Uma das discussões mais produtivas durante o curso foi sem duvida a forma como
contextualizar a Educação, as diversas perspectivas de se olhar para este grave problema
presente diuturnamente em nossa realidade.
Dentro desta necessidade de contextualização, deste olhar para as varias
possibilidades, nos remetemos primeiramente ao olhar que Focault (Focault, 1982)
percebeu ao longo de seus estudos a respeito da institucionalização do olhar médico na
segunda metade do século XVIII.
Ele ao analisar como se dava a relação entre este olhar e o espaço social dentro de
uma arquitetura hospitalar, notou a “centralização do olhar” como uma constante em todos
os sistemas, privilegiando uma vigilância global e individualizante.Em seguida, ele notou
os mesmos princípios nas arquiteturas penitenciarias conhecidos como Panopticon.
Este modelo arquitetônico, o Panopticon aparece nas suas considerações sobre a
arquitetura como modo de organização política, ou seja, a relação entre espaço e poder a
partir do século XIX, onde o principio da visibilidade aparece como um dos pilares que
sustenta toda tecnologia do poder.Antes, no século XVIII a arquitetura estava relacionada à
um “Zeitgeist”, cenário da época, onde se manifestava o poder, a divindade, a força.Com a
passagem para a época moderna, e o arrefecimento religioso que foi substituído por uma
racionalidade iluminista, o cenário passa a ser dentro de um novo paradigma (vide Kuhn-
“A estrutura das revoluções cientificas”) de uma busca para alcançar objetivos econômicos
- políticos.
Este sistema de olhar centralizado de Bentham tem um custo irrisório, uma vez que
utilizá-se de um modelo “racional” e com uma economia de escala consegue “vigiar” um
grupo de pessoas sem necessidade de violência (pelo menos a violência física).
No entanto, Focault(Focault, 1982) ao discutir estas relações de força e poder
mostra que a importância de uma inversão de papéis, com os prisioneiros assumindo a torre
no lugar dos vigias não pode ser vista per si, pois uma simples inversão de papéis não
significa uma mudança para melhor e sim “apenas” uma inversão de papéis, que podem não
serem os melhores “scripts” possíveis dentro de um quadro social.Assim ele próprio alerta
para não aceitar a “luta” num mero aspecto de analise de relações do poder e sim num
contexto onde uma moral julga “os méritos de quem está na luta, a respeito do que, como se
desenrola, em que lugar, com quais instrumentos e segundo qual racionalidade”.
Ana Lucia nos convoca a pensar a respeito de vários aspectos que não são bons ou
ruins a priori, mas necessitam de contextualização.Como exemplo temos o sistema de
ciclos no ensino fundamental que foi criticado pelo presidente Lula, ao dizer que o mesmo
é uma tentativa de mascarar a repetência, uma vez que o aluno só pode ser reprovado no
final de duas, três ou quatro séries.(Folha de São Paulo,03/04/2004, 1D).
Acontece que o presidente ao fazer tal afirmativa “jogou a criança junto com a água
suja do banho”, pois se é verdade que este sistema camufle a realidade através de
estatísticas com altos índices de aprovação, também não é menos verdade que - a expulsão
que foi a grande tônica das escolas do passado, e que foram substituídas pelas reprovações -
também não podem ser vista como solução para um problema muito mais amplo que como
Agueda (Bittencourt, Folha de São Paulo, 29/07/2003,9A)observa envolve um escola não
ensina, que os alunos não aprendem, que os professores não sabem, que nossos indices de
desempenho estão entre os piores do mundo.
Assim ao não contextualizar o regime de ciclos, acaba-se por propor uma volta a um
regime de “reprovação”, onde a repetência, na maioria das vezes é um trauma
absolutamente anti-educativo, estigmatizando o estudante pela reprovação, num massacre
psicológico, impedindo de aparecer o verdadeiro vilão da historia, ou seja, o sistema de
ensino com suas deficiência, tais como Gilberto Dimenstein( Folha de São Paulo,
18/04/2004.5D) observa nas salas cheias, professores com baixos salários, pouca
qualificação e pesadas cargas horárias, laboratórios e bibliotecas defasados, e em muitos
lugares, a violência, não só a física, mas também a que massacra um professor que vê na
ameaça de repetência um mecanismo disciplinar.”É a vitima fazendo vitimas”. E
complementa: “Ainda prefiro o aluno que não aprende e fica na escola aquele que repete e
vai para a rua.Aquele que fica na escola ainda tem alguma esperança de salvação.Aquele
que vai para a rua é candidato a engrossar as estatísticas do IBGE sobre assassinatos”.
Esta avaliação de Dimenstein do papel da escola na função de Educador, é um tema
que muitas vezes não é bem contextualizado, pois como bem nos lembra Agueda
(Bittencourt, Folha de São Paulo, 29/07/2003, 9A) que nós já devíamos ter compreendido
que educação e escola andam são partes integrantes da cultura de um povo, que a escola
não consegue produzir per si a igualdade quando a sociedade é injusta, e que ela é apenas
um dos espaços de socialização e produção da cultura, e só pode por em circulação no seu
interior o que esta sendo produzido na sociedade como um todo.Desta forma a escola
continua cumprindo o seu papel histórico de selecionar, distinguir, hierarquizar ou ainda,
numa preocupação instrumental, ao relacionar a escola com a produção de uma força de
trabalho, como nos aparece na fala de Toledo(Toledo, Folha de São Paulo, 01/02/98.4B) ao
comparar a competitividade do trabalhador brasileiro com o asiático, e colocando como
ponto fundamental, a baixa escolaridade brasileira.
Modelo pedagógico que tem, segundo Paro, o aluno como mero objeto do trabalho,
da ação educativa, mas ele lembra que é necessário tomar o aluno como sujeito e para que a
educação se dê ele precisa querer.Assim é preciso levar o educando a querer aprender.
Os alunos que são “selecionados” nas escolas privadas, aprendem apesar dela.A
escola nada tem feito para tornar o ensino prazeiroso (experiência).As varias deficiências
do ensino acarretam um mau resultado, mas deve-se deixar o conceito de aula como
produto do ensino e vê-la como situação do ensino, e eu diria processo, pois uma boa aula
não é um aluno que aprendeu.O Estado tem o dever de prestar os serviços de Educação,
mas vide Nietszche, o interesse do Estado não é uma massa critica
A má qualidade de ensino é vinculada a má preparação para o mercado de trabalho e
a ineficiência de levar o aluno a universidade.(ambas profissionalizantes, vide Benjamin) e
ai ele passa para uma visão utilitarista da educação como uma mediadora que retem os
conhecimentos historicamente construídos e os passa as novas gerações.
Uma posição positiva para o querer aprender é um valor cultural que precisa ser
cativado (experiência), e a família é importante, pois grande parte deste querer aprender
vem da predisposição que ele tem junto a família.E ai se coloca a responsabilidade nos pais
que também não tiveram esta possibilidade, se tivessem não colocariam os filhos na escola
publica.
Ele continua batendo na tecla da importância dos pais, mas estarão eles preparados
para isto, o Estado tem que primeiro prepará-los para dar esta missão, e ai fica uma terra
sem fim os pais esperando que os educadores educam e os educadores esperando que os
pais criem interesse, ver escola da Ponte.
Rubem Alves
Ao contrario das escolas tais quais linhas de montagem, Tempo Moderno, na escola
da Ponte, grupos se formam e se desfazem para estudar assuntos específicos, todos
trabalham nu grande salão em silencio, numa parede frases inteiras para ensinar a ler
criadas pelas próprias crianças, (vida).
Para mostrar da eficácia do ensino ele compara com a prendizagem da linguagem
que acontece de maneira natural, sem provas, conceitos e aulas expositivas, e ela é bem
sucedida porque está colada a experiencia que esta ocorrendo(Larossa).(48)
Programas são entidades abstratas, prontas, fixas, com uma ordem certa, ignoram a
experiência que a criança esta vivendo, e ai tenta-se produzir VIDA a partir destes
programas.Estes programas não são respostas a perguntas que as crianças fazem, e por isto
elas não entendem porque tem que aprender aquilo(experiência).(52)
O corpo tem uma precisa filosofia de aprendizagem, ele aprende os saberes que o
ajudam a resolver os problemas que esta se defrontando, tudo aquilo que ele não sabe para
que serve deixa passar como a água no escorredor do macarrão.
Bibliografia
Silva Ratto, A.L.-“Cenários criminosos e pecaminosos nos livros de
ocorrência de uma escola publica”, Revista Brasileira de Educação,