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A Regência, Boris Fausto – algumas considerações

1. O período posterior à abdicação de Dom Pedro I é chamado de Regência porque nele o país
foi regido por figuras políticas em nome do imperador até a maioridade antecipada deste, em
1840. A princípio os regentes eram três, passando a ser apenas um, a partir de 1834.

2. O período regencial foi um dos mais agitados da história política do país e também um dos
mais importantes. Naqueles anos, esteve em jogo a unidade territorial do Brasil, e o centro do
debate político foi dominado pelos temas da centralização ou descentralização do poder, do
grau de autonomia das províncias e da organização das Forças Armadas.

3. As reformas realizadas pelos regentes são um bom exemplo das dificuldades em se adotar
uma prática liberal que fugisse aos males do absolutismo. Nas condições brasileiras da época,
muitas medidas destinadas a dar alguma flexibilidade ao sistema político e a garantir as
liberdades individuais acabaram resultando em violentos choques entre as elites e no
predomínio do interesse de grupos locais.

4. Nem tudo se decidiu na época regencial. Podemos mesmo prolongara periodização por dez
anos e dizer que só por volta de 1850 a Monarquia centralizada se consolidou, quando as
últimas rebeliões provinciais cessaram.

5. A tendência política vencedora após o 7 de abril foi a dos liberais moderados, que se
organizaram de acordo com a tradição maçônica na sociedade Defensora da Liberdade e
Independência Nacional. Entre eles, havia uma alta proporção de políticos de Minas, são Paulo
e do Rio de Janeiro. Havia também uma presença significativa de padres e alguns graduados
por Coimbra. Muitos eram proprietários de terras e de escravos.

6. Na oposição, ficavam, de um lado, os “exaltados”, e de outro, os absolutistas. Os exaltados


defendiam a federação, ou seja, a efetiva autonomia das províncias, e as liberdades
individuais. Os absolutistas chamados de “caramurus”, muitos deles portugueses, com postos
na burocracia, no Exército e no alto comércio, lutavam pela volta ao trono de Dom Pedro I. Os
sonhos restauradores não duraram muito, pois Dom Pedro I morreu em Portugal em 1834.

7. As reformas do período regencial, entre outros pontos, trataram de suprimir ou diminuir as


atribuições de órgãos da Monarquia e criar uma nova forma de organização militar, que
reduzisse o papel do Exército.

8. Em 1832, entrou em vigor o Código de Processo Criminal, que fixou normas para a aplicação
do Código Criminal de 1830. O Código de Processo deu maiores poderes aos juízes de paz,
eleitos nas localidades já no reinado de Dom Pedro I, mas que agora podiam, por exemplo,
prender e julgar pessoas acusadas de cometer pequenas infrações.

9. Seguindo o modelo americano e inglês, o Código de Processo instituiu o júri, para julgar a
grande maioria dos crimes, e o habeas corpus, a ser concedido a pessoas presas ilegalmente,
ou cuja liberdade fosse ameaçada.

10. O Ato Adicional (1834), no qual se fez adições e alterações na Constituição de 1824,
determinou que o Poder Moderador não poderia ser exercido durante a Regência. Suprimiu
também o Conselho de Estado. Os presidentes de província continuaram a ser designados pelo
governo central, mas criaram-se Assembleias Provinciais com maiores poderes, em
substituição aos antigos Conselhos Gerais.

11. Além disso, legislou-se sobre a repartição de rendas entre o governo central, as províncias
e os municípios. Atribuiu-se às Assembleias Provinciais competência para fixar as despesas
municipais e das províncias e para lançar os impostos necessários ao atendimento dessas
despesas, contanto que não prejudicassem as rendas a serem arrecadadas pelo governo
central. Essa fórmula vaga de repartição de impostos permitiu às províncias a obtenção de
recursos próprios, à custa do enfraquecimento do governo central.

12. Uma das atribuições mais importantes dadas às Assembleias Provinciais foi a de nomear e
demitir funcionários públicos. Desse modo, colocava-se nas mãos dos políticos regionais uma
arma significativa, tanto para obter votos em troca de favores como para perseguir inimigos.

13. Quando começou o período regencial, o Exército era uma instituição mal organizada, vista
pelo governo com muita suspeita. Mesmo após a abdicação de Dom Pedro, o número de
oficiais portugueses continuou a ser significativo. A maior preocupação vinha, porém, da base
do Exército, formada por gente mal paga, insatisfeita e propensa a aliar-se ao povo nas
rebeliões urbanas.

14. Uma lei de agosto de 1831 criou a Guarda Nacional, em substituição às antigas milícias. Na
prática, a nova instituição ficou incumbida de manter a ordem no município onde fosse
formada. Foi chamada, em casos especiais, a enfrentar rebeliões fora do município e a
proteger as fronteiras do país, sob o comando do Exército.

15. Compunham obrigatoriamente a Guarda Nacional, como regra geral, todos os cidadãos
com direito de voto nas eleições primárias que tivessem entre 2I e 60 anos. O alistamento
obrigatório para a Guarda Nacional desfalcou os quadros do Exército, pois quem pertencesse à
primeira ficava dispensado de servir no segundo.

16. As revoltas do período regencial não se enquadram em uma moldura única. Elas tinham a
ver com as dificuldades da vida cotidiana e as incertezas da organização política, mas cada uma
delas resultou de realidades específicas, provinciais ou locais.

17. A Guerra dos Cabanos, em Pernambuco, entre 1832 e 1835, foi um movimento
essencialmente rural que se diferenciou também das anteriores insurreições pernambucanas,
por seu conteúdo. Os cabanos reuniam pequenos proprietários, trabalhadores do campo,
índios, escravos e, no início, alguns senhores de engenho. Os cabanos contaram com o apoio
de comerciantes portugueses do Recife e de políticos restauracionistas na capital do Império.

18. Depois de uma guerra de guerrilhas, os rebeldes foram afinal derrotados, ironicamente,
por Manuel Carvalho Pais de Andrade, a mesma pessoa que proclamara em 1824 a
Confederação do Equador e era agora presidente da província.

19. Após o Ato Adicional de 1834, ocorreram a Cabanagem, no Pará (1835-1840), que não
deve ser confundida com a Guerra dos Cabanos em Pernambuco, a Sabinada, na Bahia (1837-
1838), a Balaiada, no Maranhão (1838-1840), e a Farroupilha, no Rio Grande do Sul (1836-
1845).

20. Quando se sabe que muitas das antigas queixas das províncias se voltavam contra a
centralização monárquica, pode parecer estranho o surgimento de tantas revoltas nesse
período. Afinal de contas, a Regência procurou dar alguma autonomia às Assembleias
Provinciais e organizar a distribuição de rendas entre o governo central e as províncias.

21. Agindo nesse sentido, os regentes acabaram incentivando as disputas entre elites regionais
pelo controle das províncias cuja importância crescia. Além disso, o governo perdera a aura de
legitimidade que, bem ou mal, tivera enquanto um imperador esteve no trono. Algumas
indicações equivocadas para presidente de províncias fizeram o resto.

22. A Cabanagem explodiu no Pará, região frouxamente ligada ao Rio de Janeiro. A estrutura
social não tinha aí a estabilidade de outras províncias, nem havia uma classe de proprietários
rurais bem estabelecida. Era um mundo de índios, mestiços, trabalhadores escravos ou
dependentes e uma minoria branca, formada por comerciantes portugueses e uns poucos
ingleses e franceses.

23. (Cabanagem) Uma contenda entre grupos da elite local, sobre a nomeação do presidente
da província, abriu caminho para a rebelião popular. Foi proclamada a independência do Pará.
Uma tropa cuja base se compunha de negros, mestiços e índios atacou Belém e conquistou a
cidade, após vários dias de dura luta. A partir daí, a revolta se estendeu ao interior da
província.

24. Os cabanos não chegaram a oferecer uma organização alternativa ao Pará, concentrando-
se no ataque aos estrangeiros, aos maçons, e na defesa da religião católica, dos brasileiros, de
Dom Pedro II, do Pará e da liberdade. É curioso observar que, embora entre oS cabanos
existissem muitos escravos, a escravidão não foi abolida.

25. A Sabinada deriva a designação de seu principal líder, Sabino Barroso, jornalista e professor
da Escola de Medicina de Salvador. A Bahia vinha sendo cenário de várias revoltas urbanas
desde a Independência, entre as quais rebeliões de escravos ou com sua participação.

26. A Sabinada reuniu uma base ampla de apoio, incluindo pessoas da classe média e do
comércio de Salvador, em torno de ideias federalistas e republicanas.

27. (Sabinada) O movimento buscou um compromisso com relação aos escravos, dividindo-os
entre nacionais e estrangeiros. Seriam libertados os cativos nacionais que houvessem pegado
em armas pela revolução; os demais continuariam escravizados.

28. A Balaiada maranhense começou a partir de uma série de disputas entre grupos da elite
local. As rivalidades acabaram resultando em uma revolta popular. Ela se concentrou no sul do
Maranhão, junto à fronteira do Piauí, uma área de pequenos produtores de algodão e
criadores de gado.

29. (Balaiada) À frente do movimento estavam o cafuzo Raimundo Gomes, envolvido na


política local, e Francisco dos Anjos Ferreira, de cujo ofício – fazer e vender balaios – derivou o
nome da revolta. Paralelamente, surgiu um líder negro conhecido como Cosme – sem
sobrenome pelo menos nos relatos históricos – à frente de 3 mil escravos fugidos.

30. De suas raras proclamações por escrito constam vivas à religião católica, à Constituição, a
Dom Pedro II, à “santa causa da liberdade”.

31. As várias tendências existentes entre os balaios resultaram em desentendimentos. Por sua
vez, a ação das tropas do governo central foi rápida e eficaz. Os rebeldes foram derrotados em
meados de 1840. Seguiu-se a concessão de uma anistia, condicionada à reescravização dos
negros rebeldes.

32. Em 1835, eclodiu no Rio Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos, ou Farroupilhas. “Farrapos”
e “farroupilhas” são expressões sinônimas, que significam “maltrapilhos”, “gente vestida com
farrapos”.

33. Os adversários dos farrapos gaúchos deram a eles esse apelido para depreciá-los. Mas a
verdade é que se suas tropas podiam ser farroupilhas, os dirigentes pouco tinham disso, pois
representavam a elite dos estancieiros, criadores de gado da província.

34. O Rio Grande do Sul era um caso especial entre as regiões brasileiras, desde os tempos da
Colônia. Por sua posição geográfica, formação econômica e vínculos sociais, os gaúchos tinham
muitas relações com o mundo platino, em especial com o Uruguai. Os chefes de grupos
militarizados da fronteira – os caudilhos –, que eram também criadores de gado, mantinham
extensas relações naquele país. Aí possuíam terras e se ligavam pelo casamento com muitas
famílias.

35. A criação de gado se generalizou, na região, assim como a transformação da carne bovina em
charque (carne-seca). O charque era um produto vital, destinado ao consumo da população pobre
e dos escravos do Sul e do Centro-Sul do Brasil. Criadores de gado e charqueadores formavam dois
grupos separados.

36. Os criadores estavam estabelecidos na região da Campanha, situada na fronteira com o


Uruguai. Os charqueadores tinham suas indústrias instaladas no litoral, nas áreas das lagoas, onde
se concentravam cidades como Rio Grande e Pelotas. Criadores e charqueadores se utilizavam de
mão-de-obra escrava, além de trabalhadores dependentes deles.

37. As reivindicações de autonomia, e mesmo de separação, eram antigas e feitas, muitas vezes,
tanto por conservadores como por liberais.

38. A revolta não uniu todos os setores da população gaúcha. Ela foi preparada por estancieiros da
fronteira e algumas figuras da classe média das cidades, obtendo apoio principalmente nesses
setores sociais. Os charqueadores que dependiam do Rio de Janeiro – maior centro consumidor
brasileiro de charque e de couros – ficaram ao lado do governo central.

39. Os estancieiros tinham razões próprias de descontentamento. Eles pretendiam acabar com a
taxação de gado na fronteira com o Uruguai ou reduzi-la, estabelecendo a livre circulação dos
rebanhos que possuíam nos dois países.

40. Na região gaúcha dominada pelos rebeldes, foi proclamada na cidade de Piratini, em 1838, a
República de Piratini cuja presidência coube a Bento Gonçalves. A República não existiu apenas no
papel, mas teve uma existência real, incluindo o estímulo à criação de gado e à exportação de
charque e de couros.

41. Em 1845, após acordos em separado com vários chefes rebeldes, Caxias e Canabarro assinaram
a. paz. Não era uma rendição incondicional. Foi concedida anistia geral aos revoltosos, os oficiais
farroupilhas integraram-se de acordo com suas patentes ao Exército brasileiro e o governo imperial
assumiu as dívidas da República de Piratini.

42. Há controvérsia entre os historiadores sobre se os farrapos desejavam ou não separar-se do


Brasil, formando um novo país com o Uruguai e as províncias do Prata. Seja como for, um ponto
comum entre os rebeldes era o de fazer do Rio Grande do Sul pelo menos uma província
autônoma, com rendas próprias, livre da centralização do poder imposta pelo Rio de Janeiro.

43. A política no período regencial. Enquanto as rebeliões agitavam o país, as tendências políticas
no centro dirigente iam-se definindo. Apareciam em germe os dois grandes partidos imperiais – o
Conservador e o Liberal.

44. Os conservadores reuniam magistrados, burocratas, uma parte dos proprietários rurais,
especialmente do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, e os grandes comerciantes, entre os quais
muitos portugueses.

45. Os liberais agrupavam a pequena classe média urbana, alguns padres e proprietários rurais de
áreas menos tradicionais, sobretudo de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.

46. Por um desses paradoxos comuns à política, e mais ainda à política brasileira, não foram os
conservadores, mas os liberais, que apressaram a ascensão de Dom Pedro II ao trono.
Superados pelas iniciativas “regressionistas”, os liberais promoveram no Congresso a
antecipação da maioridade do rei, por mais uma interpretação arranjada do Ato Adicional.
Assim, ainda adolescente, Pedro II assumiu aos catorze anos o trono do Brasil, em julho de
1840.

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