EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Vivian Fiori
Sociologia
São Paulo
2018
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL
F552s
Fiori, Vivian.
Sociologia. / Vivian Fiori. São Paulo: Cruzeiro do Sul
Educacional. Campus Virtual, 2018.
110 p.
Inclui bibliografia
ISBN: (e-book)
CDD 301
Sociologia
SUMÁRIO
9 Unidade I – Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites
para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará
sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois
irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com
seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem.
6
Objetivos de aprendizagem
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
Unidade I
» Discutir a base teórica e metodológica das principais teorias sociológicas que se empenham em explicar as estruturas,
os processos e os fenômenos sociais.
» Evidenciar alguns conceitos usados nas Ciências Humanas e principalmente na Sociologia.
» Discutir algumas teorias e conceitos propostos por pensadores que foram importantes para a Sociologia.
Sociologia Urbana
» Discutir conceitos e temáticas relativas à Sociologia Urbana. Tratar das segregações sociais nas cidades.
» Analisar alguns conceitos e estudos sobre Sociologia e Política. Discutir algumas formas de poder e ideologia.
Evidenciar a trajetória política do Brasil.
7
1
Introdução à Sociologia
e às Ciências Humanas
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciene Oliveira da Costa Santos
a
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar do conhecimento científico e do senso comum, bem
como discutiremos o processo de formação das Ciências Humanas, em especial,
da Sociologia.
A Construção do Conhecimento
A seguir, discutiremos algumas diferentes concepções existentes, relacionadas
ao conceito de conhecimento.
Senso Comum
Ao longo da história humana, os grupos humanos – na sua mediação com a
natureza, com o meio no qual vivia e na relação com outros homens – construíram
formas de explicar a existência do planeta, do mundo, das coisas da natureza e de
sua própria existência.
Num primeiro momento, quando a relação com a natureza era maior, vivia-se
num meio denominado por Milton Santos (2006) de “meio natural”. Nesse período,
homens e mulheres dependiam mais da natureza, explicando sua existência por
meio de componentes sobrenaturais, de superstições, crenças e explicações míticas,
que podem ser denominadas de senso comum.
Essa visão de mundo era comum entre os primeiros povos e mesmo as pri-
meiras civilizações – caso da Grécia antiga, Egito, Mesopotâmia, Roma etc. –
nas quais predominavam as explicações sobrenaturais, como o uso da força dos
deuses, entes sobrenaturais, que teriam criado os fenômenos da natureza e a
própria humanidade.
Se chovia, era porque os deuses queriam, se havia seca, era uma repressão
divina, e por isso a explicação dos fenômenos naturais era obtida a partir de crenças
e superstições.
10
Ao longo da história humana, mediante as relações do ser humano com a
natureza, em suas atividades de trabalho, nas interações intergrupais, socioculturais,
ou intragrupais, homens e mulheres foram adquirindo conhecimento em suas
vivências cotidianas. Esse saber é denominado de conhecimento popular, ou
senso comum.
Tal conhecimento passava de pais para filhos, de geração em geração, por meio
de conselhos, recomendações, normas, tabus, proibições e práticas socioculturais,
que variavam também conforme o lugar.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
11
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Os meios de comunicação, as mídias televisivas, das redes sociais da internet,
dos jornais e revistas também se utilizam das formas de concepções populares,
tornando-se muitas vezes formadores de opinião, cujo embasamento é originário
deste chamado senso comum.
As formas de explicação pelo senso comum não devem ser caracterizadas como
menos importantes, pois é a partir dele que se desenvolve a possibilidade de buscar
entendimento sobre o cotidiano da vida, procurando discernir erros e acertos
do passado, na medida em que iam vivendo e produzindo explicações, tanto em
sociedades mais simples como nas mais complexas.
Desse modo, não se trata de uma forma menos importante de saber, embora possa
ser contestado por outras maneiras de conhecimento. São notáveis, por exemplo,
os conhecimentos e práticas desenvolvidos por povos indígenas: conhecimentos,
domínios e práticas cobiçados pelas multinacionais, principalmente em
questões medicinais.
12
Conhecimento Científico
O conhecimento científico, por outro lado, é mais cheio de formalidades, normas,
regras, procedimentos e maneiras de explicar as coisas, os objetos, os fatos, os
fenômenos buscando a verdade científica, mediante provas, teorias e hipóteses.
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
13
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Esses procedimentos iriam variar conforme o objeto de análise da ciência,
conforme as transformações tecnológicas, conforme os métodos existentes.
14
A Formação das Ciências Humanas e Sociais
As chamadas Ciências Humanas e Sociais têm como premissa básica o estudo
do ser humano. Existem diferentes Ciências Humanas, entre elas, citamos:
· Sociologia – como o estudo da sociedade, considerando as relações sociais
ao longo do tempo, as normas sociais, as classes sociais, as formas de
organizações sociais, os conflitos sociais, as formas nas quais a sociedade
influencia o comportamento das pessoas, entre outras temáticas;
· Antropologia Cultural – estuda o homem enquanto ser cultural, em seus
hábitos, costumes, crenças e modos de vida;
· Ciência Política – estuda as formas de poder ao longo da história, o papel
do Estado, as formas de organização política, as formas de governo, a
autoridade, as relações internacionais;
· Geografia – estuda o espaço geográfico, o homem no espaço em suas
múltiplas relações;
· Economia – estuda as atividades produzidas pelo homem, relativas à produ-
ção e distribuição de bens e serviços. Tem como pesquisas estudos sobre ren-
da, políticas econômicas, planos econômicos, micro e macroeconomia etc.
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Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Sob a égide da fé na ciência e na razão e que o progresso dependeria do
conhecimento científico, sobretudo, a partir do século XVIII, a ciência europeia
difunde-se pelo mundo.
Figura 3 - Encyclopédie (1772), desenho de Charles-Nicolas Cochin que representa alguns símbolos do Iluminismo
Fonte: Wikimedia/commons
16
Alguns pensadores da época passaram a escrever obras que retratavam esta
nova concepção do mundo, visto a partir da opinião destes intelectuais europeus.
Citamos, por exemplo, o francês Voltaire (1694-1778), considerado um importante
Iluminista. Em suas obras, fez críticas às formas de conduta da nobreza e também
da Igreja Católica, pedindo reformas sociais.
Outro pensador desse período foi Jean Jacques Rousseau (1712-1778), em sua
obra “Contrato Social”, faz uma proposta de revisão das formas de existência da
sociedade em suas formas de vida e política, defendendo a liberdade do homem na
busca de uma sociedade que pudesse se basear nas formas antigas de democracia,
de consenso e de cidadania.
Figura 4
Fonte: Wikimedia/commons
17
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Além da Revolução Industrial, houve também a Revolução Francesa (1789), que
depôs do poder a nobreza francesa, sendo considerada uma revolução burguesa.
Figura 5
Fonte: Wikimedia/commons
18
O próprio capitalismo como processo gerou mudanças nas formas de trabalho,
nas formas de apropriação da terra, nas relações sociais, culminando na segunda
metade do século XIX e início do século XX, com protestos de trabalhadores que
tinham condições de vida e moradia insalubres e de trabalho bastante precário
transformaram a sociedade.
19
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Os Meios de Produção e as
Transformações Sociais
A sociedade, ao longo da história, passou por inúmeras mudanças nas formas
de produzir, distribuir e consumir bens e serviços. As chamadas formas de produzir
e suas forças produtivas mais as relações existentes nesta produção são chamadas
de “modos de produção”.
20
natureza, caso de algumas sociedades indígenas que ainda foram pouco
alteradas pelo modo de produção atual.
· Escravista: os meios de produção e a forma de trabalho são realizados
pelo escravo, sendo que ele é propriedade de um senhor. O escravo,
portanto, era considerado um objeto, o instrumento e o próprio meio de
produção e os “senhores” eram proprietários de sua força de trabalho. Tal
modo de produção ocorreu, por exemplo, na Idade Antiga (Egito, Grécia,
Roma etc.) e também em países colonizados pelos europeus, na América,
a partir do século XVI principalmente.
· Feudal: é baseado na servidão. O servo trabalha para o senhor feudal
em troca de um lugar para morar. O poder político era descentralizado
em “feudos”, foi muito comum, durante o período da Idade Média, na
Europa Ocidental.
· Capitalista: trata-se de um modo de produção que se tornou universal,
sobretudo após o século XIX, no qual há a exploração do homem pelo
homem, constituindo duas classes sociais, a burguesia, que detém os meios
de produção, e os proletários, que são a força de trabalho explorada.
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Esse é um trabalho que vai se tornando mais alienado, com normas mais
distantes da vida local, cada vez mais artificial. Se, no modo de produção primitivo,
as pessoas, por exemplo, sabiam o que produziam, tinham conhecimento sobre
todas as partes de seu trabalho, atualmente, cada um faz uma parte do trabalho e
é, inclusive, complicado definirmos nosso papel na divisão social do trabalho.
21
Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
É uma sociedade que concentra terras, capital, diversificadas formas de dinheiro
e na qual os que são explorados não conseguem acesso a terra e nem aos meios
de produção para sobreviver.
Há, também, formas híbridas de viver, e nem todos que vivem atualmente par-
tilham o mesmo modo de vida. Podemos dizer sim que existem universalidades,
formas de vida e sociedades que são hegemônicas, mas nem todas são completa-
mente iguais.
22
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O que é Sociologia
MARTINS, C. B. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
Filmes
O nome da Rosa
O nome da Rosa (1980, EUA, direção: Jean Jacques Annaud)
Leitura
Introdução à Sociologia
VIANA, N. Uma Introdução à Sociologia em Grande Estilo. Belo Horizonte: Autên-
tica, 2006.
Resenha disponível em:
https://goo.gl/6vUeRk
Novas perspectivas para as Ciências Sociais no Brasil
PINTO FERREIRA, S. J. (Organizador). Novas perspectivas para as Ciências
Sociais no Brasil.
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Introdução à Sociologia e às Ciências Humanas
UNIDADE
1
Referências
BOFF, L. Ética da Vida. Brasília: Letraviva, 1999.
24
2
Teorias da Sociologia Clássica
e Contemporânea
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciene Oliveira da Costa Santos
a
Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Introdução
A Sociologia, assim como outras Ciências Humanas, passou por transformações,
desenvolvendo-se como campo de conhecimento mediante obras de diferentes
autores, proporcionando novas maneiras de ler e compreender a sociedade.
Nesta unidade, vamos tratar um pouco de alguns autores que tiveram im-
portância para os estudos da Sociologia, suas ideias, conceitos e concepções
teórico-metodológicas.
Figura 1 – August Comte “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”
Fonte: Wikimedia Commons
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O progresso do espírito humano, em relação ao conhecimento, para Auguste
Comte, passaria por três fases, a saber:
· A primeira, um estado teológico, no qual o homem procurava explicar a
realidade através das crenças e religiões. Para o autor, nessa fase, havia
três etapas também: primeiro o fetichismo; depois o politeísmo, com
a crença em vários deuses e, por fim, o monoteísmo com a crença em
apenas um Deus;
· Numa segunda etapa de evolução, o homem, por meio da concepção
filosófica chamada metafísica, procura explicar a natureza íntima das
coisas, sua origem e destinos últimos, bem como a maneira pela qual
são produzidas, mas, para o autor, a metafísica ficava muito distante da
realidade, questionando o mundo, sem, no entanto, ter respostas que
explicariam a sua existência.
· Por isso o autor propõe que o conhecimento chegue ao terceiro estágio,
chamado por ele de “estado positivo”, de onde vem o nome positivismo.
Dessa forma, aquilo que se observa é passível de ser descrito, obtendo valor
científico para o positivismo. A aparência dos fenômenos é essencial, pois só pode
ser descrito aquilo que todos podem ver, mas, para ir além do senso comum, neste
caso, é necessário fundamentar-se por uma teoria, que se distancie de práticas
metafísicas. É necessário ser objetivo, positivo!
Comte era ligado aos interesses do Estado Nacional, do liberalismo capitalista, daí
sua concepção de Sociologia – da ordem e progresso. A moral deveria estar presente
na política e na economia da sociedade para se alcançar a ordem e o progresso.
Era necessário, segundo ele, buscar a “ordem e o equilíbrio social” por meio do
conhecimento científico – um sistema cuja ordem imitaria a própria natureza.
27
Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Como explica a pesquisadora sobre o autor e a questão da moral:
Na política, a moral despertaria nos súditos sentimentos de obediência e
sujeição e, nos governadores, responsabilidade no exercício da autoridade.
Na economia, a moral tornaria os ricos perfeitos administradores de seus
bens e os pobres satisfeitos com sua posição social, e todos colaborarias
“para a prosperidade, grandeza e realização da humanidade”. (CHINAZZO,
2013, p. 106)
Observe que a tal ordem dependeria dos mais pobres aceitarem sua condição
social e serem obedientes. Daí o apoio explícito do autor ao governo da época e
ao liberalismo econômico.
Auguste Comte
Explor
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), conhecido como Auguste Comte
nasceu em Montpellier, na França. Foi um filósofo, e é considerado o fundador da Sociologia
e um dos principais autores do positivismo.
O positivismo influenciou várias ciências e baseava-se principalmente na concepção de que,
qualquer que seja a ciência, é fundamental o estudo a partir da aparência dos fenômenos.
Por meio da aparência e da observação do pesquisador, chega-se à explicação da realidade,
podendo, ainda, mediante essa observação e interpretação, realizar classificações.
Assim, no positivismo, parte-se do princípio que o conhecimento tem de ter uma base
objetiva, fundada a partir da observação e de uma teoria que possa explicá-la. Neste sentido
a observação e descrição tornam-se seus principais procedimentos metodológicos.
28
Nesta citação do próprio autor, observa-se que ele compara a Sociologia com as
outras ciências físicas e naturais, bem como coloca que o homem evoluiu chegando
até a civilização europeia. A concepção de Comte é que a sociedade é regulada
por leis naturais, assim como os fenômenos da natureza- da Física, da Química etc.
Essa visão foi muito criticada por diferentes pesquisadores, pois o homem
é um ser que, em princípio, tem consciência, cultura, pensa, tem discernimento,
diferentemente dos aspectos físicos e naturais. Por isso, comparar a sociedade a uma
ordem natural não é adequado, assim como a comparação de estágios de evolução,
como se as sociedades mais simples fossem mais atrasadas do que a europeia.
Assim, os fatos sociais podem ser um hábito social; o conjunto das leis; o
sistema monetário; as religiões; as normas em geral. Esses fatos sociais criam uma
consciência coletiva sobre como agir em sociedade, já que de forma coercitiva os
fatos chegam ao indivíduo por meio das normas que a sociedade impõe a todos.
Como mostra sua afirmação, por meio de nossa vivência diária e da educação,
as pessoas aprendem e são influenciadas pela sociedade onde vivem.
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Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Para o autor, cada um tem um papel a desempenhar na sociedade, uma função,
levando ao conceito de “divisão do trabalho social” no qual, segundo sua visão, todos
têm direitos e deveres, e deve-se buscar a solidariedade social orgânica, no qual
todos busquem em sua função manter o todo, para o avanço de toda a sociedade.
Para a lógica dialética, existe um processo que é sempre um ir e vir, uma luta
de forças opostas de diferentes formas e níveis de poder. Alguns autores são
considerados importantes por terem discutido este método, entre eles, Friedrich
Hegel, Karl Marx e Friedrich Engels, Henri Lefebvre e Jean Paul Sartre – ainda
que com algumas premissas diferentes.
30
[...] partimos dos homens em sua atividade real, é a partir de seu processo
de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos
e das repercussões ideológicas desse processo vital. (MARX; ENGELS,
2002, p. 19)
31
Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
A Ética Protestante
A obra de Max Weber (1864-1920) “A ética
protestante e o espírito do capitalismo” re-
trata a existência de um comportamento ético
acerca da acumulação de riquezas. Esse modo
de pensar, de acordo com o autor, teria surgido
juntamente com a propagação do protestan-
tismo, nas nações anglo-saxônicas e do norte
da Europa.
Para Weber, a economia tradicional encarava
o trabalho apenas como um fator necessário
para sobrevivência, e não como valor em si. Já
a “ética protestante” considera que a recom-
pensa material será dada àqueles que tiverem
méritos durante sua existência, ou seja, que tenham trabalhado arduamente para
obter êxito.
Esta visão, segundo o autor, favoreceu o desenvolvimento do sistema capitalista,
já que a riqueza passou a ser considerada fruto do trabalho, ou seja, os méritos do
trabalho árduo e da dedicação levam à prosperidade do indivíduo.
Por exemplo, uma empresa demite um funcionário. Tal ação social é realizada
no sentido da racionalidade econômica e administrativa do agente social (neste
caso, o empresário); mas, de outro lado, os efeitos disso na vida do empregado
quais serão?
32
Logo, para o autor, é a partir da realidade vivida na sociedade que as Ciências
Sociais devem buscar desvendar as ações sociais. Já as relações sociais são situações
compartilhadas por várias pessoas ao mesmo tempo, estabelecendo esta relação.
A Sociologia Contemporânea
A seguir, vamos delinear dois grupos de pensadores considerados contemporâ-
neos, que formaram escolas ou correntes das Ciências Sociais: a Escola de Chicago
e a Escola de Frankfurt.
33
Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Tornaram-se estudos de fenômenos sociológicos urbanos, da marginalidade
urbana, dos problemas de moradia, da imigração, da segregação social.
Escola de Chicago
Explor
Fonte: Trecho literal extraído de SANTOS, Thaís Dias Luz Borges. A abordagem do fenômeno urbano na Escola de Chicago.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. https://goo.gl/BlJmxA
Para esses autores, a ciência não era neutra, e havia uma massificação, realizada
principalmente pela indústria cultural, que ampliava a alienação do homem.
34
Adorno comenta:
O efeito do conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistificação,
a de um anti-iluminismo [anti-Aufklärung]; nela, como Horkheimer e eu
dissemos, a desmistificação, a Aufklärung, a saber a dominação técnica
progressiva, se transforma em engodo das massas, isto é, em meios de
tolher a sua consciência. Ela impede a formação de indivíduos autônomos,
independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Mas estes
constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade democrática,
que não se poderia salvaguardar e desabrochar senão através de homens
não tutelados. Se as massas são injustamente difamadas do alto, como
tais, é também a própria indústria cultural que as transforma nas massas
que ela depois despreza, e impede de atingir a emancipação, para qual
os próprios homens estariam tão maduros quanto as forças produtivas da
época o permitiriam. (ADORNO apud SANTOS, 2014, p. 28-29)
35
Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
No início do século XXI, alguns temas têm sido revisitados pelos sociólogos, sendo
que outros são totalmente novos, caso das transformações pelas quais a sociedade
vem passando com as mudanças técnicas do atual período da globalização.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Para conhecer um pouco mais do pensamento de Weber acesse o site
https://goo.gl/NCHsa0
Livros
As Etapas do Pensamento Sociológico
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
O que é Positivismo
RIBEIRO, João. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1996.
Vídeos
D-09 - Clássicos da Sociologia: Karl Marx
O aspecto sociológico do pensamento de Karl Marx é apresentado com base em
entrevista do sociólogo Gabriel Cohn e a caracterização in loco da economia de uma
pequena cidade paulista.
https://youtu.be/2DmlHFtTplA
Leitura
O Positivismo no Brasil: Uma Ideologia de Longa Duração
BOSI, Alfredo. O positivismo no Brasil: uma ideologia de longa duração.
https://goo.gl/NhiFRI
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Teorias da Sociologia Clássica e Contemporânea
UNIDADE
2
Referências
CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (Orgs.). A sociedade em rede: do
conhecimento à ação política. Conferência. Belém (Por): Imprensa Nacional, 2005.
MARX, Karl; ENGELS; Friederich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2002.
SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural.
Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre, v. 7 – nº 2,
2014, p. 25-36.
38
3
Sociologia Urbana
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciene Oliveira da Costa Santos
a
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar da Sociologia Urbana, tanto de seus aspectos
teóricos, quanto de estudos sobre o tema na perspectiva de situações existentes no
mundo e também especificamente no Brasil.
Muitos estudos desta área da Sociologia têm relação com pobreza, tendências
socioeconômicas e demográficas nas cidades, migrações para e nas cidades,
segregação social, problemas raciais e cultura no urbano, entre outros temas.
40
Na perspectiva de Lefebvre, o urbano é o modo de vida predominante, que che-
ga a interferir atualmente até no campo, ou seja, as formas de vida do meio urbano
estão cada vez mais no campo porque as referências propiciadas pela cidade pre-
dominantes. Desse modo, para esse autor, a cidade e o urbano não são sinônimos.
Contudo, cabe ressaltar que nem todos os lugares do mundo passaram por
estes três períodos destacados por Lefebvre. É fundamental sempre verificar as
especificidades dos lugares e suas diversas temporalidades e contextos.
No final do século XIX e início do século XX, com a expansão do processo capitalista
e da industrialização, a separação do local de trabalho e da moradia ocasionou
o surgimento dos apinhados prédios de cortiços nas cidades industrializadas na
Europa e nos EUA – criando um padrão de segregação social.
41
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
Em relação às condições de acesso à moradia, com o capitalismo surge a
propriedade privada e o acesso à terra torna-se uma disputa que atende ao interesse
dos novos agentes sociais do mercado imobiliário, bem como dos proprietários
fundiários urbanos, ou seja, os proprietários de terra urbana.
País Subdesenvolvido
Um país subdesenvolvido é um país onde há grandes desigualdades sociais e alguns
indicadores socioeconômicos que não são adequados, caso, por exemplo, de: menor
renda per capita, menor escolaridade, maior taxa de analfabetismo, maior mortalidade
infantil, menor expectativa de vida etc. Fundamental que não se confunda crescimento
econômico, que se refere ao aumento da produção econômica de um país ou região –
com desenvolvimento – que pressupõem melhorias no nível socioeconômico de uma
sociedade – de um país ou região.
Classes Sociais
Explor
Para Marx e Engels, as classes sociais são principalmente fruto da divisão social do trabalho
que, no capitalismo, opôs a burguesia (detém os meios de produção) e o proletariado (é
o operário que vende sua força de trabalho em troca de um salário). Para Marx, o fator
econômico é importante, mas também o cultural, político e ideológico atuam na formação
das classes sociais. Evidenciam também a questão da consciência de classe e o “desvio de
consciência de classe”.
42
Conforme comentam Marx e Engels:
Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas
relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção
que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção
forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se
levanta toda a superestrutura jurídica e política e a qual correspondem
determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida
material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em
geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo
contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência. (MARX;
ENGELS apud FERRAZ, 2009, p. 284)
Existe uma diferença entre a segregação social e residencial dos mais ricos, que
escolhem onde querem morar, numa situação de autossegregação social (caso dos
condomínios de luxo), e a dos mais pobres, que sofrem uma segregação imposta
pela ordem social e econômica vigente.
A situação das classes sociais estabelece onde morar, estudar, ter lazer, comprar,
ser cidadão. Neste sentido, a localização é fundamental numa cidade, e possibilita
auferir uma renda diferencial, conceito este definido por Marx, que assim afirma:
Onde quer que exista renda, a renda diferencial aparece por toda parte
obedece às mesmas leis que a renda diferencial agrícola. Onde quer que
forças naturais sejam monopolizáveis e assegurem um sobrelucro ao
industrial que as explora, seja uma queda d’água, uma mina rica, um
pesqueiro abundante ou um terreno para construção bem localizado,
aquele cujo título sobre uma parcela do globo terrestre o torna proprietário
desses objetos da natureza subtrai esse sobrelucro, na forma de renda, ao
capital em funcionamento. (MARX, 1988, p. 222)
43
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
No Brasil, e em vários países subdesenvolvidos, devido à grande desigualdade
social existente e à dificuldade de acesso a uma habitação regularizada e em
condições boas de habitabilidade, há vários tipos de moradias precárias que colocam
a vida do morador em risco.
O Estado tem um papel crucial nesse processo, ao criar normas e leis, políticas
públicas e obras de diferentes tipos que influenciam, ou têm relação, com a
organização das cidades.
44
[...] os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas,
os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material
dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual.
A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos
meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles
a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido
igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas
a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a
forma de ideias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma
classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as ideias do seu
domínio. (MARX; ENGELS, 2008, p.47)
Nas cidades, e nas relações sociais urbanas, principalmente nos países subde-
senvolvidos, é comum percebermos discursos que são de interesse exclusivo das
classes dominantes, mas aparentemente parecem ser de toda a sociedade.
Logo, é fundamental perceber por quem está sendo feito o discurso. Quem é o
agente social que o está produzindo e a quem realmente interessa.
O serviço público, a princípio, deve ser igual para todas as classes sociais e, segundo a norma
brasileira, deve atender à coletividade, sendo dever do Estado. Há casos comuns de serviços
públicos que funcionam plenamente em algumas partes da cidade e não em outras. Mas
não é público? Não deveria funcionar igualmente em toda a cidade do mesmo modo? Como
exemplo: há serviços de limpeza pública, estações de trem e metrô, linhas de ônibus que
ocorrem em condições distintas quando comparamos as áreas mais pobres da cidade com
outras de classe média alta ou alta.
Quantos exemplos no Brasil e no mundo temos para evidenciar as desigualdades sociais
nas cidades? O discurso dominante acaba camuflando a real necessidade das classes sociais
populares em detrimento dos interesses da elite.
Entretanto, cabe ressaltar que parte das classes populares é organizada por
meio dos movimentos sociais que buscam lutar por melhores condições de vida
(associações de moradores, ONG com atividades sociais etc. Tais movimentos são
considerados agentes sociais que buscam se contrapor ao modo dominante e ao
discurso hegemônico.
45
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
Desse modo, segregação social, classes sociais, discurso dominante, movimentos
sociais populares são condições que interagem nos processos de existência social
nas cidades do Brasil e no mundo.
Em geral, os mais pobres moram em favelas, cortiços, loteamentos irregulares
e clandestinos, ou em conjuntos habitacionais populares no Brasil. No mundo, há
casos de moradias em telhados, antigas tumbas de cemitérios, e milhares na rua,
caso de algumas cidades na Índia.
Roberto Lobato Corrêa pesquisador de problemáticas urbanas afirma:
Para se entender a questão do como morar é preciso que se compreenda
o problema da produção da habitação. Trata-se de uma mercadoria
especial, possuindo valor de uso e valor de troca, o que faz dela uma
mercadoria sujeita aos mecanismos de mercado. Seu caráter especial
aparece na medida em que depende de outra mercadoria especial -a
terra urbana -, cuja produção é lenta, artesanal e cara, excluindo parcela
ponderável, senão a maior parte, da população de seu acesso, atendendo
apenas a uma pequena demanda solvável. (CORRÊA, 2000, p. 62-63)
O que é gentrificação?
Trata-se de um termo que foi definido pela socióloga Ruth Glass, em 1964, por meio
de uma pesquisa sobre a cidade de Londres, na Inglaterra, na qual se evidenciou
uma dinâmica em alguns bairros operários da cidade, que passaram a ser ocupados
posteriormente por parte de uma classe média, ou seja, havia uma mudança social
urbana em termos de classe social e a substituição das classes populares por uma classe
média ou média-alta.
46
Em geral, o conceito de “gentrificação” pode ter diferentes definições. Comumente
é definido como um processo de mudança social urbana na qual algumas áreas da
cidade são transformadas tanto em sua morfologia e forma espacial quanto do
ponto de vista das classes sociais que as habitam:
O que é a gentrification continua sendo uma pergunta sem uma única
resposta válida para todos os casos. Parece aceito, de qualquer modo,
que se trata de um processo de mudança social urbana, no sentido de que
determinadas áreas da cidade são transformadas tanto morfológica quanto
socialmente. Mas, quais são as causas? Quais são as consequências? Quais
atores participam? Qual é o papel nessas mudanças na transformação
geral das cidades? Todas essas questões permanecem em aberto. (RIGOL,
2005, p. 99)
Megacidades e Metrópoles
Apesar de chegarmos ao começo do século XXI, com um número cada vez
maior de grandes cidades em todo o mundo, em muitas delas, imperam formas de
moradias precárias.
O que é metrópole?
Trata-se de um conceito que diz respeito a cidades que têm grande centralidade
político-econômica e concentram grande quantidade de serviços e comércio, em
quantidade e diversidade. São Paulo, por exemplo, é uma metrópole nacional porque
tem diversificados tipos de serviços comuns e especializados nas áreas de educação,
saúde, ambiental, de auditoria, de informação, entre outros, e que atendem também a
uma grande população externa.
47
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
Até o século XIX, era mais comum que grandes cidades estivessem localizadas
nos países desenvolvidos ou de urbanização mais antiga, caso da China e Índia. Já
era comum naquela época uma segregação espacial existente entre ricos e pobres
em diversificadas situações.
Assim, nas cidades de Nova Iorque, Londres e Paris, no final do século XIX e
começo do século XX, era comum a existência de cortiços, onde geralmente mora-
vam os trabalhadores e imigrantes, enquanto de outro lado havia bairros burgueses.
Figura 3 – Distribuição da População em Grandes Cidades (por continente - 500 mil ou mais habitantes
Fonte: Acertvo do Conteudista
48
Dessa maneira, é importante destacar que definir a existência da maioria da po-
pulação como urbana, não significa uma urbanização com infraestrutura adequada,
nem tampouco características de urbanização nos moldes europeus, por exemplo.
A Ásia tem, de longe, o maior número de pessoas que vivem em áreas urbanas,
seguidas pela Europa, África e América (vide gráfico a seguir). O fato de que 2,1
bilhões de pessoas Ásia vivem em áreas urbanas, o que não é exatamente sinônimo
de desenvolvimento, pois muitos vivem de forma precária.
Figura 4
Fonte: Acervo do Conteudista
49
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
No final do século XX, houve uma notável transformação econômica chinesa,
impulsionada pela urbanização, principalmente no sul da China, onde antes áreas
que eram rurais ou pequenas cidades transformaram-se nas últimas décadas do
século XX em grandes cidades.
Contudo, as taxas de crescimento urbano pelo mundo foram muito mais rápidas
em algumas regiões do que outros. A maior taxa de crescimento entre 1995 e
2015 ocorreu nos países subdesenvolvidos, sendo que em alguns países da África
foi maior. Ou seja, apesar da África ser menos urbanizada do que outras partes do
mundo as cidades deste continente vêm crescendo mais nas últimas décadas.
50
parte pela articulação entre discursos de uma determinada imprensa
interessada em abordagens catastróficas para aumento das tiragens,
de agentes públicos ou de ONGs empenhados em acirrar uma visão
dramática sobre tais locais – em busca de prioridade para programas
(incluindo negociações clientelistas) ou captação de recursos. (FRUGOLI
JR, 2005, p. 147)
Dessa maneira, sobre Sociologia Urbana, verifica-se que existe uma gama de
estudos em relação à questão social, pobreza, segregação social, tensão sociocultural
e racial que são alvo deste ramo da Sociologia.
51
Sociologia Urbana
UNIDADE
3
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Programas de Erradicação, Reassentamento e Urbanização das Favelas: Delhi e Mumbai
DUPONT, Véronique; SAGLIO-YATZIMIRSKY, Marie-Caroline. Programas de erra-
dicação, reassentamento e urbanização das favelas: Delhi e Mumbai. São Paulo,
Estudos Avançados, 23 (66), 2009.
https://goo.gl/7CbwUj
Campo e Cidade, Rural e Urbano no Brasil Contemporâneo
HESPANHOL, Rosangela Ap. de Medeiros. Campo e cidade, rural e urbano no
Brasil contemporâneo. Revista Mercator, Fortaleza, v. 12, número especial (2), set.
2013, p. 103-112.
https://goo.gl/bloJHk
O que é Urbano no Mundo Contemporâneo
MONTE-MÓR, Roberto Luís. O que é urbano no mundo contemporâneo. Belo
Horizonte: UFMG/Cedeplar, Jan. 2006, p. 1-14.
https://goo.gl/7PdQjn
Dinâmica Urbano-Regional: Rede Urbana e suas Interfaces
PEREIRA, Rafael Henrique Moraes; FURTADO, Bernardo Alves (orgs.). Dinâmica
urbano-regional: rede urbana e suas interfaces. Brasília: IPEA, 2011.
https://goo.gl/dpJs23
52
Referências
BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo
da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 2004.
DAVIS, Mike, 1946. Planeta Favela. Tradução de Beatriz Medina. São Paulo:
Boitempo, 2006.
53
4
Sociedade, Política e Ideologia
Revisão Textual:
Prof.a Me. Natalia Conti
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
Introdução
Nesta unidade vamos abordar o ramo da Sociologia Política, que trata da questão
da política e de suas formas de poder.
Para isso, abordaremos alguns estudos e conceitos sobre o tema, bem como
trataremos brevemente de alguns eventos e processos da história política no Brasil.
Logo, tal atividade pública é uma forma de política. A política ocorre de diferentes
maneiras, por meio de um partido político, mediante políticas públicas, a partir das
relações internacionais, através dos movimentos sociais e políticos, entre outros.
56
O poder jamais é propriedade de um indivíduo, pertence ele a um grupo
e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. Quando dizemos
alguém está ‘no poder’ estamos na realidade nos referindo ao fato de
encontrar-se esta pessoa investida de poder, por um certo número de
pessoas para atuar em seu nome. No momento em que o grupo - de onde
se originara o poder - desaparece, desaparece também o seu poder [... ]
(ARENDT, 1985, p. 24)
Para que o poder seja legítimo deve ser fundado na liberdade de escolha daqueles
que serão investidos de poder no Estado, tendo consentimento da população.
Cabe lembrar que não é só o Estado que tem poder, mas também diversos
grupos, instituições, organizações tanto formais e criadas legalmente, quanto as
existentes de maneira ilegal ou informal. Assim como tais grupos e instituições,
também podem usar de violência e força física, moral ou de infraestrutura para
produzir coerção e violência, ultrapassando o consenso.
57
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
Num mundo atual, cada vez mais global, há uma ideologia dominante e um
discurso de que se todos se esforçarem o mundo fica melhor, que basta trabalhar
que as situações serão melhores. Isso é um discurso, tornado verdade, mas ao
mesmo tempo, sabemos por meio de dados que oito pessoas do mundo detêm a
mesma renda de quase 50% da população mundial. Então basta nos esforçarmos
ou o mundo precisa ser menos desigual? Todos têm as mesmas condições de
poder? Todos os agentes? Todas as instituições? Sabemos que não.
Leia o texto Uma Economia para os 99% a respeito da desigualdade global, disponível
em: https://goo.gl/CqVN8i
58
Em nosso cotidiano estamos impregnados de ideologias de variados tipos. Há
uma ideologia dominante capitalista, global, conservadora, neoliberal, que cada
vez mais adentra as nossas vidas, em todo o mundo. Estes discursos aparecem no
nosso cotidiano mediante as mídias em geral, na escola, no mundo acadêmico, nas
ruas, na propaganda, entre outros meios.
O que é ideologia?
Trata-se de uma categoria que tem vários significados e começou a ser usado a partir do
século XIX. Aqui trazemos uma dessas concepções: É o conjunto de ideias e formas de
pensamento de um grupo de pessoas, organizações e/ou instituições que se manifestam
e legitimam por meio de formas de poder, por condutas de grupos ou organizações.
É um sistema ordenado de pensamento e ideias, mas é comum, num mundo cheio
de contradições, que exista uma diferença entre o que é posto por uma determinada
ideologia e o que ocorre na prática. Existem ideologias de diferentes tipos, de esquerda e
de direita, neoliberal, socialista, capitalista etc. Na ideologia capitalista, por exemplo, a
classe social dominante, tanto política quanto econômica, torna suas ideias dominantes
para toda a sociedade, como dizia Marx e Engels:
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas,
também consciência e, por isso, pensam. Na medida em que dominam como
classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o fa-
çam em toda a sua extensão e, conseqüentemente, entre outras coisas, dominem
também como pensadores, como produtores de idéias; que regulem a produção e
distribuição das idéias de seu tempo e que suas idéias sejam, por isso mesmo, as
idéias dominantes da época (MARX;ENGELS, 2002, p. 37).
59
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
Há o poder das mídias em geral, como transmissor de informação e formador
de opinião. No caso brasileiro, por exemplo, a televisão ainda tem um papel
crucial na formação da opinião da população. As redes sociais da internet vêm
se disseminando mais recentemente como outra forma importante. Tratam-se de
formas de poder, de persuasão. Influenciando em comportamentos, na opinião
política e social, nos hábitos do cotidiano.
60
Não é, assim, por exemplo, que os estudantes negros ficam sabendo que
a Abolição foi um feito da Princesa Isabel? As lutas dos escravos estão sem
registro e tudo que delas sabemos está registrado pelos senhores brancos.
Não há direito à memória para o negro. Nem para o índio. Nem para os
camponeses. Nem para os operários. História dos “grandes homens”, dos
“grandes feitos”, das “grandes descobertas”, dos “grandes progressos”,
a ideologia nunca nos diz o que são esses “grandes”. Grandes em quê?
Grandes por quê? Grandes em relação a quê? No entanto, o saber histórico
nos dirá que esses “grandes”, agentes da história e do progresso, são os
“grandes e poderosos”, isto é, os dominantes, cuja “grandeza” depende
sempre da exploração e dominação dos “pequenos”, aliás, a própria idéia
de que os outros são os “pequenos” já é um pacto que fazemos com a
ideologia dominante (CHAUÍ, 2004, p. 47).
61
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
Muitas leis trabalhistas surgiram a partir daí, como forma do Estado procurar conter
os interesses da classe dominante (neste caso, a burguesia industrial), pois seu avanço
ocorria de maneira desenfreada e sem regulamentações nas formas de trabalho.
Após a crise mundial de 1929, na qual a Bolsa de Valores de Nova York quebrou,
alguns Estados procuraram desenvolver políticas de bem-estar social que ficaram
conhecidas como “Estado do Bem-Estar Social” (Welfare State). Tais políticas já
existiam em países como Finlândia e Suécia, no norte da Europa, e após a crise
influenciaram as políticas de proteção social em outros países do mundo
A ideia por trás destas políticas era criar condições mínimas de apoio à
população, com programas sociais, legislações que beneficiassem os trabalhadores,
serviços públicos gratuitos etc. A crítica que muitos fazem a estas políticas é que
o estabelecimento dessa proteção social serve de apoio ao surgimento de ideias
populistas por parte de grupos oportunistas que queiram se perpetuar no poder.
62
Tais condições ficaram restritas mais aos países desenvolvidos, mas no Brasil, a
partir de 1930, algumas destas benesses, caso das legislações trabalhistas, foram
incorporadas à política brasileira.
Para alguns autores, como Marx, no século XIX e ao longo do século XX, dois
agentes, o Estado - que para Marx era a classe dominante no poder - coaduna-se
em muitos casos com os interesses da burguesia, produzindo uma política para
poucos, uma oligarquia de poder.
hereditariedade a um monarca, podendo ser rei ou rainha, ficando no poder em geral até
sua morte ou abdicação.
Parlamentarismo: Regime político no qual o parlamento (poder legislativo) apoia
diretamente o governo, o primeiro ministro é responsável por governar. Pode ser usado em
monarquias e em regime presidencialista. Nele o rei ou o presidente é somente chefe de
Estado, mas quem governa é o Primeiro Ministro. Isto ocorre, por exemplo, no Reino Unido,
que é uma monarquia parlamentarista.
Ditadura: Forma de governo no qual o poder está nas mãos de uma só pessoa ou de um
grupo, que não foi eleito pelo povo.
República: Forma de governo na qual, em geral o eleito governará por um tempo
determinado como presidente, tornando-se chefe de Estado.
63
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
A democracia requer que exista liberdade de escolha dos representantes do
grupo político (agente social político) que irá representar toda a sociedade civil
em princípio. Ocorre, que na prática, nem sempre as formas denominadas de
democracia efetivamente o são, ou são parcialmente.
Contudo, sabemos que por conta das contradições inerentes ao processo
político, esta representação nem sempre se faz de forma adequada, já que existem
diferentes intencionalidades dos diferentes partidos políticos existentes. Bem como,
para além disso, existe também interesse dos agentes do sistema econômico, dos
atores hegemônicos que, muitas vezes, apoiam os governos e, posteriormente,
acabam ganhando benefícios pessoais em detrimento da maioria da população.
Conforme afirma Cornelius Castoriadis (SOUZA, 2006), na verdade, muito do
que temos no mundo, hoje, não são democracias de fato e sim oligarquias liberais.
Muitos países que se auto definem como democratas, muitas vezes, na verdade, a
gestão pública está voltada primordialmente a alguns grupos e classes sociais, por
isso são denominados de oligarquias (poder de poucos).
Ao mesmo tempo, conforme afirma o autor, há também uma alienação dos
dirigidos, ou seja, muitas vezes a sociedade é muito mal informada, alienada e
pouco preocupada com as questões políticas.
Isso faz com que os dirigentes acabem se aproveitando desta alienação para
definir as políticas públicas conforme seus próprios interesses e não conforme os
interesses de toda sociedade.
Assim, ocorrem assimetrias de acessos aos processos decisórios e informações.
Quando afirmamos que existem assimetrias, estamos nos referindo ao fato de que
poucos têm informações sobre o que acontece no seu país, na sua cidade, com a
sua classe social.
Muitas vezes as pessoas desconhecem por completo qual é o papel do governo
em seus diferentes níveis de atuação (municipal, estadual e federal), qual o papel do
prefeito, do governador, do presidente e acabam confundindo também de quem é
a competência para fazer e decidir sobre o que.
Cabe ressalvar que os regimes políticos e econômicos ditos socialistas, caso da
antiga União Soviética, entre outros, também criaram uma classe de dirigentes e
burocratas tanto quanto no capitalismo, e que, por isso, não tornou a sociedade
menos desigual.
Cornelius Castoriadis diz que o poder de alguns cria as “oligarguias no poder”
(poucos detém o poder) tanto nos países chamados de democráticos quanto nos
que se autodenominam socialistas:
Quer o regime interno da organização seja “democrático” como nos
reformistas, quer seja ditatorial, como nos estalinistas, a massa dos
militantes não pode absolutamente influir em sua orientação, que é
determinada sem apelação por uma burocracia cuja estabilidade nunca
é questionada; pois mesmo quando o núcleo dirigente chega a ser
substituído, ele o é em proveito de um outro não menos burocrático
(CASTORIADIS, 1955, p. 5).
64
Portanto, na visão do autor, nem as ditas democracias são de fato democracias,
nem o socialismo implantado em países como a antiga União Soviética levou a
uma maior equidade social e política.
De outro lado, não é possível separarmos a política da economia, na sociedade
contemporânea. Quando observamos as relações internacionais, por exemplo: se
um presidente viaja para estabelecer melhores relações com outros países está
fazendo diplomacia, política, de outro leva junto inúmeros empresários interessados
em relações econômicas.
A ideologia do liberalismo econômica é antiga. A concepção de que o Estado em
suas diferentes formas de governo deveria dar liberdade ao mercado na velha máxi-
ma “o mercado se autorregula” ou ainda “o mercado não precisa de normas e leis”.
Mais recentemente, principalmente após anos 1980-90 temos a doutrina do
neoliberalismo, que se coaduna com o interesse de um Estado mínimo, com poucas
regulamentações e que sirvam para a expansão do capitalismo, representados
principalmente pelas megacorporações.
A política neoliberal prega abertura das fronteiras do ponto de vista do mercado,
da diminuição das leis e normas que regulam o mercado econômico, com vistas a
ampliar as fronteiras do capitalismo.
Em 1989, um grupo de organizações multilaterais, como o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional, criam uma recomendação internacional principal-
mente aos países subdesenvolvidos latino-americanos chamada de “Consenso de
Washington”, no qual definia algumas medidas a serem tomadas, a saber:
• Reforma fiscal - buscando diminuir impostos para as grandes empresas;
• Redução fiscal e do aparelho estatal, cortando gastos e funcionários do
governo, terceirizando parte da mão de obra;
• Política de privatização de órgãos, empresas e instituições públicas;
Tal política seria um parâmetro mundial para os países que necessitassem de
empréstimos mundiais, caso do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco
Mundial entre outros.
65
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
Tais medidas vêm sendo criticadas por entidades sociais e políticas de esquerda,
pois afirmam ser uma política de arrocho salarial, de interesse das grandes
corporações econômicas.
Por outro lado, existem os movimentos sociais, que são agentes sociais de
diferentes tipos, que buscam se contrapor ao atual processo de globalização,
buscando maior equidade social e também reduzir desigualdades de natureza
política, racial, sexual, entre outras dimensões.
Figura 6 – Fórum Social Mundial 2009, painel América Latina e o Desafio da Crise Internacional
Fonte: ebc.com.br
Este é o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST), do Mo-
vimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do Fórum Social Mundial (que engloba
inúmeros movimentos contra o atual processo de globalização), dos movimentos
estudantis de diferentes países, dos movimentos negros, entre tantos outros.
66
Resumo da Trajetória das
Formas de Política no Brasil
O Brasil constitui-se como Estado com a independência formal de Portugal, em
1822, e com a Constituição de 1824 delineia sua forma de governo, que naquela
época era o Império, uma forma de monarquia.
1. O movimento ocorrido em Pernambuco entre 1842 a 1849 pode ser caracterizado como o mais “politizado” de
todas as revoltas do período (alguns historiadores consideram-na uma revolução).
67
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
4
[...] 1850 não assinalou no Brasil apenas a metade do século. Foi o ano de
várias medidas que tentavam mudar a fisionomia do país, encaminhando-o
para o que então se considerava modernidade. Extinguiu-se o tráfico de
escravos, promulgou-se a Lei de Terras, centralizou-se a Guarda Nacional
e foi aprovado o primeiro Código Comercial. Este trazia inovações e
ao mesmo tempo integrava os textos dispersos que vinham do período
colonial. Entre outros pontos, definiu os tipos de companhias que
poderiam ser organizadas no país e regulou suas operações. Assim como
ocorreu com a Lei de Terras, tinha como ponto de referência a extinção
do tráfico (FAUSTO, 1994, p. 197).
Se antes o trabalho era visto como algo que escravo deveria fazer, no final do
século XIX, funda-se a ideologia de que o trabalho dignifica o homem e os imigran-
tes vão ser trazidos para trabalharem principalmente nas lavouras do Sul-Sudeste.
A Questão da Escravidão:
Explor
As leis que promoveram a abolição, começando pela Lei de Proibição do Tráfico, de 1850; a
Lei do Ventre Livre, de 1871; a Lei do Sexagenário, de 1886; e, finalmente, a Lei Áurea, de
1888; levaram a imensa mão de obra representada pelos escravos a uma situação precária,
visto que não foram seguidas por leis que promovessem o acesso à terra por parte desta
população.
Grandes nomes dentre os abolicionistas, destacando-se Joaquim Nabuco, André Rebouças
e João Alfredo, lutavam para aprovar leis que dessem terras e garantissem crédito agrícola,
para fazer dos ex-escravos pequenos produtores rurais, dando-lhes garantia de segurança
alimentar e evitando desordens sociais.
No começo do século XX, o poder central passou a ter uma influência maior dos
poderes regionais, dentro de uma composição hierárquica, ligada principalmente
ao poder econômico das elites locais, que num primeiro momento ficou conhecida
como café com leite, pois parte de tal elite era produtora de café e de gado leiteiro,
em Minas e em São Paulo.
68
Já com o final da ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945), alguns partidos
ressurgiram e outros novos foram criados. No final da década de 1950 a ideologia
por trás do governo JK (1956-1961) consistia num programa de desenvolvimento
rápido, cujo lema era “50 anos em 5”. Juscelino havia sido governador de Minas
Gerais, tendo promovido amplas reformas, especialmente no que se refere à
infraestrutura. Construiu estradas, usinas hidrelétricas, além de ter trazido uma
indústria siderúrgica para seu Estado.
AI- 5
[...] Art. 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o
Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá
suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar
mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais,
que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o
quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.
Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa,
simultaneamente, em:
I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) domicílio determinado [...]
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Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
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Em 1978, começa a primeira mudança no campo político, com a anistia para
alguns brasileiros que haviam sido exilados do Brasil por conta da ditadura. Apesar
de um avanço no campo político, no começo dos anos 1980, o Brasil ainda estava
assolado pela hiperinflação, desemprego e estagnação econômica.
Figura 8 – Diretas Já
Fonte: ebc.com.br
Para se ter uma ideia, em 1988 a inflação anual chega ao patamar de 1.037,53%
em um ano (só para comparação, a inflação de 2016 foi 6,2%). Tal condição fez
com que a década de 1980 e começo de 1990 como período de aumento da
pobreza, do desemprego, das desigualdades sociais ampliadas no Brasil.
70
Ao mesmo tempo nos anos 2000 voltam a ser de crescimento econômico no
Brasil, com novas políticas sociais em voga.
Para alguns era o “fim do Brasil”; para outros um momento histórico importante,
no qual alguns políticos que estavam envolvidos em irregularidades e fraudes
econômicas foram presos ou denunciados, situação incomum em nossa história.
É essencial lembrar que não se faz política sem poder, sem ideologias, sem
relação entre a dimensão econômica e política e tudo isso afeta o Brasil, o mundo
e a sociedade.
71
Sociedade, Política e Ideologia
UNIDADE
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
História do Brasil: Política e Economia
OLIVEIRA, Dennison de. História do Brasil: política e economia. Curitiba:
Intersaberes, 2012. (e-book).
Políticas Públicas: Definições, Interlocuções e Experiências
OLIVEIRA, Mara de; BERGUE, Sandro Trescastro (orgs.). Políticas públicas:
definições, interlocuções e experiências. Caxias do Sul: Educs, 2012 (e-book).
Relações Internacionais
SEITENFUS, Ricardo. Relações internacionais. Barueri: Manole, 2013 (e-book).
Vídeos
Palestra Antonio Carlos Robert Moraes. 5º Parte
Palestra do prof. Antonio Carlos Robert de Moraes (FFLCH/USP) – 5ª parte, no
Fórum “Rumos da Cidadania”, em 2009, no Instituto Prometheus
https://youtu.be/fqTBx6v7uFY
Engenheiros do Hawaii - Toda Forma de Poder
https://youtu.be/_Aj8oWL_uNQ
72
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. São Paulo:
HUCITEC, 2004.
73
5
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
Revisão Textual:
Prof.a Me. Natalia Conti
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
5
Introdução
Nesta unidade vamos tratar da situação das populações de mulheres, jovens e
idosos no mundo, dando ênfase às condições existentes na sociedade brasileira.
A Mulher e a Sociedade
Ao longo da história humana as mulheres tiveram diferentes papeis sociais e na
divisão do trabalho, variando essa condição conforme o lugar, o povo e a classe
social na qual estavam inseridas.
A Nova Zelândia foi um dos primeiros países a reconhecer o direito das mulheres
ao voto, em 1893. Na Inglaterra um grupo de mulheres fundou um movimento
social chamado de “União Política e Social das Mulheres”, que usou estratégias de
militância política, propaganda e desobediência civil, que acabaram servindo de
referência para outras mulheres no mundo.
Esta situação foi retratada no filme “As sufragistas”, que conta a história das
mulheres que lutaram pelo voto na Inglaterra, evidenciando o papel social delas na
época do começo do século XX.
76
Figura 1 – Passeata pelo voto feminino em Nova York, 1912
Fonte: Wikimedia Commons
Explor
No Brasil este direito foi definido por lei em 1932; na África do Sul somente em
1994, com final do Apartheid; e na Arábia Saudita somente em 2011.
77
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
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Assim sendo, em pleno século XXI existem ainda práticas de violência de variados
tipos em relação às mulheres, atingindo duplamente as mais pobres.
Como diz Hannah Arendt (2005, p. 213): “O único fator material indispensável
para a geração de poder é a convivência entre os homens. Estes só retêm poder
quando vivem tão próximos um aos outros que as potencialidades da ação estão
presentes [...]”. Desse modo, não há poder de só um indivíduo, o poder se manifesta
no grupo e também pelas instituições e organizações existentes no mundo.
78
Políticas das Mulheres”, em nível federal, em 2003, realizou-se a “I Conferência
Nacional de Políticas para as Mulheres” no Brasil, em 2004, evento que subsidiou
a elaboração do “Plano Nacional de Políticas para as Mulheres”, assim como as
demais políticas desenvolvidas pelos governos estaduais e municipais.
79
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
5
Para analisar esta sociedade tão desigual é preciso opor o modo de vida
capitalista e a maneira dominante de viver, não vendo tais situações como acaso,
como acidentais, tanto em relação ao sexo, gênero ou condição de classe social.
Como afirma a socióloga Mary Garcia Castro:
Assim, na visão da autora tais situações não podem ser dissociadas da cultura e
concepção do mundo global, capitalista, individualista a que todos estão cada vez
mais expostos.
Contudo, isso não significa que devamos ser meros expectadores num mundo
tão desigual, machista, intolerante e preconceituoso. É necessário refletir sobre
nossa conduta em relação às outras pessoas.
80
Com a promulgação de tal Lei, pela primeira vez no Brasil há uma legislação
específica sobre a violência contra a mulher, garantindo que o agressor(a) seja
julgado(a) por um juizado especial que cuida especificamente sobre crimes e
violências familiar e doméstica contra a mulher, que podem ser tipificadas como
violência física, patrimonial, moral, psicológica e sexual. O atendimento policial
será feito preferencialmente nas delegacias da mulher.
Além das delegacias temos também no Brasil outras instituições que atendem
mulheres, algumas destas desenvolvem-se por parceria público-privada, são
organizações não governamentais que se utilizam de verba pública. Destacam-se
as seguintes instituições: Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Casas
de Abrigo, Serviços de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual,
Pastorais da Mulher Marginalizada, entre outras entidades.
81
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
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Os direitos das mulheres, inseridos na temática dos direitos humanos como
um todo, representam uma temática que precisa ser disseminada de uma forma
mais ampla para toda a população e território brasileiro, cabendo à educação um
importante papel nesta questão. Não uma educação como existe hoje, que se
preocupa mais em informar do que formar para a vida, mas um modelo em que
esta questão seja discutida de forma transversal em sala de aula.
Para além das leis, dos planos, dos equipamentos sociais destinados ao
atendimento da mulher, necessitamos de uma educação para a emancipação
feminina, para a convivência pacífica entre os sexos, para o respeito mútuo do
seres humanos, homens e mulheres, independentemente de sua posição social,
racial e de sua opção sexual.
Por fim, falta também uma atenção maior na educação de homens e mulheres,
uma educação que busque tratar dos direitos humanos e da importância do respeito
entre sexos, respeito pelas diferenças, em busca de maior igualdade de acesso aos
direitos e à cidadania.
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Cabe ressaltar tratar-se de chefia por domicílio, não de família propriamente
dita, já que o Censo é feito por domicílio e não por unidade familiar. Os arranjos
familiares nos domicílios são bastante diversos, sendo comum em áreas mais pobres
que existam mais de uma geração no mesmo domicílio, com mães mais velhas que
sustentam toda a família, filhos e netos.
No caso das mulheres mais pobres, com filhos, a vulnerabilidade social ocorre
porque estas necessitam ter emprego e nem sempre há com quem deixar os seus
filhos, faltam creches. Se de um lado há emancipação da mulher e sua maior
inserção no mercado de trabalho, de outro lado, há uma dupla jornada da mulher
que trabalha fora e ainda precisa cuidar de seus filhos, não havendo muitas vezes
condições sociais e de infraestrutura para existência adequada desta dupla função.
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Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
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Segundo dados do Ministério do Trabalho a inserção das mulheres no mercado
de trabalho tem aumentado, chegando a 42,7% no total da população em 2013.
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um aumento da participação do grupo com 45 anos ou mais de idade. Isto significa
uma transição demográfica de uma população que, no passado, era formada por
maioria de crianças e adolescentes, mas que atualmente está envelhecendo.
Vivemos numa sociedade na qual o apelo a ser jovem é muito grande, em que
a aparência tem ganho cada vez mais notoriedade, o que torna árdua a tarefa de
ser idoso. Reconhecer os idosos, em sua totalidade, observando-se as necessidades
especiais de cuidado, atenção, na saúde, de lazer etc. seja da família ou por parte
do governo, é fundamental, especialmente à medida em que a população desta
faixa etária tende a aumentar.
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Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
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É fundamental estabelecer condições sociais que permitam a todos terem acesso
a uma boa educação, prevenção à saúde, respeito mútuo - independente da classe
social, raça, cultura, sexo e idade, garantindo a todos o acesso básico aos direitos
fundamentais do ser humano.
Observe dados da tabela a seguir, que evidencia que muitos jovens, principalmente
depois de 18 anos param de estudar, sendo maior os que desistem de estudar entre
os jovens do sexo masculino.
Tabela 2 – Proporção de Jovens que estudam (2013)
15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 29 anos Total
Feminino 84,9% 32,8% 12,6% 35,9%
Masculino 84,3% 29,0% 10,5%
Fonte: Microdados da PNAD/IBGE, 2013.
Por outro lado, muitos jovens preocupados numa sociedade de consumo em “Ter”
mais do que “Ser”, envolvem-se na “cultura da ostentação”, numa demonstração
de autoafirmação por meio de usos de roupas de marcas famosas, da aparência -
como dita a ordem capitalista global.
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como “quando eu era jovem”, “no meu tempo”, “nós da heróica geração
dos 60 com um projeto de transformação social e esta juventude alienada,
individualista, narcísica”, etc.’. Mas que juventude, que juventudes, em que
tempos, a que cenários estamos nos referindo? Que perspectivas apresen-
tam estes tempos, para estas juventudes? (CASTRO, 2014, p. 27)
87
Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
5
anos, bem como da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1999, que
aprovou a Convenção n. 182 sobre as piores formas de trabalho infantil, para as
demais faixas etárias é importante considerar as legislações vigentes no Brasil.
Em relação aos jovens que moram no campo, muitos pensam em migrar para
a cidade em virtude da maior possibilidade de ter uma formação, emprego, por
conta do menor acesso à infraestrutura no campo. Muitos gostariam de ter uma
vida no campo, mas acabam migrando em alguns casos pela falta de condições de
permanecer e ampliar seu horizonte social e econômico nas áreas rurais.
Embora tenha havido políticas públicas buscando inserir os jovens por meio da
educação e do trabalho, há ainda muito a ser feito no Brasil, tanto em relação aos
jovens, quanto aos idosos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Notícias do Censo 2010
https://goo.gl/GrbjW
https://goo.gl/3zUiT
Vídeos
Seminário sobre população produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
https://youtu.be/8GkpvLvIfhs
Eu, idoso (Documentário)
https://youtu.be/y-YZxSWv9U0
Leitura
Anuários estatísticos 1991 e 2000
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Anuários estatísticos
1991 e 2000. Rio de Janeiro, 2000.
https://goo.gl/2v6ctr
Dimensões da Experiência Juvenil Brasileira e Novos Desafios às Políticas Públicas
SILVA, Enid Rocha Andrade da Silva; BOTELHO, Rosana Ulhôa (orgs.). Dimensões da
experiência juvenil brasileira e novos desafios às políticas públicas. Brasília: IPEA, 2016
https://goo.gl/I9QEOM
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Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
5
Referências
ANDRADE, Francisca Rejane B.; AMARAL, Marcelo Parreira do. Educação e trabalho
no século XXI: as condições sociais dos jovens no processo de transição escola-emprego
na Alemanha e no Brasil. Revista O público e o privado (online) - Nº 20 - Julho/
Dezembro, 2012, p. 29-54.
CAMARANO, Ana Amélia. Mecanismos de proteção social para a população idosa. In:
RIOS-NETO, Eduardo L.G (org.). População nas políticas públicas: gênero, geração
e raça. Brasília, Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, 2006, p. 67-72.
90
_______________. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de
vida da população brasileira. Estudos e Pesquisas – Informação Demográfica e
Socioeconômica, 26, Rio de Janeiro, 2009, p. 200-230.
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Mulheres, Jovens e Idosos na Sociedade
UNIDADE
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SHAH, Igbal H. Mortalidade materna e atenção à maternidade de 1990 a
2005: conquistas desiguais, porém importantes. 2008, 3(3), pp.22-34. Questões
de saúde reprodutiva. Disponível em: http://www.mulheres.org.br/rhm3/
revista3/22-mortalidade.pdf. Acesso em 10/05/2012.
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6
Globalização, Inovações
Técnicas e Sociedade
Revisão Textual:
Prof.a Me. Natalia Conti
Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
Introdução
Nesta unidade discutiremos o processo de globalização e as alterações que vem
produzindo na sociedade, em relação às formas de produção, no trabalho e nas
relações sociais.
O Processo de Globalização
No decorrer do século XIX, o mundo conheceu o desenvolvimento de importantes
ramos do conhecimento científico. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no
final do século XVIII proporcionou o surgimento de grandes inovações técnicas,
que com o passar do tempo foram sendo disseminadas pelo mundo.
A partir da segunda metade do século XX, com a corrida espacial entre Estados
Unidos e União Soviética, temos um amplo desenvolvimento de tecnologias de
informação. O lançamento de satélites e a descoberta de novos materiais acelerou a
comunicação entre os povos, por meio de redes de fibra ótica. Canais de televisão e de
rádio, bem como sistemas telefônicos aproximaram lugares distantes, promovendo
a disseminação de informações como nunca antes vivido pela humanidade.
94
Figura 1
Outro aspecto a destacar é o fato de que as técnicas são cada vez mais universais;
basta para isso observar o cotidiano de uma grande cidade. Por exemplo, se
no passado as técnicas eram mais locais e cada povo tinha uma técnica para
produzir objetos, para morar, etc., que geralmente se relacionava com os materiais
disponibilizados no meio.
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Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
Essa mudança na esfera da produção afeta toda a vida cotidiana do planeta. Um
executivo de uma multinacional pode sair da matriz em Nova York, ir até o Japão
visitar sua filial, depois à Austrália e ao Brasil. Se não puder fazer tal viagem, ainda
é possível controlar os processos de sua fábrica por meio da internet, por diversos
aplicativos, como Skype ou WhatsApp.
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profundo e fundamental, de que a sociedade dos nossos predecessores, a
sociedade moderna nas suas camadas fundadoras, na sua fase industrial,
era uma “sociedade de produtores”. Aquela velha sociedade moderna
engajava seus membros primordialmente como produtores e soldados; a
maneira como moldava seus membros, a “norma” que colocava diante
de seus olhos e os instava a observar, era ditada pelo dever de desempe-
nhar esses dois papéis.
Desse modo, como afirma o autor, deixamos de ser uma sociedade de produtores
para ser uma sociedade de consumo, a partir da qual ter é mais importante do que
ser. Assim, torna-se necessário que as pessoas, nos mais diversos países, consumam
aceleradamente os mais distintos produtos. Mas como tornar atraente, para um
mesmo número de pessoas, os mesmos produtos?
Muitas vezes as inovações nos produtos não podem mais ser alcançadas por
mudanças na estrutura de seu funcionamento. Neste momento, a indústria pode
utilizar-se de algum apelo estético: um automóvel “Edição Especial Copa do
Mundo”, por exemplo, com alguma alteração externa, ou de acabamento interno,
para atrair a atenção do consumidor.
Trata-se de uma estratégia de empresas que programam o tempo de vida útil de seus
produtos para que durem menos do que a tecnologia permite. Assim, eles se tornam
ultrapassados em pouco tempo, motivando o consumidor a comprar um novo modelo.
Os casos mais comuns de obsolescência programada ocorrem com eletrônicos, eletrodo-
mésticos e automóveis. É algo relativamente novo: até a década de 20, as empresas desen-
havam seus produtos para que durassem o máximo possível. A crise econômica de 1929 e a
explosão do consumo em massa nos anos 50 mudaram a mentalidade e consagraram essa
tática. É uma estratégia “secreta” dos fabricantes para estimular o consumo desenfreado.
Fonte: https://goo.gl/tVq9Da
A primeira delas diz respeito aos limites físicos de uma expansão acelerada
da economia. Para se produzir qualquer tipo de mercadoria, é necessária certa
quantidade de matéria prima, energia e mão de obra. Do mesmo modo, para que
haja consumo, é vital que a totalidade, ou pelo menos grande parte da população,
tenha uma renda.
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Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
O sistema global de produção de mercadorias opera pela maximização dos re-
sultados, ou seja, obtenção do maior lucro com o mínimo de investimento. As esco-
lhas por parte dos investidores, ao instalar uma empresa num determinado ponto
do mundo, são determinadas por este atrativo, que chamamos fatores locacionais.
O Brasil, dentre estes países, apresentou uma das mais radicais e rápidas
mudanças na composição da sua população, passando em poucas décadas de uma
nação com maioria de população rural para uma extremamente urbanizada.
98
custos e promovendo maior competitividade econômica. No território brasileiro
temos alguns exemplos a respeito.
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
Neste contexto, novas estruturas de transporte são criadas para atender este
sistema globalizado de produção. A utilização do contêiner no transporte interna-
cional de mercadorias, por exemplo, permite uma padronização das cargas, dentro
do conceito de intermodalidade, favorecendo a utilização de várias modalidades de
transporte de modo integrado, o que minimiza os custos e procura atender várias
demandas, do modo mais adequado possível.
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Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
A evolução tecnológica, especialmente a ocorrida a partir da Segunda Guerra
Mundial, mudou significativamente todos os setores da existência humana. Para
cumprir a finalidade deste trabalho, convém atermo-nos, basicamente, ao setor
de transportes.
100
Os sistemas técnicos que são criados servem, portanto, aos interesses reprodutivos
do capital, abarcando o espaço como objeto a agregar valor e transformar-se em
mercadoria, o que está totalmente de acordo com os mecanismos econômicos
prevalentes na sociedade no momento de reprodução.
Esta nova forma de acumulação depende cada vez menos de uma concentração
espacial da atividade industrial, que pode estar situada dispersa no território.
Há, no entanto, uma necessidade de centralização das atividades gerenciais e
administrativas. Esta descentralização locacional provoca uma “guerra de lugares”,
que usam isenções fiscais e investimentos em infraestrutura para atrair empresas.
Por esta razão, a ação do Estado não pode ser ignorada. Cabe a este:
“[...] a orquestração da dinâmica do processo de investimento e a pro-
visão de investimentos públicos chave, no lugar e tempo certos, para
fomentar o êxito na competição interurbana e inter-regional” (HARVEY,
2005, p. 231).
101
Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
Nestas metrópoles globais predominam o tempo acelerado nos quais as relações
sociais entre amigos, na família, tornam-se cada vez menores, pois quase todo o
tempo é vivido em torno do trabalho, dos problemas cotidianos.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Todas estas mudanças nas formas de produção e nos lugares alteram a sociedade,
as formas de trabalho, bem como as relações sociais. As produção e disseminação
da informação partem principalmente das cidades globais que concentram serviços
especializados, mas nos países subdesenvolvidos também muita desigualdade
socioeconômica.
102
A flexibilidade na localização das indústrias permite que mais e mais pessoas
possam trabalhar em diferentes pontos do mundo. Apesar disso, permanece uma
concentração de população nas áreas com melhor infraestrutura técnica: melhores
transportes e comunicações.
É óbvio que alguns serviços não poderão ser feitos digitalmente, mas a
possibilidade de um serviço ser realizado à distância se ampliou, o que também,
por outro lado, demanda que novos serviços, como os chamados “call centers” –
centrais de atendimento online para clientes – sejam desenvolvidos.
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
As pessoas que trabalham nestes ambientes cada vez mais apresentam uma
relação mais precária, flexível, com relação à empresa. Na eventualidade de uma
mudança de cenário econômico, fica mais fácil para um grupo ou empresa se
“readequar” ou “reestruturar”.
103
Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
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Com o atual processo de globalização, há maior flexibilidade na produção e
também na circulação de mão de obra, geralmente com precarização do trabalho.
De acordo com David Harvey (2005), com a acumulação flexível nas formas de
produção e nas relações de trabalho, cria-se uma rotatividade da força de trabalho,
que migra, atrás de trabalho, seja permamente ou temporário.
Tal flexibilidade ocorre, por exemplo, por formas de trabalho mais flexível, sem
muita regulamentação, com flexibilização nos contratos de trabalho, com trabalho
em horário variados, com subcontratações ou com terceirização de mão de obra,
ou seja, o empregado trabalha em uma empresa, mas é funcionário de outra.
104
em um sistema interdependente que funciona como uma unidade em
tempo real. Devido a essas tendências, houve também a acentuação de
um desenvolvimento desigual, desta vez não apenas entre o Norte e o Sul,
mas entre os segmentos e territórios dinâmicos das sociedades em todos
os lugares e aqueles que correm o risco de tornar-se não pertinentes sob
a perspectiva da lógica do sistema. Na verdade, observamos a liberação
paralela de forças produtivas consideráveis da revolução informacional e
a consolidação de buracos negros de miséria humana na economia global,
quer em Burkina Faso, South Bronx, Kamagasi, Chiapas, quer em La
Courneuve (CASTELLS, 1999, p. 22).
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Em seu livro “Por uma outra globalização”, Milton Santos (2001) apresenta
a globalização como uma “fábula” com os mitos da aldeia global e com o fim
das fronteiras.
105
Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
6
A Sociedade em Rede
A sociedade em rede é, também, um espaço seletivo. Há pessoas, ou grupos,
mais integrados a este sistema produtivo avançado. Quanto mais integrado,
maiores as chances de se fazer valer neste novo sistema de relações sociais. Uma
pessoa que opera um aplicativo pode conectar-se a serviços e bens que não estão
diretamente disponíveis para quem não está conectado.
Essa impessoalidade nas relações via internet gera muitas críticas, pela
possibilidade de afastamento das pessoas dos contatos reais. Por outro lado, abre a
possibilidade de contato entre pessoas que jamais se veriam, por conta da distância
ou por não fazerem parte dos mesmos círculos pessoais.
A criação de leis e normas nem sempre tem efeito prático, já que as estruturas
dos países podem ser obsoletas, ou estes podem não dispor de pessoal qualificado
para atuar, já que este ambiente virtual se renova e se amplia com grande agilidade.
106
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Há muito discurso a favor das novas tecnologias como se elas por si mesmas
fossem tornar o mundo melhor. Dependem de seu uso, de suas práxis sociais,
considerando que estas TICs mudam as relações e as dinâmicas sociais, mas também
contêm intencionalidades que vão além do uso técnico dos objetos e podem ter
usos que não são democráticos e nem aceitáveis socialmente.
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Globalização, Inovações Técnicas e Sociedade
UNIDADE
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O Mundo Globalizado: Economia, Sociedade e Política
BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado: economia, sociedade e
política. São Paulo: Contexto, 2010. (e-book- biblioteca virtual).
Vídeos
A História das Coisas (The Story off Stuff)
21 min, com Annie Leonard, versão brasileira, mostra a questão da produção atual no
mundo e os problemas decorrentes disso.
https://youtu.be/7qFiGMSnNjw
Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá
(89 min, 2007). Documentário feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre
globalização.
https://youtu.be/-UUB5DW_mnM
Filmes
The Corporation (A corporação)
Documentário. Canadá, diretores Jennifer Abbott e Mark Achbar. 1h12min. parte 1 e
2, Canadá, 2003. Legendado.
Assista ao documentário “The corporation” (a corporação), que conta como a partir
da polêmica decisão da Suprema Corte de Justiça dos EUA uma corporação passa a
ser vista como uma “pessoa”. Ficam evidentes como as grandes corporações agem,
seus discursos, a exploração da mão-de-obra barata no Terceiro Mundo e a devastação
do meio ambiente. No documentário há entrevista com presidentes de corporações
como a Nike, Shell e IBM, além de outros não relacionados ao mundo dos negócios
corporativos, que analisam a existência das corporações, tais como Noam Chomsky,
Milton Friedman e Michael Moore. Assista o trailer no link a seguir:
https://youtu.be/exY4u0XsEGI
Leitura
Globalização e Divisão Territorial do Trabalho: Uma Introdução à Discussão das Novas Tendências na
Produção do Espaço
ROSA, Maria Cristina. Globalização e divisão territorial do trabalho: uma introdução
à discussão das novas tendências na produção do espaço. Maringá, Revista Acta
Scientiarum 20(1), 1998, p. 115-119.
https://goo.gl/pu55lo
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Referências
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As consequências humanas. Tradução Marcus
Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
SENE, Eustáquio de. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2004.
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