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CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS y

O cosmético que
vem da Caatinga
Estudo suíço-brasileiro mostra que o umbu,
fruto do sertão nordestino, pode dar origem a um
creme que age contra o envelhecimento da pele

T
ípico da Caatinga, o umbu, fruto da Universidade de Genebra (Unigen), ria com a Fundação. A partir de 2014, o
do umbuzeiro, é conhecido por na Suíça, e do Centro de Inovação e En- estudo integrou a carteira de projetos
suas ricas propriedades nutri- saios Pré-Clínicos (CIEnP), empresa do Centro de Pesquisa e Inovação em
cionais, com destaque para o privada sem fins lucrativos com sede em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar),
elevado teor de vitamina C, alto índice Florianópolis (SC). “O estudo fornece a um dos Centros de Pesquisa, Inovação
aquoso e vários componentes voláteis, primeira documentação completa sobre e Difusão (Cepid) da FAPESP, coorde-
especialmente nos frutos maduros. No o isolamento de compostos da polpa do nado por Glaucius Oliva, do Instituto
sertão nordestino, ele é largamente umbu, com propriedades antioxidantes de Física da Universidade de São Paulo
consumido in natura ou processado, na e rejuvenescedoras da pele”, explica Ma- (IFSC-USP) de São Carlos.
forma de polpa, geleia, doce ou sorvete. ria Luiza Zeraik, que atuou na equipe Dois pedidos de patentes foram depo-
Recentemente, um grupo de cientistas quando fazia pós-doutorado. Atualmen- sitados no Brasil e no exterior. Eles são
brasileiros e suíços concluiu um estudo te, ela é professora do Departamento de pertinentes ao processo de extração e
que revelou novas propriedades dessa Química do Centro de Ciências Exatas isolamento de compostos presentes na
fruta arredondada, de casca aveludada da Universidade Estadual de Londrina polpa do umbu relativos às propriedades
e sabor levemente azedo. Eles desco- (UEL), no Paraná. “Um aspecto rele- antioxidantes, à inibição da acetilcolines-
briram que o umbu (Spondias tubero- vante do nosso estudo é promover uma terase, enzima que promove as ligações
sa) é rico em compostos fenólicos com inovação tecnológica com valor social (sinapses) entre os neurônios. “As subs-
atividade antioxidante, o que faz dele para a região Nordeste”, diz Maria Luiza. tâncias relacionadas à acetilcolinesterase
um insumo potencial para fabricação de O umbuzeiro é importante na Caatinga poderiam, no futuro, originar um medi-
cosméticos com ação sobre o envelheci- porque dá frutos durante a estação seca camento ou um suplemento alimentar
mento da pele, como cremes antirrugas e representa uma fonte de renda para a para tratar a perda da memória, quadro
ou contra flacidez. Duas das substâncias população local. comum em idosos”, diz Vanderlan.
identificadas são inéditas. A pesquisa contou com recursos dos
Coordenada pela farmacêutica Van- governos suíço e brasileiro e teve fi- Foco na biodiversidade
derlan da Silva Bolzani, professora do nanciamento da FAPESP por meio de As descobertas sobre o umbu fizeram
eduardo cesar

Instituto de Química da Universidade uma bolsa de pós-doutorado, concedida parte de um estudo mais amplo com o
Estadual Paulista (IQ-Unesp) de Ara- à Maria Luiza, além de um projeto do objetivo de investigar as propriedades de
raquara, a pesquisa teve a participação Sisbiota, programa do CNPq em parce- 22 frutos pertencentes à biodiversidade

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O umbu é um dos
22 frutos estudados
para a verificação
das propriedades
químicas e possível
uso em cosméticos
e na indústria
alimentícia

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brasileira visando a seu potencial uso na
indústria de cosméticos e de alimentos.
Esse projeto fez parte do Convênio Bi-
lateral entre Brasil e Suiça, ou Brazilian
Swiss Joint Research Programme (BS-
JRP), coordenado no lado brasileiro pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimen-
to Científico e Tecnológico (CNPq). O
projeto foi iniciado em 2011 e concluí-
do em 2014, no IQ-Unesp, responsável
pela triagem química e biológica inicial
de frutos nativos ou endêmicos das re-
giões Norte e Nordeste do país. Além do
umbu, também estão na lista do estudo
as frutas bacuri, ciriguela, mangaba, pi-
tomba e cajá, entre outras.
“O processo de preparo de amostras
dos frutos, a extração dos componentes
químicos por métodos analíticos usuais
e os ensaios químicos preliminares dos
extratos foram feitos no nosso laborató-
rio NuBBE [Núcleo de Bioensaios, Bios-
síntese e Ecofisiologia de Produtos Na-
turais, laboratório com selo verde que
excluiu o uso de solventes clorados e
outros derivados de petróleo em mui-
tas etapas de extração e purificação]”,
explica Vanderlan, que também é mem-
bro da coordenação do Programa Biota
FAPESP, cujo objetivo é mapear e anali-
sar a biodiversidade paulista e avaliar as
possibilidades de exploração sustentável
de plantas ou de outros organismos com
potencial econômico. “Todas as partes
dos frutos [cascas, polpas, sementes] fo-
ram analisadas, resultando em mais de
100 extratos. Dentre
eles, separamos al-
guns bastante ativos e nada por Vanderlan, ficou nove meses na
a polpa do umbu mos- Depois dos testes positivos Universidade de Genebra. Nesse perío-
trou-se excelente pa- do, ela aprendeu os princípios do estu-
ra iniciar a pesquisa.” e um prêmio, falta agora do metabolômico realizado pelo grupo
Outros frutos – cujos dos professores Jean-Luc Wolfender e
nomes são mantidos
o interesse de uma empresa Emerson Queiroz. Wolfender é o chefe
em sigilo pelo grupo do Laboratório de Fitoquímica e Pro-
– também apresenta- dutos Naturais Bioativos da universi-
ram atividades de interesse e serão es- atividade de inibição da acetilcolines- dade e coordenador do projeto bilateral
tudados posteriormente. terase, enzima-alvo para o tratamen- por parte da instituição suíça. “Metabo-
A parceria com a Universidade de Ge- to da doença de Alzheimer”, destaca o lônica é uma abordagem avançada so-
nebra, um importante centro europeu farmacêutico brasileiro Emerson Quei- bre o mapeamento químico ideal para
de pesquisa em produtos naturais, teve roz, professor da Escola de Ciências quantificar todos os produtos naturais
um orçamento de 173,4 mil francos suí- Farmacêuticas da Unigen, na Suiça. de um organismo”, explica Maria Lui-
ços (equivalentes a atuais R$ 700 mil), Os ensaios biológicos in vitro com os za. “Ela é usada para estudarmos todos
divididos entre os governos do Brasil compostos puros foram realizados pela os compostos metabólicos secundários
(35% do total) e da Suíça. “Empregamos professora Muriel Cuendet, da mesma de uma planta e, por meio dessas análi-
metodologias inovadoras de caracteri- universidade. ses, obtém-se um fingerprint, a identida-
zação química, detectamos, isolamos e Como parte do programa suíço-bra- de metabólica vegetal, como um painel
identificamos os compostos químicos sileiro, a química Maria Luiza, na época das substâncias químicas presentes na
presentes no umbu responsáveis pela estagiária de pós-doutorado supervisio- espécie.” Para Emerson, a formação de

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toxicidade em níveis aceitáveis. “Esses


resultados mostraram que o fruto tem
potencial para ser usado como cosmético
na prevenção de sintomas de inflamação
da pele observados durante o processo
de envelhecimento”, diz ele. “Agora, es-
tamos procurando uma empresa interes-
sada na produção e na comercialização
desse bioativo.”
Em dezembro de 2015, Vanderlan Bol-
zani, João Batista Calixto e Maria Luiza
Zeraik receberam o Prêmio Kurt Politzer
de Tecnologia, na categoria Pesquisador,
pelo projeto “Utilização sustentável da
polpa dos frutos do umbu e umbu-cajá:
produtos fenólicos de alto valor agre-
gado para a indústria de cosmético com
propriedades antienvelhecimento”. O re-
O umbuzeiro se conhecimento é concedido pela Associa-
destaca no sertão ção Brasileira da Indústria Química (Abi-
nordestino. Mesmo
quim) a projetos de empresas e cientistas
no período de
seca os frutos são que estimulam a pesquisa e a inovação na
suculentos (acima) área química no país. n Yuri Vasconcelos

recursos humanos e a transferência de ano, realizamos por volta de 30 ensaios, Projetos


conhecimento e tecnologia para o Brasil envolvendo várias enzimas e mediadores 1. Prospecção de moléculas bioativas e estudo de varia-
é outro aspecto relevante do programa inflamatórios potencialmente responsá- bilidade infraespecífica em plantas e microrganismos
bilateral Brasil-Suíça. veis pelo envelhecimento da pele.” endófitos do Cerrado e Caatinga. Contribuição para
o conhecimento e uso sustentável da biodiversidade
Financiado pelo governo do estado brasileira (Sisbiota) (nº 2010/52327-5); Modalidade
Ensaios in vitro de Santa Catarina e pelos ministérios Programa Biota; Pesquisadora responsável Vander-
Depois da caracterização feita na Suíça, da Saúde (MS) e da Ciência, Tecnologia lan Bolzani (Unesp); Investimento R$ 552.668,55 e
US$ 246.950,72.
os extratos de umbu foram padronizados e Inovação (MCTI), o CIEnP foi criado 2. Produtos naturais oriundos de plantas do Cerrado e
e enviados para o CIEnP, em Florianó- há dois anos com a missão de contribuir Mata Atlântica, modelos potenciais e úteis para identificar
polis, para estudos de prova de conceito, para a inovação tecnológica nos setores protótipos com ação oxidante em neutrófilos e enzima
mieloperoxidase (MPO) (nº 2011/03017-6); Modalidade
fase essencial quando se almeja posterior farmacêutico (medicamentos de uso hu- Bolsa de pós-doutorado (Maria Luiza Zeraik); Pesquisado-
colaboração industrial visando a um pos- mano e veterinário) e de cosméticos. A ra responsável Vanderlan Bolzani (Unesp); Investimento
fotos 1 fabio colombini 2 eduardo cesar

sível produto. “Fizemos aqui estudos in maioria dos projetos desenvolvidos na R$ 297.813,41.
3. CIBFar – Centro de Inovação em Biodiversidade e Fár-
vitro em células humanas da pele – me- instituição se dá em conjunto com o se- macos (nº 2013/07600-3); Modalidade Programa Cen-
lanócitos e queratinócitos – para avaliar tor industrial. A pesquisa envolvendo o tros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid); Pesquisador
o uso do produto no desenvolvimento de umbu foi a primeira parceria do centro responsável Glaucius Oliva (IFSC-USP); Investimento
R$ 21.485.493,35 (em quatro anos).
cosméticos com ação sobre o envelhe- com uma universidade e a primeira pro-
cimento”, explica João Batista Calixto, va de conceito realizada no CIEnP com Artigo científico
diretor-presidente do CIEnP e ex-pro- um produto da biodiversidade brasileira. Zeraik, M. L. et. al. Antioxidants, quinone reductase
inducers and acetylcholinesterase inhibitors from Spon-
fessor da Universidade Federal de Santa Segundo Calixto, o extrato padroniza- dias tuberosa fruits. Journal of Functional Foods. v. 21,
Catarina (UFSC). “Durante quase um do do umbu mostrou-se seguro e com p. 396-405, on-line. jan. 2016.

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