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A editora SENAC trouxe, no final do ano passado, a mais recente obra de Arlindo Machado: A Televisio levada a sério. Titulo um tanto preten- sioso, jd que parece indicar a falta de trabalhos realmente sérios sobre a TV no Brasil. Nela encontramos os ensaios do professor do Departamento de Cinema, Radio e Televisio da ECA/USP, reunindo sua co- nhecida preocupacao em fazer © inventario e analise de vasto material iconogréfico que sirva de referéncia para estudantes da drea de televisio, referén- cias que colocariam os estudos sobre a produgao televisiva entre os temas legitimos de serem trabalhados — "seri- amente’. E impossivel nao reconhe- cer a verdadeira luta simbélica que Machado trava para incluir este tipo de estudo entre os considerados "sérios" para o mundo académico e para os intelectuais em geral (excluin- do aqueles que vém da Semistica e que nao precisari- am desse tipo de alerta ao que parece). Trata-se da construcao de uma “hist6ria", na forma de A TELEVISAO LEVADA A SERIO Autor: Arlindo Machado Editora SENAC SP, 2000 um inventério de programas de "qualidade" feitos diretamente para a TV (na verdade, no decorrer da obra, 0 autor se preocupa com os novos ambientes midiaticos), um “repert6rio fundamental", que possa servir de “referéncia" sobre a possibilidade de se re lizar intervengdes_ originais nesse tipo de midia As palavras estao entre aspas porque envolvem proble- mas semanticos. importantes Machado lembra pelo menos sete definicdes encontradas pa- rao termo qualidade e parece indicar um tratamento plural para a questao, adotando-as sem delimitagGes extremamen- te rigidas e excludentes Prefere o termo "referéncia’, sujeito a reavaliagdes @ a ten- sdes e mais flexivel que a nocao de "cdnone’. Mesmo quem nao conhece outras obras de Machado vai perceber a énfase que confere as essas intervencGes, uma vez que acredita que a televisao é aquilo que fazemos dela. & no- téria a sua opiniao de que a maioria das criticas destinadas a esse meio levam ao confor- Resenha mismo e & negacao da televisio em bloco, como algo homogé- neo. Sua principal critica aos estudos sobre televisio 6 que poucos trabalhos tém se con- centrado em uma questéo fun- damental que é a da anélise dos programas. A maioria dos trabalhos a aborda de uma maneira abstrata como meio Argumenta que o que acontece com a TV nao é diferente daquilo que acontece com a literatura, © cinema, a misica. Denuncia 0 preconceito. Na verdade, aponta como uma caracteristica da TV 0 fato de que mesmo oferecendo um produto "elitizado" ele sempre aleangaré um pablico imenso para os padrdes de outras midias (0 que ocorre também com os programas de baixa qualidade que produz e que alcangam um piblico gigan- tesco), As referéncias aparecem a todo momento: Columbo, Bo- nanza, The Outer Limits, Comédia da Vida Privada, Malu Mulher. A partir delas, 0 autor chega a construir algo parecido com (trés) tipos ideais (no sen- Resenha tido weberiano) de narrativas seriadas, procurando mostrar a dificuldade de se estabelecer uma classificagao rigida desses géneros narrativos e de sua originalidade. A critica mais pesada fica para intelectuais como Virilio € Bourdieu no momento em que discutem a questao da veloci- dade da producao televisiva e a sua incompatibilidade com qualquer reflexio séria sobre questdes que nao se enquadrem ala. Ao concentrar-se nas for- mas de transmissdo ao vivo, na forma de telejornais, programas de entrevistas e outros, tenta mostrar que 6 justamente a velocidade desse tipo de trans- missdo que dificulta as diversas formas de manipulagdo. Ao contrério do cinema onde ha um intervalo entre a tomada das cenas, 0 tempo da correcao dos Yerros' e a sua finalizacao, a TV 20 vivo 6 um espaco de in- certeza e vive dessa instabili- dade nas suas formas de con- trole. Machado sugere a explo- ragdo da_verdadeira_polifonia que pode ser alcancada na transmissao ao vivo. E preciso lembrar, entretan- to, que a velocidade impede também a verificacao adequada das fontes e dos dados em nome das manchetes-furos e que erros gravissimos j4 foram cometidos pelas circunstancias em que sao produzidas as noti- cias. Parece haver algo de exagero. nessa apologia da transmissao ao vivo, embora reconheca que ela tem um a potencial nem sempre con- trolavel pelos que a produzem. Vale a pena dar uma olhada em A Arte do Video onde o autor aparentava ter uma visio mais critica sobre o tema, Da misica erudita e exp rimental & musica pop traga as tentativas de construcao de uma misica visual, ou melhor, a visualizagao da _misica (uma experiéncia sinestésica). Com suas intimeras _referéncias, aponta as mais diversas realiza- Ges nese campo, procurando encontrar a particularidade de suas contribuigdes (as apresen- tagdes de Glen Gould, os videoclipes feitos para ou por R.E.M., Laurie Anderson, Rage Against the Machine, Amaldo Antunes, David Byrne). A despeito das criticas que véem nos videos a velocidade a fragmentagio Machado procura encontrar neles a formacao de uma nova visualidade, sem a prisio a uma concepgao figurativa e linear, excessiva, permitindo novas formas de leituras. Identifica em mésicos como Arnaldo Antunes € Laurie Anderson, exemplos de com- positores e realizadores em video, gerando uma sintese que € necessariamente original como linguagem. Das artes grificas, dos créditos de obras cinematogrs- ficas a0 logo de emissoras de TV, destaca a riqueza do design encontrado em circunstancias mais banais do cotidiano e do nosso contato com as midias Esta visualidade envolve também 0 poema, a criagao poética em novos suportes, novos ambientes, onde o que se destaca é 0 movimento, o deslocamento da palavra (des- locamento na tela, desapare- cendo na forma de fade out) passagem ou fusdo do som para a palavra ou a sua represen- tacao simultanea, fragmentada, explorando a linguagem nao apenas para fins de comuni- cagdo, mas a sua tensio, sua instabilidade, suas miltiplas leituras. Machado entende que © poeta nao pode ignorar a pos- sibilidade de explorar 0s recur- sos midiaticos e digitais exis- tentes em busca de uma "poesia midiatica plena’. Destaca as experiéncias iniciais de Augusto © Haroldo de Campos, Décio Pignatari e a sua traducao para ambiente digital na forma de hiperpoemas (explorando 0 hipertexto), iniopoemas, holo- poemas, etc. Apesar do prego um pouco salgado para os bolsos tupini- quins, 0 leitor vai sentir a ten- tagdo de incluir suas referéncias esse repertério, de encontrar as que nao conhece e de ter 0 contato com um conjunto de preocupagdes que ja vém acompanhando © autor em varias de suas obras, como a Arte do Video e Maquina e Imaginario. Resenha elaborada por Liraucio Girardi Junior Professor do IMES e Fundacao Casper Libero

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