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Notas de aula de EDB

em construção permanente :)

Aniura Milanés
Sl 4033 - DMat - UFMG
aniura@mat.ufmg.br
2017/II
Sumário

1 Introdução 1
1.1 Primeiros conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Que são equações diferenciais parciais? . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Um modelo de transporte simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.1.4 Laboratório I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Sobre as soluções de algumas EDPs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.1 Resolução por técnicas “elementares“ . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.2 EDPs lineares de primeira ordem com coeficientes constantes . . . . 14
1.2.3 Soluções com estrutura predefinida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2.4 Problemas de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.6 Estudo dirigido I: Solução de EDPs de primeira ordem e coeficientes
constantes: o caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2 A equação da onda unidimensional 27


2.1 Um modelo: vibrações pequenas de uma corda . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1.1 Oscilações transversais de uma corda elástica . . . . . . . . . . . . . 27
2.1.2 Formulação de um problema de contorno . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.3 Unicidade das soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.1.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2 A fórmula de d’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2.1 Solução geral da equação da onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2.2 A corda infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.4 Laboratório II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3 A equação do calor 39
3.1 Um modelo de propagação do calor em uma barra . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.1 Dedução da equação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.2 Condições de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2 Solução de alguns problemas de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2.1 Temperatura zero nos extremos da barra . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2.2 Barra com extremos termicamente isolados . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2.3 Condução do calor numa barra circular . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.2.4 Condições de fronteira não homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

i
ii SUMÁRIO

3.2.6 Laboratório III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58


3.2.7 Estudo dirigido II: Propriedades das soluções . . . . . . . . . . . . . 58

4 Séries de Fourier 65
4.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.1.1 Definição da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.1.2 Polinômios trigonométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.2 Convergência das séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2.1 Funções contı́nuas por partes e suaves por partes . . . . . . . . . . 78
4.2.2 Um critério de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.3 Propriedades das séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.3.1 Operações com as séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.3.2 Funções pares e ı́mpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.3.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.4 Mais sobre a convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.4.1 Decaimento dos coeficientes de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.4.2 Convergência uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.4.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.5 Séries de Fourier nos problemas de propagação de calor na barra . . . . . . 95
4.5.1 Séries de Fourier em senos e em cossenos . . . . . . . . . . . . . . . 95
4.5.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

5 O método de separação de variáveis 101


5.1 Solução de diferentes problemas contorno para a equação do calor . . . . . 101
5.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.2 A corda com extremos fixos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.2.1 Solução do problema de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.2.2 Harmônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
5.2.3 Solução usando a fórmula de D’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . 116
5.2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

6 A equação de Laplace 121


6.1 Generalidades sobre a equação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
6.1.1 Invariâncias da equação de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
6.1.2 Alguns problemas de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
6.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
6.2 O problema de Dirichlet no retângulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
6.2.1 Resolução do problema “básico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
6.2.2 Resolução do problema geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
6.2.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

Respostas os exercı́cios 139


Capı́tulo 1

Introdução

1.1 Primeiros conceitos


1.1.1 Que são equações diferenciais parciais?
Sob certas suposições é possı́vel deduzir que o ângulo Θ(t), que um pêndulo forma com a
vertical no instante t satisfaz uma equação diferencial ordinária (EDO) bastante conhecida

d2 Θ g
+ sin Θ = 0. (1.1)
dt2 L
Na chamada equação do pêndulo, g e L são constantes que representam a aceleração da
gravidade e o comprimento do pêndulo respectivamente. t é a variável independente
nesta siuação e Θ = Θ(t) é a função incógnita ou variável dependente. Esta é
uma EDO porque somente há uma variável independente t, que representa o tempo neste
caso. Além disto, é de segunda ordem porque a derivada de maior ordem que aparece na
equação é a derivada de ordem dois.
Uma equação diferencial parcial (EDP) relaciona derivadas parciais de uma função de
duas ou mais variáveis independentes. A ordem de uma EDP é a ordem da maior derivada
parcial que nela aparece. Por exemplo, a equação do transporte,

∂u ∂u
+c = 0, (1.2)
∂t ∂x
é uma EDP de primeira ordem. A função u é a função incógnita e ela depende das variáveis
x, que representa uma coordenada espacial e t, que representa o tempo. Denotaremos
isto da forma u = u(x, t). Aqui c é um parâmetro constante.
A equação de Laplace
∂ 2u ∂ 2u
+ =0 (1.3)
∂x2 ∂y 2
é uma EDP de segunda ordem com função incógnita u = u(x, y). As variáveis x e y
representam coordenadas espaciais.
Para simplificar, alguns textos utilizam a notação de subı́ndices para as derivadas
parciais, de forma que esta equação também poderia ser escrita como uxx + uyy = 0
e a equação do transporte seria ut + cux = 0.
Uma função é solução de uma EDP se ao substituir a expressão da função e todas suas
derivadas parciais que aparecem na equação, obtemos uma igualdade.

1
2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Exemplo 1.1.1. A função u(x, y) = x2 − y 2 é solução da equação de Laplace. Para


verificarmos isto, precisamos primeiramente calcular as derivadas parciais:
∂u ∂u
= 2x, = −2y
∂x ∂y
∂ 2u ∂ 2u
= 2, = −2.
∂x2 ∂y 2

∂ 2u ∂ 2u
Portanto, + = 2 − 2 = 0 e de fato, u é solução desta equação.
∂x2 ∂y 2
Exercı́cio 1.1.1. Verifique que v(x, y) = x também é solução da equação de Laplace
bidimensional (1.3). Como ela poderia ser combinada com a solução do exemplo para
formar outras soluções?

Exercı́cio 1.1.2. Verifique que se f : R → R é uma função derivável, então u(x, t) =


f (x − ct) é solução da equação do transporte. Obtenha a expressão para u nos casos
2
f (x) = x e f (x) = e−x .

Os gráficos de funções de duas variáveis representam superfı́cies. Esta é uma maneira


interessante de visualizar as soluções em alguns casos.
As soluções da equação de segunda ordem
" 2 # 2 " 2 # 2
2
 
∂Z ∂ Z ∂Z ∂Z ∂ Z ∂Z ∂ Z
1+ 2
−2 + 1+ = 0, (1.4)
∂y ∂x ∂x ∂y ∂x∂y ∂x ∂y 2

têm a propriedade de que a superfı́cie z = Z(x, y) minimiza a área localmente. Como


entender isto? Por exemplo, imaginemos que retiramos um pequeno fragmento da su-
perfı́cie mantendo a curva no bordo fixa. Então entre todos os remendos que poderiam
cobrir o buraco que ficou na superfı́cie, o de menor área será precisamente o que foi tirado.
Superfı́cies com esta propriedade são chamadas de superfı́cies mı́nimas, por isso esta
equação é chamade de equação da superfı́cie mı́nima. Esta é uma equação de segunda
ordem.
Por último, a equação de Korteweg-de Vries (KdV),

∂h ∂h ∂ 3h
+ 6h = (1.5)
∂t ∂x ∂x3
é um modelo para a amplitude de onda h = h(x, t) na superfı́cie de um fluido que se move
ao longo de um canal. Esta é uma equação de terceira ordem.
As soluções das EDPs precisam ter algum tipo de regularidade pois elas são funções
que serão substituı́das na equação e por isso precisam possuir tantas derivadas quanto a
ordem da equação exija. Além disto, gostariamos de ter igualdades nas derivadas mistas,
por exemplo
∂ 2u ∂ 2u
= .
∂y∂x ∂x∂y
Para que esta igualdade valha, precisamos que as duas derivadas cruzadas sejam contı́nuas
na região onde elas estão definidas (Simetria das segundas derivadas). Isto motiva a
definição a seguir.
1.1. PRIMEIROS CONCEITOS 3

Definição 1.1

Dado um inteiro não negativo k, dizemos que uma função u é C k ( ou u ∈ C k ) se


todas as derivadas parciais de u até a ordem k existem e são funções contı́nuas.

As funções C 0 são as funções contı́nuas. É claro que se u ∈ C k então u ∈ C k−1 , para


∂ 2u ∂ 2u
todo k inteiro positivo. Para uma função C 2 , vale = e de forma geral, a ordem
∂y∂x ∂x∂y
em que são tomadas k ou menos derivadas parciais de uma função C k é irrelevante.

Definição 1.2

A solução de uma EDP de ordem k sobre uma região D, é uma função C k definida
naquela região e tal que a EDP é satisfeita em todos os pontos interiores de D.

A definição de linearidade para EDPs é análoga àquela para EDOs. Uma EDO linear é
aquela que pode ser exprimida da forma

an (x)y (n) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = f (x), (1.6)

onde a0 , a1 , . . . , an e f são funções somente da variável independente x. Uma EDO


contendo termos da forma y 2 ou potências maiores ou funções mais complexas de y ou de
suas derivadas não é linear. Por exemplo, as equações y 0 + y 2 = 0, (y 0 )−1 − x log y = 0 são
não lineares. A equação do pêndulo (1.1) é não linear. No caso de pequenas oscilações,
ela pode ser substituı́da por

d2 Θ g
+ Θ = 0, (1.7)
dt2 L

que é uma equação linear.


O termo à esquerda na equação (1.6) é uma combinação linear de y, y 0 , . . . , y (n) com
coeficientes a0 , a1 , . . . , an , que são funções dadas da variável independente x. À direita
temos uma função que depende somente da variável independente x. De forma similar,
uma EDP com função incógnita u é linear quando ela não contém termos da forma u2 ,
nem potências maiores ou funções não lineares de u.

Definição 1.3

Uma EDP linear de n-ésima ordem é toda EDP que possa ser escrita da forma

• membro esquerdo: combinação linear da função incógnita u e de suas deri-


vadas parciais até a ordem n com coeficientes que são funções das variáveis
independentes;

• membro direito: função f das variáveis independentes.

Se f ≡ 0, dizemos que a EDP linear é homogênea.


4 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

A equação
∂u ∂u
x7 + exy + sen(x2 + y 2 )u = x3 (1.8)
∂x ∂y
é linear não homogênea, enquanto
 2  2
∂u ∂u
+ =1
∂x ∂y

é não linear.
A forma mais geral para uma EDP linear de primeira ordem para u = u(x, y) será

∂u ∂u
a(x, y) + b(x, y) + c(x, y)u = d(x, y), (1.9)
∂x ∂y
onde a, b, c and d são funções de x e y. Esta equação será homogênea quando d ≡ 0.

Exemplo 1.1.2. As equações de transporte (1.2) e de Laplace (1.3) são lineares e ho-
mogêneas. A equação da superfı́cie mı́nima (1.4) e a de Korteweg-deVries (1.5) são não
lineares.

Exercı́cio 1.1.3. Escreva a forma geral das EDPs lineares de segunda ordem com função
incógnita u = u(x, y). Quando a equação será homogênea? Por que você acha que eu não
escrevi ela aqui?

A linearidade significa o seguinte. Suponha que você escreve a equação de forma que
todos os termos que dependem de u e de suas derivadas fiquem no termo esquerdo e que no
termo direito restem apenas as expressões que dependem só das variáveis independentes.
Ou seja, a equação está organizada da forma Λ[u] = f, sendo Λ[u] um operador. Isto
quer dizer que se v é uma função, Λ[v] é outra função.
∂ 2u ∂ 2u
Por exemplo, na equação de Laplace (1.3), Λ[u] = + e f ≡ 0. Na equação
∂x2 ∂y 2
∂u ∂u
(1.8), Λ[u] = x7 + exy + sen(x2 + y 2 )u e f (x, y) = x3 .
∂x ∂y
A equação será linear se Λ[u] é uma combinação linear de u e de algumas de suas
derivadas parciais, com coeficientes que são funções das variáveis independentes. Como
a derivada de uma soma de funções é a soma das derivadas, se substituirmos u1 + u2 no
lugar de u na expressão Λ[u], o resultado, ou seja, Λ[u1 +u2 ] será exatamente Λ[u1 ]+Λ[u2 ].
Além disto, se c1 e c2 são constantes arbitrárias, teremos que Λ[c1 u1 ] = c1 Λ[u1 ] e Λ[c2 u2 ] =
c2 Λ[u2 ], portanto uma equação Λ[u] = f é linear se

Λ[c1 u1 + c2 u2 ] = c1 Λ[u1 ] + c2 Λ[u2 ]. (1.10)


Neste caso dizemos também que Λ é um operador linear.
Como consequência desta igualdade obtemos um resultado que será muitı́ssimo utili-
zado neste curso, em especial no caso de EDPs lineares homogêneas.
1.1. PRIMEIROS CONCEITOS 5

Teorema 1.1: Princı́pio de superposição

Seja u1 uma solução da EDP Λ[u] = f1 e u2 solução da EDP Λ[u] = f2 . Então para
quaisquer constantes c1 e c2 , a função u = c1 u1 + c2 u2 será solução da equação

Λ[u] = c1 f1 + c2 f2 . (1.11)

Em particular, se f1 ≡ 0 e f2 ≡ 0, (1.11) implica que se u1 e u2 são soluções da


equação homogênea Λ[u] = 0, então u = c1 u1 + c2 u2 também será solução desta
equação.

Exemplo 1.1.3. No exercı́cio 1.1.1 e no exemplo 1.1.1, verificamos que v(x, y) = x e


u(x, y) = x2 − y 2 são soluções da equação de Laplace bidimensional. Como ela é uma
equação linear e homogênea, o princı́pio de superposição garante que toda combinação
linear de soluções é solução. Portanto, as funções

w1 (x, y) = 3v(x, y) − u(x, y)


= −x2 + y 2 + 3x
e


w2 (x, y) = πv(x, y) + 2u(x, y)
√ √
= 2x2 − 2y 2 + πx
também são soluções desta equação.
Exercı́cio 1.1.4. O aluno X acha que entendeu o princı́pio de superposição e faz o
seguinte raciocı́nio:
Como v(x, y) = x é solução da equação de Laplace bidimensional, então w(x, y) =
xv(x, y) = x2 também é.
Mas a aluna Y substitui a função w na equação e obtém o seguinte.

∂ 2w ∂ 2w ∂ 2w ∂ 2w
= 2, 2 = 0 ⇒ + = 2.
∂x2 ∂y ∂x2 ∂y 2
w não é solução da equação!! Qual é o erro no raciocı́nio de X?
∂ 2u ∂u
Exemplo 1.1.4. A função u1 (x, y) = x3 é solução da EDP linear 2
− = 6x, e
∂x ∂y
∂ 2u ∂u ∂ 2u ∂u
u2 (x, y) = y 2 é solução de 2
− = −2y. Determine uma solução de 2
− =
∂x ∂y ∂x ∂y
18x + 8y.
Solução:
∂ 2 u ∂u
Neste caso, Λ[u] = − , f1 (x, y) = 6x e f2 (x, y) = −2y. Observe que 18x + 8y =
∂x2 ∂y
3f1 (x, y) − 4f2 (x, y), ou seja c1 = 3 e c2 = −4. Pelo Princı́pio de Superposição, temos que
∂ 2 u ∂u
a função u(x, y) = 3u1 (x, y) − 4u2 (x, y) = 3x3 − 4y 2 será solução de − = 18x + 8y,
∂x2 ∂y
o que também pode ser verificado diretamente.
6 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Exemplo 1.1.5. Obtenha uma solução da equação da onda

∂ 2u ∂ 2u
2
− 4 2
= sen(t) + x2 .
∂t ∂x
Solução Este exemplo é bastante parecido com o anterior, mas neste caso só temos uma
equação. Como o termo independente da EDP dada é a função sen(t)+x2 , parece razoável
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
considerarmos soluções u1 e u2 das equações − 4 = sen(t) e − 4 = x2 ,
∂t2 ∂x2 ∂t2 ∂x2
respectivamente. O problema é que não temos essas soluções. Vamos tentar achá-las de
uma forma bastante simples.
∂ 2u ∂ 2u
Precisamos determinar uma solução u1 da equação − 4 = sen(t). Vamos
∂t2 ∂x2
aproveitar o fato de que o membro direito depende somente de t e procuraremos então
uma solução que só depende desta variável, ou seja u1 (x, t) = u1 (t). Desta forma, quando
∂ 2 u1 d2 u1 00 ∂ 2 u1
substituirmos na equação teremos que = = u 1 e = 0, portanto
∂t2 dt2 ∂x2
u001 = sen(t).

Esta expressão na verdade constitui uma EDO para u1 que possui infinitas soluções, mas
não devemos esquecer que precisamos somente de uma. Integrando duas vezes em relação
a t, obtemos que u1 (x, t) = u1 (t) = − sen(t) é uma solução da equação.
∂ 2u ∂ 2u
Podemos achar a solução u2 da equação − 4 = x2 de forma muito parecida.
∂t2 ∂x2
∂ 2 u2 d2 u 2 00 ∂ 2 u2
Agora vamos procurar u2 tal que u2 (x, t) = u2 (x), portanto = = u2 e =0
∂x2 dx2 ∂t2
e obtemos a equação
−4u002 = x2 .
Integrando duas vezes em relação a x, chegamos a uma das soluções desta equação
1
u2 (x, t) = u2 (x) = − x4 . Portanto uma solução para a EDP dada será
48
1 4
u(x, y) = u1 (x, t) + u2 (x, t) = − sen(t) − x.
48
O Princı́pio de Superposição não vale em geral para as EDPs não lineares. Por isso
formar novas soluções a partir de soluções dadas é mais difı́cil para estas equações.

1.1.2 Um modelo de transporte simples


A área das equações diferenciais parciais esteve estreitamente ligada à fı́sica até o século
XX. As EDPs que estudaremos neste curso podem ser deduzidas a partir de considerações
fı́sicas. Na maioria dos problemas da fı́sica, as variáveis independentes são as coordenadas
espaciais x, y, z e o tempo t.
Um modelo que conduz a uma EDP linear de primeira ordem é o modelo de transporte
simples que descrevemos a seguir.
Consideremos um fluido que se move ao longo de um canal de seção transversal fixa,
com velocidade constante c no qual há partı́culas em suspensão que são transportadas.
No modelo são desconsideradas interações entre as partı́culas. Um exemplo poderia ser
um poluente que é transportado pelo fluxo de um rio. Chamemos de u = u(x, t) ao valor
1.1. PRIMEIROS CONCEITOS 7

da concentração do poluente na seção x e no instante t, medida em unidades de massa


por unidades de comprimento, por exemplo gr/cm.
O fluido entre as seções transversais em x = x1 e x = x2 no instante t se desloca depois
de h unidades de tempo para a região delimitada por x = x1 + ch e x = x2 + ch. Como a
massa do poluente é apenas transportada, ela permanece constante e vale que
Z x2 Z x2 +ch
u(x, t)dx = u(x, t + h)dx.
x1 x1 +ch

Derivando a equação acima em relação a x2 obtemos que

u(x2 , t) = u(x2 + ch, t + h).

Derivando a expressão acima em relação a h e substituindo h = 0 obtemos a equação


diferencial satisfeita por u

∂u ∂u
+c = 0. (1.12)
∂t ∂x
No exercı́cio 1.1.2 você verificou que as funções da forma u(x, t) = g(x−ct), onde g é uma
função arbitrária com uma derivada contı́nua (o que se denota por g ∈ C 1 ), satisfazem
esta equação. Na próxima seção veremos que esta é de fato, a solução geral da equação.
Para determinarmos uma única solução, ou seja, para determinarmos a distribuição do
poluente em cada instante, precisamos acrescentar ao problema uma condição inicial que
determine o perfil da concentração no instante t = t0 , ou seja u(x, t0 ) = g(x).
No caso particular t = 0, o problema de valor inicial (PVI) para a equação do transporte

 ∂u + c ∂u = 0, −∞ < x < ∞, t > 0,
∂t ∂x
u(x, 0) = f (x), −∞ < x < ∞.

tem como única solução, u(x, t) = f (x − ct). Esta solução representa uma translação à
direita da concentração inicial, ou seja, a medida que o tempo avança, a concentração da
substância se desloca à direita com velocidade constante c, pelo fato da substância estar
sendo carregada pelo fluido.

Figura 1.1: Deslocamento das partı́culas com velocidade constante

Neste modelo precisamos utilizar apenas uma condição adicional para determinar a
solução de maneira única: a condição inicial u(x, 0) = f (x). Em outros problemas mais
complexos vamos precisar de mais condições iniciais e também das chamadas condições
de fronteira.
8 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

1.1.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
Comprove que as funções dadas são soluções das EDPs correspondentes.
∂ 2u ∂ 2u
(a) u(x, y) = x + y, + = 0;
∂x2 ∂y 2
∂ 2u ∂u
(b) u(x, t) = x2 + 2t, 2
= ;
∂x ∂t
∂ 2u ∂ 2u
(c) u(x, y) = sen(x) cosh(y)∗ , + = 0;
∂x2 ∂y 2
∂ 2u 2
2∂ u
(d) u(x, y) = sen(x − ct), − c = 0, onde c é uma constante;
∂t2 ∂x2
∂ 2u
(e) u(x, y) = f (x) + g(y), = 0, onde f e g são funções C 2 arbitrárias;
∂y∂x
∂ 2u ∂ 2u
(f) u(x, y) = f (x + y) + g(x − y), − = 0, onde f e g são funções C 2 arbitrárias.
∂x2 ∂y 2

Exercı́cio 1.2
Verifique que as funções u1 (x, y) = y, u2 (x, y) = 2xy, u3 (x, y) = x3 − 3xy 2 , u4 (x, y) =
ex sen y são soluções da equação de Laplace bidimensional (1.3). Construa quatro novas
soluções desta equação usando o Princı́pio de Superposição.

Exercı́cio 1.3
Verifique que cada uma das equações a seguir possui soluções da forma u(x, y) = f (ax+by)
onde a e b são constantes a serem escolhidas apropriadamente e f é uma função C 1
arbitrária. Calcule as constantes em cada caso.
∂u ∂u
(a) +3 = 0;
∂x ∂y
∂u ∂u
(b) 3 −7 = 0;
∂x ∂y
∂u ∂u
(c) 2 +π = 0.
∂x ∂y
∂u ∂u
Você teria alguma conjectura sobre as soluções da equação a −b = 0?
∂x ∂y
Exercı́cio 1.4
Verifique que cada uma das equações a seguir possui soluções da forma u(x, y) = eαx+βy .
Calcule as constantes α e β para cada exemplo.
∂u ∂u
(a) +3 + u = 0;
∂x ∂y

∗ ey + e−y
cosh(y) =
2
1.1. PRIMEIROS CONCEITOS 9

∂ 2u ∂ 2u
(b) 2
+ 2 = 5ex−2y ;
∂x ∂y
∂ 4u ∂ 4u ∂ 4u
(c) + + 2 = 0;
∂x4 ∂y 4 ∂y 2 ∂x2

Exercı́cio 1.5
(a) Comprove que as funções u1 (x, t) = sen t · cos x e u2 (x, t) = cos 3t · sen 3x são soluções
∂ 2u ∂ 2u
da equação da onda 2 = .
∂t ∂x2
(b) Explique como podemos obter infinitas soluções desta equação usando a informação
acima.

(c) Se c1 sen t cos x + c2 cos 3t sen 3x = d1 sen t cos x + d2 cos 3t sen 3x para todos t e x
então c1 = d1 e c2 = d2 . Verifique esta afirmação.

(d) Você consegue interpretar o resultado de (c)?

Exercı́cio 1.6
Quais das expressões abaixo definem operadores lineares?
∂u ∂u
(a) Λ[u] = +x .
∂x ∂y
∂u ∂u
(b) Λ[u] = +u .
∂x ∂y
 2
∂u ∂u
(c) Λ[u] = + .
∂x ∂y
∂u ∂u
(d) Λ[u] = +x + 1.
∂x ∂y
√ ∂ 3u
 
∂u x
(e) Λ[u] = 1+ x2 (cos y) + − arctan u.
∂x ∂y∂x∂y y

Exercı́cio 1.7
Determine a ordem das equações a seguir. Classifique-as em lineares ou não lineares e
especifique se cada equação linear é ou não homogênea.
∂ 3u 2
2∂ u
(a) x2 2
+ y 2
− log(1 + y 2 )u = 0;
∂y∂x ∂y
∂u
(b) + u3 = 1;
∂x
∂ 4u x ∂u
(c) u + e = y;
∂y 2 ∂x2 ∂x
∂ 2u ∂ 2u
(d) u + − u = 0;
∂x2 ∂y 2
10 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

∂ 2 u ∂u
(e) + = 3u;
∂x2 ∂t

Exercı́cio 1.8
∂ 2u ∂ 2u
(a) Verifique que u1 (x, y) = x2 é solução de + 2 = 2 e que u2 (x, y) = 2x3 − y 3 é
∂x2 ∂y
∂ 2u ∂ 2u
solução de + = 12x − 6y.
∂x2 ∂y 2
∂ 2u ∂ 2u
(b) Utilize a informação do item anterior para obter uma solução da equação + =
∂x2 ∂y 2
2x − y + 3.

Exercı́cio 1.9
Considere a equação  
∂u ∂u ∂u ∂u
−u + + u2 = 0.
∂x ∂y ∂x ∂y
(a) Esta EDP é não linear. Explique por quê.

(b) Verifique que as funções u1 (x, y) = ex e u2 (x, y) = ey são soluções desta equação.

(c) Verifique que para constantes arbitrárias c1 e c2 , as funções c1 u1 e c2 u2 também são


soluções da equação.

(d) Comprove 
que u = u1 + u2 não
 é solução
  da equação.
 Sugestão: Verifique que
∂u ∂u ∂u ∂u ∂u ∂u
−u + + u2 = −u −u
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y
(e) Prove que u = c1 u1 + c2 u2 será solução somente se c1 = 0 ou c2 = 0.

Exercı́cio 1.10
Neste exercı́cio veremos como deduzir a solução geral da equação
∂u ∂u
+c + ku = 0.
∂t ∂x
Esta equação modela a evolução da concentração de um poluente que está sendo trans-
portado por um fluxo de velocidade c e que é retirado com taxa k.
(a) Chamemos de u = u(x, t) à solução da equação. Defina uma função v da forma
v(x, t) = ekt u(x, t). Portanto, u(x, t) = e−kt v(x, t). Utilizando a regra do produto,
expresse as derivadas de u em relação a x e a t em termos das derivadas parciais de
v. Substitua isto tudo na equação satisfeita por u. Você deve obter uma equação de
transporte satisfeita por v. Escreva a solução geral desta equação.

(b) Utilize a relação u(x, t) = e−kt v(x, t) para escrever a solução geral da equação satisfeita
por u.

(c) Obtenha agora a solução satisfazendo u(x, 0) = g(x), sendo f ∈ C 1 . Você consegue
dar uma interpretação à solução?
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 11

1.1.4 Laboratório I
Maxima ([4]) é um sistema algébrico de computação semelhante a sistemas como Mathe-
matica, Maple e outros. No entanto, ele é uma aplicação de linha de comandos, o que
o torna mais difı́cil de usar do que os seus referidos ”concorrentes”. É aqui que entra o
wxMaxima: uma interface gráfica para o Maxima, criado para que a utilização do Maxima
seja mais simples e agradável.
Nesta disciplina utilizaremos o wxMaxima como suporte na compreensão do conteúdo.
Maxima também pode ser usado em aparelhos com o sistema operacional Android (Ma-
xima para Android).
Neste laboratório você deverá:
• rodar o tutorial introdutório 10 minute maxima portuguese.wxm;
• rodar o tutorial sobre soluções de EDPs lab1 sols:edps.wxm;
• rodar o tutorial sobre a eq. do transporte lab1 eq:transporte.wxm;
• rodar o tutorial acima usando outra função como condição inicial da equação do
transporte.

1.2 Sobre as soluções de algumas EDPs


Em alguns casos é possı́vel obter todas ou algumas das soluções de equações diferenciais
parciais utilizando diferentes tipos de técnicas.

1.2.1 Resolução por técnicas “elementares“


Exemplo 1.2.1. Determine todas as soluções da equação
∂u
= 2xy, u = u(x, y). (1.13)
∂x
Solução:
Para resolver esta equação podemos usar que nela aparece apenas a derivada de u em
relação a x, embora a função incógnita depende também da variável y. Na verdade, na
equação estamos usando um abuso de linguagem (justificado pela economia de espaço) pois
à direita temos uma expressão que depende de x e y, portanto, a direita o mais correto
∂u
seria escrevermos (x, y). Fazendo isto, integrando em relação a x considerando y como
∂x
parâmetro, obtemos

∂u
(x, y) = 2xy
Z ∂x Z
∂u
(x, y)dx = 2xydx + f (y)
∂x
Z
u(x, y) = 2y xdx + f (y)
x2
u(x, y) = 2y dx + f (y)
2
u(x, y) = x2 y + f (y).
12 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Portanto, qualquer solução da equação se escreverá da forma

u(x, y) = x2 y + f (y),

onde f é alguma função C 1 desconhecida. Como para qualquer função f , C 1 , esta


expressão satisfaz a equação, podemos concluir que todas as soluções se representam dessa
forma.
Neste exemplo, conseguimos achar uma única expressão para todas as soluções da EDP.

Definição 1.4

Uma expressão que represente todas as soluções de uma EDP é chamada de solução
geral desta EDP.

No exemplo anterior concluı́mos que a solução geral da equação (1.13) é u(x, y) = x2 y +


f (y), com f C 1 arbitrária. Obteremos diferentes soluções particulares ao escolhermos
diferentes funções f . Por exemplo, se f (y) = 1, a solução será u(x, y) = x2 y + 1, se
2 2
f (y) = 3ey , a solução será u(x, y) = x2 y + 3ey . A função u(x, y) = x2 y + y 3 − 5y também
é solução da equação (1.13). Ela corresponde à escolha f (y) = y 3 − 5y.
A função f pode ficar determinada por condições adicionais que pedimos para a solução
u.

Exemplo 1.2.2. Determine a solução da equação (1.13) satisfazendo

u(0, y) = 5y 9

Solução: Como u(0, y) = 02 y + f (y) = f (y), obtemos que f (y) = 5y 9 e portanto


u(x, y) = x2 y + 5y 9 .

Exemplo 1.2.3. Obtenha a solução geral da EDP

∂ 2u
= x2 y, u = u(x, y). (1.14)
∂y∂x

∂ 2u
 
∂ ∂u
Solução: Como = , podemos integrar primeiro em relação a y, obtendo
∂y∂x ∂y ∂x

∂ 2u
Z Z
(x, y)dy = x2 ydy + F (x)
∂y∂x
Z
∂u 2
(x, y) = x ydy + F (x)
∂x
∂u x2 y 2
(x, y) = + F (x).
∂x 2

Integrando agora em relação a x chegamos a

x3 y 2
Z
u(x, y) = + F (x)dx + g(y).
6
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 13
R
onde F e g são funções arbitrárias. Chamando f (x) = F (x)dx, podemos representar a
solução geral como
x3 y 2
u(x, y) = + f (x) + g(y),
6
onde f e g são funções C 2 .
É bom ressaltarmos aqui que encontrarmos EDPs que possuam solução geral é muito
raro. No entanto, quando a solução geral existe, ela vai depender de funções arbitrárias e
não de constantes arbitrárias como ocorria no caso das EDOs. Além disto, a quantidade
de funções arbitrárias será igual à ordem da equação. Assim, a solução geral da equação
(1.13) depende de uma função arbitrária, porque ela é de primeira ordem, enquanto a
solução geral de (1.14) depende de duas funções arbitrárias pois ela é de seguna ordem.
Exemplo 1.2.4. Resolva a equação
∂u
= u2 , u = u(x, y). (1.15)
∂x
Solução: Nesta equação também aparece apenas a derivada de u em relação a x. Po-
derı́amos pensar que o procedimento que usamos no exemplo 1.2.1 resolverá o nosso
problema. Vejamos o que acontece se tentarmos integrar em relação a x.

Z Z
∂u
(x, y)dx = u2 (x, y)dx + f (y)
∂x
Z
u(x, y) = u2 (x, y)dx + f (y).

Chegamos então numa igualdade satisfeita pela solução u, mas ela não nos permite obter
uma expressão para esta função, pois aparece uma integral que depende desta função, que
é desconhecida.
No entanto, há outra coisa que podemos fazer. Considerando y fixado, a equação se
converte numa EDO na variável x. Podemos resolvé-la usando o método para equações
separáveis, mas devemos lembrar que todas as constantes que apareçam na resolução na
verdade são funções de y, que está sendo fixado.
Z Z
du du du
2
= u ⇒ 2 = dx ⇒ = dx + f (y) ⇒ −u−1 = x + f (y).
dx u u2
−1
Obtemos então a solução u(x, y) = onde f é uma função C 1 arbitrária.
x + f (y)
Poderı́amos nos questionar se desta forma temos obtido todas as soluções da equação
(1.15). Nesse caso terı́amos obtido a solução geral. No entanto, há pelo menos uma
solução desta equação que não pode ser representada através da expressão obtida, a solução
u ≡ 0. Isto aconteceu porque durante o processo de resolução eliminamos soluções que
poderiam se anular quando dividimos por u. Neste exemplo não existe solução geral.
Exemplo 1.2.5. Obtenha a solução geral da equação
∂ 2u
+ 4u = 0, u = u(x, t). (1.16)
∂x2
Solução:
14 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

De novo, na equação aparece a derivada segunda apenas em relação a x, mas integrar


não nos levará à solução por causa do termo 4u, que fará aparecer a integral de u, que é
uma função desconhecida.
Considerando t fixado, esta equação é uma EDO de segunda ordem com coeficientes
d2 u
constantes: + 4u = 0. Sua equação caracterı́stica é r2 + 4 = 0, que tem raı́zes
dx2
r1,2 = ±2i e portanto sua solução geral é uma constante vezes cos(2x) somada a uma
outra constante vezes sen(2x). Como estamos resolvendo uma EDO diferente para cada t
fixado,
u(x, t) = c1 (t) cos(2x) + c2 (t) sen(2x).

1.2.2 EDPs lineares de primeira ordem com coeficientes cons-


tantes
Vamos tratar aqui alguns casos particulares da equação
∂u ∂u
a +b + cu = f (x, y), u = u(x, y) (1.17)
∂x ∂y
onde a, b e c são constantes e a e b não podem ser simultaneamente nulas, ou seja
a2 + b2 > 0.
Começaremos tratando o caso mas simples que seria quando a = 0 ou b = 0. Para fixar
∂u c 1
ideias, suponhamos que b = 0, ou seja a + cu = f (x, y). Se chamamos k = e g = f ,
∂x a a
obtemos a equação
∂u
+ ku = g(x, y).
∂x
Nesta equação aparece somente uma derivada em relação a x, portanto ela pode ser
resolvida usando técnicas de resolução de EDOs, neste caso EDOs lineares de primeira
ordem, considerando y como parâmetro. R
Começamos multiplicando a equação toda pelo fator integrante e kdx = ekx .
∂u
ekx + kekx u = ekx g(x, y)
∂x

ekx u = ekx g(x, y)

∂x Z
ekx u = ekx g(x, y)dx + h(y)
Z
−kx
⇒ u(x, y) = e ekx g(x, y)dx + e−kx h(y).

Portanto, equações deste tipo são relativamente fáceis de serem resolvidas. No Estudo
dirigido I veremos que podemos aproveitar isto para resolver a equação mais geral (1.17),
mas antes vamos resolver um caso particular que é extremamente importante.
Tentemos resolver agora uma equação da forma
∂u ∂u
a +b = 0, u = u(x, y) (1.18)
∂x ∂y
onde a e b são diferentes de zero. Esta equação também é da forma (1.17) só que estamos
supondo que c = 0 e que f ≡ 0.
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 15

Embora a equação pareça bastante simples, ela não se enquadra em nenhum dos casos
que resolvemos até agora. Aparecem derivadas parciais em relação às variáveis x e y e
portanto não podemos pensar nem em integrar diretamente nem em usar diretamente
técnicas de resolução de EDOs.
A chave de tudo está em interpretar a estrutura da equação. O termo esquerdo é a
derivada direcional da função u na direção do vetor ~v = (a, b), ou seja, ao longo de retas
da forma bx − ay = constante. Isto pode ser verificado da forma seguinte: se quisermos
avaliar a variação instantânea da função u em relação ao seu valor no ponto (x, y) e na
direção do vetor (a, b), precisarı́amos calcular

u(x + ah, y + bh) − u(x, y)


lim .
h→0 h

Mas o limite acima coincide com g 0 (0), se definirmos g(h) = u(x + ah, y + bh) (x, y, a e b
estão fixados). Usando a regra da cadeia verificamos que

∂u ∂u
g 0 (h) = a (x + ah, y + bh) + b (x + ah, y + bh)
∂x ∂y

e isto justifica nossa afirmação.


Então, a equação (1.18) nos diz basicamente: ”minhas soluções são a funções que são
constantes sobre as retas paralelas ao vetor ~v = (a, b), ou seja, as retas bx − ay = const.“
Dada uma solução u qualquer vamos construir uma expressão para ela partindo desta
ideia. Se k é uma constante, chamaremos de f (k) ao valor que u toma sobre a reta
bx − ay = k. Fazemos isto para cada constante k e com isto fica definida uma função
f : R → R. Para saber quanto vale u no ponto (x, y), calculamos k = bx − ay e então
u(x, y) = f (k) = f (bx − ay). Portanto a solução geral de (1.18) são as funções da forma
u(x, y) = f (bx − ay), com f uma função C 1 arbitrária.

∂u ∂u
Exemplo 1.2.6. Determine a solução da equação 4 −3 = 0 satisfazendo a condição
∂x ∂y
adicional u(0, y) = y 3 .
Solução:
A equação é um caso particular de (1.18) onde a = 4 e b = −3. Pelo raciocı́nio explicado
acima, sabemos que a solução deve ser da forma u(x, y) = f (−3x − 4y), onde f é uma
função C 1 arbitrária.
Com isto, obtemos uma fórmula para todas as soluções, que depende de uma função
arbitrária. Esta é a solução geral. Para obtermos aquela solução particular que satisfaz
a condição dada, precisamos obter a função f que cumpre esta condição. Substituindo
na expressão obtida, temos u(0, y) = f (−4y) = y 3 . Se fizermos w = −4y obtemos
3
 w 3 w3 (3x + 4y)3
f (w) = f (−4y) = y = − = − . Portanto u(x, y) = .
4 64 64
Caso reste ainda um pouco de ceticismo, podemos verificar que realmente a função u
∂u (3x + 4y)2
obtida satisfaz a equação. Usando a regra da cadeia obtemos que =9 e que
∂x 64
∂u (3x + 4y)2 ∂u ∂u (3 · 0 + 4y)3
= 12 , portanto 4 −3 = 0. Além disto, u(0, y) = .
∂y 64 ∂x ∂y 64
Se definirmos g(x) = f (−x), podemos representar a solução como u(x, y) = g(3x + 4y),
onde g é uma função C 1 arbitrária. Isto não é necessário, é apenas uma maneira de
eliminar os sinais negativos dentro da expressão da solução geral.
16 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

1.2.3 Soluções com estrutura predefinida


Achar a solução geral de uma EDP é possı́vel apenas em casos bem especiais. Muitas
vezes podemos achar pelo menos algumas soluções explı́citas, assumindo que a solução
tem uma certa estrutura que simplifica o processo de resolução. A seguir apresentamos
dois casos nos que conseguimos achar algumas soluções explı́citas das equações através da
resolução de certas EDOs.
Chamaremos de soluções produto às soluções de uma EDP na forma de produto de
funções de cada uma das variáveis independentes. Por exemplo, se a função incógnita da
equação for u(x, y, z), uma solução produto seria o produto de três funções, uma de x,
uma de y e uma de z.
Exemplo 1.2.7. A equação

∂u ∂ 2 u
− 2 = −u, u = u(x, t). (1.19)
∂t ∂x
modela a propagação de calor no interior da barra considerando que há dissipação de calor
através de sua superfı́cie lateral. Determine todas suas soluções produto.
Solução: Procuraremos soluções da forma u(x, t) = X(x)T (t). Antes de substituirmos
na equação, devemos calcular as derivadas parciais:
∂u ∂
(x, t) = (X(x)T (t)) = X(x)T 0 (t)
∂t ∂t
∂ 2u ∂2
(x, t) = (X(x)T (t)) = X 00 (x)T (t).
∂x2 ∂x2
Substituindo agora na equação, obtemos que

X(x)T 0 (t) − X 00 (x)T (t) = −X(x)T (t).

Dividindo por X(x)T (t),

T 0 (t) X 00 (x) T 0 (t) X 00 (x)


− = −1 ⇒ +1= .
T (t) X(x) T (t) X(x)
Nesta última igualdade, temos no membro esquerdo uma função da variável indepen-
dente t e no membro direito, uma função da variável independente x. Portanto, ela
somente pode ser válida se ambos os lados da igualdade são iguais a uma constante que
chamaremos de λ. Então

T 0 (t) X 00 (x) T 0 (t) X 00 (x)


+1= =λ⇒ +1=λ e =λ
T (t) X(x) T (t) X(x)
⇒ T 0 + (1 − λ)T = 0 e X 00 − λX = 0
Até este ponto, transformamos o problema de achar a solução de uma EDP na resolução
de duas EDOs de coeficientes constantes, para as que existem métodos gerais de resolução.
Perdemos no entanto em generalidade, pois estamos achando somente um tipo de solução
da EDP. Resta então resolver as equações obtidas.

T 0 + (1 − λ)T = 0 ⇒ T (t) = Ce(λ−1)t ,


onde C é uma constante arbitrária.
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 17

Para resolvermos a segunda equação, começamos √ observando que as raı́zespde sua equação
2
caracterı́stica r + λ = 0 são da forma r1,2 = ± λ se λ > 0, são r1,2 = ± |λ|i se λ < 0
e são r1 = r2 = 0 se λ = 0. Como a estrutura da solução depende do sinal de λ,
assumiremos que estamos no caso λ < 0. Uma convenção bastante usada, para reduzir
o tamanho das expressões que aparecem, é escrever neste caso a constante λ como o
oposto do quadrado de um número positivo. Por exemplo, podemos assumir que λ = −α2 ,
com α > 0. Assim, a equação para X se transforma em X 00 + α2 X = 0 e sua equação
caracterı́stica será r2 + α2 = 0. As raı́zes são r1,2 = ±αi e portanto a solução geral tem
a forma X(x) = c1 cos(αx) + c2 sen(αx), com c1 e c2 constantes arbitrárias.
Finalmente obtemos que
2 +1)t
u(x, t) = e−(α [d1 cos(αx) + d2 sen(αx)],
onde α > 0, d1 = Cc1 e d2 = Cc2 são constantes arbitrárias.
É bom lembrar que a solução obtida não é a solução geral pois existem soluções
desta equação que não podem ser escritas como acima (veja o exercı́cio 9 desta seção).

A estrutura de algumas EDPs sugere a existência de soluções com algum tipo de sime-
tria. Em particular, a equação de Laplace tem a propriedade de permanecer inalterada
após fazermos uma rotação no espaço ou no plano (veja a seção 6.1.1). Isto sugere a
existência de soluções com simetria radial.

Exemplo 1.2.8. Obtenha soluções da equação de Laplace

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
+ + = 0, u = u(x, y, z)
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
p
da forma u(x, y, z) = f ( x2p + y 2 + z 2 ).
Solução: Chamando r = x2 + y 2 + z 2 , temos que u(x, y, z) = f (r). Vamos exprimir
a equação de Laplace em termos da função f . Aplicando a regra da cadeia obtemos

∂u ∂r
= f 0 (r)
∂x ∂x
2
 2
∂ u 00 ∂r 0 ∂ 2r
= f (r) + f (r) .
∂x2 ∂x ∂x2

∂r ∂ 2 r
Agora vamos calcular e .
∂x ∂x2
∂r x x
=p = = xr−1
∂x 2
x +y +z2 2 r
2
∂ r −1 ∂r
2
= r + x (−r−2 ) = r−1 − x2 r−3 .
∂x ∂x

∂ 2u
Substituindo na expressão obtida para , obtemos
∂x2

∂ 2u
2
= f 00 (r)x2 r−2 + f 0 (r)(r−1 − x2 r−3 ).
∂x
18 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Como as outras variáveis independentes y e z, não aparecem em nenhuma das expressões


∂ 2u ∂ 2u
acima, se formos calcular e obteremos exatamente as mesmas expressões, subs-
∂y 2 ∂z 2
tituindo x no lugar de y ou z, respectivamente, ou seja,

∂ 2u
= f 00 (r)y 2 r−2 + f 0 (r)(r−1 − y 2 r−3 )
∂y 2
∂ 2u
= f 00 (r)z 2 r−2 + f 0 (r)(r−1 − z 2 r−3 )
∂z 2
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
Somando tudo obtemos + 2 + 2 = f 00 (r) + 2f 0 (r)r−1 e a equação de Laplace
∂x2 ∂y ∂z
se transforma então na EDO:

f 00 (r) + 2f 0 (r)r−1 = 0.

Para acharmos a solução desta equação ordinária, fazemos f 0 = g e obtemos que g deve
satisfazer g 0 (r)+2g(r)r−1 = 0. Resolvendo esta equação separável, temos que g(r) = Kr−2
e portanto, f (r) = C − Kr−1 . Esta expressão corresponde à solução
K
u(x, y, z) = C − p ,
x2 + y 2 + z 2
onde C e K são constantes arbitrárias.
Esta solução também não é a solução geral. Encontramos apenas aquelas soluções
com simetria radial.

1.2.4 Problemas de contorno


Vimos até aqui que a solução geral de uma EDP contém infinitas soluções. Numa
situação fı́sica concreta no entanto, precisamos determinarmos uma solução particular.
Para isto precisaremos complementar a EDP com condições adicionais. Estas condições
são motivadas pelo fenômeno fı́sico que é representado. Por exemplo, no caso da equação
do transporte, precisamos especificar a concentração inicial do poluente para podermos
determinar a concentração em cada ponto.
Em outros caso mais complexos, precisaremos acrescentar condições sobre a fronteira
do domı́nio que estamos analisando. Ou seja, as condições adicionais que precisaremos
podem ser de dois tipos
• condições iniciais;
• condições de fronteira.
Essas condições também podem ser chamadas de condições de contorno.
As condições de fronteira mais importantes são:
• condições de Dirichlet: u é especificada;
∂u
• condições de Neumann: é é especificada;
∂x
∂u
• condições de Robin: + hu é é especificada.
∂x
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 19

Exemplo 1.2.9. Consideremos a equação do calor com dissipação dependente da tempera-


∂u ∂ 2 u
tura: − 2 = −u . Se assumirmos que as extremidades são mantidas a temperatura
∂t ∂x
zero, devemos ter também u(0, t) = 0 e u(L, t) = 0 se t ≥ 0. Estas são condições de
fronteira de Dirichlet homogêneas.
No exemplo 1.2.7 determinamos algumas soluções produto desta equação. Suponhamos
que uma destas soluções produto u(x, t) = X(x)T (t) satisfaz também as condições de
fronteira. Então deve valer u(0, t) = X(0)T (t) = 0, para todo t ≥ 0. Se T não é a função
constante zero, certamente existirá algum valor de t para o qual T (t) 6= 0 e portanto
X(0) = 0. Analogamente obtemos que X(L) = 0. Portanto, a função X deve satisfazer

X 00 − λX = 0,
X(0) = 0, X(L) = 0.

Este é um problema com condições de fronteira para a EDO X 00 − λX = 0.


Sendo que grande parte das EDPs tem sua origem na modelagem de algum problema
da fı́sica ou da engenharia, é natural esperar que nos problemas onde elas aparecem:
• exista solução para a EDP com as condições dadas (existência);

• não existam duas soluções diferentes (unicidade);

• pequenas variações nas condições adicionais correspondam a pequenas variações na


solução do problema correspondente (estabilidade).
Quando temos todas as condições acima dizemos que temos um problema bem colo-
cado.
Neste curso estamos mais interessados em certos métodos de resolução das equações,
mas também faremos algumas incursões na análise qualitativa dos problemas de contorno
para as EDPs.

1.2.5 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1
Determine a solução geral de cada uma das equações a seguir
∂u ∂ 3u
(a) = 3x2 + y 2 , u = u(x, y), (d) = e2x+3t , u = u(x, t).
∂x ∂t2 ∂x
∂ 2u
(b) = 0, u = u(x, y), ∂u ∂ 2u
∂y∂x (e) 3 + = 0. (Dica: Faça v(x, y) =
∂y ∂x∂y
∂ 3u ∂u
(c) = 1, u = u(x, y, z), (x, y).)
∂z∂y∂x ∂y

Exercı́cio 2.2
∂u ∂u
Resolva a equação 2 +3 = 0 com a condição inicial u(x, 0) = sen x.
∂t ∂x
Exercı́cio 2.3
Determine a solução geral das EDPs a seguir com função incógnita u = u(x, y).
20 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

∂u ∂ 2u ∂u
(a) − 2u = 0, (d) y +2 = x,
∂x ∂y∂x ∂x
∂u
(b) y + u = x,
∂y
∂u ∂ 2u
(c) + 2xu = 4xy, (e) − x2 u = 0,
∂x ∂y 2

Exercı́cio 2.4
Para as equações do exercı́cio anterior, determine a solução particular satisfazendo a
condição adicional que corresponde

(a) u(0, y) = y, (d) u(x, 1) = 0 e u(0, y) = 0,


(b) u(x, 1) = sen(x),
∂u
(c) u(x, x) = 0, (e) u(x, 0) = 1 e (x, 0) = 0,
∂y

Exercı́cio 2.5
Para as equações diferenciais parciais a seguir, obtenha equações diferenciais ordinárias
que devem ser satisfeitas para obtermos soluções produto
∂u ∂ 2u ∂u ∂u ∂ 4u
(a) = 2
−3 . (c) = k 4.
∂t ∂x ∂x ∂t ∂x
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u 2
2∂ u
(b) + = 0. (d) = c , c > 0.
∂x2 ∂y 2 ∂t2 ∂x2

Exercı́cio 2.6
Determine todas as soluções produto das EDPs a seguir.
∂u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
(a) = 2 2, u = u(x, t), (c) = 16 2 , u = u(x, t).
∂t ∂x ∂t2 ∂x
∂u ∂u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
(b) =4 , u = u(x, y), (d) = + , u = u(x, y, t).
∂x ∂y ∂t2 ∂x2 ∂y 2

Exercı́cio 2.7
Determine as soluções produto da EDP no exemplo 1.2.7 nos casos em que a constante
da separação é nula (λ = 0) ou positiva (λ = α2 , α > 0).

Exercı́cio 2.8
∂u ∂u
Explique por que não podemos encontrar a solução da equação +2 = 0 satisfazendo
∂x ∂y
a condição u(x, 0) = x usando as soluções produto.

Exercı́cio 2.9
1 x2
(a) Verifique que a função v(x, t) = √ e− 4t satisfaz a equação do calor com difusividade
t
1,
∂v ∂ 2v
= .
∂t ∂x
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 21

(b) Utilize o item anterior para concluir que u(x, t) = v(x, t)e−t satisfaz a equação do calor
com dissipação do exemplo 1.2.7. Perceba que u não é uma solução produto.

Exercı́cio 2.10
Suponha que a superfı́cie mı́nima, que é o gráfico de uma solução da equação
p (1.4), é uma
superfı́cie de revolução em torno ao eixo dos z, ou seja, Z = Z(x, y) = h( x2 + y 2 ), para
alguma função h : R → R C 2 . Prove que h = h(r) deve satisfazer a EDO

rh00 (r) + h0 (r)[1 + (h0 (r))2 ] = 0.

Determine a solução geral desta EDO.

Exercı́cio 2.11
Obtenha o problema com condições de fronteira que deve satisfazer a função X = X(x)
∂u ∂ 2u
para que uma solução produto u(x, t) = X(x)T (t) da equação = 4 2 satisfaça
∂t ∂x
também as condições dadas.

(a) u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t > 0;


∂u
(b) u(0, t) = 0, (L, t) = 0, t > 0;
∂x
∂u ∂u
(c) (0, t) = 0, (L, t) = 0, t > 0;
∂x ∂x
∂u ∂u
(d) (0, t) = u(0, t), (L, t) = 0, t > 0.
∂x ∂x
Por que você acha que todas as condições de fronteira colocadas são homogêneas?

Exercı́cio 2.12
Em cada um dos casos abaixo, determine todas as funções da forma u(x, t) = v(x) (Estas
são chamadas de soluções estacionárias, pelo fato de serem independentes do tempo.
Muitas vezes elas têm um significado fı́sico relevante.) que satisfazem a equação dada.
∂v ∂v
Para isto você deverá obter uma EDO para v, utilizando que =0e = v 0 e achar a
∂t ∂x
solução geral desta equação diferencial ordinária.

∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂ 2 u
(a) = 9 (c) − 2 = −u
∂t2 ∂x2 ∂t ∂x
∂u ∂ 2u ∂u ∂ 2 u ∂u
(b) =5 2 (d) − 2 =−
∂t ∂x ∂t ∂x ∂x

Exercı́cio 2.13
Agora determine quais das soluções estacionárias que você achou no exercı́cio anterior,
satisfazem também as condições de fronteira u(0, t) = A e u(L, t) = B, t ≥ 0 onde A, B
e L > 0 são constantes.
22 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Exercı́cio 2.14
∂u
Faça o mesmo agora com as condições de fronteira u(0, t) = A e (L, t) = 0, t ≥ 0 onde
∂x
A, e L > 0 são constantes.

Exercı́cio 2.15
Considere o seguinte problema de contorno para a equação de Laplace bidimensional
∂ 2u ∂ 2u
ED + , −∞ < x < ∞, −∞ < y < ∞;
∂x2 ∂y 2
CI u(x, 0) = 0, −∞ < x < ∞.

(a) Verifique que tanto u1 (x, y) = 0 quanto u2 (x, y) = y satisfazem o problema acima.

(b) Que podemos concluir sobre a unicidade das soluções deste problema?

1.2.6 Estudo dirigido I: Solução de EDPs de primeira ordem e


coeficientes constantes: o caso geral
Neste estudo dirigido você aprenderá a resolver EDPs lineares de primeira ordem e
coeficientes constantes da forma
∂u ∂u
a +b + cu = f (x, y), u = u(x, y). (1.20)
∂x ∂y
Estas equações possuem uma estrutura que vai nos permitir calcular suas soluções sem
precisarmos fazer suposições sobre os coeficientes.
Suas tarefas são:
• Compreender o processo de resolução destas equações.

• Resolver e entregar os exercı́cios que aparecem no final. Do exercı́cio 16 vocês precisa


entregar apenas um item resolvido.
Vejamos um exemplo onde o coeficiente c não é nulo e a função f também não é.
Exemplo 1.2.10. Determine as soluções da equação
∂u ∂u
+2 − 4u = 1, u = u(x, y).
∂x ∂y
Solução:
A função incógnita é u = u(x, y), mas vamos introduzir novas variáveis independentes
que nos ajudarão a resolver a equação. Depois explicaremos como foi obtida essa mudança
de variáveis. Definamos s e t a partir de x e y como

x = 21 (s + t)
 
s = 2x − y

t=y y=t

Avaliando u em x e y exprimidas como funções de s e t, obtemos uma nova função que


chamaremos de v, ou seja  
1
v(s, t) = u (s + t), t .
2
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 23

Avaliando agora v em s e t exprimidas como funções de x e y, obtemos

u(x, y) = v(2x − y, y).


∂u ∂u ∂v ∂v
Vamos agora exprimir e em termos das derivadas parciais de v, e . Para
∂x ∂y ∂s ∂t
isto usaremos a regra da cadeia.
∂u ∂v ∂s ∂v ∂t ∂v
= + =2
∂x ∂s ∂x ∂t ∂x ∂s
∂u ∂v ∂s ∂v ∂t ∂v ∂v
= + =− + .
∂y ∂s ∂y ∂t ∂y ∂s ∂t
∂u ∂u ∂v ∂v ∂v ∂v
Temos então que +2 − 4u = 2 + 2(− + ) − 4v = 2 − 4v e a equação
∂x ∂y ∂s ∂s ∂t ∂t
original se transforma em
∂v 1
− 2v = .
∂t 2
Como esta equação tem somente uma das derivadas parciais de v, podemos resolvê-la
usando o método do fator integrante, considerando s como parâmetro. O fator integrante
será e−2t e teremos
∂v 1
− 2v =
∂t 2
∂v 1
e−2t − 2e−2t v = e−2t
∂t 2
∂ −2t 1 −2t
(e v) = e
∂t Z2
−2t 1 −2t
e v= e dt + g(s)
2
1
e−2t v = − e−2t + g(s).
4
1
Portanto, v(s, t) = − + e2t g(s). Voltando nas variáveis originais, obtemos que
4
u(x, y) = v(2x − y, y)
1
= − + e2y g(2x − y),
4
onde g é uma função arbitrária C 1 .
A estratégia utilizada neste exemplo funcionará sempre no caso da equação geral (1.17).
A mudança de variáveis que deve ser feita é

s = bx − ay
t=y

O restante do procedimento é similar ao do exemplo. Mas qual é a explicação disto?


∂u ∂u
Podemos raciocinar geometricamente lembrando que a +b é a derivada direcional
∂x ∂y
da função u na direção das retas bx−ay = constante. Ao fazermos a mudança de variáveis
proposta, passamos a um sistema de coordenadas no qual o eixo s é o antigo eixo dos x
24 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

(a) Retas paralelas ao vetor (a, b) (b) Novos eixos coordenados

Figura 1.2: Interpretação da mudança de coordenadas

e o eixo t está sobre a reta bx − ay = 0. A derivada direcional de u na direção do vetor


(a, b) transforma-se em um múltiplo da derivada da nova função v em relação a t.
Por isso, ao fazermos as contas em um caso particular, é importante lembrar que a
∂v
equação que obteremos para a função v, nunca pode conter a derivada parcial .
∂s
Caso isto não aconteça, é preciso conferir as contas.
Caso os argumentos geométricos não tenham resultado convincentes, podemos fazer as
contas mais uma vez, agora no caso geral.

Exemplo 1.2.11. Determine as soluções da equação


∂u ∂u
a +b + cu = f (x, y), u = u(x, y).
∂x ∂y
Solução:
Como sugerido, vamos introduzir as novas variáveis independentes

s = bx − ay
t=y
portanto,
x = 1b (s + at)


y=t
Avaliando u em x e y exprimidas como funções de s e t, obtemos a nova função v, ou
seja  
1
v(s, t) = u (s + at), t
b
e avaliando agora v em s e t exprimidas como funções de x e y, obtemos

u(x, y) = v(bx − ay, y).

Usando agora a regra da cadeia


∂u ∂v ∂s ∂v ∂t ∂v
= + =b
∂x ∂s ∂x ∂t ∂x ∂s
∂u ∂v ∂s ∂v ∂t ∂v ∂v
= + = −a + .
∂y ∂s ∂y ∂t ∂y ∂s ∂t
1.2. SOBRE AS SOLUÇÕES DE ALGUMAS EDPS 25

Substituindo na equação obtemos


∂u ∂u ∂v ∂v ∂v
a +b + cu = ab − ab +b + cv
∂x ∂y ∂s ∂s ∂t
 
1
=f (s + at), t .
b

Desta forma, a equação original se transforma em


∂v
b + cv = g(s, t),
∂t
onde g(s, t) = f 1b (s + at), t . Esta é uma equação que pode ser resolvida usando técnicas


de resolução de EDOs lineares. Depois restaria apenas voltarmos às variáveis originais x
e y.

Observação. Poderı́amos definir também s = ay − bx. Isto apenas mudaria o sentido


do eixo t. Além disto, a expressão para a outra nova variável (t no nosso exemplo) não é
importante. Precisamos apenas garantir que s e t definem eixos coordenados.

Concluindo: para resolvermos EDPs lineares de primeira ordem com coeficientes


constantes com duas variáveis independentes, é possı́vel utilizar uma mudança de
coordenadas que permite simplificar a estrutura da equação dada de forma que
podemos resolvê-la usando métodos de resolução de EDOs lineares de primeira ordem.

F Exercı́cio 2.16
Ache a solução geral de cada uma das EDPs a seguir, onde u = u(x, y).
∂u ∂u ∂u ∂u
(a) 2 −3 = x, (c) − + 2u = 1,
∂x ∂y ∂x ∂y
∂u ∂u ∂u ∂u
(b) + − u = 0, (d) 3 −4 = x + ex .
∂x ∂y ∂x ∂y

F Exercı́cio 2.17
Resolva a equação do exemplo 1.2.10 utilizando a mudança de variáveis

s = 2x − y
t=x

F Exercı́cio 2.18
Em cada um dos casos abaixo, obtenha a única solução da equação
∂u ∂u
+2 − 4u = ex+y
∂x ∂y
determinada pela condição adicional.
26 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

(a) u(x, 0) = sen(x2 ), (b) u(0, y) = y 2 , (c) u(x, −x) = x,

F Exercı́cio 2.19
∂u ∂u
No exemplo 1.2.10 foi obtida a solução geral da equação +2 − 4u = 1.
∂x ∂y
3
(a) Determine a solução desta equação satisfazendo u(x, 0) = 4x2 + .
4
(b) Verifique que não existem soluções satisfazendo u(x, 2x) = 1.

(c) Ache duas soluções diferentes satisfazendo u(x, 2x) = e4x − 14 . Quantas outras soluções
existirão?

Atenção! Este exercı́cio ilustra que a condição adicional que deve ser imposta a uma
EDP para podermos determinar uma única solução deve ser escolhida com certo cuidado,
inclusive no caso mais simples de EDPs lineares de primeira ordem com coeficientes
constantes.

F Exercı́cio 2.20
Sejam a, b e c constantes com ab 6= 0. Considere a EDP de primeira ordem homogênea
∂u ∂u
a +b +cu = 0. O estudante Dario conclui que a solução geral é u(x, y) = e−cx/a f (bx−
∂x ∂y
ay) onde f é uma função C 1 arbitrária, enquanto Lucia diz que a solução geral é u(x, y) =
e−cy/b f (bx − ay).
Qual dos dois está certo?
Capı́tulo 2

A equação da onda unidimensional

2.1 Um modelo: vibrações pequenas de uma corda


2.1.1 Oscilações transversais de uma corda elástica
Um modelo clássico para as oscilações de uma corda pode ser obtido como descrevemos a
seguir. Consideremos uma corda bem esticada feita de um material flexı́vel e homogêneo
com comprimento L cujo movimento não é afetado substancialmente pela gravidade. No
repouso, a corda está estendida no eixo x entre x = 0 e x = L. Assumiremos que a corda
vibra no plano de forma que cada ponto se desloca apenas na direção y no instante t.
Tais vibrações são chamadas de vibrações transversais. Denotaremos por u(x, t) a posição
no instante t do ponto da corda que no repouso estaria no ponto x. Em um instante de
tempo t, a corda poderia ter a aparência mostrada na figura 2.1.

Figura 2.1: Uma configuração possı́vel da corda vibrante no instante t

Outras suposições que são feitas neste modelo são:

• a corda é flexı́vel, ou seja, as tensões que aparecem na corda estão direcionadas


sempre ao longo da tangente em cada instante;
• a densidade linear da corda ([massa]/[comprimento]) será denotada por ρ = ρ(x);

• a tensão T da corda (módulo do vetor tensão T~ ), depende de x e t (T = T (x, t));


• as vibrações são de pequena amplitude;

27
28 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL

• o atrito é desprezı́vel.

Para descrever matematicamente as vibrações desta corda, consideraremos as forças


atuando sobre uma pequena seção (x1 , x2 ).
[figura]
A componente horizontal da resultante da tensão atuando sobre a seção da corda será
T (x2 , t) cos θ(x2 , t) − T (x1 , t) cos θ(x1 , t) = 0 pois não há deslocamento na horizontal.
Portanto obtemos que T (x, t) cos θ(x, t) = T0 (t). Analisando as forças verticais obtemos
que
∂u
Tvert (x, t) = T (x, t) sen(θ(x, t)) = T0 (t) tan(θ(x, t)) = T0 (t) (x, t).
∂x
Portanto, a componente vertical da resultante das forças atuando sobre o intervalo (x1 , x2 )
será
 
∂u ∂u
Tvert (x2 , t) − Tvert (x1 , t) = T0 (t) (x2 , t) − (x1 , t)
∂x ∂x
Z x2 2
∂ u
= T0 (t) 2
(x, t)dx
x1 ∂x

Aplicando a segunda lei de Newton a esta pequena seção da corda, obteremos que
Z x2 Z x2 2
∂ 2u ∂ u
ρ(x) 2 (x, t)dx = T0 (t) 2
(x, t)dx.
x1 ∂t x1 ∂x

Derivando a expressão acima em relação a x2 obtemos

∂ 2u ∂ 2u
ρ(x2 )
(x 2 , t) = T0 (t) (x2 , t).
∂t2 ∂x2
Finalmente, chegamos à equação

∂ 2u T0 (t) ∂ 2 u
= . (2.1)
∂t2 ρ(x) ∂x2
Como a corda é homogênea, sua densidade é constante e obtemos ρ(x) = ρ. A suposição
de vibrações pequenas permite concluir que T0 não depende do tempo, nesse caso a
equação toma a forma

∂ 2u 2
2∂ u
= c , (2.2)
∂t2 ∂x2
s
T0 T0 2
onde c2 = ec= . As unidades de c2 são [c2 ] = [comprimento]
[tempo]2
, o que indica que c
ρ ρ
tem unidades de velocidade. Veremos mais adiante qual é a interpretação da constante c.
Esta é a chamada equação da corda vibrante ou equação da onda unidimen-
sional. Ela descreve as vibrações das cordas em instrumentos como violino, violão e
harpa.
A equação pode ser interpretada da forma seguinte. No termo esquerdo temos a ace-
∂u
leração da corda pois como u representa a posição da corda, representa sua velocidade
∂t
∂ 2u
e é a aceleração. No termo direito, temos uma constante positiva multiplicando a
∂t2
2.1. UM MODELO: VIBRAÇÕES PEQUENAS DE UMA CORDA 29

Figura 2.2: Sentido da aceleração da corda

concavidade da corda. Então a equação nos diz que em cada ponto da corda e em cada
instante de tempo, a aceleração é proporcional à concavidade da corda.
Como no caso da equação do transporte, para determinarmos uma única solução,
necessitaremos acrescentar condições iniciais. A equação da onda 2.2 precisa de duas
condições iniciais
∂u
u(x, t0 ) = f (x), (x, t0 ) = g(x),
∂x
onde f representa a posição inicial e g a velocidade inicial da corda. Desde o ponto de
vista fı́sico fica claro que é necessário especificar essas duas magnitudes para determinar
a posição da corda em qualquer instante. Tipicamente utilizamos o valor t0 = 0.
Além disto, precisaremos também fornecer condições de fronteira. Podemos por exem-
plo, especificar onde estão os extremos da corda em cada instante t, ou seja quanto valem
u(0, t) e u(L, t). Se numa extremidade a corda se move livremente no sentido transversal
∂u
sem nenhuma resistência, então não haverá tensão nessa extremidade e portanto = 0.
∂x
Esta é uma condição de Neumann (homogênea).
[figura]

2.1.2 Formulação de um problema de contorno


Um problema de valor inicial com condições de fronteira para a equação da onda seria
∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0; (2.3)
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = a(t), u(L, t) = b(t), t ≥ 0; (2.4)
∂u
CI u(x, 0) = f (x), (x, 0) = g(x), 0 ≤ x ≤ L. (2.5)
∂t
30 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL

Aqui ED denota a equação diferencial (equação da onda neste caso). CF denota as


condições de fronteira, que neste caso especificam a posição dos extremos da corda e estão
determinadas pelas funções a e b. CI denota as condições iniciais. A posição inicial da
corda está especificada pela função f e sua velocidade inicial, pela função g.
Este problema (ED+CF+CI) também é chamado de problema de valor inicial com
condições de fronteira de Dirichlet para a equação da onda. Se mudássémos a especificação
nos extremos da corda, outros problemas poderiam ser obtidos.
A demonstração rigorosa de que as condições acrescentadas são apropriadas e há de fato
uma única solução do problema (2.3)-(2.5) será apresentada a seguir.

2.1.3 Unicidade das soluções


A energia das oscilações da corda no instante t é dada por

1
Z L h  ∂u 2  2 i
∂u
E(t) = T +ρ (x, t)dx. (2.6)
2 0 ∂x ∂t
2
1 L
Z 
∂u
Nesta expressão, K(t) = ρ (x, t) dx representa a energia cinética da corda
2 0 ∂t
2
1 L
Z 
∂u
e U (t) = T (x, t) dx sua energia potencial, que é o trabalho que foi necessário
2 0 ∂x
para levar a corda da posição de equilı́brio até a posição u(x, t). Isto não será verificado
aqui, mas não é difı́cil comprovar que K(t) e U (t) possuem unidades de medida de energia.
Para estudar o comportamento da energia vamos derivar E(t). Derivando sob o sinal
de integral, substituindo a equação 2.2 e usando a regra do produto obtemos

L
h ∂u ∂ 2 u ∂u ∂ 2 u i
Z
0
E (t) = T +ρ dx
0 ∂x ∂t∂x ∂t ∂t2
Z Lh
∂u ∂ 2 u ∂u ∂ 2 u i
= T +T dx
0 ∂x ∂t∂x ∂t ∂x2
Z L  
∂ ∂u ∂u
=T dx
0 ∂x ∂x ∂t
 
∂u ∂u ∂u ∂u
=T (L, t) (L, t) − (0, t) (0, t) .
∂x ∂t ∂x ∂t

Suponhamos que a corda tem seus extremos fixados, ou seja a(t) ≡ a e b(t) ≡ b. Então
∂u ∂u
(0, t) = (L, t) = 0 para todo t, E 0 (t) = 0 e portanto a energia da corda que tem os
∂t ∂t
extremos fixados é constante.
Esta conclusão nos permite provar a unicidade das soluções.

Teorema 2.1: Unicidade das soluções da equação da onda

Sejam u1 e u2 soluções C 2 do problema (2.3)-(2.5). Então u1 = u2 .

Demonstração. Se chamarmos de v = u1 − u2 , verifica-se que


2.1. UM MODELO: VIBRAÇÕES PEQUENAS DE UMA CORDA 31

∂ 2v 2
2∂ v
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
CF v(0, t) = 0, v(L, t) = 0, t ≥ 0;
∂v
CI v(x, 0) = 0, (x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L.
∂t
Seja Ev (t) a energia da corda modelada por v no instante t. Como v é constante nas
extremidades da corda, podemos aplicar a observação anterior e obtemos que Ev (t) é
∂v
constante. Em particular Ev (t) = Ev (0) = 0. Isto implica que (x, t) = 0 para todo
∂t
x ∈ [0, L] e para todo t > 0. Como
Z t
∂v
v(x, t) = v(x, t) − v(x, 0) = (x, τ )dτ,
0 ∂t

obtemos que v ≡ 0 e portanto, u1 = u2 .

Como sabemos agora que a solução do problema (2.3)-(2.5) é única, basta acharmos uma
maneira de calculá-la. Isto pode ser feito de várias maneiras. No capı́tulo 5 estudaremos
como achar essa solução no caso em que a e b são funções constantes. Na próxima seção
veremos como achar a solução quando assumimos que a corda que oscila é infinita.

2.1.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
Verifique que u(x, t) = cos(6t) sen(3x) satisfaz o problema

∂ 2u ∂ 2u
ED = 4 , 0 ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = 0, u(π, t) = 0, t ≥ 0;
∂u
CI u(x, 0) = sen(3x), (x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ π.
∂t
(a) Calcule a energia da corda. Verifique que ela é de fato, constante.

Exercı́cio 1.2
Se os extremos da corda estão livres para se deslizar verticalmente, a posição da corda
satisfaz o problema

∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
∂u ∂u
CF (0, t) = 0, (L, t) = 0, t ≥ 0;
∂x ∂x
∂u
CI u(x, 0) = f (x), (x, 0) = g(x), 0 ≤ x ≤ L.
∂t
Comprove que a energia de uma corda satisfazendo este problema também se conserva.
32 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL

2.2 A fórmula de d’Alembert


2.2.1 Solução geral da equação da onda
Para calcularmos a solução geral da equação da onda unidimensional, vamos introduzir
novas variáveis independentes ξ e η definidas por
 
 ξ = x + ct  x = 21 (ξ + η)

1
η = x − ct t = 2c (ξ − η)
 
 
1 1
A nova função incógnita será v(ξ, η) = u (ξ + η), (ξ − η) .
2 2c
Para obtermos a equação satisfeita por v, utilizamos a expressão u(x, t) = v(x+ct, x−ct)
e a regra da cadeia para exprimir as derivadas de u em termos das derivadas de v.

∂u ∂v ∂v
= +
∂x ∂ξ ∂η
 
∂u ∂v ∂v
=c −
∂t ∂ξ ∂η
∂ 2u ∂ 2v ∂ 2v ∂ 2v
= 2 +2 + 2
∂x2 ∂ξ ∂ξ∂η ∂η
∂ 2u
 2
∂ 2v ∂ 2v

2 ∂ v
=c −2 + .
∂t2 ∂ξ 2 ∂ξ∂η ∂η 2
∂ 2u ∂ 2u
Substituindo as expressões de e na equação da onda, obtemos
∂x2 ∂t2
∂ 2v
= 0. (2.7)
∂ξ∂η
Por integração direta, de forma similar a como foi resolvida a equação 1.14, obtemos
que
v(ξ, η) = F (ξ) + G(η)
onde F e G são duas funções C 2 arbitrárias.
Voltando às variáveis originais, obtemos
u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct). (2.8)
Para funções F e G (C 2 ) quaisquer, a expressão acima satisfaz a equação da onda
(verifique isto!!), portanto (2.8) nos dá a solução geral desta equação. Isto significa que
qualquer solução da equação pode ser representada como acima, para certas funções F e
G
Fisicamente, ela representa a superposição de duas ondas viajantes, uma se movendo
para a direita e a outra, para a esquerda, com velocidade c. Alguns exemplos de soluções
são

u(x, t) = sin(x − ct);


u(x, t) = sin(x − ct) + ex+ct ;
u(x, t) = (x − ct)2 − 3(x + ct)3 .
2.2. A FÓRMULA DE D’ALEMBERT 33

A solução geral obtida pode ser também interpretada como a soma das soluções gerais
∂u ∂u ∂u ∂u
das equações do transporte −c =0e +c = 0 (veja o exercı́cio 6 desta seção).
∂t ∂x ∂t ∂x

2.2.2 A corda infinita


No caso de uma corda infinita não temos condições de fronteira. O problema fica colocado
na forma
∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , −∞ < x < ∞, t ≥ 0; (2.9)
∂t2 ∂x2
∂u
CI u(x, 0) = f (x), (x, 0) = g(x), −∞ < x < ∞. (2.10)
∂t
Se de fato este problema tivesse uma solução u, devem existir F e G, funções C 2 tais
que u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct). Usando as condições iniciais obtemos que
u(x, 0) = f (x) = F (x) + G(x)
∂u
(x, 0) = g(x) = c(F 0 (x) − G0 (x)).
∂t
Integrando a segunda equação, obtemos duas equações lineares com incógnitas F (x) e
G(x)
1 x
Z
F (x) + G(x) = f (x), F (x) − G(x) = g(r)dr + C.
c 0
Somando e subtraindo as duas equações, obtemos que

1 x
Z
1h
F (x) = f (x) + g(r)dr + C]
2 c 0
1 x 1 0
Z Z
1h 1h
F (x) = f (x) − g(r)dr − C] = f (x) + g(r)dr − C].
2 c 0 2 c x
Portanto, vale o seguinte resultado.

Teorema 2.2: Fórmula de d’Alembert

Seja f ∈ C 2 e g ∈ C 1 . Então a única solução de (2.9)-(2.10) está dada pela expressão

f (x + ct) + f (x − ct) 1 x+ct


Z
u(x, t) = + g(r)dr. (2.11)
2 2c x−ct

Demonstração. Após os cálculos feitos, basta calcularmos F (x+ct)+G(x−ct) e obteremos


a expressão acima. Isto garante a unicidade e também garante que u satisfaz a equação
uma vez que com as hipóteses do teorema, F e G são C 2 . Faltaria apenas verificarmos
que as condições iniciais são satisfeitas, o que pode ser feito diretamente.
Exemplo 2.2.1. Obtenha a solução de
∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , −∞ < x < ∞, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
1 ∂u
CI u(x, 0) = 2
, (x, 0) = 0, −∞ < x < ∞.
1+x ∂t
34 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL

Usando a fórmula de d’Alembert, obtemos


1n 1 1 o
u(x, t) = + .
2 1 + (x + ct)2 1 + (x − ct)2
A solução é uma superposição de duas ondas viajando em sentidos opostos.
Abaixo é apresentado o gráfico da solução junto com o das ondas viajantes.

1 1 1
1
 
(a) u(x, 0) = 1+x2
(b) u(x, t) = 2 1+(x+1)2 + 1+(x+1)2

Repare que quando t cresce, os valores máximos destas funções se afastam e obtém-se
que para cada ponto da corda, a amplitude vai para zero, ou seja u(x, t) → 0 quando
t → ∞.
Exemplo 2.2.2. Obtenha a solução de
∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , −∞ < x < ∞, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
∂u 2
CI u(x, 0) = 0, (x, 0) = , −∞ < x < ∞.
∂t 1 + x2
Mais uma vez usando a fórmula de d’Alembert, obtemos

1 x+ct 2
Z
1 x+ct
u(x, t) = ds = arctan s

2c x−ct 1 + s2 c

x−ct

= {arctan(x + ct) − arctan(x − ct)}.


π π
Utilizando que arctan(x) → ± quando x → ±∞, é possı́vel provar que u(x, t) →
2 c
quando t → ∞.
O comportamento das soluções é ilustrado nas figuras a seguir. Em azul representamos
os gráficos da função u para t = 1 e t = 5, com c = 1. Na cor cinza aparecem os gráficos
de arctan(x + ct) e − arctan(x − ct).
Neste ponto, faz sentido se perguntar se seria possı́vel utilizarmos a fórmula de d’Alembert
para determinar a solução do problema da corda com extremos fixados (2.3)-(2.5). A
resposta é positiva, mas não seguiremos esse caminho aqui. A estratégia que utilizaremos
para construir esta solução, o chamado método de separação de variáveis, pode ser
aplicada a uma classe muito ampla de equações. No próximo capı́tulo desenvolveremos os
fundamentos deste método no caso do problema de propagação do calor de uma barra.
2.2. A FÓRMULA DE D’ALEMBERT 35

(a) u(x, 1) (b) u(x, 5)

2.2.3 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1
(a) Verifique que para qualquer valor de λ, a função u(x, t) = cos(λct) sen(λx) satisfaz a
equação da onda unidimensional.
1
(b) Utilize a identidade cos β sen α = [sen(α + β) + sen(α − β)] para escrever u como
2
superposição de ondas viajando à esquerda e à direita com velocidade c.

Exercı́cio 2.2
Considere a equação
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
− 3 − 4 = 0.
∂x2 ∂x∂t ∂t2
(a) Verifique que a mudança de variáveis
(
ξ = 4x + t,
η =t−x

∂ 2v
transforma esta equação em = 0, onde u(x, t) = v(4x + t, t − x).
∂ξ∂η
(b) Escreva a solução geral desta equação.

Exercı́cio 2.3
Considere a equação
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
+ − 20 = 0.
∂x2 ∂x∂t ∂t2
(a) Verifique que a mudança de variáveis
(
ξ = 4x + t,
η = 5x − t

∂ 2v
transforma esta equação em = 0, onde u(x, t) = v(4x + t, 5x − 1).
∂ξ∂η
36 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL

(b) Escreva a solução geral desta equação.

Exercı́cio 2.4
Determine as soluções de
∂ 2u 2
2∂ u
= c , −∞ < x < ∞, t > 0;
∂t2 ∂x2
∂u
u(x, 0) = f (x), (x, 0) = g(x),
∂t
nos casos seguintes,
(a) f (x) = x2 , g(x) = x.
2 2
(b) f (x) = e−x , g(x) = 2cxe−x .
(c) f (x) = 0, g(x) = 1.
(d) f (x) = 1, g(x) = 0.
(e) f (x) = sen x, g(x) = c cos x.
(f) f (x) = 0, g(x) = sen2 x.

F Exercı́cio 2.5
Utilize a fórmula de d’Alembert para provar as seguintes propriedades das soluções do
problema de valor inicial para a corda infinita.
(a) Se f (x) e g(x) são ambas funções ı́mpares (pares), então u(x, t) é ı́mpar (par) em x,
ou seja u(−x, t) = −u(x, t) (u(−x, t) = u(x, t)), para todo x ∈ R.
(b) Se f (x) e g(x) são ambas funções 2L-periódicas, então u(x, t) é 2L-periódica em x,
ou seja u(x, t) = u(x + 2L, t), para todo x ∈ R.

F Exercı́cio 2.6
Neste exercı́cio desenvolveremos uma outra estratégia para obter a solução geral da
equação da onda.
∂ 2u ∂ 2u
Suponha que u é solução da equação da onda 2 = c2 2 .
∂t ∂x
∂u ∂u
(a) Verifique que se v = + c , então v satisfaz
∂t ∂x
∂v ∂v
−c =0
∂t ∂x
e escreva a solução geral desta equação.
(b) Na equação
∂u ∂u
+c = v,
∂t ∂x
substitua a expressão obtida para v no item anterior e faça a mudança de variáveis

s = x − ct
τ = x + ct
Você deve chegar na solução geral da equação da onda.
2.2. A FÓRMULA DE D’ALEMBERT 37

2.2.4 Laboratório II
Neste laboratório você deverá:

• rodar a parte I do tutorial lab2 eq:onda.wxm;

• ainda na parte I do tutorial, modificar a função f utilizada como condição inicial


e eventualmente modificar também outras constantes como c e Tmax , por exemplo;
2 1 x
(sugestões: f (x) = e−x , f (x) = e−|x| , f (x) = , f (x) = );
1 + |x| 1 + x2
• Uma vez escolhida uma função f e fixados os parâmetros, você deve gerar os arquivos
com as animações como descrito na Parte II do tutorial;

• Na animação sobre a reversibilidade da equação da onda você estará plotando a


função v(x, t) = u(x, Tmax − t). Por que ela satisfaz a equação da onda? Quais
seriam as condições iniciais correspondentes?

Você deve enviar os dois arquivos com as animações e a resposta da última pergunta.
38 CAPÍTULO 2. A EQUAÇÃO DA ONDA UNIDIMENSIONAL
Capı́tulo 3

A equação do calor

Neste capı́tulo estudaremos a equação do calor unidimensional, chamada assim porque


modela a evolução da temperatura numa barra homogênea feita de um material con-
dutor do calor. Veremos que para determinarmos a solução num problema concreto,
precisamos especificar a distribuição inicial de temperatura (condição inicial) e também
acrescentar condições adicionais sobre os extremos da barra que podem ser de diferentes
tipos (condições de fronteira). Desta forma fica constituı́do um problema de valor inicial
com condições de fronteira para a equação do calor. Explicaremos os fundamentos do
método de separação de variáveis, que nos servirá para acharmos a solução deste tipo de
problemas. No capı́tulo 5, este método será aplicado em toda sua extensão, utilizando
a teoria das séries de Fourier, que será tratada no capı́tulo 4. Vale ressaltar aqui que a
equação do calor, diferentemente da equação da onda, não possui solução geral.

3.1 Um modelo de propagação do calor em uma barra


3.1.1 Dedução da equação
Consideremos uma barra de um material homogêneo condutor do calor, de seção transver-
sal uniforme com área A, comprimento L e densidade ρ, cuja temperatura, u(x, t), é uma
função do tempo t e da posição x ao longo da barra, ou seja, a temperatura é a mesma em
cada seção transversal. Suporemos que a superfı́cie da barra está isolada termicamente,
salvo nos extremos x = 0 e x = L.
A temperatura no instante t em todos os pontos de um disco centrado em x = x0 com
largura ∆x, relativamente pequena será aproximadamente a mesma, ou seja u(x0 , t). A
massa do disco será ρA∆x e portanto sua energia térmica será dada pela expressão abaixo
CρA∆xu(x0 , t)
onde C representa o calor especı́fico do material de que é feita a barra. Neste contexto
entendemos um valor positivo da energia como a quantidade de energia necessária para
elevar a temperatura deste disco de zero a u(x0 , t). Um valor negativo representa a
quantidade de energia liberada pelo disco quando sua temperatura desce do valor zero até
u(x0 , t).
Fazendo ∆x → 0 e somando as energias dos discos entre as seções x = a e x = b,
obtemos que a energia térmica na região a < x < b será dada por
Z b
E(t) = CρAu(x, t)dx. (3.1)
a

39
40 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

Assumindo que não há nem geração nem dissipação de energia térmica no interior da
barra, necessariamente a taxa de variação desta energia na região entre as seções x = a e
x = b deverá coincidir com o fluxo de calor Q que entra nesta região, ou seja
d
E(t) = Q(t). (3.2)
dt
Pela Lei de Fourier, sabe-se que o calor flui de regiões mais quentes para regiões mais
frias e que a taxa do fluxo de calor é proporcional à diferença de temperatura dividida
pela distância entre as regiões. Quantitativamente, se chamarmos de q(a, t) à densidade
de fluxo de calor através da seção x = a, ou seja, à quantidade de calor passando na seção
por unidade de área e por unidade de tempo, temos que
∂u
q(a, t) = −K (a, t). (3.3)
∂x
A constante de proporcionalidade K > 0 é a conductividade térmica do material e
quantifica a capacidade dos materiais de conduzir energia térmica.
O fluxo de energia térmica que entra na região a < x < b será
Q(t) = A[q(a, t) − q(b, t)],
Utilizando o Teorema fundamental do Cálculo, podemos reescrever a igualdade acima:

Q(t) = A[q(a, t) − q(b, t)] = − Aq(x, t)|x=b


x=a
Z b Z b 2
∂ u
=− Aqx dx = KA 2 dx.
a a ∂x
Derivando a expressão que obtivemos para a energia térmica da região a < x < b,
 Z b  Z b
dE d ∂u
= CρA u dx = CρA dx
dt dt a a ∂t
Utilizando a expressão para a lei de conservação da energia (3.2) obtemos que
Z b Z b Z b
∂ 2u ∂ 2u

∂u ∂u
CρA dx = KA 2 dx ⇒ CρA − KA 2 dx = 0.
a ∂t a ∂x a ∂t ∂x
Como a igualdade obtida é válida sobre qualquer intervalo a < x < b, o integrando
deve ser nulo e obtemos a equação
∂u ∂ 2u ∂u K ∂ 2u
CρA − KA 2 = 0 ⇒ = .
∂t ∂x ∂t Cρ ∂x2
K
Introduzindo a constante k = , difusividade térmica do material da barra, obtemos

que a temperatura u(x, t) deve satisfazer a equação
∂u ∂ 2u
= k 2. (3.4)
∂t ∂x
A equação do calor nos diz que a temperatura u(x, t) na seção x e no instante t cresce
∂u ∂u ∂ 2u
( > 0) ou descresce ( < 0) dependendo de ser positivo ou negativo.
∂t ∂t ∂x2
A equação do calor é uma equação linear homogênea. Utilizando o Princı́pio de Super-
posição, podemos construir infinitas soluções para ela. No entanto, quando observamos
a evolução da temperatura de uma barra, observamos um único valor de temperatura
em cada seção, ou seja, temos solução única. Será necessário então complementarmos a
equação com condições adicionais que determinem uma única solução da equação.
3.1. UM MODELO DE PROPAGAÇÃO DO CALOR EM UMA BARRA 41

Figura 3.1: Variação da temperatura no tempo de acordo com a equação do calor

3.1.2 Condições de contorno


De forma similar ao que ocorria no caso da equação do transporte, precisaremos de uma
condição inicial que determina a temperatura na barra no instante inicial de observação
(t = 0 por conveniência). esta condição será da forma u(x.0) = f (x). Aqui f representa
a distribuição inicial de temperatura.
Além disto, precisaremos de condições que caracterizem de que forma ocorre o in-
tercâmbio térmico da barra com o ambiente. Isto ocorre apenas através das extremidades
da barra. Podemos especificar valores de temperatura nas extremidades, e isto nos levará
a expressões da forma u(0, t) = A(t), u(L, t) = B(t), t ≥ 0.

Como estamos especificando os valores da solução u na fronteira do domı́nio de interesse,


estas são condições de Dirichlet. Seriam condições de Dirichlet homogêneas se A e B
fossem funções nulas.
Outra possibilidade seria especificarmos o fluxo de calor. Pela Lei de Fourier (3.3),
∂u ∂u
qesq = q(0, t) = −K (0, t) qdir = q(L, t) = −K (L, t).
∂x ∂x
Isto equivale a especificar valores do gradiente de temperatura nos extremos
∂u ∂u
(0, t) = A(t) (L, t) = B(t).
∂x ∂x
∂u ∂u
Em particular, se isolarmos termicamente os extremos, teremos (0, t) = 0 e (L, t) =
∂x ∂x
0, t ≥ 0.
42 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

∂u
Estas condições são chamadas de condições de Neumann, pois é é especificada.
∂x
Podemos ter uma variedade bastante grande de condições de fronteira que representem
diferentes situações fı́sicas.
Por exemplo, se a extremidade direita da barra estiver submersa num reservatório a
temperatura g(t) e se o intercâmbio de calor entre o reservatório e a extremidade da barra
obedece a lei de resfriamento de Newton, então
∂u
(L, t) = −a(u(L, t) − g(t)),
∂x
com a > 0. Esta é uma condição de Robin não homogênea. Dizemos que temos uma
∂u
condição de Robin quando + hu é especificada, onde h 6= 0.
∂x
Naturalmente podemos ter um tipo de condição de fronteira numa parte do domı́nio
e outro tipo em outra. Por exemplo, numa barra poderı́amos especificar a temperatura
no extremo esquerdo e o fluxo de temperatura no extremo direito. Podemos representar
∂u
matematicamente estas condições da forma u(0, t) = A, (L, t) = B, para todo t ≥ 0.
∂x
Para determinarmos a única solução que corresponde à temperatura da barra num caso
particular, devemos acrescentar à equação do calor, uma condição inicial e condições
de fronteira apropriadas. Desta forma obtemos um Problema de Valor Inicial com
Condições de Fronteira.

3.1.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
Suponha que os extremos esquerdo e direito de uma barra homogênea são introduzidos em
recipientes com lı́quidos a temperaturas ge (t) e gd (t), respectivamente. Utilizando a Lei
de Resfriamento de Newton é possı́vel deduzir que a densidade de fluxo de calor através
das extremidades, deve satisfazer as igualdades

∂u
q(0, t) = −K (0, t) = −h[u(0, t) − ge (t)],
∂x
∂u
q(L, t) = −K (L, t) = h[u(L, t) − gd (t)],
∂x
onde K e h são constantes positivas que representam a condutividade têrmica do material
da barra e o coeficiente de transferência de calor, respectivamente entre o lı́quido e os
extremos da barra.
Suponha que ge e gd são nulas, ou seja, ambos os lı́quidos estão sendo mantidos a
temperatura zero. Determine que condições deve satisfazer X(x) para que uma solução
produto u(x, t) = X(x)T (t) da equação do calor satisfaça estas condições de fronteira.

Exercı́cio 1.2
Considere a propagação de calor numa barra de comprimento 1. Interprete cada um dos
quatro possı́veis conjuntos de condições de fronteira listados abaixo.

(a) u(0, t) = 0, u(1, t) = t2 , t > 0;


∂u
(b) u(0, t) = 5, (1, t) = 0, t > 0;
∂x
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 43

∂u ∂u
(c) (0, t) = 0, (1, t) = 0, t > 0;
∂x ∂x
∂u ∂u
(d) (0, t) = (u(0, t) − 10), (1, t) = 0, t > 0.
∂x ∂x

3.2 Solução de alguns problemas de contorno


O processo de resolução dos problemas de contorno que trataremos aqui começa achando
todas as soluções produto da equação do calor.
∂u ∂ 2u
Substituindo uma solução da forma u(x, t) = X(x)T (t) na equação = k 2 obtemos
∂t ∂x
2 0 00
∂u ∂ u T (t) X (x)
= k 2 ⇒ X(x)T 0 (t) = kX 00 (x)T (t) ⇒ = =λ (3.5)
∂t ∂x kT (t) X(x)
para alguma constante λ pois uma função de x pode coincidir com uma função de t
somente quando ambas as funções são constantes.
Daqui obtemos as equações diferenciais ordinárias T 0 (t) = λkT (t) e X 00 (x) = λX(x)
com soluções
T (t) = Ceλkt
e

X(x) = c1 + c2 x, se λ = 0; (3.6)
√ √
X(x) = c1 e + c2 e− λx , se λ > 0;
λx
(3.7)
p p
X(x) = c1 cos( |λ|x) + c2 sen( |λ|x), se λ < 0. (3.8)

A constante C na expressão de T (t) é irrelevante, pois é uma constante arbitrária que


vamos multiplicar pelas outras constantes c1 e c2 , então podemos supor C = 1. Para
simplificar a notação, escreveremos λ = α2 no caso λ > 0 com α > 0 e λ = −α2 no caso
λ < 0 com α > 0. Então, as soluções produto podem ser escritas da forma

Caso 1: λ = 0
X(x) = c1 x + c2 , T (t) = 1 ⇒ u(x, t) = c1 x + c2 , (3.9)

Caso 2: λ = α2 > 0
2 kt 2 kt
X(x) = c1 eαx + c2 e−αx , T (t) = eα ⇒ u(x, t) = eα (c1 eαx + c2 e−αx ), (3.10)

Caso 3: λ = −α2 < 0


2 kt 2 kt
X(x) = c1 cos(αx)+c2 sen(αx), T (t) = e−α ⇒ u(x, t) = e−α (c1 cos(αx)+c2 sen(αx)).
(3.11)

3.2.1 Temperatura zero nos extremos da barra


Começaremos considerando condições de Dirichlet homogêneas, ou seja, quando temos
temperatura zero nos dois extremos da barra.
44 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0; (3.12)
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t ≥ 0; (3.13)
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L. (3.14)

A estratégia será construir uma solução utilizando as soluções produto obtidas. Iremos
analisar primeiro quais dessas soluções satisfazem as condições de fronteira (3.13) e isto
introduzirá uma limitação sobre os valores da constante λ.
Suponha que uma solução produto não identicamente nula u(x, t) = X(x)T (t) satisfaz as
condições de fronteira em (3.13). Então temos que para todo t > 0, u(0, t) = X(0)T (t) =
0. Como certamente existirá algum valor de t tal que T (t) 6= 0, obtemos que X(0) = 0 e
analogamente, deve ocorrer que X(L) = 0.
O nosso problema se reduz então a investigar quais são os valores de λ para os quais há
soluções não nulas da equação X 00 = λX satisfazendo X(0) = 0 e X(L) = 0 e quais são
essas soluções. Devemos analisar cada um dos três casos que obtivemos em (3.6)-(3.8).
Caso 1: X(x) = c1 + c2 x.
Substituindo x = 0 e x = L obtemos

X(0) = c2 = 0 ⇒ c2 = 0
X(L) = c1 L + c2 = c1 L = 0 ⇒ c1 = 0.

Como c1 = c2 = 0, X é a função constante zero.

Caso 2: X(x) = c1 eαx + c2 e−αx , α > 0.

X(0) = c1 + c2 = 0 ⇒ c1 = −c2
X(L) = c1 eαL + c2 e−αL
= −c2 eαL + c2 e−αL
= −c2 (eαL − e−αL ) = 0

Como α > 0 e L > 0, eαL 6= e−αL , então c2 = 0 e portanto c1 = 0 e X ≡ 0.

Caso 3: X(x) = c1 cos(αx) + c2 sen(αx), α > 0.


Como cos 0 = 1 e sen 0 = 0, obtemos

X(0) = c1 = 0 ⇒ c1 = 0
X(L) = c1 cos(αL) + c2 sen(αL)
= c2 sen(αL) = 0

Se c2 = 0, obtemos X ≡ 0. Para termos a possibilidade de obter soluções X não nulas,


consideraremos portanto c2 6= 0. Neste caso sen(αL) = 0, ou seja, αL = nπ para n ∈ N
ou

α= n ∈ N.
L
Como conclusão obtemos a proposição abaixo.
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 45

Proposição 3.1

A equação X 00 −λX = 0 possui soluções que não são identicamente nulas satisfazendo
 nπ 2
as condições de fronteira X(0) = 0 e X(L) = 0 apenas quando λ = − , n∈
L
N.
Estas soluções são da forma
 nπ 
Xn (x) = bn sen x ,
L
onde n ∈ N e bn ∈ R.

Finalmente, como consequência desta proposição concluı́mos que as únicas soluções


produto da equação do calor que satisfazem as condições de fronteira (3.13) são as soluções
da forma  nπ 
−( nπ )2 kt
un (x, t) = bn e L sen x , n ∈ N; (3.15)
L
com bn constante. Como podemos utilizar esta informação para resolver o problema
(3.12)-(3.14)?
Podemos raciocinar da forma seguinte. Consideremos, por exemplo, a função u4 com
b4 = −3
 
−( 4π )2 kt 4π
u4 (x, t) = −3e L sen x .
L
Sabemos que esta função satisfaz a equação (3.12) e as condições de fronteira (3.13).
Qual condição inicial ela satisfaz?
Para sabermos isto precisamos apenas calcular u4 (x, 0):
 

u4 (x, 0) = −3 sen x .
L
 

Portanto, u4 satisfaz o problema (3.12)-(3.14) com f (x) = −3 sen x .
L
Consideremos agora uma solução da forma
   
−( 2π )2 kt 2π −( 6π )2 kt 6π
u(x, t) = u2 (x, t) + u6 (x, t) = 3e L sen x − 5e L sen x , (3.16)
L L
onde b2 = 3 e b6 = −5
Que sabemos sobre u? Primeiro, pelo Princı́pio de Superposição, u é solução da equação
do calor, que é uma equação linear e homogênea. Mais do que isso, u também satisfaz as
condições de fronteira em (3.13) pois
u(0, t) = u2 (0, t) + u6 (0, t) = 0
u(L, t) = u2 (L, t) + u6 (L, t) = 0.
Substituindo t = 0 em (3.16) obtemos
u(x, 0) = u2 (x, 0) + u6 (x, 0)
   
2π 6π
= 3 sen x − 5 sen x .
L L
46 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

Podemos então concluir que u é uma solução do problema


∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0; 
CI u(x, 0) = 3 sen 2π
L
x − 5 sen 6π
L
x , 0 ≤ x ≤ L.
Isto significa que toda
 nπvez
 que a temperatura inicial seja uma combinação linear de
funções da forma sen x , n ∈ N, a solução do problema de propagação do calor na
L
barra com temperaturas nulas nos extremos (problema de Dirichlet homogêneo) pode ser
nπ 2
construı́da de forma muito simples acrescentando apenas o termo e−( L ) kt .
Exemplo 3.2.1. Determine uma solução do problema
∂u ∂ 2u
ED = 2 2 , 0 ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(π, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = 5 sen(2x) − 30 sen(3x), 0 ≤ x ≤ L.
Solução:
Neste exemplo temos L = π e portanto nπ L
= n. Como f (x) = 5 sen(2x) − 30 sen(3x),
2
para construir a solução devemos inserir a exponencial e−2 ·2t = e−8t na frente de sen(2x)
2
e e−3 ·2t = e−18t na frente de sen(3x). Portanto,
u(x, t) = 5e−8t sen(2x) − 30e−18t sen(3x)
é uma solução deste problema.

Figura 3.2: Gráfico de u(x, t) = 5e−8t sen(2x) − 30e−18t sen(3x)

Uma maneira bastante conveniente de escrever combinações lineares é utilizando o


sı́mbolo de somatório. Uma combinação linear das funções un pode ser escrita da forma
N  nπ 
nπ 2
X
bn e−k( L ) t sen x
n=1
L
sendo N o maior valor de n entre as funções que aparecem na combinação linear.
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 47

Exemplo 3.2.2.
3
2
X
−8t −18t
5e sen(2x) − 30e sen(3x) = bn e−kn t sen(nx),
n=1

onde b1 = 0, b2 = 5, b3 = 3 e N = 3.
    X 6
−k( 2π )2 t 2π −k( 6π 2t 6π nπ 2
 nπ 
3e L sen x − 5e L sen )
x = bn e−k( L ) t sen x
L L n=1
L
onde b1 = b3 = b4 = b5 = 0, b2 = 3, b6 = −5 e N = 6.
Podemos então resumir o resultado que obtivemos aqui na proposição seguinte.

Proposição 3.2

Sejam b1 , . . . , bN constantes dadas. Uma solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥  0;   
π  2π Nπ
CI u(x, 0) = b1 sen x + b2 sen x + · · · + bN sen x (3.17)
L L L
XN  nπ 
= bn sen x , 0 ≤ x ≤ L.
n=1
L

está dada por


π   
π 2
−( L ) kt −( NLπ )2 kt Nπ
u(x, t) = b1 e sen x + · · · + bN e sen x
L L
N  nπ 
−( nπ )2 kt
X
= bn e L sen x .
n=1
L

Repare que u(x, t) → 0 quando t → ∞, ou seja, com o passar do tempo, a distribuição


de temperatura na barra se aproxima da distribuição nula, que é a temperatura que há
nos extremos da barra. Isto pode ser visualizado claramente na figura 3.2.
Veremos a seguir que o mesmo método pode ser aplicado para resolver outros problemas
de contorno.

3.2.2 Barra com extremos termicamente isolados


∂u
Durante a dedução da equação do calor vimos que a quantidade −KA (a, t) representa
∂x
a quantidade de calor por unidade de tempo que atravessa a seção x = a no sentido
∂u
crescente de x. Portanto, ao especificarmos valores para em x = 0 ou x = L, estaremos
∂x
impondo condições na taxa com que a energia térmica passa pelos extremos da barra. Em
∂u
particular, (0, t) = 0 significa que não há calor fluindo pelo extremo x = 0.
∂x
Se a barra for completamente isolada, obtemos as condições
48 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

∂u ∂u
(0, t) = 0, (L, t) = 0, t ≥ 0. (3.18)
∂x ∂x
Para encontrar as soluções, como fizemos na seção anterior, começamos por encontrar
quais das soluções produto em (3.9) - (3.11) satisfazem as condições acima.
∂u
Se u(x, t) = X(x)T (t), então (0, t) = X 0 (0)T (t) = 0 para todo t ≥ 0 implica que
∂x
X 0 (0) = 0 e de forma similar obtemos X 0 (L) = 0. Analisaremos a seguir quais são as
soluções de X 00 − λX = 0 satisfazendo estas condições de fronteira.
No caso 1 temos X(x) = c1 x + c2 e X 0 (x) = c1 . Portanto

X 0 (0) = 0, X 0 (L) = 0 ⇒ c1 = 0.

Neste caso a única solução possı́vel é a constante. Por razões que ficarão claras no próximo
a0
capı́tulo, nossa primeira solução será escrita como X0 (x) = , com a0 ∈ R.
2
No caso 2, a única solução satisfazendo X 0 (0) = 0, X 0 (L) = 0 é a solução nula. No
exercı́cio 2 desta seção pedimos para verificar isto.
No caso 3, temos que

X 0 (0) = αc2 = 0 ⇒ c2 = 0
e
X 0 (L) = −c1 α sen(αL) = 0.

Se c1 = 0, obtemos a solução nula. Precisamos então sen(αL) ⇒ α = n ∈ N.
L
Desta forma chegamos a

Proposição 3.3

A equação X 00 − λX = 0 só pode ter soluções não nulas satisfazendo


 nπ 2 as condições de
fronteira X 0 (0) = 0 e X 0 (L) = 0 quando λ = 0 ou λ = − , n = 0, 1, . . . .
L
Estas soluções são da forma
a0  nπ 
X0 (x) = e Xn (x) = an cos x , n ∈ N,
2 L
onde a0 , an ∈ R.

Portanto, as soluções produto da equação do calor satisfazendo as condições de fronteira


(3.18) são da forma
nπ 2
 nπ 
un (x, t) = an e−( L ) kt cos x , n = 1, . . . , (3.19)
L
a0
com an ∈ R, além da solução constante u0 (x, t) = .
2
Pelo Princı́pio de Superposição e pela homogeneidade das condições de fronteira (3.18)
temos que se a0 , a1 , . . . , aN são constantes, uma solução da equação do calor satisfazendo
(3.18) é
N
a0 X nπ 2
 nπ 
u(x, t) = + an e−( L ) kt cos x ,
2 n=1
L
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 49

com condição inicial correspondente


N
a0 X  nπ 
u(x, 0) = + an cos x .
2 n=1
L
Estes resultados são resumidos na proposição a seguir, análoga à proposição 3.2.

Proposição 3.4

Sejam a0 , a1 , . . . , aN constantes dadas. Uma solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = 0 (L, t) = 0, t ≥ 0; (3.20)
∂x ∂x
N
a0 X  nπ 
CI u(x, 0) = + an cos x , 0 ≤ x ≤ L.
2 n=1
L

está dada por


N
a0 X nπ 2
 nπ 
u(x, t) = + an e−( L ) kt cos x . (3.21)
2 n=1
L

Que acontece com a solução obtida acima quando o tempo cresce? Neste caso em cada
a0
seção x, u(x, t) → quando t → ∞. Veremos depois que esta constante está relacionada
2
com a energia térmica da barra, que é conservada neste caso pelo fato dos extremos
estarem isolados.
A seguir apresentamos um exemplo.
Exemplo 3.2.3. Determine uma solução do problema
∂u ∂ 2u
ED = 2 2 , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = 0 (1, t) = 0, t ≥ 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = cos2 (3πx), 0 ≤ x ≤ 1.
Solução:
Neste exemplo temos L = 1 e k = 2. Além disto, nπ L
= nπ, por isso precisamos ter na
condição inicial f uma combinação linear de funções da forma cos(nπx), com n = 0, 1, . . . .
Como f (x) = cos2 (3πx), vamos aplicar a identidade trigonómetrica
1
cos2 (α) = (1 + cos(2α))
2
e obtemos que
1 1 1
f (x) = cos2 (3πx) = (1 + cos(6πx)) = + cos(6πx).
2 2 2
2 ·2t
Para construir a solução basta inserir a exponencial e−(6π) = e−72πt na frente de
cos(6πx). Portanto,
1 1
u(x, t) = + e−72πt cos(6πx)
2 2
é uma solução deste problema.
50 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

3.2.3 Condução do calor numa barra circular


Suponhamos que consideramos uma barra que foi deformada até unir seus extremos, de
forma que neles as temperaturas e os gradientes de temperatura irão coincidir. Se a barra
tiver comprimento 2L, podemos considerar que um extremo corresponde a x = −L e o
outro a x = L e as condições de fronteira seriam
∂u ∂u
u(−L, t) = u(L, t), (−L, t) = (L, t), t ≥ 0. (3.22)
∂x ∂x
Para podermos resolver o problema correspondente, precisaremos encontrar quais das
soluções produto u(x, t) = X(x)T (t) achadas em (3.9)-(3.11) satisfazem estas condições
de fronteira.
No caso 1 temos que

X(−L) = X(L) −c1 L + c2 = c1 L + c2 c1 = 0


0 0 ⇔ ⇔
X (−L) = X (L) c1 = c1 c2 arbitrário.
a0
Portanto, obtemos as soluções constantes que denotaremos por X0 (x) = .
2
No caso 2, não é difı́cil verificar que a única função X satisfazendo as condições de
fronteira que precisamos é a nula. No caso 3 obtemos

X(−L) = X(L)
⇒ c1 cos(−αL) + c2 sen(−αL) = c1 cos(αL) + c2 sen(αL)
⇒ c1 cos(αL) − c2 sen(αL) = c1 cos(αL) + c2 sen(αL)
⇒ 2c2 sen(αL) = 0 ⇒ c2 sen(αL) = 0

Vamos utilizar agora a segunda condição de fronteira. Substituindo obtemos

X 0 (−L) = X 0 (L)
⇒ −c1 α sen(−αL) + c2 α cos(−αL) = −c1 α sen(αL) + c2 α cos(αL)
⇒ c1 sen(αL) + c2 cos(αL) = −c1 α sen(αL) + c2 α cos(αL)
⇒ 2c1 α sen(αL) = 0 ⇒ c1 α sen(αL) = 0

Desta forma, para evitar que c1 e c2 sejam ambas zero, devemos escolher α de forma que

sen(αL) = 0, ou seja α = , n ∈ N. Renomeando c1 e c2 como an e bn , respectivamente,
L
obtemos o resultado a seguir.
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 51

Proposição 3.5

A equação X 00 − λX = 0 possui soluções não nulas satisfazendo as condições de


 nπ  2
fronteira X(0) = X(L) e X 0 (0) = X 0 (L) somente quando λ = − , n = 0, 1, . . . .
L
Estas soluções são da forma
a0  nπ   nπ 
X0 (x) = e Xn (x) = an cos x + bn sen x , n ∈ N,
2 L L
onde an , bn ∈ R.

A partir desta proposição obtemos as soluções produto da equação do calor satisfazendo


(3.22) são da forma
a0 nπ 2
h  nπ   nπ i
u0 (x, t) = , un (x, t) = e−( L ) kt an cos x + bn sen x , n ∈ N.
2 L L
Pelo Princı́pio de Superposição e como as condições de fronteira são homogêneas,
obtemos que a função
N
a0 X −( nπ )2 kt h  nπ   nπ i
u(x, t) = + e L an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L
é solução da equação do calor com condições de fronteira (3.22) e condição inicial
N
a0 X h  nπ   nπ i
u(x, 0) = + an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L
Desta forma, chegamos no resultado a seguir, que é o análogo da proposição 3.2.

Proposição 3.6

Sejam a0 , a1 , . . . , bN e b1 , . . . , bN constantes dadas. Uma solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , −L ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF u(−L, t) = u(L, t), (−L, t) = (L, t) t ≥ 0; (3.23)
∂x ∂x
N
a0 X h  nπ   nπ i
CI u(x, 0) = + an cos x + bn sen x , −L ≤ x ≤ L
2 n=1
L L

está dada por


N
a0 X −( nπ )2 kt h  nπ   nπ i
u(x, t) = + e L an cos x + bn sen x . (3.24)
2 n=1
L L

3.2.4 Condições de fronteira não homogêneas


Nos problemas de contorno que resolvemos até agora, além da equação, as condições de
fronteira também eram lineares e homogêneas. Isto quer dizer que se duas funções
52 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

satisfazem estas condições de fronteira, qualquer combinação delas também a satisfará.


Isto nos permitiu utilizar o Princı́pio de Superposição para a equação do calor e também
para as condições de fronteira.
Vamos considerar agora situações nas que as condições de fronteira não são homogêneas.
A estratégia de solução será reduzir o nosso problema a um outro que saibamos resolver,
ou seja, com condições de fronteira homogêneas. Para isto, primeiro vamos achar uma
solução particular da equação que satisfaça as condições de fronteira. A essa solução
somaremos a solução do problema homogêneo. Isto nos dará a solução procurada.
Suponhamos que queremos resolver o problema de propagação de calor na barra com
temperaturas A e B nos extremos:
∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = A, u(L, t) = B t ≥ 0;
CI u(x, 0) = g(x), 0 ≤ x ≤ L.
Vamos procurar uma solução particular v da equação que satisfaça as condições de
fronteira, de preferência a solução mais simples possı́vel. Procuraremos então uma solução
independente do tempo, ou seja u(x, t) = v(x).
Substituindo na equação obtemos

v 00 (x) = 0 ⇒ v(x) = c1 x + c2 ,
onde c1 e c2 são constantes que determinamos usando as condições de fronteira:
A = v(0) = c2
B = v(L) = c1 L + c2 .
B−A
Portanto c2 = A e c1 = e a solução procurada será
L
B−A
v(x) = x + A. (3.25)
L
Se considerarmos agora a função w(x, t) = u(x, t) − v(x), então
w(0, t) = u(0, t) − v(0) = A − A = 0
w(L, t) = u(L, t) − v(L) = B − B = 0
w(x, 0) = u(x, 0) − v(x) = g(x) − v(x)
e w vai satisfazer
∂w ∂ 2w
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF w(0, t) = 0, w(L, t) = 0 t ≥ 0;
CI w(x, 0) = g(x) − v(x), 0 ≤ x ≤ L.
N
X  nπ 
Por enquanto, só sabemos resolver este problema quando g(x)−v(x) = bn sen x .
n=1
L
N  nπ 
nπ 2
X
Neste caso obtemos w(x, t) = bn e−( L ) kt sen x , portanto a solução procurada
n=1
L
será
N
B−A X nπ 2 nπ
u(x, t) = v(x) + w(x, t) = x+A+ e−( L ) kt sen( x). (3.26)
L n=1
L
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 53

A solução v é a única solução da equação satisfazendo as condições de fronteira dadas


e que não depende do tempo. Ela é chamada de solução estacionária ou solução de
estado estacionário. A solução u obtida escreve-se como a soma da solução estacionária
mais uma solução do problema homogêneo (w), que é transiente no sentido que w(x, t) →
0 quando t → ∞. Portanto temos que para qualquer seção x da barra,
u(x, t) = v(x) + w(x, t) → v(x), quando t → ∞.
Vejamos um exemplo.
Exemplo 3.2.4. Encontre uma solução de
∂u ∂ 2u
ED = , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t ∂x2
CF u(0, t) = 2, u(1, t) = 5 t ≥ 0;
CI u(x, 0) = 3x + 2 + 3 sen(2πx), 0 ≤ x ≤ 1.
Solução: Já sabemos que as soluções estacionárias da equação satisfazendo as condições
de fronteira são da forma v(x) = cx + d. Usando as condições de fronteira obtemos que
2 = v(0) = d e 5 = v(1) = c + d = c + 2 ⇒ c = 3. Portanto v(x) = 3x + 2.
O problema homogêneo para w(x, t) = u(x, t) − v(x) será
∂w ∂ 2w
ED = , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t ∂x2
CF w(0, t) = 0, w(1, t) = 0 t ≥ 0;
CI w(x, 0) = 3x + 2 + 3 sen(2πx) − (3x + 2) = 3 sen(2πx), 0 ≤ x ≤ 1,
2
com solução w(x, t) = 3e−4π t sen(2πx).
Portanto, a solução pedida será
2
u(x, t) = 3x + 2 + 3e−4π t sen(2πx).
Na figura 3.3 é possı́vel visualizar como esta solução se aproxima de v(x) = 3x + 2
quando o tempo cresce.
∂u
Quando temos condições de fronteira não homogêneas do tipo u(0, t) = A (ou (0, t) =
∂x
∂u
A) e u(L, t) = B (ou (L, t) = B) para A e B constantes, podemos proceder da mesma
∂x
forma, ou seja,
• encontrar primeiro a solução de estado estacionário u(x, t) = v(x) da equação e
satisfazendo as condições de fronteira;
• calcular u(x, t) = v(x) + w(x, t), onde w é solução do problema com condições de
fronteira nulas e condição inicial w(x, 0) = u(x, 0) − v(x).
Para as condições de fronteira como acima, existirá sempre uma solução v de estado
estacionário, ou seja, independente do tempo. v é da forma v(x) = cx + d e a solução u
se aproxima de v quando t → ∞ porque w(x, t) → 0.
Exemplo 3.2.5. Ache uma solução do problema de condução do calor
∂ 2u

∂u

 ED = 4 2 , 0 ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t ∂x


∂u

CF u(0, t) = −1, (π, t) = 1, t ≥ 0;
 ∂x  
5  11 


 CI u(x, 0) = x + 2 sen x − 3 sen x − 1, 0 ≤ x ≤ π.

2 2
54 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

2
Figura 3.3: Gráfico de u(x, t) = 3x + 2 + 3e−4π t sen(2πx)

Solução: A solução estacionária deve ser da forma v(x) = cx + d. Para calcular c e d,


utilizamos as condições de fronteira. v(0) = −1 = d, portanto v(x) = cx − 1. Além disto
devemos ter v 0 (π) = c = 1, portanto v(x) = x − 1. O problema de contorno satisfeito por
w = u − v será
∂ 2w

∂w
 ED
 = 4 , 0 ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t ∂x2


∂w

CF w(0, t) = (π, t) = 0, t ≥ 0;
 ∂x  
 CI w(x, 0) = 2 sen 5 x − 3 sen 11 x , 0 ≤ x ≤ π.

  

2 2
5   11 
−25t −121t
Usando o exercı́cio 9 desta seção, obtemos que w(x, t) = 2e sen x −3e sen x
2 2
e portanto 5   11 
−25t −121t
u(x, t) = x − 1 + 2e sen x − 3e sen x .
2 2
∂u ∂u
Quando (0, t) = A e (L, t) = B, existe solução de estado estacionário apenas
∂x ∂x
quando A = B. Neste caso, v(x) = Ax + d, com d arbitrário, ou seja, há infinitas soluções
de estado estacionário. Se A 6= B, não há solução de estado estacionário porque a energia
térmica da barra muda com uma taxa constante. Neste caso há uma solução particular
simples, que reflete este fato, da forma
v(x, t) = ct + h(x), (3.27)
onde c é constante e h é uma função. Ambas podem ser determinadas usando a equação
e as condições de fronteira mas não faremos isso aqui.
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 55

3.2.5 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1
Utilize a proposição 3.2 para resolver o problema

∂u ∂ 2u
ED = 2 2 , 0 ≤ x ≤ 3, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(3, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ 3.
nos casos
 2πx   5πx  π 
(a) f (x) = 4 sen − sen (c) f (x) = −9 cos (2x + 3)
3 3 6
(b) f (x) = 5 sen(4πx) + 2 sen(10πx)

Exercı́cio 2.2
2
Verifique que todas as soluções produto da equação do calor da forma u(x, t) = e−α kt [c1 eαx +
c2 e−αx ] que satisfaçam CF em (3.20) ou CF em (3.23) devem ser nulas.

Exercı́cio 2.3
Resolva o problema

∂u ∂ 2u
ED = 3 2 , 0 ≤ x ≤ 3, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = 0, (3, t) = 0, t ≥ 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ 3

nos casos seguintes:



   
1 2π 5π
(a) f (x) = − 4 cos x + 2 cos x .
3 3 3
(b) f (x) = −13 cos (πx) + 25 cos(2πx)
 
2 2π
(c) f (x) = − sen x .
3

Exercı́cio 2.4
Resolva o problema

∂u ∂ 2u
ED = , −π ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t ∂x2
∂u ∂u
CF u(−π, t) = u(π, t), (−π, t) = (π, t), t ≥ 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = f (x), −π ≤ x ≤ π
nos casos seguintes:
(a) f (x) = 5 cos(x) + 3 sen(8x)
1
(b) f (x) = + cos(2x) − 6 sen(2x)
2
56 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

(c) f (x) = 6 sen(x) − 7 cos(3x) − 7 sen(3x).

Exercı́cio 2.5
Integre (3.21) e (3.24) para concluir que as soluções de (3.20) e de (3.23) satisfazem

1 L
Z
a0
u(x, t)dx = , para todo t ≥ 0.
L 0 2
Que
Z L informação nos dá essa igualdade sobre a energia da barra? Lembre que a integral
u(x, t)dx é proporcional à energia térmica da barra no instante t.
0

Exercı́cio 2.6
Considere a solução u do problema de Neumann homogêneo.

(a) Sem utilizar a expressão das soluções, prove que a energia total da barra
Z L
E(t) = u(x, t) dx.
0

dE
se conserva, ou seja, que ela é independente de t (Sugestão: calcule ).
dt
(b) Use a condição inicial para exprimir E(t) em termos de f (x).
(c) Quais problemas de Neumann não homogêneos terão também a energia E(t) conser-
vada? Você saberia interpretar por quê?

Exercı́cio 2.7
Refaça (a) e (b) do exercı́cio anterior no caso do problema de propagação do calor na
barra circular.

Exercı́cio 2.8
Considere a equação diferencial ordinária

X 00 (x) − λX(x) = 0.

Determine os valores de λ ∈ R para os quais existem soluções não nulas desta equação
que satisfazem as condições de fronteira abaixo. Obtenha também a expressão destas
soluções. Considere L > 0.

(a) X 0 (0) = 0, X(L) = 0. (b) X(0) = 0, X 0 (L) = 0.

Exercı́cio 2.9
(a) Utilize o item (b) do exercı́cio anterior para determinar todas as soluções produto não
nulas da equação do calor satisfazendo as condições de fronteira para o problema
∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u
CF u(0, t) = 0, (L, t) = 0 t ≥ 0;
∂x
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 57

N  
X (n + 1/2)π
(b) Resolva o problema se f (x) = dn sen x para algum inteiro N ≥ 0.
n=0
L

(c) Determine uma solução de

∂u ∂ 2u
ED = 2 2 , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u
CF u(0, t) = 1, (1, t) = 1 t ≥ 0;
∂x

CI u(x, 0) = x + sen( x) + 1, 0 ≤ x ≤ 1.
2

Sugestão: Este problema possui solução estacionária.

Exercı́cio 2.10
Resolva o problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u
CF u(0, t) = d, (L, t) = c t ≥ 0;
∂x
CI u(x, 0) = cx + d, 0 ≤ x ≤ L

onde c e d são constantes dadas.

Exercı́cio 2.11
Assuma que a superfı́cie lateral de uma barra não foi perfeitamente isolada de forma que
o calor consegue sair de cada seção transversal com taxa proporcional à temperatura da
seção. Neste caso a temperatura u deve satisfazer a equação

∂u ∂ 2u
= k 2 − hu
∂t ∂x

para alguma constante h > 0.

∂w ∂ 2w
(a) Prove que se w = w(x, t) satisfaz = k 2 , então u(x, t) = e−ht w(x, t) satisfaz
∂t ∂x
∂u ∂ 2u
= k 2 − hu.
∂t ∂x

(b) Calcule uma solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 − hu, 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0;
XN  nπ 
CI u(x, 0) = bn sen x , 0 ≤ x ≤ L.
n=1
L
58 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

3.2.6 Laboratório III


Tarefas para este laboratório:

• Rode o tutorial lab3 eq:calor.wxm.

• Escreva a expressão das soluções u1 , u2 e u.

• Como se comporta u para valores grandes de t? Que acontece com a energia?

• A função u(x, 0) parece muito com uma outra função. Você sabe qual é esta função?

Você deve entregar as respostas às perguntas acima.

3.2.7 Estudo dirigido II: Propriedades das soluções


Dissipação do calor e unicidade da solução do problema de Dirichlet
Na seções anteriores encontramos soluções do problema de contorno para a equação do
calor no caso da barra com temperaturas dadas nos extremos. Neste estudo dirigido você
vai verifica que as soluções encontradas são as únicas que existem. Suas tarefas são:

• Compreender questões qualitativas como a unicidade e a dependência contı́nua (ou


estabilidade) dos problemas de contorno de EDPs.

• Resolver e entregar os exercı́cios no final desta seção.

Primeiro, para uma função u = u(x, t) que seja solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.

definimos a função
Z L
1
F (t) = u2 (x, t)dx.
2 0

É claro que F (t) ≥ 0. Vamos provar que F é não crescente. Derivando obtemos
Z L
dF 1 ∂ 2
= u (x, t)dx
dt 2 0 ∂t
L Z L
∂ 2u
Z
∂u
= u(x, t) (x, t)dx = k u 2 dx,
0 ∂t 0 ∂x
Z L  2
∂u x=L
∂u
= ku −k dx.
∂x x=0 0 ∂x

Utilizando as condições de fronteira, encontramos que a primeira parcela do termo acima


se anula e obtemos Z L  2
dF ∂u
= −k dx ≤ 0.
dt 0 ∂x
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 59

Portanto, se s > 0 vale


Z t+s
F (t + s) = F (t) = F 0 (t)dt ≤ 0 ⇒ F (t + s) ≤ F (t).
t

1 L 2
Z
Em outras palavras, a quantidade u (x, t)dx decresce ao longo do tempo , ou seja o
2 0
calor se dissipa. Na verdade, o fato de mantermos os extremos da barra com temperaturas
nulas equilibra a distribuição de temperatura de forma que ela vai se aproximando cada
vez mais de zero. Mais adiante provaremos que u(x, t) → 0 quando t → 0.
Com este resultado, podemos provar facilmente a unicidade das soluções para o problema
de Dirichlet.

Teorema 3.1: Unicidade

Sejam u1 e u2 duas soluções C 2 do problema a seguir, onde as funções A, B e f são


funções C 2 dadas:

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = A(t) u(L, t) = B(t), t ≥ 0;
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.

Então u1 (x, t) = u2 (x, t) para todo 0 ≤ x ≤ L e t ≥ 0.

Demonstração. Seja u(x, t) = u1 (x, t)−u2 (x, t). Pelo Princı́pio de Superposição, u satisfaz

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L.

1 L 2
Z
Como sabemos que F (t) = u (x, t)dx não cresce no tempo e como neste caso F (0) =
2 0
0, obtemos que para qualquer t > 0, F (t) ≤ 0 e portanto F (t) = 0 e u ≡ 0.

Princı́pio do Máximo
Se observarmos diferentes soluções da equação do calor, perceberemos que ela tende a
promediar máximos e mı́nimos. Analisando a equação podemos ter uma ideia intuitiva
∂u ∂ 2u
do que acontece. Basicamente, = k 2 significa: A temperatura decresce no tempo
∂t ∂x
quando a distribuição é côncava e ela cresce quando a distribuição é convexa. (Lembre
da figura 3.1.)
De aqui concluimos que se para um instante t0 a temperatura u(x, t0 ) possui um máximo
no interior da barra, esse máximo está decrescendo no tempo e se houver um mı́nimo,
este cresce no tempo. A conclusão é que valores extremos (máximos ou mı́nimos de
temperatura) só podem ser atingidos ou no instante inicial ou nos extremos da barra.
60 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

Figura 3.4: Uma função com este gráfico não pode ser solução da equação do calor

Teorema 3.2: Princı́pio do Máximo para a equação do calor

Se u(x, t) satisfaz o problema de Dirichlet para a equação do calor sobre uma região
0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0, então ela assume seu valor máximo (como função de x e t) ou no
instante inicial ( t = 0) ou nos extremos da barra (onde x = 0 ou x = L).

O mesmo tipo de resultado vale para o mı́nimo de u(x, t). As provas destes resultados
podem ser consultadas em [2], por exemplo.

Exemplo 3.2.6. Utilize o Princı́pio do Máximo para deduzir que a solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = 9 2 , 0 ≤ x ≤ 3, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(3, t) = 0, t ≥ 0;
π
CI u(x, 0) = 6 sen( x) + 2 sen(πx), 0 ≤ x ≤ 3.
3

satisfaz u(x, t) ≤ 4 2.

Solução:
Aqui k = 9 e L = 3. Utilizando a proposição 3.2 obtemos que a solução deste problema

2 π 2
u(x, t) = 6e−π t sen( x) + 2e−9π t sen(πx).
3
Daqui obtemos que u(x, t) ≤ 8, mas precisamos de uma cota melhor.
Como a temperatura vale zero nos extremos da barra, precisamos somente calcular o
máximo da distribuição inicial de temperatura. Derivando f (x) = 6 sen( π3 x) + 2 sen(πx)
obtemos
π 2π π
f 0 (x) = 2π(cos( x) + cos(πx)) = 4π cos( x) cos( x).
3 3 3
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 61

Aqui usamos que cos(α)+cos(β) = 2 cos( 12 (α +β)) cos( 21 (α +β)). Portanto, no intervalo
[0, 3], f 0 (x) = 0 somente quando x = 34 , x = 32 ou x = 94 . O gráfico de f aparece a seguir.

Isso mostra que os valores máximos de f são f ( 34 ) = f ( 94 ) = 4 2.

Figura 3.5: Valores máximos de de f

Repare que o que fizemos é bem mais simples do que calcular o máximo da função
2 2
u(x, t) = 6e−π t sen( π3 x) + 2e−9π t sen(πx) na faixa 0 ≤ x ≤ 3 e t ≥ 0.

2 2
Figura 3.6: Gráfico de u(x, t) = 6e−π t sen( π3 x) + 2e−9π t sen(πx). O máximo é atingido no
instante inicial.

O Princı́pio do Máximo tem várias consequências importantes. Uma delas é o resultado


sobre unicidade das soluções do problema de Dirichlet. (veja o exercı́cio 6 desta seção).
Quando falamos da propagação do calor na barra com temperaturas especificadas nos
extremos e no instante inicial, realmente estamos fazendo uma idealização que não cor-
responde com a realidade. De fato nós tomamos conhecimento sobre a temperatura de
um corpo a través de uma medição feita por um instrumento e que tem uma (pequena)
62 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR

margem de erro. Desta forma, é desejável que para a formulação matemática que fizemos
do problema, pequenas variações nas condições de iniciais e de fronteira resultem em
pequenas variações na solução. Quando isto acontece, dizemos que a solução depende
continuamente das condições iniciais e de fronteira.

Teorema 3.3: Dependência contı́nua das condições de contorno

Sejam u1 e u2 duas soluções dos problemas (0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0)

∂u ∂ 2u
ED = k 2,
∂t ∂x
CF u(0, t) = A1 (t) u(L, t) = B1 (t),
CI u(x, 0) = f1 (x).

∂u ∂ 2u
ED = k 2,
∂t ∂x
CF u(0, t) = A2 (t) u(L, t) = B2 (t),
CI u(x, 0) = f2 (x).

Se para algum ε > 0 vale que |f1 (x) − f2 (x)| ≤ ε para todo x tal que 0 ≤ x ≤ L, e
que |A1 (t) − A2 (t)| ≤ ε e |B1 (t) − B2 (t)| ≤ ε para todo t tal que 0 ≤ t ≤ T , então

|u1 (x, t) − u2 (x, t)| ≤ ε

para todos x e t, com 0 ≤ x ≤ L e 0 ≤ t ≤ T .

A demonstração deste teorema é bastante direta utilizando o Princı́pio do Máximo.


Você pode tentar fazê-la ou se não consultar [2] ou [1]
Este teorema vai nos permitir lidar com um problema que temos nos diferentes proble-
mas de contorno que consideramos até agora pois as condições iniciais consideradas preci-
sam ter uma estrutura muito particular. No próximo capı́tulo veremos como classes bas-
X N  nπ 
tante grandes de funções podem ser aproximadas por somas da forma bn sen x ,
n=1
L
N N h
a0 X  nπ  a0 X  nπ   nπ i
+ an cos x ou + an cos x + bn sen x para N suficientemente
2 n=1 L 2 n=1 L L
grande e para constantes escolhidas apropriadamente. Aproximando a condição inicial f
com um erro irrelevante na prática por uma soma adequada, as proposições 3.2, 3.4 ou
3.6 nos fornecerão soluções corretas no sentido que o erro de aproximação será no máximo
igual ao erro admitido inicialmente.
F Exercı́cio 2.12
3.2. SOLUÇÃO DE ALGUNS PROBLEMAS DE CONTORNO 63

Prove a unicidade das soluções do problema de Neumann

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = a(t) (L, t) = b(t), t ≥ 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.

F Exercı́cio 2.13
Prove a unicidade das soluções do problema de propagação do calor na barra circular.

∂u ∂ 2u
ED = k 2, −L ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF u(−L, t) = u(L, t) (−L, t) = (L, t), t ≥ 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = f (x), −L ≤ x ≤ L.

F Exercı́cio 2.14
Encontre o máximo e o mı́nimo das soluções que você achou no exercı́cio 2.1 desta seção.

F Exercı́cio 2.15
Prove a unicidade das soluções do problema de Dirichlet utilizando o Princı́pio do Máximo.
Sugestão: Qual é o máximo e o mı́nimo nas fronteiras laterais e no instante inicial do
problema de Dirichlet homogêneo com condições de fronteira nulas?
64 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DO CALOR
Capı́tulo 4

Séries de Fourier

No capı́tulo anterior, aprendemos a resolver diferentes problemas de propagação do calor


na barra. O método de resolução que utilizamos, baseado no Princı́pio de Superposição,
introduz restrições sobre a distribuição inicial de temperatura. A maneira de resumo,
apresentamos na tabela a seguir a condição inicial correspondente a cada tipo de condições
de fronteira, para os problemas de contorno considerados em (5.9), (3.20) e (3.23).

Alguns problemas de propagação do calor na barra que já sabemos resolver


Condições de fronteira Estrutura da condição inicial
N
X  nπ 
Temperatura zero nos extremos u(x, 0) = bn sen x
n=1
L
N
a0 X  nπ 
Extremos isolados u(x, 0) = + an cos x
2 n=1
L
N
a0 X h  nπ   nπ i
Barra circular u(x, 0) = + an cos x + bn sen x
2 n=1
L L

Estes resultados nao podem ser considerados totalmente satisfatórios uma vez que eles
não nos permitem considerar como condição inicial funções muito simples. Por exemplo,
nós saberı́amos encontrar a temperatura em cada instante de uma barra de comprimento
1 com extremos mantidos a temperatura zero, se sua temperatura inicial fosse f (x) =
2 sen(4πx) − 5 sen(7πx), mas não saberı́amos fazer isto se a temperatura inicial fosse
f (x) = x(1 − x).
Podemos então, no lugar de considerarmos funções f da forma
N
a0 X h  nπ   nπ i
f (x) = + an cos x + bn sen x ,
2 n=1
L L

admitirmos somas infinitas, ou seja



a0 X h  nπ   nπ i
f (x) = + an cos x + bn sen x
2 n=1
L L

e estudar então funções que possam ser representadas desta forma. Para tais condições

65
66 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

iniciais parece natural analisar em que sentido seria válida uma solução com a expressão

a0 X −( nπ )2 kt h  nπ   nπ i
u(x, t) = + e L an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L

No entanto, séries infinitas devem ser tratadas com mais cuidado do que somas finitas
e por isso esta construção formal precisa ser fundamentada rigorosamente. As questões
principais são:

• Dada uma função f , como calculamos seus coeficientes de Fourier an e bn ?

• Quando converge uma série de Fourier?

• Que tipo de funções f podemos representar usando séries de Fourier?

• A função obtida inserindo as exponenciais nos somandos da série de Fourier da


temperatura inicial é de fato uma solução do problema de contorno para a equação
do calor?

Responderemos estas perguntas ao longo do capı́tulo.

4.1 Definição e exemplos


4.1.1 Definição da série de Fourier
Vimos que a teoria das séries de Fourier nos serve como ferramenta para resolver equações
diferenciais parciais. Começaremos estudando como representar uma função f como a
série trigonométrica

a0 X h  nπ   nπ i
+ an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L
A nossa primeira tarefa é a de obtermos fórmulas para os coeficientes an e bn em termos
da função f . Para isto, vamos supor que

a0 X h  nπ   nπ i
f (x) = + an cos x + bn sen x . (4.1)
2 n=1
L L

e que podemos trocar o sinal de integração com o de somatório infinito.


Vamos começar pelo cálculo de a0 . Para isto, integraremos a ambos lados de (4.1) entre
−L e L.

( ∞
)
Z L Z L
a0 X h  nπ   nπ i
f (x)dx = + an cos x + bn sen x dx
−L −L 2 n=1
L L
Z L ∞ Z L h
a0 X  nπ   nπ i
= dx + an cos x + bn sen x dx
2 −L n=1 −L
L L
X∞  Z L  nπ  Z L  nπ  
= a0 L + an cos x dx + bn sen x dx .
n=1 −L L −L L
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 67

Utilizando agora que para n = 1, 2, . . . ,


Z L  nπ 
cos x dx = 0, (4.2)
−L L
Z L  nπ 
sen x dx = 0. (4.3)
−L L
Z L
Obtemos que f (x)dx = a0 L e portanto
−L
Z L
1
a0 = f (x)dx.
L −L

Suponhamos que queremos calcular agora o coeficiente a1 . Multiplicaremos


 nπ ambos
 lados
de (4.1) pela função que acompanha a1 no somatório, ou seja por cos x e depois
L
integraremos de novo entre −L e L.

Z L π  Z L( ∞
)
a0 X h  nπ   nπ i π 
f (x) cos x dx = + an cos x + bn sen x cos x dx
−L L −L 2 n=1
L L L
Z L Z LX ∞ h
a0  π   nπ  π   nπ   π i
= cos x dx + an cos x cos x + bn sen x cos x dx
2 −L L −L n=1 L L L L
∞ 
a0 L
Z π  X Z L  nπ  π  Z L  nπ  π  
= cos x dx + an cos x cos x dx + bn sen x cos x dx .
2 −L L n=1 −L L L −L L L
Z L π 
Pela igualdade (4.2) com n = 1 obtemos que cos x dx = 0. As outras integrais
−L L
que precisamos podem ser calculadas usando
Z L  nπ   mπ 
sen x cos x dx = 0, n = 1, 2, . . . , m = 0, 1, 2, . . . ; (4.4)
−L L L
Z L  nπ   mπ 
cos x cos x dx = 0, n = 0, 1, 2, . . . , m = 0, 1, 2, . . . , n 6= m; (4.5)
−L L L
Z L  nπ   mπ 
sen x sen x dx = 0, n = 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . . , n 6= m (4.6)
−L L L
e também
Z L
dx = 2L; (4.7)
−L
Z L  nπ 
cos2 x dx = L; (4.8)
−L L
Z L
2 nπ
 
sen x dx = L. (4.9)
−L L
No exercı́cio 6 desta seção pedimos para verificar todas estas igualdades. Concluı́mos
então que
Z L
1 L
π  Z π 
f (x) cos x dx = a1 L ⇒ a1 = f (x) cos x dx.
−L L L −L L
68 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

De forma geral, para obter qualquer coeficiente, devemos multiplicar pelo seno ou
cosseno que o acompanha dentro do somatório, integrar entre −L e L e depois utilizar as
igualdades listadas acima. Isto tudo motiva a seguinte definição.

Definição 4.1: Série de Fourier

Seja f : [−L, L] → R uma função tal que todas as integrais

1 L
Z  nπ 
an = f (x) cos x dx, n ≥ 0; (4.10)
L −L L
1 L
Z  nπ 
bn = f (x) sen x dx, n ≥ 1. (4.11)
L −L L

estejam bem definidas. Então



a0 X h  nπ   nπ i
Sf (x) = + an cos x + bn sen x (4.12)
2 n=1
L L

chama-se de série de Fourier de f .


Os valores em (4.10) e (4.11) são chamados de coeficientes de Fourier de f .

Convém fazer alguns comentários sobre esta definição:

• A série de Fourier é o limite das somas parciais

N
a0 X h  nπ   nπ i
SN f (x) = + an cos x + sen x , (4.13)
2 n=1
L L

ou seja, Sf (x) = lim SN f (x).


N →∞

• Na definição não se afirma nada sobre a convergência da série. De fato, existem


exemplos (que dificilmente apareceriam na prática) de funções cuja série de Fourier
diverge para muitos valores de x (veja o exemplo 4.2.4).

• Poderia acontecer que alguns dos coeficientes de Fourier não estivessem definidos,
por exemplo se f for não limitada e alguma das integrais em (4.10) ou (4.11) for uma
integral imprópria divergente. Uma maneira de garantirmos que todos os coeficientes
de Fourier estão bem definidos é exigindo que f seja absolutamente integrável, ou
seja que
Z L
|f (x)|dx < ∞.
−L
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 69

Nesse caso teremos que

1 L L
Z  nπ  Z
1  nπ 
|an | = | f (x) cos x dx| ≤ |f (x) cos x |dx (4.14)
L −L L L −L L
1 L
Z
≤ |f (x)|dx (4.15)
L −L
1 L L
Z  nπ  Z
1  nπ 
|bn | = | f (x) sen x dx| ≤ |f (x) sen x |dx (4.16)
L −L L L −L L
1 L
Z
≤ |f (x)|dx. (4.17)
L −L

Portanto, além de todos os coeficientes de Fourier existirem, obtemos que eles devem
1 L
Z
ser limitados pela constante |f (x)|dx.
L −L

• Na definição consideramos uma função definida no intervalo [−L, L] para atender o


caso em que f representa a temperatura inicial no problema de propagação do calor
numa barra circular. Mais adiante veremos como podemos adaptar esta teoria ao
caso em que f está definida sobre o intervalo [0, L].

Lembremos que uma função g : R → R é dita periódica se existe T ∈ R tal que

g(x + T ) = g(x), para todo x ∈ R.

T é chamado de perı́odo de g. O menor dos perı́odos positivos é chamado de perı́odo


fundamental.
Possivelmente as funções periódicas mais conhecidassão oseno e o cosseno,
 nπ  cujo perı́odo

fundamental é T = 2π. Cada função da forma an cos x + bn sen x tem perı́odo
L L
2L pois
 nπ   nπ   nπ   nπ 
an cos x + bn sen x = an cos x + 2nπ + bn sen x + 2nπ
L L L
 nπ  L
 nπ 
= an cos (x + 2L) + bn sen (x + 2L) .
L L

Portanto, as somas parciais em (4.13) também terão perı́odo 2L, quando consideradas
como funções definidas sobre a reta toda. Isto significa que a série de Fourier Sf , se ela
convergir, será uma função de perı́odo 2L. Por isso faz sentido também definir a série de
Fourier para funções de perı́odo 2L. A definição é exatamente a mesma.
Vejamos alguns exemplos.

Exemplo 4.1.1. Calculemos a série de Fourier de



 1, 0 ≤ x < L;
f (x) = 0, −L ≤ x < 0;
periódica com perı́odo 2L.

Solução: A função f é absolutamente integrável em [−L, L], portanto todos seus coefi-
70 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

cientes de Fourier existem.


1 L
Z
a0 = dx = 1
L 0
1 L
Z  nπ  1  nπ  L
an = cos x dx = sen x =0

L 0 L nπ L 0
Z L
1  nπ  1  nπ L

bn = sen x dx = − cos x
L 0 L nπ L 0
1 1
= (1 − cos(nπ)) = (1 − (−1)n )

 2 nπ

, n ı́mpar;
=
0, n par.

As estimativas feitas em (4.14)-(4.17) nos permitem concluir apenas que em módulo, os


RL
coeficientes de Fourier desta função são no máximo iguais a 0 dx = L. No entanto, após
fazermos os cálculos vemos que an converge para zero e bn também. Mais do que isso,
podemos afirmar que a velocidade de convergência para zero será como uma constante
1
vezes .
n
A série de Fourier da função f será

1 1 X 1 − (−1)n  nπ 
Sf (x) = + sen x .
2 π n=1 n L

2
Como b2k = 0 e b2k−1 = , podemos escrever a mesma série na forma
(2k − 1)π
∞  
1 2X 1 (2k − 1)π
Sf (x) = + sen x .
2 π k=1 2k − 1 L
Podemos também calcular algumas somas parciais de Fourier. Por exemplo:
1 2 π 
S1 f (x) = + sen x = S2 f (x)
2 π L    
1 2 π  2 3π 2 5π
S5 f (x) = + sen x + sen x + sen x = S6 f (x).
2 π L 3π L 5π L

Na figura 4.1 representamos o gráfico de f junto com algumas somas parciais de Fourier.
Podemos perceber que as somas parciais de Fourier parecem se aproximar de uma função
descontı́nua que coincide com f sobre os intervalos da forma (jL, (j + 1)L), j ∈ Z e que
1
vale nos extremos destes intervalos pois nesses pontos, todas somas parciais tomam esse
2
valor.

Vejamos agora outro exemplo.

Exemplo 4.1.2. Vamos obter agora a série de Fourier de



x, 0 ≤ x ≤ L;
f (x) =
0, −L < x < 0.

Solução:
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 71

Figura 4.1: Somas parciais da série de Fourier de f

Calculemos os coeficientes de Fourier de f .

1 L 1 x2 L L
Z
a0 = xdx = = ;
L 0 L 2 0 2
Z L Z L
1  nπ  1n L  nπ  L L  nπ  o
an = x cos x dx = x sen x − sen x dx

L 0 L L nπ L 0 nπ 0 L
L  nπ  L L((−1)n − 1)
= 2 2 cos x =

nπ L 0 n2 π 2
Z L Z L
1  nπ  1 n −L  nπ  L L  nπ  o
bn = x sen x dx = x cos x + cos x dx

L 0 L L nπ L 0 nπ 0 L
L (−1)n+1 L
=− cos(nπ) = .
nπ nπ
Neste exemplo, a partir da cota obtida nas estimativas (4.14)-(4.17) poderı́amos afirmar
Z L
L2
apenas que |an | e |bn | são limitadas superiormente por xdx = . No entanto, após
0 2
calcularmos os coeficientes, vemos que bn converge para zero como uma constante vezes
1
n
e que an o faz ainda mais rápido, como uma constante vezes n12 . Então,
∞ 
L L X ((−1)n − 1)  nπ  (−1)n+1  nπ 
Sf (x) = + cos x + sen x (4.18)
4 π n=1 n2 π L n L

2L
(
− , n ı́mpar;
ou ainda, observando que an = n2 π 2
0, n par,
∞ ∞
L X (−1)n+1
 
L 2L X 1 (2k − 1)π  nπ 
Sf (x) = − 2 cos x + sen x . (4.19)
4 π k=1 (2k − 1)2 L π n=1 n L
72 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Figura 4.2: Algumas somas parciais da série de Fourier de f

Algumas somas parciais de Fourier são


L 2L π  L π 
S1 f (x) = − 2 cos x + sen x ,
4 π L π L    
L 2L π  L π  L 2π 2L 3π
S4 f (x) = − 2 cos x + sen x − sen x − 2 cos x
4 π L π L 2π L 9π L
   
L 3π L 4π
+ sen x − sen x .
3π L 4π L

Neste exemplo, as somas parciais SN f parecem se aproximar de f no interior do inter-


valo [−L, L] e não nos extremos. Tudo indica que Sf será uma função de perı́odo 2L
descontı́nua nos pontos que são múltiplos ı́mpares de L.
Além disto, também podemos observar

Os exemplos apresentados sugerem que teremos convergência da série de Fourier nesses


casos para uma função muito parecida com a função que estamos expandindo. Estudare-
mos um critério de convergência para as séries de Fourier na seção 4.2.

4.1.2 Polinômios trigonométricos


As funções g1 (x) = 3 cos x−5 sen 2x, g2 (x) = 7 sen 2πx−4 sen 3πx e g3 (x) = 2+3 cos 4πx−
9 cos 7πx são exemplos de funções chamadas de polinômios trigonométricos.
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 73

Definição 4.2

Uma função
N
a0 X h  nπ   nπ i
g(x) = + an cos x + bn sen x (4.20)
2 n=1
L L
com aN 6= 0 ou bN 6= 0 chama-se de polinômio trigonométrico de ordem N e
perı́odo 2L.

Qual será a série de Fourier de um polinômio trigonométrico?


Consideremos um polinômio trigonométrico como definido em (4.20). De forma parecida
a como fizemos antes da definição 4.1, utilizando as igualdades (4.2)-(4.6) e (4.7)-(4.9)
temos que os coeficientes de Fourier até o ı́ndice N coincidem com os coeficientes de g.
Além disto, para n > N os coeficientes de Fourier desta função se anulam e obtemos

Proposição 4.1

Todo polinômio trigonométrico de ordem N e perı́odo 2L é sua própria série de


Fourier.

Exemplo 4.1.3. A função constante g ≡ 1 é um polinômio trigonométrico de ordem


N = 0 e perı́odo 2L para qualquer L > 0. Portanto, esta função coincide com sua série
de Fourier.
A função g(x) = 3 cos(2πx) − sen(4πx) é um polinômio trigonométrico de ordem N =
4 e perı́odo 2. Portanto, ela também coincide com sua série de Fourier. Seus únicos
coeficientes de Fourier não nulos são a2 = 3 e b4 = −1.

Exemplo 4.1.4. A função g(x) = sen2 (x) também é um polinômio trigonométrico de


ordem N = 2 e de perı́odo 2π. Para verificar isto, utilizamos a identidade

1 − cos(2α)
sen2 (α) =
2

1 1
e obtemos que g(x) = − cos(2x).
2 2
Portanto, os únicos coeficiente não nulos de g são a0 = 1 e a2 = − 12 . Usando as
fórmulas dos coeficientes de Fourier obtemos que

Z π Z π
1 2
sen (x)dx = 1 ⇒ sen2 (x)dx = π
π −π
Z π Z−π
π
1 1 π
sen2 (x) cos(2x)dx = − ⇒ sen2 (x) cos(2x)dx = −
π −π 2 2
Z π Z−π
π
1
sen2 (x) cos(nx)dx = 0 ⇒ sen2 (x) cos(nx)dx = 0, n = 1, 3, 4 . . .
π −π
Z−π
1 π π
Z
sen2 (x) sen(nx)dx = 0 ⇒ sen2 (x) sen(nx)dx = 0, n = 1, 2, . . . .
π −π −π
74 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

FPor que os polinômios trigonométricos se chamam assim?


1 1
Exemplo 4.1.5. No exemplo anterior vimos que g(x) = − cos(2x) = sen2 (x),
2 2
portanto, g(x) = p(cos x, sen x), onde p(x, y) = y 2 .

Um exemplo um pouco mais complicado é apresentado a seguir.

Exemplo 4.1.6. Consideremos o polinômio trigonométrico de ordem 5 e perı́odo π


1 3
f (x) = + sen(2x) − cos(5x).
2 2
Sabemos que sen(2x) = 2 cos(x) sen(x). Queremos exprimir cos(5x) também como função
de cos(x) e sen(x).
Pela fórmula de Euler temos que eix = cos(x) + i sen(x). Elevando à potência 5 nos
dois lados e aplicando a fórmula do Binômio de Newton obtemos

ei5x = (cos(x) + i sen(x))5


= cos5 (x) + 5 cos4 (x)(i sen(x)) + 10 cos3 (x)(i sen(x))2 + 10 cos2 (x)(i sen(x))3 +
5 cos(x)(i sen(x))4 + (i sen(x))5
= cos5 (x) + 5i cos4 (x) sen(x) − 10 cos3 (x) sen2 (x) − i10 cos2 (x) sen3 (x)+
5 cos(x) sen4 (x) − i sen5 (x)
= [cos5 (x) − 10 cos3 (x) sen2 (x) + 5 cos(x) sen4 (x)]+
i[5 cos4 (x) sen(x) − 10 cos2 (x) sen3 (x) − sen5 (x)]

Como, pela fórmula de Euler vale

ei5x = cos(5x) + i sen(5x),

resulta que
cos(5x) = cos5 (x) − 10 cos3 (x) sen2 (x) + 5 cos(x) sen4 (x).
Substituindo essa expressão e a fórmula para sen(2x) na função f , obtemos
1 3 15
f (x) = + 2 cos(x) sen(x) − cos5 (x) + 15 cos3 (x) sen2 (x) − cos(x) sen4 (x).
2 2 2
Se considerarmos o polinômio de duas variáveis
1 3 15
p(x, y) = + 2xy − x5 + 15x3 y 2 − xy 4 ,
2 2 2
temos que
f (x) = p(cos(x), sen(x)).

Nos exemplos acima pudemos representar um polinômio trigonométrico como a com-


posição de um polinômio em duas variáveis com as funções trigonométricas seno e cosseno.
Isto vale em geral para todo polinômio trigonométrico e daı́ vem esse nome. A demons-
tração segue a ideia desenvolvida no exemplo.
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 75

Proposição 4.2

Todo polinômio trigonométrico de perı́odo 2L e ordem N é a composição de algum


polinômio p de duas variáveis e de grau N com as funções cos Lπ x e sen Lπ x .


A passagem de polinômios trigonométricos para as séries de Fourier é análoga à pas-


sagem de polinômios para séries de potências. Lembremos que a série de Taylor de uma
função f infinitamente diferenciável no ponto x = 0 é

X
n
c0 + c1 x + · · · + cn x + · · · = cn x n ,
n=0

f (n) (0)
onde cn = . As somas parciais de uma série de potências
n!
n
X
n
pn (x) = c0 + c1 x + · · · + cn x = ck x k ,
k=0

são polinômios.
Embora aparentemente similares, de fato as teorias que estudam estes dois tipos de séries
são significativamente diferentes. A teoria das séries de potências ficou bem estabelecida
desde a época da origem do cálculo, enquanto que ainda certas questões sobre as séries
de Fourier precisam ser bem compreendidas.
Uma série de potências na variável x, ou converge em todos os pontos ou converge em
um intervalo centrado no zero ou converge apenas quando x = 0. Por outro lado, uma
série de Fourier pode convergir em conjuntos bastante bizarros. Além disto, se uma série
de potências converge, ela o faz para uma função analı́tica cujas derivadas são obtidas
derivando a série termo a termo, enquanto as séries de Fourier podem convergir para
funções que não são contı́nuas e quando elas são deriváveis nem sempre é possı́vel derivar
termo a termo.

4.1.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
Calcule a série de Fourier das funções a seguir, definidas no intervalo indicado.

(a) f (x) = 3x + 1, −L ≤ x ≤ L;

(b) f (x) = |x|, −L ≤ x ≤ L;

(c) f (x) = | sen(x)|, −π ≤ x ≤ π;

(d) f (x) = x2 , −L ≤ x ≤ L;

(e) f (x) = x3 , −L ≤ x ≤ L;

(f) f (x) = x3 − L2 x, −L ≤ x ≤ L;

(g) f (x) = x cos x, −π ≤ x ≤ π.


76 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

(h) f (x) = ex , −π ≤ x ≤ π.

Exercı́cio 1.2
Obtenha as séries de Fourier das funções abaixo sem calcular nenhuma integral.

(a) f (x) = sen3 (x), −π ≤ x ≤ π;

(b) f (x) = cos(πx) sen(πx), −1 ≤ x ≤ 1;

(c) f (x) = sen(x)[sen(x) + cos(x)]2 , −π ≤ x ≤ π;

Sugestão: Utilize fórmulas trigonométricas.

Exercı́cio 1.3
Calcule a série de Fourier das funções a seguir, definidas no intervalo [−π, π].

1, |x| ≤ π2 ;

(a) f (x) =
0, caso contrário.

1, 21 π < |x| ≤ π;

(b) f (x) =
0, caso contrário.

1, 21 π < x ≤ π;

(c) f (x) = ;
0, caso contrário.

x, |x| ≤ π2 ;

(d) f (x) =
0, caso contrário.

cos(x), |x| ≤ π2 ;

(e) f (x) =
0, caso contrário.

sen(x), 0 ≤ x ≤ π;
(f) f (x) = .
0, caso contrário.

Exercı́cio 1.4
Verdadeiro ou falso? Justifique

(a) A série de Fourier da função 2f (x) é obtida multiplicando cada termo na série de
Fourier de f (x) por 2.

(b) A série de Fourier da função f (2x) é obtida substituindo x por 2x na série de Fourier
de f (x).

(c) Os coeficientes de Fourier de f (x) + g(x) se calculam somando os coeficientes corres-


pondentes de f (x) e de g(x).

(d) Os coeficientes de Fourier de f (x) · g(x) se calculam multiplicando os coeficientes


correspondentes de f (x) e g(x).
4.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS 77

Exercı́cio 1.5
nπ nπ
 
Considere a função fn (x) = an cos L
x , com n ∈ N.
+ bn sen L
x
 nπ   nπ  2L
(a) Verifique que o perı́odo fundamental das funções cos x e sen x é , onde
L L n
n ∈ N.
(b) Chame de (An , ϕn ) às coordenadas polares do ponto P = (bn , an ), ou seja, An =
(a2n + b2n )1/2 , bn = An cos ϕn e an = An sen ϕn . Prove que
 nπ 
fn (x) = An sen x + ϕn . (4.21)
L
Ou seja, os somandos na série de Fourier são funções senoidais com amplitude An e
fase ϕn .

Exercı́cio 1.6
Verifique as igualdades (4.2)-(4.9) utilizando as identidades trigonométricas a seguir
1 + cos(2α)
cos2 (α) = (4.22)
2
1 − cos(2α)
sen2 (α) = (4.23)
2
sen(α + β) + sen(α − β)
sen(α) cos(β) = (4.24)
2
cos(α − β) − cos(α + β)
sen(α) sen(β) = (4.25)
2
cos(α + β) + cos(α − β)
cos(α) cos(β) = . (4.26)
2

Exercı́cio 1.7
(a) Verifique que
3 1
cos3 x = cos x + cos 3x.
4 4
Para isto, você pode usar a identidade (4.22) ou o procedimento do exemplo 4.1.6.
(b) Sem calcular nenhuma integral, escreva os valores dos coeficientes de Fourier de cos3 x.
Perceba que cos3 x é uma função 2π-periódica, ou seja, aqui L = π.
Z π

(c) Deduza da relação anterior que cos3 (x) cos(x)dx = e que
Z π −π 4
π
cos3 (x) cos(3x)dx = .
−π 4

F Exercı́cio 1.8
Para cada um dos polinômios trigonométricos abaixo, calcule o perı́odo fundamental. A
seguir encontre um polinômio de duas variáveis p(x, y) tal que g(x) = p(cos(x), sen(x)).
(a) g(x) = 1 + sen(2x) + cos(2x);
(b) g(x) = − sen(x) + cos(4x);
78 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

4.2 Convergência das séries de Fourier


4.2.1 Funções contı́nuas por partes e suaves por partes
Antes de formular o critério de convergência das séries de Fourier, precisamos fazer uma
pequena revisão sobre as funções contı́nuas por partes.
Lembremos que para uma função f , definida em um intervalo aberto contendo o ponto
x0 , denotamos por f (x0 −) o limite de f (x), quando x se aproxima de x0 pela esquerda.
Analogamente, f (x0 +) denota o limite de f (x), quando x se aproxima de x0 pela direita

f (x0 −) = lim f (x), f (x0 +) = lim f (x).


x→x0 − x→x0 +

f tem uma descontinuidade de tipo salto em x = x0 se f (x0 −) 6= f (x0 +) e nesse caso


a diferença f (x0 +) − f (x0 −) é chamada de salto de f nesse ponto. Observe que o salto
de f independe do valor de f (x0 ).

Figura 4.3: Uma função com um salto em x0 = 1

Definição 4.3

Uma função f : R → R é contı́nua por partes se ela tiver no máximo um número


finito de descontinuidades, todas elas de tipo salto em cada intervalo da forma [a, b].
Se tanto f quanto sua derivada (ali onde ela exista) forem contı́nuas por partes,
dizemos que f é suave por partes.

Exemplo 4.2.1. As funções contı́nuas são contı́nuas por partes. O número de desconti-
nuidades de tipo salto em cada intervalo [a, b] é zero.
 1
x
, x 6= 0;
Exemplo 4.2.2. A função f (x) = não é contı́nua por partes pois seu
0, x = 0.
limite quando x → 0+ não existe.
O gráfico de uma função suave por partes pode ser de vários tipos. Se f tem primeira
derivada contı́nua, a inclinação da tangente ao seu gráfico em cada ponto muda continua-
mente, sem saltos. Por isso o gráfico de uma função deste tipo é uma curva contı́nua sem
“ quinas”. (veja a figura 4.4(a))
Se f for contı́nua, mas f 0 possuir descontinuidades de tipo salto, teremos um gráfico
sem saltos, mas com “ quinas” nos pontos onde f 0 é descontı́nua, pois nesses pontos a
4.2. CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER 79

tangente vai se aproximar de dois valores distintos pela direita e pela esquerda. (veja a
figura 4.4(b))
Se tanto f quanto f 0 possuı́rem descontinuidades de tipo salto, o gráfico de f terá
saltos nas suas descontinuidades e terá “ quinas” nas descontinuidades da derivada. (veja
a figura 4.4(c))

Figura 4.4: Funções suaves por partes

4.2.2 Um critério de convergência


A seguir veremos um resultado que nos fornece condições sobre a função f que garantem
que sua série de Fourier converge.

Teorema 4.1

(Critério de convergência das séries de Fourier) A série de Fourier de uma função


f : R → R de perı́odo 2L, suave por partes, converge para todos os valores de x. A
soma da série vale f (x) em cada ponto de continuidade e vale
1
(f (x+) + f (x−))
2
em cada ponto de descontinuidade de f .
Em particular, se além de suave por partes, f for contı́nua, teremos que Sf (x) =
f (x) para todo x ∈ R.

Exemplo 4.2.3. No exemplo (4.1.1) obtivemos a série de Fourier da função



 1, 0 ≤ x < L;
f (x) = 0, −L ≤ x < 0 ou x = L;
periódica com perı́odo 2L.

Esta função é descontı́nua somente nos pontos da forma x = jL, com j ∈ Z. Em cada
um deles os limites laterais existem e valem 0 e L. A derivada de f existe fora desses
80 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

pontos e é igual a zero. Portanto, as hipóteses do teorema são satisfeitas e obtemos que

 1, 2jL < x < (2j + 1)L;
Sf (x) = 0, (2j − 1)L < x < 2jL;
1/2, x = jL, j ∈ Z; .

Figura 4.5: Convergência da série de Fourier de f

As séries de Fourier às vezes nos permitem obter somas de séries numéricas. Observe
que neste caso se 0 < x < L,
∞   ∞  
1 2X 1 (2k − 1)π X 1 (2k − 1)π π
+ sen x =1⇒ sen x =
2 π k=1 2k − 1 L k=1
2k − 1 L 4
 
(2k − 1)π
Se substituirmos na expressão acima um valor de x tais que sen x seja
L
simples de se
 calcular, poderemos
 deduzir a soma
  de uma série numérica. Por exemplo, se
L (2k − 1)π (2k − 1)π  π 
x = , sen x = sen = sen − + kπ = (−1)k+1 , portanto,
2 L 2 2

X (−1)k+1 π
= .
k=1
2k − 1 4

Exemplo 4.2.4. Consideremos a função f (x) = − ln |2 sen(x/2)|. A princı́pio, ela não


estaria definida nos pontos onde sen(x/2) = 0, ou seja, nos pontos da forma x = 2kπ,
k ∈ Z. No entanto, este problema pode ser resolvido facilmente assumindo que nesses
pontos f vale zero. f tem perı́odo 2π e é absolutamente integrável (veja o exercı́cio 6).
Seus coeficientes de Fourier são a0 = 0, an = n1 e bn = 0, n = 1, 2, . . . , ou seja

X cos(nx)
Sf (x) = .
n=1
n
4.2. CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER 81

Portanto, se k ∈ Z,
∞ ∞
X cos(2nkπ) X 1
Sf (2kπ) = = = ∞.
n=1
n n=1
n

Ou seja, a série de Fourier de f diverge em um número infinito de valores de x. Isto não


contradiz o teorema 4.1 pois f não é contı́nua por partes uma vez que

lim f (x) = ∞, k ∈ Z.
x→2kπ

Por outro lado, a análise gráfica (veja a figura 4.7) de algumas somas parciais de Fourier

Figura 4.6: A função f (x) = − ln |2 sen(x/2)| não é contı́nua por partes

desta série nos leva a conjecturar que nos valores de x onde f é contı́nua vale Sf (x) =
f (x). Isto é verdade, mas não podemos concluı́-lo usando o teorema 4.1.
Vale a pena também fazer uma observação sobre os coeficientes de Fourier. Usando as
estimativas (4.14)-(4.17) concluirı́amos apenas que os coeficientes de Fourier de f teriam
que ser menores ou iguais que a constante
Z π
| ln |2 sen(x/2)||dx ≤
−π
No entanto, após fazermos os cálculos, obtemos que eles convergem para zero com
velocidade n1 .
Suponha agora que f : [−L, L] → R é contı́nua por partes e sua derivada também.
Podemos estender esta função periodicamente sobre a reta toda de forma a obtermos uma
função fper que tem perı́odo 2L. fper coincidirá com f no intervalo (−L, L). O valor de fper
nos extremos de este intervalo pode ser escolhido de diferentes formas, pois precisaremos
que fper (−L) = fper (L), mas isto não vai influenciar nos valores dos coeficientes de Fourier.
[figura com fp er em cada caso]
Claramente a série de Fourier de f coincide com a de fper , sua extensão periódica. Além
0
disto, fper e fper também serão contı́nuas por partes. Pelo teorema (4.1), obtemos que
82 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Figura 4.7: Somas parciais de Fourier de f (x) = − ln |2 sen(x/2)|

a série de Fourier de f converge em todos os pontos. Além disto, se −L < x < L, ela
f (x+) + f (x−)
convergirá para f (x) nos pontos de continuidade e para nos pontos de
2
descontinuidade. Mas que ocorrerá nos extremos do intervalo?
Nesses pontos teremos que
fper (−L−) = f (L−), fper (L−) = f (L−)
fper (−L+) = f (−L+), fper (L+) = f (−L+).
Então

fper (L+) + fper (L−) f (−L+) + f (L−)


Sf (L) = Sfper (L) = = .
2 2
e como Sf tem perı́odo 2L, também vale que
f (−L+) + f (L−)
Sf (−L) = .
2
Temos então o seguinte resultado.

Teorema 4.2

Se f : [−L, L] → R é contı́nua por partes e tem derivada também contı́nua por partes,
então

(a) sua série de Fourier converge para todos os valores de x ∈ R;

(b) vale 
 f (x+) + f (x−) , −L < x < L;

Sf (x) = 2 (4.27)
f (−L+) + f (L−)
, x = L ou x = −L.


2
4.2. CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER 83

Em particular, se além de suave por partes, f é contı́nua e se f (−L) = f (L),


teremos que Sf (x) = f (x) para todo x ∈ [−L, L].

Podemos interpretar a série de Fourier de uma função suave por partes, definida sobre
um intervalo [−L, L], como sua extensão periódica mais imparcial pois nos extremos do
intervalo ela escolhe o valor médio entre os dois limites laterais de f .

Exemplo 4.2.5. No exemplo 4.1.2 obtivemos a série de Fourier da função



x, 0 ≤ x ≤ L;
f (x) =
0, −L ≤ x < 0.

Esta função é contı́nua e sua derivada vale 0 sobre o intervalo (−L, 0) e 1 sobre (0, L).
Portanto, f 0 é contı́nua por partes. Como f (−L) = 0 e f (L) = L a série de Fourier de f
vai apresentar descontinuidades nos pontos da forma x = (2k − 1)L, k ∈ Z e além disto
vale 
 x, 0 ≤ x < L;
Sf (x) = 0, −L < x < 0.
 L
2
, x = −L ou x = −L.

Figura 4.8: Convergência da série de Fourier de f

4.2.3 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1
Para todas as funções cujas séries de Fourier você calculou nos exercı́cios 1 (a), (c) e (h)
e 3 (a), (b) e (c) na seção anterior,

(a) Explique por que estas funções satisfazem as hipóteses do teorema 4.2.

(b) Escreva a expressão de Sf (x) para x ∈ [−L, L].


84 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

(c) Em quais pontos x do intervalo [−L, L] vale que f (x) = Sf (x)?


(d) Esboce o gráfico de Sf (x) no intervalo [−3L, 3L].

Exercı́cio 2.2
Utilize o teorema 4.2 para concluir que no exemplo 4.3.3,

2L X (−1)n+1  nπ   x, −L < x < L;
Sf (x) = sen x =
π n=1 n L 0, x = −L ou x = L.
Esboce o gráfico de Sf (x) no intervalo [−3L, 3L].

Exercı́cio 2.3
Utilize o teorema 4.2 para concluir que no exemplo 4.3.4, se x ∈ [−L, L],

L2 2L X [(−1)n − 1]  nπ 
Sf (x) = + 2 cos x = |x|.
2 π n=1 n2 L
Esboce o gráfico de Sf (x) no intervalo [−3L, 3L].

Exercı́cio 2.4
Considere a função f (x) = − ln |2 sen(x/2)|.
(a) Prove que f é 2π- periódica.
(b) Verifique que
lim f (x) = ∞, k ∈ Z.
x→2kπ

(c) F Verifique que f é integrável.


(d) F Calcule os coeficientes de Fourier de f .

4.3 Propriedades das séries de Fourier


4.3.1 Operações com as séries de Fourier
Para obter a série de Fourier de uma soma ou de uma diferença de duas funções com séries
de Fourier conhecidas, é suficiente somar ou subtrair as duas séries. De fato, suponhamos
que

a0 X h  nπ   nπ i
Sf (x) = + an cos x + bn sen x ,
2 n=1
L L

a˜0 X h  nπ   nπ i
Sg(x) = + ãn cos x + b̃n sen x .
2 n=1
L L
Então os coeficientes de Fourier αn e βn da função f ± g estão dados por
1 L
Z  nπ 
αn = [f (x) ± g(x)] cos x dx
L −L L
1 L 1 L
Z  nπ  Z  nπ 
= f (x) cos x dx ± g(x) cos x dx
L −L L L −L L
= an ± ãn .
4.3. PROPRIEDADES DAS SÉRIES DE FOURIER 85

e de maneira similar podemos obter que βn = bn ± b̃n .


Da mesma forma, podemos provar também que a série de Fourier da função cf , onde
c ∈ R, é obtida a partir da série de Fourier da f , multiplicando todos seus termos pela
constante c.

Exemplo 4.3.1. No exercı́cio 1 da seção anterior, você obterá que a série de Fourier de
f (x) = ex , −π ≤ x ≤ π é
∞ 
(−1)n n(−1)n

1 2 X
senh(π) + senh(π) 2+1
cos(nx) − 2 sen(nx) .
π π n=1
n n + 1

A partir daqui, não é difı́cil concluir (tente fazê-lo!!) que a série de Fourier de g(x) =
e−x , −π ≤ x ≤ π é
∞ 
(−1)n n(−1)n

1 2 X
senh(π) + senh(π) cos(nx) + 2 sen(nx) .
π π n=1
n2 + 1 n +1

Somando estas séries e multiplicando por 1/2, obtemos a série de Fourier de cosh(x) =
ex + e−x
, −π ≤ x ≤ π:
2

1 2 X (−1)n
senh(π) + senh(π) 2+1
cos(nx). (4.28)
π π n=1
n

ex − e−x
De forma similar, obtemos a série de Fourier de senh(x) = , −π ≤ x ≤ π:
2

X n(−1)n+1
2
senh(π) sen(nx). (4.29)
π n=1
n2 + 1

Exemplo 4.3.2. Calculemos a série de Fourier do polinômio f (x) = Ax2 + Bx + C,


−π ≤ x ≤ π, onde A, B e C são constantes.
Poderı́amos calcular os coeficientes de Fourier usando as fórmulas (4.10)-(4.11) mas
não há necessidade disso, uma vez que podemos usar as expansões das funções x e x2 ,
obtidas no exemplo 4.3.3 e no exercı́cio 1 (d) da primeira seção, respectivamente.
O resultado é
∞ ∞
2 π2 X
n cos nx
X sen nx
Ax + Bx + C = A + C + 4A (−1) 2
− 2B (−1)n , −π ≤ x ≤ π.
3 n=1
n n=1
n

4.3.2 Funções pares e ı́mpares


As séries de Fourier de funções pares e ı́mpares têm uma estrutura especial que vamos
examinar com detalhe. Começaremos lembrando a definição destas funções.

Definição 4.4

Uma função f : [−L, L] → R é chamada de par se f (x) = f (−x), para todo x ∈


[−L, L]. Se f (x) = −f (−x) para todo x ∈ [−L, L], f é chamada de ı́mpar.
86 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Se f é par, então se o ponto P = (x, f (x)) está no gráfico de f , o ponto Q = (−x, f (x))
também o estará. Ou seja, o gráfico de f é simétrico em relação ao eixo y.
[gráficos com exemplos de funções pares]
Se f é ı́mpar, então se o ponto P = (x, f (x)) está no gráfico de f , o ponto Q =
(−x, −f (x)) também o estará. Neste caso, o gráfico de f será invariante em relação a
reflexões com centro na origem de coordenadas, (x, y) ↔ (−x, −y).
[gráficos com exemplos de funções ı́mpares]

Proposição 4.3

(Propriedades das funções ı́mpares e pares)

• O produto de duas funções pares ou de duas funções ı́mpares é uma função par.

• O produto de uma função par e uma ı́mpar é uma função ı́mpar.


Z L
• Se f : [−L, L] → R é ı́mpar, então f (x)dx = 0, caso esta integral exista.
−L
Z L Z L
• Se f : [−L, L] → R é par, então f (x)dx = 2 f (x)dx, caso as integrais
−L 0
existam.

Uma consequência muito importante dessas propriedades é apresentada a seguir.

Proposição 4.4

Se f : [−L, L] → R possui coeficientes de Fourier


L
1 L
Z Z
1  nπ   nπ 
an = f (x) cos x dx e bn = f (x) sen x dx,
L 0 L L 0 L
então

(i) Se f é par, então bn = 0, n = 1, 2, . . . e


Z L
2  nπ 
an = f (x) cos x dx, n = 0, 1, 2, . . . .
L 0 L

(ii) Se f é ı́mpar, então an = 0, n = 0, 1, 2, . . . e


Z L
2  nπ 
bn = f (x) cos x dx, n = 1, 2, . . . .
L 0 L

Exemplo 4.3.3. Calculemos a série de Fourier de f (x) = x, −L ≤ x ≤ L.


Como f é ı́mpar, sabemos que an = 0, n = 0, 1, 2, . . . . Além disto, utilizando os cálculos
feitos no exemplo 4.1.2, obtemos que
L
2L(−1)n+1
Z
2  nπ 
bn = x sen x dx =
L 0 L πn
4.3. PROPRIEDADES DAS SÉRIES DE FOURIER 87

e então,

2L X (−1)n+1  nπ 
Sf (x) = sen x .
π n=1 n L
Utilizando as desigualdades (4.14)-(4.17) neste exemplo obterı́amos que os coeficientes
Z L
de Fourier devem ser limitados superiormente pela constante |x|dx = L2 . Após termos
−L
calculado os coeficientes, verificamos que os coeficientes não nulos (bn ) decaem para zero
como uma constante vezes n1 .
A série de Fourier apresenta descontinuidades nos múltiplos ı́mpares de L.
Exemplo 4.3.4. Calculemos agora a série de Fourier de f (x) = |x|, −L ≤ x ≤ L.
Neste caso, f é par e portanto bn = 0, n = 1, 2, . . . . Mais uma vez utilizando os cálculos
feitos no exemplo 4.1.2, obtemos que
2 L
Z
a0 = xdx = L;
L 0
2 L 2L[(−1)n − 1]
Z  nπ 
an = x cos x dx =
L 0 L π 2 n2
e

L 2L X [(−1)n − 1]  nπ 
Sf (x) = + 2 cos x
2 π n=1 n2 L
∞  
L 4L X 1 (2k − 1)π
= + 2 cos x
2 π k=1 (2k − 1)2 L

Mais uma vez, utilizando as desigualdades (4.14)-(4.17) obtemos que os coeficientes


Z L
de Fourier devem ser limitados superiormente pela constante |x|dx = L2 . Diferen-
−L
temente do exemplo anterior, notamos que agora os coeficientes não nulos (an ) decaem
para zero como uma constante vezes n12 , ou seja, o decaimento ocorre mais rápido.
A série de Fourier é uma função contı́nua que não é derivável nos múltiplos ı́mpares de
L.

4.3.3 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1
Suponha que f : R → R é uma função de perı́odo 2L com série de Fourier

a0 X h  nπ   nπ i
+ an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L

(a) Sejam
f (x) + f (−x) f (x) − f (−x)
fp (x) = , fi (x) = .
2 2
Prove que fp e fi são funções par e ı́mpar com séries de Fourier

a0 X  nπ   nπ 
+ an cos x , bn sen x ,
2 n=1
L L
respectivamente.
88 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

(b) Prove que a função g(x) = f (x − L) tem série de Fourier



a0 X h  nπ   nπ i
+ (−1)n an cos x + bn sen x .
2 n=1
L L

Exercı́cio 3.2
Para x ∈ (−π, π), determine os valores das séries
∞ ∞
X sen nx X cos nx
(a) ; (c) ;
n=1
n n=1
n2
∞ ∞
X sen nx X cos nx
(b) (−1)n ; (d) (−1)n 2
.
n=1
n n=1
n

Sugestão: Utilize o exemplo 4.3.2 e o item (b) do exercı́cio anterior.

Exercı́cio 3.3
Assumindo que f e f 0 estão definidas em [−L, L], verifique que f 0 é ı́mpar se f é par e
viceversa.

Exercı́cio 3.4
Prove a proposição 4.3 descrevendo as propriedades das funções pares e ı́mpares.

4.4 Mais sobre a convergência


4.4.1 Decaimento dos coeficientes de Fourier
A série de Fourier de uma função pode ser interpretada como uma superposição infinita
de funções senoidais de amplitude (a2n + b2n )1/2 . Para essa soma estar bem definida, é
razoável esperar que essas amplitudes convirjam para zero. Isto é uma consequência da
desigualdade que apresentamos a seguir.

Proposição 4.5

(Desigualdade de Bessel) Se f : [−L, L] → R é uma função de quadrado integrável


com coeficientes de Fourier an e bn , então

1 L 2
Z
1 2 X 2 2
a + (a + bn ) ≤ f (x)dx. (4.30)
2 0 n=1 n L −L

Demonstração.

Exemplo 4.4.1. Aplicaremos a desigualdade de Bessel à função f (x) = x, −L ≤ x ≤ L


para provar que

X 1 π2
≤ . (4.31)
n=1
n2 6
4.4. MAIS SOBRE A CONVERGÊNCIA 89

Os coeficientes de Fourier desta função foram calculados no exemplo 4.3.3 e são an = 0,


2L
n ≥ 0 e bn = (−1)n+1 . Portanto, neste caso a desigualdade de Bessel toma a forma:

∞  2
1 L 2 2L2
Z
X 2L
≤ x dx = .
n=1
nπ L −L 3

π2
Finalmente, multiplicando por obtemos 4.31.
4L2
Uma consequência da proposição acima é o seguinte resultado.

Teorema 4.3: Lema de Riemann-Lebesgue

Se f : [−L, L] → R é uma função de quadrado integrável com coeficientes de Fourier


an e bn , então
an −−−→ 0 e bn −−−→ 0.
n→∞ n→∞

Demonstração. Como a série em 4.30 é convergente, a2n + b2n → 0 quando n → ∞ e daı́


obtemos o resultado desejado.

Observação. De fato, o Lema de Riemann-Lebesgue vale para funções absolutamente


integráveis, mas isto não será provado aqui.

Nos exemplos 4.1.2 - 4.3.1 calculamos os coeficientes de Fourier de várias funções. você
pode verificar que todas elas são de quadrado integrável e que seus coeficientes de Fourier
convergem para 0. No entanto, nem todos convergem com a mesma velocidade. Por
exemplo, os coeficientes de Fourier do exemplo 4.3.4 decaem mais rápido que os do exemplo
4.3.3. Isto está relacionado com a regularidade da função f e é analisado no resultado a
seguir.

Proposição 4.6

Suponha que f : [−L, L] → R é uma função contı́nua com derivada absolutamente


integrável e tal que f (−L) = f (L). Então se chamarmos de an e bn aos coeficientes
de Fourier de f e de a0n e b0n aos coeficientes de Fourier de f 0 , vale que

L 0
an = − b
nπ n
L 0
bn = a
nπ n

Demonstração. Usar integração por partes.


Nas condições da proposição obtemos, pelo Lema de Riemann-Lebesgue que nan → 0 e
1
nbn → 0 quando n → ∞, ou seja, os coeficientes de Fourier descrescem mais rápido que .
n
Em outras palavras, uma condição de regularidade da função f se reflete numa condição
de decaimento de seus coeficientes de Fourier. No exercı́cio ?? você deverá comprovar que
mais regularidade de f vai produzir mais decaimento para seus coeficientes de Fourier.
90 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

4.4.2 Convergência uniforme


O teorema 4.2 nos diz para onde converge a série de Fourier de uma função suave por
partes. No entanto, embora a conclusão seja que Sf = f para uma grande classe de
funções, o teorema não nos brinda informações mais acuradas como por exemplo, quantos
termos da série de Fourier precisarı́amos para que SN f (x) diste de f (x) no máximo um
valor ε > 0 pequeno. De fato, isto nem sempre é possı́vel, ou seja, existem funções tais que
Sf = f , para as quais não podemos garantir que |SN f (x) − f (x)| < ε simultaneamente
pata todo x ∈ [−L, L].
[figuras]
Este é o comportamento das séries de Fourier das funções representadas acima., que
difere bastante do comportamento das funções graficadas a seguir.
[figuras]
Ou seja, a série de Fourier pode convergir de maneiras diferentes para uma função f .
Isto é formalizado na definição a seguir.

Definição 4.5

Considere a sequência de funções {fn } definidas em um intervalo [a, b]. Dizemos que

X
a série s(x) = fn (x) converge uniformemente sobre [a, b] se
n=1

X N
max fn (x) − s(x) → 0

a≤x≤b
n=1

quando N → ∞.

O teorema 4.2 é um resultado sobre a convergência pontual da série de Fourier de uma


função. No entanto, nas aplicações precisaremos garantir a convergência uniforme de SN f
para f . Por exemplo, para usar teorema de dependência contı́nua 3.3 para deduzir que
a solução uN de um problema de propagação do calor dista no máximo ε da verdadeira
solução, precisamos que o máximo de |SN f (x) − f (x)| sobre a barra seja menor que ε.
Isto não é garantido pela convergência pontual, senão pela convergência uniforme.
Um resultado geral que nos permite deduzir com relativa facilidade a convergência
uniforme de uma série de funções é apresentado a seguir.

Teorema 4.4: Teste M de Weierstrass

Seja {fn } uma sequência de funções definidas sobre um intervalo [a, b] e tal que

X
|fn (x)| ≤ Mn , para todo x ∈ [a, b]. Então se Mn é uma série convergente, a série
n=1
de funções

X
fn (x)
n=1

converge uniformemente sobre [a, b].


4.4. MAIS SOBRE A CONVERGÊNCIA 91

Exemplo 4.4.2. Podemos provar agora a convergência uniforme da série de Fourier de


f (x) = x2 , −L ≤ x ≤ L sobre este intervalo. Temos que

L2 4L2 X (−1)n  nπ 
Sf (x) = + 2 cos x .
3 π n=1 n2 L


(−1)n
 nπ  1 X 1
Como 2 cos
x = 2 e vimos no exemplo 4.31 que a série
é convergente,
n L n n=1
n2
pelo Teste M de Weierstrass obtemos que Sf (x) converge uniformemente para x2 sobre
[−L, L].

Observação. Sempre podemos limitar superiormente o termo geral da série de Fourier


de uma função f da forma
 nπ   nπ 
a cos x + b sen x ≤ |an | + |bn |.

n n
L L
Pelo Teste M de Weierstrass, basta provar que a série

X
(|an | + |bn |) < ∞
n=1

para podermos concluir que Sf (x) converge uniformemente.

A convergência uniforme não tem somente uma utilidade prática na aproximação de


funções. As séries de funções uniformemente convergentes possuem propriedades impor-
tantes que resumimos a seguir.

Proposição 4.7

(Propriedades das séries uniformemente convergentes)

(a) Seja {fn } uma sequência de funções contı́nuas definidas sobre um intervalo [a, b]

X
e tal que a série de funções fn (x) converge uniformemente sobre [a, b]. Então
n=1

(i) A soma da série é uma função contı́nua.


(ii) A série pode ser integrada termo a termo, ou seja,

Z bX ∞ Z
X b
fn (x)dx = fn (x)dx.
a n=1 n=1 a

X∞
(b) Se a série s(x) = fn (x) converge, se fn é derivável para cada n e se a série
P∞ 0 n=1
n=1 f n (x) é uniformemente convergente, então a série pode ser derivada termo
a termo, ou seja
X∞
0
s (x) = fn0 (x).
n=1
92 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Alguns comentários sobre a proposição acima se fazem necessários. Como o termo


geral de uma série de Fourier é uma função contı́nua, caso uma série de Fourier convirja
uniformemente, ela o fará para uma função 2L−periódica e contı́nua sobre R. No exercı́cio
.. veremos que séries de Fourier podem ser sempre integradas termo a termo, embora não
convirjam uniformemente. O mesmo não ocorre com a operação de derivação, como
mostra o exemplo a seguir.

Exemplo 4.4.3. No exemplo 4.1.2 obtivemos a série de Fourier de f (x) = x, −L ≤


x ≤ L. Pelo teorema 4.2 podemos concluir que

2L X (−1)n+1  nπ 
x= sen x , −L < x < L (4.32)
π n=1 n L

Podemos derivar esta série termo a termo? Suponhamos que sim e derivemos os dois
termos da igualdade acima. Obtemos

2L X (−1)n+1 nπ  nπ 
1= cos x ⇒
π n=1 n L L

1 X  nπ 
= (−1)n+1 cos x .
2 n=1 L

Substituindo x = 0 na igualdade acima obtemos



1 X
= (−1)n+1 .
2 n=1

No entanto, esta igualdade é falsa pois as somas parciais da série numérica no termo
direito oscilam entre os valores 1 e 0 e portanto, a série diverge. Isto significa que a
nossa suposição estava errada, ou seja, a série em (4.32) não pode ser derivada termo a
termo.

No exercı́cio 4 desta seção indicaremos como usar a proposição 4.6 para concluir que
para certa classe de funções, a série de Fourier da derivada pode ser obtida derivando
termo a termo a série de Fourier da função.
O teorema a seguir nos dá um critério bastante simples para podermos concluir a
convergência uniforme da série de Fourier de uma função f : [−L, L] → R.

Teorema 4.5

Seja f : [−L, L] → R contı́nua, tal que f (−L) = f (L) e com derivada contı́nua por
partes. Então Sf converge uniformemente para f sobre [−L, L], ou seja,

max |SN f (x) − f (x)| → 0 quando N → ∞.


−L≤x≤L

Demonstração. Pela observação feita depois do teorema 4.4, basta provar que sob as

X
condições do teorema, (|an | + |bn |) < ∞.
n=1
Pela proposição 4.6 e pela desigualdade de Cauchy-Schwartz, temos que
4.4. MAIS SOBRE A CONVERGÊNCIA 93

∞ ∞
X LX1 0
|an | + |bn | ≤ (|an | + |b0n |)
n=1
π n=1
n
∞ ∞
L X 1 1/2 X 0 2
≤ ( 2
) ( (|an | + |b0n |2 )1/2 .
π n=1 n n=1

Pela desigualdade de Bessel (4.30) para os coeficientes de Fourier de f 0 obtemos que



1 L 0
Z
X  0 2 0 2 1
(f (x))2 dx − (a00 )2 .

(an ) + (bn ) ≤
n=1
L −L 2
∞ ∞
X 1 π2 X
Além disto, vimos no exemplo 4.4.1 que ≤ , portanto (|an | + |bn |) < ∞ e o
n=1
n2 6 n=1
teorema está provado.
Exemplo 4.4.4. Usando o teorema acima podemos concluir que as séries de Fourier das
funções f (x) = |x| e de g(x) = cosh(x), obtidas nos exemplos 4.3.4 e 4.3.1 convergem
uniformemente.
Exemplo 4.4.5. No exemplo 4.4.2 vimos que a série de Fourier de x2 converge unifor-
memente. Consideremos L = π. Quantos termos precisaremos para aproximar x2 por
uma soma parcial de forma que o erro cometido seja menor que 0, 01?
Para −π ≤ x ≤ π temos que

π2 X (−1)n
x2 = +4 2
cos(nx),
3 n=1
n

2
X (−1)n
e portanto, x − SN f (x) = 4 cos(nx). Portanto,
n=N +1
n2

4L2 X ∞
(−1)n
|Sf (x) − SN f (x)| = 2 cos(nx)

π n 2


n=N +1

(−1)n
X

≤4
n2 cos(nx)

n=N +1

X 1 4
≤4 2
≤ .
n=N +1
n N

4
Então se ≤ 0, 01, obtemos que N ≥ 400. Ou seja, as somas parciais de Fourier com
N
no mı́nimo 400 termos aaproximarão x2 com um erro menor que 0, 01.

4.4.3 Exercı́cios
94 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Exercı́cio 4.1
Considere uma função f : [−L, L] → R com todos seus coeficientes de Fourier bem
definidos.
(a) Derive formalmente a série de Fourier de f termo a termo.
(b) Pela proposição 4.6 temos que se f : [−L, L] → R é contı́nua, satisfaz f (−L) =
f (L) e tem derivada absolutamente integrável, então os coeficientes de Fourier de f 0
satisfazem

a0n = bn
L

b0n = − an .
L
Substitua estas expressões na série de Fourier de f 0 e verifique que você obtém a série
obtida formalmente no item anterior. Isto significa que as séries de Fourier de funções
com as condições descritas acima, podem ser derivadas termo a termo.
(c) Isto contradiz o que foi observado no exemplo 4.4.3? Por quê?

Exercı́cio 4.2
Z L
(a) Prove que se f : [−L, L] → R é absolutamente integrável e se f (x)dx = 0,
Z x −L

então sua antiderivada F (x) = f (s)ds é contı́nua, com derivada absolutamente


0
integrável e além disto F (−L) = F (L).
(b) Utilize a conclusão do exercı́cio anterior para justificar que a série de Fourier de f
pode ser obtida a partir da de F , derivando termo a termo.
Sugestão: F 0 = f .
(c) Conclua que a série de Fourier de F pode ser obtida a partir da de f , salvo uma
1 L
Z
constante, integrando termo a termo. A constante A0 = F (x)dx deve ser
L −L
calculada separadamente.

Exercı́cio 4.3
A série de Fourier da função f (x) = x2 , −L ≤ x ≤ L é

L2 4L2 X (−1)n  nπ 
Sf (x) = + 2 cos x . (4.33)
3 π n=1 n2 L

(a) Utilize as propriedades de Sf (x) para verificar as igualdades a seguir:


1 1 1 π2
1− 2
+ 2 − 2 + ··· =
2 3 4 12
1 1 1 π2
1 + 2 + 2 + 2 + ··· = .
2 3 4 6
Observe que a última relação afirma que em (4.31) na verdade tı́nhamos uma igual-
dade.
4.5. SÉRIES DE FOURIER NOS PROBLEMAS DE PROPAGAÇÃO DE CALOR NA BARRA95

(b) Utilize a conclusão do exercı́cio 1 para derivar a série de Fourier (4.33) termo a termo.
Verifique que você reobtém desta forma parte do resultado do exercı́cio 2:

2L X (−1)n+1  nπ 
x= sen x , −L < x < L.
π n=1 n L

(c) Reescreva (4.33) da forma



2 L2 4L2 X (−1)n  nπ 
x − = 2 cos x , −L ≤ x ≤ L.
3 π n=1 n2 L
L
L2
Z  
2
Verifique que x − dx = 0 e utilize o exercı́cio anterior para integrar a série
−L 3
termo a termo entre 0 e x. Você vai obter a série de Fourier (confira com sua resposta
do exercı́cio 1(f) da primeira seção:

12L3 X n 1
 nπ 
x3 − L 2 x = (−1) sen x , −L ≤ x ≤ L. (4.34)
π 3 n=1 n3 L

Exercı́cio 4.4
Considere a função f (x) = x3 − x, −1 ≤ x ≤ 1. Utilize a desigualdade

X 1 1
3

n=N +1
n 2N 2

e os coeficientes de Fourier de f , obtidos no exercı́cio anterior para concluir que

|f (x) − SN f (x)| ≤ 0, 01 para todo N ≥ 5, para todo x ∈ [−1, 1].

Isto significa que basta utilizar 5 termos da série de Fourier para aproximar a função
f (x) = x3 − x com um erro máximo ε = 0.01 no intervalo [−1, 1].

Exercı́cio 4.5
Prove que

X 1 1
k
≤ .
n=N +1
n (k − 1)N k−1

4.5 Séries de Fourier nos problemas de propagação


de calor na barra
4.5.1 Séries de Fourier em senos e em cossenos
Em (4.4) obtivemos a série de Fourier de uma função ı́mpar. Como ela contém somente
senos na sua expressão, parece razoável, para expandirmos uma função f : [0, L] → R
numa série em senos, usar a série de Fourier de alguma função ı́mpar definida no intervalo
[−L, L] e que coincida com f sobre [0, L]. Isto nos leva à ideia das extensões ı́mpares e
pares das funções.
96 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

Definição 4.6

(a) A extensão ı́mpar da função f : [0, L] → R é a única função ı́mpar fi , definida


sobre [−L, L] e que coincide com f em (0, L], ou seja

 f (x), 0 < x ≤ L;
fi (x) = 0, x = 0
−f (−x), −L ≤ x < 0.

(b) A extensão par da função f : [0, L] → R é a única função par fp , definida sobre
[−L, L] e que coincide com f em (0, L], ou seja

f (x), 0 ≤ x ≤ L;
fp (x) =
f (−x), −L ≤ x < 0.

Graficamente (graficos de extensoes pares e impares)


Definiremos agora as séries de Fourier de uma função em senos e em cossenos. Estas
serão as séries de Fourier de sua extensão ı́mpar e par, respectivamente.

Definição 4.7

Seja f : [0, L] → R.

(a) A série de Fourier de f em senos é



2 L
X  nπ  Z  nπ 
Ss f (x) = bn sen x , onde bn = f (x) sen x dx, n = 1, 2, . . . ,
n=1
L L 0 L
(4.35)
desde que as integrais estejam bem definidas.

(b) A série de Fourier de f em cossenos é



2 L
Z
a0 X  nπ   nπ 
Sc f (x) = + an cos x , onde an = f (x) cos x dx, n = 0, 1, 2, . . .
2 n=1 L L 0 L
(4.36)
desde que as integrais estejam bem definidas.

A definição acima nos diz que Ss f (x) = Sfi (x) e que Sc f (x) = Sfp (x). Vejamos um
exemplo.

Exemplo 4.5.1. Obtenha a série de Fourier em senos e a série de Fourier em cossenos


da função f (x) = L − x, 0 ≤ x ≤ L e faca um esboço de Ss f (x) e Sc f (x) no intervalo
[−3L, 3L].
Solução: Calculemos os coeficientes de Fourier da série em senos. Para isto vamos
4.5. SÉRIES DE FOURIER NOS PROBLEMAS DE PROPAGAÇÃO DE CALOR NA BARRA97

reaproveitar alguns dos cálculos feitos no exemplo 4.1.2.


2 L
Z  nπ 
bn = (L − x) sen x dx
L 0 L
Z L
2 L
 nπ  Z  nπ 
bn = 2 sen x dx − x sen x dx
0 L L 0 L
2L(1 − (−1)n ) 2L(−1)n+1
bn = −
nπ nπ
2L
bn = .

Portanto,

2L X 1  nπ 
Ss f (x) = sen x .
π n=1 n L
Para obtermos o gráfico de Ss f , devemos primeiro estender a função f de forma ı́mpar
para obtermos fi e depois desenhar o gráfico de Sfi .
[figura, graficos de f, fi e Sfi ]
Calculemos agora a série em cossenos. Mais uma vez reaproveitando os cálculos feitos
no exemplo 4.1.2:
2 L x2
Z Z
2
a0 = (L − x)dx = (Lx − )|L0 = L
L 0 L 2
Z L
2  nπ 
an = (L − x) cos x dx
L 0 L
Z L
2 L
 nπ  Z  nπ 
an = 2 cos x dx − x cos x dx
0 L L 0 L
2L(1 − (−1)n )
an =
n2 π 2
Portanto,
∞ ∞
L 2L X 1 − (−1)n
 
 nπ  L 4L X 1 (2k − 1)π
Sc f (x) = + 2 cos x = + 2 cos x .
2 π n=1 n2 L 2 π k=1 (2k − 1)2 L
Finalmente, para obtermos o gráfico de Sc f , devemos primeiro estender a função f de
forma par para obtermos fp e depois desenhar o gráfico de Sfp .
[figura, graficos de f, fp e Sfp ]
Utilizando os teoremas 4.2 e ?? obtemos o resultado a seguir.

Teorema 4.6

Seja f : [0, L] → R suave por partes. Então

(a)
f (x+) + f (x−)
(
Ss f (x) = , 0 < x < L; (4.37)
2
0, x = 0 ou x = L.
Em particular, se f é contı́nua e se f (0) = f (L) = 0, então Ss f (x) = f (x) para
98 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER

todo x ∈ [0, L] e além disto, a convergência das somas parciais Ss,N f para f é
uniforme, ou seja,

max |Ss,N f (x) − f (x)| → 0 quando N → ∞.


0≤x≤L

(b)
f (x+) + f (x−)


 , 0 < x < L;
Sc f (x) = 2 (4.38)
 f (0+), x = 0;

f (L−), x = L.
Em particular, se f é contı́nua, vale Sc f (x) = f (x) para todo x ∈ [0, L] e além
disto, a convergência das somas parciais Sc,N f para f é uniforme, ou seja,

max |Sc,N f (x) − f (x)| → 0 quando N → ∞.


0≤x≤L

O teorema 4.6 explica por que no exemplo 4.5.1, embora estejamos considerando a
mesma função contı́nua f , resulta uma diferença tão grande entre Si f , que é descontı́nua
nos pontos x = (2k − 1)L com k ∈ Z e Sc f que é uma função contı́nua. O problema é
que para termos a continuidade na soma da série em senos, além da continuidade de f
precisamos da condição f (0) = f (L) = 0, que não é satisfeita pela função no exemplo.
Observe também que os coeficiente de Fourier de Sc f decaem mais rápido que os de Ss f .
De fato a série de Fourier em cossenos neste exemplo converge uniformemente e a série
em senos não.

4.5.2 Exercı́cios
Exercı́cio 5.1
Obtenha a série de Fourier em senos de cada uma das funções a seguir. Em cada caso,
esboce o gráfico de Ss f no intervalo [−3L, 3L].

(a) f (x) = cos(x), 0 ≤ x ≤ π.

(b) f (x) = x, 0 ≤ x ≤ L.

(c) f (x) = x2 , 0 ≤ x ≤ L.

(d) f (x) = x3 , 0 ≤ x ≤ L.

x, 0 ≤ x ≤ L/2;
(e) f (x) =
L − x, L/2 < x ≤ L.

sen πx
 
L
, 0 ≤ x ≤ L/2;
(f) f (x) =
0, L/2 < x ≤ L.

Exercı́cio 5.2
Obtenha a série de Fourier em cossenos de cada uma das funções a seguir. Em cada caso,
esboce o gráfico de Sc f no intervalo [−3L, 3L].

(a) f (x) = sen(x), 0 ≤ x ≤ π.


4.5. SÉRIES DE FOURIER NOS PROBLEMAS DE PROPAGAÇÃO DE CALOR NA BARRA99

(b) f (x) = x, 0 ≤ x ≤ L.

(c) f (x) = x2 , 0 ≤ x ≤ L.

(d) f (x) = x3 , 0 ≤ x ≤ L.

1, 0 ≤ x ≤ h;
(e) f (x) = , com h ∈ (0, π).
0, h < x ≤ π.

cos πx
 
L
, 0 ≤ x ≤ L/2;
(f) f (x) =
0, L/2 < x ≤ L.

Exercı́cio 5.3
Suponha que f é uma função contı́nua com derivada contı́nua por partes.

(a) Se f : [−L, L] → R, sob quais condições f (x) coincide com sua série de Fourier Sf (x)
para todo x satisfazendo −L ≤ x ≤ L?

(b) Se f : [0, L] → R, sob quais condições f (x) coincide com sua série de Fourier em senos
Ss f (x) para todo x satisfazendo 0 ≤ x ≤ L?

(c) Se f : [0, L] → R, sob quais condições f (x) coincide com sua série de Fourier em
cossenos Sc f (x) para todo x satisfazendo 0 ≤ x ≤ L?

Exercı́cio 5.4
(a) Utilize a desigualdade no exercı́cio 7 da seção anterior para verificar que

X 1 4
3
≤ .
n=N −1
(2n − 1) (N − 1)2

(b) Conclua daı́ que se f (x) = x(1 − x), 0 ≤ x ≤ 1, então



8 X ∞
1
|Ss,N f (x) − x(1 − x)| = 3 sen((2n − 1)πx) ≤ 0, 01

π (2n − 1)3
n=N +1

para todo N ≥ 3.

Exercı́cio 5.5
Verifique graficamente no Maxima a conclusão do item anterior utilizando o comando

(%i1) plot2d([8*sin(%pi*x)/%pi^3 +8*sin(3*%pi*x)/(27*%pi^3)


+8*sin(5*%pi*x)/(125*%pi^3),x*(1-x)],[x,0,1],[y,-0.1,0.3],
[style,[lines,1,1],[lines,1,2]],
[xlabel,""],[ylabel,""],[legend,false]);
100 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE FOURIER
Capı́tulo 5

O método de separação de variáveis

Neste capı́tulo utilizaremos o método de separação de variáveis para resolvermos proble-


mas de contorno para a equação do calor e para a equação da onda. No próximo capı́tulo,
este método será aplicado na resolução de problemas de contorno da equação de Laplace.
De forma geral, os problemas de contorno que resolveremos neste capı́tulo podem ser
representados na forma.

Equação Diferencial Parcial


+
Condições de fronteira (homogêneas)
+
Condição ou condições iniciais

O método de separação de variáveis consiste em

• Calcular todas as soluções produto da equação diferencial.

• Identificar entre as soluções produto calculadas, quais delas satisfazem as condições


de fronteira do problema.

• Construir a solução como combinação linear das soluções produto obtidas acima,
utilizando o Princı́pio de Superposição. Os coeficientes da combinação linear são
obtidos de forma a satisfazer a condição ou as condições iniciais.
Se isto não for possı́vel, a solução se constrói como a soma da série de todas as
soluções produto obtidas no passo anterior (poderı́amos chamar este resultado de
Princı́pio de Superposição Generalizado). Os coeficientes das soluções são obtidos
usando coeficientes de Fourier da condição inicial.

5.1 Solução de diferentes problemas contorno para a


equação do calor
Vamos estudar agora como resolver o problema de propagação do calor na barra com
extremos mantidos a temperatura zero ou com extremos isolados admitindo temperaturas
iniciais modeladas por funções bastante gerais, utilizando o método de separação de
variáveis.
Uma vez que sabemos resolver esse problema quando a condição inicial é da forma

101
102 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

N
X  nπ 
bn sen x ,
n=1
L
passaremos a admitir distribuições iniciais de temperatura dadas por

X  nπ 
f (x) = bn sen x .
n=1
L

Por isso, utilizaremos as séries de Fourier em senos.

Exemplo 5.1.1. Suponhamos que queremos encontrar uma solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t ∂x2 (5.1)
CF u(0, t) = 0 u(1, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = x(1 − x), 0 ≤ x ≤ 1.

A função f (x) = x(1 − x) não é uma combinação linear de funções da forma sen(nπx),
n ∈ N, mas podemos expandı́-la na sua série de Fourier em senos. Subtraindo as séries
de Fourier em senos das funções g(x) = x e h(x) = x2 , 0 ≤ x ≤ 1, obtemos que para
esses valores de x vale

8 X 1
x(1 − x) = sen((2j − 1)πx). (5.2)
π j=1 (2j − 1)3
3

Então parece razoável concluir que



8 X 1 2
u(x, t) = 3 3
e−((2j−1)π) t sen((2j − 1)πx). (5.3)
π j=1 (2j − 1)

é a solução do problema, mas será que realmente podemos afirmar isto?


Substituindo x = 0 e x = 1 na expressão de u, obtemos que u(0, t) = 0 e u(1, t) =
0, portanto, as condições de fronteira são satisfeitas. Pela igualdade (5.2), temos que
u(x, 0) = x(1 − x) e portanto, a condição inicial também é satisfeita.
A dificuldade neste exemplo está em verificar que a equação diferencial é satisfeita,
pois para isso precisamos derivar uma soma infinita, o que nem sempre é possı́vel, como
foi explicado no exemplo 4.4.3. Neste caso no entanto, o decaimento das exponenciais
permite fazer isto e de fato, vale o resultado a seguir.

Teorema 5.1

Suponha que f : [0, L] → R é uma função contı́nua satisfazendo f (0) = f (L) = 0


e tal que f 0 é contı́nua por partes. Então, se chamarmos de bn aos coeficientes de
Fourier da série em senos de f , a série
∞  nπ 
nπ 2
X
u(x, t) = bn e−( L ) kt
sen x , (5.4)
n=1
L
5.1. SOLUÇÃO DE DIFERENTES PROBLEMAS CONTORNO PARA A EQUAÇÃO DO CALOR103

converge uniformemente para todo t > 0 para a única solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = k 2 , 0 < x < L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.

Além disto,

(i) u é infinitamente derivável em relação a x e a t;

(ii) para cada x ∈ [0, L], u(x, t) → 0 quando t → ∞.

(iii) para cada x ∈ [0, L], u(x, t) → f (x) quando t → 0+.

Usando este teorema podemos concluir que de fato a função 5.3 é a solução do problema
5.1.

Exemplo 5.1.2. O teorema também nos fornece informações relevantes sobre o compor-
tamento da solução. Voltemos ao caso do exemplo 5.1.
Que podemos dizer sobre o gráfico de u(x, t) para diferentes valores de t?

• t≈0
Como u(x, t) −−−→ x(1 − x), o gráfico de u(x, t) para valores pequenos de t, deve
t→0+
ser próximo do gráfico de x(1 − x).

• t “ grande”.
Como u(x, t) −−−→ 0, os valores de u(x, t) para valores grandes de t, são próximos
t→∞
de zero.

• t “ intermediário”
Para valores de t distantes de zero, mas não muito grandes de forma que u(x, t)
ainda não é próximo da constante zero, podemos pensar da forma seguinte.
A nossa solução pode ser escrita da forma
 
8 −π2 t 1 −9π2 t 1 −25π2 t
u(x, t) = 3 e sen(πx) + e sen(3πx) + e sen(5πx) + · · ·
π 27 125
2 2 2
≈ 0.26e−π t sen(πx) + 0.009e−9π t sen(3πx) + 0.002e−25π t sen(5πx) + · · · .

Dentro do somatório, o termo que governa o comportamento da solução para os


valores de t considerado será o primeiro, pois todos os outros são bem menores do
2 2
que ele. Perceba que e−9π t = (e−π t )9 , por exemplo. Portanto, para valores de t
ainda não muito grandes teremos que
2
u(x, t) ≈ 0.26e−π t sen(πx).

Para estes valores, a solução terá a forma da função sen(πx), com a amplitude indo
para zero com o aumento de t.

Na figura 5.1 foram plotados os gráficos da solução para diferentes valores de t.


104 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

Figura 5.1: Gráficos de u(x, t)

Caberia se perguntar como foi possı́vel plotar os gráficos acima se a solução é dada como
uma soma infinita. Em geral, se precisarmos da solução para uma aplicação prática, não
podemos utilizar a expressão que representa a solução exatamente mas podemos aproximar
a solução truncando a soma infinita e utilizando a dependência contı́nua formulada no
teorema 3.3 (ou usando estimativas feitas diretamente). Esse resultado garante que para
aproximar a solução do problema 5.1 admitindo um erro de no máximo ε = 0.01, por
exemplo, é suficiente aproximar a condição inicial pela soma parcial de Fourier que diste
de f (x) no máximo ε = 0.01.
Exemplo 5.1.3. No exercı́cio 4, pedimos para verificar que |Ss,N f (x) − x(1 − x)| ≤ 0.01
∂u ∂ 2u
se N ≥ 3. Portanto, a solução uaprox da equação = , com condições de fronteira
∂t ∂x2
u(0, t) = 0 e u(1, t) = 0 e condição inicial
8 8 8
Ss,3 f (x) = 3
sen(πx) + 3
sen(3πx) + sen(5πx)
π 27π 125π 3
satisfará
|uaprox (x, t) − u(x, t)| < 0, 01, 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0,
ou seja

8 −π2 t 8 −9π 2t 8 −25π 2t
e
π3 sen(πx) + e sen(3πx) + e sen(5πx) − u(x, t) < 0, 01.
27π 3 125π 3

Existem problemas de propagação do calor nos quais não podemos aplicar o teorema
5.1, mas podemos propor uma expressão plausı́vel para a solução, expandindo a condição
inicial na série de Fourier apropriada para as condições de fronteira do problema.
Exemplo 5.1.4. Determine a solução do problema
∂u ∂ 2u
ED = 2 2 , 0 < x < π, t > 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0 u(π, t) = 0, t > 0;
1, 0 < x ≤ π/2;
CI u(x, 0) = f (x) = , 0 ≤ x ≤ π.
2, π/2 < x < π.
5.1. SOLUÇÃO DE DIFERENTES PROBLEMAS CONTORNO PARA A EQUAÇÃO DO CALOR105

Figura 5.2: Gráfico de uaprox

Solução:
Expandindo a função f na sua série de Fourier em senos obtemos

2 X 1 + cos(nπ/2) − 2 cos(nπ)
Ss f (x) = sen(nx)
π n=1 n

e portanto a solução será



2 X 1 + cos(nπ/2) − 2 cos(nπ) −2n2 t
u(x, t) = e sen(nx).
π n=1 n

u satisfaz a equação e as condições de fronteira. Ela não satisfaz à condição inicial


dada, mas à condição alternativa:


 1, 0 < x ≤ π/2;
0, x = 0 ou x = π;

u(x, 0) = Ss f (x) = , 0 ≤ x ≤ π.

 3/2, x = π/2;
2, π/2 < x < π.

Este exemplo poderia corresponder com uma situação na qual temos dois barras do
mesmo material de comprimento π/2, com temperaturas distintas e constantes que são
unidas e as novas extremidades são mantidas a temperatura zero. A descontinuidade da
temperatura na seção transversal no meio da barra na condição inicial corresponde com
o fato de termos juntado nesse instante as duas barras. A transferência de calor entre
as duas barras faz com que esta descontinuidade desapareça rapidamente. Desta forma,
a solução obtida é fisicamente satisfatória.
No exemplo a seguir mostramos como resolver um problema de propagação de calor
numa barra na qual é fixada a taxa de fluxo de calor através das extremidades. Sabemos
resolver este problema no caso em que a condição inicial é combinação linear de funções
106 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS
 nπ 
cos x . Por isso utilizaremos a expansão da função u(x, 0) na série de Fourier em
L
cossenos.
Exemplo 5.1.5. Escreva a solução do problema
∂u ∂ 2u
ED = 100 2 , 0 < x < 10, t > 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = 2, (10, t) = 2, t > 0;
∂x  ∂x
 2x, 0 ≤ x ≤ 2;
4
CI u(x, 0) = (5 − x), 2 ≤ x ≤ 8;
 3
2(x − 10), 8 ≤ x ≤ 10.

Solução:
Como este problema tem condições de fronteira não homogêneas, devemos obter primeiro
uma solução estacionária v que satisfaça as condições de fronteira dadas.
Sabemos que v(x) = cx+d, com c e d constantes. Como v 0 (0) = c = v 0 (10) = 2, obtemos
que qualquer função da forma v(x) = 2x + d satisfará as propriedades que necessitamos.
Como o mais simples é escolher d = 0, escolheremos a solução estacionária v(x) = 2x
para continuar com os cálculos.
A seguir precisaremos determinar a solução transiente w(x, t) = u(x, t) − v(x) =
u(x, t) − 2x. w é solução do problema:

∂w ∂ 2w
ED = 100 2 , 0 < x < 10, t > 0;
∂t ∂x
∂w ∂w
CF (0, t) = 0, (10, t) = 0, t > 0;
∂x  ∂x
 0, 0 ≤ x ≤ 2;
10
CI w(x, 0) = (2 − x), 2 ≤ x ≤ 8;
 3
−20, 8 ≤ x ≤ 10.
Calculamos a seguir os coeficientes de Fourier da série em cossenos de w(x, 0).

Z 8 Z 10 
2 10
a0 = (2 − x)dx + −20dx = −20
10 2 3 8
Z 8 Z 10  nπ  
2 10  nπ 
an = (2 − x) cos x dx + −20 cos x dx
10 2 3 10 8 10
    
200 1 nπ 4nπ
= cos − cos
3π 2 n2 5 5
 
400 1  nπ  3nπ
= 2 2
sen sen .
3π n 2 10
Se n é par, an vale zero. Para n ı́mpar, temos que
400 (−1)k+1
 
3(2k − 1)π
a2k−1 = 2 sen
3π (2k − 1)2 10
Expandindo agora a função w(x, 0) na sua série de Fourier em cossenos obtemos

400 X (−1)k+1
   
3(2k − 1)π (2k − 1)π
Sc f (x) = −10 + 2 sen cos x
3π k=1 (2k − 1)2 10 10
5.1. SOLUÇÃO DE DIFERENTES PROBLEMAS CONTORNO PARA A EQUAÇÃO DO CALOR107

e portanto a solução deste problema será



400 X (−1)k+1
   
3(2k − 1)π −(2k−1)2 π2 t (2k − 1)π
w(x, t) = −10 + 2 sen e cos x .
3π k=1 (2k − 1)2 10 10

Utilizando que u(x, t) = w(x, t) + 2x, obtemos que



400 X (−1)k+1
   
3(2k − 1)π −(2k−1)2 π2 t (2k − 1)π
u(x, t) = 2x − 10 + 2 sen e cos x .
3π k=1 (2k − 1)2 10 10

Neste exemplo podemos garantir que u satisfaz a condição inicial pois f é uma função
contı́nua suave por partes e portanto coincide com sua série de Fourier em cossenos.
Verificar que a equação e as condiçõe6s de fronteira são satisfeitas é mais delicado pois
para isto precisamos derivar uma soma infinita de funções. Isto pode ser justificado de
forma parecida a como é feita a prova do teorema 5.1.
Na figura 5.3 apresentamos um gráfico de uma aproximação da solução.

Figura 5.3: Uma aproximação de u com 8 termos na soma parcial

A solução também satisfaz lim u(x, t) = 2x − 10. Podemos visualizar no gráfico que
t→∞
essa aproximação ocorre rapidamente.

5.1.1 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
Considere a condução do calor em uma barra de comprimento 40 cm cujas extremidades
são mantidas à temperatura de 00 C para todo t > 0.
Em cada um dos casos a seguir, encontre uma expressão para a temperatura u(x, t) se
a distribuição inicial de temperatura é a função dada. Determine se a condição inicial é
satisfeita em todos os pontos e justifique. Assuma que k = 1.
(a) u(x, 0) = 50, 0 < x < 40.

 0, 0 ≤ x < 10;
(b) u(x, 0) = 50, 10 ≤ x ≤ 30 .
0, 30 < x ≤ 40.

108 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

(c) u(x, 0) = x, 0 < x < 40.



x, 0 ≤ x < 20;
(d) u(x, 0) = .
40 − x, 20 ≤ x ≤ 40.

Exercı́cio 1.2
Determine a solução do problema de condução do calor

∂u ∂ 2u
ED = 3 2 , 0 < x < 40, t > 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0, u(40, t) = −40, t > 0;
CI u(x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ 40.

A solução obtida satisfaz a condição inicial?

Exercı́cio 1.3
Determine a solução do problema

∂u ∂ 2u
ED = 3 2 , 0 < x < π, t > 0;
∂t ∂x
∂u ∂u
CF (0, t) = 4, (π, t) = 4, t > 0;
∂x ∂x
CI u(x, 0) = sen(4x), 0 ≤ x ≤ π.

Exercı́cio 1.4
Considere o problema

∂u ∂ 2 u
ED − 2 − hu = 0, 0 < x < π, t > 0;
∂t ∂x
CF u(0, t) = 0, u(π, t) = 0, t ≥ 0;
CI u(x, 0) = x(π − x), 0 ≤ x ≤ π.

onde h é uma constante real.

(a) Encontre a solução deste problema.

(b) A condição inicial é satisfeita?

(c) Determine para quais valores de h existe lim u(x, t) quando t → ∞, para todo x ∈
[0, π].

Exercı́cio 1.5
A temperatura inicial do problema do propagação do calor

∂u ∂ 2u
ED = , 0 < x < 10, t > 0;
∂t ∂x2
CF u(0, t) = 0, u(10, t) = 0, t > 0;
CI u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ 10.


5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 109


 x − 1, 1 ≤ x ≤ 2;
 11 − 5x, 2 ≤ x ≤ 3;


f (x) = 5x − 19, 3 ≤ x ≤ 4;
5 − x, 4 ≤ x ≤ 5;




0, caso contrário.

Descreva o comportamento da solução quando t cresce. Você não precisa obter uma
fórmula explı́cita senão explicar três ou quatro caracterı́sticas interessantes da solução.
Você pode usar que o primeiro coeficiente da série de Fourier em senos de f é negativo.
(b1 < 0)

5.2 A corda com extremos fixos


No capı́tulo 2 formulamos o problema com valores iniciais e de fronteira que representa as
vibrações transversais de uma corda. Veremos como achamos as soluções deste problema
no caso da corda com extremos fixos.

5.2.1 Solução do problema de contorno


Consideremos o problema

∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0; (5.5)
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t ≥ 0; (5.6)
∂u
CI u(x, 0) = f (x), (x, 0) = g(x), 0 ≤ x ≤ L. (5.7)
∂t
Utilizaremos o método de separação de variáveis para resolver este problema.
Passo 1: Encontrar todas as soluções produto (u(x, t) = X(x)T (t)) da equação.

X 00 (x) T 00 (t)
X(x)T 00 (t) = c2 X 00 (x)T (t) ⇒ = 2 = λ (constante).
X(x) c T (t)
Chegamos às equações diferenciais ordinárias X 00 = λX e T 00 = λc2 T . A equação
X 00 = λX já foi analisada durante a resolução dos problemas de contorno para a equação
do calor. A solução geral pode ser escrita como (veja 3.6-3.8):

X(x) = c1 + c2 x, se λ = 0;
√ √
X(x) = c1 e + c2 e− λx , se λ > 0;
λx
p p
X(x) = c1 cos( |λ|x) + c2 sen( |λ|x), se λ < 0.

Como a forma das soluções depende do sinal de λ, para simplificar a notação, consi-
deramos uma nova constante α > 0 tal que λ = ±α2 . A equação T 00 = λc2 T difere da
equação para X(x) apenas no valor da constante e portanto as soluções terão expressões
semelhantes. Então, as soluções produto da equação da onda são

• Caso 1 (λ = 0):
u(x, t) = (d1 + d2 t)(c1 + c2 x).
110 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

• Caso 2 (λ = α2 > 0):

u(x, t) = (d1 eαct + d2 e−αct )(c1 eαx + c2 e−αx ).

• Caso 3 (λ = −α2 < 0):

u(x, t) = (d1 cos(αct) + d2 sen(αct))(c1 cos(αx) + c2 sen(αx)).

Passo 2: Determinar quais das soluções produto satisfazem também as condições de


fronteira.
Neste passo podemos nos apoiar na proposição 3.1 pois uma solução produto da equação
da onda satisfará as condições de fronteira se e somente se X(0) = 0 e X(L) = 0.
Portanto, entre as soluções produto listadas acima, as que satisfazem as condições de
fronteira, têm a forma
h  nπc   nπc i  nπ 
un (x, t) = An cos t + Bn sen t sen x , (5.8)
L L L
onde An e Bn são constantes e n ∈ N.
Passo 3: Construir combinações lineares das soluções un obtidas de forma a satisfazer
as condições iniciais.
Consideremos uma função u que seja a combinação linear das soluções obtidas acima:

XN h  nπc   nπc i  nπ 
u(x, t) = An cos t + Bn sen t sen x .
n=1
L L L
Para obtermos os valores dos coeficientes, devemos utilizar as condições iniciais. Veja-
mos como fazer isto com um exemplo.

Exemplo 5.2.1. Determine a solução do problema

∂ 2u ∂ 2u
ED = 9 , 0 ≤ x ≤ 1, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = 0 u(1, t) = 0, t ≥ 0;
(5.9)
CI u(x, 0) = 2 sen(3πx),
∂u
(x, 0) = sen(πx) − 5 sen(5πx), 0 ≤ x ≤ 1.
∂t
Neste exemplo, L = 1 e c = 3. Como nas condições iniciais apareceram apenas as
funções sen(πx), sen(3πx) e sen(5πx), procuraremos uma solução da forma.

u(x, t) = (A1 cos(3πt) + B1 sen(3πt)) sen(πx) + (A3 cos(9πt) + B3 sen(9πt)) sen(3πx)


+ (A5 cos(15πt) + B5 sen(15πt)) sen(5πx).

Vamos usar agora as condições iniciais. Substituindo t = 0 obtemos

u(x, 0) = A1 sen(πx) + A3 sen(3πx) + A5 sen(5πx) = 2 sen(3πx).

Portanto, A1 = A5 = 0 e A3 = 2 e portanto a solução se escreve da forma


5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 111

u(x, t) = B1 sen(3πt) sen(πx) + (2 cos(9πt) + B3 sen(9πt)) sen(3πx)


+ B5 sen(15πt) sen(5πx).

Para calcularmos B1 , B3 e B5 , derivamos em relação a t e substituimos t = 0:

∂u
(x, t) = 3πB1 cos(3πt) sen(πx) + (−18π sen(9πt) + 9πB3 cos(9πt)) sen(3πx)
∂t
+ 15πB5 cos(15πt) sen(5πx).
u(x, 0) = 3πB1 sen(πx) + 9πB3 sen(3πx) + 15πB5 sen(5πx) = sen(πx) − 5 sen(5πx).

1
Então 3πB1 = 1, 9πB3 = 0 e 15πB5 = −5. E finalmente obtemos que B1 = , B3 = 0

1
e B5 = − .

Portanto a solução é
1 1
u(x, t) = sen(3πt) sen(πx) + 2 cos(9πt) sen(3πx) − sen(15πt) sen(5πx).
3π 3π
De forma geral, podemos proceder sempre de forma similar.
Usando a expressão
N
X  nπ 
u(x, 0) = An sen x
n=1
L
obtemos os valores de An .
Derivando a solução em relação a t obtemos:
N
∂u X nπc h  nπc   nπc i  nπ 
(x, t) = −An sen t + Bn cos t sen x .
∂t n=1
L L L L
Portanto
N
∂u X nπc  nπ 
(x, 0) = Bn sen x
∂t n=1
L L
e a partir desta expressão obtemos os coeficientes Bn .
Chegamos então no resultado seguinte.
112 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

Proposição 5.1

Sejam A1 , . . . , AN e B̃1 , . . . , B̃N constantes dadas. Uma solução do problema

∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0;
XN  nπ 
CI u(x, 0) = An sen x , (5.10)
n=1
L
N
∂u X  nπ 
(x, 0) = B̃n sen x , 0≤x≤L
∂t n=1
L

está dada por


N   nπc   nπc 
X L  nπ 
u(x, t) = An cos t + B̃n sen t sen x .
n=1
L nπc L L

De forma geral, para resolvermos de forma rápida problemas do tipo do exemplo acima
devemos
 nπc   nπ 
• inserir o fator cos t nos termos envolvendo sen x na função f (x);
L L
L  nπc   nπ 
• inserir o fator sen t nos termos envolvendo sen x na função g(x);
nπc L L
• adicionar todos os termos.
 nπ 
Se f e g não são somas finitas de funções da forma sen x , podemos utilizar suas
L
séries de Fourier em senos, como foi feito para resolver o problema de propagação do calor
numa barra com extremos mantidos a temperatura zero. Pode ser provado o resultado a
seguir.

Teorema 5.2

A expressão
∞   nπc   nπc 
X L  nπ 
u(x, t) = An cos t + B̃n sen t sen x ,
n=1
L nπc L L

converge uniformemente para a solução do problema 5.5 desde que

• An e B̃n sejam os coeficientes de Fourier das séries em senos das funções f :


[0, L] → R e g : [0, L] → R;

• f ∈ C 2, g ∈ C 1;

• f (0) = f (L) = 0, f 00 (0) = f 00 (L) = 0 e g(0) = g(L) = 0.


5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 113

O teorema acima garante que toda solução do problema da corda com extremos fixos
pode ser obtida como superposição finita ou infinita de soluções da forma 5.8. Estas
soluções “ básicas” têm algumas propriedades interessantes que apresentamos a seguir.

5.2.2 Harmônicos
h  nπc   nπc i  nπ 
Cada solução un (x, t) = An cos t + Bn sen t sen x é chamada de harmônico
L L L
da corda com extremos fixos.
pSe chamarmos de (Rn , αn ) às coordenadas polares do ponto (An , Bn ), teremos que Rn =
A2n + Bn2 e que An = Rn cos αn e Bn = Rn sen αn (αn ∈ [0, 2π)). Então
h  nπc   nπc i  nπ 
un (x, t) = Rn cos αn cos t + sen αn sen t sen x
 nπc L  nπ  L L
= Rn cos t − αn sen x .
L L
 nπ 
Cada ponto x0 da corda oscila em movimento harmônico simples com amplitude Rn sen x0
L
nπc
. Os pontos tais que sen nπ

e frequência angular ωn = x = 0 não se movem. Eles
L 0
L
são chamados de nodos.
 nπ  Os pontos com amplitude máxima (antinodos) são aqueles que
satisfazem sen x0 = ±1.
L
Como todos os pontos oscilam com a mesma frequência, podemos falar na frequência
da corda. A frequência fn satisfaz
s
ωn nc n T
fn = = = = nf1 .
2π 2L 2L ρ
As oscilações de uma corda são captadas geralmente pelo som que elas geram. Podemos
dizer que o som de uma corda de um instrumento musical, por exemplo, é a superposição
de vários harmônicos com diferentes frequências. O som mais grave que pode emitir
uma corda está determinado pela frequência f1 , chamada de frequência fundamental. Há
maneiras de dedilhar uma corda de forma que os tons mais graves correspondam com
outras frequências. Constataremos isso no próximo exemplo.
Exemplo 5.2.2. (Movimento da corda dedilhada) Determinemos uma expressão para a
posição em cada instante de tempo de uma corda dedilhada que satisfaz o problema
∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
CF u(0, t) = 0 u(L, t) = 0, t ≥ 0; (5.11)
∂u
CI u(x, 0) = f (x), (x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L
∂t
onde f é uma função com gráfico representado abaixo
Solução
Temos que  u
0
 x, 0 ≤ x ≤ x0 ;
x0

f (x) = x−L
 u0
 , x0 ≤ x ≤ L.
x0 − L
A função f não satisfaz as condições do teorema 5.2 pois ela não é derivável no ponto
x0 . Podemos no entanto utilizar a expressão que temos para a solução e obteremos uma
114 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

Figura 5.4: Gráfico de f

função u(x, t) que para cada t > 0 será solução da equação da onda em todos os pontos
da corda salvo um ou dois deles.
Como g ≡ 0, temos que para todo n ∈ N, B˜n = 0.
Calculemos os coeficientes de Fourier de f .

2 L
Z  nπ 
An = f (x) sen x dx
L 0 L
   Z L
2 −L L 2 L  nπ 
= f (x) + f 0 (x) cos x dx.
L nπ 0 L nπ 0 L

A primeira parcela se anula porque f (0) = f (L) = 0. Utilizando que


 u0
 , 0 ≤ x < x0 ;
f 0 (x) = x0
 u0 , x0 < x ≤ L.
x0 − L
obtemos
  Z x0 Z x0  nπ  
2 L u0  nπ  u0
An = cos x dx + cos x dx
L nπ 0 x0 L 0 x0 − L L
 2   nπ 
2 L u0  nπ  u0
= sen x0 − sen x0
L nπ x0 L x0 − L L
2L2 u0 1  nπ 
= 2 sen x0
π x0 (L − x0 ) n2 L

Portanto

2L2 u0 X 1  nπ   nπc   nπ 
u(x, t) = 2 sen x0 cos t sen x .
π x0 (L − x0 ) n=1 n2 L L L

Usando a fórmula de D’Alembert como é descrito na próxima subseção, é possı́vel


verificar que quase todo o tempo a solução se comporta como no gráfico abaixo oscilando
5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 115

Figura 5.5: Gráfico de u(x, t)

entre as partes superior e inferior do paralelogramo construı́do a partir da configuração


inicial da corda.  
2L
Perceba que u x, t + = u(x, t), e portanto a corda volta à posição inicial no
c
2L
instante t = e continua seu movimento.
c
Podemos analisar o que ocorre quando a corda for dedilhada no meio. Nesse caso
L
terı́amos x0 = e portanto,
2


8u0 X 1  nπ   nπc   nπ 
u(x, t) = sen cos t sen x
π 2 n=1 n2 2 L L

8u0 X (−1)k+1
   
(2k − 1)πc (2k − 1)π
= 2 cos t sen x
π k=1 (2k − 1)2 L L

Nesta solução intervêm apenas os harmônicos de ı́ndice ı́mpar. A amplitude destes


harmônicos é inversamente proporcional ao quadrado de sua frequência.

Na próxima subseção veremos que também podemos resolver este tipo de problema
de contorno exatamente usando a fórmula de d’Alembert. No entanto, a expressão da
solução na forma de série contém informações relevantes sobre propriedades qualitativas
da solução.
2L
Observe que como cada somando é periódico em t com perı́odo , a solução toda deve
c
sê-lo, ou seja u x, t + 2L

c
= u(x, t).
Consideremos uma corda dedilhada com uma forma inicial geral f . A solução se escreve
da forma


X  nπc   nπ 
u(x, t) = An cos t sen x .
n=1
L L

Portanto, depois de meio perı́odo teremos


116 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

  ∞   
L X nπc L  nπ 
u x, t + = An cos t+ sen x
c n=1
L c L
X∞  nπc   nπ 
= An cos t + nπ sen x
n=1
L L
X∞  nπc   nπ 
= An cos t cos(nπ) sen x
n=1
L L
X∞  nπc   nπ 
n
= (−1) An cos t sen x
n=1
L L
X∞  nπc   nπ 
=− An cos t sen (L − x)
n=1
L L
= −u(x, t).

Portanto, a forma da onda inicial é reproducida, primeiro como uma imagem espelhada
L 2L
invertida no instante e depois na sua forma original no instante .
c c

5.2.3 Solução usando a fórmula de D’Alembert


No exemplo acima apresentamos o gráfico de uma solução dada em forma de série.
No entanto, sabemos que podemos representar no computador apenas somas finitas de
funções. A seguir explicaremos uma outra maneira de resolver o problema 5.10 que
esclarecerá como foi feito esse gráfico.
Chamemos de f˜ e g̃ às extensões de perı́odo 2L das extensões ı́mpares das funções f e
g, respectivamente. Nas condições do teorema 5.2 temos que Ss f = f˜ e Ss g = g̃.
Consideremos a seguir a função ũ, solução do problema

∂ 2u 2
2∂ u
ED = c , −∞ < x < ∞, t > 0;
∂t2 ∂x2
∂u
CI u(x, 0) = f˜(x), (x, 0) = g̃(x), −∞ < x < ∞.
∂t
ũ(x, t) satisfaz a fórmula de D’Alembert

f˜(x + ct) + f˜(x − ct) 1 x+ct


Z
ũ(x, t) = + g̃(r)dr.
2 2c x−ct
Ela está definida para −∞ < x < ∞, mas se nos restringirmos ao intervalo [0, L],
teremos que ũ satisfaz a equação e as condições iniciais de 5.10. Além disto, o exercı́cio
5 garante que para cada t fixo, ũ(x, t) é uma função contı́nua, ı́mpar e 2L periódica. Isto
só é possı́vel se ũ(0, t) = ũ(L, t) = 0, portanto ũ satisfaz o problema 5.10.
Exemplo 5.2.3. (Refazendo o exemplo da corda dedilhada) Para escrever a solução do
problema 5.11 usando a fórmula de D’Alembert precisamos obter a função f˜ que é a
extensão 2L periódica da extensão ı́mpar de f .
e depois usar a fórmula.

f˜(x + ct) + f˜(x − ct)


u(x, t) = ,
2
5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 117

Figura 5.6: Gráfico de f˜

Desta forma foi construı́da a solução exata que foi graficada na figura 5.5.

A partir destas considerações podemos criar uma animação que reproduza o movimento
da corda neste caso. A sequência de códigos abaixo produz essa animação no Maxima no
caso particular L = 30, x0 = 10 e u0 = 1.
(%i1) /*Valores dos par^
ametros*/
c:2$L:30$
(%i2) /*Extens~
ao da funç~
ao f*/
f(x):= if (x<-50) then (60+x)/10 else
(if x<-10 then -(30+x)/20 else
(if x<10 then x/10 else
(if x<50 then (30-x)/20 else
(if x<70 then (x-60)/10 else
(-x+90)/20))))$
(%i3) /*Fórmula de D’Alembert*/
u(x,t):=(f(x+c*t)+f(x-c*t))/2$
(%i4) load(draw)$
118 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

(%i5) /*Inicializar os par^


ametros para os gráficos*/
set_draw_defaults(
axis_bottom = false,
axis_top = false,
axis_left = false,
axis_right = false,
xaxis=true,yaxis=true,
xaxis_type= solid,
yaxis_type= solid,
xaxis_width =2,
yaxis_width =2,
xtics_axis=true,
ytics_axis=true,
xlabel="",
ylabel=""
);

(%i6) /*Animaç~
ao*/
for t:0 thru 30 step 2 do(
k:0,
while k<10000 do k:k+1,
draw2d(
xtics = {0,10,20,30},
ytics = {-1,-0.5,0,0.5,1},
xrange = [-0.2,30.2],
yrange = [-1,1],
label([sconcat("t=",t),17,0.8]),
line_width = 3,
transparent = true,
line_type = dots,
color= gray,
polygon([[0,0],[10,1],[30,0],[20,-1]]),
color = blue,line_width=2,
line_type = solid,
key = "u(x,t)",
explicit(u(x,t),x,0,30)));

5.2.4 Exercı́cios
1. Resolva o problema

∂ 2u 2
2∂ u
=c , 0 ≤ x ≤ L, t > 0;
∂t2 ∂x2
u(0, t) = 0, u(L, t) = 0;
∂u
u(x, 0) = f (x) (x, 0) = g(x).
∂t
nos casos seguintes:
5.2. A CORDA COM EXTREMOS FIXOS 119
 πx   4πx  1  2πx 
(a) f (x) = 3 sen − sen , g(x) = sen .
L L 2 L
 πx 
(b) f (x) = sen3 , g(x) = 0.
L
 πx   πx 
(c) f (x) = 0, g(x) = sen cos2 .
L L
 πx   πx   πx 
(d) f (x) = sen3 , g(x) = sen cos2 .
L L L
(e) f (x) = 0, g(x) = 1.
(f) f (x) = x(L − x), g(x) = 0.

x, 0 ≤ x < L/2;
(g) f (x) = , g(x) = 0.
L − x, L/2 ≤ x ≤ L.
 πx 
(h) f (x) = sen , g(x) = x(L − x).
L
2. Para uma corda que vibra transversalmente em um meio, digamos ar, a resistência
do ar deve ser levada em conta. Assumindo que a força devido à resistência do ar é
∂u
proporcional à velocidade (x, t)~j, pode ser provado que u(x, t) satisfaz a equação
∂t
∂ 2u 2
2∂ u ∂u
2
= c 2
− k , para algum k > 0.
∂t ∂x ∂t
Encontre todas as soluções produto do problema

∂ 2u 2
2∂ u ∂u
2
= c 2
− k , 0 ≤ x ≤ L, t > 0;
∂t ∂x ∂t
u(0, t) = 0, u(L, t) = 0,

considerando k > 0.

3. Encontre todas as soluções produto do problema

∂ 2u 2
2∂ u
= c , 0 < x < π, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
∂u ∂u
(0, t) = 0, (π, t) = 0.
∂x ∂x

4. Utilize as soluções obtidas no exercı́cio anterior e o método de separação de variáveis


para achar a solução do problema abaixo.

∂ 2u ∂ 2u
= 4 , 0 ≤ x ≤ π, t ≥ 0;
∂t2 ∂x2
∂u ∂u
(0, t) = 0, (π, t) = 0;
∂x ∂x
∂u
u(x, 0) = cos2 (x) (x, 0) = sen2 (x).
∂t
(a) Justifique seu procedimento.
(b) Encontre duas funções F : R → R e G : R → R tais que

u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct).


120 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS

5. Considere o problema

∂ 2u 2
2∂ u
= c , 0 ≤ x ≤ L, t > 0;
∂t2 ∂x2
 πx   4πx  ∂u 1  2πx 
u(x, 0) = 3 sen − sen (x, 0) = sen .
L L ∂t 2 L
Verifique que a solução fornecida pela fórmula de D’Alembert coincide com a obtida
na questão 1 (a).

6. Utilize a representação do n-ésimo harmônico na forma


 nπc   nπ 
un (x, t) = Rn cos t − αn sen x
L L
e a identidade
sen(α + β) + sen(α − β)
sen(α) cos(β) =
2
para determinar uma função F tal que
 nπ   nπ 
un (x, t) = F (x − ct) + αn + F (x + ct) − αn .
L L

Desta forma, representamos un como uma onda estacionária produzida pela inter-
ferência de duas ondas com a mesma frequência, amplitude e comprimento de onda
viajando em direções opostas.
Capı́tulo 6

A equação de Laplace

6.1 Generalidades sobre a equação


A equação de Laplace bidimensional é

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0. (6.1)
∂x2 ∂y 2
Aqui a função incógnita é u = u(x, y), que depende das variáveis espaciais x e y. Uma
função u que satisfaça esta equação em todos os pontos de uma região aberta D, é chamada
de função harmônica sobre essa região. Lembremos que uma solução u de uma equação de
segunda ordem, como é a equação de Laplace, precisa ter todas suas derivadas de ordem
dois contı́nuas, ou seja, u ∈ C 2 . Isto quer dizer que todas as funções harmônicas sobre D
são C 2 nessa região. De fato pode-se provar que todas as funções harmônicas sobre uma
região têm ali infinitas derivadas contı́nuas (ou seja, são C ∞ sobre a região).
Embora bidimensional, a equação 6.1 aparece em várias aplicações.

Exemplo 6.1.1. A temperatura u(x, y, t) de uma placa plana, feita de um material


homogêneo condutor do calor, na ausência de fontes de calor, satisfaz a equação do calor
bidimensional
 2
∂ u ∂ 2u

∂u
=k + (6.2)
∂t ∂x2 ∂y 2
onde k é uma constante que depende de caracterı́sticas fı́sicas da placa.
Uma distribuição estacionária do calor corresponderia a uma função u independente
∂u
do tempo, ou seja, tal que = 0, portanto tal solução satisfaria a equação de Laplace
∂t
bidimensional.

Exemplo 6.1.2. A amplitude das oscilações transversais de uma membrana vibrante pode
ser modelada pela equação da onda bidimensional

∂ 2u
 2
∂ u ∂ 2u

2
=c + , (6.3)
∂t2 ∂x2 ∂y 2

onde c > 0 representa a velocidade de propagação das perturbações.


Uma membrana cuja forma permaneça inalterada com o tempo seria representada por
uma solução da equação de Laplace bidimensional.

121
122 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

6.1.1 Invariâncias da equação de Laplace


Sabemos que se u é solução da equação de Laplace sobre uma região, ela pode ser
interpretada como a temperatura estacionária de uma placa com o formato dessa região.
Claramente, se movemos a placa de lugar, a temperatura em cada ponto continuará sendo
independente do tempo. Desde o ponto de vista matemático, isto corresponde ao fato da
equação de Laplace ser invariante em relação a rotações, reflexões e translações do plano.
Formalmente, esta propriedade pode ser apresentada da forma seguinte.
Suponhamos que u é solução da equação de Laplace (6.1) sobre uma região D. Consi-
deremos no plano xy novas coordenadas ξ e η definidas pelas equações

ξ = ax + by + e,
η = cx + dy + f,

onde a, b, c, d, e, f são constantes. Precisamos também pedir que ad − bc 6= 0 para


garantirmos que a transformação seja invertı́vel. Consideremos agora uma função v
que não é mais do que a própria função u em termos das novas variáveis v(ξ, η) =
u(x(ξ, η), y(ξ, η)). Vale então que u(x, y) = v(ax + by + e, cx + dy + f ).
Como fica a equação de Laplace nas novas coordenadas?
Vamos usar a regra da cadeia para exprimir as derivadas parciais de u em termos das
derivadas parciais de v.

∂u ∂v ∂v
=a +c
∂x ∂ξ ∂η
∂u ∂v ∂v
=b +d
∂y ∂ξ ∂η
∂ 2u 2
∂ v ∂ 2v ∂ 2v
= a2 2 + 2ac + c2 2
∂x2 ∂ξ ∂ξ∂η ∂η
∂ 2u 2
∂ v 2
∂ v ∂ 2v
= b2 2 + 2bd + d2 2 .
∂y 2 ∂ξ ∂ξ∂η ∂η

Portanto
∂ 2u ∂ 2u 2
2
2 ∂ v ∂ 2v 2
2
2 ∂ v
+ = (a + b ) + 2(ac + bd) + (c + d ) =0
∂x2 ∂y 2 ∂ξ 2 ∂ξ∂η ∂η 2

Alguns tipos de transformações deixam a equação de Laplace inalterada no sentido que


v também satisfaz a equação de Laplace. Veremos alguns exemplos a seguir.

(a) Rotações
Uma rotação de um ângulo θ no sentido anti-horário corresponde aos valores a = d =
cos(θ) b = sen(θ), c = − sen(θ), e = f = 0, ou seja,

ξ = x cos θ + y sen θ,
η = −x sen θ + y cos θ,

Calculando a transformação de coordenadas inversa, obtemos que

v(ξ, η) = u(ξ cos θ − η sen θ, ξ sen θ + η cos θ).


6.1. GENERALIDADES SOBRE A EQUAÇÃO 123

Neste caso a2 + b2 = c2 + d2 = 1 e ac + bd = 0, portanto,

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2v ∂ 2v
+ = + =0
∂x2 ∂y 2 ∂ξ 2 ∂η 2
e obtemos que v também satisfaz a equação de Laplace sobre a região Dθ que é obtida
rotacionando D um ângulo θ no sentido anti-horário.
[figura da rotação]

(b) Translações
Neste caso a = d = 1 e b = c = 0. Portanto v definida como v(ξ, η) = u(ξ − e.η − f )
também satisfaz a equação de Laplace na região Dt , obtida transladando a região D
e unidades na horizontal e f no sentido vertical.
[figura translação]

(c) Reflexão em torno de uma reta.


Verificaremos que v satisfaz a mesma equação de Laplace apenas no caso em que a
reta da reflexão seja o eixo x, ou seja, y = 0. Isto é suficiente porque qualquer outra
reta pode ser obtida a partir desta usando rotações e translações, que como vimos,
preservam a equação de Laplace.
Para uma reflexão em torno do eixo x temos que a = 1 e d = −1. Todas as outras
constantes na mudança de coordenadas valem zero. A função v satisfaz

v(ξ, η) = u(ξ, −η).

Portanto, v também satisfaz a equação de Laplace neste caso, sobre a região Dr ,


resultado de refletir a região D em relação ao eixo x.
[figura reflexão]

Estas invariâncias serão úteis ao resolvermos diferentes problemas de contorno.

6.1.2 Alguns problemas de contorno


Descreveremos a seguir dois tipos de problemas que podem ser colocados para a equação
de Laplace. Eles são chamados de problema de Dirichlet e problema de Neumann.
Suponhamos que D é uma região no plano limitada por uma quantidade finita de curvas
fechadas (que não pertencem a D). Chamaremos de C à união destas curvas. (veja a
figura 6.1)
Suponhamos que f é uma função contı́nua definida sobre a fronteira C. Desde o
ponto de vista fı́sico, podemos pensar que D é uma placa condutora de calor e nesse
caso f representaria a distribuição de temperatura nas bordas da placa. O problema de
Dirichlet consiste em determinar a temperatura no interior da placa assumindo conhecida
a temperatura nas suas bordas. Do ponto de vista matemático, no problema de Dirichlet
para a equação de Laplace buscamos a solução desta equação sobre a região D que pode
ser estendida até os pontos da fronteira de forma contı́nua. Isto quer dizer que para cada
ponto P ∈ C, os valores da solução u(x, y) podem ficar arbitrariamente próximos de f (p)
se (x, y) ∈ D for suficientemente próximo de p. O problema de Dirichlet pode ser escrito
da forma
124 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

Figura 6.1: Exemplo de região D limitada por curvas com união C.

∂ 2u ∂ 2u
ED + 2 = 0, em D; (6.4)
∂t2 ∂x
CF u(P ) = f (P ), para todo P em D (6.5)

Aqui estamos assumindo implicitamente que a função u pode ser estendida continua-
mente a D ∪ C.
Com a mesma notação anterior, no problema de Neumann buscamos uma função
harmônica em D tal que, em cada ponto P da fronteira C, a derivada direcional de
u na direção da normal exterior n(P ) seja igual ao valor g(P ), onde g é uma função dada,
definida e contı́nua sobre C.

Figura 6.2: Problema de Neumann

∂ 2u ∂ 2u
ED + = 0, em D; (6.6)
∂x2 ∂y 2
∂u
CF (P ) = g(P ), para todo P em D (6.7)
∂n
∂u
Fisicamente, ao especificarmos estamos definindo a taxa de fluxo de calor através
∂n
da borda da placa e queremos encontrar a distribuição estacionária da temperatura no
interior dela. Para que esta distribuição estacionária exista, o fluxo total de calor através
6.1. GENERALIDADES SOBRE A EQUAÇÃO 125

de C deve ser zero. Portanto, o problema de Neumann não terá solução a menos que a
média da função g sobre a curva C seja zero, ou seja, se
Z
g(s)ds = 0.
C
Esta suposição é conhecida como condição de compatibilidade. No caso da equação do
∂u ∂u
calor unidimensional, a condição análoga seria − (0, t) + (L, t) = 0, que como vimos,
∂x ∂x
é requerida para a existência de uma solução estacionária nesse caso.
[e. poisson]

6.1.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1
(a) Verifique que todas as funções u que sejam polinômios de x e y de primeira ordem
satisfazem a equação de Laplace. (ou seja, são funções harmônicas)

(b) Verifique que qualquer função da forma U (x, y) = c0 + c1 x + c2 y + c3 xy satisfaz a


equação de Laplace. Aqui c0 , c1 , c2 e c3 são constantes arbitrárias.

(c) Determine condicões sobre as constantes a, b e c para que o polinômio homogêneo de


segunda ordem u(x, y) = ax2 + bxy + cy 2 satisfaça a equação de Laplace.

Exercı́cio 1.2
Sejam ul e u2 funções harmônicas (i.e., soluções da equação de Laplace).

(a) Prove que c1 u1 + c2 u2 também é uma função harmônica para quaisquer c1 , c2 ∈ R.

(b) Se u é harmônica, prove que xu(x, y) é harmônica se e somente se u(x, y) = ay + b,


para a e b constantes.

(c) Dê um exemplo de duas funções harmônicas cujo produto não seja uma função
harmônica.

Exercı́cio 1.3
Determine todas as funções harmônicas na forma produto, ou seja, da forma u(x, y) =
X(x)Y (y).
Tente arranjar os termos de forma a obter para X a equação X 00 (x) = λX(x) para que
você possa utilizar as soluções já obtidas em (3.6)-(3.8).

Exercı́cio 1.4
A versão não homogênea da equação de Laplace é chamada de equação de Poisson

∂ 2u ∂ 2u
+ = h(x, y), (6.8)
∂x2 ∂y 2
nomeada assim em homenagem a Siméon-Denis Poisson, que foi aluno de Laplace. Se u
representa a temperatura estacionária de uma membrana, a função h corresponde a fontes
de calor. Quando u representa a posição de uma membrana, h corresponde a uma força
externa.
126 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

∂ 2u ∂ 2u
(a) Determine a solução do problema + = 1 para x2 + y 2 < 1 e u(x, y) = 0 para
∂x2 ∂y 2
x2 + y 2 = 1. Sugestão: A solução é um polinômio muito simples.
(b) A solução pode ser interpretada como a posição no equilı́brio de um tambor circular
sujeito a uma força gravitacional constante. Interprete o gráfico da solução obtida.

Exercı́cio 1.5
Usando a interpretação de distribuição de temperatura estacionária, descreva as diferenças
entre o significado fı́sico dos problemas homogêneos de Dirichlet e de Neumann para a
equação de Laplace.

6.2 O problema de Dirichlet no retângulo


As formas que pode ter uma placa são muito variadas. Isto influencia as propriedades
das soluções e também a maneira de resolvermos os problemas de contorno. Nesta seção
estudaremos o problema de Dirichlet no caso em que a placa tem forma retangular.
Suponhamos que a placa pode ser representada como na figura 6.3.

Figura 6.3: Placa retangular

O problema de Dirichlet neste caso pode ser escrito da forma

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < L, 0 < y < M ; (6.9)
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = f1 (x), u(x, M ) = f2 (x), 0 ≤ x ≤ L; (6.10)
u(0, y) = g1 (x), u(L, y) = g2 (y), 0 ≤ y ≤ M. (6.11)
Para que a temperatura dada na fronteira do retângulo seja uma função contı́nua,
precisaremos que todas as funções f1 , f2 , g1 e g2 sejam funções contı́nuas e além disto,
precisaremos também que elas coincidam nos vértices, ou seja, f1 (0) = g1 (0), f1 (L) =
g2 (0), f2 (L) = g2 (M ) e f2 (0) = g1 (M ).
Veremos como determinar a solução de um problema deste tipo usando o método de
separação de variáveis mas antes disso, para termos certeza de que podemos de fato falar
da solução do problema, vamos verificar que não pode haver mais de uma solução.
6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 127

A unicidade das soluções é consequência da linearidade da equação de Laplace e do


resultado a seguir.

Teorema 6.1

Se f1 = f2 = 0 e g1 = g2 = 0, então a única solução do problema (6.9)-(6.11) tal que


ela e suas derivadas primeiras são contı́nuas até os lados do retângulo é a solução
nula.

Demonstração. Suponha que u é uma solução nas condições do teorema. Vale que
  2  2
∂ 2u ∂ 2u
  
∂ ∂u ∂ ∂u ∂u ∂u
u + u = +u 2 + +u 2
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y
 2  2 2
∂u ∂u ∂ u ∂ 2u
= + +u 2 +u 2
∂x ∂y ∂x ∂y
 2  2
∂u ∂u
= + .
∂x ∂y
Portanto,
Z M Z L " 2  2 # Z M Z L    
∂u ∂u ∂ ∂u ∂ ∂u
+ dxdy = u + u dxdy
0 0 ∂x ∂y 0 0 ∂x ∂x ∂y ∂y
Z MZ L   Z LZ M  
∂ ∂u ∂ ∂u
= u dxdy + u dydx
0 0 ∂x ∂x 0 0 ∂y ∂y
Z M  Z L 
∂u L ∂u M
= u dy + u dx
0 ∂x 0 0 ∂y 0
= 0.
∂u ∂u
Portanto, as funções e se anulam e u é constante. Como u vale zero nos lados do
∂x ∂y
retângulo, u = 0.

6.2.1 Resolução do problema “básico”


Vamos explicar agora a estratégia que usaremos para achar a solução do problema (6.9)-
(6.11). Resolveremos primeiro um problema que estamos chamando aqui de ”básico”e
que é obtido a partir do problema geral tomando g1 = g2 = 0 e f1 = 0.
Temos então que

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < L, 0 < y < M ; (6.12)
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 0, u(x, M ) = f2 (x), 0 ≤ x ≤ L; (6.13)
u(0, y) = 0, u(L, y) = 0, 0 ≤ y ≤ M, (6.14)

onde f2 (0) = f2 (L) = 0.


Vamos resolver este problema usando o método de separação de variáveis. Para isto
precisamos primeiramente encontrar as soluções produto u(x, y) = X(x)Y (y).
128 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

Figura 6.4: A placa do problema “básico”.

Substituindo na equação, obtemos que

X 00 (x) Y 00 (y)
X 00 (x)Y (y) + X(x)Y 00 (y) = 0 ⇒ =− = λ,
X(x) Y (y)

onde λ é alguma constante.


Utilizando mais uma vez as expressões (3.6)-(3.8) obtemos três tipos de soluções pro-
duto.

Caso 1 : λ = 0
X(x) = c1 x + c2 , Y (y) = d1 y + d2 ⇒ u(x, t) = (c1 x + c2 )(d1 y + d2 ),
Caso 2 : λ = α2 > 0
X(x) = c1 eαx + c2 e−αx , Y (y) = d1 cos(αy) + d2 sen(αy)
(6.15)
⇒ u(x, t) = (c1 eαx + c2 e−αx )(d1 cos(αy) + d2 sen(αy)),
Caso 3 : λ = −α2 < 0
X(x) = c1 cos(αx) + c2 sen(αx), Y (y) = d1 eαy + d2 e−αy
⇒ u(x, t) = (c1 cos(αx) + c2 sen(αx))(d1 eαy + d2 e−αy ).

Para que uma solução produto não nula satisfaça as condições u(0, y) = 0, u(L, y) = 0,
precisaremos ter X(0) = X(L) = 0. Pela proposição 3.1 obtemos que as soluções produto
satisfazendo estas duas condições são da forma
 nπ 
(n) nπ (n) nπ
un (x, y) = (d1 e L y + d2 e− L y ) sen x , n ∈ N,
L

(n) (n)
onde d1 , d2 ∈ R. Estas soluções devem satisfazer também a terceira condição nula, ou
seja,
 nπ 
(n) (n)
un (x, 0) = (d1 + d2 ) sen x =0
L
(n) (n) (n) (n)
para todo x ∈ [0, L]. Portanto, d1 + d2 = 0 e d2 = −d1 . Substituindo esta
6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 129

expressão, obtemos que


nπ nπ
 nπ 
(n)
un (x, y) = d1 (e L y − e− L y ) sen x
L

y − nπ y
(n) e L − e L
 nπ 
= 2d1 sen x
 nπ2   nπ L
=Bfn sen x senh y
L L
(n)
onde B
fn = 2d1 .
Concluimos então que toda solução produto satisfazendo

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < L, 0 < y < M ;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L;
u(0, y) = 0, u(L, y) = 0, 0 ≤ y ≤ M,

deve ser da forma  nπ   nπ 


un (x, y) = Bn sen
f x senh y (6.16)
L L
onde n ∈ N e B fn é uma constante.
 nπ 
Se a função f2 em (6.13) for uma combinação linear de funções sen x , podemos
L
usar as soluções que acabamos de obter e o Princı́pio de Superposição para determinar a
solução de um problema dado. Faremos isto no exemplo a seguir.
Exemplo 6.2.1. Resolva o problema
∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < π, 0 < y < π;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 0, u(x, π) = 5 sen(2x) − 7 sen(8x), 0 ≤ x ≤ π;
u(0, y) = 0, u(π, y) = 0, 0 ≤ y ≤ π.

Resolução:
Neste caso a placa é quadrada e L = M = π. Sabemos que as soluções produto da
equação, que satisfazem as condições de fronteira nulas são da forma

un (x, y) = B
fn sen(nx) senh(ny),

com B fn constante. Cada uma destas soluções, no lado superior do quadrado (y = π)


satisfaz
un (x, π) = B
fn sen(nx) senh(nπ) = (B
fn senh(nπ)) sen(nx).
Comparando esta expressão com u(x, π) = 5 sen(2x) − 7 sen(8x), concluimos que para
formar a solução buscada precisaremos utilizar uma combinação linear das soluções pro-
duto correspondentes aos ı́ndices n = 2 e n = 8. Esta combinação linear continuará
satisfazendo a equação pelo Princı́pio de Superposição porque a equação de Laplace é
linear e homogênea e satisfará as três condições de fronteira nos lados inferior e laterais
do quadrado porque ali todas as soluções produto encontradas valem zero.
Precisamos então buscar uma solução da forma

u(x, y) = B
f2 sen(2x) senh(2y) + B
f8 sen(8x) senh(8y).
130 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

(a) Gráfico de z = u(x, y) (b) Mapa de calor de u


5 7
Figura 6.5: u(x, y) = sen(2x) senh(2πy) − sen(8x) senh(8πy).
senh(2π) senh(8π)

Vamos calcular agora os valores das constantes B f2 e B


f8 . Para isto, fazemos com que o
valor da nossa candidata a solução coincida com 5 sen(2x) − 7 sen(8x) no lado superior
do quadrado:
u(x, π) = B
f2 sen(2x) senh(2π) + Bf8 sen(8x) senh(8π)
= (B
f2 senh(2π)) sen(2x) + (B
f8 senh(8π)) sen(8x)
= 5 sen(2x) − 7 sen(8x).

f8 senh(8π) = −7, ou seja, B 5


Portanto, B
f2 senh(2π) = 5 e B f2 = e B
f8 =
senh(2π)
7
− e a solução será
senh(8π)
5 7
u(x, y) = sen(2x) senh(2πy) − sen(8x) senh(8πy).
senh(2π) senh(8π)
Na figura 6.5 mostramos dois tipos de gráficos que representam esta solução.
 nπ 
Nos casos em que u(x, M ) não for uma combinação linear de funções sen x ,
L
podemos usar a série de Fourier em senos da função f2 . Além de f2 ser uma função
contı́nua, precisaremos também que sua derivada seja contı́nua por partes e que f2 (0) =
f2 (L). Pelo teorema 4.6 isto garante que quando 0 ≤ x ≤ L a série de Fourier em senos
de f2 converge uniformemente para f2 . Este resultado e o comportamento da função senh
para valores grandes do argumento, permitem provar que neste caso vale também um
Princı́pio de Superposição Generalizado. Ou seja, sob as condições descritas para f2 , a
função
∞ ∞
fn sen nπ x senh nπ y ,
X X    
u(x, y) = un (x, y) = B
n=1 n=1
L L
é a solução procurada, onde os coeficientes Bfn são calculados usando a informação que
temos sobre f2 , ou seja, por um lado

fn sen nπ x senh nπ M .
X    
f2 (x) = u(x, M ) = B
n=1
L L
6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 131

e pelo teorema 4.6,


∞  nπ  Z L
X 2  nπ 
f2 (x) = u(x, M ) = Bn sen x , Bn = f2 (x) sen x dx,
n=1
L L 0 L

portanto,
 nπ  Bn
Bn = Bn senh
f M ⇒B
fn =
senh nπ

L L
M
e então
∞ ∞
X X Bn  nπ   nπ 
u(x, y) = un (x, y) = nπ
 sen x senh y ,
n=1 n=1
senh L
M L L

A seguir apresentamos um exemplo desse tipo.

Exemplo 6.2.2. Determine a solução do problema

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < π, 0 < y < π;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 0, u(x, π) = x3 (x − π), 0 ≤ x ≤ π;
u(0, y) = 0, u(π, y) = 0, 0 ≤ y ≤ π.

A função f2 (x) = x3 (x − π) é um polinômio, portanto é contı́nua e derivável por partes.


Além disto, vale f2 (0) = f2 (L) = 0. Após calcularmos os coeficientes de Fourier da série
em senos de x3 (x − π), obtemos que se 0 ≤ x ≤ π,
∞ 
(−1)n 4 (−1)n+1 + 1
X 
3
x (x − π) = 12π + 2 sen(nx)
n=1
n3 π n5
e portanto, a solução do problema será

(−1)n 4 (−1)n+1 + 1
 
X 1
u(x, y) = 12π + 2 sen(nx) senh(ny)
n=1
senh(nπ) n3 π n5

6.2.2 Resolução do problema geral


Voltemos agora à resolução do nosso problema geral com a placa retangular representada
na figura 6.3. Pelo princı́pio de superposição, podemos decompor a solução deste problema
na soma das soluções de quatro problemas, em cada um dos quais a temperatura é zero
sobre três lados. Para resolver os três problemas que ainda não tratamos, não precisamos
aplicar o método de separação de variáveis novamente, basta aplicarmos reflexões em
relação a retas, que como vimos, deixam a equação de Laplace inalterada e que na prática
corresponderı́am a mover a placa retangular de forma que os lados com temperatura zero
sejam os laterais e o lado inferior.
Resumimos as soluções de cada problema na tabela a seguir.
132 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

Soluções produto da equação de Laplace


que se anulam sobre três lados do retângulo
Lados onde a solução se anula Transformações Soluções produto
fn sen nπ x senh nπ (M − y)
   
(x, y) → (x, M − y) A
L L
 nπ   nπ 
(x, y) → (y, x) Dn sen
f y senh x
M M

fn sen nπ y senh nπ (L − x)
   
(x, y) → (y, L − x) C
M M

Vejamos como usar estas soluções em um exemplo.


Exemplo 6.2.3. Determine a solução da equação de Laplace no interior do retângulo
[0, 1] × [0, 3] satisfazendo as condições de Dirichlet

u(x, 0) = 0, u(x, 3) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
π  π 
u(0, y) = − sen y + 9 sen(4πy), u(1, y) = sen y − 6 sen(5πy), 0 ≤ y ≤ 3.
3 3
Resolução:
Para resolver este problema devemos somar as soluções de dois problemas, nos dois a
solução vale zero nos lados horizontais do retângulo.
 
• Temperatura no lado direito da placa igual zero e no lado esquerdo: − sen π3 y +
9 sen(4πy).
Para construirmos a solução usaremos as soluções produto
 nπ   nπ 
Cn sen
f y senh (1 − x)
3 3
com n = 1 e n = 12. Nossa candidata a solução será

f1 sen π y senh π (1 − x) + C
   
C 12 sen(4πy) senh(4π(1 − x)).
g
3 3
Para calcularmos os coeficientes, avaliamos x = 0

f1 sen π y senh π + C
    π 
C g12 sen(4πy) senh(4π) = − sen y + 9 sen(4πy),
3 3 3

f1 = − 1 9
portanto C π
 eC
g 12 = . Obtemos então a solução
senh 3
senh(4π)

1 π  π  9
− π
 sen y senh (1 − x) + sen(4πy) senh(4π(1 − x)) (6.17)
senh 3
3 3 senh(4π)
 
π
• Temperatura no lado esquerdo da placa igual zero e no lado direito: sen 3
y −
6 sen(5πy).
6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 133

Para construirmos a solução usaremos as soluções produto

fn sen nπ y senh nπ x
   
D
3 3
com n = 1 e n = 15. Nossa candidata a solução será

f1 sen π y senh π x + D
   
D g15 sen(5πy) senh(5πx).
3 3
Para calcularmos os coeficientes, avaliamos x = 0
π  π  π 
D1 sen
f y senh + D15 sen(5πy) senh(5π) = sen
g y − 6 sen(5πy),
3 3 3
1 6
portanto D 15 = −
f1 =  eD
g . Obtemos então a solução
π
senh 3
senh(5π)

1 π  π  6
π
 sen y senh x − sen(5πy) senh(5πx). (6.18)
senh 3
3 3 senh(5π)

A resposta é a soma de (6.17) e (6.18):


1 π  π  9
u(x, y) = − π
 sen y senh (1 − x) + sen(4πy) senh(4π(1 − x))
senh 3 3 3 senh(4π)
1 π  π  6
+ π
 sen y senh x − sen(5πy) senh(5πx).
senh 3 3 3 senh(5π)

Na figura 6.6 aparecem algumas representações gráficas da solução obtida.

(a) Gráfico de z = u(x, y) (b) Mapa de calor de u


 
πx
 π(1−x)
senh 3
− senh 3
 πy  senh(4π(1 − x)) senh(5πx)
Figura 6.6: u(x, y) =  
π
sen
3
+9
senh(4π)
sen(4πy) − 6
senh(5π)
sen(5πy).
senh 3

Seguindo a estratégia do exemplo acima, conseguiremos resolver o problema (6.9)-


(6.11). Este é o conteúdo do resultado a seguir.
134 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

Proposição 6.1

Suponha que as funções f1 : [0, L] → R, f2 : [0, L] → R, g1 : [0, M ] → R e g2 :


[0, M ] → R são séries de Fourier em senos finitas com no máximo N coeficientes não
nulos An , Bn , Cn e Dn respectivamente, ou seja
N  nπ  Z L
X 2  nπ 
f1 (x) = An sen x , An = f1 (x) sen x dx
n=1
L L 0 L
N  nπ  Z L
X 2  nπ 
prop2 : laplacef2 (x) = Bn sen x , Bn = f2 (x) sen x dx
n=1
L L 0 L
N  nπ  Z M
X 2  nπ 
g1 (y) = Cn sen y , Cn = g1 (y) sen y dy
n=1
M M 0 M
N  nπ  Z M
X 2  nπ 
g2 (y) = Dn sen y , Dn = g2 (y) sen y dy.
n=1
M M 0 M

Então a solução da equação de Laplace no interior do retângulo [0, L] × [0, M ]


satisfazendo

u(x, 0) = f1 (x), u(x, M ) = f2 (x), 0 ≤ x ≤ L; (6.19)


u(0, y) = g1 (y), u(L, y) = g2 (y), 0 ≤ y ≤ M. (6.20)


N
X 1 h  nπ   nπ i  nπ 
u(x, y) = An senh (M − y) + Bn senh y sen x +
senh nπM

n=1 L
L L L
(6.21)
N
X 1 h  nπ   nπ i  nπ 
C n senh (L − x) + D n senh x sen y (6.22)
senh nπL

n=1 M
M M M

Observação. Se alguma das funções que determina a temperatura em algum lado do


retângulo coincidir com sua série de Fourier em senos infinita, vale uma proposição
análoga trocando N por ∞. Não provaremos aqui esse resultado.

Exemplo 6.2.4.
Resolva o problema

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < π, 0 < y < π;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = sen(x), u(x, π) = 2 sen(2x), 0 ≤ x ≤ π;
u(0, y) = 3 sen(3y), u(π, y) = 4 sen(4y), 0 ≤ y ≤ π.

Resolução:

Para construirmos a solução


6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 135

senh(π − y)
• multiplicamos sen(x) por ;
senh(π)
senh 2y
• multiplicamos 2 sen(2x) por ;
senh(2π)
senh(3(π − x))
• multiplicamos 3 sen(3y) por ;
senh(3π)
senh(4x)
• multiplicamos 4 sen(4y) por ;
senh(4π)
• somamos o resultado.

Portanto, a solução é

senh(π − y) senh(2y) senh(3(π − x))


u(x, y) = sen(x) + 2 sen(2x) + 3 sen(3y)+
senh(π) senh(2π) senh(3π)
senh(4x)
4 sen(4y).
senh(4π)

Na figura 6.7 mostramos dois gráficos da solução obtida.

(a) Gráfico de z = u(x, y) (b) Mapa de calor de u


senh(π − y) senh(2y) senh(3(π − x)) senh(4x)
Figura 6.7: u(x, y) =
senh(π)
sen(x) + 2
senh(2π)
sen(2x) + 3
senh(3π)
sen(3y) + 4
senh(4π)
sen(4y)

6.2.3 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1
Escreva o problema de Dirichlet para a equação de Laplace satisfeito pela função u(x, y) =
−1 + xy no quadrado unitário [0, 1]2 .

Exercı́cio 2.2
Em cada um dos casos a seguir, determine a solução da equação de Laplace no retângulo
R = (0, 1) × (0, 2) que satisfaz as condições de Dirichlet indicadas.

u(x, 0) = sen(πx), u(x, 2) = 3 sen(4πx) − 2 sen(6πx), 0 ≤ x ≤ 1;
(a)
u(0, y) = 0, u(1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 2.
136 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE

u(x, 0) = 3 sen(4πx) − 2 sen(6πx), u(x, 2) = sen(πx), 0 ≤ x ≤ 1;
(b)
u(0, y) = 0, u(1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 2.

u(x, 0) = 0, u(x, 2) = x(1 − x), 0 ≤ x ≤ 1;
(c)
u(0, y) = 0, u(1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 2.

u(x, 2) = sen(πx), 0 ≤ x ≤ 1;
(
u(x, 0) = 0,
(d)  3πy 
u(0, y) = − sen , u(1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 2.
2

u(x, 0) = 0, u(x, 2) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
(e)
u(0, y) = 0, u(1, y) = y(2 − y), 0 ≤ y ≤ 2.

u(x, 0) = sen(πx), u(x, 2) = sen(πx), 0 ≤ x ≤ 1;
(f)
u(0, y) = sen(πy), u(1, y) = sen(πy), 0 ≤ y ≤ 2.

Exercı́cio 2.3
Considere o problema

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 2 cos(7πx) − 4, u(x, 1) = 5 cos(πx), 0 ≤ x ≤ 1;
∂u ∂u
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
Se interpretarmos a solução u como a temperatura estacionária de uma placa quadrada,
as condições de fronteira dadas correspondem à situação em que as bordas laterais da
placa foram isoladas e nas bordas superior e inferior a temperatura é uma função dada.

(a) Decomponha o problema em dois para os quais você possa obter a solução usando o
método de separação de variáveis.

(b) Resolva um destes problemas.

(c) Resolva agora o outro aproveitando as soluções produto que você achou no item
anterior.

(d) Utilize o Princı́pio de Superposição para obter a solução do problema original.

Exercı́cio 2.4
Neste exercı́cio você irá determinar a solução do problema

∂ 2u ∂ 2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = −1 + x + 2 sen(5πx), u(x, 1) = 2(x − 1), 0 ≤ x ≤ 1;
u(0, y) = −1 − y, u(1, y) = 3 sen(2πy), 0 ≤ y ≤ 1.

(a) Verifique que neste caso não podemos aplicar diretamente a proposição 6.1 pois a
solução não vale zero nos vértices do retângulo.
6.2. O PROBLEMA DE DIRICHLET NO RETÂNGULO 137

(b) Encontre uma função da forma U (x, y) = c0 + c1 x + c2 y + c3 xy tal que U (0, 0) =


u(0, 0), U (1, 0) = u(1, 0), U (0, 1) = u(0, 1) e U (1, 1) = u(1, 1). Perceba que você deve
apenas calcular as constantes.

(c) Chame de v à nova função incógnita v(x, y) = u(x, y) − U (x, y). Escreva o problema
de Dirichlet que v satisfaz e resolva este problema.

(d) Escreva a expressão para u.


138 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE LAPLACE
Respostas os exercı́cios

Capı́tulo 1
Solução 1.1
Calcular as derivadas necessárias e substituir nas equações.

Solução 1.2
Calcular as derivadas e substituir nas equações. Para construir as novas soluções, você deve
considerar 4 conjuntos de constantes c1 , c2 , c3 e c4 e definir

v(x, y) = c1 u1 (x, y) + c2 u2 (x, y) + c3 u3 (x, y) + c4 u4 (x, y)


= c1 y + 2c2 xy + c3 (x3 − 3xy 2 ) + c4 ex sen y.

Solução 1.3
(a) a = 3, b = −1.

(b) a = 7, b = 1.

(c) a = π, b = −2.

As soluções desta equação são da forma u(x, y) = f (ax + by), veremos isso mais adiante.

Solução 1.4
(a) α = −1 = 3β;

(b) α = 1, β = −2;

(c) α4 + β 4 + 2α2 β 2 = 0 ⇒ α = β = 0;

Solução 1.5
(a) Calcular as derivadas e substituir nas equações.

(b) Formando combinações lineares da forma c1 sen t cos x + c2 cos 3t sen 3x, com c1 e c2 cons-
tantes arbitrárias.

(c)
t = 0 ⇒ c2 sen(3x) = d2 sen(3x) ⇒ c2 = d2 .
x = 0 ⇒ c1 sen(t) = d1 sen(t) ⇒ c1 = d1 .

(d) As soluções u1 e u2 são linearmente independentes.

139
140 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Solução 1.6
(a) Sim.
∂u
(b) Não, por causa do termo u .
∂y
 2
∂u
(c) Não, por causa do termo .
∂y
(d) Não, por causa do 1.
(e) Sim.

Solução 1.7
Determine a ordem das EDPs a seguir. Classifique-as em lineares ou não lineares e especifique
se as EDPS lineares são ou não homogêneas.
(a) Linear de terceira ordem, homogênea.
(b) Não linear de primeira ordem.
(c) Não linear de quarta ordem.
(d) Não linear de segunda ordem.
(e) Linear de segunda ordem, homogênea.

Solução 1.8
(a) Derivar e substituir na equação.
3 1 3 1
(b) 2x−y+3 = 2+ (12x−6y). Pelo Princı́pio de Superposição, u(x, y) = u1 (x, y)+ u2 (x, y)
2 6 2 6
é solução da equação dada.

Solução 1.9
(a) Aparecem potências quadráticas de u, produtos de derivadas parciais e produtos da função
incógnita com derivadas parciais.
(b) Derivar e substituir.
(c) Substituir na equação.
(d) Substituindo na equação,
∂u1 ∂u2 ∂u1 ∂u2
( + − u1 − u2 )( + − u1 − u2 ) = ex+y 6= 0
∂x ∂x ∂y ∂y

Solução 1.10
∂v ∂v
(a) v satisfaz +c = 0. Portanto v(x, t) = f (x − ct), com f ∈ C 1 arbitrária.
∂t ∂x
(b) u(x, t) = e−kt f (x − ct), com f ∈ C 1 arbitrária.
(c) u(x, t) = e−kt g(x−ct). A solução se comporta como a solução de uma equação de transporte
que decae exponencialmente no tempo com taxa k.
141

Solução 2.1
(a) u(x, y) = x3 + xy 2 + f (y), f ∈ C 1,

(b) u(x, y) = f (x) + g(y), f, g ∈ C 1 ,

(c) u(x, y, z) = xyz + f (x, y) + g(x, z) + h(y, z), f, g, h ∈ C 3 ,


1 2x+3t
(d) u(x, t) = e + tf (x) + g(x) + h(t), f, g, h ∈ C 3 .
18
(e) u(x, y) = f (x) + e−3x g(y), f, g ∈ C 2 .

Solução 2.2
A solução geral é u(x, t) = f (3t−2x), onde f é uma função C 1 arbitrária. De u(x, 0) =f (−2x) =
sen x obtemos que f (x) = − sen(x/2) e portanto u(x, t) = − sen 3t−2x 2 = sen 2x−3t
2 .

Solução 2.3
(a) u(x, y) = f (y)e2x , f ∈ C 1,

(b) u(x, y) = x + y1 f (x), f ∈ C 1,


2
(c) u(x, y) = 2y + e−x f (y), f ∈ C 1,
x2 1
(d) u(x, y) = + 2 f (x) + g(y), f, g ∈ C 1 ,
4 y
(e) u(x, y) = c1 (x) cos(xy) + c2 (x) sen(xy), c1 , c2 ∈ C 1 .

Solução 2.4

x2
 
(a) u(x, y) = ye2x , 1
(d) u(x, y) = 1− 2 ,
4 y
(b) u(x, y) = x + y1 (sen(x) − x),
2 −y 2 )
(c) u(x, y) = 2y[1 + e−(x , (e) u(x, y) = cos(xy),

Solução 2.5

Solução 2.6
(a)
λ = 0, u(x, t) = c1 + c2 x,
2
λ = α2 > 0, u(x, t) = e2α t [c1 eαx + c2 e−αx ],
2
λ = −α2 < 0, u(x, t) = e−2α t [c1 cos (αx) + c2 sen (αx)],
onde c1 e c2 são constantes e λ é a constante de separação.

(b) u(x, y) = Ceλ(4x+y) , λ e C são constantes.

(c)
λ = 0, u(x, t) = (d1 + d2 t)(c1 + c2 x),
λ = α2 > 0, u(x, t) = [d1 e4αt + d2 e−4αt ][c1 eαx + c2 e−αx ],
λ = −α2 < 0, u(x, t) = [d1 cos (4αt) + d2 sen (4αt)][c1 cos (αx) + c2 sen (αx)],
onde c1 , c2 , d1 e d2 são constantes e λ é a constante de separação.

(d)
142 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Solução 2.7
λ = 0, u(x, t) = e−t (c1 + c2 x),
2
λ = α2 > 0, u(x, t) = e−(1−α )t [c1 eαx + c2 e−αx ],
onde c1 e c2 são constantes.

Solução 2.8
∂u ∂u
As soluções produto da equação +2 = 0 são da forma u(x, y) = Ceλ(2x−y) , onde C é
∂x ∂y
uma constante arbitrária e λ é a constante da separação. Quando fazemos u(x, 0) = Ceλ(2x) ,
vemos que não há constantes C e λ tais que Ceλ(2x) = x, portanto a condição dada não pode
ser satisfeita. Isto acontece porque esta não é a solução geral.

Solução 2.9
(a) Sugestão: Derive ln v.

(b) Escreva v(x, t) = u(x, t)et e substitua na equação do calor.

Solução 2.10
p
Seja r = x2 + y 2 , então

Zx = h0 (r)xr−1 , Zy = h0 (r)yr−1 ;
Zxx = (xr−1 )2 [h00 (r) − h0 (r)r−1 ] + h0 (r)r−1 ];
Zyy = (yr−1 )2 [h00 (r) − h0 (r)r−1 ] + h0 (r)r−1 ];
Zxy = (xyr−2 )2 [h00 (r) − h0 (r)r−1 ];

Substituindo na EDP se chega na EDO. Para resolver a EDO, fazendo g(r) = h0 (r), ela se
transforma numa EDO separável.

Solução 2.11
X deve satisfazer a equação X 00 = λX = 0 para algum valor da constante λ e além disto,

(a) X(0) = 0, X(L) = 0.

(b) X(0) = 0, X 0 (L) = 0.

(c) X 0 (0) = 0, X 0 (L) = 0.

(d) X 0 (0) − X(0) = 0, X 0 (L) = 0.

O Princı́pio de Superposição vale só se as condições de fronteira forem homogêneas.

Solução 2.12
(a) v 00 = 0 ⇒ v(x) = c1 x + c2 .

(b) v 00 = 0 ⇒ v(x) = c1 x + c2 .

(c) v 00 − v = 0 ⇒ v(x) = c1 ex + c2 e−x .

(d) v 00 − v 0 = 0 ⇒ v(x) = c1 + c2 ex .
143

Solução 2.13
(a) v 00 = 0 ⇒ v(x) = B−A
L x + A.
(b) v 00 = 0 ⇒ v(x) = B−A
L x + A.

B − Ae−L x AeL − B −x
(c) v 00 − v = 0 ⇒ v(x) = e + L e .
eL − e−L e − e−L
AeL − B B − A x
(d) v 00 − v 0 = 0 ⇒ v(x) = + L e .
eL − 1 e −1

Solução 2.14

(a) v(x) = c2 . Ae−L x AeL


(c) v(x) = e + e−x .
eL + e−L eL + e−L
(b) v(x) = c2 . (d) v(x) = c1 .

Solução 2.15
(a) Derivar, substituir na equação e verificar também a condição adicional para u.
(b) A conclusão seria que não há unicidade. Isto significa que neste problema a condição inicial
não é suficiente para garantirmos a unicidade. Precisaremos de uma condição adicional
relacionada com o crescimento de u. (Capı́tulo 7)

F Solução 2.16
Abaixo f é uma função C 1 arbitrária.
y 1
(a) u(x, y) = f (3x + 2y) − (3x + y), (c) u(x, y) = + e2y f (x + y),
9 2
1 1
(b) u(x, y) = ex f (x − y), (d) u(x, y) = f (4x + 3y) + ( x2 + ex ).
3 2

F Solução 2.17
Depois de fazer a mudança de variáveis proposta vocês devem chegar à equação vt − 4v = 1 e à
solução geral u(x, y) = − 14 + e4x f (2x − y), f ∈ C 1 .

F Solução 2.18
A solução geral é u(x, y) = −e2x−1/2y + e2y f (2x − y).
(a) u(x, y) = −e2x−1/2y + e2y [sen((2x − y)2 /4) − ey−2x ]
(b) u(x, y) = −e2x−1/2y + e2y [(2x − y)2 e4x−2y − e5/2(2x−y) ]
(c) u(x, y) = −e2x−1/2y + e2y [(2x − y)e2y−4x + e−1/2(2x−y) ]

F Solução 2.19
(a) g(x) = x2 + 1, u(x, y) = −1/4 + e2y [(2x − y)2 + 1]
1 1
(b) Substituindo na solução geral temos u(x, 2x) = − + e4x g(2x − 2x) = − + e4x g(0). Se
4 4
1 2x 5 −2x
fizermos − + e g(0) = 1 obtemos g(0) = e , mas isto é impossı́vel porque g(0) é uma
4 4
constante. Portanto não existe nenhuma função g que possa ser substituı́da na solução geral
de forma a satisfazer a condição dada.
144 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

1 1
(c) Substituindo a condição pedida na solução geral obtemos, u(x, 2x) = − +e4x g(0) = e4x −
4 4
e portanto g(0) = 1 é a única condição que precisamos para a função g. As funções g(x) = 1
e g(x) = x2 +1 por exemplo, satisfazem esta condição, mas tem infinitas funções que também
o fazem então a EDP com a condição dada tem infinitas soluções.

Capı́tulo 2
Solução 1.1
Para verificar que u satisfaz o problema acima, precisamos derivar apropriadamente e verificar
que vale cada uma das igualdades do problema.

(a)

1
Z h  ∂u 2
π  2 i
∂u
E(t) = T +ρ (x, t)dx
2 0 ∂x ∂t
 2  2 i
ρ πh
Z
∂u ∂u
= 4 + (x, t)dx
2 0 ∂x ∂t
Z πh
ρ i
= 4 · 9 sen2 (6t) cos2 (3x) + 36 sen2 (6t) sen2 (3x) dx
2 0
Z π Z π
= 18ρ sen2 (6t) cos2 (3x)dx + 18ρ sen2 (6t) sen2 (3x)dx
0 0
= 9ρ.

Solução 1.2
Utilizando que  
0 ∂u ∂u ∂u ∂u
E (t) = T (L, t) (L, t) − (0, t) (0, t)
∂x ∂t ∂x ∂t
obtemos que E 0 (t) = 0 e portanto a energia é conservada também neste caso.

Solução 2.1
(a) Derivar e substituir na equação.
1
(b) u(x, t) = [sen(λ(x + ct)) + sen(λ(x − ct))]
2

Solução 2.2
(a) Usar a regra da cadeia para chegar na equação para v.

(b) u(x, t) = F (4x + t) + G(t − x), com F e G funções C 2 arbitrárias.

Solução 2.3
(a) Usar a regra da cadeia para chegar na equação para v.

(b) u(x, t) = F (4x + t) + G(5x − t), com F e G funções C 2 arbitrárias.

Solução 2.4
145

(a) u(x, t) = x2 + c2 t2 + xt. (d) u(x, t) = 1.


2
(b) u(x, t) = e−(x−ct) . (e) u(x, t) = sen(x + ct).
t 1
(c) u(x, t) = t. (f) u(x, t) = − cos x sen(ct).
4 8c

F Solução 2.5
(a) Se f e g forem funções pares
−x+ct
f (−x + ct) + f (−x − ct)
Z
1
u(−x, t) = + g(r)dr
2 2c −x−ct
Z x−ct
f (−(x − ct)) + f (−(x + ct)) 1
= − g(−r)dr
2 2c x+ct
f (x − ct) + f (x + ct) 1 x+ct
Z
= + g(r)dr
2 2c x−ct
= u(x, t).

Se f e g forem funções ı́mpares


−x+ct
f (−x + ct) + f (−x − ct)
Z
1
u(−x, t) = + g(r)dr
2 2c −x−ct
Z x−ct
f (−(x − ct)) + f (−(x + ct)) 1
= − g(−r)dr
2 2c x+ct
f (x − ct) + f (x + ct) 1 x+ct
Z
=− − g(r)dr
2 2c x−ct
= −u(x, t).

(b) Se f e g forem funções de perı́odo 2L

f (x + 2L + ct) + f (x + 2L − ct) 1 x+2L+ct


Z
u(x + 2L, t) = + g(r)dr
2 2c x+2L−ct
f (x + ct) + f (x − ct) 1 x+2L+ct
Z
= + g(r + 2L)dr
2 2c x+2L−ct
f (x − ct) + f (x + ct) 1 x+ct
Z
= + g(r)dr
2 2c x−ct
= u(x, t).

F Solução 2.6
(a) v(x, t) = f (x + ct).
∂u ∂u 1
R
(b) +c = f (x + ct) ⇒ u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct), onde F (x) = 2c f (x)dx.
∂t ∂x

Capı́tulo 3
146 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Solução 1.1
Como a temperatura do lı́quido nos recipientes é zero, teremos que

∂u h
(0, t) = u(0, t),
∂x K
∂u h
(L, t) = − u(L, t).
∂x K

Portanto, além da equação X 00 − λX = 0, para alguma constante λ, X deve satisfazer as


condições de fronteira

h
X 0 (0) − X(0) = 0,
K
h
X 0 (L) + X(L) = 0.
K

Solução 1.2
(a) A temperatura na extremidade esquerda é zero e na direita é dada pela função t2 .

(b) A temperatura na extremidade esquerda é cinco e a extremidade direita foi isolada termi-
camente.

(c) As duas extremidades da barra foram isoladas termicamente.

(d) A extremidade esquerda foi introduzida em um recipiente com um lı́quido a temperatura 10


e a extremidade direita foi isolada termicamente.

Solução 2.1
Neste problema temos que L = 3 e k = 2, portanto para construir as soluções devemos
 nπ 
• comprovar que f é combinação linear de funções da forma sen x , n ∈ N;
3
 nπ  nπ 2
• montar a solução u(x, t) multiplicando cada função sen x pela exponencial e−( 3 ) 2t =
2 2 2
3
e− 9 n π t , n ∈ N.

8 2
 2πx  50 2
 5πx 
(a) u(x, t) = 4e− 9 π t sen − e− 9 π t sen
3 3
2 2
(b) u(x, t) = 5e−32π t sen(4πx) + 2e−200π t sen(10πx)
2 2
π 
(c) u(x, t) = 9e− 9 π t sen x
3

Solução 2.2
CF em (3.20):
2 kt
ux (0, t) = αeα [c1 − c2 ] = 0 ⇒ c1 = c2
α2 kt
ux (L, t) = αe [c1 eαL − c2 e−αL ]
2 kt
= c1 αeα [eαL − e−αL ] = 0 ⇒ c1 = 0 ⇒ c2 = 0 ⇒ u ≡ 0.
147

CF em (3.23):
2 kt 2 kt
u(−L, t) = u(L, t) ⇒ eα [c1 eαL + c2 e−αL ] = eα [c1 e−αL + c2 eαL ]
⇒ (c2 − c1 )e−αL = (c2 − c1 )eαL ⇒ c1 = c2
2 kt 2 kt
ux (−L, t) = ux (L, t) ⇒ c1 αeα [eαL − e−αL ] = c1 αeα [e−αL − eαL ]
2 kt
⇒ 2c1 αeα [eαL − e−αL ] = 0 ⇒ c1 = 0 ⇒ c2 = 0 ⇒ u ≡ 0.

Solução 2.3
Neste caso, L = 3, k = 3 e na condição inicial f precisamos ter combinações lineares de funções
da famı́lia cos nπ
L x , n ≥ 0.
√ − 25 π2 t
   
1 − 34 π 2 t 2π 5π
(a) u(x, t) = − 4e cos x + 2e 3 cos x .
3 3 3
2 2
(b) u(x, t) = −13e−3π t cos (πx) + 25e−12π t cos(2πx)
 
− 16 π 2t 4π
(c) u(x, t) = −1 + e 3 cos x .
3

Solução 2.4
Neste problema L = π, k = 1 e na função f precisamos ter combinações lineares de funções da
forma sen(nx), n = 1, . . . e cos(nx), n = 0, 1, . . . .
(a) u(x, t) = 5e−t cos(x) + 3e−64t sen(8x)
1
(b) u(x, t) = + e−4t cos(2x) − 6e−4t sen(2x)
2
(c) u(x, t) = 6e−t sen(x) − 7e−9t cos(3x) − 7e−9t sen(3x).

Solução 2.5
A igualdade garante que a energia térmica da barra é constante. Isto é coerente com as situações
fı́sicas representadas porque nos dois casos não há intercâmbio térmico com o ambiente.

Solução 2.6
(a)
Z L
0 ∂u
E (t) = (x, t) dx
0 ∂t
Z L 2
∂ u
=k (x, t) dx
0 ∂x2
 
∂u ∂u
=k (L, t) − (0, t)
∂x ∂x
= 0.
RL
(b) E(t) = E(0) = 0 f (x) dx.
∂u ∂u
(c) Os problemas nos quais (L, t) = (0, t) porque neste caso a taxa de perda e de ganho
∂x ∂x
de energia térmica recebida é a mesma.
148 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Solução 2.7
(a)
Z L
∂u
E 0 (t) = (x, t) dx
−L ∂t
L
∂2u
Z
=k 2
(x, t) dx
−L ∂x
 
∂u ∂u
=k (L, t) − (−L, t)
∂x ∂x
= 0.

RL
(b) E(t) = E(0) = −L f (x) dx.

∂u ∂u
(c) Os problemas nos quais (L, t) = (0, t) porque neste caso a taxa de perda e de ganho
∂x ∂x
de energia térmica recebida é a mesma.

Solução 2.8
(n + 1/2)π 2
 
Nos dois casos λ = − , n = 0, 1, . . . .
L
 
(n + 1/2)π
(a) Xn (x) = cn cos x , n = 0, 1, . . .
L
 
(n + 1/2)π
(b) Xn (x) = dn sen x , n = 0, 1, . . .
L

Solução 2.9
(n+1/2)π 2
   
− kt (n + 1/2)π
(a) un (x, t) = dn e L
sen x , n = 0, 1, . . .
L
N 
(n+1/2)π 2
  
X − kt (n + 1/2)π
(b) u(x, t) = dn e L
sen x
L
n=0
 
9 2 3π
(c) u(x, t) = x + e− 2 π t sen x −1
2

Solução 2.10
u(x, t) = cx + d.

Solução 2.11
Para resolver este problema, podemos usar a relação entre u e w. Nas condições do problema,
a função w(x, t) = eht u(x, t) satisfaz

∂w ∂2w
ED = k 2 , 0 ≤ x ≤ L, t ≥ 0;
∂t ∂x
CF w(0, t) = 0 w(L, t) = 0, t ≥ 0;
N
X  nπ 
CI w(x, 0) = bn sen x , 0 ≤ x ≤ L,
L
n=1
149

portanto
N  nπ 
nπ 2
bn e−( L )
X
kt
w(x, t) = sen x
L
n=1

e então
N  nπ 
nπ 2
bn e−( L )
X
kt
u(x, t) = eht sen x .
L
n=1

F Solução 2.12
Podemos usar o mesmo argumento do teorema 3.1 pois neste caso também vale que F 0 (t) ≤ 0.

F Solução 2.13
Podemos usar o mesmo argumento do teorema 3.1 pois neste caso também vale que F 0 (t) ≤ 0.

F Solução 2.14

F Solução 2.15

Capı́tulo 4
Solução 1.1

Solução 1.2

Solução 1.4

Solução 1.5

Solução 1.6

Solução 1.7

F Solução 1.8

Solução 2.1

Solução 2.2

Solução 2.3

Solução 2.4

Solução 3.1

Solução 3.2

Solução 3.3

Solução 3.4

Solução 4.1
150 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Solução 4.2

Solução 4.3

Solução 4.4

Solução 4.5

Solução 5.1

Solução 5.2

Solução 5.3

Solução 5.4

Capı́tulo 5
Solução 1.1

Solução 1.2

Solução 1.3

Solução 1.4

Solução 1.5

Capı́tulo 6
Solução 1.1
∂2u ∂2u
(a) u(x, y) = a0 + a1 x + a2 y. Portanto = 0 e = 0.
∂x2 ∂y 2

(b) As funções 1, x e y são harmônicas pelo item anterior. Podemos verificar diretamente que
xy também é harmônica. Como a equação de Laplace é linear e homogênea, pelo Princı́pio
de Superposição, qualquer combinação linear destas quatro funções também satisfará a
equação.

∂2u ∂2u
(c) = 2a, = 2c. Portanto, u vai satisfazer a equação de Laplace se e somente se
∂x2 ∂y 2
a + c = 0.

Solução 1.2
(a) Princı́pio de Superposição.

(b)

∂2 ∂2
 2
∂ u ∂2u

∂u
xu(x, y) + 2 xu(x, y) = 2 + + 2
∂x2 ∂y ∂x ∂x2 ∂y
∂u
=2 = 0 ⇔ u(x, y) = ay + b.
∂x
151

(c) u1 (x, y) = x e u2 (x, y) = xy são funções harmônicas. No entanto, u(x, y) = x2 y não é pois
∂2u ∂2u
= 2y e = 0.
∂x2 ∂y 2

Solução 1.3
Caso 1 : λ = 0
X(x) = c1 x + c2 , Y (y) = d1 y + d2 ⇒ u(x, t) = (c1 x + c2 )(d1 y + d2 ),
Caso 2 : λ = α2 > 0
X(x) = c1 eαx + c2 e−αx , Y (y) = d1 cos(αy) + d2 sen(αy)
⇒ u(x, t) = (c1 eαx + c2 e−αx )(d1 cos(αy) + d2 sen(αy)),
Caso 3 : λ = −α2 < 0
X(x) = c1 cos(αx) + c2 sen(αx), Y (y) = d1 eαy + d2 e−αy
⇒ u(x, t) = (c1 cos(αx) + c2 sen(αx))(d1 eαy + d2 e−αy ).

Solução 1.4
x2 + y 2 − 1
(a) u(x, y) =
4
(b) A deformação da membrana é a mesma em todos os pontos de cada circunferência centrada
na origem e aumenta a medida que nos afastamos das bordas.

Solução 1.5
• Problema homogêneo de Dirichlet: Procuramos a temperatura estacionária de uma placa
cujas bordas estão sendo mantidas a temperatura zero.

• Problema homogêneo de Neumann: Procuramos a temperatura estacionária de uma placa


cujas bordas foram isoladas termicamente.

Solução 2.1

∂2u ∂2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = −1, u(x, 1) = −1 + x, 0 ≤ x ≤ 1;
u(0, y) = −1, u(1, y) = −1 + y, 0 ≤ y ≤ 1.

Solução 2.2
(a)

1 3
u(x, y) = sen(πx) senh(π(2 − y)) + sen(4πx) senh(4πy)
senh(2π) senh(8π)
2
− sen(6πx) senh(6πy)
senh(12π)

(b)

3 2
u(x, y) = sen(4πx) senh(4π(2 − y)) − sen(6πx) senh(6π(2 − y))
senh(8π) senh(12π)
1
+ sen(πx) senh(πy)
senh(2π)
152 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

(c)

8 X 1
u(x, y) = sen((2k − 1)πx) senh((2k − 1)πy)
π3 (2k − 1)3 senh(2(2k − 1)π)
k=1

(d)
1 1  3πy   3π(1 − x) 
u(x, y) = sen(πx) senh(πy) −   sen senh
senh(2π) senh 3π 2 2
2

(e)
∞    
32 X 1 (2k − 1)π (2k − 1)π
u(x, y) = 3   sen y senh x
π 3
(2k − 1) senh (2k−1)π 2 2
k=1 2

(f)
1 1
u(x, y) = sen(πx) senh(π(2 − y)) + sen(πx) senh(πy)+
senh(2π) senh(2π)
1 1
sen(πy) senh(π(1 − x)) + sen(πy) senh(πx)
senh(π) senh(π)

Solução 2.3
(a) Precisamos decompor o problema em dois que tenham condições de fronteira nulas em três
lados da placa. OS problemas são
∂2u ∂2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 2 cos(7πx) − 4, u(x, 1) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
∂u ∂u
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
e
∂2u ∂2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 0, u(x, 1) = 5 cos(πx), 0 ≤ x ≤ 1;
∂u ∂u
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
(b) Vamos resolver o segundo problema. Para isto procuramos as soluções produto (u(x, y) =
X(x)Y (y)) da equação que satisfazem as condições de fronteira nulas
u(x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
∂u ∂u
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
Obtemos então que X 00 = λX, X 0 (0) = X 0 (1) = 0 e Y 00 = −λY , Y (0) = 0. Portanto,

X0 (x) = c0 ;
Y0 (y) = d0 y;
Xn (x) = cn cos(nπx), n ∈ N;
Yn (y) = dn senh(nπy), n ∈ N.
153

As soluções produto que podemos usar para construir a solução do problema são
u0 (x, y) = B
f0 y;
un (x, y) = B
fn cos(nπx) senh(nπy), n ∈ N.

Todas essas soluções satisfazem as três condicões de fronteira homogêneas. Para satisfazer
u(x, 1) = 5 cos(πx), observamos que u1 (x, 1) = B f1 cos(πx) senh(π) e que portanto, se esco-
5 5
lhermos Bf1 senh(π) = 5, ou seja, B
f1 = , teremos que u(x, y) = cos(πx) senh(πy)
senh(π) senh(π)
é a solução que satisfaz a equação de Laplace e todas as condições de fronteira deste
problema.
(c) Para resolver o primeiro problema, aproveitamos o fato de que se u = u(x, y) satisfaz
∂2u ∂2u
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
u(x, 0) = 2 cos(7πx) − 4, u(x, 1) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
∂u ∂u
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
então v(x, y) = u(x, 1 − y) satisfaz
∂2v ∂2v
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
v(x, 0) = 0, v(x, 1) = 2 cos(7πx) − 4, 0 ≤ x ≤ 1;
∂v ∂v
(0, y) = 0, (1, y) = 0, 0 ≤ y ≤ 1.
∂x ∂x
Para satisfazermos a condição de fronteira v(x, 1) = 2 cos(7πx) − 4, precisaremos utilizar as
soluções produto obtidas com n = 0 e n = 7, ou seja
v(x, y) = B
f0 y + B
f7 cos(7πx) senh(7πy).

Como v(x, 1) = B
f0 + B
f7 cos(7πx) senh(7π), obtemos que
2
v(x, y) = −4y + cos(7πx) senh(7πy).
senh(7π)
2
Portanto, u(x, y) = v(x, 1 − y) = −4(1 − y) + senh(7π) cos(7πx) senh(7π(1 − y)).

(d) Pelo Princı́pio de Superposição a solução do problema original será


5 2
u(x, y) = cos(πx) senh(πy) − 4(1 − y) + cos(7πx) senh(7π(1 − y)).
senh(π) senh(7π)

Solução 2.4
(a) Verifica-se que u(0, 0) = −1, u(0, 1) = −2, u(1, 0) = 0 e u(1, 1) = 0.
(b) U (x, y) = −1 + x − y + xy.
(c) O problema de Dirichlet satisfeito por v é
∂2v ∂2v
+ = 0, 0 < x < 1, 0 < y < 1;
∂x2 ∂y 2
v(x, 0) = 2 sen(5πx), v(x, 1) = 0, 0 ≤ x ≤ 1;
v(0, y) = 0, v(1, y) = 3 sen(2πy), 0 ≤ y ≤ 1.
154 RESPOSTAS OS EXERCÍCIOS

Daqui obtemos a solução


2 3
v(x, y) = sen(5πx) senh(5π(1 − y)) + sen(2πy) senh(2πx).
senh(5π) senh(2π)

(d) u(x, y) = v(x, y) + U (x, y), portanto


2 3
u(x, y) = sen(5πx) senh(5π(1 − y)) + sen(2πy) senh(2πx) − 1 + x − y + xy.
senh(5π) senh(2π)
Referências Bibliográficas

[1] R. Biezuner. Notas de aula de Equações Diferenciais Parciais Lineares. http://www.


mat.ufmg.br/~rodney/notas_de_aula/edb.pdf.

[2] D. Bleecker and G. Csördas. Basic Partial Differential Equations. International Press,
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[3] W. E. DiPrima R. C. Boyce. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de


Valores de Contorno. LTC, New Jersey, 1975.

[4] Maxima. Maxima, a Computer Algebra System. Version 5.30.0, 2013.

[5] Y. Pinchover and J. Rubinstein. An Introduction to Partial Differential Equations.


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[6] R. Santos. Equações Diferenciais Parciais: Uma Introdução. UFMG, 2011.

[7] W. A. Strauss. Partial Differential Equations: An Introduction. Wiley, 1992.

[8] M. Oliveira E. C Tygel. Métodos Matemáticos para Engenharia. SBM, Rio de Janeiro,
2010.

155

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