Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro
CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Presidente
Governo do Estado
Ricardo Vieira Coutinho
Governador
Assessora de EAD
Cecília Queiroz
D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil
aula
01
Fo_Te_A01_ML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:40
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
P
rezado(a) aluno(a) iniciamos aqui nossos estudos sobre a disciplina intitulada Formação
Territorial do Brasil. Vamos discutir como o país no qual moramos e pelo qual temos o
sentimento de pertencimento e, portanto, de identidade, foi sendo construído ao longo
dos mais de 500 anos de sua história.
Partiremos, assim, da desmistificação que envolve o território nacional como se fosse uma
dádiva natural, como se realmente o Brasil já tivesse surgido “gigante pela própria natureza”,
com suas fronteiras definidas, tais como hoje se apresentam.
Na verdade, a dimensão continental do Brasil foi fruto de processo complexo que
envolveu conflitos e anexações territoriais e não um presente da natureza para o seu povo. As
delimitações de suas fronteiras é o resultado de um longo processo histórico que só adquiriu
os contornos atuais no século XX, com os acordos firmados pela diplomacia brasileira, que
teve à frente o Barão do Rio Branco.
Esperamos que no transcorrer das doze aulas que totalizam esta disciplina vocês não
acumulem dúvidas, façam leituras atenciosas e realizem todas as atividades. Todo este seu
empenho são pré-requisitos importantes para uma boa aprendizagem e o seu sucesso na disciplina.
Lembramos ainda que você não está sozinho nesta empreitada, pois você pode e deve
contar com a ajuda de tutores e professores sempre que precisarem de algum esclarecimento.
E não esqueça que por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), você pode manter
contato e participar dos fóruns para ampliar e aprofundas as discussões sobre os assuntos
estudados nesta disciplina.
A sua aprendizagem e o seu sucesso foi o eixo norteador para a elaboração de nossas
aulas, as quais tivemos o máximo de carinho e de dedicação quando escrevemos cada texto
e elaboramos cada atividade, com o intuito de tornar a leitura agradável e com o máximo de
aproveitamento. Nosso alvo foi exclusivamente você. Nossa meta é dar-lhe uma formação
concisa e torná-lo(la) um profissional capacitado. Sucesso!
Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:
N
esta primeira aula, antes de iniciarmos discutindo os processos econômicos,
políticos, culturais e sociais responsáveis pelas definições de nossas fronteiras,
Atenção achamos mais conveniente partir do conceito de território, que é uma das categorias
Todos os termos de de análise da Geografia.
glossário destacados
nas p. 2, deverão ser A Geografia distingue-se de outras ciências sociais pela forma como estuda a sociedade.
consultados na p.15.
Seus estudos se centralizam na relação que as sociedades estabelecem entre si e com a
natureza, ou seja, através de sua organização espacial.
Considerando o objetivo de nossa disciplina vamos nos ater a categoria Território, porém
deixando claro que todas as demais categorias de análise geográfica guardam forte relação e
uma quase inseparabilidade entre si.
Não podemos esquecer que no território nacional, outros territórios também se fazem
presentes, muitas vezes, com territorialidades móveis em periodicidades cíclicas. Os
centros urbanos, sobretudo, das grandes metrópoles apresentam uma complexa rede de
territorialidades, como o das gangues, do crime organizado, das prostitutas, dos camelôs,
dos “flanelinhas” etc., as quais, embora sejam um importante objeto do estudo da Geografia,
não serão enfocadas em nossas conversas nesta disciplina.
a) Quais são os países com os quais o Brasil faz fronteira e quais os países, que
mesmo situados na América do Sul, não se limitam com o Brasil?
No campo das Ciências Naturais, o território é definido como uma área de influência e
Espaço vital
domínio de uma espécie animal, que exerce o domínio da mesma de forma mais intensa no
centro e que perde esta intensidade ao se aproximar da periferia, onde passa a concorrer com Teoria formulada pelo
geógrafo Friedrich Ratzel
o domínio de outras espécies. Esse conceito é muito usado nos estudos dos biólogos.
com vistas na expansão
do território Alemão. Diz
Nas Ciências Sociais, o conceito de território se caracteriza pela polissemia. Contudo,
respeito ao espaço onde
a multiplicidade dos conceitos nesse campo de investigação cientifica se enquadra em duas as necessidades, relativas
grandes vertentes interpretativas ou concepções de território: a concepção naturalista e a à dominação territorial,
recursos minerais, etc.,
concepção etnocêntrica.
desse povo seriam
realizadas.
A concepção naturalista aborda o território num sentido físico, natural, como algo inerente
ao próprio homem, quase como se ele fosse uma continuidade do seu ser, como se o homem
tivesse uma raiz na terra – o que seria justificado, sobretudo, pela necessidade do território,
Ratzel
de recursos, para a sua sobrevivência biológica. Esta visão levou muitos a defender a tese de
que teríamos uma “impulsão inata” para a conquista de territórios, e que o crescimento de Refere-se ao geógrafo e
etnógrafo alemão Friedrich
uma civilização, de seu “espaço vital”, como se expressou Ratzel em certo momento de sua Ratzel, considerado o
obra, estaria diretamente relacionado à expansão territorial. pai do determinismo
geográfico e importante
Outra variante da interpretação naturalista do território é a que se relaciona aos campos sistematizador da ciência
dos sentidos e da sensibilidade humana. Estes, segundo esta concepção, seriam moldados geográfica.
Na tradicional Geografia Política, Sousa (1995, p. 84) mostra que o conceito de território
surge como um espaço concreto, com seus atributos sociais e naturais apropriados por um
grupo social. Desde a gênese da Geografia como ciência, no século XIX, até recentemente,
o conceito de território esteve restrito aos limites do Estado-Nação, confundindo-se, assim,
com o território nacional.
Vamos refletir sobre as questões territoriais antes da existência dos países que
hoje compõem as Américas.
Leituras complementares
Sugerimos como leituras fundamentais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre o conceito de território nesta aula:
O autor aborda em capítulo da obra organizada por Milton Santos, Maria Adélia de
Souza e Maria Laura Silveira, entre outras questões relativas à temática da nossa primeira
aula, o conceito de território nas Ciências Naturais e nas Ciências Sociais, especialmente
na Geografia. Além disso, faz uma profícua análise sobre questões territoriais no Brasil em
tempos de globalização.
Este geógrafo, entre temas, conceitos e teorias das Ciências Sociais e da Geografia em
particular, aborda, nesta obra, as concepções naturalista e etnocêntrica do território.
O autor, nesta obra longa e profunda, entre tantas questões atuais relativas ao território,
analisa o seu conceito em diversas perspectivas: materialistas, idealistas, integradora e na
visão relacional em Sack e Raffestin.
SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento.
In: CASTRO, Iná E. de; COSTA, Paulo César da C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos
e temas. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p.77-116.
Em capítulo dessa obra que aborda conceitos e temas (em diversas escalas) da geografia,
o autor trata do conceito de território na Geografia e defende que existem territórios em diversas
escalas espaciais e temporais.
Sugerimos ainda o filme “Dança com lobos” produzido e estrelado por Kevin Costner, que
mostra o avanço das fronteiras estadunidense para o oeste sobre as terras indígenas, processo
conflituoso de expansão territorial dos Estados Unidos da América, no qual os colonizadores se
territorializaram em detrimento da desterritorialização dos povos nativos. Além da problemática
territorial o filme tem uma rica abordagem cultural.
Ficha Técnica
Título Original: Dance With Wolves
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 180 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1990
Estúdio: Majestic Film / Tig Productions
Distribuição: MGM / Orion Pictures Corporation
Direção: Kevin Costner
Informações Técnicas
Título Original: Guerra de Canudos
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 169 minutos
Ano de Lançamento: 1997
Estúdio/Distrib.:
Direção: Sérgio Rezende
Autoavaliação
A partir dos comentários que faremos a seguir, teça seus comentários sobre as questões
que seguem as quais ajudarão você a avaliar sua aprendizagem e identificar os pontos que
precisam ser melhorados.
Observe nos mapas apresentados que o Alasca pertence aos Estados Unidos, embora
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Territorialidades, desterritorialidades, novas territorialidades:
os limites do poder nacional e do poder local. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. de; SILVEIRA, M.
L.Território, globalização e fragmentação. 2 ed. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1996, p. 213-220.
FARIAS, Paulo Sérgio Cunha. A Alfabetização Geografia em Questão: relfexões sobre a formação
docente para o ensino de geografia nos anos iniciais do ensino funtamental. In: ______. e Leal,
Fernanda de Lourdes Almeida (organizadores). A Formação do Professor em Foco: interfaces
entre saberes e fazeres. Campina Grande: EDUFCG, 2007. p 164-250.
HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. Niterói: EdUFF; São Paulo: Contexto, 2002.
SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento.
In: CASTRO, Iná E. de. COSTA, Paulo César da C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos
e temas. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 77-116.
Souza Neto, Manoel F. de. Aprendendo a pensar Geografia: a construção dos conceitos no
ensino fundamental. In: Formação continuada de professores da rede pública. Fortaleza:
Universidade Aberta do Nordeste, s.d.
Fronteiras Paisagem
São limites entre duas partes distintas. As É um espaço delimitado pelo alcance visual, no qual
fronteiras definem os limites nos quais um Estado podem estar presentes objetos tanto naturais como
ou território pode exercer sua relação de poder. culturais elaborados em momentos históricos
diversos.
Categoria de Análise
Lugar
São conceitos próprios de cada disciplina que
embasam os seus estudos. É o espaço vivido e percebido, que se define pelo
afeto e identidade do indivíduo para o aquela parcela
Espaço do espaço com a qual mantém forte identidade de
pertencimento.
O espaço é um termo com muitos significados,
mesmo na Geografia, porém dentre as muitas
conceituações, vamos entender o Espaço
Estado-nação
Geográfico como um produto histórico das ações É o Estado moderno, que surge na Europa com
da sociedade na sua inter-relação com o meio. o fim do feudalismo para atender aos interesses
O Espaço geográfico é formado pelos objetos da nobreza e da burguesia. Trata-se de uma
(naturais ou culturais), mas também pelas ações tentativa de homogeneização histórico-culatural de
da sociedade agindo sobre estes objetos. populações, que foram reunidas sob o comando
centralizador de um monarca, em um mesmo
Território território. Tem como principais características
à formação das monarquias absolutistas, com
É um espaço delimitado por um grupo social que centralização político-administrativa, criação de
exerce sobre este espaço uma relação de poder. exércitos permanentes e regulamentação e controle
das práticas mercantilistas pelo Estado.
Região
São relações de proporções que se estabelecem Observa Souza (1995, p. 81) que os territórios
na mensuração de diferentes eventos. Na são construídos e desconstruídos deste a escala
geografia a escala vai além do simples acanhada (exemplo a rua) à escala internacional
estabelecimento da relação entre distâncias reais (exemplo dos conjunto de países-membros da
e sua representações como ocorre na cartografia. OTAN) que são escalas espaciais que vão dos
Diz também da relação de aprofundamento e micro aos macro espaços. Na escala temporal
detalhamento dos fenômenos. esses território podem ter a duração de séculos
(exemplo do Império Romano), décadas (a
existência do muro de Berlim que dividia esta
cidade), anos (a cidadela de Canudos construída
Globalização por Antônio Conselheiro), meses ou dias (os
territórios das diferentes classes sociais no Parque
Refere-se ao atual estágio do capitalismo, no
do Povo durante as festas juninas na cidade de
qual há uma forte interdependência econômica
Campina Grande-PB).
entre os países e uma imensa inter-relação
sócio-cultural entre os povos, propiciadas pela
instantaneidade
da informação.
Políticas neoliberais
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
aula
02
Fo_Te_A02_VMIML_050710.indd Capa1 08/07/10 11:42
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
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expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
N
a aula anterior tivemos oportunidade de discutir rapidamente com você que o atual
território brasileiro não foi uma dádiva dada pela natureza ao colonizador português e,
posteriormente, repassado ao povo brasileiro. Não se pode também afirmar que nosso
atual território é unicamente uma herança deixada pela colonização portuguesa à jovem nação
brasileira nascida com a independência em 1822.
Nesta aula, vamos nos reportar as condições materiais e imateriais que afirmaram o
mercantilismo na Europa, especialmente em Portugal, bem como a expansão geográfica dessa
primeira forma de concreção do capitalismo como modo de produção que, conseqüentemente,
encampou outros territórios além do europeu aos seus circuitos de produção e trocas, inclusive a
América e, particularmente, o Brasil.
Deste modo, é importante que você estude cuidadosamente o conteúdo desta aula, realize as
atividades e, em caso de dúvida, busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina.
Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:
V
amos conversar um pouco sobre esta história que resultou no que se convencionou
chamar o “descobrimento das Américas” e, por conseqüência, o “descobrimento do
Constantinopla Brasil”. É uma história que tem início na Europa e nas transformações sócio-econômicas
É o antigo nome de que estavam acontecendo naquela parte do mundo.
Istambul (Turquia),
tornada capital do Império Para os que privilegiam o enfoque político-institucional, esses acontecimentos importantes
Romano do Oriente no que mexeram nas estruturas econômicas e sociais européias estavam associados à tomada de
ano 330 pelo imperador
Constantinopla pelos turcos e ao início das grandes navegações, portanto ao início da Idade
romano Constantino I.
Foi tomada do império Moderna. Sob um outro enfoque podemos afirmar que tais transformações são de caráter muito
Bizantino pelo império mais econômico, elas se dão num momento de transição entre dois modos de produção. O
Otomano no ano de 1453.
fim do modo de produção feudal e o início do modo de produção capitalista.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Otomano
É o modo de produção
característico do período
medieval, tem a produção
baseada na subsistência
dos feudos, que se utilizam
do trabalho servil dos
camponeses.
Modo de produção
capitalista
Império Otomano
Fonte: www.cejur.pt/images/peninsula_iberica.gif
estendeu por quase 11 mil
quilômetros quadrados
ao longo da bacia do
Mediterrâneo
(Ver Cartograma)
Ibéricos
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%BAssola
Astrolábio
É um antigo instrumento
para medir a altura dos
astros acima do horizonte,
que hoje se tornou
obsoleto.
Astrolábio
Fonte: www.gobiernodecanarias.org/.../astrolabio.jpg
Estados Cruzados
Burgos
3. A posição geográfica favorável de Portugal. Situado na Península Ibérica, este país tinha
a vantagem de estar totalmente aberto ou em contato com o Oceano Atlântico.
4. A decadência da navegação das repúblicas Italianas fez com que vários navegadores se
transferissem para Portugal e, também, para a Espanha (a exemplo de Cristóvão Colombo
que era genovês).
Foi nesse mesmo itinerário em busca de riquezas para seu comércio que os portugueses,
em expedição comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao Brasil em 1500. Aliás, Cabral se
dirigia às Índias com o intuito de afirmar o domínio e o controle de Portugal sobre o comércio
de especiarias. Sobre esta viagem de “descoberta” portuguesa trataremos em pormenores
nas próximas aulas.
Cabe lembrar que Portugal não estava só nessa empreitada de expansão da escala
geográfica da acumulação primitiva do capitalismo, a Espanha também excursionava pelos
mares e oceanos com os mesmos objetivos, o que a levou a chegar na América em 1492. (Ver
cartograma das viagens dos séculos XV e XVI). É nesse sentido que se justificam a formulação
e a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que disciplinou as disputas e definiu os territórios
que caberiam as duas monarquias.
2 comercial européia?
1.
O Tratado de Tordesilhas:
um marco nas disputas
territoriais ente Portugal e Espanha
O
início das explorações marítimas portuguesas pelo oceano Atlântico se deu através
do contorno da costa africana por onde os portugueses passaram a desenvolver um
Castela comércio de ouro, marfim e escravos. Diante de tal feito português, o reino de Castela
um dos territórios embrião
iniciou, no mar, uma série de ataques às embarcações portuguesas, isso levou os dois reinos
do Estado espanhol. a firmarem um acordo no ano de 1479, que foi denominado como Tratado de Alcáçovas por
Castela passou a existir ter sido assinado na vila portuguesa de mesmo nome.
como um condado no ano
de 850, e como reinado Este tratado foi ratificado na cidade castelhana de Toledo no ano de 1480, e no ano
entre a referido ano e
seguinte (1481), adquiriu o aval do Papa Inocêncio VII, que através da Bula Æterni regis, dividia
1479. Em 1469 houve a
união do reino de Castela o mundo entre portugueses e espanhóis a partir de um paralelo na altura das ilhas Canárias.
ao reino de Aragão em Desta forma, todas as terras descobertas e a descobrir que estivessem ao norte desse paralelo
função do casamento da
pertenceriam ao reino de Castela, enquanto que as terras localizadas ao Sul desse paralelo
rainha Isabel I de Castela
com o Rei Fernando II de seriam portuguesas.
Aragão. Foi desta união
que resultou a criação do
Este tratado possibilitou a Portugal sua expansão na costa africana e pelo Oriente, dessa
Reino da Espanha. forma ao reino de Castela não havia outra saída, a não ser se aventurar pelo Atlântico. O
resultado desta aventura não foi outro senão a chegada de Cristóvão Colombo ao continente
Bula americano, tendo alcançado a ilha de São Domingos no Caribe, ano de 1492.
no caso específico O referido fato inquietou a coroa portuguesa que entendia que tal descoberta estava em
refere-se à Bula Pontifícia, território português de acordo com Bula Æterni regis. É com base nessa contenda que podemos
documento redigido e
entender o Tratado de Tordesilhas, pois o reino de Castela na busca de garantir suas posses no
timbrado de forma solene
com o selo do Sumo Novo Mundo apela junto ao Papa Alexandre VI, que era castelhano, uma nova partilha do mundo.
Pontífice do Vaticano.
Atendendo aos interesses do reino de Castela, o Papa Alexandre VI, através da Bula Inter
Coetera, fez uma nova divisão do mundo no ano de 1493, sendo esta, não mais entre Norte e
São Domingos Sul através de um paralelo, mas através de um Meridiano que foi estabelecido a 100 léguas
é uma ilha localizada no a oeste da Ilha dos Açores, e dava a posse de todas as terras, que por ventura viesse a ser
Mar das Antilhas ou Caribe. “descobertas” a oeste dessa linha, aos reis católicos de Castela e Aragão.
Esta ilha se encontra hoje
dividida entre a República O rei de Portugal D. João II se sentiu prejudicado com a bula Alexandrina, por julgar
Dominicana e o Haiti.
Colombo a denominou de
que esta feria os direitos já adquiridos por Portugal e iniciou uma negociação diplomática
Hispaniola, mas a ilha era diretamente com os reis católicos, Isabel I de Castela e Fernando II. O resultado dessa
denominada pelos nativos negociação foi a assinatura de um tratado que estabelecia nova demarcação, substituindo as
de Quiesqueya.
100 léguas por 370 léguas a partir da ilha de Cabo Verde . (ver mapa da Divisão do Mundo
entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas).
Mas como Portugal conseguiu convencer a Espanha a ceder nessa negociação? Primeiro
temos que entender que embora os espanhóis já tivessem chegado as Américas, tal feito,
limitavam-se as ilhas caribenhas, não tinham o mesmos, a noção da existência de um imenso
continente que ia de um pólo ao outro. Segundo, as cartas náuticas espanholas não eram exatas
e para os espanhóis, algumas léguas a mais de oceano não representavam muita diferença, a
não ser a descoberta de algumas ilhas sem muita importância econômica. Por último, e talvez
o argumento mais forte, era que o meridiano, por traçar um circulo completo em torno da terra
ia prejudicar as pretensões espanholas na Ásia que ficaria em território definido com lusitano.
Toda a polêmica levantada por Portugal sobre as 100 léguas em águas do Atlântico
determinadas pela Bula Inter Coetera, nos dá a certeza de que os lusitanos já tinham
conhecimentos sobre a existência das terras do continente americano. Desta forma, foi a
assinatura do Tratado de Tordesilhas que possibilitou a Portugal estabelecer, sobre significativa
porção do que hoje é o Brasil, sua territorialidade a partir de 1500, quando Pedro Álvares Cabral
aqui chegou e tomou posse da terra em nome do rei de Portugal, Dom Manuel I.
1.
2.
Nas próximas aulas continuaremos essa nossa viagem, tentando desvendar os processos
que deram forma ao território brasileiro.
Leituras complementares
Sugerimos como leituras fundamentais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre o conceito de território nesta aula:
ANDRADE, Manuel Correia de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. In: ______,
História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 17 -24.
Neste capítulo o autor tece considerações de forma simples, clara e enriquecedora sobre
a afirmação do comércio na Europa, as condições materiais e imateriais que impulsionaram os
portugueses (especialmente) e os espanhóis a se aventurarem por oceanos e mares em busca
das ricas especiarias do Oriente, tão solicitadas pela Europa. Analisa a expansão marítima e
comercial portuguesa e espanhola e finaliza com as considerações feitas pelo autor sobre o
Tratado de Tordesilhas, que se constitui na norma jurídica-política definidora e delimitadora
dos domínios territoriais das duas monarquias na escala do mundo.
Trata-se do mesmo capítulo publicado no livro anterior com pequenos ajustes e modificações,
mas que preserva o mesmo teor de análise sobre os processos de que desencadearam o
“descobrimento” do Brasil e sua inserção nos circuitos do mercantilismo europeu.
Autoavaliação
A partir dos comentários que faremos a seguir, teça seus comentários sobre as questões
que seguem as quais ajudarão você a avaliar sua aprendizagem e identificar os pontos que
precisam ser melhorados.
Sabemos que o “descobrimento” do Brasil não é obra do acaso, mas sim, o resultado
1 de um processo que teve início na Europa. Que processo foi esse e porque foi
importante, para o mesmo, o que se convencionou chamar “descobrimento” das
Américas e, mas especificamente, “descobrimento” do Brasil?
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
HURVERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: 1986.
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e tratados dos
limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
Autores
aula
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
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José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
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C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A
pesar da visão crítica que condena os estudos sobre o Brasil a partir da chegada dos
portugueses ao continente americano, por ser uma visão do colonizador, temos que
admitir que o Brasil só começa a existir a partir da apropriação do que hoje é parte
do seu território pelos portugueses. Não podemos concordar com a idéia de um território
brasileiro antes dos portugueses, o que havia até então eram os territórios dos diversos povos
nativos, que depois se constituíram no território colonial e, posteriormente, no arcabouço
do território brasileiro.
1 mercantilismo lusitano.
C
omo já salientamos em nossas aulas anteriores, a “descoberta” do Brasil por Pedro
Álvares Cabral em 1500 representou um dos capítulos da expansão marítima comercial
européia, especialmente da portuguesa. Os portugueses, no seu afã de alargar os
contextos territoriais do seu comércio – busca das ricas especiarias do Oriente, impedidos de o
fazer através do Mar Mediterrâneo, lançaram-se ao Oceano Atlântico. Nessa epopéia, realizaram
sucessivos “descobrimentos” neste oceano e na Costa da África, como o de Cabo Verde em
1445, o da Ilha da Madeira em 1460, o do Cabo da Boa Esperança em 1488 e, finalmente, a
chegada de Vasco da Gama às Índias em 1498.
Não obstante, Cabral e sua expedição formada por 13 embarcações, navegavam para as
Índias, com o intuito de consolidar e afirmar o feito de Vasco da Gama que, dois anos antes,
tinha descoberto o chamado caminho marítimo para as Índias. A intenção da esquadra de Cabral
era, portanto, garantir o monopólio português sobre o comércio da pimenta, produto de elevado
valor e que representava grande fonte de renda para Portugal (ANDRADE, op. cit., p. 21).
Apesar de todos os elogios feitos por Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei, enviada
a Lisboa em nau, dando notícia da descoberta da Terra de Santa Cruz, e mesmo apresentando
vantagens comparativas em relação às ilhas do Atlântico (maior extensão territorial e diversidade
ecossistêmica) e às Índias (posição e proximidade geográficas em relação à Europa), não houve
grande interesse de Portugal em colonizar o Brasil nas três primeiras décadas após 1500. Os
interesses portugueses estavam no comércio das especiarias e na busca de metais preciosos
(não encontrados nas terras descobertas na América como ocorrera com os espanhóis), o
que levaram-nos a se interessar mais pela formação de colônias no Oriente do que ocupar
definitivamente o território recém “descoberto”. Destarte, como veremos logo adiante, a prática
esporádica do escambo com os nativos das famosas bugigangas com os produtos da terra, Escambo
marcou os primeiros anos após a “descoberta”. Troca direta entre partes,
de bens ou de serviços,
Vale salientar que as terras “descobertas” na América pelos portugueses não se sem que haja um
constituíam em espaços vazios. Nelas, diversos povos indígenas viviam suas dinâmicas equivalente na forma de
socioespaciais próprias, que refletiam suas formas de interagir com a natureza. Como veremos dinheiro.
no item seguinte.
“... os ‘culpados’ pelo suposto desvio de rota que teria empurrado a esquadra de
Cabral em direção ao oeste são, em geral, dois: uma tempestade ou seu exato
oposto - a ausência de ventos [...] a descoberta [do Brasil], afinal, foi intencional
ou casual?”
As territorialidades pretéritas
dos habitantes da Terra de Santa
Cruz e as novas territorialidades
frágeis das feitorias
A
té aqui vimos que era intenção dos portugueses estabelecerem comércio com outras
partes do mundo, daí sua aventura pelos mares. Porém, as terras brasileiras não se
constituíram em uma alternativa pra tal propósito, pois, aqui encontraram povos que
apresentavam estágio civilizatório ainda muito primitivo.
Conforme afirma Manuel Correia de Andrade (1982, p. 13), os indígenas que habitavam
as terras recém “descobertas” pelos portugueses estavam na idade da Pedra Polida e o Idade da Pedra
espaço era indiferenciado, pois predominavam as paisagens naturais sem a intervenção das Polida
ações humanas. Refere-se ao período da
Pré-história conhecido
As três primeiras décadas após a expedição de Pedro Álvares Cabral ter alcançado o como Neolítico, que se
Novo Mundo e ter tomado posse da terra em nome do rei de Portugal, são marcadas pela fraca inicia há aproximadamente
8.000 anos a.c., e tem
atenção que a Coroa Portuguesa dá a essa parte do mundo. Fato que se explica em função do como características
contexto histórico da época em discussão. principais o surgimento
da agricultura e a
Para entender esse relativo descaso, vamos mergulhar um pouco nas características sedentarização humana. É
nesse período que se inicia
de Portugal no referido período. Primeiro, é preciso refletir que Portugal não era um país tão
a domesticação de alguns
populoso. Segundo Andrade (1982, p.24), este país tinha aproximadamente um milhão de animais e o surgimento
habitantes. Além desse aspecto populacional, as pessoas não se dispunham a vir para uma das primeiras aldeias.
A empreitada portuguesa para alcançar o caminho das índias havia consumido recursos
e ceifado vidas. Portanto, Portugal se ressentia de um contingente populacional disponível e
da capacidade financeira para investir na Terra de Santa Cruz.
Desta forma, Portugal tomou posse da terra descoberta, mas era mais lucrativo e seguro
investir nas feitorias da Costa da África e nas Índias, onde já haviam organizações sociais
bem estruturadas e onde o Império Árabe, que se encontrava desmembrado e decadente, já
estabelecera forte relação de comércio, havendo, portanto, uma base para prosseguir com o
intercâmbio mercantilista.
Esta primeira expedição, comandada por Gaspar Lemos, tinha como tripulante o navegador
florentino Américo Vespúcio, que ao contrário de Pero Vaz de Caminha, não teve o mesmo
deslumbramento pela terra descoberta, só via como produto valioso da costa brasileira, o pau-
brasil, o qual, se tornou mercadoria valiosa e que, em 1503, já era monopólio de exploração
da Coroa Portuguesa. Porém, a falta de recursos e de mão-de-obra em Portugal, obrigou o
governo português a incentivar empresas privadas nessa empreitada, cuja saída mais viável
foi o arrendamento da exploração do pau-brasil a um consórcio de comerciantes portugueses
e italianos, que era chefiado por um cristão novo chamado Fernão de Noronha.
Em função desse acordo, que permitia aos comerciantes extrair o pau-brasil, mediante
o pagamento de tributos à Coroa Portuguesa, Portugal organizou no ano de 1503 a segunda
expedição composta de seis navios. Participou dessa expedição comandada por Gonçalo
Coelho, o navegador Américo Vespúcio. No ano seguinte, o rico comerciante Fernão de Noronha
recebeu do rei de Portugal a doação do arquipélago de São João, que depois recebeu o seu
nome. Em troca Fernão de Noronha se comprometia a enviar seis navios anualmente ao Brasil
para explorar até trezentas léguas do seu litoral e construir feitorias destinadas à proteção do
mesmo, mantendo-as pelo prazo de três anos.
Para viabilizar o escambo que passou a ocorrer entre portugueses e índios, diminuindo
o tempo de permanência das embarcações nos porto e definir uma territorialidade, o governo
português passou a organizar feitorias na costa brasileira, feitorias estas, que não passavam
de galpões nos quais a madeira era depositada para aguardar as embarcações que a conduziria
para a Europa.
Nessas feitorias, eram deixados degredados, os quais tiveram que se adaptar aos
costumes indígenas e aprender as línguas nativas para sobreviver. Tais homens tiveram papel
fundamental para estabelecer o intercâmbio econômico entre portugueses e indígenas e são a
gênese da formação cultural do povo brasileiro ao incorporarem hábitos, crenças, alimentos e
Observe com atenção o mapa abaixo. Ele é o mesmo que apresentamos anteriormente,
nele está representada a distribuição dos grupos indígenas conforme se encontrava na época
da chegada dos portugueses e de acordo com a classificação lingüística.
De posse desse cartograma é correto afirmar que o Brasil antes da chegada dos
portugueses era um território Tupi-guarani e que a nossa língua oficial, em respeito à
predominância desse grupo lingüístico majoritário, deveria ser o tupi-guarani? Justifique.
Leituras complementares
Para um maior aprofundamento sobre o assunto estudado é importante a leitura de outros
artigos, aqui sugerimos alguns textos que poderão lhe ajudar, mas você pode escolher outros,
o mais importante é que você amplie seus conhecimentos.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Utiliza uma linguagem clara e direta, porém rica em informações, como é peculiar em
todas as obras desse renomado geógrafo pernambucano. Para o aprofundamento dessa nossa
aula destacamos os capítulos 1 “O Brasil como espaço indiferenciado” e o capítulo 3 “O
reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil.
Resumo
Com esta aula esperamos que você tenha apreendido algumas questões que são
de fundamental importância para desconstruirmos fatos de nossa história e para
desvendarmos elementos do processo de nossa formação territorial, tais como:
3) O processo civilizatório dos vários povos que habitavam as terras que hoje são
brasileiras encontrava-se em um estágio ainda muito primitivo, motivo pelo
qual o espaço se apresentava indiferenciado, sem grandes obras culturais em
suas paisagens. O que não despertou muito interesse nos portugueses
b) Com base nas informações anunciadas acima, e diante do que foi discutido nessa aula,
questione a oficialização do termo “descobrimento”, para a chegada dos portugueses
ao Brasil.
Apesar do alto investimento português para chegar às Américas, ficou claro imediato
2 desinteresse da Coroa Portuguesa pelas terras que haviam sido oficializadas em
seu nome e em nome de Cristo.Que motivos teve o governo português para agir
dessa forma?
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e tratados dos
limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
A territorialização de fato do
colonizador português:
as capitanias hereditárias e a plantation açucareira
Autores
aula
04
Fo_Te_A04_ML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:45
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
N
a aula anterior tivemos a oportunidade de discutir com você as primeiras formas de
territorialização dos lusitanos na América Portuguesa após a chegada nela da expedição de
Cabral em 1500. Na oportunidade, foi mostrado que as primeiras formas de territorialização
portuguesa se caracterizou por sua fragilidade, já que se resumiu ao estabelecimento de algumas
feitorias em pontos estratégicos do litoral. Estas feitorias tinham como função viabilizar a prática
do escambo entre os portugueses e as populações nativas (os índios). Dessa forma, o escambo
se constituiu numa prática de comércio entre índios e portugueses, na qual os primeiros trocaram
sua força de trabalho para extração dos produtos da terra com as bugigangas dos segundos.
Nesse tipo de comércio o produto da terra que mais interessava aos portugueses foi o pau-brasil,
vegetal muito requisitado na Europa por fornecer o corante vermelho para o tingimento de tecidos.
Nesse sentido, as feitorias compuseram uma territorialidade frágil já que refletiam “a presença
colonial frágil, que estava, portanto, longe de configurar uma verdadeira estratégia de ocupação
e domínio de um território”. (COSTA, 1991, p.27-28).
Contudo, após as três primeiras décadas depois de 1500, os portugueses resolveram,
apesar de todas as dificuldades concernentes à disponibilidade de recursos humanos e
financeiros, colonizar de fato os territórios “descobertos”, estabelecendo, desse modo, sua
territorialização de fato na América Portuguesa.
Nesta aula, vamos nos reportar aos fatos que impulsionaram os portugueses a ocupar
e colonizar a América Portuguesa. Deteremos-nos, ainda, sobre as estratégias jurídico-
política e administrativas bem como as estratégias econômicas utilizadas pelos portugueses
para se apropriarem de fato desses territórios e inseri-los, produtivamente, nos circuitos do
mercantilismo europeu.
Destarte, é primordial que você estude atenciosamente o conteúdo desta aula, realize as
atividades e, em caso de dúvida, busque esclarecimento com o tutor ou professor da disciplina.
Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:
O questionamento do
“testamento de Adão”:
os conflitos por territorialidade e a ocupação
portuguesa de fato da sua posse na América
V
amos conversar um pouco sobre os fatores que motivaram a Portugal ocupar e
colonizar de fato a América Portuguesa. Segundo Novais (1981), a ocupação e o
domínio do território, a territorialização de fato do colonizador português, obedeceram,
de início, a preocupações antes de tudo políticas. Com a ocupação de fato dos seus territórios
na América, Portugal visava preservar a sua posse, já então disputada pelos corsários
holandeses, ingleses e franceses.
Como ressalta Andrade (2003, p. 30-31), os franceses, estimulados pelo seu governo,
passaram a navegar na costa brasileira, entrando em contato com os indígenas e desenvolvendo
o comércio na base do escambo, da troca de mercadorias. As disputas entre franceses e
os indígenas que a eles se aliaram contra os portugueses foram intensas. Aliás, a luta dos
franceses para fundar colônias permanentes no Rio de Janeiro e no Maranhão ao longo de
todo o século XVI dá conta da não aceitação das normas regulatórias que dividiam o mundo
descoberto entre Portugal e a Espanha. Conforme atesta Costa (1991, p. 38), a pressão das
outras potências mercantilistas sobre o território “descoberto” ocorriam ao sul (Bacia do Prata),
ao longo da costa e na foz do Amazonas.
Contudo, como ocupar de fato? Como viabilizar o domínio e o controle sobre um território
tão vasto? Que atividade econômica rentável poderia ser desenvolvida em um território que,
no inicio, não apresentou a abundância de metais precisos como alguns territórios coloniais
da Espanha? Como empreender uma empresa colonizadora cara e necessitada de braços para
o trabalho quando Portugal apresentava escassez financeira e de recursos humanos?
É sobre essas questões que conversaremos com você a partir de agora. Por isso, muita
atenção, para não perder o foco da nossa discussão. Mas, antes disso, veja o que você
aprendeu até agora.
Atividade 1
Observe a representação cartográfica da divisão do continente americano entre as
potências colonialistas européias e responda:
Território espanhol
Território português
Território francês
Território britânico
Território russo
Comparado o mapa acima com o do Tratado de Tordesilhas (ver aula 2), que
1 conclusões você tira sobre os domínios territoriais dos espanhóis e dos portugueses
no continente americano?
A fragmentação territorial e a
parceria público/privada como
estratégia para a ocupação e
domínio do território colonial:
as capitanias hereditárias
V
ocê já deve ter percebido que as ameaças de invasão dos territórios portugueses por
corsários de outras potências mercantilistas européias – especialmente os da França,
levaram os portugueses a assentarem bases mais sólidas para a ocupação dos territórios
que lhes couberam no continente americano.
Agora vamos bater um papo sobre as estratégias utilizadas por Portugal para se
territorializar de fato no espaço colonial “descoberto” em 1500.
Como já discutimos, Portugal não dispunha de recursos para conquistar e povoar tão
extensas terras. Nesse sentido, você sabe como esta potência mercantilista procedeu para
viabilizar a conquista e o povoamento do Brasil? Portugal, através da resolução de D. João III,
implantou no Brasil o sistema das capitanias hereditárias, que havia obtido grande sucesso
nas ilhas do Atlântico – Açores, Madeira e Cabo Verde.
Para dirigir as capitanias, selecionou orei um grupo de pessoas de posição social elevada
[os donatários], embora não de alta nobreza. Assim, os donatários foram quase sempre
pessoas experientes nas guerras da África e da Índia ou funcionários burocratas de alta
categoria do Reino (ANDRADE, 2003, p. 34).
Como você pode perceber, sem recursos para empreender a conquista do Brasil, o
Estado Português foi obrigado a fragmentar seu território colonial e entregar a sua gestão
a iniciativa privada.
Fonte: http://www.dec.ufms.br/cau/histeo/trabalhos/teoria3_2008/Arq%20Rural%20
Brasil_Colonial%20.pdf. Acessado em 17 de dezembro de 2008.
Capitão-mor
Também chamado de
capitão-donatário ou
capitão do donatário tinha
a função de zelar pelos
interesses do donatário
em sua capitania e servir
como interlocutor entre a
população e o donatário.
Tinha como remuneração
10% sobre os rendimentos Figura 02 – No primeiro plano encontra-se a Casa Grande e as Senzalas; no segundo plano podemos ver o
da capitania que Engenho; no terceiro plano a Capela.
administrava. Em alguns
casos o cargo era também
hereditário. A carência de recursos e de mão-de-obra, a distância da Metrópole e de uma autoridade que
lhes apoiassem, o desconhecimento do território e a resistência indígena à desterritorialização
(que se via despojados de suas terras e de sua caça) fizeram com que o progresso da capitanias
Donatário fosse lento, muitas vezes, levando-as à própria destruição.
Pessoa a quem o rei
delegava seu poder sobre Ainda como nos diz Manuel Correia de Andrade:
um território. O mesmo
teria que administrar,
[...] Nem sempre esses homens [os donatários] sabiam combinar a energia e a capacidade
procurando colonizar e de organização militar da conquista com a habilidade política no tratamento dos colonos e
aproveitar os recursos dos índios. Daí muitas capitanias não terem tido qualquer início de povoamento, enquanto
mediante o pagamento e a em outras o povoamento iniciado com algum êxito fracassou depois, em face do ataque
obediência as imposições dos índios - Ilhéus, Porto Seguro e Paraíba do Sul – ou em face da falta de autoridade do
reais Esse sistema de
capitão-mor como no Espírito Santo. (ANDRADE, 2003, p. 37)
doação territorial e
hereditariedade remonta
Como podemos perceber, a fragmentação do território colonial em capitanias hereditárias
a Idade Média e já se
encontrava em desuso entregues para gestão à iniciativa privada (capitão-mor ou donatário) se revelam um insucesso
na Europa. para o Estado português. Conforme afirma Manuel Correia de Andrade
Atividade 2
Observe o Mapa abaixo
sua resposta
2.
A
tenção pessoal! Responderam com êxito a atividade 2, descobriram com ela eventos
interessantes da história territorial do seu Estado e do seu município? Ótimo! Então
voltemos a nossa conversa sobre as estratégias de domínio, controle e gestão do
território colonial usada pela Coroa Portuguesa. Manuel Correia de Andrade, um geógrafo
perspicaz da formação territorial do Brasil, afirma que:
Em dezembro de 1548, era criado o Governo-Geral para o Brasil, devendo ser construídas
na capitania da Bahia, que retornara à Coroa, uma fortaleza e uma povoação para servirem
de sede ao mesmo. A iniciativa pública iria, aos poucos, substituir a iniciativa privada,
hipertrofiada pelo sistema de capitanias. Essas continuaram a existir, mas haveria no
Brasil um governador geral com poder superior ao dos donatários, e outras autoridades
que fiscalizariam a justiça, a fazenda e a defesa. O governador deveria, em princípio,
permanecer apenas três anos no cargo, mas o terceiro governador geral dirigiu o país
durante 15 anos, de 1557 a 1572, por conveniência da Coroa. (ANDRADE, 2003, p. 41).
Mas você sabe quais eram os atributos – os direitos e os deveres dos governadores
gerais instituídos para administrar a colônia portuguesa? É necessário antes de responder
esta pergunta para você, deixar claro que os direitos e deveres dos governadores foram
estabelecidos no Regimento, chamando de Tomé de Sousa – nome do primeiro gorvernador-
geral, que vigorou de 1548 a 1677, como se fosse uma verdadeira constituição. Mas então,
Ordenações
o que dizia, em termos de direitos e de deveres dos governadores gerais esse Regimento?
Segundo o Regimento, “[...] caberia ao governado fiscalizar e auxiliar as capitanias, promover Codificação das leis em
vigor, que se fazia, na
o povoamento, fundar cidades e vilas, supervisionar as relações entre colonos e índios, evitar
monarquia portuguesa,
e impedir abusos de autoridades e defender a costa” (ANDRADE, op cit., p. 41). em quatro ocasiões:
nos reinados de
O governador geral empreendia sozinho a missão de domínio, controle e gestão do Afonso V (ordenações
território colonial? Nossa resposta para você é não. Ele era auxiliado por três autoridades Afonsinas), de D Manuel I
(Ordenações Manuelinas),
especializadas: o ouvidor-geral, a quem cabia a aplicação da justiça, visando o respeito aos
de D. Sebastião (Código
direitos dos colonos estabelecidos pelas ordenações;o provedor-mor da Fazenda, encarregado Sebastiônico) e de Filipe II
da fiscalização da cobrança de impostos e da arrecadação dos direitos da Coroa, e o capitão-mor, (Ordenações Filipinas).
Trata-se da união da coroa Contudo, o sistema de Governo-Geral durou, nesses moldes, até aproximadamente o
espanhola e portuguesa,
período da União Ibérica. Mas, este capítulo da formação territorial do Brasil vai ser contado
que durou de 1580
até 1640, nesse ano a pra você em outra das nossas conversas ao longo da nossa disciplina.
monarquia portuguesa
restaurou a sua soberania. Agora é importante que você teste a sua aprendizagem respondendo a atividade 3.
sua resposta
O Poder amargo
do açúcar
O Poder amargo do açúcar:
O título desse item da
nossa aula foi tomado
a plantation açucareira
de empréstimo a partir
do título da coletânea “O Teve dificuldade para responder a atividade 3? Lembre-se que as leituras complementares
Poder amargo do açúcar: indicadas e o tutor ou professor podem sempre lhe auxiliar na superação das barreiras que
produtores escravizados,
impedem a concretização da sua aprendizagem.
consumidores
proletarizados” do Até aqui conversamos com você sobre as estratégias políticas para a ocupação e para
antropólogo norte-
o domínio pelos lusitanos dos territórios que por direito de “descoberta” lhes pertencia na
americano Sidney W. Mintz
(2003), por considerarmos América. Mas, é importante lembrar para você, era preciso também afirmar a ocupação e o
que traduz bem toda a domínio desses territórios, através dos seus usos para a prática de atividades econômicas.
situação sócio-econômica
e ambiental provocada Na ausência, de inicio, de metais preciosos, esses só vieram a ser descobertos no
pela cultura açucareira ao século XVII, nas Minas Gerais, a grande opção para ocupar produtivamente à terra foi a
nosso espaço.
cana-de-açúcar – matéria-prima para a produção de açúcar, produto esse muito requisitado
pelo mercado europeu.
Plantation Para Andrade (2003, p. 46), podemos afirmar que a colonização do espaço brasileiro foi
iniciado com a implantação e o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar. O interesse
É o sistema agrícola
português por esse produto é compreensível porque o mesmo originado da Índia e que tivera
introduzida pelos europeus
nas suas colônias tropicais sua cultura disseminada pelas ilhas do Mediterrâneo e pelo sul da Península Ibérica, fora
a partir do século XVI, transferido pelos portugueses para as ilhas do Atlântico – Madeira, Açores e Cabo Verde - onde
baseado nas monoculturas
apresentou ótima produtividade. (Ver figura 03)
de gêneros agrícolas
tropicais em latifúndios
pra atender ao mercado
externo com o emprego
de grandes investimentos
Figura 03
Você sabe como os portugueses resolveram isso? Não sabe!? Pois fique sabendo que
para resolver a questão da mão-de-obra, os portugueses raciocinavam da seguinte maneira:
os serviços não especializados seriam executados pelos indígenas, que os portugueses
acreditavam ser abundantes, e, na falta desses, poderiam utilizar escravos negros, preados
na costa da África, que fornecia braços necessários à mesma cultura nas ilhas do Atlântico.
Portugueses, aventureiros, degredados, ou pessoas com desejo de enriquecer, seriam
estimulados a se transferir para o Novo Mundo, fornecendo ao novo empreendimento
quadro dirigentes, em graus hierárquicos, diferentes de suas posses e de sua classe social.
(ANDRADE, 2003, p. 41).
Contudo, é bom lembrar para você que, apesar do uso intenso e contínuo da mão-de-obra
escrava do indígena, foi a mão-de-obra escrava do negro africano a preferida e a mais utilizada
nos campos de cultivo da cana-de-açúcar e nos engenhos onde era processada e transformada
no açúcar destinado ao mercado europeu. Existe uma corrente de historiadores que defendem
que a preferência pelo escravo africano devia-se ao fato deste se constituir numa mercadoria
rentável para os comerciantes metropolitanos, ao contrário dos recursos gerados pela venda
do indígena escravizado que circulava no interior do espaço colonial.
Tal fato resultou, sem dúvida, de ficarem as duas capitanias nordestinas [Pernambuco
e Bahia] mais próximas da Europa, do mercado consumidor, o que diminuía o frete e o
tempo de transporte, e de terem possuído, logo nos primeiros anos, governos estáveis –
Pernambuco, com o donatário Duarte Coelho Pereira e a Bahia, após a criação do Governo-
Flamengos Geral, com os governantes Tomé de Sousa e Mem de Sá. (ANDRADE, 2003, p. 47).
Denominação utilizada Todavia, existia outras questões fundamentais que precisavam ser resolvidas: a obtenção
para designar o habitante
de Flandres, região
de créditos a longo prazo para financiar a montagem das infra-estruturas da produção. Sabe-se
localizada no norte da que a cana-de-açúcar tem um ciclo vegetativo longo, de 18 meses, e o seu beneficiamento era
Bélgica. feito em engenhos cuja montagem requeria muito dinheiro. A pequena quantidade de índios
na costa –estes haviam sido, em grande parte, dizimados nas lutas de conquista ou pelas
doenças européias, antes inexistentes, trazidas pelo colonizador, e em grande parte fugidos
Holandeses para o interior, obrigou os colonizadores a recorrer ao braço do escravo negro africano, que
Termo que popularmente era muito caro no mercado internacional. Além disso, o transporte do açúcar para a Europa e a
é utilizado para designar
sua colocação no mercado consumidor demandavam o investimento de grandes capitais. Então
todos os habitantes dos
Países Baixos. O topônimo como resolver isso já que Portugal estava com suas finanças arrasadas pelas companhias de
“Holanda” também é conquista no Atlântico, na costa africana e, principalmente, no Oriente?
comumente empregado
em detrimento de “Paises Segundo Andrade (2003, p. 47), para obter créditos e financiamentos a longo prazo,
Baixos” que é um Estado-
apelaram os proprietários,apoiados pelos governantes, para os judeus portugueses,
Nação formado por 12
províncias das quais enriquecidos com o comércio marítimo, e para os flamengos ou holandeses que dispunham de
apenas duas são Holanda uma poderosa marinha mercante e utilizavam os portos de Antuérpia ou Amsterdã como portos
de fato (Holanda do Norte
de entrada para os produtos coloniais que eram comercializados no centro da Europa. Dessa
que tem como capital
Haarlem, e Holanda do Sul forma, no período que antecedeu a guerra entre a Holanda e a Espanha a marinha mercante
cuja capital é Haia). holandesa vinha aos portos da colônia portuguesa na América, recebia o carregamento de
Fazendo aqui uma digressão, mesmo ocupando de fato pelo menos parte da sua colônia
americana, os portugueses ainda enfrentaram outras invasões como as dos franceses. Estes
invadiram e fundaram no Rio de Janeiro a França Antártica, em 1556. Rechaçados do Rio de
Janeiro, em 1567, invadiram e fundaram, no Maranhão, em 1612, a França Equinocial. Do
Maranhão, os franceses foram expulsos em 1615.
É fato que, a entrada da produção açucareira realizada pelos holandeses nas Antilhas
e, mais tarde, o açúcar produzido com beterraba na Europa trouxeram serias dificuldades a
platation açucareira da colônia portuguesa. Vamos prestar atenção ao que Manuel Correia de
Andrade fala sobre isso:
Os séculos XVIII e XIX não foram muito favoráveis a agroindústria açucareira, de vez que
a cultura tradicional não teve condições de competitividade com outras áreas abertas à
produção em outros países e , com a descoberta das minas de ouro no Brasil, as atenções
e esforços dirigiram-se para a mineração, bem mais rentável. (ANDRADE, 2003, p. 48).
Por fim, se o açúcar foi doce para os proprietários dos imensos latifúndios formados pela
expansão da cana-de-açúcar, para os comerciantes do açúcar no mercado europeu e para a
metrópole Portuguesa, que auferiu altas margens de lucros através da extração de impostos
sobre a produção; foi amargo para o escravo que, além de ser classificado como mercadoria,
foi exposto à rotina exaustiva de trabalho na agroindústria açucareira, aos homens sem posses
vindos de Portugal, que não tiveram acesso à terra, a todos os indivíduos que não dispunham
de status social elevado para adquirir as terras distribuídas através do sistema de sesmarias
ou para montar seus próprios engenhos. O poder amargo do açúcar, parafraseando Mintz
(2003), ainda se faz sentir até hoje nas áreas onde a agroindústria açucareira se estabeleceu –
apesar ou por conta das modernizações constantes que a mesma passou até esse momento
presente, especialmente na Zona da Mata nordestina: degradação ambiental causada pela
erradicação do ecossistema da Mata Atlântica para a implantação da monocultura da cana;
estrutura fundiária concentrada, onde predomina imensos latifúndios; pobreza generalizada;
favelização; concentração de renda; relações sociais de produção precárias (o bóia-fria),
dentre outros. Esse sabor amargo deixado pelo açúcar e, ainda profundamente presente nessa
sub-região nordestina, deve-se, em grande medida, ao fato da sua organização socioespacial
ter se pautado no modelo de colonização de exploração, que gerou capitais que acabaram se
concentrando na Europa.
Atividade 4
“O espaço é a sociedade, e a revela por inteiro. É esplendido recurso de ‘leitura’
1 da sociedade” (MOREIA, Rui. O que é Geografia. 14 ed. São Paulo: Brasiliense,
2005, p. 89).
08/07/10 11:45
O território é uma porção do espaço geográfico onde um grupo exerce o domínio e o
2 controle bem como a apropriação simbólica (ver aula 1). Considere essa afirmação
e explique: “a ocupação de fato dos portugueses da sua colônia americana se
constituiu em um evento territorializador, desterritorializador e reterritorializador”.
Ocidental
África
ÁFRICA
Área da
Costa Guiné
São Luís
Equador Área do
Recife Congo
Área
BRASIL Oriental
Salvador
Angola
Rio de Janeiro
OCEANO ATLÂNTICO
Bantos
Sudaneses
a) O apreamento, e o embarque dos escravos na África podem ser considerandos como sua
desterritrializaão? Por que?
b) Pode-se afirmar que ao chegar na colônia portuguesa na América, ser vendido e introduzido
no trabalho compulsório na platation açucareira, o africano se reterritorializava? Explique.
Leituras complementares
ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/
Editora Massagana, 2003.
O livro trata dos diversos momentos de construção do território nacional, partindo dos
antecendentes da colonização – o espaço indiferenciado dos indígenas até o atual momento
da globalização. Para esta aula, merece destaque, no livro, o capítulo o capítulo 4, que trata
das capitanias hereditárias e do governo-geral , e o capítulo 5, que versa sobre a plantation
açucareira.
ANDRADE, Manuel Correia de, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.
Este livro é uma coletânea de textos escritos em diferentes tempos, mas que têm como
coerência interna a discussão sobre a formação econômica, social e territorial do Brasil. Para
esta aula, interessa o capítulo 1, que versa sobre o conceito de território nas ciências humanas
e, em particular, na geografia. Neste capítulo podemos observar a formação territorial do
Brasil em diferentes momentos. De igual importância para esta aula é o capítulo 2, que trata
da ocupação territorial portuguesa e da evolução das cidades e vilas no Brasil colonial nos
séculos XVI e XVII.
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991 (Coleção repensando a Geografia).
Este livro de Geografia Política trata das políticas de gestão e controle territoriais do
Estado, primeiro português e depois brasileiro, do período colonial até aproximadamente os
anos de 1980. Interessa mais para complementar o assunto da aula, o capítulo 2, que trata da
geopolítica portuguesa na sua colônia Americana.
1. O Filme a Missão, vale a pena ser visto. Embora seu recorte temporal seja o século XVIII,
mostra a relação de desterritorialização e re-territorialização dos povos que habitavam
a região de fronteiras do sul do Brasil, que na época ainda não estavam definidas entre
portugueses e Espanhóis. Chamamos a atenção para o processo de genocídio e etnocídio
praticado contra dos povos indígenas pela civilização européia.
Ficha Técnica
Gênero Drama
Atores Robert De Niro, Jeremy Irons, Liam Neeson, Ray McAnally,
Cherie Lunghi, Aidan Quinn,
Direção Roland Joffé,
Idioma Português, Inglês,
Legendas Português, Inglês, Espanhol,
Ano de produção 1986
País de produção Estados Unidos,
Duração 124 min.
Distribuição Editora NBO
Região Multizonal
Áudio Dolby Digital 5.1 (Inglês), Dolby Digital 2.0 (Inglês e
Português)
Vídeo Widescreen 16x9
Cor Colorido
http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.
asp?produto=11738http://www.site.com/filme_titulo.htm
http://www.adorocinema.com/filmes/amistad/amistad.asp
Resumo
Nesta aula, você aprendeu que as disputas territoriais entre as potências
mercantilistas foram movidas pela não aceitação, principalmente, da Inglaterra
e da França da divisão do mundo entre espanhóis e portugueses. Estas nações
passaram, constantemente, a ameaçar ocupar os territórios da América
Portuguesa, o que obrigou Portugal exercer, de fato, o seu domino sobre o seu
território americano “descoberto” em 1500 por Cabral. Você pôde perceber,
também, que Portugal, sem recursos financeiros e humanos, resolveu dividir
o seu território na América em capitanias hereditárias, entregando a gestão
delas à iniciativa privada – os donatários. Dessas capitanias, apenas as de São
Vicente e Pernambuco prosperaram relativamente. Nessa aula, você aprendeu
ainda que o insucesso das capitanias levou Portugal a estabelecer o sistema de
Governo-Geral para a gestão do território da colônia. Por fim, você aprendeu que
o empreendimento econômico que viabilizou o projeto de ocupação do território
colonial pelos portugueses foi a plantation açucareira. Você aprendeu, ainda, que
a ocupação não evitou as invasões da colônia por outras potências mercantilistas
da época: as invasões holandesas e francesas.
A MARCHA DO POVOAMENTO
E A URBANIZAÇÃO – SÉCULO XVI
Natal – 1599
FILIPÉIA – 1585
Iguaraçu – 1536
Olinda – 1537
Durante todo o século XVI a ocupação portuguesa no Brasil colônia teve um caráter
1 periférico e atlântico. Explique esta afirmativa.
Durante o século XVI seu Estado e sua cidade já integravam a porção territorial da
4 colônia já ocupada por Portugal? Comente.
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991 (Coleção repensando a Geografia).
FREYRE, Gilberto, Casa-grande & Senzala. São Paulo: José Olympio Editora S.A, 1993.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. São Paulo:
HUcitec, 1981.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
aula
05
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Como você pôde perceber na nossa aula anterior, durante praticamente todo o século
XVI a ocupação portuguesa do Brasil colônia teve um caráter periférico e litorâneo. A razão
disso estava no próprio sentido da colonização - voltada para o enriquecimento da metrópole
e baseada na política mercantilista da época.
Assim, o litoral apresentava certas vantagens, estava mais próximo da Europa, era,
portanto, o acesso mais fácil à metrópole e ao comércio europeu. O fator geográfico da
proximidade era de extrema importância em um período no qual a navegação era o único meio
usado para deslocar, a longa distância, pessoas e mercadorias entre os espaços na escala do
mundo. A proximidade relativa entre o litoral da colônia com a metrópole portuguesa e com a
Europa em geral, evitava grandes dispêndios financeiros com os transportes das mercadorias.
É importante também lembrar para você que, além da localização, o litoral apresentava outras
vantagens geográficas, nele se encontravam as condições edafoclimáticas (solos aluviais férteis
e clima quente e úmido) essenciais para a opção econômica que Portugal escolheu para ocupar
produtivamente o seu espaço colonial no Novo Mundo – a cana-de-açúcar.
É importante lembrar para você que, durante o período da União Ibérica, no qual Portugal
ficou sob o domínio da Espanha, não havia nenhum impedimento legal para que os portugueses
se adentrassem ao interior do espaço colonial sul-americano, já que, nesse momento, tudo
pertencia a um mesmo dono: a Espanha.
Portanto, nosso mergulho no túnel do tempo, nessa aula, pretende levar você aos
recônditos da história territorial do Brasil, para fazê-lo desvendar os movimentos de penetração
Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:
[...] pesquisar a existência de ouro, de prata, de pedras preciosas, esmeraldas e também procurar
indígenas para escravizá-los, de vez que, instalada a atividade agrícola [a cana-de-açúcar],
logo perceberam que a mão-de-obra era escassa (ANDRADE, 2003, p. 61).
3. Explorar as drogas do sertão, principalmente nos vales dos rios amazônicos – essa função
foi executada pelas missões religiosas através do uso da mão-de-obra indígena.
[...] Hélio Viana considera como entradas as que partiram das várias capitanias do Brasil
[colônia], com exceção de São Vicente, e, como bandeiras, as que partiram desta capitania.
Assim, poderíamos dizer que as bandeiras foram paulistas, enquanto as entradas foram
maranhenses, pernambucanas, baianas, espírito-santenses e fluminenses. Outros autores
distinguem os dois movimentos, considerando como entradas as expedições organizadas
e dirigidas pelo poder público, enquanto as bandeiras seriam as expedições particulares
(ANDRADE, 2003, p. 61).
A
s primeiras entradas antecederam o início do estabelecimento da colonização de fato
do território português na América. Essas tiveram como objetivo procurar metais
preciosos no interior do espaço colonial. Foi com esse objetivo que, em 1503, Américo
Vespúcio fez partir uma expedição de Cabo Frio (RJ) para o interior. Com esse mesmo
afã, Martim Afonso, após chegar a Cananéia, enviou uma expedição com 80 homens ao
Sertão Sertão para procurar ouro e pedras preciosas. Essas duas expedições jamais regressaram
(ANDRADE, 2003, p. 61).
O termo é aqui utilizado
para designar as regiões
Algumas expedições pernambucanas também devassaram o interior do atual Nordeste
distantes da costa, é o
Brasil interiorano. Não tem visando aprisionar índios para escravizar. Entre essas expedições consta a organizada no
o mesmo significado que governo Duarte Coelho de Albuquerque. Esse donatário, com o auxílio do padre do Ouro,
se emprega no Nordeste
reduziu muitos indígenas à escravidão. Contudo, essas expedições pernambucanas não
do Brasil onde o termo
Sertão refere-se a uma obtiveram muito sucesso. As mais famosas entradas tiveram como ponto de partida a Bahia,
região natural específica, o entre elas podemos destacar: a de Antônio Dias Adorno, que explorou o norte de Minas; a de
semi-árido nordestino.
Gabriel de Sousa, que explorou a Chapada Diamantina; e a de Belchior Dias, que percorreu
o sertão do São Francisco. Todas elas buscavam encontrar os metais e as pedras preciosos.
Outras entradas partiram de Porto Seguro, promovidas pelos donatários do Espírito Santos
e do Rio de Janeiro. Essas não foram bem-sucedidas, ou seja, não encontraram os metais e
as pedras preciosos, limitando-se a trazer alguns escravos índios para os entornos das suas
capitanias. (ANDRADE, 2003, p. 61-63).
Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982.
Vamos falar um
pouquinho sobre as bandeiras
As bandeiras foram expedições formadas por várias frentes de ocupação do interior do
território colonial. Ocorreram durante os séculos XVII e XVIII e tiveram como local de origem,
principalmente, São Paulo ou, na época, São Paulo de Piratininga.
Dentre os bandeirantes mais famosos nessa empreitada de caça ao índio para escravizá-lo,
destaca-se Antônio Raposo Tavares. Esse, partindo de São Paulo alcançou o Rio Paraná,
passando deste para o Paraguai e daí para o Guaporé, o Madeira e o Amazonas, descendo a
foz desse rio (ANDRADE, 2003, p. 64) (ver mapa 02 das entradas e das bandeiras).
Fonte: Albuquerque, Manoel Maurício de. et. al. Atlas Histórico Escolar. 8ª ed. Revizada e atualizada. Rio de janeiro: FENAME, 1983.
Contudo, os bandeirantes ficaram mais famosos pela descoberta do ouro das Minas
Gerais, em 1695. Essa descoberta é atribuída ao bandeirante Garcia Rodrigues Paes.
Primeiramente, foi descoberto o ouro na região próxima ao Pico do Itacolomi, nos atuais
municípios de Ouro Preto e de Mariana, começando, em seguida, a exploração dessas jazidas.
Depois, outras áreas adjacentes passaram, também, a ser exploradas: Sabará, São João Del
Cabe aqui uma pequena digressão para falar a você sobre o papel que tiveram as missões
religiosas no projeto de expansão, de domínio e de defesa territorial para os portugueses.
No litoral norte, o Rio Amazonas foi estratégico, por sua extensão e ampla navegabilidade,
até 2.000 km no interior em meio à floresta equatorial. Durante a União das duas Coroas
de Portugal e Espanha (1580-1640), holandeses, franceses e ingleses, trataram de ocupar
militarmente esta área. Para defender a Bacia Amazônica, as formas iniciais de ocupação
foram pequenos fortes, sendo o primeiro deles na foz do Amazonas, em Belém (1616).
Para assegurar a ocupação a longo prazo, bem como a pacificação e a lealdade das tribos
aborígenes contra os holandeses, ingleses e franceses, os portugueses resolveram dividir
a bacia entre ordens religiosas católicas. Seguiram assim os jesuítas espanhóis, que já
haviam estabelecido um verdadeiro cordão estratégico ininterrupto de missões jesuítas
no coração do continente, do Prata ao Alto Amazonas, no século XVI e primeira metade
do século XVII (PRADO JÚNIOR apud BECKER e EGLER, 2003, p. 42-43).
As missões religiosas dos séculos XVII e XVIII, além de catequizar os índios, deram
início à exploração das “drogas” do sertão (canela. cravo, salsa-parrilha, cacau nativo)
na Amazônia. Segundo Bertha Becker e Cláudio Egler:
Após a separação das duas Coroas (1640), a colonização portuguesa em pouco mais de
um século invadiu áreas que pertenciam à Espanha e ocupou o território que é hoje o
Brasil. O rompimento da linha de Tordesilhas tornou-se, para a metrópole, um objetivo,
e não apenas uma conseqüência da defesa do território (BECKER e EGLER, 2003, p. 43).
A expansão portuguesa pelo interior no Norte-Nordeste, através das entradas; pelo canto-
oeste, sul e norte, através das bandeiras; pela Amazônia, através das fortificações e das missões
religiosas, alargou, sobremaneira, as suas possessões na América do Sul em detrimento das
possessões espanholas. Como uma das conseqüências, forçou à adoção de mudanças nos
princípios jurídicos que definiam o direito de uma metrópole sobre um território colonial,
substituindo o princípio do direito por descoberta pelo princípio do direito de posse. Dessa
forma, como bem nos lembram Bertha Becker e Claudio Egler:
Meridiano de
Tordesilhas Avanço da Bandeiras
e o recuo do Meridiano
Forte São José
de Marabitanas Oceano
Atlântico
Natal
Paraiba
Olinda
Forte Principe Recife
da Barra
Forte
Coimbra
Forte
Fonte: http://www.geocities.com/bandeiras99/tordesilhas.html
Vitória
Iguatami São Paulo
Rio de Janeiro
Domínio português
segundo Tordesilhas Desterro Oceano
Laguna
Atlântico
Domínio português
segundo TRatado de Madri
Rio Grande
Meridiano de Tordesilhas
Várias linhas de expansão bandeirista
Em face da persistência das disputas por algumas áreas – na Bacia do Prata e na região
das Missões, por exemplo, outros tratados foram posteriormente assinados. Em 1761, foi
assinado o Tratado de El Pardo, que anulou o Tratado de Madri. Em 1977, foi assinado o Tratado
de Santo Ildefonso, que praticamente confirmou o Tratado de Madri. Contudo, foi o tratado
de Badajoz, assinado em 1801, que restituiu a Portugal as Missões e outros territórios do Rio
Grande do Sul e restabeleceu a divisão definida 50 anos antes pelo tratado de Madri. Todavia,
a demarcação das fronteiras não foi toda realizada no período colonial. De toda a extensa
fronteira brasileira com os seus vizinhos na América do Sul, apenas 17% foram demarcadas
nesse período. Esse assunto será tratado com você na aula dez.
sua resposta
Atividade 2
Observe o mapa abaixo e responda:
Meridiano de
Tordesilhas Avanço da Bandeiras
e o recuo do Meridiano
Forte São José
de Marabitanas Oceano
Atlântico
Natal
Paraiba
Olinda
Forte Principe Recife
da Barra
Forte
Coimbra
Forte Vitória
Iguatami São Paulo
Rio de Janeiro
Domínio português
segundo Tordesilhas Desterro Oceano
Laguna
Atlântico
Domínio português
segundo Tratado de Madri
Rio Grande
Meridiano de Tordesilhas
Várias linhas de expansão bandeirista
c) Que conclusões você tira sobre os papéis das entradas e das bandeiras para
a formação territorial do Brasil?
sua resposta
b)
c)
Leituras complementares
Para o aprofundamento da conversa que tivemos nessa aula, sugerimos como leituras
complementares:
ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FUNDAJ/
Editora Massangana, 2003.
O comentário sobre essa obra você vai encontrar na aula quatro. Sugerimos que, para
aprofundar essa aula, você faça a leitura do capítulo sete, que trata da penetração da colonização
para o interior através das entradas e das bandeiras.
BECKER, Bertha; EGLER, Claudio A. G. Brasil: uma potência regional na economia-mundo. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).
Nessa obra, os autores procuram desmistificar o discurso dos que acreditaram no projeto
Brasil potência dos militares. Recomendamos nela, para você a aprofundar o tema dessa aula a
leitura do capítulo dois, que, entre outros temas, trata do projeto geopolítico português para a sua
colônia do sul do Novo Mundo.
A Muralha
O seriado produzido pela rede Globo de Televisão e exibida em 2000, quando da comemoração
dos 500 anos do “descobrimento” do Brasil, mostra de uma forma crua a realidade dos primeiros
habitantes portugueses que se instalaram no Brasil. Sua busca pelo ouro e a caça ao índio pelo
interior de terras belas, porém de natureza hostil.
Ficha Técnica
Gênero: Séries Cinema/TV
Atores: Tarcísio Meira, Maria Luisa Mendonça, Matheus
Nachtergaele, Alexandre Borges, Cacá Carvalho, Caco Ciocler,
Cecil Thiré, Paulo José,
Direção: Denise Saraceni, Eduardo Figueira,
Idioma: Português, Legendas Português, Ano de produção
2002 País de produção Brasil,
Duração: 810 min.
Distribuição: Som Livre
Região: Multizonal Áudio Dolby Digital 2.0 Vídeo Tela Cheia
Cor: Colorido
http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_
extra_dvd.asp?produto=4640
Auto-avaliação
Observe a seqüência de mapas abaixo.
A MARCHA DO POVOAMENTO
E A URBANIZAÇÃO – SÉCULO XVI
Natal – 1599
FILIPÉIA – 1585
Iguaraçu – 1536
Olinda – 1537
Com base nos conhecimentos adquiridos nessa e nas outras aulas, na leitura e na
1 interpretação dos mapas, faça uma análise da expansão territorial da colonização
portuguesa no sul do continente americano.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
A ocupação do Sertão
nordestino e da Amazônia
Autores
aula
06
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
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expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
C
omo você viu até aqui, não resta dúvidas que a cana-de-açúcar foi a principal atividade
econômica desenvolvida no Brasil colônia, responsável pelo povoamento português da
costa oriental, mas também pela perseguição e desterritorialização dos vários grupos
indígenas e pelo intenso fluxo de escravos africanos. Vimos ainda, que a cana-de-açúcar foi
uma atividade que causou profundas transformações nas nossas paisagens naturais com a
destruição da Mata Atlântica.
Tal impacto ambiental foi em grande parte o responsável pela interiorização da pecuária
pelo Sertão nordestino. Vamos discutir, nesta aula, como isso foi possível.
Observamos também, que as condições naturais de solo e clima, bem como a proximidade
da costa favoreceram a atividade canavieira. Vimos ainda que os primeiros engenhos eram
movidos à tração animal. A necessidade criar animais de tiro para o serviço dos engenhos e
de animais de corte para o consumo enquanto alimentação era, a princípio, viabilizada nas
próprias unidades canavieiras sem grandes problemas. Situação que se resolvia com a criação
dos animais em confinamento enquanto que a cana, que era a principal atividade econômica,
era cultivada em campos abertos.
Nesta aula vamos conversar um pouco sobre as atividades que foram muito importantes
para o processo de povoamento português pelo interior brasileiro, mas que se mantiveram
como atividades secundárias diante da importância econômica do açúcar. Exceção feita ao
ouro, motivo de cobiça e de busca dos colonizadores desde que aqui colocaram os pés pela
primeira vez.
Vamos mergulhar neste capítulo da formação territorial do nosso país e esperamos que
você, literalmente, viaje conosco, aproveitando cada momento dessa aventura.
Lembramos a você de que a cartografia da aula não tem aspecto apenas ilustrativo, é um
importante instrumento de leitura e tem o objetivo de proporcionar ao leitor se situar no espaço.
Objetivos
É nosso objetivo nesta aula que você:
Esses animais utilizados nos serviços dos engenhos e também na alimentação da população
haviam sido introduzidos pelos portugueses na Colônia, pois ao chegarem aqui, não encontraram
animais que houvessem sido domesticados pelos índios, com exceção do papagaio, o qual não
tinha valor utilitário. Desta forma, os portugueses, trouxeram da Europa (já na primeira metade
do século XVI) animais domésticos para os engenhos de açúcar (bovinos, caprinos, suínos e
eqüinos), e introduziram vegetais tropicais oriundos da Ásia, África e da Oceania.
várzeas De início, o espaço colonial era assim organizado: as várzeas, com férteis solos de massapé
Várzeas – são os terrenos
eram utilizadas para a plantation açucareira enquanto que os interflúvios de solos arenosos, e
baixos adjacentes ao curso de menor fertilidade, eram utilizados para a pecuária e para a agricultura de subsistência.
rios, os quais geralmente
são inundados nos Logo se percebeu a incompatibilidade de desenvolver no mesmo espaço essa duas
períodos de cheias que atividades. A cana-de-açúcar que era o centro das atenções econômicas e a pecuária que,
ao transportarem humos,
apesar de toda importância que teve para a ocupação do interior, sempre foi uma atividade
fertilizam estas áreas
ribeirinhas.
secundária e subsidiária da cana-de-açúcar. Observa Andrade (1982, p. 61-62) que, enquanto
a mata era abundante, essa separação entre a agricultura e o criatório se fazia com cercas
construídas de pau-a-pique, para prender os animais, porém à medida que as matas foram
sendo destruídas, essa solução passou a se tornar inviável. Desta forma, já no governo geral de
Interflúvios
Tomé de Sousa foi determinado que o gado fosse criado, no mínimo, a 10 léguas de Salvador,
Interflúvios – terrenos onde pastaria solto.
elevados que se situam
entre os vales de dois rios. Esta linha divisória ente a agricultura de exportação e a pecuária foi denominada de
travessão e se difundiu por todo o Nordeste Oriental, limite que foi progressivamente sendo
empurrado para o interior, cada vez mais distante das áreas de cultivo. Este limite definido
entre a lavoura e o criatório estabelecia que
Merece destaque nesta empreitada Garcia de Sousa d’Ávila, que se instalou na Casa Hinterlândia – vem
da palavra inglesa
da Torre (ver foto 01), casa-fortaleza construída na baía de Tatuapera – Bahia, local de onde
hinterland, tem significado
partiram as entradas para ocupar a hinterlândia baiana. Foi ele o primeiro colonizador a dar semelhante ao de Sertão
grande importância a criação de gado. Suas terras foram adquiridas ainda no governo de Tomé durante o período colonial,
de Sousa, mas ele e seus descendentes trataram de ampliar suas posses através da aquisição ou seja, imensa área
interiorana, distante
de mais sesmarias. Desta forma, os Garcia d’Ávila se tornaram, no século XVIII, os maiores
da costa e de centros
latifundiários de que se tem notícia na história do Brasil, com mais de 340 léguas de terras, urbanos. O termo aplica-
as quais se estendiam desde o sertão baiano até os sertões do Piauí e o do Cariri Cearense. se também a uma área
Apenas o Latifúndio da Casa da Ponte, de Antônio Guedes de Brito, com suas 160 léguas de econômica que é drenada
por um porto.
terras era a propriedade cuja dimensão mais se aproximava do latifúndio da Casa da Torre.
Partindo da Casa da Torre, os criadores seguindo os cursos dos rios Vasa Barris, Itapicuru
e Paraguaçu, através dos quais transpuseram a Chapada Diamantina e atingiram o médio
curso do rio São Francisco, de onde uns criadores foram povoar o Sul da Bahia e o Norte de
Minas Gerais, outros criadores seguiram a direção norte, ultrapassaram o rio São Francisco
e instalaram fazendas de gado no Piauí e no sul do Maranhão. Ainda partindo da Casa da
Torre, outra corrente de criadores conquistou todo o litoral, hoje, sergipano e no trecho entre
as cachoeiras de Paulo Afonso e Sobradinho ultrapassaram o rio São Francisco para ocupar
os sertões de Pernambuco, Paraíba e Ceará onde encontraram as correntes de povoamento
provenientes de Olinda. (ver mapa 01)
Algumas condições foram importantes para a implantação das fazendas de gado nos
sertões nordestinos. Em primeiro lugar vamos lembrar que a ocupação holandesa foi um fato
importante para que os criadores se embrenhassem sertões adentro, buscando se afastar da
zona canavieira que estava em poder dos neerlandeses. Um outro elemento importante para que
o gado se expandisse rapidamente no sertão, foi o clima semi-árido, visto que, o clima seco é
mais saudável para o rebanho por dificultar a proliferação de verminose e outras doenças que
atacavam o rebanho. Por último, não podemos esquecer de que o gado era uma mercadoria
que se auto-transportava, o que possibilitava o distanciamento do criatório das áreas já mais
densamente povoadas.
Desta forma, visando aproveitar os poucos cursos perenes ou a água proveniente dos
lençóis freáticos, foi ao longo dos rios que as fazendas foram se estabelecendo, com suas
sedes às suas margens ou nas suas proximidades, motivo pelo qual as várzeas passaram a ser
valorizadas em detrimento das caatingas dos interflúvios. Sendo assim, as fazendas passaram
a ter formato alongado a partir dos rios, sobretudo com as sucessões hereditárias, quando
foram se tornando com testadas estreitas nas ribeiras e muito compridas ao avançarem para
as caatingas de interflúvios.
Os grandes pecuaristas, em geral, não foram residir nas suas fazendas que eram
distantes, isoladas de difícil acesso, permaneceram em sua grande maioria na Zona da Mata.
Deixaram-nas aos cuidados de vaqueiros que eram remunerados com a quarta parte dos
bezerros ou potros nascidos. Embora o trabalho escravo também tenha sido utilizado no
criatório não teve nesta atividade a mesma força e importância que teve para a plantation
açucareira, em função das próprias características da pecuária que era ultra-extensiva e, Ultra-extensiva
portanto, necessitava de pouca mão-de-obra.
Pecuária ultra-extensiva
– Diz-se da pecuária na
Nesse ambiente isolado, sujeito às estiagens periódicas e de pouca circulação monetária,
qual o gado é criado solto
foi se fixando uma população que teve que se adaptar ao que este meio oferecia, ou seja, em campos abertos,
passou a viver numa economia de subsistência. Nos períodos chuvosos, plantava nos roçados, com pasto natural, sem
cuidados específicos.
confinados por cercas de varas, os alimentos que já eram cultivados pelos indígenas (feijão,
Já falamos que o gado era uma mercadoria que se auto-transportava, você já deve ter
percebido que para ir para os centros de consumo na Zona da Mata Pernambucana e no
Recôncavo Baiano a boiada fazia uma longa e penosa caminhada, atravessando a imensidão
seca do semi-árido. Vimos ainda que o gado era criado solto, alimentava-se, portanto, das
pastagens naturais que desapareciam nas secas prolongadas. Diante do exposto, é evidente
que esse tipo de pecuária era de baixa produtividade, pois ou nos deslocamentos sazonais
a busca de água e pasto, ou nas longas caminhadas para a Zona da Mata o gado emagrecia.
Nessa pecuária ulta-extensiva, na qual, o gado era criado solto em campos abertos, era
comum que os rebanhos de diversas fazendas se misturassem, acontecia também que algumas
reses embrenhadas por anos na caatinga se tornassem selvagens. No final do período chuvoso,
com o gado gordo, os vaqueiros se reuniam para separar o gado das diversas fazendas, ferrar
os bezerros e perseguir os animais que haviam voltado ao estágio selvagem, esse ritual que
era chamado de apartação, constituíam-se em momentos de verdadeiras festas que entraram
para a tradição nordestina: as vaquejadas.
Apesar da pecuária ter se instalado de forma dispersa pelo sertão nordestino, cumpriu
um importante papel de ocupação definitiva dessa hinterlândia. Teve ainda, uma importância
fundamental para formação de vilas e povoados ao longo dos caminhos do gado (ver Mapa
02 – Os caminhos das boiadas no interior do Nordeste), nas paradas onde os boiadeiros
juntamente com os rebanhos descansavam e se abasteciam. Algumas dessas paradas se
tornaram importantes cidades, sobretudo, no Agreste nordestino.
Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982.
Atividade 1
Vamos associar o que estamos estudando ao nosso espaço vivido e percebido?
a) Observe a região na qual você mora. Seu município está localizado na Mata, Agreste,
Brejo ou Sertão? Qual é a principal atividade econômica do seu município? Pecuária ou
agricultura? O gado é criado solto ou confinado? E as plantações são cercadas? Com
base nesses questionamentos e nas suas observações é possível afirmar que a prática do
travessão se transformou num dos elementos da cultura nordestina que chega aos dias
atuais? Explique.
Nós já sabemos que toda a área que corresponde a Amazônia era território espanhol pelo
tratado de Tordesilhas. Acontece, porém, que entre os anos de 1580 e 1640, Portugal esteve
sob o domínio da coroa espanhola, sendo assim, na prática, o tratado de Tordesilhas deixou
de ser um impedimento legal para a penetração portuguesa no território espanhol, já que,
Portugal e Espanha eram um mesmo país.
A Espanha que estava empenhada em proteger suas regiões produtoras de ouro e prata
não teve maior interesse em colonizar a bacia do Amazonas. Área cobiçada e de incursões dos
holandeses, franceses e ingleses, pois controlar a desembocadura desse grande rio significava
ter o domínio de todo esse imenso espaço drenado por esta bacia hidrográfica.
Desta forma, a Espanha deixou aos portugueses a tarefa de proteger esse território, os
quais tiveram que expulsar os franceses da França Equinocial em 1615, e os holandeses da foz
do rio Amazonas, em 1616, fato que levou a fundação de Presépio (hoje cidade de Belém) em
lugar estratégico. Tentando utilizar-se da mesma estratégia posta em prática na ocupação da
costa oriental, Portugal arriscou desenvolver a plantation açucareira, o que não deu resultados
em função das condições naturais da Amazônia. Para ocupar essa região Portugal teve utilizar
outras estratégias. Vamos ver que estratégias foram essas:
b) A outra estratégia foi utilizar a mão-de-obra nativa, que dominava como ninguém esse
território e culturalmente estava apta a ajudar os portugueses na coleta desses gêneros
(que ficaram conhecidos como as “drogas do sertão”), pois era especialista em percorrer
a selva e o emaranhado de rios, coletando vegetais, caçando e pescando, já que eram
atividades básicas para sua sobrevivência.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.
Fonte: Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar Fonte: Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar
8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.25.
8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.23.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.23.
Se por um lado, com a União Ibérica, Portugal perdeu sua autonomia política, por outro,
ganhou livre acesso para avançar nos domínios espanhóis. Com o fim da União Ibérica, o
conflito entre esses dois países estava instaurado, para solucionar tal problema Portugal
apelou para a diplomacia, na qual saiu vitorioso com a reivindicação de um novo conceito de
fronteiras defendido pelo português nascido no Brasil, Alexandre de Gusmão, o qual se baseava
no princípio romano do uti possidetis, ou seja, dava-se o direito de posse da terra a quem a
houvesse ocupado de fato. Esse novo acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha,
em 1750 (tratado de Madrid), deu ao Brasil os contornos que se aproximam dos atuais, e pôs
fim ao Tratado de Tordesilhas que na prática já não era respeitado. (ver mapa 04)
Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
Ao governador da Capitania do Rio Negro, Manuel da Gama Lobo D’Almada foi dada a
tarefa de reorganizar a economia da região que passava por problemas econômicos desde
que a administração das missões saíra da alçada dos religiosos e passara para as autoridades
civis. Entre as estratégias utilizadas por Lobo D’Almada encontra-se a transferência da Capital
da província de Barcelos para Logar da Barra (atual Manaus) que ficava mais bem localizada,
na proximidade da confluência do rio Negro com o Solimões, e dava maior controle sobre
as vias de circulação; deu início a atividades agrícolas tropicais como o anil, o café e o arroz
e transformou o extrativismo do cacau em atividade agrícola; deve-se ainda a este estadista
a introdução da pecuária bovina nos campos da ilha de Marajó e nos do Rio Branco (atual
Roraima), povoando este mais distante recanto do território colonial com uma atividade que
exigia pouca mão-de-obra, mas que ocupava muitas terras, garantindo desta forma a ocupação,
de fato, desse território, com o objetivo de frear a penetração espanhola proveniente de Caracas.
Estava dessa forma garantida a ocupação do território amazônico pelos portugueses.
Tais características, desse meio, fizeram com que as missões religiosas e as bases
militares se estabelecessem juntas aos rios, única forma de acesso e de abastecimento possível
no interior da densa floresta equatorial. Fazia-se assim um tipo de povoamento disperso e ao
mesmo tempo pontual, mas que atendia aos objetivos de garantir a posse do território e da
coleta das drogas do sertão, cuja ocorrência se dava ao acaso da natureza por esse amplo
espaço. Vem da especificidade desse meio a importância que foi dada ao índio como mão-de-
obra, já que dominava como ninguém os mistérios desse território.
É com base no que foi exposto que podemos entender os núcleos de povoamento e,
posteriormente, o surgimento da rede urbana amazônica, intimamente relacionada a estes
caminhos fluviais. Sobre a disseminação das vilas e povoados nas margens dos principais rios
amazônicos Andrade (1982) afirma que:
Resumo
Nesta aula tivemos a oportunidade de estudar sobre a interiorização do
povoamento do Brasil colônia. Vimos que esse processo foi fundamental para o
alargamento do domínio português além do Meridiano de Tordesilhas. Percebemos
o quanto os portugueses foram perspicazes durante sua dependência ao reino
espanhol e embora tivessem perdido sua soberania política tiveram a esperteza
de tirar o máximo proveito da negligência espanhola sobre suas posses na bacia
Amazônica. Vimos ainda que a pecuária foi uma atividade subsidiária, a plantation
açucareira e que por isso foi ocupar as terras do semi-árido nordestino, que não
se prestavam à agricultura comercial, e que a invasão holandesa contribuiu para
uma maior interiorização desta atividade que queria distanciar-se dos batavos.
Você também pode perceber que o colonizador português conseguiu até o século
XVIII ocupar a maior parte do território que hoje pertence ao Brasil com atividades
que utilizavam grandes extensões de terras, mas que concentravam poucas
pessoas. Foi assim com a pecuária, e com as drogas do sertão. Neste aspecto,
podemos observar o quanto os portugueses foram estratégicos ao utilizar o
princípio do uti possidetis e garantir a posse de todo o imenso território onde
havia esta população rala e dispersa.
Autoavaliação
Agora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.
c) Explique os motivos que possibilitaram a maior utilização do índio como força de trabalho
na Amazônia.
Leituras complementares
Além da leitura do texto outras fontes são importantes para você aprofundar seu
conhecimento sobre o assunto que abordamos. Sugerimos que você leia:
É uma das obras mais importantes do autor, bastante lida e citada por pesquisadores de
diversas áreas das ciências sociais. Escrita de forma clara é uma leitura agradável. Tornou-
se um clássico para quem deseja entender a formação do Nordeste do Brasil. Interessa-nos
mais especificamente para nossa aula o capítulo 5 “O latifúndio, a divisão da propriedade e
as relações de trabalho no Sertão e no Litoral Setentrional”, mas a leitura de todo o livro é
recomendável.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e formação das
fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
8)PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
9)SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1990.
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
Autores
aula
07
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
N
a aula anterior estudamos sob as estratégias de ocupação portuguesa para o sertão
nordestino e para a Amazônia, agora vamos conversar um pouco sobre o importante
papel que teve a mineração na consolidação do território brasileiro, contribuindo para
a interiorização da população que até então se mantivera na fachada costeira.
Vamos também discutir cobre o papel da agricultura de subsistência que embora não
seja referência na economia colonial do Brasil teve uma importância fundamental para a
sobrevivência dessa população que se fixou nesses rincões do Brasil e garantiu a Portugal a
apropriação territorial pelo direito real de ocupação.
Objetivos
Nessa aula esperamos que você:
J
á dissemos, em aulas anteriores, que o interesse de Portugal desde o momento que
tomou posse das terras brasileiras era descobrir metais preciosos. Como a Espanha
encontrou civilizações que já trabalhavam o ouro, criou-se o mito de que este metal seria
facilmente encontrado em todo o continente americano e muitos portugueses se embrenharam
pelo interior do Brasil em busca do “El Dourado”, sem sucesso. A primeira descoberta de ouro
na capitania de São Vicente foi tão insignificante que passou despercebida. Porém, só no final
do século XVII foi que bandeirantes paulistas fizeram descobertas significativas de ouro no
atual Estado de Minas Gerais.
Sendo assim, o ouro tornou-se a atividade mais importante da colônia e passou a atrair
a população das demais regiões brasileiras que se encontravam decadentes. Desta forma, o
Nordeste que durante dois séculos fora o centro econômico da colônia, perdeu sua hegemonia
para a o Centro-Sul bem como a capital da colônia que foi transferida de Salvador para o Rio
de Janeiro. Viu ainda um importante contingente de sua mão-de-obra escrava ser transferida
da zona canavieira, em crise, para as áreas mineradoras, em ascensão econômica.
Foi com a mineração que se deu o maior fluxo migratório do Brasil Colônia, não só
um fluxo interno, mas também proveniente de Portugal, que pela primeira vez orientou uma
migração espontânea em direção a sua colônia da América. Movimento que chegou a preocupar
Vamos pensar um pouco sobre estas diferenças e o quanto ela transformou o espaço
colonial brasileiro.
Outro aspecto que divergia da cultura açucareira eram as relações de trabalho, pois
embora a mão-de-obra escrava fosse utilizada como força de trabalho, as relações eram mais
complexas: nas lavras de maior importância utilizavam aparelhos mais especializados e a
mão-de-obra era basicamente de escravos. Na faiscação, com instrumentos rudimentares, os
trabalhadores, mesmo quando reunidos em grande número, trabalhavam por conta própria,
isolados, eram em grande número homens livres e, quando escravos, seus donos fixavam uma
cota de ouro a ser entregue. O excedente dessa cota servia para provê-lo de sua subsistência
e até comprar sua liberdade, o que não era tão fácil.
Outro aspecto importante desses territórios foi o controle exercido pela Coroa
portuguesa sobre os mesmos. Embora a Coroa estabelecesse a livre exploração, exigia que
todos lhe pagassem um tributo referente à quinta parte de todo o ouro extraído. A fiscalização
ficava por conta de um intendente que só se subordinava ao governo de Lisboa, e não raro,
cometia arbitrariedades e atrocidades, nesses territórios mineradores que ficavam sob o
seu inteiro comando.
4. Como se encontrava longe do mar e não produzia quase nada do que consumia as áreas
de mineração passaram a utilizar largamente o transporte com mulas. Criou-se assim
um grande mercado de animais de carga que valorizou as mulas e foi responsável pela
prosperidade de localidades que se tornaram importantes feiras de muares.
A importância dada às mulas estava relacionada com as condições naturais das áreas
mineradoras, com topografia acidentada. As mulas se adaptavam melhor ao transporte de
cargas, seja das áreas produtoras de alimentos, ou para conduzir o ouro até os portos do litoral
do Rio de Janeiro, de onde retornavam com outras mercadorias não produzidas no Brasil colônia.
Este período áureo da Colônia perdurou por três quartos do Século XVIII, quando as
minas começaram a se exaurir. No mesmo período da mineração do ouro, o Brasil se tornou
também o maior produtor mundial de diamantes, cuja ocorrência estava também associada
aos mesmos terrenos, mas que teve importância secundária em relação ao ouro.
O diamante teve causas semelhantes para sua decadência, que ocorreu em paralelo a
derrocada do ouro, porém com um agravante: a queda do seu valor no mercado europeu, visto
que este mercado se viu abarrotado dessas pedras precisas. As medidas de restringir o fluxo de
diamantes na Europa, nunca puderam ser de fato efetivadas, pois Portugal em crise financeira
sempre lançava mão de colocar mais diamantes no mercado, levando a uma desvalorização
ainda maior dessas pedras preciosas.
Em primeiro lugar, temos que analisar que a mineração se deu num momento em que a
Zona Canavieira, que representou o centro dinâmico da colônia encontrava-se em crise, desta
forma cria-se um novo centro gravitacional para a economia colonial, capaz de atrair sua capital
para o Rio de Janeiro que era de comunicação mais fácil com as minas.
Observamos ainda, que estando nessa região a principal atividade econômica, é natural
que para ela convergia importante fluxo populacional, tanto de homens livres quanto de
escravos provenientes da plantation açucareira.
Outra característica importante dessa atividade era a grande mobilidade dos mineradores no
espaço, visto que o ouro era encontrado nos vales fluviais (os aluviões) que logo se esgotavam.
Entretanto, a atividade mineradora diverge das demais atividades que tiveram a colônia
brasileira pelo importante papel de articuladora e incorporadora de regiões que se mantinham
isoladas e sem aproveitamento econômico até o início do século XVIII. Nas regiões mais
interioranas do Brasil, sobretudo em Goiás e no Mato Grosso, a mineração foi responsável pela
atração populacional e pela formação de vilas prósperas, algumas áreas, no entanto, entraram
em profunda estagnação e voltaram a se esvaziar com o fim da mineração.
a)
sua resposta
b)
C
omo vimos até agora, foi a plantation açucareira para exportação o centro das atenções
econômicas nos primeiros dois séculos de colonização. Todas as demais atividades que
se desenvolviam na colônia lhes eram complementares, subsidiárias e subordinadas.
Foi assim com a pecuária nordestina e também com a economia de subsistência.
Essa agricultura que jamais disputou terras com a lavoura de exportação era praticada
tanto pelos escravos que cuidavam exclusivamente da grande lavoura, quando não estavam
ocupados com esta, como também por escravos que faziam outras atividades e cuidavam do
seu próprio sustento utilizando os dias de domingo e santos para se dedicar às suas roças.
Por outro lado, era a pequena produção praticada por homens livres nos interstícios das
atividades principais que respondia pelo suprimento da população urbana, embora também
complementasse o abastecimento da plantation açucareira.
Como mostramos até aqui, a população rural conseguia suprir suas necessidades
alimentares com a produção de uma lavoura diversificada de subsidência que era praticada
nos domínios da cana-de-açúcar, o mesmo ocorrendo com a pecuária, que embora subsidiária
da cana-de-açúcar, recorria à agricultura de subsistência como uma atividade acessória.
Os centros urbanos, que a princípio eram pequenos e sem expressão, e com população
dedicada à administração e ao comércio, já que eram locus do aparelho de dominação colonial,
também se abasteciam dessa produção excedente praticada no campo. Como os engenhos
tiveram que se dedicar cada vez mais à produção açucareira e não se interessavam em desviar
esforços para a produção de alimentos, este setor foi sendo incorporado pela população
indígena e mestiça, que viu nessa forma de abastecimento dos colonos um meio de adquirir as
mercadorias que passaram a necessitar e a desejar. Prado Júnior (1987), vê nessa população
cabocla o embrião de uma classe média entre os grandes proprietários e os escravos.
Posseiro
Diante da estrutura fundiária que se estabeleceu no Brasil, na qual a posse da terra era
É a pessoa que detém de proporcional à quantidade de escravos que cada senhor possuía, a grande maioria da população
fato a posse de uma gleba
de terra, mas não é tono
que não era escrava ou dona de escravos fica excluída do direito a terra. A única forma de ter
por direito da mesma. acesso a este bem de produção foi na condição de posseiro.
Por fim, temos que admitir a importância que esta pequena e diversificada produção
teve na viabilização das plantations, da pecuária, do extrativismo e da mineração, pois sem o
fornecimento de alimentos, ainda que precário, nenhuma dessas atividades poderia se manter
e fixar populações nesses rincões do território colonial.
Atividade 2
Vamos refletir sobre a produção alimentar no Brasil.
sua resposta
b)
Ao terminar esta aula queremos lembrar que o assunto não se esgota nessas poucas
páginas, porém esperamos que nossa conversa tenha despertado em você o desejo para se
aprofundar na discussão, para tanto sugerimos algumas leituras que ajudaram você a conhecer
mais detalhes sobre a importância da mineração nessa fase de formação do nosso território.
Autoavaliação
Agora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.
a) Diante do que você estudou, explique a seguinte afirmativa de Ruy Moreira: “Embora o
essencial das relações de classe permaneça, o arranjo do espaço mineiro expressa essa
fantástica reorganização da vida colonial”.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
Este renomado geógrafo faz uma análise sucinta, porém esclarecedora da formação do
espaço agrário brasileiro que nos ajuda a entender problemassociais e econômicos do nosso
país, cuja origem está no processo histórico de formação do nosso espaço.
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo:
Atlas, 1982,
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e formação das
fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1990.
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
Autores
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08
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
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Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A
porção meridional do atual território brasileiro só tardiamente foi anexada ao espaço
colonial português no Novo Mundo. Primeiramente, esse pedaço de território entrou
para a história política e administrativa da colônia, em fins do século XVII. Contudo,
economicamente, só começou a contar como área com função produtiva dentro da divisão
territorial do trabalho no interior do espaço colonial, na segunda metade do século XVIII,
quando serviu à prática da pecuária e, secundariamente, à agricultura em pequenos trechos
do seu território.
Nessa aula viajaremos com você ao passado da nossa formação territorial para desvendar
as primeiras formas da ocupação portuguesa do Brasil meridional. Para isso, é importante
que você estude com atenção esse conteúdo, realize as atividades, consulte a bibliografia
complementar e, em caso de persistência de dúvidas, busque esclarecimentos com o tutor
ou professor da disciplina.
Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:
[...] A linha imaginária do acordo de Tordesilhas (1494) devia passar mais ou menos na
altura da ilha de Santa Catarina; mas nenhuma das duas coroas ibéricas tratou jamais de
a determinar com rigor [...] (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 93).
Assim, as possessões das duas nações ibéricas na área da Bacia do rio da Prata não
estavam claramente definidas.
Durante o período da União Ibérica (1580-1640), a questão da definição dos limites entre
as possessões das duas Coroas não teve naturalmente especial atenção, já que tudo pertencia
a um mesmo soberano: o rei da Espanha (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94).
[...] a restauração, o rei de Portugal, grandemente preocupado com sua colônia americana
[era a última possessão ultramarina de valor que lhe sobrara], tratou seriamente de fixar-
lhe as fronteiras, sobretudo neste setor meridional onde os estabelecimentos portugueses
e espanhóis mais se aproximavam um dos outros, e onde, portanto, os choques eram
mais de temer (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94).
Como bem nos lembram Ruth da Cruz Magnanini e Ariadne Soares Souto Mayor:
A divulgação destas riquezas minerais – prata que não existia e ouro de lavagem, logo
esgotado – não só atraiu os portugueses para o trecho litorâneo como os levou a procurar
realizar o plano de dominá-lo até o rio da Prata antes que os espanhóis novamente se
estabelecessem em alguns portos desta faixa, garantindo a posse das minas que por ventura
existissem e estendendo a fronteira sul ao estuário platino que consideravam como o limite
natural do território brasileiro. Levando a cabo as suas pretensões, edificaram, em 1680, à
margem esquerda do rio da Prata, não ocupada pelos castelhanos, a Colônia de Sacramento
(MAGNAINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 146. Grifos nossos) (Ver mapa 02).
Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. – Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Moderna, 1996.
Você sabe por que os dois impérios coloniais ibéricos disputaram de forma tão acirrada
e intensa esse pedaço de território? Vamos prestar atenção ao que nos diz sobre isso o
historiador Enrique Peregalli:
Fornecendo desde seu porto mercadorias relativamente baratas - que incluía negros
escravos – às populações platinas em troca de prata, a colônia significou durante sua
existência um desafio ao sistema monopolista espanhol.
O Rio da Prata [...] necessitou ser ocupado pelos castelhanos para deter o avanço lusitano:
a política da coroa espanhola foi manter os portugueses longe de Potosí. A enseada de
Montevidéu, o melhor porto natural do estuário, foi ocupada em 1724 para expulsar os
portugueses que haviam se instalado ali (PEREGALLI, 1982, p. 23-24).
Como você pôde perceber a área era de extrema importância geopolítica para os
espanhóis. Manter o controle sobre ela era primordial para afastar os portugueses de uma
Questão Cisplatina
das suas áreas coloniais mais ricas: Potosí e suas rentáveis minas de prata. Nesse sentido,
Foi o primeiro conflito
a Colônia de Sacramento representava uma ameaça portuguesa que precisava ser destruída.
armado do Império
Brasileiro contra as
Você sabe como os espanhóis empreenderam a destruição da ameaça representada pela
Províncias Unidas do Rio
Colônia de Sacramento? da Prata (primeiro nome
adotado pela Argentina,
Para destruírem a Colônia de Sacramento os espanhóis se valeram de um velho inimigo
até a sua constituição de
dos portugueses: os jesuítas. Esses enviaram quatro mil índios guarani, treinados e armados 1826) no período de 1825
pela Companhia, que, incorporados aos regimentos espanhóis, cercaram a Colônia. Como a 1828, pela posse da
Província da Cisplatina,
pagamento por esse serviço prestado a Coroa Espanhola, os jesuítas obtiveram o direito de
que resultou na formação
transportar gado selvagem para as missões (PEREGALLI, 1982, p. 24). do Estado uruguaio.
você que o segmento de limites com o Uruguai foi produto dos acordos que concluíram O Vice-Reino do Rio
a Questão Cisplatina durante o império, e o traçado final representou significativo avanço da Prata foi criado pela
Espanha, em 1776, para
territorial brasileiro sobre os territórios que, no período colonial, pertenceram ao Vice-Reino do evitar o avanço de outras
Prata. No período colonial, na região, foi estabelecido o segmento de limite entre as possessões potências, sobretudo
portuguesas e espanholas equivalente ao rio Uruguai, o qual demarca hoje o limite do Rio Portugal e Inglaterra, na
região da América do
Grande do Sul com a atual província argentina de Corrientes.
Sul que correspondem
Como você notou, a ocupação pontual de trechos do litoral no século XVII continuou hoje aos territórios da
Argentina, Uruguai,
deixando o interior do território vazio da presença colonial portuguesa. Da mesma forma, no
Paraguai e Bolívia.
mesmo período, a presença da colonização espanhola também ainda não se fazia concretamente
presente na imensidão dessas plagas interioranas.
Quanto aos colonizadores portugueses, como agiram para ocupar de forma efetiva
territórios na região?
Em fins do século XVII, os portugueses utilizaram Laguna, até então o ponto mais
avançado lusitano no litoral sul, para estabelecer núcleos esparsos de ocupação no litoral,
que iam de Santa Catarina ao Rio Grande do Sul.
Como era necessário defender o território ocupado das incursões estrangeiras e por se
tratarem de territórios contestados pela Espanha, a localização dos assentamentos açorianos
foi geoestrategicamente escolhida, fazendo-se em pontos descontínuos do litoral. Em Santa
Catarina, os açorianos foram assentados na ilha de Santa Catarina - área continental fronteiriça
a ela (São Miguel, São José e Enseada do Brito), e no entorno de Laguna (Vila Nova e Campos
de Santa Maria). No Rio Grande do Sul os açorianos foram estabelecidos no litoral (Rio Grande,
Estreito, Mostardas e Osório) e na Depressão Central (Viamão, Morro de Santana, Porto Alegre,
Taquari e Rio Pardo)
A instalação de açorianos era vista pelo governo português como uma oportunidade
de, através da agricultura, fixar o homem à terra, contribuindo, desse modo, para reforçar
a ocupação do litoral. Tanto em Santa Catarina quanto no Rio Grande do Sul a agricultura
praticada pelos açorianos não foi além da produção familiar para a subsistência.
Como bem ressalta Prado Júnior (1987, p. 96), os assentamentos açorianos compuseram
uma “ilha” muito pequena, aliás, sem importância apreciável no conjunto da colônia. Mesmo
computando apenas este setor meridional de que nos ocupamos, seu papel foi reduzido, o
que contou nele foram as grandes fazendas de gado do interior (as estâncias), das quais
conversaremos com você logo a diante.
O gado deixado pelos jesuítas na Vacaria do Mar deu origem ao rebanho da Campanha
Gaúcha. Por outro lado, ao retornarem, os jesuítas salvaram as cabeças de gado restantes,
reunindo-as em uma vacaria mais protegida no Nordeste no Rio Grande do Sul, dando origem
a Vacaria dos Pinhais, assim nomeada por se tratar de zona de Campos, cercada de Mata de
Araucária. A existência da Vacaria dos Pinhais logo despertou o interesse dos moradores de
Laguna. Esses para ela rumaram, abrindo o caminho que atravessava a encosta da Serra Geral
entre Santo Antônio da Patrulha e São Francisco e alcançaram os Campos, apropriaram-se
da região após expulsarem jesuítas e indígenas. A partir daí, estabeleceu-se o comércio entre
Laguna e as vacarias e depois entre elas e São Paulo, tornando conhecida a vasta zona dos
Campos Meridionais (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 148).
A descoberta da riqueza aurífera e das pedras preciosas em Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso trouxe um novo impulso para a pecuária do sul. A demanda por animais de transporte
para transportar a riqueza mineral do interior do território colonial até os portos, especialmente
o do Rio de Janeiro, em um período de difícil ligação entre o interior e a marinha, cujos
caminhos não permitiam o uso de carroças e carros de boi, despertou o interesse pelo uso de
animais de carga, escassos em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Foi por esse motivo que os
paulistas, que até então haviam incursionado pelo sul em demanda das reduções jesuíticas
para prear índios, resolveram alcançar os campos gaúchos com o intuito de obter animais
de carga que lá existiam em abundância, para vendê-los por altos preços para as áreas de
exploração mineral. As incursões dos paulistas no sul para obter esses animais fizeram surgir
o “caminho do sul” (Ver mapa 03 - Caminhos do Gado do Sul), que ligava Viamão à Sorocaba,
que se destacou como centro de comercialização de animais. O caminho do sul foi um marco
inicial da ocupação luso-brasileira da vasta área dos campos meridionais, juntamente com o
que se estabelecera ligando Laguna às vacarias.
Campos Gerais Em sua marcha, a pecuária se instalou nos Campos Gerais (ver mapa 05) nos primeiros
A expressão “Campos
anos do século XVIII, quando criadores de gado provenientes de Curitiba neles de fixaram. Mas,
Gerais do Paraná” foi a expansão dessa atividade econômica nos Campos Gerais se deu quando das investidas dos
consagrada por MAACK paulistas em direção ao sul, que transformou a área em via natural para atingir a campanha
(1948), que a definiu como
gaúcha. (ver gravura 01 e mapa 05)
uma zona fitogeográfica
natural, com campos
limpos e matas galerias 53°
ou capões isolados de
floresta ombrófila mista, 50°
onde aparece o pinheiro
araucária. Nessa definição, 25°
a região é ainda limitada
à área de ocorrência MS Londrina
Aula 08
Fonte: AB’SABER, Aziz – Os domínio de natureza no Brasil: potencialidades
paisagísticas. São Paulo; Ateliê Editorial, 2003
11
08/07/10 11:51
A intensa circulação no caminho do sul propiciada pela pecuária resultou no
estabelecimento de vários pousos de tropas nos Campos Gerais, a exemplo de Jaguariaíva,
Pirai do Sul, Castro, Ponta grossa, Palmeiras, Lapa, entre outros.
Na antiga Vacaria dos Pinhais no Rio grande do Sul, que foi ocupada por lagunenses e
paulistas, surgiu, para atender as necessidades dos fazendeiros da área, a cidade de Vacaria.
Contudo, foi a construção, em 1761, da capela para o culto a Nossa Senhora das Oliveiras,
que propiciou a formação do povoado que deu origem a essa cidade.
Como você pôde perceber, se no século XVII Portugal procurou garantir a posse do
território meridional unicamente pela força das armas, a partir do século XVIII isso foi feito
através da ocupação econômica efetiva, na qual a pecuária ocupou um lugar destacado. Com
ela, o sul se inseriu como espaço complementar - especialmente das áreas de mineração, na
divisão territorial da produção do espaço colonial português no continente americano. Para
viabilizar a posse e o uso do território com a pecuária, a administração portuguesa distribuiu,
através do sistema de sesmarias, propriedades a granel que, como ocorreu no Rio Grande do
Sul, foi responsável pela formação de propriedades gigantescas.
Conforme nos lembra Prado Júnior (1987, p. 98), no alvorecer do século XIX a pecuária
do Rio Grande do Sul e possivelmente, de todo o sul da colônia, não apresentava um nível
técnico muito superior ao da pecuária do interior nordestino. A primeira, em ascensão no
período, sobrepujava-se a segunda, em decadência, pelas excelentes condições naturais em
detrimento das condições adversas do semi-árido. Tanto numa como noutra área, o gado era
criado num estado semi-selvagem, num quase abandono e solto à mercê da lei da natureza.
Com a industrialização e comercialização da carne, iniciadas lá por volta de 1780, com as
primeiras charqueadas, foi que começou a se cogitar de alguma coisa mais regular. Assim
mesmo, ainda em 1810 observa-se que nas melhores estâncias só uma quarta parte do gado
era manso, o restante vivia solto por ali sem cuidado e em estado ainda bravio.
Ainda é Caio Prado Júnior quem descreve como era particularmente a organização
socioespacial das estâncias da campanha ou pampa gaúcho:
Estas são [...] muito grandes, resultado de abusos que não foi possível coibir. Algumas são
de 100 léguas (3.600 Km2). Cada légua pode suportar de 1.500 a 2.000 cabeças, densidade
bem superior a que encontramos no Norte e em Minas, o que mostra a qualidade dos
pastos. O pessoal compõe-se do capataz e dos peões, muito raramente escravos; em
regra, índio ou mestiços assalariados que constituem o fundo da população da campanha.
Seis pessoas no todo, em média, para cada lote de 4 a 5000 [sic!] cabeças. Não há mesmo
serviço permanente para um pessoal numeroso; e nos momentos de aperto concorrem
peões extraordinários que se recrutam na numerosa população volante que circula na
campanha, oferecendo seus serviços em todo lugar, participando do chimarrão e do
churrasco aqui para pousar acolá, sempre em movimento e não se fixando nunca. Hábitos
nômades e aventureiros adquiridos em grande parte nas guerras. Essa gente socialmente
indecisa concorre sobretudo ao “rodeio”, o grande dia da estância que se repete duas
vezes por ano, quando se procede à reunião do gado, inspeção, marcação e castração.
Isto no meio de regozijos em que não faltam as carreiras de cavalos, o grande esporte
dos pampas (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 98-99).
Ainda segundo o referido autor (1987, p. 99), além dos serviços regulares, o pessoal
empregado nas estâncias se encarregava também da queimada dos pastos anualmente (para
eliminação de pragas e para fornecer ao gado a forragem mais tenra dos brotos novos); do
exercício de vigilância relativamente fácil do gado nos campos despidos e limpos em que a
rês não podia se esconder como nas brenhas no Nordeste, e onde os inimigos naturais são
menos perigosos, entre outras tarefas. (Ver gravura 02).
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha104.asp -
Acessado em 08 de janeiro de 2009
À guisa das considerações que tecemos ao longo dessa nossa conversa, podemos afirmar
para você que as estratégias portuguesas para a ocupação do sul da sua colônia americana,
ocupação essa que foi muito além do que, de forma imprecisa, definia o Tratado de Tordesilhas,
mostraram-se bastante exitosas. Mesmo se configurando através de núcleos esparsos no
Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
As questões fronteiriças na região se arrastaram ainda até o final do século XIX e teve na
questão de Palmas o epílogo das disputas territoriais que a marcaram desde o alvorecer do
século XVII. O território de Palmas, localizado no Oeste catarinense (ver Mapa 08 - A questão
de Palmas), que concentrava os maiores ervais do sul, pertencente ao Brasil, era reivindicado
pela Argentina. Para o Brasil, a fronteira que definia os limites da área era os rios Pipiri-Guaçue
o rio Santo Antônio; por outro lado, a região reclamada pela Argentina penetrava como uma
cunha dentro de Santa Catarina, acompanhando os rios Chapecó e Chopim, até a cidade de
Palmas, localizada próxima da divisa entre Santa Catarina e o Paraná. A questão de Palmas
foi arbitrada pelo presidente Clevelend, dos EUA, e os argumentos brasileiros, para confirmar
as fronteiras na área, foram defendidos pelo Barão do Rio Branco. O arbítrio norte-americano
em 1895 foi amplamente favorável ao Brasil e confirmou o traçado dos limites da região com
a Argentina no rio Pipiri-Guaçu, ratificando a região de Palmas como brasileira.
Atividade 1
Quais foram os primeiros núcleos de ocupação portuguesa do Brasil Meridional?
1 Explique as relações existentes entre a atividade econômica praticada nesses núcleos
e o projeto geopolítico português de expansão até à margem esquerda do rio da Prata.
Autoavaliação
A formação do Brasil Meridional, mais do que qualquer outra parte do território
1 brasileiro, foi marcada por contínuas disputas, que em alguns momentos resultaram
em conflitos armados pela posse do território. Explique por quê?
Leituras complementares
Sugerimos como leituras essenciais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre a formação territorial do Sul do Brasil bem como a sua integração econômica aos espaços
colonial e brasileiro:
MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo; Editora
Brasiliense, 1987.
Nesse livro clássico das ciências humanas do Brasil, o autor faz uma abordagem histórica
da formação do Brasil, centrada nos seus aspectos econômicos. A análise do autor cobre um
recorte temporal que vai da instalação das primeiras atividades econômicas pelo colonizador
português no Brasil colônia – a extração do pau-brasil – até as vésperas da década de 1970.
Para o assunto da conversa que tivemos nessa aula, recomendamos a você a leitura do capítulo
onze, que versa sobre a incorporação do Rio Grande do Sul à economia colonial, através do
estabelecimento da pecuária.
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).
Sinopse
Em 1830, uma revolução organizada pelos latifundiários do Rio Grande do Sul contra os altos
impostos cobrados pelo Império é deflagrada. Bento Gonçalves, o líder dos revoltosos, leva as mulheres
de sua família para uma cidade afastada do conflito. Em São Pedro do Rio Grande, elas vivem experiências
dolorosas com a ausência de seus homens e a solidão do isolamento. A cada dia descobrem novos
amores e reacendem antigas paixões.
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo; Editora
Brasiliense, 1987.
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
Autores
aula
09
Fo_Te_A09_VML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:53
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
C
onforme você pôde perceber na aula anterior, até o começo da segunda metade do
século XIX a ocupação e o povoamento do Sul do Brasil se encontravam dispersos e
rarefeitos, apresentando manchas esparsas nos Campos, onde se praticava a pecuária,
e pontos no litoral, onde o estabelecimento de colonos açorianos possibilitou o surgimento de
núcleos de ocupação e de povoamento. Assim, até esse período, amplos espaços ainda não
tinham sido incorporados economicamente ao território nacional.
Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:
Cafeicultura, colonização
européia e frentes pioneiras:
a ocupação e o povoamento
definitivos do Sul do Brasil
C
omo já conversamos com você anteriormente, até meados do século XIX a ocupação
do Sul brasileiro abrangia, de forma geral, as áreas de Campos e alguns trechos do
litoral, a ocupação das Matas restringia-se aos trechos em que elas eram entremeadas
com os Campos. A ocupação definitiva do Brasil Meridional verificou-se graças à cafeicultura,
às frentes pioneiras e à colonização européia.
A marcha do café pelo interior de São Paulo, que foi facilitada pela presença do sistema
de circulação ferroviário, alcançou o Norte paranaense já na segunda metade do século XIX.
Essas frentes pioneiras penetraram no Norte paranaense primeiramente através dos cursos
superior e médio do rio Itararé e tratavam-se de movimentos de fazendeiros plantadores de
café oriundos de áreas paulistas de povoamento antigo, que lançaram as bases dos núcleos
de Siqueira Campos (1862), de Santo Antônio da Platina (1866), de Venceslau Brás e de São
Terceiro Planalto José da Boa Vista (1867), de Carlópolis e de outros. A segunda área logo incorporada às
Corresponde a porção frentes pioneiras de povoamento e ocupação do Norte do Paraná com a cultura do café foi a
do Planalto meridional
do Terceiro Planalto (Ver mapa 01 – Relevo da Região Sul do Brasil) e que teve duas fases: a
localizada após a Serra
geral. Estende-se pelos mais antiga, realizada no trecho entre os rios Itararé e Tibaji, e a mais nova, do planalto de Tibaji
três Estados do Sul às margens do rio Paraná. A fase mais antiga se assemelhou a uma invasão da vaga cafeeira
do Brasil, mas cobre
paulista, que se processou através de Ourinhos, sobretudo depois que esta cidade foi alcançada
quase toda a extensão
dos Estados do Paraná pela Estrada de Ferro Sorocabana, em 1908. O florescimento da cultura do café no Terceiro
e Santa Catarina. Planalto foi responsável por lançar as bases dos núcleos de Jacarezinho (1900), Cambará
Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
Mapa 01 – Relevo da Região Sul do Brasil
A expansão do café pelo Norte do Paraná contou também com a contribuição de políticas
de povoamento e ocupação planejadas tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada. Foi o
que ocorreu na porção ocidental do Tibaji, onde se efetuou, para Magnanini e Souto Mayor
(1977, p. 151), “a maior obra de povoamento planejado do Brasil”.
Dessa forma, a marcha do café, seja de forma espontânea ou de maneira planejada pelo
Estado ou pelas Companhias particulares, completou o povoamento e a ocupação do Norte
paranaense (Ver mapa 02 – Marcha do café em São Paulo e no Norte do Paraná). Essa região é,
ainda hoje, uma das mais ricas e prósperas do Paraná. A expansão paulista e a lavoura cafeeira
deram ao povoamento e a ocupação dessa região um caráter bem distinto do restante do Brasil
Meridional: foram executados por nacionais e não por estrangeiros de qualquer nacionalidade,
cujos núcleos são pouco significativos no interior do seu território.
Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
Faz-se necessário lembrar aqui para você que a colonização moderna do Norte paranaense –
Solo de terra roxa expressão da territorialização do capital na área em questão, como as antigas frentes de ocupação
É um tipo de solo bastante
do período colonial, funcionou como desarticuladora e desterritorializadora dos remanescentes
fértil caracterizado por ser o indígenas que habitavam a área e nela desenvolviam seus modos de vida sui generis.
resultado da decomposição
de rochas de arenito- Se foi especialmente o café a atividade econômica que possibilitou o povoamento
basáltico originadas do e a ocupação do Norte do Paraná, região propícia à sua expansão e êxito econômico por
maior derrame vulcânico
que o planeta já presenciou.
causa da sua tropicalidade e dos seus solos de terra roxa, você sabe como se processou o
A guerra de unificação da Alemanha (1870-1871) mais a divulgação nesse país das más
condições a que eram submetidos muitos colonos que se fixaram no Brasil, diminuíram o fluxo
de imigrantes alemães, a partir de 1851. Nesse contexto, as autoridades brasileiras passaram
a se empenhar em atrair imigrantes de outras nacionalidades. Em função disso, os italianos
passaram a compor os maiores fluxos imigratórios para o Brasil. Os italianos se fixaram nas
áreas de encostas e planaltos do nordeste do Rio Grande do Sul, onde foram responsáveis
pela criação de núcleos coloniais como os de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves. Em
Santa Catarina, os italianos se instalaram nas proximidades do Vale do Itajaí, nas vizinhanças
das colônias alemães que as precederam; junto à encosta sul do Planalto Catarinense, na
Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
Mapa 03 - Colonização Européia na Região Sul do Brasil
A colonização européia deixou nas paisagens do Sul as marcas da cultura trazida pelos
imigrantes, especialmente na forma de produzir o espaço com a prática da agricultura ou na
arquitetura presente em muitas cidades da região, que se originaram com a presença desses
imigrantes (Ver Foto 01 – As marcas da colonização européia na paisagem da região Sul do
Brasil). Isso faz do Sul do Brasil uma região com paisagens culturais sui generis em ralação
às demais regiões do país.
In: http://www.classificadosmercosul.com.br/rota/fotos/blumenau.jpg
Foto 01 – As marcas da colonização européia na paisagem da região Sul do Brasil. (Blumenau – SC)
As últimas áreas da região Sul a serem ocupadas foram o Oeste e o Sudoeste do Paraná,
na década de 1960. Essa ocupação resultou de frentes pioneiras que se deslocaram do Norte
desse Estado, mas também de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Essas frentes eram
formadas por agricultores que não encontravam mais terras nas áreas muito ocupadas da
região e procuraram se instalar nas últimas manchas de mata nela existente. A ocupação
dessas manchas por essas frentes pioneiras fechou definitivamente a fronteira agrícola na
região Sul, levando os agricultores dessa região a buscarem terra em outras regiões do país
- Centro-Oeste, Amazônia e, recentemente, nos cerrados nordestinos.
1.
sua resposta
3.
5.
Resumo
Nesta aula, você teve oportunidade de aprender que: a) até o começo da segunda
metade do século XIX, a ocupação do Sul do Brasil se restringia ao litoral e aos
Campos interioranos; b) foram a cafeicultura, a imigração européia e o movimento
interno das frentes pioneiras, que se processaram entre a segunda metade do
século XIX e a primeira metade do século XX, que completaram a ocupação e
o povoamento do Sul do Brasil; c) o café, através de movimentos espontâneos
de fazendeiros paulistas ou das políticas públicas e privadas de colonização,
consolidou a ocupação e o povoamento do Norte do Paraná; d) as colônias de
imigrantes europeus (principalmente alemães, italianos e eslavos) se fixaram
nas áreas dos planaltos ou da Mata de Araucária dos três Estados do Sul, onde
desenvolveram uma agricultura diversificada de gêneros alimentícios, baseada no
trabalho familiar; e) as frentes pioneiras da primeira metade do século XX foram
movimentadas pela escassez de terra nas áreas de colonização européias mais
antiga e possibilitaram a ocupação das últimas áreas de mata da região Sul do
Brasil; f) a ocupação e o povoamento dessas últimas áreas de mata fecharam a
fronteira agrícola da região Sul do Brasil; g) a colonização européia deixou traços
marcantes na paisagem cultural dessa região do Brasil; h) e, por fim, o fechamento
da fronteira agrícola com a ocupação das últimas terras disponíveis nas áreas de
mata levou os agricultores do Sul do Brasil a buscarem terras em outras regiões
do país: Centro-Oeste, Amazônia e, recentemente, cerrados nordestinos.
MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.
Trata-se de parte de vasta obra sobre a Região Sul, produzida por pesquisadores do
IBGE, que versa sobre a população dessa região. Nela, recomendamos, para os objetivos
estabelecidos nessa aula, a leitura do trecho que trata dos seus movimentos de povoamento
e ocupação antigos e modernos.
Autoavaliação
Aponte e comente a principal diferença entre a colonização do Norte do Paraná e das
1 demais áreas de colonização moderna do Sul do Brasil.
Referência
MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
O “arquipélago”
de “ilhas” econômicas
do Império e da Primeira República
Autores
aula
10
Fo_Te_A10_ML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:55
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
N
ão é novidade para você que a expansão territorial do Brasil se deu em função de
determinados produtos destinados ao mercado externo, foi assim com o litoral brasileiro
no momento que o único produto de valor era o extrativismo do pau-brasil e depois
com a plantation açucareira que se manteve próxima à costa. Porém, vimos que o extrativismo
amazônico, a pecuária e a mineração alargaram o território brasileiro para o interior.
Nesta aula iremos abordar três importantes atividades (a extração do látex na Amazônia,
a cotonicultura no Nordeste e a cafeicultura no Sudeste) que contribuíram para a formação
territorial do Brasil, duas das quais (a borracha e o café) de ápices econômicos simultâneos,
mas que se mantiveram espacialmente isoladas, atendendo aos interesses do capital externo,
sem promover uma integração nacional.
Vamos mergulhar em mais essa etapa da nossa formação territorial, para tanto convidamos
você a dedicar a máxima atenção ao conteúdo dessa aula, realizar todas as atividades sugeridas,
consultar a bibliografia complementar e, em caso de dúvidas, buscar esclarecimentos junto
ao tutor ou ao professor da disciplina. Boa aula!
Objetivos
Com essa aula esperamos que você:
O Maranhão havia se mantido como a Capitania mais pobre da colônia, com uma economia
baseada na agricultura de subsistência e no apresamento de índios para serem vendidos nas
áreas agrícolas mais prósperas. Portanto, sem despertar o interesse da Metrópole, já que sua
economia não era voltada para o mercado externo, e permanecia quase isolado do restante do
território colonial. Seu povoamento se limitava em fins do século XVIII as áreas do entorno do
Golfão Maranhense e da ilha de São Luís, na porção litorânea e, de forma dispersa, na região
de Cerrado, no Sul da Capitania, com os pecuaristas provenientes da Casa da Torre.
O Maranhão desperta dessa letargia econômica em fins século XVIII para se tornar
na principal área econômica do Brasil até as duas primeiras décadas do século XIX, como
importante exportador de algodão e arroz. Isso foi conseqüência da utilização do algodão
como matéria-prima para a indústria têxtil britânica e da retirada dos Estados Unidos como
fornecedor desse produto aos teares ingleses, por motivo da sua Guerra de Independência
(1775 - 1783). Nesse clima de guerra as colônias inglesas da América do Norte também se
retiraram do comércio de arroz, que era exportado para o Sul da Europa, onde este produto
apresentava consumo crescente.
Esse clima de euforia econômica maranhense coincidiu com a atenção especial que
o Marquês de Pombal deu a esta capitania, dando importante ajuda financeira através da
Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão que estimulou a produção do
algodão através de créditos para a lavoura, para compra de equipamentos e escravos. Desta
forma São Luís passou a ser um importante porto receptor de escravos africanos, o que
modificou por completo a composição étnica do Maranhão.
Foi nos sertões nordestinos que a cotonicultura encontrou a simbiose perfeita com a
pecuária, formando o tradicional sistema gado/algodão que passou a caracterizar a região
sertaneja. Por apresentar um ciclo vegetativo curto, o algodão, passou a ser cultivado em meio
à agricultura de subsistência onde após a colheita, servia de ração para o gado, que era posto
para pastar alimentando-se da palha do milho e da rama do algodão. Desta forma a cotonicultura
abriu perspectivas para uma região que até então só tinha sido utilizada para o pastoreio.
No Agreste e no Sertão o algodão foi cultivado por ricos e pobres, em grandes propriedades
que utilizaram inclusive a mão-de-obra escrava, mas também por pequenos produtores.
Porém, vale salientar que a cotonicultura nunca deu preferência nem se desenvolveu a partir
das relações de trabalho exclusivamente escravistas. O baixo preço da força de trabalho era
mantido por relações de produção que envolvia sitiantes, moradores, meeiros e posseiros.
Além de utilizar largamente o trabalho de mulheres e crianças. Foi a cultura que possibilitou
aos agricultores pobres adquirirem alguns bens com a venda da produção, que era cultivada
juntamente com o milho, o feijão e a fava.
a) Como você justifica ter sido a cotonicultura considerada uma atividade mais
democrática que a atividade canavieira?
a)
sua resposta
b)
A borracha
e a ocupação da Amazônia
Como nós vimos na aula 6, o povoamento na Amazônia ficou restrito ao curso dos
grandes rios de forma dispersa e muito distante entre si numa imensa área de floresta cujo
único meio de comunicação era os rios.
Em virtude de uma forte campanha iniciada pelos Estados Unidos que tinha interesse na
região utilizava o falso argumento de aproveitamento da Amazônia em benefício do progresso
geral da humanidade, o governo brasileiro, criou a Companhia de Navegação e comércio do
Amazonas, cujo privilégio de navegação foi dado ao Barão de Mauá, dessa forma a navegação
a vapor passou a controlar o comércio da região e possibilitou o acesso aos rios inexplorados,
em virtude da produção de borracha que já se fazia por essa época. Isso ocorreu também
em função da pressão exercida, sobretudo, pela França e Inglaterra para internacionalização
da navegação no Amazonas. Era pretensão desses países alargar seus domínios através das
Guianas até as margens desse grande rio.
Seringalista Como sabemos a região amazônica não se limita ao território brasileiro e entraram nessa
São os donos ou posseiros euforia econômica Bolívia, Equador, Peru, Venezuela e Colômbia, países que também produziam
dos seringais. látex e nos quais a utilização da mão-de-obra indígena foi ainda mais intensa. No Peru as
atrocidades praticadas contra os índios pelo empresário Júlio César Arana del Águila, sócio
dos ingleses na companhia Peruvian Amazon Company, que se tornou conhecida como Casa
Seringueiros Arana, ganhou repercussão internacional e comoveu de tal forma o mundo que o Peru se viu
São os trabalhadores forçado a criar um serviço de proteção ao índio em 1912.
que estão na base da
cadeia produtiva, são os Iniciou-se com a exploração dos seringais na Amazônia a primeira grande corrente de
responsáveis pela coleta migração nordestina, sobretudo cearenses, que tangidos pelas secas de 1877, 1888 e1889,
do látex, feita diariamente
ao longo de trilhas,
constituíram-se na principal força de trabalho dos seringais.
onde corta determinado
número a árvores de sua
Nesse espaço estabeleceram-se relações de trabalhos que ficaram conhecidas como
responsabilidade e finca sistema de aviamentos, no qual, o seringalista através do sistema de barracão fornecia
uma tigela para recolher ferramentas e alimentação aos seringueiros em troca das pelas. (ver fotos 01 e 02)
o líquido que escorre das
seringueiras. Viviam em
Fonte: http://www.amazonia.org.br/fotografias/detalhe.cfm?id=41007&cat_
regime de semi-escravidão.
Pelas
Como ao seringueiro não lhe sobrava tempo para a produção de subsistência, nem lhe era
permitido plantar nas terras dos seringais, toda a sua alimentação era fornecida pelo barracão
cujos preços exorbitantes dos gêneros alimentícios eram determinados pelo seringalista. Do
mesmo modo, era o seringalista quem estabelecia o baixo preço da compra das pelas. Desta
forma, o seringueiro vivia num eterno processo de endividamento com o patrão, que geralmente
lhes financiava os custos da viagem entre o Nordeste e a Amazônia. Sendo assim, não podia
deixar o seringal enquanto não pagasse a dívida e como seu saldo com o barracão sempre era
deficitário ficava preso ao patrão num regime de semi-escravidão, pois, mesmo que tentasse
a fuga era perseguido e geralmente assassinado pelos capangas dos seringalistas.
Se por um lado o seringueiro vivia nessa situação de miséria absoluta, isolado no meio
da mata, sujeito a todo tipo de perigo, de doenças e de privações era dele que se extraída
a mais-valia que sustentava toda uma cadeia produtiva, cujos altos lucros auferidos aos Mais-valia
seringalistas e aos comerciantes instalados em Manaus e Belém geravam um estilo de vida Conceito desenvolvido por
de abundância e ostentação. Karl Marx para designar a
diferença entre o salário
Sendo o látex matéria-prima exclusivamente industrial, cuja industrialização ocorria pago ao trabalhador e o
valor do trabalho produzido
no exterior, no espaço regional amazônico os lucros com sua exportação desvia-se para
por este, é a base da
obras faraônicas, para o luxo e para as grandes festas dessa burguesia mercantilista que não exploração do trabalho no
investia produtivamente o capital adquirido com a venda da borracha. Desta forma, Belém, mas sistema capitalista.
As importações de produtos finos para a região amazônica eram controladas por empresas
européias, enquanto que a população pobre era atendida pelos regatões, comerciantes de
origem libanesa, síria, turca e judia, que cruzavam a Amazônia em pequenos barcos. Era
através desses comerciantes que os seringueiros conseguiam os produtos que não eram
vendidos nos barracões. Esse comércio ocorria através do escambo que trocava os produtos
Com a crise da borracha que ocorreu em 1913, pela concorrência dos seringais plantados
no Sudeste Asiático, a Amazônia entrou em franca decadência: a maioria dos seringalistas
ficou na miséria, as empresas que não faliram abandonaram na região, parte dos imigrantes
retornaram para o nordeste. A fome assolou a região com a derrocada das exportações de
borracha que financiavam os alimentos provenientes do Sul e deram dinâmica a pequena
produção familiar do planalto Meridional. O Brasil que detinha 50% da fatia mundial das
exportações da borracha em 1910 era responsável por apenas 5% no ano de 1926 e em baixa
cotação no mercado internacional.
c) É correto afirmar que o Estado do Acre foi uma conquista dos seringueiros
nordestinos? Justifique.
a)
sua resposta
c)
N
a fase imperial do Brasil, após o país atravessar uma longa fase de estagnação
econômica e do território se manter em regiões isoladas, sem vínculos internos entre
si, o grande feito desse período é seguramente a preservação da unidade nacional,
mesmo diante da relativa autonomia que apresentavam as províncias e dos vários movimentos
separatistas comandados pelas oligarquias que comandavam a vida das diversas regiões
produtivas e defendiam seus próprios interesses.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.
Agora vamos discutir um pouco como à cafeicultura foi capaz de operar as mais
significativas transformações espaciais que ocorreram no espaço brasileiro.
Até 1830 o café era uma planta disseminada pelo Brasil, cultivada apenas para consumo
interno. Foi, porém, a partir deste ano que começou a ser cultivado nas imediações da cidade
do Rio de Janeiro com fins comerciais. As famílias enriquecidas com as exportações do ouro e
que haviam retornado para seus locais de origem, após a crise da mineração, passaram a utilizar
Graben a mão-de-obra escrava, que se encontrava semi-ociosa, como também o capital mercantil
É o mesmo que fossa acumulado na capital do Império para produzir café, que se tornava um investimento atrativo.
tectônica, ou seja, uma
depressão formada por Da baia da Guanabara as plantações de café seguiram pelo vale do rio Paraíba do Sul, um
afundamento tectônico graben formado pela serra do Mar e a serra da Mantiqueira (ver foto 01), que servia a muito
que tem forma de um vale
alongado com fundo plano,
tempo como via de comunicação entre o Rio de Janeiro e São Paulo e era utilizado como
com a presença de escapas caminho para o abastecimento das minas. Do vale do Paraíba, o café seguia no lombo das
de falhas de ambos os mulas, que eram abundantes e o tradicional meio de transporte da região, até o porto do Rio
lados da depressão.
de Janeiro, de onde seguia para o exterior.
Fonte: João Antonio Rodrigues. Atlas para estudos sociais. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1977.
A importância das ferrovias não estava só em drenar a produção cafeeira até os portos
do Rio de Janeiro e de Santos ou ao fato de se antecipar a expansão de novas terras para os
cafezais, mas também em preparar uma mão-de-obra para início de nossa industrialização ao
exigir um grande aparato técnico em termos de construções e assistência mecânica.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauricio de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.
c) Em São Paulo a marcha do café se fez acompanhar pela ferrovia. Tal fato
anulou o arquipélago econômico brasileiro por proporcionar maior fluidez à
produção? Justifique.
a)
sua resposta
b)
d)
Esperamos que você tenha tido o interesse de ler e assistir os livros e filmes que temos
sugerido ao longo da disciplina, pois isto contribuirá de forma significativa para a sua formação.
Encontraremos-nos na próxima aula. Até lá.
Autoavaliação
Agora que concluímos esta aula vamos verificar o que aprendemos e se nos
restam algumas dúvidas.
c) Observe os mapas 02 e 04 da nossa aula. Com base neles é possível negar ou confirmar
a idéia de arquipélago econômico atribuída ao Brasil durante o período que estamos
estudando? Justifique.
Leituras complementares
Como você sabe, é necessário aprofundar mais um pouco o conteúdo que estudamos
nesta aula e para isso sugerimos as seguintes leituras:
ESTEVES. Antonio R. A ocupação da Amazônia. São Paulo: Brasiliense, 1993. (tudo é história)
Trata-se de uma leitura bastante didática sobre todo o processo de ocupação da região
amazônica, abordando desde a possível passagem do capitão francês Jean Cousin, em 1488
ou 1490, pela foz do rio Amazonas até 1988 com a morte de Chico Mendes, nos conflitos que
envolve a destruição da floresta.
O autor mostra nessa obra, um tanto densa, como passou a ocorrer o processo desigual
e de integração entre o complexo cafeeiro paulista e as demais regiões brasileiras.
CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense, 1992. (tudo
é história)
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, 1990.
CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense, 1992. (tudo
é história)
ESTEVES. Antonio R. A ocupação da Amazônia. São Paulo: Brasiliense, 1993. (tudo é história)
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
13
15
A Primeira República e a
consolidação das fronteiras
Autores
aula
11
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
N
ão se pode deixar de reconhecer o papel preponderante que teve a expansão portuguesa
para o interior do subcontinente sul-americano na definição da configuração territorial
atual do Brasil. Conforme já falamos para você nas aulas anteriores, durante
especialmente o período da União Ibérica, as entradas, as bandeiras, as missões devassaram
o interior da colônia portuguesa muito além dos seus limites não claramente definidos pelo
Tratado de Tordesilhas.
Além desses e de outros processos que já foram discutidos com você nas aulas passadas,
coube ao projeto expansionista geopolítico português interiorizar a fixação de fortes, visando
assegurar a posse e a defesa do território, estratégia essa empreendida durante a União Ibérica,
quando dividiu a sua colônia americana em dois Estados – do Maranhão, com sede em São
Luis, e do Brasil, com sede em Salvador. O Estado do Maranhão era subordinado diretamente
à Coroa e foi criado, inicialmente, para garantir a defesa do litoral setentrional, exposto aos
ataques e ocupação dos franceses. Posteriormente, depois de afastadas as ameaças dos
franceses, em 1751, esse Estado serviu para consolidar a soberania portuguesa sobre a bacia
amazônica, mudando, inclusive, o nome de Estado do Maranhão para Estado do Grão Pará,
mudança essa que foi acompanhada da transferência da sua sede de São Luis para Belém
(Ver Mapa 01 – Os dois Estados do Brasil Colonial).
Contudo, os contornos desse imenso território (limites e fronteiras) não foram gestados
no período colonial. Nesse período, apenas uma pequena extensão dos nossos contornos
territoriais foram definidos e demarcados, nossos limites e fronteiras atuais são produtos,
principalmente, do desenrolar de eventos diplomáticos que perpassaram o período Imperial e
chegaram até a Primeira República.
Nessa aula, convidamos você a fazer um itinerário sobre a definição e demarcação dos
limites e das fronteiras do Brasil. Para conhecer esse episódio da nossa formação territorial,
convidamos você a estudar atenciosamente o conteúdo dessa aula, realizar as atividades
sugeridas, consultar a bibliografia complementar e, em caso de persistência de dúvidas, buscar
esclarecimentos com o tutor ou professora da disciplina.
Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:
Tomando o conceito de território estudado na nossa primeira aula, podemos afirmar para
você, grosseiramente, que uma fronteira separa poderes, em alguns casos conflitantes. No
caso dos Estados-Nações, entidades político-territoriais que nasceram como suporte espacial
necessário para a afirmação e a reprodução do capitalismo na Europa, as fronteiras definem
os limites jurídicos do território e são abstrações geradas e sustentadas pela ação institucional
no sentido do controle efetivo do Estado territorial, portanto, um instrumento de separação
entre unidades políticas soberanas. Contudo, é importante lembrar para você que os limites
de um “país não são simples pontos, conjuntos de marcos ou contornos fixos” (PEREGALLI,
1982, p. 16). Conforme observa esse historiador:
Mas como é estabelecida uma fronteira política entre Estados territoriais? Que etapas
envolvem a sua fixação?
Sem querer entrar em detalhes, e, portanto, de forma sucinta, podemos dizer para
você que a fixação de uma fronteira política envolve, grosseiramente, três etapas: definição,
delimitação e demarcação.
No tocante à política, a linha de fronteira nasce na etapa da delimitação, pois é nela que,
mediante acordo detalhado sobre os limites entre dois territórios, produz-se um vasto acúmulo
de informações cartográficas em grande escala, que trazem representadas, em detalhes, os
contornos da linha de fronteira.
Atividade 1
Observe, em um atlas, o mapa político do mundo e responda:
sua resposta
b)
O
primeiro esboço do território brasileiro atual foi estabelecido em 1494, portanto, antes
da chegada de Cabral, em 1500, quando da assinatura do Tratado de Tordesilhas
entre os países ibéricos. A elaboração conceitual da fronteiras desse território, que
pertenceria à Coroa portuguesa, tomou como base o sistema de coordenadas geográficas, a
linha imaginária divisória (o Meridiano de Tordesilhas) deveria se situar 370 léguas a Oeste
das ilhas de Cabo Verde - cabendo a Portugal as terras “descobertas ou a descobrir” situadas
antes da linha imaginária e à Espanha as terras que ficassem além dessa linha (Ver Mapa 02
– Primeiro esboço do território brasileiro definido pelo Tratado de Tordesilhas).
Além disso, existe uma justificativa plausível para toda a imprecisão dos limites territoriais
entre as possessões sul-americana das duas Coras Ibéricas. Conforme nos relata Machado
(2002, p. 3), só no século XVIII a relação entre limite e fronteira territorial estava sendo
desenvolvida na Europa. Até então, os limites das possessões, fossem reinos ou soberanias,
eram, com freqüência, imprecisos. Foi no decorrer daquele século que se difundiu na Europa
a noção de muro-fronteira ou de uma razão de Estado linear.
A fronteira imprecisa definida pelo Meridiano de Tordesilhas foi, como você já teve
oportunidade de perceber nas aulas anteriores, transposta principalmente durante o período
da União Ibérica, quando a falta de impedimento legal permitiu que as entradas, as bandeiras, as
missões etc. alargassem as possessões portuguesas no sul do Novo Mundo e constrangessem
as possessões espanholas.
Não obstante ter sido anulado em 1761, através do Tratado de El Pardo, o Tratado de
Madri constitui uma referência válida para o estudo do processo histórico de legitimação
dos limites das terras brasileiras, em virtude das inovações introduzidas por quatro anos
de negociações diplomáticas, entre as quais: a) o reconhecimento da superação da linha
de Tordesilhas; b) a primeira tentativa de estabelecer os limites entre as possessões lusas
e castelhanas num sentido continental; c) uma visão ampla da geopolítica mundial, em que
se estabelece a separação entre os conflitos que pudessem ocorrer na Europa e os conflitos
americanos; entre outros (MACHADO, 2002, p. 2-3). Para Becker e Egler (2003, p. 46), o
Tratado de Madri, ao estabelecer pela primeira vez as linhas divisórias entre os domínios de
Portugal e da Espanha, adotando como critério o utis possidetis, isto é, o reconhecimento do
direito de posse a partir do efetivo povoamento e exploração da terra, legitimou a apropriação
portuguesa do território cujos limites permanecem grosseiramente os mesmos de hoje (Ver
Mapa 03 - O território do Brasil segundo o Tratado de Madri).
Mas quais seriam os marcos dos limites ou como estabelecer a linha de fronteira entre
as duas possessões sul-americanas dos países ibéricos definidos por esse tratado?
Divisor de águas
1.
sua resposta
3.
4.
Para alguns autores, esse crescimento territorial do Brasil revela a faceta expansionista
do seu subimperialismo, exercido sobre os seus vizinhos na América do Sul. Já outros autores
consideram que o Brasil não era tão forte assim, muito pelo contrário, era um país fragmentado,
dividido, sem a presença de um Estado suficientemente forte para solidificar a união de regiões
tão diferentes. E o maior perigo de desintegração, por influências indiretas ou ações diretas,
provinha do outro lado da fronteira. Assim, como condição de existência, era preciso ao Brasil
debilitar ou mesmo destruir os seus vizinhos: crescer territorialmente era uma forma de manter
a unidade nacional. Outros estudiosos procuram identificar os destinos dos povos com certos
espíritos criadores de acidentes geográficos. Os fecundadores do mundo teriam colocado
na terra certas montanhas, certos rios, como limites naturais de um povo, predeterminado a
exercer sua influência sobre esta área. Nesse sentido, o crescimento territorial do Brasil era
uma resposta do seu povo ao chamamento para dominar os territórios compreendidos entre
Seja qual for a explicação para esse crescimento territorial do Brasil nesse período,
a referência para a demarcação dessas fronteiras foram preferencialmente os chamados
acidentes físicos, principalmente os cursos fluviais - o rio Jaguarão (limites com o Uruguai ao
Sul), trechos dos rios Paraguai e Paraná (parte dos limites com o Paraguai), rio Javari (parte
dos limites com o Peru), (ver mapa 6, As fronteiras do Brasil) e as linhas de crista do divisor
de águas entre as bacias do Amazonas e Orinoco (parte dos limites com a Venezuela). Isso,
de qualquer modo, refletia a forte ênfase na idéia de fronteira natural dos territórios da época,
também bastante utilizada pelo Império brasileiro para justificar a sua expansão territorial.
Assim, como você percebeu, boa parte dos nossos contornos territoriais foi elaborada
no período imperial. Contudo, a fixação das fronteiras da configuração territorial brasileira foi
concluída na Primeira República, mas antes de falarmos com você sobre esse assunto, reflita
sobre essa parte da nossa conversa.
Atividade 3
Observe e analise o mapa 05 mostrado na aula, e responda:
A consolidação
da fronteiras brasileiras
atuais na Primeira República
C
omo já falamos para você, aproximadamente um terço das fronteiras terrestres
brasileiras foram fixadas na República Velha ou Primeira República. Nesse período,
os limites territoriais brasileiros se encontravam definidos pela Constituição de 1891,
porém, nem todos se encontravam delimitados.
O restante das fronteiras brasileiras demarcadas na Primeira República foi definido através
de arbitragens ou de acordos bilaterais.
Como já falamos para você na aula sete, a questão de Palmas envolveu o Brasil em uma
disputa territorial com a Argentina, entre 1890 -1895. Nela, a Argentina reivindicava a porção
oeste dos atuais Estados do Paraná e de Santa Catarina, pretendendo estabelecer a fronteira
nos rios Chapecó e Chopim. Segundo a Argentina, esse traçado da fronteira tinha como base
o Tratado de Madri. Por outro lado, o Brasil pretendia fixar os limites nos rios Pipiri-Guaçu e
Santo Antônio. Pouco tempo antes da proclamação da República, os dois países em litígio
decidiram que a questão seria resolvida através do arbitramento internacional. Pelo resolvido,
Quintino Bocaiúva (Ministro das relações Exteriores do Governo Provisório), assinou, em
1890, o Tratado de Montevidéu, que dividia a área em disputa entre os dois países. Contudo,
essa decisão não foi ratificada pelo Congresso Nacional Brasileiro. Nesses termos, a questão
foi submetida ao arbitramento do presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland. Nessa
questão, atuou como defensor do Brasil o Barão de Rio Branco, que expôs ao presidente
Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de limites.
2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).p.78.
Mapa 06 - A questão de Palmas
A questão do Amapá envolveu o Brasil em uma disputa territorial com a França. A área em
litígio corresponde atualmente a quase a metade do território do Estado do Amapá. Por decisão
entre ambos, França e Brasil decidiram submeter a questão à arbitragem. O Governo brasileiro
nomeou para representá-lo frente ao presidente Walter Hauser (o árbitro da questão), da Suíça,
o Barão de Rio Branco. Mais uma vez os argumentos brasileiros prevaleceram. A decisão de
1900 confirmou a fronteira entre o Brasil e a Guina Francesa no rio Oiapoque e acrescentou
aproximadamente 261.540 km2 ao Brasil, que, assim expandiu pacificamente suas fronteiras
no norte e assegurou para o Barão de Rio Branco uma posição de destaque na diplomacia
internacional (PEREGALLI, 1882, p. 79) (Ver Mapa 07 - A questão do Amapá)
A questão do Acre foi outro capítulo da história da formação territorial do Brasil que se
passou durante os primeiros anos da República Velha. O território acreano, que pertencia
à Bolívia, foi ocupado por seringueiros oriundos do Nordeste brasileiro, apoiados por
seringalistas amazonenses, durante o boom da borracha. As escaramuças entre brasileiros
e bolivianos se tornaram então constantes e inevitáveis. No transcurso dos acontecimentos,
os brasileiros, liderados por Luis Galvez, chegaram a proclamar uma efêmera independência
acreana, em 1899. O Governo boliviano, sem condições econômicas e militares para fazer
frente à presença de brasileiros nos seringais do Acre, especialmente nos altamente produtivos
localizados na bacia do rio Acre, entregou, em concessão, a exploração do Acre a Bolivian
Syndicare, um consórcio estadunidense, que teria amplos poderes para administrar o território
em questão. Isso foi o estopim para a revolta militar dos seringueiros brasileiros comandados
pelo gaúcho Plácido de Castro, que defendia o direito de posse da terra dos brasileiros por
estarem eles há muito tempo na área explorando a borracha. Por outro lado, o Governo
boliviano mobilizou suas tropas em virtude do conflito. Diante da iminência da deflagração
Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e
tratados de limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).p.86.
Mapa 08 – A questão do Acre
A questão dos Campos de Pirara envolveu o Brasil e a Inglaterra. No século XIX acentuou-
se a presença inglesa na fronteira com Roraima, a pretexto da indefinição de fronteiras e de
proteção aos missionários britânicos envolvidos com a catequese de populações indígenas.
A questão do Brasil com a atual Guiana (então uma possessão colonial da Inglaterra) foi
solucionada através da arbitragem do rei Vitor Emanuel III da Itália. O laudo arbitral do rei
Vitor Emanuel dividiu os 22.000 Km2 da área em litígio entre o Brasil (9.065 Km2) e os ingleses
(12.950 Km2). Nessa contenda territorial atuou na defesa do Brasil o pernambucano Joaquim
Nabuco (Ver Mapa 09 – A questão do Pirara).
O Brasil, para fixar a maioria dessas fronteiras, como na época do Império, usou o velho
princípio português para a apropriação de um território: a terra pertence a quem a coloniza
de fato (utis possidetis). Ademais, a mitologia territorial que atribuía um fundamento natural
para as fronteiras brasileiras, segundo a qual os cursos dos rios Uruguai, Paraguai e Guaporé
e a bacia amazônica configuravam uma “ilha brasileira”, circunscrita pela natureza, mitologia
essa originada desde a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro (1808),
transformou-se na diretriz da política de fronteiras do Brasil Imperial e na era Rio Branco.
Esse mito territorial exprimia a idéia de uma origem natural do próprio Brasil e acabou por
refletir os contornos das fronteiras brasileiras com razoável precisão (MAGNOLI, 1997). Não
obstante, os acidentes físicos, notadamente os cursos dos rios, foram, também, na República
Velha, bastante utilizados para estabelecer os marcos das nossas fronteiras. Todavia, como
bem nos lembra Magnoli (1997), nossas fronteiras não foram obra na natureza, mas produto
da política e da história.
Atividade 4
Observe e analise o mapa 10 mostrado na aula, e responda.
sua resposta
2.
4.
5.
C
onforme você pôde perceber, o território brasileiro atual não foi uma dádiva da
natureza recebida pelos portugueses e repassada, como herança, para os brasileiros,
após a independência. Do seu esboço original precariamente definido pelo Tratado
de Tordesilhas, os portugueses trataram, através de diversas estratégias geopolíticas e
geoeconômicas, de alargar a extensão desse território, estabelecendo grosseiramente a
superfície que o mesmo detém atualmente. Porém, suas fronteiras não foram fixadas no
período colonial, a grande maioria delas foi estabelecida no Império e na Primeira República,
através de tratados, acordos e arbitramentos internacionais. A demarcação dessas fronteiras
e, conseqüentemente, a anexação de territórios, contribuiu para que o Brasil apresente a
configuração territorial que lhe é peculiar atualmente. Portanto, o território do Brasil não
era uma dimensão espacial estabelecida à priori pela natureza e nem suas fronteiras foram
todas gestadas no período colonial. Nosso território é produto do desenrolar dos eventos
históricos situados entre 1500 e os primeiros anos do período republicano, que envolveu
muitas discussões, conflitos, disputas e decisões políticas.
Leituras complementares
Sugerimos como leitura importante para o aprofundamento da conversa que tivemos sobre a
formação das fronteiras do Brasil:
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).
Elenco
José Wilker
Alexandre Borges
Cássio Gabus Mendes
Christiane Torloni
Giovanna Antonelli
Vera Fischer
Débora Bloch
Vanessa Giácomo e grande elenco
Mad Maria
Minissérie de Benedito Ruy Barbosa com direção de Ricardo
Waddington, exibida pela Rede Globo entre 25 de janeiro e
25 de março de 2005 com gravações na região amazônica.
Foi baseada na obra homônima de Márcio de Souza e retrata
a feitura da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em 1912.
A história abordas questões como a dura rotina dos
operários na frente de trabalho em plena selva amazônica,
os bastidores do poder na capital da República, no início
do século XX, e o drama das populações indígenas em
extermínio.
Elenco
Fábio Assunção
Ana Paula Arósio
Fidelis Baniwa
Juca de Oliveira
Antônio Fagundes
Cássia Kiss
Priscila Fantin
Tony Ramos
Cláudia Raia
Walmor Chagas e grande elenco
A minissérie está disponível em DVD.
Autoavaliação
Observe os mapas 04, 05 e 10 mostrados na aula para responder as questões abaixo.
Referências
BECKER, Bertha; EGLER, Claudio. Brasil: uma potência regional na economia-mundo. 4. Ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).
MACHADO, Lia Osório. Limites e fronteiras: da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade.
Disponível em http://acd.ufrj.br/fronteiras/pesquisa/fronteira/p02pub02.htm. Acesso em
12/01/2009.
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1987.
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
13
15
Do arquipélago de “ilhas”
econômicas à integração do território
Autores
aula
12
Fo_Te_A12_IL_080710.indd Capa1 08/07/10 11:59
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.
ISBN: 978-85-7879-050-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A
té aqui vimos que o território brasileiro foi em boa parte uma herança do expansionismo
lusitano, que avançou pelas terras espanholas a oeste de Tordesilhas. Vimos ainda, que
com a independência do Brasil, o império enfrentou vários movimentos separatistas,
mas que teve a grande proeza de manter a unidade nacional. Com o fim do império, sabemos
que o Estado brasileiro consolidou as fronteiras e aliou o seu tradicional autoritarismo a formas
capitalistas de produção, porém, é do nosso conhecimento que até os anos de 1930 não havia
ainda um território integrado, o Brasil era um imenso “arquipélago” de “ilhas” econômicas que
tinham como razão de ser o mercado externo.
Na presente aula, vamos discutir como foi possível a integração desse território, a partir
dos anos de 1930, integração esta, que é um projeto em execução, sobretudo nas chamadas
áreas de fronteiras. Fronteiras estas que se faz necessário indagar de como foram constituídas,
pois como vimos não foi uma dádiva da natureza, mas sim, foram traçadas por tratados,
conflitos militares, litígios ou arbitragens.
Nesta reta final é importante que você continue a ter os mesmos cuidados e dedicação
com a leitura e a aprendizagem e que continue a realizar as atividades e, em caso de dúvida,
busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina. Não esqueça de observar
os mapas, pois os mesmos não são simples ilustrações, mas uma importante ferramenta de
leitura e entendimento do espaço que o geógrafo deve utilizar.
Objetivos
Nesta aula esperamos que você:
é um termo utilizado
por muitos Estados
Para iniciar nossa conversa
para designar a divisão
territorial do país.
O Estado republicano que se organizou no território brasileiro manteve o
No Brasil muitas das autoritarismo e a tendência centralizadora que fora típica do Império. A busca por
capitanias hereditárias modernização não foi acompanhada por um processo de democratização, em vez disso,
tornaram-se províncias,
sistema que vigorou
a República acentuou sua política centralizadora e, embora tenha adotado o modelo
até a proclamação da federativo, tentou manter o controle sobre as províncias. O sentimento separatista que
república quando o Estado era mantido pelas províncias foi de certa forma atenuada através da relativa autonomia
inspirado no modelo norte-
americano transformou as
que estas gozavam.
províncias em estados.
As idéias separatistas ganharam força com o vertiginoso crescimento apresentado
por São Paulo que provocou um acentuado distanciamento desse estado em relação
Política do aos demais. A consolidação de São Paulo como o estado mais rico e de maior influência
café-com-leite
política do país, fez surgir o temor de que o federalismo brasileiro se processasse sob
foi a política adotada na a égide paulista, mas tal sentimento não chegou a formar nenhuma mobilização, de
República Velha, na qual os
estados de São Paulo, que
fato, com fins separatistas, como observa Andrade (1997 p. 128-130).
era o economicamente mais
rico devido à produção de
As oligarquias regionais mantiveram-se fortes durante toda República Velha
café, e o estado de Minas e sucediam-se no poder central, com ocorria no típico exemplo da política do
Gerais, na época o maior café- com- leite. Este equilíbrio de poder na política brasileira só sofreu uma ruptura
centro eleitoral do país e
grande produtor de leite, se
quando o presidente Washington Luís quis impor um sucessor paulista à candidatura
revezavam no poder central. do presidente de Minas Gerais que deveria sucedê-lo na presidência da república.
Não foi por acaso que o ensino e as pesquisas de cunho puramente geográfico sobre
o Brasil se institucionalizaram na década de 1930. Foi quando a burguesia e as classes
médias urbanas passaram a ter maior influência sobre o governo e quando o Estado, forte e
centralizador, apoiou-se nas idéias da segurança nacional, da consolidação da unidade territorial
(a partir do centro) e da formação da identidade brasileira associada ao Estado-Nação. Surgem
neste contexto os primeiros cursos de Geografia em nível superior nas universidades de São
Paulo e Rio de Janeiro nos anos de 1934 e 1935, respectivamente.
Foram, portanto, para atender a esses objetivos traçados pelo Governo Federal que o IBGE
se constituiu de três conselhos, o de Geografia, o de Estatística e o de Cartografia.
Na primeira fase de criação do IBGE, esse instituto teve uma preocupação voltada
explicitamente para a geopolítica e a divisão do país em regiões geográficas, com destaque
para as propostas de Teixeira de Freitas e de Fábio Guimarães.
Ao geógrafo Fábio de Macedo Soares Guimarães, foi dada a tarefa de dividir o país em
regiões, cujo objetivo era sistematizar as várias divisões regionais que vinham sendo propostas
para o Brasil em uma única regionalização (oficial) para a divulgação das estatísticas brasileiras.
Esse trabalho foi aprovado em 1942.
No seu trabalho de dividir regionalmente o Brasil, Fábio Guimarães teve que respeitar
os limites estaduais para atender as determinações políticas e facilitar as coletas de dados
por estado. Pela forte influência francesa que impregnava a geografia brasileira, sua opção
foi à divisão baseada nas grandes regiões naturais por entender como uma divisão estável
e permanente que daria elementos mais precisos para acompanhamento futuro da própria
evolução regional. Não podemos, no entanto, pensar que este trabalho significou uma tarefa
simples, visto que algumas regiões ainda não eram completamente conhecidas, como era
o caso da Amazônia, que era percorrida pela rede fluvial e era percebida como uma grande
região homogênea.
Mapa 02 – Divisão Regional do Brasil feita pelo Ministério da Agricultura e adotada pelo IBGE em 1938
Fonte: Revista Brasileira de Geografia. Abril-junho de 1941, p.120 – Desenho adaptado pelos autores.
Fonte: Revista Brasileira de Geografia. Abril-junho de 1941, p.120 – Desenho adaptado pelos autores.
Resumindo toda a importância que teve o IBGE, na fase que considera áurea, Manuel
Correia de Andrade diz que
[...] não foi apenas uma escola de formação de geógrafos; ele (o IBGE) forneceu aos
mesmos condições de maior segurança em seu trabalho. Assim, foi feito pelo Conselho
Nacional de Cartografia o levantamento cartográfico do país, de que resultou a publicação
do Atlas do Brasil ao milionésimo, como também deu maior consistência e uniformidade
às estatísticas. Realizando os recenseamentos populacionais e econômicos decenais
-1940, 1950, 1960 etc. – e publicando o Anuário Estatístico do Brasil. Serviu este órgão
técnico de consulta para o Poder Central e fez [...] a política do poder, contribuindo,
inclusive, para a escolha do local em que se construiria a nova capital do País – Brasília.
(grifo nosso), (ANDRADE, 1987, p. 91).
Para o Nordeste, visto como um região problema, observa Ioná Maria de Carvalho
(1987, p. 47) que o governo Federal dispensou tratamento diferenciado em relação as outras
regiões já a partir de 1930, tais como a transformação da Inspetoria de Obras Contra as Secas
(IFCS) em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNCS), a criação do Instituto
do Açúcar e do Álcool (IAA), da Companhia do Vale do São Francisco (CHESF) e do Banco
do Nordeste (BNB), medidas que não conseguiram alterar significativamente o quadro de
subdesenvolvimento da região.
Atividade 1
a) Justifique a importância que o governo Vargas deu ao conhecimento geográfico, criando
os primeiros cursos superiores de Geografia e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
c) Observe o mapa 05. Localize os Territórios Federais criados por Vargas para serem
diretamente administrados pelo governo federal. Com base na ideologia do Estado Novo,
como podemos explicar a criação desses territórios.
N
os anos de 1950, ainda com o governo Vargas, o Estado passou a agir através de
com atividades industriais,
comerciais e de serviços políticas regionais explícitas, era necessário integrar as economias periféricas ao
organizadas. É o núcleo Centro-Sul do país. A conformação de um país agrário estruturado em arquipélagos
ou o coração irradiador
havia se desfeito e a cafeicultura com o trabalho assalariado tinha contribuído muito com isso
de uma cidade, estado ou
região. No Brasil a área ao “abrir a possibilidades de circuitos inter-regionais de mercadorias” (BECKER, 1994, p. 111)
core corresponde ao núcleo
das grandes metrópoles Nessa incessante busca de formação de um mercado nacional integrado, via
nacional formado por São industrialização, às demais regiões (que se constituíam em periferias, de desenvolvimento
Paulo e Rio de Janeiro que
dinâmico ou lento) passam a ser complementares a economia do Centro-Sul, que se
inclui o Vale do Paraíba e
parte do interior paulista transformara na área core do espaço brasileiro. Foi nesse contexto que se iniciaram as
onde se encontra o maior políticas de desenvolvimento tendo como foco as questões regionais, tais como a criação da
complexo industrial do país.
Superintendência do Plano de Valorização econômica da Amazônia – SPVEA em 1953 e da
institucionalização da Amazônia Legal, em agosto do mesmo ano.
Bens de produção
Todo este investimento na integração de um mercado nacional e na criação da infra-
são os bens e serviços estrutura para a industrialização do país serviu de base para a política que foi implantada por
necessário a produção de
Juscelino Kubitschek, que acelerou o surto industrial e o crescimento industrial do país, porém
outros bens tais como:
maquinas, equipamentos, sobre outras bases visto que este governo privilegiou não a indústria de bens de produção,
matérias-primas, mão-de- mas as indústrias de bens de consumo duráveis, sobretudo aquelas votadas para o setor de
obra, energia e produção
científica. Os bens de ponta, tais como a indústria automobilística e a eletro-eletrônica.
produção também são
denominados de bens de Através do Plano de Metas cujo lema era “crescer quinze anos em cinco”, Juscelino
capital. A Indústria de bens Kubitscheck inaugurou uma nova fase da industrialização e da integração nacional. Utilizando
de produção, também
chamada geralmente de
tanto recursos do Tesouro Nacional quanto recursos externos, o governo investiu pesadamente
Indústria de bens de bapital no setor de energia, transportes, siderurgia, educação e alimentação. E teve como símbolo
ou ainda de indústria de
dessa fase desenvolvimentista a construção de Brasília.
base são as que produzem
mercadorias necessárias
à fabricação de outras
Com Kubitschek inaugurou-se no país a fase de internacionalização capitalista com a
mercadorias. Elas podem entrada de multinacionais para atuarem na produção de bens de consumo duráveis. A indústria
ser definidas quando modernizou-se, porém, a custas do endividamento externo, da dependência tecnológica e da
ao tipo de produção
em Indústria de bens inflação. O processo de industrialização foi acompanhado pelo êxodo rural e conseqüente
intermediários – quando crescimento das cidades. O Brasil se transforma, a partir de então, numa nação urbana-
produzem matérias-primas
industrial-moderna, porém subdesenvolvida.
para serem utilizados
em outras indústrias (a
exemplo da indústria
No tocante ao território, que é o foco do nosso estudo, duas metas são fundamentais para
siderúrgica) ou de bens a reestruturação espacial, primeiro a ênfase dada ao transporte rodoviário pelo governo JK.
de equipamento, quando
Com a construção das estradas inter-regionais o presidente Juscelino passou a integrar todo
produzem maquinários
que também se destinam a o território nacional, meta que era almejada pelo governo brasileiro deste o tempo do Império.
produção de outros A outra obra que também se constituía em um sonho antigo - não só nos escalões do Estado,
bens de capital.
Nesta aula não cabe discutir as teorias e polêmicas que envolvem a construção de Brasília,
Indústria de bens de
vamos nos ater apenas ao seu papel no que diz respeito a reorganização do espaço brasileiro. A
consumo duráveis
nova capital no interior do país, transformou-se em um nó de articulação na rede de circulação
é aquela que tem por
nacional, integrando o Norte e o Centro-Oeste a área core da economia nacional através das
finalidade atender
estradas federais que passaram a ligar Brasília a Goiânia, a Belém, a Rio Branco,a Fortaleza, ao grande mercado
a Belo Horizonte e a São Paulo. Dinamizou áreas de Goiás, de Mato Grosso, do Pará e do consumidor. Os bens
de consumo podem ser
Maranhão que se encontravam estagnadas. A nova capital se converteu na via de penetração
classificados como bens
para o Norte e o Centro-Oeste atraindo fluxo populacional e de investimentos privados e estatais de consumo duráveis
para estas regiões. e bens de consumo
não-duráveis. Os bens de
O Centro-Oeste havia sido anexado ao território brasileiro por meio dos bandeirantes consumo não-duráveis
são aqueles que são
paulistas, movimento que tendo a finalidade de procurar ouro e prear índios se revelou
rapidamente consumidos
despovoador. O surto da mineração no século XVIII fez surgir arraiais dispersos que se ou substituídos, como os
mantiveram isolados e estagnados com o fim dessa atividade. As comunicações do Mato medicamentos, roupas,
calçados alimentos etc.,
Grosso até o início do século XX com o restante do país eram feitas através dos rios Paraguai
já os bens de consumo
e Paraná, passando por territórios do Paraguai e da Argentina. Daí a preocupação de integrar duráveis apresentam uma
esta imensa hinterlândia ao centro econômico do país e a importância que passou a ter Brasília vida útil mais longa a
exemplo dos automóveis,
no dinamismo dessa região.
eletrodomésticos,
móveis etc.
Observa Costa (1988, p. 54-55) que o Plano de Metas não especificava nenhum
planejamento regional, e que não era um plano para o território, mas sim, para a expansão
capitalista. No entanto foi a partir do governo de Juscelino Kubitschek que o planejamento
Setor de ponta
regional foi efetivamente posto em prática com destaque especial para a criação da SUDENE.
São os setores mais
O acelerado ritmo industrial que acontece no Sudeste trouxe a tona o grave problema das
dinâmicos da economia,
disparidades regionais e o Nordeste despontou como uma região deprimida, com uma estrutura nos quais a pesquisa e a
econômica e social arcaica marcada fortemente pela herança colonial. tecnologia têm utilização
intensiva. São os setores
Conforme podemos observar, a atuação da SUDENE através do seu Primeiro Plano Diretor responsáveis por criarem
novos produtos e novos
se encaixava perfeitamente no Plano de Metas do governo federal, ou seja, o de promover
processos de produção.
o desenvolvimento do Nordeste através de uma política de fomento à industrialização,
privilegiando, em especial, aquelas indústrias voltadas para setores dinâmicos da economia,
que foram atraídas para a região pelo mecanismo dos incentivos fiscais.
Em síntese, podermos afirmar que o surto industrial promovido pela SUDENE foi capaz
de promover a modernização e o crescimento econômico de setores da economia nordestina.
No entanto, esta industrialização induzida não foi capaz de reduzir os desequilíbrios regionais,
pois se deu de forma complementar e dependente da indústria do Sudeste. Os parques
industriais foram instalados em algumas poucas cidades escolhidas para serem pólos de
desenvolvimento, as quais, não foram capazes de absorver o grande contingente de mão-de-
obra, sem qualificação, que para elas se dirigiram, visto que, em sua maioria, essas indústrias
utilizam capital intensivo, nem tão pouco, essas cidades propagaram as inovações para o
restante da região, como era esperado. Além do mais, ao cessar o período de benefício dos
O Centro-Oeste e a Amazônia (em especial) passaram a ser o foco das atenções dos
militares, sobretudo na década de 1970, com o explicito objetivo de promover a integração
Fronteira econômica nacional. Foi posta em prática a ideia de expansão da “fronteira econômica” que, a partir
que o conceito de
do Sudeste se direcionaria para o Cetro-Oeste, a Amazônia e o Nordeste. A política de
“Fronteira econômica” desenvolvimento tomando por base a escala regional torna-se evidente através da criação
era utilizado pelo governo das superintendências regionais. A experiência posta em prática no Nordeste, com a criação
militar para a aplicação de
várias ações econômicas
da SUDENE, foi estendida para outras regiões com a criação de órgãos semelhantes: SUDAM,
em diversos setores: SUDECO, SUDESUL que passaram a atuar na Amazônia, Centro-Oeste e Sul.
agrícola, industrial,
agroindustrial, urbana, Com a ideologia da segurança nacional, o governo militar preocupou-se também com
de povoamento, de infra- a questão urbana, desta forma, criou as nove regiões metropolitanas do país cujo objetivo
estrutura regional etc. Com
vistas à integrar as regiões
explicito era viabilizar a prestação de serviços por meio de gestão integrada para esses grandes
periféricas a área core aglomerados urbanos formados por mais de um município. Entretanto, havia o interesse
do país. geopolítico não revelado que era manter um maior controle sobre essas áreas estratégicas,
que comandavam a vida econômica, social, política e cultural das regiões ou mesmo do país,
como era o caso das duas metrópoles nacionais. Rio de Janeiro e São Paulo.
Observa Becker (1990, p. 11) que para entender o processo de ocupação da Amazônia
no período que sucede a Segunda Guerra Mundial faz-se necessário entender a dinâmica do
capitalismo global, a forma como o Brasil se insere nesse processo de internacionalização da
economia e o papel do Estado nacional em manter o controle de reprodução espacial.
Atividade 2
a) É correto afirmar que a integração do território brasileiro se deu através do modelo Centro/
Periferia? Justifique.
b) Podemos afirmar que a partir dos anos de 1930 os governos do Brasil adotaram a ideologia
do Estado desenvolvimentista em suas políticas? Justifique.
O triunfo do neoliberalismo e a queda do muro de Berlim são marcos dessa nova fase
do capitalismo internacional. A economia mundial se globalizou, as empresas multinacionais
se fundiram e agigantaram-se para competir nesse mercado mundializado. A tendência dos
Estados-nações, em crise, foi de se juntarem na formação de blocos econômicos. O discurso
em evidência fala do fim das barreiras comerciais e do protecionismo estatal e apregoa a livre
concorrência, num mercado sem fronteiras.
No Brasil as ideias neoliberais foram postas em prática com o governo de Fernando Collor
de Mello, que abriu o mercado nacional às importações e deu início do Programa Nacional de
Desestatização. Seu projeto neoliberal teve continuidade no governo de Fernando Henrique
Cardoso que privatizou várias estatais num processo conturbado por haver acusações de
suspeita de favorecimentos a determinados grupos econômicos. Esses governos, atendiam
dessa forma, aos interesses do atores globais sequiosos por flexibilização e desregulamentação,
pois, para esses atores globais, quanto menos regulamentação nacional, melhor, pois ficam
mais livres para atuarem nos territórios nacionais.
Para a questão territorial brasileira dos anos de 1990, Araújo (2000, p. 333-334) observa
que ao priorizar a integração das áreas dinâmicas ao MERCOSUL o governo abandonou a
antiga idéia de integração nacional via regiões com vinha sendo consolidada ao longo do
século XX. Por outro lado através do programa “Brasil Ação” o Estado seguia a estratégia do
setor privado, priorizando os setores mais dinâmicos e ajudando-os a se tornarem ainda mais
competitivos. Desta forma, a integração proposta pelos governos brasileiro nos anos de 1990
era a integração competitiva para a globalização e não a integração nacional desejada pelos
governos que os antecederam.
É no bojo dessas transformações que podemos entender a insignificância que passa a ter
a questão regional no Brasil e o próprio fim dos órgãos de desenvolvimento regional tais como
ocorreu com a SUDENE, que foi extinta em 2001, pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso. Ao capitalismo globalizado que procura homogeneizar os espaços não interessava
mais atuar nessa escala e as políticas desenvolvimentistas regionais passaram a significar um
entrave à expansão capitalista.
Para os atores globais que têm comando altamente centralizado, mas lhes interessa que
as operações sejam descentralizadas, as mais importantes escalas de atuação são as cidades
globais (como centro de decisões) e os espaços locais que sejam dinâmicos (como espaços
do fazer), os quais se tornam disputados. Para os espaços não-dinâmicos esta lógica seletiva
é excludente.
Por fim, não vamos aqui encerrar essa discussão, por entendermos que as questões
territoriais continuam em aberto, vamos, porém, levantar questões as quais não temos nem
O cenário da América Latina o século XXI tem mostrado uma tendência para a formação
de governos de bases populares e de defesa das idéias nacionalistas, portanto contrários à
onda neoliberalizante. Desta forma as políticas de privatização que estiveram seu auge durante
a década anterior são interrompidas e em alguns países e setores até se percebe um retorno
da presença do Estado, o que nos leva a crer que o neoliberalismo, mesmo que presente, não
triunfou de forma irreversível.
Diante das crises e mudanças que se esboçam no cenário mundial que alterações poderão
ocorrer na economia e nas políticas territoriais nacional? Uma outra globalização, mais justa
e a serviço de outros objetivos e de outros fundamentos políticos e sociais com previa Milton
Santos será possível e estará se delineando?
Esperamos que você tenha tido um bom aproveitamento e que tenha feito algumas leituras
complementares, o que ajudarão muito no aprofundamento do seu conhecimento sobre os
assuntos discutidos.
... E para não concluir, queremos dizer que esta aula não é o fim, mas o começo do seu
entendimento e das preocupações que você passará a ter com as questões territoriais do Brasil
e com a reprodução desse conhecimento...
Leituras complementares
sugerimos as seguintes leituras como fundamentais para o aprofundamento da nossa
discussão sobre as políticas de território implantadas no Brasil a partir dos anos de 1930
ANDRADE, Manuel Correia de. As Raízes do separatismo no Brasil. Recife: Editora Universitária
da UFPE,1997.
Este autor, com a linguagem clara que nós já conhecemos, aborda os movimentos
separatistas presentes no território brasileiro desde o momento de formação territorial, até os
riscos de desagregação territorial pelo processo de globalização que por ser homogeneizador em
um espaço heterogêneo e cheio de contradições aprofunda as desigualdades e gera os conflitos.
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências.
Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000
É um livro que trata das políticas econômicas do Brasil com forte ênfase no planejamento
regional, em especial do Nordeste. Embora a autora seja economista, o livro tem uma linguagem
clara, direcionada para o grande público, sem aquele economicismo que só pode ser entendido
por quem é da área. Entretanto por ser um livro denso, recomendamos para a nossa disciplina
o capítulo que tem como título: “Brasil nos anos 90: opções estratégicas e dinâmica regional”,
capítulo que aborda a problemática da ausência de políticas públicas para o Brasil dos anos de
1990, diante da emergência da globalização e do triunfo do Estado neoliberal.
Neste livro a autora, que é uma autoridade em questões sobre a Amazônia, faz uma
importante análise sobre a atuação dos governos militares na região, sobretudo nos anos de
1970. Relata ainda o papel dos vários agentes sociais que se apropria e transforma o referido
espaço. Aborda os conflitos sociais e os choques de interesses que levam ao entendimento
claro do processo de degradação do espaço em questão.
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988. (Coleção Repensando a Geografia).
Resumo
Nesta aula nós aprendemos que: a) Os anos de 1930 iniciaram uma nova fase para
as políticas territoriais brasileira. b) Na construção de uma identidade nacional
o governo Vargas recorreu ao conhecimento geográfico e estatístico para se
instrumentalizar em suas ações territoriais. c) A ideologia da Segurança Nacional
e da Integração territorial se manteve presente tantos nos governos ditatoriais
quanto nos breves períodos de democratização. e) A partir da Era Vargas o Estado
brasileiro se tornou o principal agente de modernização da economia nacional. f) O
mapeamento do Brasil e sua divisão em regiões deve o explicito objetivo de gerar
dados estatísticos e geográficos confiáveis à atuação do Governo sobre o território
nacional. g) O governo de Juscelino Kubitschek deu continuidade à política de
industrialização iniciada por Vargas, porém com ênfase na indústria de bens
de consumo duráveis e no endividamento externo. h) A construção de Brasília
teve um importante papel na integração nacional, sobretudo para o dinamismo
do Centro-Oeste que permanecia como uma região isolada e pouco povoada. i)
O planejamento regional teve o objetivo de reduzir as disparidades regionais e
integrar o mercado brasileiro à área core da economia nacional. j) A ocupação
da Amazônia pelos militares teve os objetivos de: integrar a região à economia
nacional, aliviar as tensões sociais pela posse da terra no Nordeste, aproveitar os
recursos econômicos da região, internacionalizar o capitalismo nacional, garantir
a segurança nacional e combater as guerrilhas de esquerda. k) Com o fim dos
governos militares teve descontinuidade às políticas territoriais de integração
nacional e também o Estado com papel empreendedor e intervencionista. l) O
Autoavaliação
Vamos agora testar nosso conhecimentos e tirar nossas dúvidas.
a) Porque o Estado Novo marca uma etapa importante para a questão territorial brasileira?
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências.
Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000.
BECKER, Berta K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência na Economia Mundo. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
CARVALHO, Ioná Maria de. O Nordeste e o Regime Autoritário. São Paulo: Hucitec, 1987.
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988. (Coleção Repensando a Geografia).
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
Anotações
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
13
15