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Psicologia em Pesquisa | UFJF | 11(2) | 4-13 | Julho-Dezembro de 2017 DOI: 10.

24879/2017001100200161

Saúde Comunitária e Psicologia Comunitária: suas contribuições às metodologias participativas

Community Health and Community Psychology: their contributions to participatory methodologies

Verônica Morais Ximenes I


Eveline Chagas Lemos II
Alexsandra Maria Sousa Silva I
Márcia Kelma de Alencar Abreu III
Carlos Eduardo Esmeraldo Filho I
Lilian Mendonça Gomes I

Resumo
O objetivo é discutir as relações entre Saúde Comunitária e Psicologia Comunitária na perspectiva dos processos de participação e de libertação que
contribuem na construção de metodologias participativas. Essas áreas compartilham valores e práticas que possuem como princípios a libertação e
a participação, que contribuem na construção de espaços que rompam com os processos de opressão. A comunidade é o principal ator e o foco está
mais nos processos de saúde que nos processos de doença. As metodologias participativas presentes na caminhada comunitária, na visita domiciliar
e no círculo de cultura propiciam uma prática condizente com esses princípios. O envolvimento dos profissionais de saúde e dos moradores das
comunidades favorece processos de saúde e de autonomia.

Palavras chave: saúde comunitária; psicologia comunitária; participação; libertação; metodologia.

Abstract
The purpose of this article is to discuss the relationships between Community Health and Community Psychology into perspective of participation
and the liberation processes and their contribution in the construction of participative methodologies. Both areas share values and practices that have
liberation and participation as principles that contribute in the construction of spaces that break with the processes of oppression. The community
is the main actor and the focus is more on health processes than on disease processes. The participative methodologies as the community walk, the
home visit and in the circle of culture provide a practice consistent with these principles. The involvement of health professionals and residents of
communities favors health and autonomy processes.

Keywords: Community health; Community psychology; participation; liberation; methodology.

I
Universidade Federal do Ceará.
II
Universidade de Barcelona.
III
Universidade Regional do Cariri.

A ideia de uma Saúde Comunitária aparece de gestão da saúde está nas mãos de profissionais e do poder
maneira imprecisa e polissêmica nos discursos e práti- público, desconsiderando o protagonismo das comuni-
cas de saúde, tanto no Brasil como em outros países da dades. Trata-se, portanto, de um modelo de atenção que,
América Latina, tornando-se necessária uma clarificação embora realizada na comunidade, continua centrada na
desse conceito. Alguns estudos adotam o termo saúde doença e no nível biológico da saúde.
comunitária sem contextualizá-lo, ficando subtendido A teoria e a prática da Psicologia Comunitária
que se trata de um serviço ou uma prática de profissio- contribuem para a construção da Saúde Comunitária
nais de saúde realizada em comunidades. (Góis, 2008), que tem a comunidade como o princi-
As concepções de profissionais que se identificam pal ator. Nesse sentido, Saforcada (2008) destaca que
como atuantes na saúde comunitária também são polis- a Saúde Comunitária diferencia-se dos outros modelos
sêmicas. Juarez (2015), a partir de uma pesquisa reali- por ter surgido a partir das comunidades, mais espe-
zada na Argentina junto a médicos pediatras da Atenção cificamente das populações excluídas e marginalizadas
Primária, mostra que, apesar dos avanços na compreensão e tem emergido no âmbito profissional e acadêmico
da proposta libertadora da Saúde Comunitária, muitos principalmente mediante trabalhos de psicólogos nas
dos participantes consideram que o papel do médico comunidades em situação de pobreza. Góis (2008) apre-
nessa perspectiva abrange a consulta individual, o diag- senta uma concepção de saúde que favorece processos
nóstico e o acompanhamento da evolução dos pacientes. que focam mais na saúde, na prevenção e na promo-
Além disso, consideram que o poder de decisão sobre a ção e menos na enfermidade, composto por atividades

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desenvolvidas na e com a comunidade. Para que essas capitalista vigente, centrado na expropriação para garan-
visões aconteçam é fundamental a participação dos tir a mais-valia, constituindo-se como resultado da con-
moradores das comunidades e a busca por processos tradição capital – trabalho e da distribuição injusta de
de libertação. Dessa maneira, esse artigo tem como bens entre as classes (Yazbek, 2012) e dos processos de
objetivo discutir as relações entre Saúde Comunitária colonização e dependência.
e Psicologia Comunitária na perspectiva dos processos Trata-se, portanto, de uma Psicologia que busca a
de participação e de libertação que contribuem na cons- mudança comunitária e social, cujo psicólogo coloca-se
trução de metodologias participativas. Portanto, com- como um facilitador de processos sociais e humanos. Nessa
preender a Saúde Comunitária como um paradigma ou perspectiva, deve-se partir das condições da comunidade
como um modelo significa considerá-la como política, e dos seus potenciais, buscando-se identificar os processos
cultural e participativa (Juarez, 2015). psicossociais que bloqueiam ou facilitam o desenvolvi-
mento dos seus moradores. Tem como objetivo promover
Psicologia Comunitária e Saúde Comunitária: o fortalecimento e desenvolvimento comunitário (Góis,
Diálogos Possíveis 2005). O psicólogo comunitário não deve se colocar
como promotor da transformação social, sua intervenção
Góis (2005) destaca a importância dos movi- busca potencializar ações concretas na realidade comu-
mentos sociais, em especial o movimento da Saúde nitária a ser transformada. Para tanto, faz-se necessário
Mental Comunitária para a constituição da Psicologia potencializar os recursos comunitários, integrando suas
Comunitária. Esse movimento criticou a forma tra- práticas aos movimentos sociais; à organização, luta e
dicional de tratamento de pessoas com transtornos reivindicação comunitária; as associações comunitárias;
mentais, recusando a perspectiva segregacionista e ins- aos sindicatos; aos demais movimentos e grupos de orga-
titucionalizadora do hospital psiquiátrico e acusando a nização e luta política, ou seja, o psicólogo deve atuar
insuficiência e pouca efetividade da psicoterapia para menos em instâncias de controle, desenvolvendo práticas
dar conta do tratamento desses pacientes. Além disso, com grupos populares (Martin-Baró, 2011).
buscou-se substituir o modelo médico centrado na Nessa perspectiva, a Saúde Comunitária cor-
doença por um modelo psicossocial que considera as responde tanto a um conjunto de atividades como a
origens sociais dos problemas de saúde mental. uma concepção de saúde, à medida em que se propõe à
É pertinente destacar a crítica feita por Saforcada criar espaços de diálogo, vivência e atividade, a fim de,
e Alves (2015) a esse modo de atuar em saúde, por se partindo-se das potencialidades que toda comunidade
tratar de uma perspectiva dualista, cuja função de cuidar possui, fortalecer grupos e redes comunitárias de apoio,
da mente é do psicólogo e do psiquiatra, enquanto o cuidado e proteção, com foco na promoção e preven-
cuidado com o corpo cabe a outras especialidades médi- ção. Nessa mesma direção, Catalayud (2015) defende
cas. Além disso, nessa perspectiva, há a separação de a Saúde Comunitária como um processo que inclui a
serviços de saúde, havendo, por exemplo, equipamentos produção, o fortalecimento, a recuperação e gestão da
específicos de saúde mental, cuja a oferta restringe-se ao saúde, compreendida em sua multidimensionalidade e
atendimento a pessoas com diagnóstico de transtorno em seus determinantes sociais. A gestão da saúde cor-
mental, ao invés de oferecer um serviço abrangente. responde aos processos participativos que objetivam a
Para Ximenes e Góis (2010), o objeto de estudo proteção e promoção da saúde. De tal modo, o foco é a
da Psicologia Comunitária é o reflexo psíquico do participação ativa da comunidade, ou, no dizer de Góis
modo de vida comunitário. O objetivo da Psicologia (2005), a construção do sujeito comunitário, como via
Comunitária é o aprofundamento de consciência e o para o desenvolvimento comunitário.
fortalecimento de uma identidade de sujeito da comu- Desse modo, a ênfase recai, de maneira geral,
nidade como responsável e ativo na transformação nas potencialidades e capacidades da comunidade,
positiva da realidade. A Psicologia Comunitária tem e no que se refere especificamente ao cuidado da
como horizonte a libertação, partindo de uma práxis saúde, articulando-se indivíduo, família e comuni-
transformadora das condições de vida das populações dade. Compreende-se ainda, saúde como um conceito
que vivem processos de opressão, dominação, explo- positivo, de modo que se busca, a partir da Saúde
ração e também de pobreza, tendo em vista que não Comunitária, a Gestão da Saúde Positiva (Saforcada,
se pode pensar a saúde sem considerar essas condições 2012; Catalayud, 2015), ou seja, mobilizar recursos
(Góis, 2008). Essas relações de opressão no contexto voltados não para a enfermidade, mas para a proteção
latino-americano estão presentes no modo de produção e promoção da saúde (Saforcada, 2012).

Ximenes, V.M., Lemos, E.C., Silva, A.M.S., Abreu, M.K.A., Filho, C.E.E. & Gomes, L.M. 5
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Saforcada e Alves (2015) salienta, ainda, que a além da ideia de participação social defendida no campo
Saúde Comunitária segue o Paradigma Social Expansivo, da Saúde Coletiva, pois valoriza o papel dos usuários
em oposição ao Paradigma Individual Restritivo. Esse dos serviços de saúde nas decisões sobre a gestão e pla-
toma como eixo central a doença, partindo, portanto, nejamento das políticas públicas, no entanto a decisão
de um enfoque patocêntrico e tomando a prevenção final continua nos gestores e profissionais de saúde.
da doença como principal estratégia de cuidado. Já Essa questão da participação ativa da popula-
o paradigma social expansivo tem como eixo a saúde ção é um grande desafio. No Brasil, a previsão legal de
positiva (Saforcada & Alves, 2015). Nesse paradigma, instrumentos de controle social das políticas de saúde
não faz sentido a superioridade do conhecimento das pela população, principalmente mediante as conferên-
ciências da saúde, valorizando-se os saberes comunitá- cias e os conselhos de saúde, não tem surtido o efeito
rios, muitos dos quais trazem uma concepção holística esperado. Conforme análise de Campos (2016), as
de saúde, não separando corpo e mente. Conferências Nacionais de Saúde tem sido repetitivas,
O enfoque da Saúde Comunitária difere do com críticas à mercantilização da saúde, à fragmenta-
modelo tradicional da Saúde Pública e da Saúde cole- ção do sistema, aos baixos investimentos, as quais, no
tiva, por trazer a facilitação dos processos comunitários entanto, não tem como resultado a mudança efetiva nas
como principal dispositivo, ao tomar a comunidade decisões do poder público. O enfraquecimento desses
como local de atuação, pois busca deslocar a atenção instrumentos de controle social também se deve à falta
das instituições de saúde para a comunidade, compar- de capilaridade das ideias discutidas no âmbito mais
tilhar a responsabilidade com os moradores, priorizar as abrangente da sociedade. Falta uma maior articulação
práticas educativas e de prevenção em saúde, conside- e conexão com a sociedade civil, em especial os movi-
rando a origem social das enfermidades. Nesse sentido, mentos sociais (Campos, 2016).
Góis (2008) enfatiza que esta perspectiva considera o Nesse sentido, cabe considerar o potencial cole-
indivíduo como sujeito atuante e capaz de desenvolver tivo de resistência das comunidades, num trabalho que
potenciais de cuidado com si mesmo, com os outros e busca não somente exercer um controle indireto das
com a natureza. políticas sociais, mas assumir o papel de decidir ativa-
Decorrente deste pressuposto, os profissionais de mente sobre o planejamento, a gestão, o cuidado e a
saúde devem reorganizar os serviços de saúde de forma promoção da saúde.
a criar mecanismos e ações geradores de autonomia, A Psicologia Comunitária e a Saúde Comunitária
conscientização e transformação social. Esta reorgani- compartilham valores e práticas que possuem como
zação deve ocorrer a partir do conhecimento do meio princípios balisadores a libertação e a participação, que
socioambiental em que atua e do conhecimento do estão na construção de espaços que rompam com os pro-
modo de vida e dos potenciais de saúde dos moradores. cessos de opressão e favoreçam práticas participativas.
Ao considerar a configuração do meio socioambien-
tal como fundamental na organização dos serviços de Libertação e Participação – Elementos Imprescindíveis
saúde, cabe refletir sobre a condição de pobreza em que no Contexto da Opressão
vivem a maior parte dos usuários atendidos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). O conceito de libertação surge a partir de contes-
No contexto brasileiro, vários esforços e movi- tações da realidade social, política e econômica de países
mentos foram colocados em prática como forma de da América Latina e também através de práticas con-
fortalecer a ideia de saúde positiva e superar o modelo cretas no sentido de promover mudanças no contexto
biomédico de saúde. Destacou-se o movimento de de vida cotidiana das populações pobres e excluídas,
reforma sanitária, que, constituído a partir da articula- sujeitas a opressões políticas e simbólicas de grupos e
ção entre universidades, serviços e movimentos popu- países dominantes.
lares, levou à criação do SUS. Como resultado desse Guareschi (2009) explicita que, no nascimento
processo, desenvolveu-se o campo da saúde coletiva, deste conceito, a América Latina se encontrava em um
que tem buscado articular as práticas de saúde a concep- cenário mundial de guerra fria, fim da Segunda Guerra
ções que considerem os determinantes socioculturais e Mundial e avanço de perspectivas de independência e
econômicos do processo saúde-doença-cuidado, tendo autonomia dos países, dentre eles da América Central
em vista a justiça social, democracia e a emancipação e do Sul, que estavam sob forte influência dos Estados
política dos sujeitos (Ayres, 2016). Isso se dá através da Unidos da América (EUA). Por ocasião da Revolução
participação da comunidade, concepção essa que vai Cubana e difusão de sua ideologia, observava-se que

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alguns países da América Latina vinham em um pro- latino-americana mais justa e mais humana. Para
cesso de iniciar mudanças em seus contextos políticos tanto, constitui-se um desafio para a Psicologia Latino-
e sociais, voltando-se para superação das estratégias de americana explicar a relação que existe entre a desaliena-
dominação-opressão vivenciadas por parte significativa ção individual e a desalienação social. Somente a partir da
da população em situação de pobreza. As divergências perspectiva das maiorias oprimidas é possível vislumbrar
quanto à autonomia destes países e por conseqüência a potencialidade libertadora das técnicas psicológicas.
da população vinham tanto externamente, principal- Para Pizzinato (2010), esta perspectiva faz emer-
mente dos EUA, quanto internamente, resultando em gir a opção profissional pelo trabalho com a popula-
um estado de ditadura militar, tal como o Golpe de ção pobre e com a experiência comunitária na prática
1964 no Brasil. da psicologia latino-americana e revoluciona a práxis
Neste clima político de dominação pelo apare- psicológica ao imprimir novos desafios: promoção
lhamento militar, as reflexões e ações da Igreja Católica, das atividades dos grupos oprimidos, revitalizando as
por meio do Concílio Vaticano II (1961-1965), e da práticas comunitárias, denunciando a injustiça social,
sociedade civil na América Latina, com o anseio vee- facilitando a conscientização, fomentando formas de
mente por mudanças na estrutura e dinâmica das rela- resistência e luta, promovendo o controle dos aspectos
ções da sociedade, suscitaram o surgimento do conceito cotidianos de suas vidas. Entretanto, essas ações trans-
de Libertação, dando novo entusiasmo e empenho nas formadoras não podem acontecer sem a participação
diversas práticas de transformação das realidades viven- das maiorias excluídas. Para Martin-Baró (2011, p.196)
ciadas pelas populações (Guareschi, 2009). “devemos trabalhar para potencializar as virtudes dos
Na América Latina, a libertação, diferentemente nossos povos”, o que reafirma o compromisso ético da
do conceito de liberdade, volta-se para os processos de psicologia com uma práxis libertadora.
superação e enfrentamento de forma coletiva das situa- A Psicologia Comunitária, na perspectiva traba-
ções de opressão vivenciadas pela grande maioria desses lhada nesse artigo, é considerada uma área da Psicologia
países. Ximenes e Góis (2010, p.59) ressaltam que, nesta Social da Libertação, já que os seus fins coincidem na
região o religioso, o pedagógico, o filosófico e o psico- busca pela desalienação e libertação, reafirmando seu
lógico se fundem e nascem de novo na realidade social compromisso ético com os grupos socialmente opri-
de seu povo oprimido, que busca a libertação mediante midos e marginalizados em uma perspectiva emanci-
uma práxis libertadora, ato este que é de conquista, de padora. Portanto, condizente com seus pressupostos
superação, de conscientização. teóricos e éticos, sua prática é pautada no diálogo pro-
É neste panorama histórico e político de mudan- blematizador e na potencialização dos agentes indivi-
ças e a partir dos pressupostos epistemológicos que duais e comunitários, voltando-se “(...) na direção do
norteiam o conceito e paradigma de Libertação, que desenvolvimento de formas participativas de interven-
possibilitaram o desenvolvimento dos campos: Teologia ção, do fortalecimento das relações de poder mais plu-
da Libertação (Guareschi, 2009), Filosofia da Libertação rais, democráticas e horizontalizadas (...)”. (Ximenes,
(Dussel,1986), Pedagogia da Libertação (Freire, 1979) Nepomuceno & Cidade, 2016, p. 190).
e Psicologia da Libertação (Martín-Baró, 2011). O que fomenta a intervenção em Psicologia
Guareschi (2009) traz importantes reflexões sobre Comunitária e a Saúde Comunitária, inserida no para-
o conceito de libertação a partir de três pressupostos digma da Libertação, é a participação, como aspecto
epistemológicos nele implícitos, quais sejam: o conceito catalisador dos processos de conscientização, desideolo-
de relação como superação da dicotomia entre o indivi- gização, fortalecimento pessoal e coletivo, potenciação
dual e o social, em que implica a dimensão relacional, de pessoas e grupos, formação de redes comunitárias
crítica e dialética; a superação da dicotomia entre teoria de apoio e solidariedade, construção de ações coletivas
e prática, que aponta para uma indivisibilidade entre para melhoria das condições de vida dos grupos social-
o dizer e o fazer, e a imprescindibilidade da dimensão mente marginalizados.
ética que questiona sobre quais são os processos que A participação em uma perspectiva libertadora
precisam ser libertados e as influências necessárias dos em diversos campos do saber e de atuação, inclusive
valores imbricados nesses processos. na saúde comunitária, requer do sujeito e dos sujeitos,
Martín-Baró (2011) acrescenta que a Psicologia enquanto coletivo, um movimento emancipador de
da Libertação deve desenvolver uma práxis que permita rompimento com a dependência e alienação. Disto,
aos sujeitos tornarem-se protagonistas de sua história e resultam os processos de conscientização e ação par-
construírem ações transformadoras para uma sociedade ticipante no sentido de mudanças significativas nas

Ximenes, V.M., Lemos, E.C., Silva, A.M.S., Abreu, M.K.A., Filho, C.E.E. & Gomes, L.M. 7
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estruturas que fundamentam a sociedade em um viés Uma outra forma de participação é a democrática,
que propicia a submissão e exploração de uma grande que compreende os indivíduos como responsáveis por
parcela da população. seus direitos e deveres, com foco na autonomia e num
Nesse sentido, a Saúde Comunitária tem a par- projeto de sociedade se ultrapasse a dimensão política
ticipação como mola propulsora das intervenções em e considere as esferas pessoal e social (Delors, 2010).
educação, prevenção e promoção em saúde, ao potenciar Assim, podemos constatar que a participação requer
indivíduos, grupos e comunidades em suas dimensões um ambiente democrático e deve contribuir com o
saudáveis. O espaço de participação é a comunidade, fortalecimento da identidade pessoal, coletiva e, ou
considerada como lugar de moradia e de construção de comunitária, na direção da construção de processos de
vínculos entre seus moradores, e que possibilita a cons- autonomia. Freire (2002) compreende a autonomia, no
trução do conhecimento crítico e processos de cons- contexto da Pedagogia da Libertação, como algo que
cientização, o fortalecimento humano e comunitário, deve ser conquistado e construído a partir da vivência de
a transformação social das questões que envolvem o cada um e das decisões baseadas na liberdade do sujeito.
processo saúde-doença. Abrangem ações que incluem o Diante do exposto, podemos constatar que atuar
diálogo problematizador, a interação social afetiva entre com metodologias participativas consiste optar pelo
profissionais e sujeitos comunitários, a vivência, a ação uso de metodologias nas quais os sujeitos da pesquisa
coletiva transformadora, transcendendo os modelos ou da intervenção são considerados coprodutores de
biomédicos que centram a intervenção no indivíduo e conhecimento (Streck, 2016). As metodologias parti-
nos seus processos de adoecimento (Góis, 2008). cipativas são estudadas e referenciadas, especialmente
O elemento da participação promove os poten- no campo da Educação Libertadora/Popular, trazendo
ciais saudáveis das pessoas ao possibilitarem a cons- a centralidade da obra de Paulo Freire. É nesse sentido
cientização e transformação dos elementos pessoais, que o uso dessas metodologias tende a favorecer o for-
comunitários e ambientais, determinantes sociais dos talecimento da identidade pessoal e social dos sujeitos
processos de saúde individuais e coletivos, respondendo envolvidos, de tal modo, a potencializá-los na direção
à complexa e multidimensional visão de saúde que de desenvolvimento de estratégias de enfrentamento ao
extrapola os aspectos físicos e biológicos, envolvendo sofrimento e de construção de processo de libertação.
aspectos complexos em uma dimensão pedagógica e Diante da diversidade de metodologias participa-
terapêutica mais ampla. tivas, a caminhada comunitária, a visita domiciliar e o
círculo de cultura possuem como foco a participação e
Metodologias Participativas: Caminhada Comunitária, a valorização do conhecimento popular, elementos que
Visita Domiciliar e Círculo de Cultura estão alinhados com a Saúde Comunitária e a Psicologia
Comunitária. Tais práticas estão nas intervenções dos
A metodologia é o caminho seguido pelo pro- profissionais da saúde, porém há poucas sistematizações
fissional ou pelo pesquisador que revela as concepções sobre essas metodologias.
epistemológicas que estão relacionadas com sua forma-
ção profissional. Esse percurso precisa estar coerente Caminhada Comunitária
com o problema e com os objetivos da pesquisa e, ou
da intervenção e com as experiências pessoais do pro- A caminhada comunitária, muito utilizada na
fissional e dos sujeitos participantes (Silva, 2014). Psicologia Comunitária, é uma das técnicas de faci-
Sarriera (2011) problematiza a participação no litação dos processos comunitários que se volta para
contexto da saúde comunitária e tece uma crítica afir- conhecer e compreender as dinâmicas que envolvem
mando que existe a participação passiva e subordinada. o fazer comunitário. Desta forma, é uma alternativa
Segundo Silva (2014), a participação também pode prática de inserção na comunidade, lócus de interven-
assumir um caráter de um espaço de aprendizagem, em ções psicossociais dos profissionais, sendo que muitos
que os indivíduos se fazem presentes para receber for- possuem dificuldades de compreender a importância de
mação, aprendizagem e/ou capacitação. Esse modo de caminhar na comunidade e conhecer o cotidiano dos
participar não propicia a promoção da autonomia, do moradores (Rebouças Jr. & Ximenes, 2010). Segundo
protagonismo e da corresponsabilização, sendo muito Góis (2008), a caminhada comunitária
comum no campo das políticas sociais de um modo É um andar realizado em grupo, no qual se jun-
geral, e muitas vezes podem apresentar um viés assis- tam para caminhar pelas ruas da comunidade profissio-
tencialista ou bancário (Freire, 2002). nais de saúde e moradores, com o fim de conhecer os

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locais, as pessoas, ver situações, ouvir histórias, saber da embora seja preciso definir, com clareza, os objetivos
história do lugar, dar-se a conhecer e estabelecer laços desta inserção, é importante evitar um controle rígido
de convivência, estar mais dentro e por dentro do coti- dos caminhos e lugares a serem percorridos correndo o
diano do lugar. A caminhada comunitária quer dizer risco de perder o sentido vivo e natural da comunidade.
um andar coletivo visando olhar junto, compreender A caminhada comunitária é um espaço em que
junto e atuar junto (p. 197). o profissional da saúde ou das políticas públicas passa
Nesta atividade, os profissionais da saúde, de a ser conhecido pelos moradores da comunidade, pas-
outras políticas públicas e lideranças comunitárias, jun- sar a conhecer os espaços significativos ou não que
tamente com os moradores da comunidade, empreen- fazem parte da história daquele lugar e a compreender
dem uma caminhada conjunta e dialógica, que pode aspectos que antes eram vistos como abstratos, pois o
se realizar em diversos momentos do dia, apreendendo conhecimento só se dava a partir dos relatos dos mora-
as variações do viver em comunidade (Góis, 2008). dores, sem uma vivência no lugar. Essa inserção do
Na caminhada comunitária, os papéis do profissional e profissional é uma maneira de facilitar processos de
do morador são diferentes, porém estão em relação de participação, fortalecer os vínculos afetivos e sociais,
horizontalidade, já que ambos estão no território, cami- visibilizando relações de opressão e criando condições
nham, interagem e vivenciam o cotidiano da comuni- para a libertação. Como técnica de inserção comunitá-
dade em conjunto. O morador passa a ser também um ria pode ser associada a outras práticas, tal qual a visita
facilitador de processos de inserção na comunidade domiciliar, visita institucional e entrevista, agregando
e de promoção de atividades comunitárias. Segundo informações e vivências subjetivas à compreensão ampla
Rebouças Jr e Ximenes (2010), a importância do envol- da comunidade.
vimento do morador na caminhada se deve ao fato de
que “ele conhece mais o lugar e assume uma função de Visita Domiciliar
guia, o que propicia mais segurança a todos. O morador
sabe quais são os lugares perigosos, os melhores horá- A visita domiciliar é uma técnica que vem se dis-
rios e quem são as pessoas importantes que devem ser seminando em diferentes áreas, como nas atuações nas
visitadas” (p. 160). políticas públicas, nas atividades acadêmicas e nas orga-
Embora a comunidade possa ser conhecida pelos nizações não- governamentais, junto às comunidades. É
envolvidos, os profissionais que realizam a caminhada uma prática profissional investigativa ou de atendimento
comunitária necessitam ter por princípio um olhar sen- e que se desenvolve contemplando outras técnicas como
sível sobre os lugares, as pessoas e os processos vivencia- a observação, a entrevista e o relato oral (Amaro, 2003).
dos. Pressupõe um compromisso com o outro e com a No âmbito da Psicologia Comunitária permite
comunidade, sendo fonte inesgotável de conhecimento, aprofundar e compreender aspectos da dinâmica familiar
de vivência no modo de vida que envolve o viver e o e comunitária, fortalecer o vínculo entre os profissionais e
conviver em comunidade. a comunidade e compreender a relação entre o ambiente
Da mesma forma, a caminhada comunitária e o comportamento das pessoas (Rocha, Moreira &
resulta em contribuições também no processo de ter- Boeckel, 2010). Como opção metodológica, é impor-
ritorialização da comunidade ou região, em visto de se tante que o profissional tenha interesse e predisposição
tomar ciência do território como espaço concreto da para realizá-la, evitando improvisações (Amaro, 2003;
vida social no qual as intervenções sociais se encon- Rocha, Conz, Barcinski, Paiva & Pizzinato, 2017). Sua
tram e atuam, em certo grau de convergência e diver- utilização permite recolher informações que em outras
gência, conhecendo suas potencialidades e fragilidades situações não seria possível. Algumas vezes, o contexto
que podem se dar por meio do contato com a comu- organizacional/institucional demarca e define a utilização
nidade e seus moradores (Gadelha, Machado, Lima, da visita domiciliar (Chagas, 2014; Fernández, 2016).
Baptista, 2011). Antes de realizar a visita domiciliar, é necessá-
A partir do conhecer in loco a realidade da comu- rio identificar a origem da solicitação, que pode vir da
nidade, os sujeitos envolvidos na caminhada devem se demanda da equipe ou profissional de referência, de
voltar para observar e interagir com os moradores, vis- outro serviço, das próprias pessoas a serem visitadas e
lumbrar os pontos de convivência reais e potenciais dos de outras fontes. Logo, é importante definir os obje-
grupos, identificar as contradições estruturais, relacio- tivos da visita, podendo ser para fortalecer vínculos,
nais e simbólicas no lugar e as atividades comunitárias obter informações, fazer um atendimento, conhecer a
desenvolvidas pelos próprios moradores. Entretanto, interação da família com o bairro e recolher dados para

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pesquisa. Garcia e Teixeira (2009) e Rocha et al. (2017) na perspectiva de Góis (2005) é considerada proble-
ressaltam a importância da participação de diferentes matizadora, dialógica e amorosa. Paulo Freire criou o
profissionais na visita domiciliar, caso seja possível. Círculo de Cultura, em meados de 1964, no Movimento
A visita domiciliar pode ser programada com de Cultura Popular de Recife (MCP), no Projeto de
antecedência e sem antecedência. Na visita programada Educação de Adultos. A base de sua práxis está na valo-
com antecedência, é importante cuidar dos temas logís- rização e articulação da cultura popular, com vistas a
ticos: programação da visita (agendar dia e hora, definir transformação da realidade social opressora (Marinho,
previamente sua duração e ter em conta as preferências 2009). Através do círculo de cultura se propicia uma
e disponibilidade das pessoas que serão visitadas), con- interação em grupo, buscando compartilhar e ampliar os
firmar dias antes a possibilidade de se realizar a visita, conhecimentos sobre determinada situação, incentivar a
providenciar e assegurar que se tenha os dados e recursos ação coletiva, estimular o desenvolvimento de uma cons-
necessários (endereço da residência, transporte, roteiro ciência crítica e da participação popular (Freire, 1979).
da entrevista e/ou pontos que se quer abordar, prever A disposição das pessoas em círculo é um modo
tempo do percurso). Já a visita programada sem ante- de criar condições de horinzontalidade, de diálogo e de
cedência, está relacionada a situações imprevistas que expressão, reconhecendo as diferenças e singularidades de
podem advir de denúncias relacionadas a situações de cada um no grupo. Em círculo, não há hierarquização,
violências, maus tratos, situação grave de saúde e des- nenhuma pessoa é mais importante que as outras e todas
cumprimento de alguma medida judicial e que o pro- podem aportar seus conhecimentos a partir das vivências
fissional precisa realizar. e compreensões pessoais. Já a palavra cultura pode ser
No momento da vista, os profissionais devem compreendida como a aquisição sistemática da experi-
fazer a sua apresentação, explicar o motivo da visita e ência humana, que compõem os valores, histórias, mitos,
iniciar o processo de conversa ou entrevista, sempre com resultado da práxis humana (Cavalcante & Góis, 2015).
atenção para dinâmica familiar que acontece durante a Diante disso, o círculo de cultura é um instru-
visita. É fundamental construir um diálogo sem inva- mento de expressão e aprendizagem, onde se criam espa-
dir a intimidade e privacidade das pessoas e de modo ços reflexivos e participativos em que os participantes
que não prejudique a fluidez da comunicação entre os são convidados a compartilhar sua compreensão sobre
participantes. No final, o profissional deve perguntar uma palavra ou tema gerador. O compartilhar desses
se a pessoa quer acrescentar algo. significados e vivências individualmente (descodifica-
As habilidades do profissional para estabelecer ção) resulta na ampliação ou em uma nova apreensão
uma relação empática, de confiança e para observar os sobre as palavras ou temas geradores iniciais (codifica-
elementos do contexto são fundamentais para assegurar ção), só que, dessa vez, há como fruto uma construção
o êxito e o alcance dos objetivos propostos. Porém, tam- coletiva. Assim, o processo do círculo de cultura se
bém é importante ter em conta alguns aspectos desa- resume em codificar-descodificar-codificar palavras ou
fiadores, como cuidar para não expor a pessoa/família temas geradores. No círculo de cultura, essas palavras ou
visitada, garantir a privacidade e a confidencialidade temas geradores são propostas pelo facilitador/animador
dos dados obtidos. Para muitas famílias, dependendo e/ou pelos participantes a partir do conhecimento do o
da situação, receber em casa a visita de um profissional contexto social da comunidade.
que oferece escuta, empatia, respeito e atenção é motivo Segundo Monteiro e Viera (2010), o círculo
de muita gratidão e vivido como uma expressão de cui- de cultura consiste em três momentos principais: 1)
dado e confiança. (Chagas, 2014; Fernández, 2016). Investigação Temática, que é a busca por palavras ou
À medida que o profissional passa a estar na residência temas geradores contextualizados com a realidade sub-
do morador, pode-se criar nesse espaço, uma relação jetiva, social, cultural e política moradores da comuni-
de fortalecimento da intimidade e do vínculo entre dade ou integrantes do grupo; 2) Tematização, que é a
profissional e morador, contribuindo com a promoção busca pelo significado da palavra geradora, é a codifica-
da saúde, através de diálogos problematizadores e, por ção e decodificação dos temas; 3) Problematização, que
conseguinte, de relações mais libertadoras. é a partilha e discussão dos significados das palavras, na
direção do processo de conscientização.
Círculo de Cultura Segundo Cavalcante e Góis (2015), as caracterís-
ticas do círculo de cultura são: clima de espontaneidade,
Paulo Freire assumiu o compromisso com a trans- respeito e confiança; crença no ser humano como sujeito
formação social e desenvolveu uma ação educativa que, capaz de transformar a realidade, através da consciência

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crítica; diálogo autêntico; a existência de um facilitador identificar lideranças, criar vínculos familiares e comu-
dos processos humanos e sociais; troca e aprendizado nitários, enquanto a visita domiciliar é uma forma de
mútuo. É o diálogo problematizador que leva à (re) construir intimidade com o lugar, estabelecer relações
construção do mundo, à conscientização e a superação mais próximas de cuidado e confiança, conhecer aspec-
transformação da realidade opressora. Nesse sentido, o tos psicossociais que, de outro modo não seria possível.
objetivo dos círculos de cultura são práticas que visem Já o círculo de cultura possibilita deflagrar processos de
os processos de libertação. conscientização através do trabalho coletivo de decodi-
Nos processos de intervenção comunitária e gru- ficação da realidade, de problematização das questões
pal nos campos da saúde, da educação, da cultura, da existenciais e de reconstrução da leitura do mundo e
assistência social, dos direitos humanos e em outros de si mesmo de forma crítica e transformadora, consti-
podem ser utilizados o círculo de cultura. Além de ser tuindo-se como um instrumento potente para fomentar
um recurso teórico e metodológico também pode ser processos participativos em saúde comunitária.
uma técnica de pesquisa (Monteiro &Vieira, 2010). Este artigo limitou-se a apresentar somente essas
três metodologias a fim de contribuir com a interven-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ção de profissionais que almejem utilizá-las. Porém,
compreendemos a sua limitação em não discorrer sobre
O objetivo deste artigo foi tomar como base as dis- várias outras técnicas pertinentes a essas temáticas e
cussões da Saúde Comunitária e Psicologia Comunitária também de não discutir a importância da interdiscipli-
para refletir sobre as metodologias participativas, por- naridade dos saberes. No entanto, os principais aspectos
tanto este requer que afinemos as bases ideológicas e presentes nas metodologias da Saúde Comunitária e da
ético-políticas deste campo do saber com os instrumen-
Psicologia Comunitária são a participação e a libertação.
tais de intervenção social. Para tanto, os pressupostos
da saúde integradora e multidimensional, a imprescin-
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aspectos comunitários e o horizonte dos processos de
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Portanto, uma intervenção pautada em tais pres- universitária de recursos humanos. Uma aproximação.
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