Ana Cláudia Barreiro Nagy é natural do Rio de Janeiro, onde cursou magistério e começou a estudar na
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduou-se em pedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie (1994).
Especializou-se em psicopedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). É mestre em educação: currículo
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004), onde iniciou o doutorado em linguística aplicada e estudos
da linguagem (2005). Atualmente é professora da Universidade Paulista (modalidades presencial e a distância) e líder
das disciplinas de Metodologia do Ensino Médio (Normal), Metodologia do Ensino da Educação Básica e Metodologia
do Ensino Médio (Normal)/Ensino Profissional. É professora tutora em cursos de EaD no SENAC – São Paulo. Construiu
este material em parceria com a professora Silmara Maria Machado por sua proximidade com as questões de ordem
metodológicas na educação.
Silmara Maria Machado é natural de Fernandópolis/SP, onde cursou magistério com habilitação em educação
infantil. Possui graduação em ciências sociais e políticas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(1991), graduação em licenciatura plena em complementação de estudos pedagógicos pela Fundação Educacional de
Barretos (1986), graduação em ciências com habilitação em matemática pela Fundação Educacional de Votuporanga
(1984). Realizou mestrado em comunicação pela Universidade Paulista (2003). Atualmente é professora da Universidade
Paulista (modalidades presencial e a distância), líder das disciplinas Didática e Didática para o Ensino a Distância e
coordenadora do curso de Pedagogia, modalidade a distância, da mesma Universidade. A construção deste material
em parceria com a professora Ana Cláudia Barreiro Nagy deu-se pela identidade com a disciplina e com a formação
prioritária na ação educacional.
CDU 37.02
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Leandro Freitas
Sumário
Didática Fundamental
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA: O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ........................9
1.1 A interação professor-aluno ............................................................................................................ 15
1.2 As tendências pedagógicas no Brasil ........................................................................................... 16
1.3 A teoria na didática ............................................................................................................................. 19
2 OS PROFESSORES E A CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA ..................................................................... 20
2.1 A mediação social da prática educativa sustentada pelos conhecimentos ................. 24
2.1.1 Os conhecimentos prévios dos alunos como ponto de
partida para a aprendizagem ........................................................................................................................ 24
2.1.2 A exploração dos conhecimentos prévios no desenvolvimento
do processo ensino-aprendizagem ............................................................................................................. 26
3 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO PROFESSOR .............................................................................. 29
3.1 A organização e a direção de situações de aprendizagem.................................................. 29
3.1.1 Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem
ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem ............................................................... 30
3.1.2 Trabalhar a partir das representações dos alunos ..................................................................... 31
3.1.3 Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem ........................................... 31
3.1.4 Construir e planejar dispositivos e sequências didáticas ....................................................... 32
3.1.5 Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento ........... 32
4 A ADMINISTRAÇÃO E A PROGRESSÃO DAS APRENDIZAGENS .................................................... 34
4.1 Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao nível
e às possibilidades dos alunos ................................................................................................................ 34
4.2 Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino ................................................... 35
4.3 Estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de aprendizagem .......... 36
4.4 Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem,
de acordo com uma abordagem formativa ...................................................................................... 36
4.5 Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões de progressão ............ 37
Unidade II
5 APRENDIZAGEM: CICLOS, PLANEJAMENTO, OBJETIVOS, CONTEÚDOS E AVALIAÇÃO ......... 41
5.1 Rumo a ciclos de aprendizagem .................................................................................................... 41
5.2 O planejamento da ação didática.................................................................................................. 42
5.3 A formulação dos objetivos educacionais.................................................................................. 45
5.4 Conteúdos curriculares e procedimentos de ensino.............................................................. 46
5.4.1 A aprendizagem de conteúdos factuais, conceituais,
procedimentais e atitudinais......................................................................................................................... 48
5.5 A avaliação .............................................................................................................................................. 51
6 A PEDAGOGIA DOS PROJETOS ................................................................................................................... 54
6.1 Projetos – do significado às vantagens....................................................................................... 55
6.2 Trabalho procedimental:.................................................................................................................... 57
6.3 O conhecimento como rede de significados:............................................................................ 57
6.4 Projeto e autonomia ........................................................................................................................... 58
6.5 Projetos e o espectro de competências....................................................................................... 58
6.6 Etapas, papéis e atores de um projeto ......................................................................................... 59
6.7 A profissão docente e a pedagogia da diversidade ................................................................ 62
6.8 A atuação transformadora do professor .................................................................................... 75
Unidade III
7 HISTÓRIA DA EAD............................................................................................................................................ 96
7.1 Alunos, professores e escola face à sociedade da informação .......................................... 99
7.2 A cabeça benfeita ...............................................................................................................................103
7.3 As sereias do ensino eletrônico .................................................................................................... 107
8 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: UMA NOVA DIDÁTICA? ........................................111
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
INTRODUÇÃO
Olá, aluno!
Bem vindo ao estudo da Didática. Esperamos que você aprenda o que propomos e compreenda o
quanto conhecer a fundo as questões levantadas neste material é fundamental para sua formação
pedagógica.
Cada um dos capítulos apresenta uma particularidade do tema e foi organizado tendo em vista
facilitar seu percurso dentro da temática.
Os objetivos deste livro são: levar você ao conhecimento e entendimento da importância da Didática
como área de estudo e ferramenta pedagógica; levantar as competências profissionais do professor;
levá-lo a conhecer as tendências pedagógicas desenvolvidas e criadas ao longo dos tempos; aprofundar
o estudo da concepção construtivista; possibilitar a você entender a pedagogia de projetos, conhecer e
planejar ambientes virtuais de aprendizagem.
Aproveite a leitura e não deixe de buscar as Indicações de leitura e/ou filme para aprimorar seus
conhecimentos!
Unidade I
1 O OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA: O PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
Se você procurar no dicionário Aurélio pelo termo didática encontrará o termo como
feminino substantivado de didático. Vamos começar por ele, didático: do grego didaktikós.
Relativo ao ensino ou à instrução, ou próprio deles, e didática: a técnica de dirigir e orientar a
aprendizagem.
A palavra didática (didáctica) vem da expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que
pode ser traduzida como arte ou técnica de ensinar.
Relacionando a didática com a pedagogia, podemos afirmar que aquela é a parte da pedagogia
que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino destinados a colocar em prática as diretrizes da teoria
pedagógica. A didática estuda os processos de ensino e aprendizagem.
O educador Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da
didática moderna e um dos maiores educadores do século XVII.
Sua principal obra é a Didática magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, na qual o
autor descreve um verdadeiro tratado de como ensinar, ou em suas próprias palavras:
9
Unidade I
Saiba mais
<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/didaticamagna.html>
A Didática vem como arte de conseguir atingir este objetivo: ensinar, promover aprendizagens aos
nossos alunos.
Assim, entre outras informações, você encontra a Didática como arte ou técnica de ensinar. Neste
contexto, dizemos que a Didática liga-se a ensinar, instruir, orientar, acompanhar o processo de ensino
aprendizagem.
Observação
Mas é necessário lembrar que nós vivemos em constante transformação, seja como sociedade, seja
como indivíduos participantes dessa sociedade. Isso significa que existem, dentro de cada época, pessoas,
conteúdos e contextos representativos de seu próprio tempo.
Dentro da história da Didática ainda hoje nos reportamos a Comenius, lá do século XVII, mas
estamos no século XXI e muitos outros educadores também se ocuparam dos processos de ensino
aprendizagem.
Mas... como entender essa ideia de Didática como reflexão sistemática? Vamos pensar nos elementos
da ação didática:
• o professor;
• o aluno;
• a disciplina (matéria ou conteúdo);
10
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
• o contexto da aprendizagem;
• as estratégias metodológicas.
O que isso significa? Vamos dizer que a Didática, como arte ou técnica de dirigir a aprendizagem, da
forma como encontramos no dicionário Aurélio, não é solitária. Outras personagens devem fazer parte
dessa arte, para que ela realmente seja real, concreta.
Quem seriam as personagens que fariam essa composição? O professor, o aluno, os conteúdos, o
contexto, as estratégias metodológicas.
Aplicação Conhecimento
Análise
Compreensão Educação
Síntese Avaliação
Figura 1
Necessitaremos, dessa forma, de inúmeros conhecimentos para compor nosso trabalho didático. Por
isso, várias áreas que pesquisam o desenvolvimento humano estão presentes nos estudos da Didática:
antropologia, teorias da comunicação, história, sociologia, psicologia, filosofia, entre outras.
Os conhecimentos das diversas áreas nos ajudam a pensar e refletir sobre questões relacionadas à
escola e à sala de aula:
Como você pode perceber, muitos elementos encontram-se envolvidos no ato de aprender e no ato
de ensinar. Hoje, pensamos em um ato conjunto, que chamamos de ensino e aprendizagem. Na verdade,
processo de ensino e aprendizagem.
11
Unidade I
O processo de aprendizagem pode ser definido, de forma sintética, como o modo como os seres
adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Contudo, a
complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas através de recortes do todo. Por
outro lado, qualquer definição está, invariavelmente, impregnada de pressupostos politico-ideológicos,
relacionados à visão de homem, sociedade e saber.
Lembrete
Você se lembra quando falamos sobre a didática não ser solitária? A aprendizagem também guarda
essa característica. Masetto (1997) coloca que
Alunos, pais, professores, diretores, funcionários, pesquisadores, autores, editores, todos, são pessoas
que vivem e convivem em uma cultura específica e, portanto, têm posições políticas e sociais que são
transmitidas em seus trabalhos e nas suas relações com a escola, cujo trabalho é educar a criança para
uma participação ativa na sociedade.
Masetto (1997) afirma que essa dimensão político-social interessa à didática, uma vez que esses
elementos influenciam a aprendizagem do aluno.
12
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Exercício de aplicação
Aproveite esses questionamentos e pergunte a seus familiares e amigos sobre suas lembranças
escolares, expectativas e dificuldades.
Coloque no papel as suas lembranças, refletindo sobre o que elas, a escola e a vivência escolar,
provocaram e/ou provocam na vida das pessoas.
Sabemos hoje que a escola tem um papel significativo no sucesso ou insucesso do aluno em
seu processo de ensino e aprendizagem. Sua eficácia está diretamente ligada ao cumprimento de
propósitos estabelecidos coletivamente. Sua comunidade escolar deverá ligar-se à sua comunidade
social na elaboração de uma proposta de trabalho definida como projeto educativo ou projeto político
pedagógico.
Conforme é mencionado no material retirado do curso da Escola de Gestores (INEP), Unidade 3.1.
Queremos dizer que não é apenas com “boas intenções” ou voluntarismo que se constrói um projeto
dessa natureza; é preciso muito trabalho organizado se quisermos, de fato, que o projeto proposto
desencadeie mudanças na direção de uma formação educativa e cultural, de qualidade, para todas as
crianças e jovens que frequentam a escola pública (CAMPOS; SCHEIBE, s/d).
É necessário que cada escola discuta e construa seu projeto educativo, segundo sua particularidade.
A escola, em seu trabalho, deve pensar em seu aluno, conhecer o contexto social no qual ele se insere,
suas características, carências, particularidades. Afinal, esse trabalho que se desenvolve dentro dela é
voltado para o aluno, e nós já vimos, anteriormente, que ela buscará o seu desenvolvimento. Falamos
em aprendizagem e agora já estamos falando em desenvolvimento.
Exercício de aplicação
Pense sobre a importância da escola e de uma boa gestão para que o aluno tenha as melhores
condições para aprender.
Coloque no papel as suas ideias, refletindo sobre o que você, como pedagogo poderá fazer para
contribuir com essa escola.
14
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
A escola tem uma função social e cada sala de aula constitui também um grupo social, em processo
de interação social que acontece por meio da relação professor-aluno e da relação aluno-aluno.
Haydt (1999) expõe que “é no contexto da sala de aula, no convívio diário com o professor e com os
colegas, que o aluno vai exercitando hábitos, desenvolvendo atitudes, assimilando valores” (p. 33).
Assim, podemos afirmar que no processo de construção do conhecimento, essa interação humana
assume um valor pedagógico significativo e evidente.
O professor, por sua vez, vai exercer uma função incentivadora, despertando e estimulando o interesse
do aluno, bem como orientando-o na construção de seu conhecimento e autonomia.
Lembrete
Nesse processo interativo, tanto o professor quanto o aluno constroem novos conhecimentos. O
aluno, que em sua vinda para o ambiente escolar traz conhecimentos construídos em suas vivências e
experiências anteriores, poderá, mediante a intervenção do professor e do contato com os conteúdos
apresentados, transformá-los também em culturalmente relevantes. Esses conhecimentos assimilados
pelo aluno deverão servir para inseri-lo na sociedade de forma produtiva tanto como indivíduo quanto
como ser social.
O professor, por outro lado, precisa conhecer o aluno que está em sua sala de aula e os conhecimentos
prévios que ele possui. Esse conhecimento deverá ser o ponto de partida do professor. Isso é importante,
pois, partindo de um universo familiar ao aluno, poderá despertar seu interesse pela participação,
envolvendo-o em situações-problemas nas quais ele se sentirá capaz para resolver.
Para o professor, esse ato de conhecer e compreender o aluno mediará não somente seu trabalho
com os conteúdos a serem apresentados, mas também seu próprio envolvimento na busca de atitudes
mais positivas na relação com esse aluno e suas dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
Observação
Os professores precisam saber que as representações que os eles mesmos têm de seus alunos (o que
pensam e esperam deles, as capacidades e intenções que lhes atribuem) influem no trabalho desenvolvido na
sala de aula, da mesma forma que ocorre com as representações que os alunos têm de seus professores.
Saiba mais
<http://scholar.google.com.br/>
Veja as definições das tendências pedagógicas do prof. José Carlos Libâneo (1994) que transcrevemos:
Lembrete
A pedagogia renovada inclui várias correntes que de certa forma estão ligadas ao movimento da
Escola Nova ou Escola Ativa. Nesse contexto, a Didática é entendida como direção de aprendizagem,
considerando o aluno como sujeito da aprendizagem, ser ativo e curioso. O professor é visto como um
facilitador no processo de busca que deve partir do aluno. A ideia é que o aluno aprende melhor o que
faz por si próprio. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as
às capacidades e características individuais dos alunos.
Lembrete
O tecnicismo educacional, embora seja considerado como uma tendência pedagógica incluiu-se, em certo
sentido, na pedagogia renovada, ganhando nos anos 60 autonomia, quando se constituiu especificamente como
tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino. Define
No final dos anos 70 e início dos anos 80, com a abertura política decorrente do final do regime
militar e a grande mobilização em busca de uma educação crítica que trouxesse transformações
sociais, econômicas e políticas para superação de desigualdades existentes na sociedade, destacam-se a
pedagogia libertadora e a pedagogia crítico-social dos conteúdos.
A pedagogia libertadora tem suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram
no final dos anos 50 e início dos anos 60 e não tem uma proposta didática explícita. A atividade escolar
é centrada na discussão de temas sociais e políticos, um ensino centrado na realidade social, no qual
17
Unidade I
professor e alunos analisam problemas e realidades locais, com seus recursos e necessidades, tendo
em vista uma ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O professor é um coordenador ou
animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.
Lembrete
A pedagogia crítico social dos conteúdos surge no final dos anos 70 e início dos anos 80 e
Lembrete
Interessante conhecer essas tendências pedagógicas, não é? A partir da leitura, certamente você
ficou pensando: nossa história da educação tem muitos altos e baixos, muitos percalços...
Saiba mais
Para entender mais sobre o tema deste tópico, que tal ler:
18
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Exemplo de aplicação
Agora que já conheceu as tendências e assistiu aos vídeos, que tal pensar sobre as características
mais marcantes de cada uma delas e fazer uma imagem mental de como seria a sala de aula à luz das
mesmas?
Este é o momento de refletirmos sobre a disciplina de Didática retomando algumas questões discutidas
anteriormente. Atualmente a Didática manifesta-se como quase sinônimo de “novas mediações”. O que
isso quer dizer?
Houve um tempo em que ensinar era possuir o conhecimento dos conteúdos (assuntos) a serem
transmitidos aos alunos, planejar as estratégias e organizar os recursos a serem utilizados nesse
processo. No final do mesmo, elaborava-se uma avaliação que definia se o aluno havia ou não aprendido
os conteúdos daquele determinado período na escola. Pensemos num “receituário”, no qual havia
objetivos, conteúdos, estratégias, recursos e avaliações determinados para cada série escolar. Era um
tempo favorável às reproduções de “diários” de professor para professor e de ano para ano. Acreditava-
se na possibilidade de uma educação estática e mecânica.
Atualmente isso já não é mais possível. Mesmo que tentemos uma prática com esses moldes, a
velocidade com que caminham fatos e produções no mundo atual e, quem mais nos interessa, nossos
alunos, nos cobrarão uma posição mais dinâmica nesse processo. Portanto estamos sim mediados por
vários fatores e diversas aplicações na nossa prática educativa, mas sempre como possibilidades de
reflexões muito mais do que como conclusões que possam transformar-se em um rol de atitudes e/ou
sugestões a serem absorvidas na mesma prática educativa.
Observação
Convém, neste momento, destacarmos o termo mediação para entendermos nosso estudo. No
dicionário Aurélio, uma de suas definições é intermédio que quer dizer entremeio, ou estar entre. Bem,
o que está entre o ensino e a aprendizagem? O que possibilita ou não ao professor ensinar e ao aluno
aprender?
19
Unidade I
Lembrete
É necessário e imprescindível que nós professores possamos refletir sobre a importância da teoria para
a nossa prática. Mas para que servem as teorias? Esta é uma questão polêmica e, às vezes, redundante,
mas podemos pensá-la tal como Solé e Coll (1996):
para que teorias? Para interpretar, analisar e intervir na realidade que, por
meio dessas teorias, tenta-se explicar. Acentuando desse modo o caráter
instrumental das explicações teóricas, evidenciamos a necessidade de que
elas se mostrem potentes para dar conta de sua função (p. 87).
Um professor, ou qualquer outro profissional necessita de um respaldo teórico para suas ações.
Necessita fundamentar, justificar e exemplificar questões que foram fundamentadas, justificadas e
exemplificadas anteriormente e através de exaustivas pesquisas.
Segundo Solé e Coll (1996), nas situações de ensino-aprendizagem encontramos múltiplas variáveis
e inúmeras causas para os seus fenômenos, exatamente por essas situações, como já dissemos, serem
dinâmicas e entre seres humanos. Nessas há diversos elementos presentes e incidências previstas
diante das quais o professor precisa tomar decisões que nem sempre são somente suas. Estas decisões
demandam reflexões que se baseiem em referenciais e teorias servindo como “marco que guia” sem,
porém, determinar a ação. Há que se destacar que as reflexões do professor sobre sua atuação não
são exclusivamente internas, mas também externas no que se refere à administração educacional, ao
currículo da escola baseado ou não nas suas características e valores, à existência ou não de um projeto
de formação permanente.
Assim,
20
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Neste momento poderíamos então pensar em uma ou em várias teorias que nos dessem soluções
para os problemas surgidos nas situações de aprendizagem. Mas não as encontraremos, ao menos não
como um “livro de receitas” do que fazer para resolver um ou outro problema da prática educativa. É, no
entanto, possível encontrar respostas do que acontece no âmbito individual, do aluno ou do professor,
ou no âmbito social, desse aluno e desse professor num contexto escolar e este num projeto educacional.
Em outras palavras, há uma concepção, a construtivista, que é um conjunto articulado de princípios em
que é possível diagnosticar, julgar e tomar decisões fundamentais sobre o ensino.
Observação
Um dos princípios mais relevantes da concepção construtivista está não apenas na ênfase de que
o conhecimento aprendido (aquele que fica e do qual nunca mais nos esquecemos) só é aprendido
realmente se for construído pelo indivíduo, mas sim na crença de que a educação se dá numa
dimensão social. Se buscarmos um, apenas um elemento do processo educacional – seu conteúdo de
ensino – para explicar essa dimensão social, é provável que possamos entendê-la melhor. Por exemplo,
o mesmo conteúdo de aprendizagem pode ser aprendido e construído de inúmeras diferentes formas,
conforme os alunos que o estiverem construindo, o ambiente no qual estes alunos estão inseridos, o
entorno da escola onde estes alunos estudam, suas histórias de vida, seus objetivos, suas relações com
os professores e entre eles, o projeto de políticas educacionais que há para eles etc.
Observação
21
Unidade I
Esses questionamentos têm sido aplicados não apenas como busca de respostas, mas como
afirmações aceitas como verdades. Não somente profissionais da educação, como também a
sociedade como um todo, tem se pautado na crença de que “construtivismo é uma forma de o aluno
aprender sozinho” e com a justificativa de que há naturalidade nessa crença já que o “indivíduo
constrói seu conhecimento”. Há nesse pensamento um equívoco. O conhecimento é, sim, construído
pelo indivíduo, mas nas relações que este tem com quem lhe ensina, com outros aprendizes, com o
ambiente em que vive, com os meios de comunicação, com os conteúdos explorados, enfim com o
mundo que o cerca.
Lembrete
Saiba mais
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-093_c.pdf>
Pensemos nos conteúdos como elemento crucial para entender, articular, analisar e inovar a prática
docente. Eles são concretos e resultados de convenções sociais. Existem como patrimônio histórico
da humanidade e não podem ser modificados a cada aprendizagem realizada por cada indivíduo. Um
exemplo para explicar: quando está se alfabetizando, um aluno cria no seu processo de construção uma
regra diferenciada para uma questão ortográfica. Isso não quer dizer que essa regra deva ser incorporada
à ortografia da língua portuguesa. A regra existe e é concreta, a forma/meio como o aluno chegará até
a mesma é que o fará ou não construir conhecimento sobre a mesma.
Essa construção, repetimos, está atrelada à atribuição de significado pessoal que o aprendiz dá à
mesma, mas também às condições criadas pelo professor e demais atores desse cenário escolar para que
essa significação protagonize a ação.
Esta é uma das razões pelas quais a construção dos alunos não pode ser
realizada solitariamente: porque nada garantiria que sua orientação fosse
adequada, [...] outra razão, muito mais importante, é que de forma solitária
não seria assegurada a própria construção (SOLÉ; COLL, 1996, p. 88).
Observação
Os motivos ou motivações que tornam uma aprendizagem significativa para o indivíduo são internos
e, de forma exata e encantadora (eis o “belo” do ser humano), são infindáveis. O que isso quer dizer?
Que pela utilidade ou pelo simples prazer de uma aprendizagem, o indivíduo a constrói. No entanto, os
conteúdos sociais e culturais se confrontam com os conhecimentos prévios desse indivíduo a respeito
dos mesmos. É esse confronto que garante a construção do conhecimento e é sobre o mesmo que o
professor deve atuar como mediador entre o aluno e a cultura.
23
Unidade I
Podemos esclarecer que a construção na escola funciona como “ponte” entre o saber acumulado
historicamente e o saber de cada um dos seus alunos. Faz-se na escola (de acordo com a concepção
construtivista), um processo de conciliação a partir dos conhecimentos prévios (mesmo que adquiridos
na própria escola em situações anteriores) com os conteúdos que configuram o currículo escolar.
• ao professor, um referencial para analisar e fundamentar muitas das decisões que toma no
planejamento e no processo do ensino para proporcionar-lhe critérios que o façam compreender
o que acontece com seus alunos durante as aulas;
• à escola, um referencial para um trabalho de equipe articulado com outras escolas (em projetos
curriculares propostos, por exemplo, por políticas educacionais) e com outras disciplinas;
• à escola, o desenvolvimento de um trabalho de formação de seus professores pela construção de
suas práticas profissionais.
Observação
2.1.1 Os conhecimentos prévios dos alunos como ponto de partida para a aprendizagem
Quando você estiver atuando como professor, sentirá que seus alunos possuem vários conhecimentos
adquiridos antes de serem seus alunos e mesmo antes de serem alunos “e a concepção construtivista
assume este fato como elemento central na explicação dos processos de aprendizagem e ensino na sala
de aula” (MIRAS, 1996, p. 28).
Em primeiro lugar, a apresentação por parte do aluno de uma determinada disposição para realizar a
aprendizagem; não é inexplicável ou imprevisível, mas advém de inúmeros fatores pessoais e interpessoais
como, por exemplo: sua autoimagem e autoestima; experiências anteriores de aprendizagem; capacidade
de assumir riscos e esforços, de pedir, de receber; suas representações sobre as tarefas que vai realizar,
sobre o professor e os colegas, bem como seus interesses por essas tarefas.
cognitivas (com mais ou menos níveis de inteligência, raciocínio e memória), motoras, de equilíbrio
pessoal e de relação interpessoal. Dispõem ainda de um conjunto de instrumentos, estratégias e
habilidades gerais que adquiriram em diferentes contextos durante seu desenvolvimento e, em especial,
no contexto escolar. Por exemplo: a linguagem (oral e escrita), a representação gráfica e numérica,
habilidades para sublinhar, anotar, resumir, pesquisar, organizar informação, ler com compreensão ou
escrever reflexivamente.
E, como último elemento, podemos pensar que nessa “radiografia” do estado inicial do aluno,
é possível “ver” conhecimentos que estes já possuem quando diante da aprendizagem de um novo
conteúdo. São os conhecimentos que chamamos de prévios, ou seja, há sempre uma maior ou menor
aproximação com o conteúdo a ser aprendido presente na “bagagem” – escolar ou não – do aluno. De
acordo com Miras:
Mas, há sempre, para qualquer aluno de qualquer série, conhecimentos prévios a respeito de um
novo conteúdo? Segundo Miras (1996), de uma perspectiva externa ao aluno esses conhecimentos
prévios podem não ser verificados, mas da perspectiva do próprio aluno e da concepção construtivista
sempre o são, pois, se não, como seria possível que esse aluno fizesse uma primeira leitura sobre o
novo conhecimento? Há, porém, que se levar em consideração condições como: distância maior ou
menor entre esses conhecimentos (os prévios e os novos), significatividade e apresentação adequada do
conteúdo pelo professor.
25
Unidade I
Observação
Estamos falando, neste momento, dos esquemas de conhecimento que segundo Coll (1983), citado
por Miras (1996) são definidos como “a representação que uma pessoa possui em um determinado
momento de sua história sobre uma parcela da realidade”.
Os esquemas de conhecimento incluem as representações da realidade que cada aluno possui por
informações sobre fatos e acontecimentos, experiências e casos pessoais, atitudes, normas, valores,
conceitos, explicações, teorias e procedimentos relacionados a essa realidade. De onde provêm esses
esquemas? Do meio familiar, de convivências diversas, de leituras, dos meios de comunicação, mas
também da vivência escolar anterior.
Possuir esquemas de conhecimento não implica que estes sejam coerentes e estejam organizados
da mesma forma em relação aos mesmos alunos. Os esquemas que os alunos possuem caracterizam-se
não apenas pela quantidade de conhecimentos, mas também pelo nível de organização interna de cada
um desses alunos e de como estes os manejam.
O interesse por parte da concepção construtivista pelos conhecimentos prévios não se dá apenas para
estudo e análise das questões relativas ao processo ensino-aprendizagem (teoria), mas principalmente
pela repercussão que eles têm neste processo. O que isso quer dizer? Que o sucesso referente ao ensinar
e ao aprender, depende muito de se ensinar o que o aluno ainda não sabe ou a partir do que este já
sabe.
Ao planejar seu curso ou sua aula, é importante que o professor dedique-se a detectar os conhecimentos
prévios de seus alunos. Cabe aqui destacar que esse conhecimento por parte de um professor, no início
de um processo educativo, é uma tarefa bastante difícil, mas primordial ao pensarmos na organização e
no planejamento desse processo.
O primeiro critério nessa “busca” realizada pelo professor dos conhecimentos prévios dos alunos,
pauta-se na seleção de quais desses conhecimentos devem ser explorados, ou seja, quais questões são
importantes para que se descubra o que sobre determinado assunto os alunos já sabem.
26
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Um segundo critério a ser considerado são os objetivos concretos do professor em relação aos
conteúdos e ao tipo de aprendizagem pretendida. Se esses objetivos encontram-se na superficialidade
ou na profundidade do conteúdo em questão.
Responder a estas perguntas nos ajuda a ter “em mãos” os aspectos básicos que devem ser explorados
e conhecidos quanto àquilo que nossos alunos já sabem.
Mas, e se detectamos que nossos alunos nada sabem? Ou que não possuem nenhuma noção a
respeito do que é nossa proposta ensinar-lhes? É necessário refletir se nada sabem ou se sabem pouco.
Ainda assim, precisamos enfrentar o desafio de descobrirmos “de onde partir” para que o processo
educativo ocorra efetivamente. Se, por exemplo, nossos alunos não estão alfabetizados, é impossível
planejar um ensino de determinada regra ortográfica. Então, diante desse exemplo, você poderá estar
pensando: tenho primeiro que alfabetizá-los? E a resposta é sim.
Observação
A ação do professor depende de constantes atualizações reflexivas sobre o processo educativo. O que
isso quer dizer? É fundamental que constantemente analisemos:
27
Unidade I
Nossas observações acerca desses fatores nos permitirão saber se nossos alunos atualizam ou
não os seus conhecimentos prévios e, na negativa, nossa ajuda é imprescindível. Como? Tendo
constantemente presentes os conhecimentos prévios deles, necessários para a atribuição de sentido
e significado ao novo conteúdo, orientando-os a utilizá-los nos momentos que devem atualizá-los
ou explicando as relações entre os tais conhecimentos prévios e os novos no processo educativo.
Em quais situações? Nas apresentações e introduções aos novos conteúdos, nas sínteses e nas
recapitulações.
Vamos então discutir a exploração desses conhecimentos prévios de nossos alunos utilizando três
questões:
1. O que explorar? A experiência da prática é importante para responder esta questão, pois o
que devemos explorar enquanto conhecimentos prévios de nossos alunos está atrelado aos
objetivos (tão mais claros quanto maior nossa experiência) que temos para a aprendizagem
de um novo conteúdo. Além disso, também nossa experiência nos fornece elementos que nos
permitem, por exemplo, saber quais as dificuldades mais habituais de determinados conteúdos.
Ainda, é preciso levar em consideração aspectos além de uma lista de fatos, conceitos,
procedimentos ou atitudes, mas necessariamente a relação ou relações estabelecidas entre
esses elementos.
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DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Exemplo de aplicação
Convém agora retomarmos aquele conceito que você escreveu (sugerido na página 13) como sendo
seu conhecimento prévio sobre este nosso conteúdo trabalhado. Compare-o com o que você aprendeu
estabelecendo uma relação entre sua concepção antes e depois do processo.
Para uma atuação profissional de boa qualidade, se faz necessário ter um profissional docente
formado com essa mesma boa qualidade. Isso significa dizer que é de fundamental importância o
desenvolvimento de competências específicas para o professor.
Pensar no conceito de competência, que ressurgiu no discurso educacional por volta dos
anos 90, tem sido, para a área da educação, nos últimos anos, uma grande encruzilhada, já que
a docência é uma área com uma especificidade muito particular, ou seja, precisamos pensar
que lidamos com formação dos futuros cidadãos que, como na linguagem popular se diz, “são o
futuro da nação”.
Desse modo,
Assim, vamos, agora, pensar sobre a construção e o desenvolvimento das competências dos
professores tendo em vista seu papel diante da formação dos educandos.
O professor tradicional sempre foi, e em alguns casos ainda é, o detentor de conhecimentos que de
si faz emergir os saberes. Transmitir esses seus conhecimentos, “dar lições”, corrigi-las e instruir alunos
foram, ou são, competências desse modelo de profissional.
O destaque, porém, nesta unidade será para competências novas num novo conceito de professor:
o conceito de dirigente de situações de aprendizagens. Para tal é preciso transformar-se a partir
do entendimento do processo educativo atual e com coragem para trabalhar muito e de forma
diferente.
Há várias dificuldades presentes nesse processo e em seus diferentes níveis. Por exemplo, a interação
que um professor tem com seus alunos nas séries iniciais de escolaridade é bastante diversa da que tem
com alunos adolescentes ou adultos. Pela diferente quantidade de aprendizes por classes, pela forma
como se organizam os currículos, pela distribuição de tempo e de espaço etc.
29
Unidade I
A nossa intenção aqui é destacar um ensino-aprendizagem mais centrado nos alunos (com suas
representações, suas atividades, as situações concretas nas quais são mergulhados e seus efeitos
didáticos) do que no professor que acredita estar fazendo sua parte ensinando pela opção por transmitir
seus conhecimentos. Trata-se sim de um professor com vontade de conceber situações didáticas
ótimas. Situações amplas, abertas, carregadas de sentido e de regulação com pesquisas, identificação e
resolução de problemas.
3.1.1 Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução
em objetivos de aprendizagem
O eixo aqui está na tradução dos conteúdos em objetivos de aprendizagem, é mais para que se
pretende determinada aprendizagem de um conteúdo do que o conteúdo propriamente dito.
Não sejamos ingênuos em pensar que basta então listar objetivos. O ensino obviamente persegue
objetivos, mas não mecânica e obsessivamente. Eles intervêm no planejamento didático, na análise das
situações e das atividades para delimitar ou ampliar o que realmente foi desenvolvido e na avaliação
para o controle dos conhecimentos que os alunos adquiriram.
Mas, as ações educativas são dinâmicas e envolvem mais de um objetivo e mais de uma disciplina
pela multiplicidade e complexidade das situações. A competência do professor está em organizar e
dirigir estas situações. É necessário, então, que ele conheça os conteúdos que a envolvam, mas não
apenas para torná-los inteligíveis aos seus alunos.
Objetivos
Ações
Conteúdos Situações
Já discutimos bastante esta questão, mas é importante que a retomemos aqui num sentido de
competência para ensinar.
É preciso que o professor coloque-se no lugar do aluno, para conseguir ajudá-lo a fundamentar-
se nas suas representações prévias. Em seguida, encorajá-lo a encontrar um ponto de entrada em seu
sistema cognitivo. Enfim, conseguir uma maneira de desestabilizá-lo apenas o suficiente para novamente
restabelecer o equilíbrio, incorporando novos elementos às representações existentes, reorganizando-as
se necessário.
Observação
Aprender não é memorizar, mas reestruturar o sistema de compreensão de mundo. Isso requer um
importante trabalho cognitivo para restabelecer-se um equilíbrio rompido.
Aproveitar esses erros requer uma competência do professor para “caminhar” junto com seus alunos
nas suas buscas de soluções. Ensinar dessa forma é bastante diferente de se “dar” uma fórmula pronta
31
Unidade I
para que se resolva um problema. Por exemplo, para resolver a situação de ter saído de casa com certa
quantia de dinheiro, ter gasto 70 reais primeiramente e depois 40 e querer saber quanto era a quantia
quando saiu de casa, o aluno que “recebeu” como fórmula para resolver problemas de subtração e
“dicas” de palavras como “gastar”, tentará resolver este problema subtraindo 40 de 70. Mas a solução
não é coerente, pois 30 como resultado é um valor inferior a cada uma das quantias gastas. Deste “erro”,
pode-se solucionar o problema pela soma dos gastos.
A construção do conhecimento é uma trajetória coletiva que o professor orienta, criando situações e
dando auxílio, sem ser o guia que transmite o saber e nem o guia que propõe a solução para o problema.
É importante o professor conceber situações que estimulem o conflito cognitivo entre os alunos ou na
mente de cada um, ou seja, entre o que o aluno antecipa e o que observa.
O envolvimento e o compromisso do professor com o saber são suas “armas” mais eficazes nesta
competência com seus alunos. Trata-se de conseguir desses parceiros que “comprem juntos a briga” do
conhecimento compreensivo.
Mas não há fórmulas ou listas de estratégias ou recursos que façam “brilhar os olhos” dos alunos
diante de um novo conhecimento. Há conteúdos que por sua utilidade ou funcionalidade encantam
aprendizes por si só como, por exemplo, a leitura. Mas nem todo novo conhecimento possui esta
característica.
Assim, o professor é o modelo pela sua relação com o saber e com a pesquisa. A demonstração
verdadeira de que ele, professor, caminha junto com seus alunos entendendo-os, fazendo as reflexões
cabíveis, lançando questões, pesquisando, conhecendo seus “caminhos cognitivos”, é a mais forte e
sincera ação para envolver alunos no processo educativo.
32
DIDÁTICA FUNDAMENTAL
O professor tem que tornar acessível e desejável sua própria relação com o saber e a pesquisa,
encarnando um modelo plausível de aprendiz. A dinâmica de uma pesquisa é simultaneamente
intelectual, emocional e relacional.
Nem todo conhecimento, como já foi dito, suscita uma utilidade. Fazer “funcionar” um aparelho de
DVD, por exemplo, não demanda conhecer toda a tecnologia que envolve esse funcionamento. Portanto,
nem todo conhecimento é justificável por si só e por isso, muitas vezes, é necessário que se crie com os
alunos uma paixão “desinteressada” pelo saber.
Exemplo de aplicação
Pense e responda recorrendo à sua memória: você já conviveu com algum professor que o fizesse
apaixonar-se pelo conhecimento? Discuta a respeito com seus colegas e tente extrair desses “modelos”
as suas competências profissionais.
Lembrete
Geralmente a escola é organizada com programas voltados para cada série, ano ou ciclo. Nesse
tipo de organização, os objetivos visados para alcance dos alunos, bem como os métodos e meios
para tais objetivos, estão atrelados ao cumprimento de um período de tempo. Não há, nesse caso,
exigência de muita competência por parte do professor que organiza seu trabalho com determinados
conteúdos a serem conhecidos por seus alunos em certo período de tempo. Basta que ele os divida em
meses ou semanas e busque estratégias e recursos didáticos que “caibam” nessa divisão, vamos dizer,
organizacional.
Parece assim que estamos nos referindo a um trabalho com objetos ou coisas, um trabalho pautado
na sua funcionalidade, ou seja, basta que todos façam a sua parte para que o produto final possa ser
obtido com sucesso. No caso da escola, professores parecem ensinar, alunos parecem aprender, diretores
parecem administrar etc., e tudo durante o período de tempo estabelecido. Os problemas surgidos devem
ajustar-se ao cumprimento do programa pré-elaborado. Como? Por exemplo, o aluno que não aprendeu
determinado conteúdo durante determinada semana, deverá “estudar” mais, fazer “trabalho extra”, ter
aulas particulares etc. Já o aluno que aprendeu compreensivamente o mesmo conteúdo no primeiro dia
da semana ajustar-se-á “esperando” pelo próximo novo conteúdo ou buscando outras coisas para fazer,
inclusive indisciplinando-se.
Ora, estamos falando de ambiente escolar e este só existe porque nele existem sujeitos autônomos e
diversos. Suas progressões de aprendizagens já se delineiam em ciclos plurianuais em várias escolas e se
encaminham rumo à individualização dos percursos de formação e à pedagogia diferenciada.
Nesse contexto, as decisões de progressão passam a ser assumidas mais pelo professor quanto menos
estiver sendo decididas pela escola. Então, novas competências mais específicas precisam ser mobilizadas:
Uma pergunta que naturalmente surgiu em você: preparamos uma situação-problema diferente
para cada aluno já que estamos buscando a individualização das progressões de aprendizagem?
Se você respondeu não, você acertou. Uma mesma situação-problema poderá ser solucionada de
diferentes maneiras por diferentes alunos ou grupos e, ainda suscitar diferentes aprendizagens.
Focalizar o ensino no aluno e na progressão das suas aprendizagens requer do professor a competência
para uma visão longitudinal dos objetivos do ensino. Não basta mais possuir objetivos que se encerrem
num período letivo ou enquanto se está convivendo com o aluno. É preciso enxergar este aprendiz muito
à frente, vivenciando novos conhecimentos e aprofundando os anteriores, além também de conhecer
suas conquistas até então.
É claro que isso requer também concepções diferenciadas por parte dos elementos presentes (às
vezes determinantes) no contexto escolar, como por exemplo, a organização anual ou plurianual ou o
incentivo ou não para reflexões conjuntas entre professores de uma mesma escola.
Ensinar os alunos a ler, por exemplo, deveria ser objetivo de todos os professores de crianças ou
adolescentes. Em momentos diferentes da escolaridade ou em desenvolvimento de diferentes disciplinas
há variadas leituras para variados tipos de textos.
Pode haver resistências a uma visão longitudinal dos objetivos de ensino por parte dos professores
que têm o seu arsenal de trabalho construído durante anos para um mesmo nível de escolaridade.
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Unidade I
É necessário além da competência, ter energia e coragem para se questionar “porque se faz o que faz”.
Observação
Para gerir a progressão dos alunos, é necessário que se façam balanços periódicos de suas aquisições.
A observação contínua tem uma intenção formativa e em uma perspectiva pragmática considera-se
tudo o que o aluno tem de melhor:
• suas aquisições;
• sua maneira de aprender e de raciocinar;
• sua relação com o saber;
• suas angústias;
• seus eventuais bloqueios diante de certo tipo de tarefa;
• o que faz sentido para ele e o mobiliza;
• seus interesses;
• seus projetos;
• sua autoimagem como sujeito mais ou menos capaz de aprender;
• seu ambiente escolar e familiar.
Mas, principalmente, o professor precisa saber o que fazer com o que se detectou como aquisições
ou não de aprendizagens.
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DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Os alunos precisam ser olhados, observados e analisados de forma que suas ações e atitudes sejam
consideradas pelo professor como demonstração de suas aprendizagens.
A todo o momento o professor precisa estar atento para perceber como/o que/por que seu aluno
constrói conhecimento.
Desse modo, sua visão precisa considerar a avaliação, não apenas a medida educacional, já que
E esta será uma atitude formativa, de forma que o educador preocupe-se, efetivamente, com a
aprendizagem e o desenvolvimento de cada um de seus educandos sendo seu olhar uma atitude que os
ajude a aprender.
Uma série de decisões ou orientações são tomadas no final de cada ano letivo ou de cada ciclo em
qualquer formação escolar. Essas decisões são tomadas a partir de um balanço das aquisições e, ao
mesmo tempo, de um prognóstico e de uma estratégia de formação que considere recursos e dispositivos
disponíveis. Nesse caso nos encontramos no coração do ofício do professor.
Não é tarefa fácil a decisão entre um aluno refazer uma série de escolaridade ou um ano de
determinado ciclo. Decidir esse “dilema” vai além de preparar e aplicar provas ou optar entre a repetência
do aluno, por não ter este aprendido conteúdos importantes para a sequência de sua progressão, ou a
não interrupção na trajetória de sua escolaridade. Em ambos os casos a decisão é complicada porque
o aluno pode carregar “buracos vazios” nas suas aprendizagens ou tornar-se desmotivado por refazer
parte dessa trajetória.
Resumo
sistemática, para que o aluno que lá esteja, construa, com auxílio e mediado
por seu professor, todo o conhecimento que for possível.
Bons estudos!
Exercícios
A) Precisam da liderança do diretor da escola, ao qual cabe exercê-la com prudência, cuidando
para que todas as regras fiquem claras aos sujeitos de modo a evitar problemas e confrontos
desgastantes, sobretudo com órgãos superiores.
B) Tornam mais complexa a gestão de pessoal, uma vez que se tem de considerar as escolhas mútuas
dos docentes. São capazes, porém, de contribuir para que alguns professores se sintam encorajados
a romper com o individualismo.
C) Tendem a contestar as regras comuns, mas podem ser mais competentes na resolução de problemas
do que problemas que não sabem trabalhar juntos.
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DIDÁTICA FUNDAMENTAL
Resposta correta: A
Alternativa correta
A) Precisam da liderança do diretor da escola, ao qual cabe exercê-la com prudência, cuidando
para que todas as regras fiquem claras aos sujeitos de modo a evitar problemas e confrontos
desgastantes, sobretudo com órgãos superiores.
Justificativa: A afirmativa é falsa porque na visão pedagógica de Perrenoud, o diretor não é uma
liderança tradicional, mas um articulador da equipe.
Alternativa incorreta
B) Tornam mais complexa a gestão de pessoal, uma vez que se tem de considerar as escolhas mútuas
dos docentes. São capazes, porém, de contribuir para que alguns professores se sintam encorajados
a romper com o individualismo.
Justificativa: A afirmativa é verdadeira porque segundo Perrenoud: “Em um trabalho coletivo,
inicia-se a discussão, o choque das representações obriga cada um a precisar seu pensamento e
a levar em conta o dos outros” (extraído do livro texto p. 51) o que confirma a complexidade da
gestão de pessoal que reside na diversidade de opiniões e escolhas dos indivíduos do grupo.
Alternativa incorreta
C) Tendem a contestar as regras comuns, mas podem ser mais competentes na resolução de problemas
do que professores que não sabem trabalhar juntos.
Justificativa: A afirmativa é verdadeira, pois na visão pedagógica de Perrenoud, o individualismo
do professor que não sabe trabalhar em equipe é um grande problema para a qualidade da
educação.
Alternativa incorreta
D) Contestam regras e podem ameaçar a ordem tradicional, interferindo nos procedimentos
burocráticos, mas contribuem para um clima otimista por assumirem uma postura menos passiva
frente ao sistema.
Justificativa: A afirmativa é verdadeira, pois na visão pedagógica de Perrenoud a ordem e os
procedimentos burocráticos não tem a importância do clima otimista de uma postura menos
passiva dos professores.
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Unidade I
Alternativa incorreta
E) Constituem um “contrapoder” frente à direção, mais forte do que atuação de pessoas isoladas,
podendo criar suas próprias regras e política. Estimulam, porém, a direção a avançar e facilitam a
desconcentração ou descentralização dos poderes da gestão.
Justificativa: A afirmativa é verdadeira, pois na visão pedagógica de Perrenoud é importante que
haja um contraponto nas relações de poder na escola, portanto um “poder” e um “contrapoder”
que facilitem a descentralização da gestão.
Questão 2. Segundo Maria Inês de Matos Coelho, a concepção de formação humana vem sendo
considerada na educação escolar como
A) A função social precípua da escola, universalizando a cultura por meio de um currículo escolar que
permite a todos o acesso aos conteúdos culturalmente acumulados e a apropriação dos meios para
participar politicamente dessa cultura pelo desenvolvimento de competências e habilidades.
B) Reveladora da responsabilidade da escola, educando para a cidadania e para a autonomia, para
aprendizagem dos códigos da modernidade capazes de impulsionar a criatividade no acesso, difusão
e domínio das inovações científico-tecnológicas que concretizam a igualdade de oportunidades.
C) A própria educação escolar, na medida em que ela foi identificada com o amplo campo da educação,
fazendo dominar na ordem política e social do mundo moderno, uma concepção pragmática e
utilitária que confere a processos escolares atuais a preparação dos indivíduos para a cidadania.
D) Guia para as funções do processo formativo da ação escolar em três aspectos: o reconhecimento
do mundo e de sua transformação em mundo simbólico, o preparo para o relacionamento com a
realidade participando de sua conservação e o ajuste da ação individual na vivência coletiva.
E) Pressuposto para as reformas de ensino atuais que incorporam à educação escolar o desenvolvimento
das competências necessárias ao mundo do trabalho e as habilidades que permitem permanentes
transformações advindas da interculturalidade e da presença da tecnologia no âmbito escolar.
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