FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
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Para
meu pai,
Adolfo Cavalcanti da Cunha (in memoriam)
que, apesar de ter torcido muito pela realização
deste trabalho, partiu antes da sua conclusão.
minha mãe,
Hilda Barbosa Cavalcanti, pelo exemplo de
professora e pela coragem de enfrentar os
obstáculos da profissão e da vida.
v
vi
AGRADECIMENTOS
A trajetória da pesquisa que deu origem à tese aqui apresentada mostrou-me que
além de construir o conhecimento, construímos laços de amizades e necessitamos muito do
aconchego dos nossos familiares. Assim, quero agradecer a cada pessoa da minha família
que me apoiou, de formas as mais variadas, no decorrer da realização deste trabalho. Sou
eternamente grata por cada ação e por cada gesto de carinho.
À Luana, minha filha querida, por entender que a distância física que marcou a
nossa separação durante a realização do meu curso de doutorado foi necessária e por ter
amadurecido o suficiente para concluir o seu curso de graduação e entrar na vida
profissional com a independência e responsabilidade que construimos juntas, mas
principalmente por tornar mais divertidos e suaves pelo seu carinho os dias que pareciam
mais duros e tenebrosos.
À professora doutora Helena Costa Lopes de Freitas, pelo exemplo na vida política
e profissional, pela orientação na construção deste trabalho e pela sua amizade.
Aos professores doutores Luiz Carlos de Freitas, Mara Regina de Sordi, Maria
Márcia Malavazi e colegas do Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (LOED) da
UNICAMP, pelo acompanhamento e contribuições ao nosso projeto de tese durante as
atividades Programadas de Pesquisa (APP).
Às professoras doutoras, Dulce Maria Pompêo de Camargo, Maria Eliete Santiago,
Mara Regina de Sordi, Márcia Maria Sigristi Malavazi, participantes da Banca de Tese,
pelas suas valiosas contribuições.
Meu especial agradecimento aos professores, alunos e funcionários da UFPB que
colaboraram como atores da pesquisa, pelas contribuições pontuais na provisão e
construção dos dados, como também pelos relatos e debates tão necessários para a
realização deste trabalho; e principalmente pela cordialidade do nosso cotidiano.
A Antonio Sales, companheiro de utopia que tem acompanhando cada momento
desta trajetória, sempre com a sua peculiar paciência e carinho.
Às companheiras de Fé Leta e Naná pelo apoio e carinho nas horas difíceis. Lhes
serei eternamente grata.
vii
Aos amigos Edna e Damiro pelo apoio intelectual, físico e emocional, durante o
nosso inolvidável convívio em Campinas; por tudo, lhes serei eternamente grata.
À UFPB, à Faculdade de Educação da UNICAMP, como também à CAPES, por
proporcionarem as condições e apoios necessários para minha capacitação acadêmica e
profissional.
À ANFOPE pelos espaços abertos à reflexão e às lutas em favor da formação dos
profissionais da educação, por constituir um espaço de resistência e de democratização da
educação.
Por fim, agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram
para a realização desta tese e por acreditarem na utopia de uma construção de política de
educação com qualidade.
viii
RESUMO
Esta tese tem como objetivo geral compreender as relações que se estabelecem entre a
política nacional de formação dos profissionais de educação, o movimento dos educadores,
representado pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais de Educação
(ANFOPE), e a construção dos projetos político-pedagógicos (PPPs) dos cursos de
licenciatura de instituições públicas, focalizando a Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Analisa, assim, as implicações da política nacional e do movimento dos
educadores para as práticas e formas de resistência usadas pelos educadores da UFPB no
processo de construção dos PPPs dos seus cursos. Entre as técnicas de pesquisa, utiliza
Grupo Focal (GF) na perspectiva de multimétodo - aliando grupos de discussão,
entrevistas semi-estruturadas, observação e análise documental que visam reunir
informações primárias e secundárias para expressar a complexidade do processo de
construção e implementação de política institucional que orientou as práticas de elaboração
dos PPPs dos cursos de licenciatura da UFPB, no período compreendido entre os anos de
1993 a 2000. A análise apresenta os principais resultados alcançados, tornando explícitas as
singularidades da política institucional de formação de educadores pelo exame do caso da
UFPB, como parte de um processo histórico no qual são geradas as políticas públicas. A
temática, política de formação do educador, se insere no conjunto de trabalhos
desenvolvidos pelo Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (LOED) da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
ix
x
ABSTRACT
The main objective of this doctoral thesis is to understand the relations that are established
among the national policies for the formation of education professionals, the educators’
movement - represented by the National Association for the Formation of Education
Professionals (ANFOPE), and the construction of political-pedagogic projects (PPP) in the
licenciatura courses of public institutions, focusing the Federal University of Paraíba
(UFPB). Therefore, it analyses the implications of the national policy and the educators’
movement to the practices and forms of resistance used by the UFPB educators in the
process of constructing PPPs of its courses. Among the research techniques, it has been
used the Focus Group (GF) under a multi-methods perspective – including discussion
groups, semi-structured interviews, observation and documental analysis - that aim at
gathering primary and secondary information to express the process’ complexity in
constructing and implementing the institutional policy that orients the practices to elaborate
the licenciatura courses’ PPPs at UFPB, during the 1993-2000 period. The analysis
presents the main results reached, highlighting the singularities of the Institutional Policies
for the educators’ formation through the UFPB case study, as part of a historical project in
which the public policies are generated. The chosen theme: educators’ formation policy, is
inserted in the roll of works developed by the Laboratory of Observation and Descriptive
Studies (LOED) from the State University of Campinas (UNICAMP).
xi
xii
LISTA DE SIGLAS
xiii
CFE Conselho Federal de Educação
CFP Centro de Formação de Professores
CFT Centro de Formação de Tecnólogos
CH Centro de Humanidades
CNE Conselho Nacional de Educação
CNTE Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação
CODEINF Coordenação de Informática
CODESC Coordenação de Escolaridade
Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do
CONARCFE
Educador
CONED Congresso Nacional de Educação
CONSEPE/UFPB Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da UFPB
CONSUNI/UFPB Conselho Universitário da UFPB
CPME Comissão Permanente de Melhoria do Ensino da PRG/ UFPB
CRUB Conselho de Reitores da Universidade Brasileira
CUT Central Única dos Trabalhadores
CT Centro de Tecnologia
DA Diretório Acadêmico
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
ENC (PROVÃO) Exame Nacional de Cursos
Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades
FASUBRA
Brasileiras
FHC Fernando Henrique Cardoso
FMI Fundo Monetário Internacional
FNDEP Fórum Nacional em defesa da Escola Pública
FORGRAD Fórum de Graduação
FORUMDIR Fórum de Diretores das Faculdades/ Centro de Educação
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
FUNDEF
de Valorização do Magistério
GED Gratificação de Estímulo à Docência
xiv
GERES Grupo Executivo de Reforma do Ensino Superior
GF Grupo Focal
GTL Grupo de Trabalho de licenciatura
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES Instituições de Ensino Superior
IFES Instituições Federais de Ensino Superior
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio
INEP
Teixeira”
ISE Institutos Superiores de Educação
LOED Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (UNICAMP)
LDB – (LDBEN
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9.394/96)
MARE Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado
MEC Ministério de Educação
NTI Núcleo de Tecnologia da Informação
OMC Organização Mundial do Comercio
ONU Organização das Nações Unidas
PAIUB Programa de Avaliação institucional das Universidades Brasileiras
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PEC/ RP Programa Estudante Convênio – Rede Pública
PET Programa Especial de Treinamento
PIBIC Programa de Incentivo à Bolsa de Iniciação Científica
PNE Plano Nacional de Educação ( Lei 10.172 de 09/01/2001)
PROBEX Programa Institucional de Bolsa de Extensão
Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do
PROER
Sistema Financeiro
PROEXT Programa de Apoio a Extensão Universitária
PROLICEN/MEC Programa de Apoio ás Licenciaturas
PROLICEN/UFPB Programa de Apoio às Licenciaturas da UFPB
PRG/ UFPB Pró-Reitoria de Graduação da UFPB
xv
PROPLAN/UFPB Pró- Reitoria de Planejamento da UFPB
PPP Projeto Político-Pedagógico
PROVAO/ ENC (Exame Nacional de Cursos)
PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas
RAIES Revista da Rede de Avaliação Institucional de Educação Superior
SESu/MEC Secretaria de Educação Superior - MEC
SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
SINTEP/ PB Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Paraíba
Sindicato de Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino Privado
SINTEEMP/PB
do Estado da Paraíba
TCC Trabalho de Conclusão de Cursos
UBES União Brasileira de Estudantes Secundaristas
UNE União Nacional dos Estudantes
UFCG Universidade Federal de Campina Grande
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UnB Universidade de Brasília
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
UNESCO
Cultura
xvi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
xvii
4.2.3 Curso de História............................................................................................. 155
4.2.4 Curso de Matemática ...................................................................................... 158
4.2.5 Curso de Pedagogia ......................................................................................... 162
4.3 Impasses................................................................................................................... 177
4.4. Formas de resistência ............................................................................................ 186
4.5 Singularidades......................................................................................................... 188
4.6 Avaliação Institucional e Projeto Político-Pedagógico: uma possível conexão. 200
Perspectivas de Estudos Futuros................................................................................. 200
xviii
LISTA DE QUADROS
xix
xx
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
xxi
INTRODUÇÃO: REVISITANDO A HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO
DO OBJETO DE ESTUDO
Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem;
não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que
se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado [...] (Marx,
1990, p.17).
1
dos Estudantes de Pedagogia (ENEP), construção do Partido dos Trabalhadores (PT),
movimento de alfabetização de adultos e outros movimentos tão característicos da época,
que foram bastante marcantes no período e que contribuíram para o fim da ditadura militar
no Brasil. Nada disso aconteceu por acaso, pois desde criança acompanhávamos as
passeatas do Movimento Estudantil de 1968 e até copiávamos, em manuscritos, a música
do Vandré (Para não dizer que não falei das flores) para distribuir com os meus professores
do ginásio que participavam do movimento estudantil. É bom lembrar que naquela época
não havia impressoras nem computadores.
No ano de 1982 voltamos para Campina Grande e ali trabalhamos até 1986. Em
consonância com as discussões dos movimentos sociais, optamos por fazer um trabalho
voluntário de alfabetização de adultos com o “Método Paulo Freire”. Foi aí que tomamos
maior consciência das desigualdades sociais existentes no nosso país e da importância de
lutar por uma educação libertadora que contribuísse para uma conseqüente transformação
da sociedade; ali realizamos estudos de Pós-Graduação em nível de Especialização na
UEPB, cuja monografia, defendida “Alternativas Metodológicas do Trabalho do Supervisor
Escolar nas Escolas Técnicas” (PORTO, 1984), já lidava parcialmente com as questões
aqui tratadas. Posteriormente, sentindo a necessidade de aprofundamento teórico,
decidimos realizar um curso de mestrado na Pontifícia Universidade Católica - PUC de
São Paulo. Nesse curso intensificamos os estudos sobre o tema que há muitos anos nos
inquietavam, desde o curso de Pedagogia: o currículo de formação do educador na Escola
Normal.
O mestrado abriu-nos as portas para outras experiências de formação. Na qualidade
de bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES,
tendo concluído os créditos e ainda com tempo disponível para aprofundar a pesquisa;
tínhamos dois anos pela frente. Procuramos uma forma de estudar com um dos autores com
o qual nos identificávamos nas questões de teoria de currículo. Em 1988, submetemos um
projeto de pesquisa ao professor Dr. Michael Apple da University of Wisconsin – Madison,
Estados Unidos, e viemos, como convidada, a participar dos seminários sob a sua
orientação. Lá, aprofundamos a discussão para a compreensão da teoria crítica de currículo
1
Escola Técnica Redentorista (ETER) e Escola Técnica Radial
2
e suas implicações para a formação do professor, considerando as categorias de classe,
gênero e raça (etnicidade).
A participação nos famosos seminários - das sextas-feiras- tão comentados nos
livros do pesquisador americano (APPLE, 2000 p.23) permitiu-nos um melhor
entendimento das especificidades das relações de poder presentes no cotidiano da escola,
como também avançar na compreensão das desigualdades sociais e das formas de
resistência que revelam as relações de poder e o campo de forças no qual se inscrevem os
desafios para avanços e recuos no currículo.
Incorporamos a esse conhecimento às contribuições da pedagogia freireana, objeto
de um trabalho que apresentamos sobre o pensamento libertador de Paulo Freire em um
daqueles seminários das sextas-feiras. É importante destacar que a experiência profissional
de trabalhar com o “Método Freireano”, e também a de ter freqüentado uma disciplina
ministrada pelo próprio mestre Paulo Freire, juntamente com a Profa. Dra. Ana Maria Saul,
proporcionaram-nos a sustentação para socializar as idéias de Paulo Freire em outro país.
Nessa mesma época, havia no Brasil a disputa entre a pedagogia libertadora e a
pedagogia dos conteúdos. Optamos pela pedagogia libertadora, e nesta linha
desenvolvemos várias atividades. Concluímos o mestrado com a dissertação “Avanços e
Recuos no Currículo: O Cotidiano da Escola Normal” (PORTO,1992) sob a orientação da
Profa. Dra. Ana Maria Saul. Os desdobramentos desses estudos nos impulsionaram a
escrever sobre a temática de formação de professores e currículos. Publicamos alguns
artigos em revistas e anais, entre os quais destacamos “Escola e Poder: o lócus do conflito e
a construção do currículo” (PORTO, 1993) e também um capítulo de um livro sobre Paulo
Freire, intitulado “Currículo, formação de professores e repercussões metodológicas”
(PORTO, 2001b).
Ao concluir o mestrado, fomos aprovada e efetivada por concurso na UEPB,
atuando na instituição no período de 1989 a 1992; nessa instituição fomos professora de
várias disciplinas na área de educação, em nível de graduação e de especialização;
ocupamos os cargos de Pró-Reitora para Assuntos Estudantis e Pró-Reitora de Pós-
graduação e Pesquisa; coordenamos o Núcleo de Assessoria de Pesquisa em Educação
Popular (NAPEP) desenvolvendo um projeto de alfabetização de adultos, “Método Paulo
Freire¨ - com estudantes bolsistas que trabalhavam em vários núcleos de alfabetização para
3
presidiários, meninos de rua, prostitutas e idosos na periferia da cidade de Campina Grande
–nos limites do Projeto “MEXE UEPB”.
Em 1992, contratada como professora pela UFPB, aí atuamos até os dias de hoje,
ministrando as disciplinas Currículos e Programas e Política Educacional para as
licenciaturas e no Mestrado,Teorias de Currículo; co-orientamos três dissertações de
mestrado que tratavam da formação de educador e do currículo. Assumimos, também, o
cargo de Coordenadora de Currículos e Programas (CCP) e Coordenadora do Programa de
Licenciatura da UFPB (PROLICEN/UFPB) junto à Pró-Reitoria de Graduação (PRG).
Realizamos diversos trabalhos, entre os quais destaca-se a orientação na construção dos
Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de graduação. Coordenamos o projeto Política da
UFPB para os Cursos de Formação do Educador e o Programa Estudante-Convênio – Rede
Pública (PEC-RP). Além disso, coordenamos a organização de vários Encontros de
Licenciatura e Oficinas de Currículos que tratavam da política de formação inicial e
continuada, juntamente com outros professores e estudantes.
Com a experiência obtida em duas regiões distintas do país, tanto no plano
profissional como no acadêmico, trabalhando na área de educação, pudemos compreender
algumas das diferenças e semelhanças entre o Nordeste e o Sudeste e aprendemos a
desenvolver estratégias para, conviver em uma metrópole e manter os laços com a cidade
de origem. Percebemos também, através do trabalho, o poder da ideologia que dominava a
legislação brasileira, especialmente no ensino profissionalizante de orientação tecnicista.
Nessa direção, estudamos a Lei nº 5.692/71(Ensino de 1º e 2º Graus) e a Resolução nº
7044/82 do Ensino Profissionalizante e, na prática, procuramos desenvolver uma ação
pedagógica que aproveitava as “brechas” para um trabalho alternativo nas escolas em que
trabalhávamos. Por isto também a participação nas associações classistas não foi acidental.
Na ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da educação),
participamos das várias atividades desde 1989 como militante. Em 1999, eleita
representante do Estado da Paraíba e depois coordenadora da Região Nordeste, conselheira
fiscal, segunda tesoureira e vice-presidente da Diretoria Nacional, compartilhamos dos
vários momentos de mobilização dos educadores. Dessa forma, contribuímos com textos,
organização de eventos, participação em mesas-redondas e audiências públicas, sempre
socializando a produção da entidade.
4
Nessa trajetória percorrida ficaram evidentes os limites políticos e teóricos que se
apresentam no desenrolar das práticas acadêmicas. A necessidade de aprofundar a
compreensão das situações vividas, nas condições específicas do trabalho universitário,
despertou-nos para a realização de um trabalho de pesquisa em nível de doutorado. A
escolha da Universidade de Campinas- UNICAMP - deveu-se à respeitabilidade adquirida
pelos seus grupos de ensino e pesquisa no tratamento das questões inerentes à política de
Formação de Professores. A participação em disciplinas do doutorado em educação nos
proporcionou aprofundamento teórico nas questões gerais de políticas sociais com destaque
para as referentes ao campo educacional. Entretanto, foi no Laboratório de Observação e
Estudos Descritivos (LOED) onde tivemos a oportunidade de sistematizar as questões da
política de formação de professores e as de avaliação, partilhando atividades de pesquisa e
debates com colegas e professores. Essa experiência foi muito positiva no sentido da
socialização dos projetos de pesquisas e da discussão das nossas inquietações teórico-
metodológicas. Do mesmo modo, reconhecemos a relevância dos questionamentos
advindos da produção da base das universidades e do movimento dos educadores, para a re-
significação da nossa prática acadêmica e melhor entendimento e enfrentamento das
políticas para a educação.
É assim que, ao privilegiarmos o estudo das práticas de construção de projetos
político-pedagógicos, definimos e delimitamos o objeto de estudo e o compromisso de
contribuir para o avanço da produção do conhecimento na área das ciências da educação.
Tal compromisso revela-se mais claramente na realização desta tese em que desenvolvemos
o estudo sobre um caso localizado na UFPB. No desenvolvimento do trabalho,
consideramos as realidades social e política em um sentido amplo. O caso, pelas suas
especificidades, traz à tona processos mais gerais que, como analisados, necessitam ser
compreendidos. As estratégias teórico-metodológicas e analíticas adotadas revelam um
esforço de situar o caso numa visão de totalidade, ensejando explicitar os meandros das
políticas de formação dos educadores, juntamente com seus processos, suas práticas e
formas de resistência que tornam evidentes os enfrentamentos que se realizam no cotidiano
das instituições educacionais, envolvendo os seus profissionais e os outros atores que aí se
incluem.
5
Consideramos que essas experiências e aquelas de vivência pessoal/profissional
foram significativas para que pudéssemos compreender a importância da realização de um
estudo crítico capaz de desvelar, ainda que parcialmente, aspectos do projeto neoliberal que
perpassam os currículos dos cursos de formação de professores, bem como as formas de
resistência, destacando as mais positivas que se desenvolvem no interior das instituições,
como esperamos haver realizado.
Continuamos a estudar as atualizações dos objetivos e instrumentos dessa política,
como também a reação e críticas que lhes são feitas, em especial aquelas que derivam do
movimento dos professores coordenado pela Associação Nacional pela Formação dos
Profissionais da Educação (ANFOPE) 2. Nossa participação direta nas discussões geradas no
interior dessa associação, na qualidade de militante e de membro da sua diretoria – em nível
de representações estadual, regional e nacional - manifesta uma das faces do nosso interesse
no tema. Tal interesse, revelou-se nas atividades de ensino, como também no desempenho
dos cargos de coordenadora de Currículos e Programas (CCP), do Programa de Apoio às
Licenciaturas (PROLICEN/UFPB)3 no período de 1994 a 2000, como parte da nossa
experiência de trabalho na Pró-Reitoria de Graduação da UFPB, onde também assumimos a
coordenação do Programa Estudante Convênio (PEC-RP)4 no ano de 1998. O PEC-RP
constitui um instrumento, ou forma específica e diferenciada, de inclusão de professores da
rede pública nos cursos regulares de licenciatura da instituição. Fizemos parte da equipe que
criou o Grupo de Trabalho Licenciatura na UFPB (GTL), o que nos deu a oportunidade de
lidar diretamente com as questões da formação do educador, considerando o processo de
construção da política institucional da UFPB e suas interconexões com as deliberações do
Ministério da Educação e Cultura (MEC) e da ANFOPE.
2
A ANFOPE é uma associação que vem construindo uma política de formação do educador com autonomia
frente às políticas do Ministério de Educação, desde os anos 1980, quando ainda era Comitê Nacional Pró-
Formação do Educador. Em 1983 transformou-se em Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de
Formação do Educador (CONARCEFE) e, em 1990, foi transformada na Associação Nacional pela Formação
dos Profissionais da educação.
3
PROLICEN/UFPB – Programa de Apoio às Licenciaturas. Criado em 1994 a partir do PROLICEN/MEC,
com objetivo de incorporar as políticas de formação do educador existentes na UFPB e envolver estudantes
bolsistas em projetos de licenciatura.
4
PEC/RP – Programa Estudante-Convênio – Rede Pública. Criado pela UFPB em 1998 com objetivo de
oferecer formação inicial aos professores de redes públicas, estadual e municipal. Esses professores
(estudantes) são selecionados através de um processo simplificado com base no qual são admitidos no curso
de licenciatura, juntamente com os demais alunos, selecionados no Processo Seletivo Seriado (PSS), antigo
vestibular.
6
Essa participação na coordenação dos processos de construção dos projetos e
instrumentos da política definida pelos atores da UFPB para os cursos de graduação e, em
especial, para as licenciaturas, nos permitiu acompanhar as deliberações do Ministério de
Educação (MEC) e as críticas que lhes foram feitas no cotidiano da Instituição de Ensino
Superior - IES, bem como as que se elaboravam nos debates organizados pela ANFOPE
sobre a política de formação de educadores.
A partir desses trabalhos de pesquisa, como também da nossa participação
institucional e política, desenvolvemos um olhar crítico com o qual pretendemos adentrar
os meandros da política de formação de educadores - aqui definida pela construção de
projetos político- pedagógicos, considerando as ações desenvolvidas por três das suas
principais instituições: MEC, focalizando os seus instrumentos de política; UFPB,
atentando para o campo institucional no qual incidem os instrumentos e deliberações do
MEC; e a ANFOPE, instituição que passou a organizar a resistência, catalisando as críticas
que emergem nos ambientes acadêmicos e políticos. Reunindo essas estratégias de
observação, visamos à compreensão dos processos que vêm a se expressar na construção
dos projetos político-pedagógicos, nosso principal objeto de investigação.
A Pesquisa
7
as questões pertinentes à construção do currículo mínimo e duração dos cursos de
licenciatura. O Parecer nº 292/62 do CFE, que configurou a constituição da licenciatura
naquela época, contribuiu para mudar a situação desta ser vista apenas como acréscimo de
disciplina didática ao curso, passando a reconhecê-la como uma modalidade diferente do
bacharelado, com o objetivo de formação pedagógica. Uma outra questão abordada no GT
foi a Reforma do Ensino Superior, Lei nº 5.540/68, relativa à formação de professores em
cursos de licenciaturas e à definição dos seus currículos mínimos que foram fixados pelo
antigo CFE. Tratamos ainda de aspectos da formação dos especialistas em Pedagogia e do
currículo do curso definido pelos Pareceres 67 e 68/75, 70 e 71/76 do CFE. Tais pareceres
foram muito criticados pelos educadores sendo, posteriormente, suspensos pelo MEC, no
intuito de criar condições para o debate sobre a reformulação dos cursos de Pedagogia5 nos
diversos estados brasileiros.
No segundo momento, recuperamos as discussões das reformas educacionais da
década de 1990 com atenção às questões da Lei de Diretrizes e Bases para Educação
Nacional (LDBEN) LDB nº 9.394/96 e seus desdobramentos, nas diretrizes curriculares e
na construção de projetos político-pedagógicos para a graduação.
No que se refere à ANFOPE, resgatamos os documentos com os posicionamentos
sobre a política de formação dos educadores, produzidos no processo de construção dessa
associação. Esse resgate tem como marco o ano de 1980, data da I Conferência Brasileira
de Educação (CBE) realizada na USP em São Paulo, que reuniu educadores e teve como
um dos resultados a instalação do Comitê Nacional Pró-Formação do Educador, sediado
inicialmente na Universidade Federal de Goiás. Esse Comitê se propunha a discutir a
reformulação do curso de Pedagogia - não isoladamente como o MEC requeria – mas,
como uma ação em conjunto com as demais licenciaturas, contribuindo para a re-
significação, portanto, do lugar destas na formação do educador, em seu sentido mais
amplo. Segundo as proposições do movimento dos educadores, as licenciaturas deveriam
ser integradas no quadro dos cursos de formação dos profissionais da educação.
5
Para atualização referente ao curso de Pedagogia, consultar Pareceres nº 3/2005, nº 5/2006 e a atual
Resolução nº 1/2006 que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Pedagogia ,
licenciatura, cuja discussão teve início no ano de 1999, com elaboração da primeira versão das diretrizes
curriculares nacionais, o que denota a demora resultante da indefinição do MEC quanto ao lugar da
licenciatura em pedagogia o que causou um embate entre as proposições de dois projetos, disputados entre o
MEC e a ANFOPE.
8
Essas proposições foram incluídas na pauta do I Encontro Nacional de Educadores,
realizado em Belo Horizonte, no ano de 1983, contando também com a participação de
estudantes, com a preocupação de subsidiar a definição dos princípios gerais para a
reformulação dos cursos de formação do educador nas instituições de ensino superior.
Naquele mesmo ano, esse comitê foi transformado em Comissão Nacional de
Reformulação dos Cursos de Formação do Educador (CONARCFE), atuando até 1990,
quando foi transformado em ANFOPE. Esta Associação vem até os dias de hoje
acompanhando, propondo e socializando princípios e propostas referentes à formação do
educador, desde a definição de seus princípios gerais, entre eles, a definição de uma Base
Comum Nacional (BCN) para os cursos de formação de educadores, o que de acordo com o
documento do 1º Encontro da CONARCFE “não deve ser concebida como um currículo
mínimo ou elenco de disciplinas mas, como uma concepção básica de Formação do
educador e definição de um corpo de conhecimento fundamental” (ANFOPE, 1993, p.4).
Essa Associação vem aprofundando seus estudos e se posicionado sobre as políticas de
formação do educador, além de oferecer contribuições visando esclarecer e orientar as IES
em relação às políticas oficiais. De acordo com Aguiar et al. (2006, p. 823) “o Movimento
dos Educadores toma vulto e demonstra sua formação como resistência ao poder
instituído”.
Recuperamos a história das licenciaturas na UFPB com base nos dados sobre os
atuais 25 cursos de licenciatura existentes, distribuídos nos diversos Campi.
A UFPB6, tem sua sede instalada na capital do Estado, em João Pessoa (Campus I);
trata-se de uma instituição pública federal localizada no estado da Paraíba7, da região
Nordeste do Brasil e que se expandiu através de uma estrutura multicampi (Figura I) que se
ramificou para outras cidades do território paraibano: Campina Grande (Campus II), Areia
(Campus III), Bananeiras (Campus IV), Cajazeiras (Campus V), Souza (Campus VI) e
Patos (Campus VII) .
6
Ver documentos da UFPB: Estatuto, Regimento e Catálogo Geral de Cursos de Graduação.
7
Com uma população estimada em 3.436.716 habitantes, o estado da Paraíba ocupa 56.584.6 km² de área
territorial brasileira englobando 223 municípios.Está situado no extremo leste da região Nordeste do
Brasil. Tem 98% de seu território inserido no Polígono da Seca. Limita-se ao Norte com o Rio Grande do
Norte , ao Sul com Pernambuco; ao Leste com o Oceano Atlântico; ao Oeste com o Ceará. As cidades
mais populosas são: João Pessoa (capital), Campina Grande, Santa Rita, Patos, Bayeux e Souza. Fonte
disponível em <http://www.ambientebrasil.com.br > acesso em 23/12/2006.
9
Figura I - Os 7 Campi da UFPB8 1993 - 2000
Até o ano de 2000, a UFPB contava com 70 cursos de Graduação, sendo 25 cursos
de licenciatura. Em 2001 ela foi desmembrada em duas universidades: UFPB que viria a
envolver os cursos do Campus I (João Pessoa), do Campus III (Bananeiras) e do Campus
IV (Areia) e a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), que passou a incluir os
demais campi (ANEXO A).
As informações sobre a situação legal e curricular desses cursos foram organizadas
pela Pró-Reitoria de Graduação e discutidas em diversos momentos do trabalho coletivo. A
exemplo dos Seminários - Oficinas de Currículos e Seminários de Avaliação, onde reunia
representantes da comunidade acadêmica dos cursos de graduação da UFPB, e também nos
Fóruns de Licenciatura que representava um espaço de destaque para tratar das temáticas
específicas das licenciaturas. O referido Fórum de Licenciatura foi criado dentro do
Programa de Licenciatura (ANEXO B) e veio a ser internamente reconhecido sob a
denominação de PROLICEN/UFPB.
Recuperamos para os propósitos desta tese os documentos gerados pelos espaços
coletivos que congregavam os encontros dos cursos, bem como as informações sobre a
participação da UFPB nos encontros do MEC e da ANFOPE.
8
De 1976 até 2001 a Universidade esteve constituída por 7 campi. Em 2001 ela foi dividida, dando origem à
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
10
A UFPB, representada aqui por seus importantes atores, sempre esteve presente nas
discussões estaduais e nacionais sobre a formação do educador. A instituição participou do
I Encontro Nacional de Reformulação dos Cursos de Preparação dos Recursos Humanos
para a Educação, promovido pelo MEC/SESu em 1983; participou também dos encontros
dos movimentos de educadores, desde a organização do Comitê Nacional Pró-Formação do
Educador, da CONARCFE e da ANFOPE; organiza os Encontros Estaduais sobre
Formação do Educador desde 1985; incentivou a experiência piloto do curso de Pedagogia
que resultou, mais tarde, na primeira reformulação curricular na instituição, incorporando
os princípios orientadores da ANFOPE.
Em conseqüência dessa dinâmica instituída, a UFPB vem ampliando seu leque de
ações visando à concretização de uma política institucional de qualidade; os resultados
obtidos com essa política estão elencados no Relatório de Avaliação Institucional (UFPB,
2000e). Segundo expressa o relatório, o processo de reformulações curriculares dos cursos
de graduação foi acelerado contando com a participação de estudantes, professores e outros
sujeitos que compõem a comunidade universitária; houve aumentos significativos de
disciplinas e maior envolvimento dos membros da comunidade na oferta, administração e
ministração dos cursos. Ressalta, ainda, a efervescência interna do movimento dos
professores, nos dois últimos anos da década de 90, e de como este contribuiu para
extrapolar os limites internos do movimento que alcançou espaços fora da Instituição,
onde ocorreram discussões a respeito das diretrizes curriculares em andamento no país, por
solicitação do MEC/SESu.
Paralelamente, registra ainda o relatório, houve “no biênio 1999-2000, uma ampla
discussão, no âmbito dos Centros, objetivando a construção e aprovação do Projeto
Político-Pedagógico (PPP) de todos os seus cursos de graduação, com base nos quais – e
nas diretrizes curriculares que vieram a ser aprovadas pelo CNE – foi dinamizado o
processo de reformulações curriculares”.
O relatório conta uma rápida história de como se deu a organização do movimento
dos professores, sobre suas formas de articulação internas e externas e também registrar
como foram aprovadas resoluções que objetivaram normatizar as práticas institucionais e
em conseqüência, aquelas que passaram a ter vigência na organização e dinâmica dos
cursos. O sucesso do empreendimento institucional é ressaltado:
11
Desde o início da vigência da Resolução nº 39/99 do CONSEPE, cinco
são os cursos que já receberam aprovação dos seus respectivos PPP’s, por
parte daquele Conselho; aproximadamente outros 45 estão em fase
adiantada de discussões ou deliberações nos colegiados de Curso e
conselhos de Centro respectivos. Os demais, aproximadamente 20 cursos,
se bem que ainda defasados em relação àqueles citados acima, encontram-
se todos, envolvidos com a questão..”(UFPB, 2000e).
Esses espaços de discussão abertos pela UFPB deram origem a conflitos gerados no
campo das relações MEC-UFPB-ANFOPE, relativos às propostas de mudança na política
de formação do educador advindas das várias regulamentações9 que foram também
contestadas pelo movimento docente. Essas regulamentações para os cursos de graduação
na década de 1990 referem-se, inclusive, àquelas derivadas da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - Lei 9.394/96 - e seus desdobramentos nas diretrizes curriculares
nacionais para esses cursos.
Os debates gerados nas instâncias da UFPB relativos à construção dos projetos
político- pedagógicos foram significativos enquanto espaços que reuniram representantes
da comunidade acadêmica, incluindo a direção daquela instituição. Esses debates eram
coordenados pelas divisões administrativas da Pró-Reitoria de Graduação e da coordenação
dos cursos, assim como, pela comunidade acadêmica dos respectivos centros, aos quais se
agregavam os cursos. Ao resgatarmos esses processos, fica patente que várias forças
configuram esse campo, expressando as tensões que permeiam o problema da formação do
educador no cotidiano da instituição UFPB, sobrevindas dos limites que se apresentavam
ao processo de construção de sua política institucional, no caso específico da elaboração
dos projetos políticos-pedagógicos dos seus cursos.
Como evidenciadas nos dados reunidos para estudo, as tensões que se apresentaram
entre as diretrizes do MEC e as demandas do movimento dos educadores desafiaram as
instituições de ensino superior a ter que se sobreporem, continuamente, às regulamentações,
leis, imposições oriundas do MEC e às demandas do movimento, catalisadas pela
ANFOPE, para definir os seus próprios instrumentos de política de formação dos
educadores.
9
Estas regulamentações serão objeto de discussão no capítulo 2.
12
Sendo assim, a investigação a que nos propusemos, levou-nos à necessidade de
encontrar referências sobre a dinâmica desse processo como vivenciada pelos seus
principais atores, interlocutores, optando por ouvir o que professores, coordenadores de
curso, representantes da administração e da comunidade acadêmica, em geral, ofereciam
para uma clara compreensão do problema. Selecionamos os informantes para, em grupo ou
individualmente, explanarem as suas versões sobre a experiência, especialmente através do
uso da técnica do Grupo Focal (MORGAN, 1997) como explicitaremos no capítulo I.
Uma hipótese que se delineia para este trabalho é a de que a história dessa trama de
relações que levaram às escolhas institucionais tem lugar num campo de forças, “espaço”
em que a instituição e seus professores devem se posicionar continuamente. O nosso
desafio foi o de recuperar esse processo com o olhar sobre a UFPB, sem perder de vista a
rede das relações que se desenrola entre a instituição, o MEC e a ANFOPE.
Assim, esta tese tem como objetivo geral compreender as relações que se
estabelecem entre a política nacional de formação dos profissionais da educação e a
orientação do Movimento dos Educadores e as suas implicações para a construção dos
projetos político-pedagógicos (PPPs) dos cursos de licenciatura de instituições públicas,
focando no processo ocorrido no interior da Universidade Federal da Paraíba-UFPB.
13
Procuramos responder aos objetivos formulados com as seguintes questões:
Considerando-se os limites e as possibilidades da política nacional de educação, é
possível a construção coletiva de uma política de formação dos profissionais da educação
com base nas experiências institucionais locais e em consonância com os movimentos dos
educadores? Qual é a política de formação adotada pela UFPB para os cursos de
licenciatura? Até que ponto essa política da UFPB reflete, por um lado, as tensões
enfrentadas entre o que propunha o MEC e, por outro lado, os indicativos do Movimento
dos Educadores? Qual é a repercussão dessa política na UFPB na elaboração dos seus
projetos político-pedagógicos? Os princípios norteadores aprovados coletivamente pela
UFPB foram garantidos nos projetos político-pedagógicos dos cursos? Considerando os
conflitos que emergiram, quais as formas de resistência adotadas pelos educadores nesse
processo?
Constatamos que há dois projetos distintos para a formação dos profissionais da
educação no país: um, visto da lógica do poder constituído sob a orientação do MEC,
considerado, em geral como atrelado às políticas do Banco Mundial (SHIROMA;
MORAES; EVANGELISTA, 2004, p.10); o outro, pautado na lógica dos movimentos
sociais, especificamente neste caso representados pela ANFOPE, que defende a formação
do profissional da educação de forma contextualizada e em consonância com as demandas
políticas da sociedade civil (PORTO, 2001a; SCHEIBE, 2002; FREITAS, H., 2002;
AGUIAR et al. 2006). As IES passam a atuar considerando os seus objetivos de formação e
o que propõem esses projetos. A sua política institucional passa, pois, a ser construída num
campo de choque de interesses contraditórios entre esses dois projetos, na tentativa de
chegar a soluções possíveis, como transparecem nas práticas de elaboração dos PPPs da
UFPB.
A justificativa do período (1993-2000) deve-se à efervescência da discussão dessas
idéias na UFPB, em contraposição ou como parte constitutiva da arena de lutas estabelecida
no Brasil a partir das divergências e disputas entre esses projetos, exemplarmente no
governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). No caso da UFPB, este período
corresponde aos reitorados de Neroaldo Pontes (1993-1996) e Jader Nunes (1997-2000).
Nosso foco principal de análise é o processo da política institucional de construção
dos PPPs na UFPB, atentando para o campo de forças (BOURDIEU, 2004a-b) no qual se
14
apresentam os embates, impasses e conflitos, que emergem sobre o que dispõem os
instrumentos de política do MEC e aqueles que, historicamente, são defendidos pelos
movimentos dos educadores, os quais são visíveis no processo de construção dos PPPs. A
ANFOPE, como uma entidade política que produz conhecimentos referentes à formação
dos profissionais da educação, apresenta-se como parte nesse campo de luta que agrega
educadores no país, ocupando espaços e posições sociais no enfrentamento das políticas de
educação induzidas pelo MEC.
O estudo de campos é desenvolvido por Pierre Bourdieu a partir de reflexões
antropológicas e sociológicas. Entre os campos estudados pelo o autor, podemos destacar:
família, escola, igreja, universo profissional, campo político, campo social, campo
econômico e campo intelectual, campo artístico, campo literário. Nesse sentido, define
campo “como certos espaços de posições sociais nos quais determinados tipos de bem são
produzidos, consumidos e classificados”. (BOURDIEU, 1983 apud NOGUEIRA;
NOGUEIRA, 2004c, p.36).
O conceito de campo10 é considerado por Bourdieu no sentido de sistema de linhas
de forças ou espaços estruturados. Para ele,
“o campo intelectual, da mesma maneira que o campo magnético,
constitui um sistema de linhas de força: isto é, os agentes ou sistemas de
agentes que o compõem podem ser descritos como forças que se
dispondo, opondo e compondo, lhe conferem sua estrutura específica num
dado momento do tempo”. (BOURDIEU, 1968, p.105).
Concordamos com Bourdieu (2004b, p.22) quando afirma que “[...] todo campo... é
um campo de forças, é um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo de
forças”.
Para o presente estudo consideramos o campo no sentido de campo de forças e de
lutas por projetos diferentes. Nesse sentido, o nosso estudo considera a instituição UFPB
como participante na confluência desse campo de forças no qual se incluem outras posições
e interesses: da ANFOPE e do MEC, visando atingir os seus objetivos de produção do
conhecimento, formação profissional e autonomia.
10
. Para maior aprofundamento a respeito de campo, ver Bourdieu 1968, 1983, 1997, 1998 2004a, 2004b;
.Educação e Sociedade, nº78, 2002 ‘ Dossiê Ensaios sobre Pierre Bourdieu; Catani e Nogueira (org.) Pierre
Bourdieu Escritos de Educação, 2002 entre outros.
15
Esclarecemos que nossa abordagem estará restrita à análise de processos de
elaboração dos projetos político-pedagógicos, ainda em andamento, no interior dos cursos e
da própria universidade. Nossa análise possibilita explicitar os meandros desses processos
e compreender as formas de resistência que se delinearam, mais especificamente no período
compreendido, de 1993 a 2000.
A abordagem metodológica privilegia a pesquisa qualitativa pela qual esperamos
revelar a dinâmica das relações entre as concepções e práticas elaboradas nos espaços de
construção coletiva. Dados secundários provenientes das instituições envolvidas como leis,
relatórios, projetos, documentos, boletins, como também, os dados primários relativos à
observação direta, às entrevistas com informantes-chaves e aos grupos de discussão,
oferecem evidências sobre as quais nos apoiamos para desenvolver a presente tese.
Definidos objeto, área de estudo e o campo de observação, a técnica de pesquisa
utilizada é a de Grupo Focal (GF) na perspectiva de multimétodo11, entre os quais se
incluem os grupos de discussão que, no caso, vêm expressar a complexidade do processo de
construção e implementação de política institucional. Esta técnica nos permite explicitar,
simultaneamente, o processo histórico no qual foram construídos os PPPs dos cursos de
graduação em suas relações com a política nacional de formação e o movimento dos
educadores.
Dessa forma, pretendemos analisar as implicações da política nacional e do
movimento dos educadores para as práticas e formas de resistência usadas pelos educadores
da UFPB no processo de construção dos PPPs dos seus cursos.
A pesquisa procura, assim, compreender o processo de construção da política
institucional da UFPB, especificamente para os cursos de formação do educador -
denominados de cursos de licenciatura - e identificar as concepções e as práticas que
emergiram num campo de forças no qual desenvolveu-se a elaboração dos seus projetos
político-pedagógicos.
Para atender o que propõe este trabalho, dividimos o seu conteúdo em quatro
capítulos, precedidos desta introdução.
11
Esta técnica será melhor explicada no capítulo 1. Alertamos que as utilizações dessa técnica em pesquisa de
marketing e outras tem sido objeto de alto nível de sofisticação para separar níveis de observação. Aqui, no
entanto, seguimos mais diretamente Morgan no que atende ao nosso objetivo de realizar um trabalho
compartilhado com os vários atores.
16
O Capítulo 1, denominado Trilha Metodológica, objetiva definir e explicitar a
metodologia utilizada; traçamos as principais linhas de observação, coleta de dados e a
análise desenvolvida.
No Capítulo 2, intitulado Políticas, Educacionais e Estado, lidamos com o conceito
de Estado-ampliado (GRAMSCI, 2001) para explorar as relações entre o Estado e a
sociedade civil, através do qual é feita a leitura da história das políticas do MEC para a
formação dos profissionais da educação no período considerado, através do arsenal oficial e
seus principais instrumentos, documentos, leis e resoluções, bem como outros, do
movimento dos educadores. Trata das reações a essas políticas como expressas pelos
movimentos dos educadores, aqui especialmente desveladas, no caso da ANFOPE, sua
história, sua forma de atuação e suas relações com educadores e as IES. Neste capítulo,
consideramos os contextos históricos e institucionais em que foram produzidos esses
documentos e os limites impostos à atuação das Instituições de Ensino Superior (IES) na
formulação da sua política institucional.
No Capítulo 3 - A Política da UFPB para a Formação dos Profissionais da
educação - Relações com as Políticas Oficiais e os Movimentos dos Educadores (1993 -
2000) – nele dá-se continuidade à apresentação dos dados objeto de análise, busca-se
compreender a maneira como a UFPB, através dos seus atores, se situou no período
considerado, com base na análise da resposta institucional às políticas do MEC e aos seus
objetivos de formação, juntamente com as proposições do movimento dos educadores.
O Capítulo 4, intitulado Impasses, Resistência e Singularidades no Processo de
Construção dos Projetos Político-Pedagógicos na UFPB, analisa os dados a partir das
situações e processos gerados no interior do campo de forças no qual a UFPB se insere,
para responder aos desafios das políticas governamentais, bem como às demandas do
movimento dos educadores, ressaltando as singularidades do processo de construção de sua
política institucional através dos PPPs. Neste capítulo analisamos os principais resultados
alcançados tornando explícitas as singularidades da política institucional de formação de
educadores na UFPB como parte de um processo histórico no qual são geradas as políticas
públicas.
Pelo estudo realizado, tornam-se visíveis os impasses e as formas de resistência que
emergem nesse processo e que contribuem para a atualização das políticas educacionais e
17
práticas democráticas na instituição. Tornam-se assim evidentes os avanços obtidos com a
realização desta tese e os seus limites, considerando-se que tratamos de processos
dinâmicos cujo alcance pode melhor ser aferido com certo distanciamento no tempo.
18
CAPÍTULO 1: TRILHA METODOLÓGICA
19
focalizado na instituição UFPB12, sem perder de vista a trama das relações que se desenrola
entre esta, o MEC e a ANFOPE, num contexto moldado pelas políticas de Estado
(SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2004).
O caminho delineado e percorrido nos ajudou a recuperar a história da formação do
educador na UFPB. A leitura dos documentos elaborados pelo Grupo de Trabalho
Licenciatura da UFPB, dos documentos da ANFOPE e dos instrumentos de políticas do
MEC, bem como do material registrado em fitas gravadas, áudio e vídeo (ANEXO C)
resultantes de 20 horas de gravação sobre os Encontros do PROLICEN e Oficinas de
Currículos, constituem ricas evidências do estimulante processo de aprendizagem sobre a
temática selecionada para estudo, pautado no exame de duas categorias que se constituíram
a priori como instrumentos de investigação: política de formação do educador e projetos
político-pedagógicos. Entendemos que “as categorias não são apenas graus de
desenvolvimento da consciência, mas também graus de desenvolvimento da prática social
dos homens, de suas relações entre eles e deles com a natureza” (CHEPTULIN, 1982, p.
140); é neste sentido que consideramos também outras categorias que emergem das
práticas. Fizemos, igualmente, o registro das atividades realizadas pela Pró-Reitoria de
Graduação da UFPB junto aos cursos de licenciatura, o que nos aproximou dos possíveis
atores da pesquisa; a PRG liderou um amplo processo de mobilização da comunidade
acadêmica, organizando uma equipe que interagia, continuamente com coordenações de
curso e direções de centros.
Definimos que o lócus principal da pesquisa seria a UFPB; também, que os
participantes e sujeitos considerados seriam, preferencialmente, aqueles que por sua
inserção acadêmica ou administrativa vivenciaram diretamente essa história ou também
exerceram algum cargo vinculado aos cursos de licenciatura durante os anos
compreendidos entre 1993 e 2000. Nesse sentido, optamos por uma amostra intencional
para qual os atores foram escolhidos, segundo o tipo e grau do seu envolvimento com as
políticas institucionais. As várias reuniões a que comparecemos nos ofereceram
informações precisas de como a instituição coordenava o processo de reformulação
curricular.
12
Aqui reconhecida através das práticas e das vozes dos sujeitos que a compõem: professores, alunos,
funcionários, administradores. Os sujeitos são também denominados de atores ou participantes.
20
Ao eleger essa estratégia de nos achegarmos aos sujeitos que, evidentemente, se
envolveram no processo de produção da política institucional e dos movimentos dos
educadores, buscávamos nos aproximar, o máximo possível, da história recente da
implementação das políticas de formação do educador. Cientes dos limites metodológicos
do uso de tal estratégia - no que diz respeito ao ainda incipiente distanciamento dos atores
dos processos em que se envolveram, assim como também, a uma certa indefinição das
instâncias do MEC sobre as mesmas políticas de formação e, no que se refere ao
movimento dos educadores, à novidade das suas ações e atuação direta nesse campo -
decidimos dirigir o nosso olhar para um campo em construção para dar conta do
movimento dos atores, segundo o seu lugar nas tramas que deram oportunidade à
construção dos PPPs na instituição.
A adoção de tal estratégia justifica-se pela necessidade de produção do
conhecimento sobre questões de interesse público, visando contribuir para esclarecer
processos e, ainda como foram se impondo, através das falas dos sujeitos, os impasses que
são indicados, em alguns momentos, através da expressão entraves e formas de resistência,
algumas vezes denominadas de lutas diárias, que tendem a moldar as políticas públicas e
os seus ajustes às necessidades da sociedade contemporânea. Conseqüentemente,
buscamos encontrar uma técnica que nos permitisse dar conta da complexidade do caso e
de ampliar as dimensões diacrônicas e sincrônicas de entendimento da realidade; essa
estratégia resultou na eleição da técnica de grupos focais na perspectiva de multimétodo.
21
princípios orientadores para a elaboração dos Projetos Pedagógicos dos cursos de
graduação (UFPB/PRG, 1994, 1995 e 1999).
Embora tivéssemos, dado o nosso próprio envolvimento com o caso aqui estudado,
conhecimento dos vários documentos sobre a formação do educador, fizemos uma releitura
dos mesmos com um novo olhar, o de pesquisadora que se propõe a investigar dialogando
com os participantes do processo. Nesse sentido, escolhemos a pesquisa qualitativa por
entendermos que seria esta uma abordagem que melhor daria conta da dinâmica dos
espaços de construção coletiva. No entanto, é importante salientar que, num processo de
investigação, as diferentes abordagens metodológicas que se apresentam para lermos uma
determinada realidade podem aparecer num momento como facilidade e, em outros, como
obstáculo para apreensão do objeto. O pesquisador deve, pois, estar atento à abordagem que
melhor responda às suas preocupações, visando à apreensão da lógica interna dos processos
analisados, bem como à compreensão da dinâmica e das contradições emergentes. No caso
que aqui nos ocupa, tal cuidado nos proporcionou a oportunidade de rever estratégias para
realimentar os processos de coleta, análise das evidências empíricas e revisão dos aportes
teóricos, segundo os contextos e conjunturas históricas.
Para isso, recorremos a uma base de dados que se compõe da análise documental, da
observação dos espaços e processos que se expressam no interior da instituição, de
entrevistas semi-estruturadas e dos grupos focais, complementada com dados institucionais
que nos ofereceram informações sobre a história recente da política nacional para a
formação de profissionais da educação e da atuação do movimento dos educadores, de
acordo com as experiências resultantes da sua aplicação num caso específico: o processo de
construção dos PPPs na UFPB. O acompanhamento dessas experiências nos exigiu
aproximação e afastamento da realidade observada, atendendo aos requerimentos de
objetividade e ao reconhecimento das subjetividades implicadas nos limites da observação
participante.
De acordo com André, (1995, p.28)
A observação é chamada de participante porque parte do princípio de que o
pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada,
afetando-a e sendo por ela afetado. As entrevistas têm a finalidade de aprofundar
as questões e esclarecer os problemas observados. Os documentos são usados no
sentido de contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais
profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes.
22
1.2 Procedimentos de pesquisa: Decisões iniciais.
Essa técnica, embora não seja muito conhecida na área educacional, tornou-se um
instrumento importante de coleta de dados, principalmente, nas ciências sociais e nas
ciências da saúde. No caso da educação, os estudos ainda são incipientes. Tal constatação
torna o nosso trabalho mais desafiador no sentido de utilizar a técnica de grupo focal como
uma das estratégias para responder aos objetivos da pesquisa e à análise ou teorização
pretendida.
De acordo com Morgan (1997), essa técnica oferece várias possibilidades, podendo
ser usada:
1) como principal fonte de dados.
2) como fonte suplementar de dados ou de estudos que se apóiam em algum outro método
primário, como o survey.
23
3) em estudos que usam multimétodo, combinando dois ou mais métodos de coleta de
dados, em que nenhum método primário determine o uso dos outros.
No presente trabalho, fazemos uso da técnica de grupo focal aliada ao multimétodo
- que combina esta com outras. Ao fazer referência ao uso dos grupos focais, Morgan
explica este modelo esclarecendo que ele permite agregar informações:
[...] aos dados que são coletados através de outros métodos qualitativos,
como observação participante e entrevistas individuais. O modelo aqui é
claramente etnográfico, que tem tradicionalmente envolvido uma
combinação de observação e entrevistas. Trazendo os grupos focais para
esta combinação simplesmente significa utilizar um grupo como também
entrevistas individuais. (idem, p.3)
Na sua intenção de tratar a técnica e a originalidade dos seus usos em cada caso,
Morgan explica que o objetivo é utilizar cada método de forma que contribua com algo
diferente e único para que o pesquisador venha a entender o fenômeno estudado, atendendo
à necessidade de apreender a realidade e as características dos dados a serem pesquisados,
as oportunidades e as limitações que se apresentam na configuração do campo de
investigação.
O mesmo autor indica outras possibilidades que se abrem com o uso dessa técnica
pois, como sugere, a técnica de grupo focal não se encerra em si mesma:
13
Para qualificar o que considera como pesquisa quantitativa o autor faz referência a McQUARRIE, E.F.
(1996). The market research toolbox: A concise guide for beginners. Thousand Oaks,CA: Sage.
24
ampla para os usos de grupos focais. Ainda assim, as opções que nós
temos atualmente desenvolvido certamente não exaurem as possibilidades
de uso dos grupos focais, e existem, sem dúvidas, muitos outros usos
criativos de grupos focais aguardando serem descobertos”. (idem, p.3)
Alguns autores priorizam a estrutura formal dos grupos focais14, no entanto, para os
propósitos deste estudo, seguimos a orientação de Morgan (1997) quando afirma que:
14
No campo do marketing, por exemplo, o uso dessa técnica já conta com especialistas e locais preparados
para a realização dos grupos, segundo procedimentos previamente definidos.
25
Nesta tese optamos por utilizar uma estrutura menos formal que se configurou com
base numa seleção ao mesmo tempo intencional e aleatória. Intencional porque definimos a
priori a representação das instâncias (Pró-Reitoria, Coordenações de Curso e Centros) a
serem consultadas, e aleatória porque a composição do grupo de discussão dependeu de
indicações pontuais e das respostas ao convite que fizemos .
Esta técnica permitiu-nos a compreensão do fenômeno através do processo de
interação desenvolvido nos grupos, bem como o aprofundamento da temática da pesquisa, o
que seria difícil de alcançar fora da situação de discussão de grupo. O Grupo Focal, quando
associado com outras técnicas de coleta de informação, como aqui procedemos, ofereceu-
nos a oportunidade de ampliar a base de dados para a análise das políticas de formação dos
profissionais de educação que transparecem e influenciam nas concepções, práticas e
processos de elaboração dos projetos pedagógicos. A técnica de Grupo Focal aqui usada,
aliada ao multimétodo, constitui nosso aporte ao uso dessa técnica no campo da educação e
encontrou fundamentos nas contribuições de Morgan (1997) quando deixa explícito o seu
desejo de que outras experiências com a técnica venham a ser realizadas.
Outras referências aos usos dessa técnica são encontradas nos trabalhos de Gatti
(2005), Oliveira; Werba (2002), e Minayo (1994; 2004) e também contribuem para
compreendermos e ampliarmos as possibilidades dos usos da técnica de grupos focais na
pesquisa. As contribuições dessas pesquisadoras brasileiras estão também baseadas nos
estudos de Morgan.
Gatti (2005) desenvolve a temática do “Grupo Focal na pesquisa em Ciências
Sociais e Humanas” a partir de estudo de diferentes autores que tratam da questão. Para a
autora:
26
Ainda conforme a autora, essa técnica oferece boa oportunidade para o
desenvolvimento de teorização em campo a partir do ocorrido e do falado.
Por outro lado, Minayo (2004) alerta para o fato de que o grupo de discussão não é
uma questão meramente técnica, mas depende muito do animador porque:
Embora a definição prévia do tempo seja necessária para informar aos participantes
sobre a agenda e cronograma da discussão, dependendo do interesse e da disponibilidade,
deve haver uma certa flexibilidade, principalmente para que não se interrompa o debate em
momentos ricos, quando as idéias fluem mais livremente, como tivemos a oportunidade de
observar.
Para Oliveira;Werba (2002), uma das vantagens dos grupos focais
Todos os autores estudados concordam com alguns cuidados que devem ser
observados na formação dos grupos focais, principalmente quanto: i) ao tamanho do grupo;
27
ii) à organização coerente com objeto e objetivos da pesquisa; iii) à quantidade de grupos,
sugerindo-se de três a quatro grupos, com uma média de 6 a 12 participantes; iv) à duração
da discussão, variando de uma a duas horas.
O papel do coordenador, facilitador, mediador, moderador ou animador15 é conduzir
as discussões de forma livre, mas sem perder de vista o tema proposto. Geralmente as
discussões são gravadas em fitas de áudio ou vídeo, sendo posteriormente transcritas e
analisadas em função do referencial teórico e do objetivo da pesquisa. A partir daí é feita a
categorização de dados por afinidades.
• Os dados da pesquisa
Os principais dados empíricos foram coletados nos anos de 2003 e 2004, através da
observação direta, realização de entrevistas semi-estruturadas, grupos focais e análise
documental. Em 2006 realizamos mais cinco entrevistas com os coordenadores dos cursos
estudados para atualização das informações. Porém, como já alertamos, consideramos e
incluímos na análise, também, outros dados quantitativos e qualitativos referentes ao
período (1994-2000) em que trabalhávamos na PRG. Para melhor visualização do processo
de investigação, listamos abaixo as atividades realizadas:
15
Como encontramos vários termos (mediadora, facilitadora, moderadora, animadora) para definir a pessoa
que coordena os grupos focais, preferimos adotar a nomenclatura de mediadora por se tratar da própria
pesquisadora que também foi participante e incentivadora da construção dessa política na UFPB.
28
documentos referentes à política de formação dos profissionais de educação no Brasil, dos
documentos produzidos pela UFPB e uma releitura das produções da ANFOPE.
Selecionamos documentos produzidos desde 1993, tais como fitas de vídeo dos Encontros
do PROLICEN/UFPB, das Oficinas de Currículo, Seminário das Diretrizes Curriculares e
das Reuniões da PRG com coordenadores de cursos, assessores de graduação, chefes de
departamentos e comissão especial designada pela PRG para elaboração de Minuta de
Resolução que tratou da formação pedagógica16. A estratégia de consulta incluiu legislação,
pareceres, resoluções, outros documentos, entre os quais destacaríamos normatizações das
instâncias do MEC, do CNE, da UFPB; documentos da ANFOPE; documentos
institucionais da UFPB: Relatórios das Oficinas de Currículo, Projetos e Relatórios do
Programa de Licenciatura (PROLICEN/UFPB), Relatório da Avaliação Institucional
(PRG/CPME), Relatório da Oficina de Trabalho: gestão da Graduação na UFPB, Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI) e PPPs dos cursos selecionados, fitas de vídeo e
áudio, fotos de eventos da licenciatura, Oficinas de Currículo e de Seminário de Diretrizes
Curriculares, conforme referências que constam da Bibliografia desta tese. Esse material foi
lido e anotado, objetivando a compreensão e delineamento dos aspectos relativos ao nosso
objeto de estudo.
Foi realizado um levantamento dos documentos (ANEXO D), procurando extrair
deles os temas que tratavam da política de formação de educadores, reformulação curricular
e projetos político-pedagógicos. Nos documentos do MEC, procuramos destacar a
orientação dada pela LDBEN nº 9.394/96; em relação aos profissionais de educação e
projeto político-pedagógico, encontramos nos decretos presidenciais e portarias ministeriais
indução a uma política de formação, encontramos ainda nos pareceres e nas resoluções
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) que deveriam ser seguidas por todos os cursos de licenciatura. Nos
documentos da UFPB, encontramos os princípios que orientam a política de formação do
16
Essa minuta foi resultado de um amplo debate realizado nos Encontros de Licenciatura desde a
construção da Política da UFPB para os Cursos de Formação do Educador, iniciada em 1994. Ela é exigência
da Resolução nº39/99, do CONSEPE/UFPB, que trata da sistemática da Elaboração de PPP dos Cursos de
Graduação da UFPB e atende à Resolução CNE nº 01/2002 que trata das Diretrizes para Formação de
Professores de Educação Básica e à Resolução CNE nº 02/2002 que Institui a duração e a carga horária dos
cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior.
Em 2004 ela foi consolidada e aprovada pelo CONSEPE/UFPB, como Resolução 04/2004 que ‘Estabelece a
Base Curricular, para a Formação Pedagógica dos Cursos de Licenciatura’.
29
educador, a legislação que regulamenta essa política, os posicionamentos da instituição em
relação às políticas do MEC, os processos de PPP dos cursos, suas minutas e respectivas
Resoluções. Nos documentos da ANFOPE, encontramos as temáticas específicas que
tratam exclusivamente da formação dos profissionais da educação. Encontramos também
vários posicionamentos dessa associação contrários às políticas do MEC no que diz respeito
à formação dos profissionais de educação.
Destacamos alguns dos achados nos documentos consultados a respeito dos temas
que emergiram dos documentos e que se revelaram, na prática, relevantes para a análise da
política de formação do educador, nos termos aqui propostos:
No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem
prejuízo de outras, as seguintes atribuições: II - fixar os currículos dos
seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes; III -
estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção
artística e atividades de extensão; (BRASIL/LDBEN n º 9394/96, art.53).
30
sobre os cursos de licenciatura, como já destacamos (ANEXO A) a partir da qual
selecionamos os cinco cursos que fariam parte da pesquisa.
Essa informação corresponde aos cursos de Licenciatura existentes na UFPB até o
ano de 2000. No entanto, em 2001, a Universidade Federal da Paraíba foi desmembrada
em duas, a UFPB e a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), sendo que a atual
UFPB ficou com os cursos dos Campi I, III e IV; a UFCG, com os demais Campi, em
número de quatro. Com essa nova configuração, o Campus III passa a ser denominado de
Campus II e o Campus IV, de Campus III. No entanto, os cursos de licenciatura
permaneceram nos seus centros de origem - Centro de Formação de Tecnólogos (CFT),
Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), Centro de Ciências da Saúde (CCS),
Centro de Educação (CE), Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).
Embora todos os cursos estivessem em processo de construção dos respectivos
PPPs, selecionamos um curso em cada um desses centros. Foram assim escolhidos os cinco
cursos de licenciatura que, segundo nosso entendimento, nos proporcionariam uma boa
aproximação da realidade institucional multicampi da UFPB. Esses cursos tornaram-se
representativos do amplo processo de reformulação curricular em realização na instituição
São os seguintes os cursos selecionados: Matemática (CCEN), Educação Física (CCS),
Pedagogia (CE), História (CCHLA), Ciências Agrárias (CFT), conforme detalhamento
(Quadro I).
31
QUADRO I - CURSOS DE LICENCIATURA SELECIONADOS
CAMPUS CENTRO CURSO RESOLUÇÃO UFPB
LICENCIATURA CONSEPE (PPP) Legislação Federal
I CE Pedagogia Resolução 39/1999; Parecer CNE/CP nº 5
Resolução 34/2004; de 13/12/2005 ;
Resolução 13/1996 Parecer nº 6 CNE/CP
Resolução 64/2006 2006; Resolução
CNE/CP nº 1 2006.
CCS Educação Física Resolução 39/1999; Resolução CNE/CP
Resolução 34/2004; nº 2/2002;
Resolução 04/2004 PARECER
Nº 9 de 30/04/90 CNE/CES Nº 0138
de 03/04/2002;
Resolução CNE/CP
nº 7/2004.
CCHLA História Resolução 39/1999; Resolução CNE/CP
Resolução 34/2004; nº 2/2002;
Resolução 04/2004; RESOLUÇÃO
Nº42 de 09/09/1996 CNE/CES nº 13, DE
Nº17 de 07/06/2004; 13/03/2002.
Nº 17/2006.
CCEN Matemática Resolução 39/1999; Resolução CNE/CP
Resolução 34/2004; nº 2/2002;
Resolução 04/2004 Resolução N.º:3
Nº 9 de 26/04/88; 2003; CNE/CES nº
Minuta de Resolução 1.302/2001.
PPP
III CFT (Técnicas Resolução 34/2004; Resolução CNE/CP
Agropecuárias) Nº 41 de 29/09/2003 nº 2/2002;
Ciências Agrárias
Fonte: Dados da pesquisa. Organização: RCCP.
32
É importante assinalar que dado o amplo processo de reformulação já em
andamento, outros cursos de licenciatura teriam perfis para serem selecionados para a nossa
pesquisa. No entanto, optamos por aqueles que representavam as diferentes áreas do
conhecimento e centros com cursos de licenciatura, os quais passaram a compor o nosso
quadro de análise. Claro está que outros cursos de licenciatura, que não apenas esses,
poderiam ter sido escolhidos, mas a nossa opção no momento foi por aqueles que tinham o
processo de PPP mais avançado, considerando os seus respectivos centros. No
desenvolvimento da nossa pesquisa, observamos, no entanto, que nem sempre esses cursos
com o PPP mais avançado, alcançaram sua finalização no tempo esperado. Como
analisaremos no capítulo quatro, a conclusão dos PPPs dos cursos de licenciatura
selecionados foi adiada devido à procrastinação do MEC/SESu na elaboração das
resoluções e diretrizes curriculares nacionais (DCNs).17
17
Podemos citar aqui o caso do curso de Pedagogia, que embora tendo sua primeira versão documental de
DCN datada de 1999, somente logrou aprovação em 2006.
33
elaboração dos PPPs dos cursos de licenciatura; participamos das reuniões do Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) quando tratavam de deliberar sobre políticas de
formação de educadores no período compreendido entre os anos de 1993 e 200018.
Enfatizamos esses dados da observação por entender que eles contribuem para uma
sistematização do que ocorreu na UFPB nos anos de 1993 e em 2003-2004. Nesse sentido,
valemo-nos da nossa experiência enquanto parte da equipe de uma dessas administrações,
para rever o caminho percorrido no período referenciado e refletir sobre os momentos
significativos de concretização da política atual. Poderíamos também ter realizado outro
percurso, no entanto a observação e as leituras sobre o que se desenvolveu nesses espaços
demonstravam haver a continuação de um projeto iniciado na década de 1990. Assim,
retomamos o itinerário que a instituição vivenciou em dois momentos distintos: 1993, ano
considerado para início desta pesquisa e o período entre 2003- 2004, em que a observação
foi intensificada.
Novo reitorado, apoiado pelo movimento docente e com um projeto de incluir cada
setor da universidade em um projeto de avaliação institucional. O processo, sob a
coordenação do Reitor, foi iniciado com base num amplo debate com a comunidade
universitária. Criou-se o Programa de Avaliação Institucional e com ele uma comissão
institucional para coordenar a avaliação. Realizaram-se várias oficinas administrativas para
que os gestores balizassem a nova forma de trabalhar coletivamente.
O projeto de avaliação, após discutido e aprovado no Conselho Universitário
(CONSUNI) e no CONSEPE, formalizou as orientações a todos os setores para que
concretizassem sua avaliação institucional; todos os setores realizaram sua avaliação e
fizeram auto-avaliação. Coube à PRG coordenar a avaliação de todos os cursos de
graduação, pela qual ficou evidenciado que a maioria dos cursos estava com currículos
18
Embora devamos considerar também o fato de que a pesquisadora é docente da instituição, desde o ano de
1992, e participou da administração da instituição, ressaltamos que no período estudado, o olhar à distância
nos trouxe novas percepções para a análise a ser feita.
34
defasados. No mesmo ano, foram realizados os dois grandes eventos da instituição,
Seminário de Avaliação Institucional e I Seminário Oficina de Currículos, que ofereceram
suporte para que os cursos, em cada um dos centros de ensino e suas coordenações
pudessem ter um norte para suas reformulações curriculares e, conseqüentemente, para
construção dos PPPs. Esses eventos e reuniões tornaram-se freqüentes na universidade.
Esse modelo de participação foi percebido e implantado no interior dos centros e dos
cursos. Embora naquele ano não fizéssemos parte da equipe, pudemos acompanhar,
enquanto professora, esses e outros debates que orientaram o resgate da historia
institucional. Estivemos presente na referida I Oficina de Currículo,(1993) para a qual
contribuiu o professor Luiz Carlos de Freitas da UNICAMP/FE na qualidade de
conferencista, discorrendo sobre a temática “Os currículos de Graduação: Como reformulá-
los? Essa conferência fazia parte de um amplo processo de debate nos grupos de trabalho
que vinham desenvolvendo a temática, por área de conhecimento, durante o período (25 a
27/08/1993) da I Oficina de Currículo. Fomos, naquele evento, uma das expositoras para os
cursos de licenciatura em que discorremos sobre o tema “As licenciaturas em questão”.
Essa oficina prestou uma grande contribuição para que a comunidade reforçasse o
trabalho da construção coletiva das reformulações curriculares e, ao mesmo tempo,
aprovasse uma metodologia e uma proposta para a definição de uma política de
reformulação curricular na UFPB (UFPB/PRG, 1993, p. 5).
Os resultados desses encontros eram retomados nas reuniões da PRG com suas
assessorias (CCP, CPME, CEM e CODESC) e nas reuniões da PRG com diretores de
centros de ensino e assessores de graduação, reuniões com coordenadores de curso
incluídos na dinâmica de construção dos PPPs e, por fim, nas propostas que eram
submetidas à apreciação do CONSEPE.
Dessa forma o percurso das ações coletivas se iniciava nas reuniões da equipe
administrativa, cabendo às Pró-Reitorias a coordenação do processo. A Pró-Reitoria de
Graduação coordenou as reuniões e os eventos que tratavam do ensino de graduação.
35
Anos de 2003 e 2004
19
Embora a instituição tenha mantido os Encontros de Licenciatura, observamos que a configuração de 2004
difere da de 1994 . Trata-se de um espaço para que os estudantes apresentem os seus trabalhos, resultados dos
projetos de ensino, pesquisa e extensão. Não há mais aquele espaço de discussão das políticas de formação
do educador.
36
definir os seus PDIs. Falou também o Reitor que o PDI fazia parte do Planejamento
Estratégico Participativo.
Os contatos com a PRG deram-nos oportunidade de maior aproximação com outros
espaços, nos quais essa política era discutida. Assim:
Das reuniões da PRG com as suas assessorias, extraímos as seguintes temáticas e
informações sobre: orientação e elaboração dos PPPs dos cursos: organização do VIII
Encontro de Iniciação à Docência, Monitoria, PROLICEN, Programa Especial de
Treinamento (PET) e redefinição dos Programas de Avaliação Institucional e do Programa
Estudante Convênio Rede Pública (PEC-RP).
Das reuniões da PRG com coordenadores de cursos, concluímos que o foco
principal da temática era a necessidade de elaboração dos PPPs ou sobre alguma
deliberação ministerial em torno das resoluções que regulamentavam as diretrizes
curriculares nacionais. Nesse período, parece haver ocorrido um deslocamento da política
construída, de grandes eventos para uma política de orientação localizada. A política que
antes tinha a avaliação institucional e construção de PPPs como eixos, passou a ser
orientada em função do Planejamento Estratégico e PDI .
O Relatório de 2003: Avaliação dos docentes pelos discentes expressa a concepção
de que “A avaliação é um processo institucional, integrado ao plano de desenvolvimento
institucional PDI. [...]. e de que os projetos político-pedagógicos dos cursos constituir-se-ão
referência central do processo de avaliação institucional” (UFPB/PRG, 2004a, p. 9).
Percebe-se que passa a existir uma evidente vinculação dos PPPs às exigências do PDI.
Nas reuniões dos centros encontramos diversas evidências relativas à temática
‘elaboração dos PPPs’ e uma certa vaidade e interesse dos diretores em concluir os PPPs
dos cursos no menor tempo. Assim expressa um dirigente que foi entrevistado:
a gente sempre tentou recuperar o que era feito na UFPB, trazendo para
o centro, convidados dos eventos realizados pela PRPG e pela PRG.
Seminários com professores especialistas no assunto de licenciatura,
vieram para o nosso centro. Há uma participação, inclusive, convidamos
os especialistas da PRG, para coordenar encontros aqui, discussões com
os coordenadores de curso, com representação de alunos para orientar os
projetos político-pedagógicos. (ED)
Nas reuniões dos cursos a preocupação maior se refere à condução dos debates
organizados pelos coordenadores e pela comissão de elaboração dos PPPs para serem
37
submetidos à deliberação das assembléias, aprovação nas instâncias dos departamentos,
colegiados de cursos, conselho de centro e CONSEPE, como fala um coordenador:
38
deliberação sobre a não participação da UFPB na comissão que elaboraria o modelo de
competência para professores. Acompanhamos o desenrolar dessas discussões em vários
momentos, no Centro de Educação e na PRG. Voltamos a acompanhar outra reunião, desta
vez em 2004, quando a CCP/PRG divulgou a consolidação do documento elaborado pela
comissão e aprovado pelos representantes dos diversos cursos de licenciatura da instituição,
que se traduziu em uma minuta de resolução. De acordo com a coordenadora “essa minuta
é o resultado de vários debates no interior da UFPB que foram iniciados nos encontros de
licenciatura na década de noventa e são incorporados aos atuais debates da ANFOPE, do
FORGRAD e do FORUMDIR para as licenciaturas” .
Reunião do CONSEPE - Solicitamos autorização para acompanhar as reuniões que
por ventura incluíssem em pauta algum PPP de curso de licenciatura ou mesmo algumas
decisões que tratassem da política vinculada a esses cursos. Nesse caso, participamos de
duas reuniões. Uma que aprovou o PPP do curso de Licenciatura em Ciências Agrárias, e
outra que aprovou a Resolução nº 04/2004, que “Estabelece a Base Curricular, para
Formação Pedagógica dos Cursos de Licenciatura”. Observamos que enquanto a minuta do
PPP foi aprovada com pouca discussão, a da base curricular exigiu uma maior discussão
tendo em vista que se tratava de uma resolução para todos os cursos de licenciatura. Houve
sugestões de acréscimo de uma nova disciplina pelo relator daquele processo, tendo a
mesma sido acatada por todos os conselheiros.
Reunião da PRG com coordenadores de cursos, assessores de graduação,
coordenadores de Estágio Supervisionado e de Prática de Ensino, bolsista do PROLICEN e
representantes da Comissão Institucional – Observamos várias reuniões, entre estas
queremos destacar uma que apresentou a resolução nº 04/2004, que regulamentou a Base
Curricular para Formação Pedagógica dos cursos de licenciatura e discutiu a forma de sua
implementação nos cursos de licenciatura. Observamos que nessa reunião os participantes
queriam maiores esclarecimentos quanto à incorporação desta aos PPPs dos diferentes
cursos de licenciatura. Considerando a grande participação dos coordenadores, durante um
ano na construção dessa minuta, percebemos que ainda havia muitas dúvidas em relação ao
inciso IV, do artigo 1º que trata da “interdisciplinaridade entre os diversos campos do
conhecimento e da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e articulação entre
teoria e prática”. Uma outra questão que veio à tona foi o descontentamento de alguns
39
cursos em relação ao tamanho da carga horária - 825 (oitocentas e vinte e cinco) horas-aula
para a Prática Curricular e o Estágio Supervisionado que seriam ministradas por professores
do Centro de Educação. Observei que as respostas eram dadas em função das deliberações
coletivas durante a construção da minuta. Ou seja, a coordenadora sempre aliava a sua
resposta ao resultado da construção coletiva.
Assim, podemos destacar alguns “achados” que vieram da prática dos espaços
coletivos e que apareceram com maior incidência nas reuniões de observação. São eles: a
valorização da política institucional a partir do trabalho coletivo, a elaboração dos PPPs,
regulamentação antecedida de debates democráticos nos encontros institucionais,
valorização dos princípios aprovados coletivamente a exemplo daqueles indicados no inciso
II, artigo 3º da resolução 39/99 e inciso IV, Art. 1º da resolução 04/2004 quando tratam da
integração ensino, pesquisa e extensão, a interdisciplinaridade e da unidade teoria e prática.
Observamos também que há uma grande incidência nas falas a respeito da transformação
da instituição e do reconhecimento da história de resistência que a mesma vem
desenvolvendo desde os anos 1990. Nesse sentido a instituição, pelos seus sujeitos,
reconhece as mudanças que foram incorporadas a partir do trabalho coletivo. Tendemos a
concluir que houve avanços, concordando com uma participante da Comissão Institucional
quando afirma que “talvez essa construção não seja a melhor, mas foi a melhor que
conseguimos aprovar coletivamente”. Há os que discordam e acham que esses debates
podem dificultar uma decisão mais rápida quanto à elaboração dos PPPs, como é o caso de
um coordenador que emite a seguinte opinião: “quanto mais a gente debate, mais o PPP
demora a ser aprovado”. Outro professor emite sua satisfação dizendo: “eu acho que esse
ano houve mais uma vez um incentivo para acelerar essa discussão. Eu acho que agora
vai. As outras resoluções que foram aprovadas vão dar um novo alento e provavelmente
até o fim do ano teremos mais projetos aprovados”
Observação das reuniões de coordenação de curso - Observamos cinco reuniões
durante as quais as coordenações de curso se reuniram com a comissão para elaboração do
PPP. Nessas reuniões são tratadas questões referentes aos princípios aprovados e à
normatização do projeto. Para sintetizar esse esforço de observação, apresentamos a seguir
(Quadro II) o registro das atividades realizadas, os sujeitos envolvidos e o tempo de
observação dessas práticas da vida acadêmica da IES. As observações mais pontuais e
40
focalizadas nos objetivos desta tese, realizadas nos meses de janeiro, fevereiro e março de
2004, geraram um total de aproximadamente oitenta e três horas de observação direta.
41
Organização e sistematização dos dados
42
política de formação de educadores na UFPB e seus desdobramentos, embora já existisse a
demanda oficial, nos termos da resolução 02/2002 do CNE/MEC.
Do mesmo modo, acompanhamos o processo de discussão do que veio a ser
denominado de Portaria nº 1.403/2003 do CNE/MEC. Tal portaria instituiu o sistema
nacional de certificação e formação continuada, através da realização de exame para
avaliar conhecimentos, competências e habilidades dos professores em exercício nas redes
de ensino, como também dos concluintes dos cursos normais de nível médio e dos cursos
de licenciatura das instituições de ensino superior (SCHEIBE, 2004). O tema já era objeto
de discussões que ocorriam nas instâncias superiores de educação, como também nos
fóruns de educadores, entre os quais aqueles organizados pela ANFOPE, FORUMDIR e
PROLICEN/UFPB.
A criação desse sistema de certificação encontra-se na esfera das reformas impostas
pelos organismos multilaterais e referendadas pelo MEC em 2003. Os conteúdos dessas
políticas foram objeto de rechaço por parte da ANFOPE e também do PROLICEN/UFPB,
que expressaram uma posição de discordância à intenção de fixação dessas bases de
certificação propostas pela SESu/MEC. Um documento foi elaborado na UFPB pela
comissão definida pelo fórum de coordenadores para encaminhamento às instâncias
superiores do MEC e também à ANFOPE. Tal documento que expressa a posição da
comunidade da UFPB, conforme definida pela comissão de coordenadores, deveria ter sido
encaminhado pela administração da Universidade ao MEC. No entanto, há controvérsias
sobre o seu encaminhamento: se o documento (ANEXO G) teria sido realmente entregue ao
MEC.
No decorrer da observação, fomos surpreendida pela informação dada por um dos
participantes dos grupos de discussão de que aquele documento não havia sido
encaminhado ao MEC, denotando um recuo da instituição no encaminhamento das críticas
elaboradas pelo movimento dos professores. Se o documento foi entregue, por que não há
registros de resposta do MEC? Mas, podemos aventar também a hipótese de que, tendo sido
enviado, a posição da UFPB não agradou ao MEC, uma vez que a instituição não foi
convidada a participar da démarche que levou outras instituições a comporem com a equipe
definida para fixar as bases de certificação de competências. Aventamos a hipótese de que
esses silêncios e os medos de esclarecer o ocorrido parece constituir uma estratégia de não
43
trazer a público o que ocorria nos bastidores ou de não fazer registro dos enfrentamentos
que se revelaram nas práticas e cotidiano institucionais. Fica aqui expresso, em termos
analíticos, o registro de que há silêncios vários que expressam as formas de resistência dos
atores, no caso, instituições (setores da UFPB ou instâncias do MEC) que significam recuos
ou explicam os impasses decorrentes da ação ou confrontos entre a atuação dos
movimentos e aquela das instâncias que regulamentam a política oficial.20 Esses impasses
foram ou são oportunamente confrontados por formas de resistência nem sempre positivas.
A estratégia de aproximação da realidade nos proporcionou ampliar o conhecimento
sobre o intrincado processo de produção da política institucional, o que, juntamente com o
uso das outras técnicas adotadas, nos proporcionou responder aos objetivos da investigação.
20
Significativa é a evidência de que o MEC sustou a regulamentação do que instituía a portaria mencionada,
ficando à espera de um debate nacional que veio atualmente à tona, no final do ano de 2006.
21
O curso de Pedagogia foi escolhido por ser o curso responsável pela base curricular da formação
pedagógica para todos os cursos de Licenciatura da UFPB.
44
de análise, sem deixarmos de acompanhar os demais cursos que se encontravam em
processo de discussão e no aguardo da aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) do CNE. Como era nosso objetivo analisar um curso por área, seguimos os
processos dos seus PPPs em andamento até o ano de 2006, quando os demais cursos,
exceção feita ao de Educação Física, concluíram os seus PPPs. Visando esclarecer os casos,
voltamos em 2006 aos coordenadores dos cursos para completar as entrevistas realizadas no
ano de 2004.
Foram escolhidos os coordenadores de cursos de licenciatura dos cinco cursos
selecionados – Ciências Agrárias, Educação Física, Matemática, História Pedagogia. Além
destes, foram entrevistadas a coordenadora e a assessora de currículos e programas, a
diretora de Centro, CCHLA, um estudante bolsista do PROLICEN/UFPB e uma
funcionária da PRG (Quadro III).
Foram realizadas 10 entrevistas em 2004, envolvendo cinco coordenadores de
curso, um diretor de Centro, dois assessores da PRG, uma funcionária e uma estudante
bolsista. Com o propósito de análise, decidimos atualizar a compreensão dos processos de
construção dos PPPs, de modo a colher uma versão contemporânea da realidade vivenciada
pelos coordenadores de curso. Para tanto, fizemos entrevistas com coordenadores atuais,
que contribuíram para melhor acompanhamento das fases de construção dos PPPs na
expectativa de examinar o campo de possibilidades de realização desses processos, em
momentos diferentes da instituição. Essas entrevistas foram complementadas em 2006 por
cinco entrevistas com os atuais coordenadores, sendo um curso representado pela
presidente da comissão de elaboração do PPP do mesmo. Sendo assim, temos informações
relativas aos cinco cursos, obtidas das entrevistas com nove coordenadores, dos quais
quatro do sexo feminino e cinco do sexo masculino; um dos coordenadores entrevistados
em 2004 continuava no exercício da coordenação em 2006. Ouvimos também dois ex-
coordenadores que foram entrevistados em 2004 e que continuavam a participar da
comissão de elaboração do PPP do seu curso, o que revela o envolvimento pessoal e
coletivo desses sujeitos com os projetos de universidade e de sociedade que moveram a sua
participação. Assim, foram realizadas entrevistas com catorze participantes-chave, três dos
quais foram ouvidos duas vezes. A complementação das informações e atualização dos
dados contribuíram para ampliar o nosso espectro de observação.
45
As entrevistas semi-estruturadas com duração aproximada de uma hora e meia para
cada coordenador seguiram um roteiro para obter informações sobre a questão principal
desta tese. O roteiro se constituiu no nosso instrumento de trabalho e versou sobre: os
principais aspectos da política de formação dos profissionais da Educação desenvolvida
pela UFPB; a importância do Programa de Licenciatura da UFPB (PROLICEN/UFPB) para
a construção dessa política; o envolvimento do entrevistado com o movimento dos
Profissionais da Educação; experiências relativas à maneira como os cursos de licenciatura
da UFPB trabalham os projetos político- pedagógicos – PPPs; reconhecimento das
Resoluções nº 39/99 e 04/2004, do CONSEPE relativa à sistemática de elaboração e de
reformulação dos projetos político–pedagógicos dos cursos de graduação e base curricular
para a formação pedagógica dos cursos de licenciatura; formas de participação da
comunidade do curso na construção dos PPPs; principais dificuldades enfrentadas;
percepção sobre a influência dos instrumentos de política do MEC e do movimento dos
educadores catalisados pela ANFOPE na década de 1990; sobre a política institucional da
UFPB; PROLICEN/UFPB; reformulação dos projetos político-pedagógicos – PPPs e
participação da comunidade do curso na construção do seu PPP.
Esse roteiro foi inicialmente testado; para respondê-lo, optamos por uma escolha
intencional pela qual os atores foram selecionados a partir da sua atuação dentro da política
da UFPB para os cursos de formação do educador. Os que participaram dessa amostra
tinham como característica comum o fato de haverem atuado na PRG/UFPB, nas
coordenações de cursos, no PROLICEN/UFPB, na Comissão de Elaboração de PPPs. Dos
14 (quatorze) participantes, 5 (cinco) eram coordenadores(as) de curso de licenciatura
(EC1, EC1A, EC2, EC2A, EC3, EC4, EC4A, EC5 EC5A) ;1(uma) diretora de centro
(ED);1(uma) coordenadora de currículos e programas (ECCP);1 (uma) assessora de
currículos e programas (EACCP); 1(uma) estudante bolsista do PROLICEN/UFPB (EE); 1
(uma) funcionária da PRG (EF). (QUADRO III)
46
QUADRO III - DADOS DAS ENTREVISTAS
47
construção dessa política institucional ou que participavam de algum cargo de direção,
coordenação de curso, órgãos colegiados acadêmicos ou sindicais ou dos movimentos de
formação de educadores.
A seleção dos participantes dos Grupos Focais foi feita cuidadosamente de modo a
contemplar a necessidade de ouvir sujeitos mais qualificados pela abrangência de situações
vivenciadas e experiências no campo de estudos, os quais foram motivados a falar das suas
experiências individuais e coletivas sobre as questões tratadas nesta tese.
Com base no que sugere Morgan (1997) em relação ao planejamento do grupo
focal, levantamos as opções possíveis:
48
instâncias diferenciadas da universidade. Em todos os grupos, a pesquisadora participou
também como mediadora.
Nos meses de - junho e julho de 2004 - realizamos a experiência com os grupos
focais propriamente ditos. Convidamos 27 participantes para os grupos de discussão.
Explicitamos os objetivos da pesquisa e a relevância das suas experiências para a
compreensão do objeto de estudo. Marcamos a data e o local da discussão. Com a
confirmação de 21 participantes, organizamos três grupos focais; preparamos o ambiente,
pois precisávamos gravar e filmar. O ambiente foi organizado com uma mesa ao centro,
onde foram colocados água, café e biscoitos, de modo que os participantes pudessem
interagir de forma descontraída e pudessem se locomover durante o tempo determinado
para a discussão. A discussão, totalmente gravada, teve a duração de uma hora e trinta
minutos a duas horas, para cada um dos 3 grupos. As conversas se prolongaram além das
gravações. Os grupos foram formados com um número que variou de quatro a nove
participantes; contamos, também, com a participação de uma estudante para a filmagem e
manuseio do gravador e atuamos como mediadora, como já explicitamos anteriormente.
O trabalho foi iniciado com uma explanação a respeito da temática e dos objetivos
da pesquisa e das questões de interesse do nosso estudo, considerando as especificidades
dos grupos: Grupo Institucional; Grupo de Centro; Grupo de Curso. As questões visavam
entender qual era, segundo a avaliação do participante, a política adotada pela UFPB para
os seus cursos de Formação dos Profissionais de Educação, no período de 1993 a 2000,
quando foram iniciados os Programas PEC/RP e o PROLICEN e, nos anos subseqüentes,
considerando os procedimentos adotados para a construção dos PPPs na UFPB; avaliação
própria sobre a política implantada na IES, sua relação com as linhas de ação do
movimento dos educadores e das políticas do MEC; aspectos relevantes; singularidades e
contradições, avanços dos movimentos e processos de regulamentação do MEC; discorrer
sobre as possíveis implicações para as ações da UFPB na elaboração e construção dos
PPPs, ações para a implantação dos PPPs na UFPB.
Em geral, havia a expectativa de compreensão desses aspectos acima delineados,
com base no que expressavam estudantes, professores, administradores. Na configuração
desses grupos, que se constituíram em resposta ao convite que fizemos, estavam
representadas as categorias selecionadas (Quadro IV). Entretanto, registramos a ausência de
49
representantes dos funcionários e dos estudantes; tais ausências, quiçá seja um indicador da
volatilidade dos estudantes ou do pouco envolvimento de funcionários em questões que
possam parecer, segundo seus pontos de vista, do domínio da burocracia e fora da sua
esfera de poder. Tais ausências refletem também a pouca representatividade dessas
categorias nos próprios grupos de discussão institucionais e/ou nos movimentos dos
educadores.
Realizar uma pesquisa constitui um processo pontual com tempo definido e prazos a
serem cumpridos, sendo assim, embora reconhecendo os limites apontados no que se
referem às vozes de funcionários e estudantes nos grupos focais, permanecem a validade e
legitimidade daquelas que atenderam ao nosso convite.
50
ii - Dinâmica dos grupos focais: especificidades dos grupos
Os grupos focais foram preparados através de convites verbais aos que por sua
participação prévia ou atual contribuíram para a avaliação institucional ou para a dinâmica
de construção dos PPPs. Numa visita à PRG, realizamos uma reunião visando reconhecer
os possíveis participantes-chave entre estudantes e professores que poderiam contribuir
com a nossa pesquisa. Construímos uma rede de informações para, ao final, definir aqueles
que seriam integrados ao grupo, o que se deu por adesão. O primeiro grupo de Centro, o de
Educação, o segundo foi o grupo institucional, e o terceiro o de curso, que requereu um
esforço redobrado de atenção para a montagem da agenda de reunião; naquele momento
havia uma greve de estudantes e professores, dificultando o processo mas, conseguimos
formar os grupos de 6 a 9 participantes, atendendo ao que propõe Morgan para os grupos
focais. A temática era apresentada aos participantes como uma pesquisa para esta tese, que
requeria o conhecimento da política de formação dos profissionais da educação e a
construção dos projetos político-pedagógicos; pedimos aos participantes que se
apresentassem para conhecimento prévio do grupo e para falar sobre a sua experiência com
a temática estudada. Os grupos foram assim formados:
51
-1 (uma) Coordenadora do Programa Especial de Estudante Convênio – Rede Pública
(PEC/RP).
-1 (um) ex-aluno bolsista do PROLICEN/UFPB.
Dentre os atores participantes, 3 são mestres, sendo que, uma está fazendo o
doutorado, enquanto 3 já são doutores, 1 tem especialização e 1 é graduado em Letras e ex -
bolsista do PROLICEN. A faixa etária varia de 20 a 60 anos de idade. A experiência
individual em magistério varia de 5 a 33 anos. Apenas um deles é professor da Educação
Básica e os demais são todos professores da UFPB com regime de dedicação exclusiva há
mais de 14 anos. Um faz parte do Departamento de Tecnologia Química e de Alimentos, 1
do Departamento de Arquitetura, ambos do Centro de Tecnologia (CT), 1 do Departamento
de Psicologia do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), 1 do
Departamento de Habilitações Pedagógicas (DHP) do Centro de Educação (CE), 1 do
Departamento de Biologia Molecular (DBM) Centro de Ciências Exatas e da Natureza
(CCEN), 1 do Departamento de Educação Física do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e
1 do Departamento de Economia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA).
Todos os que são professores da UFPB já exerceram algum cargo de chefia: 7 foram
coordenadores de curso, 4 chefes de departamento, 2 coordenadores do PEC - RP, 2 Pró -
Reitores de graduação, 1 Pró – Reitor adjunto de graduação, 1 presidente do CPME, 1
Assessora do CPME, 1 Coordenador de Escolaridade da PRG, 1 Assessora do CCHLA, 1
Assessora de pesquisa da PRG e 1 Assessora especial para assuntos de C&T e EAD. Entre
eles, dois participaram, quando estudantes, de comissões na Experiência Piloto de
Integração Interdisciplinar do Curso no qual se graduaram. Apenas um professor não
participou da construção do PPP do seu curso. Quatro participaram de algum movimento
educacional, como a ANFOPE, PROLICEN, Fórum de Pró-Reitores de Graduação das
Universidades Brasileiras, FORGRAD e ABED e apenas 1 deles participou de movimentos
sociais da ADUNICAMP e da ADUFPB – JP.
52
alguns participantes tivessem que se ausentar uma hora depois de iniciada a discussão, para
uma reunião no gabinete do reitor, ela se desenvolveu de forma interativa e com muito
entusiasmo.
Grupo de Centro
Caracterização do Grupo
53
pastoral da juventude na experiência de educação popular; apoio ao movimento do campo e
ao movimento ambientalista.
54
regime de dedicação exclusiva e teve a duração de uma hora e trinta minutos de gravação
da discussão. Esse grupo foi denominado de Grupo de Centro.
Grupo de Curso – GH
Caracterização do Grupo
55
PROLICEN/UFPB. Sete participaram de entidades sociais e sindicais como ADUF-PB,
vinculada ao ANDES/SN, ANPUH, CUT, SINTEENP; oito participaram de movimentos
sociais, tais como movimento estudantil, movimento de moradores, movimento de pastoral
da juventude na experiência de educação popular; movimento do campo, CUT,
Organização do Partido dos Trabalhadores na década de 80.
22
Participação no Encontro Estadual da Paraíba da Associação Nacional de Professores de História
(ANPUH).
56
iii - Sistematização dos Dados dos Grupos Focais
57
MODELO DE ANÁLISE
INTERAÇÃO DO MULTIMÉTODO
58
1.3 Análise dos Dados e Categorias de Análise
59
A gente lida o tempo todo com concepções diferenciadas ou então aquelas
concepções muitas vezes mais tradicionais em relação à formação, mas
no âmbito da instituição a gente vem, ou, vamos dizer assim, continua
reforçando essa política de formação sólida, que tenha clareza da função
social que um futuro educador vai desempenhar junto à sociedade, quer
dizer, há um eixo nessa direção, um eixo forte, porque pra mim um eixo, é
vamos dizer assim, o fundamento central que a partir dele a gente lê;
outras vão se incorporando, então esse eixo é exatamente o compromisso
social com a democratização da educação e da própria sociedade que são
aquelas lutas da ANFOPE (ECCP).
Essas questões foram igualmente debatidas nos grupos focais. Esses grupos
registraram como essa política vem sendo desenvolvida na UFPB, segundo as diferentes
instâncias envolvidas. Observamos que o Grupo Institucional formado por atuais ou
anteriores representantes da administração universitária, enfatizou, através das falas dos
sujeitos participantes, os resultados práticos da política adotada, referindo-se a uma
avaliação que foi realmente discutida com a comunidade, que foi construída de forma
bastante coletiva [...] que proporcionou uma confluência entre o projeto político-
pedagógico e a avaliação institucional, como sugerido no grupo.
Já no Grupo de Curso é enfatizada a estreita relação entre UFPB, o MEC e a
ANFOPE que passa a interferir, com certa alternância no campo da construção dos PPPs
[...] enquanto havia uma relação mais estreita com o movimento dos
educadores, no caso com a ANFOPE, num momento anterior, a relação
mais estreita da UFPB é com o MEC, no final dos anos 90 sobretudo
depois de 96, eu acho que ele tem uma marca de mudança dada pelo
MEC, pela LDB, por uma série de mudanças aí, ou seja, a reconfiguração
todinha institucional, normativa do ensino, da educação brasileira, do
ponto de vista normativo. E isso influencia, pra mim, a mudança (GH1)
60
desses projetos que os problemas passam a aparecer. Como argumenta uma das
participantes do Grupo de Centro, ao falar das ações desenvolvidas:
[...] O único que não deu, assim, digamos assim, a gente não conseguiu
implementar, que foi o Fórum de Educação da universidade, que a gente
envolvia secretários de educação, Pró-Reitores, representantes das
entidades sindicais. A gente criou, mas ele não teve, assim, não continuou
[...] alguns problemas que dificultaram a sua continuidade. Mas teve o
GT de licenciatura, com ele a gente implantou o PROLICEN, porque
naquela época o PROLICEN era aprovado pelo MEC, era financiado, em
94. E nós iniciamos, elaboramos um projeto, e foi... ele foi aprovado entre
vários em nível nacional. E foi a partir do PROLICEN que eu acho que
desencadeou assim, com mais força e com mais trabalhos, essa área de
formação do educador. Depois no Governo Fernando Henrique, ele
continuou ... foi o governo que cortou as verbas e a gente tinha, acho que
eram 60 bolsas, sendo 38 do MEC. Nós continuamos com o
PROLICEN/UFPB. ( GP2).
61
A instituição atua continuamente num campo de forças, tendo que se posicionar
perante as deliberações do MEC e da ANFOPE. Embora haja evidências de que os atores se
posicionem mais ao lado dos movimentos sociais organizados, reconhece-se que, por serem
integrantes da UFPB, uma instituição federal, dependem dos recursos do MEC, não há
como se afastar das imposições dessa última instância. Sendo assim, desenvolvem formas
de resistência para dar continuidade aos programas construídos coletivamente mesmo
quando os apoios e recursos tenham sido suspensos pelos órgãos federais.
Na sua proposta para codificação dos dados, Morgan (1997, p.60-62) adverte sobre
a necessidade de se considerar um determinado elemento, se incluímos falas dos indivíduos
membros de um grupo ou se ele, o grupo, contém alguma expressão desses elementos. É
fundamental destacar que os grupos ressaltam a importância dos movimentos dos
educadores, do PAIUB, do PROLICEN, do PEC/RP, do GT Licenciatura, bem como a
confluência entre a avaliação e o Projeto Político-Pedagógico na perspectiva da construção
da política de formação do educador. Fica evidente que a política da UFPB se apoiou mais
nos movimentos dos educadores, no entanto observamos que diante da reforma do Estado
e, em especial da reforma educacional do governo FHC, apareceram outros impasses na
política que seria adotada pela universidade, como emergem das falas sublinhadas no
capítulo IV.
Na análise documental, esses temas são constatados já nos primeiros projetos do
PROLICEN/UFPB (1994) quando se referem à participação de professores da UFPB nos
encontros da ANFOPE (quando esta ainda era comitê Pró-Formação do Educador); na
organização dos Encontros Estaduais sobre Formação do Educador e na organização do seu
I Seminário As Licenciaturas em Questão.
De acordo com o projeto do PROLICEN/UFPB (1995b, p.4), “[...] a UFPB vem
desenvolvendo ações no sentido de propiciar as condições necessárias para a avaliação dos
cursos e reformulação dos seus currículos, tendo em vista a redefinição do perfil do
profissional que possa atender às demandas sociais”.
Nesta primeira aproximação de análise, na perspectiva de multimétodo, buscamos
mostrar a freqüência com que as categorias aparecem. Nessa direção, elegemos as primeiras
categorias de análise: Política de Formação do Educador; Projeto Político-Pedagógico e
Formas de Resistência. Todavia, outras também foram incorporadas no decorrer da
62
análise, tais como: impasses e singularidades, que serão analisadas com mais
profundidade nos capítulos seguintes, e em especial no quarto capítulo (QUADRO VII).
A realização deste trabalho nos permitiu compreender processos significativos da
íntima relação entre as diferentes instituições que aportam contribuições à formação do
educador. O uso da técnica de grupo focal, na perspectiva de multimétodo, nos ofereceu
aportes relevantes para responder à hipótese que definimos como a principal. Os
comentários que surgiram dos pequenos grupos cujos participantes estavam certamente
interessados no tópico e respeitavam-se uns aos outros, foram extremamente ricos para o
estudo. De acordo com Morgan (1997, p.42), a utilidade dessa técnica torna-se mais clara
“quando o pesquisador deseja uma precisa reação de cada participante a um tópico,
permitindo-lhe mais tempo para falar”. Para o autor, “interpretar os dados dos grupos focais
requer a distinção entre o que os participantes consideram interessante e o que eles acham
importante”.
A indicação pelos sujeitos do que eles consideram de importância é algo
extremamente significativo para análise; claro está, como complementa Morgan (1997,
p.62-64), que o que se quer saber pode e deve ser incluído na lista de tópicos, mas a mais
significativa evidência da relevância do tema tratado transparece do entusiasmo com que os
sujeitos reagem ao estímulo para falar sobre o mesmo, revelando não somente sentimentos
de concordância, consenso mas, igualmente, contradições, confrontos e silêncios.
No decorrer da nossa pesquisa foi notável o entusiasmo com que os participantes
reagiram ao problema proposto, uma revelação do seu envolvimento, da sua mobilização e
da significação da pesquisa para os avanços das práticas docentes. Como bem sugere
Freire, a pesquisa e as práticas docentes são indissociáveis. Os achados e categorias
analisadas, como veremos, retratam esse aspecto de como o desenvolvimento dessa relação
pode contribuir para a mudança e transformação nos termos de um projeto emancipatório
de sociedade. As análises apresentadas nos capítulos seguintes evidenciam também essa
expectativa de mudança e de transformação que fundamentam as falas dos sujeitos e as suas
práticas.
63
64
CAPÍTULO 2: POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O ESTADO
65
conectivas. Os intelectuais são os “prepostos” do grupo dominante para o
exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo
jurídico (GRAMSCI, 2001, p.20-21).
66
Convivemos com vários tipos de movimentos sociais organizados, entre os quais
podemos identificar aqueles diretamente vinculados à luta por: democracia, Anistia, direitos
políticos, desaparecidos; e vários outros relativos a reconhecimento de direitos: à terra, pela
reforma agrária; entre estes estão os que vieram a ser incluídos nos anos recentes, tais como
os movimentos indígenas, quilombolas, movimento dos sem-terra, dos sem-teto, entre
outros. Os movimentos sociais organizados tiveram características diferentes, uma vez que
nos anos 1980 visavam à redemocratização e, nos de 1990, se dirigiram a aspectos pontuais
da cidadania.
Na década de 1990, esses movimentos se organizaram na luta por direitos, como
bem argumenta Dagnino (1994, p. 104), “a luta por direitos – tanto o direito à igualdade,
como direito à diferença – constitui a base fundamental para a emergência de uma nova
cidadania”.
Em se tratando do Brasil, podemos afirmar que esse processo de (re)democratização
foi oficializado por pressão dos movimentos sociais na aprovação da constituição de 1988.
Essa constituição garantiu os direitos sociais do(a) cidadão/cidadã, dando visibilidade a
várias demandas de categorias sociais específicas. Para Scherer-Warren, (idem, ibidem) “a
sociedade civil nunca será isenta de relações e conflitos de poder, de disputa por hegemonia
e de representações sociais e políticas diversificadas e antagônicas”.
A respeito da noção de cidadania, Dagnino (op cit) acha que ela deriva e está
intrinsecamente ligada à experiência concreta de movimentos sociais; afirma que há duas
dimensões que presidem a emergência dessa nova cidadania: uma, ligada intrinsecamente à
experiência dos movimentos sociais, que de fato expressa e responde hoje a um conjunto de
interesses, desejos e aspirações de uma parte da sociedade, mas certamente não se confunde
com toda a sociedade; e aquela que se vincula à questão da democracia em todo o mundo.
Sendo assim, os movimentos dos profissionais da educação constituem parte desses
movimentos mais amplos pela cidadania e pela democracia. As demandas catalisadas pela
ANFOPE, por exemplo, se encaixam nesse novo terreno de lutas pela formação de
profissionais comprometidos com uma agenda política contra-hegemônica e emancipatória.
23
De acordo com Apple (2000, p.43): ‘o conceito de hegemonia refere-se a um processo no qual grupos
dominantes da sociedade se juntam formando um bloco e impõem sua liderança sobre grupos subordinados’.
67
A contestação aos tipos de atuação do Estado e as tentativas de criar um
movimento forte e capaz de levar a bandeira das mudanças requeridas para formar o
cidadão e a nova sociedade projetada utilizavam um conceito de Estado parcial
compreendido como um Estado máximo para o capital e mínimo para as políticas sociais.
Nesse sentido, seria um Estado de classe, como Peroni (2003, p.33) define o Estado
brasileiro “grande interventor a favor do capital, o que se manifesta em momentos de crise,
a exemplo da criação do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao fortalecimento do
Sistema Financeiro (PROER)”
Ainda sobre o Estado brasileiro da década de 1990, Dourado (2002, p.238) o define
como:
[...] historicamente caracterizado como ente partidariamente vinculado aos
interesses do setor privado configura-se por uma enorme dívida social no
sentido do alargamento dos direitos sociais e coletivos, ou seja, da esfera
pública. Desse modo, a inserção do país na lógica neoliberal, como
coadjuvante no processo de globalização em curso, sintonizado às
premissas de liberalização econômica, desregulação financeira, alterações
substantivas na legislação previdenciária e trabalhista e,
fundamentalmente, na intensificação dos processos de privatização da
esfera pública, têm sido apresentadas pelos setores dirigentes como um
claro indicador de modernização do até então Estado patrimonial. A
perspectiva neoliberal é, nesse contexto, ideologicamente difundida
apenas como reformulação da gestão do desenvolvimento capitalista, na
qual a desigualdade é aceita como norma, e o desemprego, como
contingência necessária ao desenvolvimento do capital.
Essa separação entre o privado e o público dá-se opondo o público que se faz
sinônimo do bem comum, do patrimônio coletivo, daquilo que não pode ser alvo de
apreciação egoísta ou particular, como bem argumenta Ribeiro (1994, p.31), mas, ainda
segundo o autor, isso não quer dizer estatal: pode haver uma esfera pública que não
pertença ao Estado, a exemplo de associações que não tenham por finalidade apenas o bem
dos seus donos; no caso aqui considerado o público passa a ser encarado como o Estado,
pelo menos no que significa objeto de poder.
Para o que se refere à relação entre Estado e Educação, consideramos pertinente o
uso da expressão Estado-avaliador, como sugere Afonso (2001, p.25), visando sublinhar o
fato de “estar em curso a transição, de uma forma de regulação burocrática e fortemente
centralizada, para uma forma de regulação híbrida que conjuga o controle pelo Estado com
estratégias de autonomia e auto-regulação das instituições educativas”. Esta perspectiva de
68
atuação do Estado é útil para as análises do nosso caso, considerando os aspectos das
políticas educacionais no Brasil, que emergem em sua dupla face de regulação e autonomia,
aqui expressas através dos seus instrumentos de avaliação e projetos pedagógicos.
Dadas as características do Estado, as políticas públicas geralmente são elaboradas
com maior ou menor participação da população; em casos excepcionais essa participação
tende a ser nula.
No caso do processo de elaboração da política educacional brasileira do início da
década de 1990, que foi considerado mais participativo comparativamente às duas décadas
que a precederam - tendo ocorrido em um contexto que guardava a efervescência da
participação social na Constituinte e que culminou com a aprovação da Constituição da
República Federativa do Brasil em 1988 - observa-se um mesmo ou semelhante movimento
de participação, dessa vez com os educadores e que foi, igualmente organizado para a
elaboração do projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e,
posteriormente, para a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE). O movimento se
ampliou a ponto de se constituir num Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
(FNDEP) e no I Congresso Nacional de Educação (CONED). O FNDEP resultou de uma
articulação de entidades e movimentos sociais organizados da sociedade brasileira, e o
CONED é um espaço que congrega educadores e sociedade civil, desde 1996, com o
objetivo de construir um projeto democrático para a educação brasileira. Nesse sentido, os
participantes elaboraram e aprovaram o primeiro PNE para a sociedade, o qual foi objeto de
disputa no congresso nacional 24.
Esse processo democrático foi atropelado pelo novo projeto neoliberal25 que se
disseminava no Brasil, enfatizado no final da década de 1980 com o inicio do governo do
Presidente Fernando Collor de Mello (1989/1992) e consolidado no governo do Presidente
24
A ANFOPE, ANDES – S.N., ANDE, AELAC, CNTE, UBES, UNE, DNTE/CUT e FASUBRA, são
algumas das entidades organizadoras do CONED. Para maiores aprofundamento, ver os documentos e
relatórios do CONED na home page www.5coned.org.br.
25
A doutrina neoliberal toma como base o projeto social neoliberal idealizado por Friedrich August Hayek.
que escreveu em 1944 o livro O Caminho da Servidão, onde mostra sua descrença na existência de uma
dimensão social. Suas idéias só foram incorporadas em 1970. Seu trabalho deu origem à doutrina neoliberal
em diversos paises. Inicialmente na Inglaterra, em 1979, por Margaret Thatcher e nos Estados Unidos, em
1980, por Ronald Reagan. e em outros paises, como Alemanha, na América Latina e Caribe, a exemplo do
Chile, Argentina, México. No Brasil essa doutrina se consolida nas políticas na década de 1990.
69
Fernando Henrique Cardoso (FHC) (1995/2002). Esse foi um período das reformas, como
sejam: a Reforma do Estado, a Reforma Educacional e outras destas decorrentes.
Essas reformas objetivavam atender às políticas em negociação com os organismos
multilaterais: Banco Mundial (BM), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD),
Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), na
perspectiva do Estado mínimo, segundo Draibe, (1993); Anderson, (1995); Sader e Gentili
(1995). Nesse contexto, o Estado perde parte do seu poder na condução do
desenvolvimento do país, seguindo nas suas políticas as diretrizes que emanam desses
órgãos; assim sendo, este Estado, através de suas instâncias governamentais, se apresenta
mais claramente como um órgão regulador, fiscalizador e avaliador (CUNHA, 2003;
MORAES, 2004; SILVA JUNIOR, 2002). Conseqüentemente, na medida em que se impõe
um modelo de financiamento, determinado por esses órgãos, transferem-se muitas das
obrigações estatais para outros setores da sociedade civil, como as Organizações Não-
Governamentais (ONGs ) e outras instituições.
Segundo tal modelo, o Estado promove privatização dos setores públicos com base
num entendimento de que os gastos públicos devem ser reduzidos; divulgam-se as idéias de
redução do Estado ou Estado mínimo, e implementam-se os instrumentos e políticas que
lhe dão suporte, apoiando as iniciativas das privatizações das grandes empresas estatais,
juntamente com o incentivo ao ensino privado, mercantilizando, de certo modo, o social.
70
com o PNE, elaborados pelos movimentos sociais e que foram (re) incorporados pelo
governo sob a lógica neoliberal.
Apoiado nesse modelo, o Estado passa a utilizar o discurso dos movimentos sociais
para justificar a implantação do seu projeto de reforma. Todavia, fica evidente a existência
de dois projetos distintos: um que agrega entidades organizadas da sociedade civil em
defesa do ensino público, gratuito e de qualidade; e outro, do governo, inspirado no projeto
neoliberal para atender ao que demanda o mercado.
A arena de disputa entre esses dois projetos é entendida nos estudos bourdieusianos
como ‘campo de força’ e nos estudos gramscianos como a disputa entre a sociedade civil
e a sociedade política. Estamos, pois, nos referenciando nestes autores para a compreensão
do nosso problema de estudo.
As reformas educacionais brasileiras foram impulsionadas no governo do Presidente
Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, e efetivamente implantadas no governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, que governou o Brasil pelo período de oito anos
(1995/1998 e 1999/2002) em dois mandatos. Denominamos este período como a Era FHC
que caracterizou-se pela reforma do Estado (PEREIRA, 1996; SILVA JUNIOR, 2002) e
pela redefinição do papel deste. Nesse contexto, o Estado aparece como regulador e
promotor do desenvolvimento em sentido amplo e deixa de ser o responsável direto pelo
desenvolvimento econômico e social, via produção de bens e serviços, promovendo várias
reformas institucionais, entre elas as do campo educacional. (CUNHA, 2003).
A política educacional pautou-se pela descentralização de responsabilidades e
terceirização dos serviços, pelo discurso da qualidade no sentido da produtividade, e pela
busca de maior eficiência e eficácia. Para isso, o governo utilizou-se do aparelho
educacional de escolas e universidades, interferindo em sua autonomia, para impor políticas
de controle de qualidade.
Essas políticas, aparentemente desarticuladas, entre as quais são exemplos: - Exame
Nacional de Curso (ENC), conhecido como PROVÃO; Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN); Fundo Nacional de Desenvolvimento e Valorização do Magistério (FUNDEF);
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN); TV Escola e, muitas outras, - foram sendo
normatizadas segundo o modelo neoliberal. Basta lembrar que várias medidas provisórias e
decretos foram assinados pelo Executivo no momento em que ainda se discutia a Lei de
71
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Isso caracteriza o que Cunha (2003)
chamou de verdadeira “normatização fragmentada” ou “reforma no varejo”. Para garantir
essas políticas, o MEC contou com o apoio do Conselho Nacional de Educação (CNE)
como órgão assessor responsável pela regulamentação do que o MEC encaminhava.
Embora muitas vezes mencionada e, de certo modo, convidada para discutir as
reformas, a participação da sociedade civil organizada não passava de uma forma de obter
consenso para garantir a aprovação dos projetos de governo. Os vários projetos já
previamente formulados eram
expostos ao debate. Entre eles podemos destacar a LDBEN nº 9.394/96, o Plano Nacional
de Educação (PNE), objeto da Lei nº 10.172, além da política de formação do educador26
que na referida década regulamentou a educação com base nas demandas do mercado. A
ANFOPE e o FORGRAD foram sempre convidados, embora suas contribuições não
tenham sido incluídas nos projetos e planos finais. Por exemplo, o decreto 3.276/99, que
retirou a base de formação docente do curso de Pedagogia, foi publicado antes da
finalização dos debates no interior dos movimentos.
A formação dos professores foi uma temática que sempre esteve na ordem do dia
das políticas do MEC na década de 1990, gerando debates em torno dos projetos de
formação. Sua regulamentação aparece no título IV Dos Profissionais da Educação no
artigo 62 da Lei 9.394/96, que estabelece:
26
Nesta tese, os termos: formação do educador, formação dos profissionais de educação, formação de
professores tratam da mesma política de formação nos cursos de licenciatura.
72
O artigo já antecipa a inclusão dos Institutos Superiores de Educação (ISE) como
um dos locais para a formação e, em conseqüência disso, a regulamenta por meio de
decretos, pareceres e resoluções, como podemos identificar no quadro V.
Nº LEGISLAÇÃO EMENTA
1 Resolução CNE/CP Dispõe sobre os programas especiais de formação de
02/1997 docente para as disciplinas do currículo fundamental do
Ensino Médio
2 Resolução CNE Dispõe sobre os Institutos Superiores de Educação
01/1999
3 Decreto 3.276 de 12/99 Dispõe sobre a formação em nível superior de professores
para atuar na Educação Básica, dá outras providências.
4 Decreto 3.554/00 Dá nova redação ao §2º do art.3º do Decreto 3.276 de
10/1999 que dispõe sobre a formação em nível superior de
professores para atuar na Educação Básica
5 Parecer CNE/CP Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
009/2001 Professores da Educação Básica, em nível superior, curso
de licenciatura, de graduação plena
6 Parecer CNE/ CP Dá nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001, que
028/2001 estabelece a duração e a carga horária dos cursos de
Formação de Professores da Educação Básica, em nível
superior, curso de licenciatura de graduação plena
7 Resolução CNE/CP Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação
01/2002 de Professores da Educação Básica, em nível superior,
curso de licenciatura, de graduação plena
8 Resolução CNE/CP Institui a duração e a carga horária dos cursos de
01/2002 licenciatura, de graduação plena de formação de
professores da Educação Básica de nível superior
9 Portaria MEC nº Institui Sistema Nacional de certificação e Formação
1.403/2003 continuada de professores
Tal arcabouço legal foi sendo implantado aos poucos, constituindo-se parte de um
projeto que atribuiu um caráter de aligeiramento à formação dos professores, com o
objetivo de atender às demandas do mercado27, num contexto que favorece o setor privado
27
Para maior aprofundamento ver Freitas, H, 1999, 2002; Scheibe 2003; Scheibe &Aguiar, 1999. Brzezinski,
1999 e dois números especiais da Revista Educação e Sociedade que trazem vários artigos referentes à
temática: o nº 68 “Formação de Profissionais de Educação: políticas e tendências” e o n º 75 “Dossiê:
Políticas Educacionais”
73
e a educação como um negócio. Numa instigante análise dessa conjuntura, Freitas H.
(2002) argumenta com clareza as implicações desse processo para a política de formação:
28
O PEC-RP - Programa Estudante Convênio-Rede Pública – foi criado em 1997 com o objetivo de oferecer
aos professores pertencentes às instituições públicas de ensino oportunidade de realizar um curso de
licenciatura na UFPB.
74
O PEC-RP que visa capacitar os professores da rede pública do Estado da Paraíba
estabelece convênio com as escolas públicas de vários municípios Paraibanos, conforme o
art. 32 da Resolução nº 61/ 97 do CONSEPE pela qual está regulamentado.
75
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de cada período
letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua
duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições.
A discussão a respeito dos PPPs nos cursos de graduação tem uma longa história,
que vem atrelada ao debate do projeto de sociedade que se quer construir e que foi
intensificada no Brasil no final da década de 1980, continuando em toda a década de 1990,
principalmente nos debates sobre LDBEN, PNE, Diretrizes Curriculares, Avaliação de
Cursos e Política de Formação de Professores.
Isso se confirma quando a Secretaria de Ensino Superior (SESu), por meio do Edital
nº 4/97, estabelece o modelo de enquadramento das propostas de diretrizes curriculares e
solicita das IES contribuições para as Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação;
também quando o CNE aprova o Parecer CNE/CES 776/97, que estabelece a “orientação
geral para as diretrizes curriculares dos cursos de graduação”; quando o Executivo assina o
Decreto 2.306/97 determinando que “as Diretrizes Curriculares são referenciais para as
avaliações de cursos de graduação”; e também quando o PNE, Lei 10.172/2001, define
entre os seus objetivos e metas: “[...]. Estabelecer, em nível nacional, diretrizes curriculares
que assegurem a necessária flexibilidade e diversidade nos programas oferecidos pelas
diferentes instituições de ensino superior [...]”.
A partir disso, as universidades têm se mobilizado para atender às solicitações do
MEC e/ou para mostrar projetos alternativos aos que lhes são requeridos, redundando em
significativas mudanças institucionais. Noutras oportunidades, a mobilização se fazia
necessária para responder à Comissão de Avaliação de cursos indicada pelo Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), quando solicitava, em um dos seus itens de
avaliação, um conjunto de informações sobre as condições e o funcionamento dos cursos,
dando ênfase ao Projeto Pedagógico e ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).
Tal requisito já tinha sido solicitado desde 1993 pelo Programa de Avaliação Institucional
das Universidades Brasileiras (PAIUB) e, mais recentemente, em 2004, pelo Sistema
Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES). Nesse intervalo, correspondente ao
76
governo FHC, foi criado outro instrumento que punha em relevo outras dimensões desse
amplo projeto, o Exame Nacional de Cursos (PROVÃO).
Como resultado das intervenções do MEC, reconhecemos que hoje os cursos de
graduação, de uma forma ou de outra, têm um projeto pedagógico. Entretanto, tal projeto,
no nosso entender, pode ter sido elaborado através de orientações díspares, às quais
chamamos de: autoritária, democrática ou anti-ética 29.Ou seja:
• autoritária - quando elaborado por uma comissão delegada por uma direção que
pouco escuta a comunidade;
• democrática – quando construído por uma comissão eleita pelos representantes
dos cursos e que constantemente submete suas decisões ao coletivo desse mesmo
curso;
• anti-ética – quando encomendado a empresas que se regem por padrões de
produtividade e apenas vendem o serviço, sem maior compromisso com o projeto
do curso e de sociedade.
É necessário reconhecer que a existência desse PPP, antecedendo a elaboração do
projeto pedagógico de um curso de graduação, é recomendada por vários autores (VEIGA,
2003; De ROSSI, 2003) que reforçam a necessidade da existência de um PPP da
universidade como um todo. Esse PPP refletiria e requereria o reconhecimento de uma
concepção ou projeto de sociedade, de educação e de profissional que queremos formar.
Por isso, consideramos que esse projeto é político quando faz sua opção a favor de sujeitos
sociais preferenciais e é também pedagógico, quando define suas ações educativas e
curriculares.
Nesse caminho encontra-se a ANFOPE, que reúne um grupo de educadores que
defendem a idéia de que esses aspectos políticos e pedagógicos devem ser entendidos,
sempre, enquanto imbricados, como tão bem argumenta (FREIRE, 1991) quando diz que:
“[...] todo projeto pedagógico é político e se acha molhado de ideologia. A questão a saber
é, a favor de quê e de quem, contra quê e contra quem se faz a política de que a educação
jamais prescinde”(FREIRE 1991, p. 44-47).
29
A adjetivação foi elaborada por mim, a partir da observação, depoimentos, leituras e experiências
vivenciadas.
77
É também nessa mesma direção que, embora tenhamos citado algumas formas mais
comuns que aparecem como maneira de encurtar o caminho para elaboração de PPP
(autoritária e anti-ética), privilegiamos neste estudo a elaboração coletiva, que prioriza a
participação da comunidade e nela se apóia na construção do que, convencidamente,
chamamos de projeto político-pedagógico ou, abreviadamente, PPP.
Quando falamos em PPP não estamos tratando apenas de um texto escrito ou
elaborado por uma comissão de escola, universidade ou de curso para atender às normas
instituídas por alguma instância oficial; o PPP é mais do que um documento pronto e
acabado, ele é fruto de uma discussão coletiva e deve ser orientado para um objetivo
previamente definido. De acordo com Gadotti (2002, p.33) “não se constrói um projeto sem
uma direção política, um norte, um rumo. Por isso todo projeto pedagógico de escola é
também político”.
A importância da construção do PPP nas escolas ou universidades é fato inconteste.
Não obstante, é preciso compreender que um projeto não se faz por decreto; este, mais do
que um instrumento técnico, deve ser um instrumento emancipador (VEIGA, 2003;
SAUL,1988, De ROSSI, 2003).
Como um instrumento técnico, é traçado para atender aos ditames burocráticos, dos
órgãos normativos. É um documento que é planejado, executado e avaliado de forma
centralizada e controlada.
Como um instrumento emancipador, é arquitetado coletivamente desde a fase do
seu planejamento até a sua avaliação. O processo e o resultado de construção estão sempre
integrados, com a participação de todos os segmentos da comunidade vinculados ao curso.
Para De Rossi (2005, p.32-33):
78
trabalho. Ao definirmos nossa opção pelo PPP como instrumento emancipador resultante
de um processo de elaboração coletiva, estamos elegendo o nosso foco de observação.
A construção do PPP deve-se reger com base em orientações culturais e políticas;
não acontece como num passe de mágica; concepções de sociedade e de educação o
informam, sendo o currículo uma de suas expressões. Precisamos recorrer à história do
currículo para compreendermos que o projeto não é um instrumento neutro (PORTO,
1992). Nesse sentido, é bom lembrarmos que, em quase três décadas do século passado
(60,70 e 80), atuamos nos limites de um currículo mínimo traduzido em uma grade
curricular, conforme a lei 5.540/68 e Resoluções de currículo mínimo dos cursos de
graduação. Não é por acaso que quando falamos em construir o PPP, coordenadores de
curso, docentes e alunos pensam logo em reforma curricular ou, no máximo, em uma
reformulação curricular (SAUL, 1988).
30
A esse respeito ver o segundo projeto do PROLICEN/UFPB, 1995 “Política da UFPB para os cursos de
Formação do Educador” aprovado pelo PROLICEN/MEC e desenvolvido pelos cursos de licenciatura da
UFPB, que aponta a diferença entre os termos.
79
A reformulação curricular é interpretada como um conjunto das atividades
estruturadas e vivenciadas no interior dos cursos, sendo que o resultado deverá apresentar-
se como um grande acordo coletivo em que professores, alunos e funcionários participam
como responsáveis pela construção do currículo.
80
como os limites e as possibilidades da legislação oficial. Este novo caráter do PPP somente
foi consolidado na UFPB em 199931, após amplos debates iniciados desde 1993.
Para compreender essa situação, fizemos: a) análise da literatura a partir de um
recorte da produção das últimas décadas, enfocando o problema, principalmente a partir da
década de 1990. Consideramos que esse período nos propicia um espaço e um tempo
fecundos de debate para compreendermos a correlação de forças, como expressas na
produção de conhecimento sobre a política de formação dos profissionais de educação no
projeto neoliberal da era FHC32; b) observação das práticas institucionais; estudo das
experiências e discussões decorrentes da política de implementação de PPPs vivenciadas
nas IES do país, a partir de um caso específico.
31
Resolução CONSEPE/UFPB 39/99 que aprova a sistemática de elaboração e reformulação dos PPPs dos
cursos de graduação.
32
A respeito da política educacional na era FHC, ver Silva Jr., (2002,), Sguissardi & Silva Jr., (2001a, 2001b)
Peroni (2003), Shiroma; Moraes; Evangelista. (2004), Bianchi et al., (1997).
33
Encontramos uma proposta de Projeto Pedagógico para discussão com os coordenadores de cursos datada
de 1992. Esse documento foi elaborado por um GT e, posteriormente, discutido com as Pró-Reitorias de
Graduação, Pós –Graduação e Assuntos Comunitários. De acordo com o depoimento de um dos
coordenadores (EACCP), essa proposta só foi discutida nas instâncias administrativas, pois estava no fim de
um reitorado, no ano de 1992.
81
Embora o documento não tenha passado do papel, pois foi escrito no final de um
reitorado, consideramos que já havia na UFPB uma vontade de construir uma proposta
participativa a partir da sua realidade. Essa proposta foi elaborada por iniciativa dos órgãos
administrativos e só depois foi discutida com a comunidade acadêmica.
Com a eleição de um novo reitor no período 1993-199634, a preocupação com
práticas participativas democráticas sai do papel e se intensifica em torno da discussão do
projeto de avaliação da UFPB, envolvendo todos os órgãos e cursos no Programa de
Avaliação Institucional da UFPB35 definido segundo a concepção do PAIUB36.
Sob a perspectiva de participação coletiva, a Pró-Reitoria de Graduação procurou
desenvolver a avaliação dos cursos e, a partir daí, a reforma do currículo passa a ter
prioridade dentro do trabalho, visto ser esta a Pró-Reitoria responsável pela elaboração,
aplicação e avaliação dos relatórios dos cursos. Nesse sentido, o trabalho participativo com
as assessorias: CPME (Comissão Permanente de Melhoria do Ensino), CCP (Coordenação
de Currículos e Programas), CODESC (Coordenação de Escolaridade), CEM (Coordenação
de Estágio e Monitora); propiciou o desencadeamento do processo multiplicador da
avaliação dos cursos de graduação.37
34
O novo reitorado (Azevedo), candidato apoiado pela Associação de Docentes e movimentos de esquerda,
iniciou seu trabalho a partir de uma avaliação da UFPB, que teve como base o Programa de Avaliação
Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), criado em 1993.
35
A esse respeito, ver Azevedo, N. et al. Avaliação Institucional da UFPB: construindo o autoconhecimento.
Revista Avaliação, ano 1 nº 2, dez 1996. ver também os Cadernos de Graduação da UFPB/PRG - 1º Relatório
de Avaliação de Curso 1995; Auto- Avaliação dos cursos de graduação, 1997, Série Avaliação Acadêmica v.
1 -5
36
O PAIUB, que funcionava desde o ano de 1993, incorporava as orientações do MEC e ANDIFES nas suas
avaliações institucionais. No entanto, após disputas entre o MEC e o movimento dos educadores, o PAIUB foi
extinto pelo primeiro; no seu lugar instituiu-se o Exame Nacional de Curso (PROVÃO) e, a partir de 2004,
transforma-se em Sistema Nacional de Avaliação Educação Superior (SINAES), pela Lei nº 10.861, de
14/04/2004.
37
De acordo com a presidente da Comissão Própria de Avaliação Institucional (CPA) da atual administração
da UFPB, o programa de avaliação se mantém em 2006. Anteriormente era fundamentado nas orientações do
PAIUB, e hoje recebe as orientações do (SINAES). Reconhece também a presidente que o Programa de
Avaliação Institucional foi iniciado em 1994, viabilizado estrutural e financeiramente por meio do PAIUB,
sendo encerrado precocemente pelo MEC. Mesmo assim, destaca alguns grupos remanescentes daquelas
comissões que continuaram com pesquisas pontuais sobre a temática e que nesses últimos dois anos a
avaliação da UFPB voltou a ser implementada. A esse respeito, consultar ( MOURA: 2006).
82
A UFPB elaborou a Resolução nº 39/9938 que “aprovou a sistemática de elaboração
e de reformulação dos Projetos Político Pedagógicos dos Cursos de Graduação da UFPB”;
essa aprovação foi fruto de um grande debate na universidade durante os anos de 1993 até
1999. A partir daí, foi desencadeado um processo, como aprendemos pela observação feita,
culminando na aprovação da Resolução 04/2004 que “Estabelece a Base Curricular, para a
Formação Pedagógica dos Cursos de Licenciatura”. As duas resoluções foram aprovadas
pelo CONSEPE/UFPB em clima de culminância do processo participativo.
De acordo com uma estudante entrevistada: “O primeiro passo, foi a aprovação
dessa resolução, porque ela realmente uniu todos os centros e todos os centros foram
discutir uma base curricular para o licenciado, um perfil para o licenciado, então essa
contribuição foi fundamental”. Embora considerados os avanços, fica a certeza de que tais
resoluções, sozinhas, não teriam o poder de mudar as práticas, mas, por terem sido fruto de
um trabalho coletivo, constituem instrumentos aglutinadores de forças necessárias ao
estabelecimento de práticas progressistas.
Em geral, os nossos participantes concordaram que, embora a mudança nas práticas
venha a ser um projeto de mais longo prazo, os momentos de efetiva construção,
normatização e implementação merecem atenção especial. Essa questão foi objeto de um
comentário detalhado apresentado por uma das nossas entrevistadas:
A resolução é uma norma, mas a gente não espera que uma norma
institucionalizada mude a prática; ela foi produto de uma síntese, vamos
dizer, de discussões, de seminários realizados, de encontros, de
orientações, das próprias sugestões que já vinham dos cursos; porque ela
foi construída nessa dinâmica e ela sintetiza o pensamento pedagógico
que já existia, que é um pensamento emergente, embora não estivesse
articulado em todos os cursos da mesma forma, mas ele já estava em
quase todos os cursos de graduação, principalmente nos cursos de
licenciatura de formação de educador. Porque todos já acompanhavam a
discussão da ANFOPE, as propostas produzidas, e a resolução,
sistematiza esses princípios filosóficos e as orientações técnicas para
elaborar o currículo; porque, de certa forma a resolução - como ela foi
construída historicamente, de forma coletiva - é uma orientação mais
democrática para conduzir o processo de reformulação, porque sem uma
orientação institucionalizada os cursos ficam muito soltos e ficam sem
uma referência institucional. Então ela sistematiza a proposta
institucional, a reformulação dos cursos. (ECCP).
38
Essa Resolução, embora sendo resultado de discussões coletivas na UFPB, na década de 1990, foi revogada
no ano de 2004, pela Resolução 34/2004, permanecendo com o mesmo caput. Segundo a entrevistada
(ECCP), a revogação teria como objetivo “consolidar outras Resoluções que tratam da mesma temática”. No
entanto, ao analisar as duas Resoluções, percebemos que nada foi mudado na sua essência.
83
É interessante observar que nas falas são mencionados os debates que precedem à
aprovação de uma norma. Fica também evidenciado que a ANFOPE constitui uma
referência para a política de formação do educador.
Há uma prática de discussão coletiva, previamente instaurada e desenvolvida em
vários encontros da UFPB. Entre esses encontros destacamos o I Seminário do Programa de
Avaliação (1993), no qual foram debatidas a proposta de avaliação do PAIUB e a forma
como a UFPB pretendia iniciar o seu processo de avaliação da universidade como um todo
e, em especial, a avaliação dos seus cursos. O relatório desse seminário propôs a avaliação
dos cursos de graduação e o início de uma pesquisa coordenada pela PRG/CPME para
conhecer a realidade de cada curso. O relatório dessa pesquisa - I Relatório de Avaliação de
cada curso (1995) - foi devolvido para as respectivas coordenações para o reconhecimento
de sua história e seus indicadores, dando início ao processo de auto-avaliação.
Outro evento que marcou o desencadeamento das discussões a respeito dos cursos
de graduação, com destaque para a avaliação de currículos, foi o I Seminário-Oficina de
Currículo, realizado em João Pessoa - PB, no período de 25 a 27 de agosto de 1993,
coordenado pela PRG/CCP, com a participação dos coordenadores dos cursos de
graduação, assessores de graduação e chefes de departamentos. O referido seminário
buscou refletir sobre os pressupostos teórico-metodológicos das estruturas curriculares
então vigentes e contou com a contribuição de vários especialistas convidados.
De acordo com o referido Relatório, “O Seminário representou uma oportunidade
de divulgação/socialização de experiências didático-pedagógicas em andamento, nos
diferentes campi, e de formulação/aprovação de propostas que visam subsidiar a
reformulação curricular, no âmbito desta universidade”.UFPB/CCP, (1993, p.2).
Representou também a tentativa de incentivar a participação democrática no debate
acadêmico e a integração pedagógica dos cursos de graduação. Os debates e embates foram
constantes e isso fez com que o resultado dos consensos aprovados na plenária desse
primeiro seminário passasse a ser um norte para a condução do processo de organização
curricular e, conseqüentemente, para a construção dos PPPs dos cursos de graduação da
instituição.
84
A condução do processo de organização curricular é de competência do
Colegiado do Curso e deverá ter necessariamente a participação de
professores e especialistas da UFPB e de fora dela para: a- definir os
objetivos do curso e o perfil do profissional desejado; b- definir a
metodologia de integração curricular; c- fixar ementas, programas, pré-
requisitos e carga horária das disciplinas da grade curricular do curso; d-
na definição dos objetivos do curso e do perfil do profissional, devem ser
considerados os avanços científicos e tecnológicos da área, bem como as
necessidades regionais e nacionais, de forma a capacitar o egresso tanto a
atender a uma demanda profissional imediata, como a acompanhar e
participar do desenvolvimento técnico-científico; e- execução curricular
deverá ser acompanhada pelo Colegiado através de avaliações periódicas.
(UFPB/CCP, 1993)
85
2.4 O movimento dos educadores e a luta pela política de Formação
86
Como decisão do encontro, sai uma recomendação, ainda em 1983, ao CFE e ao
MEC, de que “antes de implantar qualquer normalização referente às licenciaturas e à
reforma do ensino, antecipadamente o comunique à Comissão Nacional de Reformulação
dos Cursos de Formação do Educador” (CONARCFE, idem, p.8).
Entre os temas mais debatidos pela entidade destacam-se: a valorização e
profissionalização do magistério, as reformulações curriculares dos cursos de licenciaturas,
a base comum nacional para todos os cursos e orientação para as diretrizes curriculares
propostas pela LDBEN.
No seu percurso - em defesa da formação dos profissionais de educação, seu
objetivo maior - a ANFOPE produziu várias contribuições a respeito da temática, que
foram socializadas durante os doze Encontros Nacionais, sete seminários nacionais em
conjunto com o FORUMDIR e em diversos Encontros estaduais e regionais desde 1983 até
os dias de hoje, quando reafirma e aprofunda os seus Princípios Básicos39 para os cursos de
formação dos profissionais de Educação.
A ANFOPE é, na atualidade, referência nacional para as políticas de formação,
como é percebido nos projetos de Reformulação Curricular dos cursos de Licenciatura e,
mais recentemente, na elaboração dos PPPs desses cursos:
A ANFOPE, entidade de caráter político-acadêmico, vem
desempenhando, reconhecidamente, uma atuação fundamental no debate e
análise de políticas públicas e na construção-proposição de um projeto
político-pedagógico no campo educacional, formulado pelos educadores
das diversas regiões do país, cuja finalidade é uma educação para todos,
com qualidade socialmente referendada e norteada por valores
democráticos (universalidade, dignidade, respeito, justiça, honestidade e
questionamento permanente do instituído). (ANFOPE, 2004 p. 6)
39
Ver detalhadamente Princípios Básicos no documento produzido no XII Encontro Nacional da ANFOPE,
2004.
87
A avaliação sobre o trabalho da ANFOPE a localiza em dois momentos, internos à
instituição e externos a ela:
88
fundamental.
Como era de se esperar, a ANFOPE - conforme registrado nos seus documentos
nacionais, boletins e posicionamentos em ocasiões específicas que tratavam da temática -
consegue organizar um movimento de resistência para marcar a sua luta histórica em
defesa.da qualidade da formação de professores. Nesse sentido, buscou contestar as
propostas de qualidade duvidosa e coordenou um debate nacional com outras entidades
cujo objetivo era fortalecer o projeto construído historicamente pelo movimento dos
educadores.
De acordo com Freitas, H (1999, p. 22):
89
desconfiança em relação ao projeto de governo, foi decisão do movimento dos educadores
que a ANFOPE participasse das comissões, levando as suas sugestões, “mesmo correndo o
risco de estas virem a ser usadas para respaldar a política do governo”, como argumenta
uma de nossas entrevistadas (EC5). Era importante, por exemplo, a garantia de uma BCN
para todos os cursos de formação dos profissionais de educação. Para isso, não bastava
somente participar da comissão de Pedagogia; tornava-se necessário garantir um espaço
onde as demais licenciaturas pudessem interagir com a Pedagogia no sentido de construir
uma única BCN para todos os cursos de licenciatura.
Concomitante aos trabalhos das comissões, outros estudos são iniciados pela
SEF/MEC: os dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e da Rede de formadores -
muito criticados pelo movimento e pelas comissões, que ainda não haviam concluído o
trabalho e nem compatibilizado as propostas com a comissão de Pedagogia. Depois de
várias polêmicas entre a proposta do MEC e as do movimento dos educadores, fica
evidente, como afirmamos anteriormente, a existência desses dois projetos para a formação
dos profissionais da educação no país.
O projeto do MEC prioriza as orientações dos organismos multilaterais (SHIROMA
et al., 2004), promovendo um realinhamento nas políticas educacionais, no âmbito das
reformas do Estado, por meio de decretos presidenciais; por exemplo, o Decreto nº 3.276/
1999, que dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação
básica. Esse decreto, ao determinar que a formação desses professores, “far-se-á
exclusivamente em cursos normais superiores”, retira do curso de Pedagogia uma prática
que já vinha sendo desenvolvida nesses cursos, desde os anos 1980 – a prática da docência.
Essa imposição autoritária do presidente FHC gerou uma grande reação no
movimento dos educadores, principalmente nos cursos de Pedagogia que, articulados pela
ANFOPE e pelo FORUMDIR, além de outras entidades, pressionaram o governo e
exigiram a revogação do decreto. Esse movimento de resistência foi de tamanha
organização, que fez com que o governo recuasse e revogasse o parágrafo 2º do artigo 3º,
editando novo decreto nº 3.554/2000, dando nova redação ao referido parágrafo.
90
2.5.1 As proposições da ANFOPE: Formas de manifestação nas políticas de formação
da UFPB
91
A forma de socializar essas experiências nas diversas instituições de todos os
estados brasileiros fez da ANFOPE, segundo o nosso entendimento, uma instituição que
congrega educadores preocupados com um projeto emancipador de sociedade, que atuam
num campo de forças, por vezes conflitantes e contraditórias. A ANFOPE é hoje uma
instituição reconhecida pelas outras instâncias, no caso as IES e o Ministério da Educação,
embora isso não tenha eliminado alguns dos impasses à sua atuação.
Segundo a estudante: “quando vêm essas propostas, elas são discutidas na
universidade, mas também com outros profissionais através da internet, na ANFOPE e aí,
um manda e-mail para o outro, e fica essa batalha para ver que decisão será tomada” (EB1).
A funcionária entrevistada assim se reporta ao papel da ANFOPE: “[...] sempre
mostrando interesse muito grande em tudo o que sai de novo; todas as discussões que
acontecem dentro da ANFOPE, sempre estão sendo divulgadas através de e-mail que a
gente está sempre recebendo, então eu acho que é uma associação que contribui muito”.
(EF1).
A forma de atuação da ANFOPE é, por vezes, objeto de polêmica como ressalta a
fala de uma das participantes:
Sou fundadora da ANFOPE, em 1990, em Belo Horizonte. Então eu tenho
a ANFOPE como referência para o nosso trabalho. Eu não posso dizer
que aqui é a ANFOPE, mas a ANFOPE é a referência para, nós não é?
As discussões, também como educadora, eu tenho acompanhado; eu
acho as discussões muito importantes, só não gosto quando começam a
brigar por problemas pessoais [...] eu não gosto não, eu penso que
ultimamente isso tem acontecido. Mas em termos da proposta da
ANFOPE, claro, o avanço que tem sido, a aglutinação em torno das
propostas - não só para pedagogia, para formação de pedagogo, mas
para a formação dos educadores em geral, tem cumprido o papel, do
conceito de base, de base comum. Eu acho que o conceito precisaria ser
mais divulgado, mais estudado, porque foi uma construção de muita
valia, pra formação do professor. (ECCP).
92
reformulação dos cursos de formação dos profissionais da educação. [...] desde 1983, como
contraposição à concepção do pedagogo como um generalista, que não preparava para a
docência”. Nessa mesma direção, ela é aprofundada nos encontros posteriores, com o
objetivo de garantir uma formação teórica de qualidade e a docência para todos os
educadores. Assim, como exposto no referido documento, (idem, p.12), ela requer:
93
e) Trabalho coletivo e interdisciplinar entre alunos e entre professores
como eixo norteador do trabalho docente na universidade e da redefinição
da organização curricular; a vivência e a significação dessa forma de
trabalho e produção de conhecimento permitem a apreensão dos
elementos do trabalho pedagógico na escola e das formas de construção
do projeto pedagógico-curricular de responsabilidade do coletivo escolar.
[... ]é exatamente o conceito de base comum que faz com que a gente
avance com essa rapidez, e essa construção vem da ANFOPE.(ECCP).
94
documento de repúdio ao Decreto - que foi aprovado, posteriormente, pelo CONSEPE e
encaminhado para ao MEC, com cópia para o CNE - solicitando a imediata revogação do
mesmo e a abertura do espaço de discussão da temática com integrantes da Comunidade
Acadêmica. (UFPB/CONSEPE, 2000).
Pudemos constatar que esse posicionamento, de discutir coletivamente a sua política
institucional em Fórum de Licenciatura, continua no atual momento. Acompanhamos um
desses debates na fase de observação da nossa pesquisa (04/09/2003). Naquela ocasião,
houve uma grande reunião no Centro de Educação, coordenada pela PRG/CC, cujo tema
era Exame Nacional de Certificação e Formação Continuada de Professores. Essa reunião
tinha a participação de coordenadores de cursos de licenciatura, assessores de graduação,
coordenadores de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, aluna bolsista do
PROLICEN/UFPB e a Comissão Institucional para definição dos Componentes
Curriculares para a Formação Pedagógica, Prática e Estágio Supervisionado. O objetivo da
reunião era discutir a participação da UFPB na Comissão Nacional de Exame de
Certificação de Professores, conforme a Portaria Ministerial nº 1.403/2003 que define o
referido exame.
A coordenadora iniciou a reunião distribuindo a portaria e a minuta de resolução.
Em seguida, apresentou uma transparência onde explicava detalhadamente o conteúdo da
referida portaria e rememorava a posição da UFPB diante das políticas de formação do
educador, que era a de garantir sua autonomia didático-científica e seus princípios de
formação. O momento de debate foi fecundo e, como resultado,os participantes se
posicionaram em não participar da Comissão Nacional de Certificação, tendo em vista que
a UFPB já teria expressado sua opinião em outras ocasiões, durante o governo de FHC,
contra a formação de professores com base na matriz de competência.
A fala de um participante esclarece essa posição: “Eu acho que a gente já se
posicionou a esse respeito quando, no governo passado, fomos contra os cursos aligeirados ... os
cursos normais superiores. Foi por isso que criamos o PEC-RP e aí nós fomos contra aquela Rede
de formadores, lembra?” (GP1)
O participante se refere à posição contrária da UFPB40 em relação ao Decreto
40
Documento discutido pelo PROLICEN, aprovado no CONSEPE (21 de janeiro de 2000) e encaminhado ao
Presidente da República. Vale ressaltar que a mobilização dos educadores no país serviu para que fosse
assinado um outro Decreto de nº 3.554/2000 com nova redação ao artigo 3º.
95
Presidencial no 3.276, de 06 de dezembro de 1999, que retira do curso de Pedagogia a
competência para formar professores para a Educação Infantil, bem como para as séries
iniciais do Ensino Fundamental, deixando a formação desses profissionais a ser realizada
exclusivamente em Cursos Normais Superiores.
96
propostas de documentos para discussão e aprovação no CNE. Inúmeros Pareceres e
Resoluções foram aprovados para dar continuidade ao projeto educacional do governo.
Entretanto, havia a necessidade também de regulamentar o dispositivo da LDBEN, nº
9.394/96, sobre a formação dos profissionais da educação, principalmente nos artigos 61,
62, 63 e 64, 41 que tratam desses profissionais para atuar na educação básica.
Destacamos abaixo os pareceres e as resoluções resultantes dos debates e embates
dentro da UFPB, no período trabalhado e estudado, embora tenhamos a compreensão de
que alguns destes somente foram regulamentados depois do ano 2000.
41
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades
de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:
I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;
II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade Normal.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de
docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
educação básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.
Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.
97
formação de Professores, da Educação Básica, em nível superior, curso de
licenciatura, de graduação plena;
98
CAPÍTULO 3: A POLÍTICA DA UFPB PARA OS CURSOS DE
FORMAÇÃO DE EDUCADORES: RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS
OFICIAIS E COM O MOVIMENTO DOS EDUCADORES (1993-2000).
Ao falar na vocação política da universidade, estarei pensando mais na
idéia de um projeto político, proposto pela própria universidade, pelo qual
se definam modos de inserção da universidade no campo político, e não
tanto nos projetos do Estado na criação das universidades.(Chauí, 2001,
p.116)
Nos seus mais de 50 anos de existência, a UFPB vem desenvolvendo sua vocação
de instituição pública de ensino, pesquisa e extensão, visando à formação de profissionais
requeridos pela sociedade da qual é parte. Essa relação entre universidade e sociedade
condiciona a sua estrutura, sua organização e objetivos, assim como também sua estreita
relação com um projeto de país. A política de formação dos educadores na universidade
está, pois, condicionada a um projeto de sociedade e é nessa perspectiva que procuramos
compreendê-la.
A segunda metade dos anos 1990 é denominada pelos estudiosos como uma era de
extremos (HOBSBAWN, 1995) e de globalização (SANTOS, 2004). A política de
formação dos educadores e a própria universidade deverão ser compreendidas dentro desse
contexto de globalização visando desvendar, por um lado, a relação de políticas
institucionais com o mercado e por outro, as implicações dessa relação para compreender as
contradições que emergem das maneiras como a universidade - porquanto instituição social
e comprometida com um projeto contra-hegemônico - responde aos apelos da sociedade da
qual faz parte. Sendo assim, ao revelar essas relações entre educação e mercado, a
universidade pode melhor vir a contribuir para um projeto emancipatório de sociedade e,
por extensão, para promover uma globalização contra-hegemônica, como sugere Santos
(2004, p.55): “o único modo, eficaz e emancipatório, de enfrentar a globalização neoliberal,
é contrapor-lhe uma globalização alternativa, uma globalização contra-hegemônica.
Globalização contra-hegemônica da universidade compreendida como bem público”.
99
A tese que aqui apresentamos tenta dar conta desse desafio de explicar como uma
instituição universitária, a UFPB (Figura 1) no caso, mobiliza-se para encontrar alternativas
àquele contexto hegemônico acima definido.
Criada em 1955 pela Lei Estadual nº 1.366, de 04/12/1955, no governo de José
Américo de Almeida, sob o nome de Universidade da Paraíba, a universidade reuniu quatro
faculdades: Faculdade de Filosofia da Paraíba, Faculdade de Medicina da Paraíba, Escola
Politécnica da Paraíba e Escola de Enfermagem da Paraíba; e agregou outras cinco
(Faculdade de Direito da Paraíba, Faculdade de Ciências Econômicas da Paraíba, Escola de
Enfermagem, Escola de Engenharia da Paraíba e Escola de Serviço Social da Paraíba).
Sua história inscreve-se em momentos importantes da vida política do país. A UFPB
foi federalizada e regulamentada pela Lei 3.835, de 13/12/1960, no governo Juscelino
Kubitscheck, e incorporou mais três faculdades: Faculdade de Odontologia da Paraíba,
Faculdade de Farmácia da Paraíba e Faculdade de Ciências Econômicas de Campina
Grande. Estava assim definida sua configuração multilocalizada, em diferentes municípios
do Estado.
Após o Golpe de Estado de 1964, essa estrutura formada por faculdades foi
transformada por imposição da Lei 5.540/68 da Reforma Universitária; segundo as
determinações dessa lei, as universidades brasileiras reformularam suas estruturas
administrativas e curriculares, implantando Centros e Departamentos, quando a UFPB
passou a ter uma estrutura multicampi. No período selecionado para este estudo, centros e
departamentos e também cursos estavam localizados no litoral, no agreste, no sertão e no
brejo do estado, enquanto as sedes foram instaladas, uma em João Pessoa, capital do estado
da Paraíba, e a outra em Campina Grande; expandindo-se, posteriormente, pelas várias
regiões da Paraíba. Em 2000, a UFPB contava com um total de sete campi: João Pessoa
(Campus I), Campina Grande (Campus II), Areia (Campus III), Bananeiras (Campus IV),
Cajazeiras (Campus V), Souza (Campus VI) e Patos (Campus VII).
Essa estrutura multicampi, em que a distância entre a sede e um dos campi mais
afastados -Campus V, chegava a ser de quase 500 quilômetros, tornou mais difícil a
integração administrativa. Esta situação era minimizada apenas pelo esforço desenvolvido
por sua comunidade acadêmica para garantir um espaço comum para uma ação integrada,
como aquele para discussão da avaliação e da reformulação curricular, bem como pela
100
participação coletiva nos mais variados debates acadêmico-profissionais. A administração
central desenvolveu uma estratégia de gestão para contemplar a diversidade de cursos e a
estrutura multicampi que foi expandida principalmente durante o reitorado do Professor
Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, na segunda metade da década de 1970.
A vocação para o debate é uma característica própria da instituição, demonstrada
especialmente na década de 1980, quando da participação nos encontros para a
reformulação dos cursos de formação do educador. Na década de 1990, esse movimento se
intensifica com o debate da Avaliação Institucional, das Oficinas de Currículo, dos
Encontros de Licenciatura (PROLICEN/UFPB), dos Seminários de Diretrizes Curriculares
além da sua participação em outros eventos locais, estaduais, regionais e nacionais.
Em 1993, a UFPB contava com 15 centros, 66 cursos de graduação, dos quais 24
eram de licenciatura. Um desses cursos, o de Ciências de 1º Grau da UFPB, foi extinto no
ano de 1996, acatando a recomendação do GT Licenciatura, que por sua vez atendia às
sugestões do CONARCFE - que em seu primeiro Encontro Nacional, em 1983, já
recomendava a eliminação das licenciaturas curtas no prazo de 3 anos (Documento do I
Encontro, 1983, p. 6).
Ao delimitar o nosso objeto de estudo, procuramos mapear as ações desenvolvidas
pela UFPB, no período pesquisado, para atender às demandas de formar profissionais
comprometidos com uma educação de qualidade, considerando a sua estrutura multicampi e
os objetivos de sua política institucional. Essa estrutura veio a ser modificada, no início do
século XXI, pela divisão dos seus campi, entre esta e a recém-criada Universidade Federal
de Campina Grande - UFCG.
Isto se deu em 2001, ou seja, a UFPB foi reestruturada, transformando-se em duas
universidades (UFPB e UFCG). Em decorrência dessa mudança, restringimos a nossa
atenção para aquela parte da Universidade, atualmente denominada de UFPB - sem
descuidar da história da instituição. Sendo assim, consideramos para o estudo, os cursos de
licenciatura que permanecem na UFPB conforme sua configuração atual, deixando de fora
os que, no desmembramento, ficaram com a UFCG. Nesse sentido, selecionamos cinco
cursos de licenciatura pertencentes a dois campi: Campus I (João Pessoa) e Campus III
(Bananeiras). O Campus II (Areia) não foi selecionado por não abrigar cursos de
licenciatura.
101
Figura III – Os três Campi da UFPB 2001.
42
Fonte UFPB: 2005, disponível em http://www.ufpb.br
43
Fonte UFPB, 2005, disponível em http://www.ufpb.br
102
estudantes nos cursos de licenciatura até o ano de 1995, sendo este um ano atípico, com
grande evasão e que coincide com o momento em que, no intuito de reduzir gastos, o
Governo Federal corta, ainda mais, as verbas para a Educação. O segundo momento retrata
a criação do PROLICEN/MEC - que tinha como objetivo “apoiar ações que evidenciem o
comprometimento das instituições públicas de ensino superior na implementação de
políticas.” (BRASIL/MEC/SESu, 1994, p. 15) - apresentando um crescimento das
matrículas (1996-2000), conforme reivindicação dos movimentos sociais organizados que
cobravam melhoria na qualidade da educação e atendimento ao Plano Decenal de Educação
para Todos. Essa cobrança foi, posteriormente, regulamentada pela LDBEN nº 9394/9644,
constituindo uma das bandeiras de luta da ANFOPE, FORGRAD e FORUMDIR pela
qualidade desses cursos. Ressaltamos a contribuição do PEC-RP para o aumento das vagas
nos cursos de licenciatura da UFPB. O terceiro momento (2000-2006) apresenta um
fenômeno interessante: ao lado de um acentuado declínio nas matrículas dos cursos dos
centros CCHLA, CCEN e CCS, registra-se um aumento de matrículas no CE e no CFT.
Tendemos a deduzir que esse aumento deveu-se à grande procura de um contingente de
professores leigos das séries iniciais do ensino fundamental em busca de se capacitarem,
tendo em vista as exigências da LDBEN.
44
Art. 87, parágrafo 4º “ Até o final da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados
em nível superior ou formados por treinamento em serviço”
103
Evoluçao das matriculas nos cursos de Licenciatura por Centro - 1993 a 2006
2000
CCHLA
1750
1500
Alunos Matriculados
1250
CE
1000
750
CCEN
500
CCS
250
CFT
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2006
Anos
45
o convênio UFPB e Secretarias de Educação (Estadual e Municipais) prevê uma bolsa de estudos para o
aluno do PEC-RP/professor da educação básica no valor de meio salário mínimo. Valor esse que fez com que
muitas secretarias optassem em repassar os recursos do FUNDEF para as faculdades que ofereciam o curso
Normal Superior, a exemplo da Universidade do Vale do Acaraú (UVA).
104
Comparativo entre a evoluçao do total de alunos matriculados na UFPB, dos Cursos de
Licenciatura e do PEC
17000
16000
15000 UFPB
14000
13000
Numero de alunos matriculados
12000
11000
10000
9000
8000
7000
6000
5000 Licenciatura
4000
3000
2000
1000
PEC
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2006
Anos
440
390
340
Numero de alunos matriculados
290
240
CCHLA
190
CE
140
90
CCEN
40
CFT
CCS
-10
1998 1999 2000 2006
Anos
Gráfico III – Evolução dos alunos matriculados no PEC/RP, por Centro,1998 – 2006.
Fonte dos dados - UFPB/NTI – 2006 (organizado pela autora).
105
Distribuiçao de cursos na UFPB - 1998 a 2000 Distribuiçao de cursos na UFPB - 2006
PEC
5% Licenciatura
PEC
36% Licenciatura
2%
27%
Outros Outros
Cursos Cursos
59% 71%
106
A universidade pública constitui exemplo de uma instituição social reconhecida e
legitimada pela sociedade da qual emanam seus objetivos e ações.
46
Conferência realizada na abertura do encontro da ANPED, em 05/10/2003
107
Minha inscrição no corpo docente da UFPB deu-se no ano de 1992, como já
mencionei na introdução, quando fui selecionada, através de concurso público, para a área
de Currículos e Programas. Não participei, portanto, da fase inicial dos debates. Entretanto,
minha participação anterior nos encontros e seminários promovidos pela ANFOPE
colaborou para que eu me integrasse mais rapidamente aos debates que ocorriam no interior
da instituição; contribuíram também para isto, minhas experiências como: professora da
disciplina Currículos e Programas do CE, membro da diretoria da ANFOPE e assessora da
PRG, na Coordenação de Currículos e Programas. Desde então, pude acompanhar, debater
e incentivar, a cada passo, a construção dessa política.
Inicialmente, em 1993, participei como palestrante do primeiro Seminário sobre
Oficina de Currículos. Naquela ocasião, em que se colocava pela primeira vez a discussão
dos currículos dos cursos de graduação: elementos para avaliá-los e para reformulá-los;
estive entre os que trouxeram a proposta da Base Comum Nacional para ser discutida com
os cursos de licenciatura. Constatamos, na ocasião, a familiaridade de muitos dos
professores que ali compareceram com a proposta da ANFOPE para a construção da BCN,
familiaridade essa evidenciada pelas questões que submetiam à apreciação dos que
constituíam a representação da comunidade acadêmica da UFPB.
Ao assumir o cargo de Coordenadora de Currículos e Programas na PRG, em 1994,
procurei responder às expectativas de incentivar o debate a respeito das questões das
licenciaturas.
Do primeiro encontro de coordenadores de curso resultou a proposta da organização
do GT Licenciatura (GTL) para estudar e elaborar um documento sobre as questões da
qualificação dos professores, principalmente aqueles da área de licenciatura no campo das
ciências exatas. Sublinhamos essa área das exatas porque os seus professores estavam
especialmente preocupados com a questão da formação - considerada deficiente por
professores e alunos e, como conseqüência, a evasão de estudantes que se verificava nesses
cursos. Reuniões mensais contribuíram para a elaboração do documento das Licenciaturas.
Nesse mesmo ano, o MEC/SESu lançou edital convocando as universidades públicas a
apresentarem projetos para o Programa de Apoio às Licenciaturas (PROLICEN). O GTL,
que já estava organizado, preparou um projeto que incluía as propostas aprovadas pelo
108
encontro de coordenadores, definindo os caminhos para a educação continuada.de
professores da escola básica.
Com a aprovação do referido projeto pelo MEC/SESu, foi instituído, no mesmo ano,
o PROLICEN/UFPB com o objetivo de intensificar a política de formação do educador na
UFPB; o programa comportava também a oferta de bolsas de estudo para alunos dos cursos
de licenciatura, os quais deveriam fazer parte de um quadro mais qualificado segundo as
expectativas da sociedade. Pudemos constatar que mesmo sabendo que o PROLICEN/MEC
tivesse a intenção de atrair os estudantes para ministrar aulas ou substituir professores da
escola básica, posição que sempre foi contestada pela ANFOPE, os que faziam a UFPB
procuraram utilizar o espaço oferecido pelo MEC para desenvolver uma política de acordo
com os princípios defendidos por aquela entidade.
Nessa perspectiva, trouxemos conjuntamente os princípios da ANFOPE e as
determinações do MEC para o debate dentro da UFPB. A partir daí, a política foi se
solidificando a tal ponto que, apesar do corte dos recursos para o programa em questão,
praticado pelo governo recém eleito (FHC), no ano seguinte (1995), a UFPB manteve, com
recursos próprios, o PROLICEN até os dias atuais.
O acompanhamento desse trajeto institucional fez de mim uma observadora
participante em cada momento da construção coletiva dessa política da UFPB, desde o I
Encontro até o VIII Encontro do PROLICEN/UFPB, realizado no ano 2000. Nesses
eventos foram debatidos e aprovados alguns pontos fundamentais para nortear o trabalho
nos cursos. Dentre eles, podemos destacar, o compromisso da UFPB com a educação inicial
e continuada nos cursos de formação do educador, através do qual contribuiu para: aprovar
a Base Comum e os eixos norteadores dos cursos de licenciatura, incluindo a Prática de
Ensino e o Estágio Supervisionado ao longo do curso, e unificar os componentes
curriculares de formação pedagógica para a incorporação na elaboração dos PPPs dos
cursos. Melhor descrito nos documentos de licenciatura.
Na medida em que estudávamos, cuidadosamente, cada documento que vinha do
MEC e da ANFOPE, procurávamos compreender os instrumentos propostos e socializá-los
com a comunidade dos cursos de licenciatura. Nesse sentido, convivemos o tempo inteiro
com as duas políticas, tendo observado os momentos críticos que foram confrontados pelas
formas de resistência desenvolvidas pela UFPB. Resistência essa, como analisamos mais
109
detidamente nos capítulos seguintes, nas suas duplas faces: de não se curvar de imediato às
imposições do MEC, como expressas, por exemplo, nas reações aos programas especiais de
formação de professores, rede de formadores, Institutos Superiores de Educação e Curso
Normal Superior, ao decreto que retirava do curso de Pedagogia a formação das séries
iniciais do ensino fundamental; assim como também, contra as políticas de aligeiramento
dos cursos de formação de professores, tão comuns na década referenciada. Encontrava
também a instituição, representada pelos seus diversos atores, oportunidades para
desenvolver sua política de formação.
Como resultados exemplares dessas iniciativas de responder, com qualidade, aos
instrumentos da política oficial, a UFPB passou a oferecer aos professores da escola pública
a possibilidade de participar dos cursos de licenciatura da UFPB, através do Programa
Estudante Convênio (PEC/RP).
110
representantes da administração. Os dados da observação registram que, como participantes
externos, figuraram: secretários de educação dos municípios e representantes dos sindicatos
de professores da rede pública (SINTEP/PB), objetivando fortalecer o compromisso da
UFPB com a formação do educador no que diz respeito à educação inicial e continuada.
Os encontros foram denominados de Encontros do PROLICEN/UFPB e, por força
do hábito, sua identidade acabou ficando assim reconhecida. Com a continuidade desses
encontros, observamos variações para mais ou para menos quanto à presença de
participantes externos que, progressivamente deixaram de participar do fórum. No entanto,
os membros do Programa de Licenciatura da UFPB resistiam, ao tempo em que formavam
parcerias com instituições públicas que colaboraram para que os projetos do
PROLICEN/UFPB tivessem continuidade. Caso exemplar é o do estabelecimento do
programa estudante convênio PEC-RP, estabelecido entre a UFPB e as redes estadual e
municipal de ensino. Formava-se assim uma parceria: a UFPB oferecia a educação inicial
nos cursos de licenciatura e o PROLICEN garantia a educação continuada, como registra a
participante:
De 92 para cá eu venho participando tanto das questões referentes à
reformulação do currículo, não é?No começo dos anos 90, de projetos
PROLICEN e atualmente dessa discussão nova, ... dos movimentos
sociais e, como membro do departamento de história, ter participado das
discussões coletivas, reuniões em relação ao PPP de história. Bom, eu
queria dizer que, em relação aos anos 80, aos quais (x) se remeteu a
gente conseguiu participar inclusive de discussões em torno de um
projeto de mudança curricular que ... virou uma cartilhazinha, eu acho
que 80 e... 84, estávamos entrando no curso, no meio de uma
greve.(GH6)
111
demandas também são muito dinâmicas. Então, assim, por conta disso é
que a gente está novamente, depois de oito anos, rediscutindo, e agora em
novas bases. Eu acho que esse é o momento em que os educadores
tiveram mais interferência nesse processo de construção do novo
currículo pra todas as licenciaturas e, de certa forma, eu acho que é
coerente. Demorei muito a entender, porque eu, historiadora, sempre
naquela perspectiva de pesquisa e tal, mas assim, tive a sorte de ser
assessora do outro coordenador nesse período em que as reformulações
estavam colocadas na mesa.(GH2)
[...] pelo roteiro que se apresentou, nós estamos completando agora dez
anos de PROLICEN, e eu percebo, enfim, não vou repetir algumas
colocações em termos de envolvimento da década desde ... 80, mas
estamos completando agora vinte anos daquela experiência. Passamos a
greve toda discutido a reformulação do curso, e claro, toda reformulação
de curso reflete muito o momento... era discussão de estertores da
ditadura militar e uma presença muito marcante de professores que
tinham tido combate muito grande ao autoritarismo, professor..., que uma
presença muito marcante, uma personalidade muito instigante que ... a
112
gente havia discutido naquele período, já tinha síntese da necessidade de
reformular o curso porque ele era muito... um curso formado, preparava
apenas o professor para dar aula, não é?...E a gente sentia falta de
disciplinas teóricas e metodológicas que, salvo engano, só tinha uma
única disciplina obrigatória que era a Introdução a Estudos Históricos,
ministrada junto com inglês. Era inglês, português, introdução à
sociologia, antropologia, introdução à História; então o primeiro
semestre era a maior frustração para os alunos, para nós que havíamos
ingressado no início da década de 80. E, eu acho que a reformulação
curricular de 96 avançou muito. (GH7)
113
com a flexibilidade suficiente para se adequar às exigências da
circunstâncias. Outro aspecto é que um projeto pedagógico, em meu
entendimento, ele não pode ser elaborado com a perspectiva de resolver
problemas do presente. É claro que a gente parte do presente com um
diagnóstico da realidade educacional, da realidade da formação
profissional, etc... (...) a perspectiva, no meu entendimento, é perspectiva
de futuro porque, projeto político-pedagógico é o elemento utópico
fundamental, sem esse elemento utópico o projeto político pedagógico
será simplesmente repetição do que existe no presente. Eu acho que nós
da universidade... eu acho que nós a partir de então temos todas as
condições...(...) muito interessante, então isso é possível, porque eu acho
que a Universidade da Paraíba tomou essa iniciativa pioneira de fazer
essa discussão para além das questões tecnocráticas, quer dizer, dando a
esse debate um elemento reflexivo, sabe, político, ideológico que vai além
dessa mera resposta tecnocrática (GH8).
114
um significado muito grande, um reflexo muito grande quando a gente
vai, quando você tá de conversa, quando você entrevista o pessoal que tá
fazendo o curso, o reflexo do que ele faz aqui e dentro da escola onde ele
tá trabalhando. Então, é um projeto muito importante porque ele dá
formação competente a um professor que ele não deve se afastar da sala
de aula enquanto ele está estudando. Então, ele estuda e trabalha e assim
ele traz experiências, leva experiências (GP4).
[...] O meu encontro com o PROLICEN foi a partir de 1997, quando fui
bolsista, e no final do projeto, então, fui bolsista desse grupo entre 97 e
2000, fevereiro de 2000, justamente quando a gente terminou aqui. E,
interessante é o seguinte: eu entrei no curso, eu entrei no curso de
licenciatura, participei desse projeto, mas engraçado que eu não
conhecia o que vinha a ser, na oportunidade, um curso de licenciatura..
Não é uma coisa só do engenheiro, porque eu trago a perspectiva do
aluno, na época eu era aluno daqui... então, os alunos de licenciatura,... o
pessoal que fez parte desse grupo como bolsista verificou, quando a gente
viu o desenvolvimento dos PPPs, os alunos estavam por fora desse
processo Mas, então, aí a gente percebia que o aluno, ele estava meio por
fora. Naquela época, o aluno estava por fora desse processo do curso de
licenciatura e, especificamente, do desenvolvimento do projeto político-
pedagógico... mas, então, entrar nesse projeto foi importante, não só por
ter uma ação que vinha a ser no curso de licenciatura, mas porque o
nosso projeto; especificamente trabalhava dentro da discussão desse
projeto:... a Política da UFPB para a Formação do Educador.(GI7.)
115
[...] quando a gente trabalhava, quando a gente via a política do MEC e
o que era trabalhado nos encontros, isso já desde os encontros do
PROLICEN, era discutido nos encontros de PROLICEN, levavam-se as
discussões da ANFOPE, a gente tinha a oportunidade de ver como é que
cada grupo estava trabalhando, cada projeto estava trabalhando, como
eles estavam se relacionando com a política que o MEC queria que fosse
implantada... Então, isso já desde a base dos projetos de PROLICEN,
pude acompanhar, era, sem dúvida nenhuma, a questão de... o que é que
acontecia na ANFOPE, acontecia.. em outros movimentos, de outras
instituições, mas não necessariamente atrelado à política do MEC. Então
isso aí é um consenso. (GI7).
116
que ocorreu para a aprovação da Base Curricular para a formação pedagógica dos cursos de
licenciatura, a qual embora iniciada no III Encontro de Licenciatura de 1995 - quando
foram aprovados o estágio e a prática de ensino ao longo do curso - somente foi
institucionalizada nove anos depois, pela promulgação da resolução 04/2004 do
CONSEPE.
47
Ver por exemplo documento da UFPB, aprovado pelo CONSEPE que se posiciona contra o decreto
presidencial nº. 3.276 de 6 de dezembro de 1999, o qual foi encaminhado ao CNE. Em 21 de janeiro de 2000.
117
[...] Talvez pudéssemos ainda criar, não sei, um Fórum Permanente de
discussão sobre a questão da formação de educadores, não somente para
avaliar o PROLICEN, não somente essa avaliação anual. Eu penso que
carece de uma avaliação mais global desses dez anos de funcionamento e
esse fórum também garantiria uma discussão permanente em relação às
reformas curriculares. Nós estamos passando por um momento de
reformas curriculares, no caso específico do curso de Educação Física, a
nossa tendência é tentar criar dois cursos, um curso de licenciatura e um
curso de bacharelado (...) graduado é aquele que vai atuar fora da escola
e o licenciado é aquele que vai atuar na escola de educação básica.
(EC3).
Esta fala indica que alguns cursos se anteciparam na elaboração dos seus PPPs,
como é o caso do curso de Ciências Agrárias, que aprovou seu PPP antes mesmo da
aprovação das resoluções para os cursos de licenciatura.
A interpretação de outro coordenador de curso diverge, em alguns termos, desta
última:
Nós adotamos um procedimento não, diria, legalista, mas nós fomos fiéis
à legislação. Nós não adotamos uma perspectiva política de se contrapor
à legislação e fazer uso de um discurso da autonomia da universidade
para fazer um currículo conforme simplesmente o que a gente pensa. Esse
procedimento não foi adotado pela comissão, que elaborou a proposta
curricular.(EC2)
118
[...] A nossa posição foi de seguir, de adequar a nossa perspectiva de
PPP às resoluções, tanto do MEC como as resoluções internas da UFPB,
respeitando as legislações. Eu sei que algumas universidades adotaram
perspectivas diferentes, preferiram adotar o seu PPP muito mais próximo,
por exemplo, do movimento dos professores... O movimento sindical, o
movimento da associação nacional (ANFOPE). Outras instituições se
posicionaram contrariamente a alguns elementos das legislações federais
e locais, mas nós não adotamos esse procedimento, nossa perspectiva foi
de adequar o PPP à legislação vigente(EC2).
119
Licenciaturas - nos quais foram discutidas e encaminhadas as propostas para posterior
aprovação nos órgãos superiores da Universidade.
Essas propostas, após um longo debate interno, eram encaminhadas pela instituição
ao MEC, respondendo às solicitações de sugestões para as diretrizes curriculares dos cursos
de graduação e programas de formação de educadores. A UFPB participou também nos
Fóruns de reitores, com proposta de avaliação institucional e nos fóruns de pró-reitores –
FORGRAD, com propostas para a construção dos PPPs dos cursos de graduação e política
de formação de professores contidas nos Programas de Licenciatura e de Estudante
Convênio – Rede Pública; também, participou nos movimentos dos educadores e nas
diversas associações vinculadas à educação com o objetivo de debater e contribuir com a
política nacional de formação. Esses momentos foram analisados por uma das participantes
de grupo como de indefinição e dependência das instâncias superiores:
120
[...] uma política de resistência, buscando recursos onde estivessem,
fazendo convênios, procurando, enfim, os meios de fazer com que a
Universidade Federal da Paraíba não perdesse o patamar de prestígio
nacional que ela conquistou em mais de 40 anos de existência.
121
elemento indispensável à afirmação da identidade e da relevância social
dessa instituição. (AZEVEDO et al.,1996, p. 43)
48
A esse respeito, ver Revista Avaliação da Educação Superior – RAIES, publicada pela UNICAMP desde
1996 e a produção de Ristoff e Dias Sobrinho que apresentam melhor aprofundamento. Estes autores fazem
parte da comissão que elaborou o documento norteador para o atual Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES) , no atual governo do Presidente LULA (1993-2006).
49
Ver nova configuração da avaliação do ensino superior - SINAES/ENADE - na home page
www.mec.org.br .
122
muitos cursos, contraditoriamente, a comemorar ou justificar os conceitos obtidos em
função da participação dos seus alunos nesse exame.
No âmbito da política de avaliação dos cursos, foram surgindo debates a respeito
das reformulações curriculares e construção de PPPs. Em tais debates, embora não sendo
exclusividade sua, a UFPB se apresenta como uma das universidades que procuraram
construir uma política de avaliação e construção de PPPs coletivamente.
50
Ver Capítulo II.
123
Então, em 95, já havia uma equipe de professores e coordenadores que
trabalhavam parte de discussão visando a reestruturação curricular, uma
vez que a maioria dos cursos da UFPB estava com o currículo muito
defasado e havia uma demanda, uma necessidade muito forte de que fosse
refeito, com o advento dos novos paradigmas, da evolução do
conhecimento, das inovações tecnológicas; e tudo o mais pressionava
para que houvesse uma mudança na estruturação curricular, nos
currículos para que os profissionais fossem atender às demandas do
mercado ou do mundo do trabalho. Com a LDB em 1996, esse processo
teve uma parada, uma vez que LDB trouxe a tona novos conceitos novas
metodologias ... e, já no ano de 1997, por exemplo, foi adotada a política
de reestruturação curricular, entre 97 e 98 (EC3).
124
laboratório, de equipamentos, de uma série de outros elementos; ter um
nível de carga horária disponível para o que a gente chama de
componente curricular. A gente tentou estudar disciplinas que
envolveriam uma participação mais efetiva com a vinculação desse
conhecimento, com a atuação do profissional; a gente destinou carga
horária pra isso. Nós tentamos pensar as metodologias que envolvem as
práticas esportivas que formam um corpo de disciplinas muito importante
na nossa formação, e tentar implementar essas disciplinas com
articulação, - como é que nós faríamos isso? Tentando encontrar
mecanismos entre os professores para articular essas disciplinas (EC2)
51
Encontramos apenas um documento “Projeto Pedagógico”,(1992) conforme explicitamos no capítulo 2.
Uma outra tentativa foi procurar os documentos mencionados por (GH1) sobre a participação da UFPB na
política de formação do educador nos anos 1980.
125
PPPs de todos os cursos de graduação da UFPB, dos quais decorreram mais duas oficinas
de currículo.
O II Seminário – Oficina de Currículos (período de 13 e 14 de novembro de 1995)
teve como tema principal a Reformulação Curricular: Uma abordagem Crítica, e, como
objetivos: aprofundar os fundamentos teórico-metodológicos relativos à (re)formulação
curricular dos cursos de graduação; discutir os aspectos legais concernentes à reformulação
curricular na UFPB; socializar os resultados das diversas experiências de reformulação
curricular. O Seminário, na sua conclusão, mostrou a importância da conexão da avaliação
institucional com o currículo; caracterizou as reformulações curriculares dentro da UFPB;
analisou a legislação referente aos cursos de graduação, bem como os fundamentos teórico-
metodológicos relativos às propostas de Reformulação Curricular. Debateu ainda a
tendência de Base Comum para os cursos de licenciatura; socializou os resultados das
experiências curriculares em andamento na UFPB; além de aprovar, em plenária final, um
roteiro que serviu de subsídio para as reformulações curriculares dos cursos. 52 (ANEXO J).
Em decorrência desses seminários, foram aprovados encontros mensais com as
coordenações de cursos e assessores de graduação; foram criados: a) o Fórum de
Coordenadores – para aprofundar as questões debatidas nos seminários e outras inerentes às
políticas de graduação; b) encontros com a CCP/PRG para orientação do processo de
reformulação curricular e acompanhamento das discussões dos projetos político-
pedagógicos dos cursos.
52
Componentes Essenciais para Proposta de Reformulação Curricular para os Cursos de Graduação a UFPB
126
projetos não foram concluídos, porque a cada momento que chega uma
resolução, com nova portaria do MEC, atrapalha a consolidação desse
projeto da licenciatura, mas a grande maioria está bem avançada... Há
preocupação da formação com qualidade, a gente tem lutado para manter
a carga horária defendida pelas entidades e defendido também a questão
do Estágio Supervisionado ao longo do curso. Mesmo antes, de vir a
portaria que define que tem que ser 800 horas, 400 para prática e 400
para estágio curricular, nós já tínhamos essa preocupação, então teve
essa orientação que veio, foi crescendo e foi se consolidando com os
encontros do PROLICEN. (EC5).
127
Encontros de Licenciatura (período de 1994 - 2000).
53
1994) A licenciatura em Questão: I-Encontro de Licenciatura (1994) PROLICEN/UFPB – II Encontro de
Licenciatura (1995) III Encontro de Licenciatura (1995) IV Encontro de Licenciatura (1995) V Encontro de
Licenciatura (1996) – VI Encontro de Licenciatura (2 e 3 de dezembro de 1997)
128
cursos de licenciatura, na perspectiva da reconstrução da totalidade, reconhecendo as
especificidades, o compromisso com a construção da Educação Pública de Qualidade;
articulação entre teoria e prática, produção e transmissão; conteúdo pedagógico e conteúdo
específico; indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; trabalho como princípio
educativo.
Esse processo para ser melhor entendido, requereria uma leitura do que André
(2001, p.61) nos apresenta com uma boa argumentação para a compreensão dessas várias
estratégias de articulação desenvolvidas pela comunidade acadêmica, objetivando a
formação docente, entre as quais propõe que a pesquisa “se torne o eixo ou núcleo do curso,
ou seja, que ela integre o projeto de formação inicial e continuada da instituição, construído
pelos seus participantes, levando em conta os recursos e as condições disponíveis”. As
estratégias desenvolvidas pela UFPB geraram uma sistemática de orientação aos cursos,
incorporando essas perspectivas nas convocatórias do PROLICEN/UFPB, essencialmente
quanto à vinculação dos projetos aos PPPs, conforme detalhamento nos pontos comuns
para elaboração dos projetos (ANEXO K).
Os componentes curriculares de formação pedagógica para os cursos de
licenciatura ficaram assim definidos: Fundamentos da Educação; conteúdo, processo
histórico e fundamentos filosófico-epistemológicos da produção e transmissão do
conhecimento de base empírica/didática aplicada à área de formação de conteúdo
específico; estrutura e funcionamento da Educação Básica; Psicologia da Aprendizagem e
Desenvolvimento da Criança, do Adolescente e do Adulto; Prática de Ensino desenvolvida
em 300 horas distribuídas ao longo do curso; atividades de monitoria, PROLICEN,
PROEXT, PIBIC, PET, computados como créditos para os estudantes; trabalho de
conclusão de Curso.
Após a aprovação das propostas nos encontros, elas passaram a orientar a
organização curricular dos cursos de graduação até a regulamentação pelos órgãos
superiores. Segundo tal proposta, os cursos da UFPB deixariam de ser organizados apenas
por disciplinas e passariam a ter uma nova composição curricular, por objeto de estudo,
anual ou semestral. O Estágio e a Prática de Ensino seriam desenvolvidos ao longo do curso
com o objetivo de garantir a unidade de teoria-prática e ações de interdisciplinaridade.
Conforme mostra a figura IV abaixo:
129
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
130
também discutindo, até mesmo entre si, a questão da fragmentação que a
universidade tem; e eles tentando agora unir tudo em uma
resolução(EB1).
131
processos de construção dos PPPs, como vivenciada pela comunidade dos diferentes cursos
e as suas implicações para a política institucional serão resgatadas no próximo capítulo.
132
CAPÍTULO 4: IMPASSES, RESISTÊNCIA E SINGULARIDADES NO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS PROJETOS POLÍTICO-
PEDAGÓGICOS NA UFPB.
133
história recente da UFPB nos brinda com formas de resistência que visam ultrapassar os
empecilhos impostos à realização dessa sua política institucional, como a corroborar o que
aprendemos com Freire, “mudar é difícil , mas é possível”. (FREIRE, 2000, p.94).
A construção dos projetos político-pedagógicos dos cursos da UFPB foi antecedida
por e, de certo modo, ocorreu paralelamente ao processo de avaliação institucional que se
desenrolou na expectativa de definição de uma política institucional, conforme os desejos
de transformação da realidade. Sendo assim, os sujeitos envolvidos puderam, a partir do
levantamento da realidade, refleti-la e analisá-la, buscando condições e soluções para os
problemas institucionais. A instauração desse processo visava, como foi expresso nos
grupos de discussão, à transformação daquela realidade, segundo os objetivos de uma
avaliação emancipatória, nos termos definidos por Saul (1988, p.61), como já
esclarecemos nos capítulos anteriores.
Um projeto de curso é, também, ao final, como bem argumenta Veiga (2000, p.188),
parte de um projeto de sociedade e, neste sentido, o que ocorreu na UFPB se enquadraria,
segundo a perspectiva analítica da autora, em uma ótica de PPP que visa à inovação e que
está orientado pelo princípio do trabalho coletivo, solidário. O projeto político-pedagógico
com tal concepção não pode ser um mero instrumento burocrático de modismo imposto
pela LDB 9.394/96. Ele deve ter essencialmente o caráter de um instrumento de
emancipação resultante de consensos e conflitos que se expressam na construção coletiva,
como já comentamos (PORTO, 1992).
134
efervescência no seio da comunidade universitária, expressando o pensamento da maioria
insatisfeita com a grade curricular imposta pelos currículos mínimos da década de 1970. No
entanto, a discussão sobre os PPPs é algo que se impôs com força somente nos anos 1990,
como comenta uma professora:
54
No Capítulo 2, discutimos os termos: Reforma Curricular e Reformulação Curricular como uma evolução
para chegarmos ao projeto político-pedagógico. Para maior aprofundamento referente ao pensamento
curricular no Brasil e ao campo de currículo, sugerimos a leitura de Lopes e Macedo (2002) e Moreira (2002).
Eles fazem uma retrospectiva mostrando os contornos do campo.
135
Então a gente tem aqueles princípios que você conhece [...] o das
entidades, da ANFOPE, que significa que a formação do professor não
pode ser uma formação aligeirada, é uma formação que deve contemplar
a relação teórica sólida, curso que realmente tenha o perfil definido pelos
educadores que trabalham na área, que esse perfil oriente os projetos
pedagógicos dos cursos; então a gente vem construindo isso. Não é fácil,
e você sabe, porque a gente lida o tempo todo com concepções
diferenciadas ou então aquelas concepções muitas vezes mais
tradicionais em relação à formação, mas no âmbito da instituição a gente
vem, ou, vamos dizer assim, continua reforçando essa política de
formação sólida, que tenha clareza da função social que um futuro
educador vai desempenhar junto à sociedade, quer dizer, há um eixo
nessa direção, um eixo forte ,... o fundamento central que é exatamente o
compromisso social, com a democratização da educação e da própria
sociedade que são aquelas lutas da ANFOPE no fórum das Licenciaturas
(ECCP).
136
educadores, avançando para novas formas de organização e desenvolvimento dos espaços
de formação de professores para um novo tempo e uma outra escola fundados em um
projeto histórico social emancipador”.
As falas abaixo, reforçam singularidades de como a instituição vem construindo um
projeto emancipador, com destaque ao PROLICEN/UFPB e ao PEC-RP como espaços de
formação inicial e continuada de educadores. Ademais, ressaltam o compromisso da
instituição em bancar os projetos e bolsas de estudos.
Esta avaliação crítica feita por um dos gestores da instituição demonstra que o
processo de mudança é lento e que requer também a transformação nas práticas diárias do
movimento e da instituição, resultante dos confrontos e das formas de resistência adotadas
para superação dos impasses. As formas de resistência adotadas para dar continuidade ao
PROLICEN, por exemplo, são enumeradas, como o são, também, alguns dos impasses
137
percebidos aqui sob o que foi designado como o problema - a motivação. Uma outra
avaliação mais positiva é feita por outra participante, ressaltando o compromisso político
da instituição:
138
Considerando esses aspectos na nossa análise da função social da universidade,
procuramos compreender as implicações dessa concepção de educação para os princípios
orientadores das práticas de elaboração dos PPPs na UFPB, através da apreciação da
dinâmica gerada no interior dos cursos e da própria instituição, como vivenciada pelas
comunidades dos próprios cursos. Entretanto, a construção coletiva almejada não se dá
como em um passe de mágica; como já registramos em outros capítulos, reunir a
comunidade acadêmica com todos os seus segmentos está ainda nos campos das
probabilidades e expectativas:
A gente iniciou essa discussão interna tendo como base (no debate) do
PPP dos Movimentos Sociais, que é o mesmo do curso de História; a
gente não refez essa discussão. Primeiro a gente discutiu nas áreas,
convidou os alunos pra virem nas discussões das áreas, só um aluno foi
para a discussão da área de metodologia e teoria, as outras áreas não
tiveram participação dos alunos nessa etapa. (EC4A)
A construção coletiva dos PPPs estimulada pelo slogan “saia da grade” não foi um
processo fácil, principalmente porque o novo processo requereria uma mudança de hábitos.
Conforme relatam os professores, as experiências anteriores marcadas pelos modelos
educacionais impostos no período da ditadura militar, sem alternativas para mudança dos
seus currículos, geraram acomodações difíceis de serem transformadas pela nova proposta
pedagógica.
Essa característica foi percebida por coordenadores de currículos e programas da
UFPB, já no início da gestão 1992-1996. Eles registram as angústias vivenciadas pelos
coordenadores de cursos de graduação no início do processo de reformulação curricular.
Muitas vezes, esses coordenadores procuravam a CCP para introduzir pequenas alterações
ou remendos na grade curricular - no sentido de atender a algumas exigências da legislação
referente ao curso, ou mesmo às demandas do mercado de trabalho - sem expectativas de
grandes mudanças. Posteriormente, com a instauração do processo de avaliação
institucional e as suas repercussões na construção dos PPPs, tal perspectiva é modificada:
139
Os dados mostram que todos os cursos de graduação da UFPB iniciaram o processo
de elaboração do PPP a partir do debate institucional levado por suas coordenações para o
interior do curso, na década de 1990 - considerando que cada curso tem sua comunidade
acadêmica de professores, professores gestores (diretores de centro, assessores de
graduação e chefes de departamentos) que participam de movimentos sociais e estudantes
bolsistas do PROLICEN/UFPB - que participaram da construção da política institucional
para avaliação e das reformulações curriculares. Esse debate foi se instalando nos centros
como uma necessidade de sair-se da grade curricular e partir para construção coletiva do
PPP do curso, onde a proposta saia da grade e transforme o currículo do seu curso em um
projeto pedagógico de construção coletiva indicou a direção da mudança requerida.
A urgência de mudança dessa mentalidade, para atender ao legal e ao mercado de
trabalho, reforçou a necessidade do trabalho coletivo no interior dos cursos, bem como da
constituição de um grupo de mobilização que coordenasse esse trabalho institucional. Nessa
perspectiva, não bastava organizar o trabalho coletivo, mas, também, aprovar os princípios,
coletivamente. Esses princípios são definidos em círculos concêntricos que vão do geral ao
particular; o GTL buscou inspiração em PISTRAK (2000) no que diz respeito ao “coletivo”
e com a noção de “complexos”, assim como também em FREIRE (1980) através do
levantamento do “universo vocabular” e dos “temas geradores” para aprofundar os
princípios orientadores da política institucional.
Segundo Pistrak (2000, p.177), “o coletivo é uma concepção integral e não um
simples total referido a suas partes, o coletivo apresenta propriedades que não são inerentes
ao indivíduo. A quantidade se transforma em qualidade”. Continuando seu pensamento a
partir do coletivo, o autor reforça que: “O complexo deve ser importante, antes de tudo, do
ponto de vista social e não da pedagogia ‘pura’”. (op cit 136).
Dessa forma, os dois autores defendem que a seleção dos temas deve ser procurada
no plano social. Assim: “temas geradores” e “complexos” contribuem para o debate da
instituição no que diz respeito ao projeto de sociedade e de educador que queremos formar.
Nesse sentido definir o objeto de estudo do curso e o perfil profissional passou a fazer
parte dos seminários- oficinas de currículo e nos encontros do PROLICEN/UFPB e,
posteriormente, das discussões dos projetos político-pedagógicos de cada curso. Os
seminários institucionais formaram espaços onde eram debatidos e construídos os
140
princípios que fariam parte das ações da instituição e da prática comum de todos os cursos.
Assim, no VI Encontro de Licenciatura, realizado em 2 e 3 de dezembro de 1997, foram
aprovados os seguintes princípios:
141
coerentes com os objetivos do Curso e com o perfil profissional; VII - o
campo de atuação do profissional como meio de viabilizar a articulação
entre o mundo do trabalho e o mundo acadêmico; VIII - as ementas,
definidas como resumo dos conteúdos relativos aos componentes
curriculares, e suas respectivas bibliografias básicas, devidamente
elaboradas e aprovadas pelos órgãos competentes; IX - a sistemática de
concretização do Projeto Político-Pedagógico, com indicação de critérios
e de condições indispensáveis à sua operacionalização e avaliação; X - as
certidões de aprovação do Projeto Político-Pedagógico pelos respectivos
Colegiado de Curso e Conselho de Centro. (Resolução 39/99, art.4º)
142
Entretanto, é necessário esclarecer que a ANFOPE já havia se antecipado ao que
propõe essa resolução. Desde a década de 1980, a ANFOPE definiu uma orientação para a
organização curricular de todos os cursos de formação de profissionais de educação,
denominada eixos norteadores para uma Base Comum Nacional-BCN:
143
Os cursos de Formação dos Profissionais da Educação devem ter
componentes curriculares de formação pedagógica, explicitados na base
comum nacional e nos componentes de formação específica, que
possibilitem o aprofundamento em áreas do conhecimento que serão
objeto de trabalho em sua área de atuação. Tais componentes devem ser
desenvolvidos de maneira articulada no Projeto Pedagógico de cada
instituição e curso. (ANFOPE, 2000,p.37).
144
sempre parte de uma tradição seletiva, da seleção feita por alguém, da
visão que algum grupo tem do que seja o conhecimento legítimo. Ele é
produzido pelos conflitos, tensões e compromissos culturais, políticos e
econômicos que organizam e desorganizam um povo. (APPLE, 2000,
p.53).
Construir uma política institucional de baixo para cima é algo difícil, no entanto,
não é impossível; a pratica tem demonstrado que há um campo de possibilidades, no qual
um projeto contra-hegemônico pode ser gerado, desde que tenhamos a força de uma
construção coletiva e democrática que o institucionalize, assim como também as formas de
buscar um projeto emancipatório. Só assim poderemos discernir as propostas de um
currículo oficial sem cair nas armadilhas do projeto neoliberal para a educação.
A construção e a garantia dos Princípios Norteadores: unidade teoria - prática,
trabalho coletivo e interdisciplinar, integração ensino, pesquisa e extensão e Estágio/
Prática de Ensino ao longo do curso orientaram a construção dos PPPs nos cursos de
graduação da UFPB, especialmente os dos cursos de Licenciatura.
Essa proposta, no entanto, não foi fácil de ser implantada na prática. Todavia, a
dinâmica dos encontros periódicos nos espaços coletivos dos Seminários-Oficinas de
Currículos e Encontros de Licenciatura - voltados para a prática política do educador dentro
da instituição e assumidos junto com um compromisso político de garantir as decisões dos
espaços coletivos institucionais, bem como de incluí-las nas propostas de PPPs dos cursos -
constituiu um avanço, como constatamos. Do mesmo modo, constitui um ganho o
envolvimento de uma parte dos educadores nos sindicatos, nas associações de classe e nos
vários movimentos sociais. Sendo assim, como bem reconhece Moura (2001, p. 183), “o
professor cidadão, à medida que participa de forma organizada da sua categoria
profissional, incentiva a participação do aluno e abre espaços para que o mesmo se integre e
interaja com partidos e movimentos sociais organizados da sociedade civil”.
Foi dessa forma que a comunidade acadêmica da UFPB procurou construir e
regulamentar as políticas de formação do educador com base na avaliação da instituição
como um todo e de seus cursos em particular. A partir daí, para fazer valer suas decisões
coletivas, a UFPB seguiu as orientações da Resolução nº 39/99, que regulamentou os PPPs
dos cursos de graduação e orientou os seus respectivos projetos com base nos princípios
aprovados nos Seminários, Encontros de Licenciaturas e na Resolução nº 39/99.
145
Os arts. 6º, 7º e 8º da referida resolução tratam da composição, organização e
estruturação curricular, integrantes do projeto político-pedagógico. Percebe-se que no
parágrafo 2º, art. 6º, já se faz um destaque para que os cursos de Licenciatura sejam
regulamentados por legislação específica do CONSEPE, ficando garantidas, no mínimo,
600 horas de Componentes Curriculares de Formação Pedagógica, incluindo nestes, a
Prática de Ensino com 300 horas.
Conforme nos referimos, anteriormente, essa regulamentação, embora tenha sido
amplamente debatida com os participantes do PROLICEN e coordenadores de Estágio
Supervisionado e de Prática de Ensino, desde o ano de 1995, somente veio a ser aprovada,
de fato, em 2004 quando o CNE/CP, por meio da “Resolução nº 02/2002 institui a duração
e a carga horária dos cursos de Licenciatura, de graduação plena, de formação de
professores da Educação Básica em nível superior” e, a partir daí, as instituições tiveram
que se posicionar em relação à carga horária dos seus cursos de Licenciatura. No caso da
UFPB, os debates foram retomados, conforme analisados no capítulo anterior, e
regulamentados pela Resolução UFPB/CONSEPE nº 04/2004.
Analisamos os PPPs dos seguintes cursos: Educação Física, História, Ciências
Agrárias, Matemática e Pedagogia com base no instituído pelas resoluções
UFPB/CONSEPEnº 39/99, atualizada pela 34/2004, na UFPB/CONSEPE nº 04/2004 e nas
DCNS aprovadas pelo CNE e no que constituiu o instituinte na UFPB. Os cursos iniciaram
a construção dos PPPs a partir da instalação de uma comissão aprovada pelo Colegiado de
Curso com a participação de professores, estudantes e funcionários. O processo desenrolou-
se concomitantemente aos debates de avaliação que estavam acontecendo na instituição,
antes mesmo de serem aprovadas as DCNs, pelo MEC/SESu. De acordo com os
coordenadores dos cursos, a participação dos funcionários foi pequena ou quase nenhuma;
então, podemos deduzir que eles não foram convidados ou não se acharam sujeitos do
processo, enquanto a presença dos estudantes foi maior somente nos grandes debates.
A insignificante presença dos estudantes nesse processo, embora reclamada, não é
de todo novidade, supomos, considerando o fato de que o estudante tem um tempo limitado
para terminar o curso, enquanto a construção desses PPPs demorou, em média, seis anos até
a sua finalização, um tempo acima do requerido para a formação de uma turma de
graduação na área considerada. Observamos, no entanto, que o movimento estudantil vem
146
incluindo o tema da construção dos PPPs nas suas discussões55. É de se esperar, no entanto,
que com as DCNs já regulamentadas, as reformulações dos próximos PPPs sejam
processadas em um tempo menor; e com uma participação mais intensa da comunidade
universitária.
55
No dia 18/07/2004, os estudante do campus I da UFPB entraram em greve e entre as suas reivindicações de
qualidade de ensino estavam as reformulações curriculares dos cursos.
147
políticas, mas em outra reunião se colocaram a favor do bacharelado, só
porque tinha uma entrada só. Não sei por que eles fazem isso, sem
estatística nenhuma, o curso continua como licenciatura e bacharelado,
do mesmo jeito, mas estamos nesse impasse; aí, eles (estudantes) querem
que se volte atrás no que foi votado e o departamento não quer aceitar...
a gente não pode ficar nesse impasse ..., a gente tem que tomar uma
posição. O nosso PPP está no impasse. Só falta discutir agora
disciplinas, carga horária de disciplinas, ementas, pois em primeiro lugar
você tem que votar o curso que você quer; depois as ementas; aí, estamos
esperando que se defina isso para a gente tocar a coisa e discutir
ementas. Já era para a gente ter terminado isso. A gente colocou o novo
curso no PDI, agora pra 2007, no vestibular de agora(EC2a)
A fala reflete, por um lado, a tensão que existe nesse curso a respeito desse
desmembramento Bacharelado e Licenciatura. De acordo com o Parecer CNE/CES 58/2004
e a Resolução CNE nº 7/2004 que orientam as DCNs dos cursos de Educação Física, há
duas possibilidades de formação: Graduação e uma Formação Ampliada que contemplaria
Bacharelado e Licenciatura. Por outro, mostra a insatisfação dos estudantes com a
fragmentação do curso e a preocupação da coordenação para resolver esses impasses e
incluir o projeto, em resposta às exigência do PDI e remete ao compromisso de aprovação
coletiva:
Em um primeiro momento, para se estabelecer a criação da Licenciatura
e do Bacharelado houve uma certa tensão dentro do curso, porque havia
a posição de se manter essa formação segundo o que é denominado
nacionalmente Licenciatura Ampliada, embora isso não esteja
respaldado na legislação. Porque a legislação de que trata dos cursos de
Licenciatura é clara, aponta para a formação de profissionais para
trabalhar com a educação básica, mesmo considerando a especificidade
da Educação Física(EC2)
ao afirmar que:
há uma tese de que toda intervenção do profissional de educação física é
uma intervenção de educador, não importa o espaço onde ele esteja
atuando, e eu concordo plenamente com isso - mas há preocupações com
a formação de um profissional que vai atuar na Licenciatura, que é
diferente daquele que vai atuar com o bacharelado, em outros campos
para além das escolas que trabalham com a educação básica. Então esse
foi um ponto de conflito dentro do curso, tanto com os alunos quanto com
os professores. (EC2)
148
reconhecendo-se que a ‘ciência da educação’ é assunto preferencialmente da Faculdade de
Educação, ainda que não só dela”. A ANFOPE (2000; 2002; 2004) também contesta qualquer forma
de fragmentação neo-tecnicista que pretenda transformar o educador em um prático com
competência para lidar exclusivamente com os problemas concretos de sua prática cotidiana.
Em relação à participação de estudantes na comissão do PPP, o entrevistado
afirma que no início havia mais alunos participando, depois eles ficaram afastados durante
um tempo, “inclusive nem participavam das reuniões do departamento”; e agora voltaram a
participar tendo em vista a posição da executiva nacional do movimento estudantil - de
defender uma Licenciatura ampliada. De acordo com o entrevistado “muitos alunos
desejam exatamente ter Licenciatura e Bacharelado, mas o grupo que está à frente do centro
acadêmico hoje não tem uma posição definida, por conta de discussões com a executiva
nacional do movimento estudantil”. Esse pensamento traz uma discussão nacional de optar
por uma Licenciatura ampliada com uma formação geral e uma bifurcação. Nesse caso
específico, a comissão de reformulação tomou a decisão de esperar uma posição nacional
dos estudantes para decidir sobre a conclusão do PPP. Acrescenta ainda o professor: “eu
não posso preparar o PPP se eu não decido antecipadamente se nós teremos Licenciatura e
Bacharelado”.
Esse embate não é exclusivo do curso de Educação Física da UFPB; ele faz parte de
uma discussão dentro do movimento de educadores, que defende a unidade Licenciatura-
Bacharelado, e a do Conselho Federal de Educação Física, que indica a sua separação. Tal
posição foi oficializada pela Resolução n° 7 de 31/03/2004 que institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior
de graduação plena.
Embora o PPP tenha sido amplamente debatido na comunidade do curso, ele ainda
não foi aprovado devido aos impasses que se revelaram, inclusive, quanto à denominação
do curso, pois o documento do PPP separa o curso de Bacharelado do de Licenciatura.
Assim, analisamos só o documento do PPP submetido para aprovação em 2006, que se
detalha conforme abaixo:
149
didático-metodológico e socioeducativo, a serem trabalhados concomitantemente com a
Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado que será desenvolvido ao longo do curso;
nesse sentido, busca garantir a unidade teoria-prática e a integração ensino, pesquisa e
extensão e elaboração de uma monografia.
• Objeto de Estudo
A Educação Física, considerada como área de conhecimento e intervenção
profissional, tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas
diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da
luta, da arte marcial, da dança, visando à compreensão e apreensão das diversas
manifestações de atividades físicas como importante patrimônio socio-histórico-cultural,
bem como o aumento das possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e
saudável além dos anos de escolarização.
150
• Campo de Atuação
O profissional com Licenciatura em Educação Física deverá atuar em Instituições e
Órgãos Públicos e Privados de Educação Básica exercendo a docência do componente
curricular obrigatório do curso de Educação Física.
• Composição Curricular
I. Conteúdos Básicos Profissionais: 1.905 (uma mil, novecentas e cinco) horas-aula.
II. Conteúdos Complementares
a) Conteúdos Complementares Obrigatórios: 1.665 (uma mil, seiscentas e sessenta e
cinco) horas-aula.
b) Conteúdos Complementares Optativos: 240 horas-aula.
c) Conteúdos Complementares Flexíveis (Atividades Acadêmico-Científico-
Culturais): 210 (duzentas e dez) horas-aula.
Carga horária Total = 3.045 (três mil e quarenta e cinco) horas-aula distribuídas em,
no mínimo, 8 (oito) períodos letivos e, no máximo, em 16 (dezesseis) períodos
letivos.
Contudo, como alertamos previamente, o projeto político-pedagógico desse curso
vem sendo alvo de discussão há mais de seis anos sem, todavia, haver sido concluído,
devido a impasses que surgiram nos campos institucional e político relativos às demandas e
contradições quanto ao que define o MEC, o que propõe a ANFOPE e o movimento
estudantil, que se aliou a esta última. Antecipando-se, a ANFOPE, já em 1983, alertava as
instituições para o fato de que: “Nas instituições onde coexistirem cursos de Licenciatura e
Bacharelado na mesma área, não deverá haver separação inicial dos cursos no que se refere
ao conteúdo específico, evitando-se a discriminação do curso de Licenciatura” (ANFOPE,
1983, p.6).
Essas questões são reveladas e discutidas em um campo de forças, como já
definimos anteriormente. Um campo de disputa de projetos de formação do profissional.
Mesmo considerando que este estudo tenha sido localizado internamente na UFPB, onde os
embates apareceram durante muitos anos, ele também é percebido externamente, como nos
exemplos dos Encontros de Estudantes e Profissionais de Educação Física. Diante das
151
evidências, percebemos que esse movimento de resistência interna e externa contribuiu para
a ampliação dos debates quanto à natureza e ao papel do Conselho Federal de Educação
Física nas interferências das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso.
56
Sabe-se que o curso de Técnicas Agropecuárias sempre esteve sediado na cidade de Bananeiras, não
havendo qualquer registro nas normas anteriores a 1989 de que tenham funcionado em qualquer outro campus
da UFPB.
152
daí a gente construiu um documento e esse documento passou a ser
discutido nos departamentos, nos colegiados departamentais, e passou a
ser sugerida a participação de novas disciplinas, inclusão de novos
projetos, novas metodologias, e, os anos foram se passando, então houve
uma certa lentidão, mas com o advento do projeto político-
pedagógico[...] realmente se intensificou, e foi quando de fato a
Universidade instituiu a resolução no ano de 99.(EC3)
153
• Eixos e princípios norteadores encontrados:
O PPP, por ser anterior à Resolução nº 04/2004, não contemplou os princípios
norteadores dessa resolução, todavia foram garantidos os princípios dos Encontros de
Licenciatura.
• Objeto de Estudo
O curso tem como objeto principal a construção e apropriação dos conhecimentos
na área das Ciências Agrárias que, juntamente com os conhecimentos pedagógicos que
garantem a realização da docência, constituirão mediações para as transformações
necessárias à inserção harmônica do homem no seu meio.
• Perfil profissional
Profissional de nível superior com formação pedagógica e sólido conhecimento
técnico-científico, sociopolítico e princípios éticos, legais e humanísticos. É comprometido
com a construção e transmissão do saber, capaz de planejar, desenvolver e avaliar ações em
educação escolar e não escolar junto a instituições de educação básica (ensino fundamental
e médio), educação profissional (ensino técnico e profissionalizante) e educação superior
(ensino de graduação). Administra conteúdos de ciência e tecnologia nas áreas de produção
animal e vegetal, agroindústria, gestão de agronegócios e educação. Atua de forma
integrada como agente de pesquisa e de desenvolvimento em organizações, entidades e
movimentos sociais que envolvam a produção de pesquisa, extensão e o desenvolvimento
de atividades educacionais no campo das ciências agrárias.
• Campo de Atuação
Escolas Agrotécnicas de Ensino Profissionalizante; Escolas de Rede Pública de
Ensino Básico (Fundamental e Médio); Escolas e Instituições de ensino não-
profissionalizante; Áreas de assentamento e comunidades rurais; Organizações
governamentais e não-governamentais ligadas a pesquisa; empresas privadas de produção
agroindustriais; organizações governamentais de apoio e fomento a Educação, meio
ambiente e desenvolvimento do meio rural.
154
• Composição Curricular
I. Conteúdos Básicos Profissionais: 1.590 (uma mil, quinhentas e noventa) horas-aula.
II. Conteúdos Complementares
a) Conteúdos Complementares Obrigatórios: 780 (setecentas e oitenta) horas-aula.
b) Conteúdos Complementares Optativos, Flexíveis e Prática Curricular: 600
(seiscentas) horas-aula.
Carga horária Total = 2.970 (duas mil, novecentas e setenta) horas-aula distribuídas
em, no mínimo, 6 (seis) e, no máximo, 10 (dez) períodos letivos.
O curso de Ciências Agrárias foi um dos primeiros cursos a ter o seu PPP aprovado, o
que se deu em 2003, antes da aprovação da Resolução 04/2004. Sendo assim, não constava
a organização da Base Curricular, no entanto o entrevistado abaixo ressalta:
Podemos considerar que o PPP foi amplamente debatido com a comunidade do curso
no sentido de garantir a docência como base da formação do profissional de Ciências
Agrárias. Nos seus fundamentos, aparecem orientações da ABEAS e dos Encontros do
PROLICEN/UFPB.
155
Segundo uma das entrevistadas (GH6), a reformulação de 1996 foi muito
importante para a construção do atual PPP, “A gente não pode pensar uma reformulação de
currículo, ou um outro PPP que não leve em conta os avanços que a reformulação de 96
estabeleceu, por exemplo, no eixo teórico-metodológico, que foi ampliado”. Nessa
perspectiva são destacados os avanços do objeto de estudo e a importância de se considerar
o processo histórico da sua produção.
Refletindo ainda a respeito do processo de construção do PPP, comenta uma das
entrevistadas:
156
• Eixos e princípios norteadores encontrados:
O PPP contempla três eixos temáticos: I) Pressupostos Antropo-filosófico,
Sociohistórico e Psicológico; II) Pressuposto Sociopolítico e Pedagógico e III) Pressuposto
didático-metodológico e socioeducativo que é trabalhado concomitantemente com a Prática
de Ensino e o Estágio Supervisionado desenvolvido ao longo do curso; nesse sentido
destaca a complementação interdisciplinar, unidade teoria-prática e a integração ensino,
pesquisa e extensão e elaboração de monografia ao final do curso.
• Objeto de Estudo
Fundamenta a formação do profissional da História nos campos: da articulação
entre o saber e o fazer; da integração entre o conhecimento histórico e demais disciplinas
que constituem a formação humanística, especialmente as ciências sociais, a filosofia e a
educação; da reflexão sobre as diversas práticas do ofício do historiador e suas relações
com os demais campos do saber.
• Perfil do Profissional
O licenciado em História será capacitado ao exercício do trabalho de historiador em
todas as suas dimensões, o que supõe pleno domínio da produção e difusão do
conhecimento histórico e das práticas educativas correspondentes.
• Campo de Atuação
O Licenciado em História terá condições de atuar como docente na área de História;
em centros de pesquisa, casas de cultura e museus; em órgãos públicos e/ou privados de
planejamento e de gestão; em assessorias a entidades públicas e privadas nos setores
culturais, artísticos, turísticos, etc.
• Composição Curricular;
O PPP é organizado em dois eixos temáticos e um complementar:
1-Formação Histórica; 2-Teórico-Metodológico; 3- Complementação
Interdisciplinar.
157
Conteúdos Básicos Profissionais: 1.980 (uma mil, novecentas e oitenta) horas-aula
(incluindo conteúdos de formação pedagógica e Estágio Supervisionado).
Conteúdos Complementares: 840 (oitocentas e quarenta) horas-aula.
Conteúdos Complementares Optativos, Flexíveis e Prática Curricular.
Carga horária Total: 2.820 (duas mil, oitocentas e vinte) horas-aula correspondente
a 188 (cento e oitenta e oito) créditos.
PEDAÇO DE HISTÒRIA
Esse curso apresenta uma característica de trabalho coletivo desde os anos de 1980,
quando uma boa parte dos seus atuais professores participava como estudantes da primeira
reformulação curricular. Nos anos 1990, como professores, alguns deles já ocupavam
cargos de direção e estavam na construção do PROLICEN/UFPB. Como enfatiza (GH6)
“eu era coordenadora do curso de história desse momento em 96, e eu participei de vários
encontros do PROLICEN, onde essas experiências de reformulação curricular eram
apresentadas e passaram a ser reflexão das outras licenciaturas”.
A construção do atual PPP se fortaleceu a partir das discussões para a elaboração do
PPP do curso de História – licenciatura para educadores dos movimentos sociais e do
campo vinculados aos Assentamentos da Reforma Agrária do Incra, no Brasil. De acordo
com uma participante, aconteceram várias assembléias com estudantes, professores e
funcionários: “A gente fez três assembléias, em três momentos, tem o registro, tem a freqüência
dos alunos, a gente incorporou tudo isso no processo, mas o CA que está atualmente, o que passou
pela fase do envio do PPP, não foi a reunião do departamento para aprovar. (EC4A).
Observamos que há uma mobilização dos professores para dialogar com a sociedade
e com as demais licenciaturas, no entanto é ressaltada a pouca participação dos estudantes
na construção do PPP.
O PPP do curso de Matemática, que vinha sendo construído desde 2003, teve o seu
processo suspenso à espera das DCNs e foi, finalmente, retomado e aprovado em 2006. De
acordo com a minuta de resolução do curso:
158
Compreende-se o Projeto Político-Pedagógico: Graduação em
Matemática, Bacharelado e Licenciatura, do CCEN/UFPB, como sendo o
conjunto de ações sociopolíticas e técnico-pedagógicas, relativas à
formação profissional que se destina à orientação e concretização
curricular do referido Curso.
159
parte, que é específica para cada habilitação, onde estão contidos o Perfil Profissional do
Licenciado, Habilidades e Competências, Duração do Curso, Conteúdos Curriculares da
Licenciatura, Estrutura Curricular, Políticas de Implantação do novo Currículo. O relato
seguinte oferece-nos elementos para compreensão da forma como o curso respondeu aos
requerimentos do MEC:
Inicialmente, foi uma discussão muito grande. Há uns três ou quatro anos
atrás, houve uma discussão, o projeto não conseguiu avançar e ficou
engavetado por um tempo; ao assumirmos a coordenação, há um ano
atrás, nós assumimos com o compromisso de fazer com que o projeto
andasse. Constituímos uma comissão de professores; então esses
professores leram a legislação completa, compreenderam a legislação.
Tivemos, inicialmente, muitas dúvidas; procuramos a PRG no sentido de
tirar essas dúvidas... Aí tiramos as dúvidas e começamos a refazer o
projeto, todinho dentro da nova filosofia estabelecida pelo documento
oficial. A Comissão formada de três professores, sem alunos. Inicialmente
a comissão não tinha alunos. Após compreender toda a legislação e
tentar fazer o esqueleto inicial do curso, aí a gente abriu a discussão
para um conjunto maior de pessoas. Então, a gente abriu uma discussão
para todos os professores do departamento e para os alunos de
licenciatura e do bacharelado. As discussões com os alunos deixaram um
pouco a desejar porque não houve uma presença significativa de alunos;
poucos alunos foram lá e deram suas opiniões mas, mesmo assim, eu
acho que as opiniões foram muito qualificadas. Os professores
contribuíram bastante para a finalização do processo; foi muito boa a
discussão com os professores, eles tiveram muito interesse; pena que a
gente acha que esse processo todo ficou caracterizado pelo maior
interesse dos professores do curso do bacharelado. ...(EC1A).
160
As Diretrizes Curriculares para o curso de Matemática – Parecer nº 1.302/ 2001 e a
Resolução CNE/CES nº 3/2003 - figuram como norteadoras da proposta. Embora o
documento mencione que o PPP “atende aos anseios das comunidades discente e docente”,
a forma de participação dessas comunidades não está explícita no documento.
161
4.2.5 Curso de Pedagogia
162
Construiu-se, assim, uma experiência piloto durante um ano, que serviu de proposta
para o encaminhamento da reformulação curricular com base nos princípios do movimento
dos educadores. O currículo anterior à aprovação do PPP foi regulamentado pela Resolução
CONSEPE nº 13/96, estando neste já contemplada a docência para as séries iniciais e áreas
de aprofundamentos em: Magistério em Educação Especial, Magistério em Educação de
Jovens e Adultos, Supervisão Escolar e Orientação Educacional e Magistério das Matérias
Pedagógicas. Embora seu último projeto tenha sido aprovado em 1997; a dinâmica do curso
contribuiu para que, no final do ano 2000, ele estivesse sendo avaliado por sua comunidade
acadêmica que “tem se envolvido nos últimos 15 anos, com o conjunto dos educadores das
instituições de ensino superior em consonância com alguns movimentos de educadores,
como ANFOPE e FORUMDIR”.
Assim informa o documento do PPP de Pedagogia (2006, p.10)
163
Uma comissão composta por professores, alunos e funcionários reiniciou o trabalho
que avaliou o curso ainda em andamento, a partir dos resultados dos questionários
aplicados aos estudantes concluintes. Em seguida, essa comissão se reunia toda semana
para elaborar o PPP, que foi apreciado pela comunidade acadêmica. Vários encontros
aconteceram no período de 2001 a 2005; depois, esses encontros passaram a ocorrer com
menor freqüência; supõe-se que à espera da definição da aprovação das DCNs - posição
que foi, também, assumida pela comunidade de outros cursos de pedagogia no país. O
processo é assim descrito:
Veja, o projeto aqui tem uma longa história. Ele tem cinco anos de
discussões. Foi iniciado com as gestões anteriores. Várias comissões
passaram. Várias reuniões. Essas comissões foram se reorganizado. Por
conta do tempo que foi muito longo. Nesse primeiro momento,
participaram os funcionários, com relatório de suas atividades, alunos e
professores. À medida que o trabalho ia tomando forma, então a
comissão, que era grande demais, foi diminuindo. Teve uma prévia de
versão de setembro de 2005. Essa versão (a que está na Internet) foi
colocada na rede, foi discutida nos Departamentos e no Fórum; Foi
levada para uma reunião com os alunos e depois voltou para essa
comissão para a reestruturação. Essa comissão estava toda fragmentada,
já que os professores saíram para se qualificar .(EC5A).
164
apresentação do PPP e sua adaptação à referida Resolução, onde a aprovação final ocorreu
nos espaços do Centro e no CONSEPE.
• Objeto de estudo
O objeto de estudo é a educação, apresentado em função de três eixos norteadores:
• Perfil Profissional
Consistente formação teórica e diversidade de conhecimentos e de práticas, que se
articulam ao longo do curso. Dessa forma o PPP do curso de Pedagogia contempla o
seguinte arcabouço teórico-prático: o curso de Pedagogia trata do campo teórico-
investigativo da educação, do ensino, de aprendizagens e do trabalho pedagógico que se
realiza na práxis social; a docência compreende atividades pedagógicas inerentes a
processos de ensino e de aprendizagem, além daquelas próprias da gestão dos processos
educativos em ambientes escolares e não-escolares, assim como também na produção e
disseminação de conhecimentos da área da educação; os processos de ensinar e de aprender
dão-se em meio ambiental-ecológico, em duplo sentido, isto é, tanto professor(e)(s) como
aluno(o)(s) ensinam e aprendem, uns com os outros; o professor é agente de (re)educação
165
das relações sociais e étnico-raciais, de redimensionamento das funções pedagógicas e de
gestão da escola.
• Composição Curricular
É organizada a partir dos três eixos temáticos, distribuídos em:
- Componentes Básicos Profissionais = 1.680 (uma mil, seiscentas e oitenta) horas-aula.
- Componentes Complementares Obrigatórios = 1.140 (uma mil, cento e quarenta) horas-
aula.
- Componentes Complementares Optativos = 120 (cento e vinte) horas-aula.
- Componentes Complementares Flexíveis = 270 (duzentas e setenta) horas-aula.
Duração do Curso: No mínimo 4 anos, com 3.210 (três mil, duzentas e dez) horas-aula.
166
QUADRO VI - CATEGORIAS ENCONTRADAS NOS PPPS DOS CURSOS
Categorias Cursos
A construção dos PPPs dos Cursos aqui apresentados revela um intrincado processo
de relações entre instituições, sujeitos e propostas de mudança social, um processo nos
quais observam-se descontinuidades e formas de resistência ao instituído, como já
afirmamos, por razões próprias da produção do conhecimento, assim como também pelas
contradições que emergem no decorrer da sua realização. Ficou evidente também que há
uma tendência da comunidade do curso a reagir às imposições do MEC, sustentando ou
retendo processos em fase de conclusão, até que as DCNs fossem aprovadas pelo CNE.
Tal forma de resistência objetivou, como comentam nossos participantes, a inclusão de
princípios aprovados coletivamente para garantir uma legislação que contribuísse para que
a história dessa construção não fosse esquecida. Claro está que há o interesse de manter o
PPP atualizado, incorporando as determinações o MEC.
167
Os PPPs dos cursos apresentam um formato de acordo com o que determinam as
resoluções da UFPB enquanto a sua carga horária segue as orientações do CNE, relegando
a um segundo plano a orientação dos princípios aprovados nos Encontros de Licenciatura.
Os dados revelam que os cursos de Ciências Agrárias, História e Pedagogia foram
reformulados tendo como base a docência, principio este amplamente debatido na instância
da ANFOPE e no interior das demais associações dos cursos aqui representados:
Associação Brasileira de Ensino Agrícola Superior (ABEAS) e Associação Nacional de
Professores de História (ANPUH).
A integração do bacharelado com a licenciatura não é uma questão tranqüila, pois
dois cursos - Educação Física e Matemática – iniciaram as discussões indicando uma
separação entre bacharelado e licenciatura. No caso do curso de Matemática, percebe-se
que a preocupação da comunidade do curso é mais com o bacharelado, como afirma (EC1):
“acho que as Licenciaturas deveriam ter uma estrutura nova, de preferência ligada ao
Centro de Educação.(...) lá é o espaço ideal de formação de professores; aqui, a
Licenciatura é apêndice do Bacharelado”. Esta separação acha-se refletida no próprio PPP
do curso, no entanto no processo de aprovação prevaleceu a decisão por uma entrada
unificada no curso.
O lugar da licenciatura é também uma preocupação da ANFOPE, que já vem
indicando estudos no sentido de uma formação unitária que
Parte-se da compreensão de que a formação unificada/unitária dos
profissionais da educação, envolvendo todas as licenciaturas, e tendo
como eixos norteadores desta formação a base comum nacional,
acompanhada da redefinição das Faculdades/Centros/Institutos
específicos/Departamentos, em uma perspectiva interdisciplinar e
articulada aos sistemas de ensino, é fator de contribuição para o
desenvolvimento de uma nova qualidade da formação com reflexos na
qualidade social da educação básica. (ANFOPE, 2000, p. 32).
168
Um grupo de professores, a grande maioria, aponta para a criação do
Bacharelado e Licenciatura e um grupo menor apontava de forma um
pouco ambígua para a criação de uma Licenciatura ampliada, que não
teria respaldo legal junto ao MEC... Essa questão já foi superada, todos
os professores apontam para a perspectiva da criação de uma
Licenciatura e de um Bacharelado, mas ainda há uma certa divergência
com relação à forma de entrada, que, na nossa proposta, na proposta da
comissão de avaliação curricular, é que haja entradas distintas:
Bacharelado e Licenciatura. Há uma proposta ainda de uma formação
geral, depois da qual o aluno optaria por Licenciatura ou Bacharelado.
(EC2)
No momento, não temos dados suficientes para afirmar como será a denominação
do curso pois esse é um PPP ainda em discussão, enfrentando impasses quanto a seguir as
orientações do MEC ou a do movimento dos educadores. Impasses esses característicos de
processos democráticos de construção de PPPs.
169
Em geral, apesar de certa resistência ao trabalho coletivo no início do processo, há
consenso de que a instituição conseguiu avanços significativos na sua política
institucional cuja avaliação é sintetizada por um dos coordenadores de curso:
O projeto político pedagógico está muito quente, nós estamos agora com
apenas seis meses que implantamos o projeto, mas nós já vínhamos
fazendo um processo de avaliação do curso através desse levantamento
de dados. Ainda não temos um resultado, vamos dizer assim, do fruto do
projeto, porque em apenas seis meses, algumas disciplinas apenas foram
oferecidas no novo projeto e o tempo ainda é muito pouco para que a
gente possa avaliar. Mas há um programa continuado de avaliação pelos
discentes que acompanham isso através de um questionário que é feito
todo semestre e é discutido com os alunos e professores. (EC3a).
Os PPPs dos cursos apresentam uma característica comum quanto à sua organização
estrutural: história do curso, base legal; justificativa para reformulação; objetivos; perfil
profissional com suas competências, atitudes e habilidades; campo de atuação do
profissional, composição curricular, com ementas dos componentes curriculares, duração e
carga horária do curso.
Dos cinco cursos analisados, todos têm duração de quatro anos, mas têm carga
horária diferenciada. No entanto, só o curso de Pedagogia tem carga horária de acordo com
as sugestões dos encontros do PROLICEN/UFPB e orientações da ANFOPE, que é de 4
(quatro) anos e, no mínimo, de 3.200 (três mil e duzentas) horas.
Os cursos de História e Matemática têm a carga horária menor do que a determinada
pelos Encontros do PROLICEN. Tal constatação revela que esses cursos optaram por
adotar, nas resoluções de DCNs para o curso, uma carga horária nos moldes definidos pela
Resolução nº 02/2002 do CNE/MEC, o que evidencia a primazia da legislação sobre os
processos democráticos de decisão coletiva, pelo menos no que diz respeito ao
cumprimento de carga horária.
O longo processo de construção dos PPPs, como já salientamos, revela os impasses
decorrentes das inúmeras legislações do MEC referentes à formação de professores que se
apresentavam aos sujeitos envolvidos com a estruturação do projeto, resultando em largos
períodos de suspensão das atividades relativas ao mesmo, bem como das especificidades
dos processos políticos vivenciados pela instituição e das formas de resistência adotadas.
Ao registrar esses fatos, uma das nossas participantes revela como uma gestão universitária
170
pode reavivar o debate com os movimentos, vir a restaurar processos suspensos e contribuir
para acelerar a conclusão de PPPs:
Acho que eu considero que o entrave maior para fechar o novo PPP do
curso de Pedagogia, primeiro, foi fechar as concepções teóricas sobre a
pedagogia, sobre o que é ser pedagogo. Quando nós conseguimos fechar
171
entre os professores, aí vem o entrave das diretrizes que não eram
aprovadas e, nesse momento final, quando as diretrizes foram aprovadas,
o problema está sendo a respeito dos questionamentos em relação ao
processo de participação, porque nesse, finalmente, realmente, os alunos
não tiveram uma participação como outros tiveram quando ele começou.
(EC5).
Como propusemos nos capítulos anteriores, a análise dos dados contribui para
desvelar a trama das relações que se expressa na construção da política institucional da
UFPB, no período considerado, e os seus impactos na construção dos PPPs com base nos
dados analisados provenientes, principalmente, dos grupos focais e entrevistas, segundo o
modelo proposto (Figura II).
172
PROLICEN e também nos da reconfiguração institucional, universidades em relação a
ANFOPE. A gente tinha a normativa do ensino da essa particularidade - revela
oportunidade de ver como é que educação brasileira, do ponto que houve vontade política que
cada grupo estava trabalhando os de vista normativo. permitiu que essa discussão se
projetos, como eles estavam se consolidasse e dela saísse
relacionando com a política que o esses resultados - que se
MEC queria que fosse implantada. traduzem, por exemplo, no fato
[...] Pude acompanhar o que da UFPB ter definido
acontecia na ANFOPE e em outros claramente qual é o horizonte
movimentos, de outras instituições da formação de professores no
que não eram necessariamente seu interior e não se
atrelados à política do MEC. subordinar exclusivamente aos
ditames e políticas emanadas
da administração central.
173
Ao enumerar as dificuldades enfrentadas pela UFPB, um dos atores nomeia,
especificamente, aquelas de tratar com as demandas contemporâneas, como é o caso dos
movimentos sociais no campo57.
57
A professora fala da construção do PPP de História – Licenciatura, para educadores dos movimentos
sociais do campo vinculado aos Assentamentos da Reforma Agrária do INCRA, Brasil. Esse curso foi criado
como um PEC especial para esses educadores. Esse PPP foi aprovado em 2004 (Resolução
UFPB/CONSEPE/Nº 17/2004)
58
O PEC – Programa Estudante-Convênio - Rede Pública é um dos instrumentos que marcam a solução
encontrada pela UFPB para minimizar o problema da inclusão social dos professores leigos no estado da
Paraíba, ao mesmo tempo contribuindo para a formação dos profissionais da educação; trata-se de uma
iniciativa e de um programa singular, considerando a conjuntura e os persistentes níveis de desigualdades do
país. A UFPB responde aos desafios da LDB que exigia o diploma e titulação, dando oportunidade aos
professores da rede pública de virem a ser incluídos na sua estrutura acadêmica, respondendo com qualidade,
inspirada no movimento dos educadores, às ameaças de formação aligeirada estimulada pelas deliberações do
MEC e movida, em muitos casos, por empresários pouco afeitos aos valores de uma educação comprometida
com um projeto democrático de sociedade.
174
na condução das propostas. As respostas aos questionamentos feitos são apresentadas a
seguir:
c) Como se dão as inter-relações entre os sujeitos, que contradições observam entre o
que propõem a política de formação de professores, a legislação oficial e a política
institucional na construção de projetos político-pedagógicos específicos dos cursos de
Licenciatura da UFPB, segundo as experiências de cada curso?
Grupo Institucional Grupo de Curso Grupo de Centro
GI2 - a gente teve que GH6 - hoje a gente não pode GP2 - tivemos oito encontros
retroceder, a gente teve que pensar em uma reformulação de do PROLICEN, três Oficinas de
ficar nesse vai e vem, em currículo, ou, um outro PPP que Currículos, alguns encontros
função do próprio contexto deixe de levar em conta os também para organização do
nacional, dos avanços que avanços que a reformulação de 96 PPP, então, tudo isso. Eu acho
ora têm as diretrizes para os estabeleceu. E então, por que o PROLICEN desencadeou
cursos de Licenciatura, ora exemplo, no eixo teórico- a consolidação da política de
há recuos: Qual o curso que metodológico que foi ampliado, formação de educador em uma
avança mais nessa linha, qual uma perspectiva que foi perspectiva mais na base das
o curso que não avança, a avançando na discussão do ensino
leituras advindas dos
questão do projeto de de História que também tem
movimentos dos educadores e
pedagogia. A gente tem incorporado nesse eixo teórico,
percebido esses recuos, esses como elemento dessa
não do que vinha do MEC [...]
avanços, em decorrência do reformulação, é a ampliação da ela construiu a Resolução 39/99
que se vê nacionalmente em carga horária da área dos Projetos Político-
discussão. Seja pelos fóruns pedagógica, que tem sido, para a Pedagógicos de todos os cursos,
específicos, seja pela própria gente, inclusive, vista como um não só os das Licenciaturas.
indefinição do Conselho problema a resolver. Temos um Mas, como havia também uma
Nacional. Isso é um reflexo, consenso de que a gente acha cobrança que, ao mesmo tempo,
... Penso que os bacharelados muito complicado o curso de a gente trabalha o que vem de
avançaram mais até, talvez, Licenciatura em cinco anos para cima para baixo - que seria a
por conta dessa autonomia formar um professor - tempo posição do MEC, quer dizer, a
que eles tiveram. mínimo que está sendo apontado política do MEC - e a nossa
diante da nova carga horária das política interna, nós
disciplinas pedagógicas. Como é aproveitamos a cobrança: a
que a gente vai adequar o exigência em nível nacional de
currículo a uma demanda de mais que todos os cursos de
horas, para que essas horas não graduação teriam que fazer o
sejam simplesmente, pró-forma.? seu Projeto Político-
Hoje, eu acho que a gente lida Pedagógico.
com a necessidade de reformular
esse projeto, tendo em vista uma
legislação nova. A coisa está
sendo imposta por uma legislação
nova ... que amplia horas. Tenho
medo dessas coisas que são feitas
a partir dessas imposições de lá
de cima, pensadas e definidas a
partir de critérios tecnocráticos,
não tivemos alternativas
175
Os achados empíricos nos deram a oportunidade de mapear esse campo mais
ampliado dos processos estudados e de rever as categorias definidas inicialmente para
estudo. Segundo indicam os capítulos anteriores, iniciamos a pesquisa buscando analisar
duas categorias teóricas a priori definidas: política de formação do educador e projetos
político-pedagógicos. Entretanto, com base nas informações coletadas, como se tornaram
evidentes a partir da análise dos documentos e das falas, foram aparecendo outras
categorias empíricas que se instauraram, a posteriori, como reflexo das experiências
vividas pelos atores, tais como: os impasses, as resistências e as singularidades, indicando
a maneira como a instituição estudada e os sujeitos que a constituem lidaram com a
problemática.
As categorias impasses, resistência, singularidades foram emergindo durante a
realização da pesquisa. Nos grupos de discussão e nas entrevistas apareciam, com
considerável freqüência, expressões e relatos sobre impasses que se insinuavam no dia-a-
dia da vida acadêmica, como a inibir as ações dos sujeitos, em benefício dos seus projetos
mais especiais; também, as formas de resistência desenvolvidas pelos sujeitos foram
salientadas, contribuindo para precisar as especificidades no enfrentamento desses
impasses. As singularidades da política institucional da UFPB enquanto formas de lidar
com as barreiras que se interpõem no processo de construção do seu projeto institucional
revelam o caráter assertivo de sua participação no campo de forças do qual participa.
Outras categorias, tais como interdisciplinaridade, unidade teoria-prática e
integração ensino-pesquisa-extensão, perfil profissional sobressaíram nas explanações
sobre os PPPs, inspiradas no que propõem os Encontros de Licenciatura e Movimentos dos
Educadores - conforme registradas nos documentos da ANFOPE que tratam da BCN e nas
resoluções, relatórios e gravações audio-visuais - que, ao tratarem da política de formação
dos educadores, destacam caminhos a seguir. Fica evidenciado em um dos vídeos dos
Encontros com a PRG o mal-estar de coordenadores ao se referirem às dificuldades para
traduzir nas suas práticas as questões referentes à interdisciplinaridade, revelando impasses
conceituais no tratamento das questões emergentes e decorrentes da mudança e
transformação almejadas.
176
4.3 Impasses
177
Essa constatação pode ser entendida como uma mudança de concepção da
própria administração que iniciava uma nova gestão. No entanto, isso não se confirmou
com o PROLICEN, pois já havia uma massa crítica na universidade que defendia a
continuação do PROLICEN/UFPB e procurava resolver os impasses, considerando um
coletivo que se posicionava constantemente nos espaços dos encontros de Licenciatura.
Um dos nossos entrevistados registra com clareza esse processo:
178
d) Inter-relações para a compreensão das associações entre ensino, pesquisa e
extensão, unidade teoria e prática e o trabalho coletivo interdisciplinar na UFPB.
179
participação da sociedade civil através de movimentos sociais; e, c) projeto próprio
institucional. Ao prosseguir no seu trabalho de elaboração de uma política institucional
adequada aos seus objetivos, a UFPB, como analisamos através do que expressam os
participantes, procura situar-se entre duas forças principais: uma, a das leis e orientações do
MEC no sentido de uniformizar a formação do educador no país; e outra, a dos movimentos
sociais que buscam o aprimoramento da democratização e o ensino público de qualidade,
aqui expressos pela ANFOPE.
Para avançar na construção de sua política institucional, a UFPB encontra-se em
um caminho sinuoso, determinado por flexões geradas ora por uma, ora pela outra dessas
duas forças, conforme as possibilidades e os obstáculos que se apresentam, procurando
atender ao que define a sua política institucional; sendo assim, desenvolve estratégias de
resistência aos impasses que se apresentam no seu dia-a-dia. Mais explicitamente, a
instituição, por vezes, apóia-se no MEC, por vezes, na ANFOPE, na tentativa de manter a
sua força crítica e de se legitimar, como também compõe com essas instâncias, optando
pelo que melhor se afina com os seus interesses institucionais.
Conforme argumentam os nossos participantes, tanto nas entrevistas como na
discussão nos grupos focais, a Universidade tem procurado instituir uma marca
institucional não-atrelada ao que propõem as políticas do MEC que, como já comentamos,
seguiria uma orientação mais em consonância com o mercado. Reconhecem os professores
que a UFPB tem agido como uma instituição que tem um projeto de qualidade para
formação do educador, e, nisto, se aproxima dos objetivos da ANFOPE, para além do que
propõem as orientações do Banco Mundial. Em conseqüência, a implementação das
propostas de construção dos PPPs tem sido mais lenta do que o almejado; sendo assim,
dadas as necessidades de obter o reconhecimento do MEC e da sociedade, há quem
considere que a política de formação de professores dessa universidade tem sido, por esse
motivo, também descontínua.
A construção dos projetos político-pedagógicos constitui um desafio para a
instituição como um todo e, particularmente, para a sua comunidade acadêmica, desafio
esse reconhecido na argumentação de vários dos participantes dos grupos focais de curso,
segundo os quais é preciso criar formas de resistência para “discordar também dos pacotes
de cima para baixo, [...] eu acho que essa vai ser a grande questão da universidade, acho
180
que agora... é como institucionalizar - estar criando um novo crítico também”, como
sintetiza GH1.
A fala acima nos remete, por um lado, a uma longa história de imposição por parte
do MEC, de pacotes pedagógicos prontos e acabados que foram comuns na década de 1970,
por outro, mostra a nova forma como eles devem, ou vieram a ser recebidos pelas IES na
última década do século passado. As determinações do MEC, que eram em geral
consideradas incontestáveis, constituíam, tendemos a afirmar, impasses que se
manifestaram no cotidiano dos cursos, figurando como barreiras para a dinamização do
currículo e dos projetos político- pedagógicos. Esses impasses eram, como avaliam os
nossos participantes, em alguns momentos paralisantes, pelo medo de mudanças, de se
afastar dos limites burocráticos oficiais e de introduzir práticas mais criativas em
consonância com os desejos expressos nos espaços de produção coletiva, como sejam dos
encontros, oficinas e encontros nacionais da ANFOPE.
Claro está que esses impasses, em geral creditados às barreiras impostas pelo MEC,
devem merecer exame mais preciso, porque os sujeitos do campo educacional movem-se
também segundo suas próprias experiências, de modo reflexivo; tanto no presente como no
passado, está visível a questão do poder de uma classe ou grupo que domina a burocracia e,
por extensão, valida as suas práticas. Assim é que, ao se referirem às práticas atuais da
UFPB, há um certo desconforto dos participantes do grupo de centro com o recuo que
181
observam, quando comparam o que acontecia no início dos anos 1990 com o que se dava
em 2004, como bem sintetiza nosso participante, quanto à política adotada pela UFPB:
[...] eu acho que naquele primeiro momento, nos anos 90, a gente
percebia mais autonomia da universidade em ditar as suas diretrizes, eu
acho que a discussão foi mais intensa. Eu acho que nós estamos vivendo
agora - é verdade que eu tive aí um intervalo de 4 anos que eu estive fora,
com o doutorado, mas a sensação que eu tive depois ao retornar é que a
universidade se tornou muito mais burocrática, cartorial e atendendo
prioritariamente ao que vem sendo determinado pelo MEC. Quer dizer,
essa é a minha sensação, de que a universidade tem tido muito pouca
autonomia. Eu não sei se é uma característica da gestão que está
findando agora, de apenas executar, pouco discutir o que vem do MEC,
então, eu acho que, com relação à política adotada pela UFPB
recentemente, eu acho que ela é mais de acatar as diretrizes que vêm do
MEC, que vêm das instâncias superiores. (GH 9)
182
O participante faz referência ao trabalho de uma comissão institucional, bem como ao
posterior debate no Centro de Educação com os demais Centros de Ensino, para solucionar os
impasses provocados pela chegada das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, (Resolução CNE/CP nº 1/2002 e a Resolução CNE/CP nº 2/2002).
Essas Resoluções, como comentadas nos capítulos anteriores, fazem parte das regulamentações do
MEC para a formação de professores da Educação Básica. A decisão da UFPB de reunir os diversos
cursos de licenciatura para tomar uma posição institucional reforça a singularidade com que esta
instituição vem conduzindo sua política de formação. Contudo, sabemos, pelo que foi evidenciado
na nossa pesquisa, que essa foi uma decisão difícil para as instituições que estavam em processo de
elaboração ou mesmo de conclusão dos seus PPPs. Corria-se o risco de que cada curso de
licenciatura fizesse o seu PPP isoladamente, e, dessa forma, quebrasse a integração do Centro de
Educação com os cursos de licenciaturas específicas. Além disso, se perderia ou desconsideraria a
luta histórica da construção de uma base comum para as licenciaturas. O resultado dessa construção
coletiva culminou numa decisão conjunta dos cursos de licenciatura em regulamentar a Base
Curricular para Formação Pedagógica dos cursos de Licenciatura, conforme estabelecida na
Resolução CONSEPE nº04/2004. (ANEXO F).
Essa forma de responder às determinações das políticas oficiais nem sempre é debatida nas
instituições, no entanto torna-se evidente o papel que a ANFOPE vem desempenhando em relação a
esse aspecto, por meio do desenvolvimento de mecanismos que visam a estimular debates e ações, a
fim de se contrapor às políticas oficiais vigentes:
centrado esforços na construção de uma política global de formação dos
profissionais da educação que aponte as alternativas institucionais e
curriculares para a melhoria da qualificação e profissionalização dos
educadores. Historicamente, desde o seu VI Encontro Nacional de 1992, o
movimento vem construindo e defendendo a concepção de formação
unificada/unitária do educador, através da qual pretende-se criar as
condições para que os conteúdos formativos tenham por eixos norteadores
os princípios da base comum nacional, com ampla e coletiva participação
dos segmentos que compõem as instituições formadoras, de modo a
superar as estruturas curriculares que dicotomizam ou hierarquizam os
cursos de bacharelado e licenciatura. A discussão durante esses anos,
sobre esta complexa e polêmica concepção de formação, expressa a
atenção especial da ANFOPE em relação às especificidades das
instituições formadoras e às diversidades de experiências inovadoras em
curso no país. Diferente do quadro de imposições das propostas oficiais,
esta posição reflete o cuidado de nosso movimento no trato de questões
que, em certos aspectos, possam afrontar a autonomia acadêmica-
administrativa das IES, em especial, das Universidades. (ANFOPE 2002,
p.20)
183
Os espaços de discussão da política nacional de formação dos educadores, no caso
aqui estudado, tornaram-se também centros de contestação das políticas de Estado nos
vários fóruns e associações. Entre estes, figuram a ANFOPE, o FORGRAD, o
FORUMDIR, os quais, com as especificidades de sua atuação, produziram documentos que
refletiam sobre as interferências das Políticas de Estado, sobre o modelo de modernização
do país, das políticas educacionais, a partir dos debates e socialização de experiências. Ao
definir suas demandas para o novo período de governo, na carta de Niterói, representantes
do movimento dos educadores expressam sua reação às possíveis políticas para a educação.
59
Extrato do pronunciamento conjunto das Entidades ANPED, ANFOPE, ANPAE, FORUMDIR, CEDES e
Fórum Nacional em defesa da Formação do Professor ao Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, carta de
Niterói, 2002
184
magistério, permitindo a organização e reivindicação de políticas de profissionalização que
garantam a igualdade de condições de formação”(ANFOPE, 1990).
Essa entidade fez o registro de algumas instituições que produziram alternativas às
formas atuais dos cursos de formação, fundamentadas nos princípios da base comum
nacional construídos pelo movimento dos educadores, ressaltando a organização dos
Fóruns de Licenciatura de algumas instituições, entre esses o da UFPB.
As características das mudanças institucionais ocorridas entre os anos 1980 e os
anos 1990 são bem registradas pelo nosso participante:
O primeiro é esse momento que vem dos anos 80, que eu chamaria de
“cultura de projetos pedagógicos”, que é um momento em que a
Pedagogia se volta para superar uma noção simples de currículo e aí
incorpora a noção, a idéia de projeto pedagógico como instrumento de
formação e de avaliação do rendimento escolar. O segundo, e aí diz
respeito mais a nós mesmos, que é um debate sobre projeto pedagógico
dentro da UFPB e vem do início dos anos 90, já retomando, de certa
maneira, esse debate do final dos 80. Isso culminou com a LDB, em 96,
então, temos esse segundo momento. O terceiro foi o enfrentamento que o
governo Fernando Henrique Cardoso fez com as universidades públicas
e, de certa maneira, impôs uma política educacional... que tinha como um
185
objetivo mais explícito essa readequação das universidades, e da
educação de um modo geral, a princípios mais ou menos claros que
vinham na relação entre investimento público e privado, na relação
governo e organismos internacionais de financiamento da
educação.(GH8).
Continuando:
186
De um modo ou de outro, essas duas faces da resistência apresentam respostas a
situações de dominação impostas por um dos outros componentes do campo de forças.
Giroux (1986) considera a resistência como tendo uma face dupla, no sentido de que
aos indivíduos se apresentam “escolhas” para se constituírem em “sujeitos da dominação”
ou “sujeitos da história”, com conotações negativas ou positivas. Já Apple (1989, p.39)
analisa a resistência como profundamente contraditória e investiga como os elementos
dessas contradições estimulam a criatividade através de novas formas de comportamento
que, reelaboradas, redefinem ou contradizem as regras impostas no ambiente da escola ou
do trabalho.
Assim, nem todo comportamento de oposição se constitui como resistência; a
resistência é um comportamento que ultrapassa os limites da crítica à realidade, ela se
constrói de forma criativa como crítica à dominação e possibilita elaborações teóricas que
contribuem para a luta pela emancipação nos sentidos individual e social.
De acordo com um dos participantes:
Se todos estão envolvidos num único processo que é um processo de
educação, um processo de formação, etc, todos são responsáveis e todos
são elaboradores de contribuições importantes. Então nós tivemos, em
determinado momento, resistência, eu percebi isso, quer dizer, percebi a
partir da minha interpretação pessoal, eu posso estar equivocado na
minha dedução, mas eu percebi uma certa resistência dos próprios
colegas, de alguns colegas de universidade com relação a essa
participação, que não entendiam, que não é uma questão de estratégia
política, o envolvimento de funcionários e alunos, é uma questão de
estratégia acadêmica.
187
constituir o mote para que uma parcela desses profissionais reaja, organize-se, através de
partidos políticos, sindicatos, associações e/ou outros movimentos sociais, que examinam
as contradições das formas de dominação e as resistências apresentadas pela sociedade,
pela escola, que, como bem argumenta Sordi (1995, p.11), ӎ ao mesmo tempo uma
instituição aberta, embora sendo um verdadeiro palco de contradições”. Contradições essas
que se configuram nas instituições e que vêm à tona pelo exame crítico de posições e
movimentos de oposição. Entretanto, não podemos dizer que todo comportamento de
oposição se caracterize como de resistência, pois a resistência vai muito mais além de um
exame descritivo da realidade; ela propõe crítica à dominação e, a partir de um trabalho,
neste caso, coletivo, oferece elementos estratégicos para a luta por emancipação social.
A resistência pela resistência é uma acomodação que pode, circunstancialmente,
levar trabalhadores a pararem suas atividades e ficarem em casa, pensando que estão
contribuindo para a transformação da sociedade. Porém, a luta pela organização da
resistência não é apenas um comportamento de oposição, é um processo de criação, como
bem propõe Apple (1989). Nessa direção, as formas de resistência desenvolvidas na UFPB,
apresentam, em geral, uma face mais propositiva, culminando com um gesto de criação.
4.5 Singularidades
188
singularidades se expressam na política da UFPB e foram captadas através da observação,
dos documentos analisados, das contribuições dos grupos focais e das entrevistas:
Bem, eu acho que, de maneira geral, serviu até de exemplo para outras
universidades. Algumas propostas da gestão, desde o início dos anos
noventa, mesmo até agora, têm sido bastante interessantes e proveitosas,
só que eu acho que ainda de uma forma muito lenta; as discussões estão
se arrastando durante muito tempo. E uma das propostas nossas para a
UFPB é de que, até o ano de 2005, todos os projetos político-
pedagógicos, não só da área de Licenciatura, mas que todos estejam
aprovados pela UFPB. Inúmeros programas, alguns programas que
foram instituídos na gestão do professor N..... e do professor S..R., de
encontros nacionais, seminários que foram realizados aqui e foram muito
proveitosos para a construção dos nossos projetos político-pedagógicos
na área de Licenciatura dos professores de educação.(ED)
Como expressam as falas, o processo de discussão, apesar de muito lento, tem sido
de grande importância para a construção dos PPPs; registram-se aí o trabalho coletivo e
uma construção coletiva de formação:
189
BNC e BCN60 nos pareceres e resoluções do CNE referentes à formação do professor,
como bem argumenta um dos sujeitos da pesquisa:
a resolução nova que passou agora, a 04/2004 e que revê os PPPs, está
seguindo muito mais o que as associações indicaram do que o que o MEC
está colocando. Então, até a carga horária que era coisa fechada para a
Pedagogia... a resolução está abrindo para que a gente possa incorporar
60
A respeito das competências, a ANFOPE definiu que a BCN deverá abranger três dimensões fundamentais:
profissional, política e epistemológica, o que não quer dizer que é a mesma coisa das competências tratadas na
Resolução do CNE nº 01/2002 (ANFOPE, 1990, p. 70).
190
[outros conteúdos] como carga horária dos cursos, e isso é
uma[especificidade] da UFPB. Foi a única universidade que se colocou e
inclusive está sendo solicitada em todos os congressos que se vai,
justamente (...) para que isso seja colocado na mesa para ser a base de
negociação nas outras universidades. (GH5)
191
Grupo Institucional
[...] queria dar um destaque para essa forma, talvez. não colocada
claramente nos papéis, nos projetos da universidade, mas, o PROLICEN,
sendo um programa, bancado pela própria universidade, eu acho que é
um diferenciador também, não?... e na própria discussão sobre a seleção
dos projetos, a seleção das bolsas, a gente observa nos textos dos projetos
tem uma ligação muito grande com a discussão dos projetos político-
pedagógicos. O PROLICEN puxando esse interesse, e a outra coisa é a
discussão pela decisão pelo programa PEC - Rede Pública, e aí eu como
sou mais do lado do controle acadêmico, eu tenho que destacar a questão
da forma de seleção - processo seletivo bem diferente, bem específico - e
isto é, na leitura, embora não escrita, talvez não dita, mas é uma situação
de privilégio, privilégio que eu falo de interesse da universidade de
promover esse tipo de avaliação. A única coisa que a gente observa em
sala de aula com alunos do PEC, a gente percebe a importância para eles
desse programa. Embora a gente sempre fique em desvantagem quando
na cidade tem universidades privadas que propõem cursos aligeirados e
que a gente percebe que o próprio aluno, às vezes, faz os dois. (GI3)
192
vaidade que a comunidade da UFPB sempre procurou construir sua autonomia frente às
políticas nacionais.
Grupo de Centro
Grupo de Curso
193
debates e naquele momento, que é uma coisa que o pessoal colocou ... a
gente pensa que agora está um pouco engessado pela legislação, naquele
momento a gente não estava. Esse mote dessa frase lá do PROLICEN:
“Saia da Grade”... “Seja criativo”... “Mude”! (GH6)
194
representatividade e especificidade das falas, podemos perceber que toda discussão gira em torno da
Política de Formação do Educador e da construção dos projetos político-pedagógicos.
Resistência 43 09 10 13 75
Singularidades 29 07 05 04 46
Impasses 35 02 04 01 42
195
posicionando-se em relação às políticas do MEC que visavam estabelecer as Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos. O GP, por sua vez, destaca e reconhece o caminho
percorrido pela UFPB junto aos fóruns de educadores, sendo os principais a ANFOPE e o
FORUMDIR; vê a sua atuação como a de uma instituição que estabeleceu princípios com
base no trabalho coletivo. Nesse sentido, exalta a singularidade de como é construída uma
política de formação de professores, como observada por (GP1) “acho que a UFPB - não
digo que outras instituições não façam esse caminho – mas, particularmente, a UFPB, me
parece que isso é um traço, é sua marca distintiva, em relação à política de formação de
professores”. A fala destaca a construção dos princípios norteadores e a normatização
desses princípios em uma resolução de elaboração de PPP e da Base Curricular para a
formação pedagógica nos cursos de Licenciatura. Constatamos que os princípios foram
aprovados nos encontros de Licenciatura (1997):
196
O referido documento fundamenta a temática ‘interdisciplinaridade, unidade teoria e
prática e integração ensino, pesquisa e extensão’, com base nos estudos de Fazenda (1991)
e Zainco (1994). Essa temática transparece constantemente nas falas dos sujeitos da
pesquisa, principalmente naquelas dos coordenadores de curso, por serem chamados mais
diretamente a responder a essa demanda, atentando para os reclamos do MEC, da
instituição e do movimento dos educadores.
É fato que essas categorias foram também evidenciadas nos documentos da
ANFOPE e também constam dos documentos de todos os projetos político-pedagógicos
analisados. O que não ficou claro é como os cursos irão, na prática, exercitar o que está
escrito nos PPPs, principalmente sobre a interdisciplinaridade.
197
Desse modo, reconhecendo os modos como as contradições e os impasses que
surgem, bem como as formas de resistência desenvolvidas influenciam na regulamentação
dessa política, assim se expressa um dos participantes:
Eu não quero dizer com isso que não haja, nessa política, também,
eventuais problemas e eventuais contradições. Particularmente, por
exemplo, em relação agora à resolução 04/2004, embora ela já esteja
resolvida do ponto de vista da formação, certamente, a gente vai
enfrentar alguma dificuldade do ponto de vista da operacionalização.
Porque esse caminho que foi construído até a resolução (...) não foi
também um caminho tão pacífico. Houve resistências, houve interesses
que, muitas vezes, acabaram por ser sufocados. Houve momentos em que
muitos tiveram que ceder, em relação a esses interesses para permitir a
construção de um consenso, e não foi também um processo tão linear.
Agora, exatamente por isso, por não ter sido um processo linear, por
terem acontecido resistências ao longo dele, isso também caracteriza um
traço distintivo: foi assim porque o processo foi democrático, porque o
processo procurou respeitar os diferentes ângulos de discussão que a
gente tinha aqui, nos departamentos, nos Centros, entre outros, e a
questão que se coloca agora é a operacionalização do ponto de vista de
como isso vai se concretizar efetivamente e é essa experiência que a gente
vai viver agora a partir dos próximos semestres.(GP1)
As formas de resistência são percebidas como propositivas, como analisa uma das
participantes de grupo, ao ressaltar a contribuição da UFPB à política de formação do
educador nos anos 1990, destacando a participação dos professores das IES no movimento
dos educadores, desde a década de 1980:
198
máxima foi sempre a do conteúdo e que passou a priorizar, com igual ênfase, a questão
pedagógica. Os registros das falas salientam esses aspectos da mudança.
Uma outra contribuição que sobressai das falas dos participantes e é constatada em
seus documentos é o compromisso de oferecer a educação inicial e continuada aos
professores da Rede Pública e dos movimentos sociais organizados. Nesse caso,
institucionalizado por meio de celebração de convênios com as Secretarias de Educação e
Movimentos do Campo.
De acordo com a participante:
a UFPB tem tido o seu papel social, dando sua contribuição na formação
de educadores com o PEC, com o curso de História para os educadores
do campo, alunos da reforma agrária e, em conseqüência dele, vai abrir
uma turma para formação de educadores da reforma agrária também
naquele curso (GP3).
199
mas, também, corrobora com o que os movimentos dos educadores e os seus teóricos,
Freire, por exemplo, nos ensinam: mudar pode ser difícil mas é possível, como já
comentamos em outra parte desta tese.
200
político-pedagógicos de cada instituição, vislumbrando uma educação democrática.
Reconhecemos que a avaliação e o projeto político-pedagógico necessitam ser efetuados
simultaneamente, como partes de um mesmo processo de construção coletiva, em que os
sujeitos envolvidos possam, a partir do levantamento da realidade, refletir, analisar e buscar
condições para melhoria da qualidade da educação, segundo os objetivos traçados.
A compreensão desse movimento de ação-reflexão-ação embasa uma concepção de
avaliação emancipatória que, segundo Saul (1988, p.61), “[...] caracteriza-se como um
processo de descrição, de análise e de crítica de uma realidade, visando transformá-la”.
A esse respeito, o projeto do curso é parte do projeto institucional, como analisa
Veiga (2000, p.188), pelo entendimento de que o projeto do curso é:
201
pedagógicos dos seus cursos. Ao expressar sua colaboração para o entendimento da
construção dos PPPs, no caso da UFPB, um professor com formação específica fora da
área de pedagogia, argumentou:
Ao continuar sua apreciação sobre o que foi esse período na vida da instituição
UFPB, o professor passa a focalizar os PPPs:
Quando nós começamos a passar para a lógica dos projetos político-
pedagógicos....com as compreensões todas, que estão por trás desses PPPs,
eu acho que esse foi um outro momento.... na área de educação. Eu posso
me entender hoje como uma pessoa ..mesmo que não tenha tido a formação
de educação, eu acho que posso, pela experiência, pela convivência,
principalmente com as pessoas, com as quais. me inseri aí, no grupo dos
educadores..., em razão de todo aprendizado... que me foi oportunizado.
E... eu quero dizer que seria extremamente importante que todos os
professores da universidade pudessem, em algum momento, passar por
uma experiência como essa, com essa amplitude, ou... qualquer que seja a
forma, como passar por esse processo, porque passa a ver o seu curso,
mesmo não sendo um curso de Licenciatura, passa a ver o seu curso de
uma maneira bem diferente. Passa a ver a universidade como uma
instituição bem diferente do que ela é hoje. A questão da
multidisciplinaridade, a questão da...integração.(GI6).
A riqueza dos debates aqui analisados ofereceu-nos, e aos participantes dos grupos
focais, a oportunidade de definir um olhar especial sobre os cursos; refletir sobre a sua
realidade, enquanto sujeitos de um projeto institucional - harmonicamente vinculado a um
projeto de sociedade.
As especificidades da construção dos projetos político-pedagógicos dos cursos da
UFPB, conforme explicitadas nos capítulos desta tese, propõem desafios a serem
enfrentados pelos estudos futuros: avançar nos nossos propósitos de compreender processos
202
e aclarar os meandros do campo de forças em que se inserem os sujeitos e instituições
sociais, visando contribuir para uma educação de qualidade, para além do que conseguimos
vislumbrar até o momento desse intrincado processo, e garantirmos os resultados
almejados. Até lá, há um largo e longo caminho a ser percorrido, conforme explicitamos.
Entretanto, queremos deixar claramente expressa a nossa utopia de que os avanços nos
processos de construção dos PPPs se integrem ao projeto institucional e que as avaliações
futuras venham a expressar resultados promissores para a formação dos educadores e
transformação da sociedade, envolvendo uma perspectiva e um desejo de um projeto
emancipatório e de qualidade social.
203
204
CONSIDERAÇÕES FINAIS
205
educação democrática, emancipatória e atenta aos movimentos no mundo do trabalho e da
vida.
A estratégia metodológica utilizada nos permitiu revelar que a política institucional
construída por uma instituição de ensino superior - a UFPB, pôde ser compreendida através
do acompanhamento da história da vinculação dessa instituição com as políticas
educacionais e deliberações do MEC e, ao mesmo tempo, pelo acompanhamento do
envolvimento dos sujeitos que a representam com os movimentos dos educadores,
consubstanciados nas ações da ANFOPE.
Como demonstrado ao longo dos capítulos que dão forma a esta tese, com base na
análise dos dados realizada segundo uma conjugação de métodos e técnicas de investigação
que se revelaram eficientes por permitirem a utilização de referências documentais e
empíricas obtidas através de procedimentos e técnicas que explicitaram as perspectivas
dos sujeitos individuais e coletivos sobre a temática.
Sendo assim, a análise documental e as evidências empíricas nos abriram um leque
de informações sobre a produção do conhecimento institucional no que diz respeito às
políticas de formação do educador e sua repercussão nos projetos político-pedagógicos.
Alguns achados aportados por esses documentos foram destacados para que juntos
adentrássemos os espaços vividos, construindo questões que contribuíram para as análises
procedidas nos capítulos desta tese. Evidenciam também que há uma questão estratégica a
ser levada a sério pelas instituições acadêmicas: a de que a instituição não pode
simplesmente se ater ao mundo das normas, ignorando a riqueza das demandas dos
movimentos sociais que marcaram pontualmente a sua história e o seu perfil de instituição
comprometida com um projeto de transformação social.
As entrevistas semi-estruturadas, como descrevemos, nos proporcionaram conhecer
com mais detalhes os meandros da vida acadêmica no que se concerne à formação do
educador e construção dos PPPs, levando-nos a descortinar o ambiente das normas, das
utopias e das práticas coletivas, para compreender como estas se estruturam efetivamente.
As evidências são esclarecedoras das dificuldades ou impasses referidos pelos sujeitos,
principalmente por aqueles vinculados à gestão da graduação, entre os quais os
coordenadores de curso, quando se lhes exigem mudanças de hábitos e transformação da
realidade, bem como das formas de resistência adotadas. As análises mostraram também os
206
avanços reconhecidos pelos sujeitos, no que tange a uma política de construção coletiva, de
melhoria da qualidade da formação dos educadores da Educação Básica; da mesma forma,
assinalaram os recuos, algumas vezes justificados e, em outros momentos, como estratégia
positiva, a fim de assegurar a continuidade das suas práticas e a formação dos profissionais,
nos moldes requeridos pela sociedade, quando a questão passava pelo reconhecimento dos
cursos pelo MEC, levando-os a priorizar a legislação.
O uso da técnica de grupo focal, na perspectiva de multimétodo, nos ofereceu
aportes relevantes para responder aos objetivos que definimos como principais, os de
acompanhar as tensões que se apresentam às instituições de ensino superior tendo que se
sobrepor, continuamente, às regulamentações, leis, imposições do MEC, compondo com as
demandas do movimento dos educadores, catalisadas pela ANFOPE, reveladas pelo exame
do caso da construção da política institucional da UFPB e dos PPPs dos seus cursos, mais
especificamente as licenciaturas.
Os debates e os comentários que surgiram das entrevistas e dos pequenos grupos de
discussão, cujos participantes estavam certamente interessados no tópico e respeitavam-se
uns aos outros, foram extremamente ricos para o estudo. Vale ressaltar que o debate fez
com que a maioria dos participantes buscasse analisar as experiências passadas imbricadas
com as do presente, com a tranqüilidade transparente na maneira como os grupos
recordavam do trabalho coletivo desenvolvido pela Instituição para aprovação das suas
políticas e as formas de enfrentamento com as políticas nacionais.
Embora os avanços obtidos deixem-nos a desejar novos esclarecimentos sobre o
caso, esses são, no entanto, justificados pelo escopo desta tese, o de acompanhar processos
em realização, que requerem mais investigações.
Os resultados alcançados com a realização da pesquisa registram um esforço
teórico-metodológico de compreensão e explicação de processos desenvolvidos no campo
da formação de educadores da Instituição. A leitura da produção acadêmica sobre políticas
educacionais e o exame das práticas pedagógicas de sujeitos individuais e coletivos que se
constituem e se confrontam num campo de forças, no qual se desenvolvem e se constroem
as políticas institucionais, nos ofereceram achados significativos sobre os constantes
embates que surgem na construção propriamente dita dos projetos político-pedagógicos. É
fato que os atores dessa instituição foram mobilizados para avaliar os seus cursos tendo
207
como meta a construção dos projetos político-pedagógicos. No entanto, percebemos que
cada curso teve o seu percurso e o seu tempo próprio para concluí-lo. Assim sendo, cada
curso resgatou sua história e mostrou a evolução do objeto de estudo de sua formação.
A política institucional desenvolvida pela UFPB, ao longo do período delimitado
para os objetivos desta tese, foi aqui desvelada através das falas dos sujeitos que a
representam no âmbito político-educacional e pelos documentos que a fundamentam. As
análises feitas trazem à tona vários elementos que facilitaram ou dificultaram a
concretização dos PPPs, pois além de pensar fundamentalmente na formação mais ampla de
um profissional em educação, os sujeitos envolvidos na construção de projetos político-
pedagógicos experimentam barreiras institucionais de ajustar currículos, bem como
dificuldades técnicas relativas aos requisitos e às novas exigências da formação do
profissional de educação.
As falas dos participantes revelam que as dificuldades técnicas advêm da
acomodação burocrática de alguns e dos impasses que se apresentam no caminho escolhido
pelos sujeitos que representam a instituição, ao se confrontarem com os modelos impostos
pelas políticas nacionais e aqueles almejados pelo movimento dos educadores ou
modelados pelas entidades representativas dos profissionais em cada área e também com
outros interesses daqueles que se movem no interior de uma instituição universitária.
Ressaltamos que o trabalho coletivo desenvolvido pela UFPB, naquela década,
contou com uma equipe de gestores em vários cargos identificados da reitoria até as salas
de aulas. Esses gestores também já vinham participando dos movimentos sociais
organizados e mesmo nos partidos de esquerda, na CUT, nos sindicatos de classe como
ANDES, ADUF/PB, e associações como a ANFOPE e outras já destacadas nessa tese. As
experiências advindas dos movimentos sociais organizados é exercitada nessa instituição a
partir do trabalho coletivo de avaliação da sua realidade. Diante desse movimento de
avaliar sua prática, refletir sobre elas, propor mudanças e formas de resistência adotadas
dificultaram, no mínimo, a imposição de outros projetos no interior da instituição. O fato de
que muitos desses gestores foram também eleitos em diretorias de sindicatos, associações,
conselhos e fóruns regionais e nacionais, como CRUB, FORGRAD, ANFOPE são
exemplos de como essa singularidade, pela sua forma de atuação e pela sua política
institucional, a UFPB passou a se destacar no cenário acadêmico nacional reforçando o
208
entendimento de que é possível contribuir com um projeto contra-hegemônico de qualidade
social, desde que os seus sujeitos estejam engajados também nos movimentos de resistência
da sociedade.
Apesar dos limites apontados, o resgate histórico e pessoal do nosso trabalho
enquanto educadora participante do quadro docente da instituição estudada e, ao mesmo
tempo, militante e dirigente, que vivenciou os espaços de construção do cotidiano de uma
entidade política e científica, como a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais
da Educação - sem esquecer que exerceu também posições e cargos na hierarquia
acadêmico-profissional em instituições do ensino superior, no caso da Universidade Federal
da Paraíba. Tal posição permitiu-nos experimentar e analisar, pelo esforço e afastamento
necessários realizados na posição de pesquisadora, o movimento institucional nos aspectos
aqui amplamente assinalados, contribuindo para que esta tese pudesse mostrar os dois
projetos de formação dos profissionais de educação em disputa na década de 1990: o do
executivo e o dos movimentos sociais organizados.
Os projetos não foram apenas distintos, mas, principalmente, opostos na sua
concepção e na sua prática, visto o que definia o projeto do executivo, representado pelas
orientações do MEC, desenhadas em consonância com os objetivos de implementação das
políticas neoliberais, sob a fiscalização do Banco Mundial. Com isso, constatamos que as
políticas externas nos moldes impostos pelo processo de globalização não só interferiram
nas políticas internas do nosso país, mas estabeleceram as orientações para que essas
fossem seguidas em função das exigências do mercado.
As análises revelam como a universidade pública pôde se contrapor, em parte, ao
projeto neoliberal da década de 1990 e construir um projeto alternativo, a partir da crítica
aos programas que lhe eram oferecidos e à legislação que a limitava. Dessa forma os
resultados revelam como esta procurava (re)significar o instituído da política oficial,
acompanhando e participando das discussões político-acadêmicas dos movimentos dos
educadores e fortalecendo a construção coletiva do seu projeto de formação. Entretanto, a
relação da universidade pública com o Estado é ambígua. O Estado busca desenvolver e
garantir sua política governamental, definindo programas e linhas de financiamento para
sua execução, enquanto a universidade, se, por um lado, procura fazer valer sua autonomia
institucional, por outro, necessita dos recursos do Estado para a consolidação desse seu
209
projeto, uma vez que tem de buscá-los nos programas definidos pelo Estado, e, assim,
conteúdos e tipos de relação entre ambos depende dos interesses do momento. Nesta
década, as universidades federais procuraram se ajustar às linhas de financiamento, no
entanto nem todas obedeceram aos modelos determinados, como foi o caso da
Universidade Federal da Paraíba.
Com o trabalho construído coletivamente, a instituição estudada, procurou, não só
analisar o seu presente, engendrado no passado e com perspectivas futuras, como também
estimulou uma leitura dos documentos oriundos do MEC e da ANFOPE, procurando dar
um novo significado às propostas de normatização da legislação oficial no interior dos
cursos de graduação da Instituição.
Em conformidade com a política adotada, as definições dos princípios que
orientaram a elaboração dos projetos político-pedagógicos da Instituição foram comuns não
somente para os cursos de licenciatura, mas também para todos os cursos de graduação.
Significativa é a presença de um grupo de mobilização na Instituição com o compromisso
de socializar os discursos e as práticas desenvolvidas internamente, mas também com uma
posição quanto às políticas externas. São esses aspectos da política institucional que foram
ressaltados pelos sujeitos que, estimulados pelas questões em debate, puderam refletir a
respeito das diferenças dos diversos projetos que estavam em disputa naquela década.
A UFPB se inspirou na ANFOPE para desenvolver práticas democráticas e de
resistência às exigências do MEC, visando construir os princípios que orientaram sua
política de formação profissional com bases sólidas e críticas. Dessa forma os princípios da
Base Comum Nacional, desenvolvidos pela ANFOPE, figuraram na maioria dos seus
documentos, na sua legislação e nos seu PPPs. É necessário ressaltar também a influência
da UFPB na construção das políticas da ANFOPE, na medida em que encaminhava suas
proposta para serem socializadas nacionalmente e consideradas nos seus posicionamentos.
No entanto, a instituição procurou também imprimir sua própria marca, a partir de um olhar
tópico das suas definições coletivas e panorâmico das suas releituras das políticas
nacionais, sem perder a dimensão da totalidade das políticas dos cenários nacional e
internacional. Esse aspecto da relação “globalidade e localidade” defendidas por Santos
(2002) foi necessária para o entendimento das políticas de formação e a construção dos
PPPs dos seus cursos de formação.
210
A construção dos PPPs dos cursos, considerados em geral como conjunto de ações
sociopolíticas e técnico-pedagógicas, relativas à formação profissional e como, num dos
exemplos apresentados, para orientação e concretização curricular do Curso, aparecem por
vezes, na sua individualidade, embora para formalização encontrem os impasses da
legislação, com já analisamos anteriormente. Por outro lado, é notável o avanço na
realização de atividades geradas por uma coletividade que se constituiu, em lugar do
individualismo existente, na formação de uma comunidade aberta à participação.
Os resultados da pesquisa revelam também que as temáticas Política de Formação
de Professores e Projeto Político-Pedagógico estavam postas com maior ênfase no cenário
nacional da década de 1990. Nesse sentido, as instituições de ensino deveriam se
posicionar em relação ao tipo de educação e formação do educador que iriam defender,
considerando que já havia um projeto em andamento nas instâncias do Ministério da
Educação anterior à aprovação da LDBEN nº 9.394/96 e às deliberações do Conselho
Nacional de Educação referentes à política de formação de professores. Havia exigências
do Executivo para que as instituições de ensino se adaptassem aos novos modelos de cursos
voltados para o mercado de trabalho, de acordo com a legislação vigente. Portanto, essa
temática estava na agenda do dia-a-dia das instituições que ofereciam os cursos de
graduação em todo o país, como também nas dos vários empresários que se aproveitaram
das demandas para criar novos cursos tendo como base o modelo de competências
proposto.
No caso da UFPB, encontramos respostas que criticavam e rejeitavam os modelos
instituídos pelos órgãos oficiais que minimizavam a qualidade na formação do profissional.
A comunidade universitária se posicionou constantemente em relação às discussões e
deliberações do Conselho Nacional de Educação, em relação às Diretrizes Curriculares
Nacionais para todos os cursos de graduação. Embora a pesquisa realizada tenha tido um
recorte para a política de formação do educador, é relevante considerar que havia um
projeto de universidade com um olhar e objetivos para um projeto coletivo envolvendo
todos os cursos de graduação. Isso passa a ser evidente quando a Instituição - ao discordar
de algumas propostas oferecidas pelo MEC, a exemplo do Programa Especial de Formação
Pedagógica, criação dos Institutos Superiores de Educação, Cursos Normais Superiores e
de Redes de Formadores, ou discordava da realização de cursos aligeirados para formação
211
de professores. Assim, buscou (re)significar muitas dessas propostas, criando novas
alternativas que garantissem a formação do professor com uma qualidade condizente com
a política Institucional adotada. Podemos dizer que a instituição desenvolveu esforços e
atitudes com o desejo de contribuir com um projeto social.
O resultado da análise dos documentos dos projetos político-pedagógicos dos cinco
cursos selecionados, por área de estudos, comprovaram que as deliberações das discussões
coletivas ocorreram nos espaços democráticos dos seminários-oficinas de currículo e
seminários de licenciatura. Observa-se que existiram na instituição dois momentos
distintos no caminhar da elaboração dos PPPs: um, que caracterizou a saída da grade
curricular “O saia da grade” e outro, que foi o de construir o projeto político-pedagógico
de forma coletiva tendo como base os princípios aprovados nos espaços coletivos e
regulamentados nas Resoluções do CONSEPE/UFPB. Observamos que a construção de
PPPs elaborado coletivamente nas instâncias democráticas impediu o modismo de
construções de PPPs para atender às exigência das reformas na década estudada. Assim, a
análise dos PPPs estudados apresentou os princípios aprovados na sua coletividade em
consonância com a história do curso e com a construção do seu objeto de estudo. Observa-
se, ainda, que a composição curricular incorpora a base curricular para a formação
pedagógica dos cursos de licenciatura, referida na resolução CONSEPE nº 04/2004 e, sendo
assim, há também a incorporação dos eixos temáticos ao longo do curso e a garantia da
articulação entre teoria e prática no projeto de cada curso. A Prática de Ensino e o Estágio
Supervisionado acompanham todos os componentes curriculares. A interdisciplinaridade e
a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, embora debatida nos encontros do
PROLICEN/UFPB e incorporada nos PPPs dos cursos, não fica explicitada a forma de
realização.
Há um projeto de universidade que se coadunou ao projeto dos movimentos dos
educadores, e em especial aos princípios da Base Comum Nacional, construídos e
socializados pela ANFOPE. Interdisciplinaridade, unidade teoria-prática, integração ensino-
pesquisa- extensão, advindas da Base Comum Nacional da ANFOPE e que foram
incorporadas à elaboração dos projetos político-pedagógicos da UFPB.
O PROLICEN/UFPB, embora tenha sido criado a partir dos financiamentos do
PROLICEN/MEC, foi (re)significado dentro da instituição como um programa que
212
coordenasse as ações desenvolvidas pelos/nos cursos de licenciatura, e se tornou um espaço
de resistência propositiva no que se refere à política de formação do educador. É, assim, um
espaço que congrega encontros e seminários que, dependendo da necessidade,
transformavam-se em um grande fórum de debates envolvendo as comunidades interna e
externa para a tomada de posição frente às políticas oficiais. Foi assim que contribuiu para
construção, deliberação e aprovação das políticas de formação do educador de caráter
inicial (nos cursos de licenciatura) ou continuada (por meio de subprojetos desenvolvidos
por professores e estudantes bolsistas com os professores da escola básica). O resultado
desses encontros remeteram à definição de alguns eixos norteadores, como garantia da
interdisciplinaridade, unidade teoria-prática e ensino-pesquisa-extensão, compromisso com
a construção da Educação Pública de Qualidade e os conteúdos pedagógicos e específicos
que foram incorporados nos PPPs de todos os cursos de licenciatura da UFPB.
O PEC-RP foi outra proposta, no caso, alternativa aos Cursos Normais Superiores e
aos Programas Especiais de Formação de Docentes, vindo contribuir para garantir a
formação dos professores da Rede Pública nos próprios cursos de licenciatura da
Instituição. Garantiu, como reportam os dados analisados, também, que os recursos da
educação das redes municipais e estadual para capacitação de professores, advindos do
FUNDEF, fossem revertidos como bolsas de estudo para o professor-estudante do PEC-
RP. Esse programa revela outra faceta do compromisso da universidade para com a Escola
Pública, dificultando a instalação de mais instituições privadas, com esse objetivo, no
estado da Paraíba.
Os Seminários-Oficinas de Currículo e os Encontros de licenciatura foram
considerados como singularidades dessa política de formação adotada pela UFPB, uma vez
que todas as propostas de PPPs foram aprovadas pelo coletivo desses seminários. Esse
coletivo, segundo Pistrak (2000, p.137), é “uma concepção integral” onde “[...] crianças e
homens em geral formam um coletivo quando estão unidos por determinados interesses,
dos quais têm consciência e que lhes são próximos”. Assim sendo, o interesse que movia o
coletivo de professores e estudantes da UFPB era avaliar e construir o seu projeto político-
pedagógico tendo como norte um projeto de educação de qualidade social.
213
Esse movimento institucional é resultado de resistência propositiva na qual a UFPB
se fortaleceu para oferecer formação inicial e continuada aos professores da rede pública do
estado da Paraíba.
A construção dos PPPs dos cursos foram tecidos passo a passo a partir da avaliação
da sua prática e do seu objeto de estudo. A incorporação das orientações das Diretrizes
Curriculares Nacionais não foram tomadas ou consideradas como prontas, foram adaptadas,
sem perder de vista o que foi construído coletivamente pelos seus sujeitos, pois, como
evidenciam os achados da nossa pesquisa, as resoluções isoladamente não tiveram o poder
de mudar as práticas dos educadores, somente o que foi construído coletivamente garantiu
o estabelecimento de práticas progressistas para a elaboração dos projetos político-
pedagógicos.
Entretanto, muitas vezes as comunidades dos cursos, ao procurar garantir sua
proposta construída coletivamente, se deparam com algumas decisões de entidades ligadas
à sua categoria, como os conselhos profissionais e associações. Além do que, existem as
resoluções do CNE que estabelecem as Diretrizes Curriculares Nacionais, inclusive
definindo um prazo para a implantação dos PPPs dos cursos. Nesse sentido, percebemos
que o tempo burocrático interferiu no tempo acadêmico para a conclusão dos PPPs dos
cursos. Os impasses surgidos entre os que defendiam o cumprimento dos prazos
estabelecidos pela legislação federal e os que priorizavam o percurso de construção coletiva
desenvolvido dentro de um tempo acadêmico estimularam o surgimento de momentos
conflituosos, revelados em algumas falas e também nos silêncios dos que viveram esses
processos.
A ANFOPE é reconhecida como uma entidade científica e política que ocupa um
lugar de destaque no processo de formação dos profissionais da educação. Discutir
formação desses profissionais sem referenciar essa associação, é, no mínimo, fechar os
olhos para um movimento que luta pela qualidade da formação de professores no nosso
país, há mais de vinte anos. Essa associação sempre trilhou juntamente com os movimentos
sociais organizados e associações científicas, na busca de um projeto de qualidade social
construído coletivamente, em consonância com as demandas da sociedade civil. Dessa
forma e com a especificidade a ela inerente – a de formação dos profissionais da educação -
214
produziu e socializou conhecimentos a partir do seu coletivo nos encontros e seminários
nacionais, regionais e estaduais.
Reconhecemos através dos achados desta tese que essa associação vem orientando
as instituições para a construção dos projetos político-pedagógicos desde o ano de 1983,
quando define, em seus princípios gerais, que a “Base Comum Nacional dos cursos de
formação de educadores não deve ser concebida como um currículo mínimo ou um elenco
de disciplinas [...].”; com isso, ela vai aprofundando a concepção de BCN em todos os seus
documentos, reconhecendo que “é um instrumento de luta contra a degradação da profissão
e que se faz a partir das propostas de reformulação e reestruturação dos cursos de
formação.” (ANFOPE, 2002). Assim, o projeto de formação de professores produzido pela
ANFOPE é socializado com as instituições que formam professores para, então, ser
encaminhado às instâncias do MEC, com o intuito de fazer valer o projeto político dos
educadores e interferir no projeto instituído pelos órgãos oficiais. Podemos considerar que a
UFPB contribuiu para dar visibilidade ao projeto dos movimentos dos educadores desde a
década de 1980 mostrando, inclusive, formas de resistência desses educadores brasileiros
ao projeto neoliberal que estava em efervescência na década de 1990.
As instituições públicas que formam o educador encontram na ANFOPE uma fonte
de informação e um exemplo de coordenação das demandas reais dessa formação, assim
como orientações, para se contrapor aos modelos impostos pela política oficial. A ANFOPE
se constitui assim, uma referência para a Política de Formação do Educador, como revelado
pelo caso aqui examinado.
As especificidades da construção dos projetos político-pedagógicos dos cursos da
UFPB nos propõem desafios a serem enfrentados pelos estudos futuros: avançar nos
propósitos de compreender processos e aclarar os meandros do campo de forças em que se
inserem os sujeitos e instituições sociais.
As relações entre instituições, sujeitos e propostas de mudança social foram
marcadas por descontinuidades e formas de resistência ao instituído. Ao reagir às
imposições do MEC, sustentando ou retendo processos em fase de conclusão até que as
DCNs fossem aprovadas pelo CNE, os sujeitos que formam as comunidades do curso
desenvolveram formas de resistência objetivando garantir, embora incorporando as
215
determinações do MEC, que os princípios aprovados coletivamente fossem garantidos por
uma legislação, para que a história dessa construção não fosse perdida.
Os sujeitos da pesquisa, analisaram a história da construção dessa política de
formação profissional, e em especial a política de construção dos PPPs dos cursos de
graduação na UFPB, a partir de um resgate histórico e político a respeito da política local
contextualizada com a política nacional e a conjuntura mundial. Mostraram um terreno
conflituoso, cheio de ambigüidades e descontinuidades que, embora localizadas nessa
instituição, não eram frutos somente dela, espraiavam-se na sociedade como um todo. A
instituição, no caso, recepcionou e incorporou o processo de mobilização externa de acordo
com a realidade e seu movimento interno. Sendo assim, o processo de organização de
resistências propositivas demonstrou o compromisso dessa instituição com uma sociedade
mais democrática e formas de enfrentamento às políticas neoliberais.
Se, por um lado, percebemos as incorporações dos princípios aprovados
coletivamente - resultado do trabalho coletivo institucional desenvolvido na década de 1990
para a política de construção dos PPPs dos cursos de graduação da instituição - por outro,
nos surpreendeu a subtração desses espaços coletivos, observados durante a realização da
pesquisa, com a participação da comunidade acadêmica no processo de reflexão das ações
passadas e proposições de novas ações, pelo menos nos mesmos moldes do movimento
anterior.
A subtração dos espaços coletivos - como os seminários de licenciatura e
seminários- oficinas de currículos, que envolviam uma grande parcela representativa da
comunidade universitária - contribuiu para que os cursos construíssem os seus PPPs sem
dialogar com a comunidades da instituição e ainda correndo o risco de seguir, apenas as
determinações legais da UFPB em consonância com as do CNE. Dessa forma o processo
democrático fica fragilizado, enquanto política institucional e enquanto projeto social, uma
vez que cada curso poderá seguir as determinações dos seus respectivos conselhos
profissionais sem se preocupar com o projeto social emancipador. Assim sendo, podemos
reconhecer que desenvolver um trabalho coletivo numa instituição que congrega muitos
cursos exige um esforço maior, no entanto ele poderá tornar-se mais seguro. Com isso,
queremos ressaltar a importância dos espaços coletivos para deliberação e definição de
políticas orientadoras do projeto institucional. Esvaziar esses espaços é cair nas armadilhas
216
em que o projeto neoliberal vem apostando para que as instituições se alinhem ao mercado
de trabalho sem se preocupar com o processo de avaliação do projeto de universidade.
Assim sendo, a conexão entre avaliação institucional e projeto político-pedagógico
fica fragilizada. Embora tenhamos confirmado a existência de ambas as ações, não
conseguimos perceber suas formas de integração, pois as mesmas são tratadas
separadamente pelos cursos analisados. A não-visibilidade dessa integração acarreta a
incorporação de novos projetos de criação de cursos, em função de uma matriz
orçamentária determinada pelo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).
Com esta tese pudemos perceber que as instituições que desenvolvem um trabalho
coletivo democrático discutido a partir da avaliação das suas práticas pedagógicas e
refletida a partir de princípios construídos coletivamente por sua comunidade se fortalece
no seu projeto institucional. Reafirmamos ainda a importância da manutenção de um grupo
de mobilização para coordenar o trabalho coletivo com o objetivo de garantir
constantemente o processo aprovado pela sua comunidade, sem deixar que outros projetos
se instalem sem a aprovação do coletivo. A ausência de espaços democráticos em uma
instituição abre espaços para implantação de outros projetos condizentes com as demandas
do mercado e pouco atentos àqueles de uma sociedade democrática.
A presente tese constitui um aporte para a compreensão do tema e do desejo que a
moveu, na esperança de que os objetivos e agendas de transformação - que perpassam as
ações dos diferentes atores que aqui participaram e debateram com interesse as nossas
indagações, trazendo a público momentos pontuais de sua trajetória acadêmica e da sua luta
por um mundo mais igualitário e democrático - possam contribuir para transformar as
práticas sociais, com destaque para as práticas educacionais. Nesse sentido, a construção de
projetos político-pedagógicos é uma das variadas formas de construção coletiva que devem
envolver todos os segmentos da instituição.
Os resultados aqui apresentados são auspiciosos ao apontar para um futuro em que a
mudança de hábitos iniciada possa promover PPPs em um tempo adequado e em sintonia
com as urgentes transformações do mundo, das práticas educacionais e das práticas sociais
necessárias à construção de um projeto de sociedade democrática.
O caso da UFPB torna-se emblemático por inaugurar uma nova prática ou estimular
a mudança de práticas, na maneira de transformar os currículos dos seus cursos e se
217
contrapor aos poderes que inibem a obtenção plena dos seus objetivos embora, como
demonstramos, isto a tenha levado a se confrontar com os poderes instituídos e com
diretrizes que deles emanam ao se moverem estrategicamente em um campo de forças de
difícil manejo. Está claro que as suas vinculações, através dos seus atores principais, com o
movimento dos educadores lhe proporcionaram um suporte claro e eficiente para se mover
na busca dos seus projetos mais audaciosos e especiais, ultrapassando impasses, recuando
quando lhe parecia o mais sensato, desenvolvendo estratégias e formas de resistência para
garantir à educação o lugar e a função motora e transformadora do mundo, pondo-se assim
a instituição de maneira eficiente e propositiva, frente aos desafios da sociedade atual.
Finalmente, retomando a questão estratégica, torna-se explícita a necessidade, que
aqui tendemos a equacionar, a de que a UFPB, no caso, detenha: liderança institucional, no
sentido de assegurar espaços, mover os grupos e coordenar o processo de mudança
democrática, o diálogo com os movimentos sociais, e também, mantenha abertas as suas
portas a processos mais efetivos de transformação, a começar pela formação dos
educadores com os requisitos demandados para tal.
Ressaltados nesta tese, o movimento dos educadores - uma expressão dos
movimentos sociais dos anos 1990 - catalisaram em suas agendas e formas de ação as
demandas mais urgentes do momento, por se incluírem no campo de forças no qual se
instituem os instrumentos da política de formação dos educadores. Os dados aqui
analisados e as contribuições dos autores que trataram das questões discutidas ao longo das
últimas décadas e daqueles que se manifestaram e, desde há muitos anos, definiram a
educação como um dos campos em que a batalha contra as desigualdades e exclusões
deveria ser vencida. Freire, Santos, Freitas, dentre outros, mereceram atenção, por
desvelarem os impasses encontrados e as formas de resistência propositiva desenvolvidas
pela instituição e os seus atores, para fazer atravessar as suas propostas de educação,
comprometidas com um projeto de sociedade com qualidade social. Importante, como
ressaltamos, é reconhecer a presença de um outro ator nesse contexto, no caso o Estado,
que detém o controle da política nacional de educação e define as diretrizes para a sua
execução, do qual dependem as instituições educacionais, principalmente as públicas.
Na atualidade, a UFPB encontra-se em um momento de reflexão sobre um passado
de mobilização constante e um presente que vem a demandar responsabilidade social, nos
218
termos da avaliação institucional, estando os sujeitos a buscar, na sua história passada,
alimento para avaliação da ampla agenda que se apresenta, em combinação com o
compromisso social, marca da singularidade da sua atuação.
Sem a pretensão de haver esgotado as possibilidades abertas com a realização desta
tese, assinalamos aqui que muito aprendemos sobre as tramas nas quais são tecidas as
políticas de formação dos educadores, e sobre os melindres do campo de forças no qual os
sujeitos e as instituições atuam. Esta tese pretende, sim, contribuir para responder a essas
questões, abrindo possibilidades, ao menos no que se refere a oferecer um quadro amplo
dos processos que estão a demandar uma efetiva reflexão dos sujeitos que participam e se
envolvem na busca do trabalho coletivo, para a formação dos profissionais da educação,
vista no sentido emancipatório.
O sentido emancipatório é aqui entendido nos termos definidos pelos que almejam
tornar a educação em um instrumento de transformação social e que contribuíram, através
dos seus aportes teórico-metodológicos e visão crítica dos processos estudados, para a
realização de um trabalho de leitura da construção das políticas para a educação e, no
campo dos desejos, para a recuperação de utopias. Nossa expectativa é de que possamos,
de alguma maneira, haver respondido aos desafios lançados por aqueles que se destacaram
pelas relevâncias política e social dos seus escritos e ações para a transformação das
práticas educacionais. Por fim, esperamos fortemente que este estudo venha a motivar
outros, estimulados também por novos questionamentos que possam surgir.
A nossa utopia é de que os avanços nos processos de construção dos PPPs, em
conexão com a avaliação institucional, sejam parte constitutiva do projeto pedagógico
institucional e que as práticas futuras venham a expressar resultados promissores para a
formação dos educadores preocupados com a transformação da sociedade.
219
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______. Cadernos de graduação: auto-avaliação dos cursos de graduação. (Vol. 2). João
Pessoa, PB: PRG, 1997a.
______. Carta de posição contrária às políticas de Formação do MEC. João Pessoa, PB:
PRG, 1999a.
______. Catálogo geral dos cursos de graduação: estruturas curriculares: Pró-Reitoria de
Graduação. ( Vol.1). João Pessoa, PB: PRG, 2000a.
______. Catálogo geral dos cursos de graduação: ementas dos componentes curriculares:
Pró-Reitoria de Graduação. (vol.2). João Pessoa, PB: PRG, 2000b.
______. Comissão Própria de Avaliação. Auto – Avaliação Institucional: 2001 – 2004.
João Pessoa, PB: CPA, 2006a.
233
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação dos
docentes pelos discentes, período 2003.1, projeto piloto. João Pessoa, PB: PRG, 2004a.
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação de Curso:
do curso de técnicas agropecuárias. Pró-Reitoria de Graduação, João Pessoa, PB: CPME,
1995.
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação de Curso:
do curso matemática. Pró-Reitoria de Graduação, João Pessoa, PB: CPME, 1995.
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação de Curso:
do curso de história. Pró-Reitoria de Graduação, João Pessoa, PB: CPME, 1995.
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação de Curso:
do curso de pedagogia. Pró-Reitoria de Graduação, João Pessoa, PB: CPME, 1995.
______. Comissão Permanente de Melhoria do Ensino. Relatório de Avaliação de Curso:
do curso de educação física. Pró-Reitoria de Graduação, João Pessoa, PB: CPME, 1995.
______. Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão. Nota de repúdio ao decreto nº 3.276 de
6 de dezembro de 1999. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2000c. 2 p.
______. Conselho Universitário. Estatuto. Editora Universitária, João Pessoa, JP:
CONSUNI, 1998a.
______. Coletânea de normas: resoluções e portarias dos Conselhos Superiores da UFPB.
Gráfica UFPB, João Pessoa, PB: PRG, 2000d.
______. Coordenação de Currículos e Programas. Relatório dos I, II e III Seminários-
Oficina de Currículos: propostas aprovadas. João Pessoa, PB: PRG, 1993, 1995, 1999.
______. Planejamento estratégico. João Pessoa, PB: PRG, 2004b.
______. Plano de graduação da UFPB – 2001-2004. João Pessoa, PB: PRG, 2002.
______.Política da UFPB para os cursos de formação do educador PROLICEN/UFPB.
João Pessoa, PB: PRG, 1995b, Projeto aprovado pelo PROLICEN/MEC).
______. Posicionamento da UFPB quanto à Portaria nº 1.403 de 19/06/2003. João
Pessoa, PB: PRG, 2003.
______. Programa de Licenciatura da UFPB – PROLICEN/UFPB. João Pessoa, PB:
PRG, 1994. (Projeto aprovado pelo PROLICEN/MEC).
______. Programa Estudante Convênio: manual do candidato. João Pessoa, PB: PRG,
1998b.
______. Programas institucionais: três anos em defesa da universidade. João Pessoa, PB:
PRG, Oficina Gráfica A UNIÃO, 1996b. 70 p.
______. Projeto pedagógico: proposta para discussão. João Pessoa, PB: PRG, 1992.
234
______. Projeto Político-pedagógico: concepção, princípios e características. João Pessoa,
PB: PRG, 2004c.
______. Projeto Político-pedagógico do curso de Educação Física. João Pessoa, texto em
discussão no curso, 2006.
______. Projeto Político - pedagógico do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias,
aprovado pela Resolução 41/2003,em 29 de setembro de 2003. João Pessoa, PB:
CONSEPE, 2003.
______. Projeto político-pedagógico do Curso de Licenciatura em História, aprovado
pela Resolução 17/2006, em 25 de maio de 2006. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2006.
______. Projeto político-pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia, aprovado
pela Resolução 64/2006, em 25 de outubro de 2006. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2006
______. Projeto político-pedagógico do Curso de Matemática, aprovado pela
Resolução 75/2006, em 28 de dezembro de 2006. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2006.
______. Reitorado Neroaldo Azevedo: quatro anos em defesa da universidade. João
Pessoa, PB: Reitoria,1996c .48 p.
______. Relatório de Gestão. (1996 – 2004). João Pessoa, PB: Reitoria, 2004d. 71 p.
______. Relatórios dos Encontros de Licenciaturas I (1994) e II (1995). João Pessoa, PB:
PRG, 1994 – 1995c.
______. Relatório de Avaliação Institucional do ensino de graduação da UFPB:
evolução no período 1997-2000 e perspectivas para o quadriênio 2001-2004. João Pessoa,
PB: PRG, 2000e.
______. Relatório da Oficina de Trabalho Gestão da Graduação. Areia – PB: PRG,
2000f.
______. Relatório – síntese do II Seminário de avaliação do programa estudante
convênio rede pública – PEC-RP. João Pessoa, PB: PRG, 2006f.
______. Relatório de Gestão: 1996 – 2004. João Pessoa, PB: PRG, 2004e.
______. Relatório do I Seminário de Avaliação do PEC- RP. Gráfica UFPB, João
Pessoa, PB: PRG, 1999b.
______. Relatório do VII Encontro do PROLICEN/ UFPB. João Pessoa, PB: PRG,
1998c.
______. Resolução n. 39/99 de 16 de setembro 1999. Aprova a sistemática de elaboração
e de reformulação do Projeto Político Pedagógico dos Cursos de Graduação da UFPB,
revoga a resolução nº89/81, deste conselho, e dá outras providências. João Pessoa, PB:
CONSEPE, 1999c.
235
______. Resolução n. 34/2006 de 17 de agosto de 2004. Aprova a sistemática de
elaboração e de reformulação do Projeto Político Pedagógico dos Cursos de
Graduação da UFPB, revoga a resolução nº39/99, deste conselho, e dá outras
providências. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2004f.
______. Resolução n. 04/2004 de 09 de março de 2004. Estabelece a Base Curricular
para Formação Pedagógica dos Cursos de Licenciatura. João Pessoa, PB: CONSEPE,
2004g.
______. Resolução n. 41/2003. Aprova o Projeto Político-Pedagógico do Curso de
Graduação em Ciências Agrárias – Licenciatura Plena, do Centro de Formação de
Tecnólogos, Campus III, desta Universidade, revoga a Resolução n. 07 – A/89 do
CONSEPE. João Pessoa, PB: CONSEPE, 2004h.
______. Roteiro para organização de propostas de estrutura curricular para os cursos
de graduação da UFPB. João Pessoa, PB: PRG, 1995d.
______. Síntese das propostas existentes na UFPB no campo da formação de
educadores. João Pessoa, PB: PRG, 2000g (setembro mimeo). Disponível em:
<http://lite.fae. unicamp.br/formac/experiências/síntese.htm>. Acesso em 7, mar.2002.
236
ANEXOS
237
238
ANEXO A - CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UFPB E SUAS HABILITAÇÕES
(2000)
CURSO CAMPUS CENTRO HABILITAÇÃO
Administração I CCSA Bacharelado em Administração Pública
Administração II CH Bacharelado em Administração Pública
Bach. em Administração de Empresas
Administração IV CFT Bach. em Adm. de Cooperativas
Agronomia III CCA Graduação
Arquitetura e Urbanismo I CT Graduação
Arte e Mídia II CH Bacharelado
Biblioteconomia I CCSA Bacharelado
Ciências V CFP Licenciatura Plena em Biologia
Licenciatura Plena em Física
Licenciatura Plena em Matemática
Licenciatura Plena em Química
Ciências Biológicas I CCEN Bacharelado
Licenciatura
Ciência da Computação II CCT Graduação
Ciências da Computação I CCEN Bacharelado
Ciências Contábeis I CCSA Bacharelado
Ciências Econômicas I CCSA Graduação
Ciências Econômicas II CH Bacharelado
Ciências Sociais I CCHLA Bacharelado
Ciências Sociais II CH Bacharelado
Licenciatura
Comunicação Social I CCHLA Jornalismo
Relações Públicas
Radialismo
Desenho Industrial II CCT Graduação
Direito I CCJ Bacharelado
Direito VI CCJS Bacharelado
Educação Artística I CCHLA Licenciatura Plena em Artes Cênicas
Licenciatura Plena em Artes Plásticas
Licenciatura Plena em Música
Educação Física I CCS Licenciatura
Enfermagem I CCS Enfermagem Geral
Licenciatura
Engenharia Agrícola II CCT Graduação
Engenharia de Alimentos I CT Graduação
Engenharia Civil I CT Graduação
Engenharia Civil II CCT Graduação
239
Engenharia Elétrica II CCT Graduação
Engenharia Florestal VII CSTR Graduação
Engenharia de Materiais II CCT Graduação
Engenharia Mecânica I CT Graduação
Engenharia Mecânica II CCT Graduação
Engenharia de Minas II CCT Graduação
Eng. Produção Mecânica I CT Graduação
Engenharia Química II CCT Graduação
Estatística I CCEN Bacharelado
Farmácia I CCS Farmacêutico
Farmacêutico Industrial
Farmacêutico Bioquímico
Filosofia I CCHLA Bacharelado
Licenciatura
Física I CCEN Bacharelado
Licenciatura
Física II CCT Bacharelado
Fisioterapia I CCS Graduação
Geografia I CCEN Bacharelado
Licenciatura
Geografia V CFP Licenciatura
História I CCHLA Licenciatura
História II CH Bacharelado
Licenciatura
História V CFP Licenciatura
Letras I CCHLA Licenciatura Plena
Letras II CH Licenciatura Plena
Letras V CFP Licenciatura em Língua Vernácula
Licenciatura em Língua Vernácula e
Língua Inglesa
Matemática I CCEN Bacharelado
Licenciatura
Matemática II CCT Bacharelado
Licenciatura
Medicina I CCS Graduação
Medicina II CCBS Graduação
Medicina Veterinária VII CSTR Graduação
Meteorologia II CCT Graduação
Música I CCHLA Bacharelado
Nutrição I CCS Graduação
Odontologia I CCS Graduação
240
Pedagogia I CE Orientação Escolar
Supervisão Escolar
Pedagogia II CH Licenc. Educação Deficientes Auditivos
Licenc. Mag. Mat. Pedagóg. 2o Grau
Magistério das Séries Iniciais de 1o Grau
Pedagogia V CFP Supervisão Escolar
Administração Escolar
Psicologia I CCHLA Formação de Psicólogos
Licenciatura
Química I CCEN Bacharelado
Licenciatura
Química Industrial I CT Graduação
Serviço Social I CCHLA Bacharelado
Técnicas Agropecuárias/ IV CFT Licenciatura Ciências Agrárias.
Tecnologia Química II CCT Graduação (Couros e Tanantes)
Turismo I CCHLA Bacharelado
Zootecnia III CCA Graduação
241
ANEXO B – PANORAMA GERAL DO PROLICEN-UFPB
242
243
ANEXO C - LISTA DE FITAS (ÁUDIO E VÍDEO)
244
ANEXO D - DOCUMENTOS PESQUISADOS
MEC UFPB ANFOPE
245
Institucional;
Relatório de Oficina de Trabalho 2000:
Oficina de graduação;
Relatório do I Seminário de Avaliação
do PEC/ RP;
Catálogo Geral dos cursos de
graduação (2000);
Fontes: dados da pesquisa, elaboração da autora.
246
ANEXO E – RESOLUÇÃO/ CONSEPE N° 39/ 1999
RESOLUÇÃO Nº 39/99
RESOLVE:
247
IV - a construção do Projeto Político Pedagógico deve ter como horizonte a prática
profissional, assumida nas suas dimensões política, técnica e humana, e deve processar-se
de forma democrática envolvendo toda a comunidade do curso num trabalho
interdisciplinar;
V - o Projeto Político Pedagógico é uma construção dinâmica e deve ser permanentemente
avaliado.
Art. 4º Os seguintes aspectos devem compor o Projeto Político Pedagógico dos Cursos de
Graduação:
I - a história do Curso contextualizada com a história da Instituição, construída a partir do
objeto de estudo, conforme redimensionado na operacionalização dos currículos anteriores;
II - a justificativa para a reformulação deve conter um diagnóstico, fundamentado nos
resultados de avaliações institucionais e nas inovações propostas;
III - o marco teórico e a metodologia que devem indicar a concepção de currículo vigente e
a sistemática de sua operacionalização;
IV - os objetivos do Curso, de acordo com as diretrizes do MEC contextualizados com a
história da UFPB, assumidos como alvo orientador da formação profissional;
V - o perfil profissional que assegure uma sólida formação de base generalista, crítica e
ética, possibilitando ao cidadão-profissional aprofundamento em áreas de conhecimento do
Curso e formação continuada;
VI – as competências, atitudes e habilidades, que devem estar coerentes com os objetivos
do Curso e com o perfil profissional;
VII - o campo de atuação do profissional como meio de viabilizar a articulação entre o
mundo do trabalho e o mundo acadêmico;
VIII - as ementas, definidas como resumo dos conteúdos relativos aos componentes
curriculares, e suas respectivas bibliografias básicas, devidamente elaboradas e aprovadas
pelos órgãos competentes;
IX - a sistemática de concretização do Projeto Político Pedagógico, com indicação de
critérios e de condições indispensáveis à sua operacionalização e avaliação;
X - as certidões de aprovação do Projeto Político Pedagógico pelos respectivos Colegiado
de Curso e Conselho de Centro.
Art. 5º Para efeito do estabelecimento da duração do Curso, os seguintes condicionantes
devem ser observados:
I - o tempo mínimo terá como referência o mínimo fixado pelo órgão federal competente;
II - o tempo máximo será igual ao mínimo fixado pelo Curso, acrescido de:
a) 50% (cinqüenta por cento) para os cursos ministrados nos turnos diurno e
noturno;
b) 75% (setenta e cinco porcento) para os cursos ministrados em um único turno;
III - a carga horária total do Curso não poderá exceder em 10% (dez por cento) do mínimo
fixado pelo órgão federal competente.
§1º A duração dos cursos noturnos deverá ser fixada de modo a assegurar os mesmos
padrões de qualidade estabelecidos para os cursos diurnos.
§2º Os alunos com extraordinário aproveitamento nos estudos poderão ter abreviada a
duração dos seus cursos, de acordo com regulamentação específica.
§3º Além do limite de horas fixado no inciso III deste artigo, o aluno poderá aumentar a
carga horária relativa à sua formação se o fizer por meio de outras atividades acadêmicas
complementares, conforme regulamentação específica.
248
Art. 6º A composição curricular, integrante do Projeto Político Pedagógico dos Cursos de
Graduação, resulta de conteúdos fixados conforme os seguintes blocos:
I - conteúdos básicos, resultantes das Diretrizes Curriculares Nacionais fixadas pelo órgão
federal competente, que compreenderão pelo menos 50% (cinqüenta por cento) da carga
horária do curso;
II - conteúdos complementares, que podem ser desdobrados em:
a) conteúdos complementares obrigatórios, além daqueles específicos de cada curso,
incluirão Metodologia Científica, Pesquisa Aplicada e Seminários relativos a Educação
Ambiental, Educação Especial e Direitos Humanos;
b) conteúdos complementares optativos, constituídos por áreas de aprofundamento e de
componentes livres, e componentes instrumentais regulamentados de acordo com as
normas específicas dos Colegiados de Curso;
c) conteúdos complementares flexíveis, de caráter eletivo, sob a forma de projetos (de
ensino, de pesquisa e de extensão), seminários, congressos, e outros, de livre escolha do
aluno, correspondentes a, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso.
§1º Os conteúdos curriculares são desdobrados em Componentes Curriculares, tais como:
disciplinas, tópicos especiais, seminários, congressos, Estágio Supervisionado, Prática de
Ensino, projetos, monografia e outras atividades acadêmicas.
§2º Nos conteúdos básicos dos Cursos de Licenciatura, devem ser incluídos a Prática de
Ensino, com duração mínima de trezentas horas e componentes curriculares de formação
pedagógica, com duração mínima de trezentas horas, atividades estas a serem
regulamentadas por este Conselho.
§3º Nos conteúdos básicos dos demais cursos, deve ser incluído o Estágio Supervisionado,
regulamentado pelo Colegiado do Curso;
§ 4º Nos conteúdos complementares de todos os cursos de graduação, deve ser incluído o
Trabalho Acadêmico de defesa obrigatória por parte do aluno, regulamentado pelos
respectivos Colegiados de Curso.
§ 5º O disposto na alínea c do inciso II deste artigo não se aplica aos cursos que tenham
percentuais fixados por ato normativo federal.
Art. 7º A organização curricular deverá definir o regime acadêmico do curso -
seriado/créditos - e poderá ser feita através de eixos temáticos que possibilitem a prática
interdisciplinar e a integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Parágrafo único. A integração das atividades acadêmicas de que trata o caput deste artigo
deverá ser instrumentalizada pela indicação de, pelo menos, três linhas de pesquisa e de três
linhas de extensão comuns ao curso ou vinculada a programas de pós-graduação.
249
§3º A Metodologia Científica deve ser oferecida no 1º ano letivo para possibilitar ao aluno,
a formação e o instrumental necessários para elaboração e desenvolvimento de projetos e
pesquisas inerentes à sua formação acadêmica.
Art. 9º As atividades acadêmicas desenvolvidas semestralmente serão realizadas no
decorrer de cem dias letivos.
§1º A unidade de crédito, para os cursos que adotarem este regime acadêmico, corresponde
a quinze horas semestrais.
§2º A cada semestre letivo, serão destinados dez dias letivos a atividades de enriquecimento
curricular, previstas no calendário escolar, para efeito de computação dos dias letivos, e de
registro acadêmico, na forma de certificação.
§3º Os docentes responsáveis pelos componentes curriculares deverão elaborar e divulgar,
bem como cumprir, plano de trabalho de acordo com o que estiver estabelecido no Projeto
Político Pedagógico do Curso.
Art. 10. A elaboração e a reformulação do Projeto Político Pedagógico, de
responsabilidade dos Cursos de Graduação, serão acompanhadas pela Coordenação de
Currículos e Programas da Pró-Reitoria de Graduação, que emitirá parecer técnico para
subsidiar a análise deste Conselho.
Parágrafo único. O Projeto Político Pedagógico dos cursos de graduação deverá ser
continuamente avaliado conforme regulamentação específica.
Art. 11. Após a aprovação do Projeto Político Pedagógico por este Conselho, serão vedadas
alterações, num prazo inferior à duração mínima do Curso, ressalvados os casos de
adaptação às normas emanadas pelo CNE e às emergenciais, a juízo do CONSEPE.
Art. 12. Quando se tratar de reformulação do Projeto Político Pedagógico, a equivalência
curricular será feita através de Portaria expedida pela Pró-Reitoria de Graduação.
Art. 13. A presente Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 14. Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a Resolução Nº 89/81
deste Conselho.
Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Paraíba, em
João Pessoa, 16 de setembro de 1999.
250
ANEXO F – RESOLUÇÃO N° 04/ 2004
RESOLVE:
251
IV – a interdisciplinaridade entre os diversos campos do conhecimento e a
Parágrafo único. Define-se como eixo estruturante dos componentes pedagógicos dos
Cursos de Licenciatura a formação de profissionais para atuarem em programas de ensino,
comprometidos com a investigação, a produção e a aplicação do saber artístico e técnico-
científico.
Parágrafo único. A Base Curricular de que trata o caput do artigo terá o total de 825
(oitocentas e vinte e cinco) horas-aula correspondentes a 55 créditos distribuídos entre a
Prática Curricular e o Estágio Supervisionado de Ensino de que tratam os artigos 4º e 7º da
presente Resolução.
Art. 4º A Prática Curricular terá uma carga horária mínima de 420 horas-aula que
correspondem a 28 créditos, cursados ao longo de todo o Curso de Licenciatura, respeitados
os conteúdos dos seguintes eixos temáticos de natureza formativa:
252
§ 2º Será facultado o acréscimo de outros componentes curriculares complementares
optativos ou flexíveis, além dos componentes curriculares definidos na Base Curricular
para atendimento aos objetivos dos Projetos Político-Pedagógicos dos diferentes Cursos de
Licenciatura.
Parágrafo único. A distribuição da carga horária dos eixos temáticos acima explicitados
deverá contemplar:
I. Os fundamentos teóricos sobre o ensino do conhecimento específico; a formação do
professor e sua inserção no mercado de trabalho; a realidade educacional brasileira do
ensino do conhecimento da formação, com ações junto a órgãos normativos e executivos do
sistema e outros espaços educacionais não escolares;
II. Os fundamentos teórico-metodológicos, avaliativos e instrumentais do ensino do
conhecimento específico, associados à pesquisa e investigação no ambiente escolar.
III. As experiências de observação, planejamento e vivência no campo de estágio da
educação básica;
Art. 8º O Estágio Supervisionado de Ensino deve enfatizar a formação docente vivenciada
remunerada.
253
horária dessa atividade como estágio, até em 200 horas, de acordo com normas
Presidente
Eixo temático I
Pressupostos Antropo-filosóficos, Sócio-históricos, Psicológicos
Carga Horária: 180 horas
Créditos: 12
Componentes Obrigatórios
Fundamentos Antropo-Filosóficos da Educação
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: Estudo dos saberes teóricos, do surgimento das idéias, do pensamento e das
linguagens que dão suporte a ações substanciais que orientam processos de ensino-
aprendizagem.
Fundamentos Sócio-Históricos da Educação
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: Estudo da contribuição das ciências sociais e humanas para a compreensão do
fenômeno educativo e sua aplicação no processo de formação do educador.
Fundamentos Psicológicos da Educação
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: Estudo dos saberes teóricos sobre o desenvolvimento psicológico e a
aprendizagem humana aplicados ao processo de ensino-aprendizagem.
Componentes Optativos
1. Economia da Educação
254
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: Analisar as concepções da educação veiculadas pelos papéis que lhe são
atribuídos e/ou negados pelo sistema econômico de produção, nos diferentes tempos e
espaços sociais, e respectivas críticas.
2. Fundamentos da Administração da Educação
Carga Horária: 60 horas
Créditos:4
255
educacional e desafios do cotidiano escolar. Profissionais da educação|: formação, carreira
e organização política.
Componentes Optativos
Planejamento e Gestão escolar
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: abordagem sociológica dos modelos organizacionais de Escola Pública. Planos,
estruturas e regras organizacionais. Políticas, racionalidades e práticas administrativas
escolares. O processo de tomada de decisão na escola. O papel do gestor escolar. Uso da
autoridade e estilos de liderança. Autonomia das escolas. Educação, gestão democrática e
participação popular. Orçamento e democracia. Cidadania na escola. Organização e
funcionamento dos Conselhos Escolares. Avaliação de sistemas e instituições educacionais.
Currículo e Trabalho Pedagógico
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 4
Ementa: Os diferentes paradigmas no campo do currículo: as tendências tradicionais, crítica
e pós-crítica. O processo de seleção, organização e distribuição do conhecimento. O
currículo, as normas e a política educacional brasileira. O currículo e a construção do
projeto político-pedagógico no cotidiano da escola.
Pesquisa e Cotidiano Escolar
Carga Horária: 60 horas
Créditos: 04
Ementa: Impactos da pesquisa educacional sobre as práticas escolares. O espaço da
pesquisa no cotidiano escolar. Profissão docente e epistemologia da prática. A/O
educadora/educador-pesquisadora/pesquisador.
Educação e Inclusão Social
Carga Horária:45 horas-aula
Créditos: 03
Ementa: A noção de inclusão social e direitos humanos. Elementos constitutivos do sistema
de exclusão/inclusão social: as pessoas, as instituições sociais. Desigualdade social e
diversidade. Processo/produto da construção do conhecimento e inclusão social.
Pertenciamento social e relações sociais. Fundamentação teórica e metodológica da
educação inclusiva. Práticas educacionais, estratégias de inclusão social. A inclusão como
construção do indivíduo cidadão. Identidade pessoal, protagonismo social e construção do
projeto de vida na escola. Educação inclusiva e políticas públicas.
256
teóricos, históricos, filosóficos e sociais da didática; Tendências pedagógicas e a didática;
Planejamento de ensino; O ato educativo e a relação professor-aluno.
Componentes Optativos
1. Avaliação da Aprendizagem
Carga Horária: 60 horas
Créditos : 4
Pré-requisito : Nenhum
Ementa : Concepções de educação e avaliação. Princípios ou pressupostos, funções,
características e modalidades da avaliação. A prática da avaliação. Propostas alternativas de
avaliação do processo ensino-aprendizagem. Avaliação e mecanismos intra-escolares:
recuperação, reprovação, repetência e evasão.
2.Seminário de Problemas Atuais em Educação
Carga Horária: 60 horas
Créditos : 4
Pré-requisito: nenhum
Ementa: Estudo de problemas atuais em educação. Sua relação com o contexto sócio-
econômico, cultural e político e seu entendimento com expressões de fenômenos da
formação social brasileira.
257
6. Seminário de Educação Ambiental
Carga Horária: 45 horas
Créditos : 3
Pré-requisito : Nenhum
Ementa: Contribuir para uma consciência crítica e criativa sobre as questões ambientais,
entendendo-se como critica, a compreensão da origem e a evolução dos problemas
ambientais, considerando-se para tanto, os aspectos biológicos, físicos e químicos, bem
como os sócio-econômicos, políticos e culturais. Dentro do atual contexto tecnológico,
desenvolvendo a plena cidadania e conseqüentemente, garantindo a qualidade de vida,
utilizando para tanto o uso racional dos recursos naturais em benefício das gerações atuais e
futuras.
258
ANEXO G – CARTA AO MEC
259
Diante desse quadro, a Comissão da UFPB assumiu a seguinte posição:
A Comissão da PRG/UFPB espera, com isso, marcar uma posição crítica sobre os
encaminhamentos iniciais adotados pelo MEC para apresentação e divulgação do Sistema
Nacional de Formação Continuada e Certificação de Professores, desconsiderando as
discussões em curso e a uma participação realmente representativa das IES. A UFPB não
entende essa postura como uma omissão face aos atuais acontecimentos, mas uma atitude
coerente com os princípios democráticos e participativos defendidos nos diversos cursos
responsáveis pela formação de professores, pertencentes a UFPB.
A Comissão - UFPB
260
ANEXO H - ROTEIRO DE ENTREVISTA
6) Na sua opinião, a UFPB vem contribuindo para o avanço da política de formação dos
profissionais da educação? De que forma?
261
ANEXO I – NÚMEROS DE MATRICULADOS NOS CURSOS DE
LICENCIATURA POR CENTRO
Anos
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2006
Centro / Cursos LIC LIC LIC LIC LIC LIC PEC LIC PEC LIC PEC LIC PEC
CCEN
Ciências Biológicas 95 91 61 99 100 143 - 150 - 187 21 197 36
Física 53 52 38 71 87 117 8 120 12 132 19 145 3
Licenciatura em Ciências 299 285 156 269 274 359 58 258 68 219 60 36 9
Matemática 93 95 69 90 101 134 22 122 26 138 34 38 10
Química 135 135 89 160 104 226 1 183 8 190 12 107 5
Geografia 493 494 341 332 321 374 21 343 50 352 67 94 24
CCHLA
Filosofia 264 204 30 152 201 233 - 219 - 196 13 7 -
Historia 304 306 247 132 280 338 9 296 38 329 60 434 28
Letras 370 347 30 305 376 444 34 400 88 416 157 632 78
Educação Artística 398 391 349 393 441 511 58 515 135 583 204 414 109
Psicologia 64 365 399 457 - 453 - 472 401 -
CCS
Educação Física 204 219 190 224 256 319 - 318 - 330 4 411 4
Enfermagem 427 445 339 446 447 531 - 456 - 442 29 -
CE
Pedagogia 868 776 522 596 425 694 56 657 262 741 413 1094 190
CFT
Lic. em Ciências
Agrárias. 60 73 66 68 58 76 28 60 48 59 40 130 3
TOTAL 4.063 3.913 2.591 3.702 3.870 4.956 295 4.550 735 4.786 1.104 4.169 499
262
ANEXO J - 1º ROTEIRO PARA REFORMULAÇÃO CURRICULAR
COMPONENTES ESSENCIAIS PARA PROPOSTA DE REFORMULAÇÃO
CURRICULAR PARA OS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UFPB
2- Fundamentos Teórico/Metodológico/Legal
3- Objetivos
4- Perfil do Profissional que se deseja formar (com base na realidade do curso e nas
demandas sociais)
7- Organização curricular:
• Base Comum que permeia o currículo no curso
• Eixos norteadores que deverão ser contemplados no currículo: relação teoria-
prática; integração ensino-pesquisa-extensão; interdisciplinaridade; trabalho como
princípio educativo, entre outros.
• Componentes Curriculares (disciplinas, seminários, atividades de ensino, pesquisa,
extensão, monitoria, Estágio Supervisionado/ Prática de Ensino/ jogos de empresa/
trabalho de Conclusão de Curso).
• Regime Acadêmico (Seriado semestral ou anual, sistema de créditos)
• Turnos (diurno e/ou noturno)
8- Fluxograma
9- Minuta de Anteprojeto de Resolução
10- Certidão de Aprovação do projeto em assembléias a nível de centro (reuniões de
Departamentos, Colegiado de Curso e Conselho de Centro)
11- Parecer Técnico da PRG e aprovação pelo CONSEPE
263
ANEXO K – CONVOCATÓRIA Nº 02/ 2000
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE LICENCIATURA
1.1 Incorporação dos princípios: integração entre ensino, pesquisa e extensão, unidade de
teoria e prática, e trabalho coletivo interdisciplinar, definidos pela ANFOPE (Associação
Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação) e aprovados nos Encontros do
PROLICEN/ UFPB.
1.2 Projetos integrados que contribuam para a construção, consolidação e avaliação do
Projeto Político – Pedagógico dos Cursos de Licenciatura;
1.3 Projetos de parceria com os sistemas públicos (municipais e estadual) que busquem
articulação entre os Cursos de Licenciatura e as Escolas Públicas.
1.4 Projetos integrados que contemplem o acompanhamento, a avaliação contínua e a busca
do aperfeiçoamento do Programa Estudante – Convênio – Rede Pública (PEC-RP);
2. Informações Complementares
2.1 O período para execução dos projetos será de 08 (oito) meses (maio a dezembro de
2000);
2.2 No julgamento, o Comitê dará prioridade a projetos com maior abrangência (de Centro,
de Coordenação de Curso, interdepartamentais ou departamentais, por exemplo);
2.3 Os projetos deverão conter, entre outros, os itens JUSTIFICATIVA, OBJETIVS,
METODOLOGIA e CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO.
2.4 Os projetos deverão ser aprovados pelo Colegiado do Curso envolvido e ter a ciência do
(a) Chefe do Departamento no qual está lotado o (a) Coordenador (a) do projeto e do(a)
Diretor (a) de Centro ao qual o Curso está vinculado;
2.5 Os professores, bolsistas, voluntários e Coordenadores de Cursos envolvidos nos
projetos selecionados deverão participar dos eventos programados pelo PROLICEN/
UFPB, assim como deverão contribuir para a construção, consolidação e avaliação do
projeto político – pedagógico dos cursos assistidos por esses projetos.
2.6 Os alunos participantes do PROLICEN deverão apresentar trabalhos no Encontro
Unificado de Ensino, Pesquisa e Extensão promovido por esta instituição, a ser realizado no
período letivo 00.2.
264
2.7 O programa dispõe, para 2000, de 60 (sessenta) bolsas, para alunos dos cursos de
licenciatura da UFPB, no valor unitário mensal de R$ 241,50 (duzentos e quarenta e um
reais e cinqüenta centavos). Além disso, o PROLICEN/ UFPB poderá conceder a cada
projeto até 10% dos recursos destinados ao pagamento das respectivas bolsas para compra
de materiais e/ou pagamentos de serviços.
3. Calendário
De acordo:
Silvio Rossi
Pró-reitor de Graduação
265
ANEXO L - SAIA DA GRADE
266