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Print version ISSN 0104-5970 ‘Hist. cienc. saude-Manguinhos voL.S no.1 Rio de Janeiro Mar./June 1998 http://@x.doi.org/10.1590/S0104-59701998000100006 A cidade imaginada ou o imaginario da cidade The city imagined, or the citys imaginary Maria Aparecida Lopes Nogueira Antropéloga da Fundacdo Joaquim Nabuco e a Du Te Services on Demand Article @ Reascure Ate in at format [By Mile retronces [D How to it this aricte $@: Curriculum ScienT! P Nitomatiotransiaton [ig] Send tis artete bye-mail Indicators 3 Cited by SciELO iby Accoss statistics Related links Share More P Pemalink NOGUEIRA M. A. L.: A cidade Imaginada ou 0 imaginario da cidade. Histdria, Ciencias, Sauide Manguinhos, V (1): 115-123 mar.-jun, 1998, © artigo trata da tematica da cidade real-cidade imaginaria. Argumenta que, ao refletirmos sobre a cidade, refletimos, também, sobre nés mesmos, com todos os nossos sonhos, frustraces, ansiedades & esperancas. A discussao parte de uma ciéncia reencantada, que aproxima as questdes do cotidiano, da meméria, do simbolo e do mito PALAVRAS-CHAVE: cidade, imaginério, simbolo, mito. NOGUEIRA M. A. L.: The city pesquisaaora aa universiaage reaera: ae Pernambuco (UFPE). Rua d, Julieta 70 casa 2 Encruzilhada 52045-550 Recife PE Brasil imagined, or the citys imaginary. Histéria, ciéncias, Saude Manguinhos, e-mail: ci 1 Conferéncia proferida na 45° Reunido da Sociedade Brasileira para © Progresso da Ciéncia (SBPC), Recife, 12 2 16 de julho de 1993. c PES V (1): 115-123 Mar.-Jun. 1998. Exploring the topic actual city/imagined city, the article argues that when'we reflect on the question of city, we are also reflecting upon ourselves including all our dreams, frustrations, anxieties, and hopes. This discussion is made possible by a science that interrelates the issues of daily life, of memory, of symbol and of myth. KEYWORDS: city, imagination, imaginary, symbol, myth. E uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos & um quebra~ cabeca que esconde um desejo, ou ento 0 seu oposto, umm medo, AS cidades, como os sonhos, séo construidas por desejos ¢ medos, ainda que 0 fio condutor de seu ciscurso seja secreto, que as suas regras sejam adsurdas, as suas perspectivas enganosas ¢ que todas as coisas escondam uma outra coisa. tale Calvino A cidade de que pretendo falar 6 um simbolo. Ea cidade ambigua, desenhada pelas marcas da meméria individual/coletiva. € a cidade do nosso desejo, espeino de nossas paixdes, experiéncias e expectativas. Nesse sentido, esta presente em nossa meméria sob a forma de marcas profundas. O conceito de meméria que adoto esta calcado na psicanalise e tem relacao direta com a fantasia (Bezerra de Menezes, 1991). E inventada e reinventada, construida e reconstruida a partir do laco estabelecido como acontecimento, que muda constantemente, arrastando nessa mudanga o seu significado Na meréria superpderse presente, passado e futuro. Nela flui no mais o tempo linear encontrado em Freud, mas um tempo a-causal, sincronistico, junguiano, o Kairos, tempo préprio do mito, to bem colocado por Calvino (1990, p. 29): “Vocé viaja para reencontrar 0 seu futuro", ou mesmo, na referéncia a "saudades do futuro" dos fisicos madernos (Capra, 1983). Pols a meméria nao tem margens nemlimtes, é solta, atrela-se apenas ao desejo. Se fixarmos suas margens com palavras, elas cancelam-se. Para lidar coma questéo do espago, recorre ao conceito de meméria topografica do prof, W. Bollie da Universidade de Séo Paulo (USP):+ topografia mével, que se reconstréI no entre-cruzamento entre a nossa emocao e as ruas da cidade, Tenho em mente, portanto, um espago qualitative (o topos, espaco proprio do mito) Convém ressaltar que 2 meméria é contraditéria, no-racional, e envolve um universo diversificado de marcas, como mostra Montenegro (1992). Possuindo légica desconhecida, distingue-se em dois tipos: a voluntéria e a involuntaria, Na primeira, os fatos vém & tona de acordo coma vontade do individuo, ao passo que, na segunda, nao se sabe qual estimulo desencadeia 0 rememorar: uma relacao invisivel envolve os dois tips de meméria, configurando uma dimensao nao apreendida, que sé reforca sua imerséo no universo simbélico, cujos significados nos escapam a todo instante. Fio condutor desse trabalho, a meméria é assim a responsavel pela construcao da cidade imaginada da qual trato, Nao me importa saber se é ou nao real, e considero descabido qualquer esforo no sentido de estabelecer nttida distingao entre a cidade real e a imaginada, visto que a realidade objetiva daquela nem sempre coincide com o que significa, subjetivamente, para o individuo. Na cidade, constréi-se uma rede infinita de relagGes e repre-sentacées, 0 que toma pertinente o conceito de cultura de Muniz Sodré (1988). Tal conceito se adequa a um estudo na perspectiva da antropologia do imaginario, entendendo-se este como "vasto campo organizado de forcas antagénicas" (Durand, 1988). Em seu mbito, a meméria entrecruza os pares de opostos individuo/sociedade, significante/significado, sujeito/objeto, objetividade/subjetividade, combinando-os segundo sua propria légica e reordenando-os nas malhas do tempo sincronistico, mitico, arquetipico e do espago qualitative O estudo da cidade imaginada é importante porque permite ampliar nossa compreensio do fenémeno urbano a partir da narrativa da meméria. O narrador quele que descreve com a maior exatidao 0 extraordinério e o miraculoso” (Benjamin, 1985, p. 221) informa-nos, em titima instancia, qual "o processo reativo que a realidade provoca no sujeito" (Montenegro, op. cit., pp. 19-20). Tais reacdes interessam-nos na medida em que representam "o que esta submerso no desejo e na vontade individual coletiva’ (© que subjaz a cidade sao nossos desejos, que logo se tornam lembrangas, mas "a cidade nao conta o seu passado, ela o contém” (Calvino, 1990, p. 14). Ao rememorar, 0 narrador revé no as coisas em si, mas significados das coisas. Ele se revisita. As imagens que vém a tona corresponde um olhar a percorrer ruas, becos, calgadas, pessoas, brigas, amores, familia, patrao, trabalho... A cidade é um livro- texto que se deixa desnudar pelo narrador. Este, a0 mesmo tempo que olha, conta~ lhe segredos, repete discursos, E impossivel apreender em sua totalidade esse universo infinito de simbolos que envolve a cidade, pois cada um de nés estabelece relacdes proprias como lugar, descreve com ele uma trajetéria sempre singular. O que se pode compreender sao representacées individuais e coletivas plasmadas em conteudos simbélicos gerais. Afinal de contas, "a cidade ¢ redundante: repete-se para fixar alguma imagem na mente ..., a meméria é redundante: repete os simbolos para que a cidade comece a existir" (idem, ibidem, p. 23) Decifrar simbolos é tarefa incerta, pois a todo instante séo colecionados novos sentidos. Sempre existe algo a descobrir: "Agora, desse passado real ou hipotético, ele esta excluido; nao pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possivel futuro e que agora é o presente de outra pessoa" (idem, ibidem, p. 29). A cidade carrega consigo algo de grandioso, porque ¢ aquilo que ela de fato se tomou que proporciona a magia atrativa da recordacao, assim como a possibilidade de imprimir as marcas do que ndo-é na alma de seus habitantes. Em todas as 6pocas, vao Imaginar o que seria dela e deles mesmos caso ndo tivesse se tornado a cidade real. Cada um constréi, entao, sua cidade imaginada, sua cidade ideal, ¢ dentro dela as relagdes dao conta de todos os desejos. Podemos supor que hd as. que dio forma aos desejos, e outras, que sdo engolidas por eles. Os desejos so os dinamos da cidade, viabilizando a transformacao das lembrangas no &mago de novas relacdes com os fatos. ‘Ao descrever a cidade, 0 narrador percorre-a inteira com pensamento, no se perde, e tema sensacdo exata do vazio que envolve o espaco percorrido, vazio inexprimivel por palavras. Dai a necessidade de metéforas para aludir ao que sé 0 coracao revisita. Das relagées, das pessoas, o que se obtémé 0 que o olhar do narrador capta. Ele propicia os encontros e desencontros com pessoas e acontecimentos de um tempo dado. E desse modo que Baudelaire (1989) nos fala através da figura tao bem qualificada por Benjamin (1985): 0 fidneur. Este estabelece com a cidade outro nivel de relacdo, uma cumplicidade que decorre do ritmo préprio com que a percorre, e dos olhos poéticos com que perscruta a alma de seus habitantes. A cidade contém os segredos deles. Por isso, no convém confundi-la coma descricfio de quem a narra: ela nfo se deixe aprender por um sé discurso. Os deuses e mitos que a guardam tomam-na ambigua e miagrosa, e muito maior que a construe de um modelo. A cidade extrapola a ansia de ser verossimil As relagGes intricadas que agasalha sdo um convite permanente ao mergulho. Nao se pode compreender o hamem da cidade fora dessa rede que o engole & embala, que se inventa na mente a partir de detalhes, caminhos de cidades j4 vistas ¢ de outras, nunca visitadas, ‘Todas as imagens construidas esto presentes na propria historia de vida do narrador. Suas duvidas, respostas, alegrias, seus anseios e seu futuro é que possibilitam a cidade imaginada. A'viagem que faz por ela através da meméria transcende espaco e tempo convencionais, e ativa, a um sé tempo, individuo multidao, sendo esta a origem de seu transtomo ou, a0 contrério, 0 seu refgio (Benjamin, 1985) Visitar a cidade através da meméria € visitd-le com paixo para o instante-jé; & conservé-la singular da Gnica forma possivel, dentro do coragdo, sem visualizar a

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