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Publicações equipe:
Edição especial: World of
Humans (capa) vem com Redação: Moonlight Knight,
dois capítulos novos, e Bryan Dias, Eirea, Mooner
Dias de Cão por Hanzo Colaboradores: TAXD,
complementa a Revista. Hanzo
Além disso todas Diagramação: Aero
Artifinalismo: Aero
Edição: (vaga em aberto)
NOVIDADES
Para facilitar a leitura, todas
as edições já publicadas
serão adicionadas a nova
área do site "Edições
anteriores".

OBSERVAÇÕES:
Mais uma vez o intervalo
entre as publicações foi bem
extenso, mas acho que valeu
a pena.

Contato:
projetoredacao@gmail.com

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Sumário
Apresentação . ................................................................. 3

Sumário ........................................................................... 4

Sagas ............................................................................. 5
Chantel Capítulo 4 ........................................................ 5
World of Humans Capítulo 4 e 5 .................................11
Guerreiros Predestinados Capítulo 3 .......................... 18
Dis Irae Capítulo 3 ....................................................... 23

Contos e Crônicas ........................................................ 29


Cinza, Preto e Branco ................................................. 30
A Coloração Avermelhada .......................................... 35
Dias de Cão .................................................................. 37

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Chantel

Capítulo 4
“Achamos mais um corpo”. Essas palavras caíram sobre
mim como uma bomba. No que foi que eu me meti? O que afinal está
acontecendo nesse lugar? E para piorar tudo ,essa dor de cabeça. Sinto
como se meu crânio fosse explodir:
-Tudo bem, Johan? – Mesmo a voz leve de Chantel me faz sentir
martelado na cabeça.
- Não, não está nada bem! Quer me fazer o favor de explicar essa
história de “outro corpo”?
Chantel puxa uma cadeira e senta frente a frente para mim. Sua
expressão está séria e há um tom de preocupação nos seus olhos:
-Nos últimos dois meses quatro pessoas foram assassinadas
aqui. Todos os corpos foram encontrados do mesmo jeito, repletos
de queimaduras profundas e com membros faltando, provavelmente
removidos para extração de canais de mana.
-Espera aí! Quer dizer que tem algum louco solto por aí, matando
pessoas e arrancando pedaços delas só para pegar canais de mana?
-Isso não é nem um pouco simples, Johan. Os canais de mana
de um indivíduo funcionam como um papel onde se limpa carimbos.
-O que?
-Quando você limpa um carimbo num papel ele acaba ficando
sujo pela tinta e a partir dessa tinta você pode identificar os carimbos
que foram usados, entende?
Mary se aproxima carregando uma pequena caixa metálica com
alguma coisa escrita num idioma estranho:
-O que ela quer dizer é que nos canais de mana fica gravada a
maneira como você usou o mana.
-Deixa eu ver se eu entendi. O que você quer dizer é que é
possível decifrar como alguém fazia suas magias apenas estudando os
canais, certo?
-Exatamente. – Diz Chantel se levantando.
-Srta. Chantel, não quero interromper a sua reunião com seus
colegas, mas peço que se apresse. – Fala Wattson.
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Chantel
Chantel vai até uma das estantes onde pega um livro de capa
azul com vários símbolos desenhados em dourado na lateral e, com ele
em mãos, vai até a porta.
-Onde o encontraram?
-No jardim do Bloco D.
-Entendido. Vamos rápido, temos muito trabalho a fazer.

Rapidamente chegamos ao jardim e minha atenção volta-se


diretamente para uma enorme cratera envolta em plantas queimadas,
e ao olhar para o centro dela sinto meu estômago revirar. Encosto-me
num canto mas a imagem daquele corpo queimado e com um braço
arrancado não sai da minha cabeça e enquanto Chantel e Dave vão
investigar o cadáver, Mary se aproxima de mim:
-É a sua primeira vez, não é?
-É tão óbvio assim?
-Sua cara de nojo não foi muito sutil.
Olho novamente para a cratera onde os outros dois estão.
Chantel parece estar recitando alguma coisa enquanto Dave recolhe
pedaços tanto do corpo como do terreno em volta e os coloca dentro da
caixa:
- O que eles estão fazendo?
-Coletando amostras do corpo e do terreno para ver se é ainda
há rastros de mana. Se dermos sorte e o assassinato tiver acontecido há
pouco tempo talvez possamos descobrir quem foi.
-Não seria mais fácil recolher digitais?
-Você acha mesmo que seria tão fácil assim? O único lugar onde
o assassino deve ter tocado foi no braço que está faltando. Além do que,
mesmo que houvesse digitais seria impossível recolhê-las num corpo
queimado e sujo de terra. Mas se conseguirmos pegar traços de mana
é existe uma chance de descobrir como ele foi usado e, quem sabe até
quem foi que fez isso.
-Que profissional.
-Essa já é a quinta vítima. Se as coisas continuarem assim nós
vamos ter problemas.
-E não há nenhuma ligação entre elas?
-Só se você considerar o fato de todas serem magos uma ligação.
Nenhuma das vítimas se conhecia e cada uma era de uma divisão

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Chantel
diferente, cada uma estudava coisas diferentes. Elas nem mesmo tinham
conhecidos em comum.
-Mas talvez isso seja uma pista.
-Se importa em explicar como?
-Considerando o fato de todos os corpos terem tido canais de
mana removidos, e levando em conta que é possível decifrar as magias
deles a partir disso podemos concluir que a intenção do assassino é
roubar magias dos alvos que eles se recusavam a ensinar, já que se o
fizessem não haveria razão para o homicídio. Claro que sempre há a
possibilidade disso ser apenas um truque para esconder as verdadeiras
intenções dele, mas acho improvável, já que não há outra ligação possível.
E considerando que as magias são completamente diferentes umas das
outras só consigo imaginar que ele pretende usá-las para criar algo.
Mary me olha com uma expressão de surpresa. Com certeza
deve ter achado tudo isso uma grande besteira:
-O que foi, é tão idiota assim?
-Na verdade, não. É só que agora eu entendi o motivo da Chantel
pedido para Helena te colocar aqui. Vocês pensam de um jeito bem
parecido.
Grande, acabo de descobrir que tenho o mesmo nível mental
que uma pessoa que ignora um gorila gigante para dar uma bronca
em alguém. Já não me bastasse estar envolvido numa investigação de
homicídio em série, agora descubro que pareço com uma louca. E pensar
que tudo isso é só na minha primeira semana. Sinto como se tivesse
caído em algum tipo de armadilha e...
De repente ouço um barulho alto dentro da minha cabeça. Mary
me parece nervosa e está falando alguma coisa enquanto me segura,
porém não consigo escutar. Sinto meu rosto esquentar e minha visão
começa a escurecer.

No instante seguinte estou deitado em algum lugar. Meus


sentimentos se recobram lentamente e percebo que se trata da
enfermaria, mas algo está errado. Tudo está escuro e não parece haver
mais ninguém na sala. Ouço passos e cada vez mais, me aproximo da
porta, mas estranhamente não sinto minhas pernas se moverem.
Chego à porta e ponho a mão sobre o trinco, mas antes que
possa girá-lo sinto uma mão fria pousar sobre meu ombro. Uma voz

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Chantel
baixa, parecida com o assobio de uma cobra ecoa pela sala congelando-
me a espinha. Tento virar, mas meu corpo se recusa a responder, tomado
pelo medo do que quer que esteja atrás de mim. Sinto uma respiração
leve, descompassada bater no meu pescoço, enquanto suor frio começa a
correr pela minha testa e meu coração acelerar. “Está tudo na sua mente,
Johan. Está tudo na sua mente”, repito para mim mesmo.
E então tudo para. Minha respiração volta ao normal, junto
com meus batimentos cardíacos. Tiro a mão do trinco, fecho os olhos
e encosto na porta de madeira, e assim espero. Um completo silêncio
envolve tudo e então abro os olhos, e à minha está uma serpente com
rosto de mulher e patas de aranha, olhando fixamente nos meus olhos.
Tento dar um passo para trás, mas sou impedido pela porta. A
serpente enrola-se em mim, sufocando-me e fazer estralar meus ossos.
Porém não há dor. Fecho os olhos e imagino não haver nada a minha
volta e, subitamente, tudo volta à escuridão.

-Creio que já tenha descansado o bastante. – Diz uma voz grave.


Abro os olhos e me percebo deitado sobre um tapete de veludo:
-O que está acontecendo?
-Você está sonhando, meu caro.
Viro em direção à voz e vejo um homem de idade avançada,
com um terno preto abotoado até o pescoço, sentado num largo trono
de pedra. Olho para os lados e tenho a sensação de estar numa sala de
algum castelo. Ao meu lado há uma lareira acessa, porém não consigo
sentir seu calor. Mas, se isso é um sonho eu deveria poder acordar:
-Creio que não tenha me apresentado. Chamam-me de Hipnos,
e você é Johan Martin. É um prazer conhecê-lo. Espero que me perdoe
por tê-lo feito passar por toda aquela situação, mas sua fobia por ofídios
é tão grande que foi difícil tirá-lo do pesadelo.
-Mas o que diabos é você?
- Já me apresentei Sr. Martin. E diferente do que pensa não sou
nada além de um mensageiro.
-O estranho junta as pontas dos dedos e então sorri:
-Pode nos chamar de “Rosenscherwt”.
Ele se levanta e abre o paletó e a camisa vestida por baixo deste,
revelando uma tatuagem na forma de uma espada cruciforme envolta
numa coroa de rosas:

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-A mensagem é simples: Abandone a organização o mais breve
possível.
-E por que deveria te escutar?
Ele fecha suas roupas e volta a se sentar. Ao seu lado direito
agora está uma mesa de chá e tudo à minha em volta se tornou um
enorme salão de festa repleto de mesas de banquete e pessoas:
-Já mostrei o que posso fazer, se isso não for o bastante
pergunte aos seus colegas sobre nós, quando despertar. Tenho certeza
que eles poderão atestar a seriedade com que tratamos os assuntos de
nosso interesse. Mas por agora limite-se a acordar. Espero não vê-lo
novamente, Sr. Martin.
Uma forte luz branca surge por trás de Hipnos e se espalha
por todo o lugar. Quase que instantaneamente tudo se desfaz num
gigantesco efeito dominó.

Abro os olhos bruscamente e sou bombardeado por uma luz


branca que lentamente se desfaz, revelando o meu próprio quarto. Então
foi tudo um sonho? Ouço passos se aproximando e logo Mary entra pela
porta carregando uma sacola:
-Então a princesa adormecida resolveu acordar, afinal? Já estava
pensando que teria que te acordar com um beijo.
Ela coloca a sacola na cômoda ao meu lado e se senta na cama:
-Você nos deu um grane susto com toda aquela coisa de desmaio.
-Mary, existe algum grupo chamado “Rosenscherwt”?
Um misto de espanto e surpresa toma a face de Mary. Por um
instante ela fica imóvel, apenas me observando para no instante seguinte
se jogar sobre mim me segurando pela gola:
-Onde... onde você ouviu esse nome?

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world of humans

Capítulo 4
“... criaturas adentraram em direção aos garotos.”
Essas criaturas eram a mais perfeita combinação de um ser
humano totalmente desfigurado com criaturas demoníacas.
Eles tinham uma aparência de humano, porém com uma pele
totalmente transparente, músculos extremamente fortes e definidos,
olhos vermelhos e vidrados em um único ponto, a área central dos
pescoços dos jovens. Suas mãos eram iguais as de um ser humano normal,
porém eram maiores e suas unhas foram trocadas por garras, não muito
grandes, porém também não tão pequenas. Essas criaturas tinham cerca
de dois metros de altura para mais. Eram gigantescas e muito ágeis.
Em suas cabeças não tinham nenhum fio de cabelo, e suas mandíbulas
eram extremamente parecidas com as de um cachorro, porém com os
caninos muito maiores. Essas criaturas trajavam roupas rasgadas que
antes pareciam pertencer a um ser humano normal.
Traziam em uma das mãos um pedaço de metal que parecia ser
uma arma, e na outra um machado de bombeiro.
Com uma mira certeira , Kimberly acertou em cheio um tiro na
testa de um deles. Por alguns instantes, ela e o Thiago achavam que ele
tinha morrido. Porém em uma fração de segundos depois, ele levantou ,
com o buraco da bala a mostra, entretanto sem a bala , que jazia caída lá
no chão. A criatura pareceu ficar mais ágil e forte e vinha cada vez mais
rápido na direção da garota.
Com um braço certeiro, e um pouco de sorte, Thiago conseguira
acertar um tiro no pescoço da criatura, que novamente fora em vão, pois
ela se levantara e fora pra cima dela com maior rapidez.
“Vamos voltar Thiago, vamos! São muitos, não daremos conta
de...” Disse Kimberly com pressa, porém fora interrompida, pois uma
dessas criaturas atirara um pedaço de metal que infincara em sua perna
direita, fazendo-a titubear e cair no chão.
“Aaaaa...” ela gritara com as forças restantes que lhe sobravam.
“Kimberly!” Gritou Thiago que fora ao encontro da menina. Ao
chegar ao lado dela, colocou a 12 nas costas, a segurou pelo braço bom e
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world of humans
levou ao elevador do local.
Fora essa criatura que os seguiam, estavam mais umas nove, que
estavam a espera desse que estava atacando, que parecia ser o “líder”
deles.
Thiago repousara Kimberly no chão do elevador, apertou o botão
do último andar e pegou a sua 12 na mão e começou a atirar sem pensar
em tudo o que tinha na sua frente. Acertou cinco dessas criaturas, que
recuaram com um gemido.
“Não deixem eles escaparem!” gritou uma voz fria e ecoante no
átrio.
Dois desses monstros se jogaram no elevador. Um Thiago
conseguiu atirar a tempo, o outro não, e com uma insistência entrou no
elevador juntos com os meninos, que acabara de fechar a porta.
O garoto mirou na criatura e atirou. Não saiu nada,acabou as
balas, e com uma bofetada, a criatura rasgou o rosto dele e a 12 que
estava repousada na mão de Thiago caíra no chão.
Kimberly conseguira tirar o pedaço de ferro da perna com muito
esforço e enfiara na perna daquela criatura. Thiago já não agüentando
mais de dor, pegou a 38 que estava na sua calça e começou a atirar sem
parar na criatura, que soltava uivos profundos de dor, porém, com um
ato de extremismo, começou a arranhar o garoto, até que com um forte
baque de tiro, a criatura caíra. Fora Kimberly que atirara com sua 12 no
peito dele. O elevador parou, e com um estampido, abriu-se a porta.
Ela que mal se pusera a andar colocou Thiago nos seus braços,
que estava quase desacordado e o levou para perto da porta que ligava
o corredor as escadas. Abriu a porta com movimentos leves e pode-se
ouvir sons de passos frenéticos daquelas criaturas vindas da escada, cada
vez aproximando-se mais.
Kimberly fechara a porta com extrema leveza e correu
desesperadamente, com Thiago em seus braços para uma porta ao fundo
do corredor reto, que ao abrir, mostrou-se o heliporto do prédio.
Ao redor do prédio estava tudo escuro, com alguns pontos de
luzes no céu, que pareciam estrelas a brilhar. Ela o deixou num canto
longe da porta, na outra extremidade do heliporto e entrara de novo na
porta.
Ao retornar, se passado pouco tempo, trouxe mais munições.
No exato momento que voltara, a porta abriu-se novamente, e

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world of humans
nove criaturas puseram-se de pé diante deles.
Um som muito fraco começou a ecoar no céu... Era um som
familiar. Esse som foi se aproximando conforme os passos das criaturas
também se aproximavam, formando assim a música da hora. O coração
de Kimberly mal cabia em seu peito, estava louco para sair de seu
corpo. Thiago voltara a si, e com um susto colocou-se de pé, porém em
vão. Caíra no chão com um baque forte. Kimberly estava sem andar.
Esgotaram-se todas as suas forças e a sua vontade de tudo. Assumiu a
frente de Thiago, com uma forma de mátir diante daqueles monstros.
O barulho foi aumentando, e com ele um vento forte foi
chegando.
Kimberly juntou suas pernas, ergueu-se os braços aos lados e
levantou a cabeça.
Os passos tímidos e lentos das criaturas pareciam nunca acabar.
Elas não estavam com pressa. Elas gostavam do que viam, pareciam
grunhir de prazer a cada ato de desespero dos jovens.
Ao olhar para cima, a garota viu um objeto descer em direção a
eles. Era um helicóptero.
“Um helicóptero!!??...aqui? Como isso?” Sussurrou a menina.
Thiago viu de relance o objeto e, arrastando-se, puxou ela de lado
para que o helicóptero pudesse pousar.
Ao ouvir esses fortes barulhos, as criaturas foram retornando os
passos. O helicóptero foi aproximando-se cada vez mais, até que pousou.
Não podia distinguir como ele era, pois estava a noite e havia uma fraca
iluminação, que só tinha perto da porta do lado de fora desse edifício e
também nas extremidades do veículo aéreo.
Ao tocar o solo, pode-se ver que tinham quatro passageiros dentro
do helicóptero, que se abriu a porta. Thiago não conseguiu distinguir
quem era mais só adentrou no veículo aéreo junto com Kimberly aos
seus braços.
“Entre cara, estamos aqui para ajudá-los!” Disse um deles.
“Ok.” Disse Thiago.
Com uma ajuda de um deles, os dois conseguiram subir e se
ajeitar dentro do helicóptero.
O mesmo subiu nos céus imponentemente, deixando as criaturas
se regurgitando de dores com as mãos nas cabeças, surdas pelo barulho
das hélices.

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world of humans

Capítulo 5
Estava em um quarto gigante quando acordou. Thiago
levantou-se. Não sentia mais aquela ânsia que o sufocava, e sentia suas
feridas muito melhores já. Ao olhar ao redor, pode ver melhor o quarto
onde estava. Tinha o piso de porcelanato preto e branco, suas paredes
da cor de um ouro envelhecido, que ao ser pego pelo sol em pequenos
filetes ocasionados pelas frestas da cortina, projetava uma cor dourada
fortíssima. Estava sentado numa cama. Num outro ponto do quarto
tinha um banheiro, e ao lado estavam deitado duas pessoas, dois homens,
um em cada colchão. Ao seu lado estava a Kimberly numa cama e na
outra tinha duas pessoas sentadas cochichando, até que um deles olhou
para trás, viu o Thiago acordado e cutucou o outro, ai eles pararam.
“Olá cara! Tudo bem?” disse um deles, que tinha uma calça jeans
velha, um tênis all star converse clássico, camisa regata que mostrava os
seus músculos semi-definidos, uma jaqueta de couro nas mãos e uma
faixa preta que segurava os seus longos cabelos para trás.
“Olá! Tudo bem e contigo? Aonde que é aqui?” perguntou Thiago
desesperado.
“Calma companheiro, eu sou o Fernando, e este é o Leonardo”
disse o cara que lhe cumprimentava apontando para o outro cara, um
afro-descendente que usava calças largas, um tênis da addidas stars,
camisa larga da Fila e um boné da NY preto com listras brancas que
encobriam os seus longos cabelos dreads.
“Beleza cara?” perguntou Leonardo tirando o boné e ajeitando
os seus dreads pra dentro do mesmo novamente.
“Beleza... O Que aconteceu? O que são aquelas criaturas? Quem
são vocês? O que aconteceu com o mundo??!” perguntou gritando
Thiago, fazendo acordar as outras duas pessoas e a Kimberly.
“Desculpem...” disse Thiago olhando para baixo encabulado.
“Calma cara... eu te explico tudo.” Disse um deles que estava
deitado e conforme a conversa se passava ,levantou e se posicionou
em pé na frente dele. Aparentava ser o líder daquele grupo. Tinhas os
cabelos pretos como o carvão, os olhos de um preto hipnotizador. Tinha
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world of humans
uma estatura grande, era do mesmo tamanho que Thiago. Vestia um
tênis qualquer, com uma calça moletom, uma camisa social com um
suéter por cima da mesma. Fazia posse de uma gravata no pescoço e de
uma bengala preta, que utilizou para se apoiar. “Aquelas criaturas são
uma espécie de humanos geneticamente modificados. Foram cobaias
de experiências do Estado. Tudo isso foi ocasionado por experiências
que saíram fora do controle. Era um dia normal ,uma quarta feira
como outra qualquer. Porém para todos os Estados era um dia crucial.
Estavam testando injeções de super humanos neles , injeções que
dariam certos vigores físicos e mentais a essas criaturas. A cobaia X01
foi a primeira , 1 mês atrás. Logo depois de um suposto “sucesso” em
relação a ela , essa noticia correu o mundo , e foi marcado naquela quarta
feira para o mundo fazer o mesmo experimento ,para ver se obteriam
alguns ótimos resultados. O problema é que o mundo não contava com
o fator de estarem mexendo com coisas além de seus conhecimentos.
Um erro inesperado ocorreu nesses testes. E esse erro foi armazenado ,
filmado e guardado nos governos dos países. Nós vamos buscá-lo. , para
entende-lo melhor e assim elaborar algo para resolver esse erro , pois
não sabemos se essa injeção se espalha pelo ar como um vírus da gripe
ou fica encostado em pequenos lugares , sem chance de proliferação.
Não sabemos como , mais algumas pessoas foram “seqüestradas” por
agentes do governo para que se escondessem desse dia fulminante ,
essas pessoas foram controladas por coisas que não sabemos o que para
seguirem um caminho. Que eu saiba foram 1% de toda a população.
Alguns dizem que não foi o governo , e sim forças sobrenaturais ou algo
do tipo!.Nós somos pessoas que se encontraram após tudo isso , eles são
o Fernando , Leonardo , eu sou o João e essa mulher aqui do meu lado é
a Larissa.” Completou com êxito toda a informação João , que abraçara
a mulher ,que era um pouco menor que a Kimberly , porém tinha os
cabelos ondulados que iam até a cintura , de uma cor semelhante ao de
João . Suas bochechas eram rosadas e seus olhos de uma Avelã intenso.
Tinha um corpo escultural.
Thiago olhara para Kimberly , perplexo sobre todo o assunto.
Kimberly olhou fixamente nos olhos de Thiago, dando-o força para
continuar.
“João, eu me chamo Thiago, e essa é a Kimberly. Nós iremos
junto com vocês procurar os arquivos do Estado, e reverteremos esta

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world of humans
situação!” Exclamou Thiago com o olhar ainda preso nos de Kimberly.
“Pois bem. Fernando, Leonardo, Vamos utilizar a Juanes!”

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guerreiros predestinados
“Eu e meu filho viemos pedir ajuda aquele que é o Cavaleiro
Predestinado, mas ele se recu-sa a ajudar dizendo que tudo o que quer é
voltar para seu planeta, por isso, combinamos que se ele prometer nos
ajudar, diremos uma possível forma de ele voltar a seu lar”.

capítulo3
Tudo bem, mesmo sendo apenas uma probabilidade, se o
que disserem me der pelo me-nos uma pista de como voltar para casa,
eu ajudo vocês – Diz Hércules -.
- Ótimo! – Diz Amesina – Existe a Norte e Leste daqui uma
Colina chamada Colinas de Hér-cule. Lá os homens de Hércule
mantêm escravas muitas crianças de vários povos, existe lá um rapaz
chamado Sekir, que é meu sobrinho, gostaríamos que você o libertasse.
- O que tenho que fazer exatamente?
- Enfrentar os guardas de Hércule, mas eles são muitos e são
poderosos.
- Aí é que está o problema, eu não sou um guerreiro, não sei
lutar, quase morri nas mãos do Lobo.
- Sim, – Diz Theros – mas o nosso Mestre Samir está de volta a
Vila I, chegou esta manhã.
- Quem é Samir?
- Ele é um Mestre Bárbaro de nosso povo, o Povo do Fogo, veio
para cá para treinar ho-mens do Povo das Folhas e torna-los Cavaleiros,
se treinar com ele, provavelmente adquirirá poder para derrotar os
homens nas Colinas de Hércule.
- Supondo que eu aceite o treinamento, como voltaria para a
Terra?
- Simples, - diz Amesina – os garotos são obrigados a cavar na
mina por pedras preciosas que enriquecem Hércule e metais que forjam
suas armas, mas o real motivo de estarem lá, é pela busca de uma pedra
rara chamada Olho Negro, diz à lenda que ela abre infinitas portas entre
infini-tos mundos, você poderia ir onde quiser e quando quiser.
- Logo se eu achar a pedra, - diz Hércules – posso voltar para
minha casa.
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guerreiros predestinados
- Sim, mas a probabilidade de você achar a pedra, é mínima,
e ela é só uma lenda, mas pense bem, supondo que um dos garotos
a tenha encontrado, se ele entrega-la aos homens de Hércule, ele não
precisará mais das crianças e as matará, por isso eu suponho que se um
dos garotos a achou, ele pode te-la guardado ou escondido para que não
morram.
- Realmente é uma chance, de qualquer forma eu vou tentar,
onde encontro Samir?
- Ele construiu um forte na fronteira Oeste da Vila I, - diz Theros
– é um local cercado por grandes toras de madeira, não tem como errar.
Hércules se dirige até o local, é como Theros descreveu, um lugar imenso
cercado por gran-des toras de madeira, Hércules não vê campainha ou
portão, por isso, grita:
- Samir; preciso falar com você, por favor, atenda.
Abre uma espécie de passagem entre dois troncos que se
distanciam, um tipo de portão de madeira. Hércules vê um homem
com cabelos meio longos, até os ombros, uma franja que cobre seu olho
esquerdo, ele é sério e fechado, seus cabelos são vermelhos, ele veste
uma armadura com Braceletes de Ouro, Ante-Braceletes de Prata (São
Braceletes para o Ante Braço), Cinto de Prata, Botas de Ouro, Peitoral
Superior de Bronze, Ombreiras de Aço uma Espada de Aço na Bai-nha,
Adagas de Bronze presas ao cinto e uma Maça de um estranho metal
Laranja em sua mão.
- O que deseja, rapaz?
- Eu sou Hércules, Cavaleiro Predestinado, preciso ser treinado
por você!
- Não estou aceitando discípulos agora, vá embora.
- Mesmo? Está tão ocupado que nem se quer ajudou sua vila a se
livrar do Lobo? E seu a-migo Heymore? Isso se você for mesmo amigo
dele.
- Escute rapaz, você não está falando com qualquer um, eu sou
um Bárbaro do Povo do Fogo, sou um guerreiro; sou um mestre; não me
subestime por ser Predestinado, ser Predestinado não é ser invencível.
- Eu sei, quase morri nas mãos do Lobo. Reconheço minha
fraqueza, mas quero me tornar forte, por isso preciso ser treinado por
você.
- Eu ouvi toda a história do Lobo e de Heymore, e sim, ele é

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guerreiros predestinados
meu amigo, mas não podemos fazer nada por ele sem um antídoto e
uma bússola mágica. E onde eu estava não é da sua conta.
- Como você pode ser tão frio, vindo do Povo do Fogo.
- O Povo do Fogo, ou Povo dos Bárbaros é um povo muito frio e
calculista, diga-me, qual o seu objetivo no meu treino, quer ser Cavaleiro
para quê?
- Para ajudar as crianças das Colinas de Hércule e quem sabe
achar o caminho de casa, se-rei sincero com você, não quero ser herói ou
altruísta, apenas retornar a Terra.
- Pois bem, eu te treino com uma condição.
- Qual?
- Depois que se formar Cavaleiro, quero que busque ajuda
e salve Heymore, e pelo menos ouça o seu objetivo como Cavaleiro
Predestinado; você não precisará aceitá-lo, mas pelo menos ouvi-lo
antes de partir para o seu mundo. O que me diz?
- Eu aceito, mas não sei onde buscar ajuda.
- Isso será problema seu. Deixe me ver o que Heymore te deu.
Hércules entrega a Samir o Bracelete de Prata, o Cinto de Couro
e o Punhal de Aço.
- Sua arma é muito pequena, e suas proteções mínimas, você
precisará de mais partes para sua armadura e uma espada maior e um
escudo, quando consegui-los, eu começo a treiná-lo.
- Mas onde posso arrumar tudo isso?
- Há um ferreiro na vila, mas ele exigirá metal e cobrará pelo
serviço. Existem ainda as cria-turas das florestas e desertos, elas pegam
dinheiro e armas de viajantes sem sorte. Se derrotá-las, poderá ter armas,
dinheiro para fazer as proteções, enfim. A Floreta Amir fica a oeste e
norte daqui, e o Deserto Amir a Leste de lá, ou as Montanhas a oeste;
no deserto você pode encontrar armas perdidas, além de criaturas que
as possuem, se não sobreviver à floresta, montanha, ou ao deserto, não
voltará para sua casa, nem ajudará ninguém. Leve isso como um teste,
a decisão em aceitar é sua e eu nem me importo com ela, por isso, só
retorne quando tiver o que te pedi, tendo em mente que se conseguir
retornar, pode ainda nem sobreviver ao meu treino. Entende agora por
que poucos homens deste planeta são guerreiros?
Samir devolve as armas e proteções de Hércules, vira a costa e
volta para o seu forte.

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guerreiros predestinados
Hércules volta para sua casa, já é tarde.
Pela manhã, Theros vem a casa dele, ele já está acordado:
- Senhor Hércules, o que decidiu, irá treinar com Samir?
- Theros, não me chame de senhor. E sim, eu pretendo, mas
primeiro, preciso encontrar uma espada e escudo.
- Desculpe, é que precisamos chamar assim os guerreiros, é uma
questão de respeito em nosso planeta. Eu queria poder ajudar, mas não
temos muito dinheiro nem armas aqui.
- Eu estou indo para Amir, há uma Floresta, Deserto e Montanha
lá, em algum lugar eu pos-so encontrar uma espada e um escudo.
- Tome, - Theros estende um tipo de mochila para Hércules -.
Há água e frutas aqui, também há um bolo que minha mãe fez, a viagem
será longa, pode levar dias. Tem aí umas 5 moedas de prata, não é muito,
mas dá pra comprar algo no caminho para comer se o mantimento
acabar, estarei torcendo por você senhor Hércules.
- Se cuide garoto, e muito obrigado, agradeça sua mão pelo bolo.
Vendo Hércules caminhando ao longe, rumo a Norte e Oeste,
Theros pensa:
- Bem que minha mãe disse que os antigos diziam que os
Guerreiros Predestinados seriam os Guerreiros da Esperança, pois
trariam esperança ao nosso povo já tão sofrido, gostaria de ser um
guerreiro para ajudar esta nova era, mas minha mãe me proíbe e meu
antigo mestre está em jornada, se eu fosse do Povo das Folhas, pediria
para ser Escudeiro de Hércules; se pelo menos meu pai ainda fosse vivo...

“Eu cai em um planeta chamado Terak e para ter uma chance de


voltar para o meu planeta, a Terra, preciso me tornar um Cavaleiro e
libertar algumas crianças que são prisioneiras nas Coli-nas de Hércule,
para ser aceito no treino, preciso de armas melhores e saí em busca
delas”.

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Dies Irae

Capítulo 3
O vento que batia em seu rosto – ainda que em sua
maioria detido pelo seu elmo – o ajudava relaxar e não se preocupar em
demasia com a grandiosidade do que estava por vir. Seus cabelos, que
quase chegavam à cintura, chicoteavam no ar. Seus olhos azul-violeta
estavam apertados contra o sol poente. Mais algumas horas, e tiveram
de acampar.
Eles seguiram nesse ritmo aparentemente incansável por dias.
Acordando com o sol, descansando sempre tarde, e galopando com
poucas paradas. Cada instante era precioso, pois a cada minuto em que
não chegam mais pessoas estariam morrendo sem que eles pudessem
fazer nada. Excluindo a exaustão, a viagem correu sem maiores
problemas. Após vários dias, eles já podiam ver o acampamento.

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Quando chegaram foram recebidos com certa animação. Foi
providenciado para eles um lugar apropriado para o descanso, enquanto
Firleu se dirigiu à cabana do general Roderick, para discutir a situação
estratégica, e quase teve uma discussão com ele:
- Mercenários? Irá pôr nossos reinos nas mãos de
MERCENÁRIOS? Cada um de meus homens deixou o conforto de
seu lar para lutar pela nossa liberdade. São homens leais! E agora irá
joga-los nas mãos de víboras que os traem por uma oferta maior? Isso é
ridículo!
- Se sua alteza me permite – o general se manteve impassível –
serão esses mercenários que manterão seus homens vivos. Sem o reforço
que eles irão oferecer, nenhum soldado terá a mínima chance. Toda
ajuda é necessária.
- Isso se não matarem os soldados antes por algumas moedas!
Tem idéia...
Sua fala foi interrompida por um alvoroço no lado externo.
Aparentemente o grupo de mercenários havia chegado de uma longa
missão como batedores para coletar informações sobre o exército
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Dies Irae
inimigo, e um amontoado de soldados que haviam chegado antes da
partida daqueles havia se formado às extremidades do acampamento.
- O que está havendo aqui? Eu ordeno que falem!
- Ora, Alteza... Veja que belezinha apareceu por aqui! Como
sabe, estamos a tempos longe do calor de uma mulher...
Ele afastou o soldado antes mesmo que concluísse a fala, e abriu
caminho até o centro, onde se podia ver uma bela jovem lançada ao chão.
Parte de suas roupas já estava rasgada devido à luxúria dos soldados,
contudo sua decência estava protegida, graças ao fato da maior parte
de suas roupas serem feitas de couro. A imagem que ela passava é que
ela definitivamente não era uma moça de família. Ainda assim, tomar
alguém à força era algo inaceitável para ele, e, como bom cavalheiro, e
intercedeu por ela:
- Que tipo de monstros são vocês? Tomando jovens à força?
Assim se igualam ao nosso inimigo. Ele não tem escrúpulos! Você têm!
Estamos lutando em nome de nossa liberdade e da moral cristã. E eu
proíbo EXPRESSAMENTE que a desrespeitem! Deixem à donzela
em paz. É uma ordem! – Ele estendeu a mão à moça, que ainda estava
jogada de bruços, os cabelos negros espalhados pelo chão – A senhorita
está bem?
- Já estive pior – Ela se levantou, sem tocar a mão dele, o que seria
considerado uma afronta. Ele se chocou ante a atitude impertinente.
Porém se chocou ainda mais ao olhar o seu rosto. Aquele contorno
perfeito, os lábios cheios e pálidos, e os olhos... O que aconteceu com o
brilho dos olhos dela? Eles estavam opacos. Ele teve a impressão de ter
visto um fulgor rápido naquele olhar, mas como veio, desapareceu. Ele a
reconheceu. Deus trouxe Melian de volta para a vida dele.
Ele ficou parado por alguns segundos, com sua mão ainda
estendida, em algo próximo ao estado de choque. Então, foi isso o
que aconteceu com ela? O que ele havia feito? A sua amada, a jovem
doce e delicada havia se tornado uma mercenária. E ele ainda a amava
perdidamente. Naquele instante, ele tomou a decisão definitiva de salvá-
la de si mesma e dos pecados que poderia haver cometido.
- Me perdoe por recusar a sua mão, Alteza. Não queria machucá-
lo. – Ela diz isso e mostra uma adaga escondida em cada mão, em seguida,
as esconde pelo corpo – Agradeço por me ajudar, mas eu ficaria bem. Já
estava pronta para acabar com a virilidade de quem ousasse tentar algo

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Dies Irae
contra mim.
- Hah! Melian! Não mudou nada desde a última vez que a vi!
– Quem disse isso foi o general Roderick – Essa jovem, Firleu, é um
verdadeiro achado. Bela e de aparência frágil o bastante para enganar
ao inimigo, mas habilidosa como jamais se verá igual. Por que não
demonstra suas habilidades ao príncipe, bela dama?
- Por favor, Roderick... Vimos-nos há poucas semanas, quando
me pôs na liderança desse grupo. E eu não sou artista de rua para
demonstrar minhas habilidades sem necessidade. – Ela suspira e, com
um movimento tão ágil que quase foi imperceptível, pegou uma adaga
oculta, e encostou rente à garganta de um dos soldados que estava
próximo. – Satisfeito, General? Agora, precisamos nos reunir. Tenho
novidades a contar.
Foram à cabana: o General Roderick, Firleu e Melian, que
insistia em não olhar para Firleu.
- Então, as tropas inimigas estão concentradas mais aqui, aqui
e aqui, certo, Melian? – Roderick punha algumas peças de madeira em
um grande mapa, enquanto dizia, para representar as posições mais
graficamente. Como Melian confirmou, ele continuou. – E nosso
acampamento está localizado aqui – e punha outra peça – Enquanto temos
aliados aqui e aqui. Essa tropa inimiga está mais próxima e avançando.
Devemos parar esse avanço. Se começarmos a nos movimentar ao nascer
do sol, os encontraremos ao final do dia de amanhã bem aqui. E então os
combateremos...
- E seremos massacrados – Melian o interrompeu – Acredite,
eles estão em maior número. Todavia, podemos designar um pequeno
grupo para servir de “isca” e os atrair nessa direção. O mapa não mostra
direito, mas logo aqui há uma enorme fenda. Se posicionarmos alguns
arqueiros aqui, e esconder parte dos nossos exércitos aqui, podemos os
atrair para dentro do desfiladeiro.
- Creio que estou entendendo sua linha de pensamento – Firleu
continuou. – Se eles forem espertos, irão dar a volta e nos encurralar, e
então nossa tropa os encurralará. É isso?
- Exatamente – Ela não pôde segurar um sorriso de deleite. –
Nossos arqueiros ficarão dando cobertura, e poderão abrir caminho.
Então general... Ainda assim haverá um massacre. Mas os massacrados
não seremos nós!

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Dies Irae
- Você não deixa de me surpreender, donzela. É a tática perfeita.
Então, é a hora de prepararmos tudo!
- Apenas mais uma coisa, General. Durante a missão,
conseguimos entreouvir a conversa de alguns soldados. Nosso Inimigo
não é um feiticeiro, e sim um mago. Apenas com essa frase, a principal
fraqueza dele já está clara. Como bem sabem, os feiticeiros têm a magia
no sangue, enquanto os magos a estudam, e dependem de um grimório.
– Ela pausa por um instante, hesitante em prosseguir. Até o momento
em que toma coragem e completa – Peço permissão para montar uma
equipe e tentar rouba-lo.
- Essa é uma missão suicida, donzela. Permissão negada. Sua
equipe será naturalmente capturada e ele saberá do nosso conhecimento
sobre essa fraqueza. Conversaremos melhor após o nosso assalto às
tropas inimigas.
Roderick se retirou da cabana assim que terminou de dizer essas
palavras. Melian fez menção de sair da cabana em seguida, mas Firleu a
deteve:
- Porque agir como se nunca tivesse me visto? Senti tanto a sua
falta que rendo graças a Deus por poder ver novamente seu rosto. Se
você soubesse de um terço da falta que senti... Então, eu imploro! Não
me trate com essa indiferença! Não me odeie! O que fiz com você foi
cruel, mas era a única forma de salvá-la! Eu a amo, e não queria vê-la
morta! E eu juro que eu não falei nada, eles descobriram sozinhos! Não
foi minha culpa o que fizeram com sua mãe. Eles... Eles descobriram
o que sua mãe fez e... Iam fazer o mesmo com você! Eu não poderia
permitir. Procure entender-me!
- Eu já soube. Acha mesmo que não teria tentado descobrir o
motivo? Deus sabe o quanto quis te odiar por isso! Por ter me expulsado,
por ter mentido pra mim, por ter escondido o destino de minha mãe! O
quanto quis te culpar pela morte dela... Confesso quase ter conseguido.
Mas é impossível... Meu amor por você me impediu, e seguiu me
acompanhando por todos esses anos...
- Melian... – Ele tocou seu rosto, e se aproximou. Ela era tão
linda! Queria finalmente poder beijá-la, mas ela se afastou.
- Vamos. Temos um assalto para organizar. – E se retirou da
cabana.
Ele suspirou, se recompôs e saiu. Após dar algumas ordens para

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Dies Irae
preparar e separar os grupos, pôde finalmente descansar. Ele entrou em
sua cabana para desembrulhar o pacote que havia ganhado do pai. Ao
abrir, ele sorriu. Era a espada que pertenceu a ele. Apenas ele era capaz
de compreender o quanto isso significava. Ele trocou de espadas e saiu
para poder comer algo.

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contos e crônicas

Cinza, Preto e Branco


A neblina caia densa sobre as casas e ruas daquele bairro
do ABC paulista. A noite começava a chegar, no entanto a Lua não
podia ser vista por ninguém daquela região. As luzes da rua acendiam
vagarosamente, preenchendo o acinzentado da nevoa com sua coloração
amarela.
Naquele mesmo bairro havia uma casa abandonada. Sua construção
havia parado há anos deixando-a em estado semi-pronto, não havia nada
além das paredes, mato e entulho no grande terreno da propriedade, e
como não poderia deixar de ser, aquela era a casa mal-assombrada do
bairro.
- Verdade ou desafio? – Perguntou Renato.
- Humm... desafio! Respondeu Fabio.
Renato era um garoto que fora criado dentro de casa, sua mãe não o
deixava sair muito na rua e por isso o pobre garoto ficava assistindo os
outros jogando futebol pela janela, sem nada poder fazer. Tal situação fez
crescer em Renato sentimentos ruins, tais como a inveja, a arrogância,
enfim, tornaram-no um ser amargo.
Fabio por sua vez fora criado na rua, junto com os demais garotos do
bairro. Empinava pipa, jogava peão e batia uma bolinha com a galera.
Sempre gostou de farra, e jamais pedia verdade na brincadeira do “verdade
ou desafio”. Naquele dia, porém, deveria ter respondido verdade.
- Desafio você a ir sozinho até o interior da casa abandonada e
nos trazer um daqueles tijolos da laje.
- Ah! Isso é bico, Renato! – respondeu Fabio.
- Renato! Hoje é dia trinta e um. É o dia em que a construção foi
embargada por causa do assassi... por causa da morte do dono da casa.
– disse Leandro, irmão mais novo de Fabio – Mano, não vá até lá! Você
sabe o que dizem sobre a casa!
- Deixa disso, Leandro. Quantas vezes nós já não fomos até a
casa abandonada? Nunca vimos nada lá! – respondeu Fabio.
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contos e crônicas
- Anda logo seu “maricas”! Foi você que pediu desafio! – atiçou
Renato.
- Só me dêem alguns minutos e já estou de volta! – retrucou
Fabio.
-Tome cuidado Fabinho! – disse Camila, que parecia nada
contente com o desafio.
- Tomarei, Camila, tomarei.
Fabio atravessou a rua e pulou o muro do terreno baldio que fazia
fundo com o terreno da casa abandonada. Caiu do outro lado do muro,
deformando a mata que já alcançara a altura de sua canela.
Os entulhos da construção do novo vizinho se amontoavam em um dos
cantos do terreno, pedras, latas e areia. Cacos de vidro brilhavam do
outro lado do terreno enquanto algo se mexia por entre o mato alto do
fim do terreno, após o pequeno morro de terra do desnivelado terreno, e
antes do muro que o separava da casa abandonada.
Ele seguiu com cuidado pelo terreno, evitando pedaços de madeira e
possíveis pregos enferrujados que pudessem feri-lo no caminho, mas
não demorou nada e ele já havia subido no muro dos fundos. Olhou
de volta para o terreno baldio e para a rua, quase não podia enxergar
a casa de Renato. A luz do poste que ficava em frente à casa piscava
incessantemente piorando a já difícil visualização na neblina.
Ele seguiu caminhando por entre o mato e chegou sem dificuldades
ao que seria a porta dos fundos da casa. O mato e o entulho cobriam
o chão do local. As paredes de tijolos alaranjados estavam pixadas e a
falta de luminosidade no interior da casa completavam o sentimento de
abandono.
Fabio estava no que seria a cozinha da casa, dali ele podia ver o grande
cômodo que seria a sala, um menor onde provavelmente ficaria o
banheiro e o vão onde a escada para o primeiro andar seria construída,
ali as paredes haviam sido quebradas de tal forma a criar uma escada na
parede, possibilitando assim o acesso ao andar superior da casa.
Deu um passo em direção a “escada” e viu sumir a sua tão querida rua logo
atrás da parede dos fundos da casa. Nesse instante o medo preencheu
seu peito e Fabio quase deu meia volta e saiu em disparada pelo terreno
baldio de volta para a casa de seu amigo. No entanto respirou fundo e
deu mais um passo em direção a escada.
31
contos e crônicas
As sombras se alongaram e tomaram formas horripilantes, como
tentáculos negros que iam em sua direção. Fabio via vultos se movendo
em grande velocidade pelo corredor, escondendo-se após as paredes.
Quando olhava pra frente via pelo canto dos olhos as sombras avançando
pelas suas costas, virava-se só pra sentir seus avanços pelo outro lado.
Virou-se uma última vez para os fundos da casa e seus olhos encontraram
os de um gato preto que estava a fita-lo. O gato encarou-o com seus
olhos cor de mel e saiu em disparada ao ouvir o som de uma moto em
frente à casa abandonada, o que acabou por tirar o próprio Fabio do
transe em que havia entrado.
O garoto virou-se para o corredor de paredes cobertas com um belo
papel de parede branco salpicado de flores cor de rosa. O chão de madeira
estalava um pouco sob seus pés, mas não chegava a incomodar. Dali ele
podia ver a sala bem decorada, uma grande estante de madeira escura em
um canto, sofás para mais de três pessoas e uma lareira acompanhavam
o grande vitrô da sala.
A escada de degraus largos foi vencida vagarosamente pelo garoto que
parecia deslumbrado com o acabamento e com os objetos de decoração
da casa. Chegando ao primeiro andar, Fabio sentiu uma brisa agradável
bater em seu rosto, ele então decidiu continuar sua subida para o andar
superior, sem se deter no primeiro andar.
Chegou então no terraço, e de lá ele podia ver a Lua, em sua forma mais
completa, grande e redonda. Naquela noite agradável a mãe da noite
apresentava-se em um vestido amarelo que a embelezava ainda mais.
Apaixonado por aquela visão, Fabio seguiu até o parapeito do terraço e
esticando sua mão quase pode tocá-la.
Um forte tranco fez a Lua amarelada se dissipar em sua frente e o chão
apareceu em seu lugar. Fabio estava pendurado pela cintura, balançando
perigosamente em direção ao chão e a pilha de pedregulhos e barras de
ferro que lá estavam. Ele então gritou, mas nenhum som saiu por sua
boca.
Com outro tranco, Fabio foi jogado para cima da laje mal acabada da
casa abandonada e então ele pode ver o que o havia impedido de cair.
Na berada da laje estava um homem, usava calça jeans, camiseta branca
e uma jaqueta negra. O cabelo escuro estava penteado para trás, a barba
estava por fazer e seus olhos o encaravam friamente.

32
contos e crônicas
- “Ta” maluco garoto?
- Eu... eu... eu...
- Desça já daqui e volte para sua casa, antes que eu mesmo te
jogue daqui de cima! – ordenou o homem.
- Sim, sim senhor!
Fabio teve certa dificuldade para ficar de pé, suas pernas ainda tremiam
devido ao susto que tomara poucos segundos atrás. Engatinhou então
até a berada do vão onde deveria haver uma escada, caso a construção
da casa estivesse completa. Olhou para os buracos na parede de tijolos e
teve uma rápida lembrança da escalada para subir, buraco por buraco, e
não degrau por degrau.
Virou o corpo ainda assustado com seu próprio lapso mental e deu uma
última olhada para o homem que salvara sua vida, agradeceu-o com o
olhar e desceu alguns “degraus”. No limiar entre fim da parede e a laje,
Fabio viu o gato preto pulando do vazio para o último andar da casa
abandonada.
A nevoa ficou mais densa e parecia sufocar ali no terraço da casa. Fabio
sentiu o medo preencher seu peito novamente e retomou sua decida
em direção ao térreo. As sombras da casa pareciam avançar sobre
ele novamente e fortes pancadas na laje faziam com que partículas
desprendessem-se do teto do primeiro andar da casa.
Tomado pelo sentimento do medo e pela sensação de urgência ele pulou
os dois metros restantes, indo de encontro à outra parede do vão da
escada, saiu em dispara pelo corredor atravessando a cozinha sem se
preocupar em desviar dos cacos e pedaços de tijolo que estavam jogados
no chão, quebrando-os.
Ganhou o quintal dos fundos e continuou sua corrida em direção ao
terreno baldio que dava acesso a sua rua. Fabio pulou. O desnível entre
um terreno e outro era de quase dois metros, mas o medo era ainda
maior e ele não pensou duas vezes.
Em meio ao salto, uma forte luz alcançou-o, jogando-o para baixo. Ele
caiu rolando no terreno baldio. Levantou-se na mata e olhou de volta
para a casa abandonada. A luz que havia surgido já se extinguira e as
sombras voltavam ao normal.
Olhou para a sua rua e viu nitidamente a casa de seu vizinho. A luz do

33
contos e crônicas
poste parara de piscar. A nevoa se fora e levou junto aquele medo que
a pouco preenchera seu peito. A Lua minguante reinava novamente no
céu enquanto um rugido de moto fez-se ouvir naquela noite silenciosa.

34
contos e crônicas

A Coloração Avermelhada
Observando, em uma bela noite, a cor roxa do céu e a escuridão
do horizonte, uma moça corria em direção ao distante, não sabia para
onde ir, só que, ainda assim, corria... Lágrimas escorriam de seus olhos,
não queria aceitar o que havia acontecido, mas não tinha o que se fazer
a respeito.
Uma das lágrimas respingou em sua mão, onde uma jóia está
presente... Esta jóia possuía uma coloração roxa, mas quando a luz batia
diretamente à ela, a cor se transformava em um vermelho tão vivo que
muitos se encantavam...
A pedra tinha muita idade, já passou por tantas memórias que nem
consegue recordar de todas.
Ela parecia espalhar a sabedoria a quem a tocasse... Porém, é claro que,
isso era apenas um truque da cabeça humana, pois a sabedoria só se
adquire com o tempo, não há nada que faça isso mudar.
A moça continuava correndo, lembrando de quando ela adquiriu a
pedra... Ela não precisou roubá-la de alguém, mas se sentia uma ladra,
não precisou matar alguém, mas ela se sentia como se o havia feito...
Mais lágrimas saíam de seus olhos dourados, estas escorriam pela sua
pele morena e, logo após, caíam no chão...
Uma feixe de luz se acendeu, logo a pedra avermelhou. Esta
luminosidade incendiava a escuridão, foi então que a ladra se sentiu
capturada e a moça se sentiu libertada.
O feixe foi crescendo e deixou o horizonte com uma cor alaranjada e
o céu inteiro clareou-se, mas a cor roxa no alto permaneceu... Após um
tempo, ela pára de correr, se acomoda perto de uma árvore, com o rosto
marcado pelas lágrimas, e decide fazer o que é certo, ao se despertar...
Quando o fez, ela percebeu que algo estava faltando... Talvez uma
sombra, talvez uma luz... Só sabia que ela se sentia diferente... Agarrou
firme a pedra em sua mão e foi fazer o que ela considerava correto, sem
mais chorar.

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contos e crônicas
Ela voltou todo o seu caminho que havia percorrido, e chegou ao
seu ponto que havia começado a correr... As cores avermelhadas da terra
ensanguentada haviam permanecido no local...
A moça largou a pedra no chão, ela se lamentava pelo que acontecia...
Ambas lamentavam...
Mas logo a ladra falou:
-Não há mais o que se fazer aqui.
E logo se afastou...

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Dias de Cão
O saloon estava vazio àquela hora da tarde. O sol quente
do oeste trincava o chão do lado de fora do estabelecimento, mas não
conseguia clareá-lo muito. Não havia vento naquele momento, o que
fazia com que o ar de dentro do saloon ficasse estagnado. Ali, sentado
em um banco próximo ao balcão estava um homem. Sobretudo e botas
marrom, acompanhado de uma calça jeans batida. Cabelos castanhos
bagunçados e barba por fazer completavam a cara fechada e de expressão
abatida do homem que olhava fixamente com seus olhos castanhos para
seu copo vazio sobre a mesa, ao lado de seu chapéu. Bateu o copo contra
o balcão quase no mesmo instante em que gritavam do lado de fora por
seu nome.
- Evans! Seu desgraçado, saia agora dessa espelunca!
- Mais uma dose de Scott. – pediu Evans calmamente dentro do
saloon.
Enquanto a jovem garçonete completava a dose de Scott, Evans olhava
para a porta do saloon, mas a claridade impedia que ele visse a face do
homem que o aguardava do lado de fora. A mão esquerda avançou sobre
o chapéu que estava no balcão, enquanto a mão direita foi ao encontro
do copo de Scott. Durante o curto percurso entre o balcão e sua boca,
Evans relembrava os acontecimentos das últimas horas. E sua mente
viajou para 48 horas antes, em outra cidade.

***

- Eu cubro seus 20 e aposto mais 100 dólares. – disse Evans,


colocando no pote uma quantidade de fichas respectivas ao valor
declarado.
- Eu pago pra ver. – respondeu Morg, passando sua mão em
seu cabelo preto, deixando a amostra uma pequena entrada na têmpora
direita, e em seguida pagou.

37
O Dealer virou a última carta das cinco na mesa, o River. Um Ás de
Copas. O conjunto de cartas que estava na mesa era um Ás de Paus,
uma Dama de Copas, uma Dama de Espadas, um Rei de Ouros e o Ás
de Copas. Morg quase explodiu em uma gargalhada, mas conseguiu se
controlar deixando transparecer apenas um leve sorriso de canto.
- All in. – soletrou Morg, empurrando todas suas fichas para o
pote.
- Ok. Eu pago.
- Showdown senhores. – pediu o Dealer.
Os participantes que haviam sido vencidos estavam todos em volta da
mesa, assim como os demais espectadores. Todos aguardavam ansiosos
para ver qual eram as cartas que cada um dos jogadores possuía, afinal
aquela era a final do campeonato de poker de Dallas. Já não escondendo
mais seus grandes dentes, que só não eram encobertos pelo bigode
exatamente por serem grandes, Morg colocou sobre a mesa suas duas
cartas, um Rei de Copas e uma Dama de Ouros. Os espectadores
exclamaram admirados com a boa mão de Morg.
- Full House! Pode vencer essa mão Evans? – questionou Morg.
Evans não respondeu de imediato, levantou apenas a berada de suas
cartas e as olhou novamente. Fosse o que fosse agora não havia volta.
Ele então levantou seus olhos de suas cartas viradas e olhou para as duas
cartas de Morg, e em seguida olhou diretamente para ele. Retribuindo o
grande sorriso do adversário, Evans jogou suas duas cartas sobre o pote,
com suas letras a amostra. A exclamação foi geral, ninguém acreditava
no jogo que Evans havia mostrado.
- Poker! Ás de Copas, Ás de Paus, Ás de Ouros e Ás de Espadas.
A vitória vai para Evans! Evans é o novo campeão de Dallas! – anunciou
o Dealer.
Evans se levantou e estendeu a mão para cumprimentar Morg, mas esse
não retribuiu o cumprimento, ficou olhando incrédulo para os dois Ases
de Evans. Ele então recolheu a mão e começou a juntar as fichas. Não
demorou nem um minuto para colocar todas as fichas no chapéu e ir
trocar logo por seu prêmio. Em menos de três minutos Evans havia
retirado seu dinheiro do cofre do saloon, batido uma foto para o jornal
de Dallas, pagado uma rodada de bebidas e já estava de saída.
No instante em que as portas do saloon se fechavam as costas de Evans,
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Morg se mexeu pela primeira vez, se mexeu por pura curiosidade, para
ver qual seria a próxima carta do baralho. E no meio do tumulto gerado
pelos espectadores e suas bebidas grátis os olhos de Morg pegavam fogo
e seu corpo era consumido pelo ódio. Levantou-se de um salto, fazendo
com que a cadeira em que estava sentado fosse ao chão. Procurou por
Evans dentro do saloon, mas ele não estava mais lá.
Saiu em disparada trombando com todos aqueles que estavam entre ele
e a porta do estabelecimento, sem deixar cair à carta que havia puxado do
baralho e que estava em sua mão esquerda, nem o revolver que estava em
sua mão direita. Atravessou a porta do saloon e viu, já se distanciando a
toda velocidade sobre seu cavalo malhado, Evans e o dinheiro que ele
acabara de roubar. Morg olhou novamente para o Ás de Espadas em sua
mão.

***

-Evans! Saia daí agora seu cão sarnento! Você me roubou! –


gritava Morg do lado de fora do saloon.
Evans retirou o chapéu de sobre a mesa e ajustou-o sobre sua cabeça,
puxando sua aba um pouco para baixo na parte da frente. Tomou mais
gole de seu Scott e olhou para a garçonete e para o senhor que estava
sentado atrás do balcão, e então sua mente, ou o Scott, o levou para outra
memória, algumas horas depois de ele ter ganhado o campeonato de
poker de Dallas.

***

Eram seis da manhã e Evans havia chegado à cidade vizinha de onde


havia ganhado o campeonato de poker. E não se demorou a procurar
uma estalagem. Dormiu algumas poucas horas, já que não havia dormido
a noite toda, provavelmente por medo de dormir em qualquer lugar com
o dinheiro do torneio. Acordou antes do meio-dia e foi para o banco da
cidade, mas antes mesmo de entrar no banco Evans sabia que todo o
trabalho que tivera na noite passada acabara de ir para a latrina.
Seis homens saíram das laterais do banco. Eles vinham direto em

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direção a porta de entrada do banco, e ao dinheiro de Evans. Já era
tarde, não havia nem sequer como sacar o revolver que estava na cintura,
pelo menos não sem ter que acertar seis tiros em cheio e derrubar os seis
ladrões. Não que ele não fosse um bom pistoleiro, mas para sacar a arma
e matar seis pessoas que já estavam com armas na mão ele precisaria
mais do que pontaria para sair ileso.
- Já pra dentro cowboy! – ordenou um dos ladrões.
Dentro do banco havia apenas três pessoas alem de Evans. Dois deles
eram funcionários do banco. Assim que chegaram ao meio do saguão
um dos quatro ladrões pegou a bolsa com o dinheiro do torneio das
mãos de Evans enquanto o outro anunciou:
- Mãos ao alto isso é um assalto!
O outro homem que estava no banco sacou um revolver enquanto
virava-se na direção do grupo que adentrara o banco. Ele era o xerife.
Disparou um tiro certeiro contra um dos ladrões e já mirava em Evans o
próximo tiro. Ele iniciou uma corrida em direção a janela mais próxima
e se jogou por ela, não sendo atingido por pouco pelo tiro que o xerife
disparou.
Sua queda foi barulhenta e molhada do lado de fora do banco. Evans
caiu no cocho cheio de água que estava ao lado do banco, se molhando
dos pés a cabeça. Após conseguir desvirar o cocho e retirar o pedaço de
vidro da janela de seu braço esquerdo, Evans sacou seu revolver e mirou
pela janela em um dos ladrões. Mas como toda boa pólvora molhada as
balas de Evans se recusavam a sair pelo cano.
Ele então se recolheu rapidamente para alem da mira dos ladrões e vagou
por de trás das casas da cidade, até que encontrou uma janela aberta e
pulou para dentro do quarto a procura de roupas secas e de algo para
estancar o sangue. Contando com uma incrível sorte no armário havia
roupas que lhe serviriam como luvas. E então ele começou a se despir.
Assim que retirou sua calça a porta do quarto se abriu, Evans avançou
sobre a porta a fim de silenciar a pessoa que acabava de entrar no quarto,
mas para sua surpresa era uma jovem e linda moça de cabelos dourados
que entrava no quarto. E nesse instante de hesitação a jovem moça
gritou, delatando sua posição, e sua situação embaraçosa. Menos de
cinco segundos foi o tempo que o pai, ou marido da moça demorou a
entrar no quarto, com arma em punho.
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Evans se atirou contra o homem que entrou no quarto e conseguiu jogar
a arma que ele empunhava longe, mas não antes que ela fizesse um
disparo, que fizera com que a jovem caísse desmaiada na cama, não pelo
tiro, mas pelo susto. O homem da casa lutou bravamente, mas acabou
caindo perante o habilidoso Evans, treinado nos saloons de todo o oeste
dos Estados Unidos.
Assim ele terminou de estancar o sangue que escorria pelo braço e se
vestiu com a roupa que havia separado do guarda roupas do homem que
estava caído no chão do quarto. Pegou também a arma do sujeito e acabou
encontrando um pouco mais de munição dentro do armário. Pulou
novamente a janela e correu até a estalagem onde estava hospedado.
Subiu correndo as escadas e adentrou o quarto. Pegou os poucos pertences
que haviam deixado no quarto antes de ir ao banco e saiu do quarto.
Assim que saiu do quarto ouviu uma voz familiar conversando com o
dono da estalagem. Era Morg. Ele então deu meia volta e começou a
procurar por outra saída. Vendo que não havia outra escada foi até o
fim do corredor e abriu a janela. A descida não seria nada fácil, nem
agradável, mas era uma saída melhor do que a do banco.
Correu até o estábulo e montou seu cavalo malhado, saindo em
disparada, no encalço dos ladrões que lhe haviam roubado seu prêmio
pelo campeonato de poker de Dallas.

***

- Ei guria, mais uma dose de Scott. – ordenou Evans a garçonete.


Evans sacou do bolso do colete marrom um relógio de bolso de ouro,
apertou um botão e a tampa saltou deixando os ponteiros a mostra,
marcando quase quatro horas da tarde. Um leve sorriso brotou nos
lábios do jogador e olhar para o relógio o fez voltar na noite anterior.

***

Havia percorrido grande área no encalço dos ladrões, mas o sol a muito
havia se posto e ele estava cansado da viagem que havia feito na noite
anterior. Decidiu, mesmo não gostando muito da idéia, parar e acampar

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naquela noite, próximo as montanhas, para fugir do descampado e
ganhar uma melhor cobertura durante a noite. Não demorou quase nada
a adormecer.
Do mais belo barco do Mississipi e do show das dançarinas de Kankan,
Evans era chamado por um barulho diferente a voltar à consciência.
Era barulho mato sendo amassado, havia alguém no acampamento
improvisado. Evans abriu os olhos e viu uma sombra alem da fogueira
já apagada que havia acendido no inicio da noite. Levantou-se sacando
a arma, mas não houve tempo para disparar. Uma machadinha voou
e acertou a arma, jogando-a no chão. A figura saiu da mata com a
velocidade de um puma e se chocou contra ele. Os dois rolaram pelo
chão e levantaram no mesmo instante.
Agora sem a proteção da mata Evans pode ver quem era seu agressor.
Ele era um homem de estatura mediana, tronco descoberto e de pele
queimada pelo sol, usava somente uma calça feita com pele de animais
e uma pintura vermelha na face. O cabelo negro era cortado em forma
de moicano, terminando em uma trança que caia pelo peito indo até o
abdômen. Na mão um punhal apontado para Evans.
A meio caminho dos dois estava o revólver, mas ele sabia que o selvagem
não o deixaria chegar até ele, então sacou de sua bota uma faca longa.
Ambos estavam em posição de ataque, pernas abertas e tronco meio
abaixado. Andavam de lado estudando a melhor forma de atacar. A
cada passo dado por Evans ele fechava um pouco mais o circulo, se
aproximando mais do revolver. Foi quando então ele atirou a faca longa
contra o índio, que teve que se desviar do arremesso que seria fatal.
Logo que atirou a faca, Evans se jogou na direção do revólver,
agarrando-o e terminando sua manobra já bem próximo ao selvagem.
O som do disparo pode ser ouvido a quilômetros de distância naquela
noite silenciosa. O corpo do índio caiu levantando poeira enquanto
ainda podia-se ouvir o eco. Um corvo crocitou ao longe despertado de
seu sono pelo barulho da explosão.
Evans se aproximou do corpo a procura de algo que pudesse ter algum
valor, e encontrou em um dos bolsos do selvagem um belo relógio de
bolso de ouro. Olhou em volta e não encontrou seu cavalo, provavelmente
o índio havia soltado-o.

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***

Evans fechou a tampa do relógio que fora do índio e guardou-o de volta


no bolso. Levantou e tomou de um único gole a última dose de Scott
que a garçonete havia posto em seu copo e o bateu contra a mesa, em
seguida alinhou mais uma vez seu chapéu. Puxou sua algibeira e contou
as moedas necessárias para pagar pelas doses de Scott, e as colocou ao
lado do copo.
- Fique com o troco. Vou resolver uns problemas ali fora com
aquele gusano, por favor, coloque mais uma dose de Scott pra mim. –
disse enquanto dirigia-se para a porta do saloon.
O jogador chegava a passos ritmados a porta do saloon, o limiar entre
a calmaria do estabelecimento e a tempestade que o aguardava após
ela. Parou se apoiando na porta, no meio da avenida estava ele, Morg,
vestido com a mesma roupa que estivera jogando poker há dois dias,
claro que naquele dia ela estava muito mais limpa. O preto de sua roupa
era quase marrom.
Evans atravessou a porta do saloon e desceu as escadas de acesso ao
estabelecimento, chegando, assim, ao mesmo nível de seu perseguidor.
Ele então deu mais alguns passos para frente, ambos estavam com as
mãos ligeiramente afastadas do corpo. O coldre com as armas de Morg
estavam à amostra e suas mãos quase tocavam a coronha do revólver.
Evans puxou seu sobretudo para trás, revelando seu revólver, sua mão
retornou e ficou tão próxima de sua arma quando as mãos de Morg.
Nesse momento um forte vento adentrou a cidade, levantando o pó da
rua em pequenas espirais, e uma bola de feno cruzou a avenida, em meio
aos dois homens.
- Seu maldito salafrário! Você me roubou seu porco imundo! –
praguejava.
- Seja um bom perdedor Morg, e todos ficaremos bem, você terá
outras oportunidades de ganhar de mim no poker. – ponderou Evans.
- Oras seu ladrão! Eu ganhei de você, seu desgraçado! Você tirou
aquele Ás de Espadas da manga, ele era a próxima carta do baralho!
Devolva-me o dinheiro e eu pensarei se te deixo vivo! – gritava o
pistoleiro trajado de negro.
- Não há dinheiro para te devolver Morg. Uma que eu fui o
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vencedor do campeonato, e outra que o dinheiro não esta mais comigo.
- Como assim não esta mais com o dinheiro? Onde esta o meu
prêmio?
- O dinheiro foi roubado. Eu estou no encalço dos ladrões agora.
- Maldito Evans! Você deixou que roubassem o meu dinheiro!
Pois então agora você irá morrer!
Os dois pistoleiros sacaram suas armas quase que ao mesmo tempo,
Evans puxou seu revólver com a mão direita e com a esquerda puxou
o cão da arma liberando-o contra a cápsula. Um único disparo. Morg
caiu, já não mais segurando as duas armas. Em torno de sua cabeça uma
imensa poça de sangue não demorou a se formar.
Com um rápido giro do revólver em torno do indicador, Evans guardou
o 45 no coldre e deu meia volta, caminhando calmamente em direção ao
saloon. Entrou no estabelecimento sem nem olhar para trás e se dirigiu
imediatamente para o balcão onde o copo de Scott o aguardava. Virou-o
de uma única vez novamente, dessa vez com uma pequena careta ao
terminar.
- Mark, venha até aqui fora me ajudar com o outro corpo.
- Vamos jogá-lo aonde? – perguntou o senhor enquanto levantava
de sua cadeira atrás do balcão.
- Vamos jogá-lo junto com os corpos daqueles ladrões miseráveis
nos fundos do saloon.

***

Evans atravessou a porta do saloon com sua arma em punho. Lá dentro


estavam cinco dos seis ladrões que o haviam roubado na entrada do
banco a mais ou menos um dia. Os cinco o reconheceram no mesmo
instante e trocaram olhares receosos. Mark puxou de trás do balcão um
rifle e apontou para a mesa onde estavam os cinco ladrões.
- Onde está meu dinheiro? – perguntou Evans.
- Você quer seu dinheiro? Coma ele então! –gritou um dos
ladrões sacando seu revólver.
Antes mesmo que o ladrão pudesse mirar, Mark disparou o rifle, tingindo

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o chão do saloon de vermelho. Os outros quatro levantaram sacando
suas armas e assim como o primeiro foram abatidos antes mesmo de
completarem suas ações. Três deles caíram com tiros de 45 e o outro
com um de rifle.
- Como está Mark? – perguntou Evans enquanto se aproximava
de sua bolsa com o dinheiro do campeonato de poker de Dallas.
- Eu estou bem, e você Evans?– retrucou Mark, contornando o
balcão e estendendo a mão para cumprimentar seu amigo.
- Eu estou ótimo. Sirva-me um Scott, por favor?
- É pra já! Alicia! – chamou Mark a garçonete do saloon para
servir seu amigo Evans.

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