Os três pensadores das nossas ciências sociais que formularam a visão dominante
que o país tem de si mesmo foram Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e
Raymundo Faoro. Esta visão, adotada indistintamente pela direita e pela esquerda
nacionais, está sendo questionada e contestada em seus alicerces pelo sociólogo
Jessé Souza. Em termos genéricos, suas três contribuições fundamentais podem
ser sintetizadas conforme explicado a seguir.
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Jessé também assenta suas baterias contra Faoro, cuja tese principal é a de que
uma elite burocrática corrupta incrustada no Estado desde a unificação de
Portugal consegue perpetuar seu domínio por cerca de seis séculos, controlando,
além do Estado, a sociedade e o mercado brasileiros, auferindo lucros exorbitantes
e inviabilizando nosso desenvolvimento capitalista. Nesse contexto, o
patrimonialismo deste estamento burocrático, sorvendo o Estado, o mercado e a
sociedade em benefício próprio, impede a prosperidade do Brasil. Em suma,
nossas mazelas seriam consequência da herança genética maldita do colonizador
lusitano. Souza ressalta que, assim como para SBH, para Faoro a corrupção se
encontra exclusivamente no Estado viciado, e não no mercado virtuoso. O
primeiro impede o segundo de florescer e vicejar.
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Souza arremata sua crítica contundente às bases da nossa Sociologia alegando que
patrimonialismo e populismo, base do nosso pensamento liberal conservador do
qual SBH é o mais relevante expoente, foram socialmente construídos como falsos
conceitos para encobrir a escravidão e a desigualdade extrema que perpassam de
modo tão marcante as estruturas da sociedade nacional. O Brasil, segundo ele, não
é filho da elite patrimonialista lusitana, mas sim da instituição total que vigorou
no Brasil entre 1.533 e 1.888. Os teóricos tradicionais amenizam a herança
escravocrata perversa e avassaladora, e nesse ponto pode-se também contestar a
visão de Gilberto Freyre da democracia racial nacional e da escravidão açucarada.
Outra crítica que Jessé faz a nossos clássicos é o fato de atribuírem à escravidão
uma importância secundária, coadjuvante na formação da sociedade e do Estado
nacionais, enquanto para ele essa relevância é preponderante, seminal, tendo sido
a escravidão, em sua opinião, o elemento crucial que mais intensamente
influenciou nossa formação.
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Autor
Carlos Frederico Rubino Polari de Alverga
Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de
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são divulgados na Revista Jus Navigandi.
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