Botucatu – SP
2009
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Sulamita Selma Clemente Colnago – CRB 8/4716
Vasques, Márcia Camargo Penteado Corrêa Fernandes.
A Arteterapia como instrumento de Promoção Humana na Saúde
Mental/ Márcia Camargo Penteado Corrêa Fernandes Vasques. –
2009.
CDD 616.89
CDD 615.85156
Dedicatória
Dedicatória
Agradecimentos
Agradecimentos
Sumário
Sumário
Resumo......................................................................................................... 10
Summary....................................................................................................... 12
Apresentação............................................................................................... 14
Introdução ................................................................................................... 17
Metodologia.................................................................................................. 22
Resultados e Discussão.............................................................................. 48
Referências Bibliográficas.......................................................................... 57
Apêndice ...................................................................................................... 63
Resumo
Resumo
Resumo
Summary
Summary
Apresentação
Apresentação 15
do que o indivíduo, sua história de vida, sua relação familiar, enfim, sua relação
com o mundo, me achei ainda mais motivada em concretizar este projeto
podendo compartilhá-lo com um grande número de profissionais de saúde.
Introdução
Introdução 18
Metodologia
Metodologia 23
Revisão Histórico-Bibliográfica
Revisão Histórico-Bibliográfica 27
psicanálise, por Freud. Na década de 20, Jung passa a fazer uso da linguagem
não-verbal – imagens e símbolos, expressos plasticamente – que emergiam do
inconsciente através dos sonhos, como parte integrante de sua abordagem
terapêutica.
No Brasil dos anos 20, Osório César, casado com Tarsila do Amaral,
desenvolve importantes estudos sobre a arte dos internos do Hospital Psiquiátrico
do Juquery, em SP, tendo realizado inúmeras exposições dos trabalhos artísticos
deles e se destacado como o pioneiro na análise de sua expressão
psicopatológica. Na década de 40, Nise da Silveira – outra pioneira – não
aceitando as formas agressivas de tratamento psiquiátrico da época, que incluíam
internação e métodos como eletrochoques, insulinoterapia e lobotomia, inaugura
no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro uma
nova utilização da arte, agora como instrumento facilitador da comunicação entre
terapeuta e paciente, e subseqüentemente, incorporando a função de re-inclusão
social do doente, através da pintura e por meio deste trabalho introduziu a
psicologia junguiana no Brasil (Oliver,2008). Convém aqui ressaltar que presa
como comunista, Drª. Nise é afastada do Serviço Público de 1936 a 1944.
Anistiada, cria em 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro
Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, posteriormente
conhecido como Centro Psiquiátrico Pedro II - CPPII.
A Arteterapia e o Inconsciente
Entretanto foi o próprio Jung que a aconselhou a estudar a Mitologia Grega para
poder assim entender o mundo interior de seus pacientes.
A Arteterapia Integrativa
Arteterapia e Loucura
"o homem não cria porque quer, mas porque precisa”, pois que, “ao criar, o
homem relaciona, forma, ordena, configura, significa", permitindo o contato dele
com o seu inconsciente, fato já trabalhado por Jung em suas pesquisas.
Finalizando, as autoras propõem tanto no artigo quanto no projeto de extensão, a
utilização da arte de forma a estimular e desencadear a cura, defendendo e
lembrando que tão somente o intelecto não se constitui numa única via de
conhecimento, necessita-se agregar a este outras vias: sentimentos, emoções e
as ações diárias da pessoa; propondo uma nova forma de aprendizado e de
conhecimento, tornando possível “a concretização de um novo paradigma, onde
todos têm direito à felicidade, ao prazer e à harmonia”.
liberdade interior. Pois, segundo Jung, mesmo que o corpo adoeça, o Self ainda
permanece saudável. O trabalho concomitante com os cuidadores (também em
situação vulnerável) foi um co-auxiliar no processo de recuperação no pós-
operatório, pois eles retomaram seu equilíbrio emocional.
Resultados e Discussão
Resultados e Discussão 49
Ana Alice Francisquetti organizou, num livro, vários artigos sobre o tema
Arte Medicina (título do livro), onde o Prefácio foi escrito pelo diretor clínico da
A.A.C.D., Dr. Antonio Carlos Fernandes, que se refere à Arte-Reabilitação como
uma “nova profissão que se firma na área da Saúde”.
Considerações Finais
Considerações Finais 55
Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas 58
FRANCISQUETTI, Ana Alice. Arte Medicina. São Paulo: Livraria Médica Paulista,
2005.
_________. O homem e seus símbolos. 23ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 2002.
PAÁL, Gábor. O despertar da deusa. Mente & Cérebro, São Paulo, ed. especial,
nº17, p.12-17.
PEREIRA Jr., Alfredo and PEREIRA, Maria A.O. (2009) The Flower Workshop in
Psychosocial Rehabilitation: A Pilot Study, Issues in Mental Health Nursing 30
(1), p.47-50.
RHYNE, J. Arte e gestalt – padrões que convergem. São Paulo: Summus, 2000.
__________. Jung: vida e obra. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
WINTER, Uli. Pontes do saber. Mente & Cérebro, São Paulo, ed. especial, nº17,
p.6-11.
Internet:
http://www.amart.com.br
http://www.arscientia.com.br
http://www.ccs.saude.gov.br
http://www.projetospedagogicosdinamicos.com
http://www.teapeutaocupacional.com.br
Apêndice 63
Apêndice
Apêndice 64
Data:
Horário de início:
Horário do término:
Apêndice 65
Ana Alice: Na realidade ele existe como sistema desde 1985 e a partir daí como
artista plástica e educadora eu senti que havia necessidade de uma terapia
realmente (de atuar como terapeuta) Então eu procurei, não existia no Brasil, os
cursos eram feitos nos EUA e na Europa, eu não tinha condições de deixar a
família, nem ir para fora. E quando a Selma (Selma Ciornai) veio de Israel, ela
lançou no Sedes Sapientiae, o curso de Arteterapia, então eu fui dessa primeira
turma. A Selma Ciornai trouxe de Israel; ela passou depois pelos EUA e trouxe
pro Sedes esta formação.
Ana Alice: Olha eu daria à Arteterapia uma função bem mais ampla, porque além
dela trabalhar com o físico da criança, que eu vou trabalhar a parte motora,
atendo também toda a parte perceptiva, visual-auditiva e de fala. Eu também
trabalho com a questão do tônus, do tônus muscular, então a criança tem que
estar bem posicionada. Eu recebo auxílio da terapeuta ocupacional para
Apêndice 66
Ana Alice: Eu sou arteterapeuta, fiz psicologia da arte e faço vários cursos de
neurologia, que é minha área de atuação básica, pois para atendimento aos
casos neurológicos eu preciso de um mínimo de conhecimento em neurologia.
Ana Alice: Nossas sessões são em grupo, no máximo de seis a sete crianças e
eu conto com a colaboração das estagiárias e das voluntárias. Eu tenho duas que
são arteterapeutas também, são ex-alunas que continuam como voluntárias.
Ana Alice: Uma vez por semana porque nós somos aqui em duas arteterapeutas.
Então para atender essa demanda tem que ser dessa forma, atendimento em
grupos e contando com o auxílio das voluntárias, das estagiárias, porque muito
dessas crianças precisam de uma constante vigilância, constante colaboração da
voluntária, porque senão a criança não consegue produzir. Muitas delas não
falam, a maioria tem problemas motores, então a arte vai ajudar muito nessa
parte motora, e os pequenininhos muito na alfabetização, porque o que é o
desenho? O desenho é uma letra, ou melhor, a letra é um desenho, então
treinando essa parte do desenvolvimento gráfico, eles estarão prontos para uma
alfabetização.
Ana Alice: Como fundo, pois a nossa figura principal é a arte e suas
manifestações no desenho, pintura, modelagem, mas a música está sempre
presente. Eu só não coloco a música se a criança tiver déficit de atenção e
concentração, senão ela não consegue trabalhar com dois estímulos. Ela
consegue com um só e por isso a gente não põe música. Mas para os adultos e
adolescentes em geral tem um fundo musical escolhido por eles. Nós temos no
Hospital, dentro da equipe multidisciplinar uma musicoterapeuta também. Quando
eu uso a música aqui é diferente, ela é um auxiliar, ela está como fundo...
Ana Alice: Eles têm. Nós somos comprometidos com a ISO. Eu vou mostrar
depois pra você, nós temos toda uma organização de Avaliações, de Fichas e os
pais participam muito. Por exemplo, semana que vem eu faço a devolutiva aos
pais, faço duas vezes por ano, de como está o desenvolvimento gráfico dessa
criança. Os pais também me trazem a informação de como a criança está em
Apêndice 68
Ana Alice: Você sabe que aqui na A.A.C.D. eu não trabalho sozinha, eu trabalho
com equipes multidisciplinares. Quando a equipe, através de avaliações, chega à
conclusão de que a criança deve ser desligada, que ela já recebeu alta em vários
tratamentos, eu também dou a alta. Não que a equipe seja soberana, mas de um
modo geral, se a criança já evoluiu nas outras áreas ela também estará evoluindo
aqui, na parte da Arteterapia. Então ela está me mostrando que está na hora de
realmente ela se desligar. A avaliação é feita semanalmente e dificilmente você
vai encontrar em outros lugares, equipes que examinem os quadros todos os
dias; como está a evolução, como ela está indo, se ela tem feito, porque ela não
está bem nas outras terapias. Realizamos a conversa, a discussão, a reflexão em
cima do que nós estamos fazendo durante o processo de atendimento.
Ana Alice: Eu posso lhe dar uma quantidade quase que certa do número de
pacientes que nós atendemos no ano passado e hoje estamos quase alcançando
a mesma meta do ano passado. São 14 mil e tantos atendimentos por ano
incluindo Osasco também, que tem também Arteterapia na parte da manhã e na
Apêndice 69
Ana Alice: Não, na realidade ela começou numa casa que eu não conheci, em
1950. Foi numa casa e o ideal de nosso fundador, o Dr. Renato Bonfim, ele já é
falecido, era fazer um Centro de Reabilitação. Depois dessa casa ele passaria pra
cá, pois lá era um local pequeno. Eu estou há 32 anos aqui na A.A.C.D. e, à
medida que o tempo foi passando e pela própria necessidade da população o
espaço foi aumentando. Além disso hoje a gente tem em várias cidades como
Porto Alegre, Rio, Uberlândia, Osasco e agora nós vamos começar a construir em
São José do Rio Preto. É a última conquista do Teleton, essa Unidade.
Ana Alice: Ele tem sido excelente. Nós estamos abrindo várias unidades, em
vários lugares e sem o Teleton isso seria impossível. Sem o Sílvio Santos muito
menos. Porque ele é quem ajuda, cede a televisão dele. Porque nós pedimos
para a Globo e ela não aceitou por causa do Criança Esperança. E o Sílvio
Santos bancou, entende? Para nós, se não fosse ele não teria toda essa abertura
na mídia. Por que essa família que tem que vir, não tem dinheiro, onde ficar, com
quem ficar. Quem traz até a unidade? São pessoas muito pobres. Não sabem
Apêndice 70
nem se locomover em SP, não sabem nem o que fazer. Isto ajudou muito.
Ana Alice: São supervisionados por mim, eu vou três ou quatro vezes por
semestre, em diferentes clínicas porque um dia a equipe toda vai para atender
paralisia cerebral, então eu vou e faço a supervisão das minhas funcionárias, de
cada caso; discuto e faço os devidos planejamentos anuais desse grupo.
Ana Alice: Pra muitas crianças é, pra outras não. Nós temos uma assistente
social que faz esse controle, a classificação social da criança. Algumas pagam,
outras não.
Ana Alice: Com certeza. Eu acho que seria uma questão evidentemente política,
mas que nós conseguiríamos implantar, além do SUS, também nas escolas
públicas estaduais, federais, municipais. As escolas deveriam ter Arteterapia.
Ana Alice: Não tenho certeza, mas é alguma coisa a ser pensada porque o SUS
abarca as outras atividades e pode abarcar também a Arteterapia.
Apêndice 71
Ana Alice: Olha, como eu falei, com a Arteterapia, nós podemos trabalhar na
prevenção e na doença. Na prevenção seria assim, bom existe catapora na
cidade, então vamos fazer um programa preventivo pra toda a população, ou só
para a população escolar. Deveria muito que se trabalhar em quatro ou cinco
categorias que seriam a prevenção, a reabilitação, a parte da doença
propriamente dita, muitos casos crônicos, e também como eu falei, a hora da
morte. Vai ser lei a inclusão nas escolas estaduais e federais. Seria um modo de
também fazer atendimento à criança especial dentro do Sistema Único de Saúde,
que seria o SUS. Por que quem iria pagar esse profissional? Seria o SUS? O
Ministério da Educação? As escolas terão que receber os casos de inclusão. A
Arteterapia seria ideal para esse tipo de população. Aliás a Arteterapia serve pra
todos, em especial para aquela criança que apresenta alguma doença, alguma
perturbação tanto física, como emocional.
Ana Alice: Olha, no momento nós não estamos fazendo nenhum Programa, mas
posso dar um exemplo pra você de um Programa porque organizamos com as
estagiárias. Nós também atendemos no hospital dentro de um Programa de
Humanização Hospitalar. Eu tenho sempre estagiárias que desenvolvem
trabalhos no hospital, com as crianças que estão no leito. Os pacientes adultos
descem, às cinco horas a gente trabalha com eles. Por exemplo, um programa de
“Lavagem de Mãos”, dentro do hospital, que é obrigatória, essa parte da higiene
das mãos: “lave as mãos muitas vezes para evitar a contaminação”. Então o
Arteterapeuta pode entrar com um Programa Preventivo de desenhos, de
cartazes; no leito também fazendo um trabalho com a criança e com a família,
porque eu não posso desvincular a mãe, da criança. Se eu atendo a criança eu
estou atendendo a demanda da mãe também. Então é possível e seria bom que
todos os hospitais tivessem essa programação de Arteterapia porque ela é muito
Apêndice 72
vasta, como você está vendo eu posso atender na doença, eu posso fazer
prevenção, eu posso fazer a prevenção inclusive com o corpo clínico, com as
enfermeiras, quando você fala em stress do pessoal que trabalha à noite, do
pessoal que trabalha de dia, nós podemos fazer um trabalho de prevenção com
as pessoas da própria casa. Posso fazer um Programa também com o pessoal da
limpeza, não diferenciando nenhum profissional, todos são funcionários da
A.A.C.D..
Ana Alice: Sim, porque no hospital, por exemplo, muitas das nossas crianças
morrem, muitas das nossas crianças têm doenças degenerativas, e morrem ao
longo do processo, então eu tenho que conhecer alguns elementos sobre a morte
que faz parte da vida pra tanto fazer a orientação das minhas estagiárias, das
voluntárias, como atender a criança que está em processo de degeneração, por
exemplo, com doenças neuro-musculares, que são todas degenerativas, levando
ao óbito num momento ou noutro e, às vezes, até de surpresa. Então nós
trabalhamos muito essa questão também da morte. A morte é muito próxima.
Segunda Parte
MPV: O que você entende por saúde mental e qual a sua relação com a
saúde do corpo pensando nessa medicina fragmentada que a gente
encontra atualmente?
humano ou rotular com a patologia. Nós temos que saber muito sobre esse
indivíduo, a sua história, a sua essência, do que ele gosta e do que ele deixou de
gostar; qual é o seu sonho, quais são os seus valores. Aí nós estaríamos
atendendo esse ser na sua totalidade, tanto na parte física, que seria o papel da
Arteterapia, que seria exatamente... tudo o que eu já falei, a parte motora
principalmente, mas também o interior desse indivíduo. Eu tenho que pensar no
emocional. Como ele se sente depois de um acidente. O que é feito dele. Pensar
em toda essência desse indivíduo. Acho que é bem isso: em momento nenhum
dá para nós separarmos como a medicina moderna. Como tu estás vendo. Nós
temos médicos e várias especialidades, que fragmentam todo esse corpo, quando
o ser humano é um ser inteiro, único. Às vezes eu estou consertando uma parte,
mas preciso olhar para ele como um todo e não só para a mão que está torta ou a
lesão que foi no cérebro, o tamanho dessa lesão e a extensão. Eu tenho que ver
o ser humano inteiro.
Ana Alice: A nova unidade? Em São José do Rio Preto. A nova unidade vai ser
lá. Nós temos oito unidades fora. Osasco a gente conta como fora, apesar de não
ser no interior, mas no subúrbio de São Paulo.
Ana Alice: Pinheiros é uma das unidades, todas da A.A.C.D., mas são menores.
MPV: Em relação aos pais, eles têm clareza do trabalho que é realizado aqui
na A.A.C.D. com relação à Arteterapia?
Ana Alice: Na realidade os pais têm o conhecimento, talvez não tão amplo talvez
pela própria simplicidade. Muitos desses pais são analfabetos. Eles vêem aquilo
que eu apresento nos resultados. É isso o que interesse a eles. Mas como nós
temos um programa de devolutiva aos pais, eles vêem todo o processo de
desenvolvimento da criança. Eu faço avaliação a cada três meses. Aí eu mostro
aos pais o quanto o filho deles melhorou ou às vezes não melhorou. Pode
melhorar na atenção, na concentração, na cognição e não na parte motora.
Ana Alice: Muitas das crianças nós pegamos na mão para ela poder executar um
gesto, um contorno. Então, baseados na nossa experiência e principalmente na
vivência com o artista, ela dita a obra à outra profissional. Eu percebi que eu
podia fazer isso com a “minha” criança. A criança vai me dando dicas e eu vou
pegar na mão dela e nós vamos executando o gesto juntas. Isso dá um prazer
enorme à criança. Algumas crianças só irão fazer garatuja, por problemas
motores. Então você pode imaginar a angústia dessa criança que não consegue
sair da garatuja, embora tenha uma boa cognição? Então ela vai e faz uma
avaliação, ela tem uma crítica e se frustra muito. Então às vezes nós fazemos,
nós ajudamos o contorno, até ela ter uma satisfação. E a relação dela com a
arterapeuta melhora muito. Porque é um trabalho compartilhado.
Apêndice 75
ANA ALICE: Não. A arte não cura. O que ela vai aumentar é muito a auto-estima
dessa criança. Essa criança pode dizer eu fiz. Mas na realidade ela não tem esse
poder. O poder da cura pertence à área da medicina. Quem é que vai curar? A
medicina. A Arteterapia ela vai aumentar a qualidade de vida. Quando a minha
criança faz um desenho que vai ser dado no Teleton para um artista, que nos
ajuda nesses festejos do Teleton, há uma alegria imensa. Ela está contribuindo
com o trabalho dela para ajudar a A.A.C.D. a construir novas unidades. Essa é a
grande alegria. Mas na realidade é preciso assim ser sincera, embora a
Arteterapia seja uma paixão. Acredito muito no valor de transformação das
pessoas, que passaram por momentos assim bastante difíceis ou já nasceram
com certas dificuldades, delas perceberem que elas podem fazer arte. Por
exemplo, pacientes com lesões medulares, tanto tetra, quanto os paraplégicos,
eles não podem fazer nada. De repente com um aparelho eles começam a
desenhar e a sensação é difícil explicar. A alegria que nós sentimos de poder
proporcionar a outro ser humano um ato de realização, é realmente de alegria, de
transformação da vida. A partir do momento em que ele percebe que pode
desenhar, ele também se transforma. Ele não precisa passar o dia vendo
televisão, fazendo “nada”, olhando o vazio. Ele pode através da arte dar
satisfação a si e ao outro, à família, aos amigos. Eu acho que esse é o grande
poder transformador da arte.
MPV: Você está querendo dizer que a arte, aliada à medicina pode levar à
cura?
Ana Alice: No caso, da Arte-reabilitação sim. Ela pode levar a uma cura mais
psicológica, mais interior do que exterior. Meu paciente vai melhorar a parte
cognitiva. Mas, vamos dizer, se ele é um paraplégico, ele vai continuar sendo
paraplégico. Se ele é tetra, vai continuar sendo tetra. Mas só que interiormente os
valores dele vão mudar. Ele sabe que ele é capaz, embora os braços não
obedeçam. Ele não possa fazer muitas coisas, os membros superiores já não
obedecem como os membros inferiores, ele pode desenhar por uma simples
Apêndice 76
ANA ALICE: Uma criança com distrofia muscular progressiva. É doença que leva
à óbito. Então nós acompanhamos essa paciente durante vários anos e a forma
como ela ia reagindo em questões sobre a morte. A criança sabe da morte, só
que ela não fala para não fazer os pais sofrerem. Mas ela interiormente já escutou
o que o arteterapeuta está falando. Ela sabe todo o processo. Ela finge não saber,
mas no desenho ela revela.
MPV: Nesse livro você fala um pouco sobre esse relatório do setor de Arte-
reabilitação?
ANA ALICE: Isso. O que eu quero ver e já poderia fazer para você legalizar um
instrumento você tem que ter 300 aplicações. Aí vai para Brasília, Ministério da
Educação e Saúde. Daí eles legalizam. Mas como foi editado pela UNICEF, em
termos de Brasil, não sei quantos livros foram feitos, mas aqui eu já apliquei muito
mais, não tive tempo de fazer uma legalização oficial, como os instrumentos de
psicologia, aqueles instrumentos que são validados. Ele ainda não está validado.
Ele está validado aqui, nós estamos usando aqui, a Isa me ajudou a organizar, já
está publicado, está seguindo um caminho bom.
* Criança com transtorno do sistema nervoso central desenham e escrevem com esforço,
demonstrando má qualidade de linha, com irregularidades; as linhas retas se tornam onduladas ou
quebradas e não terminam onde a criança deseja. (FRANCISQUETTI, 2005).
* Em condições fisiológicas normais, os desenhos da figura humana tendem a preservar certo grau
de simetria. Nas crianças com lesões cerebrais encontramos desenhos assimétricos com maior
freqüência. (FRANCISQUETTI, 2005).
Apêndice 86
Paciente com apraxia. Consegue construir uma flor com auxílio de máscara vazada.
* As apraxias são consideradas distúrbios da função executiva – termo que designa a incapacidade
de certos indivíduos de reproduzir ou desenhar formas – e pode mostrar-se prejudicada em
diferentes graus. Os tipos mais comuns de apraxia são: motora, ideomotora, de vestir-se, verbal e
construtiva.
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