trecho: “As senhas do meu corpo”, enfatiza segredos internos, escolhas afetivas, ousadia, transformação, inquietude e a quebra de paradigmas. Lembrando que, há pouco tempo, o corpo da mulher era um tabu, inclusive para ela. A principal interpretação é a sexualidade/lesbianismo que está muito presente no poema. Se “falo” for, por exemplo, o órgão sexual masculino, ela revela a opção sexual dela, pois, analisando o contexto neste trecho: “falo nenhuma devassa”, fica explícito o não interesse pelo órgão sexual masculino. A borboleta é muito interessante pela sua simbologia da “metamorfose”, mas também ela refere-se a vagina. Quando ela diz: “Algo da borboleta que trago, voa”, refere-se aos desejos carregados no seu órgão sexual e “transmutado em asas” pode ser compreendido como se ela se sentisse de forma masculina, tendo desejos como se fosse homem. No trecho: “Não há alçapão confuso”, ela mostra de forma poética o domínio alheio sobre o corpo feminino, como se fosse um corpo que é exposto ao desejo do outro em forma de armadilhas para fisgá-lo, mas deixa claro que ela é um pássaro livre, em seguida, “ou isca de odores mudos” representa a atração sexual, a prática que o homem tem de conquistar e a mulher de sentir e continuando, “que arrebate esta minha alma de AVE-FÊMEA DELICADA”, ela conota o padrão de lésbica ser vista como agressiva, bruta, que quer se vestir como homem e que fosse desprovida de delicadeza feminina. Resumindo, ela diz que, apesar de ter desejos como homem, isso não tira sua feminilidade. “Sem santidades”, ou seja, sem pudor, sem receio do corpo ou moral cristã, “me anuncio em boas novas”, ela fala da descoberta, da entrega, sair do armário. “Mordo com dentes brutos o fruto que era meu”, pode ser uma referência a mordida que Eva deu na maçã no paraíso, considerada a fruta do pecado, do desejo carnal e do desejo sexual, sendo que ao mesmo tempo, ela faz a descrição do sexo oral entre duas mulheres, onde “come-se” o seu próprio fruto, a vagina, e bendita pelo papel e a visão que a mulher assume diante da igreja e sociedade de santidade e castidade, a mesma que Eva carregava. “E esfarelo seu sumo”, ela fala da maçã, quando na boca, os pedações se esfarelam na mordida e saboreia os fluídos, o sabor, igual ao auge da excitação sexual.