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M211 - Elementos de Armamento

– Manual do Aluno –

Elaborado por: Cor Cav Rogério Santos

Edição 2010/11
Este Manual do Aluno foi elaborado no ano lectivo de 2010-2011 pelo Cor Cav Rogério Santos. Como é
óbvio, apenas pretende actualizar os conteúdos, incluir novas tecnologias que estejam já consolidadas e
trazer algum rigor às matérias ministradas no âmbito do armamento geral e em particular, nas armas ligeiras.
Muitos dos conteúdos transitam, não só do anterior manual da Unidade Curricular (UC), mas também de
outros que o precederam, onde se foi recuperar um “fio condutor”.
Assim sendo, é de elementar justiça referir o trabalho dos professores que ao longo de várias décadas,
contribuíram para os apontamentos escritos das cadeiras de armamento geral. Desde o longínquo trabalho do
Cor Armando Páschoa, ainda hoje uma das maiores referências da UC, passando pelo do Cor Marques de
Abreu e Cor Lourenço Guedes, terminando no do Major Carlos Macieira, Capitão Rodrigues Alves e
coadjuvados pelo Sargento-Chefe Edgar Martins, ficam no anonimato muitos outros nomes que, decerto
contribuíram para a qualidade e a evolução de ensino do armamento na Academia Militar.
Como as actuais tecnologias de informação permitem, este pretende ser um manual “vivo”, contando com
o contributo, não só dos docentes, mas também dos alunos, numa postura que se pretende cada vez mais
participativa no processo da aquisição e da transmissão do conhecimento.
Assim, todas as pertinentes propostas de alteração/inovação devem ser dirigidas para o professor-regente
da UC M211 – Elementos de Armamento.

Quadro de anotação de eventuais alterações

Página Assunto Linha Alteração


Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

ÍNDICE

PARTE I INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ARMAMENTO


CAPÍTULO 1 Divisão e classificação geral das armas Pág. I - 1
CAPÍTULO 2 Breve evolução histórica do armamento Pág. I - 11
CAPÍTULO 3 Características fundamentais das armas de mão Pág. I - 23
CAPÍTULO 4 Condições a que devem obedecer as armas de fogo Pág. I - 26
PARTE II ARMAS DE FOGO ORDINÁRIAS
CAPÍTULO 1 Organização das armas de fogo Pág. II - 1
CAPÍTULO 2 Cano Pág. II - 2
CAPÍTULO 3 Caixa da culatra Pág. II - 10
CAPÍTULO 4 Aparelho de pontaria Pág. II - 11
CAPÍTULO 5 Culatra móvel Pág. II - 20
CAPÍTULO 6 Mecanismos Pág. II - 29
CAPÍTULO 7 Coronha Pág. II - 35
CAPÍTULO 8 Guarnições e acessórios Pág. II - 37
CAPÍTULO 9 Revólveres Pág. II - 40
PARTE III ARMAS DE FOGO AUTOMÁTICAS
CAPÍTULO 1 Introdução Pág. III - 1
CAPÍTULO 2 Sistemas de automatismos Pág. III - 3
CAPÍTULO 3 Organização da arma automática Pág. III - 10
CAPÍTULO 4 Pistolas Pág. III - 30
CAPÍTULO 5 Estudo comparativo entre pistolas e revólveres Pág. III - 33
CAPÍTULO 6 Pistolas-metralhadoras Pág. III - 34
PARTE IV OUTRAS ARMAS DE FOGO LIGEIRAS
CAPÍTULO 1 Armas de Franco Atiradores Pág. IV - 1
PARTE V ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA
CAPÍTULO 1 Generalidades Pág. V - 1
CAPÍTULO 2 Tipos de armas de letalidade reduzida Pág. V - 2
CAPÍTULO 3 Emprego de armas de letalidade reduzida Pág. V - 4
PARTE VI MUNIÇÕES DAS ARMAS PORTÁTEIS
CAPÍTULO 1 - Munições das armas ligeiras Pág. VI - 1
CAPÍTULO 2 - Munições especiais Pág. VI - 9
PARTE VII GRANADAS DE MÃO E DE ESPINGARDA
CAPÍTULO 1 - Organização das granadas de mão Pág. VII - 1
CAPÍTULO 2 - Granadas de mão em uso no Exército Português Pág. VII - 7
CAPÍTULO 3 - Dilagrama M/965 Pág. VII - 13
GLOSSÁRIO DE DEFINIÇÕES LEGAIS Pág. G - 1
BIBLIOGRAFIA Pág. B - 1

1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE I

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ARMAMENTO

CAPÍTULO 1

DIVISÃO E CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS

1. GENERALIDADES
O emprego do vocábulo “ARMA” é vasto e pode ser utilizado tanto no campo filosófico, como no da
heráldica ou da ciência militar.

No campo filosófico temos como exemplo:


- “A sua melhor arma é a consciência do dever.”
- “As armas espirituais da igreja…”
- “A língua é uma arma mais perigosa que outras armas…”
Armas de Portugal
No campo da heráldica temos:
- Armas de domínio, que correspondem a um país, província, cidade ou vila e
indicam os direitos que elas têm no território sujeito à sua jurisdição.
“…a qual pedra é um mármore com armas de Portugal.”
Gaspar Correia - Lendas da Índia III - 42 Fig. I-1-1

- Armas pessoais, distintivo adoptado ou concedido a um indivíduo e que quando se tratava de


cavaleiros, as faziam pintar no seu escudo.
“…na qual vos deu por armas e deixou ao que ele para si ma cru tomou” Arma de Cavalaria
Camões - Lusíadas I - 7

- Armas de família, distintivo usado pelos membros de uma família.


Fig. I-1-2

No campo militar, além do conceito orgânico do Exército (Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia,
Engenharia e Transmissões), temos, no conceito científico do armamento e do tiro, que nos interessa
particularmente, ARMA como: ―Qualquer objecto, instrumento ou aparelho destinado a atacar, a
defender ou com o duplo fim de atacar e defender simultaneamente do adversário‖ .

Considerando que certas armas são utilizadas quando associadas a outros equipamentos necessários para a
sua sustentação no campo de batalha, ou a outras armas, surge também o conceito de SISTEMA DE
ARMAS: ―A combinação de uma ou mais armas, com todos os equipamentos, materiais, serviços,
pessoal e meios de transporte e projecção (se aplicável), necessários para a sua auto-sustentação.‖1

1
NATO AAP-6 - Glossary of Ter ms and Definitions (2010).

I- 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

2. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS


As armas podem classificar-se segundo variados critérios. Abordemos alguns dos critérios de
classificação mais pertinentes e usuais: finalidade, peso, manejo, emprego táctico, forma de utilização,
letalidade e jurídico-legal.
a. Finalidade
(1) Armas Ofensivas - As que se destinam a atacar o adversário.
- Espingarda automática Colt M16A25,56 mm; Punhal; Míssil de cruzeiro Tomahawk.
(2) Armas Defensivas – As que se destinam a defender os golpes ou os efeitos das armas dos
adversários.
- Colete antibala; Capacete; Escudo; Mantelete; Lança-fumígenos.
(3) Armas Ofensivas / Defensivas - As
1 2 3
que se utilizam com o duplo fim de
atacar e defender dos golpes dos
adversários.
- Carro de combate (CC); Viatura
blindada de combate de Infantaria Fig. I-1-3 – Arma ofensiva (1), defensiva (2) e ofensiva-defensiva (3)
(VBCI).
b. Emprego Táctico e Peso (relacionada com o seu transporte e utilização táctica)
(1) Armas Portáteis Ligeiras - Aquelas cujo transporte é feito por um só homem ou com um peso
total inferior a 18 kg.
- Metralhadora Ligeira HK21 7,62 mm M/67; Morteiro 60 mm M/65 FBP.
(2) Armas Portáteis Médias - Aquelas que exigem para o seu transporte mais do que um homem
(para o que são decomponíveis em cargas), fáceis e rápidas de montar e de operar, com pesos
totais entre 18 e 70 kg.
- Morteiro 81 mm L16A2; Canhão Sem Recuo Carl Gustav 84 mm M2 M/94.
(3) Armas Pesadas - Aquelas que para serem transportadas necessitam de uma plataforma automóvel
ou de um atrelado auto ou
hipo, com pesos acima dos 70 1 2 3

kg.
- Canhão sem recuo 10,6 cm
M/40A1 M/979; Morteiro
120 mm Tampella;
Fig. I-1-4 – Arma portátil ligeira (1), portátil média (2) e pesada (3)
Metralhadora Browning M2
HB12,7 mm M/52.
c. Manejo (relacionada com a máxima rentabilidade que se consegue da arma)
(1) Armas Individuais - Aquelas que podem ser manejadas com eficiência por um só homem, tirando
assim o máximo rendimento da arma.
- Revólver Smith & Wesson Model 64; Espingarda Colt M16A2 1 2

5,56 mm.
(2) Armas Colectivas - As que necessitam, de vários homens (uma
guarnição) para tirar o máximo rendimento da arma.
Fig. I-1-5 – Arma individual (1) e
- Metralhadora ligeira HK-21 7,62 mm M/67; Morteiro 10,7 cm
colectiva (2)
M30 M/952.

I- 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

e. Forma de Utilização (essencialmente aplicável às armas ofensivas e ofensivas/defensivas)


(1) Armas de Mão - Aquelas que se utilizam sem se separarem de quem as utiliza.
(a) Contundentes ou de Choque – Actuam pelo choque.
- Clava; Maça de armas; Martelo; Bastão; Boxer2 .
(b) Corte ou Gume – Actuam pela cutilada.
- Acha de armas; Machado.
(c) Estocada ou Ponta – Actuam pela 3 4 5
1 2 6
perfuração.
1. De Haste
- Pique; Lança; Partazana;
Baioneta.
2. De Punho
- Florete; Rapieira; Estilete.
(d) Gume e Ponta – Actuam
simultaneamente pela cutilada e
pela perfuração.
1. De Haste Fig. I-1-6 – Arma contundente ou de choque (1), de corte ou gume
- Alabarda. (2), de estocada ou ponta de haste (3), estocada ou ponta de punho
2. De Punho (4), de gume e ponta de haste (5), de gume e ponta de punho (6)

- Sabre, Espada.
(2) Armas de Arremesso e de Sopro3 (ou de Projecção Humana) - As que actuam à distância, depois
de projectadas, utilizando somente a força muscular.
(a) De Arremesso – As que utilizam a força muscular do braço.
- Pedra; Granada de Mão; Dardo; Funda; Zagaia;
Bumerangue. 1 2
(b) De Sopro4 - As que utilizam a força muscular do
diafragma e a capacidade pulmonar. Estas armas,
presentes em muitas sociedades primitivas, utilizam-se,
projectando um pequeno dardo, através de um tubo
comprido. Fig. I-1-7 – Arma de arremesso (1)
- Zarabatana; Fukiya. e de sopro (2)
(3) Armas de Projecção - As que lançam o projéctil à distância,
sob o impulso de determinada força, que não a muscular.
(a) De Tiro (ou neurobalísticas) - As que usam a elasticidade
de determinados materiais ou a força da gravidade, para
lançar o projéctil à distância.
- Arco; Balista; Catapulta; Trabuco5 . Fig. I-1-8 – Arma de projecção de tiro

2
Instrumento metálico ou de outro material duro destinado a ser empunhado, encaixando os dedos em quatro orifícios,
de forma a amp liar o efeito resultante de um soco.
3
Alguns autores (Wolff, Eldon, 1958) classificam as armas de sopro como de projecção pneumát ica.
4
Note-se que as armas de sopro tinham efeitos limitados, impelindo projécteis pouco pesados a alcances relativamente
curtos. Desenvolvidas por sociedades primit ivas, não eram armas bélicas mas antes destinadas à caça, necessitando
mu itas vezes de ampliar os seus efeitos, embebendo as pontas dos seus projécteis com veneno paralisante, suficiente
para neutralizar a presa até à sua eliminação posterior.
5
O trabuco não funciona pela elasticidade mas antes pela acção da gravidade na libertação de um contrapeso, fazendo
rodar u ma haste onde se encontra o projéctil.
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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(b) De Pressão de Ar (ou pneumobalísticas) - As que lançam o projéctil à distância, pela


libertação de ar ou gás previamente
comprimido.
- Espingarda pneumática Girandoni M1780;
Pistola TASER6 . Fig. I-1-9 – Arma de projecção de pressão de ar
(c) De Fogo (ou pirobalísticas) – As que utilizam a
combustão de produtos químicos, sólidos, líquidos ou gasosos como força propulsora.
1. Ordinárias - As partes móveis são operadas por acção humana.
a. Tiro Simples – Após cada disparo, tem de se introduzir nova munição.
- Mosquete Brown Bess; Espingarda Chassepot 11 mm M/886.
b. Repetição – Podem ser carregadas com várias munições.
- Carabina Kropatchek 8 mm M886; Revólver Smith & Wesson Model 64.
2. Automáticas - Aproveitam a acção dos gases para fazer recuar as partes móveis.
a. De Tiro Semi-Automático ou de carregamento automático - As que foram concebidas
para disparar tiro a tiro.
- Espingarda automática G3 7,62 mm M/63; Pistola Parabellum 9 mm M/43.
b. De Tiro Automático - As que foram concebidas para fazer fogo de rajada.
- Metralhadora pesada Browning M2 HB 12,7 mm; Pistola-metralhadora 9 mm HK
MP5KA1.
3. Especiais - Aquelas que pelas suas características não se enquadram nas duas anteriores.
a. Peças - armas de grande calibre, cano comprido e velocidades iniciais elevada,
adequadas a bater alvos com trajectórias tensas a grandes distâncias;
b. Obuses - armas de grande calibre e velocidades iniciais moderadas, adequadas a bater
zonas com trajectórias curvas mergulhantes, em tiro indirecto;
c. Morteiros - armas de grande calibre, cano curto e velocidades iniciais mais reduzidas,
adequadas a bater zonas com trajectórias curvas verticais, em tiro indirecto;
d. Canhões sem Recuo - peças de culatra aberta que, permitindo que parte dos gases
propulsores seja direccionado para a retaguarda, geram uma força equilibrada de recuo
sem exercer acção sobre o corpo da própria arma;
e. Granadas Foguete - projécteis lançados em tiro directo por tubos singulares (engenhos
de acompanhamento de Infantaria) ou em tiro indirecto por tubos múltiplos
(Artilharia), em que a carga propulsora está na granada e vai sendo consumida ao
longo da trajectória;
f. Torpedos7 - projécteis de grande carga explosiva e carcaça estanque, providos de
e
1 2 3
l
e
m
Fig. I-1-10 – Arma de projecção de fogo ordinária (1), automática (2) e especial (3)
e

6
Embo ra funcione por efeito de uma descarga eléctrica, os respectivos eléctrodos são projectados para o alvo pela
descompressão de uma cápsula de azoto comprimido.
7
Nem todos os torpedos são propuls ados pela combustão de produtos químicos. Muitos torpedos actuais têm motores
eléctricos. Os mais antigos eram de ar co mprimido.
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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

elemento propulsor que, depois de lançados no meio aquático, os impulsiona de


encontro a alvos flutuantes ou obstáculos navais;
g. Mísseis Guiados - engenhos balísticos providos de carga explosiva ou outra, de uma
carga propulsora própria ou de um motor e ainda de um sistema de guiamento até ao
alvo que se pretende bater.
(d) Electromagnética - As que utilizam energia eléctrica ou forças electromagnéticas para
propulsionar um projéctil.
1. Por motores eléctricos - Variante de torpedos que utiliza um motor eléctrico alimentado
por baterias para mover uma hélice e, consequentemente, propulsionar o engenho.
2. Por Carris (Rail guns) - Canhões de
propulsão gerada por campos
electromagnéticos opostos criados
entre dois carris.
3. Por Bobinas (Coil guns) - Armas de
propulsão gerada por campos
electromagnéticos gerados no interior Fig. I-1-11 – Arma de Projecção Electromagnética

de bobinas sequenciais.
(e) De Energia Directa - As que projectam alguma forma de energia directamente sobre os
alvos, seja por feixes, por raios unidireccionais ou mesmo omnidireccionais. Com excepção
dos lança-chamas e dos empasteladores, a maioria destas armas está ainda em fase
experimental, de consolidação, ou são secretas.
1. Lança-Chamas - equipamentos mecânicos concebidos para projectar chamas longas e
controláveis, ou, literalmente, para lançar
chamas. Alguns lança-chamas militares
projectam um líquido inflamável,
enquanto outros, projectam um gás
inflamável.
- Lança-Chamas Individual M2A1; Carro
de Combate Lança-Chamas M67 Zippo.
2. Lasers - Equipamentos, ainda de carácter
Fig. I-1-12 – Arma de Projecção de Energia Directa
experimental, capazes de emitir feixes de
radiação electromagnética de potências e finalidades variadas. Os mais potentes podem
destruir aeronaves e mísseis balísticos. Outros, pela intensidade da luz amplificada,
podem causar incapacidade temporária pelo deslumbramento ou variação de calor.
- Laser aerotransportado [Airborne Laser Test Bed (ALTB)]; Arma de Laser Térmico
[Thermal Laser Weapon]
3. Emissores de Microondas - Equipamentos que emitem feixes de microondas de potências
e frequências variáveis consoante as finalidades, que podem ir desde incapacitantes anti-
pessoais a anti-materiais, neutralizando equipamentos electrónicos de microondas ou
provocando a inflamação de determinados combustíveis.
- Arma de microondas para controlo de tumultos [Active Denial System (ADS)].
4. Armas Acústicas – Equipamentos emissores de ondas acústicas direccionadas e de alta
intensidade, causando dor, desorientação e outras perturbações fisiológicas, sem provocar
morte ou lesões graves e permanentes.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

- Dispositivo Acústico de Longo Alcance [Long Range Acoustic Device (LRAD)].


5. Empasteladores - Equipamentos electrónicos emissores de sinais rádio, infravermelhos ou
microondas, uni ou omnidireccionais, capazes de neutralizar equipamentos de
comunicações (rádios, telefones celulares, controlos remotos), radares de pesquisa e
vigilância ou equipamentos de guiamento (mísseis, bombas, veículos, aeronaves, GPS)
que funcionem na mesma gama de frequências.
- Empasteladores tácticos JAMPAK (contra telefones celulares ou de satélite, controlos
remotos e ondas rádio VHF/UHF); Empastelador de infravermelhos SHTORA do carro
de combate T-90 (contra sistemas de guiamento de mísseis anti-carro).
6. Armas de Impulso Electromagnético (EMP). Engenhos concebidos para causar uma
fortíssima descarga eléctrica que, por sua vez, irá gerar fortes campos eléctricos e
magnéticos variáveis, culminando num rebentamento com emissão de radiação
electromagnética. Essa radiação irá induzir a criação de fortes correntes eléctricas e
elevadíssimas voltagens nos circuitos eléctricos e electrónicos existentes no seu raio de
acção, provocando a sua destruição ou grave avaria. As armas nucleares também podem
criar impulso electromagnético, embora nestes casos este impulso seja muito mais intenso
e, por conseguinte, com efeitos muito mais dramáticos.
(4) Outras Formas de Utilização - Outras armas que, não sendo de projecção, não se enquadram nas
anteriores categorias de forma de utilização.
(a) Engenhos Explosivos – Engenhos que utilizam efeitos explosivos para causar danos ou
outros efeitos sobre os alvos respectivos.
1. Minas – Artefactos explosivos anti-pessoal, anti-carro ou anti-navio, dissimulados no
solo, associados a armadilhas ou disseminados em rotas marítimas, destinados a causar
baixas, destruir viaturas danificar embarcações e evitar, canalizar ou retardar o avanço de
forças inimigas. Geralmente são detonadas por acção involuntária do alvo, mas também o
podem ser por proximidade deste ou por controlo remoto.
- Mina anti-pessoal de controlo remoto M18 Claymore.
2. Bombas aéreas - Artefactos largados por aeronaves, contendo no seu interior cargas
explosivas, cargas especiais ou ainda bombas ou minas mais pequenas. Têm múltiplo
emprego, contra tropas, viaturas, infra-estruturas, interdição de áreas, etc. As bombas
aéreas modernas podem ser guiadas por sistemas laser ou GPS.
3. Cargas de profundidade - Artefactos explosivos de alta potência concebidos para destruir
ou danificar submarinos pela sua onda de choque, utilizando espoletas reguláveis de
profundidade aquática

1 2 3

Fig. I-1-13 – Engenhos Explosivos: Bomba aérea (1), M ina (2) e Carga de Profundidade (3)

4. Cargas de destruição e demolição - Engenhos explosivos por excelência, preparados,


colocados e activados por especialistas (sapadores), a fim de consumar destruições e
demolições deliberadas e específicas de infra-estruturas.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

5. Engenhos explosivos improvisados – Artefactos improvisados com explosivos, munições,


matérias-primas e meios de iniciação disponíveis, utilizados geralmente de forma
dissimulada em conflitos assimétricos, destinados a causar baixas e a diminuir o moral da
força inimiga, geralmente mais poderosa. Podem ser implantados no terreno, em vias de
comunicação, associados a armadilhas, em infra-estruturas, em veículos e mesmo em
pequenas aeronaves não tripuladas.
(b) Armadilhas - artefactos dissimulados não
explosivos 8 , utilizados para prender, capturar ou 1 2
causar danos a alvos humanos ou materiais.
- Redes; Valas; Estacas, Dispositivos de prisão,
choque, penetração ou queda de projécteis.
(c) Aerossóis – Agentes químicos vaporizados de um
contentor, gerando conjuntos de partículas suspensas
num gás com alta mobilidade, com efeitos Fig. I-1-14 – Armadilha (1) e Aerossol (2)
incapacitantes (ou mesmo letais) sobre alvos
humanos.
(d) Outras armas – todas as outras a considerar e que não se enquadrem nas categorias anteriores.
- Armas de efeito por electrochoque (ex: bastões eléctricos), armas nucleares, biológicas,
químicas, radiológicas, armas improvisadas ou adaptadas, etc.
f. Letalidade
(1) Armas de Letalidade Normal – As armas ofensivas normalmente consideradas, destinadas a
produzir baixas individuais ou múltiplas mas num raio de acção consideravelmente reduzido.
- Espingarda automática G3 7,62 mm; Carro de Combate M60A3TTS 105 mm.
(2) Armas de Letalidade Reduzida (ou Armas Não Letais) – Armas ofensivas concebidas de modo a
incapacitar pessoal ou material, com reduzida probidade de causar morte ou incapacidade grave.
- Aerossóis incapacitantes; Granadas lacrimogéneas; Espumas imobilizantes.
(3) Armas de Destruição Massiva 9 - Armas capazes de um elevado grau de letalidade, passíveis de
ser usadas para destruir as pessoas, infra-estruturas ou de outros recursos em grande escala.
(a) Nucleares – Armas que utilizam o extremo poder destrutivo da energia libertada por reacções
nucleares em cadeia. Consoante os fins, podem ser de tipos e potências diferentes, sendo as
mais usuais as atómicas (de fissão) e as termonucleares (de fusão). Uma moderna bomba
termonuclear com o peso de cerca de 1 tonelada, pode produzir uma explosão equivalente a
mais de um bilião (10¹²) de quilogramas de explosivo convencional (ex: TNT). Produzem
catastróficas destruições, por efeito de sopro, térmico, radioactivo e de impulso
electromagnético.
- Bomba Atómica; Bomba de Hidrogénio; Bomba de Neutrões.
1
2 3

Fig. I-1-15 – Arma de letalidade normal (1), letalidade reduzida (2) e destruição massiva (3)

8
Podem estar associados a outros engenhos explosivos, como por exemplo, minas ou granadas.
9
Alguns autores classificam-nas de “Armas Não Convencionais”. Esta opção é redutora, já que existem armas não
convencionadas de letalidade normal (ex: munições expansivas e de fragmentação) ou mesmo reduzida (ex: boxers).
I- 7
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(b) Radiológicas - Amas concebidas para espalhar material radioactivo com a intenção de causar
mortes em massa e causar o colapso de uma cidade ou nação. São conhecidas como “bombas
sujas”, porque não sendo armas nucleares, usam explosivos convencionais para espalhar
material radioactivo, mormente os desperdícios de combustíveis das centrais nucleares ou de
resíduos médicos radioactivos.
- Bombas “sujas”.
(c) Químicas – Armas contendo agentes químicos de elevada toxidade, empregues com a
finalidade de aniquilar, lesar gravemente, incapacitar pessoal ou danificar e contaminar
gravemente o meio ambiente (florestas, infra-estruturas, centros populacionais). Os vectores
de lançamento são geralmente outros engenhos de projecção balística (bombas, mísseis,
granadas, etc.). Podem ser temporários ou persistentes. São proibidas por convenções
internacionais devido à sua elevada letalidade e efeitos. Os principais agentes químicos
podem ter efeitos neurotóxicos, hematóxicos, vesicantes, asfixiantes e herbicidas
(desfolhantes).
- Gás mostarda (neurotóxico); Sarin (gás neurotóxico).
(d) Biológicas – Artefactos ou materiais que projectam, dispersam ou disseminam agentes
patogénicos, como sejam vírus, bactérias, toxinas e outros microrganismos, a fim de
provocar elevadas baixas em pessoas e animais bem como de danificar, contaminar e
interditar o meio ambiente e em especial as culturas agrícolas. De fabricação e preparação
relativamente barata, podem ter efeitos catastróficos por efeito de propagação rápida. De
utilidade quase nula em operações militares, constituem uma ameaça nas mãos de
organizações terroristas, sendo igualmente proibidas por convenções internacionais.
- Aerossóis de esporos de carbúnculo (anthrax).
g. Jurídico-Legal
Além dos critérios de classificação supra apresentados, urge considerar ainda a classificação jurídica,
que é aquela que os Estados adoptam através da promulgação de leis específicas. Em Portugal, essa
classificação encontra-se regulada pela Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro com as alterações
introduzidas pela Lei n.º 17/2009 de 6 de Maio (Regime Jurídico das Armas e suas Munições),
traduzindo-se em oito categorias legais distintas ( A, B, B1, C, D, E, F e G), de acordo com o grau de
perigosidade, o fim a que se destinam e a sua utilização:
(1) Armas da classe A:
(a) Equipamentos, meios militares e material de guerra;
(b) Armas de fogo automáticas;
(c) Armas químicas, biológicas, radioactivas ou susceptíveis de explosão nuclear;
(d) Armas brancas ou de fogo dissimuladas sob a forma de outro objecto;
(e) Facas de abertura automática, estiletes, facas de borboleta, facas de arremesso, estrelas de lançar
e boxers;
(f) Armas brancas não afectas a práticas venatórias, comerciais, agrícolas, industriais, florestais,
domésticas ou desportivas, ou que não sejam objecto de colecção histórica ou artística;
(g) Engenhos ou instrumentos construídos para serem utilizados como arma de agressão;
(h) Aerossóis de defesa não constantes da classe E e armas lançadoras de gases que estejam
dissimuladas de forma a ocultarem a sua configuração;
(i) Bastões eléctricos ou extensíveis;
(j) Outras armas que emitam descargas eléctricas não constantes da classe E;
I- 8
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(l) Armas de fogo transformadas ou modificadas;


(m) Armas de fogo fabricadas sem autorização;
(n) Réplicas de armas de fogo, armas de alarme ou salva passíveis de conversão em armas de fogo;
(o) Espingardas e carabinas facilmente desmontáveis em componentes de reduzida dimensão com
vista à sua dissimulação;
(p) Espingardas cujo comprimento de cano seja inferior a 46 cm;
(t) Armas longas semiautomáticas com a configuração das armas automáticas, para uso militar ou
das forças de segurança.
(2) Armas da classe B:
Armas de fogo curtas de repetição ou semiautomáticas.
(3) Armas da classe B1:
(a) Pistolas semiautomáticas de calibre 6,35 mm Browning (.25 ACP ou .25 Auto);
(b) Revólveres de calibre.32 S & W Long e .32 H & R Magnum.
(4) Armas da classe C:
(a) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro, de cano de alma estriada;
(b) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro com dois ou mais canos, se
um deles for de alma estriada;
(c) Armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição, de cano de alma lisa, em que este não
exceda 60 cm;
(d) Armas de fogo curtas de tiro a tiro unicamente aptas a disparar munições de percussão central;
(e) Armas de fogo de calibre até 6 mm unicamente aptas a disparar munições de percussão anelar;
(f) Réplicas de armas de fogo, quando usadas para tiro desportivo;
(g) Armas de ar comprimido de aquisição condicionada.
(5) Armas da classe D:
(a) Armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição, de cano de alma lisa com um
comprimento superior a 60 cm;
(b) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro de cano de alma estriada
com um comprimento superior a 60 cm, unicamente aptas a disparar munições próprias do cano
de alma lisa;
(c) Armas de fogo longas de tiro a tiro de cano de alma lisa.
(6) Armas da classe E:
(a) Aerossóis de defesa com agentes de capsaicina ou oleoresina de capsicum (gás pimenta) em
concentrações não superiores a 5 %, e que não possam ser confundíveis com armas de outra
classe ou que não estejam dissimulados de forma a ocultarem a sua configuração;
(b) Armas eléctricas até 200 000 V, com mecanismo de segurança e que não possam ser
confundíveis com armas de outra classe ou que não estejam dissimuladas de forma a ocultarem a
sua configuração;
(c) Armas de fogo e munições unicamente aptas a disparar projécteis não metálicos ou a impulsionar
dispositivos, homologadas pela Direcção Nacional da PSP.
(7) Armas da classe F:
(a) Matracas, sabres e outras armas brancas destinadas às artes marciais ou a ornamentação;
(b) Réplicas de armas de fogo quando destinadas a ornamentação;
(c) Armas de fogo inutilizadas quando destinadas a ornamentação.
(8) Armas da classe G:
(a) Armas veterinárias;
(b) Armas de sinalização;

I- 9
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(c) Armas lança-cabos;


(d) Armas de ar comprimido desportivas e de aquisição livre;
(e) Reproduções de armas de fogo para práticas recreativas;
(f) Armas de starter 10 ;
(g) As armas de alarme ou salva que não estejam incluídas na alínea n) do n.º 2 do presente artigo;
(h) As munições para armas de alarme ou salva e para armas de starter.

10
Dispositivo com a configuração de arma de fogo, destinado unicamente a produzir u m efeito sonoro, para ser
utilizado em actividades desportivas e treinos de caça.
I - 10
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 2

BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ARMAMENTO

A evolução das armas é uma consequência imediata da evolução do homem. A história prova -o como
facto incontroverso. Um dos primeiros e mais importantes vestígios resultantes da actividade humana é,
sem sombra de dúvida, a produção de armas necessárias para caçar e para conferir protecção e
sobrevivência.

1. DO PALEOLÍTICO ATÉ À IDADE DO BRONZE (de 600.000 a.C. até 2.000 a.C.)
O homem surge na terra pela primeira vez no período quaternário que abrange o desenvolvimento das
alterações climáticas até ao fim das eras glaciais e o surgimento do estado climático actual. Nessa altura o
homem não tinha local de residência fixo e não usava qualquer espécie de vestuário, pouco se
distinguindo de outras espécies animais. No entanto, supõe-se que o Homo Habilis, considerado como o
verdadeiro ancestral do homem moderno, porque caminhava em posição erecta e possuía cérebro maior
que qualquer símio, fosse o primeiro a fabricar utensílios de pedra mal talhados (Fig. I-2-1) (1) com
arestas ligeiramente afiadas e que pesavam aproximadamente 2 quilos. Eram usados como arma de mão
ofensiva ou como instrumento de trabalho.
No final do Paleolítico Inferior, aparece o Homo 1 2 3 4
Neanderthalensis (350.000 a.C. a 30.000 a.C.), bem
como o primitivo Homo Sapiens (200.000 a.C.),
contemporâneos do mamute. O homem aprende a
fazer uso do fogo, garantindo protecção para o frio e Fig. I-2-1
possibilitando cozinhar alimentos. É nesta altura que se dá a transformação gradual para uma comunidade
de tipo mais avançada em que a estrutura dos padrões de vida começam a mudar. O homem passa a
habitar em cavernas e desenvolve indústrias de talha de pedra ou do calhau troncado. Esta indústria era
representada por unifaces (2) e bifaces (3) (4) trabalhadas em calhaus. Estes instrumentos eram utilizados
como armas de caça ou de combate.
No final do Paleolítico Inferior e no Mesolítico, o Homo Sapiens moderno vivia dos produtos da caça ou
pesca, utilizando o arpão dentado (5) talhado a
primor nos ossos de rena. Usa igualmente
1 2 3 5 6
pequenos utensílios de pedra (micrólitos) talhados
por compressão.
No Neolítico, o homem adopta novas técnicas que
consistem em variantes polidas da talha de
pequenos instrumentos de pedra (Fig. I-2-3).
Improvisa-se assim uma acha (1) ligando uma
7 4
pedra bruta à extremidade de um pau, por meio de
resinas ou tiras de pele, o punhal (2), uma ponta de
lança (3) ou de flecha (4).
Os pesados troncos de árvores inspiram também o
homem primitivo no fabrico da clava (6).
Por esta altura aparecem as primeiras armas Fig. I-2-2

I - 11
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

defensivas que não eram mais do que escudos feitos da pele dos animais e conchas de tartaruga, que
serviam de protecção contra as armas de mão.
O Neolítico ou período da Pedra Polida encerra com o início da utilização dos metais pelo homem. O
primeiro a ser empregue foi o cobre, estima-se que por volta de 9000 a.C. A elevada ductilidade e
maleabilidade deste metal, bem como a sua rápida oxidação, tornam-no menos próprio para ser empregue
em armas na sua forma pura. Ainda assim, foram
1 2 elaborados na China e na Europa machados de cobre
fundido (Fig. I-2-3) (1), usados como utensílios
contundentes. Com a adição de pequenas quantidades de
arsénico ao processo de fusão, conseguiu reduzir-se a
oxidação bem como aumentar a sua dureza, o que
Fig. I-2-3
permitiu fabricar algumas armas de corte e gume, como
por exemplo adagas ou pontas de lança (2).
1 2
2. IDADE DO BRONZE (de 2000 até 1000 a.C.)
Por esta altura introduz-se a metalurgia do bronze (ligas de cobre e estanho) que transmite
à arma uma maior dureza. Aparece então a ponta de lança (Fig. I-2-2) (7). Surge a espada
com lâmina e punho em cruz. Com o emergir do povo sumério, na actual Baixa
Mesopotâmia, aparecem os carros de guerra puxados por animais. As suas tropas
marchavam em fileiras de seis homens, armados com machados, lanças, dardos (Fig. I-2-4)
(1) e azagaias (2). Usavam capacete e capa de couro (armadura primitiva).
Em 1826 a.C., os hititas conduziram com grande mestria o carro ligeiro do cimo do qual
utilizavam o arco. Esta arma permitia bater as tropas inimigas às longas distâncias,
principalmente as que se apresentavam montadas. Fig. I-2-4

3. IDADE DO FERRO (1000 a.C. a 476 d.C.)


Neste período o armamento de ferro sobrepôs-se ao de bronze. Combatia-se espada contra
espada, escudo contra escudo, punhal contra punhal. Exemplos disto são as cimitarras (Fig.
I-2-5), posteriormente usadas pelos turcos. Às longas distâncias continuava-se a combater
com o arco e com uma nova arma, a funda (tira de couro com que se arremessavam pedras).
Neste período sobressaíram pelo seu poder os romanos. A par dos gregos, introduziram as
grevas (que se destinava a proteger os joelhos e as pernas) e a lorica, protecção do tronco
feita de couro sobre o qual assentavam lâminas metálicas. Os romanos tornaram-se
especialistas na táctica do cerco. Utilizavam torres móveis com aríetes na base e archeiros no
cimo. Deram um grande incremento à área das fortificações.
Fig. I-2-5
4. IDADE MÉDIA (476 a 1453)
No século IV, os romanos, os gregos e os chineses conheciam composições químicas que se
assemelhavam à pólvora de guerra, a mais célebre delas conhecida como o “fogo grego”.
No século V, o exército bizantino introduz a adaga.
No século VIII e IX foram aparecendo outras armas de mão tais como (Fig. 6), as maças (1) as achas (2) e
os açoites (3).

I - 12
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

1 2 3 4 5 6 7

Fig. I-2-6

Para fazer face ao desenvolvimento das armas de mão, apareceu no século IX a “cota de armas”. Era uma
túnica com pequenas tiras quadradas de couro, ligadas umas às outras por anéis metálicos, que o soldado
vestia para se proteger.
Com vista a associar o poder de choque à penetração com o objectivo de atravessar as armaduras surge no
século X a maça de armas eriçada (4 e 5), o escorpião (6) e o chicote de armas (7).
A “cota de armas” foi sendo aperfeiçoada dando origem no século XIII à cota de malha ou loriga em que
os anéis de ferro se sobrepunham em fileiras, à túnica que os suportava.
Por esta altura a Cavalaria, cujo cavaleiro e montada se encontravam
protegidos respectivamente, pelas armaduras e arnês, dominavam os campos
de batalha.
Só o aperfeiçoamento do arco (Fig. I-2-7), (que nas mãos dos archeiros
ingleses conseguiam uma precisão e alcance de 400 m) e o aparecimento no
Séc. XIV de armas de haste como (Fig. I-2-8) a alabarda (1), a partazana (2),
o roncão (3), o falcão (4), o esporão (5), o forcado (6) e, principalmente, o
pique (7), fizeram com que a Cavalaria deixasse de ter o poder que possuía
outrora.
A autoria do invento da pólvora de guerra é incerta. Numa epístola datada de Fig. I-2-7
1248, o monge inglês Roger Bacon, refere com
1 2 3 4 5 6 7
precisão a sua composição, recomendando o seu uso
militar e como explosivo. Outros historiadores
referem o monge alemão Bertoldo Schwarz, na cidade
de Friburgo, que terá sido contemporâneo de Bacon,
embora haja disso muitas dúvidas 11 . Outros ainda
atribuem aos chineses a invenção de uma composição
usado em engenhos pirotécnicos, trazida para o
ocidente por mercadores persas, onde os árabes terão
refinado a fórmula da sua composição.

Fig. I-2-8
11
Outros ainda referem o monge grego Marcus Graecus, que viveu no séc. IX, sendo eventual fonte de Bacon, o frade
hispânico Ferrarius e o bispo Albertus Magnus de Ratisbona, ambos do século XIII (Smith, W.H.B. e Smith, Joseph,
1948).
I - 13
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Também se desconhece com precisão onde e quando foram inventadas as primeiras armas de fogo.
Consoante as perspectivas dos historiadores, terão surgido em meados ou finais do século XIII, nas
regiões germânicas da actual Alemanha e Suíça ou ainda da Península Itálica. Outros referem que terão
sido os árabes a introduzi-las em batalhas travadas na mesma época na Península Ibérica. De concreto
sabe-se apenas foram utilizadas pela primeira vez, durante o cerco de 1334 da cidade -estado de
Meersburgo (hoje na província alemã de Bade-Vurtemberga), pelos defensores, sob partido do bispo
Nicolau I de Constança. Este facto dá força à alegação de que terá sido efectivamente Schwartz a
conceber a arma de fogo, dada a proximidade das cidades de Friburgo e Meerburgo. Também na Guerra
dos 100 Anos, foram pelos ingleses estreadas na batalha de Crécy em 1346, contra os franceses.
Consistiam em simples tubos de ferro, cujo peso variava entre 20 a 30 kg, manejados por 2 ou 3 homens.
Nesta batalha deu-se a derrota da mais famosa cavalaria da Europa, devido em grande parte à actuação
dos archeiros ingleses.
As primeiras armas de fogo, bombardas, colubrinas, serpentinas e escopetas eram de fabrico algo
imperfeito e rudimentar, mercê das incipientes técnicas de metalurgia da altura, bem como do
desconhecimento da ciência balística.
Fig.
A bombarda (Fig. I-2-9)8(1), usada para tiro curvo,
1
não era mais que uma tosca peça de chapa de aço
forjada em forma de tubo e reforçada com cintas de
metal que podia ou não ser montada sobre um reparo
rodado.
A colubrina (Fig. I-2-9) (2), para executar tiro mais 2
tenso, era de menor calibre e podia ser carregada
pela culatra por intermédio de uma cavilheta que se
ajustava à pressão por intermédio de uma cunha. No
entanto as dificuldades de ajustamento das diferentes Fig. I-2-9

peças levam esse equipamento ao fracasso. Mais tarde, os portugueses e as repúblicas italianas retomaram
esta concepção de retrocarga, muito vantajosa para remuniciar as bocas de fogo dos navios (pedreiros,
falconetes, etc.).
No final deste século o arco tinha-se tornado moroso
1 2 na preparação do tiro. Surge então a besta (Fig. I-2-
10) (1) e a arbaleta (2) que possibilitava o tiro
imediato, estando permanentemente armadas.
Posteriormente apareceu o arcabuz (3) com um
3 hastil maior,
formando
uma espécie
de cano.
Ainda em
Fig. I-2-10
finais do
séc. XIV, apareceram as primeiras armas de fogo portáteis,
conhecidas por canhões de mão ou pequenas bombardas (Fig.
Fig. I-2-12
I-2-11).

I - 14
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Às bombardas que se apoiavam numa forquilha fixada no arção da


sela e que se encostavam ao peito para disparar, foi dado o nome
de petrinal (Fig. I-2-12).
Inicialmente, a deflagração da pólvora fazia-se, comunicando o
fogo à pólvora que saía por um orifício chamado ouvido existente
na extremidade posterior da geratriz superior do cano, por meio de
um ferro incandescente chamado bota-fogo ou de uma mecha que
tinha o nome de vela.
Posteriormente, e para garantir a inflamação da pólvora criou-se à
volta do ouvido uma concha chamada caçoleta, onde se deitava
uma pequena porção de pólvora chamada escorva, que inflamava, Fig. I-2-11

comunicando o fogo à carga interior, através do ouvido.


No final do séc. XIV fez o seu aparecimento o arcabuz
(Fig. I-2-13), nome que lhe foi dado devido à semelhança
com o arcabuz –
arma de projecção de
tiro – de que já
falámos, e como este,
provido de coronha,
que apresentava a
novidade do ouvido e
Fig. I-2-13
da caçoleta estarem
colocados à direita do cano para não prejudicarem a pontaria.
Posteriormente, adaptou-se uma tampa à caçoleta para evitar que a
escorva se molhasse com a chuva e a vela foi substituída pelo
morrão que não era mais do que uma corda de estopa que ardia
sem chama e era transportada enrolada ao braço direito do
arcabuzeiro.
O grande desenvolvimento das armas de mão, fez aumentar ainda
mais a protecção da cavalaria.
Assim, no início do século XV, a cota de malha dá lugar à
armadura metálica (Fig. I-2-14) em que os anéis de cota foram
substituídos por escamas de metal sobrepostas. O cavaleiro pesava
agora, desde o elmo até aos sapatos de ferro cerca de 150 kg.
Fig. I-2-14
Ainda no início do século XV inventou-se o porta-mecha que
permitia ao atirador, disparar sem tirar a mão direita da arma.
O porta-mecha, a que foi dado o nome fecho de
2
serpentina (início do século XVI) (Fig. I-2-15),
constava de uma peça chamada serpe (1), que
3
transportava o morrão, mantida por meio duma
mola sempre afastada da caçoleta (3). Quando se
exercia pressão no gatilho (2), baixava
1
rapidamente e ia inflamar a escorva alojada
Fig. I-2-15
naquela. Com o invento da serpentina, foi

I - 15
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

possível o petrinal passar a dispor de uma coronha


curva, isto é, foi possível passar a empunhá-lo, tomando
1
o nome de pistola (Fig. I-2-16) (1).
A presença do arcabuz reorganiza o emprego dos
exércitos em combate adaptando quatro tipos básicos de
soldados apeados: o alabardeiro, equipado com
alabarda; o piqueiro, equipado com pique; o Fig. I-2-16 2

arcabuzeiro, equipado com arcabuz; o lansquenete – Equipado com espadão (espada de duas mãos).
Caminhava-se a passos largos para a Idade Moderna. A tomada de Constantinopla pelos turcos (1453)
marca, de facto, o fim da Idade Média e o fim da capacidade inventiva das armas de mão.

5. IDADE MODERNA (1453 a 1789)


Em 1498 Gaspar Zöllner inventa as primeiras estrias que eram rectilíneas e paralelas ao eixo do cano.
Esta invenção, porém não se chega a generalizar devido à falta de justeza do projéctil, que se deformava
devido às pancadas recebidas para entrar nas estrias.
No início do século XVI, os espanhóis, seguidos depois por outras nações, adoptam o mosquete (Fig. I-2-
16) (2), uma arma maior, mais pesada e mais potente que o arcabuz, disparando um projéctil maior e mais
eficaz contras as igualmente mais pesadas couraças das tropas inimigas.
Nas armas de fogo primitivas, o projéctil tinha um diâmetro muito inferior ao do cano para ser possível a
execução do tiro com a arma incrustada de resíduos de pólvora. Esta diferença de diâmetro tinha o nome
de vento e era fixada pela condição de se poderem fazer 30 tiros sem ser preciso limpar a arma.
Em 1517, Kiefuss, relojoeiro de Nuremberga, para obviar os inconvenientes dos fechos de serpentina,
inventa os fechos de roda12 (Fig. I-2-17), nos quais substituía o morrão por um pedaço de pirite de ferro
(1) colocado entre as maxilas da serpe, que tomou o nome de cão (2). No fundo da caçoleta (3) apareciam
os dentes de uma roda (4). Com uma chave (5)
que se colocava no eixo (6) da roda, preparava
esta, fazendo-a girar menos de uma volta.
Escorvada a caçoleta, baixava-se o cão à mão
até a pirite tocar os dentes da roda. Quando se
premia o gatilho, a roda soltava-se, girando
contra a pirite produzindo faíscas que
inflamavam a escorva. Este invento dava
possibilidades ao atirador de efectuar um
Fig. I-2-17
disparo, em qualquer momento, sem
necessidade de manter uma mecha acesa.
Em 1520, Augustin Kotter, um armeiro de Nuremberga, constrói uma arma com estrias helicoidais que
ao imprimir ao projéctil um movimento de rotação em torno do seu eixo, proporcionava um maior
alcance, penetração e justeza, pela menor resistência sofrida pelo ar ao longo da sua trajectória. Todavia,
o carregamento desta arma é problemático e a mesma só se desenvolverá para competições de tiro local.
Em meados do século XVI, a cavalaria começa a aparecer equipada com armas de fogo mais curtas que
os mosquetes, as clavinas ou carabinas, para poderem ser disparadas e carregadas pelas tropas a cavalo.
As armas continuavam a ser carregadas pela boca sendo chamadas de antecarga.

12
Os historiadores dividem-se quando à autoria deste invento. Para alguns, terá sido inventado por Leonardo da Vinci,
ca 1509. Para outros ainda, terá sido Löffelholz, ca 1505,
I - 16
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Como era necessário que os projécteis entrassem nas estrias e sendo de calibre inferior ao do cano,
tornava-se por isso necessário, bater-lhes repetidas vezes com a vareta, para que entrassem nas estrias.
Para evitar a sua deformação protegiam-se com sarja, couro ou qualquer pano ensebado. A este projéctil
deu-se o nome de calepim.
No início do século XVII apareceram os fechos de sílex ou pederneira. Embora não fossem mais
eficazes que os fechos de mola, estes eram de fabricação mais complexa e onerosa, além de demorar
muito tempo a armar a mola da roda, pelo que aqueles se tornaram mais difundidos.
Compunha-se o fecho de sílex de duas peças principais (Fig. I-2-18): o cão (1) e o fuzil (2), peça
inteiramente nova que deu o nome às armas que adoptaram este sistema.
O cão retinha entre os dentes (3) e (4) a
pederneira (5) envolvida num pedaço de
chumbo ou couro para melhor poder ser
apertada pelo parafuso (6). Pressionando o
gatilho (7), o armador (8) libertava-se do
entalhe da noz (9) que por acção da mola
(10) rodava e com ele rodava o cão. Este
feria o fuzil (2) dando-se a faísca ao mesmo
tempo que a caçoleta (11) era aberta pelo
levantamento do fuzil.
Em finais do século XVII aparece a
baioneta, supõe-se que usada pelos Fig. I-2-18
contrabandistas gascões, para carregar os
espanhóis, perto de Bayonne, atando as navalhas nas bocas dos seus mosquetes.
Posteriormente evoluiu-se para a baioneta primitiva (Fig. I-2-19) que não era mais
1 2 3
que uma espada-baioneta (1) com um cabo de madeira que era introduzido no cano
da arma impedindo-a de fazer fogo.
Para contornar este inconveniente, em 1703, Vauban um engenheiro francês
inventou a baioneta de alvado (2) que dispunha de uma manga para adaptação ao
cano, invenção essa que provocou o desaparecimento dos piqueiros em todos os
Exércitos.
Esta baioneta de menores dimensões permitia que a arma pudesse fazer fogo
enquanto se utilizava a baioneta.
Do sabre-baioneta resultou o punhal-baioneta (3) por diminuição do seu peso e
Fig. I-2-19 comprimento.
Nas armas actuais, a ligação faz-se por
meio do grampo existente na parte
3
posterior do cano e por um fecho
existente no sabre-baioneta.
No início do século XIX aparecem as
pólvoras fulminantes e o fecho de
percussão (Fig. I-2-20). O cão foi
substituído por uma só peça que
5
funcionava como martelo (1), sendo o
Fig. I-2-20
fuzil, a mola e a caçoleta substituídos

I - 17
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

por uma peça chamada chaminé (2), furada interiormente, a qual enroscava noutra peça chamada
borracha (5), igualmente furada interiormente, a qual, por sua vez, se enroscava no ouvido da espingarda.
A cápsula fulminante (2) colocava-se na parte superior da chaminé e era detonado ao receber a pancada
do cão, após acção do gatilho (4) sobre o armador, indo a sua chama, através da chaminé e da borracha,
inflamar a carga.
Embora a maioria das armas de percussão fosse de antecarga, já nessa altura havia armas de retrocarga
com fecho de percussão.

6. IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até à actualidade )


Estava-se em plena Guerra Napoleónica (1796-1815) e o fecho de sílex ainda se encontrava
bastante generalizado. Por esta altura também começou a generalizar-se o uso de canos
estriados. Mas só em 1826, ficou minimamente resolvido o problema de travar o projéctil
nas estrias, ou seja, fazer com que o projéctil entrasse nas estrias, reduzindo o vento e
adquirindo o movimento de rotação.
Foi Delvigne, que apresentou uma solução em 1826, aumentando a rapidez de
carregamento, pela adopção do sistema de travamento por compressão (Fig. I-2-21). O
cano terminava numa câmara de calibre inferior ao da alma. Depois de lançada a pólvora Fig. I-2-21
na câmara, introduzia-se a bala que era travada por sucessivas pancadas com a vareta, de que resultava
um aumento da sua secção transversal e deformação da curvatura da sua superfície superior.
A deformação assim sofrida pelo projéctil tinha como consequência o aumento da resistência do ar e o
deslocamento do seu centro de gravidade, ao mesmo tempo que se prejudicava a sua velocidade com o
calcamento da carga, que era reduzida a polverim.
Em 1831, o Capitão Berner de Brunswick, aperfeiçoou uma carabina
1 2
com alma sulcada por duas estrias em forma de espiral, quase ovais (Fig.
I-2-22) (1), em que se introduzia um projéctil esférico, dotado de uma
cintura e um alongamento na parte de maior diâmetro (2). O projéctil era
introduzido com apoio de um pano oleado não sendo necessário o
Fig. I-2-22 atacamento. O projéctil teve aplicação em algumas armas inglesas,
alemãs e russas.
Em 1836, o coronel francês Pontcharra, aperfeiçoou o sistema de Delvigne,
fixando o projéctil esférico a um taco de madeira (Fig. I-2-23), com cerca de 11
mm de espessura, com a parte anterior semi-esférica e a
posterior lisa (para apoio no escalão). Este processo
permitia a dilatação do projéctil, mas a pólvora na câmara
não era comprimida. O resultado era um tiro mais preciso
porque era mais difícil que o projéctil se dilatasse Fig. I-2-23
irregularmente durante o carregamento.
Delvigne em 1841 propõe a adopção do projéctil cilíndrico-ogival, conhecido pelo
Fig. I-2-24 nome de projéctil primitivo (Fig. I-2-24) que dispunha de uma canelura onde se
introduzia um fio ensebado para lubrificar o cano.
O capitão do exército francês, Tamisier, demonstrou em 1842 a importância da canelura do projéctil de
Delvigne, mostrando que essa gola, colocada na parte posterior do projéctil, servia para o projéctil manter
o seu eixo longitudinal segundo a linha de trajectória. Verificava-se que qualquer afastamento do eixo

I - 18
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

segundo a direcção tangente à trajectória, era compensando pela resistência do ar sobre a canelura,
obrigando-o a voltar à posição primitiva.
Em 1842 surgiu o travamento ―Thouvenin‖ (Fig. I-2-25), em que a câmara da arma tinha um diâmetro
igual ao do cano, mas dispunha a meio duma haste aparafusada ao fundo da
culatra, em torno da qual se colocava a carga. O travamento continuava a executar-
se por pancada da vareta.
A aplicação do projéctil primitivo levou Thouvenin a utilizar uma vareta especial
cuja a cabeça tinha uma cavidade igual à ogiva do projéctil, alargando o projéctil
sem lhe roubar a forma original. O travamento feito pela vareta, as incrustações
entre a haste e o cano, a dificuldade e morosidade na limpeza, os acessórios
especiais que carecia e a deterioração da haste, tudo isto não obstou que grande
parte das nações Europeias adoptassem esse sistema.
Em 1849, para evitar os inconvenientes da
deformação do projéctil, o capitão francês Claude
Fig. I-2-25
Minié propõe a adopção de um projéctil de calibre
inferior ao da arma e que na parte inferior tinha uma cavidade tronco-
cónica na qual se alojava um taco de ferro (Fig. I-2-26).
Em 1854, por se ter mostrado de difícil fabrico foi suprimido o taco ficando
apenas a cavidade, onde os gases resultantes da explosão exerciam acção,
Fig. I-2-26
comprimindo as paredes do projéctil contra o cano.
As armas que utilizavam este projéctil ficaram conhecidas pelo nome de carabinas Minié e este sistema
de travamento pelo nome de travamento por expansão.
Em 1851, o britânico Wilkinson, obteve o travamento só pela inércia, em que
o projéctil se opõe à acção dos gases. O projéctil (Fig. I-2-27) (1) tinha duas
profundas caneluras circulares, de secção tal que, sob a pressão dos gases, a
parte posterior do projéctil avança, comprimindo a parte anterior, que em
virtude da inércia, se mantém imóvel o suficiente para se produzir a dilatação
do projéctil que entrava assim nas estrias. Em 1855, o capitão austríaco Lorenz (Fig. I-2-27)
associa-se a Wilkinson, para patentear uma espingarda que utilizará a munição deste, mas algo
modificada (2). A espingarda irá equipar o exército da Áustria.
Entretanto, Johann Nikolaus
1 2 3 4 5
von Dreyse patenteia uma arma,
cujo carregamento era feito pela
culatra e empregava um cartucho
completo (Fig. I-2-28), ou seja,
continha carga (2), bala (4) e
escorva (3) num invólucro de
papel (5). Essa arma é adoptada
Fig. I-2-28
em 1841 pelo exército prussiano,
com o nome de espingarda de agulha Dreyse, por causa do seu percutor com forma de agulha (1). Apesar
do seu excessivo peso, deficiente equilíbrio e constante fractura do percutor que destemperava
rapidamente ao ser sujeito a sucessivas explosões da carga propulsora, a Dreyse irá tornar obsoletas as
espingardas e carabinas de antecarga, conforme se constataria nas guerras austro-prussiana (1860-1864) e
franco-prussiana (1870-1871).

I - 19
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Em 1860 generalizaram-se as armas de retrocarga ou carregamento pela culatra, usando-se o cartucho


com invólucro combustível o que permitia que o atirador conseguisse disparar deitado.
Esta generalização permitiu a evolução para o travamento do projéctil nas estrias por via
do forçamento por ductilidade , obtido através do emprego de um projéctil de diâmetro
superior ao da alma do cano, feito de metal mais dúctil e maleável (Fig. I-2-29) que o
deste. Este tipo de travamento ainda é o que hoje se emprega.
Todavia, esta generalização das armas de retrocarga veio trazer um problema, que era o de
evitar a fuga de gases para a retaguarda. Foram utilizados quatro processos para se
conseguir a obturação:
a. Por Justaposição
É o mais antigo. Consiste na justaposição de duas superfícies, uma existente na entrada Fig. I-2-29
da câmara, outra na culatra, cujo
ajustamento provocava a obturação. Essas
superfícies eram em geral tronco-cónicas,
como no caso da espingarda Dreyse de
1841 (Fig. I-2-30) para que os gases, ao
dar-se a explosão, as obrigassem a apertar
uma de encontro à outra. Era um sistema
imperfeito por nunca ser possível um
contacto íntimo entre as superfícies. Fig. I-2-30

b. Por Dilatação-Compressão
Consistia no emprego de uma peça - obturador, ligado à cabeça da culatra que quando esta se fecha,
fica comprimida entre ela e a câmara. Ao dar-se o tiro, a pressão dos gases aumenta a compressão
dessa peça que dilatando-se, produz a obturação.
Na arma Chassepot M/886 (Fig. I-2-31) os
gases (1) actuam directamente sobre um 3 4 2 1

cilindro metálico (2) ligado à cabeça da


culatra que vai comprimir um anel de cauchu
(3) que o envolve contra a superfície interna
Fig. I-2-31
da câmara (4), dilatando-o e por isso
provocando a obturação.
c. Por Dilatação-Expansão
Começou a ser empregue na década de 1860, quando se generalizaram as armas de retrocarga com
cartuchos totalmente metálicos.
Consiste no emprego do cartucho que ao dar-se o tiro, se expande em todos os sentidos e se ajusta à
superfície da câmara, retomando depois a sua forma primitiva devido a elasticidade do metal.
Empregam-se invólucros de latão (liga de cobre e zinco) flexíveis para permitir a referida expansão
sob pressão, mas suficientemente robustos para permanecer intactos perante as pressões máximas
desenvolvidas.
É o processo mais perfeito por permitir uma obturação completa e o que é hoje universalmente
adoptado.
d. Por Sistema-Misto (justaposição e dilatação-compressão).
É uma combinação dos dois sistemas anteriores. Foi utilizado em poucas armas, mais propriamente
nas armas de obturação por justaposição, entretanto transformadas, como foi o caso da espingarda

I - 20
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

transformada Dreyse mod. 1870, como forma de tentar resolver as deficiências de obturação das
mesmas.
Com a adopção das armas de retrocarga e do cartucho completo, o carregamento foi simplificado
resumindo-se a três tempos:
- Abrir culatra;
- Introduzir o cartucho na câmara;
- Fechar culatra.
Entretanto, nos Estados Unidos da América em 1860, são registadas as patentes das duas primeiras armas
de repetição a ser fabricadas com grande êxito: a carabina Spencer, com um depósito tubular amovível
introduzido na coronha, e a carabina Henry (mais tarde Winchester), com um depósito tubular no fuste.
A sangrenta guerra civil que se seguiu, permitiu que estas duas armas equipassem grandes unidades do
Exército Unionista, evidenciando a sua grande superioridade face às armas de tiro simples e em especial
as de antecarga. Os militares do Exército Confederado referiam-se a elas como “as armas de se carregam
ao domingo e se disparam durante toda a semana ”.
Em 1862, Richard Gatling patenteia uma arma de 6 canos rotativos
por acção de uma manivela, cujas câmaras são sucessivamente
alimentadas a partir de carregadores verticais, por acção da gravidade.
Com uma incrível cadência de 200 tiros por minuto, esta arma
materializaria um passo importante na evolução das metralhadoras,
apesar de não ser ainda uma arma automática.
Em 1866, o coronel Hiram Berdan nos Estados Unidos patenteia um
cartucho totalmente metálico de percussão central. Paralelamente, o
coronel Edward Boxer na Grã-Bertanha patenteia, no mesmo ano, um
cartucho análogo (Fig. I-2-32). Estes cartuchos resolvem os anteriores
problemas havidos com os sistemas de obturação e de percussão,
Fig. I-2-32
conferindo um grande impulso ao desenvolvimento das armas de fogo.
Em 1870 generalizou-se o uso do cartucho completo metálico, das armas de retrocarga e das armas de
repetição. É a época dos grandes calibres:
- Espingarda Dreyse (transformada) 15,43 mm (Prussiana)

- Espingarda Gras Mod. 1874 11 mm (Francesa)


- Espingarda Carcano (transformada) 17,5 mm (Italiana)
- Espingarda Springfield Mod. 1873 11,6 mm (Americana)

- Carabina Winchester 1873 10,8 mm (Americana)


- Espingarda Mauser Mod. 71 11 mm (Prussiana)
- Espingarda Martini-Henry 11,6 mm (Britânica)
Em 1884 o francês Paul Vieille inventa uma pólvora sem fumo, a pólvora B. Este invento
é logo aplicado à nova arma francesa, a espingarda Lebel 8 mm M1886, evitando
denunciar a posição do atirador e melhorando a pontaria nos disparos sucessivos. Em 1887
em Paris, Alfred Nobel inventa a balistite, Em 1889 na Grã-Bretanha, Frederick Abel e
James Dewar patenteiam a cordite (Fig. I-2-33). Entrava-se na era das pólvoras sem
fumo, que tornaram a pólvora negra rapidamente obsoleta. Em Portugal, o capitão
Correia Barreto inventa igualmente uma pólvora sem fumo, patenteada com o seu nome, (Fig. I-2-33)

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

de elevada qualidade, permitindo acabar com a dependência da pólvora de Nobel, bem mais onerosa para
o país.
Entretanto, em 1883 Hiram Maxim desenvolve a sua metralhadora
Maxim (Fig. I-2-34) de calibre 7,7 mm e uma cadência de 600 tiros por
minuto, que é a primeira arma a
resolver o problema balístico do
automatismo, utilizando um
sistema de alavancas articuladas
para travar e destravar a culatra.
Em 1884 Maxim desenvolve
Fig. I-2-34
igualmente uma espingarda
Fig. I-2-35
semi-automática, a partir de uma Winchester alterada (Fig. I-2-
35), embora a mesma não chegue a ser produzida.
Em 1893, Hugo Borchardt, na Alemanha, patenteou a
C-93 (Fig. I-2-36), a primeira pistola semi-automática
de produção industrial, baseada no sistema de
alavancas articuladas da metralhadora Maxim.
Nesta mesma década de 1890, são introduzidas,
consecutivamente, três inovações que irão conduzir às
Fig. I-2-36
modernas e ainda
actuais munições das armas de fogo estriadas: os projécteis
ogiva encamisados, mais resistentes ao atrito no cano, os projécteis
anterior pontiagudos, com maior poder vulnerante, e os projécteis bi-ogivais
(Fig. I-2-37) com trajectórias mais justas, estes também conhecidos por
camisa projécteis de “cauda de barco”. As evidentes melhorias balísticas em
termos de alcance, justeza e poder vulnerante, fazem aumentar
núcleo drasticamente a letalidade das armas de fogo ligeiras.
“cauda de A partir de 1900 começa o grande desenvolvimento das armas
barco” automáticas e semi-automáticas que se estendeu até aos nossos dias e que
Fig. I-2-37
em capítulo próprio estudaremos.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DAS ARMAS DE MÃO

Sendo as armas de mão destinadas à luta a pequenas distâncias, ao corpo a corpo, aproveitam a própria força
do combatente para a produção do efeito desejado.
A sua eficácia obedece às seguintes condições: potência de choque e penetração, facilidade de manejo,
resistência e raio de acção.

1. GRANDE POTÊNCIA DE CHOQUE OU DE PENETRAÇÃO


Depende do produto e será tanto maior quanto mais pesada for a
arma (m) e maior for a velocidade (v) de que vai animada no momento do
choque.
Contudo, sendo a arma manejada pelo homem cuja força muscular é
limitada, fácil é constatar que os valores de m e v terão que ser igualmente
limitados.
A energia de choque terá o seu valor máximo quando o centro de gravidade
da arma passar pela direcção de resistência que o meio chocado opõe.
Existe então a necessidade de afastar o punho do centro de gravidade da
Fig.
arma, o que contraria a facilidade de manejo. I-3-1
Só nas armas que actuam rodando em torno de uma das extremidades, como
as de choque e algumas de corte, pode ser aumentado o comprimento por forma a aumentar o raio de
rotação (Fig. I-3-1).

2. FACILIDADE DE MANEJO
A arma deve ter forma e peso adequado ao seu emprego, com o centro de gravidade próximo do punho,
sem contrariar, no entanto, o poder de choque ou de penetração.

3. GRANDE RESISTÊNCIA
A resistência da arma depende, além da sua forma e dimensões, também do grau de dureza, tenacidade e
elasticidade do material de que é feita.
Determinadas formas bem como dimensões maiores concorrem para o aumento da resistência, reduzindo,
todavia, a manejabilidade desejada para a arma.
O material não deve ser excessivamente duro porque a dureza excessiva é causa de fragilidade. Também
não deve ser demasiado tenaz porque uma grande tenacidade facilita deformações permanentes.
Convém, igualmente, que a arma tenha uma grande elasticidade porque só assim a arma terá uma maior
resistência, para além de uma superior capacidade de manejo.

4. MÁXIMO RAIO DE ACÇÃO


O raio de acção deve ser o maior possível sem contrariar a facilidade de manejo.
Não sendo possível obter uma arma que satisfaça plenamente todas estas condições que se contrariam
entre si, a construção de qualquer arma obriga a um estudo cuidadoso e metódico, atento ao fim a que
aquela se destina.

I - 23
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Vejamos como se conciliam estas condições, de forma a obter delas o máximo efeito.
a. Armas contundentes ou de choque
O efeito da destruição obtém-se pela potência do choque .
Assim os valores da massa (m) e velocidade (v) são obtidos dando à arma o
máximo peso e comprimento (que aumenta o seu raio de rotação e
consequentemente a velocidade), desde que compatíveis com a facilidade de
manejo.
Por sua vez, adelgaçando o extremo em que se segura e engrossando o outro,
obtém-se maior energia de choque pela aproximação do centro de gravidade da
arma com o ponto chocado (Fig. I-3-2). Fig. I-3-2

b. Armas de corte ou de gume


Cota da Lâmina
Como se disse, estas armas actuam pela
cutilada e o efeito que se pretende obter é o de
R
penetração e não o de esmagamento. F1  P F2
Para uma mesma força, a penetração será
tanto maior quanto menor for o ângulo de  Folha
Ângulo Cunha
cunha (Fig. I-3-3). No entanto, compreende-se
facilmente que a diminuição desse ângulo não
pode ir além de um certo limite, variável com Gume da Lâmina

a resistência da arma, sem perigo desta ser F P Corte


facilmente destruída.
O efeito da penetração depende ainda da
R Rasgamento
Fig. I-3-3
direcção em que se dá o golpe, sendo
preferível que a lâmina em vez de actuar perpendicularmente
Direcção – aprox. 45º às fibras do corpo, que neste caso aumentam a resistência à
penetração por se apoiarem umas nas
Direcção – aprox. 15º
outras, actue obliquamente, pois
desta maneira as mesmas fibras são
atacadas sucessivamente umas após
outras. Além disso o ângulo de cunha
Fig. I-3-4 é, deste modo, diminuído e será tanto
mais agudo quanto mais oblíquo for o golpe (Fig. I-3-4).
De igual forma e para que uma arma com lâmina recta produza o máximo de
penetração no corte, é necessário incliná-la em relação ao antebraço, de modo
que encontre obliquamente o objecto a cortar. Sendo dif ícil essa operação dá-
se uma curvatura à lâmina facilitando a acção de corte, como se verifica no
caso de armas como o sabre ou a cimitarra (Fig. I-3-5).
c. Armas de estocada e de ponta
Como se disse, estas armas actuam somente pela ponta, o que permite
aumentar o efeito de penetração. Fig. I-3-5
A arma deve ser recta e a bissectriz do ângulo de ponta deve coincidir com o eixo do punho a fim de
que toda a força exercida pelo combatente, seja utilizada.
As pontas mais usuais são (Fig. I-3-6):

I - 24
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(1) Ponta de florete ou de estoque [1], sendo a mais própria para a


1
penetração, é contudo a mais fraca.
(2) Ponta de bisel ou de pico [2], co m o inconveniente de apresentar
2
uma mudança brusca à penetração, mas sendo bem resistente.
(3) Ponta de língua de carpa [3], de todas a melhor porque, sendo a 3
mais sólida, dá uma penetração suficiente
Fig. I-3-6
d. Armas de Gume e Ponta
Caracterizam-se, como se disse, pela combinação das propriedades das armas da
corte com as de estocada e fundamentalmente, pela possibilidade de colocação do
dedo indicador para alem da guarda.
As armas mais tradicionais e antigas, de guarda recta, quando empunhadas
possibilitam uma variação de 90º (Fig. I-3-7) a 130º (Fig. I-3-8) em relação ao
antebraço, o que permite que 90% da
Fig. I-3-7 força se exerça na cutilada e apenas
10% na estocada. As espadas do início da Renascença são
caracterizadas pela existência de guardas em forma de
“pergaminho” a que chamamos copo, permitindo que o
polegar e parte da mão actuem ao longo do punho, para
alem do eixo de actuação da anterior guarda recta. O dedo
indicador é colocado numa anel á frente da guarda, Fig. I-3-8

permitindo uma amplitude maior, até cerca de 160º (Fig. I-3-9). Nestas condições a força empregue
pode então dividir-se igualmente entre a cutilada e a estocada.
Nestas armas, a espessura da lâmina deve
diminuir do punho para a ponta, o que
facilita a esgrima pelo facto do centro de
gravidade da arma se aproximar do punho,
Fig. I-3-9 mas não tanto que a potência de choque da
cutilada fique muito reduzida.

I - 25
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 4

CONDIÇÕES A QUE DEVEM OBEDECER AS ARMAS DE FOGO

Antes de entrarmos neste estudo vamos apresentar algumas definições indispensáveis para melhor se
compreender o desenvolvimento da matéria.
Alcance Útil: É o alcance permitido pelas possibilidades técnicas da arma, em geral traduzido pelo
máximo alcance do aparelho de pontaria. Ex: Esp Aut FAMAS 5,56 mm – 300 m.
Alcance Eficaz: Alcance para além do qual os projécteis já não traduzem efeitos especiais, o que
corresponde a dizer que é aquele para além do qual os projécteis já não fazem ricochete. Ex: Esp Aut
G3 7,62 mm M/63 – 1700 m.
Alcance Máximo: É a máxima distância que o projéctil pode alcançar. Ex: Met Lig MG3 7,62 mm –
4500 m.
Alcance Normal ou Prático: É a distância a que normalmente se faz fogo e que é determinada
exclusivamente por razões de ordem táctica. Ex: Esp Aut G3 7,62 mm M/63 – 200 m.
Trajectória: É a linha curva que o centro de gravidade do projéctil descreve no espaço,
considerando-se mais ou menos tensa, conforme se aproxima mais ou menos da linha recta.
Tensão: É a máxima ordenada da trajectória.
Quanto menor a ordenada maior a tensão da
trajectória.
Zona Perigosa: Extensão de terreno (OB+CD) na
qual um alvo vertical CE, de altura h, é sempre
batido pela mesma trajectória (Fig. I-4-1). A Fig. I-4-1
trajectória é tanto mais tensa quanto maior a velocidade inicial do projéctil.
Poder Vulnerante : Energia mínima que um projéctil deve possuir para colocar um homem fora de
combate. Nas espingardas automáticas actuais é de 8 kg/cm², quando o projéctil chega ao alvo com
uma velocidade restante de 50m/s.
Poder Derrubante : Energia mínima que um projéctil deve possuir para eliminar imediatamente um
homem. Nas armas de defesa actuais a energia é de 30 kg/cm². Com estas armas de defesa pretende-se
não uma grande força de penetração, mas sim, a produção de lesões que eliminem imediatamente um
homem.
A organização de uma arma de fogo depende de muitos e variados factores que por vezes se contrariam mas
que entre os quais tem que existir uma perfeita ligação.
Assim toda arma deve ser:

1. EFICAZ
Diz-se eficaz quando o seu projéctil atinge o adversário e o põe fora de combate, o mais rapidamente
possível, à maior distância possível e com o menor número de munições.
Uma arma, para ser eficaz, deve satisfazer às chamadas CONDIÇÕES DE TIRO. Estas condições
podem ser de carácter balístico ou mecânico.
a. Condições de tiro de carácter balístico
Depende dos elementos que constituem a munição e da organização balística da arma (cano, aparelho
de pontaria e sistemas de apoio).
(1) Potência
I - 26
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Exprime-se pela força viva que imprime ao projéctil, isto é, ao produto em que:
m - massa do projéctil
v0 - velocidade inicial à boca do cano
A velocidade inicial tem grande importância pois é dela que depende o alcance, a tensão da
trajectória e a potência do projéctil, traduzida no poder derrubante e poder vulnerante.
A potência depende também da velocidade restante , que é a velocidade do projéctil às
diferentes distâncias.
Embora o alcance não se revista de uma grande importância uma vez que a pontaria é directa, o
mesmo não sucede nas armas colectivas, que podem fazer tiro a grande distância e que fazem
pontaria indirectamente.
(2) Justeza
A justeza de uma arma de fogo depende de duas características concorrentes, a precisão e a
regulação.
(a) Precisão
Uma arma é precisa quando a amplitude de dispersão dos impactos é
pequena, isto é, quando o grupamento de tiro para a mesma posição da
arma é muito denso (Fig. I-4-2).
A precisão de uma arma depende das suas características, principalmente :
1. Traçado interior da câmara e do cano; Fig. I-4-2
2. Estrias;
3. Forma e qualidade do projéctil;
4. Rigor e qualidade do aparelho de pontaria;
5. Alinhamento do aparelho de pontaria.
As armas actuais, devido à excelência da qualidade dos seus constituintes,
atingem uma precisão considerada de tal modo satisfatória, que não há Fig. I-4-3
vantagens em melhorá-la.
(b) Regulação
Uma arma é regulada quando o ponto médio do agrupamento dos impactos
coincide com o centro do alvo (Fig. I-4-3).
A regulação da arma não depende da arma mas sim de condições exteriores
à mesma. Os desvios à regulação mais comuns referem-se à deficiente
instrução do atirador, à sua falta de serenidade, à fadiga, ou a Fig. I-4-4
considerações tácticas como sejam a mobilidade e a visibilidade.
Obviamente, uma arma diz-se justa quando o seu tiro é preciso e regulado (Fig. I-4-4).
(3) Mobilidade de tiro
Consiste na facilidade de mudar rapidamente o tiro de um alvo para o outro, ou seja fazer o
transporte de tiro. Depende do sistema de apoio da arma. Para que haja precisão do tiro é
necessário que o órgão de apoio possua estabilidade.
b. Condições de tiro de carácter mecânico
As condições de tiro de carácter mecânico referem-se à possibilidade do atirador poder efectuar, num
determinado espaço de tempo, um maior ou menor número de tiros sobre o alvo.
Traduzem-se em:
(1) Velocidade de tiro (cadência de tiro)

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Número de tiros que um atirador em condições ideais pode executar num minuto. É expresso em
tiros por minuto (t.p.m.).
(2) Velocidade prática de tiro
Número de tiros que um atirador pode executar num minuto, tendo em consideração as seguintes
limitações práticas:
(a) Trepidação da arma que implica paragem de tiro para correcção de pontaria.
(b) Evitar grande consumo de munições.
(c) Poupar a arma.
(d) Evitar o aquecimento excessivo do cano.
Todas estas limitações fazem com que a velocidade prática de tiro seja inferior à velocidade de
tiro. Contudo as armas actuais atingem uma velocidade prática de tiro considerável. Ex: Esp Aut
Aut GALIL SAR 5,56 mm - 700 t.p.m.

2. UTILIZÁVEL
Uma arma diz-se utilizável quando pode ser facilmente transportada e servida, isto é quando se encontrar
sempre em boas condições de funcionamento, ou seja deve ser simples, manejável e segura. Ao
conjunto destas características dá-se o nome de CONDIÇÕES DE SERVIÇO.
a. Simplicidade
A simplicidade traduz-se na sua fácil manobra e conservação.
(1) Uma arma é de fácil manobra quando as operações a efectuar para a execução do tiro são fáceis e
em número reduzido.
(2) Uma arma é de fácil conservação quando é fácil de armar, desarmar, limpar e substituir peças,
mesmo em combate.
b. Manejabilidade
A manejabilidade consiste no conjunto de requisitos que uma arma de fogo deve obedecer para que
possa ser transportada e empregue com facilidade durante o combate. Para tal deve ter recuo
suportável, coronha utilizável, pesos, dimensões e formas adequadas.
(1) Recuo suportável
Para que uma arma tenha um recuo suportável, face a uma desejada potência balística, recorre-se
à fórmula de Saint Robert.
– velocidade de recuo da arma
– velocidade inicial do projéctil
– peso da carga
– peso do projéctil
– peso da arma
Do estudo desta fórmula verifica-se que o recuo aumenta quando o peso da arma diminui.
Actualmente, no caso das espingardas individuais, para se conseguir uma boa manejabilidade da
arma o recuo não deve ser superior a 3 m/s.
(2) Coronha utilizável
Deve ser leve (presentemente são feitas de ligas de plástico) mas robusta para suportar todo o
recuo da arma.
Deve ter um ângulo de coronha (ângulo formado entre o eixo do cano e o eixo da coronha) entre
4º e 10º.
A energia de recuo é dada pela fórmula:

I - 28
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– energia de recuo da arma


– velocidade inicial do projéctil
– massa da arma
– ângulo da coronha
(3) Pesos, dimensões e formas adequadas
Uma arma de fogo ligeira deve ser leve sem deixar de ser robusta. Os materiais a empregar na sua
construção devem, pois, ser criteriosamente escolhidos de modo a cumprir este requisito. O uso
de metais densos (aços pobres em carbono, alumínio, magnésio, titânio, etc.) ou prensados, bem
como outros materiais leves mas resistentes, nomeadamente os plásticos, baquelites concorrem
para este fim.
Actualmente, para se conseguir uma boa manejabilidade da arma, o peso não deve ser superior a
4 kg no caso das espingardas individuais. A maioria das espingardas de calibre 7,62 mm entradas
ao serviço nos anos 1960 cumpriam à risca este requisito, como foi o caso da Esp Aut FN FAL
7,62 mm (4 kg) ou da Esp Aut G3 7,62 mm (3,95 kg). Entretanto, já a Esp Aut AKM 7,62 mm,
versão modernizada de 1958 da famosa AK-47, ultrapassava de longe este desiderato com o seu
peso de 3,1 kg. As espingardas mais modernas, de calibres 5,56 e 5,45 mm, mantendo a desejada
robustez, não ultrapassam os 3,7 kg, o que, aliado ao menor peso das munições destes calibres,
lhes confere elevada manejabilidade, para uma potência balística deliberadamente reduzida, face
ás armas de calibres superiores. Por sua vez, as modernas pistolas não devem ter pesos superiores
a 1 kg, como é o caso das Pist Walther 9 mm M/61 (0,8 kg) e Pist Glock 17 9 mm (0,63 kg).
O peso dos acessórios, como por exemplo, a baioneta, também deve ser obviamente considerado.
As modernas baionetas, do tipo faca ou punhal, não excedem 0,25 m.
Para além do peso, a forma e o comprimento do couce, bem como a facilidade de utilização do
aparelho de pontaria, todos com influência no tiro, terão de ser forçosamente considerados.
Na forma, há igualmente que atender a uma distribuição do peso da arma, com o centro de
gravidade a ficar ligeiramente atrás da alça, pois é aí que a mão do atirador a irá empunhar.
c. Segurança
A segurança inclui todos os requisitos que uma arma de fogo deve possuir para que seja manejada,
sem que o atirador corra qualquer risco.
Deve ser robusta e garantir um bom funcionamento. Por isso depende da qualidade dos materiais
empregues, na fabricação e na facilidade de conservação.
Deve possuir mecanismos de imobilização ou de aviso que minimizem os disparos acidentais ou
fortuitos.
Deve, igualmente ser estanque, factor relevante no campo de batalha moderno.

3. REALIZÁVEL
Uma arma diz-se realizável quando se tornar possível a organizar a sua produção em grande série,
obedecendo a uma série de condições a que se dá o nome de condições de fabrico e que podem incluir:
(1) O fabrico e a montagem fáceis das armas e seus componentes;
(2) A intermutabilidade de peças de armas afins;
(3) O baixo custo e a fácil aquisição das matérias-primas, máquinas ferramentas e tecnologia.

I - 29
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE II

ARMAS DE FOGO ORDINÁRIAS

CAPÍTULO 1

ORG ANIZAÇÃO DA ARMA DE FOGO

Os diferentes órgãos de que se compõe uma arma de fogo, podem classificar-se em três grandes grupos:

1. PARTES PRINCIPAIS
Agrupamento de peças destinado a executar uma operação elementar indispensável ao funcionamento da
arma.

2. PEÇAS
Órgãos formados por um só elemento e que reunidos em grupos constituem as partes principais.

3. PORMENORES OU PARTES DE PEÇAS


Particularidade de forma das diferentes peças, indispensáveis não só para a montagem da arma, como
para o seu funcionamento.

4. ORGANIZAÇÂO DA ARMA EM PARTES PRINCIPAIS


A decomposição de uma arma de fogo ordinária nas suas partes principais pode variar conforme o critério
de estudo a efectuar. No entanto, de uma maneira geral, inclui sempre as seguintes partes:
 Cano;
 Caixa da culatra;
 Aparelho de pontaria;
 Culatra móvel;
 Mecanismos:
 De extracção;
 De ejecção;
 De percussão;
 De segurança;
 De detenção;
 De disparar;
 De repetição ou alimentação.
 Coronha ou armadura;
 Guarnições e acessórios.

II - 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 2

CANO

1. GENERALIDADES
O cano destina-se a conter o cartucho e a dirigir o projéctil. É sem dúvida, a parte mais importante duma
arma de fogo. Consta de um tubo metálico de espessura, comprimento e calibre convenientes, cujo
interior é formado por duas partes:
- A anterior, designada por alma com forma cilíndrica e de diâmetro constante, na qual estão abertas as
estrias que constitui o espaço a percorrer pelo projéctil;
- A posterior, chamada câmara que serve para alojar o cartucho do qual tem a forma.
Para ligar a câmara à alma existe uma superfície cónica chamada concordância.
Exteriormente tem em geral a forma tronco-cónica, excepto na altura da câmara em que é cilíndrica e com
espessura maior. A esta parte chama-se reforço.
A abertura anterior do cano chama-se boca; a posterior designa-se por entrada da câmara.
A organização interna dos canos tem a mais fundamental importância pois é da sua judiciosa aplicação
aos princípios da balística, que resulta o bom funcionamento da arma. O seu estudo irá incidir sobre:
- o metal;
- a forma externa;
- a forma interna.

2. O METAL
A pressão elevada, produzida pela explosão da carga, obriga ao emprego de um metal cujas moléculas
possuam a coesão suficiente para se oporem com êxito aos abalos provocados, que tendem a deformá-lo
ou mesmo a rompê-lo.
A estes abalos se opõe a coesão, pelo desenvolvimento de tensões entre as moléculas sob a acção da
pressão dos gases e assim quanto maior for o valor da RESISTÊNCIA ELÁSTICA do metal, maior a
pressão que pode suportar.
Podendo as pressões elevar-se de modo anormal, convém para evitar desastres que os canos na pior das
hipóteses se deformam mas não rompam, isto é, o metal empregue deve ter um LIMITE DE ROTURA
muito superior ao LIMITE DE ELASTICIDADE.
À diferença entre estes dois limites chama-se GRAU DE TENACIDADE do metal.
Um bom metal para os canos deve possuir as seguintes características:
- Grande resistência elástica;
- Grande resistência à rotura;
- Elevado grau de tenacidade;
- Grande resistência à corrosão;
- Grande resistência ao desgaste provocado pelo atrito do projéctil no interior do cano;
- Grande facilidade de laboração e de conservação;
- Baixo custo.
Até meados do século XIX utilizou-se o ferro forjado, mas com a generalidade do estriamento, adoptou-
se o aço fundido e temperado, mais resistente a pressões maiores e ao desgaste do forçamento dos
projécteis nas estrias.

II - 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A procura de melhores aços, mais resistentes ao desgaste do forçamento dos projécteis, bem com à
corrosão dos gases, dos resíduos das pólvoras e intempéries.
Hoje, embora se continue a adoptar em alguns casos o aço fundido, este já não corresponde às exigências
balísticas das armas, pelo que empregam aços especiais com níquel, volfrâmio, vanádio, crómio, etc., de
preferência inoxidáveis ou com a superfície interna cromada. Todavia, canos com estas características
aumentam a resistência ao desgaste e à corrosão mas podem perder tenacidade, sendo igualmente mais
caros e difíceis de fabricar.
Pode dizer-se, então que actualmente se empregam preferencialmente aços niquelados na produção da
maioria das armas de fogo ordinárias. Os aços inoxidáveis são empregues mais frequentemente em armas
de elevada precisão, como sejam as de competição desportiva ou de atirador especial (sniper).
O cano é, na generalidade, coberto exteriormente por um composto de ferro oxidado, de cor escura,
destinado a evitar limpezas excessivas e desgastantes, bem como a retirar-lhe o brilho, que teria efeitos
nefastos ao revelar a posição do atirador e encadeá-lo com reflexos solares. Ao processo de cobertura com
esse composto dá-se o nome de oxidação, atacando o metal com uma substância oxidante. A oxidação
pode ser a quente, através de um sal cáustico diluído em água e sob acção da temperatura (135-140ºC),
ou a frio, através de uma solução ácida diluída em água e através de uma reacção química. A mbas produzem u m
acabamento preto, aderente e uniforme na superfície exterior do cano.

3. FORMA EXTERNA
A forma externa é tronco-cónica, reforçada na altura da câmara que é cilíndrica.
Quanto à forma consideram-se os seguintes aspectos:
a. Perfil
O perfil é determinado pela espessura a dar às paredes do cano em correspondência com os sucessivos
pontos do eixo da alma.
Para tal torna-se necessário conhecer a lei da variação da pressão dos gases ao longo desse eixo, isto é
determinar previamente o que em balística se designa por CURVA DAS PRESSÕES (Fig. II-2-1) e
que se obtém da seguinte forma:

Fig. II-2-1

II - 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Conhecidos os valores das pressões dentro da alma num sistema de eixos coordenados rectangulares,
tomam-se para abcissa os espaços percorridos pelo projéctil na alma, expressos em calibres e para
ordenada, os valores das pressões expressos em kg/mm².
Geralmente é suficiente conhecer a pressão máxima P medida pela ordenada , o percurso om que
lhe corresponde feito pelo projéctil, a pressão P1 medida pela ordenada que se verifica no instante
em que termina a combustão da carga e as pressões em mais dois ou três pontos.
Assim, verifica-se que do fundo da alma ao ponto de pressão máximo, cujo valor geralmente varia
entre os 35 e os 50 kg/mm² nas pólvoras actuais13 , as paredes estão sujeitas ao máximo esforço.
Neste troço, a espessura deve ser constante e mais elevada. Nos troços seguintes a pressão vai
diminuindo pelo que a espessura vai decrescendo até à boca.
Assim, o PERFIL TEÓRICO que em rigor deveria ter um primeiro troço curvilíneo com andamento
semelhante ao da curva das pressões até ao ponto de pressão máxima e decrescer depois, é substituído
por um PERFIL PRÁTICO, em virtude do perfil teórico não dar garantias para um funcionamento
anormal da carga.
No perfil prático, para o cálculo das espessuras aumenta-se 1/4 o valor das pressões teóricas e supõe-
se o ponto de pressão máxima dois calibres à frente da posição teoricamente determinada. A partir
desta posição substitui-se o perfil teórico por uma ou mais rectas conforme os troços da curva do
perfil, donde resulta para o cano a forma tronco-cónica ou uma série de troncos de cone.
É de referir que variando a resistência elástica dos canos, com:
- a coesão molecular, portanto com a natureza do metal;
- o número de moléculas, portanto com a espessura das paredes;
- o valor da pressão dos gases.
É necessário, para evitar deformações permanentes do cano que a sua resistência elástica tenha um
valor tal que não seja ultrapassado pelos abalos provocados pela pressão interna dos gases.
Na prática, toma-se para cada metal um coeficiente de segurança (), dado pela experiência e faz-se
trabalhar o metal nesse limite, que tem um valor muito inferior ao seu limite de elasticidade.
Os coeficientes de segurança, geralmente adoptados são:
- aço ordinário ...............  = 56 kg/mm²
- aço e níquel .................  = 60kg/mm²
- aço e volfrâmio ...........  = 70kg/mm²
b. Comprimento do cano (Fig. II-2-2)
O comprimento do cano é função das condições de tiro e das condições de serviço. Se pelas primeiras
devia ser grande, as segundas aconselham que seja curto.
Determinada a curva das pressões, a área compreendida entre a curva e o espaço dos eixos (abcissa)
mede o trabalho de carga.
Determinada a curva das resistências que o projéctil encontra no seu percurso dentro da alma,
(expressas tal como as pressões em kg/mm²), a área compreendida entre a curva das resistências e o
eixo dos espaços, mede o trabalho resistente feito pelo projéctil.
OV----------------------Diagrama da velocidade
OIR---------------------Diagrama da resistência
OPR--------------------Diagrama da pressão
T------------------------Limite teórico do comprimento da alma

13
Ex: 7,62 mm NATO - 35 kg/ mm²; 5,56 mm NATO - 39 kg/ mm²; .30-06 Springfield - 43 kg/ mm².
II - 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

O a PRT---------------Trabalho da carga
a - PRI-----------------Trabalho útil
O a IRT----------------Trabalho resistente
Assim o trabalho útil de que são capazes os gases da carga, é medido pela área compreendida entre as
duas curvas (das pressões e das resistências).
O comprimento teórico do cano é dado pelo valor da abcissa correspondente ao ponto de
encontro das duas curvas.
Como este comprimento era excessivo e tornava a arma pouco manejável, toma-se o comprimento do
cano pela abcissa correspondente ao ponto em que pelo andamento das duas curvas, se verifica que
o trabalho útil passa a ser pouco significativo e pelo diagrama das velocidades se verifica que o
projéctil ainda vai animado de aceleração.
A este comprimento chama-se comprimento prático.

Fig. II-2-2

O comprimento da parte estriada da alma das armas actuais é aproximadamente o seguinte:


- até 16 cm ............... pistola
- até 30 cm ............... pistola-metralhadora
- até 50 cm ............... espingarda
- até 65 cm ............... metralhadora-ligeira
- até 75 cm ............... metralhadora

4. FORMA INTERNA
Já vimos, duma maneira muito sucinta a forma interna dos canos. Vejamo-la com
mais pormenor.
A câmara tem a forma do cartucho e as suas dimensões dependem da densidade de
carregamento que nos é dada pela relação , em que representa o peso da carga
Fig. II-2-3
em kg e o volume inicial do invólucro (à retaguarda do projéctil) expresso em
litros.
II - 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Na alma há a considerar: as estrias e o calibre.


a. Estrias
São sulcos cavados em forma de hélice, nas paredes internas dos canos (Fig. II-2-3) e nos quais os
projécteis são forçados a entrar.
Destinam-se a comunicar ao projéctil movimento de rotação em torno do seu eixo, em virtude do qual
o projéctil mantém sempre a ponta virada para a frente, apresentando por isso uma superfície mínima à
resistência do ar, obtendo assim maior alcance e maior justeza.
À nervura resultante da formação de duas estrias consecutivas dá-se o nome de intervalo.
Ao diâmetro da alma, medido entre dois intervalos
opostos, dá-se o nome de calibre da arma.
Nas estrias há a considerar: (Fig. II-2-4)
- O perfil da arma, que é a figura geométrica que se
obtém cortando o cano perpendicularmente ao eixo da
alma;
- Um fundo, geralmente concêntrico com o da alma;
- Dois flancos, que são as linhas que formando os
limites laterais da estria, ligam o fundo desta à
superfície interna da alma.
Fig. II-2-4
Dá-se o nome de flanco de tiro, ao
flanco que apresenta obliquamente a sua superfície ao movimento de translação e
cuja pressão faz mover o projéctil com rotação; e de contra-flanco ao oposto, o qual
serve para limitar o movimento.
Fig. II-2-5
(1) As características dum perfil são:
(a) A forma do flanco e do fundo das estrias.
Quanto à forma existem os seguintes perfis:
1. Concêntrico
O perfil concêntrico, mais empregue actualmente, pode apresentar as
seguintes formas:
a. Perfil italiano (Fig. II-2-5)
Fig. II-2-6
O fundo é concêntrico com a alma e os flancos são rectilíneos e
paralelos ao raio tirado do ponto médio do fundo.
b. Perfil francês (Fig. II-2-6)
O fundo é concêntrico com a alma mas os flancos são
dirigidos segundo o raio, portanto, convergentes ao eixo da
alma.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.
c. Perfil convergente exterior (Fig. II-2-7)
Fig. II-2-7
O fundo é concêntrico com a alma mas os flancos são
divergentes em relação ao raio e por isso convergem exteriormente.
2. Dentes de serra (em Arco ou Americano) (Fig. II-2-8)
Também conhecido por “perfil de Lenk”.
O fundo não é concêntrico com a alma, o flanco de tiro é dirigido
segundo o raio e o contra flanco forma com o fundo um arco de
círculo excêntrico em relação ao fundo da alma.
Fig. II-2-8

II - 6
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Foi concebido ao constatar-se que, nos perfis concêntricos, o contra-flanco se gastava


muito menos que o flanco, decidindo-se pela supressão daquele.
3. Poligonal
Neste perfil a secção recta é uma figura poligonal.
a. Withworth
A secção é um hexágono regular e a alma é formada por uma secção prismática
hexagonal torcida em torno do seu eixo.
b. Westley-Richards
A secção é um octógono regular, em que os ângulos são substituídos por umas
nervuras de secção curva.
c. Henry
A secção é derivada do heptágono regular, em que os ângulos são substituídos por
pequenos trapézios, constituindo os intervalos e a ligação ao fundo é feita por
superfícies planas.
d. Lee-Metford
A secção é derivada do octógono regular, sendo limitada por oito arcos de
circunferência, cujos centros estão sobre uma circunferência concêntrica com a alma.
(b) Largura e profundidade da estria.
1. Uniformes
Quando têm a largura e profundidade constante.
2. Cuneiformes
Quando a sua largura vai diminuindo em relação à sua proximidade da boca da arma.
3. Profundidade decrescente
Quando a sua profundidade vai diminuindo da origem para boca da arma.
(2) Número de estrias
Normalmente emprega-se o sistema poli-estriado mas a tendência actual é para a redução do
número de estrias.
Há armas com 3 [Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M889 (SWI)], 5 [Esp Lee-Enfield 7,7 mm M917, 6
[Esp Krag-Jorgensen 8 mm M889 (DEN)] sendo o número de 4 o mais vulgar [Esp Mauser 7,9
mm M/937].
O seu número depende do perfil, do calibre e da tenacidade do metal do projéctil.
(3) Sentido das estrias
Nas armas de fogo considera-se o sentido pela direcção que toma a estria superior quando se olha
a alma pela boca ou pela câmara. (Fig. II-2-11)
Assim, um cano diz-se estriado para a direita
quando a estria superior vem da esquerda para a
direita (sentido dextrorsum).
Um cano diz-se estriado para a esquerda
quando a estria superior vem da direita para a
esquerda (sentido sinistrorsum).

Fig. II-2-11

II - 7
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(4) Traçado das estrias (Fig. II-2-12)


Considerando a estria reduzida à
intercepção do seu flanco de tiro
com a superfície cilíndrica da
alma e supondo esta superfície
segundo a geratriz da origem da
estria e desenvolvida sobre um
plano, a estria apresentar-se-á
como uma linha a que se chama
traçado. Fig. II-2-12
(5) Inclinação das estrias
Inclinação é o valor do ângulo formado pela tangente ao traçado nos seus vários pontos, com a
geratriz da alma.
(a) Se a inclinação é constante o traçado é uma recta e diz-se que a estria é de inclinação
constante ou helicoidal (Fig. II-2-13).
(b) Se a inclinação cresce à medida que se aproxima da boca diz-se de inclinação variável ou
estria progressiva (Fig. II-2-14).

Fig. II-2-13

(6) Passo das estrias Fig. II-2-14


Dá-se o nome de passo de uma estria ao comprimento
da geratriz do cano sobre o qual ela faz uma volta completa (duas passagens consecutivas).
O passo exprime-se em centímetros ou calibres e anda ligado à inclinação. Ambos definem o
traçado.
(a) Estria helicoidal ou de passo constante
Quando a inclinação for constante.
(b) Estria progressiva ou de passo variável
Quando a inclinação for variável.
Actualmente todas as espingardas empregam as estrias helicoidais.
O passo nas diferentes armas só pode ser determinado pela experiência, mas tanto o passo como a
inclinação têm um limite imposto pela qualidade dos metais do cano e do projéctil.
O aumento da inclinação implica o aumento da resistência passiva ao projéctil. Por isso
aumentam as vibrações do cano e as pressões dos gases uma vez que o projéctil leva mais tempo
a percorrer a alma. Por consequência as estrias gastam-se mais rapidamente.

II - 8
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

É a inclinação final da estria que determina a velocidade de rotação do projéctil ao longo da


trajectória.
Embora raras, há armas que utilizam o estriamento misto, com inclinação constante entre a
origem e o ponto onde se dá a pressão máxima dos gases e posteriormente, inclinação variável.
b. Calibre
O calibre de uma arma de fogo refere-se, grosso modo, à medida do diâmetro interno dos canos ou
tubos mas com significados algo diferentes conforme a natureza e configuração da arma:
(1) Armas de cano estriado
Nas armas de cano estriado, o calibre de um cano, por definição, é o diâmetro da alma medido
entre 2 intervalos de estria opostos, normalmente medido em milímetros, embora haja
excepções.
(2) Armas pesadas de alma lisa e tubos lançadores de granadas-foguete (LGF)
Neste tipo de armas, o calibre é dado pelo diâmetro interno do tubo do LGF ou da alma do cano.
(3) Armas de alma lisa (de caça)
Nas armas de caça de alma lisa, o calibre é dado pelo adarme, que consiste simplesmente no
número de projécteis esféricos de chumbo com o mesmo diâmetro da alma da arma que se obtém
com o peso uma libra de chumbo. Assim o calibre 12, significa que com uma libra de peso de
chumbo se obtiveram 12 projécteis esféricos com o diâmetro da alma da arma. Havendo diferentes
medidas de libra (nomeadamente inglesas e francesas), havia, pois diferentes calibres com o
mesmo adarme. Só em 1911, uma comissão internacional acordou em definir o calibre unificado
em milímetros segundo a tabela que se segue:
Adarme Diâmetro Adarme Diâmetro
Calibre 4 23,75 mm Calibre 20 15,62 mm
Calibre 8 21,21 mm Calibre 24 14,70 mm
Calibre 10 19,69 mm Calibre 28 13,97 mm
Calibre 12 18,52 mm Calibre 32 13,36 mm
Calibre 16 16,81 mm Calibre 36 12,85 mm

Para dentro do mesmo calibre há diferentes e variadas formas de classificar e diferenciar as munições,
como veremos mais à frente em capítulo próprio.
Na incessante ânsia do progresso e para satisfação das necessidades tácticas têm sido conseguidos
valores balísticos apreciáveis, atingindo-se presentemente com o calibre de 5,56 mm velocidades de
1000 m/s em Espingardas Automáticas.
Na continuidade deste constante progresso, há já fabricantes de armamento a testar outros calibres para
as suas armas, como por exemplo o 5,7x28 mm (FN) e 4,7x21 mm (HK).

II - 9
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 3

CAIXA DA CULATRA

A caixa da culatra (Fig. II-3-1) (1) é geralmente considerada como fazendo parte do cano (2), em virtude
de estar a ele permanentemente enroscada e ligada, não sendo permitida a separação entre estas duas peças,
excepto se efectuada por mecânicos de armamento.
Destina-se a alojar, travar e a guiar a culatra móvel (3), pelo que a sua forma se subordina à desta, seja ela
de ferrolho ou de bloco.
Possui um prolongamento posterior, a cauda (4) , com furos para alojar os parafusos que a ligam à coronha,
e anteriormente um furo roscado para a sua união ao cano.
Em algumas armas de repetição, a caixa da culatra possui na sua parte inferior o alojamento para o
mecanismo de repetição. Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937.
Quando a coronha é formada por duas peças, a caixa da culatra tem a função complementar de as ligar,
apresentando então formas concordantes com aquelas. Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA); Esp
Lee-Enfield 7,7 mm M917.
As armas de culatra fixa, como as caçadeiras de báscula, não possuem obviamente caixa da culatra.
A caixa da culatra deve possuir a necessária robustez para resistir sem se deformar, aos choques
longitudinais transmitidos pela culatra móvel e evitar deformações desta.
Inicialmente elaborada em bronze, passou a ser feita de ferro cimentado e temperado com carbono para,
devido à grande tenacidade deste material, poderem ser feitas com facilidade as múltiplas guias e aberturas
que a mesma apresenta, ao mesmo tempo que, pela cimentação e têmpera, adquire a dureza e elasticidade
suficientes para suportar, sem se deformar, os choques transmitidos pela culatra móvel.
À semelhança do cano, é também coberta por um composto escurecido, obtido por oxidação a quente ou a
frio.

Fig. II-3-1

II - 10
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 4

APARELHO DE PONTARIA

1. GENERALIDADES
O aparelho de pontaria destina-se a apontar a arma, isto é, dirigi-la de forma que a trajectória do projéctil
intercepte o alvo.

Fig. II-4-1
Os aparelhos de pontaria normal (Fig. II-4-1) constam de uma alça (1) na retaguarda, com uma ou várias
ranhuras de mira e de um ponto de mira (2) na parte dianteira.
Chama-se linha de mira (3) ao raio visual que passa pela ranhura de mira e pelo vértice do ponto de
mira. Quando esta linha passa pelo alvo (4) diz-se que a arma está apontada. Então, a trajectória (5) real
irá intersectar a linha de mira exactamente sobre o alvo.
Linha de mira natural de uma arma é a que corresponde à ranhura de mira de menor altura.
Comprimento da linha de mira natural é a distância da ranhura de mira de menor altura ao vértice do
ponto de mira.
A arma terá tantas linhas de mira quantas as posições que a ranhura de mira possa tomar, correspondendo
a cada uma delas, um alcance.

2. TIPOS DE APARELHOS DE PONTARIA


OS aparelhos de pontaria classificam-se geralmente de duas formas distintas relacionadas com as
respectivas linhas de mira.
a. Quanto ao tipo de linha de mira:
(1) Ordinária
Os que são constituídos por dois elementos fundamentais. Ponto de mira e ranhura de mira, esta
normalmente colocada num dispositivo – alça – que permite variar a altura da ranhura de mira.
(2) Óptica
Quando obtidas por aparelhos de pontaria ópticos.
b. Quanto à sua colocação na arma:
(1) Normal ou axial
Quando a linha de mira está contida no mesmo
plano vertical que contém o eixo do cano.
(2) Lateral ou independente
Quando a linha de mira está contida num outro
plano. Fig. II-4-2
Algumas armas podem possuir mais do que um aparelho
de pontaria em simultâneo. É o caso, por exemplo, de espingardas com linhas de mira ordinárias e
ópticas, sendo estas, na maioria dos casos, amovíveis.
Algumas espingardas possuíam em simultâneo um aparelho de pontaria axial e outro lateral, este
último destinado a efectuar tiro de salva a longas distâncias. A grande inclinação que era necessária
II - 11
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

dar à arma, colocando o couce debaixo do braço, impossibilitava a pontaria normal. A solução,
inventada pelo general russo Frolov, consistia em montar um aparelho de pontaria auxiliar lateral, com
menor comprimento da linha de mira natural, o que se traduzia numa diminuição da altura da alça. A
menor precisão deste tipo de aparelhos de pontaria e a reduzida eficácia do tiro de salva a longas
distâncias, levaram ao abandono de ambos, no decorrer da 1ª Guerra Mundial. Ex: Espingarda Enfield
7,7 mm M1917 (USA) (Fig. II-4-2).

3. TIPOS DE PONTOS DE MIRA E DE RANHURAS DE MIRA


Embora não existindo propriamente uma classificação específica tanto para os pontos como para as
ranhuras de mira, podem distinguir-se ambos quanto à figura geométrica que as sua faces posteriores
apresentam.
Assim, os pontos de mira podem ser rectangulares, triangulares, quadrangulares, trapezoidais,
circulares, elipsoidais, etc. (Fig. II-4-3).

Várias Formas de Pontos de Mira

RECTANGULAR CIRCULAR TRIANG ULAR ELIPSOI DAL TRAPE ZOI DAL

Fig. II-4-3

As ranhuras de mira distinguem-se também pela figura geométrica que a sua face posterior apresenta,
dividindo-se em abertas ou fechadas.
As ranhuras de mira abertas usam-se geralmente quando a alça está mais afastada do olho do atirador (30
cm ou mais). Permitem uma visão mais desobstruída para a zona de alvos, perdendo, todavia, em termos de
precisão. As mais comuns têm entalhes de secção em U, em V, rectangular ou trapezoidal (Fig. II-4-4).

Várias Formas de Ranhuras de Mira Abertas

EM U RECTANGULAR EM V TRAPE ZOI DAL EXPRESS

Fig. II-4-4

As ranhuras de mira fechadas foram usadas num tipo de alças múltiplas, entretanto caído em desuso. Têm
aberturas em forma rectangular, em estrela, em cruz, em X e circular (Fig. II-4-5).

Várias Formas de Ranhuras de Mira Fechadas

RECTANGULAR EM ESTRELA EM CRU Z EM X CIRCULAR


Fig. II-4-5 (DIÓPTER)

II - 12
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

4. CARACTERÍSTICAS DOS APARELHOS DE PONTARIA


Os aparelhos de pontaria devem ser precisos, sólidos e cómodos.
a. Precisão
Uma boa precisão só pode obter-se com armas cujo comprimento da
linha de mira natural seja grande e cujos órgãos de pontaria facilitem
a nitidez da visão.
Assim, não só a ranhura de mira e ponto de mira devem estar o mais
afastado possível um do outro, mas também ter forma adequada, afim
de facilitar a visão e evitar tanto quanto possível as imagens confusas
a que se dá o nome de círculos de difusão, (Fig. II-4-6) resultantes da Fig. II-4-6
imagem simultânea de três pontos a diferentes distâncias do olho
do atirador.
Assim, as ranhuras de mira devem ter as
formas de corte e os pontos de mira formas
salientes (Fig. II-4-7).
A posição da alça, órgão mais próximo do
olho do atirador, situa-se geralmente à
Fig. II-4-8
distância de 0,30m (distância média da visão
Fig. II-4-7
distinta) da vista do atirador e portanto a cerca de 0,50m do couce
da arma.
Os órgãos de pontaria que melhor satisfazem, são aqueles em que na alça não
existe efectivamente uma ranhura mas sim uma abertura circular a que se dá
impropriamente o nome de ranhura circular, pois neste caso o olho do atirador
apenas tem que se adaptar ao ponto de mira e ao alvo que deve visar
colocando-os no centro do círculo.
Empregando o diópter (Fig. II-4-8) – círculo de dimensões muito reduzidas –
os erros de alinhamento quase desaparecem. No entanto, uma abertura
demasiado pequena reduz a luz e pode dificultar a visão quando o tiro é Fig. II-4-10
executado em condições desfavoráveis. Estas alças, ao contrário das abertas, devem ser colocadas o
mais perto possível do olho do atirador razão porque são montadas sobre a caixa da culatra,
aparecendo algumas vezes sobre a parte posterior da culatra móvel.
Ex: Carabina M1 7,65 mm (USA); Carabina M1 Underwood 7,62 mm (GBR).
b. Solidez
Além da precisão, o aparelho de pontaria deve também ser sólido e estar
protegido por órgãos protectores metálicos para evitar deslocamentos
acidentais que alterariam a posição da linha de mira. Assim, na
Espingarda Ross 7,7 mm M/905m (CAN) o ponto de mira aparece
abrigado dentro duma manga de aço (Fig. II-4-9). Na Esp Lee-Enfield
7,7 mm M/917 é protegido de um e outro lado por grossas placas (Fig.
II-4-10).
Fig. II-4-9
c. Comodidade
Na comodidade do aparelho de pontaria há a considerar:
Fácil manejo, boa leitura e colocação.

II - 13
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

5. CLASSIFICAÇÃO DAS ALÇAS DE LINHA DE MIRA ORDINÁRIA


a. Alças de ranhuras múltiplas
São caracterizadas por serem rectilíneas e apresentarem ao atirador mais do
que uma ranhura:
(1) De orifícios (Fig. II-4-11)
São as mais antigas. Dispõem de orifícios de diferentes formas (círculo,
rectângulo, cruz) sendo cada um dos quais uma ranhura de mira.
A alça pode encontrar-se “ levantada “ para o tiro ou “ abatida “ para Fig. II-4-11

transporte.
O seu principal inconveniente é encobrir o alvo e ser descontínua, isto é não permitir variar a alça
para distâncias intermédias daquela para que estava construída.
Ex: Esp Chassepot 11 mm M/886
(2) De lâminas (Fig. II-4-12)
São formadas por um certo número de lâminas de alturas desiguais,
tendo cada uma delas, cortado no seu bordo superior, uma ranhura de
mira.
O seu principal inconveniente é dar um pequeno número de linhas de
mira. Fig. II-4-12

Ex: Esp Dreyse 15,43 mm M/841


(3) De lâmina com cursor (Fig. II-4-13)
São compostos por uma lâmina móvel em torno de um eixo
perpendicular ao plano de simetria da arma e que uma mola mantém
na posição “ levantada “ ou “ abatida “.
Nela desliza um cursor onde está colocada a ranhura de mira que
pode ter a forma circular e que por meio de uma mola pode ser
fixado, na graduação correspondentes aos vários alcances, que se
encontra gravada na lâmina.
A lâmina tem ranhuras, tanto na parte superior como na inferior.
Fig. II-4-13
Ex: Esp Albini 11 mm M/876
As lâminas são mais ou menos cheias, tendo algumas a forma de caixilho,
a que se dá o nome de grade.
(4) De cursor-lâmina (Fig. II-4-14)
São aquelas em que o cursor é substituído por uma lâmina que corre ao
longo da primeira lâmina.
Eram empregues nas armas de grande alcance e fraca tensão da
trajectória.
Ex: Esp Guedes 11 mm M/886 Fig. II-4-14

II - 14
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Esp Grás 11 mm M/874


Carabina Kropatchek 8 mm M/886.
(5) Rotativa (Fig. II-4-15)
Constituídas por duas a quatro ranhuras a 90º, apoiadas num eixo
perpendicular à linha de mira, de modo a permitir a sua rotação para a
frente ou para trás.
Ex: Esp Lee-Enfield SMLE Nº 4 7,7 mm M/42 Fig. II-4-15
(6) De tambor rotativo (Fig. II-4-16)
Constituídas por um tambor de rotação transversal ao eixo do cano,
com 3 a 4 ranhuras de mira.
Ex: Esp Aut G3 7,62 mm M/63

Fig. II-4-16

b. Alças de ranhura simples


Dispõem apenas de uma ranhura, que pode ser fixa para uma só distância ou móvel, tomando para
cada posição, que é geralmente graduada, uma diferente linha de mira.
Podem ser fixas, circulares ou de quadrante, rectilíneas e de tambor.
(1) Alças fixas
São as alças mais simples, com uma ranhura de mira fixa numa lâmina ou num apoio,
directamente por cima da caixa da culatra. Algumas podem ser dobradas ou alteradas por um
armeiro, modificando a respectiva linha de mira, como acontecia com alguns modelos de
carabinas Colt e Winchester do século XIX, aferidas para uma distância intermédia e permitindo
pontarias homotéticas. São igualmente usadas em armas curtas de mão, tais como as pistolas e os
revólveres, onde a necessidade de um aparelho de pontaria é mais psicológico do que balístico e
apenas se faz sentir em direcção e não em alcance.
Nas espingardas caçadeiras, que disparam um cartucho com múltiplos projécteis, a alça serve
apenas para indicar uma direcção geral, consistindo geralmente num ligeiro cavado na parte
superior e posterior do(s) cano(s).
(2) Alças circulares ou de quadrante
Dispõem de uma lâmina móvel em torno de um eixo horizontal ligado à base, com uma ranhura
de mira do lado oposto ao eixo, a qual descreve durante o movimento da lâmina um arco de
círculo.
Dentro deste tipo podemos considerar os seguintes modelos:
(a) De Quadrante com Guardas Laterais e Entalhes Graduados (Fig. II-4-17)
As guardas laterais têm entalhes graduados que estabelecem
as várias inclinações da lâmina, que se apoia naqueles
entalhes.
Ex: Esp Paravicini-Carcano 6,5 mm M/891
Esp Veterli 10,35 mm M/892.

Fig. II-4-17

II - 15
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(b) De quadrante com cursor e apoios curvos (Fig. II-4-18)


Da base nascem duas guardas de traçado curvo especial,
nas quais se apoia o cursor que corre ao longo da lâmina
graduada.
Um sistema de entalhes e mola, fixa o cursor à lâmina
na graduação desejada.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A Fig. II-4-18

Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889.


(c) De quadrante com cursor e apoios rectilíneos (Fig. II-
4-19)
Na base da alça, plana e graduada, corre o cursor. A
lâmina é curva e tem lateralmente umas nervuras onde
entram as garras do cursor.
Ex: Esp Mauser 7,92 mm M/898 (GER). Fig. II-4-19

(d) De cursor e apoios em escaletes (Fig. II-4-20)


É uma variante da alça de cursor e apoios curvos. A parte
superior destes é cortada em degraus sobre os quais, em virtude
da acção da mola, se apoia o cursor.
Ex: Carabina Lebel 8 mm M/1886 (FRA).
(3) Alças Rectilíneas
Consistem numa barra com entalhes graduados fixa por cima da
caixa da culatra, com inclinação, na qual corre um cursor solidário
com a ranhura de mira
Fig. II-4-20
Ex: Espingarda Automática FN-FAL 7,62 mm M/61
(4) Alças de Tambor
Constam de um tambor lateral que é manobrado de forma a
elevar ou baixar a haste inferior da ranhura de mira, pelo
que a mesma pode ocupar posições sucessivas
correspondentes a alcances graduados no tambor. A rotação
do tambor pode fazer rodar a ranhura de mira em torno de
um eixo perpendicular (alças de quadrante de tambor) (Fig.
Fig. II-4-21
II-4-21) ou simplesmente elevá-la ou baixá-la num plano
vertical ou oblíquo (alças rectilíneas de tambor)
Ex: Metralhadora Ligeira Vickers Berthier 7,7 mm M/931 (alça
de quadrante de tambor);
Espingarda Semi-automática M1 Garand 7,62 mm (alça
rectilínea de tambor).
c. Alças mistas
Quase todas as armas que usam alças de lâmina com cursor usam
modelos rebatíveis para transporte.
Algumas delas, utilizam nessa posição uma alça alternativa que pode
ser uma alça de quadrante com cursor (Fig. II-4-22) ou uma simples
ranhura de mira, neste caso chamada “alça de combate”.
A alça de quadrante (ou a alça de combate) destina-se à execução da Fig. II-4-22

II - 16
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

pontaria a curtas distâncias. Para maiores distâncias recorre-se então à alça de lâmina com cursor.
Estas alças são chamadas de mistas mas, como também possuem várias ranhuras de mira, enquadram-
se nas alças de ranhuras múltiplas.
Ex: Esp Mosin-Nagant 7,62 mm Mod 1891/30 (RUS).

6. APARELHOS DE PONTARIA ÓPTICOS


Reconhecida a dificuldade da pontaria por meio dos aparelhos vulgares de pontaria, os inventores, no
intuito de melhorar e facilitar esta, procuram primeiramente, conseguir levar ao mesmo foco os três
pontos que têm de ser alinhados, e, mais tarde, para se aumentar a precisão, procuraram ampliar a imagem
do alvo.
a. Colimadores
O colimador é um aparelho óptico que procura focar o ponto de mira e o alvo, sem a ampliação deste.
Consta de um tubo comprido e estreito (Fig. II-4-23), fechado numa das extremidades por um vidro
liso e na outra por uma lente. Entre esta e o seu foco é colocado um retículo opaco. O atirador vê,
então, através da lente, uma imagem ampliada R’ do retículo, sem erro de paralaxe. A linha de mira é
determinada pelo centro óptico da lente e pelo cruzamento dos traços do retículo, chamados linhas de
fé.
Utiliza-se colocando o olho o mais longe possível da lente e deslocando a cabeça para cima e para
baixo, desviando a arma até que a linha de fé vertical passe pelo alvo. De seguida, deslocando a cabeça
lateralmente, desvia-se a arma para cima ou para baixo até que a linha de fé horizontal também passe
pelo alvo.
D
e
d
u
z
-
s
e
Fig. II-4-23

rapidamente que a pontaria na prática é bastante difícil e morosa, razão pela qual, as armas ligeiras não
os utilizam. Todavia, são muito empregues para alinhar aparelhos de pontaria com os eixos das
respectivas almas do cano, ou para calibrar outras alças ópticas. São ainda utilizados em armas de tiro
indirecto como os morteiros ou os obuses.
b. Lunetas de pontaria
Os aparelhos em que a imagem do alvo é ampliada são chamados de lunetas de pontaria que se
podem dividir em dois grupos:
(1) As lunetas de Galileu
A luneta de Galileu (Fig. II-4-24) é formada
por uma lente convergente funcionando como
a objectiva (1) e uma lente divergente
servindo como ocular (2). A lente ocular
intercepta os raios convergentes provenientes
Fig. II-4-24

II - 17
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

do alvo, tornando-os paralelos e formando assim uma imagem virtual, ampliada e recta.
Foi utilizada pelos primeiros snipers aliados durante a 1ª Guerra Mundial. Todavia, como não
dava uma definição perfeita do alvo focado com o ponto de mira, foi rapidamente substituída por
outros tipos de luneta mais potentes e sofisticados. Actualmente só se empregam em algumas
armas de tiro desportivo.
(2) As alças telescópicas
Os aparelhos ópticos que usam o princípio da luneta de Kepler ou luneta ordinária são
chamados de alças telescópicas (Fig. II-4-25).

Fig. II-4-25

Os raios luminosos vindos do alvo atravessam sucessivamente:


(a) Uma objectiva O (cuja distância focal é inferior a comprimento da linha de mira natural) e
que dá no seu plano focal uma imagem a b pequena e invertida do alvo A B. No mesmo
plano está colocado o ponto de mira que consiste num ponteiro ou num vidro transparente
onde se encontre um cruzamento de traços) cujo vértice (ou intercepção) b, determina, com o
centro óptico da objectiva, a linha de mira do aparelho.
(b) Uma lente E que endireita a imagem a b e dela dá, bem como do ponto de mira, uma
imagem real e pequena a’ b’.
(c) Uma ocular L, graças à qual o olho vê uma imagem virtual A’ B’ direita e aumentada do
alvo e do ponto de mira.
Nalguns modelos, em vez da lente E, existe um prisma, como nos binóculos prismáticos
ordinários.
Nestas alças, como a imagem real invertida do alvo e o ponto de mira se encontram no mesmo
plano focal, o alvo e o ponto de mira aparecem ao atirador perfeitamente distintos. Por esta
razão e ainda por possuírem um campo de visão muito superior a obtido com a luneta de
Galileu, são aqueles que actualmente se utilizam nas armas portáteis militares.
A sua luminosidade é de tal magnitude que permite o tiro contra alvos que, mercê da sua fraca
iluminação, não podem ser visados com aparelhos de pontaria ordinários. Só quando a luz solar
incide sobre a objectiva e o alvo está na sombra é que as alças telescópicas se revelam inferiores
àqueles.
Estas alças são concebidas de forma a ser envoltas em tubos com comprimentos que variam
geralmente entre 20 e 40 cm, montados, por sua vez, em bases rigidamente ligadas à caixa da
culatra da arma, através de dispositivos de fixação rápida.
Para permitir o deslocamento da linha de mira, em função das distâncias requeridas, ou de
ajustamentos laterais, em função do vento ou da derivação, apresentam exteriormente um ou mais

II - 18
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tambores graduados que rodam em frente de uma referência. Para a correcção do alinhamento da
alça com o eixo do cano da arma, possui igualmente outros dispositivos, geralmente manobrados
com ferramenta especial.

Fig. II-4-26
As alças telescópicas são dispositivos caros e muito exigentes de manter, sendo transportadas em
estojos e colocadas apenas quando seja necessário o seu emprego. Simples choques mecânicos
podem fazer alterar a posição de eixo óptico, incapacitando o seu emprego eficiente.
Uma alça telescópica moderna e relativamente simples terá os seguintes componentes principais
(Fig. II-4-25): objectiva (1), ocular (2), lente para reverter a imagem (3), retículo (4), tubo
principal (5), tambor de ajustamento em elevação (6), tambor de ajustamento em direcção (7),
base do suporte de fixação (8), lentes de zoom (9) e fixadores rápidos (10).

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CAPÍTULO 5

CULATRA MÓVEL

1. GENERALIDADES
Culatra móvel é o agrupamento de peças destinadas a fechar o cano pela parte posterior e a obter,
conjuntamente com o invólucro do cartucho, uma obturação completa e perfeita, desde que se dá a
explosão da carga até que o projéctil abandona a arma.
Em virtude da sua função principal ser a obturação, dá-se-lhe também o nome de obturador.
A culatra é normalmente constituída por:
- ferrolho
- punho
- percutor
- mola do percutor
- cão
Ao estudarmos os processos de obturação nas primeiras armas de retrocarga, dissemos que a obturação
perfeita só se obteve com a adopção dos cartuchos metálicos.
Para um mecanismo de obturação ser perfeito deve:
- dar apoio seguro e estável ao fundo do cartucho;
- fechar perfeitamente a parte posterior do cano, durante o tempo em que o projéctil percorre a alma;
- executar rapidamente o “movimento de fechar” introduzindo o cartucho na câmara e ajustando-o
progressivamente.
As duas primeiras condições realizam-se pelo travamento, que consiste em tornar a culatra solidária com
o cano ou com a caixa da culatra; a última pela organização mecânica da culatra, da sua caixa e do
mecanismo de repetição.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS CULATRAS


As culatras podem agrupar-se:
a. Quanto à forma
(1) Culatra de cilindro ou de ferrolho
São aquelas que têm a forma alongada, cilíndrica ou prismática, no sentido do eixo da alma, e são
em geral, munidas de um punho para a sua manobra.
Também se lhes dá o nome de culatras de ferrolho por no seu manejo se deslocarem no sentido
do prolongamento do cano.
São as mais usadas por serem de funcionamento simples e resistentes, darem bom apoio ao
cartucho, facilitarem a repetição e por conterem os mecanismos de percussão, de segurança e
de extracção.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A
(2) Culatras de bloco
São aquelas que não têm a forma bem definida e a sua dimensão longitudinal não é notavelmente
superior às outras . Foram muito usadas no início das armas de retrocarga, mas hoje são somente
aplicadas em armas de cano curto e em armas de caça por desenvolverem pressões internas mais
baixas.
Ex: Esp Snider 14 mm M/875
II - 20
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

b. Quanto ao movimento
(1) Culatras fixas
Como o nome indica, mantêm-se fixas, obrigando à manobra do respectivo cano para efectuar o
destravamento, a desobturação, a extracção, a ejecção, a introdução de novo cartucho, a obturação
e o travamento. Não se usam nas armas de guerra mas são comuns na caça. Os canos podem ser
manobrados de três maneiras:
(a) Escorregamento frontal (corrediça). Ex: Esp Ghaye 1870 (BEL);
(b) Rotação superior. Ex: Pist Løbnitz 1840 (DEN);
(c) Báscula. Esp caça Ugartechea Royal Cal. 20 (ESP).
(2) Culatras de rotação (em torno de um eixo)
Este tipo de movimento foi muito usado com as antigas culatras de bloco, tendo caído em desuso
com sistemas mais eficientes. O movimento de abertura da culatra é feito em torno de um eixo
que pode ser longitudinal ou transversal ao eixo do cano.
(a) Culatras de rotação em torno de eixos longitudinais
1. Sistema de caixa. Ex: Esp 14 mm Snider (GBR);
2. Sistema de barril. Ex: Esp 11,15 mm Werndl (AUT).
(b) Culatras de rotação em torno de eixos transversais
1. Sistema de fecho. Ex: Esp Albini-Braendlin 11 mm M1876 (BEL);
2. Culatra cadente. Ex: Esp Martini-Henry 11,6 mm (GBR);
3. Culatra levantada. Ex: Esp Reilly-Comblain 14 mm M1876 (BEL);
4. Sistema retrógrado. Ex: Esp Remington 12 mm M1867 (USA).
(3) Culatras de escorregamento simples
As culatras de escorregamento simples são armas que se manobram, impelindo o obturador
longitudinal ou transversalmente.
(a) As de escorregamento transversal são chamadas culatras de gaveta. Esp Sharps 11 mm
M1867 (USA);
(b) As de escorregamento longitudinal estão geralmente associadas a culatras de ferrolho e
podem ser accionadas através de:
1. Punho ou Anel existentes no corpo da culatra Ex: Esp Breveti-Scotti 7,95 mm (ITA); Esp
Schimdt-Rubin 7,5 mm M/889-896 (SWI).
2. Alavanca. Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA);
3. Corrediça (ou Sistema de Bomba). Ex: Carabina Colt Lightning 10,8 mm M1867 (USA).
Nestas culatras basta manobrar o obturador à retaguarda, efectuando-se com este movimento, o
destravamento, desobturação, extracção e ejecção do invólucro.
Ao levar-se à frente o obturador faz-se a introdução de novo cartucho, a obturação e o
travamento. São de manejo simples exigindo para o travamento, a adopção de uma cabeça
móvel, (Esp Breveti-Scotti 7,95 mm), de um anel de travamento (Esp Schimdt-Rubin 7,5 mm
M/889-896) ou de travadores articulados (Carabina Winchester 10,8 mm 1873 e Carabina Colt
Lightning 10,8 mm M1867).
(4) Culatras de escorregamento e rotação
Nestas dá-se primeiro um movimento de rotação à culatra sendo depois puxada à retaguarda.
O movimento de rotação faz-se sobre superfícies helicoidais adequadas, durante o qual o percutor
é armado, permitindo remediar qualquer falha do cartucho e armar de novo o percutor sem
necessidade de abrir a culatra.

II - 21
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Quase todas as armas de fogo ordinárias actualmente em uso utilizam culatras deste tipo.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937
Carabina M1 Underwood 7,62 mm (GBR)

3. MODERNOS SISTEMAS DE CULATRAS DE FERROLHO (de escorregamento e rotação)


Nas modernas armas ordinárias de escorregamento e rotação com culatras de ferrolho, as peças de que se
compõe uma culatra móvel podem agrupar-se segundo os seguintes sistemas mais comuns:
a. Sistema Mauser e derivados
É o mais usado. As culatras são fortes e de manobra fácil, têm travadores na parte anterior do ferrolho
e os extractores são fortes e não participam no movimento de rotação da culatra.
Na parte posterior do ferrolho, existe a abertura de entrada do percutor e respectiva mola e é fechada
pela tampa do ferrolho.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A; Esp Parker Hale 7,62 mm M82 (GBR).
b. Sistema Mannlicher e outros
As culatras têm também os travadores na parte anterior do ferrolho, mas à frente destes existe a
cabeça móvel que serve para fechar a abertura de entrada do percutor e respectiva mola.
Ex: Esp Mannlicher 6,5 mm M/895; Esp Mauser-Vergueiro 6,5 mm M/904.
c. Sistema Lee-Enfield e derivados
As culatras são fortes e com travadores localizados na parte central/posterior. Por causa desse
travamento posterior, geram, com o uso, folgas na caixa da culatra. Por isso, têm uma cabeça
enroscada que pode ser substituída facilmente quando a folga se tornar inconveniente. Ao contrário
dos anteriores, neste tipo, o percutor só arma quando se fecha a culatra.
Ex. Esp Lee-Enfield 7,7 mm M917; Esp Ishapore 2A1 7,62 mm (IND).

4. SISTEMA DE TRAVAMENTO
Em virtude de ser preciso manter a obturação pelo menos enquanto o projéctil percorre a alma, surge a
necessidade de travamento da culatra.
Nas armas de ferrolho existem dois sistemas:
a. Em direcção perpendicular ao eixo do cano (Fig. II-5-1)
É empregue na maior parte das espingardas e é efectuado, ou
pelo movimento da culatra - sistema de escorregamento e
rotação, ou pela transformação do movimento longitudinal
Fig. II-5-1
rectilíneo da culatra em movimento de rotação de uma peça
especial, cabeça móvel ou anel de travamento, destinada exclusivamente ao travamento - sistema de
escorregamento simples.
Em qualquer dos casos, existem no obturador ou na referida peça especial uns dentes denominados
travadores que entrando nos alojamentos situados na caixa da culatra, impedem o obturador de vir à
retaguarda por acção dos gases da carga.
Os referidos travadores podem estar colocados:
- Na frente – Esp Mauser 6,5 mm M/904
- No meio – Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889-896 (SWI)
- Na retaguarda – Esp Vetterli-Vitali 10,35 mm M/892 (ITA)
- Na frente e na retaguarda – Esp Mauser 7,9 mm M/937-A

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A colocação dos travadores a meio ou à retaguarda tem o inconveniente de facilitar a deformação do


obturador e da caixa da culatra, por acção da pressão dos gases. Em geral são em número de dois, mas
existem armas com um (Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/886) e outras com três (Ex: Esp Mauser 7,9 mm
M/937A) ou mesmo quatro.
O travamento pode ser bilateral e simétrico (Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/896 e Esp Mauser-
Vergueiro 6,5 mm M/904) ou unilateral e assimétrico (Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/886).
O segundo tem o inconveniente de transmitir o choque de recuo de maneira desigual, o que origina
vibrações no cano.
O travamento anterior e simétrico é o preferido porque evita a compressão duma parte importante do
cilindro e impede a produção de vibrações irregulares.
A amplitude de rotação útil para produzir o travamento e o destravamento é variável, sendo de 90º nas
culatras de escorregamento simples com cabeça móvel ou anel de travamento e de 45º nas de
escorregamento e rotação, servindo os restantes 45º para aproximar ou afastar brandamente a culatra
da câmara.
Ao movimento de rotação corresponde a recolha da ponta do percutor, afastando-a da escorva e a
compressão preliminar da mola do percutor.
Algumas armas de alavanca usam travadores perpendiculares exteriores à culatra, comandados por
aquela, que apenas efectuam um movimento transversal. Ex: Esp Winchester 7,7 mm M1895 (USA).
b. Na direcção do eixo do cano (Fig. II-5-2)
É pouco usado nas armas de fogo de culatra de ferrolho.
Consiste em apoiar na caixa da culatra uma ou duas
cunhas ou alavancas móveis ligadas ao obturador por
um eixo. É portanto um sistema de travadores
articulados.
Ex: Esp Mannlicher 8 mm M/887 (AUT). Fig. II-5-2
Nas armas de escorregamento simples por acção de
alavanca, os travadores são do tipo alavancas articuladas, cuja joelheira de união fica imobilizada por
acção da própria alavanca.
Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA).

5. SISTEMA DE PERCUSSÃO
a. Generalidades
Nas armas de cartucho combustível completo (Ex: Esp Dreyse 15,43 mm M/841 e Esp Chassepot 11
mm M/886), empregava-se a agulha como órgão principal de percussão, a qual, atravessando a carga e
a escorva, fazia detonar esta, mais por fricção do que por percussão.
Estas agulhas apresentavam o inconveniente de se inutilizarem com frequência devido à alta
temperatura a que eram sujeitas, por ficarem em contacto com a carga.
Nas armas actuais, a inflamação efectua-se pelo choque do percutor, que está alojado no interior da
culatra, contra a escorva do cartucho.
b. Mecanismo de Percussão
As condições a que deve satisfazer um mecanismo de percussão são:
- não permitir o disparo sem que a culatra esteja fechada;
- ser de funcionamento seguro;
- não originar desvios da arma;

II - 23
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

- ser simples, robusto, fácil de armar e desarmar.


O sistema de inflamação deve satisfazer às seguintes condições:
- produção de fogo instantânea e certa;
- comunicação rápida do fogo à carga.
O sistema de percussão actualmente usado é conhecido por
percussão com mola espiral (Fig. II-5-3), tendo como órgãos
principais o percutor (1) e a mola (2), inseridos num canal da
culatra (3), ficando o primeiro armado pela prisão num dente
do mecanismo de disparar, o armador (4).
Fig. II-5-3
As molas devem ser muito resistentes e muito elásticas para
que se não dobrem nem deformem e devem assegurar uma força viva suficiente para obter a detonação
da escorva.
c. O Percutor
O percutor deve igualmente ser muito resistente e elástico para não sofrer deformações permanentes. É
geralmente de aço macio temperado. A sua energia de choque depende da violência da distensão da
mola e da sua própria massa, razão que leva a aumentá-la, aplicando-lhe uma outra peça, a que se
chama cão.
Actualmente, ainda existem, em armas de caça e em algumas pistolas e metralhadoras, mecanismos de
percussão com mola laminar.
Ao abrir a culatra, o percutor arma pelo escorregamento de duas superfícies helicoidais existentes,
uma no percutor ou no cão (peça ligada a ele intimamente) outra no obturador, de modo que se
produza o retrocesso do percutor enquanto o obturador executa o movimento de rotação.
Ao fechar a culatra, o percutor arma pela prisão de um dente do percutor ou do cão, num dente
existente no fundo da caixa da culatra – dente do armador – de forma que quando aquela avança o
percutor é obrigado a ficar para trás.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.
A ponta do percutor deve ser esférica para evitar a perfuração da escorva.
O comprimento da parte da ponta que se salienta da cabeça do obturador deve ser rigorosamente
constante para que a percussão nem seja insuficiente (caso do percutor gasto ou amolgado na ponta)
nem a escorva seja perfurada (se é demasiado comprido), em vez de percutida, dando origem a fuga de
gases pela retaguarda.
Como se compreende, estes efeitos de má percussão podem não ser devidos apenas ao percutor pelo
que deve ser rigorosamente determinada a chamada folga da câmara-culatra que é fundamental para
o bom funcionamento da arma.
d. O Cão
Como anteriormente dissemos, o cão é a peça do mecanismo de percussão que se destina a aumentar a
massa do percutor ou a estabelecer a ligação entre este e o armador, permitindo que aquele se arme
automaticamente com a rotação da culatra, ficando depois retido pelo armador.
Vimos também que nas antigas armas com fecho de percussão, o cão era a peça que accionada pela
mola real, ia ferir a cápsula fulminante.
Ex: Carabina Enfield 14 mm M/960 (GBR).
Mais tarde, com a adopção do cartucho completo, passou a ser a peça que ia actuar no percutor,
fazendo-o avançar.
Ex: Carabina Snider 14 mm M/873 (GBR).

II - 24
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Nalgumas armas, o cão tem um dorso que se desloca numa fenda da caixa da culatra e impede que ele
tenha movimento de rotação e onde, em certos modelos, está alojado o mecanismo de segurança.
Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/96 (AUT).
Noutras, como por exemplo a Esp Mauser Esp 7,9 mm M/937-A, o cão não tem aquele dorso mas o
seu movimento de rotação é impedido por um talão que tem inferiormente e que desliza num entalhe
cavado no fundo da caixa da culatra, destinado a estabelecer a ligação do percutor com o armador.
Nesta arma a diminuição da massa do percutor é compensada pelo aumento de força da sua mola.

6. SEGURANÇA
O mecanismo de segurança destina-se a evitar os disparos
fortuitos da arma, quando esta se encontra carregada ou
armada.
Os sistemas usados são os que a seguir se descrevem:
a. Por imobilização do percutor (Fig. 53)
A mola do percutor fica impedida de funcionar mas
comprimida, consistindo o sistema na utilização de
uma peça (aba da patilha do fecho de segurança (1) ) Fig. II-5-4
que se interpõe entre o percutor (2) e o cão, ou entre aqueles
e o obturador (3).
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A
b. Por distensão da mola
(1) Para a frente
Por deslocamento para a frente de uma das suas
superfícies de apoio. A mola do percutor fica
parcialmente distendida e sem força para fazer o
percutor avançar. Fig. II-5-5

Ex: Esp Paravicini Carcano 6,5 mm M/891 (ITA ).


(2) Para a retaguarda (Fig. 54)
Por deslocamento para a retaguarda de uma das suas superfícies de apoio. A mola do percutor fica
parcialmente distendida e sem força para fazer o percutor avançar.
Ex: Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889 (SWI)
c. Por imobilização do cão e/ou ferrolho
O mecanismo de segurança encontra-se montado na caixa da culatra. Uma peça que se torna saliente
dentro da caixa da culatra, impede o avanço do cão, se este estiver armado, ou do próprio ferrolho,
mesmo que manobrado pelo atirador.
Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917; Esp Winchester-Hotchkiss 11,6 mm M/879 (USA).
d. Por imobilização do mecanismo de disparar
Há armas em que o mecanismo de segurança não se encontra na culatra móvel nem actua sobre ela.
Encontrando-se na caixa da culatra, actua imobilizando o gatilho ou o armador.
Esp Guedes-Steyr 8 mm M/886 (POR).
e. Por indicador de carregamento
Algumas armas não empregam mecanismos de segurança mas apenas um indicador, para se verificar
se o percutor está, ou não, armado.
Ex: Esp Martini-Henry 11,6 mm (GBR).

II - 25
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f. Por posição intermédia do cão


As armas de fechos de pederneira, de percussão e algumas das primeiras armas de retrocarga possuíam
um entalhe intermédio na noz do cão. Puxando o teiró para essa posição intermédia, o entalhe
imobilizava o gatilho. Era utilizado para prevenir disparos involuntários durante as operações de
carregamento ou antes de ser necessário disparar a arma. Ainda é usado nalgumas armas com cão.
Carabina Snider 14 mm M/873 (GBR); Esp Winchester 7,7 mm M1895 (USA)

7. EXTRACÇÃO
É a operação pela qual o invólucro do cartucho detonado é retirado da câmara. Este mecanismo deve
obedecer às condições normais de simplicidade solidez e segurança.
Deve estar organizado de tal forma que a extracção se faça, de início progressivamente, para melhor
vencer a aderência do invólucro às paredes da câmara e depois com maior velocidade para facilitar a
ejecção.
Os extractores podem classificar-se em:
a. De garra
(1) De mola
São constituídos por uma mola laminar disposta segundo a geratriz do obturador e a este ligada.
Na face anterior está aberta a garra que é oblíqua para que possa passar por cima da base do
cartucho e introduzir-se na garganta ou no rebordo e fixá-lo à cabeça do obturador.
Ex: Esp Albini 11 mm M/867 (BEL)
(2) Com mola
São constituídos por duas peças, um extractor e uma mola flexível para permitir à garra fixar o
cartucho e simultaneamente rígida para que a garra não largue o cartucho.
Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917
b. De alavanca
São formados por uma alavanca inter-fixa de que um dos braços constitui a garra e outro sirva para
receber a acção, em geral da culatra que lhe dá o movimento.
Ex. Carabina Guedes Steyer 14 mm M/885
c. De mola
São pouco usados por o seu funcionamento depender da acção de uma pequena mola que em pouco
tempo perde a força, encontrando-se quase exclusivamente nas armas de caça.
Ex: Esp Berdan II 10,65 mm M/871 (RUS)
LG 40 mm M/79 (USA)

8. EJECÇÃO
É a operação pela qual, o invólucro, uma vez extraído, é expulso da arma.
Na maioria das armas este mecanismo encontra-se alojado na caixa da culatra.
Como todos os mecanismos deve ser sólido, simples e de funcionamento garantido, devendo produzir a
expulsão rápida do invólucro detonado de forma que o atirador não seja atingido.
Tipos de Ejectores:
a. Ponta saliente na caixa da culatra
Consiste em geral num dente saliente na parte interna da caixa da culatra, que desliza por uma fenda
no cilindro do obturador, de forma a vir aparecer na cabeça deste, encostando-se à base do cartucho,
antes de terminar o recuo da culatra.

II - 26
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Como se encontra em posição oposta ao extractor, o invólucro ao encontrá-lo é obrigado a fazer uma
rotação em torno da garra daquele.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.
b. Alavanca
Podem ser alavancas inter-fixas ligadas à caixa da culatra, sendo a culatra móvel, (que durante o seu
movimento de recuo faz subir um dos braços), que vai bater de encontro ao invólucro, expulsando-o.
Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/896.
Na Espingarda Carcano 6,5 mm M/891 (ITA), o ejector está ligado à cabeça do armador e fica saliente
no fundo da caixa da culatra.
c. Ligado à culatra móvel
Quando se encontra na culatra móvel, consta em geral duma peça que no final do movimento, se abre
e torna saliente, dando então a pancada no invólucro.
Ex. Esp Mannlicher-Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT).
Como veremos ao estudarmos as armas automáticas, quando o sistema de extracção é o de alavanca,
esta desempenha as funções de extractor e de ejector.
A direcção de saída do invólucro é determinada pela posição relativa do extractor e do ejector,
devendo ficar num plano oblíquo - cerca de 45º - para evitar que atinja o atirador ou quem lhe estiver
próximo.

9. DETENÇÃO
É a operação pela qual a culatra é detida no seu movimento para a retaguarda e que impedindo-lhe a saída
a faz parar na posição correcta que permite o carregamento.
Podem existir os seguintes tipos de detenção:
a. Nas culatras de bloco
Nestas culatras, o papel do detentor é desempenhado por uma cavilha ou um ressalto da caixa da
culatra que limita o movimento de rotação.
Ex. Esp Albini M/867 11 mm (BEL); Esp Snider 14 mm (GBR).
b. Nas culatras cilíndricas ou de ferrolho
Nestas o detentor pode encontrar-se:
(1) Na culatra
O detentor é formado por uma anilha aparafusada ao corpo do ferrolho – o batente – sendo a
espera constituída pelos topos das guias do dorso do cão existente na parte superior e posterior da
caixa da culatra.
Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/885.
(2) Na caixa da culatra
O detentor consta de um dente – a espera – que se encontra saliente dentro da caixa, no qual um
dos travadores da culatra se vem encostar, desempenhando o papel de batente.
Este detentor pode ser recolhido por meio da pressão exercida, num botão especial, permitindo
assim a extracção voluntária da culatra.
Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937.
No caso da Esp Berdan II 10,67 mm (RUS), a espera está integrada no braço do ejector, sendo
este de alavanca,
(3) Na cabeça da culatra

II - 27
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

O detentor é um ressalto da cabeça da culatra que choca com a espera na caixa da culatra. É
necessário pressionar a cabeça da culatra, no sentido perpendicular ao do eixo da arma, para a
libertar da acção de uma mola da prisão que se encontra na caixa da culatra:
Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917.
(4) No mecanismo de disparar
Neste caso o detentor é o próprio armador, tendo a culatra um veio cavado à frente do entalhe do
cão, para possibilitar a manobra da mesma. Para retirar a culatra da sua caixa, basta pressionar o
gatilho e retirar a culatra pela retaguarda.
Ex: Esp Mosin-Nagant 7,62 mm Mod 1891/30.

II - 28
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 6

MECANISMOS

1. MECANISMO DE DISPARAR
Dá-se o nome de mecanismo de disparar ao conjunto de peças destinadas a provocar o disparo
voluntário da arma.
Este estudo anda ligado ao de percussão. Alguns autores juntam os dois mecanismos, disparar e
percussão, sob o nome de aparelho inflamador.
Este mecanismo de disparar compõe-se de gatilho, armador e mola obedecendo às seguintes condições:
- Não dar lugar a disparos fortuitos;
- Ser de funcionamento seguro;
- Avisar o atirador da iminência do disparo;
- Permitir o disparo sem oscilações da arma;
- Ser simples e robusto.
Quando estudámos o mecanismo de percussão, vimos que nas armas actuais a mola do percutor é
automaticamente comprimida e o percutor
automaticamente armado, quando se abre a culatra.
Para que o percutor de mantenha nessa posição é ele,
ou o cão, provido na parte inferior de um dente
chamado entalhe de armar, que se encosta a um
outro existente no armador, chamado dente do
armador, que se acha saliente no interior e fundo da
caixa da culatra.
Assim, estando a mola do percutor comprimida, basta
fazer recolher o dente do armador para que o percutor
avance. O armador é mantido no seu lugar por meio Fig. II-6-1
de uma mola de modo que aquele efeito só se obtém se a resistência dessa mola for vencida, o que se
consegue actuando no gatilho (Fig. II-6-1).
O armador é uma alavanca (1) tendo numa das extremidades um dente (2) - Dente do armador - que uma
mola (3) chamada mola do armador, obriga a estar sempre saliente no fundo e no interior da caixa da
culatra. A parte anterior desse dente é cortado em plano muito inclinado para a culatra móvel poder
escorregar livremente sobre ele. A parte posterior é cortada verticalmente para poder executar a prisão do
percutor por intermédio do entalhe de armar (4). A outra extremidade de armar está ligada ao gatilho (5).
Este é formado por uma alavanca interfixa situada no plano de simetria da arma, tendo uma das
extremidades (6) encostada à parte inferior da caixa da culatra e a outra (7) livre. Esta, de forma especial,
tem o nome de cauda do gatilho; actuando nela, obriga-se o dente do armador a baixar e liberta-se o
percutor.

II - 29
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Para que não se desfaça a pontaria no momento do disparo, a


extremidade superior do gatilho é geralmente talhada com a
forma duplamente curvilínea, - corcovas - de modo que, o
atirador ao apontar, deve primeiro “tirar a folga ao gatilho” (Fig.
II-6-2) que corresponde a encostar também à caixa da culatra a
segunda curva do gatilho ou corcova posterior (8).
Nesta posição, a prisão entre o dente do armador e o entalhe de
armar é mínima, pelo que é suficiente um ligeiríssimo
Fig. II-6-2
esforço sobre o gatilho para que o percutor fique livre (Fig.
II-6-3).
Algumas armas de precisão utilizam com o mesmo fim dois
gatilhos: um de segurança e outro de tiro; o primeiro leva o
armador, por intermédio de um sistema de alavancas, a prender-se
no segundo numa posição que está quase a libertar-se dele, pelo
que este só precisa de um esforço muito pequeno para libertar o
armador.
Este sistema é conhecido pelo nome “de cabelo” por empregar
molas como as de cabelo dos relógios.
Fig. II-6-3
Nos mecanismos de percussão com mola laminar, o mecanismo de
disparar está intimamente ligado àquele, mas faremos o seu estudo quando tratarmos dos revólveres.

2. MECANISMO DE REPETIÇÃO
a. Generalidades
Dá se o nome de mecanismo de repetição ao conjunto de peças de uma arma que permite ao atirador
executar o carregamento e o disparo de vários tiros, sem que para cada um seja necessário ir buscar o
cartucho às cartucheiras, do que resulta um aumento considerável da velocidade de tiro.
A alimentação duma arma compreende um ciclo composto pelas seguintes operações:
- Carregamento: colocação de um certo número de cartuchos no depósito da arma;
- Transporte: deslocação dos cartuchos, dentro do
depósito, até à sua entrada;
- Distribuição: operação pela qual, apenas um
cartucho de cada vez fica em condições de poder
entrar na câmara;
Fig. II-6-4
- Apresentação: colocação do cartucho em frente da
peça (geralmente a culatra) que o introduz na câmara;
- Introdução: colocação do cartucho na câmara.
b. Sistema de alimentação
Conforme a sua organização para a alimentação, as armas
podem classificar-se:
(1) Armas de canos múltiplos.
Foi um sistema muito divulgado nas primeiras armas
de fogo. Os diversos canos moviam-se em torno de um
eixo comum, indo colocar o respectivo ouvido em Fig. II-6-5

correspondência com o mecanismo de percussão que servia cada cano. As pistolas deste tipo eram
II - 30
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

chamadas de pimenteiros (pepperbox) (Fig. II-6-4), dada a sua semelhança com os moinhos
pimenteiros domésticos da altura. A metralhadora Gatling M861 (USA) (Fig. II-6-5), sendo,
apesar da sua elevada cadência de tiro, uma arma ordinária de repetição, usava também um
sistema de rotação manual de 10 canos.
Actualmente, este sistema tem aplicação nas armas de caça, com 2 a 4 canos sobrepostos e/ou
justapostos.
Ex: Pistola Mariette Pepperbox 1837 de seis canos (GBR).
(2) Armas de câmaras múltiplas (Fig. II-6-6)
Este sistema acha-se limitado aos revólveres. Consiste
num único cano sem câmara e na retaguarda um
tambor, com várias câmaras. O movimento de rotação
do tambor coloca as câmaras, sucessivamente, em
correspondência com o cano.
Ex. Revólver Americano 7,65 mm
Fig. II-6-6
(3) Armas de depósito
É o sistema hoje usado em todas as espingardas.
Podem classificar-se em dois grupos:
(a) Depósitos independentes
Fig. II-6-7
São transportados nas cartucheiras e só no
momento oportuno se juntam à arma.
Compreendem dois sub-grupos:
1. Aceleradores (Fig. II-6-7)
Não suprimem nenhuma operação de
carregamento mas simplificam a mais
morosa que é a de tirar o cartucho da
cartucheira e introduzi-la na arma.
Consistiam essencialmente, em colocar a
cartucheira próximo da câmara da arma, por
meio de um dispositivo apropriado. Fig. II-6-8

Ex: Esp Berdan I 10,65 mm M/868 (RUS), utilizou como acelerador, a cartucheira Kruka
com capacidade par 10 cartuchos.
2. Carregadores automáticos
Exigem para a sua adopção, modificações nas
armas que com a sua adaptação se
transformam em armas de repetição
funcionando de forma que a introdução do
cartucho é feita automaticamente.
Como exemplos citam-se os carregadores
Lowe (Fig. II-6-8), com capacidade para 12 Fig. II-6-9
cartuchos e os carregadores Lee com
capacidade para 8 cartuchos (Fig. II-6-9).
(b) Depósitos fixos

II - 31
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Este sistema que o cartucho metálico permitiu desenvolver, é de origem americana tal como
as primeiras armas de repetição.
Os depósitos fixos classificam-se, segundo a sua posição em relação à arma, em:
1. Depósito no fuste (Fig. II-6-10)
Consiste num ou em dois tubos encaixados no fuste, colocados respectivamente, ou por
baixo e paralelamente ao cano, ou num lado e outro do cano.
Neste tubo ou tubos se
introduzem os cartuchos,
de modo que a base do
cartucho anterior assenta
sobre a ponta do cartucho
seguinte.
Uma mola (1) e um êmbolo
(2) constituindo um
impulsor, impelem os
cartuchos para o elevador
colocado à entrada do
depósito, isto é, executam o Fig. II-6-10
transporte.
Uma peça especial, vulgarmente chamada detentor (7) executa a distribuição impedindo
que, de cada vez, saia mais do que um cartucho do depósito.
O elevador (5) coloca o cartucho no caminho da culatra (4), fazendo a apresentação e é a
culatra móvel, no movimento em que se fecha, que vai introduzir o cartucho na câmara
executando, portanto, a introdução.
Os elevadores podem ser:
a. De Gaveta
São um espécie de bloco de forma prismática, que superiormente tem um cavado para
receber o cartucho, e inferiormente está ligado a uma alavanca que lhe dá o
movimento, por forma a ficar na posição superior quando a culatra está aberta.
A alavanca que dá o movimento ao elevador, pode ser accionada pela alavanca de
manobra (Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873) ou pela própria culatra.
b. De Cucharra
Constam duma espécie de colher móvel em torno de um eixo horizontal perpendicular
ao eixo do cano, cujos movimentos são comandados pela culatra, elevando-se quando
esta abre e baixando quando a culatra fecha (Fig. 63).
Para o efeito, a cucharra dispõe de um dente (8) e uma lingueta (10) contra os quais
vem bater um entalhe da culatra.
Ex: Esp Kropatcheck 8 mm M/886.
O sistema de depósito no fuste , além dos inconvenientes relativos à morosidade de
qualquer sistema de carregamento sucessivo, tem mais os seguintes:
- Torna as armas demasiado pesadas;
- Exige uma organização complexa do mecanismo de repetição;
- Desloca o centro de gravidade da arma provocando fadiga ao atirador;
- Origina variações no equilíbrio da arma produzindo irregularidade no tiro;

II - 32
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

- Aquece os cartuchos devido à proximidade do cano;


- Não permite o emprego de cartuchos com projéctil pontiagudo.
2. Depósito no couce (Fig. II-6-11)
Consiste num tubo embutido no couce em todo o comprimento deste e que se abre
anteriormente na caixa da culatra,
à altura da câmara.
Algumas armas, para aumentar o
número de cartuchos, têm o couce
inteiramente cavado alojando-se
os cartuchos longitudinalmente,
uns sobre os outros, os quais, por Fig. II-6-11
acção duma mola, vão descendo
de forma a ocupar o lugar dos que se vão gastando, no tubo que conduz à caixa da culatra.
3. Depósito central ou sob a caixa da culatra
Foi Mannlicher, em 1888 que realizou o depósito fixo na caixa da culatra, para
carregamento simultâneo.
Consiste o sistema de
depósito central, numa caixa
metálica, aplicada ao fuste da
arma numa cavidade inferior
à caixa da culatra, onde se
introduzem os cartuchos, ou
soltos - Sistema Mauser -
(Ex: Esp Mauser 7,9 mm
Fig. II-6-12
M/937-A) (Fig. II-6-12), ou
colocados num carregador - Sistema Mannlicher - (Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm
M/896) (Fig. II-6-13).
O depósito pode estar recolhido no fuste ou ser saliente; quando os cartuchos entram no
depósito com o carregador, um
fixador, constituído por um dente
saliente na parede do depósito,
fixa o carregador na devida
posição.
Dentro do depósito há um
elevador que consta de uma peça
– o transportador – onde se
apoiam inferiormente os
cartuchos e que uma mola ou
Fig. II-6-13
sistema de molas apoiadas no
fundo do depósito, obriga a subir levando os cartuchos até à altura da câmara, isto é,
executa o transporte e a apresentação.
Para que os cartuchos não saiam do depósito e para garantir a distribuição, há ainda o
detentor que ou é uma espera móvel colocada na parte superior do depósito [Ex: Esp

II - 33
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Mannlicher-Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT)] ou um estrangulamento das paredes


superiores do depósito (Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A).
Nas armas em que o carregador entra no depósito – Sistema Mannlicher – o detentor é
constituído pela dobragem dos bordos do carregador aos quais se dá o nome de orelhas
do carregador.
Os cartuchos são levados para a câmara – introdução – pela culatra móvel.
O sistema mais utilizado é o depósito central fixo de carregamento simultâneo.
O carregamento faz-se geralmente pela parte superior do
depósito, depois de aberta a culatra móvel, por intermédio de
transportadores que na Mauser se chamam lâminas
carregadoras (Fig. II-6-14). Cada lâmina leva cinco cartuchos
e entra no chanfro de carregamento existente na caixa da
culatra. Os cartuchos entram para o depósito por pressão
exercida sobre eles com os dedos e a culatra ao fechar ejecta
automaticamente a lâmina.
É de toda a vantagem que os mecanismos de repetição tenham Fig. II-6-14
um dispositivo destinado a avisar que não existem mais
cartuchos no depósito. O avisador de carregamento mais simples é o utilizado na Mauser
que consiste numa nervura colocada no transportador do elevador e contra a qual a culatra
móvel vai bater, não podendo fechar, quando o depósito está
vazio.
No sistema Mannlicher, o depósito é aberto no fundo o que
permite a queda do carregador logo que consumido o último
cartucho.
Geralmente, para que a introdução dos cartuchos na câmara
seja facilitada, encontram-se na caixa da culatra ou na entrada
da câmara, rampas ou planos inclinados que os guiam.
Fig. II-6-15
Alguns modelos de depósitos centrais utilizavam um
sistema rotativo, com alvéolos individuais [Ex: Esp
Steyr-Spitalsky M/879 (AUT)] (Fig. II-6-15) ou com
um alojamento em espiral [Ex: Esp Mannlicher-
Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT)] (Fig. II-6-16). Este
último, apesar de bastante eficiente, era muito
dispendioso e complexo, apenas sendo adoptado em
Fig. II-6-16
pequenas quantidades pelo exército grego.
Não obstante, como se disse, o carregamento se fazer geralmente
pela parte superior do depósito, depois de aberta a culatra móvel, há
modelos em que o carregamento do depósito é feito com a culatra
fechada tendo neste caso uma abertura lateral.
Ex: Esp Krag-Jorgensen M/894 6,5 mm (NOR) (Fig. II-6-17).

Fig. II-6-17

II - 34
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 7

CORONHA

1. GENERALIDADES
A coronha é a parte da espingarda destinada a alojar e a proteger todas as peças que a constituem,
permitindo ao mesmo tempo o seu fácil manejo.
São em geral de madeira de boa qualidade , sem nenhum tipo de nó, sendo a de nogueira a preferida,
porque embora cara, é resistente e leve, apesar de se alterar com a humidade.
Uma boa alternativa são as coronhas de madeira laminada e colada depois com resinas epoxídicas, que
permite o emprego de madeiras mais baratas e leves, além evitar empenamentos por acção da humidade e
defeitos internos.
As coronhas de plástico moldado por injecção são também muito comercializadas, oferecendo menores
pesos, menores alterações à chuva e à humidade, a par de uma boa resistência e durabilidade, a custos
inferiores às coronhas de madeira. Todavia, alteram-se com elevadas temperaturas e são menos estéticas.
Actualmente, adoptam-se também coronhas de materiais compósitos, como sejam a fibra de vidro, a
espuma de poliuretano, fibras de carbono, kevlar, resinas epoxídicas, entre outros. São muito leves,
precisas e inalteráveis às condições meteorológicas. Todavia, são muito mais dispendiosas, mais
demoradas de elaborar e mais frágeis, necessitando igualmente de “esqueletos” internos de alumínio ou
outros metais, para ganhar resistência. Usam-se geralmente em armas de precisão para tiro desportivo e
franco-atiradores.

2. DIVISÃO
As coronhas dividem-se em três
partes (Fig. II-7-1): 5 4

a. Fuste (1)
É a parte que aloja o cano, a 2
1
caixa da culatra e os vários 6 3
Fig. II-7-1
mecanismos a esta ligados,
para o que tem na parte superior um cavado destinado ao cano e várias montagens destinadas às outras
peças.
A sua forma exterior deve permitir o manejo da espingarda como arma de mão de estocada ou ponta,
de haste e facilitar a pontaria dando boa pega à mão esquerda.
b. Delgado (2)
Serve para segurar a arma com a mão direita, sendo em geral de secção oval.
Na parte que o separa do couce deve ter inferiormente uma saliência a que se dá o nome de corcova
(3), cuja a finalidade é dar bom apoio à mão do atirador e superiormente, um ressalto para o apoio do
dedo polegar, a que se chama dedeira (4).
O ângulo que o eixo do delgado faz com o eixo do cano, chama-se ângulo de coronha.
c. Couce (5)
O couce serve para apoiar, com firmeza, a arma contra o ombro do atirador e para o apoio da arma no
solo. É a parte mais reforçada da coronha, terminando posteriormente por uma face de grande
superfície chamada soleira (6).
II - 35
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

O couce pode ser cavado interiormente para alojamento de alguns acessórios da arma, destinados ao
serviço de limpeza e conservação.
As coronhas são geralmente feitas de uma só peça. Todavia, podem também ser constituídas por duas
partes distintas, em que a caixa da culatra separa o fuste do resto da coronha, o que as torna mais
económicas e facilita o seu fabrico e montagem.
Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917; Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA).

3. CONDIÇÕES
As coronhas devem satisfazer as seguintes condições:
- Permitir um bom manejo da arma, tanto como arma de fogo como arma de estocada;
- Permitir uma pontaria fácil;
- Atenuar o efeito do recuo;
- Serem robustas sem ser pesadas.

II - 36
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 8

GUARNIÇÕES E ACESSÓRIOS

1. GUARNIÇÕES
Guarnições duma arma são todas as peças secundárias que completam a sua constituição e que a sua
utilização faz aumentar o rendimento da arma.
As principais guarnições nas armas ordinárias são as seguintes:
a. Braçadeiras
Destinam-se a ligar o cano ao fuste.
Geralmente são anéis de aço, fechados para não alterar as vibrações do cano. Podem também ser de
charneira, o que implica a existência de um parafuso para maior ou menor aperto.
Para evitar que as braçadeiras saiam do seu lugar, entalham-se no fuste umas molas chamadas esperas
das braçadeiras.
b. Parafusos de fixação da caixa da culatra ao fuste
Conjuntamente com as braçadeiras, fazem estes parafusos a ligação da arma à coronha.
Os furos da coronha por onde passam os parafusos devem ser revestidos de pequenos tubos metálicos
para protecção da madeira e fixação das partes aparafusadas.
c. Chapa do couce
Serve para reforçar e proteger a soleira da coronha, impedindo que parta nos choques inevitáveis no
solo. A sua forma é variável conforme os modelos das armas mas geralmente tem um revestimento na
parte superior chamado frente; segue-se uma parte curva, o talão, depois a soleira que termina pelo
bico. Para dar um melhor apoio ao ombro, a soleira pode ser serrilhada.
Algumas armas, como por exemplo, muitas espingardas caçadeiras, possuem uma chapa de couce em
borracha ventilada, com a função adicional de amortecer parte da força de recuo que chega ao
ombro do atirador.
Ex: Carabina Springfield 7,65 mm M/926.
d. Zarelhos
Servem para a fixação da bandoleira; a sua posição é variável, encontrando-se na parte inferior e no
plano simétrico da arma, ou nas faces laterais.
A Esp Mauser 7,9 mm M/937-A, dispõe de dois zarelhos, um lateral e outro axial, fixos à braçadeira
inferior; combinados com duas pastilhas existentes no couce da coronha permitem duas posições de
transporte da arma utilizando a bandoleira.
A Esp 7,7 mm Lee-Enfield M/917, além dos dois zarelhos para a bandoleira, possui um terceiro para
permitir o ensarilhar das armas.c
e. Apoio de desarmar
Em certas armas existe uma cavidade metálica, embutida na coronha, destinada a servir de apoio ao
percutor, para armar ou desarmar a culatra.
f. Protector do ponto de mira
Destina-se a proteger o ponto de mira.
g. Bandoleira
É destinada a facilitar o transporte da arma, podendo ser de couro ou de tela.

2. ACESSÓRIOS
II - 37
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

São os objectos destinados ao serviço, limpeza, conservação e manutenção das armas e ainda as
ferramentas indispensáveis para montar e desmontar a arma.
Os principais são:
a. A vareta
Destina-se, a extrair um invólucro detonado, ou cartucho que o extractor não conseguiu retirar da
câmara.
Uma das extremidades da vareta chama-se cauda e tem aberta uma rosca para a sua fixação ao fundo
do canal do fuste.
A outra extremidade chama-se cabeça e tem um calibre quase igual ao do cano. Nela está aberta uma
fenda para facilitar o seu desenroscamento; normalmente usam-se varetas feitas de vários pedaços que
se aparafusam uns aos outros.
A Esp Mauser 7,9 mm M/937-A, emprega só meia vareta, havendo necessidade de reunir duas armas
para se obter uma vareta completa.
b. Estojo de limpeza
Consta em geral de:
(1) Uma espátula em aço, que serve para a limpeza interior da caixa da culatra e também para re tirar
e pôr o fundo do depósito;
(2) Uma almotolia em aço e contendo óleo;
(3) Uma corrente de limpeza formada por elos de aço destinada a fazer passar pelo interior do cano
os escovilhões ou mecha de limpeza;
(4) Dois escovilhões, um em cerdas para a lubrificação e outro de cerdas e arame de latão para a
limpeza;
(5) Quatro mechas de limpeza.
c. Protector de boca
Destina-se a tapar a boca do cano quando a arma não está em serviço.
Pode ser metálico, de materiais polímeros ou resinosos, de lona ou
mesmo de couro. Algumas armas que não possuem protector do ponto
de mira fixo, possuem um protector amovível de ponto de mira e de
boca. É o caso da Esp Mauser 7,9 mm M/937 (Fig. II-8-1).
Fig. II-8-1

d. Capa da culatra
De lona ou de couro, são apenas usadas quando a estanquicidade não esteja garantida.
e. Silencioso
Destina-se a diminuir o efeito sonoro produzido pela detonação. Constituindo a detonação uma
consequência do choque violento dos gases da pólvora
à saída da boca do cano com o ar, estudaram-se várias
soluções tendentes ao enfraquecimento daquele
choque.
Assim, nos silenciosos de válvula (Fig. II-8-2), os
gases, logo que o projéctil P abandona o dispositivo, Fig. 65

actuam sobre o mecanismo M que está ligado a uma válvula V, que tapa o orifício de saída. Os gases
escapam-se então, lentamente, pelos orifícios que
existem no corpo do aparelho.
No sistema de câmaras há várias modalidades.

II - 38 Fig. 66
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Umas, em que além das câmaras há também orifícios de escape. Ex: Silencioso Borreson (Fig. II-8-1).
Outras, só com câmaras, onde os gases se vão expandindo, diminuindo progressivamente a sua tensão.
Um dos silenciosos, considerado mais perfeito, é o Maxim, em que o movimento rectilíneo dos gases
é transformado em movimento de rotação, criando-se verdadeiros remoinhos dentro de cada uma das
câmaras para que ao escapar-se da última, a sua velocidade e capacidade de dilatação são fracas,
fazendo-se suavemente a mistura com o ar.
f. Freio de boca
Destina-se a atenuar o recuo da arma. Os freios de boca foram inventados com a finalidade de se
obterem menores velocidades de recuo da arma, aumentando assim as suas condições de precisão. A
sua aplicação, não se generalizou a todas as armas portáteis devido aos seguintes inconvenientes:
- Difícil conservação;
- Provocarem o desequilíbrio da arma;
- Produzirem fenómenos de refrangibilidade devido ao ar quente em volta do aparelho;
- Não permitirem o armar da baioneta.
Apresentam contudo algumas vantagens importantes, nomeadamente “coices” bastantes mais fracos e
por isso menor fadiga do atirador.
g. Tapa chamas
Atenua a formação do clarão à boca da arma, resultante do encontro dos gases que se formam no
interior do cano com a atmosfera.
h. Supressores combinados
Acessórios recentemente concebidos, que combinam as características dos silenciosos e dos tapa -
chamas. São utilizados nas armas de precisão dos atiradores especiais, onde se torna especialmente
importante não revelar a sua posição, seja pelo som, seja pelo clarão à boca.

II - 39
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 9

REVÓLVERES

1. GENERALIDADES
Os revólveres são, como vimos, armas de repetição do sistema de câmaras múltiplas, destinados a fazer
fogo instintivamente a curtas distâncias, empregando um grande poder derrubante.
O revólver nasce com a necessidade de criar uma arma de projecção de fogo, portátil e ligeira, que dote o
combatente, no combate próximo, com capacidade de repetição.
Este novo tipo de arma, numa fase inicial, confunde-se com outra,
caracterizada por alguma capacidade de repetição através de canos
múltiplos rotativos (4, 5, 6 ou mais canos), denominada de pepperbox
(pimenteiro) (Fig. II-9-1).
Fig. II-9-1
O funcionamento do revólver resume-se, na prática, a um conjunto de
câmaras abertas num cilindro móvel colocado numa posição paralela ao eixo do cano para que, através
de um mecanismo simples, as mesmas (câmaras) sejam colocadas em concordância com a alma do cano.
Para se realizar o tiro exige-se que o cilindro móvel gire mas que pare no momento preciso em que se faz
a coincidência do eixo da câmara a disparar com o do cano para que, nesse instante, o cão efectue a
percussão sobre a escorva, produzindo a sua detonação e posterior inflamação da carga do projéctil.
Os primeiros revólveres que se conhecem surgem no final do século
XVI - início do século XVII, produzidos na região do actual Sul da
Alemanha, com fechos de roda (Fig. II-9-2) e pederneira.
No entanto, 1818, é o ano onde pela primeira vez se da o emprego do
primeiro revólver com sistema de rotação de cilindro de forma não
Fig. II-9-2
manual. O seu inventor foi o americano Elisha Collier, de Boston,
que obteve em 1818 a patente inglesa nº 4315, válida por catorze anos, para uma arma de fogo que
combinava um só cano com várias câmaras permitindo uma sucessão de disparos com um só
carregamento (Fig. II-9-3).
A rotação do cilindro era conseguida por meio de uma mola que
estava ligada a este e que ficava em tensão quando, de forma
manual, se rodava o cilindro, em sentido contrário ao que este
assumia durante a fase do disparo. No momento de armar o cão
martelo o cilindro rodava automaticamente procedendo ao
alinhamento, de forma sucessiva, das câmaras com o cano. Fig. II-9-3

Este sistema, apesar de manter os grandes inconvenientes dos fechos de pederneira, foi uma
importantíssima fonte de inspiração para Samuel Colt desenvolver o primeiro revólver de tambor com
rotação automática e fecho de percussão.
O aparecimento das pistolas semi-automáticas, no final do século XIX, retirou protagonismo a este tipo
de armas. Presentemente, quase todos os países preferem as pistolas aos revólveres, não obstante serem
atribuídas a estes algumas vantagens como arma de defesa pessoal, que justificam uma análise mais
pormenorizada.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS REVÓLVERES


Os revólveres podem classificar-se quanto ao sistema de percussão e ao sistema de funcionamento.
II - 40
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

a. Segundo o sistema de percussão, os revólveres podem ser de :


(1) Cápsula fulminante
Este tipo de revólver nasce com a generalização dos fechos de percussão nas armas de fogo
ligeiras, na primeira metade do século XIX, como já vimos. Entre 1840 e 1850 todos os principais
exércitos adoptam, oficialmente, o sistema de percussão.
Apesar duma operação de carregamento mais longa que nas armas de pederneira, por ser
necessário com alguma precisão, colocar a cápsula na chaminé, o sistema de percussão tinha
menor custo e menor sujeição aos agentes atmosféricos.
O Colt Paterson (Fig. II-9-4) patenteado em 1836
por Samuel Colt em New Jersey, EUA foi o primeiro
revolver com este sistema, possuindo o cilindro com
seis câmaras de antecarga, com as respectivas
chaminés para colocação das cápsulas fulminantes.
Esta arma embora de fabrico e funcionamento Fig. II-9-4
complexo é a primeira em que a rotação do cilindro se dá pelo movimento de armar o cão não
sendo necessária a armação manual do mesmo.
O carregamento dos revólveres deste tipo comporta três fases:
(a) Carregamento das câmaras com pólvora através de um polverim;
(b) Carregamento dos projécteis nas câmaras, um a um, com apoio da alavanca de carregamento;
(c) Colocação das cápsulas nas chaminés do cilindro.
Este sistema de percussão permite quer a utilização de cilindro ogival, quer a utilização do
projéctil tradicional esférico. O sistema de carregamento leva cerca de 1 minuto. Com a adopção
dos cartuchos completos em cartão canelado, essa acção de carregamento passa para cerca de 20
segundos.
(2) Cartucho metálico de percussão lateral;
Este tipo de revolver é caracterizado por uma acção
lateral do cão sobre o cartucho metálico completo,
inventado pelo francês Casimir Lefaucheux que, em
simultâneo, criou o famoso revólver Lefaucheux (Fig.
II-9-5) em 1853.
No revólver de percussão lateral a percussão é obtida Fig. II-9-5
mediante uma haste (Fig. II-9-6), alojada no rebordo
ou garganta do cartucho, que ao golpear a cápsula fulminante
alojada no interior da base do cartucho, origina a deflagração da
carga propulsora.
A acção da haste é garantida pelo cão que se abate sobre ela
depois de accionado o gatilho. Estes cartuchos, pelas suas
especificidades obrigam, além de uma particular atenção no seu
manuseamento, a algum cuidado no processo de carregamento
da arma. Fig. II-9-6
(3) Cartucho metálico de percussão anelar;
Este tipo de revolver, patenteado pela primeira vez em 1857, com o Smith & Wesson Model 1
(Fig. II-9-7), evita a percussão lateral e seus inconvenientes. Continua a ser utilizado um cão
martelo que actua

II - 41
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

sobre o rebordo saliente da base da munição. O cartucho


adopta uma cápsula fulminante que passa a ocupar todo o
espaço do rebordo ou garganta do cartucho (Fig. II-9-8) (1).
Apesar dessa vantagem que
1 2 facilita e acelera o
carregamento, apresenta o Fig. II-9-7
inconveniente de não poder
ser utilizado em munições demasiado potentes pois as paredes do
rebordo sendo, necessariamente, finas, romperiam com cargas
propulsoras mais fortes.
Fig. II-9-8
(4) Cartucho metálico de percussão central
Este tipo de tipo de revólver, aparecido pela
primeira vez em 1873, com o Colt Peacemaker
(Fig. II-9-9), é dotado de um cão percutor em vez
de cão martelo, após a descoberta da percussão
central. O cartucho de percussão central (Fig. II-
9-8) (2), inventado por Hiram Berdan em 1866,
Fig. II-9-9
mantém-se perfeitamente actual. Hoje equipa
parte substancial dos revólveres em uso, podendo adoptar diferentes calibres e comprimentos.

b. Segundo o sistema de funcionamento, os revólveres podem ser de :


Na execução do tiro de repetição com revólver é necessário armar o cão e girar em simultâneo o
cilindro, até que o eixo de uma das câmaras fique no prolongamento do eixo da alma do cano,
imobilizando-se então o cilindro até que o cão se abata sobre a cápsula fulminante. Estas operações
podem ser organizadas de três maneiras:
(1) Tiro intermitente ou simples (Fig. II-9-10).
Nestes revólveres as operações a efectuar
manualmente são:
(a) Armar o cão;
(b) Disparar.
Ao exercer uma pressão manual retrógrada sobre o
teiró (9), o cão arma, ao mesmo tempo que o
cilindro gira automaticamente até ficar imobilizado.
Depois, é necessário premir o gatilho.
O cão (1), põe em movimento uma haste chamada
impulsor (2) que engrena numa cremalheira (3)
Fig. II-9-10
existente no cilindro (4) fazendo-o girar, até a
câmara coincidir com o cano.
O cão é retido pelo armador (5) que por sua vez é accionado pelo gatilho (6). A imobilização do
cilindro para a execução do tiro, é obtida por meio de um dente chamado a espera do cilindro (7)
existente no gatilho que encosta a uns batentes (8) existentes no cilindro. O cão ao ser armado
comprime a mola real (9).

II - 42
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Ex : Revólver Nagant Brevete


(2) Tiro contínuo (Fig. II-9-11)
Estes revólveres exigem um só movimento:
Disparar.
Do movimento do gatilho depende o do cão, o que
se consegue por meio da alavanca ou de um tirante
chamado peça de armar (9), de forma que o recuo
do gatilho provoque o recuo do cão, comprimindo
a mola real (10).
O impulsor (2) que faz girar o cilindro, está
também articulado com o gatilho, o qual possui,
como no anterior a espera do cilindro (7).
Fig. II-9-11
O cão ao chegar à sua posição mais recuada, como
não há armador e é, por meio de um dispositivo especial, abandonado pelo gatilho, vai, sob a
acção da mola real, ferir a cápsula fulminante.
(3) Duplo movimento ou sistema misto (Fig. II-9-12)
Nestes revólveres podem executar-se as duas
espécies de tiro:
Simples, armando o cão manualmente.
Contínuo, accionando simplesmente o gatilho.
São, na generalidade, revólveres de tiro contínuo a
que se juntou um armador. São os revólveres mais
usados pois reúnem as vantagens dos dois primeiros,
favorecendo a rapidez obtida pelo tiro contínuo
contra os alvos próximos, e a precisão obtida pelo
tiro simples contra alvos mais distantes, em que a
pontaria deve ser executada com cuidado. Fig. II-9-12

Ex: Revólver Abadie Brevete

3. ORGANIZAÇÃO DOS REVÓLVERES


Normalmente um revólver apresenta as seguintes partes principais (Fig. II-9-13):
a. Cano
O cano (1) é um tubo de aço fundido, com cerca 4
de 15 calibres de comprimento, com formas 7
11
externas muito variadas (cilíndrica, poligonal,
etc.) tendo posteriormente uma parte roscada
1 6
para a sua ligação à carcaça e anteriormente o
ponto de mira.
5 9
A alma é estriada, sendo variável o número de 3
8
estrias.
O que se pretende obter com os revólveres é um 2
10
grande poder derrubante, que se obtém com o Fig. II-9-13
emprego de projécteis de chumbo macio e de

II - 43
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

grande calibre (superior a 8 mm), animados de uma velocidade inicial não muito elevada. O calibre
mínimo geralmente adoptado é, por razões de manejabilidade, o calibre 9 mm.
A velocidade inicial que depende das pressões desenvolvidas e do comprimento do cano, é també m
condicionada pela manejabilidade, variando entre 200 a 350 m/s.
b. Carcaça
A carcaça (2) é a parte que reúne todas as outras e que corresponde à coronha das espingardas.
É de aço fundido e pode considerar-se dividida em três partes.
(1) Caixilho
O caixilho (3) é a parte anterior onde se rosca o cano e dentro do qual se move o cilindro.
Tem a forma rectangular dando-se o nome de faixa ao lado superior (4), soleira ao inferior (5),
frente ao anterior (6) e espalda ao posterior (7).
A faixa não existe em todos os modelos, mas é aí, que frequentemente se encontra aberta a
ranhura de mira.
O gatilho é montado na soleira, nesta existe uma fenda (8) para a passagem da espera do
cilindro.
Nos revólveres de extractor sucessivo, uma parte da espalda é móvel para deixar a descoberto a
entrada de uma das câmaras, permitindo o carregamento e a extracção e à qual se dá o nome de
porta carregamento.
(2) Caixa dos mecanismos
A caixa dos mecanismos (9) é a parte que fica entre o caixilho e a armação do punho e onde se
encontram alojados quase todos os mecanismos.
A sua face esquerda é, em geral móvel e chama-se chapa de cobertura.
(3) Armação do punho
A armação do punho (10) é a parte onde se fixam as platinas. Tem no seu ramo superior uma
corcova (11) para apoio da forquilha do cão.
c. Cilindro (Fig. II-9-14)
É de aço, tem um número variável de furos ligeiramente tronco-cónicos, dispostos simetricamente em
torno do seu eixo, que constituem as câmaras.
Na face anterior do cilindro e em torno do orifício central para o
eixo, há uma cremalheira (1), com tantos dentes quantas câmaras,
em forma de dentes de serra, sobre os quais actua o impulsor. 2
Na superfície cilíndrica estão abertos uns entalhes (2) – os 1
batentes – onde entra a espera do cilindro para o imobilizar. Fig. II-9-14
d. Aparelho inflamador e impulsor (Fig. 69)
Este aparelho compõe-se do mecanismo de percussão e do mecanismo de disparar.
É nesta parte que vários modelos apresentam maiores diferenças.
(1) O Mecanismo de percussão compõe-se de cão-percutor (1) e mola real (2).
Esta é em geral, laminar e apoia-se por um dos extremos na armação do punho e pelo outro, no
cão.
(2) O Mecanismo de disparar compõe-se de armador (3), mola de armador (4), peça de armar (5),
mola da peça de armar (6), gatilho (7) e mola do gatilho.
O armador e a sua mola servem para o tiro intermitente (tiro a tiro). A peça de armar e a sua
mola para o tiro contínuo.

II - 44
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

É ao gatilho que em geral, se liga o impulsor (8), destinado a dar movimento ao cilindro por
intermédio de um dente de que dispõe no seu extremo superior e que vai engrenar na cremalheira.
e. Extractor
Os extractores podem ser sucessivos ou simultâneos;
(1) Extractor sucessivo:
É o mais simples. É constituído por uma vareta montada num alojamento apropriado paralelo ao
eixo do cano, que pode ser colocado em frente a uma das câmaras da arma.
Ex: Revólver Nagant Brevette.
(2) Extractor simultâneo:
Obriga a um sistema que afaste o cilindro da espalda. Segundo o modo de se obter esse
afastamento, temos dois grupos de extractores:
(a) De Translação (Fig. 72)
É constituído por um disco (1) de pequena espessura,
com o mesmo diâmetro que o cilindro e com um número
de furos igual ao das câmaras, ligado a um tubo que
1
penetra no eixo do cilindro. 2
O cano, o cilindro e o extractor, têm movimento no
Fig. 72
sentido do eixo do cano, por acção de uma alavanca que
serve igualmente de guarda-mato (2).
Como neste sistema os invólucros não eram ejectados, há
modelos em que o disco foi substituído por uma estrela que
entra num entalhe aberto na parte posterior do cilindro.
(b) De Rotação
No sistema de rotação o extractor é também de disco ou de
estrela mas o movimento é feito em torno de um eixo:
1. Perpendicular ao eixo do cilindro (Fig. 73) Fig. 73
Ex: Revólver Smith & Wesson .32
2. Paralelo ao eixo do cilindro (Fig. 74)
Ex: Revólver Colt .38
Este é o sistema de extracção utilizado nos
revólveres actuais.
f. Mecanismo de segurança
Sendo armas extremamente fiáveis, poucos revólveres têm o
mecanismo de segurança bem definido e independente do resto
dos mecanismos. Fig. 74
Ainda assim, pode aparecer de quatro maneiras:
(1) Através de um comutador ou alavanca que imobiliza o:
(a) Cão;
(b) Gatilho;
(c) Cilindro.
(2) Através de uma peça especial entre o cão e a câmara:
(a) Presente (ou seja, bloqueante da acção do cão);
(b) Ausente (que age como placa de transferência entre o cão e a cápsula fulminante).
(3) Através de uma chave imobilizadora que pode actuar no cão, no caixilho ou na carcaça).

II - 45
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(4) Através de uma posição intermédia do cão, semelhante à já referida para outras armas ordinárias.
g. Aparelho de pontaria
Consta de um ponto de mira, na parte anterior do cano e de uma ranhura de mira situada na faixa,
no prolongamento do cano, ou ainda no cão. Ex: Revolver Lefaucheux 9 mm (FRA).
h. Punho
Corresponde ao couce das espingardas mas é muito mais curvo para facilitar o manejo.
No punho há a considerar a armação e as platinas.
i. Guarnições e Acessórios
(1) As guarnições constam de essencialmente do guarda-mato e da argola de suspensão.
(2) Os acessórios mais importantes englobam o conjunto de limpeza, o coldre e fiador, além de
dispositivos aceleradores de carregamento: carregadores rápidos e clipes.

II - 46
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE III

ARMAS AUTOMÁTICAS

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1. GENERALIDADES
Com o aperfeiçoamento das armas de repetição, nasceu nos construtores a ânsia de obter uma arma que
num curto espaço de tempo fizesse um elevado número de tiros. E assim, apareceram na segunda metade
do século XIX, como vimos, as primeiras armas automáticas. No início, de func ionamento mecânico e
com vários canos evoluindo depois para o funcionamento automático e com um só cano.
Entre os muitos criadores que contribuíram para a entrada na era das armas automáticas, podem
considerar-se três deles, todos norte-americanos por sinal, como os mais marcantes:
i. Richard Gatling (1818-1903), pela autoria de uma metralhadora de accionamento manual com
elevado poder de fogo, em 1861.
ii. Hiram Maxim (1840-1915), como o criador em 1883 da primeira metralhadora de funcionamento
totalmente automático.
iii. John Browning (1855-1926), o cérebro mais fértil de todos os desenhistas de armas norte-
americanos, a quem se deve a paternidade em 1892, da primeira metralhadora com um sistema de
automatismo baseado na actuação directa dos gases num êmbolo, fazendo assim recuar a culatra.
Daí para a actualidade, o progresso das armas portáteis automáticas tem sido contínuo, tendo concorrido
para o seu desenvolvimento os grandes conflitos bélicos do século XX, em especial, as duas guerras
mundiais.
A Primeira Guerra Mundial viu generalizar-se o emprego da metralhadora como arma de apoio à
infantaria e como armamento das aeronaves de combate e dos primeiros carros de combate , bem como
das pistolas semi-automáticas.
Na Segunda Guerra Mundial, a pistola-metralhadora passa a ser a arma individual de grande parte das
tropas beligerantes. O exército norte-americano dota a totalidade da sua Infantaria com a espingarda
semi-automática M1 Garand, de calibre 7,62 mm. Generalizam-se os canhões de tiro automático para
equipar viaturas pesadas, aeronaves, navios e embarcações.
Durante a Guerra-Fria, passa a generalizar-se a espingarda de assalto como arma padrão da Infantaria,
permitindo o tiro automático e semi-automático.
A evolução das armas automáticas ligeiras (pistolas, pistolas-metralhadoras, espingardas automáticas e
metralhadoras) continua nos dias de hoje, procurando satisfazer necessidades crescentes relativas às já
abordadas condições de tiro, de serviço e de fabrico.
Armas automáticas são armas nas quais, uma vez carregadas e disparado o primeiro tiro pela acção do
dedo sobre o gatilho, as operações de destravar, abrir a culatra, extrair e ejectar o cartucho, armar o
percutor, introduzir novo cartucho na câmara, fechar e travar a culatra, se sucedem rápida e regularmente
para cada um dos tiros seguintes, sem intervenção do atirador, apenas pelo aproveitamento da acção dos
gases da carga.

III - 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Assim, nas armas automáticas a energia desenvolvida pelos gases da pólvora não é só aproveitada para
impulsionar o projéctil como também para possibilitar o funcionamento da arma. Para isso, a força de
expansão dos gases é aplicada em determinadas partes do mecanismo da arma, ou em molas, que
armazenam a energia necessária para o completo funcionamento automático.
Resumidamente, o processo geral de funcionamento das armas automáticas é o constante do quadro
seguinte:

AGENTE MOTOR MOVIMENTO EFECTUADO OPERAÇÕES EXECUTADAS

- Destravamento e desobturação;
- Extracção e ejecção do invólucro;
- Armar do percutor;
Pressão dos gases Recuo das partes móveis - Transporte e apresentação do novo
cartucho;
- Compressão, distensão ou enrolamen-
to da mola recuperadora.
- Introdução de um novo cartucho;
- Obturação da câmara e travamento da
Avanço das partes móveis
Mola recuperadora culatra;
(recuperação)
- Percussão (nas armas de tiro auto-
mático)

2. DEFINIÇÕES
Antes de iniciarmos propriamente o estudo das armas automáticas, devem conhecer-se algumas
definições indispensáveis para uma melhor compreensão da matéria:

Cadência de tiro ou velocidade de funcionamento, é o número máximo de tiros que se pode obter duma
arma, em funcionamento consecutivo, durante um minuto.

Velocidade prática de tiro, é o número de tiros que na prática, uma arma realiza num minuto,
considerando as pausas provenientes da substituição de carregadores, do cano, das rectificações de
pontaria, da resolução expedita de avarias, etc..

Regime de tiro, é a relação entre o tempo realmente utilizado nas rajadas e o tempo de repouso da arma,
durante um minuto.

Acção directa de gases – Uma arma diz-se de acção directa de gases quando os gases resultantes da
percussão da munição actuam directamente sobre a culatra, regra geral através de um êmbolo ligado a
esta.

Acção indirecta de gases – Uma arma diz-se de acção indirecta de gases quando os gases resultantes da
percussão da munição actuam sobre o invólucro que por sua vez vai actuar sobre a culatra, obrigando-a a
recuar.

III - 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 2

SISTEMAS DE AUTOMATISMO

Como se disse, as armas automáticas compreendem as de carregamento automático e as de tiro


automático. Como estas últimas são também de carregamento automático, verifica-se assim que as duas
categorias de armas têm um ponto comum que é o modo de carregamento, diferindo essencialmente, no
mecanismo de disparar uma vez que as primeiras só podem executar o tiro simples (tiro a tiro).
Obedecendo as duas categorias ao mesmo processo geral de funcionamento, podem classificar-se as
armas automáticas quanto aos sistemas de automatismo em:
- Sistema em que recua toda a arma;
- Sistema em que recua o cano e a culatra;
- Sistema em que recua só a culatra;
- Sistema em que o cano avança, mantendo-se firmes as restantes peças .

1. SISTEMA EM QUE RECUA TODA A ARMA


Este sistema foi concebido por Hiram Maxim, que o
patenteou em 1884. Consistia basicamente numa
espingarda de repetição Winchester 10,8 mm modelo
1973, em que a acção da alavanca era substituída por
uma haste articulada ligada à soleira e accionada
quando a arma recuava, ao mesmo tempo que a mola
de recuperação era comprimida.
Nestas armas (Fig. III-2-1), a chapa de couce (1) é
separada da coronha (2) e ligada por uma haste (3) e
uma mola (4) a uma alavanca (5) que põe em
movimento a culatra (6). Uma mola recuperadora
conserva a chapa do couce separada da coronha.
No momento do disparo, toda a arma recua vindo a Fig. III-2-1

coronha chocar com a chapa do couce que se encontra


apoiada no ombro do atirador. A haste, por intermédio
da alavanca, faz recuar a culatra, executando-se a
extracção e a ejecção do invólucro do cartucho e
armando-se o percutor. Logo em seguida, a mola
recuperadora que fora anteriormente comprimida,
distende-se e a arma avança, realizando-se a
introdução do cartucho e a obturação, ficando a arma
pronta para novo disparo.
A inércia, devido ao peso da arma, faz com que o
projéctil abandone o cano antes da abertura da câmara.
Estas armas funcionam sob a acção indirecta dos
gases.
Este sistema, além de complexo, exigia muitos
Fig. III-2-2

III - 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

cuidados especiais, não se tendo, por isso, generalizado em armas de guerra. Ex: Esp Maxim M/1884.
Em 1968, a empresa Benelli, patenteou um sistema de automatismo para espingardas caçadeiras semi-
automáticas, em que recua toda a arma, baseada na 1ª lei de Newton.
Neste sistema (Fig. III-2-2), quando se dá o disparo, toda a arma recua inevitavelmente (1+3), com
excepção do corpo da culatra (2) que, pela inércia da sua massa, tende a ficar no mesmo sítio, reforçando
o travamento da cabeça da culatra (4), auxiliada por uma guia basculante. Ao mesmo tempo, comprime
uma mola, chamada “mola de inércia” (5). Quando o recuo da arma cessa, a mola de inércia
descomprime-se, forçando a cabeça da culatra a destravar, desobturar e a recuar com o corpo da culatra.
Nessa altura dão-se as operações de extracção e ejecção do cartucho detonado e de transporte e
apresentação da nova munição. A mola recuperadora, comprimida entretanto pelo recuo do corpo da
culatra, distende-se, forçando a culatra a voltar a entrar em bateria, fazendo a introdução do novo
cartucho, a obturação e o travamento.

2. SISTEMA EM QUE RECUA O CANO E A CULATRA


Nas armas que utilizam este sistema, ao dar-se o
disparo, a pressão dos gases ao mesmo tempo que
impele o projéctil para a frente impele também a
culatra e o cano para a retaguarda. Estes, que antes do
tiro se encontravam intimamente ligados, recuam
solidários e só se desligam quando o projéctil
abandona a alma, efectuando-se em seguida a
abertura da câmara, a extracção, a ejecção do
invólucro e o armar do percutor.
A mola recuperadora que durante este movimento foi
comprimida (distendida ou enrolada), distende-se
(comprime-se ou desenrola-se) fazendo avançar o
cano e a culatra, introduzindo novo cartucho e
obturando a câmara.
Este sistema, como aproveita a pressão que os gases
exercem sobre a culatra caracteriza-se como o sistema
anterior, pela acção indirecta dos gases.
Assim podem classificar-se em dois tipos:
Fig. III-2-3
a. Armas de curto recuo do cano (Fig. III-2-3)
Nas armas deste tipo, o movimento retrógrado do cano é inferior ao comprimento do cartucho, o
que torna necessário acelerar o movimento da culatra em relação ao do cano afim de poderem ser
executadas as operações de extracção, ejecção e alimentação da arma.
A culatra destrava-se antes do final do movimento do cano para a retaguarda.
Assim, a culatra (1) é ligada ao cano (2) por qualquer sistema de travamento.
Sob a acção dos gases, o cano e a culatra recuam inicialmente juntos, distendendo (ou comprimindo)
aquele, uma mola (3), cujo ponto fixo está na armadura da arma. Durante o recuo, a culatra destrava-se
e o cano, ou um seu prolongamento (4), encostando à armadura (10) é detido.
Seguidamente o cano, sob a acção da sua mola, volta à posição de tiro enquanto a culatra, já
destravada e devido à força viva de que vai animada, continua o seu recuo, realizando então a
extracção, a ejecção e o armar do percutor.

III - 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Finalmente a culatra, impelida por uma mola ou por outro sistema qualquer, avança ligando-se ao
cano, realizando a introdução do novo cartucho,
obturando a câmara e se a arma é de tiro
automático, a percussão.
Utilizam este sistema armas tão distintas entre si
como sejam a Metralhadora Pesada Browning 12,7
mm M/951, a Metralhadora Ligeira Dreyse 7,9
mm M/938, a Pistola Parabellum 9 mm M/943 e a
Pistola 9 mm Glock 17 (AUT).
b. Armas de longo recuo do cano (Fig. III-2-4)
Nestas armas o recuo é superior ao comprimento
de um cartucho e o destravamento e desobturação
só se efectuam após o total recuo do cano e culatra.
Nestas armas a culatra (1) é por qualquer sistema
de travamento, ligado ao cano (2). Sob a acção dos
Fig. III-2-4
gases o cano e a culatra recuam juntos
comprimindo cada um a sua mola (4) e (3) cujos pontos de apoio fixos estão na armadura da arma.
Com o recuo, o cano liberta uma peça, ligada à armadura (8), que pela acção de uma mola sobe, indo o
dente da mesma peça (6) fixar a culatra por um dente (5), logo que ela chega ao fim do seu movimento
retrógrado.
Depois, sob a acção da sua mola (4) o cano volta à sua posição anterior, dando-se durante este
movimento a extracção, ejecção e armar do percutor. O cano ao chegar à sua posição de tiro, actuando
com a cauda (7) sobre a peça especial, faz baixar o dente (6) e liberta desta forma a culatra.
Por fim, impelida pela sua mola (3), a culatra vai de
encontro ao cano introduzindo novo cartucho, obturando a
câmara e se a arma for de tiro automático, fazendo a
percussão.
Ex: Met Lig CSRG 8 mm Mle 1915 (FRA);
Met Lig Madsen 7,9 mm M/930.
Para que a força viva do recuo seja suficientemente forte
para fazer mover o conjunto cano-culatra, pode aproveitar-
se a acção directa dos gases sobre um dispositivo chamado
reforçador do recuo14 , para, por meio de um impulso
suplementar, completar a acção indirecta dos gases (acção Fig. III-2-5
de recuo).
Tal dispositivo, fixo à manga que envolve o cano e anteposto à boca deste (Fig. III-2-5), termina à
frente por um estrangulamento, constituindo-se uma câmara (1) onde os gases se expandem, actuando
na face anterior do cano (2) que para o efeito é ampliada, atirando-o para a retaguarda.

3. SISTEMA EM QUE RECUA SÓ A CULATRA


Neste sistema, o cano acha-se ligado à armadura, mas no momento do disparo só a culatra retrocede.

14
O reforçador de recuo também pode existir em armas de curto recuo do cano, como por ex: Met Pes 7,7 mm Vickers
M/917; Met Lig 7,62 mm M G3 M/962.
III - 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

O recuo da culatra pode obter-se por dois modos completamente


distintos, ou pela acção indirecta ou pela acção directa dos gases.
a. Funcionamento pela acção indirecta dos gases:
Nestas armas (Fig. III-2-6), a culatra (1) está apenas fortemente
encostada ao cano pela acção da mola recuperadora (2) que tem o
seu ponto fixo na armadura.
Ao dar-se a inflamação da pólvora a pressão dos gases actua ao
mesmo tempo e com a mesma impulsão, de um lado sobre o
projéctil e do outro sobre o conjunto invólucro-culatra, imprimindo
a cada um, velocidades na razão inversa das massas respectivas.
Fig. III-2-6 Assim, o principal problema a resolver nas armas que adoptam este
sistema, é conseguir que ao dar-se o disparo, o movimento de
recuo da culatra só se inicie quando o projéctil abandona o
cano.
b. Funcionamento pela acção directa dos gases
As armas deste subgrupo aproveitam uma parte dos gases
fazendo-os actuar directamente sobre a culatra ou, mais
frequentemente, sobre uma peça especial chamada êmbolo,
que comanda a culatra.
Existem três variantes15 diferentes, duas em que os gases são
captados num ponto da alma , com ou sem êmbolo, e uma
terceira, à boca do cano.
(1) Tomada de gases num ponto do cano (com êmbolo):
Nestas armas (Fig. III-2-7) o cano (1) é furado na parte
inferior. Este furo (2) comunica com um cilindro Fig. III-2-7
chamado câmara de gases (3) que por sua vez está em
comunicação com um tubo, no interior do qual se move um êmbolo (4) ligado à culatra (5) por
uma haste (6). Uma mola recuperadora (7) cujo ponto fixo está na armadura, empurra o êmbolo
para a frente.
Ao dar-se o tiro, a culatra, achando-se ligada ao cano e travada, não se desloca até o projéctil
ultrapassar o furo. Logo que isso acontece uma parte dos gases entra na câmara dos gases e actua
directamente sobre a cabeça do êmbolo, obrigando-o a recuar, o mesmo sucedendo à culatra
depois de destravada. Dá-se então a extracção, a ejecção e o armar do percutor ao mesmo tempo
que a mola recuperadora do êmbolo é comprimida.
Seguidamente a mola recuperadora leva o êmbolo à frente, e este arrasta a culatra, dando-se a
introdução do novo cartucho, o travamento da culatra e se a arma é de tiro automático, a
percussão.
Este sistema, muito generalizado, apresenta algumas variantes.
A posição do furo de passagem dos gases no cano, deve ser bem estudada, pois se ficar muito
perto da câmara, como as pressões são muito elevadas, o funcionamento da arma seria brusco e

15
Armando Paschoa, na sua obra Armamento (1951) refere u ma variante com tomada de gases à entrada da câmara,
usada na pistola Roth M/96, por intermédio de um cartucho especial em que a cápsula fulminante era projectada de
encontro ao percutor, forçando o seu recuo e consequentemente da culatra. Esta variante, para além de não confirmada,
revela-se extremamente inverosímil de ap licação prát ica, motivo pela qual deixa de ser considerada na cadeira.
III - 6
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

dificilmente se conseguiria a obturação durante o tempo que o projéctil percorre a alma. Se ficar
muito perto da boca, a pressão dos gases poderá já ser insuficiente para o funcionamento da arma
a não ser que as peças móveis sejam de peso reduzido.
Para que o furo não tenha interferência no movimento do projéctil, é essencial que seja aberto no
fundo de uma estria evitando-se assim, possíveis arestas vivas que poderiam originar depósitos de
metal da camisa do projéctil.
Utilizam este sistema, além de outras armas, as Esp Aut AKM Kalashnikov 7,62 mm (RUS), Esp
Aut Galil 5,56 mm M/94 e a Met Lig Lewis 7,7 mm M/917.
Nestas armas, a obturação é completa porque, estando já o projéctil próximo da boca quando os
gases actuam sobre o êmbolo, a inércia do conjunto êmbolo-culatra dá tempo ao projéctil para
sair do cano antes da desobturação.
Porém, o sistema apresenta vários inconvenientes nomeadamente:
- Funcionamento brusco em virtude do tempo restrito em que os gases actuam sobre o êmbolo
- Acréscimo de peso constituído pelo conjunto êmbolo-haste
- Impossibilidade de empregar o sistema em armas pequenas onde o orifício de passagem dos
gases teria também que ser pequeno e por isso facilmente obstruído pelos resíduos dos gases
- Possibilidade de fractura de algumas peças devido às elevadas pressões e temperaturas a que são
sujeitas, tornando-se por isso necessário regular a pressão dos gases sobre a cabeça do êmbolo.
A regulação exigida, seja pelo aquecimento do uso
da arma, seja pelo emprego de outra munição,
obtém-se por vários processos, a saber:
(a) Aumentando ou diminuindo o volume da
câmara de gases à medida que a temperatura e a
pressão aumentam ou diminuem (Fig. III-2-8) Fig. III-2-8
Ex: Met Hotchkiss 7,7 mm
(b) Abrindo na câmara de gases, um canal de derivação de diâmetro variável, de forma a deixar
escapar para o exterior maior ou menor
quantidade de gases, conforme a pressão
aumentar ou diminuir. (Fig. III-2-9) Ex: Esp
Aut FN FAL 7,62 mm M/961.
(c) Regulando as dimensões do orifício de
comunicação da câmara de gases com o tubo
do êmbolo (Fig. III-2-10).
Fig. III-2-9
Há necessidade de expulsar os gases do tubo,
depois de exercerem a sua acção sobre o êmbolo.
Para esse efeito, algumas armas apresentam uns
orifícios abertos no próprio tubo, no ponto onde
fica a cabeça do êmbolo na sua posição mais à
retaguarda. Nas armas em que o tubo é todo
fechado, esta expulsão é obtida pela expansão dos
gases à boca da arma, a qual produz uma sucção no
cano.
Para que o funcionamento das armas não seja Fig. III-2-10

prejudicado, logo que efectuada qualquer sessão de tiro devem ser cuidadosamente limpos, todos

III - 7
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

os furos de passagens dos gases, as câmaras dos gases, as cabeças dos êmbolos e os respectivos
tubos, afim de evitar a acumulação de resíduos.
(2) Tomada de gases num ponto do cano (sem êmbolo):
Este sistema (Fig. III-2-11) é uma variante simplificada do anterior, em que não existe êmbolo,
mas apenas um estreito canal (2) por onde os gases fluem desde a tomada de gases (1),
embatendo directamente num alojamento (3) existente no corpo da culatra (4). O corpo da culatra,
actuando como êmbolo, é forçado a recuar,
obrigando a destravar a cabeça da culatra (5)
por rotação. Depois, solidários, o corpo e a
cabeça da culatra recuam juntos.
As espingardas semi-automáticas MAS 40
7,5 mm (FRA) em 1940 e Ag 6,5 mm m/42
(SWE) em 1942 foram as primeiras armas
com este tipo de automatismo, a ser
produzidas em série.
Este sistema foi melhorado por Eugene
Fig. III-2-11
Stoner em 1956, que o aplicou nas
espingardas automáticas ArmaLite AR-10 7,62 mm e AR-15 5,56 mm. Esta última,
posteriormente adquirida pela Colt e fabricada com a designação M16, passou a ser a espingarda
padrão do exército americano, a partir de 1961.
As principais vantagens são a simplicidade do mecanismo com a ausência do êmbolo, bem
como a redução do peso. Todavia, tem duas desvantagens consideráveis. A primeira consiste na
rápida acumulação de detritos provenientes da condensação dos gases, na cabeça da culatra e
nos mecanismos primários de operação, gerando encravamentos da culatra e obrigando a uma
frequente e rigorosa limpeza das partes móveis, caixa da culatra e câmara. A segunda
desvantagem consiste no aquecimento anormal que as partes móveis sofrem, podendo gerar a
secagem do lubrificante e a destêmpera do corpo e da cabeça da culatra, do extractor e sua mola,
etc., com a consequente ruína prematura das mesmas.
(3) Tomada de gases à boca do cano
É um sistema pouco generalizado, que precedeu o
sistema de tomada de gases num ponto do cano. Estas
armas aproveitavam a pressão dos gases à saída da boca,
a qual tem ainda um valor apreciável (Fig. III-2-12).
À boca do cano adopta-se um cone (1) móvel, com um
orifício de diâmetro ligeiramente superior ao do projéctil
para permitir a sua passagem, o qual está ligado por uma
haste (2) a uma alavanca interfixa (3), que comanda a
culatra.
Ao dar-se o tiro, a obturação mantém-se até o projéctil
sair do cano. Logo que os gases se projectam de encontro Fig. III-2-12

ao disco obrigam-no a avançar, dando-se a abertura da culatra, a extracção, a ejecção e o armar do


percutor. Seguidamente, a mola recuperadora (4) que no tempo anterior foi comprimida, distende-
se, dando-se a introdução do novo cartucho, o travamento da culatra e a percussão, se a arma for
de tiro automático.

III - 8
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Algumas armas possuem uma


roda dentada ligada a
cremalheiras na haste do cone
e na culatra em vez da
alavanca (Fig. III-2-13). Fig. III-2-13
Nestas armas, a obturação é perfeita, sendo a velocidade inicial aumentada em virtude do disco
funcionar como um prolongamento do cano. Porém, os movimentos repetidos do disco
prejudicam a estabilidade da arma em virtude das sacudidelas que provocam e contribuem para
um maior aquecimento do cano de que resulta um aumento de pressão.
Ex: Esp Semi-automática Bang 7,62 mm m/922 (USA);
Esp Semi-automática G41 7,9 mm m/941 (GER).

4. SISTEMA EM QUE AVANÇA SÓ O CANO


Durante o seu trajecto no cano, o projéctil experimenta uma resistência ao seu avanço provocado pelo
forçamento e pelo travamento, exercendo sobre as paredes do cano um impulso para a frente.
Assim (Fig. III-2-14), o obturador (1) é uma espécie de contra-forte, ou culatra fixa, ligado à armadura,
contra o qual o cano se apoia por acção da mola recuperadora (2).
Ao dar-se o tiro, o forçamento faz avançar o cano separando-
o da culatra, ficando o invólucro fixo a esta, sendo a seguir
ejectado. A mola recuperadora que foi comprimida, leva o
cano de novo à retaguarda, dando-se a introdução do cartucho
que o alimentador apresentou.
Neste sistema, tal como nas armas de acção indirecta de gases
em que recua só a culatra, não existe travamento. O cano
está fortemente encostado ao obturador, por acção de uma
forte mola recuperadora, que exerce assim um retardamento
na desobturação por inércia.
O extractor está geralmente ligado à manga que envolve o
cano, enquanto que o ejector é de alavanca, comandado pelo
movimento do cano. Fig. III-2-14
Não têm estas armas vantagens apreciáveis, antes enfermando de um recuo demasiado forte para
munições semelhantes, mercê da força da mola recuperadora, razão pela qual se deixaram de fabricar.
Ex: Pistola Schwarzlose 7,65 mm, Model 1908 (AUT);
Pistola Steyr Mannlicher 7,65 mm M1894 (AUT).

III - 9
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 3

ORGANIZAÇÃO DA ARMA AUTOMÁTICA

1. ORGANIZAÇÃO
Duma maneira geral, podemos considerar numa arma de fogo automática as seguintes partes principais:
 Cano;
 Caixa da culatra;
 Aparelho de pontaria;
 Culatra móvel;
 Mecanismos:
 De extracção;
 De ejecção;
 De disparar;
 De percussão;
 De segurança;
 De detenção;
 De carregamento e alimentação.
 Sistemas de refrigeração dos canos
 Sistemas de armazenar energia
 Órgãos de apoio;
 Coronha;
 Guarnições e acessórios.

2. CANO
Em relação ao cano, pouco há a acrescentar ao que já foi dito relativamente às armas de fogo ordinárias.
É porém de referir que geralmente, os canos das armas automáticas são mais espessos e de perfis
variados, o que se deve à necessidade de lhes aumentar a sua superfície externa para facilitar, como
veremos, o seu arrefecimento.
Também o metal, devido à natureza especial do tiro das armas automáticas, deve ser cuidadosamente
escolhido e trabalhado.
Normalmente, os canos têm menor duração do que as restantes partes das armas, o que leva a atribuir a
cada arma um ou mais canos de reserva, que se vão substituindo à medida que for necessário.
Os canos são geralmente estriados com 4 ou 6 estrias no sentido dextrorsum.
Esp Aut AKM 7,62 mm - 4 estrias
Esp Aut COLT M16 5,56 mm - 6 estrias
Esp Aut GALIL 5,56 mm - 6 estrias
O tiro automático prolongado vai gerar um
crescente aumento de temperatura no cano e da
câmara, dificultando a extracção que não é
progressiva, especialmente nas armas de acção
indirecta de gases em que recua só a culatra. Para
minimizar este problema lubrificavam-se as Fig. III-3-1

III - 10
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

munições com óleo, como era o caso da Met Pes Schwarzlose 8 mm /907 (AUT) ou com cera, no caso da
Esp Semi-automática Pedersen 7 mm 1923 (USA).
Actualmente é comum o estriamento longitudinal da câmara, usando a pressão dos gases para impedir que
o invólucro se “cole” à câmara (Fig. III-3-1).

3. CAIXA DA CULATRA
As caixas da culatra variam conforme o tipo da arma.
Nas Espingardas automáticas são algo semelhantes às das armas de fogo ordinárias.
Nas Metralhadoras têm o aspecto de verdadeiras caixas, por vezes completamente estanques.
Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951.
Nalgumas armas automáticas não existe caixa da culatra mas em sua substituição aparece-nos a caixa dos
mecanismos. Nestas armas, para guiar os movimentos da culatra, existe a armadura.
Assim, a caixa dos mecanismos destina-se a alojar a armadura e normalmente, o mecanismo de disparar e
o sistema de recuperação. Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938.

4. APARELHO DE PONTARIA
De um modo geral, as armas automáticas utilizam os mesmos aparelhos de pontaria que as armas de fogo
ordinárias.
Porém, inúmeras armas automáticas são concebidas para ser utilizadas de modo bem diferente das armas
ordinárias já estudadas. Daqui resultam necessidades de pontarias a maiores distâncias, com correcções
laterais, em condições de visibilidade adversas e em regimes de tiro distinto, seja indirecto, seja contra
alvos muito móveis.
Para satisfazer estas necessidades distintas, conceberam-se aparelhos de pontaria específicos, de maior
complexidade, geralmente classificados da seguinte forma:
a. Alças deriváveis
Nalgumas armas automáticas destinadas a fazer fogo a distâncias maiores, como acontece com as
metralhadoras pesadas, surge a necessidade de correcção de desvios, como o da derivação e o da acção
do vento. Geralmente, a derivação é corrigida pela construção da arma, deslocando o ponto de mira de
modo a fazer-se a correcção para uma distância média. Para contrariar a acção do vento, usa-se um
dispositivo que permite deslocar lateralmente a ranhura de mira; a estas alças chamam-se alças
deriváveis.
Ex: Met Pes Browning 12,7 mm M/951.
b. Aparelhos de pontaria para tiro indirecto, referenciado e mascarado
Para o tiro indirecto, referenciado e mascarado, possuem as metralhadoras pesadas, normalmente,
aparelhos de pontaria independentes, constituídos por limbos, clinómetros e alças goniométricas .
(1) Limbos
Os limbos, são constituídos por sectores graduados ligados aos reparos que permitem, com o
auxílio de limitadores, dar às armas, em relação a um plano de referência, qualquer desvio
angular, seja no sentido horizontal (sector de direcção) seja no vertical (arco de elevação). São
adequados para efectuar tiro mascarado e referenciado, para o qual se registam previamente os
elementos numa carta de tiro.
(2) Clinómetros
Os clinómetros, são constituídos por níveis móveis que permitem dar às metralhadoras, no tiro
indirecto, o ângulo de tiro preciso para atingir o alvo que se quer bater.

III - 11
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Ex: Clinómetro M/932, utilizado na metralhadora Breda 7,9 mm M/938.


(3) Alças goniométricas
As alças goniométricas, são aparelhos constituídos fundamentalmente por um limbo de direcção,
um clinómetro e um colimador ou um óculo.
c. Aparelhos de pontaria ópticos e optrónicos
(1) Alças telescópicas
Já referimos as alças telescópicas quando analisámos as armas ordinárias. Obviamente que, com a
evolução das armas ligeiras automáticas, as suas condições de tiro melhoram, possibilitando a sua
utilização para tiro de precisão. Aqui aparece então a necessidade de apontar com rigor para além
dos limites impostos à vista humana.

(2) Alças reflexivas


(3) Alças holográficas
(4) Alças de visão nocturna
(5) Alças combinadas
(6) Alças digitais
d. Aparelhos de pontaria com feixe laser
e. Aparelhos de pontaria para tiro contra alvos em movimento

5. CULATRA MÓVEL
A culatra tem as mesmas funções já enunciadas para as armas de fogo ordinárias mas como os
movimentos de abrir e de fechar são muito mais rápidos. O tipo mais usado, quanto ao movimento, é o de
escorregamento simples.
Quanto à forma, podem ser, igualmente, de cilindro e de bloco.
Os movimentos da culatra estão intimamente ligados com o
travamento que estudaremos seguidamente.
a. Sistemas de travamento
Os vários sistemas ou processos utilizados nas armas
automáticas podem reunir-se formando os seguintes grupos
mais comuns:
(1) Travamento por transformação do movimento
Consiste este processo em transformar o movimento Fig. III-3-2
de translação do êmbolo em movimento de rotação da
culatra (Ex: Esp Aut Colt M16 5,56 mm; Met Lig Lewis 7,7 mm M/917), ou transformar o
movimento de translação da culatra em movimento de rotação de uma peça especial (Ex: Met
Francesa M915).
Na Met Lig Lewis 7,7 mm M/917 (Fig. III-3-2) o percutor (1) está montado num embasamento
(2) existente na parte posterior do êmbolo (3). Este embasamento move-se dentro duma fenda (4)
existente na culatra (5), cuja parte anterior é recta e cuja parte posterior é curva. Quando, sob a
acção da mola recuperadora o êmbolo avança, o embasamento então alojado na parte curva da
fenda da culatra, arrasta consigo a culatra, que não pode rodar por os seus travadores (6) se
acharem alojados nas guias respectivas da caixa da culatra.
A culatra, assim arrastada, vai encostar ao cano ficando nesta altura os seus travadores em frente
dos respectivos alojamentos. Então, em virtude da pressão que o embasamento continua a exercer

III - 12
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

na fenda da culatra, esta é forçada a rodar introduzindo-se os travadores nos alojamentos


respectivos, ficando assim travada.
Continuando o seu movimento dentro da parte recta da fenda, o embasamento leva o percutor a
ferir a cápsula fulminante.
Ao dar-se o recuo, efectua-se o destravamento, originado por movimentos inversos aos que
acabamos de descrever.
Este processo é assim igual ao obtido na maioria das
armas de repetição – culatra de escorregamento e
rotação. É um travamento bilateral e simétrico com o
inconveniente, na Metralhadora Lewis, de apresentar
os travadores na parte posterior do ferrolho.
Na Met Lig Hotchkiss 8 mm M/909 (Fig. III-3-3), o
Fig. III-3-3
movimento de translação do êmbolo (1) é
transformado em movimento de rotação de um travador articulado (2) existente inferiormente, na
parte posterior da culatra (5).
O movimento de rotação do travador é obtido, pelo deslizar do seu perno (4) na ranhura (3), parte
rectilínea e parte helicoidal, e que também o faz levantar ou baixar.
Na posição de levantado, fica preso por dois ressaltos existentes na caixa dos mecanismos e
assim, a culatra travada. É o movimento de avanço do
êmbolo que produz primeiro o avanço da culatra e em
seguida a rotação do travador. Inversamente, com o recuo
do êmbolo, dá-se primeiramente a rotação do travador e
depois a translação da culatra.
(2) Travamento por lingueta
É o processo usado nas Met Pes Browning 7,62 mm
M1919A4 M/52 e Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm
M/51.
Fig. III-3-4
Quando o conjunto cano e armadura vai à frente (Fig. III-3-
4), o perno da lingueta de travamento (5) é libertado pelo recuo dos destravadores (4), soltando-se
destes, ao mesmo tempo que a lingueta (2) é obrigada a subir ao encontrar a rampa do bloco de
travamento (3) situada na parte inferior da caixa dos mecanismos.
Neste momento, a culatra (1) tem o seu cavado para a lingueta (8) em correspondência com esta
que por sua vez se introduz no cavado, tornando-se a culatra solidária com cano e a armadura.
Durante o restante movimento para a frente, a culatra mantém-
se travada devido ao deslizar da lingueta de travamento sobre
o ressalto da rampa do bloco de travamento.
No final da primeira fase do recuo (Fig. III-3-5), a lingueta
que deslizou sobre o ressalto de travamento, atinge a rampa de
travamento ao mesmo tempo que o seu perno encontra as
rampas dos destravadores, que a obrigam a descer, saindo do
seu alojamento na culatra e soltando esta.
Para evitar que a culatra se solte bruscamente da armadura, o Fig. III-3-5
que poderia provocar a rotura do invólucro, a lingueta tem a
sua aresta superior anterior cortada em rampa. Deste modo o destravamento é suave e

III - 13
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

progressivo. Logo após o destravamento, a culatra sofre um impulso do acelerador (7) uma
alavanca dupla em forma de “orelhas de martelo”, que é forçada a rodar para retaguarda devido à
acção da armadura sobre a sua parte anterior, ao mesmo tempo que o freio recuperador do cano é
totalmente comprimido. Enquanto a cauda da armadura, ligada ao cano é detida, a culatra recurá
deste modo mais 15 cm.
(3) Travamento por travadores articulados
Este sistema consiste em apoiar na caixa da culatra uma ou duas cunhas ou alavancas móveis,
ligadas ao obturador por um eixo. Utiliza este sistema a Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938, cujo
travamento se efectua por um travador articulado.
Durante a recuperação, a parte anterior do travador, libertada da acção do respectivo detentor,
desliza sobre a sua rampa de apoio existente na caixa dos mecanismos e é forçada a subir, indo o
seu ressalto superior apoiar-se na parte posterior da culatra.
O travador é mantido nessa posição por estar assente no apoio do travador da caixa dos
mecanismos, efectuando-se assim o travamento.
Este mantém-se durante a primeira fase do recuo, só se realizando o destravamento quando a
parte posterior do travador sobe ao encontrar a rampa do bloco do fundo da caixa dos
mecanismos, o que faz baixar a parte anterior do travador, libertando a culatra.
(4) Travamento por bielas articuladas
3
Este sistema consiste no emprego de duas 1 2
bielas articuladas (1) (2) entre si e articuladas
igualmente, uma contra a outra, sobre um
prolongamento do cano. 4 5
Quando a arma está pronta para o tiro, as duas
bielas estão no prolongamento uma da outra,
achando-se o eixo da sua articulação (3)
6
ligeiramente abaixo (ou acima) da linha recta
que une os eixos de ligação de cada uma com
o cano e com a culatra (Fig. III-3-7).
Ao dar-se o tiro, o choque sofrido pela culatra
(4) transmite-se pela ligação da culatra à biela Fig. III-3-7

anterior e pela ligação entre elas à biela posterior e ao cano, arrastando este.
O eixo intermédio tem tendência a baixar (ou a subir), o que não é possível por se achar
encostado a uma peça fixa (5) existente na caixa da culatra.
Em determinado momento, a intervenção de uma peça especial, em forma de rampa (6), obriga a
ligação média a subir (ou a descer) e modificando as posições relativas dos três eixos das bielas,
permite que a culatra se separe do cano.
É o sistema usado, por exemplo, na Met Vickers-Maxim 7,7 mm M/917 e na Pistola Parabellum 9
mm M/943.
(5) Travamento por inclinação da culatra
Consiste este sistema (Fig. III-3-8), em fazer subir ou descer o extremo posterior da culatra (4) na
altura em que se liga ao cano, de forma a apoiar parte da sua parede posterior num alojamento
especial (5) existente na caixa da culatra.

III - 14
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

O êmbolo (1) ao arrastar a culatra (2) no seu movimento de avanço,


depois de esta ter encostado ao cano, continua ainda a avançar de
forma a colocar debaixo dela o prolongamento (3), o que a obriga a
subir.
Dado o tiro, o êmbolo recua, passando o prolongamento (3) para a
retaguarda da culatra o que permite que ela baixe, só depois
recuando o conjunto.
O processo de inclinação da culatra, hoje muito usado, embora muito
simples, tem o inconveniente próprio dos sistemas de travamento
oblíquos e unilaterais. Utilizam este sistema a Met Lig Vickers
Berthier 7,7 mm M/931, a Met Lig Bren, 7,7 mm M/943 e a Esp Aut
FN FAL 7,62 mm M/961.
Fig. III-3-8
(6) Travamento por elevação da culatra
Este sistema é um variante do anterior.
Como ele, é também empregue nas armas
de cano fixo com tomada de gases num
ponto do cano.
Consiste (Fig. 97), na realização do
travamento por meio de uma peça da
culatra, o bloco, que é comandado nos seus
movimentos de elevação e descida, junto à
câmara do cano, pelo movimento
Fig. III-3-9
longitudinal de avanço e recuo do êmbolo.
Utiliza este sistema a Met Pes Breda 7,9 mm M/938.
(7) Travamento por oscilação da culatra
É o processo usado na Met Lig Madsen 7,9 mm M/930, cujo esquema se indica nas Fig. 98, 99 e
100.
Ao dar-se o tiro, a culatra move-se em torno de um
eixo colocado no prolongamento do cano e
perpendicular a este, arrastando-o consigo para a
retaguarda.
Um perno da culatra é obrigado a deslizar numas
guias de forma especial abertas numa placa, fixa na
arma. Enquanto o perno caminha no ramo horizontal
dessa ranhura, o cano e a culatra continuam unidos
mas logo que entra no ramo ascendente a cabeça da
culatra levanta-se, abrindo a câmara e dando-se a
extracção e a ejecção do invólucro.
Chegada ao fim da ranhura superior, devido ao peso e
à acção de uma mola, a culatra baixa, entrando o
perno na ranhura vertical e indo nesta altura o cano
encostar à armadura.
Como entretanto tem sido comprimida a mola, esta
leva agora o cano novamente à frente que por sua vez Fig. III-3-10

III - 15
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

arrasta a culatra.
Enquanto o perno
escorrega ao longo
da ranhura
inferior, dá-se a
introdução do
Fig. III-3-11 cartucho. Fig. III-3-12
Quando entra no ramo ascendente, a culatra fecha de
modo que quando o cano entra no seu lugar já a introdução e a obturação estão feitas.
(8) Travamento por roletes
Este sistema é caracterizado pela
1 3
utilização de duas peças especiais,
denominadas roletes de travamento.
Ao dar-se o tiro (Fig . III-3-13),
durante a primeira fase do recuo, por 2 4
acção indirecta dos gases, a culatra
mantém-se solidária com o cano, por
acção da parte central dos roletes (1),
mais larga, que encaixa no canhão de
travamento (2) até o projéctil
abandonar a alma do cano. Por acção
resistente da base do percutor (3),
em forma de cunha , os roletes Fig. III-3-13

mantêm-se pressionados para fora. Em determinado momento deste recuo, os roletes de


travamento são obrigados a percorrer as rampas de destravamento (4) das placas da caixa dos
mecanismos, saem dos alojamentos respectivos no canhão de travamento e entram nos
alojamentos da cabeça da culatra, forçando a base do percutor a recuar e permitindo assim a
separação da culatra e do cano. O cano entra, então, em bateria, enquanto a culatra continua a
recuar.
No movimento de fechar, por acção da mola recuperadora, o bloco da culatra avança, solidário
com a base do percutor, que força os roletes de travamento a sair e entrar nos alojamentos do
canhão de travamento. É o sistema utilizado pela Met Lig M42 7,92 mm (GER) e derivadas,
como a Met Lig MG3 7,62 mm M/962.
(9) Travamento por bloco de travamento
Este sistema, usado em algumas pistolas (Fig . III-3-
3
14), consiste no emprego de uma peça encaixada no
cano, o bloco de travamento (1), que fixa a corrediça
àquele, através de dois dentes laterais. Quando o
cano e a corrediça avançam, o talão (2) - a parte
1
3

4
2
inferior e posterior do bloco - é forçado a subir para
cima, devido à rampa existente na parte anterior que
o precede. Os dentes laterais obstruem as guias do
cano (3) impedindo a corrediça de recuar. Depois do Fig. III-3-14 5

disparo, o cano é forçado a recuar, até que uma cavilha (4) na sua parte posterior embate na

III - 16
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

carcaça e avança, forçando o bloco a descer e a


alinhar os seus dentes com as guias do cano (5),
permitindo à corrediça recuar. Nesta altura já o
projéctil saiu à boca. Utilizam este sistema a
Pistolas Walther 9 mm M/961 e Beretta F-92 9 mm.
Variantes deste sistema são usados na Pistola
Mauser C-96 e Esp Aut Fedorov M1916 ( Fig . III-3-
15). Em todos estes casos a semelhança consiste na
existência de uma peça que bloqueia o recuo da
Fig. III-3-15 culatra, obrigando ao recuo do cano, até que essa
mesma peça, por falta de um apoio inferior, bascule
e liberte então a culatra.
(10) Travamento por inclinação do cano.
Este sistema, foi concebido por John M.
Browning em 1906 ( Fig . III-3-16). Consiste na
aplicação de dois travadores em forma de
ressaltos existentes na parte posterior do cano, 1 2 3
que encaixam em alojamentos no interior da
corrediça, que fica travada quando ambos vão
à frente. Depois do disparo, o cano, ligado à
carcaça através de uma biela, é forçado a
recuar até que essa biela o obriga a inclinar,
Fig. III-3-16
rebatendo a parte posterior e libertando os
travadores dos respectivos alojamentos na corrediça. A corrediça pode então continuar o recuo,
liberta do cano. Utilizam este sistema as pistolas Colt M1911 11,43 mm (USA) e Tokarev TT-33
7,62 mm (RUS).
Variantes: Em 1926, o mesmo John
2
Browning, ao serviço da Fabrique
National, concebe uma nova pistola, a
FN Browning Hi-Power 9 mm (BEL),
1 alterando ligeiramente o seu sistema de
travamento, em que substitui a biela
3 Fig. III-3-17
por um excêntrico e uma guia oblíqua
na parte posterior do cano. Em 1982, a
empresa Glock patenteia a pistola 9mm Glock 17 (AUT) que simplifica ainda mais este sistema
(Fig. III-3-17), ao substituir os ressaltos travadores por uma parte posterior do cano mais saliente
(1) que se aloja e trava na própria janela de ejecção (2), na parte superior da corrediça. Esta
pistola mantém a guia oblíqua (3) para forçar a inclinação do cano.
(11) Travamento por rotação da cabeça da culatra.
Este sistema foi usado na Met Lig MG34 7,9
mm M/944. Consiste na rotação independente
1
da cabeça da culatra (Fig. III-3-18) (1), por
acção de dois roletes opostos (2) que, quando
3 2 Fig. III-3-18
a culatra avança, deslizam nas rampas curvas

III - 17
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

do canhão de travamento existente no final do cano. No final desse movimento de rotação, os dois
travadores de cada lado (3), localizados à frente dos roletes, entram nos respectivos alojamentos,
no canhão de travamento.
O travamento mantém-se até ao final do recuo cano, que
irá ser detido na sua parte posterior pelos topos das
placas de apoio da caixa dos mecanismos. Dá-se então o
destravamento quando os roletes exteriores deslizam nas
rampas curvas da caixa dos mecanismos e os roletes
interiores deslizam nas rampas curvas do canhão de
travamento, forçando a cabeça da culatra a rodar e os
travadores a sair dos seus alojamentos.
(12) Travamento por rotação do cano.
Este sistema foi usado na pistola Roth-Steyr 8mm M1907
(AUT), sendo recuperado pela casa Beretta, que o
emprega, entre outras, na pistola Beretta Px4 Storm 9mm
(ITA) (Fig. III-3-19). Funciona de modo algo semelhante Fig. III-3-19

ao/do sistema anterior, rodando o cano ao invés da cabeça da culatra. O cano, cm dois travadores
ligados à corrediça, tem uma guia oblíqua terminada por uma secção frontal. No seu final está
encaixado um dente saliente dum bloco inserto na retaguarda da guia da mola recuperadora.
Quando se dá o disparo, o cano e a corrediça são forçados a recuar até que o dente avance na guia
e force o cano a rodar 90º no sentido retrógrado. Nessa altura, a corrediça separa-se e continua o
recuo, enquanto o cano recupera.
b. Sistemas de retardamento na desobturação
Como já vimos, as armas que funcionam sob acção indirecta dos gases, não têm as culatras travadas. A
obturação é então garantida por um processo de retardamento da abertura da culatra, até que a munição
saia à boca do cano.
Este retardamento na abertura da culatra obtém-se por vários processos que podem agrupar-se da
seguinte forma:
(1) Por inércia
Utilizando o princípio da inércia, auxiliada ou não
pela resistência à compressão de molas e outros
factores, podemos considerar três processos:
(a) Aumentando a massa da culatra, a força da
mola recuperadora ou ambas.
Ex: Pist Met Steyr 9 mm M/942, Pist Met FBP
9 mm M/963, Pist Met. UZI 9 mm M/961.
Quanto mais pesada for a culatra e mais forte
for a mola, tanto mais comprido pode ser o
cano e melhor será portanto a utilização das
pressões. Maiores serão a velocidade inicial, o
alcance e a penetração.
(b) Utilizando um sistema de alavancas
Fig. III-3-20
Auxiliando a resistência ao movimento, obtida
como no caso anterior, por meio de um sistema de duas alavancas ligadas uma à culatra e

III - 18
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

outra à armadura e ainda ligadas entre si de forma que a sua articulação se encontre quase no
ponto morto (Fig. III-3-20).
O movimento retrógrado da culatra (1) obriga o eixo das duas alavancas (4) e (5) a descrever
o arco CC1. Devido ao pequeno ângulo existente entre elas, quando a culatra está fechada,
uma grande porção da força do recuo é transmitida ao eixo (5) da alavanca anterior que se
encontra ligado à armadura (2) da arma. À medida que o eixo se levanta, o ângulo entre as
duas alavancas aumenta e a resistência encontrada pela culatra diminui. Assim, o movimento
retrógrado da culatra continua mas depois de absorvida a principal força do recuo, apesar da
resistência oferecida pela mola recuperadora (3).
Ex: Met Schwarzlose 8 mm M/07 (AUT).
(c) Aproveitando a inércia duma peça especial (Fig. III-3-21.
A culatra (1) é envolvida por uma manga (2)
sobre a qual actua a mola recuperadora (3). Ao
dar-se o tiro, o invólucro arrasta a culatra e a
manga, para a retaguarda, mas a primeira é
detida por um travador (4) de forma especial.
A manga, devido à inércia, continua o seu
movimento de recuo obrigando o travador a
subir o seu plano inclinado (5), levando depois
consigo a culatra. A mola (3) que foi
comprimida, leva seguidamente todo o sistema
ao seu lugar. Ex: Pist Remington Model 51 7,65
mm (USA).
Fig. III-3-21
(2) Por atrito
Vejamos como a demora na abertura da culatra é obtida por atrito.
É uma aplicação do princípio da mecânica que diz que o coeficiente de atrito aumenta com a
pressão.
Este processo ficou conhecido pelo nome de
travamento Blish, nome do Oficial da Armada dos
USA que em 1915 concebeu a pistola-metralhadora
Thompson (Fig. III-3-22).
A culatra (1) tem um cavado inclinado onde se
encaixa uma cunha (2) com uma face também
inclinada, a qual pode ter movimento vertical
dentro de um alojamento próprio existente na caixa
da culatra. Sob a acção duma pressão elevada, a
força de aderência entre estas superfícies
inclinadas, imobiliza completamente a culatra
garantindo a obturação. Mas sob uma pressão fraca
(quando o projéctil chega junto da boca) a força de Fig. III-3-22

aderência desaparece e a cunha (2) começa a subir libertando o conjunto invólucro-culatra que
pode deslocar-se para a retaguarda.
Ex: Pist Met Thompson .45 (USA).
(3) Por lançamento da culatra (Fig. III-3-23)

III - 19
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Nestas armas, a percussão é efectuada antes


de fechada a culatra, sendo parte da energia
de recuo absorvida pela quantidade de
movimento que possui a culatra, em pleno
movimento de avanço.
O retardamento da desobturação assim
obtido, permite que o projéctil percorra e
abandone a alma.
Ex: Pist Met Bergman 9 mm M/918.

(4) Por acção dos gases


Pistola HK P7 9 mm (GER)
(5) Por roletes de retardamento
Na Espingarda Automática G-3 7,62 mm
M/961, a obturação é assegurada pela
imobilização da cabeça da culatra, por acção
Fig. III-3-23
conjunta, não só dos roletes de retardamento,
salientes por se encontrarem apoiados à parte superior das rampas da peça de comando de
travamento e alojados no do canhão de travamento, mas também por acção resistente do detentor,
a fixar a cabeça da culatra, por acção da inércia (devido à grande massa da culatra), e por acção
da mola recuperadora.
(6) Por acção de uma alavanca
Esp Aut FAMAS 5,56 mm (FRA)
Pist Metr Danuvia 43M 9 mm (HUN)
b. Extracção
Nas armas automáticas, a extracção não é progressiva como nas armas ordinárias, em virtude da
rapidez do movimento de recuo da culatra.
Devido ao esforço que se pede ao extractor, nestas armas encontramos, por vezes, duplicação desta
peça.
Os tipos de extractores que encontramos nas armas
automáticas, são dum modo geral, semelhantes aos que já
estudámos nas armas de fogo ordinárias, sendo de uso
bastante frequente o extractor de garra com mola (Fig. III-3-
24).
Tipos de extractores
(1) De garra
(a) De mola: Pist Met FBP 9 mm M/963; Met Lig
Dreyse 7,9 mm M/938. Fig. III-3-24

(b) Com mola : Esp Aut. G3 7,62 mm M/961; Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961; Esp Aut Colt
5,56 mm M16 (USA); Met Lig FN Minimi 5,56 mm (BEL).
(2) De alavanca: Met Madsen 7,9 mm M/930-41.
(3) Duplos
(3) De dupla calha: Met Browning M2 HB 12,7 mm M/951
(4) De dupla garra: Met Lig Lewis 7,7 mm M/917; FAMAS F1 5,56 mm (FRA)

III - 20
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

c. Ejecção
A ejecção nas armas automáticas pode fazer-se pelo lado ou pelo fundo da caixa da culatra (ou dos
mecanismos) e pode obter-se por:
(1) Ejector fixo, ligado à caixa ou à armadura da culatra.
Ex: Pist Met FBP 9 mm M/963; Esp Aut Galil 5,56 mm M/94; Esp Aut AKM 7,62 mm.
(2) Ejector de alavanca, móvel na caixa de culatra, cujo movimento é comandado pela culatra.
Ex: Met Lig Lewis 7,7 mm M/917; Met Vickers-Berthier 7,7 mm M/931; Esp Aut G3 7,62 mm
M/63.
(3) Abandono do invólucro, dando-se sempre, a saída pelo fundo.
Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951.
(4) Ejector móvel na culatra. Ex: Met Lig MG3 7,62 mm M/92; Esp Aut 5,56 mm Colt M/16 (USA).
d. Detenção
Como as armas automáticas têm as caixas da culatra, ou dos mecanismos, fechadas pela retaguarda,
não existe detenção análoga às armas de fogo ordinárias, sendo o movimento de recuo limitado pelo
choque da culatra com a parte posterior daquelas caixas.
Algumas armas automáticas possuem um órgão a que se dá o nome de detentor da culatra que no
entanto tem uma missão diferente da do detentor das espingardas ordinárias. O detentor da culatra das
armas automáticas tem por fim aumentar a velocidade de tiro, detendo a culatra à retaguarda com a
câmara na posição de aberta, quando se esvazia o carregador.
Funciona assim como avisador de carregamento, não havendo necessidade de trazer a culatra à
retaguarda para substituir o carregador, bastando actuar no detentor para que a culatra vá à frente e
faça a introdução do cartucho apresentado. Ex: Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961.
Nas armas que permitem que a culatra vá à frente com o carregador vazio, há necessidade de puxá-la à
retaguarda para carregar de novo. É o que acontece com a Esp Aut G3 7,62 mm M/961 que não dispõe
propriamente de detentor da culatra, mas sim, de um detentor da cabeça da culatra com vista à
obturação e travamento daquela.

5. MECANISMO DE DISPARAR
Os mecanismos de disparar diferem, conforme aqueles que são de carregamento automático ou de tiro
automático.
a. Armas de Carregamento Automático
Nestas armas a acção do dedo sobre o gatilho deve determinar a partida de um só tiro. Se estes
mecanismos fossem como os das armas ordinárias, atendendo a que os movimentos de recuo e avanço
da culatra são muito rápidos, o atirador não teria tempo para abandonar o gatilho antes do cão, no seu
avanço poder ficar preso no armador, dando-se portanto outro tiro e funcionando a arma como em tiro
automático.
O gatilho é ligado ao armador por uma forma tal que uma vez a culatra liberta, aquelas duas peças se
separam, sendo preciso abandonar o gatilho para que elas novamente se liguem.

III - 21
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Assim (Fig. III-3-25) o gatilho (1) tem um dente (2) e é actuado por uma mola própria (3).
O armador (4) termina por um bloco (5) de forma especial que
uma mola (6) obriga a manter-se apoiada na cauda do armador
e a ter saliente o dente (7) deste no fundo da caixa da culatra.
Quando o atirador actua sobre o gatilho, o dente (2) deste vai
encostar-se ao bloco (5) (Fig. III-3-26), levantando-se a cauda
do armador, comprimindo a mola (6) e baixando
consequentemente o dente (7) que liberta a culatra, partindo o
tiro. Logo que o dente Fig. III-3-35
(7) baixa, o bloco (5), devido à sua forma e sob a acção da mola
(6), escapa-se (Fig. III-3-27), ficando o armador novamente
livre, voltando à sua posição primitiva, de modo que a culatra
no seu avanço é novamente detida pela mola. Tirando-se o dedo
do gatilho, este, sob a acção da sua mola, volta à posição inicial,
Fig. III-3-26
ficando de novo em condições de fazer fogo.
b. Armas de tiro automático
Nestas armas este mecanismo tem que ser organizado de forma diferente, porque um tiro só deve partir
depois da culatra estar travada, ou nas armas em que não há travamento, só depois de assegurar a
obturação e naquelas que o cano é móvel só depois deste ter chegado ao seu lugar. O travamento da
culatra, ou a obturação do cano e a chegada deste à sua posição de tiro, são então funções que nas
armas de tiro automático, devem comandar ou permitir a percussão.
Nestas condições a percussão é comandada:
(1) Por uma acção exterior (dedo sobre o gatilho) para o 1º tiro.
(2) Pela própria arma, para os tiros seguintes.
Actualmente a maioria das armas de tiro automático está
organizada de maneira a poder efectuar-se tanto o tiro
automático como o tiro semi-automático, dispondo para isso,
de um comutador de tiro.
Fig. III-3-27

6. MECANISMO DE PERCUSSÃO
Para que as caixas da culatra não sejam muito compridas, a percussão nas armas automáticas obtém-se de
maneira diferente da das armas de fogo ordinárias onde o percutor (haste de grande comprimento) é
prolongado pelo cão que para o armar, recua quando se abre a culatra.
Vejamos alguns casos típicos da realização da percussão nas armas automáticas:
a. O percutor (1) (Fig. III-3-28), montado sobre o êmbolo (2), tem movimento dentro dum canal (3)
aberto na culatra (4).
Não tem mola especial, sendo a própria mola
recuperadora (5) que desempenha o papel de mola do
percutor.
É o sistema utilizado, entre outras armas, na Met Lewis
7,7 mm M/917 e na Hotchkiss M/909.

Fig. III-3-28

III - 22
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

b. O percutor (1) (Fig. III-3-29), girando dentro de um canal (2) aberto na culatra (3), tem na parte
inferior um dente (4) que na altura em que a culatra
avança, fica seguro pelo armador (5), comprimindo a
mola do percutor (6).
Este sistema que só se emprega nas armas de tiro semi-
automático, é utilizado pelas Pistolas Automáticas
Parabellum 7,65 mm M/908, Savage 7,65 mm M/915
entre outras.
c. O percutor (1) (Fig. III-3-30) alojado na culatra (2),
Fig. III-3-29
tem dentro desta um movimento muito limitado,
achando-se a ponta permanentemente recolhida em virtude da acção duma mola (3) que o veste.
A percussão é determinada pelo choque na cauda (4) do
percutor:
(1) De uma peça ligada ao êmbolo. Ex: Met Vickers
Berthier 7,7 mm M/931.
(2) De um cão martelo. É o sistema mais generalizado e
usado e temos como exemplo as Met Lig MG3 7,62
mm M/92 e a Esp Aut AKM 7,62 mm.
(3) De um ressalto do êmbolo. Ex: Met Pes Breda 7,9 mm
Fig. III-3-30
M/938.
d. O percutor é fixo e saliente na parte anterior da culatra, Ex: Pist Met UZI 9 mm M/961, FBP 9 mm
M/963.
e. O percutor é móvel dentro de um caixilho, comandado por uma alavanca.
Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951
Outros sistemas podem ser ainda utilizados, mas os indicados são os mais generalizados.

7. MECANISMO DE SEGURANÇA
A segurança tem, nas armas de fogo automáticas, as mesmas funções a que já nos referimos no estudo das
armas de fogo ordinárias.
Podemos considerar os seguintes sistemas de segurança:
a. Por imobilização do mecanismo de disparar
Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938 (imobilização do armador)
b. Por imobilização do gatilho
Ex: Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961, Esp Aut G3 7,62 mm M/961 etc.
A maioria das armas actuais tem este tipo de segurança.
c. Por imobilização da culatra
Ex: P ist Met Steyr 9 mm M/942; Pist Met FBP 9 mm M/963; Pist Met UZI 9 mm M/961; Met Lig
M60 7,62 mm
d. Por imobilização do manipulo ou manobrador
Ex: Met Lewis 7,7 mm M/917; Pist Met Vigneron 9 mm M/961 etc.
e. Por imobilização do percutor
Ex: Pist Walther 9 mm M/961 (também possui indicador de carregamento)

8. MECANISMO DE CARREGAMENTO E ALIMENTAÇÃO

III - 23
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Este sistema compreende nas armas automáticas os mesmos órgãos que nas armas ordinárias e a
alimentação tem o mesmo ciclo de operações.
a. Armas de tiro semi-automático:
Usam carregadores amovíveis cuja capacidade não excede normalmente 10 cartuchos.
O depósito é quase sempre central. Nas espingardas é organizado como o das armas de repetição,
executando portanto o transporte, a apresentação e a distribuição dos
cartuchos, se a arma emprega o transportador ou só as duas primeiras
operações se a arma emprega carregador, o qual executa a
distribuição. Nalgumas espingardas e na grande maioria das pistolas, o
depósito é uma simples caixa que dispõe de um órgão para fixar o
carregador (fixador) organizada de forma a executar o transporte, a
distribuição e a apresentação dos cartuchos.
Estes carregadores são metálicos e de forma paralelepipédica (Fig. III-
3-31), no interior dos quais se encontra uma mola encimada por uma
lâmina, constituindo ambas o transportador.
A dobragem (arredondamento) das paredes laterais do carregador na
sua parte superior formando orelhas, faz a distribuição dos cartuchos.
Fig. III-3-31
Esta variedade de carregadores, entram completamente no depósito
que nas pistolas, é o próprio punho da arma. Este sistema satisfaz, se o combatente transportar consigo
vários carregadores que são rapidamente colocados e extraídos da arma.
b. Armas de tiro automático
Devido à sua grande velocidade de tiro, o processo porque se realiza o carregamento é um pouco
diferente utilizando-se:
(1) Carregadores externos de grande capacidade - 15 a 50 cartuchos
Os carregadores fazem parte do próprio mecanismo da arma e desempenham um papel activo na
alimentação.
Têm formas muito variadas mas podem agrupar-se da seguinte maneira:
(a) Lâminas
As lâminas, são tiras rectangulares de aço com capacidade de 15 a 30 cartuchos, nas quais
estes se fixam por meio de urnas, levantadas da própria lâmina.
Exige este sistema que as armas possuam um organismo especial - o alimentador - onde a
lâmina seja introduzida, ficando horizontal e perpendicular ao eixo do cano e onde recebe
automaticamente movimento de translação (transversal) para que se realize o transporte e a
apresentação sucessiva dos cartuchos.
Este movimento é obtido por transformação do movimento longitudinal da culatra ou do
êmbolo. A distribuição é feita pela própria lâmina e a introdução pela culatra.
(b) Tambores
São depósitos de forma circular, que podem ter movimento de rotação - que é dado por uma
alavanca manobrada pela própria arma - , ou ser fixos. Neste caso os cartuchos são levados à
posição de apresentação por uma mola interna, do tipo de relógio, a que se dá corda quando
se faz o carregamento do tambor.
(c) Carregadores propriamente ditos

III - 24
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

São caixas metálicas de secção rectangular ou trapezoidal dentro das quais se encontra, como
nos carregadores das pistolas, uma mola e uma lâmina – o transportador – destinadas a
executar o transporte e a apresentação dos cartuchos.
A distribuição, na maioria dos casos, é feita pelo próprio carregador por meio das suas
orelhas.
A sua forma deriva do cartucho utilizado. Se o cartucho tem um perfil tronco-cónico
acentuado e é de garganta, o carregador é rectilíneo; se o cartucho tem ainda um perfil
tronco-cónico pouco acentuado mas é de rebordo, então o carregador é curvilíneo, sendo
porém fraca a curvatura. Os carregadores fixam-se à arma por meio de dentes existentes nas
suas faces externas, que se introduzem em montagens feitas no alojamento na caixa da
culatra, sendo a sua introdução e extracção facilitadas por meio de fechos especiais.
Podem ser colocados superior, inferior ou lateralmente, mas sempre no caminho da peça
destinada à introdução que é, em geral, a culatra.
A sua capacidade varia de 20 a 30 cartuchos.
Ex: Esp Aut Colt M16 5,56 mm (USA) - 20 Cartuchos
Esp Aut AKM 7,62 mm (RUS) - 30 Cartuchos
Nota: Actualmente existe uma norma OTAN que normaliza os carregadores, fazendo com
que eles sejam intermutáveis entre as diversas armas.
(d) Caixas:
São carregadores múltiplos organizados de modo que quando se esvazia um deles, o
imediato é levado automaticamente à posição de carregamento. São pouco utilizadas pelo
que o seu estudo não se reveste de interesse.
(2) Fitas
(a) De tecido
São geralmente formadas por duas tiras de linho forte sobreposto de espaço a espaço por
uma pequena chapa de metal, de forma a constituírem uns pequenos alvéolos onde se
introduzem os cartuchos.
Têm porém o inconveniente de os alvéolos encolherem com a humidade, ou de se alargarem
ao fim de um curto tempo de uso, o que torna difícil a extracção do cartucho da fita, ou, pelo
contrário, permitirem a queda fácil dos cartuchos, descarregando-se a fita. Por este motivo,
alguns construtores apresentam tecidos plásticos.
(b) Metálicas
As fitas metálicas ou rígidas são formadas por pedaços de lâminas metálicas articuladas.
Em geral são enroladas e contidas em cunhetes – no caso de funcionamento da arma como
Met Ligeira – ou em carregadores com a forma de tambor – no caso de funcionamento da
arma como Met Pesada. Apresentam estas fitas, o inconveniente de ser pesadas, frágeis e
difíceis de extrair da arma, provocando demoras nas mudanças de posição, razões porque o
seu emprego, apesar de ensaiado em todos os Exércitos, não se tem generalizado.
A bordo dos aviões e dos carros de combate, onde o espaço disponível é sempre fraco, para
evitar que fique pendurada na arma a parte da fita vazia, emprega-se, em vez destas fitas a
que podemos chamar contínuas, outras formadas por lâminas para um só cartucho, e em que
este desempenha o papel de eixo da articulação, de modo que uma vez extraído, a lâmina
fica livre e cai, em geral, dentro de uma caixa ou saco devidamente disposto para esse fim
debaixo da arma, não causando portanto embaraço.

III - 25
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A estas fitas dá-se o nome de fita de elos. A Met Pes


Browning M2 HB 12,7 mm M/951 usa também
cunhetes metálicos com 120 cartuchos em fita de
elos. Têm o inconveniente de ser difícil a sua
introdução, mas por outro lado apresentam a
vantagem de capacidade ilimitada.
A figura Fig. III-3-32 mostra quatro tipos de fita
desta natureza.

9. MEIOS DE REFRIGERAÇÃO DOS CANOS


No tiro contínuo, os canos sofrem em média, um aumento de Fig. III-3-23
temperatura de 1 grau por tiro, para os primeiros 300 tiros. A
partir deste ponto até aos 600 tiros, o aumento é de 1 grau por cada dois tiros. Seguidamente esse aumento
de temperatura passa a ser menos rápido. Quando envolvido em água, a temperatura do cano não sobe
além de 150 graus.
Combater o aquecimento é pois, imperioso e como não é possível actuar sobre a quantidade de calor que à
partida de cada tiro é comunicada ao cano, procura-se retardá-lo por vários processos que na prática se
agrupam conforme as armas, mas que podemos distinguir:
- Por irradiação;
- Por aumento da massa do cano;
- Por substituição do cano;
- Por diminuição da cadência de tiro;
- Por renovação do ar junto ao cano.
a. Refrigeração por irradiação
Este processo consiste em aumentar a superfície de arrefecimento do cano.
Aumenta-se essa superfície, abrindo no cano caneluras transversais que lhe dão o aspecto de estar
envolvido por discos. Estes podem ser em pequeno número mas muito largos, como acontece na Met
Hotchkiss 7,7 mm ou em grande número mas pouco profundos e muito juntos, tal como nos canos das
Metralhadoras Vickers Berthier 7,7 mm M/931 e Madsen 7,9 mm M/930-41. No primeiro caso essa
superfície limita-se quase à câmara; no segundo estende-se a todo o cano como acontece na Pist Met
Vigneron 9 mm M/961.
Algumas armas apresentam as caneluras no sentido longitudinal. Outras, em vez de as terem abertas
no cano têm-nas numa manga, que o veste, constituída de um metal leve e muito bom condutor de
calor. É o que se passa na Met Lig Lewis 7,7 mm M/917.
Presentemente todas as armas fazem o arrefecimento por irradiação pelo ar.
b. Refrigeração por aumento da massa do cano
Aumenta-se também a superfície de arrefecimento, aumentando a massa do cano, isto é, dando-lhe
uma espessura superior à exigida pela curva das pressões, o que lhe permite, ainda, armazenar muito
calor. Ex: Met Pes Breda 7,9 mm M/938.
As armas que utilizam este meio de refrigeração devem normalmente fazer o tiro por pequenas rajadas
e excepcionalmente, executar tiro contínuo.
c. Refrigeração por substituição dos canos
Este processo, que à primeira vista parece seduzir, tem inconvenientes vários, designadamente:

III - 26
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

- Dificuldade de executar a substituição dos canos nas primeiras linhas, porque os movimentos
efectuados, mesmo simples, poderem descobrir o pessoal;
- Demora no arrefecimento do cano substituído em comparação com o aquecimento do cano utilizado;
- Dificuldade em aumentar o número de canos que acompanham a arma, por a capacidade de
transporte da respectiva guarnição ser limitada.
Não obstante os inconvenientes apontados, este sistema é o mais vulgar, pelo que as metralhadoras
dispõem geralmente de um ou mais canos de reserva. Ex: Met Pes Browning 12,7 mm
É o sistema de refrigeração utilizado pela maior parte das metralhadoras, sendo corrente porém, a
utilização de mais do que um sistema.
d. Refrigeração por diminuição da cadência de tiro
Consiste em executar correctamente a regulação do funcionamento das armas de forma a fazer baixar a
sua cadência de tiro, retardando, no tempo, o aparecimento da temperatura crítica.
e. Refrigeração por renovação do ar junto do cano
Consiste no emprego de uma manga, com furos de ventilação, que envolve o cano da arma
Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938, Met Lig Madsen 7,9 mm M/930-41.

10. MEIOS DE ARMAZENAR ENERGIA


Como já vimos, os gases desenvolvidos pela carga do cartucho são o agente motor que movimenta as
partes móveis. Para as levar às suas posições iniciais utilizam-se normalmente, uma ou mais molas que
para o efeito, armazenam uma parte da energia desenvolvida pelos gases da pólvora e que durante o
recuo, podem ser comprimidas, distendidas, dobradas ou enroladas.
Devido ao trabalho intenso que se lhes exige, as molas aquecem, podendo mesmo chegar a perder
elasticidade, o que exige bons aços, perfil correcto e tratamentos térmicos especiais, além da possibilidade
de serem reguláveis.

11. ÓRGÃOS DE APOIO


Os órgãos de apoio das armas automáticas desempenham um papel importantíssimo na execução do tiro.
A sua organização depende do peso da arma e das suas características próprias.
Assim, podemos classificá-los da seguinte forma:
a. Suportes ligeiros
São destinados às armas ligeiras às quais andam permanentemente ligados. Devido ao seu reduzido
peso não impedem que a arma seja transportada por um só homem.
Servem apenas para o tiro terrestre.
Subdividem-se em:
- hastes;
- bipés;
- tripés;
- berços.
Presentemente encontra-se generalizado o uso do bipé.
b. Reparos móveis
São destinados às armas pesadas. Para a execução do tiro terrestre, e em virtude do seu peso elevado,
são transportados separados da arma, podendo, em caso de necessidade, ser transportados juntamente
com elas mas exigindo para isso dois ou mais homens.
Subdividem-se nos seguintes tipos:

III - 27
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- tripés;
- tetrapés;
- reparos rodados.
c. Reparos de posição
Destinados ao tiro terrestre e à utilização da arma em posições fixas, como fortes, entrincheiramentos,
navios, etc.
Subdividem-se nos seguintes tipos:
- cónicos;
- de elipse;
- de trincheira.
d. Reparos anti-aéreos
São destinados ao tiro anti-aéreo.
Subdividem-se nos seguintes tipos:
- ligeiros;
- pesados;
- de posição.
f. Reparos de viatura
Utilizados em viaturas tácticas e viaturas de combate
Subdividem-se nos seguintes tipos:
- pedestais;
- reparos de suspensão universal e boleados;
- reparos de anel;
- berços.
f. Reparos navais
Utilizados em navios e embarcações. Subdividem-se em dois tipos:
- Reparos antiaéreos;
- Reparos para tiro de superfície.
h. Reparos de aeronave
São utilizados em aeronaves de combate. Podem ser guarnecidos directamente por um apontador ou
por controlo remoto.
Podiam ser montados em diversos tipos de torres, nos aviões mais antigos. (Ex: Bombardeiro Boeing
B-17G Flying Fortress).
Actualmente podem ser montados em alguma parte da fuselagem, ou das asas, bem como suspensos
de ambas (Ex: Helicóptero Boeing AH-64 Apache, Caça Boeing F/A-18E/F Super Hornet).
Algumas aeronaves do tipo helicóptero podem também permitir a montagem em reparos de pedestal
(Ex: Helicóptero Bell UH-1D Iroquois Gunship).

12. CORONHA
As espingardas automáticas têm coronhas semelhantes às das ordinárias, obedecendo às mesmas
condições.
São comuns, todavia, coronhas metálicas, retrácteis, permitindo a redução do seu comprimento para um
transporte mais fácil e dissimulado.
As metralhadoras ligeiras empregam sempre coronha limitada ao couce, ou ao delgado e couce, ligando-
se por meio duma armação metálica à caixa da culatra.

III - 28
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Algumas metralhadoras pesadas ou destinadas a fazer fogo de viaturas ou aeronaves não possuem
coronha. Umas têm em seu lugar uma empunhadura dupla (Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm)
permitindo a pontaria de um reparo pesado, Outras, manobradas remotamente, são apenas montadas nos
seus reparos de viatura ou aeronave, com a parte posterior coincidindo com a caixa da culatra e
mecanismos [Met Pes M85 12,7 mm (USA), montada em berço na cúpula da torre do carro de combate
M60A3TTS].

13. GUARNIÇÕES
O estudo das guarnições feito nas armas ordinárias mantém-se válido, no aplicável, para armas
automáticas.

14. ACESSÓRIOS
Entre os variadíssimos acessórios destas armas merecem menção especial os seguintea, para além dos já
referidos no capítulo das armas ordinárias :
a. Aparelhos de tiro simulado ou batentes de instrução
São indispensáveis para dar a ilusão de fogos reais. Utilizam cartuchos simulados em manobras de
tempo de paz e servem para facilitar a instrução.
São aparelhos que se aplicam na extremidade do cano afim de diminuir o seu calibre, diminuindo
assim a câmara de explosão, uma vez que o projéctil simulado se volatiliza quase completamente no
momento do tiro.
Para evitar desastres, têm normalmente um aspecto exterior muito diferente dos tapa-chamas ou
reforçadores de recuo.
b. Calhas para montagem de dispositivos extra e acessórios
As também chamadas calhas tácticas são acessórios que permitem a fixação às armas de diversos
dispositivos acessórios e extraordinários, de uma maneira rápida e segura e padronizada. Consiste na
fixação à arma, por cima ou nos lados da caixa da
culatra, do fuste ou do cano, de calhas com ranhuras
transversais, que permitirão a fixação simples e rápida
de diversos equipamentos como sejam, alças Fig. III-3-27
telescópicas, reflexivas ou de visão nocturna, lanternas
tácticas, lasers, empunhaduras, bipés, baionetas, etc.
Usam-se calhas com ranhuras de medidas padrão, de forma a que os construtores dos diversos
acessórios a ser utilizados, lhes possam adicionar dispositivos de fixação adequados a estas medidas.
Actualmente estão generalizados dois tipos de calhas, semelhantes mas de medidas diferentes: o tipo
Picatinny (Fig. III-3-27) e o tipo Weaver. As calhas Picatinny mais generalizadas, obedecem às
exigências de normalização aprovadas pelos países da NATO.

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CAPÍTULO IV

PISTOLAS

1. BREVE HISTÓRIA E EVOLUÇÃO


A pistola acompanhou a evolução das espingardas. Para a obtenção de pistolas com mecanismos de
repetição, surgiu a pistola de canos múltiplos e posteriormente o sistema de depósito. Surge o depósito no
fuste e depois central, com carregadores internos e externos.
As pistolas primitivas funcionavam por acção do guarda-mato ou do percutor, sendo de difícil manejo,
impondo ainda dimensões reduzidas ao cartucho, sendo por isso uma arma inferior ao revólver.
O princípio de automatismo aplicado às pistolas constituiu um notável aperfeiçoamento. A primeira
pistola com este princípio surgiu em 1893. Foi uma pistola de calibre 11,45 mm e cujo cano era ligado a
um tubo onde trabalhava um êmbolo que por acção dos gases da pólvora captados num ponto do cano,
realizava a ejecção do invólucro.
Três anos depois surge a Pist “Clair” com o mesmo sistema de tomada de gases num ponto do cano. Este
sistema foi posto de parte devido ao pequeno comprimento do cano.
Em 1893 surge a Pist “Brochardt”, predecessora da Pist “Parabellum” com sistema complicado e
inconveniente pela sua delicadeza, embora manifeste já alguma das características das armas actuais.
Em 1894 surge a Pist “Mannlicher”, arma bastante curiosa, em que o cano era levado à frente pelo
forçamento do projéctil nas estrias do cano. Nesse mesmo ano aparece a Pist “Bergmann” e em 1897 a
Pist “Charola-anitua” e a Pist “Simplex”.
Em 1898 surge a Pist “Mauser” que podia ser utilizada como pistola ou como carabina.
Em 1900 surgem as Pistolas “Brochardt-Luger” também conhecida por “Parabellum”; “Roth”; “Dreyse”;
“Mannlicher”; etc. Em 1903 a fábrica “Colt” apresenta a “Browning” de algibeira de grande categoria
técnica devido às suas reduzidas dimensões.
Em 1908 surge a Pist “Parabellum” 9 mm. Em 1911 surge a Pist “Colt” nos E. U. A.
As pistolas, são armas de grande calibre e de grande poder derrubante, utilizadas como armas de defesa
pessoal, utilizadas a curtas distâncias.

2. PROCESSO DE FUNCIONAMENTO
As pistolas classificam-se no seu processo geral de funcionamento, dentro dos seguintes sistemas de
automatismo:
a. Sistema em que recua cano e culatra, por acção indirecta dos gases
Dentro destes, o processo de funcionamento mais empregue é:
- Curto recuo cano
Este processo é usado nas pistolas de maior calibre.
Funcionamento
1ª Fase
Recua o cano solidário com a corrediça/culatra.
Compressão das molas recuperadoras.
2ª Fase
Inicia-se o destravamento da culatra/corrediça do cano.
Compressão da mola recuperadora da culatra.

III - 30
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Extracção e Ejecção.
3ª Fase
Avanço da culatra/corrediça, introdução de nova munição
Travamento da culatra/corrediça.
As armas que funcionam por este sistema utilizam culatras travadas. Os sistemas de travamento mais
comuns, já descritos, são:
(1) Por bielas articuladas. Ex: Pist Parabellum 9 mm M/943, Pist Borchardt C-93 7,65 mm (GER);
(2) Por inclinação do cano. Ex: Pist Glock 9 mm (AUT), Pist Colt M1911 11,43 mm (USA);
(3) Por roletes de travamento. Ex: Pist CZ-52 7,62 mm (CZE);
(4) Por bloco de travamento. Ex: Pist Walther 9 mm M/61, Pist Beretta 92F 9 mm (USA);
(5) Por rotação do cano. Ex: Pist Beretta Px4 Storm 9 mm (ITA);
b. Sistema em que recua só a culatra
(1) Por acção indirecta de gases
É usado nas pistolas de menor calibre que funcionam por acção indirecta de gases. O travamento
é por inércia através de um retardamento na desobturação. As armas com este sistema utilizam
cargas moderadas e por isso o peso da culatra e a força da mola recuperadora são suficientes para
impedir a abertura da câmara antes da saída do projéctil do cano.
Ex: Pistola 7,65 mm Savage M/915.
(1) Por acção directa de gases
De difícil aplicação, dadas as reduzidas dimensões das pistolas e a complexidade de montagem de
com canal com êmbolo. É apenas usado em pistolas de grande calibre, em que o
excepcionalmente elevado recuo inviabiliza um sistema por acção indirecta de gases.
Ex: Pistola 12,7 mm Desert Eagle (ISR).
b. Sistema em avança o cano
Como já vimos, foi um sistema experimentado aquando do aparecimento da pistola semi-automática,
em finais do século XIX, inícios do século XX.
Foi abandonado por não trazerem armas vantagens apreciáveis, antes enfermando de um recuo
demasiado forte para munições semelhantes.
Ex: Pistola 7,65 mm Schwarzlose, Model 1908 (AUT);
Pistola 7,65 mm Steyr Mannlicher M1894 (AUT).

3. SEGURANÇA DE FUNCIONAMENTO
Para aumentar a segurança de funcionamento, as pistolas têm sido objecto de vários aperfeiçoamentos que
as tornam mais complexas.
No tocante à segurança do atirador, o mecanismo consiste regra geral num botão ou alavanca que
imobiliza o gatilho ou o separa do armador e que é facilmente manejável pelo polegar direito.
Cada arma terá o seu próprio sistema de segurança, contudo os mais importantes são:
a. Imobilização da corrediça
b. Imobilização do cão Ex: Pistola Star 7,65 mm
c. Imobilização do gatilho Ex: Pistola Browning 9 mm HP M3
d. Imobilização do armador Ex: Pistola 9 mm Parabellum
e. Imobilização do percutor Ex: Pistola 9 mm Walther
Existem pistolas com um indicador de carregamento que indica que existe uma munição introduzida na
câmara, funcionando como sistemas auxiliares de segurança. Ex: Pist 9 mm Walther M/961.

III - 31
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

4. ORGANIZAÇÃO DAS PISTOLAS


a. O cano
O cano das pistolas é semelhante aos canos das armas ordinárias pois tem o mesmo fim; encaminhar o
projéctil na sua trajectória, após o disparo. O cano é no entanto agora mais espesso devido à maior
velocidade de tiro, para ter uma maior resistência à ruptura.
O cano nas pistolas não ultrapassa os 16 cm de comprimento, sendo estriado num número que
geralmente vai de 4 a 6 estrias. A maioria das pistolas actuais utiliza um calibre entre os 7,65 mm e os
9 mm. A tendência actual é para a manutenção dos calibres estandardizados, mercê dos requisitos de
munições padronizadas para as forças armadas e de segurança que as adquirem e também para o
mercado civil.
b. Caixa da culatra
A caixa da culatra destina-se a alojar, a travar a culatra móvel e a facilitar e guiar os seus movimentos
pelo que se subordina à forma desta. Normalmente nas pistolas tem o nome de corrediça.
c. Aparelho de pontaria
As pistolas têm um aparelho de pontaria de mira ordinária e possuem normalmente uma única linha de
mira pois as alças que utiliza são alças de ranhuras simples fixas. Têm normalmente a alça regulada
para distâncias inferiores a 50m.
d. Culatra
Como já sabemos, a culatra móvel é o agrupamento de peças destinado a fechar o cano pela parte
posterior e a obter conjuntamente com o invólucro uma obturação completa e perfeita. Nas pistolas, a
reduzida massa que as culatras têm, aliada à dificuldade de as manobrar, faz com que as mesmas sejam
envoltas numa manga, a corrediça, que também cobre parcialmente o cano. A culatra e a corrediça são
solidárias, movendo-se sempre juntas.
Algumas pistolas, porém, possuem uma culatra realmente móvel dentro da corrediça, fazendo esta as
vezes da caixa da culatra como nas espingardas automáticas e de manobrador manual.
e. Percussão
A percussão, na maioria das pistolas, é efectuada pelo mecanismo de disparar e é composto pelo
gatilho, percutor, mola do percutor, cão e armador.
A percussão nas pistolas realiza-se quando o percutor uma vez armado sofre o choque do cão, que é
solto quando se prime o gatilho.
f. Extracção
Os extractores mais usados são de garra com mola, contudo existem pistolas com extractores de garra
de mola.
g. Ejecção
Os ejectores mais usados nas pistolas são:
(1) Ejector fixo, ligado à corrediça.
(2) Ejector da alavanca, cujo movimento é comandado pela corrediça/culatra.
A ejecção é quase sempre lateral, estando o ejector colocado do lado oposto à janela de ejecção.
h. Mecanismo de carregamento e alimentação
As pistolas usam carregadores amovíveis cuja capacidade não excedem normalmente 15 munições.
O depósito é quase sempre central.

III - 32
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 5

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE PISTOLAS E REVÓLVERES

Ao longo do tempo as pistolas tiveram que competir com os revólveres pelo que uns defendiam/defendem
as pistolas e outros os revólveres.
O automatismo aplicado às pistolas veio dar-lhes uma grande supremacia sobre os revólveres, não
deixando estes porém, de ter grande número de admiradores. Justifica-se por isso, uma breve comparação
das vantagens e inconvenientes entre estas duas armas individuais.
Analisando as condições de carácter balístico não há dúvida de que as pistolas são superiores aos
revólveres, porque, não havendo descontinuidade entre a alma do cano e a câmara, não há fuga de gases e
consequentemente não há perda de velocidade se utilizados projécteis encamisados. Estes projécteis são
indispensáveis também nas pistolas por causa das operações de alimentação, em especial a introdução,
que é sempre brusca e deformaria o projéctil se o mesmo não fosse revestido.

Vantagens das pistolas:


- maior velocidade inicial do projéctil;
- maior velocidade de tiro;
- menor esforço na execução do tiro (cerca de 4Kg, enquanto os revólveres, para a rotação do cão e do
tambor, exigem cerca de 7Kg – actualmente há revólveres que se aproximam dos valores das
pistolas);
- melhor continuidade de tiro (caso se disponha de novo carregador).

Vantagens dos revólveres:


- maior poder derrubante (em igualdade de calibre e de carga, usando projéctil uni-metal);
- maior simplicidade, não exigindo tantos cuidados;
- maior segurança no funcionamento (se um cartucho falha, a pistola fica incapaz durante alguns
segundos enquanto o revólver pode efectuar novo tiro em meio segundo).
- os cartuchos podem ser recolhidos pelo atirador (não fica referenciado o local dos disparos).

Que conclusões se podem tirar desta comparação?


A arma de defesa individual é uma arma de oportunidade que se utiliza em caso de emergência e,
portanto, a segurança de funcionamento deve ser a condição a atender em primeiro lugar. É por este facto
que algumas pessoas preferem o revólver, afirmando que mais vale ter uma arma que garanta a execução
de seis tiros (carga normal do revólver), do que dispor de outra carregada com o dobro dos cartuchos mas
cujo funcionamento seja duvidoso.
Actualmente, como a segurança de funcionamento das pistolas é quase igual à dos revólveres, a
preferência vem, cada vez mais, sendo dada àquelas.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 6

PISTOLAS-METRALHADORAS

1. BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA


As pistolas-metralhadoras aparecem pela 1ª vez em fins de 1916 durante a 1ª Guerra Mundial, no Exército
Italiano (Fiat M/915). Era um modelo constituído por duas pistolas acopladas, ligadas anteriormente por
um travessão e posteriormente por uma coronha única, podendo disparar independente ou
simultaneamente. Tratava-se de uma arma automática de cano fixo.
Em 1917 o Exército alemão é dotado da “Parabellum” com cano comprido e coronha, mas a execução do
disparo automático não dá resultados.
Em 1918, Petersen consegue realizar um novo tipo de Pistola Metralhadora à custa dum dispositivo de
calibre .30 adaptado à Springfield. Não foi, porém feliz porque não resultou na prática.
Neste mesmo ano Hugo Schmeisser consegue a sua Pistola-metralhadora (Bergman Mushete M/18-I).
Tratava-se de uma arma automática, de cano fixo, utilizando o cartucho “Parabellum”. É uma arma ideal
para utilização no assalto.
E de tal forma o valor prático das Pistolas-metralhadoras era considerado, que pelo tratado de Versailles,
foi imposta a proibição do seu uso pela Reichswehr, sendo somente permitida à polícia mas em número
reduzido.
Estava assim lançada a semente para futuros estudos de aperfeiçoamento e para a generalidade do seu uso
em todos os Exércitos do Mundo.
Colocadas entre as armas ordinárias e as metralhadoras, as pistolas-metralhadoras aliavam a uma boa
manejabilidade uma grande cadência de tiro.
Devido às velocidades serem pequenas (V 0 -360m/s em média) e os canos curtos (25 cm
aproximadamente), adoptou-se para o automatismo o princípio da acção indirecta dos gases com culatra
não travada.
Como as velocidades práticas a empregar são reduzidas (50/60 t.p.m. - em tiro-a-tiro - para uma cadência
de tiro de 600 t.p.m., em média), não foi preciso criar qualquer sistema de arrefecimento.
Assim, têm um peso aproximado de 3,5 kg e empregam o cartucho das pistolas. O calibre é geralmente 9
mm, o que vem facilitar o remuniciamento devido ao fraco peso da munição.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE IV

OUTRAS ARMAS DE FOGO LIGEIRAS

CAPÍTULO 1

ARMAS DE FRANCO-ATIRADOR

1. GENERALIDADES
Desde os tempos mais primitivos, o ser humano teve de lutar e caçar para sobreviver. No início as
distâncias a que se matava a caça eram pequenas (apenas alguns metros). Contudo, com o
desenvolvimento do armamento, ele irá conseguir caçar a maiores distâncias.
Irá desenvolver armas que lançam o projéctil à distância a par da utilização de camuflagem. São duas
descobertas que mantêm a sua vigência até aos nossos dias.
Enquanto as armas de fogo evoluíram com grande rapidez, os sistemas de pontaria permaneceram
inalterados. Durante muitos anos, o sistema de miras abertas foi o único equipamento de pontaria que o
atirador dispunha. Contudo, havia necessidade de não só atirar mais longe mas também com maior
precisão. Como consequência começaram a aparecer atiradores que conseguiam acertar com precisão no
alvo a grandes distâncias.
A palavra anglo-saxónica sniper, correspondente à expressão
portuguesa de franco-atirador é a designação mais comum
internacionalmente . O termo sniper teve origem no século XIX,
com o Exército Britânico, na Índia, onde existia um pássaro, a
narceja (snipe) (Fig. IV-1-1) de pequena cauda e bico longo que
se alimentava de insectos, pequeno e rápido, alvo extremamente
difícil para qualquer caçador. O atirador para lhe acertar, tinha Fig. IV-1-1

que ser realmente muito bom e aqueles que conseguiam eram chamados de snipers (forma contraída de
snipe, e killer).
Esta “caça” transformou-se num jogo, que rapidamente se transformou num jogo favorito entre
determinadas elites.
O caçador de snipe de sucesso era um perito no tiro e proficiente noutras artes de caça. Por conseguinte, o
termo sniper apareceu a significar aquele que possuía todas as capacidades de um caçador de snipe de
sucesso.
Todavia, a proficiência do franco-atirador militar desenvolveu-se mais como uma arte, à medida que os
avanços no armamento, no equipamento e nas técnicas foram surgindo.
Na I Guerra Mundial, o Exército Britânico defrontou-se com atiradores alemães peritos equipados com
espingardas especiais e aparelhos telescópicos. O termo “sniper” foi-lhe aplicado e popularizado. Os
franco-atiradores alemães “forçaram” o Exército Britânico a empregar as mesmas técnicas e, sob
liderança do Major Hesketh Pritchard, foi organizado um curso de sniper (a primeira escola do exército
de sniper, Observação e Exploração).
Depois da I Guerra Mundial, a ênfase dada ao franco-atirador decresce, excepto na União Soviética. Em
1930, URSS começou a treinar e equipar franco-atiradores. Na II Guerra Mundial, os soviéticos já tinham

IV - 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

cuidadosamente integrado tácticas de franco-atirador no seio da sua doutrina táctica e os seus atiradores
especiais podiam operar em equipas bem preparada. Cada franco-atirador sabia exactamente para onde ir
e o que fazer.
Durante a II Guerra Mundial, o Exército Americano armou unidades de atiradores especiais com a
finalidade de conduzir actividades de sniper. O seu emprego efectivo, bem com os respectivos resultados
e efeitos diferiam entre comandantes e unidades.
Uma lição específica apreendida no emprego de franco-atiradores foi a de que a utilização dum franco-
atirador não é só um factor de oportunidade: um atirador típico não pode ser arbitrariamente designado
para uma missão superior crítica.
Todo o bom atirador não é obrigatoriamente, um franco-atirador, mas todo o franco-atirador é,
obrigatoriamente, um bom atirador.
Com a Guerra da Coreia, os Americanos chegaram a algumas conclusões entre as quais a necessidade de
centralizar escolas de franco-atiradores, de flexibilizar a organização de franco-atiradores e de treinar
comandantes sobre a utilização correcta das capacidades dos franco-atiradores.
Como resultado em 1955, à Escola Prática de Infantaria dos Estados Unidos foi dada a missão de
organizar uma escola de franco-atiradores. O programa reiterava:
i. As capacidades requeridas a um franco-atirador devem ser superiores a um atirador médio;
ii. Um franco-atirador deve ser um atirador nato, com uma arma especial;
iii. Um franco-atirador deve ser altamente treinado nas técnicas individuais de combate;
iv. A inexistência de uma estrutura, o treino incompleto e a falta de doutrina inibe o uso de franco-
atiradores;
v. A mentalização da formação dos comandantes é vital para assegurar o uso correcto de um sniper.
Um franco-atirador tem, pois, aptidões, treino e equipamentos especiais.
A sua função é a de executar discriminadamente tiro com alta precisão contra alvos inimigos que devido
ao alcance, tamanho, local, natureza móvel ou visibilidade, não pode ser efectuado com sucesso por um
atirador normal.
A “arte de franco-atirador” requer o desenvolvimento das aptidões básicas de Infantaria a um alto nível de
perfeição.
O seu treino engloba uma grande variedade de matérias com o objectivo de aumentar o seu valor como
força multiplicadora e de assegurar a sua sobrevivência no campo de batalha.
O seu domínio requer uma prática de aprendizagem e repetição dessas matérias até absoluto domínio das
mesmas.
Um franco-atirador deve ser altamente treinado em tiro de longo alcance e técnicas de combate, a fim de
assegurar uma máxima probabilidade de sucesso e o mínimo risco de detecção.
A perfeição deve ser atingida antes de se tomar parte em operações de combate.
Em 1983, durante a operação “Fúria Urgente”, os Rangers do Exército Americano empregaram franco-
atiradores em Granada. O sucesso foi enorme na eliminação de alvos inimigos em posições de morteiros a
distâncias superiores a 800 metros. A redução de fogos dessas posições era essencial para o sucesso da
missão e ilustra a importância do emprego do franco-atirador.
Actualmente, e em todas as forças do Mundo, o franco-atirador é visto como uma peça fundamental no
campo de batalha.
É intenção de treino do franco-atirador de produzir atiradores especialistas que actuem isolados ou em
grupo por bastante tempo.

IV - 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Os franco-atiradores do Exército são formados no Centro de Operações Especiais (COE) em Lamego,


enquanto que os franco-atiradores da Marinha são formados no Destacamento de Acções Especiais
(DAE) do Corpo de Fuzileiros. Estas unidades são responsáveis por gerar equipas de franco-atiradores
para emprego táctico e operacional.
Os franco-atiradores das Forças de Segurança são formados e empregues pelo Centro de Operações
Especiais (COE) da Polícia de Segurança Pública.

2. CARACTERÍSTICAS DO FRANCO-ATIRADOR
Poder de concentração, determinação, resistência, agilidade física e mental, alto nível de treino, paciência
e perspicácia.
Para desenvolver estas qualidades o treino deve ter em especial atenção:
a. Aquisição de alvos e estimativas de alcances.
b. Camuflagem e disfarce.
c. Utilização do terreno de forma eficaz.
d. Preocupação na escolha da posição.

3. PRINCÍPIOS DE EMPREGO TÁCTICO E OPERACIONAL


a. O franco-atirador bate preferencialmente: franco-atiradores, comandantes, oficiais, observadores
avançados, guarnições de armas pesadas, operadores de transmissões.
b. Um franco-atirador deve poder bater:
(1) Um alvo de tamanho de uma cabeça a 400 m.
(2) Um alvo de tamanho de um tronco humano a 600 m.
(3) Um alvo de tamanho de um homem de pé a 1000 m.
c. Os franco-atiradores actuam:
(1) Isolados;
(2) Em parelhas (preferencialmente e o mais usual);
(3) Em equipas de composição variável (em áreas urbanas e missões de segurança de área ou de
protecção a altas entidades.

4. LUTA ANTI SNIPER


No moderno campo de batalha o franco-atirador, como foi visto no capítulo anterior, adquire uma
importância vital. Com os conflitos mundiais a ficarem cada vez mais reduzidos a focos de instabilidade
regional, os franco-atiradores saem claramente beneficiados, pois o seu “modus operandi” adapta-se
perfeitamente a este tipo de conflito. Temos como exemplo num “passado-recente”, os conflitos da
Bósnia-Herzgovina e da Chechénia. Assim, os exércitos estão cada vez mais a tomar consciência deste
aspecto e estão a encontrar formas de o combater.
Presentemente, o combate anti-sniper apresenta as seguintes formas:
- Detecção do franco-atirador;
- Detecção e localização do franco-atirador após o disparo;
- Protecção do atirador.
a. Detecção do franco-atirador
Pode ser utilizado um sistema de vigilância óptica do Campo de Batalha, (Battlefield Optical
Surveillance System) “Boss”. É um sistema montado e operado num veículo que detecta armas de
franco-atirador que utilizem sistemas ópticos.

IV - 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Utiliza a energia do veículo no qual está montada. Tem um alcance efectivo de 1500 m. Emprega um
sistema passivo de infravermelhos.
Adquire o alvo através de retro-reflexão do aparelho óptico do sniper, antes do disparo.

b. Detecção e localização do franco-atirador após disparo.


É um sistema ainda em estudo. Explora os seguintes parâmetros:
(1) Velocidade acústica do projéctil
É composto por um aparelho com microfones localizados de uma maneira precisa, ligado a um
computador, com um processador de sinais.
Já foram testados com resultados positivos nas espingardas de franco-atirador 5,56 mm M16 e 7,62
mm Remington.
Apresenta como limitações:
(a) Baixa performance em áreas edificadas;
(b) Não detectar armas com silenciador;
(c) Não detectar todos os disparos efectuados a distâncias superiores a 500 m.
(2) Onda de choque
É baseada na medição da onda de choque do projéctil, que fornece as seguintes informações:
- Trajectória do projéctil em relação ao sensor
- Ângulos de direcção e elevação do projéctil em relação ao sensor
- Velocidade do projéctil
Este sistema tem uma alta taxa de detecção.
(3) Forma humana
(4) Canos quentes das armas sniper
(5) Aparelhos ópticos usados pelos franco-atiradores
c. Protecção do atirador
É um colete Anti-bala usado por baixo do fardamento.
Foi redesenhado a partir dos coletes Anti-Balas normais, mas fazendo face ao grande poder penetrante
das espingardas.
Tem um peso de 6 a 8 libras, com uma composição de titânio. Enquanto os modelos actuais só
protegem contra fragmentos, testes efectuados com este colete provam que à mesma distância
conseguem proteger contra a penetração das munições.

IV - 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE V

ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

CAPÍTULO 1

GENERALIDADES

― A importância das Armas não Letais é crítica nos conflitos de baixa intensidade‖
Esta é a opinião do General Anthony Zinni do Corpo de Marines dos USA, Comandante-chefe das forças
da ONU na Somália.
Esta operação constitui, até aos dias de hoje o melhor teste no terreno, deste tipo de armamento.
Não é simples definir o que são Armas não Letais.
O termo não letal, quando conotado com um determinado tipo de armas, é de fácil aceitação, se
comparado com as armas letais convencionais, uma vez que a sua utilização, mesmo indiscriminada, de
ambas sobre militares e civis, à partida sugere que as primeiras tenham consequências menos gravosas
que as segundas.
Segundo a OTAN, Arma não Letal é definida como:
― Arma especificamente concebida e empregue de forma a incapacitar pessoal ou material com
baixa probabilidade de causar morte ou danos graves e com o mínimo de efeitos colaterais ou
impactos no meio ambiente ‖.
O desenvolvimento destas armas tem sido baseado em algumas tecnologias das quais se salientam:
a. Sistemas electromagnéticos
Os sistemas electromagnéticos são responsáveis pelas armas laser. Podem ainda utilizar a emissão de
microondas com grande potência, capaz de inutilizar dispositivos electrónicos que não estejam
protegidos, afectando o comando e controlo, bem como todas as armas que dependem de sensores
electrónicos.
b. Sistemas Acústicos e Ópticos
Utilizam sons de baixa frequência, podendo penetrar facilmente em edifícios e viaturas.
c. Agentes Biológicos e Químicos
Utilizam uma grande variedade de agentes químicos e biológicos.

V- 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 2

TIPOS DE ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

Existem diversos tipos de Armas não Letais. As formas como podem ser agrupados são várias, em função
do seu destino (anti-pessoal / anti-material) em função da tecnologia utilizada ou por grupos funcionais.
Vamos classificá-las em função do destino. Assim podem ser:
a. Anti-pessoal
Afectam exclusivamente o homem. Podem ser de vários tipos:
(a) Lasers de encadeamento
Lasers emitindo na parte visível do espectro, são usados no adversário, cegando-o
momentaneamente. São usados para prevenir ataques de franco-atiradores, forçar condutores de
viaturas a parar ou deter possíveis agressores.
(b) Bastões Eléctricos, Armas de Atordoamento e Taser’s
São exemplos do emprego desta tecnologia, os choques eléctricos de grande voltagem e baixa
amperagem, que provocam nas vítimas, espasmos, contracções musculares involuntárias, até
queimaduras eléctricas resultantes de aplicações contínuas.
Estes dispositivos podem ser empregues quer a curta distância, como as primeiras duas referidas,
como a maior distância, como o Taser. São as Forças de Segurança que mais utilizam estes meios
para restabelecer a ordem.
(c) Canhões de Água
Esta arma utiliza um jacto de água muito forte. É utilizado para dispersar multidões. Se for
utilizado muito perto do alvo pode tornar-se letal.
(d) Projécteis não penetrantes
Há já alguns anos que têm sido usados pelas Forças de Segurança. São balas de borracha cujo
objectivo é causar dor ou derrubar o adversário. Tem velocidades iniciais na ordem dos 50 a 100
m/s. O efeito depende de vários factores, tais como a distância a que se encontra o alvo, a parte do
corpo atingida e a roupa que a pessoa veste.
(e) Sons de Alta Intensidade
Provocam nas suas vítimas desorientação, dor e inclusive morte. Os reparos mais comuns ao
emprego desta arma prendem-se com o sofrimento desnecessário que poderão causar com o uso
indiscriminado da sua aplicação.
(f) Os Infra Sons
Podem atravessar edifícios e viaturas, a sua aplicação pode ser localizada, uma vez que são
direccionais e reguláveis. A sua área de aplicação mais provável será a interdição do acesso a
determinadas zonas, em que o seu efeito se fará sentir de forma inversa ao da distância.
(g) Odor
Actuam pelo sentido do cheiro. São particularmente importantes na dispersão de multidões.
Contudo são difíceis de controlar em espaços abertos.
(h) Espuma colante
Líquido espesso que prende e imobiliza o alvo.
(i) Marcadores
São produtos químicos que podem ser aplicados num homem (na pele ou na roupa) para posterior
detecção, através de aparelhos detectores.
V- 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

b. Anti-material
(a) Vírus informático
A introdução de vírus em sistemas informáticos é por todos conhecida como possível e com
implicações gravíssimas, no funcionamento, controlo e coordenação dos equipamentos
informáticos actuais.
(b) Modificadores de combustíveis
Agentes químicos que modificam a combustão, destruindo o sistema propulsor das viaturas.
(c) Agentes Anti-tracção
Agentes químicos que impeçam a tracção dificultando a mobilidade dos veículos.
(d) Anti-pneus
Agentes químicos que consomem rapidamente a borracha dos pneus.
(e) Lasers Anti-sensores
Lasers que actuam no espectro de modo a tornar inoperacionais os sensores.
c. Anti-material/Anti-pessoal
(a) Armas de Microondas
Podem interromper a funcionalidade de aparelhos electrónicos. Podem afectar também o cérebro.
(b) Dispositivos imobilizadores
Vários dispositivos como redes, arames, super-cola, que fecham por exemplo a saída de uma
janela, uma porta, impedindo a sua utilização.

V- 3
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CAPÍTULO 3

EMPREGO DE ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

a. Tumultos/controlo de multidões
Existem diversos cenários em que as Armas não Letais poderão ser empregues, como negar o acesso a
instalações criticas:
- Embaixadas
- Paióis
- Prisões
- Instalações nucleares
b. Sanções
O emprego integrado destas armas com sanções a um determinado país, como por exemplo, um
bloqueio económico associado ao emprego de um produto, que atacasse pneus e borrachas, aumentaria
o efeito do bloqueio, uma vez que as alternativas por meios terrestres seriam escassas.
c. Interdição de recursos táctico/estratégicos
É possível diminuir a capacidade de sustentar ou provocar um conflito por parte de um adversário com
emprego de Armas não Letais. Um Estado beligerante pode ser desencorajado nos seus intentos,
através da inutilização da sua capacidade industrial, mas de forma a que seja possível reutilizar as suas
instalações, sem grandes obras de reconstrução, que um ataque com armas letais provocaria.
d. Intervenção num conflito
O emprego destas armas antes ou durante um conflito entre dois países, evitará a mobilização de
esforço de guerra por parte dos contentores e permitirá o ganho de tempo necessário para negociações.
Este tipo de intervenção terá melhor aceitação não só por parte dos países envolvidos como pela
própria opinião pública.
e. Incursões militares
A realização de operações secretas, em países onde se pretende obter informações ou atingir um
objectivo único, como a destruição de fábricas de armas químicas ou capturar armas nucleares,
permitem um bom emprego das Armas não Letais, impedindo que as forças locais possam actuar em
tempo.
f. Resgate de reféns
É desejável e possível a utilização de Armas não Letais, em situações onde se pretende neutralizar
forças hostis misturadas entre civis ou forças amigas. Situações como a referida, ocorrem nas
operações realizadas na Somália e no Kuwait.
O emprego das referidas armas poderia isolar uma área, impossibilitando a fuga ou reforços das forças
hostis, criando o tempo necessário para conversações e libertação dos reféns.
g. Operações Anti-terrorista e Anti-droga
O emprego de aeronaves ou viaturas, em regiões remotas e isoladas, por traficantes de droga ou
terroristas, poderá ser monitorizada por sensores e o emprego de um produto nessas áreas imobilizaria
os aparelhos, permitindo uma intervenção eficaz das forças da ordem.
Como outro exemplo, poderíamos referir o emprego de redes especiais lançadas por avião, que
detivessem as lanchas rápidas que transportam o narcotráfico de embarcações em águas internacionais
para o continente.
h. Operações militares em áreas urbanizadas
V- 4
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Neste tipo de áreas, em que existem diversos obstáculos e esconderijos, o emprego de espumas para
isolar determinados locais, impedindo reforços ou canalizando forças, contribui para que se minimize
o emprego de meios que possam colocar em perigo as vidas de civis ou forças amigas.
i. Operações convencionais
A inutilização de recursos estratégicos vitais, como instalações eléctricas, reservas de petróleo e
lubrificantes, podem encurtar ou impedir a realização de um conflito. A introdução de vírus nos
sistemas informáticos, assim como, a inutilização dos sistemas de comunicação, afectará de forma
decisiva, o comando e controlo do adversário.
j. Manutenção da ordem pública
Através dos canhões de água, projécteis não penetrantes, gás lacrimogéneo.
O crescimento populacional que se prevê, aliada à natural propensão para a concentração em grandes
áreas urbanas irá condicionar as zonas de acção em que os conflitos se irão realizar.
Os combates serão efectuados em grandes zonas urbanas, onde militares e civis estarão presentes.
Os princípios do direito internacional, têm vindo a revelar-se cada vez mais importantes. Este facto
aumentou a selectividade dos alvos, ou seja, não podem ser batidos indiscriminadamente o que conduziria
a um elevado número de baixas civis.
As experiências na Bósnia, Somália e o conflito no Golfo comprovam este facto.
Verificamos que em termos operacionais, o emprego destes equipamentos poderá ser direccionado para
duas vertentes, a vocação já referida para Missões de Apoio à Paz (armas com características para a
manutenção da ordem pública) e o apoio às missões convencionais, complementando o potencial de
combate, dando maior flexibilidade ao comandante.
O aproveitamento que as Forças de Segurança poderão dar, a estes meios, estará relacionado, para além
da manutenção da segurança interna, com as ameaças internacionais, como o terrorismo e o crime
organizado, onde a alternativa dada por estas armas poderá ser útil, sobretudo se pensarmos que poderão
existir reféns ou feridos envolvidos.
Um aspecto preocupante na utilização destas armas, está relacionado, com o possível emprego, menos
escrupuloso, que alguns regimes poderão fazer na repressão de civis.
Não existem medidas de controlo para este tipo de armamento. No entanto, a Convenção de Armas
Químicas e a Convenção de Armas Biológicas contém algumas limitações que poderão ser alargadas a
algumas Armas não Letais, limitando-as no seu desenvolvimento e utilização.
Super ácidos, super colas e muitos outros produtos químicos que poderiam ser considerados no grupo das
Armas não Letais, estão a infringir os objectivos e determinações das referidas convenções.
Estas armas virão a desempenhar um papel importante e fundamental na conduta das futuras operações,
estando os Exércitos atentos à sua evolução, apostando no seu desenvolvimento e investigação de uma
forma coordenada.

V- 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE VI

MUNIÇÕES DAS ARMAS PORTÁTEIS

CAPÍTULO I

MUNIÇÕES DAS ARMAS LIGEIRAS

1. GENERALIDADES
Para se estudar devidamente uma arma portátil deve examinar-se primeiramente os seus projécteis,
porque a sua organização é orientada no sentido de poder utilizar uma determinada munição que tem
(desde 1860) o nome de cartucho. Estes, tiveram a evolução que a seguir se apresenta:
1.º Cartuchos de papel;
2.º Cartuchos de papel combustível;
3.º Cartuchos não combustíveis com iniciação externa (armas
de agulha – “needle guns” - 1850);
4.º Cartucho completo (com espoleta iniciadora já montada);
5.º Cartucho completo com sistemas patenteados de ignição:
a) Pinfire (tipo pino) – Lefaucheaux (1920);
b) Lipfire (tipo lábio);
c) Teatfire (tipo teta);
d) Rimfire (ignição circular);
e) Centerfire (ignição central):
i. Boxer – (a bigorna é uma peça independente da
escorva);
ii. Berdan – (a bigorna faz parte da escorva).
Compõe-se o cartucho de quatro partes (Fig. VI-1-1):
- A bala ou projéctil; Fig. VI-1-1
- O invólucro, estojo ou caixa;
- A escorva, cápsula ou fulminante;
- A carga.

2. BALA (ou PROJÉCTIL)


Ao fazermos o estudo das condições a que deviam satisfazer as armas de fogo, dissemos que uma arma
para ser eficaz tinha de satisfazer um certo número de condições de carácter balístico, algumas das quais
se obtinham graças aos elementos constitutivos da sua munição. Na realidade, o alcance, a tensão da
trajectória e precisão do tiro são dependentes não só da organização balística da arma, mas também da
organização da bala e da carga empregue, variando com:
- As qualidades estáticas do projéctil;
- As qualidades dinâmicas do projéctil.
A natureza, a quantidade da carga e a força viva do projéctil tomam o nome de qualidades dinâmicas da
bala e serão estudadas na área da balística.

VI - 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Trataremos agora das qualidades estáticas, que se dividem da seguinte forma:


a. Composição
(1) O metal da bala deve ser:
- Denso para facilmente adquirir grande energia;
- Infusível para não se fundir com o atrito na alma;
- Pouco deformável para possuir um bom poder vulnerante.
Devido à sua densidade, o metal primitivamente usado foi o chumbo puro. Quando as velocidades
iniciais ultrapassaram os 400 m/s, teve de ser posto de parte porque os projécteis fundiam à
superfície e amoleciam numa grande espessura, tendo-se então passado a usar o chumbo ligado a
um outro metal mais duro: zinco, cobre, estanho, arsénio ou bismuto.
Nas armas estriadas, não havia só o inconveniente da fusão, havia também o dos projécteis
saltarem sobre as estrias, chumbando os canos, isto é, encherem as estrias de chumbo, o que
obrigou a comprimir os projécteis para se tornarem mais densos e homogéneos.
Com o aumento das velocidades iniciais, voltaram a dar-se estes fenómenos. Resolveu-se o
problema revestindo a parte cilíndrica do projéctil com um invólucro de papel engordurado na
parte anterior. Este sistema não evitava a chumbagem e tinha o inconveniente de levar a
humidade ao interior do estojo pelo que a camisa de papel foi substituída por outra metálica, de
cobre ou de latão, com a mesma forma, mas que também não deu resultado porque não evitava a
chumbagem.
O problema só teve solução perfeita com a adopção da camisa metálica completa, um dos maiores
progressos do projéctil que passou a ser conhecido por bala bi-metal.
A parte interna, a essencial, tem o nome de núcleo, ao passo que a externa destinada a revestir o
núcleo, tem o nome de camisa.
(2) O núcleo pode ser de chumbo, de bronze, ou de aço mas por razões de preço e peso prefere -se o
primeiro que no entanto é quase sempre endurecido ligando-o com estanho ou antimónio.
O núcleo, para se obter uma maior homogeneidade e densidade deve ser introduzido por
compressão dentro da camisa.
(3) A camisa deve ser resistente para não se rasgar, suficientemente espessa para evitar a fusão do
núcleo e pouco dura para não deteriorar as estrias. Os metais hoje mais empregues são o cobre, o
aço e o maillechort (liga de cobre e níquel). A sua espessura varia de 0,45 a 0,55 mm.
b. Forma
A forma foi sujeita a grandes evoluções (Fig. VI-1-2).:
Até 1898 a forma universalmente adoptada foi a cilindro- 1 2 3
ogival (1) Era um corpo cilíndrico, terminado à retaguarda
por um plano e à frente por uma ogiva. A ogiva terminava
em geral por uma calote esférica com um calibre de altura.
Com o fim de diminuir a resistência do ar e aumentar o
alcance, a ogiva passou a ser muito afilada dando origem
às chamadas balas pontiagudas (2).
Depois de alguns estudos e experiências, executados
primeiramente em França e em seguida na Alemanha,
Fig. VI-1-2
alguns países, acompanhando estes, abandonaram a forma
cilindro-ogival para adoptarem a forma bi-ogival (3), também chamada de “cauda de barco”, com a

VI - 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

parte anterior em ogiva muito afilada, a posterior de forma tronco-cónica ou ogival e a parte média
cilíndrica para dar uma boa fixação ao invólucro e impedir a fuga de gases.
Consegue-se assim obter maiores alcances por ser diminuída em grande proporção a resistência do ar,
isto é, com melhores condições aerodinâmicas.
Hoje todos os países empregam projécteis desta natureza, entre eles Portugal.
Comparados com os cilindro-ogivais, os projécteis bi-ogivais apresentam as seguintes vantagens:
- Melhor conservação da velocidade inicial, devido à redução de peso;
- Diminuição da resistência devido ao forçamento e ao travamento, por se ter reduzido a zona
destinada à acção das estrias;
- Maior poder derrubante;
- Uma força mais própria para se compensar em parte a diminuição do coeficiente balístico.
c. Comprimento
De forma a maximizar as suas condições balísticas, em termos de alcance e justeza, o comprimento da
bala está relacionado com dois factores, o seu peso e o passo das estrias a que é sujeito, durante o
disparo.
Actualmente, nas modernas armas automáticas de guerra de calibres ligeiros, o comprimento máximo
da bala não ultrapassa os cinco calibres.
d. Peso
Um projéctil leve terá uma trajectória muito tensa às pequenas distâncias. Um projéctil pesado tê-la-á
às grandes, porque em igualdade nas outras condições, o projéctil mais leve tem maior velocidade
inicial mas sofre um retardamento maior.
Assim, o ideal seria ter dois tipos de projéctil: um leve, animado de grande velocidade inicial para as
pequenas distâncias; um outro pesado, e de forma adequada para obter maiores alcances. Mas como
esta solução acarretaria uma dificuldade importante, a do municiamento, é-se obrigado a adoptar um
projéctil único, de peso intermédio, que concilie as duas condições contraditórias, obtendo ao mesmo
tempo as duas vantagens. Assim, tem-se adoptado um projéctil com um peso variável entre 9 e 13
gramas com o qual se conseguem trajectórias aceitáveis a todas as distâncias.
e. Calibre
O calibre está estreitamente ligado com o peso.
O diâmetro dos projécteis deve ser de 0,20 a 0,30 mm superior ao diâmetro da alma do cano medido
no fundo das estrias, para que se dê o forçamento inicial, razão porque o conjunto núcleo-camisa deve
apresentar um certo grau de elasticidade.
Tem sido ultimamente dedicado particular estudo aos projécteis das armas portáteis, não só quanto ao
calibre, como quanto à forma e natureza dos materiais empregues (metais e plásticos), na intenção
duma profunda e generalizada reforma da munição das mesmas armas.
Reconheceu-se que as tradicionais munições 7,62 mm Nato e 7,62 mm Pacto de Varsóvia das armas
ligeiras eram demasiadamente potentes para as distâncias do combate, concluindo-se que poderia pois,
ser reduzida essa potência, dentro é claro, de certa medida.
Por outro lado, o emprego generalizado das armas automáticas e as exigências do combate moderno,
atendendo-se ao peso que o homem tem que transportar e ainda ao problema do remuniciamento,
encaminharam os estudos no sentido dum aligeiramento que de facto se impunha.
Depois de vários anos de experiências as munições 7,62 mm Nato e Pacto de Varsóvia, foram
substituídas pelas 5,56 mm e 5,45 mm respectivamente, com os ganhos que a seguir se discriminam:

VI - 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

NATO Pacto Varsóvia


7,62 mm 5,56 mm 7,62 mm 5,45 mm
838 m/s 1005 m/s 710 m/s 900 m/s
3276 J 1798 J 1993 J 1383 J
Comprimento 71 mm 57 mm 56 mm 57 mm
Peso Munição 24,3 g 11,7 g 16,64 g ~6g

Como se constata houve uma melhoria significativa. Aumentou a velocidade inicial, diminuiu a força
viva à boca do cano, mas ainda suficiente para no moderno campo de batalha garantir um bom poder
vulnerante e derrubante e diminuiu o comprimento e o peso do cartucho. Estes avanços melhoram as
condições de tiro.
Resumindo as considerações que temos vindo a fazer, podemos estabelecer que o projéctil das armas
portáteis deve satisfazer às seguintes condições:
- Ter grande densidade transversal;
- Ser bi-metal;
- Possuir um núcleo muito denso mas maleável, uma camisa inoxidável e suficientemente dura para
resistir à pressão das estrias, mas não tão dura que danifique a alma do cano, entrando nas estrias
apenas o suficiente para assegurar o movimento de rotação e evitar fugas de gases entre o projéctil e
a alma, sendo bem unida ao núcleo e não deixando pedaços ou rastos nas paredes da alma;
- Possuir uma forma oblonga que conserve bem a velocidade e seja apta à penetração, desenvolvendo
uma potência vulnerante tal que o alvo atingido seja imediatamente posto fora de combate;
- Ser de fabrico fácil e de baixo custo.

3. INVÓLUCRO
Os invólucros modernos das armas portáteis são metálicos e constituídos por uma só peça que se obtém
por sucessivas estiragens (diminuição de espessura) e estampagens (aumento de espessura) que obrigam
uma rodela de metal a tomar a forma do cartucho e por isso se lhes dá o nome de invólucros estirados.
Como a obturação se faz por expansão do invólucro, é preciso que a diferença entre o diâmetro da câmara
e do invólucro seja pequeníssima – 0,1 mm – para que não seja excedido o limite de elasticidade do
metal, nem se dificulte a extracção.
Para que o invólucro possa reunir todas as condições que lhe são exigidas é preciso atender
principalmente, ao metal e à forma.
a. O metal
Para que o invólucro se adapte bem às paredes da câmara é preciso que o metal seja maleável. Para
que não rebente sob a acção dos gases da pólvora é necessário que seja resistente. Para retomar depois
do tiro as suas dimensões primitivas de forma a tornar fácil a sua extracção, é preciso que seja muito
elástico. Para facilitar a sua conservação é conveniente ainda que o metal seja inoxidável.
Os metais empregues têm sido o latão, o cobre, o bronze e o ferro.
b. A forma
A densidade de carregamento (relação entre o peso da carga e a capacidade do estojo) influi na forma
interna do invólucro. Este, uma vez determinada a densidade de carregamento, pode ser curto e largo
ou comprido e estreito. Um invólucro comprido exige uma câmara da caixa da culatra grande o que
aumenta o peso da arma. O invólucro largo tem o inconveniente de se apoiar sobre a cabeça do
obturador numa grande superfície e de exigir uma forma difícil de fabricar para se ligar ao projéctil.
VI - 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A forma exterior influi na alimentação e na organização dos diferentes dispositivos de reunião dos
cartuchos.
A forma interna do invólucro acompanha a externa, mas a espessura das paredes diminui da base para
o colo, devendo ser calculada de maneira a evitar a possibilidade de rotura, especialmente na ligação
entre o colo e o corpo.
No invólucro actual distinguem-se o colo, a concordância, o corpo e a base
(Fig. VI-1-3).
O colo é a parte anterior, mais estreita, onde se fixa o projéctil. Esta fixação
pode obter-se por várias maneiras. O colo é, em geral cilíndrico, tanto
interior como exteriormente.
A ligação, de perfil geralmente curvo, que une o colo ao corpo e a que se
chama a concordância, facilita a acção dos gases quando o projéctil entra
em movimento.
O corpo encerra a carga. O seu traçado é tronco-cónico para facilitar a
introdução do invólucro na câmara e a sua extracção depois do tiro.
A forma do corpo tem grande importância, principalmente na alimentação Fig. VI-1-3
das armas. A base, de maior espessura, apresenta sempre um dispositivo para permitir a extracção e a
reunião dos cartuchos. Esse dispositivo pode tomar duas formas: rebordo
ou garganta.
Se o invólucro é de rebordo, a base tem um diâmetro superior ao do corpo,
formando a diferença do diâmetro um ressalto -
o rebordo - para ficar preso à garra do extractor
(Fig. VI-1-4).
Fig. VI-1-4 Se o invólucro é de garganta, a base tem o
mesmo diâmetro do que o corpo, sendo o rebordo substituído por uma
canelura anelar perto da base (Fig. VI-1-5). Actualmente a maioria dos
países emprega o sistema de garganta. No centro da base encontra-se o
alojamento da escorva que tem no fundo dois furos para a passagem da Fig. VI-1-5

chama que se chamam os canais de inflamação.

4. ESCORVA
A escorva, cápsula fulminante, ou apenas fulminante , é o nome dado ao artifício destinado a produzir
a inflamação da carga e consta de um pequeno vaso metálico chamado cápsula que contendo uma
substância explosiva que detona pelo choque, dá origem à inflamação da carga. Nalguns cartuchos, uma
outra cápsula de maiores dimensões preserva a cápsula-fulminante e por isso se chama guarda-cápsula.
A cápsula é de cobre ou de latão suficientemente dúctil para poder ser esmagada pelo percutor e com a
rijeza bastante para resistir à perfuração, devendo ainda poder dilatar de modo a obturar completamente o
alojamento da escorva no momento da detonação, impedindo a saída de gases para retaguarda. Tem a
forma cilíndrica, raras vezes cónica e é colocada no alojamento, aberto no centro da base do invólucro,
em frente à bigorna contra a qual se esmaga sob a acção do percutor. Os canais abertos aos lados ou no
centro da bigorna permitem a inflamação da carga colocada no interior do invólucro.
A guarda-cápsula de emprego actual muito raro, justificava-se nas armas de depósito no fuste, pois o seu
fim era tornar a escorva menos sensível.

VI - 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A matéria detonante deve ser tal que não se altere com o tempo, nem dê origem ao fenómeno da
combustão lenta, não devendo ainda atacar o metal da cápsula. Em geral, emprega-se o fulminato de
mercúrio ou o cloreto de potássio ou ainda uma mistura destes dois explosivos.
Às vezes junta-se à substância detonante uma pequena dose de sulfureto de antimónio, enxofre ou outras
substâncias e ainda vidro moído, para lhe diminuir a sensibilidade e facilitar o esmagamento. Todas estas
substâncias, cujas proporções variam à vontade dos fabricantes, formando uma massa com o peso total de
aproximadamente 0,04 g, são reunidas por goma-arábica.
Sobre a matéria detonante, que deve ser comprimida contra as paredes da cápsula, coloca-se um disco, de
estanho, de latão prateado (espessura de 0,03 mm), de uma liga de estanho e chumbo (espessura de 0,05 a
0,07 mm) ou mesmo de papel, que é mantido no seu lugar por meio de goma-laca. Este disco tem por fim
proteger a matéria fulminante da influência da humidade atmosférica evitando as falhas, e aumentar a
segurança.
A escorva compreende a contra cápsula, a
cápsula fulminante, a bigorna, a guarda
cápsula e a matéria detonante (Fig. VI-1-6).
A contra cápsula é uma caixa cilíndrica,
fechada anteriormente e aberta
posteriormente, onde forma um rebordo
para se adaptar num rebaixo do seu Fig. VI-1-6

alojamento na base do cartucho. No fundo estão abertos os canais da inflamação.


A bigorna é uma pequena peça de latão achatada com a forma de mitra e contra a qual se esmaga a
composição fulminante. Tem dois ressaltos que se apoiam nos bordos da cápsula (Boxer) de forma que a
ponta fique afastada da matéria detonante. Em alguns modelos o próprio fundo da contra cápsula,
recurvado, forma a bigorna (Berdan).
A cápsula, é uma cápsula vulgar que se introduz, juntamente com a bigorna, no alojamento respectivo,
sendo forçada até a bigorna se encostar ao fundo deste.
Os canos das armas têm uma tendência grande para enferrujar depois de terem feito fogo.
Atribui-se muitas vezes o facto aos gases produzidos pela combustão da carga, o que é falso, pois é
devido aos produtos da combustão da matéria detonante que se depositam no cano, que absorvem a
humidade e originam a oxidação do metal adjacente.
Estes produtos são, em geral, solúveis na água, de modo que um dos melhores processos de evitar a
ferrugem consiste em, após o tiro, lavar o cano com água, enxugando-se depois cuidadosamente.

5. CARGA
Carga é o nome que se dá à porção de substância explosiva que se introduz no invólucro para dar
movimento ao projéctil.
As substâncias explosivas podem ser sólidas, líquidas ou gasosas. Nas armas de fogo só se empregam as
primeiras, pois as restantes, devido aos grandes volumes que ocupam e dos cuidados que o seu emprego
exige, tornam o seu uso, neste caso, pouco prático.
Ao fenómeno originado pelo desenvolvimento muito rápido e violento de uma grande quantidade de
gases ou de corpos no estado gasoso, com elevada temperatura e num espaço relativamente pequeno,
acompanhado de enérgicas acções mecânicas, devido às fortes pressões que os gases exercem sobre as
paredes das câmaras que os contém e sobre os corpos vizinhos, dá-se o nome de explosão.
As substâncias explosivas, segundo a sua aplicação podem ser:

VI - 6
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

- Explosivos propriamente ditos, empregues no carregamento das granadas;


- Pólvoras, que servem para constituir as cargas propulsoras dos projécteis;
- Detonantes, utilizados na confecção de vários artifícios (escorvas, espoletas, etc.).
A carga propulsiva dos projécteis deve satisfazer a um conjunto de condições, das quais algumas se
contrariam e que são:
- dar lugar a pressões e velocidades regulares e iguais;
- ter grande potência balística;
- ter uma fraca força expansiva;
- funcionar a uma temperatura relativamente pouco elevada;
- possuir fraco poder corrosivo e não originar gases deletérios;
- não ser higroscópica;
- ser de inflamação rápida e segura;
- ser de combustão progressiva;
- não dar origem nem a fumos nem a resíduos;
- ser de conservação fácil;
- ser estável, isto é, não se alterar sob a acção do clima, dos corpos ou metais com que está
habitualmente em contacto;
- ser de fácil fabrico;
- poder ser transportada sem perigo;
- ser seguro o seu emprego;
- ser de fraco custo e utilizar ingredientes que se possam obter sem dificuldade em tempo de guerra.
A pólvora primitivamente empregue e que se conservou até 1886, foi a pólvora negra composta de salitre,
carvão e enxofre.
Quando se reconheceu a necessidade de diminuir o calibre e aumentar a velocidade inicial, verificou-se
que as pólvoras negras produziam pressões demasiadas e um recuo insuportável, sendo necessário
recorrer a um outro explosivo. Experimentou-se primeiramente o algodão pólvora, descoberto em 1845
por Schonbein, químico alemão, e depois os cloratos e os picratos. Todos deram velocidades superiores,
mas como a variabilidade dos efeitos obtidos tornava o seu emprego perigoso nas armas de guerra e
alguns desastres se deram, foram postas de parte.
Quando se trabalhava no aperfeiçoamento desta pólvora, o engenheiro químico francês Vieille (1884)
apresentou um explosivo cuja base era o algodão pólvora, mas sem o aspecto fibroso deste. Este
explosivo, patenteado como ―pólvora B‖, era uma substância compacta, sem poros, capaz de arder do
exterior, camada por camada, para o centro. Como não dava origem a fumos ficou conhecido pelo nome
de pólvora sem fumo.
As suas características gerais são: sob um volume igual e um peso sensivelmente menor, fornece uma
quantidade de gases muito maior. O desenvolvimento de gases pode dar-se gradualmente durante todo o
tempo da passagem do projéctil através do cano, e portanto produz uma distribuição mais uniforme de
pressão e é pequeno o seu ruído. O fumo é muito ténue e quase invisível. É pouco higrométrica e arde
completamente, não deixando resíduos. Com ela conseguem-se grandes e constantes velocidades e
pressões regulares, não apresentando perigos no seu fabrico, manuseamento e transporte.
Adoptada esta pólvora pela França, em 1886, todos os outros países se lançaram ao estudo destes
explosivos, e hoje, depois de longas e cuidadosas experiências, todos possuem pólvoras sem fumo, sendo
por isso já numerosíssima a relação deles.

VI - 7
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Praticamente todas as modernas pólvoras sem fumo contêm nitrocelulose; é costume classificá-las em
dois grupos, a saber:
- Pólvoras nitroglicéricas – aquelas que contêm além de nitrocelulose, uma certa proporção de
nitroglicerina;
- Pólvoras nitrocelulósicas – aquelas que não contêm nitroglicerina.
Outros ingredientes se juntam, quer para aumentar a estabilidade do explosivo, quer para reduzir o calor
desenvolvido na explosão, quer para diminuir a velocidade de combustão, quer para tornar a pólvora
menos higroscópica, quer ainda para evitar a aderência dos grãos.
As pólvoras nitroglicéricas, em relação às nitrocelulósicas, têm maior energia potencial. São menos
higroscópicas, têm maior velocidade específica de combustão, são mais homogéneas, são mais estáveis,
são de combustão mais regular e completa, são de custo menos elevado, têm maior densidade, são de
fabrico fácil, mas mais perigoso.
Apesar de todas estas vantagens dá-se a preferência às pólvoras nitrocelulósicas porque as nitroglicéricas
têm uma temperatura de deflagração muito superior (nitroglicéricas = 2800º, nitrocelulósicas = 2300º) e
principalmente porque o seu poder erosivo é muito maior.

VI - 8
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO II

MUNIÇÕES ESPECIAIS

1. GENERALIDADES
O aparecimento de novos meios ofensivos, tais como viaturas blindadas, aviões, etc., com protecção
suficiente para lutar contra as armas portáteis, obrigou ao estudo de meios de dureza que anulassem a
protecção daqueles, dando origem às armas anti-carro, antiaéreas, etc.
Como as condições a que devem satisfazer estas armas (grandes velocidades iniciais, trajectórias rasantes,
leveza, simplicidade, etc.) se encontram nas armas ligeiras, pensou-se, no intuito de simplificar o
armamento e a instrução, em aproveitar estas armas, dando meios de defesa a todos os combatentes,
criando projécteis adequados à luta contra aqueles novos meios. Era, pelo menos, uma solução económica
e por isso se adoptaram os seguintes cartuchos, os quais constituem o municiamento especial das armas
portáteis:
Cartuchos especiais de guerra:
- Cartucho com bala perfurante;
- Cartucho com bala luminosa;
- Cartucho com bala mista (luminosa e perfurante);
- Cartucho com bala incendiária;
- Cartucho com bala explosiva;
- Cartucho com bala expansiva;
- Cartucho sem bala (dilagrama);
Cartuchos especiais para instrução:
- Cartucho com bala:
- para tiro reduzido;
- reduzida;
- simulada.
- Cartucho simulado;
- Cartucho de salva.

2. CLASSIFICAÇÃO
a. Cartuchos especiais de guerra:
(1) Cartucho com bala perfurante
Com o aperfeiçoamento das blindagens das viaturas de transporte de pessoal e dos C.C., tornou-se
necessário o desenvolvimento das munições de modo a que pudessem penetrar nas respectivas
blindagens. Assim apareceram as munições com balas perfurantes.
Tendo-se reconhecido que o poder de penetração do projéctil perfurante dependia quase
inteiramente da energia de choque do núcleo de aço, procurou-se dar a este, o máximo peso e
velocidade possíveis. Como o peso só pode ser aumentado dando ao núcleo o maior diâ metro
possível, o que força a reduzir ao mínimo a camada de substância plástica que o reveste e como a
velocidade só pode ser aumentada à custa de um aumento de pressão, sujeitando portanto a arma, a
um trabalho muito mais violento, concluímos que o emprego desta munição provoca um desgaste
maior da arma, razão porque a sua utilização deve ser o mais limitada possível.

VI - 9
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Reconheceu-se ainda que o poder de penetração dependia também da forma do núcleo; um projéctil
muito aguçado penetra mais se a incidência for normal, mas se esta for oblíqua, uma ponta
achatada dará melhor resultado e assim tem de se adoptar uma forma intermédia. Quanto à forma
externa do projéctil, conquanto este, em geral, não seja utilizado a mais de 400 metros, deve ser tal,
que sofra um mínimo de perda de velocidade sob a acção da resistência do ar.
(2) Cartucho com bala luminosa
Concebidas para facilitar a pontaria contra alvos móveis animados de grande velocidade, as balas
luminosas deixam um rasto luminoso à sua retaguarda, desenhando perfeitamente no ar a sua
trajectória, razão porque também lhes dão o nome de tracejantes. Porém, as trajectórias das balas
ordinárias e perfurantes diferem bastante das da luminosa e portanto as indicações que estas dão
não são de grande confiança. O rasto é obtido enchendo a base do projéctil com uma composição
que arda durante o trajecto. O resultado é que o projéctil desde a saída da boca da arma até que a
composição luminosa esteja consumida, vai continuamente diminuindo de peso.
(3) Cartucho com bala mista
Como o poder vulnerante das balas luminosas é muito fraco, pensou-se para as tornar mais
eficazes, em combiná-las com as balas perfurantes formando uma bala única, perfurante e
tracejante, e a que se deu o nome de bala mista.
(4) Cartuchos com bala incendiária
A bala com núcleo de chumbo só na parte inferior, tem camisa vulgar, onde lateralmente se nota
um orifício coberto com solda Darcet que funde a 94º, de forma que ao dar-se o tiro se abra.
Na parte anterior contém 0,65 gramas de fósforo branco e um pequeno bloco livre, de chumbo e
com caneluras. Ao dar-se o choque este bloco por inércia, é projectado para a frente da bala,
activando a projecção do fósforo no espaço, que à saída se oxida e arde.
(5) Cartucho com bala explosiva
Como o tiro contra objectos aéreos é difícil, devido à grande velocidade dos mesmos e como os
efeitos dos projécteis ordinários ou mesmo perfurantes são muito limitados, devido às reduzidas
dimensões das partes sensíveis dos referidos objectos, pensou-se na criação de um projéctil que
produzisse efeitos apreciáveis em qualquer parte do alvo, o que deu origem às balas explosivas.
A característica mais importante destes projécteis é a sua extrema sensibilidade, para que a
explosão se dê antes de se ter atravessado o objectivo completamente.
(6) Cartucho com bala expansiva
Há ainda uns projécteis que têm tido emprego nas armas de caça, e cujo poder derrubante é muito
grande. Este poder é obtido pela expansão do núcleo das balas bi-metais, quer revestindo-as
incompletamente, quer enfraquecendo-lhe a camisa em alguns pontos, de modo que ao dar-se o
choque do projéctil contra qualquer obstáculo, mesmo pouco resistente, a variação brusca da
velocidade origina a expansão do núcleo, provocando consequentemente feridas muito largas.
Com os projécteis maciços pode obter-se o mesmo resultado cavando-lhes um canal na sua parte
anterior. Erradamente tem sido muitas vezes aplicado o adjectivo explosivo a estes projécteis, cuja
verdadeira designação é a de expansivos. Projécteis explosivos são apenas aqueles que contêm uma
substância explosiva que actua na ocasião de ferir o alvo.
b. Cartuchos especiais para instrução
(1) Cartucho com bala
(a) Para tiro reduzido

VI - 10
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Para ser possível a execução frequente e sem grande despesa de exercícios de pontaria e de
tiro, emprega-se o que se chama o tiro reduzido.

Este tiro deve ser suficientemente preciso até 50 metros


pelo menos. Podem empregar-se para este tiro as próprias
armas de guerra utilizando munições especiais, de peso
muito reduzido, com projécteis facilmente deformáveis
(Fig. VI-1-7).
(b) Reduzida
Para tornar a instrução de tiro mais económica empregam-
se estas munições semelhantes às reais, com o mesmo
invólucro e escorva mas em que a carga é de menor peso e Fig. VI-1-7

a bala descamisada.
(c) Simulada
Estas munições utilizam balas de madeira ou de papel comprimido que se destroem antes de
sair do cano.
(2) Cartucho simulado
Para o treino dos soldados nos movimentos de carregar, extrair e ejectar e ainda para o treino do
movimento de disparar, sem prejuízo para a arma, são indispensáveis cartuchos completamente
inertes mas semelhantes aos de guerra.
Compõe-se este cartucho em geral, de um invólucro com falsa escorva. Não têm carga.
(3) Cartucho de salva
Para o treino das tropas utiliza-se um cartucho, sem projéctil, chamado de salva.

3. IDENTIFICAÇÃO
Na descrição de munições, o termo calibre exprime, grosso modo, o diâmetro dos seus projécteis mas
aqui quer se trate de munições destinadas a sistemas de arma de cano estriado ou destinadas a sistemas de
arma de cano liso, o calibre designa sempre o diâmetro máximo do corpo do projéctil, mesmo que inclua
projécteis sub-calibrados, envoltos em socos destacáveis.

Calibre nominal é a designação por que são conhecidas internacionalmente as munições a usar num dado
sistema de arma. No mesmo calibre nominal as munições só têm de ter em comum as características e
dimensões do invólucro. Ou seja, cada calibre especificado é conhecido por um nome que é o seu calibre
nominal.
Essa designação pode ser numérica ou alfanumérica (por exemplo: .380, 30-06, 7.62x51, 7.62x39, .38
special), suficiente para designar sem ambiguidades a munição a que se aplica.
Do que foi dito pode-se, é claro, inferir que nas munições de cada calibre nominal, se pode usar cargas de
pólvora diferentes e projécteis de diferentes configurações e/ou pesos mas todos os seus invólucros têm
de ser rigorosamente iguais, sendo que as especificações dimensionais do invólucro de cada calibre
nominal, são dadas em termos do seu calibre especificado.
É também usual dizer-se de uma dada arma que “é de calibre tal” empregando-se então para designar o
calibre, o calibre nominal da munição usada, por exemplo, 30.06 ou 40L70.
A identificação dos cartuchos (munições), aparece-nos segundo dois grandes sistemas:
a. Sistema Americano (em polegadas)

VI - 11
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(1) Uso de letras:


(a) .22 BB (Bullet Breech);
(b) .22 CB (Comical Bullet);
(c) .32 ACP (Automatic Colt Pistol);
(d) .45 AR (Auto Rim);
(2) Tamanho:
(a) .22 Short;
(b) .22 Long;
(c) .22 Long Rifle;
(3) Fabricantes:
(a) .270 Winchester;
(b) .223 Remington;
(4) Armas a que se destinam:
(a) .303 savage;
(b) .30 Luger;
(c) .30 Mauser;
(5) Puramente publicitárias:
(a) .218 Bee;
(b) .219 Hornet;
(c) .357 Magnum;
(d) .357 Maximum;
(6) Publicitárias + fabricante:
(a) .38 S&W Special;
(b) .32 Colt New Special;
(c) .44 S&W Russian;
(d) .22 Remington Jet;
(e) .221 Remington Fire-Bull;
(f) .300 Weatherby Magnum;
(7) Ano de adopção:
.30-03 (calibre oficial adoptado pelos USA em 1903);
(8) Características técnicas:
.250-3000 Savage (V0 = 3000pes/seg).

b. Sistema Europeu – continental (em milímetros)


Ex.: 7,62x51 mm (7,62 – calibre x 51 mm – comprimento do invólucro)

Base:
(1) Sem letras: Sem rebordo ou garganta – “Rimless”
(2) Com letras:
(a) R – Rimmed (C/ rebordo);
(b) SR – Smirimmed (Smirebordo);
(c) B – Belted (Cinturado);
(d) RB – Rebated (Rebatido).

Aparece ainda vulgarmente, quando em calibres muito conhecidos:


(1) 7,65 mm Parabellum;
(2) 6,5x54 mm Mannlicher Schoenauer;
(3) 6,5 mm Mannlicher Carcano;
(4) 6,5x58 mm Mauser Vergueiro.
Existem ainda atiradores que fabricam as próprias munições, ou por não existirem os calibres à venda no
mercado ou por querem alterar as características normais das que vulgarmente existem, que vulgarmente
se denominam por WILDCATS.

VI - 12
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

PARTE VII

GRANADAS DE MÃO E DE ESPINGARDA

CAPÍTULO 1

ORGANIZAÇÃO DAS GRANADAS DE MÃO

1. GENERALIDADES
Granada de mão é definida como uma arma de arremesso de tiro curvo, destinada a bater ângulos mortos.
Actua por efeito:
- Moral, através do som, sopro ou clarão
- Material, através dos estilhaços
- Especial, através da utilização de determinados produtos químicos.
As granadas, como todas as armas, devem obedecer às condições enumeradas na Secção I, isto é devem
ser eficazes contra o adversário, utilizáveis no campo de batalha e realizáveis em série.

2. ORGANIZAÇÃO
Na organização das granadas há a considerar os seguintes
aspectos (Fig. VII-1-1):
- Artifício de fogo (1)
- Carga de rebentamento (2) 1
- Corpo da granada (3)
a. Artifício de fogo
(1) Os artifícios de fogo encarados sob o ponto de vista do
seu funcionamento, podem dividir-se em dois grandes
grupos, que dão o seu nome à granada:
(a) De tempos: se o artifício de fogo da granada é
2
posto a funcionar imediatamente antes do
lançamento desta ou no próprio momento em que é 3
lançada e vai funcionando durante o trajecto da
mesma, dando-se a explosão desta passado um Fig. VII-1-1
certo tempo, previamente determinado,
correspondente à duração do trajecto.
(b) De percussão: se o artifício de fogo da granada é organizado de forma que só é posto a
funcionar no momento em que esta embata contra qualquer corpo resistente provocando a
imediata explosão da granada.
(2) Um artifício de fogo de tempos (Fig. VII-1-2) compõe-se geralmente de:
(a) Espoleta com:
1. Cápsula fulminante (3);
2. Misto retardador (4).
3. Detonador (5);

VII - 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(c) Mecanismo de inflamação com:


1. Percutor (2);
2. Mola do percutor (1).
(d) Mecanismo de segurança com:
1. Alavanca de segurança (6);
2. Cavilha de segurança (7).
b. Carga de rebentamento (8)
Destina-se a quebrar o corpo da granada,
projectando os fragmentos com maior ou
menor violência.
A carga da granada é o elemento fornecedor
de energia para a actuação da mesma.
c. Corpo da granada (9)
Refere-se a toda a estrutura da granada. Pode
ter várias formas: cilíndrica, esférica, ovóide,
etc.
Os materiais mais empregues são o ferro
fundido, o aço e a gusa acerosa (mistura de
gusa e aço).
O corpo pode ser organizado de forma a
facilitar a sua fragmentação em pedaços de Fig. VII-1-2
tamanho determinado, possuindo linhas de
rotura que tanto podem ser interiores como exteriores, caso mais geral, como ainda simultaneamente
internas e externas. Os sulcos podem ser anulares ou quadriculares e de forma a darem um número
variável de estilhaços conforme o seu número.
As linhas de roturas internas são preferíveis nas granadas cujo lançamento normal seja feito por meio
de lança granadas, a fim de evitar fugas de gases; as externas convêm às granadas de mão para facilitar
a sua conservação na mão até ao momento do lançamento.

3. CLASSIFICAÇÃO
As granadas podem classificar-se quanto ao emprego táctico, finalidade, artifício de fogo e efeitos (tipo
de carga).
a. Emprego táctico
Podem ser:
(1) Ofensivas
São granadas de fraco raio de acção que em geral, não excede 15 metros e que actuam
principalmente pelo efeito moral através do som, ou do choque violento do ar sobre os seres
animados que alcança (sopro).
O seu corpo é sempre de muito fraca espessura, de folha de ferro ou de zinco ou de plástico, de
modo que devido ao seu reduzido peso, os estilhaços não têm nunca alcances superiores a 15
metros. Empregam-se quando as tropas que as lançam se encontram a descoberto.
Ex: G.M. Of. M/962.
(2) Defensivas

VII - 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

São granadas cujo raio de acção perigoso pode atingir cerca de 200 metros, muito embora o raio de
acção eficaz não ultrapasse 20 metros e que actuam fundamentalmente pela acção dos estilhaços do
próprio corpo que é em geral espesso e feito de ferro ou aço e pela acção de fragmentos que se
encontram no seu interior.
Destinam-se a ser empregues quando as tropas que as lançam se encontram abrigadas de obstáculos
que as defendam dos efeitos da própria granada.
Ex: G. M. Def. M/962
b. Finalidade
Podem ser:
(1) De guerra
São as que respondem às necessidades da realidade da guerra e só se utilizam em campanha ou em
exercícios com fogo reais. Podem ser de fabrico ou de circunstância.
As de fabrico são as regulamentares, as de circunstância, também chamadas de fortuna,
improvisadas ou auxiliares, são em geral preparadas em pequena escala, pelas forças em operações,
com os elementos de que dispõem.
Os tipos são, como é de calcular, muito variados e dependem da abundância de meios (recipientes,
carga, artifício de fogo, etc.) que é possível obter.
(2) De instrução
São destinadas à familiarização do método de introduzir o detonador, de retirar a cavilha de
segurança e efectuar lançamentos. São em princípio, idênticas às de guerra no peso, forma e
artifício de fogo.
Não possuem, qualquer carga de rebentamento, a qual é substituída por uma tara de areia que lhes
dá o mesmo peso daquelas.
Embora se trate de granadas inertes, há que considerar uma remota possibilidade de haver
projecção de fragmentos de pedras ou de componentes do artifício de fogo pelo que é conveniente
guardar-se, como medida de precaução, uma distância de segurança que não deverá ser inferior a
20 metros.
Ex: G. M. Of. Instr. m/962
(3) Inertes
As granadas inertes propriamente ditas são exclusivamente destinadas a ensinar a prática de manejo
das granadas de mão ofensivas de guerra. Semelhantes a estas, são iguais às granadas de instrução
no que respeita à carga de rebentamento, diferindo delas apenas na espoleta que é também inerte,
não possuindo cápsula fulminante, misto retardador e detonador.
Ex: G. M. Of. Inerte m/962.
c. Artifício de fogo
(1) Tempos
(a) Inflamação directa (Fig. 122)
O artifício de tempos de inflamação directa, de todos o mais simples e
mais antigo, consiste numa espoleta formada apenas de dois elementos:
a mecha e o detonador.
A mecha é um pavio vulgar, comunicando-se-lhe o fogo directamente
com um objecto em ignição, como acontece na maioria dos modelos de
circunstância, ou por meio de uma cabeça fosfórica ligada à parte
anterior da mecha, que se fricciona numa lixa própria, como acontece,

VII - 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

por exemplo, na granada m/918, espanhola. O detonador é formado por uma cápsula cheia de
explosivo de grande poder detonante que se encontra em contacto com a carga e que está
ligado a um extremo da mecha, que tem a duração de 7 segundos.
(b) Fricção prévia mecânica (Fig. 123)

O artifício de tempos de fricção prévia mecânica emprega


uma espoleta com os mesmos três elementos do artifício de
percussão prévia mecânica. Porém, a sua escorva é diferente porque não
funciona pelo choque mas por fricção. A escorva é então, formada por um
tubo metálico cheio de uma substância que se
inflama quando friccionada, no meio da qual se
encontra embutido um ferro torcido ou dois
pedaços de arame enrolado um no outro e a que
se dá o nome de frictor.
O frictor sai do tubo formando uma argola por
onde se puxa quando se quer fazer friccionar a
escorva. No outro extremo, o tubo é ligado à
mecha.
O granadeiro actua sobre o frictor, directamente antes do
lançamento. Estas granadas estão obsoletas.
(c) Fricção prévia automática (Fig. 124)
Idêntica à anterior, com a diferença de que nesta, a escorva,
inflama-se sem ser necessário o atirador puxar o frictor, bastando-lhe retirar a tampa de
segurança.
(d) Percussão prévia mecânica (Fig. 125)
O artifício de tempos de percussão prévia mecânica emprega uma
espoleta na qual se encontram três elementos; uma escorva
constituída por uma cápsula fulminante; uma mecha vulgar ligada à
escorva e que recebe o fogo desta; um detonador, igual ao do
artifício de inflamação directa, e que é posto a funcionar pela mecha.
Faz-se detonar a escorva mecanicamente, por meio de uma pancada
dada sobre qualquer corpo duro, num percutor, que existe na parte
superior da granada.
(e) Percussão prévia automática (Fig. 188)
Nestas granadas o artifício de fogo é em tudo idêntico às de percussão prévia mecânica
excepto na detonação da escorva.
Nestas, a escorva é detonada automaticamente libertando um percutor ou porta cápsula
fulminante no momento em que a granada abandona a mão do atirador.
As de percussão prévia automática, caracterizam-se pelo facto de serem inteiramente inertes
enquanto se conservam na mão do lançador, começando a funcionar só depois desta se ter
abandonado.
Este tipo de granadas é usado actualmente.
(2) Percussão

VII - 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Nestas, o artifício de fogo é posto a funcionar quando a granada embate em qualquer corpo
resistente.
Nas granadas de percussão não há misto retardador, compondo-se o seu artifício de fogo, na sua
forma mais simples, de um percutor, uma cápsula fulminante e um detonador transmitindo-se a
chama daquela directamente a este. Estas granadas estão obsoletas.
d. Efeitos (tipo de carga)
(1) Explosivas
São as granadas que utilizam na carga substâncias explosivas.
Podem ser ofensivas ou defensivas.
(2) Especiais
Estas possuem uma carga não explosiva. Em seu lugar dispõem de uma carga que de harmonia
com o fim a que se destinam, correspondem a um fim especial e por isso se denominam granadas
especiais. A carga explosiva quando existe, serve apenas para provocar a rotura do invólucro,
permitindo a livre saída da carga especial.
Podem ser de dois tipos.
(a) Vulnerantes
Destinam-se a provocar baixas ao adversário ou deteriorar o seu material.
1. Asfixiantes
Destinam-se a forçar o inimigo a evacuar determinadas posições ou lugares, por a
permanência nas imediações do ponto de explosão se tornar impossível.
2. Irritantes
a. Lacrimogéneas
São carregadas com tóxicos irritantes das terminações nervosas externas da
conjuntiva, como o cianeto de bromobenzilo, os brometos de benzilo e de xililo, as
cloroacetofenonas, as acetonas bromadas e a cloropicrina, causando fadiga e dores que
impossibilitam o homem para o combate.
Actualmente estas granadas têm grande aplicação na manutenção da ordem pública,
sendo, porém escolhidos os gases que exercendo acção sobre as glândulas lacrimais,
não têm acção mortífera sobre os pulmões, coração, etc.
Os gases produzidos por estas granadas causam intensa irritação dos olhos e em tempo
quente podem irritar a pele. Os efeitos são passageiros e raramente duram mais de
uma hora. Sob a acção dos gases, a pessoa atingida deve retirar-se para o ar puro
enfrentando o vento e nunca esfregar os olhos.
b. Esternutatórias
As granadas esternutatórias são carregadas com gases irritantes das terminações
nervosas da mucosa respiratória, como por exemplo, a difenilcrinarsina,
difenilcloroarsina, a difenilamino-cloroarsina. São pouco empregues como granadas
de mão.
3. Incendiárias
Projectam estas granadas, no momento da explosão, produtos inflamados muito
perigosos para o pessoal e também para o material, quando contém partículas
metálicas que entram em fusão, no momento do seu emprego e cuja temperatura tem
intensidade suficiente para fundir os objectos sobre os quais caem.
(b) Não Vulnerantes

VII - 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Destinam-se a obedecer a uma função táctica não vulnerante.


1. Fumígenas
Têm como fim principal a formação de cortinas de fumos densos e opacos que
impeçam a visibilidade. Servem para distrair a atenção do inimigo e ocultar-lhe os
movimentos próprios.
2. Caloríferas
São formadas em geral, por um corpo de cartão que encerra uma carga produtora de
grande quantidade de calor.
3. Iluminantes
Têm por fim iluminar o campo de batalha.
4. Ignífugas
São usadas contra incêndios.

VII - 6
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO II

GRANADAS DE MÃO EM USO NO EXÉRCITO PORTUGUÊS

1. GRANADA DE MÃO OFENSIVA DE GUERRA M/62 (Fig. 126)


a. Destino
É uma arma de arremesso, de tiro curvo, destinada ao combate próximo, batendo ângulos mortos, que
actua por efeito moral (grande estrondo) e por acção de sopro (deslocação do ar).
b. Características gerais

Peso total: 310 gramas


Carga: 190 gramas de T.N.T.
Raio de acção: 10 a 15 metros
Alcances: Variam com a potência do braço do atirador
Espoleta: De tempos, de percussão prévia automática.
Duração de combustão do misto retardador 4,5s
 0,5s o que perfaz 4 a 5s.
Pintura: Verde azeitona

c. Organização
(1) Artifício de fogo
De tempos e percussão prévia automática
(a) Dispositivo de inflamação
É constituído pelo conjunto do percutor, 1-Alavanca de segurança
2-Cavilha de segurança
cavilha, eixo do percutor e mola do 3-Argola de segurança
percutor. Por sua vez o conjunto do 4-Corpo do detonador
5-Detonador
percutor é constituído pelo percutor
6-Corpo da granada
propriamente dito e pelo suporte do 7-Cápsula
percutor. 8-Porta cápsula
9-Carga de atraso
10-Cavilha do percutor
11-Mola do percutor
12-Percutor
(b) Espoleta 13-Suporte do percutor
1 Porta cápsula 14-Anilha
15-Tampa
2 Cápsula fulminante
3 Misto retardador
4 Detonador
No detonador encontramos:
a Carga ignidora
Tem como função criar à carga
iniciadora a temperatura
necessária para esta detonar.
b Carga iniciadora
A sua função é detonar a carga base.
c Carga base
VII - 7
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

É através da sua detonação que rebenta a carga.

(c) Dispositivo de segurança


1 Alavanca de segurança
2 Cavilha de segurança
(2) Carga de rebentamento
A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para actuação da mesma. É constituída por
190 g de T.N.T. comprimido o qual está dividido em três cilindros iguais de 63,3 g.
(3) Corpo da granada
O corpo da granada é de plástico com cor verde azeitona. É essencialmente constituído por duas
partes:
(a) Uma exterior
O corpo propriamente dito, é cilíndrico, com cerca de 10 cm de altura por 1,5 cm de base.
(b) Outra interior
Também cilíndrica e coaxial com cerca de 5cm de altura por 1cm de base a que se chama
bainha.

d. Funcionamento
Retirada a cavilha de segurança a qual se destina a evitar o deslocamento do conjunto do percutor este
fica imobilizado apenas pela alavanca de segurança, enquanto a granada estiver na mão do atirador.
Uma vez lançada a granada a alavanca de segurança salta devido à acção da mola do percutor, que
simultaneamente obriga o percutor a rodar em torno da sua cavilha eixo e a ferir a cápsula fulminante.
Nesse momento inicia-se a combustão do misto retardador o qual provoca a explosão do detonador
passados 4 a 5 segundos e por simpatia o rebentamento da carga da granada.

2. GRANADA OFENSIVA DE INSTRUÇÃO M/62


a. Destino
É uma arma de arremesso, de tiro curvo, destinada ao treino de lançamento em exercícios.

b. Características principais
Idênticas à da granada de mão ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas na carga, cor e raio de acção.

Carga: não tem


Côr: azul claro
Raio de acção: não tem

c. Descrição e nomenclatura
Idêntica à da granada de mão ofensiva de guerra M/62. O artifício de fogo é o da granada de mão
ofensiva M/62. Não possui qualquer carga de rebentamento sendo os estilhaços provocados pelo efeito
do detonador. Em vez da carga possui o mesmo peso (190 g) de areia o que faz que a granada pese o
mesmo que a ofensiva M/62.
O corpo da granada tem a mesma forma da granada ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas na cor.

VII - 8
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Embora se trate de uma granada inerte deverá considerar-se uma remota possibilidade de haver
projecção de fragmentos de pedra ou de componentes do artifício de fogo. Assim, deverá guardar-se
como medida de precaução uma distância de segurança de 30 metros (sensivelmente a mesma que para
a granada real).

d. Funcionamento
Idêntico ao da granada de mão ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas no seguinte:
O rebentamento do corpo da granada é provocado apenas pelo detonador uma vez que não possui
carga de rebentamento.

3. GRANADA DEFENSIVA DE GUERRA M/62 (Fig. 127)

a. Destino
É uma arma de arremesso, de tiro
curvo, destinada ao combate
próximo, batendo ângulos mortos. É
1-Alavanca de segurança
empregue contra pessoal, limpeza de 2-Cavilha de segurança
abrigos, ninhos de metralhadoras, 3-Argola de segurança
etc., actuando por estilhaços 4-Corpo do detonador
5-Detonador
provenientes do próprio corpo.
6-Anilha
7-Cápsula
b. Características principais 8-Porta cápsula
Anotamos apenas as diferenças 9-Carga de atraso
10-Cavilha do percutor
existentes entre esta e as da granada 11-Mola do percutor
de mão ofensiva M/62. 12-Percutor
13-Suporte do percutor
14-Corpo da granada
15- Baínha

Peso total: 517 g


Carga: 60 g de T.N.T.
Raio de acção eficaz: 10 m
Raio de acção perigoso: 185 m

Grandes efeitos materiais.

c. Organização

(1) Artifício de fogo:


O artifício de fogo é igual ao da granada de mão ofensiva de guerra m/62 considerando-se,
portanto, como válido tudo quanto foi dito em 1.c.(1) da referida granada.

(2) Carga de rebentamento

VII - 9
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para a actuação da mesma.


É constituída por 60 g de T.N.T. em palhetas.
A carga enche totalmente o corpo da granada o que está dividido em septos separando a mesma.

(3) Corpo da granada


O corpo da granada é de ferro fundido, com sulcos de fragmentação.
Tem a cor verde azeitona e as marcas identificadoras são a amarelo vivo, estando estas no corpo da
granada. Tem a forma de pinha.
Como o corpo da granada é de ferro fundido dá origem a estilhaços, com um raio de acção eficaz
de 10m.
O raio da zona perigosa é no entanto da ordem dos 185 metros (podendo acidentalmente haver
estilhaços ou fragmentos de corpos duros que atingem distâncias superiores a 185m), pelo que
atendendo a que o alcance normal do atirador é 35 m, obrigará que o lançamento se faça com as
necessárias precauções.
d. Funcionamento
Idêntico ao da granada ofensiva de guerra M/62.

4. GRANADA DEFENSIVA DE GUERRA M/63 (Fig. 128)


a. Destino
É uma arma de arremesso e de tiro curvo destinada ao combate próximo, batendo ângulos mortos. É
empregue contra pessoal, limpeza de abrigos, ninho de metralhadoras, etc. Actuando por estilhaços do
corpo provenientes de uma espiral de fragmentação.
b. Características principais
Anotamos apenas as diferenças dos da granada de mão ofensiva M/62.
Peso total: 455 g
Carga: 156 g de composição B
Raio de acção eficaz: 15 m
Raio de acção perigoso: 185 m
c. Organização
A granada de mão é essencialmente constituída por:
(1) Artifício de fogo
O artifício de fogo é igual ao da granada de mão ofensiva de guerra M/62.
(2) Carga de rebentamento
A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para a actuação da mesma.
É constituída por 156 gramas de composição B.
A carga está comprimida e em forma de barril.
(3) Corpo da granada
O corpo da granada tem a forma de barril e é constituída essencialmente pelas seguintes partes:
(a) Corpo metálico
O corpo metálico divide-se em dois copos iguais que se ligam a meio da granada, fazendo um
rebordo no corpo da mesma.
(b) Bainha
A bainha tem forma cilíndrica. Está ligada ao copo superior da granada e constitui o alojamento
do detonador.

VII - 10
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(c) Espiral de fragmentação


A espiral de fragmentação é constituída por uma mola de aço em forma de barril de dimensões
pouco inferiores às do corpo da
granada.
1- Alavanca de segurança
A mola está segmentada para que 2- Cavilha de segurança
seja mais fácil a sua divisão em 3- Argola de segurança
pequenos pedaços, quando do 4- Cápsula
5- Porta cápsula
rebentamento da carga. 6- Carga de atraso
Esta espiral de fragmentação dá 7- Cavilha do percutor
origem a estilhaços com um raio 8- Mola do percutor
9- Percutor
de acção eficaz de 15 metros. O
10- Suporte do percutor
raio da zona perigosa é da ordem 11- Detonador
de 185 metros. 12- Anilha
Podendo acidentalmente haver 13- Copo
14- Bucha
estilhaços ou fragmentos de 15- Bainha
corpos duros que atinjam 16- Espiral de
distâncias superiores a 185 fragmentação
17- Copo inferior
metros pelo que, atendendo a que 18- Reforço
o alcance normal do lançamento 19- Disco base
é de cerca de 35 metros, obrigará 20- Tampa
a que o lançamento se faça com
0 as necessárias precauções.
Estes estilhaços são bastantes mais perigosos que os da granada de mão defensiva de guerra
M/62.
d. Funcionamento
O mesmo que se disse para a granada de mão ofensiva de guerra m/62.

5. GRANADA DE MÃO DEFENSIVA M312 (Fig. 129)

1-Espoleta
2-Cavilha de segurança
3-Alavanca de segurança
4-Detonador
5-Espiral de fragmentação
6-Corpo metálico
7-Explosivo (Comp. B)
8-Tampão

VII - 11
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CARACTERÍSTICAS
Origem: Portugal (SPEL)
Tipo: Explosiva de fragmentação
Cor de código: Verde com marcas a amarelo
Peso: 450 g
Comprimento: 109 mm
Carga explosiva: 150 g de COMP. B
Espiral de fragmentação: 150 g ( 900 Fragmentos)
Raio eficaz: 10,5 m
Raio de segurança: 30 m
ESPOLETA
Designação: C131
Atraso: 4 A 5s

VII - 12
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

CAPÍTULO 3

DILAGRAMA M/965

1. GENERALIDADES
O Dilagrama é um dispositivo que conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63 ao qual se fixa,
permite obter - utilizando a Espingarda Automática G3 - alcances
superiores aqueles conseguidos pelo combatente, diminuindo assim
o perigo para as nossas tropas.
O Dilagrama permite bater ângulos mortos, sendo possível o seu
emprego contra tropas abrigadas.

2. ORGANIZAÇÃO
O dilagrama é constituído por três partes (Fig. 130):
a. Adaptador da granada
É constituído por
(1) Apoio tronco cónico para a granada (A)
Adapta-se perfeitamente à parte inferior da granada.
Apresenta três cortes rectangulares e três fendas no bordo
superior onde passam os braços fixadores, evitando que
estes oscilem.
(2) Três braços fixadores (E)
São constituídos por molas de aço curvilíneas, em que a
curvatura superior desempenha a função de garra para
adaptação à parte superior da saliência existente no meio da granada. Assim se garante uma perfeita
fixação desta ao Dilagrama. Um dos braços é mais comprido e tem cravado um ramo exterior (H)
onde desliza o grampo de armar, o qual termina por um retentor (I). O grampo de armar é impedido
de se mover pelo papel Kraft (J).
(3) Grampo de armar (F)
É um arco em aço e pode percorrer todo o ramo exterior do braço fixador mais comprido.
(4) Parafusos de fixação
Estes parafusos prendem os braços fixadores e o apoio tronco cónico ao tubo cilíndrico.
A fixação do apoio tronco cónico é feita por intermédio de três abas metálicas resultantes do corte
rectangular feito, no mesmo apoio.
b. Tubo cilíndrico (B)
É um tubo liso, fechado na parte anterior e ao qual se fixam o adaptador e a empenagem.
c. Empenagem (C)
É metálica e constituída por três partes iguais ligadas nos seus extremos, formando um anel interior
que envolve o extremo posterior do tubo cilíndrico (fixo por soldagem), um anel exterior e três aletas
(2) ou empenagens propriamente ditas (o M/974 não as possui).
Vem com a respectiva munição (1).

3. CARACTERÍSTICAS
a. Segurança
VII - 13
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

É garantida por dois sistemas:


Cavilha de segurança da granada
Grampo de armar
b. Velocidade inicial
A velocidade inicial é de aproximadamente 50m/s
c. Cartucho propulsor
O cartucho propulsor sem bala, tem uma carga de 2,2 gramas de uma mistura pólvora esférica e
pólvora tipo 1.
Não se pode empregar qualquer outro tipo de cartucho.

4. FUNCIONAMENTO
Colocada a granada no Dilagrama e colocado este na arma quando se prime o gatilho, o binómio
Dilagrama – granada é projectado pela acção dos gases que actuam no topo anterior do tubo. Em virtude
da inércia, o grampo de armar recua, parte o retentor e solta a alavanca de segurança da granada,
momento em que começa a funcionar a espoleta. O Dilagrama que se mantém solidário com a granada ao
longo da trajectória, fragmenta-se, normalmente, quando da explosão daquela.
Às distâncias maiores, a explosão dá-se alguns metros acima do solo, em virtude da duração do trajecto
ser superior ao tempo gasto pela combustão do misto retardador.

VII - 14
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

GLOSSÁRIO DE DEFINIÇÕES LEGAIS


1 . Tipos de armas:
a. Aerossol de defesa - todo o contentor portátil de gases comprimidos cujo destino seja unicamente o de
produzir descargas de gases momentaneamente neutralizantes da capacidade agressora, não podendo pela
sua apresentação e características ser confundido com outras armas ou dissimular o fim a que se destina;
b. Arco - a arma branca destinada a lançar flechas mediante o uso da força muscular;
c. Arma de acção dupla - a arma de fogo que pode ser disparada efectuando apenas a operação de accionar o
gatilho;
d. Arma de acção simples - a arma de fogo que é disparada mediante duas operações constituídas pelo armar
manual do mecanismo de disparo e pelo accionar do gatilho;
e. Arma de alarme ou salva - o dispositivo com a configuração de uma arma de fogo destinado unicamente a
produzir um efeito sonoro semelhante ao produzido por aquela no momento do disparo;
f. Arma de ar comprimido a arma accionada por ar ou outro gás comprimido, com cano de alma lisa ou
estriada, destinada a lançar projéctil metálico;
g. Arma automática a arma de fogo que, mediante uma única acção sobre o gatilho ou disparador, faz uma
série contínua de vários disparos; ~
h. Arma biológica - o engenho susceptível de libertar ou de provocar contaminação por agentes
microbiológicos ou outros agentes biológicos, bem como toxinas, seja qual for a sua origem ou modo de
produção, de tipos e em quantidades que não sejam destinados a fins profiláctic os de protecção ou outro de
carácter pacífico e que se mostrem nocivos ou letais para a vida;
i. Arma branca todo o objecto ou instrumento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante,
perfurante, ou corto-contundente, de comprimento igual ou superior a 10 cm e, independentemente das suas
dimensões, as facas borboleta, as facas de abertura automática ou de ponta e mola, as facas de arremesso,
os estiletes com lâmina ou haste e todos os objectos destinados a lançar lâminas, flec has ou virotões;
j. Arma de antecarga a arma de fogo em que a culatra não pode ser aberta manualmente e o carregamento
da carga propulsora e do projéctil só podem ser efectuados pela boca do cano, no caso das armas de um ou
mais canos, e pela boca das câmaras, nas armas equipadas com tambor, considerando-se equiparadas às de
carregamento pela boca as armas que, tendo uma culatra móvel, não podem disparar senão cartucho
combustível, sendo o sistema de ignição colocado separadamente no exterior da câmara;
k. Arma eléctrica todo o sistema portátil alimentado por fonte energética e destinado unicamente a produzir
descarga eléctrica momentaneamente neutralizante da capacidade motora humana, não podendo, pela sua
apresentação e características, ser confundida com outras armas ou dissimular o fim a que se destina;
l. Arma de fogo todo o engenho ou mecanismo portátil destinado a provocar a deflagração de uma carga
propulsora geradora de uma massa de gases cuja expansão impele um ou mais projécteis;
m. Arma de fogo transformada o dispositivo que, mediante uma intervenção mecânica modificadora, obteve
características que lhe permitem funcionar como arma de fogo;
n. Arma lançadora de gases - o dispositivo portátil destinado a lançar gases por um cano;

G- 1
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

o. Arma lança-cabos - o mecanismo portátil com a configuração de uma arma de fogo, destinado unicamente
a lançar linha ou cabo;
p. Arma química - o engenho ou qualquer equipamento, munição ou dispositivo especificamente concebido
para libertar produtos tóxicos e seus precursores que pela sua acção química sobre os processos vitais possa
causar a morte ou lesões em seres vivos;
q. Arma radioactiva ou susceptível de explosão nuclear - o engenho ou produto susceptível de provocar
uma explosão por fissão ou fusão nuclear ou libertação de partículas radioactivas ou ainda susceptível de,
por outra forma, difundir tal tipo de partículas;
r. Arma de repetição - a arma de fogo com depósito fixo ou com carregador amovível que, após cada
disparo, é recarregada pela acção do atirador sobre um mecanismo que transporta e introduz na c âmara
nova munição, retirada do depósito ou do carregador ou que posiciona a câmara para ser disparada a
munição que contém;
s. Arma semiautomática - a arma de fogo com depósito fixo ou com carregador amovível que, após cada
disparo, se carrega automaticamente e que não pode, mediante uma única acção sobre o gatilho, fazer mais
de um disparo;
t. Arma de sinalização - o mecanismo portátil com a configuração de arma de fogo destinado a lançar um
dispositivo pirotécnico de sinalização, cujas características excluem a conversão para o tiro de qualquer
outro tipo de projéctil;
u. Arma submarina - a arma branca destinada unicamente a disparar arpão quando submersa em água;
v. Arma de tiro a tiro - a arma de fogo sem depósito ou carregador, de um ou mais canos, que é carregada
mediante a introdução manual de uma munição em cada câmara ou câmaras ou em compartimento situado
à entrada destas;
w. Arma veterinária - o mecanismo portátil com a configuração de uma arma de fogo destinado unicamente
a disparar projéctil de injecção de anestésicos ou outros produtos veterinários sobre animais;
x. Bastão eléctrico - a arma eléctrica com a forma de um bastão;
y. Bastão extensível - o instrumento portátil telescópico, rígido ou flexível, destinado a ser empunhado como
meio de agressão ou defesa;
z. Besta - a arma branca dotada de mecanismo de disparo que se destina exclusivamente a lançar virotão;
aa. Boxer - o instrumento metálico ou de outro material duro destinado a ser empunhado e a ampliar o efeito
resultante de uma agressão;
ab. Carabina - a arma de fogo longa com cano de alma estriada 16 ;
ab. Es pingarda - a arma de fogo longa com cano de alma lisa 17 ;
ac.Estilete - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma haste
perfurante sem gumes e por um punho;
ad. Estrela de lançar - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, em forma de estrela
com pontas cortantes que se destina a ser arremessada manualmente;

16
Nas Forças Armadas Portuguesas, uma carabina é u ma arma de fogo ligeira de cano mais curto que a espingarda,
estriada ou de alma lisa, tendo geralmente um co mprimento de cano abaixo dos 25 calib res.
17
Nas Forças Armadas Portuguesas, uma espingarda é u ma arma de fogo ligeira de cano longo, estriada ou de alma lisa,
tendo geralmente u m co mprimento de cano acima dos 25 calibres.
G- 2
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

ae. Faca de arremesso - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma
lâmina integrando uma zona de corte e perfuração e outra destinada a ser empunhada ou a servir de
contrapeso com vista a ser lançada manualmente;
af. Faca de borboleta - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma
lâmina articulada num cabo ou empunhadura dividido longitudinalmente em duas partes também
articuladas entre si, de tal forma que a abertura da lâmina pode ser obtida instantaneamente por um
movimento rápido de uma só mão;
ag. Faca de abertura automática ou faca de ponta e mola - a arma branca, ou instrumento com configuração
de arma branca, composta por um cabo ou empunhadura que encerra uma lâmina, cuja disponibilidade
pode ser obtida instantaneamente por acção de uma mola sob tensão ou outro sistema equivalente;
ah. Pistola - a arma de fogo curta, de tiro a tiro, de repetição ou semiautomática;
ai. Pistola-metralhadora - a arma de fogo automática, compacta, que utiliza munições para arma de fogo
curta;
aj. Revólver - a arma de fogo curta, de repetição, com depósito constituído por tambor contendo várias
câmaras;
al. Arma de starter - o dispositivo tecnicamente não susceptível de ser transformado em arma de fogo, com a
configuração de arma de fogo, destinado unicamente a produzir um efeito sonoro, para ser utilizado em
actividades desportivas e treinos de caça;
2. Partes das armas de fogo:
a. Alma do cano - a superfície interior do cano entre a câmara e a boca;
b. Alma estriada - a superfície interior do cano com sulcos helicoidais ou outra configuração em espiral, que
permite conferir rotação ao projéctil, dotando-o de estabilidade giroscópica;
c. Alma lisa - a superfície interior do cano não dotada de qualquer dispositivo destinado a imprimir
movimento de rotação ao projéctil;
d. Báscula - parte da arma de fogo em que se articula o cano ou canos e que obtura a câmara ou câmaras
fazendo o efeito de culatra;
e. Boca do cano - a extremidade da alma do cano por onde sai o projéctil;
f. Caixa da culatra - a parte da arma onde está contida e se movimenta a culatra;
g. Câmara - a parte do cano ou, nos revólveres, a cavidade do tambor onde se introduz a munição;
h. Cano - a parte da arma constituída por um tubo destinado a guiar o projéctil no momento do disparo;
i. Cão - a peça de um mecanismo de percussão que contém ou bate no percutor com vista ao disparo da
munição;
j. Carcaça - a parte da arma curta de que faz parte ou onde se fixa o punho e que encerra o mecanismo de
disparo;
l. Carregador - o contentor amovível onde estão alojadas as munições numa arma de fogo;
m. Coronha - a parte de uma arma de fogo que se destina a permitir o seu apoio no ombro do atirador;
n. Corrediça - a parte da arma automática ou semiautomática que integra a culatra e que se movimenta em
calhas sobre a carcaça;
o. Culatra - a parte da arma de fogo que obtura a extremidade do cano onde se localiza a câmara;
p. Depósito - o compartimento inamovível de uma arma de fogo onde estão alojadas as munições;

G- 3
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

q. Gatilho ou cauda do gatilho - a peça do mecanismo de disparo que, quando accionada pelo atirador,
provoca o disparo;
r. Guarda-mato - a peça que protege o gatilho de accionamento acidental;
s. Mecanismo de disparo - o sistema mecânico ou outro que, quando accionado através do gatilho, provoca o
disparo;
t. Mecanismo de travamento - o conjunto de peças destinado a bloquear a culatra móvel na posição de
obturação da câmara;
u. Partes essenciais da arma de fogo - nos revólveres, o cano, o tambor e a carcaça, nas restantes armas de
fogo, o cano, a culatra, a caixa da culatra ou corrediça, a báscula e a carcaça;
v. Percutor - a peça de um mecanismo de disparo que acciona a munição, por impacte na escorva ou
fulminante;
x. Punho - a parte da arma de fogo que é agarrada pela mão que dispara;
z. Silenciador - o acessório que se aplica sobre a boca do cano de uma arma destinado a eliminar ou reduzir o
ruído resultante do disparo;
aa. Tambor - a parte de um revólver constituída por um conjunto de câmaras que formam um depósito rotativo
de munições;
ab. Sistema de segurança de arma - mecanismo da arma que pode ser accionado pelo atirador, destinado a
impedir o seu disparo quando actuado o gatilho.
3. Munições das armas de fogo e seus componentes :
a. Bala ou projéctil - a parte componente de uma munição ou carregamento que se destina a ser lançada
através do cano pelos gases resultantes da deflagração de uma carga propulsora ou outro sistema de
propulsão;
b. Calibre da arma - a denominação da munição para que a arma é fabricada;
c. Calibre do cano - o diâmetro interior do cano, expresso em milímetros ou polegadas, correspondendo, nos
canos de alma estriada, ao diâmetro de brocagem antes de abertas as estrias, ou equivalente a este diâmetro
no caso de outros processos de fabrico;
d. Carga propulsora ou carga de pólvora - a carga de composto químico usada para carregar as munições
ou a carga de pólvora preta ou substância similar usada para carregar as armas de carregamento pela boca;
e. Cartucho - o recipiente metálico, plástico ou de vários materiais, que se destina a conter o fulminante, a
carga propulsora, a bucha e a carga de múltiplos projécteis, ou o projéctil único, para utilização em armas
de fogo com cano de alma lisa;
f. Bucha - a parte componente de uma munição em plástico ou outro material, destinada a separar a carga
propulsora do projéctil ou múltiplos projécteis, podendo também incorporar um recipiente que contém
projécteis;
g. Cartucho carregado - a munição para arma de fogo com cano de alma lisa contendo todos os seus
componentes em condições de ser disparado;
h. Cartucho vazio - o cartucho para arma de fogo com cano de alma lisa não contendo nenhum dos
componentes necessários ao disparo;
i. Cartucho de letalidade reduzida - o cartucho carregado com projéctil ou carga de projéctil não metálicos
com vista a não ser letal;

G- 4
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

j. Cartucho carregado com bala - a munição carregada com projéctil único, para arma com cano de alma
lisa, ou arma com cano raiado para utilização de munições para arma com cano de alma lisa;
l. Chumbos de caça - os projécteis, com diâmetro até 4,5 mm, com que se carregam os cartuchos de caça;
m. Componentes para recarga - os cartuchos, invólucros, fulminantes ou escorvas, carga propulsora e
projécteis para munições de armas de fogo;
n. Fulminante ou escorva - o componente da munição composto por uma cápsula que contém mistura
explosiva, a qual, quando deflagrada, provoca uma chama intensa destinada a inflamar a carga propulsora
da munição, não fazendo parte da munição nas armas de carregamento pela boca;
o. Invólucro - o recipiente metálico, de plástico ou de outro material, que se destina a conter o fulminante, a
carga propulsora e o projéctil para utilização em armas com cano de alma estriada;
p. Munição de arma de fogo - o cartucho ou invólucro ou outro dispositivo contendo o conjunto de
componentes que permitem o disparo do projéctil ou de múltiplos projécteis, quando introduzidos numa
arma de fogo;
18
q. Munição com projéctil desintegrável - a munição cujo projéctil é fabricado com o objectivo de se
desintegrar no impacte com qualquer superfície ou objecto duro;
r. Munição com projéctil expansivo - a munição cujo projéctil é fabricado com o objectivo de expandir no
impacte com um corpo sólido;
s. Munição com projéctil explosivo - a munição com projéctil contendo uma carga que explode no momento
do impacte;
t. Munição com projéctil incendiário - a munição com projéctil contendo um composto químico que se
inflama em contacto com o ar ou no momento do impacte;
u. Munição com projéctil encamisado - a munição com projéctil designado internacionalmente como full
metal jacket (FMJ), com camisa metálica que cobre o núcleo em toda a sua extensão, com excepção, ou
não, da base;
v. Munição com projéctil perfurante - a munição com projéctil destinado a perfurar alvos duros e
resistentes;
x. Munição com projéctil tracejante - a munição com projéctil que contém uma substância pirotécnica
destinada a produzir chama, ou chama e fumo, de forma a tornar visível a sua trajectória;
z. Munição com projéctil cilíndrico - a munição designada internacionalmente como wadcutter de projéctil
cilíndrico ou de ponta achatada, destinada a ser usada em tiro desportivo, provocando no alvo um orifício
de contorno bem definido;
aa. Munição obsoleta - a munição de fabrico anterior a 1 de Janeiro de 1891, ou posterior a essa data, que
tenha deixado de ser produzida industrialmente e que não é comercializada há pelo menos 40 anos;
ab. Percussão anelar ou lateral - o sistema de ignição de uma munição em que o percutor actua sobre um
ponto periférico relativamente ao centro da base da mesma;
ac. Percussão central - o sistema de ignição de uma munição em que o percutor actua sobre a escorva ou
fulminante aplicado no centro da base do invólucro;
ad. Zagalotes - os projécteis, com diâmetro superior a 4,5 mm, que fazem parte de um conjunto de múltiplos
projécteis para serem disparados em armas de fogo com cano de alma lisa;

18
Conhecida co mo munição frangível.
G- 5
Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

ae. Munição de salva ou alarme - a munição sem projéctil e destinada unicamente a produzir um efeito
sonoro no momento do disparo.
4. Funcionamento das armas de fogo:
a. Arma de fogo carregada - a arma de fogo que tenha uma munição introduzida na câmara e a arma de
carregar pela boca em que seja introduzida carga propulsora, fulminante e projéctil na câmara ou câmaras;
b. Arma de fogo com segurança accionada -, a arma de fogo em que está accionado o mecanismo que
impede o disparo pela pressão no gatilho;
c. Arma de fogo municiada - a arma de fogo com pelo menos uma munição introduzida no seu depósito ou
carregador;
d. Ciclo de fogo - o conjunto de operações realizadas sequencialmente que ocorrem durante o funcionamento
das armas de fogo de carregar pela culatra;
e. Culatra aberta - a posição em que a culatra, a corrediça ou a báscula de uma arma se encontra de forma
que a câmara não esteja obturada;
f. Culatra fechada - a posição em que a culatra, corrediça ou báscula de uma arma se encontra de forma a
obturar a câmara;
g. Disparar - o acto de pressionar o gatilho, accionando o mecanismo de disparo da arma, de forma a
provocar o lançamento do projéctil.
5. Outras definições:
a. Armeiro - qualquer pessoa singular ou colectiva cuja actividade profissional consista, total ou
parcialmente, no fabrico, compra e venda ou reparação de armas de fogo e suas munições;
b. Campo de tiro - a instalação exterior funcional e exclus ivamente destinada à pratica de tiro com arma de
fogo carregada com munição de projécteis múltiplos;
c. Cedência a título de empréstimo - a entrega de arma a terceiro, para que este se sirva dela durante certo
período, com a obrigação de a restituir findo o mesmo, saindo a arma da esfera de disponibilidade do seu
proprietário;
d. Carreira de tiro - a instalação interior ou exterior, funcional e exclus ivamente destinada à prática de tiro
com arma de fogo carregada com munição de projéctil único;
e. Casa forte ou fortificada - a construção ou compartimento de uso exclusivo do portador ou detentor,
integralmente edificada em betão, ou alvenaria, ou com paredes, soalho e tecto reforçados com malha ou
estrutura metálica, sendo em todos os casos dotado de porta de segurança com fec hadura de trancas e, caso
existam, janelas com grades metálicas;
f. Data de fabrico de arma - o ano em que a arma foi produzida ou, sendo desconhecido, quando iniciada a
sua produção;
g. Detenção de arma -, o facto de ter em seu poder ou na sua esfera de disponibilidade uma arma;
h. Disparo de advertência - o acto voluntário de disparar uma arma apontada para zona livre de pessoas e
bens;
i. Equipamentos, meios militares e material de guerra - os equipamentos, armas, engenhos, instrumentos,
produtos ou substâncias fabricados para fins militares e utilizados pelas Forças Armadas e forças e serviços
de segurança;

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

j. Estabelecimento de diversão nocturna - entre as 0 e as 9 horas, todos os locais públicos ou privados,


construídos ou adaptados para o efeito, na sequência ou não de um processo de licenciamento municipal,
que se encontrem a funcionar essencialmente como bares, discotecas e similares, salas de jogos eléctricos
ou manuais e feiras de diversão;
l. Explosivo civil - todas as substâncias ou produtos explosivos cujo fabrico, comércio, transferência,
importação e utilização estejam sujeitos a autorização concedida pela autoridade competente;
m. Engenho explosivo civil - os artefactos que utilizem produtos explosivos cuja importação, fabrico e
comercialização está sujeito a autorização concedida pela autoridade competente;
n. Engenho explosivo ou incendiário improvisado - todos aqueles que utilizem substâncias ou produtos
explosivos ou incendiários de fabrico artesanal não autorizado;
o. Guarda de arma - o acto de depositar a arma, no domicílio ou outro local autorizado, em cofre ou armário
de segurança não portáteis, casa-forte ou fortificada, bem como a aplicação de cadeado, accionamento de
mecanismo ou remoção de peça que impossibilite disparar a mesma;
p. Porte de arma - o acto de trazer consigo uma arma branca ou uma arma municiada ou carregada ou em
condições de o ser para uso imediato;
q. Recinto desportivo - o espaço criado exclusivamente para a prática de desporto, com carácter fixo e com
estruturas de construção que lhe garantam essa afectação e funcionalidade, dotado de lugares permanentes e
reservados a assistentes, após o último controlo de entrada;
r. Transporte de arma - o acto de transferência de uma arma descarregada e desmuniciada ou desmontada
de um local para outro, de forma a não ser susceptível de uso imediato;
s. Uso de arma - o acto de empunhar, apontar ou disparar uma arma;
t. Zona de exclusão - a zona de controlo da circulação pedestre ou viária, definida pela autoridade pública,
com vigência temporal determinada, nela se podendo incluir os trajectos, estradas, estações ferroviárias,
fluviais ou de camionagem com ligação ou a servirem o acesso a recintos desportivos, áreas e outros
espaços públicos, dele envolventes ou não, onde se concentrem assistentes ou apoiantes desse evento;
u. Cadeado de gatilho - o dispositivo aplicado ou fazendo parte da arma que impede o accionamento do
gatilho e o disparo da arma;
v. Importação - a entrada ou introdução nos limites fiscais do território nacional, de quaisquer bens, bem
como a sua permanência em estância alfandegária ou zona internacional, a aguardar os procedimentos
legais aduaneiros, quando provenientes de países terceiros à União Europeia;
x. Exportação - a saída dos limites fiscais do território nacional de quaisquer bens com destino a país terceiro
à União Europeia, bem como a sua permanência em estância alfandegária ou zona internacional a aguardar
os procedimentos legais aduaneiros;
z. Trânsito - a passagem por território nacional, a aguardar os procedimentos legais aduaneiros, de quaisquer
bens oriundos de país terceiro e que se destinam a exportação ou transferência para outro Estado;
aa. Homologação de armas e munições - a aprovação de marca, modelo, bem como demais características
técnicas de armas pelo director nacional da PSP;
ab. Transferência - a entrada em território nacional de quaisquer bens previstos na presente lei, quando
provenientes de Estados membros da União Europeia tendo Portugal como destino final, ou a saída de
quaisquer bens de Portugal tendo como destino final Estados membros da União Europeia;

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

ac. Norma técnica - a informação emitida pela Direcção Nacional da PSP destinada a comunicar instrução
técnica ou procedimental aos titulares de licenças e alvarás emitidos ao abrigo da presente lei;
ad. Arma de aquisição condicionada - a arma que só pode ser adquirida por quem tenha licença habilitante e
autorização da Direcção Nacional da PSP;
ae. Ornamentação - a exposição de arma em local a indicar pelo requerente e identificado na correspondente
licença F.

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

BIBLIOGRAFIA

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PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS

 BOINA VERDE; Revista de informação das Tropas Aerotransportadas, nº 181 Abr/Jul97

 ARMAS E MUNIÇÕES; Revista Bimestral de informação sobre Armas e Munições

 GUN; O Mundo da Arma Ligeira, nº 65 a 80

 JANE’S DEFENSE WEEKLY; Volume 28, nº 23 de 10Dec97, Volume 29, nº 06 de


11Fev98 nº 08 de 25Fev98 nº 09 de 04Mar98

 PONTO DE ENCONTRO; CIOE, Série IV nº 01, 1995

 REVISTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO; Volume 134, 1º Trimeste de 1997

 SIENCE ET VIE; nº 909 de Jul93, nº 919 de Abr94 , nº 927 de Dec94, nº 930 de Mar95, nº
937 de Out95, nº 954 de Mar97, nº965 de Fev98, nº 906 de Mar98, nº 967 de Abr98

TESES, DISSERTAÇÕES E PROVAS ACADÉMICAS

 VIEIRA, Maj Ramos, Concepção e Emprego de Armas não Letais no Futuro Campo de
Batalha; TILD do CEM 97/98

 TRABALHOS DE GRUPO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE ARMAMENTO DOS


3º ANOS DE INF/CAV/GNR DOS CURSOS: D. Sancho Manuel, Gen de Divisão Fontes
Pereira de Melo, Dua rte de Almeida, António da Silveira, D. Cristóvão de Gama, D.
Francisco de Almeida, D. Luis de Meneses, D. Miguel Pereira Forjaz, Paiva Couceiro e
General Sebastião de Sousa Telles

RELATÓRIOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Battlefield Interoperability in Areas


Under the responsability of the NAAG, 1992

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Fuzing System Safety design ; 1996

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Infantry Small Arms ( post 2000),


1997

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Insensitive Munitions, 1997

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Mission Need Document on NATO


Soldiers Modernization Plan, 1991

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Non-Lethal Weapons, 1997

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Small Arms Ammunition –


Operational Interchangeability, 1996

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Sniper Detection Technology, 1996

 NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION; Standard Small Arms Ammunition,


1997

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