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O questionamento dos fundamentos da sociologia


brasileira
O questionamento dos fundamentos da sociologia brasileira

Carlos Frederico Rubino Polari de Alverga

Publicado em 11/2017. Elaborado em 11/2017.

Os três pensadores das nossas ciências sociais que formularam a visão dominante
que o país tem de si mesmo foram Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e
Raymundo Faoro. Esta visão, adotada indistintamente pela direita e pela esquerda
nacionais, está sendo questionada e contestada em seus alicerces pelo sociólogo
Jessé Souza. Em termos genéricos, suas três contribuições fundamentais podem
ser sintetizadas conforme explicado a seguir.

Gilberto Freyre contribuiu com a ideia da democracia racial brasileira, encarando


a miscigenação entre portugueses, negros e índios como um dado positivo da
formação nacional, destacando este aspecto por ele considerado virtuoso, e
comparando-o com o racismo segregacionista institucionalizado dos Estados
Unidos. Desta forma, o sociólogo pernambucano pensa ser a mistura de raças
uma qualidade do Brasil que, nesse particular, superaria os Estados Unidos.

Relativamente a Sérgio Buarque de Holanda (SBH), sua contribuição principal


reside no conceito do brasileiro como homem cordial, como sendo um ente
movido pela emoção, pelos afetos, pelos sentimentos. Entretanto, esse conceito,
segundo Souza, é negativo, na medida em que, no entendimento de SBH, por ser
assim, o brasileiro divide o mundo entre amigos e inimigos, dando aos amigos
tudo e aos inimigos a Lei. A conduta do brasileiro seria baseada nas amizades,
afetos e sentimentos, e não na racionalidade e no cálculo frio do norte americano
protestante ascético, cuja conduta nos negócios é guiada não pelas emoções, mas
pela racionalidade instrumental, o que teria proporcionado o êxito do capitalismo
nos Estados Unidos e seu fracasso no Brasil. O brasileiro malogra por ser emotivo
e sentimental, sendo inferior ao estadunidense racional e calculista que, por ser
assim, prospera. Jessé Souza critica SBH por este idealizar infantilmente os EUA

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como sendo o paraíso da impessoalidade inexistente nos trópicos brasileiros.

Holanda também considera o patrimonialismo, que seria o homem cordial


institucionalizado, amalgamado no Estado, como sendo um motivo determinante
para o insucesso do Brasil como nação, na medida em que o Estado seria uma
extensão da família patriarcal, e a burocracia, o quadro de funcionários
administrativos, seria selecionado com base no apadrinhamento familiar, e não
com base no mérito, como aconteceria na Europa e nos Estados Unidos (modelo
de burocracia weberiana). Nesse ponto, SBH lança mão do conceito weberiano de
patrimonialismo como sendo a confusão entre as esferas pública e privada,
identificando este fator como sendo uma das causas do nosso atraso. Para
Holanda, então, o patrimonialismo das elites corruptas no interior do Estado seria
o grande problema responsável pelo subdesenvolvimento do país. Desta forma, a
corrupção só existiria no Estado apodrecido, inexistindo no mercado virtuoso.
Trata-se da demonização do Estado e da canonização do mercado.

Jessé também assenta suas baterias contra Faoro, cuja tese principal é a de que
uma elite burocrática corrupta incrustada no Estado desde a unificação de
Portugal consegue perpetuar seu domínio por cerca de seis séculos, controlando,
além do Estado, a sociedade e o mercado brasileiros, auferindo lucros exorbitantes
e inviabilizando nosso desenvolvimento capitalista. Nesse contexto, o
patrimonialismo deste estamento burocrático, sorvendo o Estado, o mercado e a
sociedade em benefício próprio, impede a prosperidade do Brasil. Em suma,
nossas mazelas seriam consequência da herança genética maldita do colonizador
lusitano. Souza ressalta que, assim como para SBH, para Faoro a corrupção se
encontra exclusivamente no Estado viciado, e não no mercado virtuoso. O
primeiro impede o segundo de florescer e vicejar.

Jessé considera que a principal fragilidade técnica e conceitual de Faoro é o fato


de que, quando da unificação do Estado Português, ainda não havia a noção de
soberania popular, logo não poderia haver a confusão entre o privado e o público,
característica central do patrimonialismo, uma vez que o Governo e seus bens
pertenciam ao próprio Rei, e este não poderia se apoderar daquilo que já lhe
pertencia. O patrimonialismo weberiano, no qual Faoro se baseia, na verdade
aconteceu na China em circunstâncias muito específicas que não se reproduziram
no Portugal medieval, tornando o patrimonialismo faoriano inconsistente e frágil
teoricamente.

Além do combate ao conceito de patrimonialismo, Jessé também investe contra o


conceito de populismo. Relativamente a este tema, convém abordar a questão de
como Jessé relaciona o conceito de populismo com o fato de que a elite
paulista/paulistana, enriquecida pelo café, ao sofrer a derrota política na
Revolução de 30 para Vargas, cria a Universidade de São Paulo (USP),
importando intelectuais franceses como Roger Bastide, para ser a usina de ideias
do seu projeto de secessão em relação ao resto do Brasil, materializado no
Movimento Constitucionalista de 1932. O conceito de populismo, desenvolvido

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principalmente por Francisco Weffort, tem como fulcro o argumento de que o


eleitorado pobre brasileiro, que constitui a maioria dos cidadãos que votam, é
manipulado e iludido pelos líderes políticos populistas, que, de modo demagógico,
manipulariam as massas ignaras em nosso país, comprometendo a legitimidade
democrática e relativizando a soberania popular. Daí, afirma Jessé, não poderia
haver democracia no país. Além disso, o tema da corrupção seria
instrumentalizado sempre que um projeto político econômico opositor aos
interesses das elites dirigentes e da classe média e favorável às classes menos
favorecidas fosse vencedor dos pleitos, de modo a desestabilizar esses Governos e
destituí-los do poder, seja por meio de um golpe militar, como ocorreu em 1.964,
ou de um golpe midiático, parlamentar e jurídico, conforme aconteceu em 2.016.
Isso sem falar na crise política de 1.954, que culminou com o suicídio do
Presidente Vargas que, assim como Jango e Dilma, foi vítima deste tipo de
expediente.

Souza arremata sua crítica contundente às bases da nossa Sociologia alegando que
patrimonialismo e populismo, base do nosso pensamento liberal conservador do
qual SBH é o mais relevante expoente, foram socialmente construídos como falsos
conceitos para encobrir a escravidão e a desigualdade extrema que perpassam de
modo tão marcante as estruturas da sociedade nacional. O Brasil, segundo ele, não
é filho da elite patrimonialista lusitana, mas sim da instituição total que vigorou
no Brasil entre 1.533 e 1.888. Os teóricos tradicionais amenizam a herança
escravocrata perversa e avassaladora, e nesse ponto pode-se também contestar a
visão de Gilberto Freyre da democracia racial nacional e da escravidão açucarada.
Outra crítica que Jessé faz a nossos clássicos é o fato de atribuírem à escravidão
uma importância secundária, coadjuvante na formação da sociedade e do Estado
nacionais, enquanto para ele essa relevância é preponderante, seminal, tendo sido
a escravidão, em sua opinião, o elemento crucial que mais intensamente
influenciou nossa formação.

Para concluir esta pequena síntese do pensamento deste que é, atualmente, a


maior expressão do pensamento no âmbito das Ciências Sociais brasileiras, Jessé
Souza destaca que a noção platônica de hierarquia entre corpo e espírito é
fundamental para explicar os nossos desníveis sociais, a nossa história e as bases
da Sociologia nacional. Esta noção platônica foi difundida no Ocidente pela Igreja
Católica, a partir dos escritos de Santo Agostinho. Desta forma, os Estados Unidos
e a Europa seriam os países do espírito, superiores; o Brasil e os países
subdesenvolvidos seriam os países do corpo, inferiores, sendo essa a origem no
nosso rodriguiano “complexo de vira-lata”. Da mesma forma, a elite do dinheiro e
a classe média no Brasil seriam as classes do espírito, superiores, e as classes
menos favorecidas no nosso país, a ralé e segmentos sociais mestiços
descendentes dos escravos, seriam as classes do corpo, inferiores. Por fim, é
interessante também apontar uma outra clivagem decorrente da referida noção
platônica, que é a sua componente de gênero, pela qual o homem pertenceria à
esfera superior do espírito, caracterizada pela razão e pelo trabalho intelectual, e a

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mulher, ao contrário, pertenceria ao universo inferior do corpo, caracterizado pela


emoção, pelo afeto e pelo trabalho manual.

Autor
Carlos Frederico Rubino Polari de Alverga

Economista graduado na UFRJ. Especialista em "Direito do


Trabalho e Crise Econômica" pela Universidade Castilla La
Mancha, Toledo, Espanha. Especialista em Administração
Pública (CIPAD) pela FGV. Mestre em Ciência Política pela UnB. Analista de
Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da
Fazenda. Atua na área de empresas estatais.

Informações sobre o texto

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