Veremos brevemente neste trabalho como Berger e Luckmann percebem as
transformações da sociedade, como ela se constrói em sua realidade social. Veremos a importância da linguagem e do hábito que é por meio destes, se transmite o conhecimento, e este dá possibilidades para o ser humano continuar o processo que está naturalmente embebido. A Construção Social da Realidade. O problema central e critico para o estudante de sociologia é em primeiro lugar definir o que é realidade, sendo que para aquele que se propõe estudar esta disciplina, este não pode mais ficar fechado num único foco, e acreditar que somente há uma realidade. Afinal a sociedade constrói a realidade e assim podemos afirmar que há varias realidades sociais que já estão construídas e prontas, logo, fazemos parte de algo já pré-estabelecida que com certeza também reafirmamos ou reconstruímos a cada momento. Neste sentido, não podemos afirmar uma única realidade, mas sim realidades. I. Os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana. Como é possível perceber várias realidades numa mesma conjuntura social, devemos antes de criar pré-juízos, olhar de fora da cultura, para verificar o que é mais válido e sem estabelecer juízos causados pelos nossos pré-conceitos tentar verificar o grau de verdade relacionada aos fatos, ou seja, o que as culturas dentro da sociedade querem por si próprio dizer e estabelecer como verdades. Quais são seus paradigmas? O que as rege? Quais os sistemas por detrás delas? Estas perguntas são particularidades dentro da perspectiva cultural e social de cada grupo, região ou cada tribo. “o sociólogo é forçado pela própria logica de sua disciplina a perguntar, quanto mais não seja, se a diferença entre as duas “realidades” não pode ser compreendida com relação às varias diferenças entre as duas sociedades”[ 1]. A sociologia do conhecimento surgiu na Alemanha com o filosofo Marx Scheler, tendo em vista os acontecimentos históricos, porém, sob várias definições, o que causa vários problemas, inclusive a vertigem da realidade. Na tentativa de encontrar respostas as perguntas feitas pela sociedade surgem outros com interesse em dar soluções aos problemas de suas épocas; Weber, Durkheim, Marx, entre outros. Contudo, estes viram a realidade de acordo a problemas emergentes de seu tempo e fizeram sua analise sociológica da realidade, de modo muito próprio, assim, cada um deu sua contribuição. Entretanto, notamos que não há possibilidade de darmos uma resposta pronta e acabada, a fim de solucionar os problemas diversos. Pois é, necessário que cada realidade seja analisada de modo particular. Logo, a sociologia do conhecimento não tem fim, pois, a cada momento da existência humana surgem novas problemáticas a serem estudadas e verificadas, isto se dá pelo fato do homem enquanto sujeito é um ser complexo e composto de um turbilhão de sentimentos, que o move a diversas circunstâncias e modos de agir diversos. Este sujeito se adequa a outros que tem os mesmos interesses e assim forma-se uma nova classe ou uma nova tribo, este movimento é necessariamente um fato histórico que se faz presente na existência humana. Neste sentido a experiência da vida cotidiana deve promover um conhecimento por meio do esclarecimento dessa realidade. “Como sociólogos, tomamos esta realidade por objeto de nossa analise” [2]. Apesar de nossa subjetividade, devemos lembrar que não estamos sozinhos no mundo, e isso, implica diretamente na analise, bem e, como o outro afeta nosso modo de verificação. O homem se expressa de várias maneiras, a fala, os gestos, os sinais, etc., de tal modo muitos gestos são interpretados e compreendidos por muitos. Estes sinais são agrupados em um sistema, de linguagem. No entanto, a fala é o mais importante, pois, expressa por sinais vocais este sistema de sinais de uma sociedade, normalmente este sinal é capaz de expressar o “estado subjetivo imediato do aqui agora” [3]. É por meio da linguagem que o ser humano participa com seus semelhantes dos acontecimentos cotidianos, também o conhecimento pode ser transmitido por meio dela. Bem como o conhecimento também é transmitido por meio da vida cotidiana, sendo que, a linguagem se dá por meio da vida, por meio dos fatos. Outro aspecto interessante é que, esta forma, transmitir o conhecimento, pode ser seletivo. Podemos transmitir algo ou não, normalmente o fazemos quando requer um interesse, nesse sentido; transmitimos algo a membros do trabalho e não a membros de nossa família, etc. Por conseguinte, transmitimos e recebemos mutuamente conhecimento de e para os nossos semelhantes e dos indivíduos que detém tal conhecimento, isso se dá em determinado momento de nossas vidas. A sociedade como realidade objetiva. Diferentemente dos demais animais, o ser humano se organiza em instituições para efetuarem suas atividades. “A organização instintiva do homem pode ser descrita como subdesenvolvida, comparada com a de outros mamíferos superiores” [4]. O homem, não é movido somente por seu instinto natural, mesmo que tenha e que este muitas vezes o faz agir, contudo, a própria necessidade da razão o fez estabelecer relações, um modo de se proteger das feras. Deste modo criou as sociedades que hoje conhecemos. Este desenvolvimento atingiu a cultura que continua e permanece intocável, porém, as ações humanas pouco a pouco vão alterando o meio natural[5] que o homem é submetido. “Os homens em conjunto produzem um ambiente humano, com a totalidade de suas formações socioculturais e psicológicas. [...] Logo que observamos fenômenos especificamente humanos entramos no reino do social. [...] O Homo sapiens é sempre, na medida Homo socius” [6]. Posto isso, podemos afirmar que; o homem é naturalmente uma espécie social diferente dos demais animais. Pois, ele utiliza-se do mecanismo da sapiência. E por meio desta, as instituições são criadas, para e, por meio delas, o homem poder sobreviver. Sendo que para Hobbes o “homem é o lobo do homem” e, portanto, o estado teve que ser criado para a proteção dos mais fracos [7]. Esta institucionalização também se dá por meio do hábito, do trabalho; mesmo que sozinho, em fim, nas ações habituais do cotidiano. Esta institucionalização se faz presente na sociedade e traz consigo conhecimento e aprendizado, isto é, o que se torna típico sempre trará conhecimento àqueles que ainda não conheciam tais coisas, e, aos que já conheciam, poderá fazer que refletisse sobre estes assuntos. Porém, a instituição depois de estabelecida não traz somente coisas boas para a sociedade, infelizmente, muitas depois de formadas trouxe desgraças, medo, morte, etc., “Por exemplo, a instituição da lei postula que as cabeças serão decepadas de maneira especificas em circunstancias especificas, e que tipos determinados de indivíduos terão de fazer a decapitação (carrascos, ou membros de uma casta impura, ou virgens de menos de certa idade ou aqueles que foram designados por oraculo)” [8]. “As origens de qualquer ordem institucional consistem na tipificação dos desempenhos de um individuo e dos outros” [9]. Esta tipificação não consiste somente no hábito, mas, vai além do mesmo. Berger e Luckmann utilizam o exemplo de um tio que corrige o sobrinho, mesmo não sendo o pai, faz às vezes dele. Isto é, uma tipificação maior que somente o fato de fazer-se por hábito, sendo que, a própria sociedade implica a responsabilidade nos mais velhos para correção dos mais novos, neste caso, a figura do tio cobre a do pai, porém, não a substitui, portanto, na ausência se faz necessário a correção feita por meio do tio. Esta tipificação é de modo sucinto o conjunto de conhecimento de uma sociedade que se transmite por meio da linguagem e perpassa as gerações, deste modo se estabelece e se fundamenta com valores.
Apreciação dos autores e da obra.
Os autores desejam tratar sobre assuntos sociológicos em relação de como o conhecimento é formado, dado e estabelecido. Formado porque a sociedade cria constantemente o conhecimento. Dado, pelo fato de que as pessoas recebem e assim, normalmente, aceitam o que receberam. E, estabelecido porque não é somente por uma única e simples vontade que as coisas mudam, portanto, é necessário o tempo histórico-sociológico para haver tais transformações, que acontecem no período da vida dos indivíduos. O pensamento deles é muito interessante, pelo fato que, tais acontecimentos estão intrínsecos nas nossas vidas e muitas vezes não percebemos. Acontece nas particularidades de cada individuo, nas instituições e bem como nas religiões. O conjunto de regras de um povo tradicionalmente se torna algo sagrado e a própria religião sendo um produto humano sacramentaliza tais regras e leis. Esta por sua vez, possibilita como diz os autores, o conhecimento por meio da linguagem, a questão é importante, pois, muitas vezes somente pensamos na linguagem que ensina em salas de aula, por exemplo. Assim esquecemos dos valores e conhecimentos que são dados pela sabedoria da vida. Como a própria sabedoria das pessoas do campo ou dos indígenas que diziam que tal chá fazia bem para cura daquela doença, este ensinamento possibilitou que as ciências modernas pesquisassem as plantas e assim descobriram-se muitas curas e formulas para medicamentos. Isso tudo somente é possível por causa da sabedoria milenar que foi transmitida pelos séculos. Ora, isso nos remete a uma pergunta: qual era a ciências técnicas daquela época? Não havia as grandes universidades, nem as pesquisas renomadas como hoje. Berger e Luckmann estão avançados em seu modo de ver o mundo, mas, não por eles estarem à frente do mundo. E sim, porque tiveram a capacidade de olhar para o futuro com o olhar do passado, e perceberem que a sabedoria de antes é a mesma que a de agora. Mesmo com tantas evoluções tecnológicas, podemos praticamente dizer que, o ser humano enquanto pessoa continua exatamente como era, e assim continuará, terá sim mais cultura, mais saberes acumulados, porém, sempre estará como antes, construindo a realidade, contudo, no hoje, olhando para o amanha. Conclusão. Concluo este trabalho com o seguinte pensamento: o que é real? A realidade realmente existe? Posso afirmar que enquanto se vive o momento a realidade permanece, isto é, podemos afirmar que as pessoas se respeitam somente no momento em que estão vivendo o respeito, porem, este respeitar pode não ser real, mesmo estando naquela realidade. Ambos podem se respeitarem a vista de todos, por conseguinte, pode ser uma mascara apenas. Este é um exemplo, dentre tantos que poderiam ser postos aqui. Um exemplo mais claro: estamos em um cômodo e ouvimos vozes ou um latido de um cão no outro cômodo, saímos para ver, mas lá encontramos somente um radio ligado, ou um celular que está tocando, logo, nossa percepção de realidade foi equivocado, pois, na verdade não era o que pensávamos que fosse. Os exemplos acima citados fazem parte da praticidade da vida, isso demonstra que a realidade é mutável, sendo, pois, algo tão simples como citado; como podemos afirmar que existe uma realidade onde tais estudos afirmam que os humanos são mutáveis e vivem em transformações e deste modo mudam a sociedade em que habitam? Por conseguinte, o ser humano traz coisas imutáveis dentro de si, os valores, os hábitos, o próprio processo de construção da realidade. Este aspecto é notável no método de ensinamento dos pais para com os filhos, no sentido que nossos antepassados falavam: - se vocês não fazerem o dever de casa, ficaram de castigo. Enquanto hoje em dia se fala: - se não fizer o dever de casa não ganharão o celular da ultima moda. Ora, ambos os métodos não é o próprio castigo? E estes, não são por ventura, gerados pelo hábito, que assim transmite também o conhecimento? E também, este modo não continua construindo a sociedade futura que provavelmente repetirá tudo o que esta geração já o faz? O modo, a metodologia é mutável, mas a forma permanece. Quer dizer, o conteúdo que se transmite permanece e praticamente não pode ser tocado, até por que, torna-se algo sagrado, santo, mas como se transmite, a didática é alterada. Seja para melhor compreensão daqueles que receberão, seja por mérito daqueles que a transmite. Por fim, o Homem desde todos os tempos, principalmente quando institui a comunidade humana, até nosso presente dia, e até o fim dos tempos continuará a construir e reconstruir o meio em que vive.