279 p.
ISBN 978-85-61586-70-5
historiografia.
4 Papel que escreveu ao principal dos negros dos Palmares sobre as pazes que determinavam
do governador de Pernambuco, escrita no dia 22 daquele mês. Cópia do papel que levaram os
negros dos Palmares. Doc. anexo à carta do governador Aires de Souza de Castro de 22 de
junho de 1678. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), AHU_ACL_CU_015, Cx. 11, D.
1116. O prazo de 30 dias consta apenas da cópia do AHU.
ISBN 978-85-61586-70-5
2 IV Encontro Internacional de História Colonial
6 Carta de Aires de Souza de Castro de 24 de julho de 1678. AUC, CCA, IV, 3ª-I-1-31, fls.
336v, n. 13.
7 Carta de Aires de Souza de Castro a Gangazumba, de 12 de novembro de 1678. AUC, CCA,
ISBN 978-85-61586-70-5
Encontros com a história colonial 3
ver MELO, Josemar Henrique de. A idéia de arquivo: a secretaria do governo da capitania
de Pernambuco (1687-1809). Porto: Tese de Doutoramento - Universidade do Porto, 2006.
Para uma avaliação de toda a coleção do “Conde dos Arcos”, ver o Guia do arquivo da
Universidade. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Coimbra, v. 1, p. 159,
ISBN 978-85-61586-70-5
4 IV Encontro Internacional de História Colonial
1973. Ver também MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos. Nobres contra
mascates. Pernambuco, 1666-1715. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 14.
13 FREITAS, Mário Martins de. Reino Negro de Palmares [1954]. Rio de Janeiro:
ISBN 978-85-61586-70-5
Encontros com a história colonial 5
Há aqui uma sintaxe política que é preciso compreender e que está associada ao
modo como os colonizadores e as populações do Novo Mundo entraram em
contato e se enfrentaram no processo de construção das formas de domínio na área
colonial. Esse é o tema central desse breve texto.
O fenômeno histórico que enquadra a questão que se está discutindo é o da
expansão europeia da época moderna, que incorporou novas áreas “além-mar” ao
domínio das monarquias nacionais que se haviam formado naquele continente. No
caso português, que focalizo aqui, esse processo envolveu a formação de um império
colonial, que articulava territórios espalhados pelos quatro cantos do mundo,
habitados por uma diversidade de povos. Não há dúvida a respeito das tensões e
dilemas que a dominação colonial fez brotar e os historiadores não se cansam de
debater a natureza dos vínculos e nexos políticos, econômicos e culturais que
estiveram em jogo no processo de dominação e exploração das riquezas do Novo
Mundo pelos europeus.17
Grande parte da literatura sobre o tema da expansão ultramarina e da colonização
europeia no ultramar tem se dedicado a analisar seus aspectos econômicos e políticos
mais amplos. A colonização tem sido habitualmente tratada pela historiografia a
partir de grandes temas relacionados à economia, como a ocupação, o povoamento e
a valorização das terras do Novo Mundo, ou a exploração das riquezas produzidas
costumes, ao direito natural e às regras tradicionais. Para ser obedecido por seus vassalos, o
rei ou seus delegados tinham que governar com justiça e respeitar os usos e costumes locais.
Ao perdoar Gangazumba, o príncipe reafirmava suas qualidades como bom governante, em
condições de exigir obediência a seu novo “vassalo” Tal pressuposto envolvia,
necessariamente, princípios laicos e religiosos, associando as noções de fidelidade e
vassalagem, como bem observou CARDIM, Pedro. Religião e ordem social. Em torno dos
fundamentos católicos do sistema político do antigo regime. Revista de História das
Idéias. Coimbra, v. 22, p. 133-174, 2001.
16 Para o Reino de Angola, vide HEINTZE, Beatriz. Luso-african feudalism in Angola? The
vassal treaties of the 16th to the 18th century. Revista Portuguesa de História. Coimbra, v.
18, p. 111-131, 1980; e SANTOS, Catarina Madeira. Escrever o poder: os autos de
vassalagem e a vulgarização da escrita entre as elites africanas Ndembu. Revista de História.
São Paulo, v. 155, p. 81-95, 2006; para o Estado da Índia, vide SALDANHA, Antonio
Vasconcelos. Iustum Imperium. Dos tratados como fundamento do Império dos
portugueses no Oriente. Estudo de História do Direito Internacional e do Direito Português.
Lisboa: Fundação Oriente, 1997.
17 Há, evidentemente, modos diversos de abordar o tema, com implicações teóricas que não
vou discutir aqui. Para uma análise clássica e marcante da colonização portuguesa moderna
ver NOVAIS, Fernando Antonio. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial
(1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979, especialmente cap. 2. Para um exame mais específico
dos nexos coloniais no século XVII português, vide ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato
dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico sul. Séculos XVI e XVII. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
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6 IV Encontro Internacional de História Colonial
18 Ver, a esse respeito, os comentários de BOSI, Alfredo. Colonia, culto cultura. A dialética
defendidas nos diversos programas de pós-graduação do país a partir dos anos 1980-1990.
Ver, por exemplo, CAPELATO, Maria Helena Rolim; FERLINI, Vera Lúcia A. e GLEZER,
Raquel (Eds.). Produção histórica no Brasil, 1985-1994. São Paulo: Xamã, 1995, 3 vols.
21 Vide, por exemplo, SILVA, Rogério Forastieri da. Colônia e nativismo: a história como
“biografia da nação”. São Paulo: Hucitec, 1997; e FURTADO, João Pinto. O manto de
Penélope. História, mito e memória da inconfidência mineira de 1788-9. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. O tema torna-se mais candente nos estudos voltados para o
período da independência. Um panorama dos desdobramentos desta perspectiva pode ser
encontrado nos artigos da coletânea organizada por JANCSÓ, István (Org.). Brasil:
formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec/ Editora Inujuí/Fapesp, 2003.
22 Ver FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva e BICALHO, Maria Fernanda
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Encontros com a história colonial 7
apuros. Notas para o estudo das alterações ultramarinas e das práticas políticas no império
colonial português, séculos XVII e XVIII. In: FURTADO, J. F. (Org.). Diálogos oceânicos,
p. 197-254.
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8 IV Encontro Internacional de História Colonial
25 Ver, por exemplo, FERRONHA, Antonio Luís (Org.). O confronto do olhar. O encontro
dos povos na época das navegações portuguesas. Lisboa: Ed. Caminho, 1991; e
BETHENCOURT, Francisco e CHAUDURI, Kirti N. (Orgs.). História da Expansão
portuguesa. Lisboa: Circulo de Leitores, 1998, especialmente volumes 1 (A formação do
Império, 1415-1570) e 2 (Do Índico ao Atlântico, 1570-1697).
26 Ver, entre outros, THORNTON, John K. A África e os africanos na formação do
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Encontros com a história colonial 9
uma capitania com um governador nomeado pelo rei português. A partir de 1607, a
Coroa retomou para si o governo, passando a nomear a cada três anos um capitão-
mor e governador da “conquista e reino de Angola e das mais províncias dela”.27
Tornou-se, assim, um poder concorrente em relação aos demais reinos e chefes
locais, lutando para impor a eles laços de vassalagem. Assim como os chefes
africanos, o governador de Angola buscava alianças com o poder militar oferecido
pelos bandos Imbangala.28 Conjugava guerra e alianças para fortalecer seu domínio
sobre a região, seus habitantes e riquezas.
Diferentemente do que ocorria no Kongo, onde os portugueses combatiam
grupos dissidentes com o apoio dos poderes locais, em Angola os portugueses se
aliavam e lutavam com os vários reinos e grupos políticos e militares africanos.29 As
posições portuguesas dependiam das guerras de conquista: eram elas que permeavam
as relações com os reinos e sobas locais, que permitiam o controle sobre as redes
comerciais que forneciam lucros, por meio da cobrança de impostos e do próprio
comércio de escravos e marfim (os principais produtos). Elas constituíam, também,
as formas mais rápidas de enriquecimento, pois ofereciam ocasiões propícias para o
comércio particular e para o roubo. A tensão entre defender e controlar as redes
comerciais ou guerrear envolvia não apenas os interesses da Coroa, como incluía
ainda aqueles dos governadores, dos agentes do tráfico e dos sobas. Sem guerras e
acordos de vassalagem, os navios do tráfico que zarpavam para a América não
podiam ser abastecidos.
Havia, portanto, uma sintaxe que conjugava guerra e paz, e articulava autoridades
portuguesas e linhagens locais, do Kongo e do Ndongo (e, depois, com menos
estabilidade, de Matamba e Kasanje).30 Expressa em kikongo, kimbundo e português,
essa sintaxe fazia sentido para os falantes das várias línguas. Guerras, campanhas
punitivas ou defensivas, acordos políticos e alianças militares estavam imbricados e
promoviam a produção e a circulação de escravos. A ação militar não era possível
sem o domínio político e vice-versa: o envio de tropas e a ajuda em caso de guerra
legitimava e assegurava os acordos de vassalagem, ao mesmo tempo em que fazia
parte de suas cláusulas, negociadas por meio de embaixadas nas quais os missionários
Creoles, and the foundation of the Americas, 1585-1660. N. York: Cambridge University
Press, 2007.
29 BIRMINGHAM, David. The Portuguese conquest of Angola. Londres: Oxford
especialmente cap. 3.
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10 IV Encontro Internacional de História Colonial
31 FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 75.
32 Cf. FAUSTO, Carlos. Fragmentos da história e cultura tupinambá: da etnologia como
instrumento crítico de conhecimento etno-histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da
(Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; FAPESP/SMC,
1992, p. 381-396.
33 Para uma visão geral do avanço do processo colonizador sobre os territórios indígenas ver
HEMMING, John. Os índios e a fronteira no Brasil colonial. In: BETHEL, Leslie (Org).
História da América Latina: A América Latina colonial. São Paulo: Edusp; Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, p. 423-469. Para uma análise mais específica da
política de aldeamentos ver ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses
indígenas. Identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2003, cap. 2.
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Encontros com a história colonial 11
contemplado pela legislação. Cf. CUNHA, Manuela Carneiro da. Terra indígena: história da
doutrina e da legislação. Os direitos dos índios. Ensaios e documentos. São Paulo:
Brasiliense, 1987, p. 58-61.
36 THOMAS, G. Política indigenista dos portugueses no Brasil, 1500-1640. São Paulo:
OLIVEIRA, João Pacheco de. (Org.). A presença indígena no Nordeste. Rio de Janeiro:
Contracapa, 2011, p. 47-67; e GONÇALVES, Regina Célia. Guerras e Alianças: os Potiguara
no conflito luso-holandês (1630-1654). In: POSSAMAI Paulo (Org.). Conquistar e
Defender: Portugal, Países Baixos e Brasil - Estudos de História Militar na Idade Moderna.
São Leopoldo: Oikos, 2012, p. 143-155.
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12 IV Encontro Internacional de História Colonial
300-304.
40 Os termos rei e súditos aparecem em vários documentos relativos à história de Palmares,
designando Gangazumba e os mocambos sob seu domínio. Talvez o melhor exemplo seja a
Relação das guerras feitas aos Palmares de Pernambuco no tempo do governador dom Pedro
de Almeida de 1675 a 1678.
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Encontros com a história colonial 13
41A hipótese é extensamente analisada em LARA, Silvia Hunold. Palmares & Cucaú. O
aprendizado da dominação. Campinas: Tese de Titularidade UNICAMP, 2009.
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