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86 | NOTAS SOBRE UMA NAO ENTIDADE mais vé alcangar 0 sucesso no tipo mais vulgar da fic¢ao cientifica. Acredito que as historias fantdsticas oferecem um campo digno dos melhores artistas literdrios, ainda que seja um tanto limitado e reflita apenas uma pequena parcela dos estados de espirito infinitamente comple- xos do homem. A fic¢ao espectral deve ser realistica e atmosférica — deve limitar a divergéncia da Natu- reza ao meio sobrenatural escolhido e lembrar que a ambientagao, a atmosfera e os fendmenos so mais im- portantes para comunicar 0 que se pretende do que os personagens e 0 enredo, A “revelagao” de um legitimo conto fantdstico é apenas a violagao ou a transcendéncia das leis césmicas estabelecidas — uma fuga da realidade magante — e portanto os fendmenos, e nao as pessoas, so os “herdis” naturais da historia. Acredito que os horrores devam ser originais — e que 0 uso de mitos ¢ lendas comuns enfraquece a histéria. A fic¢ao hoje publicada em revistas, por conta de uma irremediavel tendéncia s perspectivas sentimentais ¢ ao estilo rapido e alegre, bem como a enredos de “a¢ao’, nao tem ne- nhum grande mérito. A melhor histdria fantastica de todos tempos é provavelmente “The Willows’, de Alger- non Blackwood. NOTAS SOBRE FICCAO INTERPLANETARIA’ A DESPEITO DA ATUAL enxurrada de historias que tra- tam de outros mundos e universos, e de intrépidos vos de um lado a outro do espaco sideral, provavelmente nao seria exagero dizer que nio mais do que meia diizia destas coisas, entre as quais se encontram os romances de H.G. Wells, pode fazer a menor reivindicacao & serie- dade artistica ou ao mérito literdrio. A insinceridade, 0 convencionalismo, o lugar-comum, a artificialidade, a falsa emogio ea extravagancia pueril reinam triunfan- tes nesse género saturado, e apenas os exemplares mais raros podem fazer qualquer reivindicagao a um cardter efetivamente adulto. O espetaculo desse vacuo persis- tente levou muitos a perguntarem se, de fato, qualquer exemplar de verdadeira literatura pode brotar a partir desse tema. O presente comentarista nao acredita que a ideia de viagens espaciais e de outros mundos seja intrinse- camente inadequada ao fazer literdrio. Pelo contrario: if Neste artigo, escrito em meados de 1934, Lovecraft defende as possibilidades artisticas da ficgo cientifica e ao mesmo tempo ataca os clichés deste género, que na época florescia em publicagées como a Weird Tales e a Amazing Stories — esta tiltima a primeira revista pulp integralmente dedicada a “cientificgio” que publicou A cor que caiu do espaco em setembro de 1927. [N. do T} 88 | NOTAS SOBRE FICCAO INTERPLANETARIA defende a opinido de que a vulgarizagio eo mau uso oni- Presentes dessa ideia sejam resultado de um equivoco amplamente difundido; um equivoco que abarca todos 0s departamentos do fantastico e da ficcao cientifica. Essa falacia consiste em pensar que qualquer relato de fendmenos impossiveis, improvaveis ou inconcebiveis Possa ser apresentado como uma narrativa ordinaria de agées objetivas ¢ emogées convencionais. Uma apresentagao dessa estirpe muitas vezes “passa” pelos lei- tores imaturos, mas jamais poderd se aproximar sequer remotamente do mérito estético. Eventos e condigées inconcebiveis formam uma classe a parte de elementos narrativos e nao podem ser apresentados de maneira convincente por meio de um tratamento casual. Esses elementos tém a barreira da inverossimilhanga a vencer — um efeito possivel apenas mediante o emprego de um realismo meticuloso em to- das as demais fases da historia, somado a um actimulo de natureza atmosférica ou emocional da mais absoluta sutileza, A énfase também precisa ser tratada da ma- neira correta — sempre pairando sobre o prodigio da anormalidade central em si. Cabe lemabrar que qualquer Violagio daquilo que conhecemos como a lei natural Por si s6, algo mais espantoso do que qualquer outro evento ou sensagéo que possa afetar um ser humano. Assim, em uma historia que trata de algo semelhante, nao podemos nutrir a esperanga de criar qualquer sen- mento de vida ou ilusao de realidade se tratamos 0 prodigio de maneira casual e atribuimos motivagées corriqueiras aos personagens. Os personagens, embora devam parecer naturais, precisam estar subordinados H.P. LOVECRAFT ao prodigio central em torno do qual se agrupam. O verdadeiro “heréi” de um conto maravilhoso nao é ser humano algum, mas apenas um conjunto de fendmenos, Acima de qualquer outra coisa deve erguer-se a monstruosidade grotesca e aterradora da contradi¢ao a Natureza escolhida. Os personagens devem reagir como pessoas de verdade reagiriam caso a confrontassem na vida real, demonstrando o espanto avassalador que qual- quer um naturalmente demonstraria, e nao as emocdes ténues, déceis e passageiras prescritas por convengdes popularescas baratas. Mesmo quando os personagens esto acostumados ao prodigio, a sensagao de espanto, deslumbre e estranheza que o leitor sentiria na presenga deste fenémeno deve ser de alguma forma sugerida pelo autor. Quando o relato de uma viagem maravilhosa é apresentado sem uma paleta de emogdes condizentes, nao percebemos nela sequer o menor grau de vividez. No temos a ilusio aterradora de que o fendmeno pu- desse de fato ter ocorrido; apenas sentimos que alguém proferiu algumas palavras extravagantes. Em geral, de- vemos esquecer todas as convengdes estabelecidas pelos borra-tintas que escrevem historias baratas e tentar fa- zer da nossa histéria um relato fidedigno da vida, a nio ser no que diz respeito ao prodigio escolhido, Devemos trabalhar como se estivéssemos armando uma farsa e tentando fazer com que a nossa mentira extravagante se passasse por uma verdade literal, A atmosfera, € nao a acao, é o que deve ser culti- vado no conto maravilhoso, Néo podemos realcar os acontecimentos puros, uma vez que a extravagiiicia so- brenatural desses eventos torna-os vazios e absurdos | 89 NOTAS SOBRE FICCAO INTERPLANETARIA demais quando sio exibidos com excessivo destaque. Esses eventos, mesmo quando teoricamente possiveis ‘0u concebiveis no futuro, néo apresentam nenhuma contraparte ou base na vida real e na experiéncia hu- mana, € portanto nao podem jamais servir de fundagio a.um conto adulto, Tudo 0 que um conto maravilhoso almeja é pintar, de maneira séria, o retrato convincente de um determinado sentimento humano. No momento em que tenta fazer qualquer outra coisa, conto torna- se barato, pueril e irrelevante. Logo, um autor fantastico deve perceber que a énfase diz respeito a insinuacio sutil — a pistas e pinceladas discretas relativas a deta- Ihes associativos que expressem diferentes tonalidades de sentimento e componham a vaga ilusao da estranha realidade do elemento irreal — e nao a listas indcuas de acontecimentos fantasticos sem nenhuma substancia ou relevancia senéo como nuvens de cor e simbolismo, Um conto adulto sério deve ser fiel a um certo aspecto da vida. Uma vez que os contos maravilhosos nao podem ser figis aos acontecimentos da vida, precisam deslocar a énfase para algo a que possam ser figis; ou seja, a certos estados melancélicos ou inquietos do espirito humano, onde buscam tecer didfanas rotas de fuga para que pos- samos escapar & amarga tirania do tempo, do espaco e das leis naturais. Ecomo esses principios gerais da ficgao maravilhosa adulta devem ser aplicados ao conto interplanetério em particular? Quanto a possibilidade de aplicagio, nio temos diivida alguma; os fatores importantes sio, como em outros casos, a sensagio de espanto adequada, as emogées adequadas dos personagens, o realismo na HP. LOVECRAFT ambientagio e nos incidentes suplementares, 0 cuidado na escolha dos detalhes significativos e a remtincia crite- sa a0s personagens artificiais e batidos e a situagdes € eventos convencionais e estiipidos que de um s6 golpe destroem a vitalidade da histéria ao apresenté-la como produto de uma mecanica trivial em massa. E uma ver- dade irénica que nenhuma histéria artistica desse tipo — escrita com honestidade, sinceridade e sem lugares- comuns — teria chances de ser aceita pelos editores Profissionais da vulgar escola pulp. Essa constatacao, no entanto, nao ha de influenciar o artista determinado a criar algo maduro e de valor. Antes escrever de ma- neira honesta sem nenhuma remuneragao do que criar bijuterias sem nenhum valor e ser pago. Talvez algum dia as convengdes dos editores baratos abandonem essa flagrante ¢ absurda rigidez antiartistica, Os acontecimentos de uma histéria interplanetaria — salvo as que envolvem a mais pura fantasia poética — desenvolvem-se melhor no presente, ou em um pas- sado oculto ou pré-historico. O futuro é um perfodo bastante complicado, uma vez. que ¢ impossivel escapar do grotesco e do absurdo ao retratar a vida futura; a0 mesmo tempo, a familiaridade dos personagens com 0s prodigios retratados sempre ocasiona uma imensa perda emocional. Os personagens de um conto sio, €m esséncia, projecdes de nés mesmos; e a no ser que Possam compartilhar da nossa propria ignorancia e do Rosso proprio espanto diante do que ocorre, surgem defeitos inevitaveis. Nao que as narrativas ambientadas no futuro nao possam ser artisticas; porém é mais dificil tornd-las convincentes, on

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