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de-todos-os-alunos-ao-promover-igualdade-de-genero

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 321, 01 de Abril | 2019

Igualdade de gênero

Garanta o direito de todos


os alunos ao promover
igualdade de gênero
Não faz diferença se menina veste azul e menino, rosa. Mas por
que ainda é tão difícil romper os estereótipos de gênero e
educar igualmente nossas alunas e nossos alunos?
Beatriz Vichessi

OPOSTOS: Yasmin e Yang têm a mesma idade, mas sentem o peso do


gênero de forma diferente no dia a dia

“Minha vida é mais fácil porque sou menino. Ando sem medo de alguém me olhar
de modo ameaçador. As pessoas em geral não me subestimam”, diz Yang Nakazawa,
14 anos, aluno do 9º ano da Emef Desembargador Amorim Lima, em São Paulo. Sua
amiga Yasmin da Costa também tem 14 anos e está na mesma turma, mas sente o
oposto: “É mais difícil ser menina. Somos consideradas mais fracas, incompetentes,
incompletas”. Por que Yang e Yasmin têm pontos de vista distintos, mesmo em
contextos tão parecidos? Por que tratamos meninos e meninas de jeitos diferentes?
E o que tudo isso significa para a escola?

A questão, muito mais complexa e matizada do que polarizações sobre quais cores
de roupa são adequadas para meninos ou meninas, não é nada fácil, mas não pode
mais ser ignorada no contexto escolar. Ao longo desta reportagem, você encontrará
reflexões, informações e dicas práticas de como trabalhar o assunto com os alunos.

Em 2017, a pesquisa Percepções sobre Educação Sexual, realizada pelo Ibope sob
encomenda da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, mostrou que 67% dos
entrevistados concordavam plenamente com a escola falar sobre igualdade entre
homens e mulheres. “As questões de gênero já estão na escola. Evitar o tema
reforça a estrutura hierárquica da sociedade e propaga estereótipos”, afirma
Vanessa Leite, pesquisadora associada do Centro Latino-Americano de Sexualidade
e Direitos Humanos (Clam) e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (Uerj). Para ela, falar da igualdade de gênero implica dar às
meninas e aos meninos o mesmo espaço e direitos na sociedade.

Segundo Denise Carreira, coordenadora institucional da Ação Educativa e defensora


de Educação de Meninas e Mulheres do Fundo Malala, o gênero é uma categoria que
nasceu nos anos 1950 para questionar a naturalização de desigualdades ancorada
no discurso biológico de que as mulheres eram mais propensas a determinadas
atividades, como cuidar da casa e dos filhos. “Colocar em xeque a desigualdade de
gênero hoje significa favorecer a transformação de relações de poder em trocas e
convívio mais democráticos e dignos entre as pessoas”, explica. Longe de ser um
assunto teórico, a diferença de tratamento entre homens e mulheres traz
consequências práticas para a sociedade, que vão desde uma mulher receber
menos do que um homem pela mesma função, passando pelas expectativas de
aprendizagem diferentes para meninos e meninas na escola até o feminicídio. Em
2015, a então diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka,
alertou que a violência contra as mulheres, endêmica no Brasil, é a pior
manifestação da desigualdade de gênero.
MENOS MACHISMO: Com o projeto sobre gênero, Douglas aprendeu a
respeitar mais as mulheres

“Não existe nenhum fator biológico que justifique discriminar, reduzir, segregar e
punir uma mulher por ser mulher e um homem por ser homem”, diz Paula Ribeiro,
coordenadora do Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola da Universidade Federal
do Rio Grande (UFRG). É também preciso considerar que os papéis sociais também
mudam ao longo do tempo. No início do século 20, por exemplo, as mulheres não
podiam votar, muitas eram proibidas de estudar e ficavam restritas ao trabalho
doméstico. Hoje, no século 21, o quadro é bem diferente, mas ainda persistem
grandes desafios. É importante lembrar que a desigualdade de gênero e os
estereótipos associados ao que é ser homem ou mulher afetam meninas, mas
também os meninos, reforça Viviana Santiago, gerente de gênero e incidência
política da Plan International no Brasil, explicando que o trabalho infantil, por
exemplo, incide principalmente sobre o gênero masculino. Além disso, se por um
lado as meninas são socializadas para o cuidado e reprimidas em alguns contextos,
a expressão de sentimentos como a tristeza é frequentemente tolhida nos meninos.
Em 2013, a jornalista Sílvia de Araújo tratou do tema de maneira acessível no
manifesto “Pelos Direitos dos Meninos”: “Que ele possa aprender a dançar
livremente, sem que lhe digam que isso é coisa de menina. Que ele possa chorar
quando se sentir emocionado, e que não lhe digam que isso é coisa de menina”.

A vida em sala de aula

METE A COLHER: Violência doméstica inspirou a intervenção de Mari na


peça Mulheres

Mas, como abordar essa desigualdade na sala de aula? Em 2018, antes de anunciar
para a turma que as aulas de Língua Portuguesa seriam focadas em textos com
personagens mulheres, Aline Pinheiro deixou claro que a desigualdade existe em
vários aspectos. “Num primeiro momento, um aluno ficou com a sensação de que
eu estava tratando os homens como menos importantes. Na verdade, são elas que,
por serem desimportantes, precisam ser colocadas em evidência”, explica a
professora do 8º e do 9º anos do CED 8, em Brasília. Durante o projeto, os
estudantes escreveram biografias de heroínas da Primeira Guerra Mundial, criaram
um final diferente para o texto Moça Tecelã, de Marina Colassanti, além de
entrevistarem mulheres da família que consideram inspiradoras e criarem tutoriais,
slogans e hashtags para uma campanha sobre violência contra a mulher. Com o
trabalho e o diálogo, o tema fez sentido para os estudantes. “O projeto me
fortaleceu porque às vezes passo por situações que me sinto menosprezada por ser
menina”, conta Beatriz Ferreira, 14 anos. O estudo também foi importante para
Douglas de Farias, 17 anos: “Eu era machista, me incomodava até com a roupa de
algumas meninas. Aprendi a respeitar, afinal, elas são livres como qualquer homem
é”, diz.

SEM ASSÉDIO: Dérik relacionou o conteúdo da peça com situações reais:


"Muita gente se emocionou"

Na Emef Professor João de Oliveira Martins, em Rio Grande (RS), o ponto de partida
foi o texto A Revolta das Princesas (Editora Saber e Ler). A partir dele, a professora
Marisa Pires desenvolveu a peça de teatro Mulheres, que aborda a desigualdade de
gênero, com os alunos do 9º ano. “Escolhemos as princesas Cinderela e Sherazade e
as colocamos em situações contemporâneas, como assédio em uma festa.
Apresentamos dados de feminicídio, o assassinato de mulheres pela sua condição
de gênero, no Rio Grande do Sul para alertar a plateia”, conta a docente. Situações
exploradas no espetáculo ajudaram algumas alunas a pedir ajuda, já que o assunto
não é fácil e nem é discutido por todas as alunas. Em uma das cenas, Cinderela é
assediada numa festa por usar uma roupa considerada provocante por outro
personagem. “Muita gente se emocionou porque é uma situação frequente”, conta
Dérik de Araújo, 16 anos, que interpretou o papel do segurança. Já Mari Hellen Faria,
18 anos, além de atuar, sugeriu a inclusão da frase “sim, em briga de marido e
mulher, se mete a colher” na cena em que uma mulher é agredida fisicamente pelo
marido. A ideia surgiu porque, no bairro da garota, uma mulher morreu espancada
pelo marido. “Os vizinhos sabiam, mas demoraram a tomar providências”, conta.

MAIS FORTE: Beatriz conta que estudar a desigualdade de gênero fez


sentido: "Me fortaleceu"

Gênero sem medo

Cercado de polêmicas, polarizações e desinformação, o termo “gênero” nem sempre


é compreendido e encontra resistência em alguns setores da sociedade. Durante a
discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ele foi suprimido do
texto após pressão de alguns grupos. Para eles, inserir o tema no currículo poderia
gerar uma crise de identidade nos alunos, afetando a família e a integridade moral e
intelectual dos jovens. Também defenderam o ponto de vista de que o gênero não é
uma construção social e trouxeram um argumento técnico: como esses temas
estavam fora do Plano Nacional de Educação (PNE), acrescentá-los na BNCC iria
contrariar o que foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2010. Posto isso, o MEC
retirou da terceira versão da Base os termos “gênero” e “orientação sexual”,
afirmando que o tema gênero havia provocado muita controvérsia.

Para Andressa Pellanda, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a


supressão descumpre marcos nacionais e compromissos internacionais firmados
pelo Brasil, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que
preveem uma Educação sem discriminação de gênero e uma postura ativa do
Estado no estabelecimento de políticas de equidade. “O Brasil é signatário e atua na
contramão dessa forma”, ressalta a coordenadora de políticas educacionais da
Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Apesar de excluído o termo gênero, a
ideia de diversidade continuou presente nas habilidades e competências dos
documentos. Com isso, é permitido e possível abordar a desigualdade de gênero na
escola.
O assunto, porém, nem sempre é fácil de entrar na sala de aula. Uma das primeiras
barreiras é enfrentar o medo de não dar conta do tema. Em 2007, o MEC produziu o
curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE) - Formação de Professoras/es em
Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais, atualmente
indisponível. No entanto, é possível buscar materiais na internet e estudar por conta
própria. Professor da rede municipal de Camboriú (SC), Robson Fonseca acredita
que a formação o deixou mais sensível às questões de gênero e mais capacitado
para intervir em situações concretas. “Durante o curso, fiquei muito mais sensível às
questões de gênero e também de violência. Passei a prestar mais atenção ao que os
alunos vivenciam. Pude ajudar duas estudantes, ambas violentadas pelo padrasto, e
o Conselho Tutelar pôde agir para cuidar dos casos. Aprendi também a identificar
preconceitos que todos temos”, diz Robson.

Outro medo comum é a reação contrária da família. De fato, muitos pais e mães
podem sentir desconfiança e expressar o desejo de que o assunto não seja
abordado com os seus filhos. Há ainda confusões, como entender que, ao falar da
importância da igualdade de gênero, os professores enveredariam pela sexualidade
ou falariam de Educação Sexual. Por isso, o diálogo e o acolhimento das dúvidas das
famílias são fundamentais. “Nenhum pai quer que a filha sofra nas mãos de um
namorado que a humilhe ou a violente. Não quer também que ela deixe de seguir
estudando porque tem de casar, como se fosse uma obrigação, uma via sem saída.
Quando explicamos que falar sobre igualdade de gênero tem a ver com isso, eles se
sentem apoiados pela escola”, explica Miriam Grossi, professora do Departamento
de Antropologia e coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Por isso, convidar a família para conversar a
respeito é a melhor estratégia. Nesse momento, é importante trazer dados
concretos, pesquisas e estudos que contextualizem e mostrem a relevância do tema.

Por fim, uma terceira barreira que pode aparecer é a comparação de relevância
entre os componentes curriculares. Diante de tantos desafios para a escola
brasileira e tantos conteúdos que os alunos devem aprender, há espaço para falar
de gênero? “Evidentemente, a situação é dramática, mas todas as disciplinas são
importantes. Alfabetização não é mais importante do que gênero. O mundo tal
como é precisa de muitos campos de conhecimento e habilidades, além de espaços
de diálogo variados”, defende Miriam.

EDUCAÇÃO SEM DESIGUALDADE DE GÊNERO

Saiba como trabalhar o tema na escola do Ensino Infantil ao Médio

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Faz de conta
Promova com as crianças brincadeiras como limpar a casa,
trabalhar ou dirigir. Todos devem assumir o papel que
quiserem.
Amizade para todos
Reforce que os amigos podem ser de
qualquer sexo. Se surgir a frase “são
namoradinhos”, explique que crianças não
namoram. Crianças brincam e têm amigos.

Sem barreiras
Disponibilize todos os tipos de brinquedos para as crianças
e amplie o repertório com jogos, instrumentos e outras
opções menos marcadas pela questão de gênero.

ORIENTAÇÕES PARA O FUNDAMENTAL I

Sem estereótipos
Discuta características associadas às mulheres (como a
fragilidade) e aos homens (como a força). Debata: essa
forma de julgar as pessoas limita a vivência delas? Por quê?

Papel de todos
Dialogue sobre a responsabilidade de
todos para superar a desigualdade de
gênero: o que é possível fazer na escola?
Os estudantes enxergam desigualdades
em quais situações?

Meninos e meninas
Converse com as crianças sobre a existência de diferentes
formas de ser menina e menino. As regras sobre isso
podem e devem ser mudadas.

ORIENTAÇÕES PARA O FUNDAMENTAL II

Amor desigual
Questione como os relacionamentos podem ser afetados
por desigualdades de gênero. Por exemplo: meninas
podem ser proibidas de usar determinadas roupas?

Na minha família
Como a cultura e os papéis de gênero
impactam a criação de filhos e filhas?
Como é na família de cada um? Há
diferenças de responsabilidade para
meninos e meninas?

Valores e instituições
Incentive os estudantes a refletir sobre seus valores
pessoais e a analisar criticamente a atuação de instituições
para a desconstrução da desigualdade.

Fontes: Caderno Orientações técnicas de Educação em Sexualidade para o Cenário


Brasileiro: tópicos e objetivos de aprendizagem, da Unesco, Vanessa Leite (CLAM) e César
Nunes (Unicamp e Abrades)
GLOSSÁRIO

ORIENTAÇÃO SEXUAL
Diz respeito ao gênero pelo qual a pessoa tem atração
sexual e laços românticos - heterossexual (alguém de outro
gênero), homossexual (alguém do mesmo gênero) e
bissexual (ambos).

IDEOLOGIA DE GÊNERO
Nome usado por pensadores conservadores para abarcar
qualquer discussão sobre as diferenças nas identidades
sexuais, orientações sexuais etc. Esse movimento tem início
em 1975, numa campanha iniciada pelo Vaticano quando a
ONU marca o ano internacional da luta pelos direitos das mulheres.

FEMINISMO
Movimento social e político organizado em prol dos direitos
da mulher. Tem como foco a tomada de consciência das
mulheres como um coletivo humano e da opressão e
exploração a que elas são submetidas pela sociedade
patriarcal. Não se trata de uma inversão de poder, mas da luta por direitos
iguais, pelo respeito à diferença, à singularidade e à igualdade entre os
gêneros.

Fontes: Carla Cristina Garcia e Miriam Pillar Grossi

ENTREVISTA COM LUANA PEREIRA DA COSTA

“É importante estar atento ao bullying racista”

As meninas negras sofrem mais preconceitos: são vistas como objetos e menos
capazes

NOVA ESCOLA As mulheres brancas e as negras estão em situação de igualdade


no Brasil?
LUANA PEREIRA DA COSTA Três dimensões revelam a desigualdade entre elas. A
primeira é a forma como a sociedade as vê: a branca é considerada frágil e
emocional. A mulher negra, resistente e atrativa sexualmente, estereótipos que a
desumanizam. A segunda é econômica: as negras têm, majoritariamente, menor
taxa de escolaridade, moram em bairros mais vulneráveis e compõem grande parte
da parcela de desempregadas. A terceira é subjetiva: a mulher negra sofre com baixa
autoestima e não se vê representada pelos padrões de beleza.

NE Quais desafios a aluna negra enfrenta?


LPC Além da questão do gênero, ela tem de lidar com o preconceito racial.

NE Como a escola pode contribuir para a luta das mulheres negras por
igualdade de gênero?
LPC É importante que professores estejam atentos ao bullying racista. A aluna
negra, além de ser objetificada vista como menos capaz de aprender, é marcada por
ser pobre. É tratada, no geral, como inferior por meninos brancos e negros e por
meninas brancas. Outro ponto importante a ser levado em conta pelos educadores
é a obrigatoriedade da “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo. Ela dá
oportunidade de repensar o que se fala sobre a população negra do passado e do
presente.

Luana Pereira da Costa é advogada e associada da Organização da Sociedade Civil


Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos, em Porto Alegre.

FOTOS: Tomás Arthuzzi, Leo Caobello e Gustavo Gomes

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