Anda di halaman 1dari 149

APOSTILA – CURSO DE DIREITO

Prof. Dr. Nelson Rodrigues Netto1

Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


(1986), instituição onde obteve os títulos de Especialista (1997), Mestre
(2001) e Doutor (2005) em Processo Civil. É Pós-Doutorado (Visiting
Scholar) pela Harvard Law School (2006) e Pesquisador Sênior Visitante
(Gastforscher) no Institut für ausländisches und internationales Privat- und
Wirtschaftsrecht Ruprecht-Karls - Universität Heidelberg (2015). É
Professor de Direito Processual Civil da Universidade São Judas Tadeu. É
membro da International Procedural Law Association, do Instituto
Brasileiro de Direito Processual, da American Society of International Law,
da Associação de Juristas Brasil-Alemanha (Deutsch-Brasilianische
Juristenvereinigung), da Harvard Law School Association do Brasil e
Harvard University Association do Brasil, e da Associação dos Advogados
de São Paulo. Advogado e Consultor Jurídico.

São Paulo – 2018

1
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio ou
processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos,
videográficos. A violação de direitos autorais é punível como crime (Lei nº 9.610, de 19.02.1998).
ÍNDICE:

I – Jurisdição e Competência

1. FUNÇÕES DO ESTADO 4
2. A função jurisdicional 6

2.1. Conceito 6

2.2. Características da Jurisdição 7

3. A tutela jurisdicional 10

4. Classificação da Jurisdição 11

5. A Organização Judiciária Brasileira 13

5.1. O Supremo Tribunal Federal 14

5.2. O Conselho Nacional de Justiça 15

5.3. O Superior Tribunal de Justiça 17

5.4. A Justiça do Trabalho 20

5.4.1. O Tribunal Superior do Trabalho 20

5.4.2. Os Tribunais Regionais do Trabalho 23

5.4.3. Os Juízes do Trabalho 24

5.5. A Justiça Eleitoral 26


5.5.1. O Tribunal Superior Eleitoral 26

5.5.2. Os Tribunais Regionais Eleitorais 28

5.5.3. Os Juízes e as Juntas Eleitorais 29

5.6. A Justiça Militar 31

5.6.1. O Superior Tribunal Militar 32

5.6.2. Os Juízos Militares de 1º grau de jurisdição 32

5.7. A Justiça Federal (justiça comum da União) 35

5.7.1. Os Tribunais Regionais Federais 36

5.7.2. Os Juízes Federais 37

5.8. As Justiças comuns dos Estados, Distrito Federal, Territórios 40

5.8.1. Os Tribunais de Justiça 40

5.8.2. Os Juízes de Direito 42

5.8.2.1. Os Juizados Especiais 44

5.8.3. A Justiça Militar dos Estados 46

5.8.4. A Justiça de Paz 48

6. Competência 49

6.1. Conceito 49

6.2. Critérios para determinação da competência 51

6.2.1. Critério funcional 55


6.3. Operações lógicas para concretização da competência 59

7. Ausência de competência – Incompetência absoluta ou relativa 96

7.1. Incompetência absoluta 97

7.2. Incompetência relativa 98

8. Prevenção – Conexão e Continência 103

8.1. Prevenção 103

8.2. Conexão e Continência 104

9. Perpetuatio Jurisdictionis 109

10. Conflito de competência 110


Jurisdição e Competência

1. – Funções do Estado

Analisando a crise do Poder Judiciário, em nossa tese


de doutorado, asseveramos ser “ponto pacífico entre os doutos a extrema
dificuldade de se fixar um conceito de Estado, considerando que o
elemento de destaque de cada corrente doutrinária pende, ora mais para
um sentido político, ora para a faceta da força e soberania, ora para o
aspecto jurídico”.2

Pela posição primacialmente jurídica, adotamos o


ponto de vista do Professor Dalmo de Abreu Dallari, conceituando que
“Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de
um povo situado em determinado território”.3

É sabido que o poder do Estado é unitário, derivado de


sua soberania. Todavia, este poder é divido em funções consoante os

2
Interposição Conjunta de Recurso Extraordinário e de Recurso Especial, São Paulo: Dialética, 2005, p.
17.
3
Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 104.
diversos objetivos almejados, afastando-se o uso de um critério orgânico
para definição de cada uma delas.

Assim, à função Legislativa incumbe regulamentar, por


intermédio de normas gerais e abstratas, as atividades do corpo social e
do próprio Estado.

Por seu turno, o Estado na atuação da função Executiva,


age de conformidade com a Lei, executando os comandos abstratos e
genéricos contidos nas normas jurídicas.

É peculiar aos atos administrativos, conquanto


praticados sob o regime da estrita legalidade, não possuírem a
característica de definitividade, podendo, observado o devido
procedimento, serem revistos pelo próprio Estado, no exercício da função
Jurisdicional.

A última função que compõe o Poder do Estado,


consiste da atividade de solucionar os conflitos intersubjetivos de
interesses, por meio da atuação da vontade concreta da lei, revelando a
função Jurisdicional.
Cabe ainda mencionar que, se a função típica da
jurisdição é a pacificação dos litígios, o Poder Judiciário exerce em seu
seio, de maneira atípica, atividades com cunho legiferante e
administrativa.

A Constituição Federal confere ao Supremo Tribunal


Federal a iniciativa de lei complementar para dispor sobre o Estatuto da
Magistratura, conforme o art. 93, na redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, publicada em 31 de
dezembro de 2004. Em acréscimo, aos Tribunais de Justiça, o art. 125, §1º,
da C.F., outorgou a iniciativa para a lei de organização judiciária da Justiça
dos Estados.

Sob a ótica administrativa, o art. 96, da C.F., atribui aos


Tribunais ampla gama de poderes, representativos de sua auto-gestão e
auto-regulamentação.

2. A função jurisdicional

2.1. Conceito

Etimologicamente a palavra jurisdição é oriunda do


latim jurisdictìo,ónis “ação de administrar justiça, judicatura; duração de
uma judicatura; direito de administrar justiça; julgamento de causa;
tribunal”.4

Consoante o jurista argentino Mario Oderigo, jurisdição


- juris dicere, corresponde à função desempenhada pelo Estado de dizer o
direito e de aplicá-lo.5

Adotando um espectro mais amplo, a Jurisdição


comporta assumir três conceitos diversos: poder – do Estado de decidir
imperativamente e impor coercitivamente suas decisões; função -
consubstanciada na promoção da pacificação dos conflitos intersubjetivos,
realizando o ideal de justiça, por meio do processo; e, atividade -
consistente no complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e
cumprindo a função prescrita na lei.6

Em arremate, é imprescindível destacar o clássico,


porém, atualíssimo, conceito de Jurisdição formulado por Chiovenda:

“jurisdição é a função do Estado que tem por escopo a atuação da


vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de

4
Verbete do Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
5
Lecciones de Derecho Procesal, Tomo l, p. 195.
6
Cf. Cintra-Grinover-Dinamarco, Teoria Geral do Processo, p. 131.
órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos
públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la,
praticamente efetiva”.7

2.2. Características da Jurisdição

À jurisdição compete a “atuação da vontade concreta


da lei”, o que significa dizer a aplicação da norma pré-existente ao caso
concreto.

Com efeito, os órgãos judiciais ao exercerem a


jurisdição não estão criando o direito, atividade essa de alçada exclusiva
da função Legislativa. Nada obstante, não há qualquer resquício sincretista
na função jurisdicional. As decisões judiciais estão impregnadas dos
valores axiológicos da sociedade, canalizados pelo seu condutor, o juiz.
Nas sociedades modernas, não há mais espaço para a máxima do
liberalismo francês: “le juge c’est la bouche de la loi”.

É elemento primordial da jurisdição, a segurança


jurídica por ela conferida às situações conflituosas de direito material,

7
Cf. Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, p. 11; Principios de Derecho Procesal Civil, Tomo
I, p. 369.
promovendo a pacificação entre as partes e emprestando certeza ao
direito que preexistia à sentença, mas que se encontrava em estado de
incerteza, em virtude da controvérsia.

Na esteira da lição de Chiovenda, podemos destacar as


seguintes características da jurisdição:

(i) atuação da vontade da lei – ocorre por meio dos pronunciamentos


jurisdicionais que declaram o direito a ser aplicado num caso concreto,
bem como que o tornam praticamente efetivo, alterando a realidade do
mundo empírico;

(ii) substitutividade - representa a impossibilidade, salvo raras exceções


legais, dos próprios envolvidos resolverem seus conflitos, cujas condutas
são substituídas pela atividade do Estado (v.g., arts. 188, 1.210, §1º, 1.467
usque 1.471, especialmente, o art. 1.469, todos do Código Civil). A própria
imparcialidade exigida dos magistrados deriva da característica da
substitutividade da jurisdição;8 o Código de Processo Civil de Portugal de
2013 tem como artigo 1º o da proibição de autotutela (proibição de

8
Neste sentido, José Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, vol. I, p. 261; Arruda
Alvim, Manual de Direito Processual, v. 1, pp. 162/3; Cândido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade
do processo, pp. 117/8, especialmente, nota 10.
autodefesa: “A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites
declarados na lei”;9

(iii) inércia – tem raízes históricas profundas, como se verifica do brocardo


“nemo judex sine actore”; em virtude da inércia, a atuação do Poder
Judiciário somente ocorre quando provocada por um interessado,
consoante preceito do art. 2º, do CPC;

(iv) litigiosidade - a Jurisdição é exercida quando existe um conflito


intersubjetivo de interesses. Excepcionalmente, em virtude dos bens ou
interesses jurídicos envolvidos, ao Estado-juiz incumbe-se a intervenção
em relações jurídicas não litigiosas, surgindo a denominada jurisdição
voluntária, conceituada como forma de “administração pública de
interesses privados”.10

9
No Brasil a ausência de lei autorizando expressamente a autodefesa ou autotutela constitui crime:
“Exercício arbitrário das próprias razões. Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa”.

10
Dada a característica da litigiosidade da jurisdição, costuma-se apontar como um contra-senso, a
própria afirmação da existência de uma jurisdição que seja voluntária.
(v) definitividade – as decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais
emprestam definitividade às soluções dos litígios, o que é representando
no processo, pelo instituto da coisa julgada material; há a vedação da
revisão daquilo que foi decidido, quando exaurida a jurisdição, ressalvada
a hipótese de vícios processuais que autorizem a propositura de ação
rescisória, dentro do biênio decadencial (art. 975, do CPC), ou, de ação
declaratória de inexistência de ato processual, independentemente de
prazo.

(vi) contraditório regular – decorrente da existência de regras bem


definidas e de conhecimento prévio das partes, o que empresta
legitimidade ao procedimento; a legitimidade do pronunciamento judicial
vem realçada pelo princípio da cooperação (art. 4º do CPC) entre os
sujeitos da relação processual (autor, juiz e réu) com a efetiva participação
e possibilidade de influência das partes na construção da solução do caso
concreto, afastando a ideia de posições isoladas entre as partes entre si e
delas com o juiz.
3. – A tutela jurisdicional

A Jurisdição é uma das funções que o Estado realiza na


persecução do bem comum a seu povo. O resultado da atividade
jurisdicional, de seu lado, consiste na tutela jurisdicional.

Entendemos que, a partir de “um matiz constitucional e


sob o manto do corolário do direito processual contido na cláusula ‘due
process of law’, e dos princípios do contraditório e da isonomia que dela
decorrem”, ser a tutela jurisdicional “o próprio exercício da atividade
jurisdicional e o resultado que dela advém, atingindo ambos os titulares
da relação processual, em seus pólos ativo e passivo”.11

11
Cf. Tutela Jurisdicional Específica: Mandamental e Executiva ‘Lato Sensu’, p. 19.
4. – Classificação da Jurisdição

Em princípio, não é de todo correto falar-se em uma


classificação da Jurisdição, já que ela é uma função que reflete a soberania
do Estado. A sua estratificação em classes tem uma finalidade
essencialmente didática, para um melhor rendimento de seu estudo.

Como primeiro critério, é possível distinguir a jurisdição


em civil e penal, considerando seu objeto. A distinção encontra-se na
existência, ou não, de sanção penal no preceito secundário das normas
dentro das quais, cada qual está enquadrada.

Considerando que a Constituição Federal (art. 92)


estrutura os órgãos do Poder Judiciário de forma hierarquizada, é possível,
por esse critério – hierarquia, identificar uma jurisdição superior e outra
inferior.

O princípio do duplo grau de jurisdição alberga essa


diferenciação, sendo o exercício da função jurisdicional realizado, em
regra, ao menos em dois graus de jurisdição, um inferior e outro superior.
Vimos que a litigiosidade apresenta-se como uma das
características da jurisdição. Contudo, situações excepcionais escolhidas
pelo legislador por envolver bens ou interesses jurídicos de superior
relevo social, acabam provocando a intervenção do Judiciário em relações
jurídicas não litigiosas. Neste contexto, é lícito adotar como critério a
existência de lide, para distinguir entre a jurisdição contenciosa e a
jurisdição voluntária.

O art. 1º, do CPC de 1973, fazia explicitamente essa


distinção, ao dispor que: “A jurisdição civil, contenciosa ou voluntária, é
exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as
disposições que este Código estabelece”. Nada obstante não constar do
CPC/2015, a ideia continua valida, especialmente, por se manter no novo
diploma um capítulo tratando dos procedimentos especiais de jurisdição
voluntária (art. 719 a 770).

Deste modo, apesar da inexistência de um conflito


intersubjetivo, certas relações jurídicas devem ser conduzidas pelos juízes,
conferindo-lhes juridicidade perante o ordenamento.

É corriqueiro afirmar-se que a invocação da Jurisdição


voluntária não corresponde ao exercício do direito de ação; que é
movimentada por meio de procedimento que não chega a se constituir
em processo; que não há partes, mas, interessados; e, que, tampouco, os
pronunciamentos judiciais ficam acobertados pela eficácia da coisa julgada
material.

Pelo prisma dos órgãos que exercem a jurisdição, é


possível distingui-la em especial ou comum, considerando as Justiças
especializadas do Trabalho, Eleitoral e Militar, todas da União,
estabelecidas na Constituição Federal (art. 93, IV, V e VI), e, as Justiças
comuns da União (designada de Justiça Federal, conforme art. 106, da
C.F.) e dos Estados, Distrito Federal e Territórios (art. 93, VII, da C.F.).
5. – A Organização Judiciária Brasileira

A Constituição Federal estabelece, de modo exauriente,


em seu Capítulo III – Do Poder Judiciário, quais são órgãos judiciais
brasileiros. No plano infraconstitucional, qualquer norma que trate de
organização judiciária não pode descurar do modelo estruturado na
Constituição Federal.12

O art. 92 prevê:

“Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I – o Supremo Tribunal Federal;

I- A – o Conselho Nacional de Justiça;

II – o Superior Tribunal de Justiça;

III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V – os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI – os Tribunais e Juízes Militares;

12
Cândido Rangel Dinamarco alude a um numero fechado de órgãos judiciários, Instituições de Direito
Processual Civil, vol. I, p. 366.
VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios.

omissis”
5.1. – O Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do


Poder Judiciário nacional, tendo sede na Capital Federal e competência
para todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da C.F.)

O STF é composto por 11 ministros, nomeados pelo


Presidente da República, dentre cidadãos de idade entre 35 e 65 anos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada (art. 101, da C.F.), após
aprovação pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal (art.
101, p. u., da C.F.)

O Supremo Tribunal Federal é o guardião da


Constituição Federal (art. 102, da C.F.), possuindo competência
jurisdicional divida em três ordens diversas, a saber: competência
originária (art. 102, I, da C.F.); competência recursal ordinária (art. 102, II,
da C.F.); e, competência recursal extraordinária (art. 102, III, da C.F.).13

13
A EC nº 45/04 alterou a competência recursal extraordinária do STF, criando uma nova hipótese de
cabimento do recurso extraordinário, ao acrescentar nova alínea ao inciso III, do art. 102, com a
seguinte redação: “Art. 102 – III – d) julgar válida lei local contestada em face desta Constituição”. Sobre
o tema, ver o nosso, As alterações das hipóteses de cabimento dos Recursos Extraordinário e Especial
promovidas pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, in, Aspectos Polêmicos e
Atuais dos Recursos Cíveis (coord. Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier), São Paulo: RT, 2006,
vol. 10, p. 329-336.
São órgão jurisdicionais fracionários do Supremo
Tribunal Federal: o Plenário, as Turmas (em número de duas), e, a
Presidência, conforme previsão do art. 3º, de seu Regimento Interno. 14
Todos os membros reunidos compõem o Tribunal Pleno ou o Plenário do
STF.

14
Publicado no Diário Oficial da União, de 27.10.1980.
5.2. – O Conselho Nacional de Justiça

Criado pela Emenda Constitucional nº 45, de


08.12.2004, o Conselho Nacional de Justiça tem sede na Capital Federal
(art. 92, § 1º, da C.F.)

O CNJ é composto de 15 membros, com mais de 35


anos e menos de 66 anos, sendo um Ministro do Supremo Tribunal
Federal, outro do Superior Tribunal de Justiça e outro do Tribunal Superior
do Trabalho, cada qual indicado pelo respectivo Tribunal; um juiz estadual
e um desembargador de Tribunal de Justiça, indicados pelo STF; um juiz
federal e um juiz de Tribunal Regional Federal, indicados pelo STJ; um juiz
do trabalho e um juiz do Tribunal Regional do Trabalho, indicados pelo
TST; um membro do Ministério Público da União, indicado pelo
Procurador Geral da República; um membro do Ministério Público
estadual, indicado pelo Procurador Geral da República dentre os nomes
indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual; dois
advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil; dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, um
indicado pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal (art.
103-B, da C.F.). Todos os membros do CNJ são nomeados pelo Presidente
da República, após aprovação pela maioria absolta do Senado Federal (art.
103-B, §2º, da C.F.)
O CNJ é presidido pelo Ministro do STF, que contará
com voto de Minerva para desempate, estando excluído da distribuição de
processos (art. 103-B, §1º, da C.F.)

O CNJ tem competência administrativa e hierárquico-


correicional, cabendo-lhe “o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais
dos juízes” previstas nos incisos I a VII, do §4º, do art. 103-B, da C.F., além
de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura.

Oficiarão perante o CNJ, o Procurador Geral da


República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil (art. 103-B, §6º, da C.F.).

Digna de destaque é a criação de “ouvidorias de justiça”


pela União, inclusive no Distrito Federal e Territórios, para “receber
reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou
órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares”
apresentadas diretamente ao CNJ (art. 103-B, §7º, da C.F.). O preceito
revela a intenção do legislador de aproximar a Justiça dos jurisdicionados,
criando um mecanismo de comunicação direta entre os últimos e o órgão
máximo de controle funcional dos juízes e dos serviços auxiliares da
Justiça.
5.3. – O Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça é o órgão máximo e de


superposição dentro da hierarquia das Justiças comuns da União, Estados,
Distrito Federal e Territórios, tendo sede na Capital Federal e competência
para todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da C.F.)

O STJ é composto por, no mínimo, 33 ministros (o qual


é o número de sua atual composição), nomeados pelo Presidente da
Republica, dentre cidadãos de idade entre 35 e 65 anos, de notável saber
jurídico e reputação ilibada, após aprovação pela maioria absoluta dos
membros do Senado Federal (art. 104, parágrafo único, da C.F.)

Os Ministros do STJ compõe-se de 1/3 de juízes dos


Tribunais Regionais Federais, 1/3 de desembargadores dos Tribunais de
Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal (art.
104, parágrafo único, I, da C.F.), e, 1/3, em partes iguais, dentre
advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito
Federal e Territórios, alternadamente, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes, reduzida à lista tríplice
pelo Tribunal, para escolha e nomeação pelo Presidente da República (art.
104, parágrafo único, II, c.c. art. 94 e parágrafo único, da C.F.)
De modo simétrico ao STF, o Superior Tribunal de
Justiça possui competência jurisdicional divida em três ordens diversas, a
saber: competência originária (art. 105, I, da C.F.); competência recursal
ordinária (art. 105, II, da C.F.); e, competência recursal especial (art. 105,
III, da C.F.).15

São órgão jurisdicionais fracionários do STJ: o Plenário,


a Corte Especial, as Seções Especializadas, e, as Turmas Especializadas (art.
2º, I a III, do Regimento Interno do STJ).16

O Plenário do STJ é composto pela totalidade dos


Ministros e a Corte Especial é composta por 22 Ministros (art. 2º, §§ 1º e
2º, do R.I. STJ).

Há 3 Seções Especializadas, compostas por 2 Turmas


Especializadas, que por sua vez são compostas de 5 Ministros. A 1ª Seção
é integrada pelas 1ª e 2ª Turmas; a 2ª Seção é integrada pelas 3ª e 4ª
Turmas; e a 3ª Seção é integrada pelas 5ª e 6ª Turmas (art. 2º, §§ 3º e 4º,
do R.I. STJ).

15
A EC nº 45/04 alterou a competência recursal especial do STJ, alterando uma das hipóteses de
cabimento do recurso especial, ao dar nova redação à alínea „b‟, do inciso III, do art. 105, que passou a ter
a seguinte redação: “Art. 105 – III – b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei
federal”.
16
Publicado no Diário da Justiça, de 7.07.1989.
A competência das Seções é fixada pela matéria (art.
8º, do R.I. STJ). A 1ª Seção tem competência, primordial, sobre direito
público, discriminada no art. 9º, §1º, do R.I. STJ. A 2ª Seção tem
competência, preferencial, sobre direito privado, discriminada no art. 9º,
§2º, do R.I. STJ. A 3ª Seção tem competência, prioritária, sobre direito
penal, discriminada no art. 9º, §3º, do R.I. STJ.

Prevê-se ainda junto ao STJ, a Escola Nacional de


Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, e o Conselho da Justiça
Federal ao qual compete “exercer, na forma da lei, a supervisão
administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo
graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais, cujas
decisões terão caráter vinculante” (art. 105, parágrafo único, da C.F., com
a redação dada pela E.C. nº 45/04).
5.4. – A Justiça do Trabalho

São órgãos da Justiça do Trabalho: o Tribunal Superior


do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e os juízes do Trabalho
(art. 111, da C.F.).

A representação paritária de classe das categorias


profissionais (trabalhadores) e categorias econômicas (empregadores)
que, desde sua formação, compunham os juízos trabalhistas, deixaram de
existir a partir da vigência da Emenda Constitucional nº 24, de 9.12.1999,
alterando a redação dos arts. 111, 112, 113, 115 e 116, da Constituição
Federal.

A competência da Justiça do Trabalho é baseada no


critério ratione materiae e vem estabelecida no art. 114, da C.F., a qual foi
alargada pela E.C. nº 45/04, que criou onze incisos e deu nova redação aos
§§ 2º e 3º do mencionado dispositivo. É oportuno apontar que somente a
Justiça do Trabalho não tem competência penal.
5.4.1. – O Tribunal Superior do Trabalho

O Tribunal Superior do Trabalho é o órgão máximo e de


superposição da Justiça do Trabalho, tendo sede na Capital Federal e
competência para todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da C.F.).

O TST compõe-se de 27 ministros nomeados pelo


Presidente da Republica, dentre cidadãos de idade entre 35 e 65 anos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada, após aprovação pela maioria
absoluta dos membros do Senado Federal (art. 111-A, da C.F., conforme
redação dada pela E.C. nº 45/04).

Em sua composição, o TST observa a regra do “quinto


constitucional” (art. 94, da C.F.), sendo que 1/5 de seus membros são
escolhidos dentre advogados e membros do Ministério Público do
Trabalho, com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional na
respectiva carreira, alternadamente, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes, reduzida à lista tríplice
pelo Tribunal, para escolha e nomeação pelo Presidente da República (art.
111-A, I, c.c. art. 94 e parágrafo único, da C.F.). Os demais membros do
TST são juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da
magistratura de carreira, indicados pelo próprio TST (art. 111-A, II, da C.F.)
O TST funciona por meio de órgãos jurisdicionais
fracionários, compostos de cinco Turmas, de 5 ministros, cada uma (art.
699, da CLT); duas Seções Especializadas: uma, em dissídios coletivos (art.
2º, da Lei nº 7.701/88); outra, em dissídios individuais (art. 3º, da Lei nº
7.701/88); e, o Tribunal Pleno (art. 4º, da Lei nº 7.701/88).

A competência do TST é estabelecida em lei (art. 111-A,


§1º, da C.F.).

A Lei nº 7.701, de 21.12.88, que, revogando


tacitamente o art. 702, da CLT, passou a disciplinar a matéria, estabelece
que o TST, por seus órgãos fracionários, exercerá competência originária e
recursal.17

A competência do Tribunal Pleno do TST vem


disciplinada no art. 4º, da Lei nº 7.701/88.

À Seção de Dissídios Coletivos ou Seção Normativa


compete processar e julgar, originariamente, as causas previstas no art.
2º, I, da Lei nº 7.701/88, e, os recursos e incidentes processuais
estipulados no inciso II, do referido preceito legal.

17
Cf. Wilson de Souza Campos Batalha, Tratado de Direito Judiciário do Trabalho, V. I, p. 306; Eduardo
Gabriel Saad, CLT Comentada, p. 472.
Por seu turno, compete à Seção de Dissídios Individuais
processar e julgar, originariamente, as causas previstas no art. 3º, I, da Lei
nº 7.701/88, e, os recursos e incidentes processuais estipulados nos
incisos II e III, do referido preceito legal.

Por último, a competência de cada Turma do TST está


elencada no art. 5º, da Lei nº 7.701/88.

Como órgão de cúspide da Justiça do Trabalho, o TST


possui a última palavra sobre o direito infraconstitucional do trabalho.
Entretanto, dentro das hipóteses constitucionais de cabimento e
presentes os demais requisitos de admissibilidade, suas decisões poderão
ser objeto de recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal.

Prevê-se ainda junto ao TST, a Escola Nacional de


Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (art. 111-A,
§2º, I, da C.F.), e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, ao qual
competirá “exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa,
orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro
e segundo graus, como órgão central do sistema cujas decisões terão
efeito vinculante” (art. 111-A, §2º, II, da C.F.).
5.4.2. – Os Tribunais Regionais do Trabalho

Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no


mínimo, 7 juízes, recrutados preferencialmente na respectiva região,
nomeados pelo Presidente da Republica, dentre cidadãos de idade entre
35 e 65 anos (art. 115, da C.F.).

De modo simétrico à composição do TST, terão 1/5 de


seus membros dentre advogados e membros do Ministério Público do
Trabalho, com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional na
respectiva carreira, alternadamente, escolhidos na forma do art. 94, da
C.F., e, os demais membros serão juízes do Trabalho, mediante promoção
por antigüidade e merecimento, alternadamente (art. 115, I e II, da C.F.)

A divisão judiciária do território brasileiro (por se tratar


de uma Justiça da União) para Justiça do Trabalho é feita por regiões,
sendo que em sua redação original, o art. 112, da C.F., previa a instalação
de pelo menos um TRT em cada Estado. Por força de alteração de sua
redação pela E.C. nº 45/04, já não consta mais do referido preceptivo tal
exigência.18 Verifica-se, por exemplo que o TRT da 8ª região abrange os

18
Em virtude da alteração explicitada no texto, tornou-se possível, ao menos em tese, extinguir-se TRT‟s
que, em rigor, dado seu volume processual não justificava sua criação e instalação, conforme preleciona
Manoel Antonio Teixeira Filho, A Justiça do Trabalho e a Emenda Constitucional nº 45/2004, pp. 21/2,
in, Revista LTr, Ano 69, nº 01, jan/2005. Igualmente, Ives Gandra da Silva Martins Filho, A Reforma do
territórios dos estados do Pará e do Amapá, o da 10ª região, o Distrito
Federal e o estado do Tocantins, da 11ª região, os estados do Amazonas e
Roraima, e o da 14ª região, os estados de Rondônia e Acre.

Os TRT’s poderão “funcionar descentralizadamente,


constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do
jurisdicionado à Justiça”, aproximando os Tribunais dos jurisdicionados e
minimizando custos administrativos e operacionais para seus
funcionamentos (art. 115, §2º, da C.F., na redação da E.C. nº 45/04).

O art. 678, da CLT, estabelece que os TRT’s que


estiverem divididos em Turmas, terão como órgãos fracionários o Tribunal
Pleno, com competência originária e recursal, jurisdicional e
administrativa (inciso I), enquanto que às Turmas compete: a) julgar os
recursos ordinários previstos no art. 895, alínea ‘a’; b) julgar os agravos de
petição e de instrumento, estes de decisões denegatórias de recursos de
sua alçada; e, c) impor multas e demais penalidades relativas a atos de sua
competência jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das decisões
das Varas e dos Juízos de Direito que as impuserem (inciso II).

Poder Judiciário e seus Desdobramentos na Justiça do Trabalho, p. 31, in, Revista LTr, Ano 69, nº 01,
jan/2005.
5.4.3. – Os Juízes do Trabalho

Os juízos de 1º grau de jurisdição, na Justiça do


Trabalho, compõem-se de órgãos monocráticos, desde a extinção da
representação classista e, via de conseqüência, da supressão dos juízos
colegiados das Juntas de Conciliação e Julgamento, promovida pela E.C. nº
24/99, como vimos acima.

Deste modo, as Varas do Trabalho exercem sua


competência por intermédio de um juiz do Trabalho (art. 116, da C.F.).

A competência territorial das Varas do Trabalho segue a


competência territorial estabelecida para as Justiças estaduais, que
dividem os territórios dos Estados em unidades básicas denominadas
comarcas (art. 96, da Lei complementar federal nº 35, de 14.03.79 – “Lei
Orgânica da Magistratura Nacional”).

Assim, o art. 650, da CLT, dispõe que: “A jurisdição de


cada Vara do Trabalho abrange o território da Comarca em que tem sede,
só podendo se estendida ou restringida por lei federal”.
E o principal elemento de determinação do órgão
territorialmente competente é “a localidade onde o empregado,
reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que
tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”, como dispõe o art.
651, da CLT, ressalvada a hipótese do seu §3º, que admite foros correntes
entre o do local da celebração do contrato de trabalho e o do local da
prestação dos serviços, em favor do empregado.

Entretanto, é comum encontrar diversas Varas do


Trabalho reunidas dentro de uma mesma base territorial, assim como, é
possível que uma Vara do Trabalho abranja extensão territorial de mais de
uma comarca, como prevê o art. 650. Em comarcas não abrangidas por
Vara do Trabalho, os juízes de direito exercerão a competência trabalhista,
cabendo de suas decisões recursos para o TRT’s das respectivas regiões
(art. 112, da C.F. – a redação que lhe foi atribuída pela E.C. nº 45/04
explicitou a competência recursal dos TRT’s, que, apesar da inexistência
de regra explícita, sempre foi inferida pacificamente pela doutrina e
jurisprudência especializadas).
5.5. A Justiça Eleitoral

São órgãos da Justiça Eleitoral: o Tribunal Superior


Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais, os juízes Eleitorais e as Juntas
Eleitorais (art. 118, da C.F.).

O art. 121, da C.F. dispõe que lei complementar


disciplinará a organização e a competência dos Tribunais, dos juízes de
Direito e das Juntas Eleitorais.

A principal fonte normativa infraconstitucional do


direito eleitoral é o Código Eleitoral (Lei nº 4.737, 15.07.1965) e suas
modificações posteriores, seguindo um critério ratione materiae para
determinação de competência da Justiça Eleitoral.

Cabe destacar que os juízes da Justiça Eleitoral, salvo


motivo justificado, servirão obrigatoriamente por dois anos, e nunca por
mais de dois biênios consecutivos (art. 121, da C.F., e, art. 14, do Código
Eleitoral).
5.5.1. O Tribunal Superior Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão máximo e de


superposição da Justiça Eleitoral, tendo sede na Capital Federal e
competência para todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da C.F.).

O TSE compõe-se de, no mínimo, 7 ministros, sendo 5


escolhidos, mediante eleição, por voto secreto: 3 dentre Ministros do
Supremo Tribunal Federal e 2 dentre Ministros do Superior Tribunal de
Justiça; e, os outros 2 são nomeados pelo Presidente da República,
escolhidos dentre 6 advogados, de notável saber jurídico e idoneidade
moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal (art. 119, da C.F.).

O TSE possui competência originária e recursal


(notadamente contra decisões dos TRE’s) estabelecidas, respectivamente,
nos incisos I e II, do art. 22, do Código Eleitoral.

As deliberações do TSE são decididas, ao menos por


maioria absoluta, em sessões públicas, presente, ao menos, a maioria de
seus membros (art. 19, do Código Eleitoral).
As decisões do TSE são irrecorríveis, salvo as que
contrariarem a Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus
ou mandado de segurança (art. 121, §3º, da C.F.)

O TSE é a última instância judiciária sobre matéria


eleitoral infraconstitucional, razão pela qual incabível recurso especial
para o Superior Tribunal de Justiça. Contudo, presentes os requisitos
constitucionais e legais de admissibilidade, das suas decisões será cabível
recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.

O Procurador Geral da República exerce a função de


Procurador Geral da Justiça Eleitoral perante o TSE (art. 18, do Código
Eleitoral).

5.5.2. Os Tribunais Regionais Eleitorais

A Constituição Federal, em seu art. 120, determina a


instalação e funcionamento de um Tribunal Regional Eleitoral na Capital
de cada Estado e um no Distrito Federal.

Os TRE’s são compostos de 7 juízes, sendo 4 escolhidos,


mediante eleição, por voto secreto: 2 dentre desembargadores do
Tribunal de Justiça e 2 dentre juízes de Direito, escolhidos pelo Tribunal de
Justiça; 1 dentre juízes do Tribunal Regional Federal com sede na Capital
do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, um juiz federal, em
qualquer caso, escolhido pelo TRF respectivo; e, outros 2 são nomeados
pelo Presidente da República, escolhidos dentre 6 advogados, de notável
saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça (art.
120, da C.F.).

Os TRE’s possuem competência originária e recursal


(notadamente contra as decisões proferidas pelos juizes e juntas
eleitorais) estabelecidas, respectivamente, nos incisos I e II, do art. 29, do
Código Eleitoral.

As decisões dos TRE’s são irrecorríveis (art. 121, §4º, da


C.F.), salvo quando:

I – forem proferidas contra disposição expressa da Constituição ou de lei;

II – ocorrer divergência de interpretação de lei entre dois ou mais


tribunais eleitorais;

III – versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições


federais ou estaduais;

IV – anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos


federais ou estaduais;
V – denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou
mandado de injunção.

5.5.3. Os Juízes e as Juntas Eleitorais

Constituem-se de órgãos jurisdicionais de 1º grau de


jurisdição na Justiça Eleitoral, os juízes de Direito exercentes da função de
juízes eleitorais e as juntas eleitorais (art. 121, §1º, da C.F.; art. 32, do
Código Eleitoral).

Para a administração da Justiça Eleitoral, o território do


Estado é divido em unidades básicas denominadas zonas eleitorais (art.
32, do Código Eleitoral).

Os juízes eleitorais têm competência penal e civil e


sobre matéria administrativa (art. 35, do Código Eleitoral).

As juntas eleitorais são compostas de um juiz de direito,


que é seu presidente, e de 2 a 4 quatro cidadãos de notória idoneidade
(art. 36, do Código Eleitoral). A composição das juntas eleitorais revela
dois aspectos incomuns nas demais Justiças e seus órgãos: trata-se de um
colegiado em 1º grau de jurisdição, formando por juízes de direito e juízes
leigos.

As juntas eleitorais têm duração episódica e


temporária, sendo que seus membros são nomeados 60 dias antes da
eleição, depois de aprovação pelo presidente do Tribunal Regional
Eleitoral (art. 36, §1º).

A competência das juntas eleitorais é voltada a temas


administrativos das eleições, sendo-lhes vedada competência penal (art.
40, do Código Eleitoral).
5.6. A Justiça Militar

São órgãos da Justiça Militar: o Superior Tribunal


Militar, os Tribunais e juízes Militares instituídos por lei (art. 122, da C.F.).

A Lei de Organização Judiciária Militar da União (Lei nº


8.457, de 04.9.1992), estabelece como órgãos da Justiça Militar, a par do
STM, as Auditorias de Correição, os Conselhos de Justiça, os Juízes-
Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos (art. 1º).

Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes


militares definidos em lei (art. 124, da C.F.), o que revela um critério
ratione materiae para determinação de sua competência. A competência
da Justiça Militar é exclusivamente penal.

Os crimes militares estão definidos no Código Penal


Militar (Decreto-Lei nº 1001, de 21.10.1969), distinguindo os quais são
passíveis de serem cometidos em tempo de paz (art. 9º), daqueles que são
cometidos em tempo de guerra (art. 10).

Na vigência do estado de guerra, o 2º grau de jurisdição


da Justiça Militar é exercido pelos Conselhos Superiores da Justiça Militar,
os quais são formados por dois oficiais-generais e um juiz-auditor, todos
nomeados pelo Presidente da República (arts. 89 e 91, da LOJM).

5.6.1. O Superior Tribunal Militar

O Superior Tribunal Militar é o órgão de cúpula da


Justiça Militar, tendo sede na Capital Federal e competência para todo o
território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, da C.F.).

O STM compõe-se de 15 ministros vitalícios, nomeados


pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado
Federal, sendo 3 oficiais-generais da Marinha, 3 oficiais-generais da
Aeronáutica, 4 oficiais-generais do Exército, e 5 cinco civis (art. 123, da
C.F.). Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República,
dentre brasileiros (natos ou naturalizados, conforme art. 12, §§ 2º e 3º, da
C.F.), maiores de 35 anos, sendo 3 advogados, de notável saber jurídico e
conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, e,
2, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério
Público da Justiça Militar (art. 123, parágrafo único, da C.F.).

O STM possui competência originária e recursal


(notadamente contra decisões dos juízos de 1º grau) estabelecidas,
respectivamente, nos incisos I e II, do art. 6º, da LOJM.
5.6.2. Os Juízos Militares de 1º grau de jurisdição

Para efeito de administração da Justiça Militar em


tempo de paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições
Judiciárias Militares (art. 2º, da LOJM).

Em regra, a cada Circunscrição Judiciária Militar


corresponde uma Auditoria, possuindo competência para conhecer dos
feitos relativos à Marinha, Exército e Aeronáutica (art. 11, da LOJM).

Por sua vez, em cada Auditoria há um juiz-auditor (art.


15, da LOJM). O juiz-auditor e quatro juizes militares formam os Conselhos
de Justiça (art. 16, da LOJM).

Os Conselhos de Justiça são de duas espécies: a)


Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e quatro Juízes
militares, sob a presidência, dentre estes, de um oficial-general ou oficial
superior, de posto mais elevado que o dos demais juízes, ou de maior
antigüidade, no caso de igualdade; b) Conselho Permanente de Justiça,
constituído pelo Juiz-Auditor, por um oficial superior, que será o
presidente, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão (art. 16,
da LOJM).
Os Conselhos de Justiça funcionam na sede das
Auditorias, salvo casos especiais por motivo relevante de ordem pública
ou de interesse da Justiça e pelo tempo indispensável, mediante
deliberação do Superior Tribunal Militar (art. 17, da LOJM).

A competência do juiz-auditor está disciplinada no art.


30, da LOJM, sendo que a função dos juízes militares nos Conselhos de
Justiça é efêmera, cuja escolha é feita por sorteio (arts. 23, §1º, e 24, da
LOJM). A norma legal deve obedecer a nova regra constitucional sobre a
competência da justiça militar

O ingresso na carreira da Magistratura da Justiça Militar


dar-se-á no cargo de Juiz-Auditor Substituto, mediante concurso público
de provas e títulos organizado e realizado pelo Superior Tribunal Militar,
com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil, em todas as suas
fases (art. 33, da LOJM). Os juízes-auditores adquirem vitaliciedade após
dois anos de exercício (art. 48, da LOJM; art. 22, II, ‘b’, da LOMAN).

A Auditoria de Correição é “órgão de fiscalização e


orientação judiciário-administrativa”, portanto, sem função jurisdicional,
exercida pelo juiz-auditor corregedor, com competência sobre todo
território nacional (arts. 12 a 14, LOJM).
5.7. A Justiça Federal (justiça comum da União)

São órgãos da Justiça Federal: os Tribunais Regionais


Federais e os juízes federais (art. 106, da C.F.).

O uso da expressão Justiça Federal, o qual é empregado


pelo próprio legislador constituinte, não é muito exato, pois, são
organizadas e mantidas pela União, outras três Justiças: do Trabalho,
Eleitoral, e Militar.

Considerando que as demais Justiças da União são


especializadas, em virtude da matéria (ou seja, a relação de direito
material controvertida) sobre a qual exercem sua competência, a
denominada Justiça Federal é tratada como a justiça comum da União.

Durante o Governo provisório, logo após a Proclamação


da República em 1890, por força do Decreto 848, de 11 de outubro de
1890, a Justiça Federal foi organizada.

A Constituição Republicana de 1891 previa a criação da


Justiça Federal, ao dispor em seu art. 55:
“Art. 55. O poder judiciário da União terá por órgãos um Supremo
Tribunal Federal com sede na Capital da República e tantos juízes e
tribunais federais distribuídos pelo país, quantos o Congresso criar”.19

A Justiça Federal de primeiro grau foi extinta através do


golpe de estado liderado por Getúlio Vargas e a Carta outorgada em 1937.

A competência dos órgãos da Justiça Federal, em 1º e


2º graus está disciplinada na própria Constituição Federal (arts. 108 e
109).

5.7.1. Os Tribunais Regionais Federais

Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no


mínimo, 7 juízes, recrutados preferencialmente na respectiva região,
nomeados pelo Presidente da Republica, dentre cidadãos de idade entre
35 e 65 anos, sendo que um 1/5 de seus membros são escolhidos dentre
advogados e membros do Ministério Público Federal, com mais de 10 anos
de efetiva atividade profissional na respectiva carreira, alternadamente,
escolhidos na forma do art. 94, da C.F., e, os demais membros serão juízes

19
Cf. Herculano de Freitas, Direito Constitucional, p. 399; Pontes de Miranda, Comentários à
Constituição de 1967, Tomo IV, p. 200.
federais, com mais de 5 anos de exercício, mediante promoção por
antigüidade e merecimento, alternadamente (art. 107, I e II, da C.F.)

A divisão judiciária do território brasileiro (por se tratar


de uma Justiça da União) para Justiça Federal é feita por regiões, sendo
fixadas por lei sua sede e competência (art. 107, §1º, da C.F.).

Por força do art. 27, §6º, do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias, foram criados cinco TRF’s, cujas sedes e
competências territoriais foram fixadas pela Resolução nº 01, de
06.10.1988, do extinto Tribunal Federal de Recursos, a saber:

(i) TRF da 1ª região, com sede em Brasília e competência sobre o Distrito


Federal e os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão,
Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins;

(ii) TRF da 2ª região, com sede no Rio de Janeiro e competência sobre os


Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;

(iii) TRF da 3ª região, com sede em São Paulo e competência sobre os


Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul;

(iv) TRF da 4ª região, com sede em Porto Alegre e competência sobre os


Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina; e,

(v) TRF da 5ª região, com sede em Recife e competência sobre os Estados


de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) possui
42 (quarenta e dois) desembargadoras e desembargadores.

O TRF’s “instalarão a justiça itinerante, com realização


de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites
territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos
e comunitários” (art. 107, §2º, da C.F., na redação da E.C. nº 45/04).

Os TRF’s poderão “funcionar descentralizadamente,


constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do
jurisdicionado à Justiça”, aproximando os Tribunais dos jurisdicionados e
minimizando custos administrativos e operacionais para seus
funcionamentos (art. 107, §3º, da C.F., na redação da E.C. nº 45/04).

Os TRF’s têm competência originária e recursal


(especialmente, para julgar os recursos interpostos contra as decisões dos
juízes federais e juízes estaduais no exercício da competência da Justiça
Federal), respectivamente, conforme os incisos I e II, do art. 108, da C.F.
5.7.2. Os Juízes Federais

Em 1º grau de jurisdição, a competência territorial dos


órgãos jurisdicionais federais é constituída por seções judiciárias, uma no
Distrito Federal e uma em cada Estado federado, sendo sua sede a
respectiva capital (art. 110, da C.F.; art. 5º, §1º, da LOMAN).

Cada seção judiciária é composta por diversas varas


federais, estando cada TRF, no âmbito de sua região e por ato próprio,
autorizado a estabelecer a competência das Varas a serem criadas, bem
como transferir-lhes a sede de um Município a outro, de acordo com a
conveniência do Tribunal e a necessidade de agilização da prestação
jurisdicional (art. 3º, da Lei nº 9.788, de 19.02.1999).20

É possível, portanto, dentro de uma seção judiciária,


localizarem-se reunidas Varas Federais, especializadas ou não, em uma
subseção judiciária, com sede e competência territorial determinada por
ato do respectivo TRF.

20
A norma tem origem remota na Lei Orgânica da Justiça Federal – LOJF (Lei nº 5.010, de 30.05.1966),
art. 12, que estipula: “Art. 12. Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma Vara, poderá o
Conselho da Justiça Federal fixar-lhes sede em cidade diversa da Capital, especializar Varas e atribuir
competência por natureza de feitos a determinados juízes”.
No âmbito do TRF da 3ª Região, o seu Conselho da
Justiça Federal, por meio do Provimento nº 90, de 18.03.1994, dividiu a
seção judiciária de São Paulo, inicialmente, em 12 subseções judiciárias.21

Atualmente, existem 44ª Subseções Judiciárias dentro


do território do estado de São Paulo.

De acordo com informação colhida no site do TRF da 3ª


Região, “a Justiça Federal de Primeira Instância - Seção Judiciária do
Estado de São Paulo foi instalada em 4 de maio de 1967, inicialmente com
sete Varas Federais”.

A subseção Judiciária de São Paulo engloba os


territórios dos municípios de São Paulo, Franco da Rocha, Francisco
Morato, Caieiras, Taboão da Serra, Embu-Guaçu, São Lourenço da Serra e
Juquitiba. Ela é composta de 26 Varas Cíveis, 14 Varas do Juizado Especial,
10 Varas Criminais, 13 Varas de Execução Fiscal, e, 10 Varas
Previdenciárias.

21
DJU de 25/03/94, p. 12.136, Caderno 1, Parte 1.
A competência dos juízes federais encontra-se em onze
incisos, no art. 109, da C.F. O principal critério de sua estipulação é ratione
personae, tendo em vista a participação na causa da União, entidade
autárquica ou empresa pública federal, como se verifica do teor do inciso
I, do art. 109:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa


pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou opoentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho”.

É importante destacar, ainda, como órgãos da Justiça


Federal de 1º grau, os juizados especiais que “são considerados órgãos da
Justiça Ordinária, com competência para conciliação, processo,
julgamento e execução, nas causas de sua competência” (art. 98, §1º, da
C.F.; c.c. art. 1º, da Lei nº 9.099, de 26.09.1995, c.c., art. 1º, da Lei nº
10.259/01). Pelo critério valor, as causas deverão ser de até 60 salários-
mínimos (art. 3º, da Lei nº 10.259/01).
5.8. As Justiças comuns dos Estados, Distrito Federal e Territórios

São órgãos das Justiças comuns Estaduais, os Tribunais


de Justiça e os juízes de direito (art. 92, VII, da C.F.).

Os Tribunais de Alçada, nos Estados onde estes existiam


(no Estado de São Paulo havia 3 Tribunais de Alçada: 2 civis e um criminal),
foram extintos por força do art. 4º, da E.C. nº 45/04.

Considerando que a Justiça Federal é, primacialmente,


voltada a processar e julgar causas de interesse da União, ela guarda uma
relação de especialidade com as Justiças estaduais.

É valido afirmar-se que a competência da Justiça


estadual é efetivamente residual dentro da organização judiciária
brasileira, tanto ao se considerar a competência das Justiças
especializadas, quanto a da Justiça comum da União.
5.8.1. Os Tribunais de Justiça

Os Tribunais de Justiça têm sede na Capital do Estado e


competência dentro dos limites territoriais do respectivo Estado (art. 16,
da LOMAN). O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios tem
sede na Capital Federal e competência fixada em lei (art. 19, da LOMAN).

Os TJ’s são compostos de juízes de direito da carreira da


Magistratura estadual, promovidos, alternadamente, por antigüidade e
merecimento (art. 93, III, da C.F.; art. 87, da LOMAN), observada a regra
do “quinto constitucional”, pela qual 1/5 de seus membros são escolhidos
dentre advogados e membros do Ministério Público, com mais de 10 anos
de efetiva atividade profissional na respectiva carreira, alternadamente,
indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas
classes, reduzida à lista tríplice pelo Tribunal, para escolha e nomeação
pelo Governador do Estado (art. 94 e parágrafo único, da C.F.).

Os TJ’s possuem competência originária definida pela


Constituição estadual (art. 125, §1º, 1ª parte, da C.F.) e recursal sobre as
decisões proferidas pelos juízos de 1º grau.

A Constituição do Estado de São Paulo estabelece em


seu art. 74, a competência originária do Tribunal de Justiça.
São órgãos fracionários dos Tribunais de Justiça, o
Tribunal Pleno, as câmaras, que reunidas formam um grupo de câmaras,
que por sua vez, podem ser reunidas em Seções Especializadas. É
facultada a criação de um órgão especial, nos Tribunais com mais de 25
membros, o qual será formado com um mínimo de 11 e máximo 25
membros, para o exercício de atribuições administrativas e jurisdicionais
delegadas do tribunal pleno, sendo metade das vagas por antigüidade e
metade por eleição do tribunal pleno (art. 93, XI, da C.F., na redação da
E.C. nº 45/04).

No TJ de São Paulo, cada três câmaras formam um


grupo de câmaras (art. 8º, da Lei complementar estadual nº 225, de
13.11.1979); reunidas por critério de competência material, em três
Seções Especializadas: 1ª Seção de Direito Privado; 2ª Seção de Direito
Público, e, 3ª Seção de Direito Criminal (art. 9º, da Lei comp. est. nº
225/79).

5.8.2. Os Juízes de Direito

Para fins da administração da Justiça os territórios dos


Estados são divididos em unidades judiciárias básicas designadas de
comarcas. A comarca pode ser dividida em distritos, ou somar-se a uma
ou mais, formando a circunscrição (art. 96, da LOMAN).

O Código Judiciário do Estado de São Paulo estipula que


a comarca compreenderá um ou mais municípios formando área contígua
e denominação da respectiva sede (art. 9º, do Decreto-lei complementar
nº 03, de 27.08.1979).

A circunscrição judiciária é constituída de comarcas


contíguas da mesma região, uma das quais é sua sede, cuja finalidade é a
administração das designações dos juízes substitutos, não possuindo
qualquer relevância para fins de competência territorial (arts. 8º e 20, do
Dec.-lei comp. nº 03/79).

O distrito é a menor unidade judiciária e terá


denominação e limites correspondentes aos da divisão administrativa (art.
10, do Dec.-lei comp. nº 03/79).

A criação, extinção e classificação das comarcas é feita


segundo critérios que consideram a extensão territorial, o número de
habitantes, o número de eleitores, a receita tributária e, o movimento
forense (art. 97, da LOMAN).
Seguindo os critérios estipulados na LOMAN, o Código
Judiciário de São Paulo (CJESP – Decreto-lei Complementar nº 03, de
27.08.1969), classificava as comarcas do estado por entrâncias. Existiam
quatro entrâncias, em grau crescente: 1ª, 2ª, 3ª, e, especial
correspondente à comarca da Capital (art. 11 c.c. art. 13, do CJESP).

A Lei Complementar Estadual nº 980, de 21.12.2005,


veio alterar a classificação das comarcas do estado, que passaram a ser de
três entrâncias: inicial, intermediária e final (art. 1º, da LC nº 980/05).

À essa época haviam, no estado de São Paulo, 27


comarcas de entrância final, incluindo a da Capital, 68 comarcas de
entrância intermediária, e 253 comarcas de entrância inicial. Nestes
números já estão computados os foros distritais.

É importante destacar que a classificação das comarcas


em entrâncias não implica em qualquer relação hierárquica entre elas.

Uma comarca pode conter apenas um único órgão


jurisdicional (um juízo) o qual exercerá competência cumulativa, ou seja,
concernente a toda a competência da Justiça comum estadual, podendo
incluir ainda, a eleitoral, se dentro de zona eleitoral; a trabalhista, nas
hipóteses autorizadas pelo art. 112, da C.F.; e, a federal comum, como
determinado pela norma do art. 109, §3º e do art. 15, I, da Lei nº 5.010, de
30.05.1966 – “Lei Orgânica da Justiça Federal – LOJF”.

Entretanto, é mais comum que exista mais de um juízo


dentro de cada comarca, de modo que haja uma distribuição entre eles
das demandas.

Amiúde, essa repartição dos litígios é realmente


realizada por leis de organização judiciária, mediante a especialização das
competências dos juízos e delimitação geográfica para seu exercício (por
exemplo: varas cíveis e varas criminais, e, juízos centrais ou juízos
regionais, dentro de uma mesma comarca).

A E.C. nº 45/04 deu nova redação ao art. 126, da C.F.,


dispondo que os Tribunais de Justiça proporão a criação de varas
especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias
derivadas de conflitos fundiários.

5.8.2.1. Os Juizados Especiais

Nas Justiças dos Estados e, sob criação da União no


Distrito Federal, são órgãos de 1º grau, os juizados especiais “providos por
juízes togados, ou togados e leigos, competentes, para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e
infrações penais de menor potencial ofensivo” (art. 98, I, da C.F.; art. 1º,
da Lei nº 9.099, de 26.09.1995).

Os juizados especiais têm natureza jurídica híbrida,


posto que se constituem de órgãos especiais do Poder Judiciário, e ao
mesmo tempo, de procedimento especial sumaríssimo.22

Dentro da competência legiferante concorrente da


União, Estados e Distrito Federal, encontra-se a de legislar sobre criação,
funcionamento e processo do juizado de pequenas causas (art. 24, X, da
C.F.). Conforme os §§ 1º e 3º, do art. 24, da C.F., no exercício da
competência concorrente, a União disporá sobre normas gerais, enquanto
que Estados e Distrito Federal sobre normas especiais.

São princípios fundamentais dos processos perante os


juizados especiais: a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a
economia processual, a celeridade, e a busca da transação (art. 2º, Lei nº
9.099/95), admitindo-se ademais, o julgamento por equidade (art. 6º, Lei
nº 9.099/95).

22
Cf. Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 1.519.
Inicialmente, somente poderia ser autor perante os
juizados especiais, pessoa natural, estando dispensada de advogado, em
1º grau, nas causas de até 20 salários-mínimos (arts. 8º, §1º e 9º, da Lei nº
9.099/95). Atualmente, o rol de legitimados ativos foi alargado, passando
a: pessoas físicas; pessoas enquadradas como microempreendedores
individuais, microempresas e empresas de pequeno porte na forma;
pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, e, as sociedades de crédito ao microempreendedor.
Igualmente, na Justiça Federal admite-se como autor: pessoas físicas,
micro-empresários e empresas de pequeno porte (art. 6º, I, da Lei nº
10.259/01). Esta regra do Juizado Especial Federal foi implantada nos
Juizados Estaduais, por força do art. 74, da Lei Complementar nº 123, de
14.12.2006 (Estatudo da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte).

Os recursos são interpostos sempre por intermédio de


advogado para uma Turma Recursal composta de 3 juízes de 1º grau de
jurisdição (art. 41, §§1º e 2º, da Lei nº 9.099/95).

A Lei nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009, dispõe


sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública, compondo o
microssistema dos juizados especiais, ao lado dos estaduais e federais.
Segundo o art. 2º é de sua competência “processar, conciliar e julgar
causas cíveis de interesse dos Estados, Distrito Federal, dos Territórios e
Municípios”, incluídos no rol de legitimados passivos, as autarquias, as
fundações e as empresas publicas a eles vinculados (art. 5º, II).
5.8.3. A Justiça Militar dos Estados

A Constituição Federal ao estabelecer que os Estados


organizarão sua Justiça, observados os princípios que nela se estabelecem,
autoriza a criação por meio de lei estadual, proposta pelo Tribunal de
Justiça, da Justiça Militar estadual (art. 125, caput e §3º, da C.F.).

Em 1º grau de jurisdição, a Justiça Militar é constituída


por juízes de direito e por Conselhos de Justiça e, em 2º grau, pelo próprio
Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal de Justiça Militar, autorizada sua
criação quando o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes (art.
125, §3º, C.F.).

A Constituição do Estado de São Paulo prevê entre os


demais órgãos do Poder Judiciário, o Tribunal de Justiça Militar e as
Auditorias Militares (art. 54, II e VI).

O TJM com sede na capital do Estado e competência


sobre todo o território estadual, compõe-se de 7 juízes, divididos em 2
câmaras, sendo quatro juízes militares, nomeados dentre coronéis da
ativa, da Polícia Militar do Estado, e três juízes civis, sendo dois
promovidos dentre os juízes auditores, e o terceiro nomeado na forma do
Quinto Constitucional, alternadamente, dentre representantes do
Ministério Público Estadual e dos Advogados, de notório saber jurídico e
reputação ilibada, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes (art. 80, da C.E.S.P e art. 2º do
Regimento Interno do TJM).

Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os


militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do
júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças (art. 125, §4º, da C.F., na redação de E.C. nº 45/2004).

Compete aos juízes de direito do juízo militar processar


e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais
crimes militares (art. 125, §5º, da C.F., na redação de E.C. nº 45/04). Por
princípio de hermenêutica, este parágrafo 5º é pertinente apenas à Justiça
Militar dos Estados não se aplicando à Justiça Militar da União, cuja
competência do juiz-auditor e do Conselho de Justiça está prevista na
LOJM.

Verifica-se que a competência material da Justiça


Militar dos Estados é a mesma da Justiça Militar da União, todavia, ela é
acrescida de outro critério para sua fixação, a condição das pessoas em
litígio, uma vez que os militares dos Estados são os membros da Policias
Militar e do Corpo de Bombeiros Militar (art. 42, da C.F.).

A magistratura da Justiça Militar estadual é organizada


em carreira, sendo que o ingresso do magistrado civil far-se-á no cargo de
juiz auditor substituto (a E.C. nº 45/04 utiliza da locução ‘juiz de direito do
juízo militar’), mediante concurso público de provas e de títulos, na forma
e nas condições estabelecidas em lei, no Regimento Interno e no
respectivo Regulamento (art. 178, do R.I.TJM).
5.8.4. A Justiça de Paz

Ainda não se tem notícia de instalação em qualquer das


unidades federadas, mas o art. 98, II, da C.F., prevê a “justiça de paz,
remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e
secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da
lei, celebrar casamentos, verificar de ofício ou em face de impugnação
apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições
conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na
legislação”.

Os juízes de paz exercerão a função de juízes de


casamento, não possuindo jurisdição, de sorte que, quaisquer litígios
concernentes aos processos de habilitação de casamentos deverão ser
remetidos à Justiça comum.
6. Competência

6.1. Conceito

A jurisdição é una e abstrata, consistindo em uma das


funções do Estado e que deriva de sua própria soberania. Por isso o art. 16
estabelece que o exercício da jurisdição no território nacional é feito pelos
juízes e os tribunais (órgãos jurisdicionais) brasileiros.

O volume de demandas e a extensão territorial do país


exigem uma estruturação hierarquizada dos diversos órgãos judiciais, para
que se possa prestar adequadamente o serviço jurisdicional.

Se é correto que todo órgão jurisdicional exerce a única

e mesma jurisdição, a medida em que cada um a exerce é diferente. Por


isso, Liebman afirmou que a competência é a “medida da jurisdição”
(misura della giurisdizione).23

23
Cf. Manuale di Diritto Processuale Civile, I, p. 107.
As causas a que a cada órgão ou grupo de órgãos
judiciais toca conhecer e julgar consiste em sua competência.

É nesse sentido que o art. 42, do CPC, preceitua que as


causas cíveis serão processadas e julgadas pelos órgãos jurisdicionais, nos
limites de sua competência.

Competência é, portanto, a extensão da atividade de


um dado órgão jurisdicional, estabelecida pela Lei.

Arruda Alvim define competência como “a atribuição a


um dado órgão do Poder Judiciário daquilo que lhe está afeto, em
decorrência de sua atividade jurisdicional específica, dentro do Poder
Judiciário, normalmente excluída a legitimidade, simultânea de qualquer
outro órgão do mesmo poder (ou, a fortiori, de outro poder)”.24

Analisamos no capítulo anterior a organização judiciária


brasileira, cabendo agora estudar quais os critérios determinativos de
competência e as operações lógicas para a distribuição das ações entre os
órgãos judiciais.

24
Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 262.
6.2. Critérios para determinação da competência

Um dos sistemas de determinação de competência


considerado de maior aceitação é o atribuído à Adolf Wach25, difundido
por Giuseppe Chiovenda26, contando com grande adesão no Brasil, tanto
entre autores consagrados, quanto entre os mais recentes.27

O clássico sistema da tríplice divisão estabelece três


critérios para determinação da competência:

(i) objetivo – pelo qual a competência é distribuída a diversos


órgãos judiciais tendo em vista a natureza da causa, o seu valor e
a condição das pessoas em litígio, ou seja, deriva de elementos
da demanda;

(ii) territorial – consistente de diversos elementos que atribuem


competência a um juízo ou grupo de juízos dentro de um certo
território (relações das partes, do objeto litigioso ou de certos

25
Cf. James Goldschmidt, Derecho procesal civil, p. 163; Adolf Schönke, Derecho procesal civil, p. 132.
26
Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, pp. 213/6.
27
Cf. Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 1º v., p. 201; Arruda Alvim,
Manual de direito processual civil, vol. 1, p. 262; Nelson e Rosa Nery, Código de Processo Civil
Comentado, p. 471; Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, v. 1, p. 152; Luiz
Fux, Curso de Direito Processual Civil; 85/99.
fatos com o território), considerando-se que, de ordinário, os
atos processuais são realizados na sede do juízo (art. 217, do
CPC), e cumpridos em atenção as ordens judiciais, dentro ou fora
dos limites territoriais em que o juízo exerce sua competência,
neste caso, por meio de ordem ou requisição de carta (arts. 42 e
236, do CPC); e,

(iii) funcional – “pelo qual se separam as atribuições dos diversos


juízes num mesmo processo”28, vale dizer, ele se caracteriza
pelas exigências especiais das funções a serem exercida pelos
juízes.

O sistema de Wach remonta à tríplice divisão dos


praxistas: em razão da matéria (ratione materiae), em razão das pessoas
(ratione personae), e, em razão do lugar (ratione loci).29

Uma das mais contundentes críticas ao sistema da


tríplice divisão da competência foi lançada por Carnelutti que asseverou
que os critérios material e territorial estão reunidos dentro de um mesmo
gênero, isolado do critério funcional.

28
Cf. Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 1º v., p. 202/4. Esta é a lição
da doutrina alemã, v. por todos, Jauernig, Direito processual civil, p. 79.
29
Idem, p. 201.
No Brasil, José Frederico Marques adotou o critério
proposto por Carnelutti, pelo qual “a verdadeira diferença entre as formas
de competência descansa na distribuição de trabalho do poder
jurisdicional, segundo a função desenvolvida e segundo a matéria sobre a
qual a função deve atuar”.30

Nessa linha, Carnelutti distinguia uma competência


exterior, responsável por cuidar da divisão de atribuições jurisdicionais
entre diversos órgãos, e uma competência interior, concernente a
atribuições dentro de um órgão, relacionada com “problemas de
substituição ou distribuição dos serviços entre os elementos e pessoas que
o integram”.31

Ademais, dentro de sua complexidade, a teoria de


Carnelutti adotava um sentido vertical da competência, considerando os
diversos graus de jurisdição e diferentes órgãos neles existentes,
designando essa competência hierárquica (funcional) e, uma perspectiva
horizontal, apontando a possibilidade da existência de diversos órgãos de
mesmo grau e mesma espécie, devendo distingui-los “precisamente en

30
Instituições de Direito Processual Civil, vol. I, p. 328.
31
Cf. Frederico Marques, ob. cit., p. 330.
razon del territorio, en el sentido de que a cada uno se le asigna uma
porción territorial dentro de la que se halla su sede”, revelando uma
competência territorial.32

Criticam a tríplice divisão, Cintra-Dinamarco-Grinover,


afirmando que tal doutrina mistura critérios de determinação de
competência com os próprios problemas a serem solucionados (v.g.,
território), além de tratar-se de um modelo criado para estruturas
judiciárias diferentes da brasileira.33

Em verdade, são os elementos da demanda (partes,


pedido e causa de pedir), muitas vezes utilizados de modo combinado,
que propiciam a criação dos critérios determinativos da competência. Os

32
Cf. Instituciones del nuevo proceso civil italiano, pp. 130 e 138. O esquema de distribuição de
Carnelutti foi caracterizado como “de extrema complexidade e utilidade prática muito discutível”, por
Cândido Rangel Dinamarco (Instituições..., v. 1, p. 415), que, todavia, utiliza-se de vários de seus
elementos em sua bem elaborada doutrina.
33
Teoria geral do processo, pp. 235/6. Dinamarco acentua que os arts. 54 e 63, do CPC [artigos citados
do CPC/73], reúnem valor e território, sendo esse um dos problemas a ser solucionado pelos critérios de
determinação da competência; aponta que o art. 62, do CPC, reúne matéria e hierarquia, sendo que a 1ª é
usada inclusive para determinar a competência hierárquica; alerta para o fato de que o sistema legal
brasileiro não explicita a necessidade de conjugação de fatores para solução dos problemas
(Instituições..., v. 1, pp. 439/441).
referidos autores estabelecem quais os dados que podem ser obtidos de
cada elemento da ação para determinação de um critério de competência:

(i) partes: a sua qualidade ou a sua sede;

(ii) pedido: a natureza do bem, o seu valor, e a sua situação;

(iii) fatos e fundamentos jurídicos do pedido (causae petendi): a

natureza da relação jurídica de direito material, o lugar em que se

deu o fato do qual resulta a pretensão, e o lugar em que deveria ter

sido cumprida espontaneamente a obrigação reclamada pelo

demandante.34

A despeito das críticas existentes, o CPC/73 distribuia


em três seções do Capítulo III (Livro-I, Título-IV) concernentes à
Competência Interna, os critérios de determinação de competência: em
razão do valor e da matéria (seção I), funcional (seção II), e, territorial
(seção III), aproximando-se do esquema da tríplice repartição dos critérios
de determinação de competência.

34
Teoria geral do processo, pp. 233/4.
O Código de Processo Civil de 2015 denomina o Título
III, do Livro II – Da Função Jurisdicional, da Parte Geral do CPC, de “Da
Competência Interna” e distribui a matéria no Capítulo I – Da
Competência, reunindo três seções: I – Disposições Gerais; II – Da
Modificação da Competência; e, III – Da Incompetência.

O CPC/2015, ao contrário do diploma revogado, alude


expressamente aos critérios determinativos de competência consoante
exposto acima, ao esclarecer que os critérios em razão da matéria, da
pessoa e funcional (art. 62) encerram competência absoluta, ao lado dos
critérios territorial e em razão do valor da causa que são relativos (art.
63).

O CPC/73 não indicava expressamente o uso do critério


objetivo ratione personae, o qual, contudo, era usado, como elemento de
determinação quando o CPC tratava da competência territorial [v.g., foro
do domicílio do réu (art. 94), ou seja, a sede do sujeito passivo da lide].
Além disso, o critério ratione personae é adotado no plano constitucional
(ex.: art. 109, I, da C.F.), e nas leis de organização judiciária (ex.: juízo
privativo da Fazenda Pública, na comarca de São Paulo, arts. 35 e 36, do
Código Judiciário, alterados pelo art. 17, da Lei nº 6.166, de 29.06.1988).
6.2.1. Critério funcional

O critério funcional tem ensejado muita divergência,


especialmente, pelos diversos significados que a doutrina a ele tem
atribuído.35

O art. 93, do CPC/73, afirmava que as normas da


Constituição Federal e de organização judiciária regiam a competência
funcional dos Tribunais, enquanto que a dos juízos de 1º grau está
disciplinada no próprio CPC. Entretanto, nenhuma definição era apontada
na lei. Essa situação remanesce no CPC/2015: há alusão ao critério
funcional sem haver uma explicitação daquilo que lhe consiste.

A doutrina costuma acolher o significado cunhado por


Carnelutti, consistente de uma quádrupla divisão:

(i) competência funcional por fases do processo;

(ii) competência funcional por graus de jurisdição;

(iii) competência funcional por objeto do juízo; e,

35
A doutrina alemã faz uso do critério funcional, mas, salienta a inexistência de sua previsão na ZPO, cf.
Othmar Jauernig, Direito processual civil, p. 80.
(iv) competência funcional pela natureza do ato. Essa última espécie seria
considerada subsidiária, mas, em verdade resumir-se-ia às outras três.36

Segundo Vicente Greco Filho: “Fala-se em competência


funcional por fases do processo, ou também pela relação com outro
processo, quando a competência de um juiz se determina porque existe,
ou existiu, um outro processo, ou porque, numa etapa do procedimento,
atuou certo órgão jurisdicional que se torna competente para praticar
outro ato previamente estabelecido”.37

Rigorosamente, há etapas do procedimento do


processo que são realizadas pelo mesmo juiz, que tem a finalidade de
atender os princípios da oralidade, concentração e imediação do juízo, e
não de determinação de competência.38

No processo civil, é difícil a identificação de qualquer


exemplo da existência de pluralidade de juízes a funcionar num mesmo
processo, em 1º grau de jurisdição (v.g., a existência de um juiz

36
Cf. Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, vol. I, pp. 343/4.
37
Direito processual civil brasileiro, 1º v., p. 173. No mesmo sentido, Humberto Theodoro Júnior, ob.
cit., v. 1, pp. 158/9; e, Marcelo Abelha Rodrigues, Elementos de direito processual civil, v. 1, p. 197.
38
No CPC/73, era explicitado o princípio da imediação do juiz no art. 132, que prescrevia: “O juiz, titular
ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por
qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.”
preparador e outro juiz julgador, exemplo que costuma ser apontado no
julgamento pelo Tribunal do Júri).39

Costuma-se apontar a regra do art. 236, do CPC, que


limita territorialmente a competência do juízo, para reconhecer a
competência funcional do juízo deprecado, que age em cumprimento a
requisições formuladas por meio de carta precatória.40

Com o processo híbrido criado para o cumprimento de


sentença que reconhece obrigação de pagar quantia, pode-se falar em
fases cognitiva e executiva, mantendo-se, de regra, a competência com o
mesmo juízo (art. 516, II, do CPC, com a ressalva estabelecida em seu
parágrafo único).

O mais comum, é a competência funcional derivada de


relação anterior com outro processo, como ocorre com as ações acessórias
ou ações de garantia (v.g., arts. 61, do CPC), provocando a prorrogação
legal da competência, abstratamente estipulada, em decorrência da
prevenção do juízo, concretamente competente, por força de critério

39
Dinamarco chama a atenção para o fato que mesmo demandas que se exercem em procedimentos
especiais que se desdobram em mais de uma fase (ex.: monitório, prestação de contas), há apenas um juiz
funcionando no processo (Instituições..., v. 1, p. 436).
40
Cf. Moacyr Amaral Santos, ob. cit., p. 244.
funcional. A sua ratio essendi é a existência de um único litígio ou a
derivação de um único litígio que conduza ao conhecimento e execução
em um único juízo.

A competência funcional por grau de jurisdição é


derivada do princípio do duplo grau de jurisdição e a possibilidade de
revisão por órgãos superiores das decisões proferidas por órgãos
inferiores. Há uma relação de verticalidade.41

A competência originária dos Tribunais é, usualmente,


considerada como funcional.42

Nesse ponto, a doutrina pátria acata a lição de


Chiovenda que admite a competência funcional originária, inclusive para
os órgãos de 1º grau de jurisdição.

Chiovenda afirma que: “O critério funcional extrai-se da


natureza especial e das exigências especiais das funções que se chama o
magistrado a exercer num processo”, de sorte que deve se conferir

41
Cf. Moacyr Amaral Santos, ob. cit., p. 244/5.
42
Vicente Greco Filho, ob. cit., p. 173; Marcelo Abelha Rodrigues, ob. cit., p. 198.
competência funcional a um juiz de um dado território, em virtude dessas
exigências, concorrendo o elemento funcional com o territorial.43

Dinamarco critica a afirmação de que toda competência


originária dos Tribunais é funcional, exatamente porque define a
competência funcional como “decorrente do prévio exercício da jurisdição
por determinado órgão” (destacamos).44

A competência funcional por objeto do juízo ocorre


“quando órgãos do mesmo grau de jurisdição devam decidir sobre partes
ou aspectos da mesma “res in judicio deducta”, dando origem a uma
decisão subjetivamente complexa”.45

É exemplo o julgamento do incidente, nos Tribunais, de


declaração de inconstitucionalidade de lei (art. 948 e ss, do CPC).

43
Cf. Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, p. 214. No mesmo sentido, Luiz Fux afirma tratar-
se de critério funcional de determinação de competência “a função a ser exercida no processo”, Curso de
Direito Processual Civil, p. 97.
44
Ob. cit., p. 433 e 435.
45
Cf. Frederico Marques, ob. cit., p. 412.
6.3. Operações lógicas para concretização da competência

Um grupo de órgãos jurisdicionais pode, em abstrato,


ser competente para uma dada causa. A concretização do exercício da
jurisdição, em um único juízo, ocorre a partir da propositura da demanda
(art. 312, do CPC), gerando a perpetuatio iurisdictionis (art. 43, do CPC) e
se fixando in statu assertionis46, ou seja, a partir do cotejo de seus
elementos concretos e as regras legais, tornando o juízo prevento (art. 59,
do CPC).

A perpetuatio iurisdictionis estabelece que, com a


propositura da ação, um dado órgão judicial tornou-se competente, em
concreto, para aquela demanda, sendo irrelevantes modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente à fixação naquele

Nas operações para a concretização da competência do


órgão jurisdicional, os diversos critérios podem ser utilizados
concomitante ou sucessivamente. Não há um critério isolado que possa
resolver todos os problemas nas várias fases necessárias para a fixação da
competência de um dado juízo.

46
Cf. Cândido Rangel Dinamarco, Instituições..., vol. I, pp. 421/2. Segue a mesma lição, Marcus Vinicius
Rio Gonçalves, Novo curso de direito processual civil, vol. 1, p. 58.
Na concretização da competência de um órgão
jurisdicional faz-se necessário solucionar algumas questões que partem da
situação mais abstrata (competência do Judiciário nacional) até
determinação do juízo competente. Passemos a analisar as diversas
etapas.

1º) Competência em nível internacional - os órgãos do Poder Judiciário


nacional são competentes para a causa?

Os juízes brasileiros exercerão a jurisdição civil,


contenciosa e voluntária, em todo o território nacional, nos limites de suas
competências, conforme dispõem os arts. 16 e 42, do CPC. Essa
proposição é imanente à soberania do Estado e à função (jurisdicional) por
ele exercida.

Denota-se que é norma de direito internacional,


visando o respeito à soberania das nações, que os juízes de cada Estado
exerçam a jurisdição dentro dos limites geográficos de seu território.

O legislador brasileiro elencou, taxativamente, nos arts.


21 e 22, do CPC, as causas paras as quais a autoridade brasileira é
competente.
Em algumas hipóteses, a competência da autoridade
brasileira é exclusiva, noutras, admite-se o exercício da jurisdição por
autoridade judiciária estrangeira. Neste último caso, trata-se de
possibilidade de cumulação ou concorrência de jurisdições, já que
propriamente, não se trata de competência (limite da jurisdição), mas do
exercício da função jurisdicional por mais de um Estado soberano.

Assim, o art. 23, do CPC, determina competir, com


exclusividade, aos juízes nacionais: a) conhecer de ações relativas a
imóveis situados no Brasil; b) proceder a inventário e partilha de bens,
situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha
residido fora do território nacional; c) em divórcio, separação judicial ou
dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no
Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional.

No tocante a concorrência de jurisdições, o art. 88,


CPC/73 (conteúdo repetido no art. 21, CPC/2015), revogou o art. 12, e
§1º, da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-lei nº4.657, de
04.09.1942- LINDB), prevendo que é competente a autoridade brasileira
(ao lado da estrangeira), quando: a) o réu, qualquer que seja a sua
nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil47; b) no Brasil tiver de ser
cumprida a obrigação; e, c) o fundamento seja fato ocorrido ou ato
praticado no Brasil. A pessoa jurídica estrangeira que tiver agência, filial
ou sucursal no Brasil é reputada aqui domiciliada para os fins da letra ‘a’
retro.

O art. 24, do CPC, ao disciplinar a litispendência


internacional, estipula que a ação intentada perante tribunal estrangeiro
não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade brasileira conheça
da mesma causa e das que lhe são conexas.

A decisão estrangeira para que possa produzir efeitos


no Brasil deve ser reconhecida pelo Estado brasileiro, segundo nosso
ordenamento jurídico. Deste modo ela deve ser homologada.

Era da tradição brasileira a competência originária do


Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, ‘h’, da C.F.) para homologação de
sentença estrangeira. O art. 961, do CPC, disciplina no plano
infraconstitucional que a sentença estrangeira somente teria eficácia no

47
O art. 70, do CC, preceitua: “Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo”.
Brasil, após a homologação pelo STJ, cujo procedimento remete ao que
dispõe o seu regimento interno (art. 961, parágrafo segundo, do CPC).

A E.C. nº 45/04, revogou o preceito constitucional


aludido e acrescentou a alínea ‘i’, ao inciso I, do art. 105, da C.F., passando
a competência para o procedimento de homologação de sentença
estrangeira e a concessão de exequatur às cartas rogatórias ao Superior
Tribunal de Justiça.

O STJ disciplina o respectivo processo em seu


regimento interno nos art. 216-A e ss, cabendo, em tese, um 2º grau de
jurisdição, mediante a interposição de recurso extraordinário da decisão
proferida pelo STJ.

O art. 15, da LINDB, exige os seguintes requisitos para a


homologação da sentença estrangeira: a) haver sido proferida por juízo
competente; b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente
verificado a revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das
formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado; e a última alínea ‘e’, que
determinava a homologação pelo STF, deve ser lida, pelo STJ. Ademais,
corrobora a norma o disposto no art. 17, da LINDB, que estipula que não
terão eficácia no Brasil, dentre outros atos, sentenças de outro país
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.

Homologada que seja a sentença estrangeira, deverá o


juiz nacional, perante o qual tramita ação idêntica, reconhecer de ofício,
ou mediante provocação, a objeção de coisa julgada e extinguir o processo
sem julgamento de mérito, na forma do art. 485, V, do CPC. A
competência para execução de sentença estrangeira é do juízo federal de
1º grau de jurisdição, ou seja, de uma Vara Federal da Justiça Federal (art.
109, X, 3ª parte, da CF).

Há que ser recordado que a competência da autoridade


brasileira, exclusiva ou concorrente com a estrangeira, tema de direito
processual, difere da regência de direito material para solução do conflito
de interesses. O art. 376, do CPC, prevê hipótese de prova de direito (e
não dos fatos, que comumente é o objeto das provas), quando a parte
alegar direito estrangeiro, reconhecendo a possibilidade da aplicação de
normas materiais estrangeiras pelo juiz brasileiro. A aplicabilidade de
normas substanciais estrangeiras está regida pela LINDB.

2º) Competência originária do Supremo Tribunal Federal – a causa ou


questão é de competência originária do STF?
A resposta exige o confronto da situação concreta com
as alíneas ‘a’ a ‘r’, do inciso I, do art. 102, da C.F. Em sendo de
competência originária do STF, o passo seguinte é verificar se o Regimento
Interno do STF atribui ao Plenário, a órgão fracionário ou ao Presidente a
competência para processamento e julgamento, restando exaurida a
operação de verificação do órgão competente.48

3º) Competência de ‘Justiças’ – a causa ou questão é de competência de


Justiça especializada ou de Justiça comum?

Descartada a competência originária do Supremo


Tribunal Federal, deve se levar em consideração o critério ratione
materiae para determinação de uma das três denominadas ‘justiças’ ou
‘jurisdições’ especializadas contempladas na Constituição Federal.

Assim se a relação de direito material subjacente ao


litígio subsumir-se em qualquer um dos onze incisos do art. 114, da C.F., a
demanda deverá ser proposta perante a Justiça do Trabalho.

48
Ver item 5.1 sobre os órgãos fracionários em que se divide o STF.
Por outro lado, ainda sob a égide do critério material,
define-se a competência da Justiça Militar quando se tratar de processar e
julgar os crimes militares definidos em lei (art. 124, da C.F.).

Por último, em se tratando de causa ou questão


envolvendo Direito eleitoral, na forma definida em lei complementar,
conforme determina o comando do art. 121, da C.F., a competência será
da Justiça Eleitoral.

Não se subsumindo a ação, na competência de


qualquer das três Justiças ‘especializadas’, de modo residual, a
competência será da chamada Justiça comum.

A Justiça comum da União, designada de Justiça


Federal, guarda uma relação de especialidade em relação às Justiças
comuns dos Estados e Distrito Federal. É a Constituição Federal, em seu
art. 109, incisos I a XI, adotando primordialmente um critério ratione
personae, que perfila, taxativamente, as causas que são de sua
competência.

Se a demanda não for de qualquer das Justiças


especializadas da União, tampouco da Justiça Federal, residualmente,
competirá à Justiça dos Estados ou do Distrito Federal.
A competência da Justiça comum federal tem
prevalência sobre a Justiça comum dos Estados e Distrito Federal,
impondo, inclusive, a deslocação de competência dessas para aquela,
quando no curso do processo, há a intervenção da União, suas autarquias
ou empresas públicas.

A Constituição Federal de 1967 trazia em seu bojo regra


específica nesse sentido, sendo a atual Constituição Federal omissa.
Todavia, por se tratar de competência absoluta49, haverá o deslocamento.

A dimensão do deslocamento da causa da Justiça dos


Estados ou Distrito Federal para a Justiça Federal poderá, inclusive,
provocar alteração de foro.

4º) Competência originária - a causa ou questão é de competência


originária de Tribunais Superiores, Tribunais de 2º grau de jurisdição ou de
Juízos de 1º grau de jurisdição?

49
Conferir item 7.1 sobre competência absoluta.
Tanto as Justiças ‘especializadas’, quanto as Justiças
‘comuns’ estão organizadas mediante uma estrutura hierárquica,
possuindo na base os juízos de 1º grau de jurisdição, sobrepostos pelos
Tribunais de 2º grau de jurisdição, e colimando com órgãos de
superposição: os Tribunais Superiores.

Nessa linha, dentro de cada uma das três Justiças


‘especializadas’, há que se perquirir se a causa ou questão é de
competência originária dos Tribunais Superiores do Trabalho, Eleitoral ou
Militar. A Constituição Federal (arts. 111-A, §1º; 121; e, 124, parágrafo
único) remete ao direito infraconstitucional a atribuição de fixação de
competência destes Tribunais.50

Negativa a resposta, passa-se a se indagar da


competência originária dos Tribunais Regionais do Trabalho ou
Eleitorais.51

A Justiça Militar esta organizada em dois graus de


jurisdição, sendo que o 1º grau de jurisdição é exercido pelos juízos
militares.52

50
Conferir itens 5.4.1; 5.5.1; e, 5.6.1, respectivamente, para a competência do TST, TSE e STM.
51
Conferir itens 5.4.2 e 5.5.2, respectivamente, para a competência dos TRT‟s e TSE‟s.
Não se tratando de competência originária dos TRT’s ou
TRE’s, remanesce a competência originária, em 1º grau de jurisdição, dos
juízes do trabalho e dos juízes e juntas eleitorais.

Na Justiça comum, temos como órgão de cúpula o


Superior Tribunal de Justiça, cuja competência originária está prevista no
art. 105, I, da C.F.

Na Justiça Federal, a competência originária dos


Tribunais Regionais Federais tem fonte constitucional, art. 108, I, da C.F.

Não se tratando de competência originária do STJ ou


dos TRF’s, a competência originária é dos juízes federais.

Na Justiça dos Estados, a competência originária dos


Tribunais de Justiça deve ser estabelecida pelas respectivas Constituições
Estaduais (art. 125, §1º, 1ª parte, da C.F.).

52
Sobre a composição e competência dos juízos militares de 1º grau de jurisdição, conferir item 5.6.2.
Em 1º grau de jurisdição, os juízes de direito têm
competência originária.

Analogicamente, aplica-se a norma constitucional


aludida aos Estados que possuírem organizada Justiça Militar Estadual,
contando com Tribunal de Justiça Militar, como autorizado pelo art. 125
§3º, da C.F.53

5º) Competência de foro – em qual a unidade judiciária básica que,


segundo a divisão geográfica da respectiva Justiça (especializada ou
comum), encontra-se o órgão que possui competência para processar e
julgar a causa?

Designa-se de foro a unidade judiciária básica em que


se divide geograficamente o território para fins de administração da
justiça.

O art. 96, da LOMAN, dispõe: “Art. 96 Para a


administração da justiça, a lei dividirá o território do Estado em comarcas,
podendo agrupá-las em circunscrição e dividí-las em distritos”.

53
Conferir item 5.8.3.
Desse modo, a unidade judiciária básica para a Justiça
dos Estados é designada de comarca. Logo, na Justiça dos Estados, o foro
chama-se comarca.

É por esse motivo que se diz que a competência de foro


corresponde à competência territorial.

Entretanto, como assevera Cândido Rangel Dinamarco,


são diversos fatores de ligação que determinam que uma causa seja de
competência de um foro.54

Ao se falar em competência territorial estamos


determinando que uma demanda deve ser proposta dentro de uma
unidade básica judiciária (foro). Todavia, para se obter o foro competente,
variados elementos da ação são utilizados pelos arts. 46 usque 53, do CPC.

O CPC usa a palavra comarca como sinônimo de foro,


contudo, a comarca, como unidade judiciária básica, não é utilizada pelas
demais ‘Justiças’.

54
Instituições..., vol. 1, pp. 485/7.
Na Justiça Federal, a delimitação territorial de
competência (foro) dos órgãos jurisdicionais federais é constituída por
seções judiciárias, uma no Distrito Federal e uma em cada Estado
federado, sendo sua sede a respectiva capital (art. 110, da C.F.; art. 5º,
§1º, da LOMAN).

Para a administração da Justiça Eleitoral, o território do


Estado é divido em unidades judiciárias básicas denominadas zonas
eleitorais (art. 32, do Código Eleitoral).

A Justiça Militar, em tempo de paz, divide o território


nacional divide-se em doze circunscrições judiciárias militares,
correspondente ao foro militar (art. 2º, da LOJM).

Somente a Justiça do Trabalho segue a unidade


judiciária básica adotada pela Justiça dos Estados. Com efeito, o art. 650,
da CLT, dispõe que: “A jurisdição de cada Vara do Trabalho abrange o
território da Comarca em que tem sede, só podendo se estendida ou
restringida por lei federal”.

Por ser o termo foro usado como sinônimo de extensão


territorial sobre a qual um órgão judiciário exerce sua competência,
afirma-se que o foro do STF, STJ e demais Tribunais Superiores é todo o
território nacional.

Nesse sentido, quando a C.F. divide o território nacional


em regiões para fins de instituir TRF’s e TRT’s, o respectivo foro de cada
um, será a região sobre a qual exercem jurisdição, ou seja, na qual tem
competência. Na Justiça Eleitoral, o foro dos TRE’s corresponde ao
território do respectivo Estado da federação onde estiverem sediados (art.
120, da C.F.). O mesmo se dá com relação aos Tribunais de Justiça dos
Estados, cujos foros são o território de sua unidade da Federação.

Em face disso, a etapa de identificação da ‘Justiça’


competente, no processo de concretização da função jurisdicional, não
corresponde a afirmar-se que é foro competente o dessa ou daquela
Justiça.

Foro, igualmente, não é sinônimo de fórum, prédio


onde se localizam os órgãos judiciários, tampouco, juízo que tem sentido
do próprio órgão jurisdicional, correntemente identificado com Vara, em
1º grau de jurisdição.55

55
Cf. Dinamarco, ob. cit., vol. 1, p. 451.
A competência territorial é determinada sob uma
perspectiva horizontal dos órgãos judiciários, apontando a sede da lide,
consoante a lição de Carnelutti.56

COMPETÊNCIA TERRITORIAL NO CPC

Os elementos para determinação da competência de


foro (territorial) estão disciplinados nas leis processuais, principalmente,
no CPC, razão pela qual passaremos, abaixo, a analisar os dispositivos
codificados.

A lei estabelece um foro geral ou comum ao lado de


outros foros privilegiados ou especiais. A determinação do foro comum se
dá por exclusão: se o caso concreto não estiver sujeito a qualquer dos
foros especiais, incidirá a regra do foro geral.

Ao lado dessa divisão entre foro geral ou foro


privilegiado, ambas as espécies comportam uma divisão entre foro
principal e foro subsidiário.

56
Instituciones del nuevo proceso civil italiano, p. 139.
Para a determinação do foro geral ou do foro especial,
o legislador estipula uma regra principal e outra(s) subsidiária(s) para a
hipótese de, numa dada situação concreta, não ser possível fixar a
competência com base nos elementos do foro principal, seja, relativa ao
foro comum ou aos foros especiais.

Em certas situações, o legislador estabelece regras que


propiciam o surgimento de foros concorrentes, onde a fixação da
competência pode se dar perante mais de um foro abstratamente
competente.

A escolha de um dos foros igualmente competentes é


do autor, contra ela não pode se insurgir o réu, e deriva de uma dupla
incidência da norma (réus domiciliados em foros diferentes) ou da
incidência de duas ou mais normas (acidente automobilístico), como
leciona Dinamarco.57

(i) foro geral ou comum - domicílio réu (46) – ação fundada direito pessoal
ou em direito real sobre bens móveis é proposta no domicílio do réu.

57
Ob. cit., vol. 1, p. 490.
É importante relembrar que os elementos de ligação da
causa ao foro para determinação da competência, são extraídos dos
elementos da demanda concretamente proposta (in statu assertionis).

E, muitas vezes, são vários elementos de ligação


somados que propiciam a fixação da competência.

Assim, o art. 46, do CPC, por exemplo, adota o


elemento parte passiva da relação jurídica processual (domicílio do
demandado) somado com a natureza da relação jurídica de direito
material controvertida (direito pessoal ou direito real sobre bem móvel).

É no direito material que se obterá o conceito de


domicílio a ser aplicado no processo. A matéria está disciplinada nos arts.
70 a 78, do Título III – Do Domicílio, do Livro I, da Parte Geral, do Código
Civil.

O art. 70, do CC, conceitua: “Art. 70. O domicílio da


pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo”. Esta é a regra geral, dispondo os arts. 71 e 73, sobre regras
subsidiárias. O art. 72 criou o domicílio profissional da pessoa natural,
quanto às relações concernentes à profissão, no(s) local(is) onde esta é
exercida. O art. 75, trata do domicílio das pessoas jurídicas. O art. 76, do
domicílio do incapaz, do servidor público, do militar, do marítimo e do
preso. O art. 77, trata da citação no estrangeiro de agente diplomático do
Brasil. E, o art. 78, dispõe sobre eleição de domicílio, em contratos
escritos, para exercício e cumprimento de direitos e obrigações.

Havendo foro de eleição (art. 63, do CPC, e art. 78, do


CC) esse concorrerá com o foro do domicílio do réu.58

(i.1) foros comuns subsidiários (46, §§ 1º a 4º)

O §1º, do art. 46, do CPC, traz regra que rigorosamente


não é de fixação de foro subsidiário, mas, de foros concorrentes, pois que
tendo o réu mais de um domicílio, poderá ser, ao alvedrio do autor,
demandado em qualquer um deles (de conteúdo semelhante é a norma
do art. 71, do CC).

O mesmo ocorre com relação ao §4º, do art. 46, do


CPC, uma vez que havendo litisconsórcio passivo, onde os réus possuem
domicílios em diferentes foros, o autor poderá optar por demandar no
foro do domicílio de qualquer deles.

58
Cf.Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 6ª ed., pp. 283/4.
O §2º, do art. 46, efetivamente traz norma subsidiária à
do caput do dispositivo: sendo incerto ou desconhecido o domicílio do
réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do
autor.

O §8º, do art. 7º, da LINDB, dispõe que quando a


pessoa não tiver domicílio, considera-se domiciliada no lugar de sua
residência ou naquele que se encontre. E, o art. 73, do CC, considera
domicílio, para a pessoa que não tem residência habitual, o lugar em que
for encontrada.

Há concorrência, a escolha do autor, em propor a ação


em seu domicílio, ou no da residência ou localização do demandado.59

O §3º, do art. 46, impõe uma sucessão de foros


subsidiários. O autor poderá propor ação no foro de seu domicílio, desde
que o réu não tenha domicílio, nem residência no Brasil. Em seguida, não
tendo, igualmente, o autor domicílio ou residência no Brasil, a ação

59
Nesse sentido, Arruda Alvim, ob. cit., p. 260/1, Marcelo Abelha Rodrigues, ob. cit., v. 1, p. 192; contra,
Dinamarco, aplica a regra da sucessividade de foros subsidiários do §3º ao §2º, do art. 94, ob. cit., p. 504.
poderá ser proposta em qualquer foro. É o critério mais amplo previsto no
CPC.

Na hipótese das partes não terem domicílio ou


residência no Brasil, é de verificar, preliminarmente, a competência
internacional dos órgãos judiciários brasileiros, consoante as normas dos
arts. 21 e 22, do CPC.

Não se deve olvidar que, a despeito do CPC estipular


como regra geral o domicílio do réu, a norma não está circunscrita
exclusivamente ao processo de conhecimento. As normas concernentes à
competência, incluindo-se aí, a territorial, aplica-se, igualmente, aos
processos de execução e cautelar, observadas as normas especiais que a
eles se destinem.

(ii) foros especiais ou privilegiados

(ii.1) foro da situação do imóvel (forum rei sitae) (47) – em regra, ação
fundada em direito real sobre bem imóvel deve ser proposta no foro da
situação da coisa.
Os elementos de ligação da causa ao território são de
duas ordens: ação fundada em direito real (natureza da relação jurídica de
direito material, extraída da causa de pedir) relativa a um bem imóvel
(situação do objeto mediato do pedido).

A ratio essendi da norma consiste em um melhor


rendimento da atividade jurisdicional, dado que a proximidade do juízo ao
objeto da demanda traz vantagens na realização de diligências e na
colheita de provas.

Considerando os elementos de ligação da causa ao foro,


cabe perquirir, no plano do direito material o que se conceitua como bem
imóvel e direitos reais.60 O art. 79, do CC, afirma que são bens imóveis o
solo e tudo o quanto se lhe incorporar, natural ou artificialmente, e o art.
80, preceitua que se considera, para efeitos legais, imóveis: a) os direitos
reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; e, b) o direito à sucessão
aberta.

Considerando que os direitos reais estão sujeitos a


regime jurídico fechado, vale dizer, estão fixados na lei em numerus
clausus, somente lei federal poderá criá-los (art. 22, I, C.F.). O art. 1.225,

60
No mesmo sentido, Marcus Vinicius Rios Gonçalves, ob. cit., p. 65.
do CC, estipula serem direitos reais: a) a propriedade; b) a superfície; c) as
servidões; d) o usufruto; e) o uso; f) a habitação; g) o direito do
promitente comprador de imóvel; h) o penhor; i) a hipoteca; e, j) a
anticrese; k) a concessão especial para uso de moradia; l) a concessão de
direito real de uso; m) a laje.

Ocorre que o legislador no art. 47, do CPC, ao lado da


regra do forum rei sitae, estabeleceu outra: a fixação do foro da situação
do imóvel, mesmo em se tratando de ação real, poderá ser prorrogada
mediante a escolha do autor entre foros concorrentes, do domicílio do réu
ou de eleição, quando a demanda não se referir a direito de propriedade,
vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação
de obra nova.

Nesse passo, o legislador mistura direito real


(propriedade e servidão) com as demandas que a eles são pertinentes. No
tocante à posse, é antiga e profunda a divergência sobre sua natureza, de
fato ou direito, e em sendo direito, se real. Contudo, o legislador não
elencou a posse como direito real, mas as ações possessórias, assim são
consideradas, para fins de determinação da competência.

Em suma, a ação deverá ser proposta no foro da


situação do imóvel, quando se tratar de alguma das ações contidas no rol
taxativo do art. 47, parágrafo primeiro, 2ª parte. Demais ações reais
imobiliárias poderão ser propostas no foro do domicílio do réu ou no foro
de eleição.

Parcela da doutrina afirma que o critério utilizado é


funcional61; outros são adeptos de um critério territorial-absoluto62.

O problema que se nos afigura toca a possibilidade de


dentro de um foro haver uma variedade de juízos, com competência
territorial distinta.

Assim, a aplicação do art. 47, do CPC, na Justiça dos


Estados, indica a comarca competente que, contudo, pode abranger mais
de um município, contendo um deles, por exemplo, vara distrital em cujo
território esteja localizado o imóvel.

De modo semelhante, na Justiça Federal, pela


mencionada regra, obtém-se a seção judiciária competente. Todavia, é
possível que esta esteja dividida em vários grupos de juízos, as subseções

61
Arruda Alvim, ob. cit., p. 266; Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 566.
62
Cândido Dinamarco, ob. cit., p. 518; Marcelo Abelha Rodrigues, ob. cit., pp. 200/1.
(art. 12, Lei nº 5.010/66; art. 4º, Lei nº 9.788/99), sendo que o imóvel
esteja situado dentro do território de uma delas.

Nessas hipóteses, a determinação da competência não


se resume, pela aplicação do art. 47, do CPC, em identificar o foro
competente, mas exige a determinação do juízo competente, utilizando-se
do mesmo preceito legal.

Ora, ultrapassada a análise da competência territorial


ou de foro, o problema passa a ser de determinação do juízo competente,
mediante o critério funcional de competência originária de Chiovenda,
para o qual a causa deve ser atribuída a um juízo de um dado território,
em virtude de ser este o que melhor pode desempenhar suas funções no
processo.

Arruda Alvim assevera que a competência de juízo é


uma competência de atribuição63, sendo certo que a doutrina majoritária
aponta que a competência de juízo é absoluta.64

63
Ob. cit., p. 296 e 300.
64
Cf. Vicente Greco Filho, ob. cit., p. 206; Arruda Alvim, ob. cit., pp. 297/303; Marcus Vinicius Rios
Gonçalves, ob. cit., p. 73; Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 588. Dinamarco afirma tratar-se de
competência de foro e, portanto, relativa, quando a competência de juízo for estabelecida por critério
territorial e não por critério de matéria, valor ou qualidade das partes (ob. cit., p. 644). Parece-nos que há
dois pesos e duas medidas, já que valor é critério que pode gerar incompetência relativa e não absoluta
(art. 62), contudo, é considerado como de competência absoluta pelo ilustre Professor.
Com efeito, a eleição de foro estatuída no art. 63, do
CPC, autoriza as partes a derrogarem, por manifestação de vontade, o
foro abstratamente competente, norma que não alcança o juízo
competente, estando as partes proibidas de eleger juízo perante o qual a
demanda pode ser ajuizada.

Estando o imóvel situado no território de mais de um


foro, de mesmo Estado ou de Estados diversos, a competência é fixada por
regra de prevenção, aplicando-se o preceito do art. 59, do CPC.

(ii.2) foro do domicílio do autor da herança (forum hereditatis) – (48) –


competente para inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de
disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha
extrajudicial e ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro.

A prova do domicílio do de cujus se faz por meio da


certidão de óbito.
Os incisos I a III, do parágrafo único, do art. 48, do CPC,
indicam foros subsidiários e sucessivos do foro principal estipulado na
cabeça do artigo.

Assim, havendo bens em apenas um foro e sendo que o


autor da herança não possuía domicílio certo, o foro competente é o da
situação daqueles. Entretanto, havendo pluralidade de bens em foros
diferentes e sendo que o de cujus não possuía domicilio certo, o foro
competente será o do local do óbito.

Havendo bens no Brasil, a competência internacional


do juiz brasileiro para inventariar e partilhar tais bens é exclusiva, pouco
importando que o de cujus fosse estrangeiro e nunca tivesse residido no
Brasil (art. 23, II, do CPC).

Nessa hipótese, haverá foros concorrentes quando,


houverem bens em foros distintos, sendo qualquer deles abstratamente
competente (arts. 48, I e 23, II, do CPC).

Havendo dois inventários pendentes, a solução se dará


por regra de prevenção do art. 59.
As ações em que o espólio for demandante não estão
sujeitas ao forum hereditatis, devendo seguir as regras de competência
territorial aplicáveis à espécie.

(ii.3) foro do último domicílio do ausente – (49) – competente para ações


em que for réu e, para arrecadação, inventário, partilha, cumprimento de
disposições testamentárias.

Em verdade trata-se de regra legal para definir o


domicílio do ausente.

(ii.4) foro do representante legal do incapaz – (50) – efetivamente, não se


trata de foro especial em face de foro geral, mas, apenas regra indicando
seu domicílio e, portanto, o foro onde deverá ser demando. Tem mesmo
conteúdo a norma do art. 76, do CC.

(ii.5) foro necessário do servidor público, do militar, do marítimo e do


preso – (art. 76, do CC)

Igualmente, não se trata de foro especial em face de


foro geral, mas, apenas regra indicando seu domicílio e, portanto, o foro
onde deverá ser demando.
Destarte, é considerado domicílio do servidor público, o
lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde
servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que
se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio
estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

(ii.5) foro nas causas em que for parte a União - (art. 51, do CPC, adaptado
ao art. 109, §§1º e 2º, C.F.)

A União, como autora, demandará no foro da seção


judiciária onde o réu tiver domicílio (art. 109, §1º, da C.F.). A Constituição
Federal seguiu a regra comum ou geral do domicílio do réu, constante do
art. 46, do CPC. Trata-se de regra de competência relativa.65

Quando ré, a União deverá ser acionada na seção


judiciária em que for domiciliado o autor, naquela em que houver
ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada
a coisa, ou ainda, no Distrito Federal (art. 109, §2º, da C.F.; art. 51, p
único, do CPC).

65
Cf. Luiz Fux, ob. cit., p. 93.
Parece-nos que o legislador constitucional quis criar
regras análogas à existentes no CPC para determinação da competência
territorial quando a União for ré.

Nessa linha, é lícito afirmar ser válida a norma do forum


rei sitae, em se tratando de ação real imobiliária prevista no art. 47, do
CPC, devendo a demanda ser proposta na seção judiciária perante o juízo
federal competente da situação do imóvel.66

Em nossa opinião, as regras de competência dos §§1º e


2º, do art. 109, da C.F., devem ser estendidas às autarquias, empresas
públicas e fundações federais. Não se aplicam às sociedades de economia
mista, que têm regime jurídico de direito privado e capitais públicos e
privados, não possuindo prerrogativa para demandas na Justiça Federal
(Súmula nº 508, do STF).

Tratando-se de demandas entre segurados e o INSS, a


competência é fixada pelo foro do domicílio do segurado, perante a

66
Nesse sentido, Luiz Fux, ob. cit., pp. 93/4; Cândido Rangel Dinamarco, ob. cit., pp. 509/510; Marcus
Vinicius Rios Gonçalves, ob. cit., p. 71. Parece ter entendimento distinto Arruda Alvim, ao afirmar que
“não prevalece para ela [União] a regra do art. 95, se a aplicação desta importar em infração à
Constituição” (ob. cit., pp. 295/6).
Justiça Federal, ou em não havendo juízo federal na comarca, perante o
juiz de direito da Justiça Estadual (art. 109, §3º, da C.F.).

A norma aplica-se ainda às execuções fiscais propostas


pela União (art. 109, §3º, parte final, da C.F. e art. 15, I, LOJF).

(ii.6) foro nas ações de separação judicial, divórcio direto ou por


conversão e nulidade ou anulação de casamento, reconhecimento de
união estável ou sua dissolução - (53, I)

A lei levava em consideração a natureza da relação


jurídica de direito material e a sede da mulher, para determinar que a
ação seja proposta na residência da mulher no CPC/73. Isto já não mais
ocorre em decorrência do princípio da isonomia. Assim, temos a
sucessividade de foros das alíneas:

“a) de domicílio do guardião de filho incapaz;

b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;

c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo


domicílio do casal”
Mesmo após a Constituição Federal de 1988, a
jurisprudência, bem como, a doutrina não reputava o antigo 100, I, do
CPC/73 inconstitucional.67 Todavia, agora a questão está superada com a
nova norma do art. 53, I, do CPC/2015.

(ii.7) foro do alimentando – domicílio ou residência nas ações de


alimentos - (53, II)

Para ações revisionais de alimentos, o critério


determinativo de competência é funcional, razão pela qual deverá ser
proposto perante o mesmo foro e juízo que conheceu e decidiu
anteriormente ação em que se pleiteou alimentos.

Em se cumulando pedido de alimentos com


investigação de paternidade, incide a norma do art. 53, II, do CPC,
consoante entendimento cristalizado na Súmula nº 1, do STJ.

67
Cf. Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 499.
(ii.8) foro das pessoas jurídicas e das sociedades ou associações sem
personalidade jurídica - (53, III, ‘a’ a ‘c’)

O art. 75, IV e §1º, do CC, estipula que o domicílio das


pessoas jurídicas é o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto
ou atos constitutivos, ou, tendo diversos estabelecimentos em lugares
diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados.

Por seu turno, o art. 45, do CC, norma geral aplicável a


todas pessoas jurídicas de direito privado, estipula que sua existência
começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro. E, o art.
46, I, do CC, determina que do referido registro constará a sede da pessoa
jurídica.

Por força da alínea ‘a’, do art. 53, III, do CPC, a pessoa


jurídica deve ser demandada no lugar onde está sua sede que, como
vimos, pode não corresponder ao seu domicílio.

A alínea ‘b’, do art. 53, III, do CPC, admite que a ação


movida em face de pessoa jurídica que possua diversos domicílios,
resultando da pluralidade de estabelecimentos, na forma do art. 75, §1º,
do CC, que o CPC trata como existência de agência ou sucursal, seja
proposta no foro de tal estabelecimento no tocante às obrigações que
com ele foram contraídas.

O art. 75, do CPC, confere capacidade judiciária para


diversos entes despersonalizados, inclusive, às sociedades ou associações
sem personalidade jurídica, as quais deveram ser demandadas no foro do
lugar onde exercem sua atividade principal (art. 53, III, ‘c’, do CPC)

(ii.9) foro do lugar de cumprimento da obrigação (forum destinatae


solutionis) - (53, III, ‘d’)

Foro privilegiado que visa o cumprimento da obrigação,


por exemplo, execução de títulos cambiários, com praça de pagamento
diversa do domicílio do devedor; cumprimento específico de prestações
etc. Se o que se pretende, contudo, não é a satisfação do direito
inadimplido, mas o direito dele derivado (v.g.,rescisão contratual), segue a
regra do foro geral.68

68
Cf. Dinamarco, ob. cit., p. 525; Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 500.
As obrigações quesíveis cumprem-se no domicílio do
devedor, enquanto, as portáveis no domicílio do credor. Necessário
analisar a lei ou o título jurídico em que se embasam.

(ii.10) foro do lugar do ato ou fato danoso (forum delicti commissi) - (53,
IV)

As ações de reparação de danos devem ser propostas


no foro do lugar onde foi praticado o ato ou o fato causador do dano (art.
53, IV, ‘a’, do CPC).

Ato é derivado de conduta humana, enquanto, fato


corresponde a qualquer acontecimento capaz de produzir efeitos
jurídicos. Dinamarco dá exemplo de ato negligente de manutenção de
entorno de montanha que, desabando por chuva (fato jurídico), causa
prejuízos aos moradores circunvizinhos.

O preceito abrange tutela especifica de fazer, derivada


de ato ou fato ilícito.
Trata-se de ilícito civil, não se referindo a ilícitos penais.
Em se tratando de ilícito penal incide a regra do art. 53, V, do CPC.69

Há divergência sobre incidir a norma somente se o


ilícito é extracontratual ou contratual.70

Em se tratando de ação de reparação de delito ou


acidente automobilístico, o autor tem a sua disposição foros concorrentes:
de seu domicílio ou do local do fato (art. 53, V).

Na ação de indenização fundada em relação de


consumo, o foro competente é o do consumidor (art. 101, I, da Lei nº
8.078, 11.09.1990, “Código de Defesa do Consumidor” – CDC).

O STJ já decidiu que a seguradora, sub-rogada nos


direitos do segurado, não pode se valer do foro privilegiado do inciso V, do

69
Cf. Ernane Fidélis dos Santos, Manual de direito processual civil, v. 1, pp. 153/4; Dinamarco, ob. cit.,
p. 529; Marcus Vinicius Rios Gonçalves, ob. cit., p. 69. Entretanto, o STJ já decidiu que o ilícito pode ser
tanto penal, quanto civil, REsp nº 49.251-RJ, 3ª T., v.u., rel. p. ac. Min. Costa Leite. Arruda Alvim
entende tratar-se de ilícito civil, que pode constituir ilícito penal, ob. cit., p. 310.

70
Nelson e Rosa Nery afirmam somente caber de ilícito extracontratual, para o contratual, incide o art.
100, IV, d (ob. cit., p. 500). Luiz Fux (ob. cit., p. 96) e Dinamarco, aceitam ambos (ob. cit., p. 527).
art. 100, do CPC/73, devendo propor ação no foro geral do domicílio do
réu (Resp. nº 35.500 e Resp. nº 19.767).

Em acréscimo, devem ser propostas no foro do lugar do


ato ou fato, a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios,
concernente à atividade por ele desempenhada (forum gestae
administrationis - art. 53, IV, ‘b’, do CPC).

(ii.12) foro dos Estados federados e Municípios

Não há regra especial, em lei federal, criando foro


privilegiado ou especial para os Estados federados e Municípios.

Deste modo, aplicavam-se-lhes as regras de


competência territorial previstas no CPC, notadamente, a do art. 94, do
CPC/73, determinando que ações em que forem rés sejam proposta no
foro de seus domicílios.

Agora o novo CPC, disciplino o tema no art.52, de modo


semelhante ao que se passa com a União Federal, quando o Estado
federado ou o Distrito Federal for autora a competência é do foro do
domicílio do réu.

Quando estes entes da Federação forem réus, a ação


poderá ser proposta no foro do domicílio do autor, do local da ocorrência
do fato ou ato que fundamenta a demanda, no da situação da coisa ou na
capital do respectivo ente federado. Não se deve perder de vista, contudo,
a regra absoluta contida no art. 47, que se aplica também nestes casos.

A norma substancial explicita qual o domicílio de


Estados e Municípios:

“Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

IV – omissis”.

Comumente, as leis estaduais de organização judiciária


estabelecem juízos privativos para as Fazendas Públicas Estaduais e
Municipais.
No Estado de São Paulo, o Código Judiciário havia
criado, na comarca de São Paulo, varas especializadas da Fazenda do
Estado e da Fazenda Municipal (arts. 27, II, ‘b ‘e ‘c’, respectivamente),
tendo sido reunidas sob a denominação de Varas da Fazenda Pública, pelo
art. 17, da Lei Estadual nº 6.166, de 29.06.1988.

Isto, contudo, não provoca qualquer deslocamento de


foro, quando em dada comarca inexistir vara especializada. Somente
quando as regras de competência territorial determinarem que a
demanda deva ser proposta no foro da Capital, é que as Fazendas Públicas
gozarão da prerrogativa de verem tais ações processadas e julgadas em
juízos privativos.

Neste sentido o enunciado da Súmula do S.T.J.:


“Enunciado nº 206. A existência de vara privativa, instituída por lei
estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de
processo”.

(ii.13) foro de eleição - (63)

Em se tratando de negócio jurídico, celebrado por


escrito, podem as partes inserir cláusula expressa elegendo foro onde
serão propostas ações relativas aos direitos e obrigações daquele
derivadas. Trata-se da eleição de foro (art. 63, §1º, do CPC).

Foro de eleição não significa foro contratual, o qual não


é acolhido pelo legislador brasileiro. O §2º, do art. 63, contém uma
impropriedade terminológica, pois, refere-se ao foro de eleição, o qual
obriga os sucessores inter vivos ou causa mortis dos contratantes.

Rigorosamente foro do contrato é o local de sua


celebração.

A eleição de foro somente é admitida quando o critério


de determinação de competência for relativo. Quando a concretização da
competência do órgão judicial for estabelecida por critério absoluto,
resulta inaplicável a regra.

A lei autoriza a eleição de foro, contudo, é vedada a


eleição de juízo.
(ii.14) foro competente perante os Juizados Especiais Cíveis Estaduais

A determinação da competência do Juizado Especial


Cível Estadual tem como principal elemento tratar-se de causa de menor
complexidade (art. 98, I, da C.F., e art. 3º, da Lei Federal nº 9.099, de
26.09.1995 – Lei dos Juizados Especiais Estaduais).

Entretanto, a lei adota vários elementos de ligação da


causa ao juízo, adotando critérios objetivos (art. 3º, I a IV, e, §2º, da Lei nº
9.099/95):

a) valor - limite de 40 salários-mínimos; na Justiça Federal é elevado


para para 60 salários-mínimos;

b) matéria - todas as previstas no art. 275, II, do CPC, estas sem


limite de valor, acrescidas de ação de despejo para uso próprio e ações
possessórias sobre bens imóveis dentro do limite de valor legal; e,

c) rol taxativo de matérias excluídas - causas de natureza alimentar,


falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública71, acidentes de
trabalho, resíduos, e relativas ao estado e capacidade das pessoas, ainda
que de cunho patrimonial.72

71
Quanto aos Juizados Especiais da Fazenda Pública, v. item 5.8.2.1.
72
Conferir sobre os critérios de determinação de competência item 6.2.
E critério territorial, consoante o art. 4º, da Lei nº
9.099/95, pelo que é competente o juizado do foro:

a) do domicílio do réu ou do lugar em que o réu exerça atividades


profissionais ou econômicas, ou, mantenha estabelecimento, filial,
agência, ou sucursal ou escritório (de modo concorrente e com
preferência sobre os demais, por escolha do autor);

b) do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;

c) do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações de


reparação de danos de qualquer natureza.

Para fixação do juízo competente é necessário a


utilização de todos os critérios acima descritos.

6º) Competência de juízo – perante qual órgão jurisdicional deve ser


processada e julgada a causa?

Determinado o foro competente é necessário verificar-


se qual o juízo competente. Normalmente, dentro de um foro há diversos
juízos, sendo que usualmente, são tratados por varas.
A palavra juízo corresponde a órgão jurisdicional, de
modo que, um Tribunal é considerado como juízo. Entretanto, a
competência originária de órgão jurisdicional de 2º grau ou de Tribunais
superiores já foi tratada acima. No presente item, interessa os juízos de 1º
grau de jurisdição.

O art. 96, II, ‘d’, da C.F., outorga ao STF, Tribunais


superiores e Tribunais de Justiça a iniciativa de propor ao Poder Legislativo
correspondente lei para “alteração da organização e da divisão
judiciárias”.

Desse modo, são, principalmente, as leis de


organização judiciária que disciplinam a atribuição de competência dos
órgãos jurisdicionais no âmbito interno dos Tribunais e dos foros. O art.
93, do CPC, assevera que no CPC está disciplinada a competência funcional
dos juízes de primeiro grau de jurisdição.

Arruda Alvim leciona que: “A determinação da


competência dos juízos decorre, do ponto de vista material, da definição
dos poderes do juízo pelas leis de organização judiciária: é competência de
atribuições (funcional e material) e, portanto, de caráter absoluto”.73

73
Ob. cit., p. 318.
Assim é possível, todavia, remoto, que numa comarca
haja apenas um juízo, o qual exercerá toda a competência originária
pertinente à Justiça dos Estados (civil, penal e eleitoral, inclusive as
competências constitucionais da Justiça do Trabalho e Justiça Federal).
Diz-se que o juízo ou vara tem competência plena.

Comumente, há distribuição da atividade jurisdicional


perante juízos especializados, assim, varas cíveis, varas criminais, varas de
família e sucessões etc. Disso se denota que são variados os elementos da
demanda que se utiliza para determinação do juízo competente, podendo
ser aplicáveis todos os critérios: objetivo, funcional e territorial.

Na comarca de São Paulo, além de especialização de


varas, o seu território é dividido contendo grupo de juízos centrais, grupo
de juízos regionais e grupo de juízos distritais.

Originalmente, foram criadas as varas distritais (art. 24,


do Código Judiciário). Posteriormente, as varas distritais foram
denominadas de foros distritais, distinguindo-se, explicitamente, do foro
central (art. 53, da Resolução do TJSP nº 2, de 15.12.1976, autorizada pela
Lei federal nº 5.621, de 4.11.1970). Em seguida, a denominação foi
alterada para foros regionais, que remanesce até hoje (art. 1º, da Lei
estadual nº 3.947, de 8.12.1983).

É de todo criticável a legislação paulista, uma vez que


confunde juízo com foro. O próprio Código Judiciário do Estado estipula
que a comarca (foro) não poderá abranger menos de um município (art.
9º). A previsão da LOMAN que autoriza a criação dos distritos, é melhor
empregada quando se trata de varas distritais ou regionais e não foros
distritais ou regionais.

A palavra foro deve ser empregada, para órgãos de 1º


grau de jurisdição, exclusivamente, no sentido de definir a unidade
judiciária básica de divisão do território: comarca, seção judiciária, junta
eleitoral, auditoria militar etc.

Essa divisão é apenas para atribuição de atividade aos


juízos, pois, todos exercem jurisdição em toda a comarca, conforme a
regra do art. 236, do CPC, reproduzida no art. 53, I, da Res. nº 2/76.
Dentro da comarca de São Paulo, o juízo está dentro do limite territorial
de exercício de sua competência, dispensando-se as requisições por carta
para prática de atos judiciais (arts. 236 e 42, do CPC).
Nada obstante, o território da comarca de São Paulo é
dividido, de sorte que dentro do foro, quando a competência for
determinada pelo “domicílio, residência, situação do imóvel, local de fato
ou da prática de ato, e semelhantes, os foros regionais se consideram
distintos entre si e do foro central, não se admitindo competência
cumulativa entre o central e os regionais, nem entre esses” (art. 53, II,
Res. 2/76).

No fundo, a lei de organização judiciária do Estado de


São Paulo, para a comarca de São Paulo, dividiu-a territorialmente,
mediante atribuição de competência não cumulativa, ou seja,
competência absoluta de juízo.

Falamos em grupos de juízos pois cada foro, central ou


regional, é composto de juízos especializados (varas cíveis, criminais,
famílias e sucessões, infância e adolescente, juizado especial etc.).

Atualmente, há 13 foros regionais instalados e


funcionando, sendo que o da Nossa Senhora do Ó, instalado em
26.06.2007, e o Foro do Butantã são totalmente informatizados, havendo
uso exclusivo de processo digital sem o emprego de papel, já adaptado à
Lei nº 11.419, de 19.12.2006.
Em funcionamento há o foro distrital de Parelheiros,
com competência plena, excetuado o serviço das Execuções Criminais, na
forma do preceituado no art. 2º, da Lei Complementar Estadual nº 877, de
29.08.2000. Por força da Resolução nº 216/2005, foi suprimida a 1ª Vara
do Foro Distrital de Parelheiros, remanescendo, desde então, a Vara Única
com competência cumulativa.

Atendidos os elementos de ligação da causa com o foro


regional (art. 53, II, Res. 2/76), há uma limitação de sua competência
fixada pelo critério valor, cujo teto é de 500 salários-mínimos (art. 54, I, da
Res. 02/76, na redação da Res. 148, 24.09.2001).

Independentemente de valor, há um rol taxativo de


causas, cíveis e criminais, de competência dos foros regionais (art. 4º, I e
III, e, II, respectivamente, da Lei estadual nº 3.947/83, revogando o art. 54,
II e III, da Res. 02/76).

Em conclusão, para se determinar qual o juízo


competente na comarca de São Paulo, a primeira questão a ser resolvida é
saber se a demanda é de competência do foro distrital de Parelheiros
(competência dentro dos limites territoriais do distrito de Parelheiros). Em
caso positivo, resulta solucionado o problema relativo à determinação do
órgão jurisdicional competente.
Em caso negativo, é necessário determinar se a
competência é do foro central ou de um dos foros regionais.

Se os elementos de ligação da causa ao juízo resultarem


que é competente um dos foros regionais, segue-se outra indagação, cuja
resposta exige que se confira se:

(i) trata-se de causa pertencente aos juízos especializados das


Varas: da Fazenda Pública, de Acidentes de Trabalho, de
Execuções Fiscais, de Falências e Recuperações Judiciais,
Empresariais e de Conflitos relativos à Arbitragem (Res.
763/2016), de Registros Públicos (excepcionadas as disposições
do art. 54, I, ‘j’, da Res. TJSP 02/76 e art. 4º, I, ‘a’, da Lei nº
3.947/83); e, ainda do Ofício das Cartas Precatórias Cíveis,
sempre de competência do foro central;

(ii) a demanda tem como valor da causa importância superior a 500


salários-mínimos (art. 54, I, da Res. TJSP nº 02/76, na redação da
Res. TJSP nº 148, de 24.09.2001), e não consta do rol taxativo
das ações que não estão sujeitas a valor de alçada para
competência dos foros regionais (art. 54, II a V, da Res. TJSP nº
02/76 c.c. art. 4º, I e III, da Lei nº 3.947/83).
A competência será de um dos foros regionais se as
soluções dos itens (i) e (ii) forem negativas; em caso contrário, a despeito
do critério territorial apontar como competente um foro regional, a
competência para causa será dos juízos do foro central da comarca de São
Paulo.

No regime do CPC/73, alguns autores ainda


apresentavam uma outra questão a ser respondida para a efetiva
concretização da competência jurisdicional; aludiam a competência
interna do órgão jurisdicional.

No sistema do CPC, vimos que a competência interna é


contraposto das regras de competência internacional dos juízes
brasileiros.

Segundo esta suposta ‘competência interna’ fixar-se-ia


o juiz competente dentro do juízo.

Nada obstante, não haver correspondência com o


CPC/2015, defendíamos que a norma do art. 132, do CPC/73,
determinando que o juiz, titular ou substituto, que concluísse a audiência
deveria julgar a lide, salvo se estivesse convocado, licenciado, afastado,
promovido, aposentado, ou tiver falecido, não estaria diretamente
conectada com as normas de determinação de competência de órgão
jurisdicional. Elas derivam do princípio da oralidade e seus sub-princípios
da identidade física do juiz, da imediatidade e da concentração dos atos
processuais, pelos quais reputa-se que o juiz que colhe a prova oral deve
proferir a decisão sobre o litígio.
7. Ausência de Competência – Incompetência Absoluta ou

Relativa

Ao disciplinar as regras para determinação da


competência dos órgãos jurisdicionais, o legislador ora se baseia em
critério de interesse público, norteado pelo melhor exercício da função
jurisdicional, ora em critérios voltados a interesses privados, atendendo à
liberdade das partes e à sua comodidade no acesso à Justiça.

As regras que impõem critérios baseados em interesse


público são cogentes, imperativas e o seu descumprimento importa em
ausência absoluta de competência do órgão judicial. São referidas como
regras de incompetência absoluta.

De outro modo, as normas calcadas em critérios que


visam, primacialmente, atender os interesses das partes, são dispositivas,
acarretando incompetência relativa do órgão jurisdicional, quando
inobservadas.

Nesse sentido, o art. 62, do CPC, dispõe que a


competência em razão da matéria, da pessoa e da função é inderrogável
por convenção das partes. Todavia, as partes podem modificar a
competência em razão do valor e do território, elegendo foro (art. 63).
O CPC não disciplina o critério objetivo – condição das
pessoas em lide, para determinação da competência jurisdicional. O
critério é empregado pela Constituição Federal e nas leis de organização
judiciária, de sorte que sempre importam em competência absoluta.

Moacyr Amaral Santos apontando a lacuna do diploma


codificado (referência ao CPC/73 que, contudo, vale para o Código atual),
afirmava que a competência em razão das pessoas deveria ser abrangida
pela competência em razão da matéria, definida legalmente como
absoluta, haja vista que ambas são na técnica do CPC, determinadas
segundo o critério objetivo.74 O CPC/2015 aponta existir o critério em
razão da pessoa e de que o mesmo é inderrogável pela vontade das
partes, de sorte a ser reputado como definidor de competência absoluta.

7.1. Incompetência Absoluta

A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício


e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, preceitua o
art. 64, § 1º, do CPC.

74
Ob. cit., p. 251.
A competência do juízo (absoluta) é pressuposto
processual de validade da relação processual, de sorte que a sua violação
resulta em nulidade absoluta.75 Este vício do processo somente se
convalidará após o decurso do biênio decadencial para propositura de
ação rescisória, contado a partir do trânsito em julgado da decisão (art.
975, do CPC). Efetivamente, um dos fundamentos da ação rescisória é ter
sido a sentença proferida por juízo absolutamente incompetente (art. 966,
II, do CPC).

A incompetência absoluta é reconhecida como uma


objeção processual, matéria oponível como defesa processual, mas, que o
juiz pode conhecer de ofício, a qualquer tempo e grau de jurisdição,
independentemente de alegação pelo réu, (art. 337, II, e § 5º, do CPC).

Incidem, portanto, os princípios da economia


processual e da conservação dos atos processuais. Neste aspecto, o art.
64, §4º, do CPC, evoluindo em relação ao código revogado, dispõe que as
decisões proferidas por juízo incompetente conservam seus efeitos até, e
se for o caso, outra seja proferida pelo órgão competente.

75
Sobre o tema conferir, Nelson Rodrigues Netto, Breves Apontamentos sobre os Requisitos de
Admissibilidade para o Julgamento de Mérito. Prisma Jurídico, São Paulo: Uninove. Vol. 1, set/2002, p.
147-162.
No regime do novo CPC, a alegação da incompetência,
quer absoluta, quer relativa, por parte do réu é feita em preliminar da
contestação. Não existe mais exceção ritual.

7.2. Incompetência Relativa

Vimos que a incompetência relativa é atinente ao


território e ao valor, mas é com relação ao primeiro critério, dado que,
rigorosamente, é problema e não critério de solução de competência, que
ela surge com maior frequência.

A competência territorial corresponde a competência


de foro, sendo que a regra geral para a determinação do foro competente,
considera o sujeito passivo da relação processual e sua sede: domicílio do
demandado.

A incidência do art. 46, do CPC, é residual; inexistindo


regra de foro especial ou privilegiado, aquela determinará o foro
competente. Pois bem, a violação da regra geral de foro, bem como das
normas especiais e vice-versa, resultam em incompetência relativa do
órgão judiciário.
No CPC/73, o único meio idôneo para se insurgir contra
a incompetência relativa era o oferecimento da exceção processual ritual
declinatória de foro e juízo (exceptio declinatori fori – art. 112, do CPC), de
modo que o juiz não poderia reconhecê-la de ofício (art. 114, do CPC).
Atualmente, a incompetência, seja relativa, seja absoluta, quando inicial,
deve ser alegada pelo réu em preliminar de contestação (art. 337, II).

Entretanto, a Lei nº 11.280, de 17.02.2006, alterou o p.


único do art. 112, do CPC/73, e, em virtude de tal alteração adaptou o art.
114, que passaram a ter as seguintes redações:

“Art. 112. ..................................................................


Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em
contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que
declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.”
..................................................................
“Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na
forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser
exceção declinatória nos casos e prazos legais.”

Na verdade, a norma visa proteger a isonomia das


partes no processo, de modo que deverá ser declarada de ofício a
nulidade de cláusula de eleição de foro estabelecida em contrato de
adesão que possa prejudicar o direito de defesa do réu.
Esta prática tem sido reiterado no foro, com o
apanágio do Superior Tribunal de Justiça, notadamente, em contratos
consumeristas, com base nos arts. 6º, VIII e 51, XV, do Código de Defesa
do Consumidor.

Rigorosamente, não há incompetência ou


prorrogação de competência, mas a declaração de nulidade de cláusula
contratual que reflete no plano processual. Não há, assim, contradição
com a Súmula 33, do STJ: “A incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício”.

Na mesma esteira, o CPC/2015 prescreve no art. 63,


§3º, que antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva,
pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a
remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. Assim, o juiz
deverá controlar a nulidade de cláusula contratual relativa a eleição de
foro.

Ocorre que não declarada a nulidade, o réu tem o


ônus processual de alegar a nulidade, sob pena de preclusão temporal e
prorrogação da competência, conforme o §4º, do art. 63: “Citado,
incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na
contestação, sob pena de preclusão”.

Outro ponto semelhante ao que ocorria com o art.


305, p. único, do CPC/73, com a redação da Lei nº 11.280/06, poderá o
réu protocolizar a contestação no foro de seu domicílio, quando alegar
incompetência absoluta ou relativa do juízo (art. 340, CPC/2015). Até a
resolução da questão, fica suspensa a realização da audiência de
conciliação ou mediação, se já marcada (art. 340, §3º).

Cabe destacar que a incompetência relativa é sempre


inicial, mas, a interpretação deve ser lógica, tanto que no processo de
execução, fundado em título extrajudicial, o demandado, ao opor seus
embargos poderá argui-la (art. 917, V, do CPC).

O novo CPC aboliu a dualidade de procedimentos para


arguição de incompetência, entre absoluta e relativa, extinguindo a
exceção ritual para alegação da incompetência relativa, de sorte que, o
juiz apenas ouvirá a parte contrária e decidirá imediatamente, sem
suspensão do processo, remetendo-se os autos ao juízo competente (art.
64, §§ 2º e 3º).
8. Prevenção – Conexão e Continência

8.1. Prevenção

Conceitua-se a prevenção como sendo o resultado de


um ato jurídico realizado no processo, a que a lei empresta a relevância de
ligar uma causa a um dado órgão (concretamente, competente), dentre
diversos competentes (abstratamente competentes), isto é, já tidos como
competentes à luz da aplicação dos critérios de determinação de
competência.

É pressuposto da prevenção a existência de mais de um


juízo (órgão do judiciário) com igual competência, no plano abstrato.

A prevenção não é critério de determinação de


competência, mas de fixação de competência.

A lei dispõe de modos diferentes em se tratando de


órgãos jurisdicionais com mesma competência territorial, ou seja,
localizados dentro do mesmo foro, ou, com competência territorial
diversa, por estarem localizados em foros diferentes.
Considera-se prevento o juízo onde tiver sido registrada
ou distribuída a petição inicial (art. 59, do CPC).

O novo CPC acabou com a dualidade de regras do


CPC/73, que estabelecia modos diferentes de prevenção em se tratando
de órgãos jurisdicionais com mesma competência territorial, ou seja,
localizados dentro do mesmo foro, ou, com competência territorial
diversa, por estarem localizados em foros diferentes (revogados arts. 106
e 219).

Quando a regra de determinação de competência


considerar o local do imóvel (forum rei sitae), e este se achar situado em
mais de um Estado ou comarca, a fixação do juízo, foro e Justiça do Estado
competentes (imóvel situado no território de mais de um Estado), se dará
pela prevenção (art. 60, do CPC).

O juízo prevento para uma demanda, exerce força


atrativa para outras causas que com aquela sejam conexas ou continentes
(art. 58, do CPC).
8.2. Conexão e Continência

A conexão e a continência são institutos processuais


que determinam a reunião de duas ou mais ações quando elas possuírem
entre si elementos idênticos ou semelhantes que justifiquem seu
processamento e julgamento conjuntos.

A conexão propicia estabelecer se uma causa está


ligada à outra (ou outras) com uma dada intensidade que, a decisão da
primeira possa influenciar na decisão da segunda (ou das demais).

Há um motivo de interesse público que justifica a


conexão de ações: evitar a contradição de julgados; e outro de interesse
privado: economia processual, possibilitando processamento conjunto das
causas conexas, com produção de provas em procedimento único e
julgamento conjunto.76

Obviamente, se uma das ações conexas já tiver sido


julgada, já não mais se justifica a sua reunião, posto que se torna
impossível procurar evitar a eventual contradição dos julgados, tampouco
existindo economia processual (Súmula nº 235, do STJ). A interpretação

76
Cf. Moacyr Amaral Santos, ob. cit., p. 258.
do Egrégio Superior Tribunal de Justiça agora está estampada no art. 55,
§1º, CPC/2015.

A conexão e a continência são fatores que provocam a


modificação (prorrogação da competência de um dado órgão judicial),
quando esta for determinada com base em critério objetivo de valor ou
territorial (art. 54, do CPC), hipóteses, portanto, de competência relativa.

Não se trata, destarte, de critérios determinativos de


competência. Costuma-se afirmar que são elementos de prorrogação legal
de competência, ao contrário da eleição de foro e omissão em arguir a
incompetência relativa, as quais seriam espécies de prorrogação
voluntária de competência.

Em se tratando de competência absoluta não incide o


instituto, como por exemplo, uma ação perante a Justiça do Trabalho e
outra perante a Justiça comum. Todavia, nessas hipóteses, é possível a
suspensão do processo, na forma do art. 265, IV, ‘a’, do CPC (hipótese
conhecida como de suspensão por prejudicialidade externa).

Difere o exemplo tratado, onde há diversidade de


Justiças e, portanto, competência absoluta decorrente do critério
material, de uma situação, onde há causas conexas, sendo que um dos
juízos tem competência absoluta e outro juízo competência relativa para
as demandas, respectivamente. Nesse caso, não há óbice à prorrogação
da competência do juízo absolutamente competente para conhecer da
outra demanda, caso em que a prorrogação da competência relativa
deverá ser estabelecida em virtude da prevenção do juízo absolutamente
competente. Caso contrário, impossível se torna a reunião das ações
perante o juízo que detinha competência relativa para uma das ações,
sendo absolutamente incompetente para a outra. Neste último sentido, as
normas contidas no art. 45, §§1º e 2º, do CPC/2015.

O liame entre as demandas que justifica a conexão ou a


continência tem de ser apreciado a partir dos elementos da ação,
apontados na clássica teoria da tríplice identidade (tria eadem) de
Chiovenda: partes, pedido e causa de pedir.77

Há intensa discussão sobre o conceito de conexão entre


os autores modernos e clássicos, nacionais e estrangeiros, sendo certo
que o CPC procurou atenuar o problema ao definir a conexão em seu art.
55, e a continência no art. 56.

Considerando os elementos da ação, duas causas são


conexas quando apenas um deles for comum: objeto (pedido) ou a causa

77
Cf. Instituições de direito processual civil, v. I, pp. 63/4 e 489/510.
de pedir (art. 54, do CPC). O legislador considerou que o elemento partes
é por demasiado tênue a justificar a reunião das ações.78

A conexão, neste passo, é estudada apenas no que diz


respeito ao tema da competência, haja vista que ela é de grande relevo
em outros capítulos do direito processual, como na cumulação de
pedidos, litisconsórcio facultativo, reconvenção, etc.

Para fins de litispendência e coisa julgada exige-se que


a causa de pedir (próxima e remota) sejam idênticas. Todavia, para a
conexão, basta que a causa de pedir remota, ou seja, os fatos jurídicos
sejam iguais.79

O novo CPC esclarece que são hipóteses de conexão: (i)


a execução de título extrajudicial e a ação de conhecimento relativa ao
mesmo ato jurídico; e, (ii) às execuções fundadas no mesmo título
executivo; posto possuírem o mesmo fundamento jurídico (art. 55, §2º).

78
Explicitamente, Moacyr Amaral Santos, ob. cit., p. 259; Marcus Vinicius Rios Gonçalves, ob. cit., p.
76; Ernane Fidélis dos Santos, ob. cit., p. 162. Em sentido contrário, entendendo que houve lapso do
legislador, Marcelo Abelha Rodrigues, ob. cit., p. 212.
79
Cf. Humberto Theodoro Júnior, ob. cit., p. 169; Vicente Greco Filho, ob. cit., p. 209.
Outra novidade muito oportuna do CPC/2015 que não
se trata propriamente de conexão, mas antes, de sua ratio iuris – evitar o
risco de decisões conflitantes ou contraditórias - está capitulado no §3º,
do art. 55:

“§3o. Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que


possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão
entre eles.”

Como mencionado por Cassio Scarpinella Bueno80, o


dispositivo vem atender hipóteses de causas fundadas em direitos
individuais homogêneos (art. 81, III, do Código do Consumidor), os quais
tem origem comum (v.g. uma lesão que atingem diversos sujeitos). O
dispositivo terá boa aplicação combinado com a previsão do art. 139, X, do
CPC, na avalição do cabimento e a propositura de ações coletivas pelos
legitimados ativos.

A continência é mais exigente pois devem ser idênticas


as partes, a causa de pedir, e o pedido de uma das ações, por ser mais
amplo, abrange as demais (art. 56, do CPC).

80
Novo Código de Processo Civil Anotado, comentário ao art. 55.
A hipótese de surgimento posterior da chamada ‘ação
menor’ em relação à “ação maior”, ou seja, aquela cujo objeto já está
abrangido em outra ação, não se refere à continência. Na verdade há
litispendência pois, a 2ª ação (menor) está integralmente decalcada na 1ª
ação (maior) que, por isso, contém objeto mais abrangente.

De tal forma, o art. 57, do CPC/2015 esclarece que a


haverá sentença sem resolução de mérito se a ação contida for proposta
depois da ação continente.

A continência, portanto, somente ocorrerá quando uma


ação for proposta posteriormente à outra pendente, contendo as mesmas
partes, mesma causa de pedir, mas, o pedido da subseqüente, por ser
mais, amplo abranger a da antecedente. Exemplo se dá na cobrança de
juros, derivado de contrato de mútuo, formulado em 1ª ação, e, na 2ª
ação, o autor pleiteia o pagamento do principal da dívida, sobre o qual
estariam incluídos os juros (art. 322, §1º, do CPC).

A continência é muito criticada por se tratar de


instituto inócuo, uma vez que antes de serem continentes, duas ou mais
causas, serão conexas, de sorte que a reunião delas já estaria solucionada.
O art. 58, do CPC, dispõe que a reunião das ações
propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas
simultaneamente.

O órgão competente para as causas conexas ou


continentes, como reiterado, é fixado pela prevenção.

A conexão, sob a ótica da resposta do réu, é uma


objeção processual, podendo ser conhecida de oficio pelo juiz (art. 337,
VIII e §5º,do CPC).

Há grande divergência doutrinária sobre se a reunião


dos processos, havendo conexão, é dever do juiz ou se se trataria de uma
prerrogativa.81 O Superior Tribunal de Justiça, em mais de uma
oportunidade, decidiu que cabe ao juiz avaliar da gravidade da
contradição e conveniência da reunião dos processos (Ag. nº 58.184-5/SP;
Resp. nº 15.540-0/SP; Resp. 5.270-SP).

81
No sentido de que é obrigatória, Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 505; Marcelo Abelha Rodrigues, ob.
cit., p. 208. No sentido de que ao juiz compete verificar da possibilidade de contradições ou de economia
processual, Arruda Alvim, ob. cit., p. 370/1; Marcus Vinicius Rios Gonçalves, ob. cit., p. 78; Ernane
Fidélis dos Santos, ob. cit., p. 164.
9. Perpetuatio Jurisdictionis

O art. 43, do CPC, determina que a competência é


fixada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial,
havendo a cristalização dos elementos de fato e de direito da demanda, os
quais podem se alterar no curso do procedimento, sem alteração do juízo
competente.

Há ressalva apenas, quando houver a supressão do


órgão jurisdicional ou a alteração da competência absoluta, quando pode
haver caso de incompetência superveniente.

Desse modo o desmembramento de comarca, que


implica em alteração do forum rei sitae provoca a alteração do foro
competente (Resp. nº 150.902-PR).

No mesmo sentido, a Súmula nº 10 do STJ: “Instalada a


Junta de Conciliação e Julgamento, cessa a competência do juiz de direito
em matéria trabalhista, inclusive para a execução das sentenças por ele
proferidas”.
10. Conflito de competência

Em se tratando de competência absoluta, o juízo


deverá examiná-la de ofício. Verificando ser absolutamente incompetente
o juízo deverá remeter os autos ao foro e juízo competentes (art. 64, §1º,
do CPC).

Havendo discrepância entre dois ou mais juízos, ambos


reputando-se competentes para a causa, surge o conflito positivo de
competência (art. 66, I, do CPC).

Por outro lado, quando dois ou mais juízos se


consideram incompetentes para a causa, surge o conflito negativo de
competência (art. 66, II, do CPC).

Em ambas as hipóteses, há uma divergência com


relação a apenas uma ação.

Não existe uma terceira hipótese, sendo que a previsão


do inciso III, do art. 66, é subsumível nos referidos incisos I e II, ou seja,
conflitos positivo ou negativo de competência. A única diferença é que se
trata de situação onde há mais de um processo, perante mais de um juízo,
havendo divergência entre eles sobre a existência ou não de conexão que
justifique a reunião ou a separação dos processos.

Por exemplo: haverá conflito negativo quando um juízo


ao receber uma ação ‘b’, supostamente conexa com outra ação ‘a’, em
trâmite em sua vara, afirma-se incompetente para a ação ‘b’ e remete a
outro juízo que, igualmente, se diz incompetente para a ação ‘b’; de outra
parte, haverá conflito positivo, quando o juízo perante o qual tramita a
ação ‘a’, afirma-se competente para a ação ‘b’, a este distribuída por
dependência, em razão de conexão, e outro juízo se apresenta como
competente para essa ação ‘b’, requerendo que a ele sejam remetidos os
respectivos autos.

Além do controle oficial, estão expressamente


autorizados a suscitar o conflito de competência, as partes e o órgão do
Ministério Público, o qual deverá, ademais, ser ouvido em todos os
conflitos (art. 951, do CPC).

O réu (ou o representante do Ministério Público) que


arguiu incompetência relativa não pode suscitar o conflito de
competência, uma vez que já se insurgiu quanto a incompetência do juízo,
o que resulta em preclusão consumativa (art. 952, do CPC). Não o tendo
feito, poderá arguir a incompetência, enquanto não julgado o conflito de
competência e desde que o mesmo não tenha suspendido o curso do
processo (arts. 952, p. único e 955, do CPC).82

O conflito é suscitado perante o Tribunal, mediante


ofício do juiz ou, mediante petição das partes ou, do órgão do Ministério
Público, instruídos com os documentos necessários à sua prova (art. 953,
do CPC).

Quando o incidente for suscitado pelas partes ou MP, o


relator, mandará ouvir os juízes em conflito. A lei diz, ainda, que o relator
poderá ouvir apenas o suscitado, quando um dos juízes tiver instaurado o
incidente (art. 954, do CPC). O STJ já decidiu que abertura de prazo para
oitiva dos juízes pode ser dispensada, se já existirem elementos de
convicção deles nos autos (CC nº 403-0/BA).

O relator deverá suspender o processo, em caso de


conflito positivo, e em ambos os casos nomear um dos juízes para
resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes (art. 955, do CPC).
Não há suspensão do processo no conflito negativo, pois que ambos os
juízos afirmam-se incompetentes, não estando praticando qualquer ato
processual.

82
Cf. Nelson e Rosa Nery, ob. cit., p. 519.
O MP deverá ser ouvido em 5 dias, em seguida o
conflito será apresentado em sessão de julgamento.

O relator poderá decidir de plano o conflito de


competência quando sua decisão se fundar: (i) - súmula do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; e,
(ii) tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de
assunção de competência.

O Tribunal deverá decidir o conflito, indicando o juízo


competente e remetendo-lhe os autos do processo, além de decidir sobre
a validade dos atos praticados pelo juízo incompetente (art. 957, do CPC).

O conflito entre órgãos fracionários dos Tribunais


deverá observar o procedimento previsto nos respectivos regimentos
internos (art. 958, do CPC).

O STF tem competência originária para dirimir conflitos


de competência entre: (i) o STJ e quaisquer tribunais; (ii) entre Tribunais
Superiores; e, (iii) entre Tribunais Superiores e quaisquer outros Tribunais
(art. 102, I, ‘o’, da C.F.).
O STJ tem competência originária, ressalvada a
competência do STF, para dirimir conflitos de competência entre: (i) entre
quaisquer tribunais; (ii) entre Tribunal e juiz a ele não vinculado; e, (iii)
juízes vinculados a Tribunais diversos (art. 105, I, ‘d’, da C.F.).

Anda mungkin juga menyukai