dentre outras, para, enfim, formularem uma ideia padrão de futuro. Ao ser convidada para entrar na conversa entre o político e o poeta, a cientista critica o fato de os políticos veem a natureza sob o paradigma do método cartesiano, preconizado por René Descartes. O político até aceita algumas ideias da cientista, mas questiona como efetivar essas ideias na política e como levar as pessoas a entenderem. A resposta da cientista é: para alcançarmos o outro, nos fazer entender pelo outro, temos, primeiro, que mudar a nossa forma de ver o mundo. O filme propõe uma análise da crise na sociedade de um modo geral ao abordar a fundamentação das atitudes humanas baseadas no individualismo; essa situação é fomentada pela educação, pela cultura, pela ideologia, na promoção e manutenção de conceitos e valores que justificam e racionalizam, nas relações interpessoais, sentimentos nada saudáveis na humanidade, tais como a avareza, o egoísmo, etc. A conclusão do filme é que estamos em uma fase de transição, que para a sobrevivência da humanidade faz-se necessária a mudança de valores e atitudes que estão implícitos na nossa cultura individualista, no materialismo que impera na sociedade, na falta de consideração pelo nosso planeta; essa mudança radical deve ser fruto de uma conscientização individual, indo da parte para a alteração do todo. Uma prova dessa busca pela mudança é a preocupação com a sustentabilidade do planeta, que mesmo incipiente, vem promovendo mudanças consideráveis e relevantes. A sugestão é que esse filme seja assistido mais de uma vez e a leitura, além de se buscar algumas leituras complementares – Descartes, Marx, etc - , deve ser feita mais de uma vez também.