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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: TEORIAS DO BRASIL II

DISTINÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E PESSOA

Wellington Ferreira Gomes1

Segundo DaMatta(1997), a noção de indivíduo se valorizou na sociologia com Louis


Dumont e tem servido para exprimir realidades do mundo não-ocidental, enquanto que a
noção de pessoa teve seu surgimento com Marcel Mauss a qual era um ponto de encontro
entre a noção de indivíduo e a unidade social.

De acordo com DaMatta(1997), o indivíduo corresponderia a um “joão ninguém” –


expressão usada para se referir a uma pessoa a quem se considera de pouca importância –, tal
indivíduo não toma parte de nenhum tipo de relações pessoais como, por exemplo, o caso
desta expressão: “gente do povo” retirada da obra Memórias de um Sargento de
Milícias(ALMEIDA, 2011, p. 33). A pessoa, por sua vez, se define como um ser relacional
em referência a um sistema social onde as relações de compadrio, de família, de amizade, de
troca de interesses e de favores constituem um elemento essencial, como se observa nesta
expressão: “pessoas da alta sociedade” (ALMEIDA, 2011, p. 33).

No “sistema brasileiro, é básica a distinção entre o indivíduo e a pessoa como duas


formas de conceber o universo social e de nele agir” (DAMATTA, 1997, pp. 218-219). Em
outras palavras, nas situações em que aparentemente os indivíduos são iguais perante as leis,
ou que deveriam usufruir dos mesmos direitos, a expressão do “sabe com quem está
falando?” opera como um mecanismo de separação ou de diferenciação social, onde se
estabelece com o intuito de demarcar as posições das pessoas no sistema social, assim como
se observa neste trecho a seguir sobre a posição social dos meirinhos “nos tempos do rei”:

Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém; eram
originais, eram tipos: nos seus semblantes transluzia um certo ar de majestade
forense, seus olhares calculados e sagazes significavam chicana . Trajavam sisuda
casaca preta, calção e meias da mesma cor, sapato afivelado, ao lado esquerdo
aristocrático espadim, e na ilharga direita penduravam um círculo branco, cuja
significação ignoramos, e coroavam tudo isto por um grave chapéu armado.

1 Mestrando em Ciências Sociais.


Colocado sob a importância vantajosa destas condições, o meirinho usava e
abusava de sua posição. (ALMEIDA, 2011, pp. 13-14, grifo nosso)

A expressão do “sabe com quem está falando?” adquire no Brasil um significado de


passagem de uma condição a outra, permitindo firmar a pessoa onde antes só havia um
indivíduo, ou dito de outro modo, é a passagem do anonimato do indivíduo, que expõe a sua
condição de igualdade e impessoalidade em relação a outros, para uma posição bem definida e
que exibe a sua condição hierárquica e a pessoalização(DAMATTA, 1997). Nesta situação,
encontra-se o “velho tenente-coronel” que, desde os tempos no regimento, na graduação de
cadete, era destacado como pessoa privilegiada onde deveria existir a de um indivíduo igual
perante seus pares. O trecho a seguir carateriza bem isto:

O velho tenente-coronel, apesar de virtuoso e bom, não deixava de ter na


consciência um sofrível par de pecados ... Aos 20 anos, tendo sentado praça, era um
cadete desordeiro, jogador e o mais insubordinado do seu regimento. Bastantes
vergonhas custara ao pobre pai, que cuidadoso procurava sempre por todos os
meios encobrir-lhe os defeitos e remediar as gentilezas que fazia, já pagando por
ele dívidas de jogo, já atabafando-lhe as desordens e curando com ouro as brechas
que ele fazia na cabeça de seus adversários.(ALMEIDA, 2011, p. 59)

Segundo DaMatta(1997), o universo dos indivíduos é constituído do plano da


impessoalidade das leis, isto é, sem mediações pessoais. Contudo, as pessoas não são
atingidas pelas leis que procuram a igualdade entre os homens, ou que “as leis só se aplicam
aos indivíduos e nunca às pessoas”(DAMATTA, 1997, p. 237). No primeiro caso, tem-se o
Leonardo da obra Memórias de um Sargento de Milícias, que acabou sendo conduzido e
passado à noite na prisão pelo major Vidigal, mesmo sendo um dos meirinhos mais antigos e
experientes(ALMEIDA, 2011). No segundo, o personagem Leonardo se dirigiu ao velho
tenente-coronel, por intermédio de Maria, a fim de buscar seu auxílio para sair da prisão, onde
se verifica que “o velho [...] dirigiu-se à casa de um seu amigo, fidalgo de valimento, para
dele obter a soltura do Leonardo”(ALMEIDA, 2011, p. 63). Neste contexto, o personagem
Leonardo age como uma pessoa que tem bons padrinhos e que podem lhe “estender a mão”
nos momentos em que a lei busca lhe manter na condição de igualdade entre os demais
indivíduos.

Os processos sociais brasileiros estão envoltos de zonas de conflito e zonas de


passagem no universo das pessoas e dos indivíduos, ou dito de outro modo, existem
momentos que indivíduos passam a ser pessoas e quando pessoas passam a ser indivíduos. No
Brasil, normalmente, “a passagem é de pessoa a indivíduo e depois a pessoa, quando o
emprego se torna familiar e laços de simpatia, amizade e consideração são estabelecidos com
os patrões”. Para isso, recebe-se ao longo dos rituais de passagem os chamados “padrinhos”,
que contribuem para o enfrentamento das dificuldades que a “vida” pode se colocar no curso
de cada indivíduo(DAMATTA, 1997, p. 240). Esta passagem pode ser exemplificada na
trajetória do personagem Leonardo, de Memórias de um Sargento de Milícias, que para
driblar as adversidades de sua condição social se utiliza do “apadrinhamento” para superar as
dificuldades que o espaço social do mundo da “rua” lhe impõe e, por meio desse sistema de
compadrio, o protagonista consegue ingressar na milícia e alcançar a graduação de sargento a
que se refere o título da obra anteriormente citada(ALMEIDA, 2011).
Referências

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Brasília: Câmara


dos Deputados, Edições Câmara, 2011.

DAMATTA, Roberto. Canaviais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

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