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descreveu com seus 83 anos; com pas- explica totalmente um fenômeno, sem
sado de Chicungunha em 19 de maio de deixar brechas.
2016, o que lhe fez passar por um perí- Foi isso o que fez Pontes de Mi-
odo de grandes dores; com nódulo no randa. Ele buscou nas bases francesas,
pulmão, que depois da Chicungunha alemãs, italianas e construiu uma teoria
cresceu de 3 mm a 5 cm; que esse pro- completa. Apesar disso, ele não se des-
blema ainda repercute nos dias de hoje, creve como criador de uma Teoria Geral
pelo risco de desenvolvimento de câncer do Direito.
e diante das suas limitações a cirurgia;
E esse é o mal do brasileiro, que
aposentado compulsoriamente, que se
critica sem conhecimento. Fala sem ler.
sente em débito com o povo alagoano e
Diz pelos olhos.
com o governo, pois estudou de graça e
nunca pagou sequer uma taxa pela sua O Professor Marcos Mello rela-
formação acadêmica; gosta de brincar tou que seu pai era um grande estudioso.
bastante intelectualmente; e aprecia pes- Às cinco horas da manhã todos os dias,
soas autênticas, verdadeiras, que falam o lia seus livros e depois tomava seu banho
que pensam para construir e destruir. gelado. Um dia ele chegou em casa com
um libro debaixo do braço e disse: “Mar-
A Teoria Geral do Direito prima
cos, estou lendo um livro; e, ou esse cara
pelas premissas, pela essência, pelo corte
é um gênio, ou é uma verdadeira pulha”.
metodológico, a partir do qual se estabe-
lece as bases do direito. As categorias Daí o Professor Marcos Mello
fundamentais do direito exigem um corte teve o seu primeiro contato com Pontes
metodológico para se encontrar o que é de Miranda em 1954. No começo, relata
fundamental no direito e como se pode que teve dificuldades em razão da lin-
entender o direito, sem dúvidas. Uma Te- guagem de Pontes (que não utiliza notas
oria Geral do Direito cientificamente ela- de rodapé e muitas vezes torna confusa a
borada deve explicar o direito de forma leitura, dificultando o entendimento so-
que não deixe coisa alguma sem explica- bre o que é depoimento dele ou de al-
ção. Não se admite que haja exceções, guma referência). Confessa que se apai-
pois isso significa que não foi encontrada xonou por Pontes, em razão da sua pre-
a explicação, que a explicação foi insufi- cisão, da sua coerência e da sua simplici-
ciente. Só há explicação quando se dade (a paixão foi tanta que escreveu os
três livros da Teoria do Fato Jurídico, ex-
plicando Pontes de uma maneira ainda
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(como ele não segue ABNT, ele também para nos conduzir aonde ela quer. Somos
não exige isso de ninguém). o produto do querer da sociedade. Nin-
guém se cria, nem se forma por si mesmo
A primeira unidade do Plano do
(por isso Raul Seixas dizia que nasceu há
Curso é o Fenômeno Jurídico, normas
dez mil anos atrás, refletindo o produto
sociais, normas jurídicas, conceitos jurí-
do meio, reproduzindo exigências huma-
dicos fundamentais. A visão Pontiana do
nas ancestrais).
Direito é uma visão sociológica, não ju-
rídica. Para cada aspecto do direito, ele Na verdade, a civilização não cria
deu o tratamento conforme sua ciência coisas novas. A civilização apenas sofis-
específica. tica coisas velhas. As necessidades são
as mesmas, os padrões é que são sofisti-
Apesar de ser lógico, de ter a lo-
cados.
gicidade como característica, o direito é
uma realidade social, é um instrumento O ser humano é produto dessa
da sociedade, não é um instrumento do adaptação. O que adapta a gente: reli-
homem. Quem precisa do direito é a so- gião; política; estado; dentre tantos ou-
ciedade, o homem em si não precisa do tros. O direito é pura ideologia, sempre
direito. O direito surgiu quando o pri- foi - ele não é neutral, como dizia Kelsen.
meiro homem das cavernas disse “isso é Os principais processos de
meu”, utilizando-se pela primeira vez de adaptação social são oito: 1) a moral; 2)
um pronome possessivo. a religião; 3) a ciência; 4) as artes; 5) a
Quando o homem nasce, ele é to- moda; 6) a etiqueta; 7) a economia; e 8)
talmente inadaptável à vida social. Ele o direito. A gente se adapta através de to-
não sabe falar, não sabe comer, não sabe dos esses processos. Os sete primeiros
andar. Ele não nasce autônomo, tudo ele são todos facultativos; agora o último
aprende. Ele é um produto da vida social. processo não é facultativo, é o único
Ele é egoísta por natureza, quer sempre obrigatório: o direito.
fazer prevalecer seu interesse perante os A obrigatoriedade do direito tem
outros. Isso não é nada demais, o pro- uma origem. Para Kelsen, sua origem é a
blema é o excesso. norma fundamental (o que para o Profes-
Essa natureza humana precisa ser sor Marcos Mello é uma mera invenção,
adaptada. A sociedade se utiliza dos cha- uma verdadeira arbitrariedade). Na ver-
mados processos de adaptação social. dade, o direito é uma necessidade social.
São os instrumentos que a sociedade tem
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