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Direito Processual Penal

A aplicação da lei processual penal no


tempo

David Silva Ramalho


Assistente Convidado da Faculdade de Direito de Lisboa

2017/2018
SUMÁRIO:
Plano
1. A aplicação imediata da lei processual penal
2. Categorias de normas processuais penais:
2.1. Normas processuais penais materiais
2.2. Normas processuais penais com relevo substantivo (MFP)
2.3. Normas processuais penais in peius (JCP)
3. Excepções à aplicabilidade da lei nova:
3.1. Agravamento da situação processual do arguido
3.2. Quebra da harmonia e unidade dos vários actos
3.3. Princípio do juiz natural
4. Casos especiais:
4.1. Condições de procedibilidade
4.2. Recursos
5. Precisamos de normas processuais penais materiais?
1. A aplicação imediata da lei processual
penal
Princípio geral: tempus regit actum

“A lei processual penal é de aplicação imediata,


sem prejuízo da validade dos actos realizados na
vigência da lei anterior” – Art. 5.º, n.º 1, CPP

A lei aplica-se:
a) A processos iniciados após a sua vigência;
b) A processos iniciados antes da sua vigência;
i. Os actos praticados anteriormente permanecem válidos
Princípio geral: tempus regit actum

• Decorrências:
a) Não retroactividade da nova lei processual penal;
b) Aplicação imediata da lei processual penal;
c) Princípio geral da não-transconexão (Pedro Caeiro).

• Justificação (Costa Pimenta):


a) Natureza comunitária do DPP: Sendo assunto da comunidade
jurídica, é conveniente a aplicação imediata da nova lei,
enquanto lei mais adequada à tutela do interesse colectivo;
b) Natureza funcionalmente instrumental do DPP.
2. Categorias de normas processuais
penais
2.1. Normas processuais penais materiais

A doutrina e a jurisprudência costumam distinguir


entre:

• Normas processuais penais stricto sensu: “normas


que regulem o modo de proceder dos tribunais na
definição concreta do Direito Penal” (MFP). Normas
meramente técnicas
e
• Normas processuais penais materiais
2.1. Normas processuais penais materiais

• O que são?
– Paulo Pinto de Albuquerque: “São as normas processuais
que representam, em termos materiais, uma verdadeira
pré-conformação da penalidade a que o arguido poderá
ficar sujeito”.
• Exemplos: Normas relativas a (i) natureza dos crimes; (ii)
caducidade, exercício e desistência do direito de queixa; (iii)
prescrição do procedimento criminal; (iv) aplicação, substituição e
revogação do procedimento criminal; (v) ónus da prova; (vi)
fundamentação das decisões; (vii) reformatio in pejus; (viii)
liberdade condicional e liberdade para a prova
2.1. Normas processuais penais materiais

• O que são?
– Américo Taipa de Carvalho: Normas que “condicionam a
efectivação da responsabilidade penal ou contendem
directamente com os direitos do arguido ou do recluso”
• Condicionam positivamente a responsabilidade penal – ex. queixa e
acusação particular;
• Condicionam negativamente a responsabilidade penal – impedimentos
processuais que constituem verdadeiros impedimentos da punição (ex.
prescrição do procedimento).
• Dizem directamente respeito aos direitos e garantias de defesa do arguido
(e.g. espécies de prova, valoração da sua eficácia probatória ou graus de
recurso);
• Normas que afectam directa, incisiva e gravemente o direito fundamental
da liberdade (prisão preventiva).
2.1. Normas processuais penais materiais

• O que são?
– Germano Marques da Silva: “Se a lei tem efeitos sobre a
penalidade concreta aplicável ao arguido, ela deve ser
considerada de natureza material, ainda que o seja
também de natureza processual, ou seja, de natureza
mista processual-penal”
– Pedro Caeiro: “são normas processuais materiais todas
aquelas que contendam com as garantias subjacentes
à proibição da retroactividade in pejus e normas
processuais formais as restantes”
2.1. Normas processuais penais materiais

• Qual o regime que se lhes aplica?

– Primeira solução possível: Aplica-se o artigo 29.º, n.º 4, da


CRP, nos termos do qual “[n]inguém pode sofrer pena ou
medida de segurança mais graves do que as previstas no
momento da correspondente conduta ou da verificação dos
respectivos pressupostos, aplicando-se retroactivamente
as leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido».
• Solução defendida por Paulo Pinto de Albuquerque.
– Reserva, porém, o artigo 5.º, n.º 2, alínea a), para normas processuais penais
que produzam agravamento sensível e evitável da situação processual do
arguido que não sejam de natureza material.
– Momento-critério: início do inquérito
2.1. Normas processuais penais materiais

• Qual o regime que se lhes aplica?

– Segunda solução possível: Aplicação exclusiva do artigo


29.º, n.º 4, da CRP e 2.º, n.º 4, do CP:
• Américo Taipa de Carvalho: “A sucessão de leis processuais penais
materiais rege-se pelos princípios constitucionais da proibição da
retroactividade da lei penal desfavorável e da imposição da
retroactividade da lei penal favorável”
– O artigo 5.º, n.º 2, alínea a), do CPP refere-se a NPP formais.
– A referência ao direito de defesa nesta norma é incorrecta.
– As NPPM estão submetidas ao princípio da proibição da
retroactividade da lei penal desfavorável, logo estão abrangidas pelo
2.º, n.º 4
2.1. Normas processuais penais materiais

• Qual o regime que se lhes aplica?

– Terceira solução possível (pouco clara): Aplica-se o artigo


5.º, n.º 2, alínea a), do CPP, por aplicação do princípio
jurídico-constitucional da legalidade em matéria penal
(29,º, n.º 1, da CRP) – Germano Marques da Silva
2.1. Normas processuais penais materiais

• Qual o regime que se lhes aplica?

– Quarta solução possível: Aplica-se o artigo 5.º, n.º 2, alínea


a), do CPP, às NPPM.
• Pergunta-se: se não se aplica a LN, então qual se aplica?
• Artigo 4.º do CPP: Integração de lacunas por analogia com:
– Normas do processo penal análogas (inexistentes)
– Normas do processo civil harmonizáveis (inexistentes);
– Princípios do Processo Penal (aplicável):
» Artigos 29.º e 32.º da CRP:
» o Artigo 29.º, número 4 da CRP, concretizado nos artigos
2.º, número 4 e 3.º da CP: lei concreta e globalmente mais
favorável, até ao limite do momento da prática do facto.
2.1. Normas processuais penais materiais

• Qual o regime que se lhes aplica?

Base legal 1.ª solução 2.ª solução 3.ª solução 4.ª solução
(PPA) (ATC) (GMS)
5.º, n.º 2, a), Normas Aplicável às Aplicável às Aplicável para
CPP processuais NPP formais. NPPM em afastamento da
que Interpretação conjunto com aplicação imediata
prejudiquem abrogante 29.º, n.º 1, CRP da LN
a posição
processual
do arguido
29.º, n.º 4, Aplicável às Aplicável às Aplicável para
CRP NPPM NPPM identificação da LA
2.2. Normas processuais penais com relevo substantivo

• Alguns Autores não falam expressamente em NPPM mas


aplicam um regime semelhante.
– Maria Fernanda Palma:
• Há dois tipos de limites à aplicabilidade imediata da LPP:
– O primeiro resulta directamente do princípio
constitucional da proibição da retroactividade:
» Aplicável a normas de natureza substantiva penal
numa conexão fundamentadora da responsabilidade
penal.
» Normas que se referem às condições de
procedibilidade ou causas de extinção do
procedimento criminal (e.g. prescrição ou que
alterem a natureza dos crimes)
2.3. Normas processuais penais com relevo substantivo

– Maria Fernanda Palma:


– O segundo decorre do subprincípio contido no artigo
5.º, n.º 2, do CPP:
» Aplicável a normas processuais das quais derive um
efeito essencial para a posição processual do arguido
na relação jurídica punitiva, na sua fase processual;
» Normas que, embora não afectando a existência da
relação jurídica punitiva nem a modificando
substancialmente, atingem a possibilidade de o
comportamento do arguido realizar os direitos que
lhe são reconhecidos no processo penal, como o
direito de defesa.
2.3. Normas processuais penais in peius

– José da Costa Pimenta:


• Também não fala em NPPM, mas antes de modificações legislativas
in peius.
• Aplica-se a lei revogada aos processos pendentes quando da lei
nova resulte um agravamento que qualifica de sensível (logo, não é
qualquer agravamento) e que seja potencial (não se tenha ainda
consumado).
– Cabem aqui todas as normas que “digam respeito a prazos
processuais, a nulidades, a proibições de prova, a medidas de
coacção e de garantia patrimonial, de restrições ao recurso e,
em geral, de quaisquer institutos para os quais vigore o
princípio da legalidade”
3. Excepções à aplicabilidade da lei nova
3.1. Agravamento sensível e ainda evitável da situação
do arguido
Artigo 5.º
[…]
2 - A lei processual penal não se aplica aos processos
iniciados anteriormente à sua vigência quando da sua
aplicabilidade imediata possa resultar:

a) Agravamento sensível e ainda evitável da situação


processual do arguido, nomeadamente uma limitação
do seu direito de defesa;
3.1. Agravamento sensível e ainda evitável da situação
do arguido

Qual o conteúdo útil desta norma?


• De acordo com ATC, só existe quanto a NPP formais.
– Logo, se contender com o direito de defesa, não se aplica.
• De acordo com uma interpretação mista, a norma permite-
nos afastar a aplicação da Lei nova.
• A identificação da lei aplicável deverá ser procurada nos princípios e na
lei penal substantiva.
• De acordo com uma interpretação diferenciadora (MFP e
PPA), a norma será aplicável a NPP que contendam com
direitos de defesa mas que não sejam materiais.
– Para PPA o momento-critério é o da abertura de inquérito.
3.1. Agravamento sensível e ainda evitável da situação
do arguido

Qual o momento-critério para definir a aplicação da LN?


• Doutrina maioritária: tempus delicti
– Pressupõe a aplicação directa ou analógica dos princípios e
da lei penal substantiva.
• Doutrina minoritária: momento da constituição de
arguido (JCP, ainda que de forma pouco clara).
– Tem a seu favor o elemento literal (“situação processual
do arguido”.
3.2. Quebra da harmonia e unidade dos vários actos do
processo

• Tutela-se a continuidade do acto processual (PPA);


• Assenta essencialmente em razões de economia
processual e credibilidade da decisão que venha a ser
proferida (JCP).
• E.g. entra em vigor uma lei nova que estabelece novos
requisitos para a realização de uma acareação e no
processo pendente há uma diligência de acareação em
curso que se prolonga por várias sessões (PPA).
• Momento-critério – Início do processo.
3.3. Princípio do juiz natural

• Artigo 32.º, n.º 9, da CRP: “Nenhuma causa pode ser


subtraída ao tribunal cuja competência esteja fixada
em lei anterior.”
• Traduz-se na “proibição de desaforamento fora dos casos
previstos em lei anterior” (PPA).
• Implica, desde logo, a reserva de lei anterior na
delimitação de competência.
• Vale tanto para julgamento como para instrução (José
Lobo Moutinho).
4. Casos especiais de aplicação da lei no
tempo
4.1. Condições de procedibilidade
• O que acontece se um crime passar de público a semi-público
ou particular?
– Para quem entende que estão em causa normas processuais
penais materiais, a norma deverá aplicar-se retroactivamente.
– Problema: se o crime tiver ocorrido há mais de 6 meses, o
processo teria de ser arquivado por extinção do direito de queixa.
• Solução:
– GMS e PPA:
» A LN é de aplicação imediata
» O ofendido terá 6 meses após a data da entrada em vigor da LN para
apresentar queixa (20/1 + 32/9 compatibilizados com 29/4 CRP)
» Em caso de alteração para crime particular, o MP não pode deduzir
acusação.
» A partir da prolação de acusação apenas poderá desistir de queixa
4.1. Condições de procedibilidade

• O que acontece se um crime passar de público a semi-


público ou particular?
– MFP distingue consoante haja sentido desincriminador na
alteração ou não:
• Caso a despublicização revele uma menor intensidade do direito de
punir torna-se mais compreensível uma decisão segundo o artigo
29.º, n.º 4, da CRP.
• Caso não haja qualquer sentido desincriminador, então já é mais
difícil aplicar o artigo 29.º, n.º 4
• Em qualquer dos casos, para conciliar os interesses em confronto, o
prazo de 6 meses começar-se-á a contar da entrada em vigor da LN.
• A solução jurídica impõe-se pelos princípios da igualdade e da
necessidade da pena,
4.1. Condições de procedibilidade

• O que acontece se um crime passar de semi-público ou


particular a público? De acordo com PPA:

– A nova lei é mais desfavorável ao arguido e por isso não será


aplicável.
– O direito de queixa que não seja exercido no prazo de 6 meses
extingue-se.
– Também nos casos em que o crime passar de particular a semi-
público se aplicarão os requisitos dos crimes particulares
4.2. Recursos

Acórdão de fixação de jurisprudência 4/2009

“O estatuto ou a «posição processual» do arguido


concretiza-se sucessivamente no processo, com a
verificação dos pressupostos e com o correspondente
exercício dos direitos que caibam relativamente a cada
acto, momento ou fase do processo, e com a sujeição a
deveres que cada acto, momento ou fase imponha: o
estado a cada momento desta relação integra a
«situação processual do arguido»”.
4.2. Recursos

Acórdão de fixação de jurisprudência 4/2009

“O estatuto ou a «posição processual» do arguido


concretiza-se sucessivamente no processo, com a
verificação dos pressupostos e com o correspondente
exercício dos direitos que caibam relativamente a cada
acto, momento ou fase do processo, e com a sujeição a
deveres que cada acto, momento ou fase imponha: o
estado a cada momento desta relação integra a
«situação processual do arguido»”.
4.2. Recursos

Acórdão de fixação de jurisprudência 4/2009

“Na concretização que resulta da lei («nos termos da lei»), o direito a «recorrer
das decisões que [ao arguido] sejam desfavoráveis» [artigo 61.º, n.º 1, alínea i),
do CPP], supõe, desde logo e como pressuposto primeiro, a existência de uma
decisão desfavorável, cuja reapreciação o arguido pretenda deferir a uma
instância superior segundo a ordenação e as regras sobre a competência dos
tribunais em razão da hierarquia.
E perante a existência de uma decisão desfavorável, impor-se-á ainda verificar
se tal decisão é, «nos termos da lei», susceptível de recurso, e em que termos,
de acordo com as regras e os critérios de admissibilidade dos recursos.”
4.2. Recursos

• O momento-critério para definir a aplicabilidade da LN


que altere a recorribilidade de uma decisão em sentido
desfavorável ao arguido será o da decisão condenatória
em 1.ª instância.
• É nesse momento que se abre a porta da fase facultativa
dos recursos:
Recursos
5. Precisamos de normas processuais
penais materiais
5. Precisamos de NPP materiais? (José Lobo Moutinho)
• Há doutrina que sustenta a desnecessidade desta figura.
• Em rigor, o artigo 5.º do CPP resolveria todos os problemas.
• O problema da prescrição não é um problema processual. É
uma causa de extinção da punibilidade com efeitos
processuais, logo aplica-se a lei penal.
• Despublicização de crime: aplicação imediata da lei nova, sem
necessidade de apresentação de queixa, com possibilidade de
desistência.
– Em caso de crime particular, necessidade de acusação particular
e constituição de assistente antes da dedução de acusação
• Questão: e se o processo não se tiver iniciado ainda?
Resolução de casos práticos
Resolução de casos práticos

Identificar se:

1. A norma condiciona de algum modo a


responsabilidade penal?
2. A norma contende com o direito de liberdade ou
com o direito de defesa do arguido?

Em caso afirmativo:
Resolução de casos práticos

• Estamos perante uma alteração a condições de


procedibilidade?
– Se sim:
• Se entendermos que está em causa uma NPP
material ou análoga, aplicamos o regime mais
favorável ao arguido.
• Se entendermos que não está em causa uma
NPP material (e.g. JLM), aplicamos o artigo 5.º,
n.º 1, do CPP.
– Se não:
Resolução de casos práticos

• Estamos perante uma alteração aos pressupostos da


recorribilidade?
– Se sim:
• Se já houve decisão em primeira instância, a LN
é aplicável.
• Se ainda não houve decisão em primeira
instância, aplica-se a lei anterior.

– Se não:
Resolução de casos práticos

• Hipótese 1 – Solução resultante da aplicação directa


da Constituição e da lei penal (ATC):
– Aplicação directa do regime previsto no artigo 29.º, n.º 4,
da CRP e 2.º, n.º 4, do CP, afastando o regime do artigo 5.º,
n.º 2, al. a), do CPP.
• Momento-critério: tempus delicti
• Hipótese 2 – Solução mista:
– Aplicação do artigo 5.º, n.º 2, alínea a), do CPP para afastar
a aplicabilidade da LN com fundamento em agravamento
sensível e ainda evitável da situação processual do arguido.
• Momento-critério: tempus delicti por aplicação analógica do artigo
29.º, n.º 4, da CRP, 2.º, n.º 4 e 3.º do CP.
Resolução de casos práticos

• Hipótese 3 – Norma processual penal com relevo


substantivo mas não material (PPA e MFP):

– Se estivermos perante uma norma que represente um


agravamento da posição processual do arguido mas não
represente uma pré-conformação da penalidade aplicável,
recorremos ao artigo 5.º, n.º 2, alínea a), do CPP.
• Momento-critério para PPA: momento da abertura do inquérito.

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