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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO 0007364-58.2017.8.07.0001


APELANTE(S) CONDOMINIO DO EDIFICIO CENTRAL PARK
APELADO(S) ESIO MANOEL DE RESENDE e PAULO DA SILVA LIMA
Relator Desembargador ESDRAS NEVES

Acórdão Nº 1130276

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. NORMAS CONDOMINIAIS. BARULHO EXCESSIVO. NOTIFICAÇÃO.


DESCUMPRIMENTO DE DEVER PREVISTO NO REGIMENTO INTERNO. BOA
CONVIVÊNCIA. CABIMENTO. PENALIDADE NÃO APLICADA. NOTÍCIA DE CRIME.
ACIONAMENTO DA POLÍCIA. AUSÊNCIA DE CULPA OU MÁ-FÉ. EXERCÍCIO REGULAR DE
DIREITO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. Incumbe ao condomínio alertar o condômino
que descumpre a Convenção de Condomínio ao causar barulho excessivo a ponto de incomodar outros
moradores, ainda que fora do horário compreendido entre 22h00 e 8h00, o que não implica,
necessariamente, em aplicação de penalidade. Somente é legítima a aplicação e a cobrança de multa,
se observado o procedimento específico, previsto na Convenção do Condomínio para tratar sobre
ocorrência de barulho excessivo causado por condômino durante o horário em que se exige a abstenção
de ruídos, o que não anula eventual notificação. Não configura ato ilícito a mera comunicação à
autoridade policial de fato tipificado como crime e o consequente registro da ocorrência. Consoante
entendimento jurisprudencial dominante em nossos Tribunais, somente surge o dever de indenizar se
restar comprovada a má fé, a flagrante injustiça ou despropósito por parte daquele que leva às
autoridades policiais a notícia de crime que não ocorreu.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ESDRAS NEVES - Relator, ALFEU MACHADO - 1º Vogal e CARLOS
RODRIGUES - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ALFEU MACHADO, em
proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 10 de Outubro de 2018


Desembargador ESDRAS NEVES
Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de APELAÇÃO interposta por CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO CENTRAL PARK (2º réu),
contra a sentença proferida pelo Juízo da Nona Vara Cível de Brasília, que, nos autos da ação de
obrigação de fazer e reparação por danos morais proposta por ESIO MANOEL DE RESENDE (autor)
em desfavor do apelante e de PAULO DA SILVA LIMA (1º réu), julgou parcialmente procedentes os
pedidos iniciais, condenando o CONDOMÍNIO a excluir a advertência imposta ao autor e, ambos os
réus, à indenização por danos morais no valor de R$3.000,00, corrigido monetariamente a partir da
data da sentença e com juros de mora de 1% ao mês, a partir da data do evento danoso. Ressaltou-se
que a responsabilidade do CONDOMÍNIO quanto ao pagamento da indenização por danos morais é
subsidiária por ação de seu preposto, o 1º réu, PAULO DA SILVA LIMA. Condenou os réus, ainda, ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação.
Suspensa a exigibilidade do pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em relação ao
1º requerido, PAULO DA SILVA LIMA, em razão da concessão da gratuidade de justiça (ID 5467010
e ID 5467022).

Nas razões recursais (ID 5467029), o apelante alega, em síntese, que no dia 22.05.2017, por volta das
19h00, os porteiros do edifício Central Park, dentre eles, o 1º réu, PAULO DA SILVA LIMA, que
trabalhava no momento do ocorrido, receberam vários telefonemas de outros moradores queixando-se
de barulho excessivo oriundo do apartamento do autor, a unidade B-214. Narra que os moradores
disseram aos prepostos que se tratava de severa discussão entre um homem e uma mulher e se
mostraram preocupados com a possibilidade da ocorrência de crime. Diante disso, PAULO dirigiu-se
até a residência do autor e o alertou sobre o barulho excessivo e as reclamações dos outros moradores,
mas o autor não colaborou e continuou com o excesso de ruídos, fazendo com que os outros moradores
voltassem a reclamar. PAULO acionou a polícia, sendo que, após diligência no apartamento do autor e
sem nada constatar, deixaram o local.

Aduz que não prospera a condenação para que se exclua a notificação imposta ao autor, haja vista que
o barulho por ele provocado ultrapassou os limites tolerados, infringindo norma condominial. Defende
também que não há nexo de causalidade entre a conduta dos réus e os alegados danos morais. Assevera
que o porteiro PAULO agiu em exercício regular de direito ao acionar a polícia, pois, diante de várias
reclamações de outros moradores, temerosos de que a suposta discussão que vinha do apartamento do
autor pudesse ocasionar um crime, não poderia ter procedido de outro modo. Argumenta que, da
diligência perpetrada pela polícia nada foi constatado, bem como o autor não foi levado à delegacia e
não foi, sequer, lavrado boletim de ocorrência.

Requer o conhecimento e provimento do recurso, para que a sentença seja reformada e julgados
improcedentes os pedidos do autor.

Contrarrazões do autor, pelo não provimento do recurso (ID 5467040).

Preparo comprovado (ID 5467033).

É o relatório.
VOTOS

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Relator Designado e Relator

Presentes os pressupostos processuais, conheço dos recursos.

Cinge-se a controvérsia em definir se, diante da situação em análise, constitui direito do


CONDOMÍNIO emitir notificação/advertência em desfavor do autor por infringir norma condominial,
bem como se é devida a indenização por danos morais.

Em detida análise dos autos, verifica-se que, em depoimento (ID 5466886 – págs. 2/3) o autor narrou,
em síntese, que no dia 22.05.2017, por volta de 19h00, estava sozinho em casa e que, diante de uma
notícia transmitida pela televisão, que o teria deixado deveras indignado, exaltou-se e começou a
gritar e proferir palavras de baixo calão, o que perdurou por 1h30, ou seja, o tempo da transmissão.
Disse que o porteiro PAULO DA SILVA LIMA dirigiu-se ao seu apartamento, afirmando que vários
moradores reclamavam do barulho advindo de sua residência, ocasião em que declarou ao preposto
que só diminuiria os ruídos se ele comprovasse que esses excediam os limites legais. Alegou, ainda,
que por volta de meia hora depois, três policiais bateram à sua porta e que tal fato o deixou muito
abalado, mas que informou aos agentes que não havia nenhuma mulher em sua casa. Disse que as
vozes femininas vinham da entrevista coletiva a que assistia na televisão.

O porteiro PAULO esclareceu, em depoimento (ID 5466886 – págs. 4/5), que, na data acima
mencionada, por volta de 19h00, recebeu cerca de 10 ligações de outros moradores reclamando do
barulho que vinha do apartamento do autor. Alega que os moradores narraram que se tratava de uma
briga entre homem e mulher, ocasião em que se dirigiu até lá e foi recebido pelo autor, que disse que
poderia fazer barulho até as 22h00, conforme a lei do silêncio. Defende que, após ter ido à residência
do autor, os barulhos continuaram por mais 1 hora, sendo que, pouco tempo depois, houve a chegada
da polícia. Disse que ao fazer a ronda percebeu gritos femininos vindos do apartamento do autor e
que, de acordo com as reclamações dos outros moradores, pensou estar havendo algum tipo de
agressão contra mulher no interior da residência do autor, motivo pelo qual acionou a polícia.
Asseverou que nunca teve desentendimento com o autor e que é orientado pela síndica a acionar a
segurança pública se for necessário.

DA ADVERTÊNCIA APLICADA AO AUTOR

Conforme os fatos narrados pelo autor e pelo porteiro, percebe-se ser fato incontroverso que, no dia
22.05.2017, por volta de 19h00, e durante um período de, aproximadamente 1h30, o autor provocou
barulhos excessivos em seu apartamento.

In casu, observa-se que o autor, em razão dos fatos narrados, sofreu notificação do CONDOMÍNIO,
que o alertou sobre o cometimento de infração ao Regimento Interno e que, em caso de recidiva,
ser-lhe-ia aplicada uma multa no valor de R$1.293,41 (ID 5466642 – pág. 3).

O autor entende que tal notificação foi arbitrariamente endereçada a ele, pois o CONDOMÍNIO
deixou de observar o procedimento previsto no artigo 5º - DAS PROIBIÇÕES, Item 15 e parágrafo
único, do Regimento Interno do Condomínio do Edifício Central Park (ID 5466744 – pág. 2), que
assim dispõe:

15) Utilizar em volume excessivo, auto-falantes, rádio, aparelhos de som e de televisão ou quaisquer
outros instrumentos musicais ou ruídos, no horário compreendido de 22:00 horas e 08:00 horas de
segunda a sexta; sábado até as 09:00 horas, nos domingos e feriados o silêncio deverá ser respeitado
até as 12:00 horas.
Parágrafo único: se 03 (três) ou mais condôminos se sentirem incomodados ou prejudicados por
quaisquer barulhos ou ruídos excessivos, provocados pelo mesmo condômino infrator, fora dos
horários acima estabelecidos, poderão solicitar ao Síndico, por escrito, através de registro no
livro de ocorrências, uma Assembleia Geral Extraordinária – AGE, para decidir sobre o
assunto, obedecendo-se o quorum simples em segunda convocação. (Grifos nossos)

Todavia, a notificação enviada não imputou nenhuma penalidade ao autor, mas apenas o alertou que a
ocorrência do dia 22.05.2017, causada pelo autor e registrada pelo réu PAULO (ID 5466640 – pág. 4),
infringe a proibição de fazer barulho excessivo no CONDOMÍNIO, bem como de importunar os
demais condôminos. Com efeito, foram realizadas inúmeras ligações para a portaria em razão do
excessivo barulho provocado pelo autor, o que justifica a conclusão de que a sua conduta estaria a
caracterizar utilização da unidade autônoma de maneira prejudicial ao sossego dos demais
condôminos, em desacordo com o disposto no artigo 1.336, incido IV, do Código Civil.

Não bastasse, dentre os deveres previstos no Regimento Interno do CONDOMÍNIO, existem


obrigações que impõem aos condôminos o empenho no sentido de promover a convivência harmônica
e respeitosa de todos, o que, por certo, inclui a proibição de barulho excessivo em qualquer horário do
dia e, não apenas no horário compreendido entre 22h00 e 8h00, especialmente quando o barulho se
refere ao proferimento de palavras de baixo calão por tempo excessivamente prolongado. In verbis:

V - DOS DEVERES

Art. 7º - Os deveres dos moradores a qualquer tipo, inclusive empregados, são:

(...)03) observar, dentro do edifício a mais rigorosa moralidade, decência e respeito, devendo
quaisquer queixas serem encaminhadas, por escrito, ao Síndico;

O artigo 1.337, caput e parágrafo único, do Código Civil, corrobora a norma acima mencionada.
Confira-se:

Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o
condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a
pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas
condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos
que se apurem.

Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social,
gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser
constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para
as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembléia.

Logo, não apenas o barulho excessivo realizado no horário entre 22h00 e 8h00 causa desconforto e
prejudica a convivência harmoniosa e respeitosa entre os condôminos, mas também aquele produzido
fora deste interregno, quando se der de forma a incomodar os outros moradores, o que pode ser
aferido pelas diversas reclamações dirigidas ao porteiro PAULO no dia dos fatos.

Destaque-se, ainda, que não foi a primeira vez que o autor deu causa a ocorrência que destoa dos
deveres previstos no Regimento Interno, sendo que tal comportamento era passível de ocasionar a
quebra da boa convivência entre os condôminos, pois, conforme registro realizado por outro
funcionário do CONDOMÍNIO, de nome GENIVALDO (ID 5466742), no dia 15.01.2016, por volta
de 23h40, do lado de fora do condomínio, o autor gritou bastante para que algum porteiro abrisse o
portão de entrada para ele, acordando alguns moradores.

É certo que, no caso em exame, o barulho excessivo foi cometido fora do horário compreendido entre
22h00 e 8h00, numa segunda-feira, e não houve a realização do procedimento indicado no parágrafo
único do Item 15 acima transcrito, ou seja, não houve a solicitação de 3 ou mais condôminos, por
escrito, de uma Assembleia Geral para tratar do assunto, o que desconfigura apenas o direito de o
CONDOMÍNIO aplicar a multa em caso de recidiva, pois tal penalidade demandaria, como dito, a
convocação da Assembléia Geral.

No entanto, o comportamento peculiar do autor não impede a notificação pelo CONDOMÍNIO, haja
vista que restou comprovado que ele agiu em desconformidade com os deveres previstos no
Regimento Interno, em especial, o artigo 7º, Item 03, acima transcrito, com o disposto no Código
Civil e com as regras naturais da boa convivência em sociedade. Reitera-se, ainda, que não houve
penalidade, pois a multa não foi aplicada, e a notificação serviu como alerta para que o autor não
desse causa a nova situação de incômodo pelo barulho excessivo.

Ademais, a manutenção da advertência é importante para que se possa caracterizar possível reiteração
da conduta perpetrada. Assim, a sentença deve ser reformada para que seja mantida a notificação
efetuada em desfavor do autor pela provocação de barulho excessivo, quebra da harmonia e
importunação causada a outros moradores dentro do CONDOMÍNIO.

DOS DANOS MORAIS

O autor alega na exordial que sofreu profundo abalo emocional, à sua honra e imagem em razão dos
atos praticados pelos réus. Disse que os fatos tomaram proporções graves e que seus vizinhos foram
induzidos a erro pelos réus, o que os levaram a noticiar, falsamente, possível crime cometido pelo
autor, tirando-lhe o sossego por receio de vir a sofrer processo criminal por prática de crime da Lei
Maria da Penha. Aduziu, ainda, que precisou do recebimento de apoio psicológico no dia dos fatos,
pois foi acometido de crise de pânico e choro intenso.

De acordo com as provas carreadas aos autos, verifica-se que o réu PAULO noticiou à polícia, no dia
22.05.2017, às 19h36, acerca da possível ocorrência de crime motivado por gênero no apartamento
B-214, local de residência do autor, cuja conclusão foi “AVERIGUADO E NADA CONSTATADO”
(ID 5466640 – pág. 2).

Pois bem. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso X, deu proteção à intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação.

Em consonância com a Carta Magna, o legislador infraconstitucional, por intermédio do artigo 186,
do Código Civil, deixou assentado que a violação de direito que causar dano a outrem, ainda que de
natureza moral, configura ilícito indenizável. E, consoante o artigo retrocitado, para que se tenha a
obrigação de indenizar se faz necessária a existência de três elementos essenciais, a saber: a ofensa a
uma norma preexistente ou erro de conduta ou abuso de um direito; o dano; e o nexo de causalidade
entre uma e outra.

O artigo 927, do Código Civil, disciplina, ainda, as hipóteses de reparação civil, explicitando as
situações em que não é necessária a demonstração de culpa, prevendo a responsabilidade subjetiva em
seu caput e a objetiva no parágrafo único. A responsabilidade objetiva incide nas hipóteses nas quais a
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, estão expressamente previstos em lei ou
quando a atividade desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco ao direito alheio.
Desta forma, não sendo o caso dos autos a hipótese de responsabilidade objetiva, mister a averiguação
da existência de culpa para que seja possível a condenação dos réus ao pagamento de indenização.

Flavio Tartuce leciona que a culpa lato sensu descrita no artigo 927, parágrafo único, do Código Civil,
é subdividida pela doutrina em dolo e culpa estrita ou stricto sensu e detalha seus conceitos. In verbis:

O dolo constitui uma violação intencional do dever jurídico com o objetivo de prejudicar outrem.
Trata-se da ação ou omissão voluntária mencionada no artigo 186 do Código Civil.

(...)a culpa pode ser conceituada como sendo o desrespeito a um dever preexistente, não havendo
propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. (Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil:
volume único. 5ª edição rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. Págs.
467/468)

No caso em questão, em relação ao porteiro, aplica-se a responsabilidade subjetiva, suscetível da


averiguação da existência de culpa, o que, somente se configurada, atinge o âmbito de
responsabilidade do CONDOMÍNIO, ora apelante, que, de acordo com o artigo 932, inciso III, e
artigo 933, ambos do Código Civil, responderá objetivamente pelos atos de seu preposto, o 1º
requerido. Importante consignar que, apesar de não ter sido incluído no polo ativo do presente recurso,
o exame do pedido formulado em sede recursal demanda, necessariamente, a análise da
responsabilidade do 1º requerido, que atinge de forma direta a responsabilização do apelante, em
consonância com o artigo 1.005, do Código de Processo Civil.

Pela análise dos autos, infere-se que, movido por notícias importantes sobre a possibilidade da
ocorrência de crime, em razão das diversas ligações de outros moradores informando acerca de
suposta briga entre homem e mulher no apartamento do autor, o que foi confirmado pelas declarações
escritas de alguns moradores do edifício (ID 5466746), o 1º réu acionou a polícia.

Transcrevo alguns trechos das declarações dos moradores, acostados pelos réus, sobre os fatos ora
narrados:

(...) declaro que no dia 22 de maio de 2017, ao ir buscar a bicicleta na garagem, ouvi barulho
excessivo de discussão entre homem e mulher. Daí, como precaução, reclamei na portaria da referida
discussão (...) pois dava para muitos de vários blocos ouvirem. (...) que era nítido o barulho excessivo
vir da unidade 214 do bloco B. (Declaração dada pelo morador Emanuel de Souza Lima – ID 5466746
– pág. 1)

(...) declaro que no dia 22.05.2017, por volta de 19h00, interfonei na portaria do citado condomínio
reclamando do barulho excessivo que advinha da unidade B-214. Declaro ainda, que o referido
barulho era de discussão entre homem e mulher. (Declaração dada pelos moradores Rony Lima e
Sérgio Z. C. Branco – ID 5466746 – págs. 2/3)

(...) fui até a portaria relatar sobre barulho excessivo que advinha do Bloco B. Declaro ainda, que o
referido barulho era de discussão entre homem e mulher. (Declaração dada pelo morador Paulo
Rogério Rovere da Silva – ID 5466771 – pág. 2)
(...) declaro que no dia 22.05.2017, por volta de 19h00, interfonei na portaria desse Condomínio
Central Park reclamando do barulho proveniente da unidade B-214. Barulho referente a uma discussão
entre homem e mulher. (Declaração dada pelo morador Felipe Ribeiro de Farias Mendes da Silva – ID
5466771 – pág. 3)

Destaque-se que não foi impugnada a validade de tais declarações, tendo o autor se limitado a alegar
que as informações nelas inseridas seriam inverídicas, mas não fez prova em sentido contrário (ID
5466790).

Observa-se da situação posta em análise que o 1º requerido, como porteiro do edifício Central Park e
responsável pela ordem do local e segurança dos condôminos, ao receber vários telefonemas de
moradores assustados com o barulho excessivo oriundo do apartamento do autor, em especial, porque
alegaram que poderia estar havendo uma discussão grave entre homem e mulher, num primeiro
momento se dirigiu até lá. No entanto, com a continuação do barulho causado pelo autor e dos
telefonemas dos moradores temerosos sobre a possibilidade de ocorrência de um crime dentro do
condomínio, acionou a polícia.

Não se vislumbra excesso ou extrapolação na conduta do porteiro ao acionar a polícia, tendo em vista
que exerceu suas funções com zelo, ao tentar resguardar a integridade física de uma possível vítima. É
certo que, diante dos fatos narrados, não restava outra alternativa ao porteiro senão acionar a
segurança pública, pois, conforme transcrição das declarações acima, vários moradores o induziram a
tomar providências quanto a uma possível discussão entre um homem e uma mulher.

Restou demonstrado que o réu PAULO não possuía desentendimento anterior com o autor que
pudesse levar a crer que o acionamento da polícia seria no intuito de prejudicar o condômino,
afastando-se o dolo de sua conduta. Demais disso, também não é constatada imperícia, imprudência
ou negligência em seu agir, ao contrário, porque tomou as providências que estavam a seu alcance
para tentar prevenir a suposta prática de um delito, afastando-se a culpa estrita.

Ademais, é direito de qualquer cidadão, diante de uma situação de perigo de que se possa inferir a
possível existência de crime, acionar a segurança pública sem que tal ação configure ato ilícito, pois
atua em exercício regular de um direito, consoante o artigo 188, inciso II, do Código Civil, que dispõe
que não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um
direito reconhecido.

Sobre a questão, inclusive, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento no sentido de que a
comunicação de suspeita de delito à autoridade policial e propositura de ação penal, ainda que
culmine com a absolvição do réu, consistem em exercício regular de direito, verbis:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUEIXACRIME. CONTEÚDO. OFENSA À


HONRA. AUSÊNCIA. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE DAS PARTES
PELA CONDUTA DO ADVOGADO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. 1. Quando a
própria causa de pedir da ação judicial consiste em imputação de crime, o insucesso do autor não
autoriza a sua posterior responsabilização a título de danos morais pelos fatos descritos em suas peças
processuais, pertinentes ao debate da causa. "O STJ pacificou entendimento de que a apresentação de
notícia-crime constitui, em regra, exercício regular de direito e, portanto, não sujeita o
denunciante à responsabilização por danos materiais e morais sofridos pelo acusado, exceto nas
hipóteses em que a má-fé ou culpa grave do delator contribuir para a imputação de crime não
praticado pelo acusado. (Embargos de declaração no REsp 914.336/MS, rel. Min. João Otávio de
Noronha. Quarta Turma, DJe 29/3/2010). (Grifos nossos)

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS.


DENÚNCIA À POLÍCIA SOBRE A SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME. INFORMAÇÃO
EQUIVOCADA. IMPRUDÊNCIA E EXCESSO CARACTERIZADOS. CULPA.
RESPONSABILIZAÇÃO. VALOR. MANUTENÇÃO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO A
FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO (SÚMULA 283 DO STF). RECURSO
DESPROVIDO. I. Em princípio, não dá ensejo à responsabilização por danos morais o ato
daquele que denuncia à autoridade policial atitude suspeita ou prática criminosa, porquanto tal
constitui exercício regular de um direito do cidadão, ainda que, eventualmente, se verifique,
mais tarde, que o acusado era inocente ou que os fatos não existiram. (...) (REsp 1040096/PR,
Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe
22/02/2011) (Grifos nossos)

Nesse mesmo sentido tem sido o posicionamento adotado por esta Corte de Justiça, a saber:

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. IMPUTAÇÃO DE FATOS


CRIMINOSOS. BOLETIM DE OCORRÊNCIA. ATO ILÍCITO NÃO CONFIGURADO.
EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO. INEXISTÊNCIA DE DOLO OU CULPA DOS
COMUNICANTES. 1.Para que se possa falar em responsabilidade civil, mostra-se imprescindível a
presença de uma conduta antijurídica, um dano e o nexo causal ligando aqueles dois elementos. 2.
Não configura ato ilícito a mera comunicação à autoridade policial de fato tipificado como crime e o
consequente registro da ocorrência. 3. Consoante entendimento jurisprudencial dominante em nossos
Tribunais, somente surge o dever de indenizar se restar comprovada a má fé, a flagrante injustiça ou
despropósito por parte daquele que leva às autoridades policiais a notícia de crime que não ocorreu. 4.
Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão n.979555, 20150110889148APC, Relator: CARLOS
RODRIGUES 6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 05/10/2016, Publicado no DJE: 17/11/2016.
Pág.: 605/665)

APELAÇÃO. DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE DANOS MORAIS. ATO


ILÍCITO. AUSÊNCIA DE PROVAS. COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIA CRIME. INEXISTÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DE DOLO OU MÁ-FÉ. SENTENÇA MANTIDA. 1. A configuração dos
danos morais exige a apresentação de provas do dano, do nexo causal e dos atos ilícitos praticados,
conforme versam os artigos 186, 187 e 927 do Código Civil. 2. O autor não se desincumbiu do ônus
de comprovar o fato constitutivo do seu direito, porquanto ausente demonstração dos atos ilícitos. 3. À
míngua da referida comprovação, deve a pretensão de condenação ao pagamento de danos morais ser
afastada, conforme previsão do artigo 373, I do Código de Processo Civil. 4. O registro de Boletim de
Ocorrência, sem prova da má-fé ou dolo da comunicante, não extrapola o exercício regular do direito
de ver tal situação investigada. Pelo contrário, trata-se de prática garantida pela Constituição Federal,
em seu artigo 5º, inciso XXXIV, alínea "a" e, no caso concreto, incentivada pelo artigo 7º, "b", da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher.
5. Os aborrecimentos ocasionados pela instauração de Inquérito Policial e Ação Penal envolvendo a
parte, mesmo quando absolvida posteriormente, nesse caso, por ausência de provas, não extrapola os
limites do mero dissabor da vida cotidiana, apto a fundamentar indenização por danos morais. 6.
Apelação conhecida e desprovida. (Acórdão n.1071621, 20170610020188APC, Relator:
EUSTÁQUIO DE CASTRO 8ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 01/02/2018, Publicado no DJE:
06/02/2018. Pág.: 653/662)

Importante destacar que não houve maiores consequências decorrentes do acionamento da polícia,
pois o autor sequer foi levado à delegacia para prestar depoimento, bem como não houve conclusão do
boletim de ocorrência com a abertura de inquérito policial. Os agentes policiais limitaram-se a indagar
ao autor acerca da suposta notícia de crime. Não bastasse, todo o imbrólio foi causado pela atitude
destemperada do autor, que passou período extremamente longo a proferir gritos e xingamentos no
interior de seu apartamento.
Portanto, não comprovada a culpa ou má-fé do réu PAULO, bem como demonstrada a inexistência de
ato ilícito apto a ensejar os alegados danos morais, é devida a reforma da sentença para afastar a
condenação dos requeridos.

Registre-se, por oportuno que a sentença condenou os réus, solidariamente, à indenização por danos
morais. Apenas o CONDOMÍNIO apelou. No entanto, nos termos do artigo 1.005, parágrafo único,
do Código de Processo Civil, no sentido de que, havendo solidariedade passiva, o recurso interposto
por um devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns, a
sentença deve ser integralmente reformada para afastar a condenação dos dois réus. Com efeito, o
reconhecimento de ausência de conduta ilícita praticada pelo preposto do CONDOMÍNIO, aproveita
ao próprio preposto que também foi incluído na demanda.

ÔNUS SUCUMBENCIAIS

Quanto às custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência, o magistrado a quo os


arbitrou em 10% sobre o valor da condenação, em desfavor dos requeridos. Todavia, a alteração da
sentença demanda a redistribuição da sucumbência, pois os pedidos iniciais de cancelamento da
notificação e indenização por danos morais no valor de R$10.000,00 foram totalmente improcedentes.
Logo, o autor deve arcar integralmente com as custas judiciais e os honorários advocatícios, mantida a
proporção de 10% sobre o valor da causa (R$10.000,00). Suspensa a exigibilidade de cobrança com
relação ao autor, pois deferida a gratuidade de justiça em seu favor.

Cumpre observar que, conforme previsto no artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, deverão ser
arbitrados, nesta fase processual, os honorários de sucumbência recursais, diversos daqueles
estabelecidos em primeiro grau de jurisdição, que com eles serão acumulados, devido ao trabalho
adicional realizado em segundo grau de jurisdição, observando-se os limites estabelecidos nos §§ 2º e
3º do mesmo dispositivo legal.

Ante o exposto, conheço do recurso e a ele DOU PROVIMENTO, para JULGAR


IMPROCEDENTES os pedidos iniciais. Custas e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o
valor da causa (R$10.000,00), pelo autor, de acordo com o artigo 85, § 2º, do Código de Processo
Civil. Conforme previsto no artigo 85, § 11, do diploma retromencionado, majoro os honorários
advocatícios devidos pelo autor de 10% para 11% sobre o valor da causa. Suspensa a exigibilidade de
cobrança com relação ao autor, pois deferida a gratuidade de justiça em seu favor.

É o voto.

O Senhor Desembargador ALFEU MACHADO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador CARLOS RODRIGUES - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PROVIDO. UNÂNIME.

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