Resenha Crítica do texto “Desigualdades Geográficas: Territórios da globalização
na Amazônia”, de João Márcio Palheta.
O texto “Desigualdades Geográficas: Territórios da globalização na Amazônia”,
de João Márcio Palheta, analisa as transformações territoriais nacionais sofridas em decorrência da globalização da economia. O autor afirma que a sociedade global não pode ser pensada sem considerar aspectos históricos e culturais das regiões, que são integradas através dos “motores da globalização”. Os “motores da globalização” seriam redes como telefones, fax, internet, que envolvem o desenvolvimento da tecnologia permitindo a ligação entre regiões e a facilidade da competitividade, item indispensável no capitalismo na hora de definir posições de países na escala da economia. Palheta afirma que ao mesmo tempo em que a globalização permite o desenvolvimento da sociedade, a desigualdade também aparece como consequência do desenvolvimento, já que os aspectos sociopolíticos, culturais e econômicos recriam modos de agir dentro de uma diversidade onde as diferentes influências e dominações acabam por gerar conflitos. A globalização sendo um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, que foi impulsionado pelos meios de comunicação e tecnologia, trouxe uma mudança na formação da sociedade, em que as informações chegam de forma veloz em diferentes lugares do mundo e conectando pessoas de diferentes regiões, influenciando no modo de agir e modificando culturas. Segundo o autor, o fator desigualdade também acompanhou o processo de globalização, já que os territórios passaram a funcionar de acordo com sua potencialidade, e reforçou a interdependência entre as sociedades, fazendo com que nenhum local esteja livre de sofrer mudanças. O capitalismo fez com que o fator socioeconômico aumentasse a riqueza de alguns locais e o empobrecimento de outros que não se desenvolveram na mesma velocidade das nações mais ricas, seja por falta de recursos ou por consequência da má distribuição de renda por parte de governantes. Palheta explica que os países que não apresentam taxa de desenvolvimento satisfatória acabam por representar um “retrocesso”, fazendo com que fiquem de fora quando o assunto é potencialidade de economia. Dessa forma, a globalização cria riscos ao mesmo tempo em que cria oportunidades, incentivando a economia de mercado e modificando o modo de vida da população. As diferenças nos modelos de produção impede que a globalização se apresente de forma igualitária no meio econômico. Nesse cenário, a região amazônica se apresenta como um meio que representa uma mercantilização, já que a exploração de seus recursos faz com que ela possa ser considerada. O autor cita Bunker (1984), que define a Amazônia como uma “região de economia extrativa”. Segundo ele, a região continuará como fornecedora de matéria- prima, mudando apenas a intensidade e o ritmo de exploração de seus recursos. Atualmente, tenta-se conciliar a preservação da Amazônia ao mesmo tempo em que se considera a região como objeto que viabiliza o desenvolvimento econômico, entretanto, o autor destaca que ações de preservação têm sido negligenciadas, alterando as formas de pensar no que diz respeito à valoração dos recursos naturais. O autor pensa a região amazônica desde a época da exploração da borracha que impulsionou o desbravamento da floresta, do povoamento do território, da urbanização dos principais centros e da construção das redes de transporte (Singer, 1994, p.168). Após o auge da exploração da borracha, outras ações de exploração também permitiram que a região fosse vista como vantajosa no ponto de vista econômico. O autor coloca em pauta dois questionamentos: como se pode dividir na Amazônia os espaços que podem ser utilizados como via de desenvolvimento; e quais áreas poderiam ser preservadas levando em consideração os interesses da sociedade local. Ou seja, a Amazônia pode representar benefícios se tiver seus recursos ambientais bem explorados, mas quais pessoas seriam realmente beneficiadas com a exploração dos recursos? Os danos ecológicos causados na região amazônica ocorreram em decorrência da falta de planejamento na exploração dos recursos que não levaram em consideração os fatores ambientais, mas visaram somente o capital. Palheta cita como um dos exemplos a hidrelétrica de Tucurí, que é sempre pautada como fator que prejudica o equilíbrio ambiental da região, mas que está diretamente ligada com a economia internacional. A exploração desequilibrada afeta diretamente as pessoas que habitam a região, como indígenas e ribeirinhos, que praticam uma espécie de extrativismo sustentável na região para a própria sobrevivência. O autor ao citar Singer, reafirma que a exploração desequilibrada da Amazônia não ocorre somente por parte de grandes empresas multinacionais, mas também por parte de fazendeiros, agricultores e garimpeiros que visam o lucro através da exportação de materiais e exploração de recursos naturais, colocando cada vez mais em risco a biodiversidade local. Palheta destaca também o paradoxo que envolve a drástica mudança no estilo de vida das pessoas provocada pela globalização. Mesmo em locais extremamente pobres marcados pela má distribuição de renda, é possível encontrar elementos marcantes da globalização, como antenas parabólicas ou torres de telefonia. A biodiversidade, as fontes energéticas, a sociodiversidade, são fatores que fazem da Amazônia uma fonte de recursos para a humanidade. Entretanto, as tensões que fazem parte do contexto da globalização na região ainda continuam presentes. Dessa forma, as relações mundiais contemporâneas do capitalismo impõem outras circunstâncias históricas de inserção da Amazônia na dinâmica global, onde a região aparece com características bem diferentes de sua configuração natural e geográfica. Situar a Amazônia no âmbito da globalização contraditória implica demonstrar como e quais processos mundiais se manifestam localmente em diferentes circunstâncias. A exploração e os ciclos extrativos na Amazônia precisam ser olhados com senso de responsabilidade, buscando possibilidades de uma ordem política e econômicas corretas para que uma fonte de riqueza como a Amazônia não seja prejudicada em seu território.