1. A palavra studio, em italiano, tem duplo significado: estudo e consultório. (N. do T.)
ção transferencial: “se eu fico ao seu lado desta forma, com certeza não
facilito o trabalho neste consultório”.
O paciente poderia responder: “Ontem fui a uma exposição de foto-
grafias mas achei que todas as fotografias estavam pouco nítidas”, e eu não
poderia deixar de pensar que na minha interpretação faltou “incisividade”,
e eu deveria, então, me preocupar em ter uma maior “nitidez”.
Se, ao contrário, o paciente dissesse: “Ontem estive na casa da minha
tia, onde come-se muito bem, mas sempre em demasia, e é necessário um
dia inteiro para fazer a digestão”, então eu deveria deduzir que aquela for-
mulação, que do meu ponto de vista era suficientemente leve e não
saturada, para o paciente constituía algo ainda “muito pesado”.
Como alternativa, eu poderia considerar útil – em um momento dife-
rente da análise – uma explicitação “forte” de transferência, do tipo: “Você
me sentiu pouco afetivo, mais interessado nos progressos de sua análise do
que em você mesmo, e que não o deixo em paz até que realize estes pro-
gressos”.
Aqui também o paciente poderia ter respondido das mais diferentes
formas, desde: “Mas era bom quando eu percebia que meu pai me enten-
dia”, até: “Vi na televisão uma reportagem de como é feito o foie-gras;
enfiam comida goela abaixo, através de uma espécie de funil, naqueles
coitados dos patos até que o fígado deles fica enorme”.
O que eu quero dizer é que, quando estas sinalizações são acolhidas,
permitem progressivos ajustes.
Naturalmente, desde a primeira formulação do paciente, seriam possí-
veis dezenas de diferentes intervenções por parte do analista, desde: “Po-
demos compreender agora uma das raízes da sua inibição ao estudo”, até:
“Bem, certamente hoje você prefere estudar com o colega que nunca o
apressa e respeita seus horários”.
Portanto, infinitos os percursos possíveis e infinitos os “mundos” que
podem se abrir.
Entretanto, por trás de qualquer escolha interpretativa, está subenten-
dido um modelo de fator de cura, “tirar o véu do recalcamento”, “captar o
Antonino Ferro
ponto de emergência da angústia”, descrever “os fantasmas originários” e,
no meu caso, desenvolver a capacidade de pensar do paciente, no sentido
de desenvolver aqueles instrumentos mentais que servem para produzir
processos de pensamento e de formação de emoções a partir de estímulos
sensoriais de qualquer tipo. Preciso usar um jargão – inspirado em Bion –
que me leva a dizer que o objetivo de uma análise é o desenvolvimento da
função alfa do paciente e, portanto, da capacidade de produzir elementos
alfa; o desenvolvimento de e, portanto, da possibilidade de tecer pen-
samentos e emoções; o desenvolvimento da oscilação PS D e, portanto,
daquela originalidade criativa e do luto; o desenvolvimento da oscilação
entre capacidade negativa fato selecionado e, portanto, da espera que
um sentido se realize e da renuncia a todos os outros sentidos possíveis em
favor de um escolhido.
Se retornássemos aos exemplos citados, poderíamos imaginar que a
primeira formulação do paciente: “Quando eu era criança, meu pai nunca
me dava a mão, pretendia somente que eu fosse bem na escola e, se isso
não acontecia, eram aulas particulares que não acabavam mais e, às vezes,
tapas” pode ser pensada como um dos derivados narrativos (Ferro, 2001;
2002a; 2000b) (entre os vários possíveis) de uma seqüência de elementos
alfa que poderíamos imaginar pictografada desta forma: