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Golgona Anghel

Golgona Anghel

Golgona Anghel
NADAR NA PISCINA DOS PEQUENOS

Encontrámos as partes,
NADAR NA PISCINA

NADAR NA PISCINA DOS PEQUENOS


mas ainda não o conjunto.
Falta-nos esta última força.
Falta-nos a esperança
como uma espuma branca que nos proteja e nos una.
DOS PEQUENOS
Procuramos esse sustento salutar:
conviver,
perseguidos por uma espécie de incontinência verbal.

Na juventude, começámos com uma boneca de corda,


a que demos tudo o que tínhamos.
O fracasso estava, no entanto, treinado
para receber-nos, com luvas gigantes,
como se fôssemos bolas de basebol.
Continuamos calados. À procura. Com fome.
Não podemos fazer mais.

ISBN 978-972-37-1964-2 1 0

9 789723 719642

79476.10
ASSÍRIO & ALVIM

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Golgona Anghel

NADAR NA PISCINA
DOS PEQUENOS

ASSÍRIO & ALVIM

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Nadar na Piscina dos Pequenos
Golgona Anghel

Publicado por
Assírio & Alvim (www.assirio.pt)

© Golgona Anghel
© Porto Editora, 2017

1.ª edição: maio de 2017

Assírio & Alvim é uma chancela da


Porto Editora

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ISBN 978-972-37-1964-2 Os prejudicados somos todos nós.

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Para o João e para o Augusto:
sem vocês este livro teria saído antes.

Por ingratidão foram esquecidos alguns amigos


mais próximos e o Clube Desportivo da Graça,
que exigia reproduzir o Galo de Barcelos na capa.

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Quem sabe quantas saias, quantas ligas pretas e
quantas cidras foram precisas para dar origem à
Laura, à Eurídice e à Beatriz, assim como os ro-
mances de cavalaria deram origem ao D. Quixote?

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1.
UM REBANHO
DE BOAS INTENÇÕES

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O desenho era tão simples
que ninguém se deu ao trabalho de ler as instruções até ao fim.
Bastava seguir a intuição.
Abrir o bico e agarrar o primeiro anzol
que a necessidade atirava no escuro.

Sigam as luzes, diziam lá em cima.


Mas, cá em baixo, a rede era tão larga
que os grandes peixes conseguiam passar.
Questão de olhómetro,
asseguravam os mais experientes.

Seria então preciso


baixar o tom,
esperar deitado para poupar nas calorias,
abreviar os gestos,
desligar os motores,
reduzir o desperdício,
concentrar a fé
num só lugar:
julgar que o fumo dos cigarros
acaba sempre por confundir-se com as nuvens.

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Antigamente os bisontes eram gente
e namoravam as raparigas
mais bonitas da aldeia. 
Os judeus tinham cauda e
os homens menstruavam duas vezes por mês.

Ninguém se queixava de nada.


Tudo tinha o seu lugar.
Líamos Tolstoi num Skoda,
Hölderlin num Trabant descapotável,
Joyce num Aston Martin,
Camões num UMM.

As grandes emoções
vinham de palavras longas:
australopitecos, jerusalamaleques,
extremaunçãoparaumapernadepau, etc.
Isto explica tanta coisa,
mas não vem nos livros de história.
A história faz apenas ecoar o passado.
Como um búzio.
O passado é o lugar onde os nossos ex
se juntam aos mamutes, à Céline Dion
e ao Windows XP.

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Hoje, vieram buscar-me cedo.
É a tal história, tiram-me do sono,
passam-me para a maca e
ninguém quer saber das minhas vontades.
Nem fui fazer chichi, nem me fizeram o buço.
Estou com o bordado da fronha estampado nas fuças
e, com este péssimo aspecto,
fazem-me desfilar pelos corredores cheios de gente
que acorda de madrugada
e se põe bonita para vir aqui tirar fotografias
a rins e pulmões.
Fora a vadiagem que só entra para aquecer os pés,
estou eu, feita bicho, amarrada a uma etiqueta,
como os cavalos na feira.
Por isso, puxo com os dois braços
uma fralda que encontro por perto
e enxugo o meu rosto pejado de medo,
porque tudo isto é mesmo uma merda,
mas depois melhora um pouco
quando me enchem de morfina
e me devolvem, à saída, o telemóvel.

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Perfeitamente domesticada,
aparentando todo um rebanho de boas intenções,
atacava pela calada.

Desta vez, foi em pleno palco,


à frente de toda a gente.

Unhas e peles, braços em volta.


O bico dos abutres
a rasgar o dia em dois.

Ninguém gritou,
mas houve sangue.
Não me lembro se fui César,
se fui Bruto.

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Sacrifiquei sem nenhum remorso
os talheres de prata, o açúcar e os licores franceses.
Contudo, não precisei de empurrar nenhuma velha
para avançar na fila.

Quando apanhei o caminho certo,


a sorte abriu, sem hesitar, as pernas.
A partir daí foi fácil:
hoje, um ovo, amanhã, uma vaca.

Tudo isso, no pantanal do Oeste,


bem longe das grandes metrópoles
e do brilho das montras,
mas onde aprendi a cultivar a leveza
e a ouvir o canto do galo
que, por estes lados da madrugada,
tanto serve de despertador
como para a canja.

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Devia escrever coisas mais divertidas,
entreter as massas.
Evitar, ao menos, cenas tristes,
mudar de roupa uma vez por mês.
Podia, decerto, afastar-me, sair do corpo,
dos seus humores.
Entrar na biopolítica, usar os seus métodos.
Engravidar uma ideia alegre.
Enfim, nada contra os suicidas de carreira
e os demais performers do além.
Não é que não me apeteça largar-te
num eléctrico sem travões.
Deixar-te num país estrangeiro,
sem dinheiro e sem memória.
Não se iludam, ainda sei baixar as calças.
Fazer o truque.
Mas se o meu psiquiatra ler isto,
vai achar que o tratamento
já não funciona.

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Quando a paixão recuperar a vista
o antigo caminho dos lobos,
a coruja e os seus monólogos,
partículas de sal,
ínfimos movimentos de sombras,
afastarão para sempre os nossos corpos.

Com ou sem licença para fazer obras,


o horizonte montará o seu palco de fim de contas.
Esta comédia de vésperas
que o cansaço tem mal encenado.

A vida será uma soma de mensagens erradas e


de músicas que não conseguimos ouvir até ao fim.

Lembrar-me-ás uma loja de souvenirs


com barcos engarrafados e colares de conchas.
Berloques e berlindes, lápis do México 86, porta-chaves da expo 98.
Enfim, demasiada poeira para tão curto caminho.

Entretanto, está sol e, olha,


parece que as cegonhas adiaram o voo para o sul.
Um pouco como eu, esquecem de ir embora.
As coisas solidificam para não mudarem de lugar.

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Querido Félix, a vida continua cruel,
mas igualmente necessária.
Alegra-me sobremaneira saber que estejas mais perto,
embora não menos difícil de imaginar.
Alegra-me e posso, até, dizer que me entusiasma
a esperança de que haja ainda atalhos que funcionam,
de modo que brindo em honra dos teus exílios
enquanto me curo com aguardente as feridas dos pés.
Há regressos que nos tiram pedaços do corpo,
em troca de um lugar para sentar-nos, embora
os dissidentes não se sentem nunca,
por mais baratos que nos vendam os sofás.
Não se sentam nem se cansam.
Gastamo-nos apenas,
como meros bocados de sabão
onde os nossos pais cravaram
as suas lâminas de barbear.

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