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INDICE

NOTA EXPLICATIVA 6 PRIMEIRA PARTE: O ESPÍRITO

1. O Espírito Santo e o Espírito do Crente 10


2. Um Homem Espiritual 23
3. O Serviço Cristão 43
4. Oração e Batalha 65

SEGUNDA PARTE: A ANÁLISE DO ESPÍRITO

5. A Intuição 86
6. A Comunhão 109
7. A Consciência , 134

TERCEIRA PARTE: ANDANDO SEGUNDO O ESPÍRITO

8. Os Perigos que Encontramos na Vida Espiritual 164


9. As Leis do Espírito 183
10. A Mente Coopera com o Espírito 207
11. A Normalidade do Espírito 219

QUARTA PARTE: A ANÁLISE DA ALMA: AS EMOÇÕES

12-. O Crente e as Emoções 242


13. A Afeição 258
14. O Desejo 271
15. Uma Vida de Sentimentos 287
16, A Vida de Fé 307

NOTA EXPLICATIVA

O Sr. Watchman Nee tornou-se bastante conhecido através de muitos livros, que são transcrições de suas
mensagens. Alguns são reproduções de conferências sobre temas específicos. Outros são compilações de
várias mensagens, proferidas em ocasiões diversas e agrupadas por assunto. O Homem Espiritual foi o
único que ele escreveu de próprio punho. Nos dois prefácios do Volume 1, o Sr. Nee relata essa
experiência com riqueza de detalhes. Algum tempo depois da primeira impressão dele, o Sr. Nee
manifestou um sentimento contrário a uma reimpressão. Temia que, pela forma da abordagem, os
leitores o vissem apenas como um manual de princípios, e não como um guia de experiência cristã.
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Nosso desejo é que o leitor receba, com alegria e oração, essas preciosas verdades, que o Senhor tão
graciosamente permitiu que chegassem até nós, e que o Espírito Santo nos conduza a toda a verdade,
produzindo em nós a tão necessária experiência.
OBSERVAÇÃO MUITO IMPORTANTE
O original em inglês apresenta dois adjetivos, soulical e soulish, que não possuem equivalentes em
português. Assim, não tivemos outra alternativa senão usar expressões correlatas, que não contêm toda a
carga conotativa do original. Por essa razão, essas expressões vêm sempre acompanhadas de um (*) ou
de dois (**) asteriscos, e devem ser entendidas da seguinte maneira:
(* -Soulical) -indica qualidades, funções e expressões próprias, legítimas e naturais da alma do homem;
aquilo que Deus pretendeu, desde o início, que ela possuísse ou manifestasse.
(** -Soulish) -indica o caráter do homem que é totalmente governado pela alma, de maneira que todo o
seu ser assume as características e a expressão dela.

PRIMEIRA PARTE

O ESPIRITO

CAPÍTULO 1

ESPÍRITO SANTO E O ESPIRITO DO CRENTE

Os crentes hoje sabem muito pouco acerca da existência do espírito humano e dos aspectos relacionados
com ele. Muitos desconhecem que, além da mente da emoção e da vontade, possuem também um
espírito mesmo tendo ouvido falar acerca deste, muitos cristãos consideram a mente, a emoção e a
vontade como sendo espírito. Outros confessam claramente não saber onde ele fica. Essa ignorância
prejudica muito a nossa cooperação com Deus, o controle sobre o ego e a guerra contra satanás, pois a
atuação do espírito é fundamental para um bom desempenho nessas áreas.
Os crentes precisam reconhecer que possuem um espírito. Têm de saber que se trata de algo diverso do
pensamento, do conhecimento e da imaginação (que são faculdades da mente). O espírito é diverso da
afeição, da sensação e do prazer (que são faculdades da emoção), sendo suplementar ao desejo, à
decisão e à ação da vontade. Ele é muito mais profundo do que todas essas faculdades. O povo de Deus
precisa saber não apenas que possui um espírito. Deve compreender também como ele opera. Necessita
conhecer sua sensibilidade, sua operação, seu poder, suas leis. Só desse modo é que poderão andar
segundo o espírito, e não segundo a alma ou o corpo da sua carne.
O espírito e a alma dos não-crentes fundiram-se, tornando-se um só elemento. Sendo assim, eles não têm
nenhum conhecimento da presença do seu espírito, que se acha amortecido. Por outro lado, estão bem
conscientes da forte sensação da alma*. Essa insensatez continua, mesmo depois que o homem e salvo.
É por isso que os crentes ora andam segundo o espírito, ora segundo a carne, apesar de terem recebido
vida espiritual e de terem experimentado, até certo ponto, vitória sobre as obras da carne. O
desconhecimento das exigências do espírito, bem como do seu mover, do seu suprimento, da sua
impressão e direção, naturalmente restringe bastante a vida dele. Com isso, continuamos seguindo a vida
natural da alma sem refreá-la, como se ela devesse ser o princípio básico do nosso viver.
Entre os crentes, há mais ignorância desses fatos do que aceitação deles. Devido a essa ignorância dos
aspectos relacionados ao espírito, muitos dos que desejam sinceramente uma experiência mais profunda
podem se perder na busca do chamado conhecimento bíblico " espiritual" através da mente. Ou se
perdem ainda ao experimentar uma calorosa sensação da presença do Senhor em seus membros, ou ao se
dedicar a uma vida e trabalho procedentes do seu poder volitivo. E isso pode ocorrer mesmo depois de
terem vencido o pecado. Esses irmãos se enganam quando fazem uma avaliação muito elevada das
experiências da alma, e erram ao pensar que são muito espirituais. Nutrem a vida da alma de forma
desordenada. Tornam-se tão subjetivos que chegam a declarar que sua experiência é
inquestionavelmente espiritual. Em conseqüência disso, ficam sem poder experimentar um verdadeiro
crescimento espiritual. Por essa razão, os filhos de Deus devem ser humildes diante dele, buscando
conhecer os ensinamentos da Bíblia e como é que o espírito opera, através do Espírito Santo, a fim de
poderem andar no espírito.
A REGENERAÇÃO DO HOMEM I
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Por que é que o pecador precisa nascer de novo? Por que ele precisa nascer do alto? Por que é necessário
haver a regeneração do espírito?
Porque o homem é um espírito caído. Um espírito caído precisa renascer para poder tornar-se um novo
espírito. Do mesmo modo que Satanás é um espírito caído, assim também é homem. A diferença é que
este possui um corpo. A queda de Satanás se deu antes da do homem. Por isso, analisando a queda dele,
podemos aprender algo acerca do nosso estado decaído.
Satanás foi criado como ser espiritual, para que pudesse ter comunhão direta com Deus. Mas ele caiu, e
tornou-se o cabeça dos poderes das trevas. Agora encontra-se separado de Deus e de qualquer ato santo.
Isso não significa, porém, que Satanás não existe. Sua queda apenas desfez seu relacionamento correto
com Deus. O mesmo se deu com o homem que, em sua queda, mergulhou nas trevas, afastando-se de
Deus. O espírito do homem ainda existe, mas se acha separado de Deus, sem poder ter comunhão com
ele. É totalmente incapaz de governar nosso ser. Espiritualmente falando, o espírito do homem está
morto.
Entretanto, assim como o espírito do arcanjo pecaminoso existe para sempre, o espírito do homem
pecaminoso continua a existir. Como este tem um corpo, com a queda, tornou-se um ser carnal (Gn 6.3).
Nenhuma religião deste mundo, nem ética, cultura ou lei pode melhorar o espírito humano caído. O
homem corrompeu-se, passando a ter uma condição de ser carnal. E não há nada nele que possa levá-lo
de volta a uma condição espiritual. Portanto é absolutamente necessário que ocorra a regeneração, o
renascimento do espírito. Somente Jesus Cristo pode restaurar nossa comunhão com Deus. Para isso, ele
derramou seu sangue, que nos purificou dos nossos pecados e nos deu uma nova vida.
Logo que o pecador crê no Senhor Jesus, nasce de novo. Deus lhe comunica sua vida não-criada, para
que seu espírito possa ser vivificado. A regeneração do pecador ocorre em seu espírito. Em todos os
homens, sem exceção, a obra de Deus começa dentro da pessoa, do centro para a periferia. Como isso é
diferente da obra de Satanás! Ele opera de fora para dentro. Deus visa primeiro a renovar o espírito
obscurecido do homem, comunicando-lhe vida, porque foi no espírito que Deus originalmente
determinou que o homem recebesse sua vida e tivesse comunhão com ele. O propósito de Deus, em
seguida, é partir do espírito para permear a alma e o corpo humanos.
Essa regeneração concede ao homem um novo espírito, e também vivifica seu velho espírito., "Porei
dentro de vós espírito novo." (Ez 36.26- grifo do autor.) "0 que é nascido do Espírito é espírito." (Jo 3.6.)
Nessas passagens, o termo "espírito" refere-se à vida de Deus, pois é algo que original- mente não
possuímos. Deus nos concede essa vida na nossa regeneração. Essa nova vida, ou espírito, pertence a
Deus (2 Pe 1.4), e "não pode viver pecando" (1 Jo 3.9). Já nosso espírito, embora vivificado, ainda pode
ser contaminado (2 Co 7.1), passando a necessitar da santificação (1 Ts 5.23).
Quando a vida de Deus (que pode igualmente ser chamada de "seu Espírito") entra em nosso espírito
humano, este desperta do seu estado de coma. Aquilo que estava separado da "vida de Deus" (Ef 4.18)
volta agora a viver novamente. Por isso "o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça" (Rm 8.10). O espírito que herdamos de Adão é morto. O que
recebemos em Cristo na regeneração é tanto um espírito morto que foi vivificado, como o novo espírito
da vida de Deus. Este último é algo que Adão nunca possuiu.
Na Bíblia, a vida de Deus é sempre chamada de "vida eterna". A palavra "vida" aí, no grego é zoe
indicando uma vida superior, ou do espírito. É isso que todo cristão recebe na regeneração. Qual é a
função dessa vida? Jesus, em sua oração, disse: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" #Jo 17.3. A vida eterna não significa apenas as
bênçãos futuras que os crentes vão desfrutar. É também uma espécie de capacidade espiritual. Sem ela,
ninguém pode conhecer a Deus, nem ao Senhor Jesus. Esse conhecimento intuitivo do Senhor só vem
depois que recebemos a vida de Deus. Com o germe da natureza de Deus dentro de nós, podemos,
finalmente, tornar-nos homens espirituais.
O propósito de Deus para o homem regenerado é levá-lo, por meio do seu espírito, a livrar-se de tudo
aquilo que pertence à velha criatura, pois dentro do seu espírito regenerado estão todas as obras de Deus
para ele.

O ESPÍRITO SANTO E A REGENERAÇÃO

Na regeneração, o espírito do homem é vivificado por meio da vida de Deus que nele entra.
O Espírito Santo é a força motriz dessa tarefa. Ele convence o mundo do pecado, da justiça, e do juízo
#Jo 16.8. Ele prepara os corações humanos para crerem no Senhor Jesus como Salvador. A obra da cruz
foi realizada pelo Senhor Jesus. A aplicação dessa obra consumada ao coração do pecador, porém, foi
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delegada ao Espírito Santo. Precisamos conhecer a relação entre a cruz de Cristo e sua aplicação à nossa
vida, que é feita pelo Espírito. A cruz realiza tudo. O Espírito comunica ao homem aquilo que foi
realizado. A cruz nos garante a posição. O Espírito Santo nos traz a experiência. A cruz introduz o fato
de Deus. O Espírito Santo efetua a demonstração desse fato. A obra da cruz cria uma posição e realiza
uma salvação através da qual os pecadores podem ser salvos. A tarefa do Espírito Santo é revelar aos
pecadores aquilo que a cruz criou e realizou, para que eles realmente possam recebê-lo, alcançando a
salvação. O Espírito Santo jamais opera independentemente da cruz. Sem esta, ele não tem a base
adequada para operar. Sem o Espírito Santo a obra da cruz está morta, ou seja, não produz nenhum
efeito nos homens, embora seja eficaz diante de Deus.
Embora seja a cruz que realiza toda a obra da salvação, é o Espírito Santo quem opera diretamente em
nós para nossa salvação. Por isso, a Bíblia caracteriza a regeneração como obra do Espírito Santo: "O
que é nascido do Espírito é espírito" #Jo 3.6. Mais adiante, o Senhor Jesus explica que o homem
regenerado é “todo o que é nascido do Espírito” (v.8). Nascemos de novo porque o Espírito Santo aplica
a obra da cruz em nós, e comunica a vida de Deus ao nosso espírito. Ele é aquele que nos comunica da
vida de Deus. “Vivemos no Espírito” #GL 5.25. Se tudo que o homem conhece vem através do cérebro,
se o Espírito Santo não regenerar seu espírito, esse conhecimento não lhe servirá de nada. Se a crença do
homem se apóia em sua sabedoria, e não no poder de Deus, ele simplesmente experimenta uma
empolgação da alma. Nada disso durará muito tempo, já que ele ainda não nasceu de novo. A
regeneração ocorre somente naqueles que crêem com o coração (Rm 10.10).
Além de conceder vida aos crentes no novo nascimento, o Espírito Santo executa outra obra, a de habitar
neles. Como é lamentável nos esquecermos disso! "Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós
espírito novo... Porei dentro de vós o meu Espírito." (Ez 36.26,27.) Observemos que logo depois de
dizer "porei dentro de vós espírito novo" , o Senhor diz: "porei dentro de vós o meu Espírito". Primeiro
Deus diz que dará aos crentes um espírito novo, por meio da restauração do seu espírito amortecido, no
qual entrará vida. Em seguida, ele se refere ao fato de o Espírito Santo habitar em nosso espírito
restaurado. No novo nascimento, os crentes obtêm não apenas um espírito novo, mas o próprio Espírito
Santo que passa a habitar neles. Como é triste que tantos deixem de compreender que seu espírito é novo
e que o Espírito Santo habita nesse novo espírito! Não é preciso que se passem muitos anos, após a
regeneração, para só então o crente repentinamente começar a buscar o Espírito Santo. A partir do
momento em que somos salvos, toda personalidade do Espírito passa a habitar em nós, e não apenas a
nos visitar. O apóstolo nos faz a seguinte exortação: "E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). O uso da palavra "entristecer" em vez de "irar", revela o
amor do Espírito Santo por nós.
Paulo emprega a palavra " entristecer" , e não "fazê-lo partir", porque "ele habita convosco e estará em
vós" {Jo 4.17). Todo crente nascido de novo tem o Espírito Santo residindo permanentemente nele.
Entretanto a situação do Espírito pode não ser a mesma em todos os crentes. Cada crente pode
entristecê-lo ou alegrá-lo.
Precisamos compreender a relação entre a 'regeneração e o fato de o Espírito Santo habitar em nós. Se
não tivermos um novo espírito à disposição do Espírito Santo, ele não pode encontrar lugar para morar
em nós. A pomba sagrada não encontrou, no mundo castigado, um lugar onde pudesse colocar os pés.
Ela só podia fazer morada na nova criatura. (Veja Gênesis 8.) A regeneração é verdadeiramente
essencial! Sem ela, não há nenhuma possibilidade de o Espírito Santo morar no homem. Os crentes
possuem o Espírito de Deus habitando permanentemente neles. Esse novo espírito emerge de um
relacionamento nosso com Deus, que nos comunica vida. Por isso, ele não pode se separar de Deus. Do
mesmo modo, a habitação do Espírito Santo em nós é eternamente imutável. São poucos os crentes que
sabem que nasceram de novo, e possuem uma nova vida. Em menor número ainda, são os que sabem
que a partir do momento em que creram no Senhor Jesus passaram a ter o Espírito Santo habitando
neles, para ser sua energia, seu guia e seu Senhor. É por isso que muitos crentes novos têm um
crescimento espiritual lento, parecendo não avançar nunca. Esse triste estado revela a falta de
discernimento dos líderes ou a própria infidelidade do cristão. Enquanto os servos de Deus não se
livrarem do falso conceito segundo o qual "o Espírito Santo habita apenas no que é o espiritual",
dificilmente poderão conduzir alguém a qualquer grau de espiritualidade.
A obra regeneradora do Espírito de Deus não se limita a nos convencer do pecado e a nos conduzir ao
arrependimento e à fé no Salvador. Ele realmente nos concede uma nova natureza. A promessa de que o
Espírito Santo habitará em nós vem logo depois da promessa de recebermos um novo espírito. Na
verdade, as duas são partes de uma mesma promessa, Ao convencer os homens do pecado, levando-os a
crer no Senhor, o Espírito está apenas preparando as bases para ele próprio habitar neles. A glória
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singular desta dispensação da graça é que o Espírito de Deus habita em nós, afim de manifestar o Pai e o
Filho. Deus já comunicou seu Espírito aos crentes, que devem agora reconhecer fielmente o Espírito
Santo, submetendo-se a ele com lealdade. Tanto o dia da ressurreição como o de Pentecostes já
passaram. O Espírito já veio há muito tempo. Muitos, porém, experimentam o novo nascimento sem
saber, também, que o Espírito passa a habitar neles. Portanto estão vivendo sem reconhecer a
ressurreição e o Pentecostes!
Apesar de os cristãos demorarem a entender que a Pessoa do Espírito Santo habita neles, ainda assim
Deus lhes concede o Espírito. Trata-se de um fato imutável, que nenhuma circunstância de nossa vida
pode negar. Uma vez que um homem é regenerado, automaticamente ele se torna um templo santo,
adequado para que o Espírito Santo habite nele. Basta que ele receba, pela fé, essa parte da promessa de
Deus, como fez com a outra, para experimentar as duas, e de maneira gloriosa. Se, porém, enfatizar o
novo nascimento, e se satisfizer apenas em possuir um novo espírito, perderá a possibilidade de
experimentar uma vida alegre e cheia de vigor, além de muitas bênçãos que Deus, por meio do Senhor
Jesus, providenciou para eles. Por outro lado, se aceitar a promessa de Deus por completo, crendo nessa
realidade divina, a saber, que na regeneração Deus lhe deu não apenas uma nova vida, mas também o
Espírito Santo, irá crescer muito espiritualmente.
Pela fé e obediência, o crente pode experimentar em si a presença permanente do Espírito, no mesmo dia
em que recebe o novo espírito. A Pessoa que reside no seu interior revelará Cristo nele, irá santificá-lo e
o conduzirá a alturas espirituais mais elevadas. Apesar disso, muitos cristãos não reconhecem a posição
exaltada que essa Pessoa ocupa, e assim chegam até a desprezar o fato de que o Espírito habita neles.
Assim seguem as orientações da própria mente. Tais indivíduos precisam humilhar-se diante dessa luz, e
aprender a respeitar essa Santa Presença, permitindo que ele opere em sua vida. Devem tremer diante
dele, por amor, sem ousar impor sua vontade em nada, mas se lembrando de que Deus os exaltou muito,
com sua presença permanente neles. Quem quiser permanecer em Cristo, e viver uma vida santa como a
dele, deve aceitar, pela fé e obediência, a provisão de Deus. O Espírito Santo já está em nosso espírito.
Desse modo, a questão agora é saber se vamos permitir que ele opere em nós ou não.

O ESPIRITO SANTO E O ESPIRITO DO HOMEM

Vimos de que modo o Espírito Santo vem e habita no crente por ocasião do novo nascimento. Em
seguida, vamos observar exatamente onde é que ele habita. Com isso, esperamos conhecer melhor sua
operação em nós.
"Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Co 3.16.) Nesse
texto, o apóstolo Paulo mostra que o Espírito Santo habita em nós, do mesmo modo que Deus habitava
no templo, na época do Antigo Testamento. Embora o templo, no seu todo, representasse o lugar da
presença de Deus e fosse o símbolo da habitação divina, era no Santo dos Santos que Deus realmente
habitava. O Santo Lugar e o átrio exterior representavam esferas da atuação divina, em consonância com
a presença de Deus no Santo dos Santos. Numa correspondência perfeita com essa tipologia, o Espírito
de Deus habita agora em nosso espírito, que é o antítipo do Santo dos Santos para nós.
Aquele que habita e o lugar onde ele habita devem partilhar do mesmo caráter. Somente o espírito
regenerado do homem - e não a mente, nem as emoções, nem a vontade, nem o corpo -é adequado para
servir de morada para Deus. O mesmo Espírito que habita, edifica. Ele não pode habitar onde não
edifica. Ele edifica para habitar e somente habita naquilo que edificou.
O óleo santo da unção não pode ser derramado sobre a carne. De igual modo, é óbvio que o Espírito
Santo não pode fazer sua morada na carne do homem, já que ela contém tudo o que o homem tinha ou
era antes da regeneração. Se ele não pode habitar nem mesmo no espírito de um homem irregenerado,
quanto mais na mente, nas emoções, na vontade ou no seu corpo? O óleo santo da unção não pode ser
derramado sobre a carne. Assim também o Espírito Santo não habita em nenhuma parte da carne. Ele
não tem nenhuma ligação com a carne, a não ser a luta que trava contra ela #GL 5.17. Se dentro do
homem não houver outro elemento que não a carne, o Espírito Santo se encontra impedido de habitar
nele. Portanto é indispensável que o espírito do homem seja regenerado, a fim de que ele possa habitar
nesse novo espírito.
Por que é tão importante compreender que o Espírito Santo habita no mais profundo do nosso ser, numa
profundidade maior que a das funções pensamento, sentimento e decisão? Porque se os crentes não
entenderem isso, inevitavelmente irão buscar orientação na alma. Entendendo isso, ele não cai no erro de
olhar para o que é exterior. O Espírito Santo vive no ponto mais profundo do nosso ser. É aí, e somente
aí, que podemos esperar sua operação, e buscar sua orientação. Dirigimos nossas orações ao "Pai nosso,
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que está no céu", mas o Pai celestial nos guia do nosso interior. Se o nosso Conselheiro, nosso Paracleto,
reside em nosso espírito, sua orientação deve vir de dentro. Seremos tragicamente enganados - e como o
seremos! -se buscarmos sonhos, visões, vozes e sensações em nosso exterior, em vez de buscarmos a ele
mesmo em nosso interior!
Muitos filhos de Deus voltam-se para si mesmos, ou seja, examinam sua alma para saber se têm paz, ou
graça, ou se estão crescendo espiritualmente. Isso é por demais prejudicial, e não é um ato de fé. Assim,
esses crentes deixam de contemplar a Cristo, para olhar para si mesmos. Contudo existe uma sondagem
do interior que é totalmente diferente dessa que acabamos de mencionar. É o maior ato de fé que o
crente pode realizar. Refiro-me a buscar a direção de Deus, olhando para o Espírito que habita em nosso
espírito. Embora a mente, a emoção e a vontade do crente não possam discernir o que está em nosso
interior, precisamos crer, mesmo não vendo nada, que Deus nos deu um novo espírito, onde o Espírito
dele habita. Do mesmo modo que os filhos de Israel temiam a Deus, que habitava em trevas espessas,
dentro do Santo dos Santos, embora não o vissem no Santo Lugar nem no átrio exterior, assim também
nossa alma e corpo não podem compreender o Espírito Santo, que habita no nosso espírito.
Desse modo, tornamo-nos capazes de reconhecer o que é vida espiritual autêntica. Não é nos muitos
pensamentos e visões da mente, nem nos sentimentos calorosos que produzem emoção, nem tampouco
no tremor repentino, penetrante e tocante do corpo, produzido por força exterior que vamos descobri-la e
experimentá-la. Vamos encontrá-la na vida que emana do espírito, da parte mais profunda do homem.
Andar segundo o espírito na verdade é compreender o mover dessa área oculta, e segui-lo de acordo com
esse entendimento. Por mais maravilhosas que sejam as experiências ligadas aos componentes da alma,
enquanto elas permanecerem no exterior, e não passarem de sensações, não poderemos julgá-las
espiritualmente válidas. Somente podemos considerar como experiência espiritual aquilo que resulta da
operação do Espírito Santo no espírito do homem. É por isso que é preciso ter fé para viver uma vida
espiritual.
"O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8.16.) 0 espírito do
homem é o lugar onde este opera junto com Deus. Como é que sabemos que nascemos de novo, e que,
portanto, somos filhos de Deus? Sabemos porque Deus vivificou nosso homem interior, e o Espírito
Santo habita nele. Nosso espírito é regenerado e renovado, e aquele que habita nesse novo espírito, ainda
que distinto dele, é o Espírito Santo. E os dois dão testemunho juntos.

CAPÍTULO 2

UM HOMEM ESPIRITUAL

Uma pessoa cujo espírito é regenerado, e dentro da qual o Espírito Santo habita, ainda pode ser carnal,
pois seu espírito pode estar sob o domínio da alma ou do corpo. Para tornar-se espiritual, ela precisa
tomar algumas atitudes bem definidas.
De modo geral, deparamo-nos na vida com pelo menos dois grandes perigos. E nos tornamos aptos a
vencer a ambos, e não apenas o primeiro. Existe o perigo de continuarmos como um pecador que se
perde, cuja alternativa é tornar-se um crente salvo. Depois, há o perigo de permanecer sempre como
crente carnal, cuja alternativa é tornar-se espiritual, o que implica a superação do perigo. A
transformação de um pecador em crente é algo que se pode comprovar. De igual modo, um crente carnal
pode tornar-se espiritual. O Deus que pode transformar um pecador num cristão, dando-lhe sua vida,
pode, também, transformá-lo de cristão carnal em espiritual, dando-lhe vida mais abundante. A fé em
Cristo produz homens regenerados. A obediência ao Espírito Santo resulta em crentes espirituais.
Quando nos relacionamos adequadamente com Cristo, tornamo-nos cristãos. Quando nos relacionamos
adequadamente com o Espírito Santo, tornamo-nos espirituais.
Somente o Espírito pode produzir crentes espirituais. É sua tarefa fazer com que os homens se tornem
espirituais. No projeto redentor de Deus, a cruz realiza a obra negativa, destruindo tudo aquilo que vem
de Adão. O Espírito Santo executa o lado positivo da redenção, edificando tudo que vem de Cristo. Pela
cruz, temos a possibilidade de ser espirituais, mas é o Espírito Santo que nos torna assim. Ser espiritual
significa pertencer ao Espírito Santo. Ele fortalece o espírito humano, dando-lhe o poder necessário para
governar todo o nosso ser. Portanto, na busca da espiritualidade, jamais podemos nos esquecer do
Espírito Santo. Por outro lado, não podemos pôr de lado a cruz, pois ela trabalha lado a lado com o
Espírito. A cruz sempre conduz os homens ao Espírito Santo, e este, sem dúvida nenhuma, conduz os
homens à cruz. Um nunca opera sem o outro. O homem espiritual deve conhecer o Espírito Santo em
seu espírito, por experiência. Precisa passar por inúmeras experiências espirituais. Por motivo de
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clareza, vamos analisá-las aqui em seqüência, embora na prática muitas vezes elas ocorram
simultaneamente.
Faremos algumas observações acerca do modo de tornar-se espiritual. No entanto não devemos nos
esquecer daquilo que mencionamos anteriormente. ² Devemos estar em condições de reconhecer que é a
carne que impede o crente de tornar-se espiritual. Desse modo, se mantivermos a atitude certa em
relação a ela, não encontraremos dificuldade em crescer espiritualmente. Um fato surpreendente é que,
quanto mais espirituais nos tornamos, melhor conhecemos a carne, pois vamos nos tornando cada vez
mais conscientes dela. Se não a conhecêssemos, como poderíamos nos tornar espirituais? Por isso,
precisamos nos lembrar daquilo que anteriormente dissemos a respeito da carne, pois serve de base para
a busca da espiritualidade. Se não resolvermos esse problema básico da carne, qualquer progresso que
alcançarmos inevitavelmente será superficial e irreal. No entanto quem já sabe resistir à carne em tudo,
dizendo "Não” à sua atividade, seu poder e suas opiniões, já pode ser considerado espiritual. Todavia
gostaríamos ainda de citar algumas medidas positivas, relacionadas diretamente com o espírito.
²Ver no Volume 1, o capítulo 8 e 9, principalmente o 9.

A SEPARAÇÃO ENTRE O ESPÍRITO E A ALMA ³

A mensagem implícita em Hebreus 4.12 é que precisamos identificar o modo como estamos vivendo:
pela direção intuitiva do espírito, ou pela influência natural da alma, boa ou má. E é a Palavra de Deus
que deve fazer essa identificação, pois somente a cortante Espada divina pode discernir a fonte do nosso
viver. Do mesmo modo que uma faca separa as juntas da medula, a Espada de Deus penetra entre o
espírito e a alma, que se acham incomparavelmente mais ligados, e os separa. Inicialmente essa divisão
é uma simples questão de conhecimento, mas é essencial que ela atinja a esfera da experiência. Caso
contrário, nunca a compreenderemos realmente. Os crentes devem permitir que o Senhor realize a
separação entre o espírito e a alma no seu viver diário. Não basta buscá-la de modo positivo, com
consagração, oração e submissão à operação do Espírito Santo e da cruz. É preciso, também, que ela se
torne uma realidade em nossa vida. O espírito tem de ser liberto da clausura da alma. Deve haver uma
separação completa entre nosso espírito e nossa alma, da mesma maneira que houve entre o espírito e a
alma do Senhor Jesus. O espírito intuitivo precisa ser total- mente liberto de qualquer influência que
provenha da mente ou das emoções da alma*. O espírito deve ser a única residência, o " gabinete" , do
Espírito Santo. Ele precisa ficar livre de qualquer perturbação da alma.
E são essas experiências de separação entre o homem exterior e o interior que vão nos tornar espirituais.
Seremos diferentes dos outros simplesmente porque é nosso espírito que governa todo o ser. E isso não
significa apenas que o Espírito Santo exerce autoridade sobre nossa alma e nosso corpo. Significa
também que o próprio espírito, após ser elevado à condição de cabeça por meio da operação do Espírito
Santo e da cruz, já não está sendo governado pela alma e pelo corpo, mas tem condições de subjugá-los,
colocando-os sob seu domínio.
A separação entre esses dois entes é uma condição básica para entrarmos na vida espiritual. É uma
preparação fundamental, sem a qual os crentes continuarão a ser influenciados pela alma, e, por
conseguinte, seguirão num caminho misto. Em alguns momentos, andarão segundo a vida do espírito.
Em outros, segundo a vida natural. Seu caminhar não será totalmente puro, pois têm por princípio de
vida tanto o espírito quanto a alma. Essa mistura mantém os crentes dentro de uma estrutura da alma *
* , que prejudica seu viver, além de impedir a realização da importante obra do Espírito.
Se nossa vida interior estiver definitivamente separada da exterior, de modo a andarmos de acordo com a
primeira, e não com a última, imediatamente perceberemos qualquer mover da alma. Assim poderemos
logo nos livrar do seu poder e de sua influência, pois nos sentiremos como se estivéssemos maculados. E
realmente, tudo o que vem da alma é impuro e pode macular o espírito. Mas, depois de experimentarmos
a separação entre a alma e o espírito o poder intuitivo deste se torna muito aguçado. Tão logo a alma
desperta, o espírito sente e reage imediatamente. O espírito pode até mesmo entristecer-se pela agitação
desordenada da alma de outros. Na verdade, ele rejeita nos outros, considerando insuportável, o amor
que vem da alma** ou a afeição natural. Somente depois de experimentarmos tal separação é que
entramos na posse de um genuíno sentido de pureza. Aí, então, ficamos sabendo que não apenas o
pecado, mas tudo aquilo que pertence à alma**, é impuro e contamina, merecendo a nossa repulsa. E
mais, a questão não fica apenas no saber, pois qualquer contato com as coisas da alma**, seja da nossa
mesma, ou dos outros, leva nosso espírito intuitivo a se sentir maculado, exigindo purificação imediata.
³Comparar com o capítulo 14 do Volume 1.
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UNIDO AO SENHOR EM UM MESMO ESPÍRITO

Em sua primeira carta aos coríntios, Paulo ensina que "aquele que se une ao Senhor é um espírito com
ele" (6.17). Observemos que ele não disse " é uma alma com ele" .O Senhor ressurreto é o Espírito
vivificante (1 Co 15.45). A união dele com o crente, portanto, ocorre no espírito do crente. A alma, sede
da personalidade do homem, pertence ao natural. Tudo que ela pode e deve ser é um mero vaso para
manifestar o fruto da união do Senhor com o nosso homem interior. Nada em nossa alma compartilha da
vida do Senhor; é somente no espírito que se dá tal união. Trata-se de uma união de espíritos, sem
nenhum lugar para o natural. Se a alma se misturasse ao espírito, levaria impureza à união do nosso
espírito com o Espírito Santo. Qualquer ação oriunda de nossos pensamentos, opiniões, ou sentimentos
pode enfraquecer o lado experimental dessa união. Só elementos de natureza igual se unem
perfeitamente. O Espírito do Senhor é puro, por isso o nosso precisa ser igualmente puro, a fim de unir-
se verdadeiramente com ele. Se um crente se apegar às suas idéias maravilhosas, e não estiver disposto a
pôr de lado suas preferências e opiniões, sua união com o Senhor não se manifestará em seu viver diário.
A união dos espíritos não admite nenhuma impureza oriunda da alma * * .
Onde está essa união? Está em nossa identificação com a morte e a ressurreição de Cristo. "Porque, se
fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da
sua ressurreição." (Rm6.5.) Nesse versículo, Paulo fala de nossa união com o Senhor como uma união
com a morte e ressurreição dele. Isso mostra que nossa união com ele é completa. Aceitando a morte
dele como sendo nossa morte, entramos em união com o Senhor. Se, além disso, aceitarmos sua
ressurreição, nós, que morremos com ele, ressuscitaremos também. Aceitando a ressurreição dele pela
fé, também a experimentaremos. Como o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos, segundo o Espírito de
santidade (Rm 1.4), e foi vivificado no espírito (1 Pe 3.18), nós também, quando unidos com ele na
ressurreição, estamos verdadeiramente unidos em seu Espírito ressurreto.
De agora em diante, estamos mortos para tudo que pertence a nós mesmos, e vivos somente para o seu
Espírito.
Isso exige que exercitemos fé 4. Uma vez identificados com sua morte, despojamo-nos do pecaminoso e
do natural. Depois de identificados com sua ressurreição, unimo-nos à sua vida ressurreta. Assim, nosso
ser interior, que agora está unido com o Senhor, torna-se um espírito com ele. "Morrestes... por meio do
corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos... de modo
que servimos em novidade de espírito." (Rm 7.4,6.) Pela morte de Cristo, nós nos unimos a ele, em sua
vida ressurreta. Tal união nos capacita a servir em “novidade” de vida do Espírito, livres de qualquer
impureza.
Como é maravilhosa a cruz! Ela constitui o fundamento de tudo que é espiritual. O propósito e fim da
sua operação é unir o espírito do crente ao Senhor ressurreto, em um mesmo espírito. A cruz deve
penetrar profundamente no crente, para livrá-lo daquilo que ele tem de pecaminoso e de natural, no
sentido de possibilitar sua união com a vida ressurreta, real, do Senhor, tornando-o, desse modo, um
espírito com ele. O espírito do crente, juntamente com tudo aquilo que ele tem de natural e transitório,
precisa passar pela morte para purificar-se e depois unir-se ao Senhor. Assim se tornará um espírito com
ele, na “novidade” e na pureza da ressurreição. Um espírito se une a outro, para se tomar um espírito. E
o resultado será: servir ao Senhor” em novidade de espírito" (Rm 7.6). Aquilo que é natural, que é ego e
que é atividade da alma, deixa de ter lugar no viver do crente e no seu trabalho. Aí tanto a alma como o
corpo podem manifestar o propósito, a obra e a vida do Senhor. A vida do Espírito deixa sua marca em
tudo, e tudo em nós revela a operação do Espírito do Senhor.
Isso é vida em ascensão. O crente se une ao Senhor, que está assentado à mão direita de Deus. O Espírito
do Senhor entronizado flui para o espírito do crente, que está na Terra, embora não pertença ao mundo.
Em conseqüência, passa a viver aqui a vida entronizada. A Cabeça (Cristo) e o corpo partilham da
mesma vida. Com tal união, o Senhor pode derramar no crente o poder da sua vida por meio do espírito
desse. Assim como um cano ligado a uma fonte transporta água viva, o espírito do salvo, que está unido
ao Espírito do Senhor, pode transmitir vida ao crente. O Senhor não apenas é o Espírito; ele é também o
Espírito "vivificante" . Quando nosso espírito se acha intimamente unido ao Espírito doador de vida, ele
fica cheio de vida, uma vida que nada pode limitar. Como precisamos disso em nosso espírito, para
podermos triunfar continuamente em nosso caminhar diário! Tal união nos reveste da vitória do Senhor
Jesus. Ela nos proporciona o conhecimento da vontade e da mente dele. Edifica e expande a nova
criatura que há dentro de nós, pelo rico influxo da vitalidade e da natureza do Senhor. Através da morte e
ressurreição, nosso espírito ascende (assim como o Senhor foi assunto ao céu) e experimenta “os lugares
celestiais" , pondo sob os pés tudo aquilo que é terreno. Nosso ser interior está em ascendência,
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encontrando-se muito acima de qualquer obstáculo ou perturbação. Sim, ele prossegue livre e renovado,
e discerne tudo com a visão transparente do céu. Que diferença radical entre essa vida de céu na Terra e
a que era dominada pela emoção! A vida celeste manifesta a natureza celestial, e sempre é espiritual.
4 Ver o capítulo 10 do Volume L sobre os dois fundamentos para o livramento do pecado.

RECONHECENDO O FATO DE QUE O ESPÍRITO SANTO HABITA EM NÓS

O crente já tem o Espírito Santo habitando nele, mas pode não estar reconhecendo-o, nem lhe
obedecendo. Então precisa fazer isso de modo completo. Precisa reconhecer que esse que nele habita é
uma Pessoa. É alguém que lhe ensina, que o guia, e lhe comunica a realidade de Cristo. Enquanto ele
não se dispuser a reconhecer essa insensatez e a dureza de sua alma, e não se abrir para receber seus
ensinamentos, estará bloqueando a ação do Espírito. O crente deve permitir que ele dirija tudo, a fim de
revelar-lhe a verdade. Se bem lá no profundo do nosso ser não tivermos a consciência de que o Espírito
Santo de Deus está habitando em nós, e não acolhermos seu ensinamento em nosso espírito, não
poderemos receber sua operação na vida de nossa alma. Só depois que deixarmos de buscar tudo por nós
mesmos, e assumirmos a condição de simples aprendizes, é que o Espírito nos ensinará verdades que
poderemos digerir. Saberemos que ele verdadeiramente habita em nós quando entendermos que nosso
espírito, que é mais profundo que o pensamento e a emoção, é o Santo dos Santos, e que é por ele que
comungamos com o Espírito Santo, e recebemos sua comunicação. À medida que o vamos
reconhecendo e o respeitando, ele manifesta seu poder, proveniente do ponto mais profundo do nosso
ser. E assim estende sua vida ao nosso consciente e à vida da alma * . Os cristãos de Corinto eram
carnais. Quando Paulo os exortou no sentido de que se corrigissem, ele repetidamente lhes lembrou que
eles eram o templo de Deus, e que o Espírito Santo vivia neles. Vemos então que ter consciência de que
o Espírito habita em nós ajuda-nos a vencer a carnalidade. Então precisamos saber e compreender
perfeitamente, pela fé, que o Espírito de Deus habita em nós. Não devemos nos contentar apenas em
conhecer com a mente aquilo que a Bíblia ensina sobre o Espírito Santo. Precisamos também conhecê-lo
em experiência. Aí então nos entregaremos a ele sem reservas, para que nos renove, submetendo-lhe
cada parte de nossa alma e corpo para que nos corrija. O apóstolo fez aos coríntios a seguinte pergunta:
"Não sabeis... que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Co 3.16.) Ele parecia estar surpreso de aqueles
irmãos ignorarem algo tão real. Paulo considerava o fato de que o Espírito Santo habita em nós como a
mais notável conseqüência da salvação. Então, como é que eles não entendiam isso? Por mais baixa que
seja a estatura espiritual de um cristão, até mesmo como a dos coríntios (e é uma pena que
provavelmente muitos não sejam "maiores" que eles), ele precisa ter um entendimento claro desse fato.
Sem isso, ele permanecerá carnal, e jamais se tornará espiritual. Meu irmão, mesmo que você não tenha
experimentado o fato de que ele habita em você, será que não poderia pelo menos crer nisso?
Será que em nós não brotam adoração, respeito e louvor espontâneos, quando consideramos que o
Espírito Santo, o próprio Deus, uma das três Pessoas da Trindade, a própria vida do Pai e do Filho,
habita em nós, que pertencemos à carne? Como é maravilhosa essa graça pela qual o Espírito Santo vem
habitar em semelhança de carne pecaminosa, exatamente como o Senhor Jesus uma vez tomou sobre si
essa semelhança!

O FORTALECIMENTO QUE NOS VEM DO ESPÍRITO SANTO

Para que a parte mais profunda do homem obtenha domínio sobre a alma e o corpo, servindo de canal
para que a vida do Espírito seja transmitida a outros, é necessário que recebamos esse fortalecimento.
Paulo ora pelos crentes "para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos
com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef 3.16). Essa oração mostra que ele considera
isso tremendamente importante. Ele pede a Deus para fortalecer, pelo seu Espírito, o "homem interior"
daqueles irmãos! Isto é, o novo homem que passaram a ser depois que confiaram no Senhor. Portanto ele
ora para que o espírito do crente seja fortalecido pelo Espírito de Deus.
Com base nisso podemos deduzir que o espírito de alguns crentes é fraco, enquanto o de outros é forte.
A condição, forte ou fraco, vai depender apenas de ele haver recebido ou não o fortalecimento divino.
Como os crentes de Efeso já estavam "selados com o Santo Espírito" (Ef 1.13,14), a oração do apóstolo
por eles devia estar relacionada com um dom, e não com a presença do Espírito neles. Ele mostra que
não basta ter apenas o Espírito Santo habitando em nós. Seu poder especial precisa inundar nosso
espírito, a fim de tornar-nos interiormente fortes. Então podemos possuir um espírito fraco, embora Deus
esteja habitando em nós.
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Portanto é realmente necessário que nosso homem interior seja cheio de poder. Contudo só quando
percebemos nossa fraqueza interior é que buscamos o fortalecimento do Espírito Santo. Muitos filhos de
Deus não estão capacitados para atender ao chamado do Senhor para o serviço cristão, simplesmente
porque seus sentimentos os tornam fracos, frios e relutantes-, apesar de se acharem em boas condições
físicas. Mesmo quando eles têm emoções totalmente nobres, ardentes e espontâneas, sentem-se
incapazes de servir ao Senhor, porque aí é o corpo que revela preguiça. Tudo isso mostra como é fraco o
domínio que o espírito exerce sobre nossos sentimentos e nosso corpo.
No jardim do Getsêmane, os discípulos se achavam exatamente nessa condição: "o espírito, na verdade,
está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26.41). Não basta ter a disposição. É preciso que o espírito também
seja forte. Se ele for vigoroso, poderá vencer a enfermidade da carne. Por que é que os crentes se
arrastam, quando trabalham para ganhar almas? A explicação é que lhes falta poder no espírito. O
mesmo se aplica às circunstâncias que nos cercam. Com que facilidade somos afetados pela confusão do
mundo exterior! Se nosso espírito fosse robusto, poderíamos enfrentar as situações mais perturbadoras
com atitude de paz e tranqüilidade. A oração é que revela a força do homem interior. Um espírito forte é
capaz de orar muito, e com toda a perseverança, até receber a resposta. O fraco, se tiver de permanecer
em oração, fica cansado e desanimado. Um espírito vigoroso segue em frente mesmo em meio a uma
situação desfavorável ou a sentimentos adversos. O fraco, porém, é incapaz de enfrentar a adversidade.
E o fato é que, para a batalha espiritual com Satanás, precisamos de muito poder no espírito. Somente os
que têm poder no homem interior sabem exercitar sua força espiritual para resistir ao inimigo ou atacá-
lo. Caso contrário, o conflito ocorrerá na esfera do "faz de conta", travando-se apenas na imaginação ou
no entusiasmo da emoção, e talvez com as armas da carne e do sangue.
Para que o homem interior seja fortalecido com poder através do Espírito Santo, os filhos de Deus
devem cumprir sua responsabilidade. Precisam se entregar ao Senhor de forma definida, abandonar
qualquer aspecto duvidoso de sua vida, estar dispostos a obedecer plenamente à vontade de Deus e crer,
através da oração, que ele encherá seu espírito do poder divino. Assim, se eles removerem todos os
obstáculos de sua parte, Deus atenderá prontamente à expectativa do coração deles. Os crentes não
precisam esperar o enchimento do Espírito Santo, porque ele já desceu. O que precisam é esperar apenas
o cumprimento da condição para serem cheios dele. Ou seja, têm de permitir que a cruz realize uma
incisão profunda neles. Se forem fiéis em crer e obedecer, dentro de pouco tempo seu espírito ficará
cheio do poder do Espírito Santo, que fortalecerá seu homem interior, capacitando-os para viver e
trabalhar. Alguns até podem receber a plenitude do Espírito logo depois de se renderem ao Senhor. Isso
significa que já satisfizeram as condições para recebê-la.
Essa entrada do poder de Deus em nós, esse enchimento interior do Espírito, ocorre no espírito humano.
É o homem interior, e não o exterior, que é ativado pelo poder de Deus, e assim se torna forte. É
muitíssimo importante reconhecer isso, pois nos ajuda a exercitar uma fé simples para sermos cheios do
Espírito Santo (GL 3.14), em vez de ficarmos na expectativa de experimentarmos sensações físicas, tais
como tremer, ficar dando arrancos ou cair no chão. Todavia os cristãos precisam ter cuidado, para não
citar a falta de fé como desculpa para o fato de não experimentarem o poder do Espírito Santo. É
necessário que preencham as condições para serem cheios do Espírito e tenham uma atitude firme. Deus
sempre cumpre sua promessa.
Lendo o que o apóstolo afirma nos versículos seguintes do capítulo 3 da carta aos Efésios, a respeito da
percepção, do conhecimento e do enchimento, adquirimos a certeza de que, sendo fortalecido com
poder, o homem interior se torna altamente sensível. Como acontece no corpo, o espírito tem suas
funções e sua consciência. Antes de o crente receber o poderoso influxo do poder do Espírito Santo em
seu espírito, ele dificilmente pode detectar seu poder intuitivo. Depois disso, porém, sua força intuitiva
se torna bem distinta, e, portanto, ele pode detectá-la prontamente. Quando o homem interior passa pelo
processo de ativação, seu poder intuitivo aumenta. O crente torna-se, então, capaz de sentir até o menor
de seus movimentos.
Quando o espírito está cheio do poder de Deus ele passa a exercer pleno domínio sobre a alma e o corpo.
Ele governa todos os pensamentos, desejos, sensações e intentos. A alma não pode mais agir
independentemente, porque se torna uma espécie de mordo mo do espírito. Além do mais, através do
espírito do crente o Espírito Santo comunica a vida de Deus a pessoas sedentas que estão a perecer. A
plenitude do Espírito Santo, porém, difere do batismo com o Espírito Santo. O batismo tem como alvo o
serviço, enquanto a plenitude soluciona o problema da vida (e naturalmente afetará o serviço também).

ANDAR SEGUNDO O ESPÍRITO


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O fato de um crente da alma** se transformar em crente espiritual não constitui garantia de que ele
nunca mais voltará a andar segundo a carne. Esse perigo vai existir sempre. Satanás acha-se
permanentemente alerta, procurando aproveitar qualquer oportunidade de fazer com que o crente perca
sua elevada posição e caia para uma vida do mais baixo padrão. Portanto é necessário que os filhos de
Deus estejam vigilantes durante todo o tempo, andando no Espírito, para que possam permanecer
espirituais.
“A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
Espírito. Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam
para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para
a vida e paz." (Rm 8.4-6.) Andar segundo o espírito implica contrariar a carne; e não seguir o Espírito é
andar segundo a carne. Muitos cristãos se mostram hesitantes nessa questão. Ora seguem um, ora
seguem o outro. Devemos andar apenas segundo o homem interior, isto é, segundo a intuição do
espírito. Nem por um momento podemos viver segundo a alma ou o corpo. Assim, aqueles que seguirem
o espírito invariavelmente "colocarão suas mentes nas coisas do espírito” (RSV). “Desse modo, terão
vida e paz”.
Viver pelo espírito é seguir a intuição. É dirigir toda a nossa vida, serviço e atos de acordo com o
espírito. É estar sempre debaixo do governo dele e receber dele a capacitação de que precisamos. Dessa
forma, o crente preserva sua vida e paz. Ele só conseguirá permanecer num estado espiritual se andar
segundo o espírito. Por isso, caso deseje andar corretamente, precisa compreender, no mínimo, as leis e
funções do espírito.
Viver segundo o espírito é uma obrigação diária. Precisamos entender que não podemos viver dirigidos
por nossos sentimentos mais nobres, nem pelos pensamentos mais elevados. Precisamos ser dirigidos
pela intuição. O Espírito Santo expressa seus sentimentos através do delicado senso do nosso espírito.
Ele não opera diretamente em nossa mente, induzindo-nos a ter pensamentos repentinos. Ele realiza
todas as suas obras no ponto mais profundo de nosso ser. Se desejarmos saber o que ele pensa, teremos
de nos conduzir de acordo com a intuição de nosso espírito. Às vezes podemos sentir algo, mas não
entender o que aquilo significa, o que ele está querendo, ou qual sua mensagem para nós. Sempre que
isso acontecer, devemos nos dedicar à oração, pedindo que ele nos dê entendimento. E assim que o
entendermos, devemos agir de acordo com o significado daquilo que sentimos por intuição. Podemos
receber uma revelação instantânea na mente, capacitando-nos a compreender o significado da intuição.
Contudo jamais devemos seguir os pensamentos repentinos que se originam nela, e não procedem da
intuição. Só o ensinamento intuitivo representa o pensamento do Espírito, e somente a ele devemos
seguir.
Esse andar pelo espírito exige confiança e fé. Já vimos que todas as “boas” obras da carne revelam uma
atitude de independência para com Deus. A própria natureza da alma é de independência. Se os crentes
agirem segundo seus próprios pensamentos, sentimentos e desejos, não vão precisar passar tempo em
comunhão com Deus, aguardando a orientação dele. Os que seguem “a vontade da carne e dos
pensamentos” (Ef 2.3) não precisam confiar em Deus. Os crentes "ó vão cultivar a confiança em Deus
quando reconhecerem que são inúteis, indignos de confiança, e extremamente fracos na busca da
vontade divina. Para receber a orientação de Deus no espírito, é necessário esperar nele, e rejeitar a
direção advinda dos próprios sentimentos e pensamentos. Lembremo-nos de que tudo que fizermos ou
pudermos fazer sem confiar em Deus, sem buscá-lo e sem esperar nele, será feito na carne. Temos de
contar com Deus para nos dar direção, no fundo do nosso ser, com temor e tremor. Essa é a única
maneira de andarmos segundo o espírito.
Para andar assim, é necessário ter fé. O oposto de vista e sentimento é fé. Os que são da alma * *
sentem-se seguros apegando-se àquilo que podem ver e sentir. J á aqueles que seguem o espírito vivem
pela fé, e não por vista. Se o socorro humano falhar, eles não ficarão confundidos. Tampouco se abalarão
ao sofrer oposição dos homens. Podem confiar em Deus até mesmo no meio de densas trevas, porque
têm fé em Deus. Por não dependerem de si mesmos, podem confiar mais no poder invisível do que nas
próprias forças que são visíveis.
Andando segundo o espírito, esperamos a revelação de Deus para iniciar um serviço cristão, e o
executamos na força do Senhor. Os crentes costumam clamar a Deus pedindo poder espiritual para
realizar uma obra, mas muitas vezes não foi ele que, através da intuição, ordenou esse serviço. Isso é
simplesmente impossível, pois aquilo que é da carne é carne. Outras vezes, os crentes tomam
conhecimento da vontade de Deus revelada em sua intuição, mas tentam realizá-la com as próprias
forças. Também isso é impossível, pois como é que alguém pode começar pelo Espírito Santo e terminar
pela carne? Aqueles que seguem ao Senhor precisam amadurecer, chegando ao ponto de não confiar
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absolutamente na carne. Precisam confessar que não podem criar nenhuma idéia boa, e admitir que não
possuem nenhum poder para realizar a obra do Espírito Santo.
Precisamos pôr de lado todo pensamento, habilidade, conhecimento, talento e dom supersticiosamente
idolatrado pelo mundo, para que possamos confiar no Senhor de forma plena. Devemos sempre
reconhecer que somos indignos e incompetentes, não ousando iniciar nada sem primeiro receber a
ordem de Deus para isso, nem realizar algo confiando em nós mesmos.
Para viver pelo espírito precisamos agir sempre em harmonia com a intuição, que é bastante delicada, e
nos apoiar na sua capacitação para realizar a tarefa revelada. Quando seguimos a intuição, e não o
pensamento, nem a opinião, ou o sentimento, ou a tendência geral, começamos bem. Se confiamos no
poder do Espírito e não no nosso talento, nem em nossa força, nem em nossa capacidade, terminamos
bem. Devemos ter em mente que, quando deixamos de seguir nosso sentimento intuitivo, logo
começamos a andar segundo a carne, e acabamos nos inclinando para as coisas da carne. E isso injeta
morte no espírito. Só poderemos andar "segundo o espírito" se "não andarmos segundo a carne" .
Nosso alvo é ser homens espirituais, e não espíritos. Se reconhecermos essa distinção, nossa vida jamais.
será corta- da nem secará. Hoje somos seres humanos, e o seremos eter0namente. A maior vitória de um
ser humano, porém, é tornar-se ser espiritual. Os anjos são espírito, não possuem corpo nem alma. Nós,
seres humanos, possuímos tanto um como o outro. Devemos ser homem espiritual, e não espírito. O
homem espiritual continua possuindo alma e corpo. Se não os possuísse, deixaria de ser homem,
passando à condição de espírito. Ser homem espiritual significa estar sob o controle do espírito, que se
tornou o elemento mais elevado de todo o ser. Não nos enganemos quanto a isso. O homem espiritual
continua tendo alma e corpo. Não é por ser espiritual que ele aniquila esses elementos, nem suas
funções. São eles que fazem do homem aquilo que ele é. Desse modo, embora o homem espiritual não
viva pelo corpo nem pela alma, certamente não os anula. Pelo contrário, eles foram renovados por meio
da morte e ressurreição, e estão perfeitamente unidos ao espírito, tornando-se instrumentos de sua
expressão. Por isso, a emoção, a mente e a vontade permanecem no homem espiritual, mas são
inteiramente dirigidas pela intuição.
As emoções do homem espiritual se acham sob o controle total do seu espírito, não reivindicando mais
uma "vida" independente, como antes. Elas não bloqueiam o espírito, nem resistem à ação dele, pois já
não insistem em manter as próprias afeições e sentimentos. A emoção agora se regozija apenas naquilo
em que o espírito tem prazer. Ama somente aquilo que está sob a direção do espírito, e sente apenas o
que o espírito permite. Este se torna a vida dela. Quando o espírito se move, a emoção reage de acordo
com ele.
De igual modo, a mente do homem espiritual coopera com o espírito, não vagueando mais, como fazia
anteriormente. Ela não se opõe à revelação do espírito, levantando raciocínios e argumentos, nem
perturba a paz do espírito com pensamentos confusos e numerosos. Também não se rebela contra ele,
vangloriando-se da própria sabedoria. Pelo contrário, coopera plenamente com a intuição para operar o
crescimento espiritual. Quando o espírito apresenta qualquer revelação, a mente discerne seu
significado. Caso o espírito tenha de lutar, ela lhe assiste nessa luta. Se o Espírito Santo deseja ensinar,
alguma verdade, a mente ajuda o espírito a entendê-la. Entretanto o espírito tem autoridade para
interromper o pensamento da mente, e também para iniciá-lo.
O homem espiritual retém ainda sua vontade. Contudo ela já não é independente de Deus. Suas decisões
agora obedecem aos ditames do espírito. O ego já não é o seu centro. A vontade já não insiste em
realizar os próprios desejos, como antes. Consequentemente, ela está preparada para obedecer a Deus. Já
não é inflexível e obstinada. Acha-se inteiramente quebrantada. Assim não pode mais resistir a Deus,
nem lutar contra ele. Sua natureza descontrolada foi domada. Agora, quando o espírito recebe uma
revelação e entende qual é o desejo de Deus, a vontade decide segui-lo. Ela permanece na porta do
espírito como um mensageiro, aguardando suas ordens.
O corpo do homem espiritual também se acha sujeito ao espírito. Como foi purificado pelo sangue
precioso, e suas paixões e concupiscências foram tratadas pela cruz, agora, como um servo obediente,
ele pode servir às ordens do espírito, sempre que este lhe passa essa ordem, através da alma. De modo
algum, ele seduz a alma para pecar, através de suas paixões e concupiscências, como fazia antes. Pelo
contrário, ele agora atende prontamente a todos os comandos do espírito. Este, através da vontade
renovada, tem autoridade completa sobre o corpo. Foram-se os dias em que o corpo pressionava o
homem interior, que estava fraco. O espírito do homem espiritual tornou-se forte, e o corpo, agora, se
encontra sob o controle dele.
Em 1 Tessalonicenses, o apóstolo Paulo descreveu a verdadeira condição de um homem espiritual: "O
mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros
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e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (5.23). Então, damos a seguir um retrato do
homem espiritual, com base no que dissemos até aqui.
1. Deus habita em seu espírito, santificando-o totalmente. A vida do espírito inunda todo o seu ser, de
modo que todos os elementos dele vivem de acordo com ela e operam na força do espírito.
2. Ele não vive pela alma. Seus pensamentos, imaginação, sentimentos, idéias, afeições, desejos e
opiniões são renovados e purificados pelo Espírito, e se acham submissos ao espírito. Não mais operam
independentemente.
3. O homem espiritual possui um corpo, pois não é espírito incorpóreo. Entretanto nem a fadiga, nem a
dor nem as exigências dele derrubam o espírito de sua elevada posição. Todos os membros do corpo se
tornaram instrumentos de justiça.
Concluindo, o homem espiritual é aquele que pertence ao espírito. Em seu todo ele é governado pelo
homem interior. Exerce completo domínio sobre todo o seu ser. É o espírito que torna sua vida singular.
Tudo nele procede do espírito, a quem ele presta obediência absoluta. Não profere nenhuma palavra,
nem pratica nenhum ato por si mesmo. Pelo contrário, recusa sempre usar sua força natural, a fim de
buscar forças no espírito. Em suma, o homem espiritual é aquele que vive pelo espírito.

CAPÍTULO 3

O SERVIÇO CRISTÃO

À medida que o crente avança em sua caminhada espiritual, começa gradativamente a reconhecer que
viver para si mesmo é pecado, aliás, o maior da sua vida. Viver para si é como ser um grão de trigo que,
caindo na terra, se recusa a morrer, e que, por causa disso, permanece só. Buscar o enchimento do
Espírito Santo para se tornar uma pessoa espiritualmente poderosa tem como único alvo o prazer e a
satisfação próprios. Se esse crente vivesse unicamente para Deus e sua obra, não pensaria em sua
felicidade, nem em seus sentimentos pessoais. Certamente entenderia o significado da espiritualidade.
Entretanto, no fundo do seu coração, reside o amor próprio da alma.
Todo filho de Deus é também um servo do Senhor. Cada um de nós recebe algum dom do Senhor.
Ninguém é excluído (Mt 25.15). Deus nos coloca em sua igreja e nos concede ministérios para que os
exercitemos. O propósito de Deus não é fazer do espírito do crente um reservatório de vida espiritual
que vá se secando depois de algum tempo. Se a vida de Deus ficar estagnada em nós, logo começarão a
surgir sintomas de sequidão. A vida espiritual existe para que executemos o serviço cristão. Este é uma
manifestação da vida espiritual. O segredo desse tipo de vida está em ela fluir incessantemente, em favor
de outros.
O alimento espiritual do crente é realizar a obra de Deus (Jo 4.34). O reino de Deus sofre muito nas
mãos dos "crentes espirituais" , que se dedicam só à oração e ao estudo da Bíblia, atendendo apenas às
suas próprias necessidades espirituais. Devemos simplesmente buscar em Deus o sustento das nossas
necessidades, tanto físicas como espirituais. Se estivermos dispostos a suportar fome para fazer o que
Deus quer que façamos, ficaremos satisfeitos. Nosso alimento espiritual será simplesmente fazer a
vontade dele. A preocupação com nosso suprimento resulta em falta. Já a preocupação com o reino de
Deus traz satisfação. Aquele que se encontra todo o tempo ocupado nos negócios do Pai, e não nos seus,
estará sempre cheio.
Não devemos ficar demasiadamente ansiosos por obter novos ganhos. O que necessitamos, em essência,
é guardar o que já temos, pois não perder já é em si um ganho. O segredo para retermos aquilo que
possuímos é utilizá-lo. Enterrar algo certamente é uma forma de o perder. Quando um crente permite
que a vida de seu espírito flua livremente, ele não apenas ganhará os outros, mas a si mesmo também.
Ganhamos quando "perdemos" o ego em favor dos outros, e não o armazenando para nós mesmos. Um
homem espiritual libera sua vida realizando trabalho espiritual. Se nosso ser interior estiver sempre
aberto e livre (naturalmente deve estar fechado para o inimigo), dele fluirá a vida de Deus para salvação
e edificação de muitos. No momento exato em que a ação espiritual cessar, a vida espiritual sofrerá um
bloqueio. A vida e o trabalho são inseparáveis.
Seja qual for a ocupação secular do cristão, Deus o comissiona também para algum trabalho no seu
reino. O crente espiritual conhece seu lugar no corpo de Cristo. Por causa disso, conhece também os
limites do seu trabalho. Cada membro tem sua função. Sua missão consiste em desempenhar essa
função. Alguns dons têm por finalidade beneficiar certos membros em particular. Já outros beneficiam
todo o corpo. Devemos reconhecer os limites de nossos dons, e atuar dentro desses limites. Contudo
muitos falham. Alguns se afastam de sua obra e, com isso, sufocam o desenvolvimento de sua vida
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espiritual. Já outros se estendem demasiadamente, causando prejuízo a si mesmos. Se usarmos as mãos e
os pés de forma errada, teremos problemas, assim como quando não os usamos de forma nenhuma.
Como já vimos, guardar a vida espiritual para si próprio certamente constitui uma maneira de perdê-la.
Contudo trabalhar indiscriminadamente também pode prejudicá-la.

O PODER ESPIRITUAL

Se desejamos poder para testemunhar de Cristo e lutar contra Satanás, devemos buscar a plenitude do
Espírito Santo. As pessoas hoje estão buscando essa experiência com um ardor cada vez maior. Contudo
precisamos fazer algumas perguntas: Quantos a buscam para se gloriar? Quantos desejam mais glória
para sua carne? Quantos esperam controlar outros, sem ter de se esforçar? É preciso discernir claramente
o motivo que nos leva a pedir o poder do Espírito Santo. Se é algo que não vem de Deus, nem se acha
alinhado com a vontade dele, certamente não poderemos obtê-lo. O Espírito Santo de Deus não desce
sobre a "carne" do homem. Desce somente sobre o espírito renovado do homem, recém-criado por Deus.
Não podemos permitir que o homem exterior, isto é, a carne, domine quando pedimos a Deus para
encher nosso homem interior, isto é, o nosso espírito, com seu Espírito. Enquanto a carne estiver viva,
indomada, o Espírito Santo de Deus não desce sobre o espírito do homem. É que, se Deus lhe
concedesse esse poder, ele se tornaria ainda mais carnal e orgulhoso.
Costuma-se observar que o Calvário precede o Pentecostes. Não é propósito do Espírito Santo conceder
poder a homens e mulheres que não foram tratados pela cruz. O caminho que conduz ao cenáculo em
Jerusalém passa pelo Calvário. Somente aqueles que se conformam à morte do Senhor podem receber o
poder dele. A Palavra de Deus afirma que "não se ungirá com ele (o óleo santo da unção) o corpo do
homem que não seja sacerdote” #Ex 30.32. O óleo santo de Deus não pode ser derramado sobre a carne,
seja ela extremamente corrompida, ou sobremodo refinada. Onde falta a marca da cruz, falta também o
óleo do Espírito. Por meio da morte do Senhor Jesus, Deus pronunciou seu veredicto sobre todos os que
estão em Adão: “Todos devem morrer”. O poder celestial não desceu antes de o Senhor Jesus morrer. De
igual modo, o crente, que ainda não experimentou a morte do Senhor Jesus, também não deve esperar
esse poder. Historicamente o Pentecostes ocorreu após o Calvário. A experiência da plenitude do poder
do Espírito ocorre depois que tomamos a cruz.
A carne está para sempre condenada diante de Deus. Ele a sentenciou à morte. Então, quando desejamos,
não que ela morra, mas que seja adornada com o Espírito Santo para tornar-se mais poderosa no serviço,
será que não estamos querendo algo impossível? Qual a nossa intenção, afinal de contas? Sermos
considerados crentes espirituais e admirados por todos? Queremos sucesso? atração pessoal? fama?
popularidade? agradar ao homem? edificação própria? Aqueles que têm segundas intenções, ou um
duplo objetivo em sua mente, não poderão receber o batismo no Espírito Santo. Talvez achemos que
nossas motivações são puras, mas o nosso Sumo Sacerdote, através de circunstâncias variadas, nos
capacita a conhecer como nosso coração é realmente. Só poderemos discernir o verdadeiro intento de
nosso coração quando a obra de nossas mãos fracassar, e nós mesmos formos desprezados e rejeitados.
Todo aquele que é genuinamente usado pelo Senhor já passou por esse caminho. Só depois que a cruz
realiza sua tarefa é que podemos receber o poder.
Mas não é verdade que existem muitos filhos de Deus que, apesar de nunca terem passado por essa
experiência profunda da cruz, ainda assim são poderosos no seu testemunho, parecendo grandemente
usados pelo Senhor? A Bíblia mostra que existe um óleo muito parecido com o óleo santo da unção (Êx
30.33). Sua composição é semelhante à dele, porém não é o óleo santo da unção. Não nos enganemos
nem nos iludamos com nosso sucesso ou fama. O que precisamos ver é se a velha criação (isto é, tudo o
que recebemos através do nascimento) passou pela cruz. O certo é que, antes de a carne se submeter à
morte, qualquer poder que tivermos não vem do Espírito Santo. Aqueles que possuem o discernimento
espiritual, e já conhecem a verdade, sabem muito bem que tal sucesso não, tem nenhum valor em termos
espirituais. Só depois que realmente condenamos nossa carne e começamos a andar segundo o espírito é
que recebemos o verdadeiro poder de Deus. Do contrário, a carne é que seria revestida com poder
espiritual. Como nosso espírito pode receber poder especial, se nossa carne ainda não experimentou a
morte, governa com a própria energia e invariavelmente sufoca o espírito? O poder de Deus só desce
sobre nosso espírito quando este está cheio do seu Santo Espírito. Não há outro meio. Não pode haver
outra maneira pela qual a força do Espírito flua. Não é verdade que, quando um vaso está cheio,
qualquer poder que acrescentarmos a ele fará com que transborde? Portanto, para recebermos poder, é
necessário que morramos para a velha criatura e aprendamos a andar no Espírito.
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Todo cristão deve buscar o poder do Espírito Santo. E não basta entender isso com a mente. É preciso
que nosso espírito mergulhe no Poder Espiritual. A eficácia de nosso serviço vai depender de estarmos
imersos no Espírito Santo. O Espírito de Deus precisa de um instrumento pelo qual possa se manifestar.
Todavia, em quantos de nós ele encontra isso? Existem impedimentos de pecado, de orgulho, de frieza,
de vontade própria, e de confiança na vida da alma. Dessa maneira, o poder de Deus não tem meios de
se expressar. Temos muitas outras fontes de energia além da dele!
Ao buscar o poder do Espírito Santo, devemos manter a mente atenta e a vontade viva, guardando-nos,
assim, dos enganos do inimigo. Precisamos permitir que Deus nos purifique de tudo aquilo que é
pecaminoso, injusto ou duvidoso, para apresentarmos ao Senhor todo o nosso ser. Devemos, então,
receber a promessa do Espírito pela fé #GL 3.14. Descansemos em Deus, confiando que, no tempo
devido, ele vai cumprir sua Palavra. Entretanto não nos esqueçamos de sua promessa. Se houver
demora, aproveitemos a oportunidade para realizarmos um exame mais íntimo de nossa vida, à luz do
Espírito. Aceitemos com alegria quaisquer sentimentos que venham acompanhando o poder. Contudo, se
aprouver a Deus não nos conceder o poder acompanhado de sentimentos, creiamos simplesmente que
ele de fato cumpriu sua Palavra.
Como é que podemos saber se recebemos a promessa ou não? Examinando nossa experiência. Quem
recebe o poder fica com os sentidos espirituais aguçados, e possui uma forma de expressar, que não é
deste mundo, ao testemunhar de Jesus. Seu trabalho é eficaz, e produz frutos duradouros. O poder é o
ingrediente básico do serviço cristão.
Quando recebemos a capacitação do Espírito Santo, tornamo-nos muito sensíveis aos sentidos do nosso
espírito. Devemos manter nosso homem interior constantemente livre, permitindo que o Espírito Santo
flua sua vida em nós e através de nós. Manter o homem interior livre é mantê-lo numa condição em que
o Espírito Santo possa operar. Suponhamos, por exemplo, que Deus envie um crente para dirigir uma
reunião. Seu espírito deve estar aberto. Ele não deve ir para a reunião com o espírito carregado de
preocupações ou pesos; se o fizer, toda a reunião será afligida com peso, criando-se uma situação difícil
e insuportável. Quem dirige uma reunião não deve levar seus fardos para ela, na esperança de que a
congregação o livre deles. Quem confia que a atitude da congregação irá aliviá-lo de sua carga, está
destinado ao fracasso. Quando o dirigente entra na reunião, deve estar com o espírito iluminado e livre.
Muitos vão para os cultos cheios de fardos. Por isso, o dirigente deve primeiro libertá-los por meio da
oração, de um hino, ou da exposição de uma verdade, para depois entregar a mensagem. Portanto ele
não pode esperar que os outros sejam libertos, se ele mesmo ainda está " amarrado" com cadeias que
precisam ser quebradas.
Devemos ter sempre em mente, de forma clara, que uma reunião espiritual é a comunhão de um espírito
com outros. O pregador entrega a mensagem, proveniente do seu espírito, e o ouvinte, com o seu, recebe
a Palavra de Deus. Se o espírito do mensageiro, ou o do ouvinte, estiver sobrecarregado, ou submetido a
algum tipo de escravidão, será incapaz de abrir-se para Deus e acolher sua Palavra. Por isso, o espírito
do dirigente deve estar livre, para que ele possa, logo no início, liberar o espírito da congregação, e aí
poder entregar a mensagem de Deus.
Para realizarmos uma obra poderosa, precisamos estar revestidos do poder celestial. Entretanto temos de
manter nosso espírito sempre aberto, para que esse poder possa fluir livremente do nosso espírito. A
medida da manifestação desse poder é variável. A experiência do Calvário dá a medida da do
Pentecostes. Se o espírito do homem estiver livre, o Espírito de Deus poderá operar nele.
Ao realizarmos uma obra, nosso homem interior, vez por outra, pode encontrar-se fechado,
principalmente quando se trata de ministração pessoal. Talvez isso aconteça por causa da outra pessoa,
cujo espírito ou mente podem não estar abertos para receber a verdade. É possível também que ela esteja
abrigando pensamentos impuros, que impedem o fluir do espírito. Essas circunstâncias bloqueiam o
espírito do obreiro. Muitas vezes a simples observação da atitude do outro é suficiente para descobrir se
poderemos ou não realizar alguma obra de natureza espiritual. Se a outra pessoa estiver bloqueando
nosso ser interior, não teremos condições de comunicar-lhe a verdade.
Se, porém, insistirmos em continuar trabalhando, depois de percebermos o bloqueio do nosso espírito,
provavelmente esse trabalho será fruto da mente, e não do espírito. Entretanto só o trabalho do espírito
produz resultados duradouros. Tudo aquilo que se faz com a mente carece de poder espiritual. Se logo
no início não nos prepararmos para entregar a Palavra de Deus, por meio da oração e da libertação do
espírito, nossos esforços não terão nenhuma eficácia. Devemos aprender a andar segundo o espírito para
que, por fim, saibamos trabalhar a partir dele.
O INÍCIO DE UM TRABALHO ESPIRITUAL
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Iniciar uma obra não é fácil. Jamais devemos começar um trabalho por causa de uma necessidade, de
ganhos, ou da obtenção de mérito. Essas motivações podem não constituir nenhuma indicação de que ele
é da vontade de Deus. O Senhor pode levantar outros obreiros para realizar determinada tarefa, ou
suspendê-la até outra ocasião. É possível que nos sintamos pesarosos, mas Deus sabe o que é melhor.
Por isso, a necessidade, os ganhos e o mérito não podem jamais servir como base para iniciarmos uma
obra.
No livro de Atos, aprendemos qual é a melhor maneira de "enxergar" nossa obra. N ele, não vemos
ninguém se consagrando como pregador, nem se propondo a realizar a obra do Senhor, nem indicando a
si mesmo como missionário ou pastor. O que ali vemos é o próprio Espírito Santo designando e
enviando homens para fazerem a obra. Deus nunca “alista" pessoas para seu serviço. Ele simplesmente
envia a quem quer. Não vemos ninguém escolhendo a si mesmo. É Deus quem escolhe seus obreiros. Na
realidade, não existe nenhum espaço para a carne do homem. Quando Deus escolhe, ninguém pode
resistir, nem mesmo um Saulo de Tarso. E quando Deus não escolhe, ninguém pode comprar um
ministério, nem mesmo um Simão. Deus é o único dono da sua obra, e não permite nenhuma
interferência humana. Nunca é o homem que vem trabalhar para Deus. Sempre é Deus que o envia para
fazer a obra. Consequentemente, o serviço espiritual deve iniciar quando somos chamados pelo próprio
Senhor. E não é pela persuasão de pregadores, nem pelo incentivo de amigos, ou pela inclinação do
nosso temperamento natural que entramos no serviço cristão. Calçado com os sapatos da carnalidade,
ninguém pode permanecer na terra santa do serviço de Deus. Muitas das falhas, do desperdício e das
confusões que têm surgido provêm do fato de os homens virem trabalhar, em vez de serem enviados por
Deus.
E o obreiro escolhido por Deus não é livre para se movimentar, mesmo depois da escolha. Do ponto de
vista carnal, nenhum trabalho é tão controlado quanto o trabalho espiritual. No livro de Atos,
encontramos frases tais como: "Disse-lhe o Espírito" (10.19); "Enviados, pois, pelo Espírito Santo"
(13.4); "Tendo sido impedidos pelo Espírito Santo" (16.6), Nenhum obreiro tem autoridade para decidir
sobre nada. Deve limitar-se a cumprir ordens. Naquela época, antes de realizar suas obras, os apóstolos
atentavam para a mente do Espírito Santo, através da intuição. Como isso é simples! Se a obra espiritual
tivesse de ser planejada e controlada pelos próprios crentes, então, só os naturalmente capazes,
inteligentes e letrados seriam competentes para realizá-la. Mas Deus rejeita tudo que pertence à carne.
Os crentes podem ser usados pelo Senhor para realizar uma obra muito eficaz. Contudo isso só acontece
se seu espírito for santo, vivo e cheio de poder diante do Senhor. Deus nunca delegou aos crentes
autoridade para controlar a obra dele, pois deseja que eles ouçam o que ele está a lhes dizer em seu
espírito.
A despeito do grande avivamento que Filipe vivenciou em Samaria, ele não foi o responsável pelo
posterior trabalho de edificação. Teve de partir imediatamente para o deserto, para que um eunuco
"pagão" pudesse ser salvo. Ananias não tinha ouvido falar da conversão de Saulo. Entretanto, quando
Deus mandou que fosse orar por ele, não poderia se recusar a ir, embora, pelos padrões humanos de
julgamento, estivesse arriscando a própria vida ao se dirigir para as mãos do perseguidor. Pedro não
podia resistir ao que o Espírito Santo havia determinado, embora a tradição judaica proibisse os judeus
de visitar qualquer pessoa de outra nação. Paulo e Barnabé foram enviados ao campo missionário pelo
Espírito Santo. Entretanto este exerceu autoridade para proibi-los de entrar na Ásia. Mais tarde, porém, o
mesmo Espírito conduziu Paulo para lá, e estabeleceu a igreja em Efeso. Todo o comando está nas mãos
do Espírito Santo. Os crentes simplesmente obedecem. Se o trabalho fosse deixado às considerações e
desejos humanos, muitos lugares que deveriam ser visitados não seriam, e outros, que não deveriam,
seriam. Essas experiências do livro de Atos mostram que nós também devemos seguir a voz do Espírito
de Deus em nossa intuição, e não em nossos pensamentos, raciocínios ou desejos. Mostram ainda que
ele não nos guia por nossos conselhos, desejos ou julgamentos, porque esses, com freqüência,
contradizem a direção do Espírito Santo em nosso espírito. Como ousamos seguir nossa mente, emoção
e vontade, se nem mesmo os apóstolos se orientaram por elas?
Sempre que Deus nos convoca para realizar uma obra, ele nos revela isso através da intuição, em nosso
espírito. Se seguirmos o pensamento, oriundo da nossa mente, o senti- mento de nossas emoções, e o
desejo de nossa vontade, esta- remos nos desviando da vontade de Deus. Somente aquele que é nascido
do Espírito é espírito, e nada mais. Em todos os trabalhos que os cristãos realizarem, devem esperar em
Deus, até receberem a revelação em sua intuição. Se não o fizerem, a carne assumirá a direção. É
inegável que Deus nos concede a força espiritual para a tarefa que ele reservou para nós. Temos aqui,
então, um excelente princípio a ser lembrado: jamais devemos ir além da força do nosso espírito. Se nos
ocuparmos com mais do que aquilo que temos no espírito, certamente buscaremos auxílio em nossa
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força natural. Isso será o início do vexame. O super esforço na obra é um empecilho para andarmos
segundo o espírito. Tal providência nos impossibilita de alcançar a verdadeira realização espiritual.
E como as pessoas, hoje em dia, lançam mão do raciocínio, do intelecto, das idéias, dos sentimentos, dos
votos e dos desejos, como se fossem esses os fatores decisivos na obra! Tudo isso emana da alma, não
possuindo, assim, nenhum valor espiritual. Podem ser bons mordomos, mas certamente não são bons
senhores. Se os seguirmos, seremos derrotados. O serviço espiritual deve emergir do espírito; pois é só
nele que Deus nos revela sua vontade. Ao dar auxílio espiritual, o obreiro não deve jamais permitir que
os sentimentos da alma* superem as relações espirituais. Devemos ministrar esse auxílio em toda sua
pureza. Qualquer sentimento da alma* pode ser prejudicial. Muitas vezes isso constitui um perigo e uma
armadilha para os obreiros. Até mesmo nosso amor, nossas afeições, nossos envolvimentos,
preocupações, interesses e zelo devem estar sob a inteira direção do espírito. A negligência na
observância desse preceito causa incalculáveis derrotas morais e espirituais. Se permitirmos que a
atração natural e a admiração humana, ou então a ausência delas, influenciem nossos esforços, sem
dúvida nenhuma nossa obra fracassará, arruinando nossa vida. Para alcançarmos frutos genuínos,
precisamos, com freqüência, desprezar os relacionamentos carnais ou, no caso daqueles que nos são mui
queridos, pelo menos relegá-los a segundo plano. Nossos pensamentos e desejos devem estar
inteiramente voltados para o Senhor.
Podemos empreender qualquer trabalho que o Espírito Santo traga à nossa intuição. A carne não pode
participar do serviço de Deus. Nossa utilidade no reino de Deus é proporcional à profundidade com que
a cruz tiver penetrado em nossa carne. Não devemos olhar para alguém que obteve um sucesso aparente.
Devemos observar o quanto fazem os crucificados de Deus. Nada pode cobrir a carne; nem mesmo as
boas intenções, o zelo ou o labor, ainda que sejam provenientes do nome do Senhor Jesus, e estejam a
serviço do reino do céu. É Deus mesmo quem trabalha. Ele não admite nenhuma interferência da carne.
Precisamos reconhecer que, no tocante a servir a Deus, existe até mesmo a possibilidade de oferecermos
a ele um "fogo estranho", isto é, algo que não é espiritual. Isso provoca a ira de Deus. Qualquer fogo que
não tenha sido aceso pelo Espírito Santo em nosso espírito não passa de fogo profano, que Deus
considera pecaminoso. Nem todos os feitos realizados para Deus são feitos dele. Não basta fazer algo
para ele. O ponto principal é: quem está fazendo? Deus não reconhece como dele nenhum trabalho que
reflita apenas nossa atividade, e seja realizado por meio de nossa força. Para que Deus reconheça uma
obra, ela deve ser feita por ele mesmo, através do nosso espírito. Todo serviço realizado pela carne
morre com ela. Somente aquilo que vem de Deus permanece para sempre. A realização daquilo que o
Senhor ordena jamais falha.

O OBJETIVO DO SERVIÇO CRISTÃO

O serviço cristão tem como objetivo comunicar vida ao espírito do homem, ou edificar a vida no
espírito. Nossa obra não terá valor nem eficácia nenhuma, se não for dirigida ao espírito, que se situa na
parte mais profunda do nosso ser. O que o pecador precisa é de vida, e não de pensamentos sublimes. O
crente precisa é daquilo que nutre sua vida espiritual, e não de mero conhecimento bíblico. Se lhe
comunicarmos apenas sermões bem-estruturados, parábolas maravilhosas, abstrações transcendentais,
palavras inteligentes, ou argumentos lógicos, estaremos apenas fornecendo-lhe mais idéias e novamente
despertando suas emoções, ou ativando sua vontade para que tome mais uma decisão. Os ouvintes
chegam com um espírito morto e saem com ele morto, a despeito dos nossos esforços em seu favor. O
pecador precisa é de que seu espírito seja ressuscitado, e não de aprender a argumentar melhor, a
derramar lágrimas profusas, ou a tomar uma decisão mais firme. Do mesmo modo, o crente não
necessita de edificação exterior, visto que sua verdadeira carência é de vida interior mais abundante, ou
seja, de aprender a crescer espiritualmente. Se focalizarmos nossa atenção no homem exterior, e
negligenciarmos o homem interior, nossa obra será totalmente vã e superficial. Assim nosso trabalho
será nada, talvez até pior do que nada, pois inegavelmente teremos desperdiçado muito tempo precioso!
Um homem pode comover-se até às lágrimas, confessar seus pecados, aceitar a redenção como algo
racional, professar interesse por religião, assinar uma ficha de decisão, ler a Bíblia, orar, e até mesmo
testemunhar com alegria, sem que seu espírito tenha recebido a vida de Deus. Permanece tão morto
quanto antes. Por quê? Porque a alma do homem é capaz de realizar tudo isso. É certo que não
desprezamos essas manifestações. Entretanto reconhecemos que, a menos que o espírito seja vivificado,
esses atos espirituais não passam de folhas sem raiz, que se secarão por completo sob o Sol escaldante.
Quando um espírito nasce de novo, pode mostrar essas mesmas manifestações na alma exterior. E no
fundo do seu ser ele também recebe uma nova vida, que lhe permite conhecer a Deus e a Jesus Cristo, a
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quem Deus enviou. Se uma obra não vivificar o espírito para que este tenha um conhecimento intuitivo
de Deus, não possui nenhuma eficácia espiritual.
Precisamos reconhecer que é muito possível alguém exercitar uma "falsa fé" e experimentar uma "falsa
regeneração". Muitos confundem compreender com crer. Compreender é apenas o processo mental de
captar o argumento da verdade, reconhecendo-o como digno de aceitação. Crer, no sentido espiritual,
envolve união, isto é, ao crermos que o senhor Jesus morreu por nós, unimo-nos com (ele em) sua morte.
Um indivíduo pode entender a doutrina, sem necessariamente crer no Senhor Jesus. O que enfatizamos é
que os homens não são salvos por seus atos de bondade, mas obtêm a vida eterna ao crer no Filho de
Deus. Portanto precisam crer nele. Muitos crêem na doutrina da expiação, mas não conseguem crer no
Salvador que opera a expiação. Se apenas colocam o sangue do cordeiro na bacia, sem aplicá-lo à porta
do seu coração, sua regeneração é falsa. São inúmeros os crentes professos que carecem do
conhecimento intuitivo de Deus, embora vivam como verdadeiros cristãos puros, espirituais, dispostos a
ajudar, que oram, lêem a Bíblia todos os dias, e até mesmo freqüentam os cultos. Podem ouvir e falar
sobre Deus, conversam a respeito dele, todavia não conhecem a Deus, e não possuem um conhecimento
pessoal do Senhor. "Elas (minhas ovelhas) me conhecem... elas ouvirão a minha voz." (Jo 10.14,16.)
Aqueles que não conhecem o Senhor, nem ouvem a sua voz, não são suas ovelhas.
Visto que o relacionamento do homem com Deus começa na regeneração, e se processa inteiramente no
espírito, torna-se evidente que é neste que se deve situar o centro de toda a nossa obra. Buscando o
sucesso externo, pelo simples recurso de despertar o entusiasmo das pessoas, realizamos uma obra sem
Deus. Quando descobrimos que o espírito deve ocupar o centro de tudo, nossos esforços sofrem uma
mudança radical. Não mais trabalhamos sem objetivo, simplesmente seguindo o que acreditamos ser
bom. Agora temos um objetivo bem-definido, que é a edificação da área mais profunda no interior do
homem. Antes, enfatizávamos o que é natural. Agora, devemos dar ênfase ao que é espiritual. Realizar
um serviço espiritual significa simplesmente trabalhar por meio do nosso espírito, para vivificação do
espírito dos outros. Nada mais pode receber essa designação.
Quando reconhecemos que nada do que temos é capaz de comunicar vida ao homem, descobrimos como
somos inúteis em nós mesmos. Quando colocamos de lado a autodependência, e deixamos de usar o que
temos, realmente vemos o quanto somos fracos. Só então poderemos conhecer todo o poder que existe
em nosso homem interior. Geralmente confiamos tanto na alma, procurando viver por ela, que não
percebemos como nosso espírito está fraco. Agora que passamos a confiar apenas no poder do espírito,
começamos a perceber a verdadeira dinâmica da nossa vida espiritual. Se tivermos a determinação de
dar vida ao espírito de um homem, e não de ajudar sua mente a entender, nem de despertar suas
emoções, nem levar sua vontade a decidir, saberemos instantaneamente que, se o Espírito Santo não nos
usar, nossa obra será absolutamente vã. "Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus." (Jo 1.13.) Se Deus não os gerar, como poderemos gerá-los?
Nós agora sabemos que todas as obras devem ser feitas por Deus. Somos apenas vasos vazios. Não há
nada em nós que possa gerá-los. Neles mesmos também não há nada capaz de gerá-los. É Deus quem
derrama sua vida sobre eles por meio do nosso espírito. Portanto o serviço cristão é uma obra realizada
por Deus. Qualquer obra que não é feita por ele, não pode ser considerada como tal.
Devemos suplicar a Deus que nos revele a natureza e a grandeza de sua obra. Se entendermos o quanto
essa obra exige do grande poder divino, ficaremos envergonhados de nossas idéias, e humilhados por
nossa autoconfiança. Veremos que todos os nossos esforços não passam de "obras mortas". Às vezes
Deus usa de uma misericórdia toda especial e abençoa nossos esforços além do que é devido. Ainda
assim, devemos abster-nos de interpretar isso como sendo um " sinal verde" para prosseguirmos com
nossas ações. Tudo aquilo que nós mesmos realizamos é destituído de valor, além de perigoso. Devemos
reconhecer que a obra de Deus não é fruto de uma atmosfera carregada, nem de um ambiente atrativo,
nem de um pensamento romântico de uma imaginação poética de uma visão idealista, de uma sugestão
racional, nem de um sentimento ardoroso nem de uma vontade despertada. Tudo isso seria adequado, se
o serviço cristão fosse apenas um sonho, e não uma realidade. Esse esforçou, porém visa a regenerar o
espírito do homem e dar-lhe vida ressurreta. E essa tarefa só pode ser realizada pelo próprio Deus,
através do poder que ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos.
Vemos, então, que, se não comunicarmos a vida de Deus aos homens, nosso trabalho não merece louvor
no céu. Tudo aquilo que não tem origem no homem interior, onde habita o Espírito de Deus, é incapaz
de comunicar vida, pouco importando se trata de algo compatível com a razão e o sentimento ou não.
Uma falsa capacitação espiritual talvez produza resultados bem parecidos, mas jamais pode conceder
uma vida autêntica ao espírito morto do homem. Consegue realizar qualquer coisa, menos o único e
verdadeiro objetivo do serviço cristão.
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Se nosso propósito é realmente levar vida aos homens, o poder que empregamos tem de ser o de Deus.
No caso de nos valermos do poder da alma o fracasso será inevitável, pois esta, embora viva em si
mesma (Gn 2.7), não pode vivificar outros, pois "O espírito é o que vivifica" #Jo 6.63. Observemos
também que "O último Adão (o Senhor Jesus), porém, é espírito vivificante" (1 Co 15.45). Assim como
o Senhor Jesus" derramou a sua alma: na morte" (Is 53.12), todos aqueles que servem de canal, para a
vida dele ser transmitida a outros, devem também entregar sua vida natural à morte.
Assim poderão trabalhar com a vida do espírito, para regeneração de outros. Por mais atraente que seja a
vida da alma, ela não possui força reprodutora. É impossível depender do poder natural como força
propulsora para a realização do trabalho espiritual. A velha criatura jamais pode servir de fonte para a
nova. Na verdade, não pode servir nem de auxílio para ela. Se trabalharmos pela revelação do Espírito
Santo, e na sua força, nossos ouvintes serão convencidos e seus espíritos serão avivados por Deus.
Qualquer outra coisa que lhes oferecermos simplesmente pode se tornar uma idéia magistral, capaz de
produzir algum estímulo temporário, mas sem resultados duradouros. Podemos empregar os mesmos
recursos numa mesma obra. Entretanto os que se originam do poder do espírito tornam-se vida
espiritual. Já os outros, que se valem do próprio poder, se tornam raciocínio natural. E mais. O que
fizermos na força da vida natural aguçará o apetite das pessoas, fazendo-as desejar mais desses
sentimentos e raciocínios, atraindo-as, automática e inevitavelmente, para aquele que satisfaz essas suas
necessidades. Quem desconhece esse fato vai achar que está obtendo sucesso espiritual, pois está
atraindo muita gente para a reunião. Já aquele que tem discernimento percebe que não existe vida no
espírito dessas pessoas. O efeito desse esforço na esfera da religião é semelhante ao do ópio ou do álcool
no corpo. O homem precisa de vida, não de idéias, nem de entusiasmo.
Portanto nossa responsabilidade como cristãos é apresentar nosso espírito a Deus como vaso, e entregar
à morte tudo aquilo que nos pertence. Se não bloquearmos nosso espírito, nem tentarmos dar a outros o
que temos em nós e é proveniente de nós mesmos, Deus poderá usar-nos grandemente como canais de
vida para salvação dos pecadores e edificação dos crentes. Sem isso, tudo que o ouvinte receber é apenas
o pensamento, o raciocínio e o sentimento do obreiro. Essa pessoa nunca vai aceitar o Senhor como
Salvador. E seu espírito morto jamais será vivificado. Considerando que nosso propósito é comunicar
vida ao espírito do homem, nós mesmos devemos estar devidamente preparados. Renunciando de todo o
coração à vida de nossa alma e estribando-nos inteiramente no homem interior, veremos que as palavras
que o Senhor fala através de nossos lábios continuam a ser espírito e vida (Jo 6.63).

DESCONTINUAÇÃO DE UM SERVIÇO CRISTÃO

A obra espiritual invariavelmente flui com o fluir do Espírito Santo - sem hesitação e sem compulsão.
Portanto ela não necessita da força da carne. Não quero dizer com isso que não receba oposição do
mundo, nem ataques do inimigo. O que dizemos simplesmente é que a obra é feita no Senhor, com a
consciência da unção divina. Enquanto Deus quiser realizar a obra, o crente continuará a se sentir
fluindo na corrente do Espírito, por mais difíceis que sejam as circunstâncias ao seu redor. O propósito
do Espírito Santo é manifestar a vida espiritual. O trabalho que realizamos nele desenvolve vida no
espírito. Infelizmente, muitos servos de Deus com freqüência são pressionados pelas circunstâncias a
agir mecanicamente. Tão logo tenhamos consciência disso, devemos nos perguntar se essa obra
mecânica é da vontade do Espírito, ou se Deus o chama para outro serviço. Os servos de Deus precisam
saber que uma tarefa que teve começo espiritual, isto é, no Espírito, pode não continuar sendo espiritual.
Várias obras são iniciadas por ele, e, muitas vezes também, os homens desejam dar-lhes continuidade,
quando ele já não tem necessidade delas. Se considerarmos sempre espiritual toda obra iniciada pelo
Espírito Santo, inevitavelmente estaremos transformando algo espiritual em carnal.
O cristão espiritual que realiza uma obra que se tornou mecânica, não pode mais desfrutar da unção do
Espírito. Por vezes procuramos sustentar uma obra, apesar de Deus tê-la abandonado, considerando-a
desnecessária. Agimos assim por causa da organização exterior que a cerca, tenha ela forma ou não.
Nesse caso, temos de realizá-la valendo-nos dos próprios recursos, e não do poder de Deus. Quando um
crente persiste em trabalhar, mesmo depois de finda a obra espiritual, terá de empregar o poder de sua
alma! e sua força física, para dar-lhe continuidade. No verdadeiro serviço cristão, devemos rejeitar
completamente nossos talentos e dons naturais. Só desse modo poderemos produzir frutos para Deus.
Todo nosso esforço que não é guiado pelo Espírito Santo desmorona! a não ser que o sustentemos com
nosso intelecto, talentos e dons.
Devemos procurar descobrir que parte do nosso trabalho tem a unção do Espírito Santo. Desse modo,
poderemos cooperar com ele, operando dentro do fluir do poder dele. Nosso papel é discernir a corrente
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do Espírito, e segui-la. Se Deus deixar de derramar sua unção em uma tarefa, ou se ela estiver fora do
fluir do Espírito, ou se produzir um sentimento de indolência e lentidão, devemos abandoná-la. Temos
de procurar outro empreendimento que flua com a corrente. O homem espiritual discerne tais fatos mais
rapidamente do que os outros. Para ele, a questão é saber onde está a corrente do Espírito Santo. Onde
está o fluir divino? Qualquer trabalho que traga opressão à vida espiritual que não expresse a vida do
espírito, ou impeça o transbordar do Espírito de Deus, já se tomou um obstáculo, mesmo que tenha
começado muito bem. Devemos cancelá-lo ou corrigi-lo, para que possamos obedecer à vida no espírito.
Podemos ter de alterar nossa maneira de encará-la.
Podemos citar muitos casos, para ilustrar como o povo de Deus se embaraça com uma "organização",
em prejuízo de sua vida. No princípio, esses servos do Senhor receberam um poder espiritual tremendo,
e foram poderosamente usados por Deus para salvar e edificar o homem. Mais tarde, sentiram a
necessidade de ter algum tipo de organização, ou de método, visando a preservar a graça que lhes fora
dada. Devido à necessidade, às solicitações, e, às vezes, às ordens, esses servos tiveram de realizar a
chamada obra de edificação. Desse modo, ficaram amarrados a circunstâncias, e perderam a liberdade
para seguir o Espírito Santo. Gradativamente sua vida espiritual declinou, embora a obra exterior
organizada ainda continuasse prosperando. É assim que temos visto inúmeras derrotas.
Que tragédia se esconde hoje dentro do serviço cristão! Muitos consideram seu trabalho um fardo. São
muitos os crentes que dizem:
"Estou tão ocupado com a obra, que não tenho nenhum tempo para manter comunhão com o Senhor.
Espero ter a oportunidade de suspender a obra temporariamente, a fim de poder restaurar meu espírito
para a próxima tarefa."
Como isso é perigoso! Nossa obra deve ser o fruto da comunhão do nosso espírito com o Senhor.
Devemos realizar cada tarefa com a alegria do transbordar da vida do espírito. Quando um trabalho se
toma um peso e provoca separação entre a vida do espírito e o Senhor Jesus, já está na hora de encerrá-
lo. Toda vez que a corrente do Espírito mudar de curso, devemos procurar descobrir em que direção ela
está indo e segui-la.
Há uma diferença muito grande entre o Espírito Santo encerrar uma obra nossa e Satanás colocar
empecilhos a ela. Muitos crentes costumam ficar confusos, não conseguindo discernir as duas situações.
Se Deus diz: "Pare", mas o crente continua, deixará de realizar a obra com o espírito e tentará sustentá-la
com sua inteligência, seu talento e sua força. Ele pode até tentar resistir ao inimigo. Todavia, sem a
unção do Espírito Santo, não obterá sucesso. Será inútil continuar batalhando. Sempre que um filho de
Deus encontrar resistência no espírito, deverá procurar descobrir imediatamente se essa oposição emana
de Deus ou do inimigo. Se for do inimigo, deverá resistir pelo espírito, através da oração. Assim liberará
seu homem interior, que poderá avançar com Deus. Se, porém, não for do inimigo, à medida que o
crente for continuando, descobrirá que seu próprio espírito se torna mais opresso, "pesado" e sem
liberdade.
Resumindo, então, devemos pôr de lado hoje qualquer obra que não seja determinada por Deus, que há
muito de- veria ter sido abandonada. Falamos da obra que exercer um monopólio total, que não vier do
espírito, que oprimir o espírito e desviar a obra espiritual do rumo certo. Mesmo sendo boa, não
obstante, ela nos priva de outras tarefas mais nobres.

CAPÍTULO 4

ORAÇÃO E BATALHA

Toda oração deve ser espiritual. A que não for espiritual não é genuína, e não pode produzir nenhum
resultado positivo. Como seria abundante o sucesso espiritual, se cada oração feita pelos crentes aqui na
Terra fosse espiritual! Infelizmente, porém, nossas orações, em grande número, são carnais. São
inspiradas pela vontade própria, o que impede a frutificação espiritual dos crentes. Hoje em dia, os
cristãos parecem encarar a oração como um meio para alcançar seus objetivos e propósitos. Se
possuíssem um entendimento um pouco mais profundo, reconheceriam que a oração é apenas o homem
declarando a Deus aquilo que é a vontade de Deus.
Temos de crucificar a carne, não importa onde ela se manifeste. Não há lugar para ela, nem mesmo na
oração. Não é possível misturar a vontade do homem com a vontade de Deus, pois o Senhor rejeita
nossas intenções, mesmo que sejam as melhores, e nossas perspectivas por mais promissoras que sejam.
Não é da vontade de Deus seguir algo que o homem iniciou. Nós é que devemos seguir a direção de
Deus. Não temos nenhum direito de dirigi-lo. Nada de bom podemos apresentar-lhe. O que temos é a
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capacidade de seguir sua direção. Deus não realiza nenhuma obra cuja origem esteja no homem, por
mais que este ore. Ele condena tal oração, pois ela é carnal.
Quando os crentes realmente entram na esfera do espírito, logo vêem como são vazios em si mesmos.
Neles não há absolutamente nada capaz de comunicar vida a outros, nem de impor derrota ao inimigo. É
aí que eles instintivamente passam a depender de Deus. A essa altura, a oração se torna imperiosa. A
verdadeira oração revela o vazio naquele que pede, e também a plenitude daquele a quem pedimos. Se a
carne, por meio da cruz, não tiver sido reduzida a um "vácuo", de que servirá a oração? Qual o seu
possível significado?
A oração espiritual não procede da carne, nem do pensamento, nem do desejo, nem da decisão do crente.
Pelo contrário, ela se resume unicamente naquilo que apresentamos a Deus de acordo com a vontade
dele. Ela é produzida no espírito. Isso quer dizer que só fazemos uma oração espiritual depois que
discernimos a vontade de Deus em nossa intuição. Há um mandamento em que a Bíblia insiste: orar "em
todo tempo no Espírito"(Ef 6.18). Se não orarmos desse modo, estaremos orando na carne. Não devemos
abrir a boca apressadamente ao nos aproximar de Deus. Pelo contrário, primeiro temos de lhe pedir para
nos mostrar pelo que devemos orar, e como orar, antes de apresentarmos nossos pedidos a ele.
Anteriormente, desperdiçávamos muito tempo pedindo aquilo que queríamos. Agora, por que não pedir
aquilo que Deus quer? Não peçamos o que queremos, mas aquilo que ele quer. Quando agimos assim,
não fazemos provisão para a carne. Somente um homem espiritual pode fazer uma verdadeira oração.
Toda oração espiritual vem de Deus. Ele nos mostra aquilo que devemos pedir em oração, revelando-nos
os problemas, que se tornam um “peso” em nosso espírito intuitivo.
Somente um "peso" intuitivo se constitui um motivo de oração. Entretanto, devido à nossa negligência,
muitas vezes não percebemos os leves toques de Deus em nossa intuição! Nossa oração nunca deve ir
além desse "peso" intuitivo. Uma oração, que não tem origem no espírito e não parte dele, procede do
próprio crente. Portanto são da carne. Para que nossa oração não seja carnal, mas eficaz no domínio do
espírito, devemos confessar a fraqueza de não sabermos orar (Rm 8.26), e pedir ao Espírito Santo que
nos ensine. Aí, então, devemos orar obedecendo às instruções dele. Deus nos capacita a orar do mesmo
modo que nos capacita para pregar. Essas duas práticas são igualmente necessárias. Quando
reconhecemos nossa total fraqueza, temos condições de depender do mover do Espírito Santo em nosso
espírito, para orarmos segundo sua vontade. Como é vazio o trabalho realizado na carne! Assim também,
a oração apresentada na carne é completamente infrutífera.
Não devemos orar apenas com o espírito, devemos orar também "com a mente" (1 Co 14.15)! O espírito
e a mente devem atuar juntos na oração. O crente recebe a informação acerca do que ele deve orar no
espírito. Em seguida, a mente entende essa revelação. O espírito assume o "peso" da oração, e a mente
expressa esse "peso" em palavras. Só desse modo a oração do crente é aperfeiçoada. Quantas vezes os
fiéis oram de acordo com os próprios pensamentos, sem receber nenhuma revelação no espírito! Esse
tipo de oração se origina neles mesmos. A verdadeira oração deve ter origem no trono de Deus.
Inicialmente nós a percebemos no espírito, depois entendemos com a mente, e finalmente a expressamos
através do poder do Espírito. O espírito do homem e a oração são inseparáveis.
Para um cristão ser capaz de orar com o espírito, ele precisa aprender, primeiro, a andar segundo o
espírito. Ninguém pode orar com o espírito se durante o dia anda segundo a carne. A condição da vida
do crente durante a oração não pode ser muito diferente do seu caminhar diário. E a verdade é que a
condição espiritual de muitos cristãos, com freqüência, os desqualifica para orar com o espírito. A
qualidade da nossa oração é determinada pela condição do nosso viver. Como pode uma pessoa carnal
fazer uma oração espiritual? No entanto isso não quer dizer que uma pessoa espiritual sempre faça
orações espirituais. Se ela não estiver vigilante, cairá na carne. Se, porém, o homem espiritual orar
frequentemente em seu espírito, manterá seu espírito e mente o tempo todo afinados com Deus. A oração
exercita o espírito, que por sua vez se fortalece por meio desse exercício. Quando negligenciamos a
oração, nosso homem interior se torna ressequido. Nada pode tomar o lugar da oração, nem mesmo o
serviço cristão. Muitos se acham tão preocupados - com a obra de Deus, que dedicam pouco tempo à
oração. Por isso não podem expelir demônios. A oração nos capacita interiormente para vencermos o
inimigo e também para lidarmos com ele no dia-a-dia. Todos os que se ajoelham para batalhar contra o
inimigo, ao se levantarem o vêem derrotado.
É por meio desses exercícios que o homem espiritual se fortalece. Se o crente costuma orar com o
espírito, sua eficácia espiritual crescerá bastante. Ele desenvolverá uma aguda sensibilidade nas questões
espirituais, e ficará livre de toda espécie de insensatez espiritual.
A maior necessidade do cristão espiritual no presente é aprender, pela revelação de Deus em seu espírito,
a detectar os ataques do inimigo, e em seguida expô-los, através da oração. Precisamos perceber
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prontamente qualquer mover de Deus em nosso espírito, para em seguida descobrirmos, por meio da
oração, o que Deus quer que façamos. Oração é trabalho. A experiência de muitos dos filhos de Deus
demonstra que, pela oração, realizamos muito mais do que em qualquer outro tipo de trabalho. A oração
também é conflito, pois é uma das armas com que lutamos contra o inimigo (Ef 6.18). Contudo só a
oração no espírito é genuinamente eficaz.
A oração no espírito é muito poderosa para atacar o inimigo e resistir às suas ciladas. Ela pode destruir
ou edificar. Destrói tudo que provém do pecado e de Satanás, e edifica tudo aquilo que pertence a Deus.
Portanto é uma das armas mais importantes no serviço e na batalha espiritual. Tanto o serviço como a
guerra espiritual dependem da oração. Se o crente não orar, fracassará em tudo.

A BATALHA ESPIRITUAL

Falando de modo geral, um crente que ainda não experimentou o batismo no Espírito Santo não conhece
bem a realidade espiritual. É como o servo de Eliseu, cujos olhos estavam fechados para essa dimensão
da realidade. Ele pode até receber os ensinamentos da Bíblia. Todavia sua compreensão se restringe à
mente, uma vez que ainda carece de revelação em seu espírito. Contudo, depois de experimentar o
batismo, sua intuição adquire uma sensibilidade aguda e ele passa a perceber, através do espírito, um
mundo espiritual que se descortina diante dele. Através do batismo no Espírito Santo, ele toca não
somente no poder sobrenatural de Deus, mas, também, na própria Pessoa de Deus.
E exatamente aí que começa a batalha espiritual. E aí que o poder das trevas se disfarça como anjo de
luz, e tenta imitar a Pessoa e a obra do Espírito Santo. É também o momento em que, pela intuição,
tomamos consciência do reino espiritual e da realidade de Satanás e de seus espíritos malignos. O
Senhor Jesus ensinou as Escrituras aos apóstolos após o Calvário. Contudo foi somente depois do
Pentecostes que eles se conscientizaram da realidade do reino espiritual. O batismo no Espírito assinala
o ponto de partida da batalha espiritual.
O crente entra em contato com a Pessoa de Deus por meio do batismo no Espírito Santo. Com essa
experiência seu espírito é liberado. Ele agora sente a realidade dos fatos e os seres do reino espiritual. De
posse desse conhecimento (e é bom lembrar que o conhecimento espiritual não chega de uma vez só;
parte dele pode, e frequentemente vem, através de muitas provas), ele se defronta com Satanás. Somente
os espirituais conseguem perceber a realidade do inimigo espiritual, e por isso se dispõem a entrar no
combate (Ef 6.12). Essa batalha não se trava com as armas da carne (2 Co 10.4). Por ser um conflito
espiritual, as armas também devem ser espirituais. É uma luta entre o espírito do homem e o do inimigo;
é um combate de espírito contra espírito.
Antes de alcançar esse estágio em seu caminhar espiritual, o filho de Deus não entende a batalha dos
espíritos nem pode se empenhar nela. Só depois que seu homem interior se fortalece pelo Espírito Santo,
é que ele se torna apto a enfrentar o adversário em seu espírito. À medida que cresce espiritualmente, ele
começa a descobrir a realidade de Satanás e de seu reino. Aí então torna-se capaz de resistir ao inimigo
com seu espírito, e também de atacá-lo.
São muitas as razões para tal conflito. A principal tática do inimigo é atacar e bloquear. Satanás muitas
vezes perturba as emoções do corpo físico dos crentes espirituais. Ele bloqueia suas ações, e perturba as
circunstâncias que os cercam. Outra razão desse conflito é a necessidade de lutar por Deus. Assim como
Satanás se opõe a Deus, conspirando no ar e operando na terra, o povo de Deus batalha, empregando o
poder espiritual, com suas orações, no sentido de destruir as conspirações e os planos do inimigo.
Embora os crentes por vezes não saibam com certeza qual a estratégia de Satanás, nem o que ele está
fazendo no momento, continuam na luta, sem lhe dar trégua, pois sabem quem é seu adversário.
Além das duas explicações acima, ainda existe outro motivo para o combate espiritual: a necessidade de
nos livrarmos do engano de Satanás e de libertar as almas enganadas. Depois do batismo no Espírito
Santo, a intuição do espírito dos crentes se torna aguçada e sensível. Apesar disso, porém, eles podem
cair no engano. Para que eles não sejam enlaçados nos ardis do adversário, precisam não apenas de
sensibilidade espiritual, mas também de conhecimento espiritual. Se ignorarem o modo como o Espírito
Santo nos conduz, poderão assumir uma posição passiva, tornando-se cativos do inimigo. O maior erro
que os cristãos podem cometer aí é seguirem algum sentimento ou experiência irracional' em vez de se
deixarem conduzir pelo seu homem interior. Depois do batismo no Espírito Santo, eles entram na esfera
do sobrenatural. Se não reconhecerem as próprias fraquezas, isto é, sua incapacidade de enfrentar o
sobrenatural, serão enganados.
O espírito do crente pode ser influenciado pelo Espírito Santo ou pelo espírito maligno. Aquele que
pensa que seu espírito só pode ser controlado pelo Espírito Santo, mas não pelo espírito maligno, está
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cometendo um terrível engano. Precisamos nos lembrar sempre de que, além do Espírito de Deus, existe
também "o espírito do mundo" (1 Co 2.12), que na verdade é o inimigo espiritual mencionado em
Efésios 6.12. Se o cristão não fechar seu espírito para resistir ao maligno, este poderá usurpá-lo, usando
de engano e da imitação.
Quando um crente se torna espiritual, fica sujeito à influência do mundo sobrenatural. Nesse ponto é de
importância vital que conheçamos a diferença entre "espiritual" e " sobrenatural". Se confundirmos um
com o outro, poderemos ser vítima de muitos enganos. As experiências espirituais procedem do espírito
do crente. Já as sobrenaturais não têm necessariamente a mesma origem. Elas podem emanar dos
sentimentos físicos ou do domínio da alma*. Jamais devemos interpretar as experiências sobrenaturais
como sendo obrigatoriamente espirituais. É preciso examinar nossas experiências para descobrir se elas
chegam até nós através dos órgãos sensoriais externos ou do espírito interior. Nada do que emana do
exterior é espiritual, mesmo que seja genuinamente sobrenatural.
Não devemos aceitar todas as experiências sobrenaturais sem questionamento, porque elas podem ser
obra de Satanás. Não importa como estão nossos sentimentos durante essas experiências, nem de que
modo os fenômenos aparecem ou se apresentam. Devemos sempre investigar sua procedência.
Precisamos observar rigorosamente o mandamento de #I Jo 4.1: “Amados, não deis crédito a qualquer
espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo
mundo fora". As imitações do inimigo vão muito além da imaginação do crente. Se adotarmos uma
atitude humilde, admitindo que podemos nos enganar, nos enganaremos menos. A batalha espiritual é
inevitável justamente por causa das imitações do inimigo. Se não sairmos a campo para enfrentá-lo com
nosso espírito, ele virá até nós para sufocar nossa força espiritual. Nesse conflito, o espírito do crente
batalha contra o espírito maligno, nosso inimigo. Se, porém, o cristão já tiver sido enganado, terá de
lutar para reconquistar a liberdade. Se não, lutará para resgatar outros e impedir que o inimigo o ataque.
Quando nos opomos a cada obra e a cada plano de Satanás, estamos tomando a atitude positiva de
subjugá-lo.
Essas batalhas se travam na força do espírito. É necessário ter poder para guerrear. O cristão precisa
saber lutar contra o agressor, valendo-se do seu espírito. Caso contrário, ele não conseguirá descobrir
como o inimigo vai atacá-lo, nem discernir de que maneira Deus vai conduzi-lo na luta. Se, porém, ele
estiver andando no espírito, aprenderá a orar incessantemente contra os poderes ímpios, em cada ocasião
que isso se fizer necessário. E a cada conflito, seu homem interior se tornará muito mais forte. Ele
descobre que, pela aplicação da lei do espírito, pode vencer não somente o pecado, mas a Satanás
também. No trecho das Escrituras em que Paulo trata do conflito espiritual, podemos logo avaliar como
é importante a força nesse conflito. Antes de mencionar o problema da batalha espiritual (Ef 6.11-18), o
apóstolo exorta seus leitores a se fortalecerem "no Senhor e na força do seu poder" (v. 10). Onde estaria
essa força da qual ele fala? No capítulo 3, ele diz: "Sejais fortalecidos com poder, mediante o seu
Espírito no homem interior" (v. 16). O homem interior é o centro, é o espírito do homem. E é
exatamente aí que os poderes das trevas nos atacam. Ora, se o homem interior estiver fraco, tudo o mais
se tornará fraco. Um espírito frágil produz temor no coração, e assim o crente, automaticamente, fica
sem poder resistir no dia mau. Nossa necessidade primordial é ter um espírito firme. Se não entendermos
a natureza do conflito, não seremos capazes de resistir em nosso espírito aos principados e potestades.
Muitos crentes sentem o espírito livre e leve quando tudo vai bem. Quando surge a guerra, porém, o
espírito fica perturbado, temeroso e preocupado, e finalmente sucumbe. E eles não sabem por que foram
derrotados. O objetivo de Satanás é derrotar-nos. Para isso, ele tenta atrapalhar a ascensão dos crentes,
levando seu espírito a entrar em declínio, a fim de que ele possa ascender. A posição é um fator
importante na batalha. Quando o espírito do crente desmorona, ele perde sua posição celestial. Por causa
disso, os cristãos devem manter um espírito forte, nunca cedendo nenhum terreno ao inimigo.
Depois que o crente espiritual compreende que seu homem interior se fortalece com poder pelo Espírito
Santo de Deus, entende que é absolutamente necessário vencer o adversário. À medida que ele ataca o
inimigo com oração e luta, seu homem interior vai ficando mais vigoroso. Do mesmo modo que um
lutador desenvolve os músculos no combate físico, a força do espírito do cristão aumenta quando ele
combate o adversário. O inimigo desfere um ataque a fim de deprimir seu homem interior, afligindo
assim sua alma. Se o crente reconhecer os ardis do seu agressor, não vai ceder em ponto algum. Pelo
contrário, irá resistir, e sua alma emotiva ficará protegida. A resistência no homem interior força o
inimigo a tomar a posição defensiva.
A resistência é um dos elementos indispensáveis no combate espiritual. A melhor defesa é um ataque
permanente. Temos de resistir com a vontade e também com a força do espírito. Fazer oposição a ele
implica lutar para nos mantermos livres do poder da opressão. Se decidirmos lutar no espírito,
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derrotaremos o inimigo. Se, porém, lhe permitirmos atacar-nos sem lhe opor resistência, nosso espírito
certamente ficará deprimido, definhará bastante. Depois será necessário muito tempo para que ele
recupere sua ascendência. Quem não faz oposição ao inimigo, por meio de seu espírito, frequentemente
se torna subjugado.
Que faremos para resistir? Usar a Palavra de Deus, que é a Espada do Espírito Santo. Quando o crente
recebe a Palavra de Deus, ela se torna espírito e vida para ele. Por isso, ele pode usá-la como arma para
resistir ao diabo. O crente espiritual sabe tirar proveito da Palavra de Deus para rechaçar as mentiras do
inimigo. Agora mesmo está se travando uma batalha no mundo espiritual. Embora não a vejamos com os
olhos da carne, aqueles que estão buscando o crescimento espiritual sentem-na e provam-na. Há muitos
cristãos enganados e acorrentados pelo inimigo, que precisam de libertação. E não é somente do pecado
e da justiça própria que eles necessitam ser libertos. Muitos se acham presos por experiências
sobrenaturais também, e precisam ser libertos. Devido à curiosidade e à perspectiva de experimentarem
sensações agradáveis, os crentes acolhem de bom grado esses fenômenos sobrenaturais. E não
reconhecem que eles apenas incham seu orgulho, sem produzir nenhum resultado duradouro em termos
de uma vida santa e justa, ou de alguma obra espiritual. Quando os espíritos malignos conseguem
enganar o crente, plantam nele uma base. A partir dela, o inimigo gradativamente vai aumentando seu
terreno nesse crente, até que por fim o leva a andar na carne.
Obviamente, quem se acha acorrentado não pode libertar outros. Só quando o crente se liberta
totalmente dos poderes das trevas é que pode vencer o inimigo e resgatar outros. A incidência do perigo
de engano aumenta na mesma proporção do número daqueles que experimentam o batismo no Espírito
Santo. Hoje temos necessidade de um grande grupo de crentes vencedores, que saibam guerrear, para
libertar aqueles que se encontram sob o engano do inimigo. Se a igreja de Deus não tiver membros que
saibam andar no espírito e lutar por meio dele contra o inimigo ela será derrotada! Que Deus possa
levantar crentes assim!

PRINCÍPIOS SOBRE A BATALHA ESPIRITUAL

Cada etapa da caminhada do crente possui seus perigos peculiares. A nova vida que está em nós trava
uma guerra permanente contra tudo que se opõe ao seu crescimento. Durante o estágio físico, trata-se de
uma guerra contra o pecado. No estágio da alma**, a batalha é contra a vida natural. Por fim, no nível
espiritual, essa guerra consiste de ataques contra o inimigo sobrenatural. Somente quando o cristão se
torna espiritual é que seu espírito sofre os ataques desfechados pelo espírito maligno que age nessa
esfera. Por isso, essa luta se chama batalha espiritual. É uma disputa entre espíritos, na qual empregamos
o espírito. Ela raramente acontece-se é que acontece - com crentes não-espirituais. Portanto não
pensemos, nem por um momento, que quando realmente chegamos ao estágio espiritual saímos da zona
de conflito. A vida cristã é um permanente engajamento no campo de batalha. Só depois que o cristão
comparecer à presença do Senhor, é que ele poderá largar as armas. Enquanto ele estiver vivendo pela
alma * * , enfrentará conflitos com a carne e com os perigos próprios dela. Quando ele se torna
espiritual, enfrenta a batalha espiritual e seus perigos peculiares. Inicialmente, há o conflito contra
Amaleque no deserto. Após entrar em Canaã, vem a luta contra as sete tribos. Satanás e suas hostes
malignas só desfecham seu ataque contra o espírito do crente depois que ele se torna espiritual.
Visto que o espírito é alvo de uma atenção toda especial por parte do inimigo, é de todo necessário que o
crente espiritual mantenha o próprio espírito em estado normal e o exercite com freqüência. Ele precisa
controlar todas as sensações do corpo com a máxima cautela, e distinguir cuidadosamente todos os
fenômenos naturais e sobrenaturais. Precisa preservar a mente perfeitamente quieta, sem nenhuma
perturbação, e os sentidos físicos em equilíbrio tranqüilo, sem agitação. O cristão espiritual deve
exercitar sua vontade para recusar e se opor a qualquer engano. Deve buscar seguir o homem interior de
todo o coração. Se em algum momento ele seguir a alma, e não o homem interior, terá perdido um
terreno precioso na batalha espiritual. Nesse combate é necessário ainda ter o cuidado de proteger seu
espírito para que não se torne passivo.
Já mencionamos que devemos ser inteiramente dirigidos pelo homem interior. Assim, devemos esperar,
com nosso espírito, a direção do Espírito Santo. Tudo isso constitui uma verdade fundamental. Contudo
precisamos usar de extrema prudência, para não incorrermos num erro lamentável. Enquanto esperamos
em nosso espírito que o Espírito Santo nos mova e nos guie, jamais deixemos que nosso espírito e todo o
nosso ser caiam em estado de passividade. Isso constitui um enorme perigo, pois esse estado de inércia é
o que oferece maior base para Satanás operar em nós. Por um lado, não devemos fazer nada por nossa
própria força, a não ser obedecer ao Espírito Santo. Por outro, porém, precisamos ser vigilantes, e não
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permitir que nosso espírito, nem qualquer parte do nosso ser, passe a agir mecanicamente, e caia na
inércia. Nosso homem interior deve governar todo o nosso ser com vitalidade, e cooperar ativamente
com o Espírito de Deus.
Quando nosso espírito cai na passividade, o Espírito Santo não tem como usá-lo. Isso se dá porque sua
operação na vida humana é diametralmente oposta à de Satanás. Para o Espírito Santo operar, ele requer
que o homem coopere com ele de maneira ativa. É que ele sempre respeita a personalidade do crente.
Satanás, ao contrário, exige a paralisação total do homem, a fim de tomar a direção e fazer tudo em lugar
dele. O diabo quer que o homem aceite sua obra passivamente. Quer transformar o homem num
autômato. É muito importante que rejeitemos tudo aquilo que é extremo e todo mal-entendido em
matéria de doutrina espiritual. Obviamente não precisamos ter medo de sermos radicais em nossa
obediência ao Senhor. Tampouco precisamos ter receio de sermos radicais no que diz respeito a negar as
obras da carne. Entretanto devemos ser bem vigilantes para não permitir que uma interpretação incorreta
de algo nos leve a tomar posições extremas.
Dissemos antes, com bastante ênfase, que devemos buscar as obras de Deus, pois as coisas que
pertencem ao homem e brotam dele são vãs. Dissemos que só possui valor aquilo que é operado pelo
Espírito Santo através do nosso espírito. Devemos, portanto, aguardar a revelação de Deus com nosso
espírito. Isso é uma grande verdade. Bendito aquele que deseja segui-la. Não obstante aqui está um dos
maiores perigos que existe: o de cair num extremo, por entender algo erradamente. Inúmeros crentes
vêem nessa verdade uma orientação para adotarem um estado de inércia. Acham que precisam esvaziar a
mente para que o Espírito Santo pense por eles. Crêem que devem reprimir as emoções, para que o
Senhor coloque sua afeição neles. Pensam que não devem tomar nenhuma decisão com a própria
vontade, para que Deus possa decidir tudo por eles. Entendem, erradamente, que devem aceitar sem
nenhum questionamento qualquer coisa que lhes ocorra. Acham que seu espírito não deve cooperar
ativamente com o Espírito Santo, mas aguardar passivamente o mover dele. Depois, automaticamente
aceitam como sendo dele qualquer movimento que ocorra.
Isso constitui um engano muito sério. É verdade que Deus quer que toda obra da nossa carne seja
destruída, mas ele não tem o menor propósito de destruir nossa personalidade. Ele não tem nenhum
prazer em nos transformar em autômatos. Pelo contrário, seu prazer está em que cooperemos com ele.
Deus não quer que nos esvaziemos de pensamentos, sentimentos e vontade. Deseja que pensemos o que
ele pensa, sintamos o que ele sente e queiramos o que ele quer. O Espírito Santo nunca toma nosso lugar
para pensar, sentir e querer por nós. Somos nós mesmos que pensamos, sentimos e queremos, fazendo
tudo, porém, segundo a vontade de Deus. Se deixarmos nossa mente, emoções e vontade num estado de
inatividade, isto é, cessarmos toda atividade, tornarmo-nos indolentes, aguardando que uma força
externa venha nos ativar, nosso espírito ficará igualmente passivo. E assim, quando não conseguimos
exercitar nosso espírito, esperando antes ser estimulados por alguma força exterior, Satanás se beneficia
grandemente.
Existe uma diferença fundamental entre a obra do Espírito Santo e a do maligno. O Espírito Santo leva
as pessoas a trabalharem, elas mesmas, jamais pondo de lado a personalidade do homem. Já o maligno
exige a total inatividade do homem, para poder operar em seu lugar, reduzindo seu espírito a mero
autômato. Por isso, tendo um espírito passivo, não só oferecemos ao maligno condições para operar,
como também atamos a mão do Espírito Santo. É que ele não opera sem a cooperação do crente. Nessas
circunstâncias, o poder maligno inevitavelmente tentará tirar proveito da situação. Antes de o cristão se
tornar espiritual, ele não corre o perigo de se deparar com o poder satânico. Contudo, assim que se torna
espiritual, o maligno ataca seu homem interior. O cristão carnal jamais experimenta essa passividade do
espírito. Somente o espiritual corre o perigo de deixar o espírito vagando.
Devido a um conceito errôneo de destruição da carne, o cristão pode permitir que seu homem interior
mergulhe num estado de inércia. Isso concede ao maligno oportunidade de imitar o Espírito Santo. Se o
crente esquecer que o inimigo também pode influenciar seu espírito, e não apenas o Espírito Santo,
certamente vai aceitar qualquer mover no seu espírito como sendo do Espírito Santo. Assim, ele estará
cedendo terreno a Satanás, que busca destruir seu bem-estar moral, mental e físico, submetendo-o a
sofrimentos indescritíveis.
É exatamente isso que acontece com muitos crentes que já experimentaram, o "batismo no Espírito
Santo". Eles não entendem que tal experiência os leva necessariamente a um, contato mais profundo
com o mundo espiritual. Assim acham-se expostos tanto à influência do Espírito Santo quanto do
maligno. Quando estão experimentando um batismo no espírito, consideram qualquer experiência
sobrenatural como sendo o batismo no Espírito Santo. Eles realmente foram batizados no espírito.
Entretanto aqui cabe uma pergunta contundente: Em que espírito foram batizados? No Espírito Santo, ou
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no espírito maligno? Ambos podem ser considerados como "batismo no espírito". Se os crentes não
souberem que o Espírito Santo requer a cooperação do espírito deles, e que o Senhor jamais violenta sua
personalidade, eles deixam seu homem interior cair em passividade, permitindo que alguma força
exterior os inflame, confunda ou derrote. Em suma, foram batizados no espírito maligno. Isso acontece a
muitos crentes.
Existem alguns cristãos que são de fato batizados no Espírito Santo. Contudo, por não serem capazes de
distinguir entre espírito e alma, depois tornaram-se vítimas de engano. Por causa dessa experiência
especial, afirmam que não devem dar nenhum passo, mas devem permanecer completamente passivos,
já que estão sob o pleno controle do Espírito Santo. Desse modo, seu homem interior mergulha numa
inércia total. Satanás começa, então, a proporcionar-lhes sensações agradáveis e exageradas, além de um
grande número de visões, sonhos e experiências sobrenaturais. Eles acolhem todas elas, achando que
procedem do Espírito Santo. Nã9 percebem que seu espírito inerte as atrai como se fosse um ímã. Se
fossem capazes de fazer distinção entre o sensacional e sobrenatural e o que é espiritual, esses crentes
teriam examinado essas experiências. Todavia, por falta de discernimento e um espírito passivo, eles
ficam cada vez mais envolvidos no engano do inimigo.
Quando o espírito do crente se torna cada vez mais inativo, sua consciência faz o mesmo. Quando esta
se torna passiva, ele então espera que o Espírito Santo o conduza diretamente, seja pela sua voz, seja
através de versículos das Escrituras. Acha que ele não mais o conduzirá através da consciência ou de
decisões vindas da intuição. Acredita que ele o conduzirá por um caminho mais elevado. O Espírito
Santo, imagina ele, lhe falará diretamente, ou indiretamente através de alguns versículos bíblicos.
Deixando de empregar a consciência e permitindo que ela fique inativa, o crente é vítima de engano.
Está deixando que Satanás dirija seu viver diário. O Espírito Santo, porém, fiel aos princípios pelos
quais ele opera, sempre se abstém de tomar posse da consciência do homem e de usá-la para seus fins.
Somente Satanás se aproveita da ocasião para assumir a direção da vida do crente, por meio de vozes
sobrenaturais e de outros artifícios, em vez dos instrumentos certos que são a consciência e a intuição. À
medida que a consciência desses crentes vai se tornando mais passiva, e o maligno passa a dirigi-los,
eles começam a abaixar seu padrão moral. Passam a achar, então, que estão vivendo segundo um
princípio de vida mais elevado. Com isso, passam a tratar as questões imorais como não tão imorais.
Deixam também de crescer na vida e na obra. Em vez de exercitar seu poder intuitivo para detectar
aquilo que o Espírito Santo tem para eles, ou de usar sua consciência para discernir o que é certo e
errado, eles simplesmente seguem a voz sobrenatural que vem do exterior e os reduz a autômatos. Esses
cristãos pensam que se trata da voz de Deus. Não dão ouvidos ao próprio raciocínio nem à sua
consciência, nem ao conselho dos outros. Tornam-se as pessoas mais obstinadas do mundo. Não
admitem ouvir ninguém. Imaginam-se obedecendo a uma lei de vida mais elevada do que o restante dos
seus companheiros. Encaixam-se perfeitamente na descrição do apóstolo: eles "têm cauterizado a
própria consciência" (1 Tm 4.2). A consciência deles precisa ser despertada! Resumindo, nesse conflito
espiritual devemos manter nosso homem interior em constante atividade, totalmente submisso ao
Espírito Santo, mas não de maneira passiva, para não sermos enganados pelo inimigo. Se nosso espírito
não estiver ativo e operante, ficaremos imobilizados, mesmo que o adversário não nos ataque. É que,
assim, o inimigo poderia bloquear todas as saídas, impedindo nosso espírito de operar, de servir e de
batalhar. Ele sofreria como se estivesse "sufocado". Por isso, nosso homem interior deve estar sempre
ativo e pronto para o combate. Devemos resistir a Satanás constantemente, para que ele não nos ataque
de todos os lados.
Outro princípio muito importante sobre batalha espiritual que precisamos aprender é o de que devemos
atacar a Satanás incessantemente. O objetivo disso é impedir que ele nos ataque. Quando o crente
penetra no terreno espiritual, deve manter o espírito permanentemente em atitude de combate. Precisa
orar também para derrotar todas as obras. de Satanás, operadas pelos poderes malignos. Caso contrário,
ele verá seu espírito cair do céu, tornando-se enfraquecido e débil e perdendo gradativamente sua
capacidade de percepção. Por fim, será difícil detectá-lo. A razão é que ele permitiu que seu homem
interior caísse num estado passivo, que o impede de lançar-se ao ataque. Desse modo, ele cede terreno
ao inimigo que, a partir daí ataca seu espírito, cerca-o e o imobiliza. Se, porém, o cristão diariamente o
liberar, e de contínuo resistir ao inimigo, manterá o espírito mobilizado.
E a cada dia, este se tomará mais forte.
O cristão deve livrar-se de todos os conceitos errados a respeito da vida espiritual. Antes de começar a
viver pelo espírito, ele costuma achar que, se apenas pudesse ser tão espiritual quanto determinado
irmão, seria extremamente feliz! Ele imagina a odisséia espiritual como uma experiência de felicidade.
Por isso, acredita que terá uma vida de pura alegria. Mal sabe ele que o oposto é que é verdade. A
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caminhada espiritual não nos proporciona nenhum prazer. Pelo contrário, é uma vida de luta diária. Se
removêssemos os conflitos da vida espiritual, ela deixaria de ser espiritual. A vida em espírito é
caracterizada por sofrimentos, cheia de vigílias e trabalho, sobrecarregada de fadigas e provações, e
pontilhada de tristezas e conflitos. É uma vida totalmente devotada ao reino de Deus, em que temos de
abrir mão totalmente da felicidade própria. O cristão carnal vive para si mesmo, e para seu próprio
prazer "espiritual". Contudo ele é de pouco préstimo para Deus. Só depois que morre para o pecado e
para sua vida pessoal é que Deus pode usá-lo.
Uma vida espiritual é a que tem utilidade espiritual, isto é, que desfere ataques seguidos contra o
inimigo espiritual de Deus. Devemos ser zelosos para com Deus, atacando incansavelmente o inimigo,
sem jamais permitir que nosso espírito, que é de muitíssima utilidade, mergulhe na passividade.

SEGUNDA PARTE

A ANALISE DO ESPIRITO

CAPÍTULO 5

INTUIÇÃO

Para entendermos melhor o que é a vida espiritual, precisamos analisar claramente o espírito e assimilar
todas as suas leis. Temos de nos inteirar bem de suas diversas faculdades, e conhecer as leis que as
regem. Só depois de nos familiarizarmos com essas leis poderemos andar segundo o espírito, isto é, de
acordo com as leis dele. Isso é indispensável para que tenhamos de fato a vida espiritual. Não devemos
nunca temer a possibilidade de adquirir conhecimentos excessivos sobre o espírito. Contudo devemos
ficar extremamente receosos se, nessa busca, usarmos nossa mente em demasia.
As boas novas de Deus para o homem é que o caído pode ser regenerado, e o carnal pode receber um
novo espírito, que servirá de base para uma nova vida. O que costumamos chamar de vida espiritual é
simplesmente viver de acordo com esse espírito, que recebemos por meio da regeneração. É lamentável
que os crentes sejam tão ignorantes acerca das faculdades do espírito, bem como de outras questões que
lhe dizem respeito. Embora possam até já ter ouvido falar a respeito do papel do espírito no homem, não
são capazes de identificar o próprio espírito em seu ser. Não sabem onde ele se encontra, ou então
pensam que os próprios sentimentos e pensamentos são faculdades do espírito. Portanto é absolutamente
essencial que façamos uma análise dessas faculdades, pois sem elas nenhum crente pode viver segundo
o espírito.

AS FACULDADES DO ESPÍRITO

Mencionamos anteriormente que as faculdades do espírito são intuição, comunhão e consciência.


Embora seja possível distingui-las, elas se acham intimamente interligadas. Desse modo, é difícil
examinar uma sem tocar nas outras. Quando falamos sobre a intuição, por exemplos naturalmente temos
de incluir em nossa análise a consciência e a comunhão. Assim, ao dissecar o espírito, devemos
necessariamente examinar suas três faculdades. Já citamos essas faculdades. Agora, vamos procurar
descobrir como elas são exatamente, para aprendermos a viver segundo o espírito. Podemos dizer que
esse viver é regido pela intuição, pela comunhão e pela consciência.
Essas três são simplesmente as faculdades do espírito. (Elas não são as únicas; de acordo com a Bíblia,
são apenas as principais.) Nenhuma delas é o espírito em si, pois ele mesmo é substancial, pessoal e
invisível. Não podemos ter percepção da substância do espírito. No presente, isso está além da nossa
compreensão. O conhecimento que hoje temos dessa substância nos chega por meio de suas várias
manifestações em nós. Não tentaremos aqui solucionar mistérios futuros. Buscaremos apenas conhecer a
vida espiritual. Basta-nos conhecer essas faculdades, ou habilidades, e o modo como podemos seguir o
espírito. Ele não é material, e tem existência própria, dentro de nosso corpo. Portanto deve possuir a
própria substância, na qual se encontram as capacidades de que o homem precisa para realizar aquilo
que Deus exige dele. Por isso, o que precisamos conhecer não é a substância, mas as faculdades do
espírito.
Anteriormente comparamos o homem ao templo, e o espírito do homem, ao Santo dos Santos. Vamos
continuar usando essa metáfora. Assim a intuição, a comunhão e a consciência do espírito correspondem
à arca que se encontra no Santo dos Santos. Em primeiro lugar, dentro da arca acha-se a lei de Deus, que
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instrui os israelitas acerca daquilo que eles devem fazer. Então, é por intermédio da lei que Deus revela a
si mesmo e também a sua vontade. Da mesma maneira, é pela intuição do crente que ele nos faz
conhecer a si mesmo e também a sua vontade, para andarmos de acordo com ela. Em segundo lugar,
sobre a arca está o propiciatório, espargido com o sangue. Nele, Deus manifesta sua glória e recebe a
adoração do homem. Semelhantemente, cada pessoa redimida pelo sangue tem o espírito vivificado.
Através desse espírito vivificado, ela adora a Deus e tem comunhão com ele. Da mesma forma que Deus
se manifestava a Israel sobre o propiciatório, hoje ele comunga com o crente por meio de seu espírito
purificado pelo sangue. Terceiro, a arca é chamada de "a Arca do Testemunho" , porque nela estão
guardados os Dez Mandamentos, como o testemunho de Deus a Israel. As duas tábuas da lei,
silenciosamente, reprovavam ou aprovavam os atos do povo de Israel. Assim também a consciência do
crente, na qual o Espírito de Deus escreveu a lei de Deus, dá testemunho a favor de sua conduta ou
contra ela. "Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha
própria consciência." (Rm 9.1.)
E como os israelitas tinham respeito pela arca! Quando atravessaram o Rio Jordão, eles só tiveram a
direção que lhes vinha da arca, e a seguiram sem hesitação. Em Jericó, só lutaram depois de marchar
atrás dela. Mais tarde, quando tentaram usá-la segundo seus critérios pessoais, não puderam resistir aos
filisteus. E Uzá foi ferido de morte, quando estendeu a mão carnal para segurá-la. E, depois, como o
povo de Israel se alegrou quando prepararam uma habitação para ela! (51132.) Esses incidentes nos
ensinam a ser bastante cuidadosos com nossa arca, que é o nosso espírito, com suas três faculdades.
Agindo assim, teremos vida e paz. Contudo, se permitirmos que a carne interfira, só encontraremos uma
completa derrota. Para Israel, a vitória não dependia do que ou como o povo pensava, mas sim de
seguirem a arca. A utilidade espiritual do homem está em sua intuição, comunhão e consciência, e não
nos seus pensamentos.

A INTUIÇÃO

Assim como a alma tem sentidos, o espírito também tem. Ele está intimamente relacionado com a alma,
porém é muito diferente dela. A alma possui vários sentidos. E o homem espiritual ainda é capaz de
detectar vários outros - alojados na parte mais profunda do seu ser - que são radicalmente diferentes do
grupo de sentidos da alma*. Nesse ponto mais profundo, ele pode regozijar-se, entristecer-se, prever,
amar, temer, aprovar, condenar, decidir e discernir. Percebemos essas sensações em nosso espírito. E elas
são bem distintas das que a alma manifesta através do corpo.
Nos versículos seguintes (com grifos do autor), temos exemplos desses sentidos do espírito e do caráter
múltiplo deles.
"O espírito, na verdade, está pronto." (Mt 26.41.)
"Percebendo logo por seu espírito. " (Mc 2.8.)
"Jesus, porém, arrancou do íntimo do seu espírito um gemido." (Mc 8.12.)
"E o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador." (Lc 1.47.)
"Adorarão o Pai em espírito e em verdade." #Jo 4.23.)
"Agitou-se no espírito e comoveu-se." ao 11.33.)
"Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito. #Jo 13.21
"O seu espírito se revoltava. " (At 17.16.)
"E, sendo fervoroso de espírito. " (At 18.25. )
"Paulo resolveu, no seu espírito. " (At 19.21.)
"E agora, constrangido em meu espírito. " (At 20.22. )
"Sede fervorosos de espírito. "(Rm 12.11.)
"Por que qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? "#I Co
2.11.
"Cantarei com o espírito." (1 Co 14.15.)
"Se tu bendisseres apenas em espírito. " (1 Co 14.16.)
"Não tive, contudo, tranqüilidade no meu espírito. "(2 Co 2.13. )
"Tendo, porém, o mesmo espírito da fé. "(2 Co 4.13.)
"Espírito de sabedoria e de revelação. "(Ef 1.17.)
"Vosso amor no espírito" (CL 1.8 - versão original.)

Com base nessas passagens, vemos que o espírito claramente sente, e que esse sentir é múltiplo. Aí, a
Bíblia não está dizendo que o coração sente, e sim que o espírito sente. E parece que o sentir do espírito
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é tão amplo como o da alma. O espírito, do mesmo modo que a alma, tem pensamentos, sentimentos e
desejos. E como necessitamos aprender a fazer distinção entre o espiritual e o que é da alma*! Para
sermos capazes de perceber essa diferença, precisamos experimentar o amadurecimento produzido pela
operação profunda da cruz e do Espírito em nossa vida.
É vivendo espiritualmente que o crente desenvolve de modo pleno seu senso espiritual. Antes de
experimentarmos a divisão da alma e do espírito, e a união com o Senhor em um espírito, esse senso
espiritual acha-se bastante embotado. Todavia, quando o poder do Espírito Santo é derramado em nosso
espírito, nosso homem interior se fortalece, passando a possuir o senso dos amadurecidos. Só então ele
pode entender o múltiplo sentir do seu espírito.
O "sentir" espiritual é chamado de J' intuição", porque exerce sua função diretamente, sem razão ou
causa. Sem passar por nenhum processo, ele se manifesta de maneira direta. Já o "sentir" comum é
resultante de nosso contato com pessoas, coisas ou acontecimentos. Nós nos regozijamos ou nos
entristecemos, por exemplo, quando temos razão para isso. O mesmo acontece com outros sentimentos.
Cada um deles tem uma causa, por isso não podemos concluir que sejam uma expressão da intuição,
nem um "sentir” direto. O “sentir” espiritual, por outro lado, não precisa de uma causa exterior. Emerge
diretamente de dentro do homem.
Existe muita semelhança entre a alma e o espírito. Entretanto o crente não deve andar segundo a alma,
isto é, não deve seguir seus pensamentos, sentimentos e desejos. A vontade de Deus para seus filhos é
que eles andem segundo o espírito. Os outros modos de viver pertencem à velha criatura. Por isso são
destituídos de qualquer valor espiritual. Mas, como é andar segundo o espírito? É viver pela intuição,
pois ela expressa o pensamento do espírito, que, por sua vez, expressa a mente de Deus.
Muitas vezes pensamos em algo que desejamos fazer. Temos boas razões para realizá-lo. Nosso coração
se deleita nisso, e, por fim, nossa vontade decide executá-lo. Entretanto, de alguma forma, em nosso
santuário interior, parece levantar-se uma voz inaudível, que se opõe fortemente àquilo que nossa mente
acolheu, nossas emoções sentiram e nossa vontade decidiu realizar. Essa estranha impressão parece dar a
entender que não devemos realizar esse ato. As experiências desse tipo podem variar, de acordo com as
alterações das condições. Em outras ocasiões, podemos sentir, na profundeza de nosso ser essa mesma
“força”, sem palavra ou som, que nos impulsiona, nos move, e nos constrange a praticar determinado ato
que consideramos por demais irracional. E geralmente é algo que contraria aquilo que geralmente
fazemos ou desejamos, e algo de que também não gostamos.
Que sentimento é esse, tão diferente da nossa mente, emoções e vontade? É a intuição do espírito. O
espírito se expressa através da intuição. Essa faculdade é completamente distinta do nosso sentimento
emotivo. Muitas vezes nos sentimos inclinados a praticar determinados atos, mas essa intuição, que é
profunda e sem palavras, nos adverte seriamente contra isso. Ela é totalmente contrária à nossa mente.
Esta última acha-se localizada em nosso cérebro e é de natureza racional. Já a intuição tem sede em
outro lugar, e muitas vezes é oposta ao racional. O Espírito Santo se comunica conosco através da
intuição. Costumamos dizer que somos movidos pelo Espírito. Isso significa que o Espírito nos revela
sua vontade intuitivamente, operando em nosso espírito. É exatamente aí que podemos distinguir aquilo
que vem do Espírito de Deus daquilo que vem de nós mesmos, ou de Satanás. O Espírito Santo habita
em nosso espírito, que é o centro do nosso ser. Por isso, o pensamento dele, que se manifesta através da
nossa intuição, deve brotar do ponto mais profundo do nosso interior. E como ele é diferente do
pensamento, que se origina na periferia de nosso ser! Se um conceito vem do nosso homem exterior, isto
é, da mente ou das emoções, podemos ter certeza de que vem de nós mesmos, e não do Espírito Santo. O
que vem dele deve brotar nas profundezas de nosso ser. Da mesma forma, fazemos distinção entre o que
é do Espírito e o que vem de Satanás (com exceção do que ocorre com os endemoninhados). Ele não
habita em nosso espírito, mas no mundo. "Maior é aquele que está em vós ( o Espírito Santo) do que
aquele que está no mundo (Satanás)." (1 Jo 4.4.) Satanás só pode nos atacar de fora para dentro. Ele atua
através da lascívia e das sensações do corpo, ou através da mente e das emoções da alma. Todas essas
faculdades pertencem ao homem exterior. Por isso, precisamos aprender a identificar se nossos
sentimentos provêm do interior ou do exterior.

A UNÇÃO DE DEUS
A intuição da qual temos falado é exatamente o ponto onde ocorre a unção que nos ensina tudo. "E vós
possuís unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento... a unção que dele recebestes permanece
em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a
respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos
ensinou." (1 Jo 2:20,27 -grifo do autor.) Esse trecho das Escrituras revela de modo bem claro onde e
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como a unção do Espírito Santo nos ensina. Antes de examinar essa passagem, vejamos, primeiro, qual é
o significado de "ter conhecimento" e de "entender". Geralmente não fazemos distinção entre essas duas
palavras. Contudo, nas questões espirituais, a diferença é incalculável: o espírito "sabe", a mente
"entende". O crente "sabe" (ou "conhece") as coisas de Deus pela intuição do seu espírito. Estritamente
falando, a mente pode apenas " compreender"; ela jamais pode "saber". O saber é obra da intuição
espiritual; o compreender é tarefa da mente. O Espírito Santo capacita nosso espírito a saber. Nosso
espírito instrui a mente para compreender. Teoricamente, pode parecer difícil fazer distinção entre esses
conceitos. Na realidade, porém, eles são tão distintos como o trigo e o joio. Os crentes da atualidade são
tão ignorantes em sua busca do conhecimento da mente do Espírito Santo que não têm idéia de como
podem distinguir o "saber" do "compreender".
Não é verdade que muitas vezes experimentamos uma indescritível sensação interior, pela qual sabemos
se devemos ou não praticar determinado ato? Então podemos di~r que conhecemos a mente do Espírito
Santo em nosso espírito. Entretanto ainda assim nossa mente pode não entender o significado de tudo.
Nas questões espirituais, é possível termos conhecimento sem o entendimento. Existem ocasiões em
que, esgotados os recursos de nossa mente, recebemos o ensinamento do Espírito Santo em nosso
espírito e jubilosamente gritamos: "Compreendi"? E é verdade também que, por vezes, nossa mente
entende algo que o Espírito Santo diz muito tempo depois de termos obedecido, agindo de acordo com o
que ele manifestou em nossa intuição. Aí, então, exclamamos: “Agora compreendo". Essas experiências
mostram que " conhecemos" o pensamento de Deus pela intuição, em nosso espírito, e " entendemos"
sua orientação com a mente, em nossa alma.
O apóstolo João fala da operação da intuição quando afirma que a unção do Senhor, que habita no
crente, o instrui em todas as coisas, capacitando-o a conhecer tudo, de modo que não há necessidade de
que ninguém o ensine. O Senhor dá o Espírito Santo a todos nós, para que ele possa habitar em nós,
guiando-nos a toda verdade. E como é que ele nos guia? Através da intuição. Ele revela sua mente no
espírito do crente. A intuição possui a capacidade de discernir os toques do Espírito, bem como o
significado deles. Assim como através da mente nos instruímos nas questões seculares, a intuição nos
ensina nas espirituais. O termo "unção" , no original, significa " a ação de aplicar ungüento". Isso indica
o modo como o Espírito Santo ensina e fala no espírito do homem. Ele não fala do céu com uma
trovoada. Tampouco lança o crente no chão com uma força irresistível. Não. Ele opera suavemente no
espírito, através de sensações na intuição. Da mesma maneira que nos sentimos fisicamente aliviados
quando aplicamos ungüento em alguma parte do corpo, nosso espírito sente a unção do Espírito com
grande suavidade. Quando a intuição tem consciência de algo, isso é sinal de que o espírito está
compreendendo a mensagem do Senhor.
Para o cristão fazer a vontade de Deus, ele só precisa estar atento aos comandos da sua intuição. Não há
necessidade de perguntar a outros, nem a si mesmo. A unção lhe ensina a respeito de tudo. A unção
jamais o abandona, e nunca permite que ele venha a fazer decisões independentes. Quem deseja andar
segundo o espírito precisa reconhecer isso. Nossa responsabilidade é apenas aceitar o que a unção
determina. Não precisamos decidir nada acerca do nosso caminho. Aliás, ela não permite que façamos
isso. Qualquer ato ou prática que não estiver sob a direção da unção não passa de atitude nossa. A unção
opera de modo independente. Ela não requer nossa ajuda. Ela se expressa sem depender das indagações
da nossa mente ou da agitação das nossas emoções. A unção opera no espírito do homem, capacitando a
intuição para conhecer o pensamento de Deus.

Discernimento.

O contexto desse mesmo trecho das Escrituras revela a preocupação do apóstolo com muitos
ensinamentos falsos, e com os anticristos. Ele afirma que o mesmo Espírito Santo que nos unge também
nos ensina a distinguir a verdade da mentira, e a discernir o que é de Cristo daquilo que é dos anticristos.
O crente não tem necessidade de que outros o instruam, já que a unção que nele habita lhe ensina tudo.
Isso é discernimento espiritual, uma tremenda necessidade hoje. Se, para saber a verdade, tivéssemos de
raciocinar muito, analisar referências teológicas, ou então de meditar, discutir, comparar, pesquisar,
observar e exercitar muito a mente, só os cultos e os bem-dotados escapariam do engano. Todavia Deus
não tem consideração para com as coisas velhas. Ele determinou que tudo deve desaparecer, salvo o
novo espírito recém-criado. Será que essa sabedoria humana que Deus reservou para a destruição pode
ajudar alguém a conhecer o bem e o mal? Não, definitivamente não! Deus põe seu Espírito no espírito
do crente, mesmo que ele seja extremamente néscio e pecador. O Espírito que nele habita lhe ensinará o
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que é de Deus, e o que não é. Por isso, às vezes, mesmo sem poder citar alguma razão lógica, somos
contrários a determinados ensinos que ouvimos. Apesar de não haver causa aparente para essa oposição,
no fundo do nosso ser, surge uma firme resistência contra eles. Não sabemos o motivo disso, entretanto
nosso sentido interior nos diz que tal doutrina é enganosa. Outras vezes ouvimos algum ensinamento que
difere por completo daqueles que costumamos aceitar, e que também não queremos seguir. Por outro
lado, algumas vezes, ouvimos dentro de nós uma voz suave que nos fala persistentemente, afirmando:
este é o caminho, andai por ele. Podemos levantar muitos argumentos contrários a essa voz, e até mesmo
tentar sufocá-la com argumentos racionais, mas ela persiste em dizer que estamos errados.
Essas experiências mostram que nossa intuição espiritual, através da qual o Espírito Santo opera, é capaz
de distinguir, ela mesma, o bem do mal, sem nenhuma ajuda das observações e da investigação da
mente. Seja qual for a condição do nosso intelecto natural, basta seguirmos o Senhor sincera e fielmente
para recebermos o ensino da unção. No que diz respeito a questões espirituais, um médico muito culto
(não-crente) acha-se no mesmo barco que um camponês; ambos não as entendem. E as pessoas
instruídas podem cometer mais erros do que os analfabetos. Hoje, os falsos ensinamentos estão bastante
disseminados. Há muitos falsos mestres que, com palavras enganadoras, apresentam mentiras como se
fossem verdades. Como precisamos do discernimento no espírito! Nesta nossa época de confusão
teológica e manifestações sobrenaturais nem a doutrina mais interessante, o cérebro mais inteligente e os
conselheiros mais esclarecidos merecem nossa confiança. E só os que se apegam intuitivamente ao
ensinamento da unção acham-se livres do engano. Devemos pedir ao Senhor para tornar nosso espírito
mais ativo e puro. Devemos seguir a voz suave que vem da intuição espiritual, em vez de nos intimidar e
nos deixar levar pelo conhecimento que outros possuem, não dando atenção ao alarme de advertência
que soa dentro de nós. Caso contrário, cairemos em heresia, ou nos tornaremos fanáticos. Se seguirmos
com serenidade o ensino da unção, seremos libertos da confusão de mente e da compulsão que as
emoções ruidosas exercem sobre nós.

O RELACIONAMENTO COM OUTROS

Não devemos nunca julgar as pessoas. Entretanto precisamos conhecê-las, a fim de descobrirmos como
devemos conviver com elas, e ajudá-las. É nesse sentido que perguntamos, observamos e investigamos.
Infelizmente, porém, isso tudo muitas vezes nos conduz ao erro. Não estamos afirmando que tais
práticas sejam absolutamente inúteis, não. Cremos apenas que elas ocupam um lugar secundário no
conhecimento das pessoas. Um espírito puro, muitas vezes, demonstra um discernimento inconfundível.
Lembramo-nos muito bem de certas observações que fizemos, quando crianças, a respeito de várias
pessoas que tivemos a oportunidade de conhecer. Com o passar do tempo, constatamos que essas
observações correspondiam à realidade. Muitos anos se passaram. Nosso conhecimento, experiência e
observações aumentaram bastante. Entretanto nossa capacidade de conhecer as pessoas parece ter de
algum modo diminuído.
Quando éramos crianças e fizemos tais observações, não tínhamos nenhuma razão que as justificasse.
Eram apenas idéias que nos vinham ao coração. Anos mais tarde, percebemos que aquilo que "
sentimos" naquela ocasião era verdade. Quando crianças, não investigávamos nem inquiríamos
minuciosamente para dizer o que dissemos. Aliás, nem poderíamos ter algum motivo justo para falar o
que falamos. O que aconteceu, então? Aquilo era a operação de uma intuição pura. Obviamente esse
exemplo apresentado pertence ao campo natural. No espiritual, caso desejemos o discernimento
espiritual, é necessário que passemos por uma conversão, para nos tornarmos como criancinhas.
Observemos o Senhor Jesus. "E Jesus, percebendo logo por seu espírito que eles assim arrazoavam,
disse-lhes." (Mc 2.8.) Aqui vemos a operação da intuição. As Escrituras não afirmam que o Senhor Jesus
pensou, nem que sentiu em seu coração. Tampouco dizem que o Espírito Santo lhe revelou algo. Foi seu
espírito que manifestou essa perfeita habilidade. O sentimento espiritual no homem Jesus Cristo era
absolutamente puro, sensível e nobre. Por isso, seu espírito logo revelava o que as pessoas ao redor
estavam questionando interiormente. Ele lhes falou segundo seu conhecimento intuitivo espiritual. Essa
deve ser a condição normal de todo homem espiritual. Nosso espírito, onde habita o Espírito Santo,
acha-se livre para atuar e, cheio do poder do conhecimento, pode exercitar controle sobre todo o nosso
ser. Assim como o espírito humano do Senhor Jesus operava durante sua peregrinação terrena, assim
também nosso espírito deve ser ativado pelo Espírito que habita em nós.

A REVELAÇÃO
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A Bíblia chama de revelação o conhecimento de tudo por meio da intuição espiritual. Isso significa que
o Espírito Santo capacita O crente a compreender determinado assunto, fazendo-o conhecer a natureza
dele em seu espírito. Tanto "no que diz respeito à Bíblia como a Deus, só um tipo de conhecimento tem
valor: a verdade que o Espírito de Deus revela ao nosso espírito. Deus não revela a si mesmo a nós por
meio do raciocínio humano. Tampouco chegamos a conhecê-lo através da razão. Mesmo que o homem
tenha uma mente muito arguta, ou que conheça muito a Deus, esse conhecimento permanece velado. Ele
só pode racionalizar o que está por detrás do véu, já que não penetrou a realidade que se acha oculta à
sua vista. O homem pode "entender" , mas, por não ter "visto" ainda, jamais pode " conhecer". Se ele
não receber uma revelação pessoal, o cristianismo não tem nenhum valor para ele. Todo aquele que crê
em Deus precisa ter a revelação divina em seu espírito. Se não tiver, na verdade, ele crê não em Deus,
mas na sabedoria, nos ideais e palavras humanas. Essa fé não passa nas provações.
A revelação espiritual não é uma visão, nem uma voz celestial, um sonho ou uma força externa que
abala o homem. É possível alguém experimentar esses fenômenos, sem, contudo, ter uma revelação. A
revelação espiritual acontece na intuição, tranquilamente, sem pressa nem lentidão, sem som, mas ainda
assim com uma mensagem. Muitos se dizem cristãos, embora o cristianismo que abraçam seja apenas
uma espécie de filosofia de vida, ou um sistema ético, um pouco de verdade, ou algumas manifestações
sobrenaturais. Tal atitude não provém de um novo nascimento nem de um novo espírito. Existem muitos
"cristãos" cuja utilidade espiritual é igual a zero. Não são assim aqueles que de fato receberam a Cristo.
Pela graça de Deus, eles perceberam, em seu espírito, a realidade do mundo espiritual, que se abriu para
eles como se alguém tivesse lhes tirado uma venda dos olhos. O que conhecem hoje é muito mais
profundo do que aquilo que puderam compreender em sua mente.
E como se enxergassem um novo significado em tudo aquilo que, no passado, haviam apenas entendido
ou compreendi- do. Agora conhecem tudo de modo completo e genuíno, porque o espírito viu. "Nós
dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto." (Jo 3.11 -grifo do autor.) Isso é cristianismo.
Uma pesquisa intelectual jamais liberta o homem. Somente uma revelação no espírito nos proporciona o
verdadeiro conhecimento de Deus.

VIDA ETERNA

Muitos dizem: "Se cremos, temos a vida eterna". Que vida é essa que obtivemos? É uma vida que, sem
dúvida nenhuma, aponta para uma bênção que teremos no futuro. Mas o l que é que a vida eterna
significa para nós hoje? "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste. #Jo 17.3 - grifo do autor. Essa vida se constitui, já no presente, de uma nova
capacidade de conhecer a Deus e ao Senhor Jesus. Isso é uma grande verdade. Todo aquele que crê no
Senhor, e desfruta da vida eterna, adquire um conhecimento intuitivo de Deus que não possuía antes. Ter
a vida eterna não é um slogan. É uma realidade que se pode demonstrar e manifestar no presente. Aquele
que não possui essa vida pode até fazer indagações acerca de Deus, mas não o conhece pessoalmente. Só
depois de receber a nova vida, pela regeneração, é que o homem realmente conhece a Deus através da
intuição espiritual. É possível uma pessoa entender a Bíblia, e, no entanto, seu espírito permanecer
morto. Ela pode estar familiarizada com a teologia, e mesmo assim não ter vida no espírito. Pode até
mesmo trabalhar fervorosamente em nome do Senhor, mas não possuir nenhuma vida espiritual. A
Bíblia faz uma pergunta profunda: "Podes tu pela pesquisa encontrar a Deus, ou descobrir perfeitamente
o Todo-Poderoso?" #Jó 11.7. Por mais que nos esforcemos mentalmente, não nos tornamos capazes de
conhecer a Deus. Quem não tiver um espírito vivificado, nem mesmo com a mente é capaz de perceber a
Deus. A Bíblia só reconhece um tipo de conhecimento, o que ocorre na intuição espiritual.

COMO DEUS NOS ORIENTA

O crente deve "crescer" no conhecimento de Deus, do mesmo modo que obteve o primeiro
conhecimento dele: no seu espírito. Na vida cristã, só tem algum valor espiritual aquilo que provém da
revelação que ocorre na intuição espiritual. Algo que não brota do espírito não é da vontade de Deus.
Tudo aquilo em que pensamos, tudo que sentimos ou decidimos, se não for precedido de uma revelação
no espírito, é como nada aos olhos de Deus. Se o crente seguir pensamentos repentinos, ou um "fogo
ardente" que brota em seu coração, se seguir sua inclinação natural, um raciocínio perfeito ou a
racionalização, estará apenas ativando mais uma vez seu velho homem. Não é desse modo que se
conhece a vontade de Deus. Ele se revela somente ao espírito do homem. O que não provém de uma
revelação divina não passa de atividade humana.
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Entendemos a vontade de Deus com a cabeça, mas esta nunca é a fonte dessa vontade. A vontade de
Deus se origina nele mesmo. E, por meio do seu Espírito, ele a revela ao espírito do homem. Este, por
sua vez, transmite ao homem exterior, através da mente, aquilo que o interior veio a conhecer. Assim o
cristão é capaz de praticar a vontade de Deus. Se, porém, em vez de buscar saber o propósito de Deus
em seu espírito, o cristão se puser a sondar sua mente, ficará confuso, pois os pensamentos sempre
mudam. Aquele que segue a mente jamais é capaz de dizer: "Eu sei, com certeza, que esta é a vontade de
Deus". Só temos essa certeza fj; essa fé profunda quando recebemos revelação no espírito.
Existem duas maneiras pelas quais Deus revela sua vontade ao nosso espírito. Às vezes ele o faz de
forma direta, e às vezes dando resposta a um pedido nosso. A direta é aquela em que Deus comunica ao
nosso espírito algo que ele deseja que façamos. Ao recebermos essa revelação na intuição espiritual,
agimos de acordo com ela. A outra forma de revelação é aquela em que Deus se comunica conosco, em
nosso espírito, quando nos aproximamos dele, buscando saber sua vontade com relação a alguma
situação específica. Os crentes novos em geral operam nesse segundo tipo de revelação; os mais
maduros, na direta. É importante observar, porém, que isso não é regra geral, apenas a tendência
predominante. A dificuldade do crente novo consiste no fato de que ele fica impaciente ao aguardar a
revelação divina. Então, em vez de fazer a vontade de Deus, faz a própria vontade, apresentando-a como
a de Deus. Ele deveria era esperar diante do Senhor, resistindo às próprias opiniões, sentimentos e
desejos. Mas não o faz e, por causa disso, fica à mercê das acusações de sua consciência. Em seu
coração ele pode até ter um sincero propósito de obedecer ao desejo de Deus. Entretanto
involuntariamente ele segue o próprio pensamento, pois carece do conhecimento espiritual. Sem
revelação, quem pode evitar erros?
Só o conhecimento adquirido através do espírito é espiritual. Qualquer outro é totalmente mental. Esse é
o segredo para se identificar o verdadeiro conhecimento. Vamos pensar nisso por um momento. Como é
que Deus conhece tudo? Como é que ele faz seu julgamento? De que conhecimentos ele lança mão para
controlar o Universo? Ele faz averiguações com a mente, da mesma maneira que o homem faz? Ele
precisa pensar com cuidado para depois entender? Deus depende da filosofia e da lógica ou precisa fazer
comparações para conhecer um assunto? Ele precisa investigar e pesquisar, para encontrar a resposta? O
Altíssimo é compelido a depender da sua inteligência? Decididamente não. Deus não necessita se
entregar a práticas tão fatigantes. Seu conhecimento e julgamento são intuitivos. Na verdade, a intuição
espiritual é uma faculdade comum a todos os seres espirituais. Os anjos obedecem àquilo que
intuitivamente sabem ser a vontade de Deus. Eles não tiram conclusões por meio de argumentações,
raciocínios ou meditação. A diferença entre o conhecimento intuitivo e o mental é imensurável. Dessa
distinção depende o nosso sucesso ou fracasso espiritual. Se o crente tivesse de dirigir seus atos ou
serviço pela razão ou pelo bom senso, ninguém jamais tentaria realizar as gloriosas obras espirituais do
passado e do presente, pois muitas delas se"acham acima do raciocínio humano. Quem ousaria realizá-
las, se primeiro não tivesse conhecido a vontade de Deus através da intuição espiritual?
Todo aquele que mantiver um relacionamento íntimo com Deus, desfrutando de uma comunhão
profunda e de uma união espiritual com ele, receberá a revelação divina em sua intuição espiritual. E
assim terá entendimento claro do que deve fazer. É verdade que seus atos não vão conquistar a simpatia
dos homens, pois estes não conhecem aquilo que ele viu. De acordo com a sabedoria humana, suas ações
podem até ser completamente destituídas de sentido. Os crentes espirituais não sofrem esse tipo de
oposição? Os sábios segundo o mundo não os têm rotulado de loucos? Até mesmo seus irmãos carnais
proferem julgamento semelhante. E por que isso acontece? Porque a velha vida, das pessoas mundanas
ou dos crentes carnais, não consegue entender o modo de agir do Espírito Santo. Os crentes mais
racionais geralmente criticam seus irmãos menos racionais, dizendo que têm um "fervor cego". É que
não reconhecem que estes é que são os verdadeiramente espirituais, que vivem de acordo com a
revelação que receberam por meio da intuição espiritual.
Precisamos ter muito cuidado para não confundir a intuição espiritual com emoção. Muitos cristãos
emocionais, em seu fervor, podem apresentar manifestações semelhantes às dos cristãos espirituais.
Todavia não podemos atribuir a origem delas à intuição. Semelhantemente, os cristãos racionais, muitas
vezes, podem apresentar um discernimento parecido com o dos crentes espirituais. Entretanto isso não
implica necessariamente que receberam uma revelação na intuição espiritual. Da mesma maneira que os
crentes emocionais, os racionais também são da alma*. O fervor do espírito ultrapassa o de natureza
emocional. O homem espiritual é "justificado em espírito" (1 Tm 3.16), e não aprovado pelas emoções
ou raciocínios carnais. Se deixarmos a elevada posição do espírito para seguirmos o sentimento e o
raciocínio, que são manifestações da carne, imediatamente perderemos terreno. Assim, estaremos
voltando ao Egito, visível e tangível, em busca de ajuda, como fez Abraão. O espírito e a alma se
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movem independentemente. Enquanto o espírito não tiver assumido uma posição superior para dominar
o homem em sua totalidade, a alma não cessará de lutar contra ele.
Quando o espírito é vivificado, e depois fortalecido pelo poder e pela disciplina do Espírito Santo, a
alma cede o lugar que havia usurpado, e retoma à sua condição de submissão. E pouco a pouco ela vai se
tornando "serva" do espírito. Semelhantemente o corpo, depois de subjugado, torna-se servo da alma. O
espírito recebe a revelação de Deus através da intuição espiritual, enquanto a alma e o corpo, operando
em conjunto, executam a vontade do espírito. Esse
\processo não tem fim. Alguns servos de Deus têm mais o que negar que outros, já que seu espírito não é
tão puro. É' que ficaram durante muito tempo saturados de conhecimentos e de emoções mentais. Muitos
se acham tão cheios de preconceitos que não desfrutam de um espírito aberto para aceitar a verdade de
Deus. Esses precisam é de um tratamento divino, no sentido de liberarem sua intuição espiritual para
receberem o ensinamento do Senhor.
Precisamos entender como é importante saber fazer distinção entre as experiências espirituais e as da
alma * .As experiências espirituais recebem essa designação porque provêm de Deus e nós as
experimentamos em nosso espírito. Já as da alma* provêm do próprio homem, e não emergem através
do espírito. Portanto é perfeitamente possível um homem não-regenerado conhecer toda a Bíblia,
aprender com exatidão e erudição as doutrinas essenciais do cristianismo, aplicar zelosamente todos os
seus talentos no serviço cristão e até abalar seus ouvintes com uma eloqüência maravilhosa. Contudo ele
permanece na esfera da alma, sem ter dado sequer um passo à frente. Isso acontece porque seu espírito
continua morto como sempre. Ninguém vai entrar no reino de Deus por meio de nosso incentivo,
argumento, influência, entusiasmo, capacidade de persuasão ou de atração. Eles só poderão entrar
através do novo nascimento, ou seja, da ressurreição do espírito. A nova vida que nos invade na
regeneração traz consigo muitas capacitações inerentes. E o poder de conhecer a Deus intuitivamente
não é a menor delas.
Naturalmente isso não significa que a mente ou inteligência do homem seja totalmente inútil. Ela tem
um papel a desempenhar. Todavia precisamos nos lembrar de que o intelecto é de importância
secundária, não primária. Não é pelo nosso intelecto que temos percepção de Deus e de suas realidades.
Se fosse, a vida eterna seria destituída de sentido. Essa vida eterna, ou nova vida, é o espírito
mencionado em João 3. Percebemos a Deus através dessa vida eterna, ou espírito, que recebemos. O
papel da mente é explicar ao nosso homem exterior aquilo que conhecemos em nosso espírito, e também
expressá-lo a outros, para que eles o entendam. Em suas cartas, Paulo deixa bem claro que o evangelho
que ele prega não se originou no homem. Ele não o comprou por atacado da mente de alguém, nem o
vendeu no varejo à mente de outros. Não; ele o conheceu através da revelação. Mesmo que um cristão
tenha uma mente privilegiada, seu ensino não deve provir do seu raciocínio, seja ele repentino ou
progressivo. Sua mente apenas coopera com o espírito dele na comunicação daquilo que lhe foi revelado
através da intuição espiritual. O cérebro é apenas o mecanismo transmissor do conhecimento espiritual,
não o receptor.
Nossa comunhão com Deus se passa totalmente no espírito. O homem só pode conhecer a Deus por
meio da intuição espiritual. Em seu espírito, o homem se eleva às regiões invisíveis e eternas de Deus.
Podemos dizer que a intuição espiritual é o cérebro do santuário interior. Quando dizemos que o espírito
do homem está morto, estamos afirmando que sua intuição espiritual se acha insensível para com Deus e
suas realidades. Quando dizemos que o espírito controla o homem total, queremos dizer que as várias
faculdades da alma e todos os membros do corpo se afinam perfeitamente com a vontade de Deus, que
conhecemos por meio da intuição espiritual. Nós cremos que a regeneração é absolutamente
indispensável. O homem não pode perceber a Deus por meio das faculdades da alma*. Nada pode
substituir a intuição espiritual. Se o homem não receber de Deus uma nova vida, e sua intuição não
ressuscitar, ele estará eternamente separado de Deus. O novo nascimento é um requisito fundamental.
Não se trata apenas de um marco na vida, e tampouco de uma alteração moral. A vida de Deus realmente
entra em nosso espírito, vivificando sua intuição. É absolutamente impossível ao homem agradar a Deus
por meio de boas obras, pois elas não passam de uma operação da alma. Sua intuição espiritual está
morta para com Deus. Do mesmo modo, o homem não pode gerar em si mesmo o novo nascimento, pois
não possui em si a capacidade de produzir a nova vida. Se Deus não o gerar, ele não pode gerar a si
mesmo. Também a capacidade humana de entender ensinamentos não possui nenhum valor para a obra
de Deus, pois esta tem de ser realizada por Deus. Ao homem resta, então, entregar-se nas mãos de Deus,
para que o Senhor opere. Se não confessarmos que tudo o que pertence ao homem é inútil, e não
permanecermos na morte do Senhor Jesus, aceitando a vida dele, nosso espírito permanecerá morto para
sempre. Os métodos humanos não podem levar ninguém a aceitar o Senhor Jesus como Salvador, nem
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dar vida à intuição espiritual. E no entanto o homem insiste em empregar a mente em vez da intuição
espiritual. Ele pensa e até mesmo cria muitas filosofias, religiões e sistemas éticos. Entretanto o que é
que Deus diz a respeito disso? "Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os
meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os
vossos pensamentos." (Is 55.9.) Um homem pode até ter reflexões muito profundas, mas seus
pensamentos são terrenos, e não celestiais. Após a regeneração, Deus capacita nossa intuição espiritual a
conhecer os pensamentos dele e a perceber seus caminhos, para que possamos segui-lo. Todavia, como
os crentes são esquecidos! Esquecemo-nos do que aprendemos na regeneração. São incontáveis os
crentes que vivem seu dia-a-dia de acordo com sua mente e coração. No serviço cristão, tentamos tocar a
mente, as emoções e a vontade de outros, empregando nosso intelecto, fervor e esforço. Deus deseja nos
mostrar que nossa alma não tem nenhum valor ou importância espiritual no serviço de Cristo. E ele até
permite que sejamos derrotados na obra espiritual e fiquemos abatidos, frios e infrutíferos, para assim
poder destruir a sabedoria, o fervor e a habilidade da nossa vida natural. E uma lição como essa não se
aprende em um ou dois dias. Precisamos da instrução de Deus durante toda a vida, a fim de reconhecer
que, se não seguirmos a intuição do espírito, tudo mais será vão.
Agora surge o dilema: Quando a intuição espiritual e a alma tiverem opiniões contrárias, qual das duas
devemos seguir? A resposta a essa pergunta é que vai dizer quem deve governar nossa vida, e que
caminho devemos seguir. Nosso homem exterior e nosso homem interior - o da carne e o do espírito
-estão lutando para assumir o controle. No início da nossa vida cristã, nosso espírito lutava contra as
paixões da carne. Agora a batalha é entre o espírito e a alma. No início, o combate dizia respeito ao
problema do pecado. Agora não é uma questão de bem e mal, mas do bem natural contra o bem de Deus.
Antes contendíamos pela qualidade das coisas. Agora, estamos preocupados com a origem delas. Trata-
se de um conflito entre o homem interior e o exterior. É uma guerra entre a vontade de Deus e as boas
intenções do homem. Aprender a andar no espírito é algo que o novo homem tem de fazer pelo resto da
vida. Se alguém seguir inteiramente o espírito, obterá vitória completa sobre a carne. Quando o Espírito
Santo fortalece nosso espírito vivificado, podemos destruir totalmente nossa inclinação para as coisas da
carne, e nos inclinar para as coisas do espírito. Isso é vida e paz.

CAPÍTULO 6

A COMUNHÃO

Comunicamo-nos com o mundo material através do corpo, e com o espiritual através do espírito. Essa
comunicação com o espiritual não se realiza por intermédio da mente, ou da emoção, mas através do
espírito, ou seja, de sua faculdade intuitiva. Depois que já vimos como nossa intuição opera, torna-se
fácil entender a natureza da comunhão entre Deus e o homem. A fim de cultuar a Deus e manter
comunhão com ele, o homem precisa possuir uma natureza semelhante à dele. "Deus é espírito; e
importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." (Jo 4.24 - grifo do autor.) É
impossível haver comunicação entre duas naturezas diferentes. Por isso, tanto o ir regenerado, cujo
espírito obviamente não foi vivificado, como o regenerado, que não emprega seu espírito para adorar a
Deus, acham-se desqualificados para ter uma comunhão genuína com o Senhor. Ter pensamentos
elevados e sentimentos nobres não leva ninguém à realidade espiritual. Tampouco produzem uma
comunhão pessoal com Deus. Nossa comunhão com ele se passa no ponto mais fundo do nosso ser, que
é mais profundo do que nosso pensamento, nosso sentimento e nossa vontade. Refiro-me à intuição
espiritual.
Examinando atentamente os textos de 1 Coríntios 2.9 a 3.2, podemos ter uma visão clara de como o
homem comunga com Deus, e de como ele pode conhecer as realidades de Deus através da intuição do
espírito.

O CORAÇÃO DO HOMEM

"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano, o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam." (1 Co 2.9.) O contexto desse versículo fala de Deus e daquilo que
diz respeito a ele. O que o Senhor preparou não pode ser visto nem ouvido pelo corpo do homem, nem
captado por seu coração. O "coração humano" possui, entre outras faculdades, o entendimento, a mente
e o intelecto. Nosso intelecto não pode visualizar a obra de Deus, pois esta transcende a mente humana.
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É evidente, portanto, que aquele que deseja conhecer a Deus e ter comunhão com ele não pode depender
apenas do seu pensamento.

O ESPÍRITO SANTO

"Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as
profundezas de Deus." (1 Co 2.10.) Esse versículo mostra que o Espírito San- to perscruta tudo, e não
que nossa mente capta tudo. Só o Espírito Santo conhece as profundezas de Deus. Conhece o que o
homem não conhece. O Espírito, por sua intuição, sonda todas as coisas. Desse modo, Deus é capaz de
nos revelar através dele realidades que nosso coração jamais concebeu. Essa "revelação" não vem depois
de muito pensar, pois nosso coração não pode nem mesmo concebê-la. É uma revelação que vem de
Deus, que dispensa a ajuda do nosso intelecto.
Os dois versículos seguintes mostram de que maneira Deus se revela.

O ESPÍRITO DO HOMEM

"Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,
também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido
o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi
dado gratuitamente." (1 Co 2.11,12.) Ninguém conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito
do homem. Do mesmo modo, ninguém conhece as coisas de Deus, senão o Espírito Santo. O espírito do
homem, e também o Espírito de Deus, percebem tudo de forma direta, e não por dedução ou pesquisa. É
através da faculdade da intuição espiritual que eles têm percepção das realidades. E visto que somente o
Espírito Santo conhece as coisas de Deus, se quisermos conhecê-las também precisamos recebê-lo. O
espírito do mundo não mantém comunicação com Deus. É um espírito morto, e não pode ter comunhão
com ele. O Espírito Santo, porém, compreende as coisas de Deus. Portanto, quando percebemos em
nossa intuição espiritual algo que o Espírito Santo conhece, passamos também a compreender as
realidades de Deus. "Temos recebido... o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por
Deus nos foi dado gratuitamente." Como é que conhecemos, então? O versículo 11 diz que o homem
conhece aquilo que lhe diz respeito pelo seu espírito. O Espírito Santo revela ao nosso espírito aquilo
que ele conhece intuitivamente, a fim de podermos também conhecer dessa mesma forma. Quando o
Espírito Santo nos revela aquilo que concerne a Deus, não o faz em nossa mente, nem em nenhuma
outra parte de nosso ser, mas em nosso espírito. Deus sabe que o homem só pode perceber tanto as
próprias realidades, como as espirituais, em seu espírito. A mente não é o lugar certo para conhecermos
tais realidades. É verdade que ela possui uma capacidade muito grande de pensar e de conceber, mas não
de conhecer aquilo que pensa ou que concebe.
Com base nisso, podemos perceber com clareza a altíssima conta em que Deus tem o espírito vivo do
homem regenerado. Antes do novo nascimento, nosso espírito estava morto. Deus não tinha como
revelar-nos sua mente. Mesmo quem possui um cérebro privilegiado não é capaz de conhecer a mente de
Deus. Para termos comunhão com Deus ou para adorá-lo, dependemos de um espírito regenerado. Não
havendo essa condição, haverá uma lacuna intransponível entre ambos. Um não poderá chegar até o
outro. O primeiro passo para que haja essa comunhão é que o espírito do homem seja vivificado.
Como o homem possui uma vontade livre, tem autoridade para decidir sobre tudo que lhe diz respeito. É
por isso que, mesmo depois do novo nascimento, ele continua sujeito a muitas tentações. Por uma
questão de insensatez, ou talvez de preconceito, ele não coloca sua intuição espiritual na posição de
comando. Deus escolheu o espírito para ser o lugar onde ele vai manter comunhão com o homem e o
homem, com ele. Todavia o crente continua vivendo guiado por sua mente e emoções. E quantas vezes
ele ignora por completo a voz da intuição espiritual! O princípio básico de sua vida é seguir aquilo que
ele mesmo considera razoável, belo, agradável ou interessante. Mesmo quem possui um coração
desejoso de fazer a vontade de Deus, normalmente enxerga suas idéias impulsivas ou um pensamento
lógico como sendo essa vontade. Não reconhece que deveria seguir apenas o pensamento manifestado
pelo Espírito Santo em sua intuição espiritual. Algumas vezes ele pode estar querendo ouvir essa
intuição. Todavia, por não ser capaz de silenciar os próprios sentimentos, ela lhe parece vaga e confusa.
Desse modo, o "andar segundo o espírito", em vez de ser uma experiência contínua na vida cristã diária,
torna-se algo eventual.
Se o conhecimento inicial da vontade de Deus é tão difícil, não admira que não tenhamos uma revelação
ainda mais profunda. Como podemos, então, conhecer verdadeiramente, em nosso espírito, o plano de
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Deus para o fim desta era, a realidade da batalha espiritual, e as verdades mais profundas da Bíblia?
Assim é que, ao adorar a Deus, fazemos simplesmente aquilo que julgamos ser melhor, ou que sentimos
impulsivamente. Desse modo, a comunhão com o Senhor em nossa intuição espiritual naturalmente é
um fenômeno desconhecido para nós.
O crente deve saber que apenas o Espírito Santo compreende as coisas de Deus, e isso intuitivamente. E
só ele pode comunicar esse conhecimento ao homem. Contudo, para obtê-lo, precisamos empregar os
meios adequados, ou seja, precisamos receber na intuição espiritual aquilo que o Espírito Santo conhece
intuitivamente. Então é pela atuação conjunta da intuição do Espírito Santo com a nossa que nos
capacitamos a perceber a mente de Deus.
"E comunicamos isto em palavras não ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito
Santo interpretando verdades espirituais àqueles que possuem o Espírito”. (1 Co 2.13 -RSV.) Como é
que vamos comunicar a outros as coisas de Deus, os fatos que discernimos pela intuição espiritual?
Depois que conhecemos as realidades de Deus, temos a responsabilidade de proclamá-las. O apóstolo
Paulo declara categoricamente que não as transmite coma-s palavras próprias da sabedoria humana. Tal
sabedoria pertence à mente do homem e é produto da inteligência. Paulo afirma que não emprega as
palavras que vêm da mente para comunicar aquilo que seu espírito conhece a respeito das coisas de
Deus. E o apóstolo possui, em si mesmo, grande sabedoria. Ele tem a capacidade de formular frases
novas e maravilhosas, e entregar a mensagem de modo eloqüente e bem elaborado, usando também
parábolas ilustrativas. Ele consegue fazer com que os ouvintes entendam o que ele quer dizer. E no
entanto ele se recusa usar a terminologia própria da sabedoria humana. Essa declaração e essa atitude de
Paulo indicam que a mente humana, além de inútil no conhecimento das realidades espirituais, ocupa
posição secundária na transmissão desse conhecimento. .
O apóstolo proclama as realidades de Deus através de palavras ensinadas pelo Espírito. Ele recebe a
instrução divina em sua intuição espiritual. Na vida do cristão nada tem valor, a não ser aquilo que está
no seu espírito. Para transmitirmos conhecimento espiritual, precisamos empregar palavras espirituais. A
intuição espiritual, se apropria não apenas daquilo que o Espírito Santo revela, mas também das palavras
que ele ensina, a fim de expressar a revelação que recebeu. Muitas vezes um crente tenta comunicar a
outros aquilo que Deus lhe revelou de maneira bem clara. Contudo, apesar de todo seu esforço, não
encontra palavras para transmitir o significado fundamental da mensagem! Por quê? Porque não recebeu
essas palavras em seu espírito. Em outras ocasiões, porém, quando espera diante do Senhor, ele sente
que algo se levanta no centro do seu ser. Talvez sejam apenas algumas palavras. Entretanto elas são
suficientes para fazê-lo comunicar adequadamente aquilo que o Espírito lhe revelou. Ele compreende
então que Deus realmente o usa para testificar para o Senhor.
Tais experiências atestam a importância da "comunicação" proveniente do Espírito Santo. Existem dois
tipos de comunicação: a natural e a que é concedida pelo Espírito.
A comunicação registrada em Atos 2. 4 é indispensável no " serviço espiritual. Ainda que sejamos muito
eloqüentes na esfera natural, somos incapazes de comunicar realmente as coisas de Deus. Podemos
achar que falamos muito bem, entretanto não temos conseguido expressar o pensamento do Espírito.
Somente usando as palavras espirituais, isto é, a terminologia que recebemos no espírito, é que podemos
transmitir a outros o conhecimento espiritual. Quando sentimos o "peso" da mensagem do Senhor em
nosso espírito, como se fosse um fogo queimando por dentro, mas não temos os meios para expressá-la,
devemos esperar que o Espírito nos conceda a capacidade de comunicá-la. Só assim poderemos
proclamar a mensagem do nosso espírito, liberando-nos daquele "peso". Se, inadvertidamente,
empregarmos a linguagem própria da sabedoria humana, em vez de esperarmos as palavras que o
Espírito Santo nos concede intuitivamente, descobriremos que nossa eficiência espiritual fica reduzida a
zero. Um discurso fundamentado simplesmente na sabedoria terrena só pode levar os ouvintes a dizerem
que a doutrina que apresentamos realmente é boa. Às vezes, desfrutamos de muitas experiências
espirituais, mas não sabemos expressá-las verbalmente. Afinal, um dia, outro crente diz uma palavra, e
aí conseguimos expô-las. A explicação disso é que só recebemos as palavras explícitas do Senhor em
nosso espírito naquele momento em que ouvimos outra pessoa falando dessa experiência em termos
simples.
As verdades espirituais precisam ser expressas através de palavras espirituais. Para alcançar fins
espirituais, precisamos empregar meios espirituais. É isso que Deus quer nos ensinar hoje. As metas
espirituais só podem ser aperfeiçoadas por meio dos processos espirituais correspondentes. O carnal, por
si mesmo, nunca poderá se tornar espiritual. Se pensarmos que vamos atingir nossos objetivos espirituais
através da mente e das emoções, estaremos, por assim dizer, esperando que, de uma fonte amarga, jorre
água doce. Tudo o que se relaciona com Deus, como a busca da sua vontade, a obediência aos seus
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mandamentos, e a proclamação da sua mensagem, só terá eficácia se nascer da comunhão com o Pai em
nosso espírito. Deus considera como "morto" tudo o que realizamos através de nossos pensamentos,
talentos ou métodos.

AS COISAS DA ALMA * E AS DO ESPÍRITO

"Ora, o homem natural (original: soulical, da alma) não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." (1 Co 2.14- grifo do
autor.) O homem da alma* é aquele que ainda não nasceu de novo e, portanto, não possui um novo
espírito. Como sua faculdade intuitiva está morta para com Deus, ele possui apenas as faculdades da
alma. É verdade que ele está apto para decidir do que gosta, ou não gosta, empregando o raciocínio e a
afeição. Entretanto não pode receber as coisas do Espírito de Deus, pois não possui um espírito
regenerado. Embora seja capaz de pensar e de fazer observações, ainda carece do poder intuitivo básico.
Não pode receber aquilo que Deus revela exclusivamente ao espírito do homem. Em verdade, a
capacidade natural do homem é totalmente inadequada. Ele é de fato muito capaz. Todavia nada pode
substituir a intuição espiritual. Esse homem está morto para com Deus, e por isso não tem condições de
receber as coisas de Deus. Nada no homem da alma* é capaz de manter comunhão com o Senhor. A
mente humana o intelecto e o raciocínio, por mais admiráveis que sejam, são tão corruptos quanto os
desejos carnais e as paixões da alma. Todos são igualmente incapazes de compreender a Deus. Até
mesmo o homem regenerado, se tentar comunicar-se com Deus usando sua mente e observação (como
faz o ir regenerado), em vez de fazê-lo por seu espírito renovado, é absolutamente incapaz de perceber
as I realidades de Deus. Nossos dons naturais não sofrem mudança após a regeneração. A mente
continua sendo mente, e a vontade, vontade. Jamais podem ser transformadas em elementos capazes de
manter comunhão com Deus. Quem é da alma * não somente não pode receber as coisas de Deus, como
também as considera loucura. Pela avaliação da mente, os assuntos que nos chegam ao conhecimento
através da intuição espiritual não passam de loucura. Tais questões lhe parecem irracionais, contrariam a
natureza humana ou a sabedoria terrena, ou entram em choque com o bom senso. A mente se deleita em
tudo que é lógico, aberto à análise, e psicologicamente interessante. Entretanto Deus não é regido por
leis humanas. E por isso que suas ações parecem loucura para quem é da alma * .A loucura a que o
apóstolo se refere aí, sem sombra de dúvida, é uma alusão à crucificação do Senhor Jesus. A palavra da
cruz não fala apenas do Salvador que morreu em nosso lugar, mas também i dos crentes que morreram
com o Salvador. Tudo aquilo que I diz respeito à vida natural tem de passar pela morte na cruz. A mente
pode aceitar isso como teoria, mas, na prática, com certeza fará oposição.
Como o homem da alma * não aceita a palavra da cruz, obviamente não pode saber de que se trata. Para
ele recebê-la, tem antes de compreendê-la. Quem a recebe revela possuir um espírito vivificado. Quem
não consegue recebê-la, não o possui. Quem tem a capacidade de conhecer demonstra que sua faculdade
intuitiva está viva. Quem não a tem dá mostras de que ela está morta. Para uma pessoa ser capaz de
receber as coisas de Deus, seu espírito precisa antes ser vivificado. Com o espírito vivo, ela adquire
também a capacidade intuitiva de assimilar as coisas de Deus. Só o espírito do homem conhece os
pensamentos do homem. O homem da alma * não pode discernir as realidades de Deus, porque não
possui aquele novo espírito, que tem o poder intuitivo de discernimento.
E o apóstolo Paulo explica por que o homem da alma * é incapaz de receber e conhecer as coisas
pertinentes a Deus: “Porque elas se discernem espiritualmente" Observemos que o Espírito Santo
enfatiza repetidas vezes que o espírito do homem é o lugar de comunhão com Deus. O objetivo central
desse trecho das Escrituras é provar que a única base para o homem ter algum tipo de comunhão com
Deus e conhecer as questões espirituais é o espírito humano.
Cada um desses elementos possui sua própria função. É verdade que exercitamos o espírito para
conhecer as realidades espirituais. Contudo não estamos querendo menosprezar o uso das faculdades da
alma. Elas são úteis, mas devem desempenhar, aí, um papel secundário. Devem estar sob controle, e não
no controle. A mente deve submeter-se ao comando do espírito e seguir aquilo que a intuição espiritual
entende ser a vontade de Deus. Ela não deve formar as próprias idéias para depois exigir que o homem
todo lhe obedeça. A emoção também deve obedecer aos ditames do espírito. O de que ela gosta ou não
gosta deve estar de acordo com as afeições do espírito, e não com as dela. A vontade também deve
inclinar-se para as coisas que Deus revelou no espírito, através da intuição espiritual. Não deve tomar
decisões que estejam em desacordo com a vontade de Deus. Se o crente mantiver essas faculdades da
alma* em posição secundária, ele dará passos gigantescos em sua caminhada cristã. Infelizmente, muitos
cristãos dão a elas o primeiro lugar, e assim removem o espírito da posição certa. Por isso não é de se
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estranhar que eles não vivam segundo o espírito, ou, que sua vida seja destituída de qualquer valor
espiritual. Precisamos reconduzir o espírito à posição que lhe foi designada. O crente deve aprender a
esperar a revelação de Deus no espírito. Se este não retomar ao lugar elevado que lhe cabe, o homem
ficará impedido de conhecer aquilo que pode conhecer somente pelo espírito. É por isso que, no
versículo 13, o apóstolo acrescenta: II conferindo coisas espirituais com espirituais II, pois somente os
que são dotados de sensibilidade espiritual podem conhecer as coisas no espírito. porém o homem
espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.1I (1 Co 2.15.) O homem
espiritual é aquele que é dirigido pelo espírito, e que possui uma intuição altamente sensível. Seu
espírito se acha qualificado para desempenhar suas funções, porque seu silêncio não é perturbado pela
mente, nem pela emoção, nem pela vontade da alma. Por que é que o homem espiritual pode julgar
tudo? Porque sua intuição depende do Espírito Santo para adquirir conhecimento. E por que ele não é
julgado por ninguém? Simplesmente porque ninguém sabe como, nem o que o Espírito Santo comunica
à intuição espiritual dele. Se o conhecimento do crente dependesse do seu intelecto, ninguém poderia
fazer nenhum julgamento, a não ser os naturalmente inteligentes. A educação e os conhecimentos
seculares então seriam indispensáveis. Aquele que possui grande inteligência seria também julgado
pelos que são tão inteligentes quanto ele, ou mais, pois estes certamente seriam capazes de descobrir sua
linha de pensamento. O conhecimento espiritual, porém, é baseado na intuição do espírito. Não existe
limite para o conhecimento do cristão espiritual que possua uma intuição sensível. Sua mente pode até
se! embotada, mas o Espírito Santo pode conduzi-lo à realidade espiritual e seu espírito pode iluminar
sua mente. A maneira de o Espírito se revelar realmente ultrapassa as expectativas do homem. ;
"Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo." (1
Co 2.16.) Aqui temos a exposição de um problema. Ninguém no mundo conheceu a mente do Senhor, de
modo a instruí-lo, uma vez que todos os homens são da alma*. Só através da intuição podemos
compreender a Deus. Como, então, uma pessoa cujo espírito está morto pode vir a conhecer a mente de
Deus? Isso explica por que pessoas assim não podem julgar o homem espiritual: elas não possuem a
mente do Senhor. São pessoas naturalmente da alma*. Por outro lado, os espirituais conhecem a mente
do Senhor, já que têm uma intuição sensível. Mas os da alma * não podem conhecer, porque a intuição
espiritual deles é inoperante. Por essa razão, não desfrutam de nenhuma comunhão com Deus. O que se
quer dizer aqui é que os da alma * não podem conhecer nem a mente do Senhor nem a daqueles que são
espirituais, e que se acham plenamente comprometidos com o Senhor.
As palavras "Nós, porém" indicam que o "nós" é diferente das pessoas da alma*. Esse "Nós" inclui
todos os crentes salvos, muitos dos quais talvez continuem carnais. "Nós, porém, temos a mente de
Cristo." Nós, que fomos regenerados, sejamos bebês ou adultos, possuímos a mente de Cristo e
discernimos os pensamentos dele. Como temos uma intuição espiritual viva, podemos conhecer, e já
temos conhecido, o que Cristo preparou para nós no futuro (v. 9). Os da alma * não conhecem, mas nós,
os regenerados, conhecemos. A diferença está em ter ou não o espírito.

O ESPIRITUAL E O CARNAL

"Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em
Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem
ainda agora podeis." (1 Co 3.1,2.) Essas palavras acham-se intimamente relacionadas com os versículos
citados antes. O ensinamento do apóstolo aí segue a linha estabelecida anteriormente, que fala do
espírito do homem. Ora, todos nós sabemos que a divisão das Escrituras em capítulos e versículos foi
idealizada para a conveniência dos leitores e não foi algo revelado pelo Espírito Santo. Então, devemos
ler essas palavras dos versículos 1 e 2 de 1 Coríntios 3 como uma continuação das do capítulo anterior.
A percepção espiritual de Paulo era extremamente aguçada. Ele conhecia muito bem todos os seus
leitores. Sabia se eram espirituais ou carnais, se eram controlados pelo espírito ou governados pela
carne. Assim, ao escrever, ele leva em conta a capacidade da receptividade deles. Então não se põe a "
derramar" seus pensamentos a esmo, simplesmente por estar falando de questões espirituais. Ele só
comunica as coisas espirituais com os espirituais (v. 13, margem da RSV). Ao comunicar, Paulo se
orienta, não tanto pelo que ele sabe, mas pelo que seus leitores conseguem assimilar. Não vemos aí
nenhuma ostentação de conhecimentos. As palavras e os conhecimentos do apóstolo são espirituais. Por
conseguinte, ele sabe lidar com crentes de todos os tipos. Nem todas as palavras que expressam o
profundo mistério de Deus são espirituais, somente as que o Espírito Santo ensina ao nosso espírito. E
elas não são necessariamente profundas. Na verdade, podem até ser bem corriqueiras. Todavia elas nos
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são ensinadas pelo Espírito Santo, e nós as compreendemos no espírito. Quando pronunciadas, então,
produzem consideráveis resultados espirituais.
O que o apóstolo diz nesses dois versículos, e no versículo 15 do capítulo anterior! explica um paradoxo
interessante. Se o espírito humano conhece aquilo que diz respeito ao homem, e o homem espiritual
julga todas as coisas, por que, então, existem tantos cristãos, cujo espírito é renovado, que não
conseguem sentir que possuem um espírito, ou são incapazes de conhecer as coisas profundas de Deus
por meio desse espírito? A resposta é: "O homem espiritual julga todas as coisas" (1 Co 2.15- grifo do
autor). Embora todos os cristãos possuam um espírito regenerado, nem todos são espirituais. Muitos
ainda são carnais. Sua intuição espiritual realmente foi vivificada. Contudo ele ainda não a colocou no
seu devido lugar, proporcionando-lhe oportunidade de agir. E como ela não está nessa condição, fica
sufocada, sem poder ter comunhão com Deus, nem saber o que poderia saber. Os cristãos espirituais não
vivem segundo a alma. Eles já entregaram todas as suas faculdades à cruz, tornando-as submissas, para
poderem receber livremente a revelação de Deus através da intuição espiritual. Em seguida, sua mente,
emoção e vontade vão agir voluntariamente, de acordo com essa revelação. Isso não acontece com os
cristãos carnais. Sua intuição espiritual é regenerada e eles estão vivos para com Deus, podendo tornar-
se espirituais. Entretanto isso não acontece e eles permanecem amarrados à carne. A concupiscência da
carne continua forte, a ponto de impelir esses cristãos a pecar. Sua mente carnal ainda está cheia de
raciocínios, projetos e pensamentos que vagueiam. Suas emoções fluem descontroladamente, com
tendências, desejos e interesses carnais. A vontade deles formula numerosas opiniões, argumentos e
juízos mundanos. Estão tão ocupados em seguir a carne, que não têm nem tempo nem inclinação para
ouvir a voz da intuição espiritual. A voz do espírito geralmente é muito suave. Só podemos ouvi-la se
nossa atenção estiver concentrada nela, e o resto esteja em silêncio. Como é que podemos escutá-la se os
membros da carne estiverem desordenadamente ativos? Quando os crentes são dirigidos pela carne,
ficam tão influenciados por ela, que seu espírito se torna embotado, incapaz de receber alimento sólido.
A Bíblia compara um crente recém-regenerado a um bebê. A vida do seu espírito, que ele recebeu há
pouco, é tão pequena e fraca quanto a de um bebê humano. Não é errado ser criança, desde que ele não
permaneça nessa condição por tempo demasiado. Todo adulto começa a vida como criança. Contudo, se
permanecer nesse estágio por muito tempo, sem que seu espírito cresça e vá além de como era quando
foi regenerado, algo está tremendamente , errado. O espírito do homem pode crescer. A intuição do
espírito é capaz de tornar-se mais forte. Uma pessoa recém-regenerada é como um bebê recém-nascido.
Ainda não possui consciência de si mesmo e seus nervos são inseguros no exercício de suas funções.
Sua vida espiritual, pode ser comparada a uma centelha. Seu poder intuitivo i é extremamente fraco e
ineficaz, Contudo o bebê deve ir crescendo a cada dia. Seu conhecimento deve aumentar de maneira
contínua, através do exercício, do treinamento e do crescimento, até alcançar a plena consciência de si
mesmo. Assim estará capacitado para exercitar todos os seus sentidos com habilidade. O mesmo deve
acontecer ao crente. Depois da regeneração, ele precisa exercitar sua intuição espiritual de modo
gradual. Cada exercício significa um aumento na experiência, no conhecimento e na estatura espiritual.
Quando nascemos, nossos sentidos não têm a percepção amadurecida. O mesmo ocorre com a intuição
espiritual. Por ocasião do novo nascimento, ela não é muito sensível.
Isso não significa, porém, que os cristãos da alma * * , isto é, os que continuam sendo bebês por muito
tempo, não tenham consciência e libertação de seus pecados, não cresçam no conhecimento da Bíblia,
não façam esforço para servir ao Senhor, ou não recebam nenhum dom do Espírito Santo. Os cristãos de
Corinto experimentaram tudo isso. Eles foram em tudo " enriquecidos nele ( em Cristo ), em toda a
palavra e em todo o conhecimento... de maneira que não vos falte nenhum dom" (1 Co 1.5,7). Do ponto
de vista humano, isso tudo era sinal de crescimento. Provavelmente, nós consideraríamos os crentes de
Corinto bastante espirituais. O apóstolo, porém, os considerava bebês, pessoas carnais. Por que será que
ele não considerou o crescimento em palavra conhecimento e dons como crescimento? Isso revela um
fato muito importante. Embora os crentes de Corinto tivessem crescido nesses dons externos, não
cresceram no espírito. A intuição espiritual deles não se tornou mais forte. A Bíblia não vê o aumento da
eloqüência na pregação, nem o conhecimento da Palavra nem os dons espirituais como crescimento
espiritual! Se o espírito do crente, capaz de manter comunhão com Deus, não se tornar mais forte e
afiado, na opinião de Deus ele não experimentou nenhum crescimento!
Muitos servos do Senhor hoje estão se desenvolvendo de forma errada! Eles entendem que, depois de
salvos devem buscar um conhecimento bíblico mais profundo, mais eloqüência em suas pregações, e
mais dons espirituais. Esquecem que é seu espírito que deve crescer. A pregação, o conhecimento e os
dons não passam de realidades exteriores. A intuição é interior. Como, é triste ver um crente que permite
que seu espírito continue sendo um bebê, e ao mesmo tempo enche a vida de sua alma de pregação,
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conhecimentos e dons! É verdade que tudo isso é valioso mas seu valor não pode ser comparado ao do
espírito. O que Deus criou em nós foi o espírito (ou vida espiritual). Ele também precisa se desenvolver
até atingir a maturidade. Se cometermos o grave erro de buscar o enriquecimento da vida da alma, em
vez do crescimento da vida e da intuição espiritual, não teremos crescido nada aos olhos do Criador.
Deus considera nosso espírito por demais importante, e por isso ele cuida do seu crescimento. Por mais
que nossa mente, emoção e vontade possam se desenvolver através da palavra, do conhecimento e dos
dons, se nosso espírito não estiver edifica- do, tudo isso será em vão para Deus.
A cada dia esperamos ter mais poder, mais conhecimento, mais dons, mais eloqüência. E no entanto a
Bíblia nos adverte de que, mesmo que tenhamos mais disso tudo, não teremos necessariamente crescido
na vida espiritual. Pelo contrário, nosso caminhar espiritual pode permanecer o mesmo, sem avançar um
quilômetro sequer. Paulo, usando de muita franqueza, diz o seguinte aos crentes de Corinto: "... porque
ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis..." (3.2.) O que é que eles não podiam? Não
podiam servir a Deus com sua intuição espiritual, para conhecer mais do Senhor intuitivamente, e
receber a revelação divina em sua intuição. Obviamente, no início, quando creram no Senhor, não
podiam. E até mesmo passados alguns anos, embora tivessem se enriquecido com pregações,
conhecimentos e dons, ainda não podiam. Por essas duas palavras, ainda agora, o apóstolo afirmava que,
embora estivessem repletos de riquezas exteriores, sua vida espiritual não havia feito progressos, apesar
de já terem alguns anos de crentes. O verdadeiro progresso é medido pelo crescimento do espírito e da
intuição. O resto pertence à carne. Isso precisa ficar indelevelmente gravado em nosso coração.
Infelizmente os crentes de hoje parecem obter progresso em quase todas as esferas, exceto na do
espírito. Mesmo depois de já terem crido no Senhor há muitos anos, continuam lamentando:
"Não sinto meu espírito."
Existe uma enorme diferença entre nossa mente e a de Deus. Nós, como os crentes de Corinto, tentamos
acumular -e conseguimos -bastante conhecimento que chamamos de " espiritual" .E o fazemos
exercitando nosso intelecto, uma das faculdades da mente. Infelizmente o desenvolvimento da mente
não pode tomar o lugar do amadurecimento da intuição espiritual. Para Deus, mesmo com esse
desenvolvimento, nós não experimentamos nenhuma mudança. Portanto precisamos lembrar que a
edificação que Deus mais deseja não é a do nosso homem exterior, e sim a do interior, e da intuição
espiritual. Ele espera que a nova vida que recebemos na regeneração cresça, e que reneguemos tudo o
que pertence à velha criação.
A excessiva influência da carne no crente impede que ele se torne espiritual. Somente aquele cuja
intuição está viva, desfrutando de uma comunhão ininterrupta com Deus, conhece as verdades profundas
do Criador. Se sua capacidade intuitiva for fraca, que mais ele poderá absorver além do leite, um
alimento pré-digerido? Isso mostra que o crente carnal** não pode manter uma comunhão clara com o
Senhor em sua intuição espiritual, na esfera do espírito. Por isso, depende do auxílio de outros mais
edificados para ter acesso às realidades de Deus. Os cristãos maduros comungam com Deus em sua
intuição espiritual. Depois transformam o que aprenderam em leite para passar aos bebês em Cristo. O
Senhor permite que isso ocorra na vida de um crente novo. Todavia não é do seu agrado que todo o seu
povo permaneça insensível e incapaz de manter comunhão direta com ele. Uma pessoa que se alimenta
de leite está bem longe de ter com Deus o tipo de comunhão que ele quer. É por essa razão que depende
que outros sirvam de intermediários para transmitir-lhe a mensagem divina. Os crentes amadurecidos
têm sua intuição espiritual plenamente capacitada a distinguir o bem do mal. Se não somos capazes de
comungar com Deus e de conhecer suas realidades através de nossa intuição espiritual, mesmo
possuindo muitas idéias, tornamo-nos espiritualmente inúteis. Os cristãos de Corinto eram de alto nível,
tanto na eloqüência como nos dons. Todavia a vida espiritual deles achava-se quase que totalmente
inativa. A igreja de Corinto era carnal, pois tudo o que possuía não passava da mente.
Muitos dos crentes de nossos dias cometem o mesmo erro que os de Corinto. As palavras do Senhor são
espírito e vida, mas eles não as vêem assim. Fazem indagações teológicas de mente fria, e buscam
significados ocultos das palavras da Bíblia, com o intuito de apresentar uma melhor interpretação dela.
Satisfazem sua "fome” de conhecimento, e depois comunicam aquilo que aprenderam por meio de seus
escritos e pregações. Seus pensamentos, argumentos e esboços são excelentes, e parecem até muito
espirituais. Aos olhos de Deus, porém, não passam de um peso morto, já que eles não os receberam no
espírito. São conhecimentos que simplesmente passam da mente de uma pessoa para a de outra. Alguns
leitores e ouvintes podem protestar, afirmando que estão sendo abençoados. Contudo a questão aí é: que
tipo de bênção? Só recebem novas idéias para a mente, e nada mais. Esse conhecimento em nada
contribui para a capacitação espiritual do crente. Somente o que vem do espírito pode penetrar o espírito
de outros. O que vem da mente só vai até à mente. Em suma, o que vem do Espírito Santo penetra nosso
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espírito, e tudo aquilo que o Espírito Santo nos transmite, por meio do nosso espírito, pode chegar ao
espírito de outros.

O ESPÍRITO DE SABEDORIA E DE REVELAÇÃO

O espírito de sabedoria e de revelação é imprescindível à nossa comunhão com Deus. "Para que o Deus
de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento dele." (Ef 1.17.) As funções do novo espírito que recebemos na regeneração precisam se
desenvolver, pois ainda se encontram em estado latente. O apóstolo Paulo orou pelos crentes de Éfeso,
desejando que eles recebessem o espírito de sabedoria e de revelação, a fim de que pudessem conhecer a
Deus intuitivamente. Não sabemos se essa habilidade é uma função oculta do espírito do crente, ativada
através da oração, ou se é algo que o Espírito Santo concede ao nosso espírito em resposta à oração. Um
fato, porém, é certo: esse espírito de sabedoria e revelação é essencial à nossa comunhão com Deus.
Reconhecemos também que podemos obtê-lo por meio da oração.
Embora possamos manter comunhão com Deus por meio de nossa intuição espiritual, ela precisa de
sabedoria e revelação. Precisamos disso para distinguir o que é de Deus daquilo que é do homem. E
precisamos de sabedoria para identificar as simulações e ataques do inimigo, para saber como nos
conduzir entre nossos semelhantes. São inúmeras as situações em que precisamos da sabedoria de Deus,
pois somos falhos e propensos ao erro. É muito difícil realizar a vontade do Criador em tudo, todavia ele
nos concede a capacitação necessária. Entretanto não é em nossa mente que ele faz isso. Ele nos
comunica o espírito de sabedoria para que possamos ter essa virtude em nosso próprio espírito. Deus a
concede à nossa intuição espiritual, porque é por meio dela que ele nos conduz no caminho da sabedoria.
É possível até que nossa mente permaneça obtusa, mas nossa intuição está plena de sabedoria. Muitas
vezes, quando nossa própria sabedoria parece ter-se esgotado, começa a surgir, pouco a pouco, dentro de
nós, outra espécie de sabedoria para nos orientar. A sabedoria e a revelação acham-se intimamente
ligadas, pois todas as revelações divinas advêm da sabedoria. Se vivermos de modo natural, não teremos
como entender a Deus. No homem natural, só existem trevas. Deus e as questões que lhe dizem respeito
situam-se muito além do alcance da nossa mente. Desse modo, se não recebermos a revelação do
Espírito Santo em nosso espírito, este último vai continuar habitando nas trevas, mesmo que tenha sido
vivificado. A expressão espírito vivificado quer dizer apenas que esse espírito agora é capaz de receber a
revelação de Deus. Não significa que o espírito agora pode agir independentemente do Senhor.
Muitas vezes Deus nos concede revelações em nossa comunhão com ele. Devemos buscá-las em oração.
A expressão espírito de revelação quer dizer que Deus se revela em nosso espírito. A expressão espírito
de sabedoria e revelação indica onde Deus se revela, e como ele nos comunica sua sabedoria. Não
podemos interpretar um pensamento impulsivo como algo ligado ao espírito de revelação. Este consiste
apenas das coisas da mente divina que passamos a conhecer intuitivamente, pela operação do Espírito
Santo em nosso espírito. É aí que Deus tem comunhão conosco, em mais nenhum outro lugar. É o
espírito de sabedoria e de revelação que nos proporciona o verdadeiro conhecimento de Deus. Tudo mais
é tão superficial quanto nossa pele, é imaginário, e, portanto, falso. Frequentemente falamos sobre a
santidade, a justiça, a misericórdia, e o amor de Deus e sobre outras virtudes divinas. Reconhecemos que
a mente humana é capaz de conceber esses atributos divinos. Contudo esse conhecimento mental é
destituído de visão. Entretanto, quando o crente recebe uma revelação de Deus a respeito de sua
santidade, ele passa a enxergar sua extrema corrupção e vê que nele I não existe nenhuma pureza, diante
da luz da habitação divina. É uma luz inacessível, da qual nenhum homem pecaminoso ou natural pode
aproximar-se. Oh, que muitos de nós possam desfrutar de uma experiência como essa! Vamos, então,
comparar uma pessoa que recebeu essa revelação da santidade de Deus com alguém que não possui essa
experiência, mas que costuma falar da santidade divina. Essas duas pessoas podem até empregar a
mesma linguagem, contudo a palavra daquele a quem Deus concedeu essa revelação parece ter muito
mais peso do que a de alguém que não a recebeu. O primeiro parece falar com todo o seu ser, e não
apenas com os lábios. Isso se deve ao espírito de revelação. O mesmo se aplica a todas as demais
verdades bíblicas. Às vezes entendemos determinada verdade e reconhecemos sua importância, mas só
depois que Deus a revela ao nosso espírito é que podemos falar dela com uma ênfase toda especial.
O conhecimento que acumulamos exteriormente, mas que não é revelado em nosso interior, não efetua
nada nem em nós nem nos outros. Somente a revelação que chega ao nosso espírito possui poder
espiritual. Ter comunhão com Deus é receber uma revelação dele em nosso espírito. As revelações de
Deus são raras para muitos de nós porque nem sempre esperamos que ele no-las conceda. É impossível
comprar uma vida natural preocupada com uma vida que é dirigida pela revelação divina. Se estivermos
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dispostos a dar a Deus a oportunidade para que ele nos fale, sem dúvida receberemos revelação, e de
modo freqüente. A vida dos apóstolos confirma plenamente essa afirmação.

A COMPREENSÃO ESPIRITUAL

Existe a sabedoria da alma** e a espiritual. A primeira vem da mente do homem; a segunda vem de
Deus para o nosso espírito. A educação pode remediar qualquer falta de entendimento e de sabedoria no
homem natural, mas não pode modificar seus dotes naturais. Contudo podemos obter a sabedoria
espiritual através da oração da fé (Tg 1.5). Uma verdade que precisamos ter sempre em mente é que na
redenção "Deus não faz acepção de pessoas" (At 10.34). Para ele, todos os pecadores, sábios ou
ignorantes, se acham no mesmo pé de igualdade e lhes concede a mesma salvação. Todo o ser de um
sábio se acha corrompido. O mesmo acontece com o do ignorante. Ambos carecem da regeneração do
espírito. Com referência a isso, conhecer as palavras de Deus não é mais fácil para o sábio do que para o
ignorante. Não há dúvida de que é bastante difícil para uma pessoa ignorante conhecer a Deus. Mas será
que isso é menos difícil para os mais sábios? De modo nenhum, pois é no espírito que todos podemos
conhecer a Deus. Apesar de haver diferença entre a mente de um e de outro, o espírito de ambos está
morto. Portanto ambos são ignorantes nos assuntos divinos. A inteligência natural do homem não o
ajuda a conhecer a Deus e suas verdades. Sem dúvida nenhuma é mais fácil argumentar com o mais
sábio. Seu entendimento também é mais rápido. Todavia ele se acha completamente limitado à esfera da
mente, numa total oposição ao conhecimento intuitivo espiritual.
E não pensemos também que depois da regeneração um sábio tem mais condições de crescer
espiritualmente do que o ignorante. Se ele não for fiel e submisso a Deus, por melhor que seja sua
compreensão mental, ela nada acrescenta ao seu conhecimento intuitivo. A velha criatura não pode servir
de fonte de conhecimento para a nova. O crescimento espiritual é medido pela obediência fiel. Nossos
dotes naturais não afetam a vida espiritual, nem de uma forma, nem de outra, embora dêem prioridade à
carne. Na vida espiritual, todos partem do mesmo ponto, passam pelos mesmos processos, e obtêm os
mesmos resultados. Por conseguinte, todos os crentes regenerados, inclusive os naturalmente sábios,
devem buscar o entendimento espiritual, sem o qual não podem manter uma comunhão normal com
Deus. Nada pode tomar o lugar do entendimento espiritual.
"Não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em
toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu
inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus." #CL l.9,10.
Essa foi a oração que Paulo fez em favor dos crentes de Colossos. Nela vemos que o verdadeiro
conhecimento da vontade de Deus é precedido de entendimento espiritual. E a ele se seguem uma vida
digna do Senhor, plenamente agradável; frutos em toda boa obra; e crescimento no conhecimento de
Deus.
Mesmo que um homem possua uma capacitação natural muito grande, por meio dela ele não poderá
conhecer a vontade de Deus. Para conhecer a vontade do Senhor e ter comunhão com ele, é preciso ter
entendimento espiritual. Só o entendimento espiritual pode penetrar na esfera espiritual. Com o
entendimento natural, uma pessoa pode obter alguns ensinamentos, que, no entanto, ficam na mente, e
não se transformam em vida. O entendimento espiritual vem do espírito, e pode transformar em vida
aquilo que compreendemos. Será que deu para perceber que todo verdadeiro conhecimento vem do
espírito? O espírito de revelação e o entendimento espiritual andam lado a lado. E é espiritualmente que
entendemos a sabedoria e a revelação que chegam ao nosso espírito. A revelação é aquilo que recebemos
de Deus. O entendimento nos ajuda a compreender o que Deus nos revela. O entendimento espiritual nos
permite conhecer o significado dos toques de Deus em nosso espírito, para que possamos compreender a
vontade dele. Então ter comunhão com Deus implica receber sua revelação no espírito, isto é, na
intuição espiritual, e em seguida perceber o significado dessa revelação por meio do entendimento
espiritual. Nossa compreensão não ocorre naturalmente; é o espírito que esclarece tudo.
Por esses dois versículos de Colossenses, vemos que quem deseja agradar a Deus e produzir frutos,
precisa conhecer a vontade dele em seu espírito. A condição básica para agradar-mos a Deus e
produzirmos frutos é que nosso espírito se relacione com ele. Realmente é inútil pensarmos que
agradamos a Deus enquanto vivemos segundo a alma. Deus só se satisfaz com a sua própria vontade.
Nada mais pode satisfazer o coração dele. Muitas vezes nos angustiamos por não conhecer a vontade de
Deus. Nós pensamos e meditamos, mas não conseguimos saber qual a mente dele. Portanto precisamos
nos lembrar de que o modo certo de conhecermos a mente de Deus não é pensar e especular, mas
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exercitar o entendimento espiritual. Somente o espírito do homem, e nada mais, pode reconhecer a
vontade de Deus, pois ele é dotado de um poder intuitivo que o capacita a entender o mover divino.
Se tivermos essa compreensão de Deus, conheceremos cada vez mais a Pessoa dele. A intuição poderá
desenvolver-se de modo contínuo. Não há limites para ela. E o desenvolvimento dela significa o
desenvolvimento espiritual do crente. Cada vez que chegamos a uma comunhão verdadeira com Deus,
tornamo-nos capazes de manter uma comunhão mais íntima ainda da próxima vez que o buscarmos.
Devemos procurar ser perfeitos. Então devemos aproveitar ao máximo cada oportunidade de exercitar
nosso espírito para conhecer melhor a Deus. Nossa necessidade hoje é conhecê-lo verdadeiramente,
apropriando-nos dele no mais profundo do nosso ser. Quantas vezes achamos que discernimos a vontade
de Deus, e, mais tarde, descobrimos que nos enganamos! Precisamos conhecer a Deus e sua vontade.
Portanto devemos procurar conhecê-la Plenamente.

CAPÍTULO 7

A CONSCIÊNCIA

Além das funções intuição e comunhão, nosso espírito realiza ainda a importante tarefa de corrigir-nos e
repreender-nos, causando-nos inquietação quando ficamos aquém da glória de Deus. A essa capacidade
damos o nome de "consciência". Da mesma forma que a santidade de Deus condena o mal e justifica o
bem, nossa consciência reprova o pecado e aprova a justiça. É na consciência que Deus expressa sua
santidade. Se desejamos seguir o espírito (levando em conta que nunca alcançamos o estágio de
infalibilidade), devemos estar atentos ao que nos diz esse nosso monitor interior a respeito das nossas
intenções e atos. A obra da consciência seria incompleta se ela só se manifestasse para nos reprovar
depois que tivéssemos cometido algum erro" Contudo temos de reconhecer que antes mesmo de darmos
algum passo, enquanto esta- mos ainda examinando o que faremos, nossa consciência e intuição já estão
protestando. Elas nos deixam inquietos acerca de qualquer pensamento ou intenção que desagrade ao
Espírito Santo. Se estivéssemos mais dispostos a dar ouvidos à voz da consciência, não sofreríamos
tantas der- rotas como temos sofrido.

A CONSCIÊNCIA E A SALVAÇÃO

Quando éramos pecadores, nosso espírito achava-se completamente morto. Nossa consciência também
estava morta, e sem condições de operar normalmente. Isso não significa que a consciência do pecador
seja completamente inativa. Não é. Ela atua, sim, embora esteja em estado de coma. Contudo toda vez
que ela se manifesta só o faz para condenar o pecador. Ela não tem condições de conduzir os homens a
Deus. Apesar de estar morta para Deus, ele quer que ela realize uma obra, ainda que frágil, no coração
do homem. Por isso, a consciência do espírito morto do pecador parece atuar um pouco mais que as
outras funções do espírito. A " morte" da intuição e da comunhão parece mais profunda que a da
consciência. Naturalmente existe uma razão para isso. Logo que Adão comeu do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, sua intuição e sua comunhão morreram completamente para Deus.
Entretanto sua capacidade de distinguir o bem e o mal (que é a função da consciência) se fortaleceu. E
hoje, embora a intuição e a comunhão do pecador estejam totalmente mortas para Deus, a consciência
dele ainda retém parte de sua função. Isso não quer dizer que ela esteja viva, pois, de acordo com a
Bíblia, podemos considerar como vivo somente aquilo que tem a vida de Deus. Tudo que se acha
destituído da vida de Deus é considerado morto. Como a consciência do pecador não possui a vida de
Deus, ela é considerada morta, embora, de acordo com a percepção humana, ela pareça ativa. Essa
atividade da consciência aumenta a angústia do pecador. Logo que o Espírito Santo inicia a obra de
salvação, ele desperta essa consciência que se acha em coma. Ele usa os "trovões e relâmpagos do
Monte Sinai para abalar e iluminar a consciência obscurecida. Seu objetivo é convencer o pecador de
que ele transgrediu a lei de Deus, e é incapaz de atender às justas exigências divinas. Além disso, ele
opera no pecador a convicção de que ele está condenado e que só merece a perdição. Se a consciência do
homem estiver disposta a confessar qualquer pecado que tenha cometido, inclusive a incredulidade,
sentirá a tristeza segundo Deus, e desejará ardentemente a misericórdia divina. O publicano, da parábola
que Jesus narrou, que subiu ao templo para orar, ilustra essa obra do Espírito Santo. Foi isso que o
Senhor Jesus quis dizer quando afirmou: "Quando ele vier (o Espírito Santo), convencerá o mundo do
pecado, da justiça e do juízo” #Jo 16.8. Se, porém, a consciência do homem se fechar, ele jamais poderá
ser salvo.
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O Espírito Santo ilumina a consciência do pecador com a luz da lei de Deus, a fim de convencê-lo do
pecado. E o mesmo Espírito ilumina a consciência do homem com a luz do evangelho, a fim de salvá-lo.
Se o pecador, ao ser convencido do seu pecado, e ao ouvir o evangelho da graça de Deus, estiver
disposto a aceitá-lo e recebê-lo pela fé, verá que o precioso sangue do Senhor Jesus vem ao encontro de
todas as acusações da sua consciência. Sem dúvida existe pecado, mas o Senhor Jesus derramou seu
sangue. Que base resta para acusação, se Cristo pagou totalmente a pena pelo pecado? O sangue do
Senhor fez expiação por todos os pecados do pecador. Por isso já não há condenação na consciência.
“Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido
purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados”. (Hb 10.2.) Podemos estar de
pé diante de Deus, sem temor nem tremor, porque o sangue de Cristo foi aspergido em nossa consciência
(Hb 9.14). Nossa salvação é confirmada pelo fato de o sangue precioso ter silenciado essa voz de
condenação.
Tanto a terrível luz da lei como a misericordiosa luz do evangelho brilham sobre nossa consciência.
Sendo assim, será que devemos ignorá-la, quando pregamos a Palavra? Será que, ao pregar, nosso alvo é
simplesmente fazer com que as pessoas entendam com a mente, fiquem emocionalmente tocadas, e
decidam com a vontade, sem que nada fale à sua consciência? Enquanto a consciência não for
convencida do pecado, o Espírito Santo não poderá realizar a obra de regeneração através do sangue
precioso. Devemos ressaltar, nas devidas proporções, o sangue precioso e a consciência. Alguns
pregadores insistem fortemente em tocar a consciência do pecador, mas se descuidam do sangue
precioso. Por causa disso, os pecadores se esforçam muito para fazer o bem, esperando, desse modo,
aplacar a ira de Deus por seus próprios méritos. Outros enfatizam o sangue precioso, mas deixam de
falar à consciência do pecador. Com isso ele faz uma aceitação mental do sangue, mas sua "fé" fica sem
raiz, pois sua consciência não foi tocada pelo Espírito Santo. Na verdade, temos de apresentar os dois
igualmente. Todo aquele que tem consciência dos próprios pecados aceita o pleno significado do
precioso sangue de Jesus.

A CONSCIÊNCIA E A COMUNHÃO

"Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb 9.14.) Para termos
comunhão com Deus e servi-lo, precisamos ter a consciência purificada pelo sangue precioso. Quando
nossa consciência é purificada, somos regenerados. De acordo com as Escrituras, a purificação efetuada
pelo sangue e a regeneração do Espírito ocorrem simultaneamente. Desse modo vemos que, para
podermos servir a Deus, precisamos receber uma nova vida. Assim nossa intuição será vivifica da
através da purificação da consciência, I por meio do sangue. Com a consciência purifica da dessa,
maneira nossa intuição espiritual pode servir a Deus. A consciência e a intuição são inseparáveis.
“Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má
consciência e lavado o corpo com água pura." (Hb 10.22.) Hoje não nos aproximamos de Deus
fisicamente, como fazia o povo do Antigo Testa- mento, pois nosso santuário está no céu. Tampouco nos
ache- gamos a ele através da alma*, isto é, por meio dos pensamentos e sentimentos, pois, por meio
deles, jamais podemos ter comunhão com Deus. Só o espírito regenerado pode aproximar-se do Criador.
Os crentes adoram a Deus com uma intuição vivificada. O versículo acima afirma que a base da
comunhão com Deus, por meio da intuição, é uma consciência purificada. A consciência manchada pelo
pecado acha-se sob constante acusação. Isso naturalmente afeta a intuição, que está intimamente ligada à
consciência, impedindo que se aproxime de Deus. Tal condição chega até a inibir por completo a
operação normal dela. Em nossa comunhão com o Pai, é de todo necessário ter um "sincero coração, em
plena certeza de fé". Quando a consciência do crente não está pura, ele se aproxima do Altíssimo de
modo forçado, sem autenticidade. Nessas condições, ele não pode crer plenamente que Deus é por ele e
não tem nada contra ele. Esse temor e essa dúvida solapam o funcionamento normal da intuição,
privando-a de gozar livremente da comunhão com Deus. Vemos então que, em nossa consciência, não
deve haver nem a menor acusação. Precisamos ter a certeza de que todos os nossos pecados foram
inteiramente expiados pelo sangue do Senhor, e de que já não existe acusação contra nós (Rm 8.33,34).
Se abrigarmos na consciência uma única ofensa, ela pode reprimir e suspender o funcionamento normal
da intuição na comunhão com Deus. Isso se dá porque tão logo o crente toma consciência do pecado, seu
espírito reúne todas as suas forças para eliminar aquele pecado, não lhe restando mais forças para subir
em direção ao céu.
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A CONSCIÊNCIA DO CRENTE

Quando o espírito do crente é regenerado, sua consciência volta à vida. O precioso sangue do Senhor
Jesus purifica sua consciência e, por conseguinte, lhe dá um sentido aguçado para obedecer à vontade do
Espírito Santo. A obra santificadora do Espírito e a operação da consciência do homem acham-se
intimamente relacionadas e unidas uma à outra. O filho de Deus que deseja ser cheio do Espírito, para
santificar-se e viver totalmente segundo a vontade de Deus, deve apegar-se à voz da consciência. Se o
crente não der a ela a devida atenção, ele inevitavelmente voltará a andar segundo a carne. O primeiro
passo para a santificação é atender à consciência. Seguir a voz dela é sinal de verdadeira espiritualidade.
Se um cristão não a deixar agir, ficará impedido de entrar na esfera espiritual. Ainda que ele se considere
espiritual (e até mesmo que outros o considerem espiritual), sua " espiritualidade" carece de fundamento.
Se ele não deixar que a voz da consciência reprima o pecado e outras práticas contrárias à vontade de
Deus e impróprias aos crentes, tudo que ele adquiriu através de uma espiritualidade teórica acabará
entrando em colapso, por falta de um fundamento genuíno.
Nossa consciência nos informa se estamos purificados para com Deus e com os homens. Ela mostra,
ainda, se nossos pensamentos, palavras e ações obedecem à vontade de Deus ou se, de algum modo, se
acham rebeldes a Cristo. À medida que o crente cresce espiritualmente, o testemunho da consciência e o
do Espírito Santo parecem andar juntos. Isso se dá porque, quando a consciência se encontra sob o
controle pleno do Espírito Santo, ela fica cada vez mais sensível, até entrar em sintonia perfeita com a
voz dele. Desse modo, o Espírito pode falar ao crente através de sua consciência. Esse é o sentido das
palavras de Paulo, quando diz: "Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no
Espírito Santo, a minha própria consciência" (Rm 9.1).
Se esse nosso monitor interno nos condena, então realmente devemos estar errados. Sempre que isso
acontecer, precisamos nos arrepender imediatamente. Não devemos jamais tentar encobrir nosso pecado
ou subornar nossa consciência. "Se o nosso coração nos acusar", será que a condenação de Deus para
nós será menor, considerando-se que "Deus é maior do que o nosso coração" (1 Jo 3.20)? Tudo que a
consciência condena Deus também condena. Será que a santidade de Deus teria um padrão inferior ao da
nossa consciência? Se a consciência insiste em declarar que estamos errados, realmente devemos estar
errados.
E o que temos de fazer quando estamos errados? Se ainda não cometemos o erro, devemos evitar fazê-
lo. Se já o cometemos, devemos arrepender-nos, confessá-lo, e pedir a purificação por meio do precioso
sangue de Jesus. É lamentável que muitos cristãos hoje não sigam essas recomendações. Assim que
sentem a repreensão da voz interior, tomam providências para reprimir seu protesto. Geralmente
empregam dois métodos. Um deles é discutir com ela, tentando justificar a ação que ela condena. Esses
crentes imaginam que qualquer prática racional pode ser da vontade de Deus, e que a consciência a
apoiará. O que eles não entendem é que ela nunca discute nem argumenta conosco. O que ela faz é
discernir a vontade de Deus através da intuição, condenando tudo o que não estiver de acordo com o
pensamento do Senhor. A consciência fala pela vontade de Deus, e não pela razão. E os cristãos não
devem viver pela razão, mas pela vontade de Deus, revelada em sua intuição espiritual. Sempre que
desobedecerem a qualquer toque que receberam na intuição, a consciência se manifestará, condenando-
os. Eles podem até arranjar uma explicação para satisfazer à mente, mas nunca satisfazem à própria
consciência. Enquanto não afastarem aquilo que deu origem à condenação, ela continuará acusando.
Durante o estágio inicial da vida cristã, a consciência só atua no sentido de discernir o certo do errado.
Contudo, à medida que se vai crescendo, ela também dá testemunho, mostrando o que é de Deus, e o
que não é. Muitas das práticas que parecem boas aos olhos humanos são condenadas pela consciência,
porque não provêm de uma revelação de Deus, sendo antes da iniciativa do próprio crente.
O outro método usado para tentar aplacar a consciência é praticar outras obras. Para resolver esse dilema
que é desobedecer à voz interior de acusação, mas continuar temendo sua condenação, os crentes
recorrem à prática de boas obras. Em vez de fazer a vontade de Deus, realizam feitos louváveis. Não
obedecem a Deus, mas afirmam que aquilo que estão fazendo é tão certo quanto o que ele havia
revelado. E alegam que talvez seja até melhor, pois tem uma esfera de ação mais ampla, mais útil e de
maior influência. Valorizam muito essas obras. Entretanto, para Deus, elas não possuem nenhuma
importância. Ele não olha para a quantidade de gordura que lhe queimamos, nem para o número de
holocaustos que oferecemos, mas apenas para o nível de obediência que lhe prestamos. Se
negligenciarmos a revelação que recebemos no espírito, nada que fizermos poderá mover o coração de
Deus, mesmo que a nossa intenção seja a mais recomendável possível. Redobrar a consagração também
não vai silenciar o monitor que está nos acusando. Devemos obedecer à voz dele. Só isso, e nada mais,
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pode agradar a Deus. A consciência simplesmente exige que lhe obedeçamos. Ela não exige que
sirvamos a Deus de um modo espetacular.
Portanto não nos enganemos. Se vivermos segundo o espírito, ouviremos a voz da consciência. Ninguém
deve tentar fugir de alguma censura interior. Antes devemos estar atentos à sua voz. Se vivermos
constantemente no espírito, seremos constrangidos a nos humilhar e a dar atenção às correções da
consciência. Ao orar, o crente não deve fazer uma confissão geral, reconhecendo seus "inúmeros
pecados" de forma vaga. Isso impede que a consciência realize sua obra de forma perfeita. Devemos
permitir que o Espírito Santo, através da consciência, aponte nossos pecados, um a um. De forma
humilde, tranqüila e obediente, devemos permitir que a consciência nos reprove e condene cada pecado
que praticamos. Devemos aceitar a repreensão dela e estar dispostos a agir segundo a mente do Espírito,
e eliminar tudo que é contrário a Deus. Meu irmão, você deixa sua consciência sondar sua vida, sem
nenhuma reserva? Tem coragem de deixá-la explorar sua real condição? Permite que ela lhe mostre
claramente tudo que há em sua vida, uma coisa de cada vez, de acordo com a visão de Deus? Você
concede à consciência o direito de analisar profundamente cada um de seus pecados? Se não fizer isso,
se não estiver disposto a submeter-se a esse exame, estará dando prova de que há elementos em sua vida
que ainda não foram julgados e entregues à cruz, como é preciso. Estará dando prova de que existem
pontos nos quais você ainda não está obedecendo a Deus, seguindo o espírito de modo absoluto. Estará
dando prova de que existem algumas questões que impedem que tenha comunhão perfeita com Deus. Se
é assim, você não poderá declarar diante de Deus: "Não existe nada a me separar de ti".
Somente se aceitarmos incondicional e irrestritamente a reprovação da consciência, e tivermos a
determinação de fazer aquilo que o Espírito nos revela é que demonstraremos que a nossa consagração é
completa, que de fato odiamos o pecado, e desejamos mesmo fazer a vontade de Deus. Muitas vezes,
expressamos o desejo de agradar a Deus, de obedecer ao Senhor e de seguir o Espírito. Pois bem; temos
aqui um teste para sabermos se esse nosso desejo é real ou imaginário, perfeito ou não. Se ainda
estivermos envolvidos no pecado e não nos separarmos dele por completo, muito provavelmente nossa
espiritualidade é uma grande farsa. O crente que é incapaz de seguir totalmente sua consciência está
desqualificado para andar em espírito. Se não cumprirmos as exigências da consciência, quem está nos
conduzindo é um espírito imaginário. E o verdadeiro espírito continua a exigir que ouçamos nosso
monitor interior. Se o crente estiver relutante em deixar que Deus julgue sua má consciência e resolva o
que precisa, ele não poderá crescer realmente. Sua disposição em obedecer ao Senhor, tanto no caso das
ordenanças, quanto no da reprovação divina, vai demonstrar se sua consagração e serviço são falsos ou
verdadeiros.
Depois de permitirmos que nossa consciência comece a operar, temos também de deixá-la aperfeiçoar
sua obra. Temos de tratar dos pecados, progressivamente, um a um, até que todos sejam eliminados. Se o
crente for fiel em resolver a questão dos pecados, e seguir de fato o que diz a consciência, receberá cada
vez mais entendimento sobre o céu e terá conhecimento de seus pecados ocultos. O Espírito Santo o
capacitará a ler e entender mais da lei gravada em seu coração. Assim ele compreende o que é santidade,
justiça, pureza e honestidade, coisas das quais ele antes tinha apenas uma vaga idéia. Além do mais, sua
intuição espiritual fica com uma capacidade bem maior de conhecer a mente do Espírito Santo. Toda vez
que a consciência do crente o reprovar, sua reação imediata deve ser:
"Senhor, desejo te obedecer." Ele deve permitir que Cristo seja, mais uma vez, o Senhor de sua vida.
Deve submeter-se ao ensino do Espírito Santo e aprender dele. Se estivermos sinceramente dando
ouvidos à nossa consciência, o Espírito, sem dúvida, nos ajudará.
A consciência é como uma janela para o espírito do crente. Através dela, os raios do céu brilham no
espírito, inundando de luz todo o nosso ser. Toda vez que pensarmos ou falarmos de um modo que não
convenha aos crentes, essa luz celestial resplandecerá através da consciência, para revelar nosso erro e
condenar as falhas. Se nos submetermos à sua voz e eliminarmos o pecado que ela condena, estaremos
permitindo que ela realize sua obra completa. Então da próxima vez que a luz do céu brilhar, ela será
mais intensa. Se, porém, não confessarmos nem extirparmos o pecado, nossa consciência será
corrompida por ele (Tt 1.15), pois não andamos segundo o ensino da luz de Deus. Com o acúmulo de
pecado, a consciência, que funciona como uma janela, vai se tornando cada vez mais obscurecida. Assim
a luz quase não pode penetrar no espírito. Afinal chegará o dia em que esse crente poderá até pecar sem
sentir o menor pesar ou tristeza. É que sua consciência foi há muito cauterizada e a intuição espiritual se
acha embotada pelo pecado. Quanto mais espiritual for o crente, maior será a vigilância do seu monitor
interno. Nenhum crente jamais chega ao ponto de não precisar mais confessar seu pecado. Se a
consciência de alguém estiver embotada e insensível, isso significa que ele deve estar espiritualmente
caído. Nada pode tomar o lugar de uma consciência sensível. Mesmo quem possui um excelente
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conhecimento, ou trabalha bastante, ou tem emoções ardorosas ou vontade forte precisa ter uma
consciência sensível. E quem não dá ouvidos a ela, preferindo antes buscar o crescimento mental e
emocional, está regredindo espiritualmente.
A sensibilidade da consciência pode aumentar ou diminuir. Se o crente lhe der condições para operar, da
próxima vez, a janela do seu espírito deixará passar mais luz. Entretanto, se ele a desconsiderar, ou se
puser a discutir com ela ou a trabalhar, e não fizer aquilo que ela exige, aí a voz dela se tornará cada vez
mais suave, até finalmente se calar. Toda vez que o crente deixa de ouvir a consciência, prejudica sua
vida espiritual. Se esse dano que ele próprio infringiu à sua vida espiritual continuar sem apresentar
melhoras, ele descambará para a carnalidade. Perderá toda sua repulsa pelo pecado e seu anseio de
vitória. Enquanto não aprendermos a aceitar diretamente a repreensão que brota da consciência, não
teremos condições de saber como é importante para nossa vida espiritual dar atenção à voz da
consciência.

UMA BOA CONSCIÊNCIA

"Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje." (At 23.1.)
Esse é o segredo da vida de Paulo. A consciência à qual ele se refere não é a de uma pessoa ir
regenerada, mas uma consciência cheia do Espírito Santo. A consciência regenerada do apóstolo em
nada o repreende, mas é intrépida para se aproximar de Deus e perfeita em sua comunhão com ele. Ele
age sempre de acordo com ela, e jamais pratica nenhum ato que ela desaprove. Também não permite em
sua vida nada que ela condene. Por isso, ele é ousado diante de Deus e dos homens. Quando nossa
consciência fica obscura, perdemos a intrepidez. O apóstolo procurou ter "sempre consciência pura
diante de Deus e dos homens" (At 24.16), pois, "se o coração não nos acusar, temos confiança diante de
Deus; e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante
dele o que lhe é agradável" (1 Jo 3.21,22). Os crentes simplesmente não reconhecem a grande
importância da sua consciência. Muitos pensam que, se andarem segundo o espírito, tudo estará bem.
Não sabem que, se a consciência estiver obscura, ele perderá a intrepidez para se aproximar de Deus.
Essa perda, por sua vez, significa distanciamento na comunhão com o Senhor. Na verdade, uma
consciência maculada é o que mais impede nossa comunhão intuitiva com Deus. Se não guardarmos
seus mandamentos e não fizermos o que lhe é agradável, nosso monitor interno nos reprovará, tornando-
nos temerosos diante de Deus e impedindo-nos de receber o que buscamos. Só com uma consciência
pura podemos servir ao Criador (2 Tm 1.3). Se ela estiver obscura, certamente afastará nossa intuição
espiritual de Deus. "Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com
santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no
mundo." (2 Co 1.12.) Esse texto faz referência ao testemunho da consciência. Só uma consciência sem
culpa dá testemunho do crente. É bom termos o testemunho dos outros. Contudo é muito melhor ainda
ter o testemunho de nossa própria consciência. O apóstolo afirma que é disso que ele se gloria. Para
viver segundo o espírito, precisamos ter esse testemunho continuamente. O que os outros dizem está
sujeito a erro, pois eles não podem ter um conhecimento pleno do modo como Deus nos tem guiado. É
possível que eles nos entendam mal, e que seu julgamento a nosso respeito esteja errado, assim como os
crentes do passado julgavam erradamente os apóstolos. Algumas vezes também eles podem nos elogiar
em demasia e demonstrar uma admiração indevida. Muitas vezes nos criticam quando realmente
estamos seguindo o Senhor. Em outras ocasiões, eles nos louvam pelo que vêem em nós, embora, em
grande parte, isso seja apenas o resultado de uma explosão emocional temporária ou de um pensamento
inteligente nosso. Por isso, o elogio ou a crítica na verdade é inconseqüente, mas o testemunho da nossa
consciência vivificada é importantíssimo. Devemos prestar muita atenção ao modo como ela nos dá seu
testemunho. Qual é a avaliação que ela faz de nós? Ela nos condena, afirmando que somos hipócritas?
Ou testifica que o nosso viver entre os homens tem sido em santidade e sinceridade de Deus? A
consciência afirma que já estamos vivendo de acordo com tudo que sabemos? Qual era o testemunho da
consciência de Paulo? Ela testificava que ele vivia no mundo "não com sabedoria humana, mas, na graça
divina". E na verdade a consciência só pode testificar disso. Ela “briga" e insiste apenas em que o crente
experimente a vida que deve ser vivida pela graça de Deus, e não pela sabedoria humana. Essa sabedoria
nada vale para a realização da vontade e da obra do Criador. Tampouco possui algum valor na vida
espiritual do crente. A mente do homem é totalmente inútil no que diz respeito à sua comunhão com
Deus. A posição da mente .é subordina- da mesmo em nossa comunicação com o mundo material. O
crente vive aqui na Terra exclusivamente pela graça de Deus, e viver pela graça implica uma ação
exclusiva dele, sem a participação do homem (Rm 11.6). Se não vivermos exclusivamente por meio de
- 49 -
Deus -não nos permitindo tomar nenhuma iniciativa, nem deixando que a mente nos governe - nossa
consciência não testificará que vivemos no mundo em "santidade e sinceridade de Deus". Em outras
palavras, a consciência opera junto com a intuição. Ela dá testemunho de tudo que fazemos de acordo
com a revelação que recebemos na intuição. E ao mesmo tempo, resiste a toda ação contrária a essa
revelação, mesmo que essa ação esteja em harmonia com a sabedoria humana. Resumindo, a
consciência aprova somente aquilo que nos é revelado na intuição. A intuição fornece orientação aos
crentes. E a consciência os constrange a segui-la.
Uma boa consciência, que dá testemunho de que Deus se agrada do crente (visto não haver nada entre
este e Deus), é absolutamente essencial para termos uma vida segundo o espírito. Nossa meta de vida
deve ser esse testemunho. E não devemos nos satisfazer com mais nada. Isso mostra como deve ser uma
vida cristã normal. Como foi o testemunho do apóstolo Paulo, assim deve ser o nosso hoje. Enoque foi
um homem de boa consciência, porque sabia que Deus estava satisfeito com ele. Esse testemunho de que
Deus se agrada de nós nos ajuda a prosseguir. Contudo devemos ser muito cuidadosos, para não nos
orgulharmos de havermos agradado a Deus. Toda a glória pertence a ele. Devemos sempre nos esmerar
para termos uma consciência pura. E quando conseguirmos isso, aí precisaremos vigiar para evitar a
intromissão da carne.
Se nossa consciência der um testemunho constante de que Deus está satisfeito conosco, teremos ousadia
para recorrer ao sangue do Senhor Jesus, e buscar purificação, toda vez que, por infelicidade, cairmos.
Para termos uma boa consciência não podemos nos esquecer, nem por um momento, desse sangue que
nos purifica, de modo contínuo e para sempre. É imprescindível que façamos a confissão de pecado e
tenhamos confiança no precioso sangue de Jesus. Além do mais, como nossa natureza pecaminosa ainda
habita em nós, muitas vezes não conseguiremos identificar em nós várias das obras ocultas da carne.
Isso só ocorrerá quando tivermos amadurecido espiritualmente. Aí algo, que antes considerávamos
inofensivo, agora reconhecemos como pecaminoso. Sem a purificação do sangue precioso, jamais
poderemos ter paz. Todavia, uma vez aspergido em nossa consciência, ele continuará a fazer sua obra de
purificação.
O apóstolo revela confiantemente que o que ele busca é uma boa consciência para com Deus e os
homens. Essas duas idéias, para com Deus e para com o homem, acham-se intimamente relacionadas.
Para termos uma boa consciência para com os homens, primeiro precisamos ter uma consciência pura
diante de Deus. Uma consciência obscura para com Deus torna-se automaticamente obscura para com os
homens. Por conseguinte, todo aquele que deseja viver no espírito deve buscar uma boa consciência para
com Deus (1 Pe 3.21). Entretanto isso não significa, de modo nenhum, que não é importante ter uma boa
consciência diante dos homens. Pelo contrário, existem muitas coisas que podemos fazer para Deus, mas
não para os homens. Só uma consciência pura para com os homens produz um bom testemunho diante
deles. O fato de haver um mal-entendido por parte do homem não afeta o testemunho. "Fazendo-o,
todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós
outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo." (1 Pe 3.16.) É
verdade que uma boa conduta não pode aplacar uma má consciência. Contudo, do mesmo modo, as
injúrias dos homens, ainda que sejam muitas, não poderão obscurecer uma boa consciência.
Uma boa consciência também nos capacita a nos apropriar das promessas de Deus. Os crentes hoje em
dia muitas vezes se queixam de que não conseguem viver uma vida espiritual plena por terem fé
pequena. São muitas as razões que impedem que tenhamos uma fé mais forte, e a maior de todas é uma
má consciência. Uma boa consciência anda lado a lado com uma fé forte. Quando praticamos algo que
fere nossa consciência, nesse exato momento nossa fé se torna mais fraca. Observemos que, na Bíblia,
esses dois conceitos aparecem juntos. "Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede
de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia." (1 Tm 1.5.) E também: "Mantendo fé e
boa consciência" (1 Tm 1.19). É através da consciência que exercitamos a fé. Deus abomina o pecado,
pois o ápice da glória de Deus, sua infinita santidade, não o tolera, sequer por um momento. Se o crente
não se afastar de tudo que é contrário à mente de Deus, de acordo com os ditames de sua consciência,
imediatamente perderá sua comunhão com o Altíssimo. Todas as promessas de Deus, reveladas na
Bíblia, podem ser consideradas condicionais. Nenhuma delas tem por objetivo satisfazer as
concupiscências da carne. Ninguém pode experimentar o Espírito Santo, nem a comunhão com Deus,
nem receber a resposta de suas orações, se não renunciar ao pecado e à carne. Como podemos
reivindicar o cumprimento das promessas de Deus com ousadia, se nossa voz interior nos acusa? Como
é possível vivermos em oração, crendo que podemos receber de Deus dádivas sem limite, se nossa
consciência não dá testemunho de que estamos vivendo em "santidade e sinceridade de Deus"? se, ao
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levantarmos as mãos para Deus, nosso monitor interno nos reprova ? Devemos primeiro abandonar o
pecado e nos purificar, para depois podermos orar com fé.
Nós precisamos viver sem peso na consciência. Contudo isso não quer dizer que ela agora seja melhor
que antes, nem que nos livramos de muitos dos nossos erros. Significa que ela está sem culpa e confiante
diante de Deus. Essa deve ser a condição normal da nossa consciência. Se acatarmos o que ela diz e
aceitarmos sua reprovação, se nos oferecermos inteiramente ao Senhor e estivermos dispostos a realizar
todos os propósitos dele, nossa confiança se fortalecerá, e a consciência ficará livre de peso. Aí então
poderemos confiantemente dizer a Deus que nada temos que lhe seja oculto. Naquilo que nos diz
respeito, não sabemos de nada que nos separe dele. Vivendo assim, pelo espírito, jamais devemos
permitir que nenhuma ofensa, nem a menor possível, fique em nossa consciência. Temos de confessar
imediatamente qualquer prática que ela condenar. Temos de nos purificar pelo sangue precioso, e
abandonar esse pecado que motivou tal toque em nossa consciência, removendo-o completamente. A
cada dia devemos ter uma boa consciência, pois, mesmo que a ofensa permaneça nela por pouco tempo,
o prejuízo causado ao espírito é grande. O apóstolo Paulo deixou um grande exemplo, por ter tido
sempre uma boa consciência. Somente assim podemos manter comunhão constante com Deus.

A CONSCIÊNCIA E O CONHECIMENTO

No que diz respeito a persistir no espírito e a ouvir a voz da consciência, precisamos nos lembrar sempre
de um fato: a consciência é limitada pelo conhecimento. É ela que distingue o bem do mal, isto é, é ela
que nos dá o conhecimento do bem e do mal. Esse conhecimento varia de um crente para outro. Uns têm
mais, outros, menos. O nível de conhecimento pode ser determinado pelas circunstâncias individuais,
ou, talvez, pela instrução que cada um recebeu. Desse modo, não podemos viver pelo que os outros
pensam, nem pedir aos outros, que vivam de acordo com nosso entendimento. Um pecado que
desconhecemos não impede nossa comunhão com Deus. Aquele que obedece a tudo que sabe da vontade
de Deus, e abandona tudo que sabe que Deus condena, está qualificado para desfrutar de perfeita
comunhão com ele. Os crentes novos muitas vezes pensam que, devido à sua falta de conhecimento, não
têm condições de agradar a Deus. O conhecimento espiritual é muito importante. Contudo a falta dele
não impede a comunhão com o Criador. No que diz respeito à comunhão, Deus não olha para o quanto
compreendemos de sua vontade, mas sim para nossa atitude diante dela. Se buscarmos obedecer aos
desejos dele com sinceridade e de todo o nosso coração, nossa comunhão não vai sofrer interrupção,
mesmo havendo em nós pecados que desconhecemos. Se nossa comunhão dependesse de termos a
santidade de Deus, nem os crentes mais espirituais, do passado e do presente, estariam qualificados para
manter, nem por um momento sequer, a perfeita comunhão com ele. Todos seriam diariamente banidos
da face do Senhor e da glória do seu poder. Os pecados que desconhecemos estão cobertos pelo precioso
sangue de Jesus.
Por outro lado, qualquer pecado, até mesmo um pequenino, poderá fazer-nos perder instantaneamente a
comunhão perfeita com Deus. Basta para isso que saibamos que a consciência nos condena. Do mesmo
modo que uma partícula de pó nos olhos nos impede de enxergar, o pecado do qual temos consciência,
por menor que seja, oculta de nós o sorriso de Deus. Quando temos um peso em nossa consciência, a
comunhão com Deus imediatamente fica afetada. É possível um pecado permanecer por muito tempo na
vida do crente sem que ele tenha conhecimento desse erro, e não afetar a comunhão da pessoa com
Deus. Entretanto, assim que ela tiver conhecimento dele, cada dia que esse pecado permanecer em seu
coração é menos um dia de comunhão com o Senhor. Deus mantém comunhão conosco, de acordo com
o nível de conhecimento da nossa consciência. Seria muita insensatez nossa pensar que, como
determinado erro não impediu nossa comunhão com Deus por algum tempo, ele I não trará
conseqüências danosas depois.
Isso acontece porque a consciência só pode nos condenar de acordo com o conhecimento que possui. Ela
não pode julgar pecaminosa uma prática sobre a qual não tem ciência. Quando nosso conhecimento
aumenta, a percepção de nossa consciência também aumenta. Quanto maior o avanço do conhecimento,
mais a consciência nos julga. Ninguém precisa se preocupar com aquilo que não conhece, desde que
esteja obedecendo inteiramente àquilo que já conhece. "Se, porém, andarmos na luz" , isto é, vivermos
de acordo com o conhecimento que já possuímos, "como ele está na luz, mantemos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (embora muitos não sejam do
nosso conhecimento). (1 Jo 1.7- grifo do autor.) O conhecimento de Deus é ilimitado. Embora o nosso
seja limitado, se vivermos de acordo com a revelação que temos, gozaremos de comunhão com ele,
recebendo a purificação por meio do sangue do seu Filho. Talvez ainda existam em nossa vida pecados
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que não confessamos nem abandonamos, e dos quais não temos conhecimento. Por causa desse
desconhecimento podemos manter comunhão com Deus. Precisamos sempre nos lembrar de que a
consciência é realmente importante. Entretanto não é ela que estabelece nosso padrão de santidade, pois
sua atuação depende do conhecimento. Nosso único padrão de santidade é o próprio
Cristo. Já a única condição para termos comunhão com Deus é conservar uma consciência sempre
limpa. Todavia jamais devemos nos enxergar como "perfeitos" pelo fato de obedecermos plenamente aos
ditames da consciência. Uma boa consciência apenas nos assegura que, no tocante ao que sabemos,
estamos perfeitos, isto é, chegamos ao alvo que se acha logo adiante de nós, mas não ao principal.
Sendo assim, à medida que aprendemos mais das Escrituras e nossa experiência espiritual se amplia,
nosso padrão de conduta vai se tornando cada vez mais elevado. Quando nosso conhecimento se alarga,
nossa vida se torna mais santa. Aí podemos preservar nossa consciência limpa. Toda vez que
compararmos o conhecimento e a experiência que temos agora com as práticas do passado, ela
certamente nos mostrará como elas eram erradas. Esses só não interromperam nossa comunhão com
Deus porque ainda não tínhamos ciência deles. Agora, porém, já temos, e, se não os abandonarmos,
perderemos essa comunhão. A consciência é um padrão de santidade que Deus nos dá, para o momento
que vivemos. Quem transgredir esse padrão é culpado de pecado.
O Senhor tem muito para nos dizer, mas, por causa da imaturidade da nossa compreensão espiritual, ele
tem de esperar. Deus trata com seus filhos de acordo com a condição de cada um. A consciência tem
diversos níveis de conhecimento, por isso há crentes que não enxergaram como pecado atos e atitudes
que outros consideram muito graves. Por isso, não devemos julgar uns aos outros. Somente o Pai sabe
tratar com seus filhos. Ele não espera encontrar nos "filhinhos" a força dos "jovens", nem nos "jovens" a
experiência dos "pais". Entretanto ele espera que cada um dos seus filhos lhe obedeça, de acordo com o
conhecimento que já tem. Se pudéssemos saber com certeza (o que não é fácil) que Deus falou ao nosso
irmão sobre determinado assunto, e que esse irmão não atendeu, poderíamos exortá-lo a obedecer.
Entretanto jamais devemos forçar um irmão a seguir aquilo que nossa consciência nos diz. Se o Deus da
perfeita santidade não nos rejeita por causa dos pecados cometidos no passado, e dos quais não tínhamos
ciência, não podemos julgar um irmão, com base em algo que sabemos agora, se li ele só sabe o que nós
sabíamos no ano passado.
Na verdade, ao ajudar outros, não devemos exigir-lhes obediência em pequenos detalhes. Podemos
apenas aconselhá-los a seguir fielmente os ditames da própria consciência. Se sua vontade estiver
submissa a Deus, eles lhe obedecerão sempre que o Espírito Santo lhes revelar algo através das palavras
claramente expressas na Bíblia. Se a vontade deles estiver submissa a Deus, assim que sua consciência
tiver ciência de algo, ele obedecerá ao Senhor. O mesmo se aplica a nós. Não devemos nos esforçar em
demasia, a ponto de alvoroçar a força da alma, para entendermos as verdades que se acham além da
nossa capacidade atual. Se estivermos dispostos a obedecer ao que Deus nos dá hoje, estamos agindo
certo. Por outro lado, também não devemos nos reprimir quando o Espírito Santo nos conclamar a saber
algo por meio da intuição. Esse tipo de atitude implicaria um rebaixamento do nosso padrão de
santidade. Em suma, aquele que está desejoso de andar segundo o espírito não tem dificuldades na vida
espiritual.

UMA CONSCIÊNCIA FRACA

Há pouco mencionamos que o nosso padrão de santidade é Cristo, e não a consciência, embora esta seja
de grande importância. Ela revela se temos ou não agradado a Deus em nosso viver diário. Por
conseguinte, serve como um critério para conhecermos o nível de nossa santidade no presente. Vivendo
de acordo com aquilo que nossa consciência ensina, chegamos ao lugar onde devemos estar agora.
Portanto ela é um fator fundamental para andarmos diariamente segundo o espírito. Seja qual for o ponto
em que desobedecemos aos ditames da consciência, ela nos repreenderá.
Em conseqüência, perderemos a paz, e nossa comunhão com Deus ficará interrompida temporariamente.
Não há dúvida de que precisamos seguir o que nossa consciência exige.
Entretanto o nível de perfeição de suas exigências continua sendo uma interrogação.
Conforme temos visto, a consciência é limitada pelo conhecimento. Ela só pode nos dirigir com base no
conhecimento que possui. Condena toda desobediência com relação àquilo que é do seu conhecimento,
mas não pode nos condenar no que não conhece. Por isso, há uma enorme distância entre o nível de
santidade proposto pela consciência e o nível da santidade de Deus. É exatamente aqui que surgem dois
problemas. Primeiro, como a consciência é limitada em seu conhecimento, só condena aquilo que sabe
estar errado. Assim inúmeras questões que não se acham de acordo com a vontade do Altíssimo ficam
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sem tratamento. Deus, e também os crentes mais maduros, sabem o quanto somos imperfeitos. Todavia,
por falta de maiores conhecimentos, continuamos a agir segundo a nossa antiga maneira de viver. Isso
constitui um enorme problema. Essa imperfeição, porém, é suportável, porque Deus não nos julga de
acordo com o que não sabemos. A despeito dessa falha, podemos ter comunhão com ele, podendo ser
aceitos em sua presença. Para isso basta que simplesmente obedeçamos a tudo aquilo que nossa
consciência ordenar.
O segundo problema, porém, diferentemente do primeiro, interfere em nossa comunhão com Deus.
Como a consciência que possui um conhecimento limitado deixa de julgar algo que deveria ser julgado,
assim também pode julgar algo que não deveria. Quer dizer então que a consciência pode cometer erros
ao nos conduzir? Não; a direção da consciência é correta, e os crentes devem obedecer a ela
atentamente. Todavia o grau de conhecimento varia de um crente para outro. Quem tem conhecimento
pode praticar muitos atos que outros, que carecem de conhecimento, considerarão pecado. Isso revela
uma doença comum dos crentes, a imaturidade espiritual. Os "pais" podem fazer muitas coisas com total
liberdade porque possuem bastante conhecimento e experiência, e sua condição lhes permite isso. Já os
"filhinhos", se as fizessem, estariam totalmente errados, pois não possuem nem o mesmo conhecimento,
nem a mesma experiência, e não se acham na mesma condição. Isso não quer dizer que existem dois
padrões diferentes para a conduta do cristão. Mostra apenas que os conceitos de bem e mal encontram-se
intimamente ligados à condição de cada um. Essa regra se aplica tanto à esfera da vida natural quanto à
da espiritual. Muitas práticas estão de pleno acordo com a vontade de Deus se praticadas por cristãos
maduros. Contudo, se um cristão imaturo as praticar, passam a constituir pecado.
Isso se deve à existência de vários níveis de conhecimento na consciência. Quando o crente faz o que
sua consciência aprova, está obedecendo à vontade de Deus. Contudo a consciência de outra pessoa
pode considerar errado esse mesmo ato. Nesse caso, se essa pessoa o fizer, estará pecando contra Deus.
A vontade absoluta de Deus é a mesma, mas ele revela sua mente a cada um, segundo as limitações de
sua condição espiritual. Os que possuem conhecimento têm uma consciência mais forte, desfrutando,
por conseguinte, de mais liberdade. Já os que não têm conhecimento abrigam uma consciência mais
fraca, e por isso experimentam uma escravidão maior.
Na primeira carta aos coríntios, Paulo ensina isso de modo bem claro. Havia muitas dúvidas entre os
cristãos de Corinto a respeito de comer alimentos oferecidos aos ídolos. Alguns achavam que tais ídolos
não tinham existência real, visto existir apenas um Deus (1 Co 8.4). Assim, para eles, não poderia haver
diferença entre o alimento oferecido aos ídolos e os não oferecidos. Poderiam comer ambos sem
problema. Outros, porém, não conseguiam deixar de ver o alimento como algo que fora oferecido a
ídolos, pois durante muito tempo, haviam lidado com eles. Por isso, sentiam-se intranqüilos quando os
ingeriam. A consciência deles era fraca. Então contaminavam-se ao tomar os alimentos (1 Co 8.7). O
apóstolo analisou essa divergência de pontos de vista como uma questão de conhecimento (v. 7). Uns
tinham entendimento e, portanto, não pecavam quando comiam. Sua consciência não os incomodava. Já
outros, por não desfrutarem desse conhecimento, sentiam-se intranqüilos ao comer, tornando-se
culpados. Vemos aí a grande importância do conhecimento. O aumento do conhecimento, às vezes, pode
ampliar a condenação da consciência, mas, pode também, diminuí-la.
É aconselhável pedirmos ao Senhor que nos conceda mais conhecimento, a fim de não ficarmos
desnecessariamente limitados. No entanto esse conhecimento precisa vir acompanhado de humildade,
para que não venhamos a cair na carne, como os coríntios. Caso nosso conhecimento seja inadequado e
a consciência continue a nos censurar, devemos obedecer à sua voz, a qualquer custo. Se determinada
prática não está errada segundo o padrão mais elevado de Deus, isso não significa que devemos afirmar
que podemos adotá-la, embora nossa consciência a desaprove. Não devemos nos esquecer de que a
consciência é o padrão da direção de Deus para nós no presente. Precisamos nos submeter a ela. Se não
o fizermos, estaremos pecando. Deus julga tudo aquilo que a consciência julga.
O que discutimos aqui se refere apenas a práticas externas, como o alimento. Nas questões de caráter
mais espiritual não pode haver diferença de liberdade e escravidão, por mais que nosso conhecimento
aumente. Somente nas questões exteriores e físicas é que Deus nos trata de acordo com nossa idade
espiritual. Nos crentes novos, ele atenta mais para o alimento, a roupa e outros aspectos exteriores,
porque deseja mortificar as más obras do corpo. Se esses crentes tiverem um coração realmente desejoso
de obedecer ao Senhor, vão perceber que Deus os conclama, através da consciência, a exercitar o
domínio próprio nessas questões. Os que já possuem uma experiência mais profunda no Senhor, porém,
parecem desfrutar mais liberdade em sua consciência, no que diz respeito a essas coisas, porque já
aprenderam a obedecer a Deus.
- 53 -
Entretanto os que já cresceram mais vão enfrentar aqui um dos perigos mais sérios que existem. A
consciência deles se torna tão forte que pode descambar para um entorpecimento frio. Os crentes mais
novos na fé, que de todo o coração seguem o Senhor, obedecem-lhe em muitos pontos. A razão disso é
que, como sua consciência é sensível, o Espírito pode movê-la com facilidade. Já os crentes antigos
possuem tanto conhecimento que apresentam a tendência de desenvolver a mente em demasia, a ponto
de entorpecer a sensibilidade da consciência. Sofrem a tentação de agir segundo o conhecimento mental,
tornando-se aparentemente insensíveis ao Espírito Santo, impedindo que ele os mova. Isso constitui um
golpe fatal na vida espiritual. Ela perde seu vigor, tornando-se velha e embotada. Irmãos, mesmo que
nosso conhecimento seja vasto, devemos tomar cuidado para não nos guiar por ele, mas obedecer à
consciência espiritual. Se não atentarmos para aquilo que nossa consciência condena através da intuição,
e tomarmos como padrão de conduta o , conhecimento que possuímos, cometemos o erro de andar i
segundo a carne. E por vezes, quando resolvemos fazer algo que pelo que conhecemos é perfeitamente
legítimo, nossa consciência sofre uma perturbação muito grande. Reconhecemos que aquilo que a
consciência condena está em desacordo com a vontade de Deus, embora nosso conhecimento mental o
aprove. Isso ocorre porque nosso conhecimento provém das investigações do nosso intelecto, e não da
revelação que recebemos na intuição. Desse modo, a voz da consciência pode criar um conflito sério
com a orientação que recebemos do conhecimento.
Paulo mostra que, se desprezarmos a acusação da consciência e seguirmos o conhecimento de nossa
mente, nossa vida espiritual vai sofrer um prejuízo muito grande. "Porque, se alguém te vir a ti, que és
dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar
de comidas sacrificadas a ídolos? E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo
morreu." (1 Co 8.10,11.) Quando um crente que possui conheci- mento come comidas sacrificadas aos
ídolos na presença de outro que não possui, está induzindo-o a achar que também pode comer. Todavia,
se este último comer, contrariando a própria consciência, cai em pecado. Portanto não devemos andar
pelo conhecimento que temos, nem mesmo por um instante. E ainda que tenhamos bastante" saber" , só
deve- mos dar atenção à intuição e à consciência do espírito. Aquilo que conhecemos talvez possa
influenciar nossa consciência. Mesmo assim é a esta que devemos obedecer diretamente. Deus está mais
interessado em que obedeçamos à vontade dele do que em ver se nossa conduta é correta ou não.
Obedecendo à voz da consciência demonstramos se nossa consagração e obediência são sinceras ou não.
Através da consciência, Deus examina nossas motivações, se desejamos de fato obedecer-lhe ou se
estamos buscando alguma outra vantagem.
Outro cuidado que devemos ter é nos proteger contra o bloqueio da consciência. Muitas vezes ela deixa
de operar de modo normal, devido a uma espécie de bloqueio. Quando convivemos com pessoas cuja
consciência se acha mortalmente entorpecida, a nossa pode tornar-se entorpecida também. Isso se dá
pela influência delas, das suas argumentações, conversas, ensino, persuasão e exemplo. Precisamos ter
muito cuidado com aqueles cuja consciência está endurecida. Devemos nos acautelar com as
consciências "moldadas" pelo homem. Temos de rejeitar todas as tentativas humanas no sentido de
moldar a nossa. Cada um de nós é responsável diante de Deus, em todos os sentidos, pelo que diz a sua
consciência. Nós mesmos devemos conhecer a vontade de Deus, assumindo a responsabilidade de
executá-la. Se desprezarmos a voz da nossa consciência para seguir a de outrem, cairemos em erro.
Vamos recapitular. A consciência do crente é uma das imprescindíveis faculdades do seu espírito.
Devemos seguir inteiramente aquilo que ela diz. Embora ela seja influenciada pelo conhecimento, não
obstante, representa a vontade de Deus para seus filhos, na sua forma mais elevada. Para nós é bom
chegar ao nível mais elevado para cada momento. E não precisamos nos preocupar com outros assuntos.
Mantenhamos nossa consciência continuamente em boas condições. Não podemos permitir que nenhum
pecado fira sua sensibilidade. Se viermos a descobrir que ela se tornou fria e endurecida, como se nada
pudesse nos perturbar, precisamos reconhecer que caímos profundamente na carne. Nesse caso, todo o
conhecimento bíblico que obtivemos acha-se apenas " estocado" na mente da carne, e não possui poder
vivo. Devemos seguir a intuição do nosso espírito incessantemente, tornando-nos cheios do Espírito
Santo. Desse modo, a sensibilidade de nossa consciência irá aumentando a cada dia. Assim, no instante
em que entendermos que há algo de errado entre Deus e nós, nosso arrependimento será instantâneo.
Não devemos nos preocupar só com a mente, negligenciando a consciência intuitiva. Nossa
espiritualidade é medida pela sensibilidade da nossa consciência. São inúmeros os crentes que não
deram ouvidos à própria consciência no passado, e agora se encontram desanimados, desalentados,
conservando na mente apenas um pouco de conhecimento inútil. Devemos estar sempre vigilantes, para
não cair na mesma armadilha. Não tenhamos medo de que nossa consciência nos fale muitas vezes. Não
temamos jamais que ela nos fale "demais". O que devemos temer é que ela nos fale "de menos". A
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consciência atua em nós como um monitor da parte de Deus. Ela nos informa quando algo está errado ou
precisa de reparo. Podemos evitar muitas conseqüências danosas, simplesmente atendendo à nossa
consciência de imediato.

TERCEIRA PARTE

ANDANDO SEGUNDO O ESPIRITO

.
CAPÍTULO 8

OS PERIGOS QUE ENCONTRAMOS NA VIDA ESPIRITUAL

Não existe nada mais vital para a vida cristã que andar segundo o espírito todos os dias. É isso que nos
mantém numa condição espiritual estável, livra-nos do poder da carne, ajuda-nos a obedecer sempre à
vontade de Deus, e nos protege do ataque de Satanás. Agora que já compreendemos as funções do
espírito, devemos imediatamente andar por ele. Isso é uma tarefa para todos os momentos de nossa vida,
e da qual não podemos descuidar. Nos dias de hoje, precisamos estar em alerta com relação a esse perigo
que é receber um ensino do Espírito Santo e depois rejeitar a direção dele. Foi exatamente nisso que
muitos crentes tropeçaram e caíram. Não basta adquirir o ensino do Espírito; temos de acatar a direção
dele também. Não devemos nos satisfazer apenas em ter o conhecimento espiritual. Precisamos também
buscar ardentemente andar segundo o espírito. Muitas vezes ouvimos pessoas falarem sobre "o caminho
da cruz". Afinal de contas, que caminho é esse? Na realidade, nada mais é que andar segundo o espírito,
pois para isso é necessário entregar à morte nossos desejos, idéias e pensamentos. Para seguirmos
exclusivamente a intuição e a revelação do espírito é indispensável que tomemos cada dia a nossa cruz.
Todos os crentes espirituais conhecem um pouco acerca da operação do espírito. Contudo sua
experiência com relação a isso, em geral, é esporádica, por não entenderem perfeitamente todas as leis
que regem essa operação. Entretanto, se sua intuição estiver bem desenvolvida, eles poderão andar
segundo o espírito de forma mais constante, sem sofrer interferência do exterior (tudo o que está fora do
espírito é considerado exterior). O problema é que, por não terem assimilado as leis que regem a vida no
espírito, acham que ela é oscilante, destituída de regras e difícil de praticar. Muitos estão determinados a
seguir a vontade de Deus e a direção do Espírito Santo, mas falta-lhes um impulso interior. É que não
têm certeza se podem confiar totalmente na direção da intuição. Precisam ainda aprender a entender o
que a intuição está lhes dizendo, se devem parar ou seguir em frente. Além do mais, ignoram qual é o
estado normal do espírito, e com isso se tornam incapazes de ser continuamente conduzidos por ele.
Muitas vezes esse espírito perde o poder de operar, simplesmente porque eles não sabem mantê-lo nas
devidas condições. Embora às vezes recebam uma revelação em sua intuição, não entendem por que,
mesmo quando buscam essa revelação fervorosamente, algumas vezes a recebem, e em outras, não.
Naturalmente isso acontece porque em algumas ocasiões eles estão andando segundo a lei do espírito,
ainda que inconscientemente, e por isso obtêm revelação. Já em outras, embora a peçam, não a recebem
porque não o fazem segundo essa lei. Se andassem constantemente pela lei do espírito, ainda que sem
conhecê-la, e não de forma intermitente, poderiam receber a revelação sempre. Infelizmente eles não
sabem disso. É certo, porém, que, para recebermos constantemente a revelação, precisamos conhecer as
leis do espírito e a vontade de Deus, e fazer aquilo que agrada ao Senhor. Se desejamos viver fielmente,
precisamos compreender a importância de tudo que se passa em nosso espírito, pois tudo tem um
significado. Portanto é indispensável entender as leis do espírito. Muitos cristãos consideram uma
operação ocasional do Espírito Santo em seu espírito como a mais sublime das experiências. Não
esperam desfrutá-la diariamente, imaginando que um acontecimento especial desses só pode acontecer
poucas vezes na vida. No entanto, se vivessem pelo espírito, e de acordo com as leis dele, descobririam
que se trata de um acontecimento do dia-a-dia. Isso que para eles é tão extraordinário, que é algo que
não se pode experimentar permanentemente, na realidade faz parte da experiência diária comum dos
crentes. O "extraordinário" é que os crentes abandonem essa experiência comum, permanecendo sem a
orientação do espírito. Suponhamos que determinado pensamento nos ocorreu. Será que somos capazes
de discernir se ele veio do nosso espírito ou da alma? Alguns pensamentos ocorrem no espírito,
enquanto outros, na alma. Os crentes precisam compreender o modo de operar dos diversos constituintes
do seu ser. Somente assim poderão distinguir o que é do espírito do que é da alma*. Precisam sempre
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reconhecer a fonte do pensamento que lhes vem à mente. Precisam saber de onde procede o sentimento
que têm. Devem ter consciência plena da natureza da força que utilizam para trabalhar. Só assim
poderão seguir o espírito. Sabemos que é da alma que vem a consciência de nós mesmos. E um dos
aspectos dessa autoconsciência é a autocrítica. Esta é por demais prejudicial, porque nos leva a focalizar
a nós mesmos, fortalecendo assim a vida do ego.
Muitas vezes, como resultado desse auto-exame, experimentamos orgulho e exaltação própria. Contudo
existe um tipo de análise que constitui uma ajuda inestimável para nossa vida espiritual. Sem ela somos
incapazes de saber como realmente somos, e o que estamos seguindo. A autocrítica prejudicial é a que
focaliza nosso sucesso ou fracasso, gerando ou uma atitude de orgulho, ou de auto-piedade. A análise
proveitosa é aquela em que investigamos apenas a origem dos nossos pensamentos, sentimentos ou
desejos. Deus quer que fiquemos libertos da autoconsciência, mas não que vivamos como pessoas
destituídas de percepção inteligente. Não devemos ser demasiadamente auto-conscientes, mas
precisamos conhecer a verdadeira condição de todos os nossos constituintes interiores. Fazemos isso
através do conhecimento que o Espírito Santo nos concede. Realmente é muito necessário que
analisemos nossas atividades com o coração.
Parece que muitos crentes desconhecem que possuem um espírito. Apesar de possuí-lo, eles
simplesmente não têm consciência dele. Talvez tenham percepção espiritual, mas não entendem que ela
procede do espírito. Todo crente verdadeiramente nascido de novo deve viver de acordo com a vida do
espírito. Se nos dispusermos a receber esse tipo de orientação, saberemos o que é o nosso sentido
espiritual. Um fato é indiscutível, nossa alma é afetada pelas circunstâncias externas, mas o espírito, não.
Quando a alma se encontra diante de paisagens belas, de uma natureza serena, uma música inspirativa,
ou de outras circunstâncias externas, por exemplo, ela é instantaneamente afetada e tem uma reação
forte. Com o espírito não é assim. Quando ele é inundado pelo poder do Espírito Santo, torna-se
independente da alma. Diferentemente desta, ele não precisa de estímulo exterior para ser ativado, mas
pode ficar ativo por sua própria iniciativa. Ele pode operar em quaisquer circunstâncias. Por isso, os
crentes verdadeiramente espirituais podem ser ativos com ou sem os sentimentos da alma, com ou sem a
força do corpo. São esses os que vivem pelo seu espírito, que está sempre operando.
\Embora em realidade a percepção da alma e a intuição do espírito sejam distintamente opostas,
ocasionalmente parecem bastante semelhantes, a ponto de deixar o crente confuso. Aquele que tem mais
pressa para agir, quando ocorrer essa semelhança, se enganará com mais facilidade. Todavia quem
aguardar com paciência e testar a procedência dos seus sentimentos, repetidamente, verá que, na hora
exata, o Espírito Santo lhe mostrará a verdadeira fonte. Em se tratando de andar segundo o espírito,
devemos a todo custo evitar a pressa.
Os cristãos da alma** geralmente se inclinam para determinadas direções. A maior parte tende ou para a
emoção ou para a razão. Quando se tornam espirituais, a tendência deles é dar uma guinada de cento e
oitenta graus, indo para o extremo oposto. Assim os emotivos serão tentados a pensar que a voz do
Espírito é um raciocínio frio que, na verdade, vem deles mesmos. Reconhecendo que sua antiga vida
emocional era da alma * * , agora se enganam, achando que seu próprio raciocínio é espiritual. Do
mesmo modo, os que eram racionais podem subsequentemente ver seu sentimento passional como sendo
a liderança do Espírito Santo. Também estes estão conscientes da vida fria que viviam na alma** até
então, ignorando ainda que, trocando a emoção pela razão, ou vice-versa, continuam sendo crentes da
alma * * .
Vamos, então, recordar as funções do espírito. Ser guiado pelo espírito é seguir a intuição espiritual.
Todo o nosso conhecimento espiritual, comunhão e consciência ocorrem através da intuição. É por meio
dela que o Espírito Santo guia O crente. Ele mesmo não necessita procurar descobrir o que é espiritual e
o que não é. O que precisa fazer é ser fiel à sua intuição espiritual. Temos de entender a mente do
Espírito intuitivamente, a fim de ouvir a voz dele.
Alguns buscam os dons do Espírito Santo com sincero fervor. No entanto o que esses crentes muitas
vezes realmente almejam é sentir alegria, pois, por trás do seu pedido, está o " eu" .Eles acreditam que,
se sentirem o Espírito Santo descendo sobre eles, ou se perceberem uma força externa controlando seu
corpo, ou um fogo abrasador da cabeça aos pés, é porque foram batizados no Espírito. O Senhor pode
até permitir que as pessoas o sintam, entretanto é muito prejudicial buscá-lo por meio da emoção. Isso
não apenas pode despertar a vida da alma, como também provocar uma imitação do inimigo. O que
Deus realmente valoriza não é o fato de sentirmos sua presença através das emoções, nem de sentirmos
amor para com ele, mas obedecermos ao Espírito Santo e vivermos de acordo com o que ele revela ao
nosso espírito. Muitas vezes encontramos pessoas "batizadas no Espírito Santo", que continuam a viver
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de acordo com sua vida natural e não com seu espírito. Falta-lhes uma intuição sensível capaz de
discernir as questões do mundo espiritual.
O que Deus valoriza de fato é nossa comunhão com ele em espírito, e não a emoção.
Com essa longa análise das funções do espírito, conforme descritas na Bíblia, podemos perceber que o
espírito pode ser tão entusiasmado quanto a emoção e tão frio quanto a razão. Somente os crentes
experientes no Senhor sabem distinguir o que é do espírito do que é da alma. Quem tenta compreender
os toques do Espírito Santo pelo raciocínio, ou então, como acontece com freqüência, tenta sentir esses
toques em vez de procurar conhecer realmente a Deus pela intuição e viver de acordo com o
conhecimento recebido, levam uma vida na carne. Está permitindo o fracasso de sua vida espiritual.
Examinando a vida de Paulo, podemos ver mais claramente o que significa seguir a intuição espiritual.
"Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu
Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem
subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e
voltei, outra vez, para Damasco." #GL 1.15-17 - grifo do autor. Conforme dissemos, Deus nos dá a
revelação e nós a recebemos no espírito. Quando o apóstolo João recebeu a revelação do Apocalipse,
isso ocorreu em seu espírito (Ap 1.10). A Bíblia está sempre ensinando que a revelação é algo que ocorre
no espírito do crente. E o apóstolo Paulo diz que estava andando no espírito quando recebeu, em seu
espírito, a revelação sobre o Senhor Jesus para que fosse pregar aos gentios. Ele não consultou a carne
nem o sangue, pois não tinha necessidade de ouvir a opinião, o pensamento, ou os argumentos do
homem. Não foi a Jerusalém para se encontrar com os que eram espiritualmente mais edificados que ele,
a fim de saber o ponto de vista deles. Simplesmente seguiu a direção do seu espírito. Paulo recebeu a:
revelação de Deus em sua intuição e assim ficou sabendo a vontade divina. Por isso não precisava mais
buscar outra evidência. Ele considerava a revelação que recebera em seu espírito suficiente para guiá-lo.
Naquela ocasião proclamar o Senhor Jesus aos gentios era um novo ponto de partida. A alma do homem,
com toda probabilidade, lhe sugeriria que ele buscasse mais informações e, principalmente, que
consultasse aqueles que possuíam mais experiência na pregação. Entretanto Paulo seguiu apenas seu
espírito. Ele não se preocupava com o que iriam dizer os homens, nem mesmo os apóstolos mais
espirituais.
Assim também, devemos seguir a orientação que o Senhor envia diretamente ao nosso espírito, em vez
de dar ouvidos às palavras de outros, mesmo que sejam espirituais. Será que quero dizer, então, que as
palavras dos pais espirituais são inúteis? Não; elas são muitíssimo úteis. A exortação e o ensino dos pais
são de grande valor. Todavia nós temos sempre de "julgar" tudo que dizem (1 Co 14.29). Portanto o
certo é receber a instrução do Senhor diretamente em nosso espírito. Quando estivermos em dúvida, sem
saber se o que se passa em nosso espírito vem de Deus ou não, podemos receber uma boa ajuda,
procurando ouvir aqueles que têm recebido um ensino profundo do Senhor. Se, porém, como ocorreu
com Paulo, já sabemos com certeza que Deus nos tem revelado sua vontade, não devemos indagar nada
aos homens, nem mesmo aos apóstolos, caso existam alguns hoje.
Pelo contexto dessa passagem, vemos que o apóstolo Paulo ressalta que o evangelho que ele prega lhe
veio de Deus, e não que o recebera de outros apóstolos. Isso possui um significado enorme. O evangelho
que pregamos não deve se resumir apenas àquilo que ouvimos dos homens, lemos nos livros, ou até
mesmo que entendemos através de nosso raciocínio. Temos de recebê-lo de Deus, pois caso contrário
não terá nenhum valor espiritual. Os crentes novos hoje acolhem bem a idéia de ter "instrutores" .E os
que são espiritual- mente maduros desejam transmitir à segunda geração uma fé correta. Contudo quem
será capaz de dizer o que é que realmente possui valor espiritual? Se o que cremos e pregamos não
provém da revelação, de nada vale. É possível recebermos belos pensamentos da mente de outros e
mesmo assim nosso espírito permanecer empobrecido e vazio. Obviamente não se trata aqui de esperar
um novo evangelho.
Tampouco subestimamos o ensinamento dos servos de Deus, pois a Bíblia ensina claramente que não
devemos desprezar as profecias #I Ts 5.20. O que estamos enfatizando é que precisamos sempre ter a
revelação plena no espírito.
Tudo que se acha escrito por aí, se não provém de revelação, não tem significado. Se desejarmos ser
espiritualmente eficazes na pregação, devemos, logo de início, entender a verdade de Deus em nosso
espírito. Tudo aquilo que recebemos dos homens "por atacado", não importa a quantidade e a qualidade,
é destituído de qualquer valor espiritual. A revelação no espírito deve ocupar um lugar de preeminência
na vida do servo de Deus. Aliás, é a primeira qualificação de um obreiro. Somente ela nos torna capazes
de realizar algum serviço espiritual e a andar segundo o espírito. E como é grande o número de obreiros
que confiam no próprio intelecto e na própria mente para a realização da obra espiritual! Até mesmo
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para os crentes mais consagrados a mensagem não passa de uma aceitação mental da verdade, que só
produz morte. É nosso dever perguntar a nós mesmos se o que pregamos provém de uma revelação de
Deus ou dos homens.

OS ATAQUES DE SATANÁS

Tendo em vista a importância do nosso espírito, lugar onde mantemos comunhão com o Espírito Santo,
não é de estranhar que Satanás queira, com tanta persistência, impedir- nos de conhecer as funções dele.
É que o diabo tem medo de que venhamos a andar no espírito. O propósito do inimigo é confinar a vida
do crente dentro da alma, e apagar seu espírito. Assim ele proporciona aos crentes muitas sensações
físicas estranhas, e procura encher a mente deles de vários pensamentos, fazendo-a vaguear. O objetivo
dele ao dar ao crente essas sensações e pensamentos é confundir sua consciência espiritual. Enquanto ele
estiver confuso, não será capaz de fazer distinção entre o que é do espírito e o que procede da alma.
Satanás sabe muito bem que a nossa vitória está em sabermos “ler” a percepção espiritual (e quantos
ignoram esse princípio!). Então ele reúne todas as suas forças para atacar o espírito do crente.
Queremos lembrar, mais uma vez que, nessa batalha espiritual, jamais devemos empreender qualquer ato
que venha de nossos sentimentos ou de pensamentos repentinos. Mesmo que tenhamos orado antes,
nunca devemos pensar que, por causa disso, esses pensamentos estão isentos de erro. É um engano
acreditar que todos os pensamentos que nos ocorrem durante a oração vêm de Deus. Parece que,
ingenuamente, imaginamos que a oração pode tornar certo algo que é errado. Achamos que tudo aquilo
sobre o que oramos inevitavelmente está certo. É verdade que buscamos a vontade de Deus. Isso não
significa, porém, que necessariamente já a conhecemos. É em nosso espírito, e não em nossa mente, que
Deus nos revela sua vontade.
Satanás, para impedir que os crentes andem no espírito, emprega medidas ainda mais drásticas que a
tentação de viver pela alma. Depois de seduzi-los a viver pelos pensamentos e sentimentos, isto é, pelo
homem exterior, ele dá o passo seguinte, que é fingir ser o espírito deles. Ele cria muitos sentimentos
enganosos, a fim de confundir os sentidos espirituais dos crentes. Quem ignora a existência dos ardis do
inimigo, simplesmente pode permitir que seu espírito fique sufocado, até parar de operar. Aí, então, vê
esse sentimento falso como se fosse algo do seu espírito. Como sua percepção espiritual se acha
embotada, Satanás amplia ainda mais seu engano, inoculando na mente dele a idéia de que Deus o está
conduzindo por meio de sua mente renovada. Com isso, o inimigo sutilmente encobre tanto o erro dos
crentes, que não estão exercitando seu espírito, como também sua própria atuação neles. Tão logo o
espírito do homem deixa de operar, o Espírito Santo fica sem um ponto de apoio dentro dele. Aí, então,
todos os recursos de Deus naturalmente são cortados. Desse modo, é impossível que tais crentes
continuem experimentando a verdadeira vida espiritual.
E se os crentes desconhecem essa condição, Satanás os ataca ainda mais impiedosamente. Ele pode
iludi-los (quando não estiverem conscientes da presença de Deus), fazendo-os pensar que estão vivendo
pela fé, ou levando-os a sofrer sem causa, achando que estão sofrendo com Cristo em seu espírito. Por
conseguinte, Satanás, por meio de um espírito falso, engana os crentes, levando-os a obedecerem à
vontade dele. Tais experiências acontecem com cristãos que são espirituais, mas não possuem
discernimento.
Os crentes espirituais precisam possuir discernimento espiritual, para que pratiquem todas as suas ações
pelo raciocínio espiritual. Não devem agir impulsivamente, seguindo uma emoção passageira ou um
pensamento repentino. Nunca devem fazer nada às pressas. Devemos analisar cada ato com percepção
espiritual, para praticarmos apenas aquilo que o conhecimento intuitivo do espírito aprovar. Não de-
vemos fazer nada impulsionados por um sentimento agita- do ou por um pensamento repentino.
Devemos examinar tudo, cuidadosa e tranquilamente, antes de executar.
Para andarmos em espírito, é muito importante que examinemos e ponhamos à prova nossos atos. Não
devemos desperdiçar nossa vida cristã como tolos. Precisamos sempre examinar cuidadosamente todos
os pensamentos, sentimentos e tudo mais que nos ocorrem, para sabermos se provêm de Deus, ou de nós
mesmos. A inclinação natural dos homens é levar a vida comodamente, adaptando-se a tudo que
acontece. Quem age assim muitas vezes pode estar acolhendo algo que vem do inimigo. Geralmente não
investigamos essas questões, mas as Escrituras nos mandam: "julgai todas as coisas" (1 Ts 5.21). Aliás,
isso constitui uma das características dos crentes espirituais, e um ponto forte deles. Eles conferem "
coisas espirituais com espirituais" (1 Co 2.13). A palavra " conferir" no original significa " comparar"
(RSV; margem), "misturar", ou " ajuntar" (nota de Darby), ou " de- terminar" (nota de Darby). O
Espírito Santo concede esse poder aos crentes espirituais, para que eles possam examinar qualquer fato,
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pensamento, sentimento, etc., que lhes ocorra. Se assim não fosse, seria muito difícil viver, já que nos
achamos sob a influência dos múltiplos enganos dos espíritos malignos.

A ACUSAÇÃO DE SATANÁS

Satanás tem outra maneira de atacar aqueles que almejam se dirigir pela intuição espiritual. Ele imita ou
representa falsamente a consciência do crente, lançando-lhe toda sorte de acusações. Para mantermos
nossa consciência pura, devemos estar dispostos a acatar as repreensões dela e a resolver tudo aquilo que
ela condena. O inimigo se aproveita do nosso desejo de manter a consciência livre de culpa e nos acusa
de vários erros. Se, equivocadamente, acolhermos tais acusações achando que são de nossa consciência,
podemos, muitas vezes, perder a paz. Com isso, acabamos nos cansando, na tentativa de acompanhar o
ritmo delas e por fim perdemos a confiança para crescermos espiritualmente.
Os crentes espirituais precisam saber que Satanás, além de nos acusar diante de Deus, acusa-nos a nós
mesmos também. Ele age assim no intuito de perturbar, e nos fazer pensar que temos de receber castigo
porque erramos. Os filhos de Deus só poderão crescer espiritualmente se tiverem um coração cheio de
confiança. Satanás está atento a isso, e forja acusações da consciência, a fim de levá-los a crer que
pecaram. Dessa forma, desfaz-se a comunhão com Deus.
O problema dos crentes é não saber fazer distinção entre a acusação dos espíritos malignos e a
repreensão da consciência. Muitas vezes, pelo temor de ofender a Deus, eles recebem a acusação de
algum espírito maligno e pensam que aquilo é a censura da consciência. Se não atentarmos para essa
acusação, ela vai se tornando cada vez mais forte, até se tornar incontrolável. Desse modo, os crentes
espirituais, além de se disporem a submeter-se à reprovação da consciência, precisam aprender também
a discernir a acusação do inimigo.
Algumas vezes o inimigo pode acusar os crentes de pecados que eles cometeram de fato. Na maior parte
das vezes, porém, acusa-os apenas de pecados imaginários, isto é, o espírito maligno faz com que eles
sintam que pecaram. Se realmente pecaram, devem confessar imediatamente diante de Deus, pedindo a
purificação do sangue precioso (1 Jo 1.9). Todavia, se a acusação continuar, obviamente ela provém de
um espírito maligno.
Essa questão é muito séria. Antes de aprendermos a fazer distinção entre a reprovação da consciência e a
acusação do inimigo, precisamos perguntar a nós mesmo se realmente detestamos o pecado. Se estamos
abrigando algum pecado, será que estamos dispostos a confessá-lo e a abandoná-lo? Se desejamos
verdadeiramente fazer a vontade de Deus, e ainda não demos atenção à voz de acusação, podemos ter
confiança plena, pois não estamos querendo nos rebelar contra Deus. Depois que resolvemos fazer a
vontade do Senhor, devemos nos examinar para ver se cometemos ou não aquele pecado. Precisamos
saber, com absoluta clareza, se o fizemos ou não, porque o maligno frequentemente nos acusa de muitos
erros desconexos. Caso o tenhamos feito, primeiro devemos descobrir, pelo ensino da Bíblia e pela
intuição espiritual, se trata ou não de algo errado. Se não fizermos isso, embora não tenhamos cometido
pecado, Satanás nos fará sofrer, como se realmente tivéssemos cometido.
O adversário é perito em colocar em nós todo tipo de sentimento. Ele pode fazer com que nos sintamos
alegres ou tristes. Pode provocar sentimento de culpa, e também de ausência de culpa. Todavia o que os
crentes precisam entender é que seu sentimento nem sempre está correto, quando acham que não estão
errados. Muitas vezes pensamos que estamos certos, quando na verdade estamos errados. Por outro lado,
podemos não estar errados, mesmo quando pensamos que estamos. Pode se tratar apenas de um
sentimento, sem nenhuma base real. Sejam quais forem nossos sentimentos, precisamos testá-los, para
termos certeza, a fim de conhecer sua verdadeira procedência. O crente sempre deve adotar uma atitude
de neutralidade para com toda acusação. Não deve tomar nenhuma atitude antes de verificar qual é a
origem dela. E não deve fazê-lo com pressa, mas aguardar com serenidade, até saber com certeza se trata
de uma repreensão do Espírito Santo ou de uma acusação de algum espírito maligno. Se for do Espírito
Santo, ele deverá resolver a questão com toda honestidade. A espera aí não é uma questão de rebelião,
mas de incerteza. Entretanto é absolutamente necessário resistir a todo impulso de fazer confissão a
outros, quando a motivação para isso vier de forças puramente exteriores. É que o inimigo
frequentemente tenta compelir-nos a confessar.
A verdadeira convicção, a que provém do Espírito Santo, nos conduz à santidade. O objetivo de Satanás,
porém, é unicamente nos acusar. Ele nos acusa visando levar-nos à auto-acusação. Seu propósito é
simplesmente fazer o cristão sofrer. Às vezes, quando o crente aceita o sentimento de culpa do inimigo e
faz a confissão correspondente, Satanás o enche de uma falsa paz" Isso é muito perigoso, pois o servo de
Deus deixa de experimentar a verdadeira contrição pelo pecado. Após a confissão do pecado e de sua
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purificação pelo sangue precioso, a censura da consciência cessa. Já a acusação do inimigo continua,
mesmo depois que confessamos e nos purificamos daquilo de que ele nos acusa. A censura da
consciência nos conduz ao precioso sangue de Cristo. A acusação do inimigo nos leva ao desespero,
levando-nos a pensar que não podemos ser redimidos. O propósito de Satanás ao nos fazer acusações é
levar-nos à derrota final. E, no fim, o crente, resignadamente, suspira:
"Já que não posso ser perfeito, de que vale tudo isso, então?"
Às vezes a acusação de Satanás ocorre juntamente com a repreensão da consciência. O crente pecou
realmente, mas embora ele resolva a questão de acordo com a mente do Espírito Santo, a acusação
continua. É que o espírito maligno faz a acusação juntamente com a censura da consciência. Portanto é
de extremo interesse que mantenhamos uma atitude de permanente intransigência para com o pecado.
Além de não darmos ao inimigo motivo para acusação, também temos de aprender a fazer distinção
entre a repreensão do Espírito Santo e a acusação dos espíritos malignos. De igual modo, é preciso
aprender a distinguir entre o que é apenas uma acusação do inimigo, e o que é essa acusação misturada à
repreensão da consciência. Precisamos nos lembrar sempre de que depois que somos purificados do
pecado pelo sangue precioso, e depois que o confessamos e o abandonamos, o Espírito Santo nunca nos
condena.

OUTROS PERIGOS

Além das imitações e ataques de Satanás, existem ainda outros perigos no caminho daquele que anda no
espírito. Muitas vezes nossa alma inventa ou sente algo que nos impulsiona a agir. Lembremo-nos de
que nem todas as sensações que experimentamos emergem do espírito. Tanto o corpo, como a alma e o
espírito têm, cada um, suas próprias sensações. Portanto é da maior importância que não interpretemos
as sensações da alma * ou do corpo como sendo a intuição do espírito. Os servos de Deus precisam
aprender diariamente, através da experiência, o que é e o que não é uma expressão da intuição espiritual.
Depois que entendemos a importância de viver de acordo com ela, facilmente nos esquecemos de que os
outros componentes do ser -e não só o espírito -também possuem sensações. Na verdade, a vida
espiritual não é nem tão complicada nem tão fácil como as pessoas costumam imaginar.
Então temos aí dois motivos de alarme. O primeiro é interpretarmos os outros sentidos como sendo a
intuição do espírito. O outro é o perigo de entender mal o significado da intuição. Enfrentamos esses
dois perigos todos os dias. Por isso, é absolutamente essencial examinar as Escrituras. Para sabermos se
estamos sendo ou não movidos pelo Espírito Santo e se andamos nele, precisamos verificar se aquilo
que nos ocorre se harmoniza com o ensino da Bíblia. O Espírito Santo fala a nós, hoje, o mesmo que
falou aos profetas do passado. É totalmente impossível que o Espírito Santo tenha condenado
determinada prática no passado, e hoje ele nos diga que devemos fazer aquilo que antes condenou. Então
precisamos examinar se a revelação que recebemos na intuição espiritual se acha em consonância com o
ensino da Palavra de Deus. Se seguirmos apenas a intuição, sem buscar-mos a confirmação das
Escrituras, inevitavelmente cairemos em erro. A revelação do Espírito Santo em nosso espírito deve
coincidir com a revelação que ele dá nas Escrituras.
Nossa carne está em constante atividade. Por isso devemos estar sempre atentos para não permitir que
ela interfira em nossa obediência ao ensino das Escrituras. Sabemos que a Bíblia revela o pensamento do
Espírito Santo. Entretanto, mesmo que a observássemos com perfeição ainda assim não estaríamos
necessariamente seguindo o pensamento divino. Por quê? Porque frequentemente examinamos os
ensinamentos das Escrituras com a nossa mente natural, e depois os praticamos Com nossa força natural.
Então, embora o que entendemos e praticamos esteja em perfeita concordância com as Escrituras,
realizamos todo esse processo sem estar na dependência do Espírito Santo. A questão permanece por
completo na esfera da carne. Por isso, assim como precisamos da confirmação das Escrituras com
relação àquilo que recebemos no espírito proveniente da mente do Espírito Santo, também devemos
realizar aquilo que sabemos das Escrituras por meio do espírito. O fato é que a carne quer dominar até
mesmo no que diz respeito à observação das Escrituras. O espírito tem intuição, e poder também.
Consequentemente, se não pusermos em prática, pela força do espírito, o ensinamento que recebemos na
mente, ele fica sem efeito.
Devemos considerar ainda outra questão. Se vivermos e andarmos inteiramente no espírito, vamos nos
deparar com um grande perigo. Embora a Palavra enfatize o espírito do crente, ensina-nos também que a
importância dele se deve ao fato de que o Espírito Santo habita em nós. É em nosso espírito, o lugar
onde o Espírito de Deus habita, que ele expressa seu pensamento. Por isso devemos andar e viver
inteiramente no espírito. As orientações e repreensões que recebemos nele provêm do Espírito de Deus.
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Ao ressaltar a importância do Espírito Santo, estamos, também, enfatizando nosso próprio espírito, pois
este constitui a base de operação do Senhor. Depois de compreender a obra e a função do nosso espírito,
corremos o perigo de confiar inteiramente nele, esquecendo-nos de que ele é apenas um servo do
Espírito Santo. É do Espírito de Deus, e não do nosso espírito, que recebemos a orientação correta para
conhecer toda a verdade. Se o espírito do homem estiver separado do Espírito divino, ele será tão inútil
quanto os demais constituintes do nosso ser. Jamais devemos alterar a relação devida entre
, o espírito do homem e o Espírito Santo. Muitos crentes ignoram os fatos acerca do espírito do homem e
de sua operação. É por isso que apresentamos uma exposição detalhada dessa questão nestas páginas.
Isso não significa, porém, que a posição do Espírito Santo em nós seja inferior à do nosso próprio
espírito. O entendimento dessa faculdade do homem tem como propósito ajudar-nos a obedecer a Deus e
a exaltá-lo mais. Essas considerações devem exercer grande influência sobre tudo que diz respeito ao
recebimento de orientação divina. Deus nos deu o Espírito Santo, em primeiro lugar, para benefício de
todo o corpo de Cristo. Ele habita em cada indivíduo porque mora na totalidade do corpo de Cristo, e
todos são membros desse corpo. A obra do Espírito é coletiva em sua natureza (1 Co 12.12,13). Ele guia
cada indivíduo porque guia o corpo inteiro. Ele conduz a cada um de nós por causa do corpo. O que se
passa com um membro envolve todo o corpo. A orientação que o Espírito Santo nos dá em nosso espírito
em particular está relacionada com os demais membros. A orientação espiritual é direção para todo o
corpo. Para que nossos atos e atitudes possam estar relacionados com o corpo, precisamos buscar o
mesmo sentir e pensar no espírito de "dois ou três", ainda que tenhamos recebido pessoalmente uma
orientação em nosso espírito. Precisamos sempre observar esse princípio na obra espiritual.
Grande parte das derrotas, contendas, ódio, divisão, vergonha e dor se deve à atuação independente de
crentes que são bem-intencionados, mas seguem apenas o próprio espírito. Todo aquele que segue o
espírito deve também testar toda orientação recebida, analisando-a no contexto do relacionamento com o
corpo espiritual, a fim de determinar se veio do Espírito Santo ou não. Em todos os aspectos de nosso
trabalho, conduta, fé e ensino, devemos nos orientar pelo relacionamento de "membros uns dos outros"
(Rm 12.5).
Concluímos, pois, que ao longo da caminhada espiritual se escondem muitas armadilhas. Qualquer
pequeno descuido pode causar derrota. Todavia não existe atalho nem desvio que possamos tomar. Os
conhecimentos que adquirimos não nos protegem. Pelo contrário, nós mesmos temos de "provar" tudo.
Aqueles que nos precederam podem apenas nos avisar dos perigos que se acham à frente, a fim de não
cairmos neles. Quem pensa que pode se desviar de parte do caminho, ficará desapontado. Entretanto
aqueles que seguirem o Senhor fielmente poderão evitar muitas derrotas desnecessárias.

CAPÍTULO 9

AS LEIS DO ESPÍRITO

Os filhos de Deus precisam aprender a reconhecer a consciência que possuem em seu espírito. Essa é a
primeira condição para andarmos segundo o espírito. Se não discernirmos as sensações espirituais, bem
como as da alma, não conseguiremos cumprir as exigências do espírito. Quando sentimos fome, por
exemplo, sabemos que precisamos comer. Quando sentimos frio, sabemos que precisamos nos agasalhar.
Nossos sentidos expressam as necessidades de nosso ser. Primeiro precisamos saber o que nossas
sensações físicas "estão pedindo" para depois satisfazê-las através dos suprimentos materiais. Assim
também é preciso conhecer os vários sentidos espirituais, e a maneira de atender a cada um deles. Só
depois de compreender o espírito e o que ocorre nele é que podemos viver segundo ele.
Existem algumas leis do espírito com as quais todo cristão precisa estar familiarizado. Se não as
compreendermos ou se não atribuirmos a devida importância ao reconhecimento das sensações do
espírito, deixaremos de perceber muito do que ocorre nele. Se não discernirmos essas sensações, não
daremos ao espírito seu devido lugar em nosso viver diário. Portanto, depois de reconhecer as várias
funções do homem interior, tais como intuição, comunhão e consciência, precisamos identificar as
formas como o espírito opera que podem nos capacitar a viver por ele. Depois que somos cheios do
Espírito Santo, nosso espírito passa a operar ativamente. Todavia, se desprezarmos essas operações,
estaremos incorrendo em perda. Portanto é imperativo observarmos o modo pelo qual o espírito costuma
operar. O cristão precisa saber mais sobre a operação do seu espírito do que sobre a atividade da sua
mente.
1. OS PESOS DO ESPÍRITO
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Precisamos manter o espírito numa condição de perfeita liberdade. Ele sempre deve ser luz, como se
flutuasse no ar. Somente assim podemos crescer espiritualmente e realizar a obra. O cristão precisa
reconhecer o que são os pesos colocados em seu espírito. Muitas vezes ele se sente oprimido, como se
uma carga bem pesada estivesse pressionando seu coração. E não é capaz de descobrir nenhuma razão
para a existência desse peso que lhe sobrevém repentinamente. O inimigo usa isso para perturbar o
crente espiritual, para roubar-lhe a alegria e a leveza de espírito, e impedir que seu espírito opere em
harmonia com o Espírito Santo. Se não formos capazes de reconhecer a fonte desse peso e o sentido
dessa opressão, não poderemos resolver o problema de pronto. Assim impedimos que nosso espírito
volte logo à normalidade.
O crente pode ficar confuso por causa dessa sensação, e interpretá-la como algo natural ou ocasional.
Por conseguinte, ele tenta ignorá-la, de modo que seu espírito fica inibido. Com freqüência, o servo de
Deus continua a agir, sem atentar devidamente para esse peso, permitindo que o inimigo o engane com
seus ardis. Quando o crente carrega esse pesado fardo, muitas vezes ele fica destituído de poder para
realizar a obra para a qual Deus lhe designou. Quando o espírito está oprimido, a percepção espiritual se
torna bastante enfraquecida. É por isso que Satanás e suas hostes malignas procuram colocar fardos
sobre o espírito do crente. Ai dos filhos de Deus! Frequentemente lhes falta a consciência de que esse
peso é de origem satânica. E mesmo quando sabem disso, não conseguem resistir a ele.
Com esse peso no espírito, o cristão está fadado à derrota. Se de manhã nos defrontamos com ele e não
tomamos logo as medidas necessárias, experimentaremos derrota o dia todo. A base de nossa vitória é ter
o espírito livre. Para que nosso espírito possa lutar contra o inimigo e manifestar a vida de Deus, ele
precisa estar completamente livre de peso. Quando o cristão está opresso, fica privado da capacidade de
discernir e naturalmente não consegue ter percepção das orientações de Deus. Sempre que o espírito
sofre opressão, a mente fica impedida de operar adequadamente. Tudo fica paralisado ou então funciona
mal.
É da maior importância resolver imediatamente o problema dessa carga pesada, ou opressão do espírito.
O crente não deve nunca assumir uma atitude de indiferença para com a questão, pois isso vai lhe causar
sofrimento. A carga se tornará cada vez mais pesada e, se não for resolvida, passa a fazer parte de sua
vida. Com isso, ele começa a achar que tudo que é de cunho espiritual é amargo e azedo, o que, por sua
vez, retarda seu crescimento espiritual. Se não solucionarmos o problema do peso logo de início, na vez
seguinte ele virá com mais facilidade. A forma de lidar com essa opressão é parar aquilo que estamos
fazendo, e nos opormos a ela com nossa vontade, e resistir-lhe, exercitando o espírito. Algumas vezes
temos de lutar contra esse peso pronunciando palavras audíveis. Em outras, porém, devemos resistir em
oração, com o poder do nosso espírito.
É indispensável, também, procurar corrigir a causa dessa opressão. Enquanto não a removermos, a carga
opressiva vai permanecer. Além de resistirmos à obra do inimigo, precisamos também saber a causa
dela. Se o conseguirmos, reconquistaremos o terreno que antes havíamos entregado ao maligno. Quem
tiver a capacidade de discernimento verá que o inimigo ganhou terreno para colocar sobre ele uma carga
tão pesada porque em algum momento ele deixou de cooperar com Deus. Então precisa recuperar esse
terreno perdido. Se resistirmos ao inimigo descobrindo a causa de suas manobras, ele fugirá.

2. O BLOQUEIO DO ESPÍRITO

O espírito precisa da alma e do corpo para se expressar. Ele é como uma dona-de-casa que tem um
mordomo e uma empregada trabalhando para ela, para realizar sua vontade. Podemos compará-lo
também a uma corrente elétrica que precisa da resistência de uma lâmpada para manifestar a luz. Se a
alma e o corpo perderem a normalidade, devido a algum ataque do inimigo, o espírito ficará aprisionado
e sem nenhum meio de expressão. O adversário conhece aquilo de que o espírito precisa e, por isso,
frequentemente atua contra a alma e o corpo do crente. Quando esses elementos deixam de operar
adequadamente, o espírito fica despojado dos seus meios de expressão, perdendo, assim, sua posição de
comando.
Durante esse período, a mente pode ficar confusa, as emoções, perturbadas, a vontade, fatigada e
impotente para governar ativamente todo o ser. Ou então o corpo fica em extremo cansaço e
temporariamente preguiçoso. Devemos resistir prontamente a esses sintomas. Se não o fizermos, nosso
espírito ficará bloqueado, deixando-nos sem condições de combater ativamente o inimigo e de manter
nossa base de vitória.
Tão logo O espírito do crente fica bloqueado, este perde sua "vitalidade". Parece ficar tímido, procura
esconder-se, e raramente atua em público. Prefere manter-se em segundo plano, não querendo ser visto.
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Talvez imagine ter descoberto algo por si mesmo, sem perceber que seu espírito na verdade está
bloqueado. Parece desinteressado na leitura da Bíblia e não tem palavras para orar. Sempre que relembra
sua obra e sua experiência passada elas lhe parecem sem sentido, e às vezes, até, motivo de riso. Não
tem poder para pregar, como dando a impressão de que o faz mecanicamente. Se ele permitir que esse
bloqueio do espírito se prolongue, o inimigo o atacará ainda mais severamente. Se Deus não interferisse,
devido às suas orações ou às de outras pessoas, o crente seria sufocado espiritualmente. Por falta de
conhecimento, ele pode simplesmente ficar surpreso, e, assim, tomar a atitude de desistir, que, aliás, é a
reação mais comum. Nenhuma experiência ou sensação espiritual acontece sem causa. Por isso
devemos, realmente, examinar com cuidado tudo aquilo que sentimos, não permitindo que nenhum peso
permaneça sobre nós. Satanás tenta aprisionar o espírito num quarto escuro, para que a alma fique sem a
direção dele. Contudo, assim que esse bloqueio é removido, o crente pode novamente respirar com
facilidade, restaurando-se sua vivacidade normal.
Sempre que um filho de Deus estiver cercado, é vital que sua vontade se manifeste através de expressões
audíveis contra o inimigo. Ele deve levantar a voz para proclamar a vitória da cruz e a derrota do
adversário. É preciso resistir firmemente à obra do maligno, tanto na alma quanto no corpo. Depois
dessa proclamação, o crente deve empregar sua vontade ativamente para resistir ao bloqueio. A oração é
um meio pelo qual operamos a abertura do espírito. Entretanto, devido à situação que descrevemos, é
preciso orar em voz alta. A melhor medida que o crente pode tomar é clamar pelo nome vitorioso do
Senhor Jesus em todas as arremetidas do inimigo. Além de orar, é preciso exercitar o espírito, a fim de
romper o bloqueio, e assim alcançar a liberdade.

3. O ENVENENAMENTO DO ESPÍRITO

Nosso espírito pode ser envenenado pelo maligno. Referimo-nos a dardos inflamados do inimigo,
dirigidos diretamente contra ele. O inimigo lança em nosso espírito tristeza, mágoa, angústia, aflição e
abatimento. O objetivo dele é produzir em nós um espírito atribulado (1 Sm 1.15), e um "espírito
abatido, quem o pode suportar?" (Pv 18.14.) É por de- mais perigoso para qualquer ser humano aceitar
sem resistência ou questionamento qualquer tristeza que lhe sobre- venha, e achar, sem a menor sombra
de dúvida, que se trata de um sentimento seu. Quem age assim, não examinou a origem dessa tristeza,
nem ofereceu nenhuma resistência. Precisamos ter sempre em mente que jamais devemos aceitar com
facilidade nenhum pensamento ou sentimento. Se desejamos viver no espírito, temos de ser vigilantes
em tudo, examinando de um modo todo especial a origem de todas as idéias e sensações que nos
ocorrem.
Às vezes Satanás nos leva a endurecer o espírito, que se pode tornar obstinado, intransigente, acanhado e
egoísta. Nessas condições, o espírito não pode cooperar com Deus, e tampouco fazer a vontade dele. E
assim o crente se descuida de seu amor cristão. Deixa de lado todo sentimento terno, compassivo e
amável para com os outros. Depois que ele perde a bondade que vem do Senhor, e cria um muro de
proteção ao seu redor, o Espírito Santo não pode usá-lo com poder.
Muitas vezes, o inimigo induz os cristãos a nutrirem um espírito de rancor, algo que de fato é muito
comum entre os filhos de Deus. Provavelmente o declínio espiritual que muitos experimentam, na
maioria das vezes, pode ser causado por isso. Tanto a amargura como a inimizade e o espírito de crítica
infligem um sério golpe severo na vida espiritual. Se os crentes não conseguirem ver que obviamente
essa atitude provém do inimigo, e não deles mesmos, jamais ficarão libertos do espírito de ódio.
Outras vezes, Satanás leva o espírito dos filhos de Deus a tornar-se "pequeno" e confinado. Ele engana
esses cristãos afastando-os dos outros, e fixando linhas divisórias. Aquele que não consegue ver a igreja
como um corpo irá devotar-se apenas ao seu “pequeno grupo”. Isso demonstra que seu espírito já está
limitado. O que é espiritual, todavia, não considera as coisas de Deus como sendo suas, mas ama toda a
igreja. Quando o espírito do crente está aberto, o rio da vida transborda nele. Se ele se fecha, impede a
obra de Deus, e diminui sua própria utilidade. O espírito que não é suficientemente magnânimo para
aceitar no coração todos os filhos de Deus, demonstra que já foi envenenado.
Frequentemente Satanás inocula orgulho no espírito do crente, provocando nele uma atitude de
arrogância e vaidade. Ele o leva a se enxergar como alguém de muito destaque, indispensável na obra de
Deus. Tal espírito constitui uma das maiores causas da queda dos crentes: "A soberba precede a ruína, e
a altivez do espírito, a queda" (Pv 16.18).
São esses os principais venenos com os quais o maligno contamina o espírito do crente. Se não lhe
fizermos uma oposição imediata, eles logo se tornam "as obras da carne" (GL 5.19). Eles começam
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como venenos de Satanás. Entretanto eles podem se transformar em pecados da carne, se o cristão os
aceitar, ainda que inconscientemente, e não resistir a eles.
Se não combatermos o veneno ainda no espírito, ele se tornará imediatamente um pecado do espírito,
que é mais grave que qualquer outro. Certa vez, Tiago e João disseram com voz de trovão: "Senhor,
queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? "Jesus respondeu: "Vós não sabeis de que
espírito sois" (Lc 9.54,55). É essencial sabermos de que espírito somos. Muitas vezes deixamos de
perceber que nosso espírito é vítima de uma instigação do inimigo. E se ele estiver errado, tudo o mais
estará. Com base nessa experiência desses dois discípulos, observamos que um espírito maligno pode
facilmente se manifestar através de palavras que pronunciamos. E às vezes as palavras em si podem não
revelar tanto a presença do espírito quanto o tom com que as pronunciamos. Elas podem até estar
corretas, mas o tom, errado. Para termos vitória espiritual, precisamos vigiar até mesmo o tom das
nossas palavras. Assim que o espírito maligno toca nosso espírito, nossa voz perde a suavidade. Uma
frase áspera, dura e ferina não vem do Espírito Santo. Ela revela que aquele que a profere já foi
envenenado por Satanás.
Como é que costumamos falar? Somos capazes de nos referir aos outros sem nenhum toque de
condenação? É possível até que o que dizemos seja verdade, mas por trás das palavras, e apesar de
serem verdade, pode haver um espírito de crítica, de condenação, de ira ou de inveja. Por isso, devemos
falar a verdade em amor. Só estamos em condições de declarar uma verdade se nosso espírito for puro e
manso. Se, porém, abrigarmos um espírito de condenação, por certo cometemos pecado. O pecado não é
apenas uma ação, mas também uma condição. Quase sempre o que importa é o que está por trás das
coisas. Quantas vezes pecamos, errando contra Deus ou contra os homens, porque em nós se oculta um
espírito infiel, relutante e rancoroso.
Devemos manter o espírito manso e brando. Ele deve ser sempre puro e limpo. Será que entendemos que
é pecado ter esse espírito errado? Será que sabemos quando o inimigo ataca nosso espírito e quando ele
está envenenado? Vamos admitir que sabemos. Será que seremos suficientemente humildes para nos
desvencilhar desse pecado? Assim que notarmos que nossa voz se tornou áspera, devemos parar de falar
instantaneamente. Sem a menor hesitação devemos nos voltar para nós mesmos, e dizer:
l'Quero falar com um espírito puro. Quero resistir ao inimigo. Se relutarmos em dizer aos nossos irmãos
“Eu estou errado", nosso espírito continuará preso em seu pecado. O crente precisa aprender a evitar que
o inimigo venha instigar seu espírito. Deve aprender também a mantê-lo brando e manso.
Em situações normais, o povo de Deus deve logo tomar o escudo da fé, que apaga os dardos inflamados
do maligno. Isso significa que devemos prontamente exercitar uma fé viva no fato de que Deus nos
protege, e resistir ao ataque do inimigo. A fé é o nosso escudo, e não uma ferramenta com a qual
removemos algo. É uma arma para apagar os dardos inflamados, e não para tirá-los depois que
penetraram em nós. Se, porém alguém for ferido por um desses dardos, deve logo eliminar sua causa.
Deve manter uma atitude de oposição ao diabo resistindo de imediato a qualquer elemento que venha de
Satanás, e orar pedindo a purificação.

4. O AFUNDAMENTO DO ESPÍRITO

O afundamento ou submersão do espírito é causado, principalmente, pela atitude do cristão de se voltar


para si mesmo. Esse problema pode ser provocado por uma atitude de possessividade para com as
experiências que ele tenha tido por uma intromissão do poder das trevas, ou por um egocentrismo na
oração e na adoração. Quando o espírito se inclina para o interior, e não para o exterior, o poder de Deus
deixa de operar nele, e a alma logo o envolve.
Por vezes, a submersão do espírito na alma é ocasionada por um engano do maligno, que produz no
crente sensações físicas e também experiências maravilhosas e variadas. E ele não percebe que é o
inimigo que está por trás de tais experiências. Acredita que elas provêm de Deus. Desse modo,
inconscientemente, passa a habitar num mundo sensorial, onde o espírito se I' afunda" na alma.
O crente pode ser alvo ainda de outro engano. Seu espírito se "afunda” na alma, porque ele não
compreende a posição de Cristo. O Espírito Santo habita em nosso espírito para manifestar a nós o
Cristo entronizado. Os livros de Atos, Efésios e Hebreus falam claramente sobre a posição de Cristo no
céu, hoje. Nosso espírito acha-se unido ao Cristo celestial. Contudo, por falta de conhecimento, o cristão
tende a olhar para dentro de si, buscando encontrar o Senhor aí. Ele deseja unir-se ao Cristo que está
nele. Com isso, seu espírito não pode subir acima das nuvens. O resultado é que ele fica opresso e cai
sob o domínio da alma * .
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Tudo isso leva o servo de Deus a querer viver guiado por seus sentimentos, e não pelo espírito. Ele
precisa saber que antes de ele se tornar espiritual e realmente andar segundo o espírito, o inimigo não
recorria a imitações. Entretanto, depois que ele experimenta o derramamento do poder do Espírito Santo
em seu espírito, passa a defrontar-se com um novo mundo, que nunca conhecera antes. E é exatamente
aí que reside a razão para ele ficar atento. É que o inimigo vai atuar no sentido de induzi-lo a parar de
andar no espírito. Se conseguir, o crente sofrerá uma grande perda. A tática que o adversário emprega é
enganá-lo por meio dos sentimentos da alma e do corpo, levando-o a pensar que se trata de experiências
espirituais.
Muitos dos que entram na vida espiritual sofrem derrotas por não conhecerem as leis que a regem. O
inimigo provoca todo tipo de sensação física e experiência sobrenatural no interior do crente. Se este se
apoiar nesses fenômenos sobrenaturais ou em outros eventos sensacionais que procedem do exterior,
acabará obstruindo sua vida espiritual. Passará a viver pela alma ou pelo corpo, que são elementos
exteriores. Desse modo seu espírito não terá poder para cooperar com Deus. Naturalmente a alma e o
corpo se sobressaem, reassumindo o comando que haviam perdido, e o espírito se "afunda"
completamente. Enquanto o espírito estiver afundado, os sentidos dele ficam inoperantes. Quando isso
acontece, muitos cristãos espirituais têm a sensação de que perderam o espírito. A alma e o corpo
assumem uma posição tão forte que todo o ser pode viver guiado pelas sensações deles. Assim os órgãos
sensoriais tomam o lugar da operação do espírito. A "voz" dele fica "sufocada" debaixo das fortes
sensações da alma e do corpo. Por fim, a vida e obra espirituais desaparecem por completo. Se isso
perdurar por muito tempo, podemos dizer que, na verdade, o crente sofreu uma terrível queda. Talvez até
esteja possuído por um espírito maligno.
Portanto devemos renunciar a tudo aquilo que pode diminuir a consciência espiritual. Devemos evitar o
riso extravagante, o choro amargo e qualquer outra explosão extrema de emoção física. É preciso manter
o corpo em perfeita calma. Devemos rejeitar as sensações desordenadas, naturais ou sobrenaturais, pois
elas induzem a mente a seguir o corpo, e não o espírito. Jamais podemos permitir que algo nos impeça
de captar a voz do espírito que é leve e suave.
Quando o espírito começa a afundar, a alma o cerca, obrigando-o a obedecer-lhe. Por isso, o crente deve
aprender a manter seu espírito fluindo continuamente, jamais permitindo que ele fique estagnado. Se o
espírito não sair para atacar Satanás, este, inexoravelmente, vai atacá-lo, no objetivo de “afundá-lo" .Só
quando o nosso espírito está operando é que o Espírito Santo faz fluir sua vida por meio dele. Quando
um crente se volta para si mesmo, fazendo com que seu espírito afunde, o abundante fluir do Espírito
divino pára imediatamente. Ele usa o espírito do crente como seu veículo para operar nele a vida de
Deus.
O cristão precisa procurar descobrir o que provoca o "afundamento" do seu espírito, para poder restaurá-
lo ao seu estado original. Tão logo ele descubra um ponto falho pelo qual está perdendo seu poder, deve
procurar reparar a situação imediatamente.

5. OS FARDOS DO ESPÍRITO

O fardo é diferente do peso opressivo que procede de Satanás, e tem o propósito de esmagar o crente e
fazê-lo sofrer. O fardo procede de Deus, que deseja manifestar sua vontade ao crente, a fim de levá-lo a
cooperar com ele. O peso no espírito tem um único objetivo: oprimir. Não serve, portanto, a nenhum
outro propósito e não produz nenhum fruto. Já o fardo do espírito provém de Deus para seus filhos, com
a finalidade de chamá-los ao trabalho, à oração ou à pregação. Trata-se de um encargo que tem um
propósito definido, um motivo certo, e traz um proveito espiritual. Precisamos aprender a distinguir o
que é fardo do espírito do que é peso.
Satanás jamais dá um fardo ao cristão. Ele apenas envolve seu espírito, oprimindo-o com uma carga
pesada. Essa carga amarra o espírito do crente e impede sua mente de funcionar. Quem recebe um fardo
ou encargo da parte de Deus simplesmente o carrega. Quem está opresso por Satanás sente seu ser
completamente aprisionado. Quando o poder das trevas toca um crente, no mesmo instante ele per- de a
liberdade. Já com o fardo dado por Deus acontece justamente o contrário. Pode ser muito grande, mas
não a ponto de sufocar a oração. Qualquer fardo vindo de Deus jamais fará com que o crente perca a
liberdade de orar. Já o peso que vem do inimigo e se sobrepõe ao espírito do crente invariavelmente
tolhe essa liberdade. O fardo vindo de Deus se desfaz assim que oramos. Já a opressão do inimigo só
cessa depois que lutamos e resistimos em oração. O peso no espírito penetra no crente de forma sutil, ao
passo que o fardo resulta de uma operação de Deus em nosso espírito. O peso é opressivo e provoca
sensação de tormento. Já o fardo do espírito nos traz alegria (naturalmente, a carne não o vê assim), pois
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nos conclama a andar com Deus (veja Mateus 11.30). O fardo só se torna incômodo quando lhe fazemos
resistência e não atendemos ao que ele determina.
Todo serviço cristão verdadeiro começa com um fardo ou inquietação no espírito. (Naturalmente, se não
temos nenhuma inquietação no espírito, precisamos exercitar a mente). Quando Deus deseja que
façamos algo, que falemos a alguém ou oremos, primeiro nos comunica um fardo. Se estivermos
familiarizados com as leis do espírito, não vamos continuar desinteressados, ocupados com aquilo que
fazemos no momento, pois assim a sensação do fardo aumentará. Temos de ficar atentos a ele, e
continuar assim até não o sentirmos mais. Imediatamente devemos largar tudo para procurar descobrir o
que ele significa. Assim que descobrimos o que Deus quer que façamos, devemos entrar logo em ação.
Tão logo realizemos a tarefa solicitada, o fardo se desfaz.
Para que nosso espírito receba algum encargo de Deus, é preciso que ele esteja continuamente livre e
desimpedido. Só um espírito sem impedimento pode captar o toque do Espírito Santo. Se ele estiver
cheio de preocupações, já perdeu sua acuidade intuitiva, e não pode ser um bom instrumento. Se o crente
estiver incapacitado de atuar em conformidade com o fardo que Deus lhe comunica, ele se sente
dolorosamente pesado por muitos dias. E durante esse período não há possibilidade de Deus o
comissionar para realizar um novo serviço. Por isso é absolutamente necessário que examinemos o
sentido de cada fardo, em oração, com o auxílio do Espírito Santo e o exercício da mente.
Muitas vezes esse fardo que vem ao nosso espírito é uma ordem para orar #CL 4.12. Na realidade, só
podemos orar de acordo com a medida de nosso fardo. Se orarmos além do que o fardo solicita, não
obteremos frutos, pois nesse caso a oração estará sendo originada em nossa mente. Contudo, se temos
em nosso espírito o fardo de orar, só podemos ficar aliviados orando. Sempre que Deus nos inquieta com
algum encargo, como a oração, a pregação da Palavra, ou qualquer outro serviço, essa inquietação só
diminui depois que o realizamos. Somente quando temos um fardo de oração no espírito é que estamos
capacitados para orar no Espírito Santo, com gemidos profundos, que não conseguimos expressar em
palavras. Quando nosso espírito se acha inquieto com um fardo de oração, só poderemos liberá-lo dessa
incumbência orando. Assim que o fazemos, o fardo se desfaz.
Por vezes, temos grande acúmulo de fardos de oração. Nesse caso, sentimos dificuldade para começar a
orar. Entretanto, à medida que vamos orando e quanto mais oramos, mais nosso espírito responde com
amém. Devemos nos esforçar ao máximo para ir liberando, por meio da oração, os fardos que há em
nosso espírito até que todos eles se desfaçam. Quanto mais vida liberarmos através da oração, mais
felizes nos sentiremos. Contudo existe uma tentação que nos sobrevém com freqüência - parar de orar
antes de O fardo se desfazer. É que assim que começamos a sentir o espírito leve, julgamos que Deus já
atendeu a nossa oração, não percebendo que estamos apenas iniciando a obra espiritual. Se, nesse
momento, pararmos de orar e nos voltarmos para outros interesses, a obra espiritual sofrerá uma grande
perda.
Não devemos jamais pensar que trabalho espiritual é só aquilo que traz alegria e júbilo. Assim
pensaremos que um fardo vai privar-nos de fazer aquilo que consideramos como obra espiritual. É digno
de pena aquele que desconhece o que seja o verdadeiro esforço espiritual de um fardo do espírito. O
crente que se dispõe a sofrer por amor a Deus e ao próximo não vive para si mesmo. Quem busca
diariamente satisfações carnais e tem receio de levar cargas para Deus e para a igreja está vivendo para
si mesmo. Portanto, se Deus nos der um fardo, não precisamos achar que estamos em pecado. Satanás
ficará extremamente satisfeito se pensarmos isso, pois não o atacaremos. Vamos interpretar corretamente
essas experiências, e não demos atenção a Satanás. Se dermos, ele nos acusará e atormentará ainda mais.
A verdadeira obra espiritual agride Satanás e produz dores de parto nos crentes. Jamais devemos
considerar esse serviço como algo festivo. É que, para realizá-lo, temos de entregar o ego à morte
completamente. É por isso que nenhum cristão da alma** é capaz de envolver-se no verdadeiro serviço
espiritual. Quem quer desfrutar prazeres sensoriais todo dia não dá evidência de espiritualidade. Os
verdadeiramente espirituais são os que caminham olhando para Deus e desprezam os próprios
sentimentos. Quando um crente tem um fardo e entra em luta com o inimigo, sempre deseja estar só,
afastado de toda comunicação humana, para se concentrar na batalha espiritual. E só depois de terminar
o combate é que ele poderá mostrar um rosto tranqüilo. Um cristão espiritual deve aceitar qualquer fardo
que o Senhor colocar em seu espírito.
Precisamos conhecer as leis do espírito e também a maneira como devemos cooperar com Deus. Se as
desconhecermos, poderemos prolongar indevidamente o fardo, sofrendo prejuízo, ou então perdendo a
oportunidade de trabalhar com Deus. Sempre que recebermos um fardo no espírito, precisamos logo
procurar saber, em oração, o que Deus deseja que façamos. Se for um chamado para guerrear, vamos à
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guerra. Se for um chamado para pregar o evangelho, preguemos. Se for uma chamada para orar, oremos.
Procuremos aprender a trabalhar junto com Deus. E que o velho fardo passe, e venha um novo.

6. A MARE BAIXA DO ESPIRITO

A vida e o poder de Deus em nosso espírito podem retroceder como uma maré. Sabemos que os crentes
da alma** costumam achar que sua vida espiritual está na maré alta quando sentem a presença de Deus,
e que está na maré baixa quando se sentem abatidos e ressequidos espiritualmente. Contudo isso são
apenas sentimentos, que não representam a realidade da vida espiritual.
Entretanto é fato que a vida espiritual experimenta fases de declínio, mas que, na verdade, são bem
diferentes de qualquer sensação da alma. Depois que o crente é cheio com o Espírito Santo, ele avança
muito bem durante certo período, mas depois observa um retrocesso em sua vida espiritual, que ocorre
de forma gradual, e não repentina. A diferença entre o declínio sensorial e o espiritual é que o primeiro é
sempre repentino, enquanto que o último é gradual. O crente pode tomar consciência de que a vida e o
poder de Deus que ele recebeu estão diminuindo gradativamente. Com isso, ele pode perder a alegria, a
paz, e o poder que o espírito deve manter. A cada dia ele vai se tomando mais fraco. Aí então parece
perder o gosto pela comunhão com Deus. A leitura da Bíblia deixa de ter sentido. Raramente sente o
coração tocado por alguma mensagem ou versículo especial, quando sente. Além do mais, sua oração se
torna seca e monótona, como se não tivesse sentido nem expressão. Seu testemunho parece forçado e
hesitante, sem o transbordamento de antes. Em outras palavras, sua vida espiritual já não é vibrante,
forte, animada e feliz como anteriormente. Parece que tudo retrocedeu.
A maré tem enchente e vazante. Será que a vida e o poder de Deus em nosso espírito podem também ser
caracterizados por esse fenômeno? De modo nenhum! A vida de Deus não conhece nada que se possa
comparar a uma vazante; ela flui sempre. Não sobe e desce como a maré; antes é como um rio, sempre
fluindo, e com água viva #Jo 7.38. Em hipótese nenhuma, a vida de Deus em nós é como a maré, que
baixa em determinadas horas. A fonte da nossa vida interior está em Deus, em quem não há variação
nem sombra de mudança (Tg 1.17). Desse modo, a vida de nosso espírito deve fluir como um rio:
incessantemente, até transbordar.
Portanto, se alguém perceber que sua vida está retrocedendo, deve entender que ela não diminui, apenas
deixa de fluir. Deve saber também que não é necessário sofrer esse esvaziamento. O crente jamais deve
permitir que Satanás o engane, levando-o a crer que é impossível que alguém possa estar ainda no corpo
terreno, permanentemente cheio da vida de Deus. A vida divina em nós é como um rio de água viva: se
não for obstruído, fluirá ininterruptamente. O cristão pode experimentar uma vida que flua sempre. A
maré baixa não apenas é desnecessária, mas algo anormal também.
Desse modo, a questão que temos diante de nós não é como fazer a maré da vida espiritual subir
novamente, mas sim como fazer com que ela flua. A fonte da vida, embora esteja bloqueada, continua
dentro do crente. Não há nada errado com a entrada; a saída é que está obstruída. A água da vida não flui
porque a corrente não encontra passagem. Se a saída for desobstruída, a água da vida fluirá
incessantemente. Portanto o que o filho de Deus precisa não é de mais vida, e sim de mais do fluir dessa
vida. Logo que o filho de Deus sentir um declínio em sua vida espiritual, ele precisa reconhecer que
deve estar existindo algum impedimento. Satanás vai acusá-lo, dizendo que ele regrediu espiritualmente.
Outros vão achar que ele perdeu o poder. E o próprio crente vai pensar que cometeu algum pecado
grave. E todos esses fatores podem estar ocorrendo, sim, mas não é só isso. Na realidade, essa situação
ocorre, em grande parte, por não sabermos cooperar com Deus, satisfazendo as condições que ele
estabelece para que haja um fluir incessante. Essa falta de discernimento é um fator importante. Portanto
o crente deve orar e meditar acerca do problema, sondando a situação, procurando as causas do que está
acontecendo. Deve esperar em Deus, pedindo ao Espírito que lhe revele as razões da situação. E assim
ele deve tentar descobrir onde errou, com relação às condições para o permanente fluir da vida.
O crente deve confessar que retrocedeu, o que é muito importante, e também se esforçar para descobrir a
causa desse retrocesso. Embora não deva confiar nem no parecer de Satanás, nem no dos outros, nem no
seu, mesmo assim é bom examiná-los, pois algumas vezes têm alguma base. pe- pois de descobrir a
causa, precisa resolvê-la sem demora. Enquanto não remover o obstáculo de maneira adequada, a vida
não fluirá.
A cada maré baixa que temos na vida espiritual precisamos recomeçar imediatamente a remover sua
causa através da oração, da meditação e do exame. Precisamos conhecer a lei que rege o fluir da vida de
Deus, e rejeitar cada ataque do inimigo. Aí então a vida fluirá novamente, mais forte do que antes,
atravessando as fortalezas do inimigo.
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7. A IRRESPONSABILIDADE DO ESPÍRITO

Podemos comparar o espírito do homem a uma lâmpada elétrica. Quando se acha em contato com o
Espírito Santo, ele brilha. Se, porém, for desligado, mergulha nas trevas. "O espírito do homem é a
lâmpada do Senhor." (Pv 20.27.) 0 propósito de Deus é encher de luz o espírito humano. Todavia o
espírito do crente algumas vezes fica em trevas. Por que é que isso acontece? Porque ele perdeu o
contato com o Espírito Santo. Para sabermos se o espírito de alguém está ligado ao Espírito Santo,
precisamos só observar se ele está brilhando.
Dissemos anteriormente que o Espírito de Deus habita no homem, e que este coopera com ele através do
seu espírito. Se o espírito do crente não estiver em sua condição normal, perderá toda sua luz, parecendo
estar desligado do Espírito Santo. Por isso é muito importante mantermos o espírito em condições
perfeitas e tranqüilas, a fim de que possa cooperar com o Espírito Santo. Se ele sofrer perturbação
externa, automaticamente perderá a capacidade de cooperar com o Espírito, mergulhando nas trevas.
Ora, com esses problemas, o espírito não cumpre seu dever de cooperar com o Espírito Santo. Enquanto
perdurar essa situação, será impossível obter a vitória. Imaginemos que alguém, ao levantar pela manhã,
sinta-se como se tivesse perdido o espírito. O inimigo talvez o induza a pensar que isso se deve, por
exemplo, a uma fraqueza física provocada por um excesso de trabalho do dia anterior. Se ele aceitar, sem
questionar essa insinuação do diabo, e permitir que seu espírito pare de cooperar com o Espírito Santo,
nesse dia ele ficará despojado de toda capacidade de repelir as tentações e de realizar o serviço cristão.
O que ele deve fazer é procurar descobrir a verdadeira causa imediatamente. É que o espírito precisa
estar suficientemente forte e ativo para comandar o corpo, e não ser afetado por ele de maneira negativa.
O crente precisa reconhecer que seu espírito, que foi atacado pelo inimigo, parou de operar. Então
precisa buscar a restauração imediata. Se não o fizer, sofrerá derrota assim que tiver de se defrontar com
alguém. No caso de nosso espírito estar nesse estado pela manhã, jamais devemos permitir que isso
continue até ao meio-dia. Esse estado fatalmente leva à derrota.
Assim que o crente perceber que seu espírito parou de cooperar com Deus, ele deve se opor, sem
demora, a todas as obras do inimigo, e também às causas delas. Se o problema for simplesmente um
ataque do adversário, assim que ele resistir, o espírito recuperará a liberdade. Todavia, se há justificativa
para o ataque, isto é, se o crente cedeu terreno ao inimigo, aí então precisa descobrir o motivo disso e
resolver a questão. Geralmente essas causas se acham relacionadas com a experiência passada do
indivíduo. O crente deve orar a respeito de vários aspectos de sua vida, tais como seu ambiente, sua
família, parentes, amigos, trabalho, e assim por diante. Se o espírito se sentir liberto, depois de orar por
determinado assunto, isso significa que a causa do ataque do inimigo era ele. Tão logo a questão é
resolvida, o espírito do crente fica liberado, e suas funções, restabelecidas.
Algumas vezes, porém, o espírito pára de cooperar porque o cristão afrouxou as rédeas, permitindo que
ele saísse do seu curso. Todavia devemos observar, com base na Palavra, que o espírito do profeta se
acha sujeito ao profeta (1 Co 14.32), e ai dos profetas loucos, que seguem o próprio espírito (Ez 13.3). É
extremamente importante que o crente controle seu espírito pelo exercício da vontade. Deve fazer isso
para que ele não vá para os extremos, mas se mantenha em cooperação com Deus. O espírito do homem
pode tornar-se rebelde. É por isso que a Bíblia fala sobre a altivez de espírito, em Provérbios (16.18). Se
não exercermos domínio sobre nosso espírito, tornando-o submisso ao Espírito Santo, ele pode passar a
agir independentemente do Espírito de Deus. Semelhantemente, devemos vigiar para que nosso espírito
não se afaste de Deus, perdendo sua comunhão tranqüila com ele, e tornando-se incapaz de cooperar
com o Altíssimo.
Há casos em que o espírito pára de cooperar devido à sua dureza. Para Deus expressar sua mente, ele
exige um espírito manso e terno. Quando este se torna duro e insubmisso, a operação do Espírito Santo
fica prejudicada. Só quando o espírito se acha submisso ele pode cumprir aquilo que o Espírito divino
determina: "Veio todo homem... cujo espírito o impeliu..." (Êx 35.21.) Devemos submeter-nos ao
Senhor, logo ao primeiro sinal. Nosso espírito precisa ser extremamente sensível para ser capaz de
detectar a voz mansa e suave de Deus, e atender-lhe imediatamente. Com o espírito endurecido, o crente
não conseguirá realizar a vontade divina, nem será capaz de ouvir a voz do Espírito Santo em seu
espírito. Portanto nosso espírito precisa manter-se sempre num estado de submissão e flexibilidade, para
que possa seguir sempre a delicada palpitação que ocorre nele. Foi isso que o apóstolo quis dizer quando
escreveu: "Não apagueis o Espírito (1 Ts 5.19). Devemos atentar cuidadosamente para toda palavra, todo
movimento e todo sentimento que ocorrer em nosso homem interior. Agindo assim, estaremos
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contribuindo para que nossa consciência espiritual se torne aguçada, e Deus poderá revelar- nos sua
vontade.
Quem deseja viver por seu espírito, precisa aprender a reconhecer quando ele se encontra irresponsável e
incapaz de cooperar com o Espírito Santo, e também determinar o motivo disso. Precisa também
proteger cuidadosamente seu espírito de todas as perturbações do inimigo e de sua própria vida
egocêntrica. Além disso, deve dar-lhe condições de desfrutar de uma comunhão pacífica com Deus.

8. AS CONDIÇÕES DO ESPÍRITO

Vamos resumir. O crente que deseja viver pelo espírito precisa conhecer as leis que o regem. Se não
permanecer vigilante, e seu espírito perder a cooperação com Deus, sem dúvida nenhuma ele caiu. Uma
das leis mais importantes é discernir a condição em que se encontra o seu homem interior. Ela engloba
tudo o que discutimos neste capítulo.
O crente precisa saber qual é a condição normal do espírito. É ele que deve ter autoridade sobre nosso
corpo e nossa alma, ocupando a posição mais elevada em nosso ser, e detendo o maior poder. Portanto
precisamos saber se estamos nessa condição. Caso o espírito tenha perdido essa posição normal, o crente
precisa verificar também se isso se deu em decorrência de um combate ou por influência do ambiente.
As condições em que o espírito costuma se encontrar podem classificar-se geralmente em quatro tipos:
a) O espírito está oprimido, e, portanto, em declínio.
b) O espírito está sob compulsão, e por isso é forçado a agir desordenadamente.
c) O espírito encontra-se impuro (2 Co 7.1), por ter dado lugar ao pecado.
d) O espírito está tranqüilo e firme, e nesse caso ocupa a posição certa.
Todo crente precisa conhecer pelo menos essas quatro condições. Precisa saber, também, como deve
proceder em cada uma delas, se for necessário. Muitas vezes, por causa do seu próprio descuido com
relação a ataques do inimigo, o espírito do crente afunda e é colocado de lado. Durante esse tempo, ele
parece ter perdido sua posição celestial, com seu brilho e sua vitória peculiares, passando a sentir-se frio
e seco. Havendo tristeza em seu espírito, ou por alguma outra razão, o homem interior fica prostrado,
privando-se da alegria de pairar acima de tudo. Quando o espírito sofre uma opressão desse tipo, cai
para um nível abaixo do normal.
Em outras ocasiões, ele pode ser compelido a operar descontroladamente. Por vezes, uma pessoa fica tão
estimulada por sua alma que seu espírito passa a sofrer compulsão, perdendo, assim, a sua tranqüilidade.
Se o crente se entregar a atividades humanas, ele pode desenvolver um espírito indisciplinado. Excesso
de riso, bem como outras ações, podem levar o espírito a se tornar incontrolável. Uma guerra prolongada
com o inimigo pode provocar uma superatividade do espírito. O espírito pode ficar tão ativo que não
consegue mais parar. O inimigo pode também injetar nele uma alegria estranha, ou outros sentimentos,
induzindo-o a ir além do que determinam sua mente ou sua vontade, e que seria o certo e aconselhável.
Sempre que alguém se mostra incapaz de controlar seu espírito, inevitavelmente está se expondo à
derrota.
Há outras vezes em que o espírito nem se abate nem se eleva demais: simplesmente está maculado. Isso
ocorre por causa de dureza ou de insubmissão, ou ainda de pecados como o orgulho, o ciúme e outros.
Pode ser também que ele esteja misturado com certas funções da alma*, como, por exemplo, a afeição
natural, o sentimento e o pensamento. O espírito precisa purificar-se de toda contaminação #II Co 7.1; #I
Jo 1.9.
O crente que deseja viver segundo o espírito precisa discernir exatamente qual é a condição dele. Precisa
ver se ele está no seu devido lugar, isto é, em estado de quietude, se está "afundado", se está muito
elevado, ou se apenas está maculado. Se for preciso, ele deve aprender a erguer seu espírito oprimido,
para que ele alcance o padrão estabelecido pelo Espírito Santo. Deve aprender ainda a exercitar a
vontade, no sentido de evitar que o espírito se torne demasiadamente ativo. Se isso tiver acontecido,
precisa agir para que ele volte à normalidade. Deve aprender, também, a purificar o espírito maculado, a
fim de novamente poder operar junto com Deus.

CAPÍTULO 10

A MENTE COOPERA COM O ESPIRITO

Se queremos viver segundo o espírito, precisamos entender cada uma de suas leis. Sem esse
conhecimento básico, não poderemos compreender todos os significados dos diversos sentidos
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espirituais. Em conseqüência, não teremos capacidade de cumprir aquilo que Deus requer de nós. Todas
as exigências que Deus faz ao espírito se expressam por meio dos movimentos do espírito. Não atentar
para eles implica ignorar essas exigências. É por essa razão que o crente precisa conhecer as leis
espirituais, isso é uma prioridade para ele.
Todavia existe algo mais de igual importância, para quem quiser viver segundo o espírito. É o princípio
da mente auxiliando ou assistindo o espírito, que precisamos exercitar constantemente. Muitas das
derrotas que sofremos na vida espiritual se devem ao fato de não atentarmos para esse princípio, embora
conheçamos bem as leis do espírito. E por quê? Porque essas leis apenas nos explicam o significado do
mover do espírito, concedendo-nos formas de satisfazer suas exigências particulares. Sempre que nosso
espírito sente algo, é pelo conhecimento dessas leis que nos capacitam a atender às exigências feitas. Em
condições normais, agimos de acordo com essas exigências. Entretanto, se as condições não estiverem
normais, podemos corrigi-las. Todavia aqui temos um problema. Não é sempre que experimentamos
esses movimentos espirituais. O espírito pode simplesmente ficar calado. Muitos crentes percebem que
seu espírito se mantém em silêncio total por muitos dias. É como se ele estivesse dormindo. Será que
isso quer dizer que durante esse período em que o espírito está inativo não devemos fazer nada? Será
que devemos ficar parados durante alguns dias, sem orar, sem ler a Bíblia, e sem: realizar nenhuma
obra? Nosso bom senso espiritual responde com um vigoroso "Não!" Em hipótese nenhuma devemos
desperdiçar o tempo. Entretanto fazer algo durante esse período não seria o mesmo que operar na força
da carne, e não segundo o espírito?
É exatamente aí que devemos aplicar o princípio da mente apoiando o espírito. Como? Quando o
espírito está dormindo, nossa mente deve entrar em ação e fazer o trabalho dele. Depois de algum
tempo, veremos que o próprio espírito passa a operar conjuntamente com ela. A mente e o espírito
acham-se intimamente ligados, e devem ajudar-se mutuamente. Muitas vezes o espírito sente algo que a
mente deve entender, e daí passamos à ação. Em outras ocasiões, quando o espírito está apático, através
da atividade da nossa mente ele desperta. Se o espírito estiver inativo, a mente poderá levá-lo a mover-
se. E logo que ele se mover, o crente deve segui-lo. Esse estímulo que a mente exerce sobre o espírito é
o que chamamos de princípio, ou lei, da mente auxiliando o espírito. Existe um princípio espiritual
segundo o qual, no início, devemos exercitar nosso sentido espiritual para apreender aquilo que Deus
nos revela. Depois, porém, temos de usar a mente para conservar e pôr em prática esse conhecimento.
Algumas vezes, por exemplo, um crente percebe um problema em determinado lugar. De acordo com o
conhecimento que recebeu de Deus, ele reconhece que deve orar, pedindo-lhe a solução dele. Entretanto
suponhamos que, ao contemplar a necessidade, seu espírito não sinta a menor disposição de orar. O que
ele deve fazer, então? Esse crente deve orar com a mente, em vez de ficar esperando que seu espírito se
mova. Cada problema ou necessidade com que nos deparamos é um chamado à oração. Embora
inicialmente o crente possa até orar com a mente, já que seu espírito se acha em silêncio, à medida que
vai prosseguindo na oração, ele começa a ter consciência de que algo se levanta em seu interior. Isso
significa que seu espírito finalmente abraçou a tarefa de orar.
Por vezes nosso homem interior fica tão oprimido por Satanás, ou tão perturbado pela vida natural, que
dificilmente podemos discerni-lo. Ele "afundou" tanto que parece ter perdido a consciência própria.
Continuamos sentindo a presença da nossa alma e do nosso corpo, mas o espírito parece ausente. Se
esperarmos que ele desperte para só depois começarmos a orar, é provável que nunca venhamos a fazê-
lo, Ademais nosso espírito também não vai recuperar sua liberdade. Devemos, então, orar com respeito à
revelação que recebemos, da qual a mente se recorda, e com essa oração resistir ao poder das trevas.
Quando não sentimos o espírito, devemos orar com a mente. Isso fará com que nosso espírito acabe se
movendo.
Orar "com a mente" (1 Co 14.15) pode ser uma forma de reativar o espírito. Embora no início nossa
oração pareça vazia, despojada de qualquer significado, à medida que persistirmos em orar com a mente
e resistir em oração, nosso espírito irá se elevando. Aí então o espírito e a mente passarão a operar
juntos. Tão logo o espírito comece a operar, a oração se tornará significativa e bastante livre. O estado
normal da vida espiritual consiste de uma cooperação entre a mente e o espírito.

A BATALHA ESPIRITUAL

Se na batalha espiritual o crente não observar a lei da cooperação entre o espírito e a mente, vai ficar
sempre esperando os encargos de Deus, em vez de empreender uma guerra sem tréguas contra o
inimigo. Como o crente ainda não tem consciência de guerra, ele conclui que deve esperar esse
sentimento chegar. Pensa que somente aí é que poderá orar contra o inimigo. Não compreende que, se
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começar a orar com a mente, o espírito logo vai perceber a guerra. Todos sabemos como o maligno é
perverso, e como ele molesta os filhos de Deus e os filhos do homem. Reconhecemos, também, que
devemos orar contra ele, a fim de mandá-lo para o abismo o mais rápido possível. Sendo assim, como é
que vamos esperar que nosso espírito reconheça a gravidade da situação, para depois agir? Embora ainda
não tenhamos a consciência da batalha, devemos orar assim mesmo. Vamos iniciar com a mente,
amaldiçoando o maligno com as palavras que já conhecemos. Pouco depois, nosso espírito se ativará, e,
juntamente com as palavras de maldição, exercerá seu poder. Vejamos uma ilustração. Suponhamos que
o Espírito Santo, bem de manhã, nos unja poderosamente, para amaldiçoarmos o inimigo com nosso
espírito, e que ao meio-dia estejamos como se o tivéssemos perdido. Que fazer, então? Devemos fazer
com a mente aquilo que o espírito fez pela manhã. O princípio espiritual é este: tudo o que recebemos
através do espírito, devemos preservar e empregar por meio da mente.

O ARREBATAMENTO

Podemos aplicar a lei da cooperação da mente à questão da fé, no que diz respeito ao " arrebatamento".
Em dado momento, um cristão desfruta do "espírito de arrebatamento". Algum tempo depois, porém,
parece que perdeu essa consciência da proximidade da volta do Senhor e da realidade do arrebatamento.
Nessa hora, ele deve se lembrar da lei da cooperação entre a mente e o espírito. Deve orar com a mente,
mesmo que seu sentido espiritual esteja vazio. Se ele simplesmente ficar esperando que seu espírito se
encha do sentimento de arrebatamento, nunca voltará a possuí-lo. Entretanto, se exercitar a mente,
levando-a a pensar e a orar, daí a pouco estará cheio da consciência espiritual que antes possuía.

A PREGAÇÃO

Esse princípio é vital também para a pregação. As verdades que aprendemos se acham agora estocadas
em nossa mente. Se as comunicarmos a outros, apenas com a mente, não obteremos nenhum resultado.
Sem dúvida nenhuma, anteriormente nós as conhecemos em nosso espírito. Agora, porém, este parece
estar inativo, e só nos restam lembranças. Como, então, o espírito pode voltar a encher-se dessas
verdades, para que possamos comunicá-las a outros, por meio dele? Pelo exercício da nossa mente.
Devemos meditar nelas de novo, diante de Deus, e orar sobre elas repetidas vezes. Em outras palavras,
devemos colocá-las no centro de tudo, e orar com base nelas. Em pouco tempo, perceberemos que nosso
espírito se acha novamente permeado por essas verdades. Inicialmente elas se encontravam no espírito.
Mais tarde, passaram à mente. Agora, de novo, quando oramos com a mente, elas entram no espírito.
Assim, achamo-nos qualificados para pregar aquilo que antes havíamos conhecido em nosso espírito.

A INTERCESSÃO

Todos nós reconhecemos o valor da intercessão. Entretanto, muitas vezes, quando dispomos de tempo,
nosso espírito está inativo, e não nos fornece os assuntos para a oração intercessoria. Isso não significa,
porém, que nessas ocasiões não devamos orar, nem que possamos utilizar esse tempo para outras
atividades. Pelo contrário, devemos é interceder, orando com a mente, na esperança e na expectativa de
que o espírito se ative, passando a participar. Devemos, também, exercitar a mente para pensar nos
amigos, parentes e colaboradores na obra, e lembrar se eles estão passando por alguma dificuldade. À
medida que vamos nos recordando de cada uma dessas pessoas, devemos interceder em seu favor. Se
nessa intercessão o espírito permanecer frio e indiferente, é porque não devemos orar por elas.
Suponhamos, porém, que aí nos lembremos de um problema específico em determinada igreja, ou de
tentações que ela esteja enfrentando, ou de impedimentos na obra do Senhor em algum lugar, ou ainda
de verdades claras que os servos de Deus precisam conhecer hoje. Devemos, então, orar por cada um
desses motivos, à medida que eles nos vierem à mente. Se depois de algum tempo, enquanto estivermos
ainda orando com a mente, nosso espírito não corresponder, é porque não são esses os motivos pelos
quais o Senhor deseja que oremos hoje. Suponhamos, porém, que, ao tocarmos em determinadas
questões durante a oração, sintamos como se o Espírito Santo estivesse nos ungindo, e o nosso espírito
parece corresponder ao toque dele. É nesse momento singular que passamos a reconhecer que estamos
finalmente intercedendo por aquilo que está no coração do Senhor. Por isso, no começo, é necessário
que exercitemos a mente para ajudar o espírito a encontrar o caminho certo.
Muitas vezes, basta um pequeno exercício da mente para provocar a resposta do espírito. Outras, porém,
devido a uma estupidez ou estreiteza mental, podemos precisar esperar algum tempo, até que o espírito
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passe a cooperar. Vejamos um exemplo. Deus gostaria que ampliássemos o escopo de nossa oração,
incluindo nela as nações, a fim de derrotar todas as operações de Satanás que estão "por trás do pano"
.Ou o Senhor pode querer que intercedamos por to- dos os pecadores do mundo, ou então por toda a
igreja. Nossa mente, porém, se fixa em questões mais imediatas. É necessário aguardarmos algum tempo
até que ela esteja preparada para considerar esses assuntos mais abrangentes e comece a orar de acordo
com o Espírito Santo. Entretanto, tão logo nosso espírito se una a ela, poderemos e deveremos orar por
todos os encargos relacionados com esses motivos. Devemos esgotar completamente cada um de seus
aspectos, até que nosso espírito se sinta aliviado do encargo. Só então podemos nos voltar para
interceder por outros assuntos. Isso constitui um princípio realmente importante em nossa vida
espiritual. Quando Deus nos atribui novos encargos de oração, geralmente ele os coloca em nosso
espírito. Depois disso, porém, não podemos ficar esperando que Deus repita a mesma ordem. O que
devemos fazer é exercitar a mente, orando repetidamente por aquilo que nos foi ordenado, até que nosso
espírito receba outros encargos.

CONHECENDO A VONTADE DE DEUS

Nem sempre recebemos a orientação de Deus diretamente. Algumas vezes ela vem de maneira indireta.
Quando ela é direta, o Espírito de Deus se move em nosso espírito, capacitando-nos, assim, a conhecer
sua vontade. Se nossa mente estiver atenta ao mover do espírito, poderemos reconhecer facilmente essa
vontade. Entretanto há muita coisa que Deus nos fala nas diversas situações da vida, mas não o faz
necessariamente de forma direta. É possível, por exemplo, que estejamos conscientes de muitas
necessidades e problemas. Que devemos fazer, então, a respeito deles? Talvez tenhamos sido convidados
para trabalhar em algum lugar, ou algo aconteceu de repente. Obviamente questões como essas não vêm
diretamente pelo nosso espírito, pois chegam até nós através de outras pessoas. Com nossa mente
percebemos que é importante que demos solução a esses problemas. Todavia nosso espírito não
corresponde. Como poderemos saber qual é a vontade de Deus em tais situações? Quando nos achamos
diante de algo assim, devemos pedir a Deus, com nossa mente, para nos conduzir em espírito. Desse
modo, estamos recebendo uma orientação indireta de Deus. É nesses momentos que a mente deve
assistir o espírito. Quando alguém nota que seu espírito se acha inativo, deve exercitar a mente. Se o
espírito estiver operando incessantemente, isto é, transmitindo aquilo que chega a ele, não precisa da
ajuda da mente. Apenas quando o espírito permanece silencioso é que ela deve preencher o vazio
deixado por ele. Em tais circunstâncias, o crente deve exercitar a mente, refletindo sobre a questão não
resolvida, contando para isso com a ajuda de Deus. Embora essa oração e reflexão se originem na mente,
pouco tempo depois o espírito estará participando. Antes não conseguíamos sentir o espírito; agora,
porém, começamos a senti-lo, e logo veremos o Espírito Santo conduzindo-nos por meio dele. Jamais
devemos ficar apáticos ao perceber que o espírito se acha quieto. Devemos é exercitar a mente para
"tocá-lo" e ativá-lo, para, por meio dele, sabermos se aquela questão vem de Deus ou não.

O PRINCÍPIO QUE REGE A ATIVIDADE DO ESPÍRITO

A operação da mente é indispensável em nossa experiência espiritual. De modo diverso das marés, o
espírito não se enche por um vai-e-vem espontâneo. Para que ele se encha, precisamos cumprir as
condições necessárias. É nesse ponto que a mente assume seu papel: colocar em ação algo que depois o
espírito levará avante por si mesmo. Se ficarmos apenas esperando a participação dele, acabaremos
frustrados. Por outro lado, não devemos atribuir uma importância exagerada à atuação da mente. A essa
altura, já devemos saber que, se a ação não vier do espírito, não terá nenhum propósito útil. Não
devemos viver segundo a mente. Por que, então, a utilizamos? Não é por causa dela mesma, mas para
levar o espírito a operar. Por isso, continuamos achando que o espírito é o mais importante. Todavia, se
depois de exercitarmos nossa mente durante algum tempo e o espírito não corresponder, como se
estivesse destituído de unção, devemos parar de exercitá-la. Se, durante uma batalha espiritual,
detectarmos um vazio prolongado no fundo do nosso ser, sem nenhum sentimento em nosso espírito,
devemos parar de atuar com a mente. Entretanto jamais devemos interrompê-la porque a carne o quer.
Ocasionalmente nos sentimos cansados, e mesmo assim temos consciência de que devemos prosseguir.
Em outras vezes, porém, sentimos que devemos parar. Nas questões espirituais não existem leis fixas.
Podemos comparar essa ajuda que a mente presta ao espírito com uma bomba d'água manual. Em
algumas bombas, precisamos colocar nelas um copo d'água, para podermos começar a bombear. A
relação entre nossa mente e o espírito é semelhante à do copo d'água com a bomba. Se não usarmos esse
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copo d'água como " arranque", não poderemos tirar água da cisterna. Do mesmo modo, nosso espírito só
se levantará se primeiro exercitarmos a mente. Se não começarmos a orar com a mente, por acharmos
que temos de fazê-lo com o espírito, estaremos agindo como quem não coloca o copo d' água na bomba,
dá umas duas bombadas e depois conclui que não existe água na cisterna.
Como são variadas as obras do espírito! Algumas vezes ele é como um leão cheio de força! Em outras, é
como um bebê, que não possui vontade própria. Quando ele se acha fraco e desvalido, a mente deve
atuar como sua ama. Esta nunca vai substituir o espírito; simplesmente nos ajuda a ativá-lo. Se o espírito
deixar de manter sua posição de proeminência, devemos usar o poder da mente, em oração, para levá-lo
a retomar essa condição. Caso ele tenha se afundado, por causa de opressão, devemos utilizar a mente
para examinar a situação e orar seriamente, até que o espírito se levante de novo, e retome sua liberdade.
Uma mente espiritual pode manter o espírito numa posição estável. Ela pode impedir que o espírito se
torne demasiadamente ativo, e também pode levantá-lo quando estiver afundado.
Vamos desenvolver esse tema um pouco mais. Conforme já dissemos, o espírito só poderá encher-se
novamente pela ministração da mente espiritual. Tudo aquilo que anteriormente acontecia pela atuação
do espírito agora deve ser realizado pela mente. Se, mais tarde, o Espírito Santo nos dispensar sua
unção, estará atestando que estamos realizando essa obra no espírito. Inicialmente, não tínhamos
nenhum sentimento espiritual a respeito dela. Entretanto o sentimento que agora temos em nosso homem
interior nos assegura que o propósito inicial era exatamente esse. O espírito era incapaz de realizá-lo, por
estar fraco demais. Agora, porém, com o auxílio da mente, ele pode expressar algo que antes não podia.
Então, se meditarmos e orarmos com a mente, poderemos obter tudo de que precisamos no espírito.
Assim nosso espírito voltará a encher-se.
Há ainda outro ponto que devemos observar. No conflito espiritual, um espírito luta contra outro
espírito. Entretanto, nessa batalha contra o inimigo, todas as faculdades do homem devem se unir ao
espírito. E a mente é a mais importante dessas faculdades. O espírito e a mente unem suas forças na
batalha. Se o espírito ficar oprimido e começar a perder o poder de resistir, a mente prosseguirá na luta
em lugar dele. À medida que ela luta e resiste em oração, o espírito se enche de novo, e volta a erguer-se
para o combate.

A CONDIÇÃO DA MENTE

Apesar de a mente ser inferior ao espírito, ela pode ajudá-lo. Além de fortalecê-lo quando ele está fraco,
ela deve ser capaz também de ler e examinar o pensamento dele. Portanto é necessário que ela se
mantenha em sua condição normal. A atividade da mente, do mesmo modo que o mover do espírito, tem
suas próprias leis. Para trabalhar com liberdade, a mente precisa estar leve e cheia de vida. Se for
solicitada demais, à semelhança de um arco curvado em demasia, ela perde sua capacidade de trabalhar.
O inimigo sabe muito bem que precisamos da nossa mente para assistir ao espírito, para podermos viver
pelo espírito. Por isso, com freqüência, ele nos induz a usá-la em excesso, de modo que ela fique sem
condições de operar normalmente. Assim não poderá ajudar o espírito nos momentos de fraqueza.
E nossa mente não é apenas um elemento que deve auxiliar o espírito. Ela é também o ponto onde
recebemos revelação de Deus. O Espírito Santo lança sua revelação em nossa mente através do espírito.
Se a utilizarmos excessivamente, pensando em demasia, ela perderá a capacidade de receber essa
revelação. O inimigo sabe que, se nossa mente estiver em trevas, se não tivermos a revelação divina,
todo o nosso ser passa a viver em trevas. Por isso, ele não poupa esforços para nos fazer pensar tanto, a
ponto de ficarmos incapazes de agir com tranqüilidade. Para andar segundo o espírito, precisamos
controlar a mente, para que ela não opere incessantemente. Se ela se concentrar demais em algum
assunto, se afligir ou se preocupar muito com determinadas questões, ou mesmo meditar intensamente
para saber a vontade de Deus, pode ficar sobrecarregada, o que dificultará seu funcionamento normal. A
mente precisa manter-se numa condição segura e estável.
Nossa mente ocupa uma posição de enorme destaque. Portanto, ao trabalharmos com as pessoas,
devemos ter todo cuidado para não interromper o raciocínio delas. Isso causaria sofrimentos à mente.
Quando os pensamentos do crente estão sendo guiados e conduzidos pelo Espírito, ele fica
extremamente receoso de interferências. Qualquer interrupção " quebra" o fluxo do raciocínio, levando a
mente a se esforçar além da conta. Por causa disso, ela fica sem condições de cooperar com o Espírito
Santo. Então, devemos manter nossa mente livre, e também respeitar a do nosso irmão. Precisamos,
primeiro, nos inteirar de sua linha de raciocínio, para depois responder-lhe. Caso contrário, estaremos
impondo-lhe pressões desnecessárias.
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CAPÍTULO 11

A NORMALIDADE DO ESPIRITO

Quando o espírito está errado, ele é o responsável por boa parte da nossa conduta incorreta. Quem deseja
viver no espírito, deve se manter sempre numa atitude adequada. A mente pode se tornar relaxada e
arrogante, ou então retraída e tímida. O mesmo pode acontecer com o espírito. Se não o mantivermos no
Espírito Santo, ele será derrotado, e nossa conduta exterior também será de derrota. Precisamos saber
que muitos dos erros exteriores têm sua raiz na falha do espírito. Se nosso homem interior estiver forte e
poderoso, conseguirá controlar a alma e o corpo, e limitar a libertinagem deles, sejam quais forem as
circunstâncias. Se, porém, ele estiver fraco, a alma e o corpo o oprimirão, levando-o a cair. Deus está
interessado em nosso espírito. É nele que habita a nova vida. É nele que seu Espírito opera em nós, e que
temos comunhão com ele. É por meio dele que ficamos sabendo qual é a sua vontade, e recebemos a
revelação do Espírito Santo. É nele também que Deus nos instrui, nele amadurecemos, resistimos aos
ataques do inimigo, recebemos autoridade para vencer o diabo e seu exército, e obtemos poder para
servir. É pela vida de ressurreição que há em nosso espírito que nosso corpo finalmente será
transformado num corpo ressurreto. Como estiver a condição do nosso espírito, assim será nossa vida
espiritual. Vemos, então, como é essencial para nós preservar a normalidade do espírito! O principal
interesse do Senhor por nós está não no homem exterior, na alma, mas no homem interior, no espírito.
Nosso homem exterior pode até ter alcançado um grande desenvolvimento. Todavia, se o componente
interior apresentar anormalidade, todo o nosso viver será tortuoso.
A Bíblia contém ensinamentos a respeito da normalidade do nosso espírito. Muitos crentes
amadurecidos têm experimentado o que a Palavra de Deus ensina a esse respeito. Eles sabem que, para
reter sua posição de vitória e cooperar com Deus, precisam manter o espírito nas condições adequadas,
apresentadas na Bíblia. Mais adiante veremos de que maneira deveremos controlá-lo por meio de nossa
vontade renovada. Esse princípio é de grande importância, pois, através da vontade, podemos levar o
espírito a colocar-se na posição correta.

1. UM ESPÍRITO CONTRITO

"Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito. " #SL 34.18.
"Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no
alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos e vivificar o coração dos contritos." #Is 57.15.

O povo de Deus costuma pensar, equivocadamente, que o cristão só precisa ter um espírito contrito
quando se converte e crê no Senhor, ou quando, posteriormente, cai em pecado. Precisamos saber,
porém, que Deus quer que nosso espírito se mantenha em permanente estado de contrição. Embora não
pequemos todos os dias, ainda assim ele exige que tenhamos um espírito humilde o tempo todo. Isso é
necessário porque nossa carne ainda existe, e pode despertar a qualquer momento. Essa contrição nos
ajuda a manter a vigilância. Não devemos pecar nunca. Todavia devemos sempre sentir tristeza pelo
pecado. A presença de Deus se faz sentir nesse espírito.
Deus não se agrada de que nos arrependamos muitas vezes, achando que isso é suficiente. O que ele
deseja é que vivamos em contrição constante. Somente mantendo o espírito assim é que nos tornamos
capazes de detectar e lamentar de imediato tudo que estiver em desarmonia com o Espírito Santo, tanto
em nossa conduta como em nossas ações. É assim também que admitimos nossas falhas, tão logo o
Espírito nos adverte delas. Esse espírito quebrantado é por demais necessário, pois, embora sejamos um
espírito com o Senhor, por estarmos unidos a ele, isso não nos torna infalíveis para sempre. O espírito
pode errar (Is 29.24), e mesmo que não tenha errado, a mente pode ficar confusa, a ponto de paralisá-lo,
de modo que ele não execute seus intentos. possuindo uma vida interior contrita, temos mais facilidade
para fazer uma confissão instantânea, e não esconder aqueles senões que os outros percebem em nós e
que destoam da santidade do Senhor. Deus salva os que possuem um espírito contrito. Os demais não
podem ser salvos, pois para conhecer a mente divina é necessário ter contrição. Os que encobrem as
próprias faltas e se desculpam não têm um espírito penitente. Por isso Deus não pode aperfeiçoar-lhes a
salvação. Precisamos de um espírito verdadeiramente sensível às correções, tanto do Espírito quanto do
homem. Precisamos ter um espírito disposto a admitir que vivemos abaixo do padrão recomendado. Aí
então experimentaremos a cada dia a salvação do Senhor.
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2. UM ESPÍRITO QUEBRANTADO

"Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado. " #SL 51.17.

O espírito quebrantado é aquele que treme diante de Deus. Há cristãos que pecam sem sentir nenhuma
inquietação em seu interior. Um espírito reto se quebranta diante de Deus, como ocorreu com Davi,
depois de ter pecado. Não é difícil restaurar para Deus aqueles que têm um espírito quebrantado.

3. UM ESPÍRITO AFLITO

"Mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha Palavra. "
(Is 66.2. )

O espírito no qual Deus se deleita é o espírito aflito, porque este o reverencia e treme diante da sua
Palavra. Nosso espírito deve manter-se em permanente temor reverencial ao Senhor. Precisamos
abandonar toda auto confiança e presunção. Temos de reconhecer a Palavra de Deus como nosso guia
exclusivo. O crente deve possuir dentro de si um santo temor: não deve ter nenhuma confiança em si
mesmo. Seu espírito deve estar tão abatido que não ousa levantar a cabeça, antes obedece humildemente
a ordem dada por Deus. Um espírito inflexível e arrogante é sempre um empecilho para a obediência.
Entretanto, quando a cruz opera profundamente no crente, ele chega ao conhecimento de si mesmo.
Reconhece como suas idéias, desejos e sentimentos são indignos de confiança. Por isso põe de lado toda
autoconfiança e treme diante de qualquer problema. É que reconhece que, se o poder de Deus não o
sustentar, ele fatalmente cairá. Jamais devemos nos tornar independentes do Altíssimo. No momento em
que nosso espírito deixar de tremer diante dele, nesse mesmo instante se declara independente. Se não
enxergarmos o quanto somos dependentes, jamais confiaremos no Eterno. Portanto, tendo um espírito
que treme diante de Deus, ficamos protegidos de derrotas e ele nos ajuda a compreender o Senhor.

4. UM ESPÍRITO HUMILDE

"Melhor é ser humilde de espírito com os humildes, do que repartir o despojo com os soberbos. " #Pv
16.19.
"O humilde de espírito obterá honra." #Pv 29.23.
"Mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde. "
#Is 57.15.

Ser humilde não é olhar para si mesmo com desprezo. Na verdade, é não olhar de modo nenhum. Tão
logo o espírito do crente se torna arrogante, este corre o risco de cair. E precisamos ter humildade não
apenas diante de Deus, mas do homem também. Uma pessoa manifesta um espírito humilde quando se
associa com o pobre. Somente esse espírito é incapaz de desprezar qualquer criatura de Deus. A presença
e a glória de Deus se manifestam na vida daquele que é espiritualmente humilde.
A pessoa humilde se mostra disposta a aprender, é solícita, e recebe bem as explicações. O espírito de
muitos é por demais arrogante. Há pessoas que são capazes de ensinar aos outros, mas não conseguem
aprender nunca. Muitos possuem um espírito obstinado. Agarram-se tenazmente às suas opiniões,
mesmo reconhecendo que estão errados. Outros são duros de espírito, não aceitando explicações para
mal-entendidos. Somente os humildes têm a capacidade de suportar e tolerar.
Deus precisa de homens humildes para através deles expressar as virtudes divinas. Como um homem
orgulhoso pode ouvir a voz do Espírito Santo e cooperar com Deus? Em nosso espírito não deve haver o
menor sinal de orgulho. As qualidades do espírito devem ser brandura, delicadeza e flexibilidade.
Qualquer aspereza no homem interior pode impedir a comunhão com o Altíssimo, pois isso, com
certeza, difere bastante do caráter divino. Se quisermos andar com o Senhor, precisamos ter um espírito
humilde, que espera sempre nele, e não lhe oferece nenhuma resistência.

5. POBREZA DE ESPÍRITO

"Bem-aventurados os pobres de espírito. " (Mt 5.3- ARC. )


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Os pobres de espírito são aqueles que se consideram desprovidos de tudo. O grande perigo do servo de
Deus está em ter muitas conquistas em seu espírito. Somente os pobres de espírito podem ser humildes.
Muitas vezes um crente valoriza tanto sua experiência, crescimento e progresso, que acaba perdendo a
humildade! O mais traiçoeiro de todos os perigos para o crente é meditar nessas conquistas e ficar muito
atento às suas experiências. E às vezes ele toma essa atitude de modo inconsciente. O que significa,
então, ser pobre? Ser pobre quer dizer não ter nada. Se um crente ficar sempre pensando em suas
profundas experiências, logo estas se tornarão simples mercadorias para uso de seu espírito, passando a
constituir uma cilada para ele. Quando o crente esvazia seu espírito, tem condições de render-se
completamente a Deus. Já quem tem um espírito rico torna-se egocêntrico. A salvação plena liberta-nos
de nós mesmos, e nos coloca em Deus. Se o cristão retiver algo para si, seu espírito imediatamente se
volta para dentro, tornando-se incapaz de sair dele e ser um com Deus.

6. UM ESPÍRITO DE BRANDURA

"Com espírito de brandura." #GL 6.1.


A brandura é uma característica do homem interior, sendo extremamente necessária. É o oposto da
aspereza. Deus exige que cultivemos um espírito de mansidão. Aquele que o possui, assim que recebe
uma ordem de Deus, interrompe seu trabalho imediatamente, mesmo que este seja muito frutífero. Foi o
que aconteceu com Filipe, que estava em Samaria e o Espírito Santo o enviou para o deserto. Um
espírito brando nas mãos de Deus faz o que o Senhor quer. Não sabe resistir a Deus, nem segue a própria
vontade. Para Deus realizar seus propósitos, precisa de um espírito com esse nível de submissão.
Um espírito manso não é menos importante nos relacionamentos humanos. Trata-se do espírito de
cordeiro que caracteriza o espírito da cruz. "Quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente." (1 Pe 2.23.) Essa é a
descrição de um espírito brando. Quem possui tal mansidão dispõe-se a sofrer perdas. Embora tenha
condições de revidar e esteja sob a proteção da lei, não obstante, ele não deseja se vingar com o braço da
carne. É o espírito que, mesmo sofrendo, não fere a ninguém. Aquele que possui um espírito assim vive
de modo justo, mas nunca exige justiça dos outros. É cheio de amor e misericórdia; por conseguinte,
pode derreter o coração daqueles que se acham ao seu redor.

7. UM ESPÍRITO FERVOROSO

"No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor. " (Rm 12.11.)

Quando a carne fica emocionalmente agitada, pode parecer fervorosa por algum tempo. Contudo esse
fervor não permanece. E apesar dessa aparente diligência, na verdade, ela pode estar sendo bastante
preguiçosa. É que essa disposição só se manifesta em situações que se harmonizam com os propósitos
dela. Desse modo, podemos dizer que a carne é impelida pela emoção. Ela não consegue servira Deus
quando as emoções se encontram arrefecidas, nem quando se trata de algo que não lhe agrada. Para a
carne, é impossível trabalhar com o Senhor, passo a passo, de modo lento, porém firme, chova ou faça
sol. Ser "fervoroso no espírito" é uma característica permanente. Aquele que a possui acha-se
qualificado para servir ao Senhor de modo contínuo. Devemos evitar todo fervor da carne, mas permitir
que o Espírito Santo encha nosso homem interior, a fim de que ele seja sempre fervoroso. Desse modo, o
espírito não esfriará, mesmo quando as emoções estiverem congeladas. Assim a obra do Senhor não se
desmoronará, chegando a um estado de aparente imobilidade.
O que o apóstolo diz aí é uma ordem, que nós devemos aceitar, já que nossa vontade é renovada.
Devemos exercitá-la, tomando a decisão de ser fervorosos. Devemos dizer a nós mesmos: "Quero que
meu espírito seja fervoroso, e não frio" .Não devemos permitir em nós um sentimento frio e indiferente,
que nos deixe prostrados. Em vez disso, devemos fazer com que o espírito assuma o pleno controle de
tudo, até mesmo daquilo que não desperta nossas emoções. A prova de que temos um espírito fervoroso
é estarmos " ser- vindo ao Senhor" sempre.

8. UM ESPÍRITO SERENO

"O sereno de espírito é homem de inteligência." (Pv 17.27.)


Nosso espírito precisa ser fervoroso, mas também deve ser sereno. O fervor está relacionado com o "
servir diligentemente ao Senhor" , enquanto a serenidade tem a ver com o conhecimento.
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Quando falta serenidade no nosso espírito, nossas ações muitas vezes se tornam desordenadas. O
inimigo procura desviar-nos do caminho, para que nosso espírito não tenha contato com o Espírito
Santo. Existem muitos crentes que, quando seu espírito agita, param de viver segundo os princípios
espirituais e passam a seguir as emoções. O espírito acha-se intimamente ligado à mente. No instante em
que ele perde sua serenidade, a mente se estimula. Quando a mente se torna aquecida, a conduta do
crente torna-se anormal, ficando descontrolada. Por isso, é sempre bom mantermos o homem interior
calmo e controlado. Não dando muita atenção ao ardor das emoções, à intensificação dos desejos ou à
confusão do pensamento, e avaliando cada problema com espírito sereno, manteremos nossos pés no
caminho do Senhor. As ações que realizamos quando nosso espírito está estimulado provavelmente
contrariam a vontade de Deus. Conhecendo a Deus, ao ego, a Satanás, e a tudo o mais, obtemos uma
serenidade de espírito, que os crentes carnais * * não podem experimentar. Nosso homem interior deve
estar cheio do Espírito Santo, ao passo que o exterior deve ser totalmente entregue à morte. Assim, o
espírito poderá desfrutar de uma serenidade indescritível. Nem a alma, nem o corpo, nem mesmo a
mudança das circunstâncias desfaz essa tranqüilidade. A situação é semelhante à do oceano. Embora na
superfície as ondas estejam furiosas, no fundo o mar permanece tranqüilo e livre de perturbação. Antes
de o crente ter consciência da divisão entre a alma e o espírito, basta a menor perturbação para ele logo
se agitar e estremecer. Isso se deve à falta de conhecimento espiritual. Portanto, para termos sempre um
espírito sereno, é preciso que nosso homem interior esteja separado do exterior. O crente cujo espírito é
imperturbável experimenta uma condição em que é praticamente "intocável". Ele nunca perde a
serenidade e a paz interiores, nem mesmo diante da maior perturbação exterior. Ainda que uma
montanha desabe diante de seus olhos, ele permanece tranqüilo, sem se perturbar. E não é através do
auto-aperfeiçoamento que se obtém tal tranqüilidade. É pelo Espírito Santo, que nos revela a realidade
de tudo. E é pelo controle que exercemos sobre nossa alma, de modo que esta não mais influencia nosso
espírito. Portanto o segredo disso é o controle da vontade. Nosso espírito deve sujeitar-se ao controle
dela. Nossa vontade deseja o fervor, mas deseja também a serenidade. Não devemos jamais permitir que
nosso espírito esteja numa condição tal que venha a fugir ao controle da vontade. Devemos ter o desejo
de possuir um espírito fervoroso para a obra do Senhor, mas também de mantê-lo sereno na execução
dessa obra.

9. UM ESPÍRITO ALEGRE

"E o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador." (Lc 1.47.)


Para si mesmo, o cristão deve ter um espírito quebrantado #SL 51.17. Para com Deus, ele deve ter um
espírito que se alegra no Senhor constantemente. Nós nos regozijamos, não por causa de nós mesmos,
nem de experiências alegres, como uma obra, uma bênção, ou outra qualquer, mas exclusivamente
porque Deus é o centro de nossa vida. Na verdade, o único motivo de gozo genuíno para o crente deve
ser o próprio Deus.
Se nosso espírito estiver oprimido pelas preocupações, pesos ou tristezas, primeiro ele vai se tornar
irresponsável. Depois "afunda", perdendo seu próprio lugar. Finalmente, perde a capacidade de seguir a
direção do Espírito Santo. Quando o espírito se acha pressionado por um fardo pesado, ele perde sua
leveza, sua liberdade e esplendor. Rapidamente cai de sua posição proeminente. E se o período de
tristeza se prolongar, nossa vida espiritual sofre um prejuízo incalculável. O único fato que pode salvar a
situação é regozijar-nos no Senhor. Temos de regozijar-nos naquilo que Deus é, e no modo pelo qual ele
se tornou nosso Salvador. O regozijo deve ser sempre abundante no espírito do crente.

10. UM ESPÍRITO DE PODER

"Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação." (2 Tm
1.7.)
Ser covarde ou temeroso não é o mesmo que ser humilde. Ter humildade é nos esquecer totalmente de
nós mesmos, tanto de nossos pontos fracos, quanto dos fortes. Ser covarde, então, implica fixar a
atenção em nossa fraqueza e, portanto, em nós mesmos. Deus não se agrada de nossa covardia nem de
nossas atitudes de fuga. É verdade que ele quer que tremamos diante dele, por causa da nossa vaidade.
Por outro lado, porém, quer que sejamos corajosos na força dele. O Altíssimo exige que testemunhemos
dele sem temor; que soframos dor e vergonha por amor a ele com intrepidez, que aceitemos a perda de
tudo com ousadia, e que confiemos inteiramente em seu amor, em sua sabedoria, em seu poder e em sua
fidelidade. Sempre que percebermos que estamos vacilando no testemunho do Senhor, ou nos omitindo
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em situações em que é necessário ousadia, devemos reconhecer que nosso espírito está fora de sua
condição ideal. Devemos mantê-lo em estado de "intrepidez". Precisamos ter um espírito de poder, de
amor e de moderação. Ele deve ser forte, mas não a ponto de perder a capacidade de amar. E precisa
também de serenidade e controle, a fim de não se agitar com facilidade. Precisamos ter um espírito de
poder diante do inimigo, de amor para com os homens, e de moderação para com nós mesmos.

11. UM ESPÍRITO TRANQUILO

"Seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e
tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus. " (1 Pe 3.4. )
Essas palavras são dirigidas às irmãs; não obstante têm aplicação espiritual para os homens também.
"Contudo, vos exortamos, irmãos... a diligenciardes por viver tranqüilamente..." (1 Ts 4.10,11.) Esse é o
dever de todo crente. Os cristãos de hoje falam demais. E por vezes as palavras que não dizem
ultrapassam em número as que dizem. Os pensamentos confusos e as conversas sem fim fazem com que
nosso espírito divague, fugindo ao controle da vontade. Um "espírito desenfreado" nos leva sempre a
andar segundo a carne. Como é difícil para o crente resistir ao pecado, quando seu espírito se torna
insubmisso! Um espírito desinquieto invariavelmente acaba produzindo uma conduta errada.
Para que nossa boca se cale, é preciso que nosso espírito esteja tranqüilo, pois a boca fala o que
transborda dele. Devemos nos esforçar para manter o espírito em paz. Mesmo nos momentos de intenso
conflito, nosso homem interior deve ser capaz de conservar sua quietude, independentemente das
circunstâncias externas. Para que andemos no espírito precisamos ter um espírito sossegado. Sem isso,
em pouco tempo cairemos no pecado. Se nosso espírito estiver em silêncio, poderemos ouvir nele a voz
do Espírito Santo, obedecer à vontade de Deus, e entender aquilo que não conseguimos quando estamos
confusos. Essa vida interior tranqüila constitui o verdadeiro adorno do cristão, e é algo que se manifesta
no seu exterior.

12. NOVIDADE DE ESPÍRITO

"De modo que servimos em novidade de espírito. " (Rm 7.6. )


Esse também é um aspecto importante da vida e da obra espiritual. Um espírito envelhecido não pode
inspirar outros; o máximo que pode fazer é transmitir-lhes alguma idéia. Mesmo assim ele é fraco e
destituído de poder para estimular uma reflexão séria. Um espírito envelhecido só pode produzir
pensamentos velhos. Dele não pode fluir uma vida dinâmica. Tudo o que brota de um espírito caduco,
isto é, palavras, ensinamentos, maneiras, pensamentos, e vida, não passa de velharias, gastas e
tradicionais. É possível até que muitas doutrinas provenientes dele alcancem a mente de outros crentes,
mas não conseguem se estabelecer em seu espírito. Em conseqüência, quem ministra não consegue tocar
no espírito das outras pessoas, pois seu ensinamento não possui espírito. Pode ser que o crente cujo
espírito está envelhecido já tenha experimentado algumas verdades. Contudo elas se tornaram simples
lembranças do passado. São apenas recordações agradáveis. Elas passaram do espírito para a mente. Ou
talvez sejam apenas idéias novas, há pouco percebidas pela mente, que ainda não tiveram uma
confirmação na vida do ministrante, e por isso não comunicam ao auditório o toque de um espírito novo.
De vez em quando encontramos cristãos que habitualmente comunicam algo novo, vindo do Senhor.
Enquanto estamos com eles, sentimos que saíram há pouco da presença de Deus, e dão a impressão de
que logo vão nos levar de volta para o Senhor. Isso é novidade" de espírito. Qualquer outra coisa é
velhice. Esses parecem desfrutar de forças renovadas o tempo todo, elevando-se como águias e correndo
como jovens. Em vez de comunicar ao povo maná seco, corrompido e bichado, produzido por sua
própria mente, dão peixe e pão frescos, assados no fogo do espírito. Um espírito novo sempre é capaz de
mover as pessoas, mais que qualquer outro tipo de pensamento, ainda que profundo e maravilhoso.
Devemos manter constantemente um espírito novo. Como podemos encarar as pessoas, se nosso homem
interior não demonstra ter estado recentemente com o Senhor, nem ter recebido há pouco a bênção
divina? Qualquer coisa que tenha sido reduzida a uma lembrança do passado, seja vida, pensamento ou
experiência, é velha e caduca. A todo instante devemos estar recebendo tudo do Senhor novamente. Não
devemos imitar as experiências de outros sem experimentá-las em nossa vida. Outra atitude igualmente
ineficaz é copiar as lembranças da nossa experiência passada. É assim que podemos compreender o
significado das palavras de Cristo, registradas por João: "Eu vivo pelo Pai" #Jo 6.57. Se a cada momento
recebermos a vida do Pai para nossa vida, nosso homem interior permanecerá constantemente novo. Um
espírito estafado não pode produzir nada na obra. Não inspira outros a andarem segundo o espírito, e não
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alcança vitórias na batalha espiritual. Um espírito envelhecido não pode encarar os outros, porque não
esteve diante da face de Deus. Para desfrutarmos de um espírito sempre novo e revigorado, precisamos
estar em constante comunhão com Deus, por nosso homem interior.

13. UM ESPÍRITO SANTO

"Para ser santa, assim no corpo como no espírito. " #I Co 7.34.


"Purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito." #II Co 7.1.

Para sermos espirituais é necessário que o espírito se mantenha santo o tempo todo. Um espírito impuro
leva o homem ao erro. Há muitos pecados que podem macular o espírito. Alguns deles são, por exemplo,
os pensamentos desordenados, tanto em relação aos homens como em relação às coisas, o julgamento
dos erros do próximo, a falta de amor, a tagarelice, a crítica mordaz, a justiça própria, a falta de
compaixão, o orgulho, a inveja, e outros, tudo isso pode macular o espírito. Um espírito maculado não
pode ser novo e revigorado.
Em nossa busca da vida espiritual não devemos ser complacentes para com nenhum pecado, pois, mais
que qualquer outra prática, ele nos causa muitos males. É verdade que já aprendemos a nos livrar do
pecado e a andar no espírito. Ainda assim, precisamos nos guardar de uma volta inconsciente aos velhos
hábitos pecaminosos. É que, voltando a eles, seria absolutamente impossível andarmos segundo o
espírito. Por isso devemos manter uma atitude de morte para com o pecado, para que ele não nos derrote
e envenene nosso espírito. Sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).

14. UM ESPÍRITO FORTE

"E se fortalecia em espírito. " (Lc 1.80.)

Nosso espírito é capaz de crescer, e deve ir gradativamente se fortalecendo. Isso é indispensável para
que tenhamos uma vida espiritual. Quantas vezes sentimos que nosso espírito não é suficientemente
forte para controlar a alma e o corpo! E isso ocorre principalmente nos momentos em que a alma é
estimulada ou então o corpo está fraco. Às vezes, ao ajudar outras pessoas, notamos que seu espírito está
pesado. Todavia falta-nos poder espiritual para libertá-las. Outras vezes, ao entrarmos em conflito com o
inimigo, descobrimos que nossa força espiritual é insuficiente para travarmos a luta necessária para
vencê-lo. São incontáveis as vezes em que sentimos o espírito perdendo a força. Temos de nos esforçar
para continuar avançando na vida e na obra cristã. Como ansiamos por um espírito mais forte!
À medida que o espírito se torna mais forte, nossa capacidade de exercitar a intuição e o discernimento
aumenta. Achamo-nos preparados para resistir a tudo aquilo que não é do espírito. Há crentes que
desejam andar segundo o espírito, mas não o conseguem. É que todo seu homem interior carece de força
para controlar a alma e o corpo. Não podemos esperar que o Espírito Santo faça tudo por nós. Nosso
espírito regenerado deve cooperar com ele. Devemos aprender a exercitar nosso espírito e a usá-lo até o
limite do nosso entendimento. Por meio do exercício ele vai se tornando cada vez mais robusto, até obter
a força necessária para eliminar tudo que constitui uma barreira à operação do Espírito Santo, tais como
uma vontade obstinada, uma mente confusa e as emoções indisciplinadas.
" O espírito firme sustém o homem na sua doença, mas o espírito abatido, quem o pode suportar?" (Pv
18.14.) Sem dúvida nenhuma o espírito pode ficar abatido ou ferido. Um espírito ferido deve ser muito
fraco. Se nosso espírito estiver robusto, teremos condições de suportar os estímulos da alma, sem tremer.
A Bíblia mostra o espírito de Moisés como sendo muito forte. Todavia ele não conseguiu mantê-lo
continuamente firme, permitiu que os israelitas irritassem "o seu espírito" (51106.33- ARC), e com isso
ele veio a pecar. Quando nosso interior permanece vigoroso, podemos triunfar em Cristo, ainda que
nosso corpo sofra, ou nossa alma esteja aflita.
Somente o Espírito Santo pode nos conceder a força necessária ao homem interior. Por conseguinte, o
poder do nosso espírito vem do poder do Espírito de Deus. Entretanto o nosso espírito precisa de
orientação adicional. Depois que aprendermos a viver no espírito, saberemos viver pela vida dele, em
vez de pela vida da alma. Aí saberemos usar o poder dele, e não a nossa força natural, para realizar a
obra de Deus. Saberemos ainda aplicar a força dele na luta contra o inimigo, em vez da força da alma*.
Naturalmente tais experiências são progressivas, e as vamos vivenciando gradativamente. No entanto o
princípio que rege tudo isso é claro. À medida que o crente vai vivendo de acordo com o espírito,
também vai obtendo cada vez mais poder do Espírito Santo, e seu homem interior se torna mais forte. O
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cristão deve manter seu espírito sempre forte, para que, nos momentos críticos, esteja revestido do poder
de que precisa para enfrentar o problema.

15. ESPÍRITO DE UNIDADE

"Estais firmes em um só espírito." (Fp 1.27.)


Vimos anteriormente que a vida de um homem espiritual flui juntamente com a dos demais cristãos.
Portanto a unidade de espírito é de grande importância. Se Deus habita no espírito do crente por meio do
seu Espírito, e se une plenamente a ele, como é que o espírito desse crente pode não ser um com o dos
outros cristãos? O homem espiritual, além de ser um com Cristo em Deus, é também um com o Deus
que habita em cada um dos seus filhos. Se um cristão permitir que seus pensamentos ou sentimentos
controlem seu espírito, não poderá ser um com o espírito dos irmãos. Só quando a mente e as emoções
se acham sujeitas ao domínio do espírito é que somos capa- zes de pôr de lado as diferenças de
pensamento e de sentimento, ou então de dar menos valor a elas. Aí podemos ser um em espírito com
todos os filhos de Deus. É necessário que mantenhamos sempre essa unidade de espírito com todos os
crentes. Não estamos unidos a um pequeno grupo, isto é, apenas àqueles que partilham da mesma
interpretação e dos mesmos pontos de vista que nós. Achamo-nos unidos ao corpo de Cristo. Nosso
espírito não deve abrigar aspereza, nem amargura, nem escravidão. Pelo contrário, deve ser
completamente aberto e inteiramente livre, sem criar nenhum tipo de barreira em nossa comunhão com
os outros irmãos.

16. UM ESPÍRITO CHEIO DE GRAÇA

“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito." (GL 6.18.)
“A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito." (Fm 25.)
A graça do Senhor Jesus Cristo é extremamente valiosa para o nosso espírito. É nele que encontramos a
graça do Senhor para nos ajudar nos momentos de necessidade. Com essa palavra, o apóstolo proferia
uma bênção. Ela representa também o ápice do que o espírito do crente pode alcançar. Devemos sempre
temperar nosso espírito com a graça do nosso glorioso Senhor.

17. ESPÍRITO DE ARREBATAMENTO

Precisamos discutir ainda mais uma face ta do espírito normal. Vamos denominá-la "espírito de
arrebatamento". Nosso espírito deve viver permanentemente num estado em que se acha fora deste
mundo, "subindo" para o céu. Esse espírito é mais profundo do que o de ascensão. É que quem o possui
não apenas vive aqui na Terra como se estivesse no céu, mas também é verdadeiramente levado por
Deus a esperar a volta do Senhor, e o próprio arrebatamento. Quando o espírito do crente se acha unido
ao do Senhor, tornando-se um só espírito, ele passa a viver neste mundo como um peregrino. A vida dele
é a de um cidadão celeste. Depois disso, o Espírito Santo o chama a dar mais um passo, concedendo-lhe
o espírito de arrebatamento. Anteriormente seu impulso era "Avançar!" Agora é "Subir!" Tudo aquilo
que se refere a ele se eleva na direção do céu. Quem conhece o espírito de arrebatamento já provou os
poderes do mundo vindouro (Hb 6.5).
Entretanto nem todos os que crêem na volta de Cristo possuem esse espírito de arrebatamento. Uma
pessoa pode crer na volta do Senhor, pregar sobre ela e orar para que ele volte, e mesmo assim não
possuir esse espírito. Nem mesmo todos os crentes maduros o possuem. O espírito de arrebatamento é
um dom de Deus. Algumas vezes ele o dispensa a alguém quando isso lhe apraz. Em outras, ele o
concede atendendo a orações de fé. Quando somos possuídos por esse espírito, nosso homem interior
parece estar sempre em estado de arrebatamento. Nessa condição, além de crermos na volta do Senhor,
cremos também em nosso traslado. O arrebatamento não é apenas uma doutrina; chega a ser um fato.
Como aconteceu com Simeão, que pela revelação do Espírito Santo creu que não provaria a morte antes
de ver o Cristo do Senhor (Lc 2.26), assim também o crente deve abrigar em seu espírito a certeza de
que será trasladado para o Senhor, antes de morrer. Essa é a fé de Enoque. E isso não é mera superstição.
O que acontece é que, se estamos vivendo na época do arrebatamento, como podemos deixar de possuir
essa fé? Tal crença nos ajuda a entender melhor o que Deus está realizando em nossos dias, e também a
obter poder celestial para o serviço cristão.
Em outras palavras, se o espírito do crente estiver em estado de arrebatamento, ele será mais celestial.
Assim não achará que em sua caminhada para o céu precisará atravessar o vale da morte.
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Quantas vezes o filho de Deus, envolvido no serviço cristão, abriga numerosos planos e expectativas!
Ele está cheio do Espírito Santo, de sabedoria e de poder. Crê que Deus vai usá-lo poderosamente, e
prevê que dentro de pouco tempo seu espírito vai produzir muito fruto. Entretanto, em meio a um
trabalho produtivo, a mão do Senhor cai sobre ele repentinamente, mostrando que ele deve concluir sua
obra e preparar-se para seguir outro curso. Isso é uma verdadeira surpresa para esse crente. Ele, então,
pergunta qual a razão do que está acontecendo. Esse meu poder não é para trabalhar? O profundo
conhecimento que possuo não é para servir a outros? Será que preciso encerrar o trabalho, deixando-o
arrefecer? Ao receber uma ordem dessas, o crente aprende que o propósito de Deus para sua vida é uma
mudança de curso. Antes, ela avançava. Daí em diante, deve subir. Isso não quer dizer que não haverá
trabalho. Significa que o trabalho pode ser encerrado a qualquer momento.
Deus constantemente tem empregado circunstâncias negativas como perseguições, oposição, saque, etc.,
para levar os crentes a entenderem que seu desejo para eles é que tenham mais o espírito de
arrebatamento do que o anseio de progredir na obra cristã. O Senhor deseja mudar o rumo dos seus
filhos. Muitos, porém, não sabem que existe esse espírito de arrebatamento, e que ele é muito superior a
tudo.
Esse espírito tem um efeito bem definido em nossa vida. Antes de obtê-lo, a experiência do cristão é de
constantes mudanças. Todavia, depois de recebermos o testemunho e a certeza do arrebatamento, nossa
vida e trabalho se mantêm num nível digno desse espírito, preparando-nos, assim, para a volta do
Senhor. E essa preparação não consiste apenas da correção da conduta exterior. Trata-se de preparação
plena do espírito, da alma e do corpo do crente para este se encontrar com o Senhor.
Por isso, devemos orar e pedir ao Espírito Santo para nos mostrar como podemos obter e preservar esse
espírito de arrebatamento. Devemos crer nisso, e também estar dispostos para remover todos os
obstáculos à sua realização. Depois que o tivermos, devemos constantemente examinar nossa vida e
trabalho à luz da sua realidade. E se o perdermos, devemos imediatamente procurar descobrir por que
isso aconteceu, e o que temos de fazer para recuperá-lo. Aqueles que obtêm esse espírito também podem
perdê-lo com facilidade. E a principal causa dessa perda pode ser o fato de não sabermos (nessa fase da
vida) preservar essa condição celeste através da oração e de esforço especiais. Portanto precisamos pedir
ao Espírito Santo para nos ensinar a manter o espírito de arrebatamento. Tal oração geralmente nos leva
a buscar as " coisas lá do alto" (CL 3.2). Aliás, isso é um dos requisitos para preservarmos esse espírito.
Agora o cristão se acha à porta do céu, podendo ser arrebatado a qualquer momento. Por isso, deve
preferir a roupa branca celestial e realizar a obra do céu. Tendo tal esperança, ele se afasta das questões
terrenas e se une às celestiais.
É desejo de Deus que o crente fique à espera do arrebatamento. Isso não significa, porém, que devemos
nos preocupar apenas com esse acontecimento, esquecendo o restante da obra que Deus nos confiou. O
que o Senhor realmente deseja nos mostrar é que não devemos deixar que o serviço cristão impeça nosso
arrebatamento. Tanto em nossa conduta, como em nosso trabalho, a atração celestial deve ser sempre
maior do que a gravitação terrena. O filho de Deus deve aprender a viver dedicado ao serviço do Senhor,
mas muito mais ainda à expectativa de ser recebido pelo Senhor. Que nosso espírito se eleve
diariamente, esperando a volta de Cristo. Que realidades deste mundo percam o poder que exercem
sobre nós, de modo que em nada queiramos ser "mundanos". E não somente isso, mas que também nos
deleitemos em não permanecer "no mundo". Que nosso espírito possa subir diariamente, pedindo ao
Senhor para estarmos logo com ele. Que busquemos as coisas do alto, de tal maneira que nem mesmo o
mais extraordinário serviço cristão deste mundo possa desviar nosso coração desse objetivo. Possamos
nós, daqui por diante, orar em espírito, e com entendimento: "Vem, Senhor Jesus!" (Ap 22.20.)

QUARTA PARTE

A ANALISE DA ALMA AS EMOÇOES

CAPÍTULO 12

O CRENTE E AS EMOÇÕES

Um cristão pode ter experimentado o livramento do pecado e, ainda assim, continuar sendo da alma * * ,
isto é, não ter poder para vencer sua vida natural. Isso acontece quando ele não se submete à obra mais
profunda da cruz, realizada pelo Espírito Santo. Anteriormente apresentamos uma descrição limitada da
vida e da obra dos cristãos da alma. Estudando atentamente esses crentes, observamos que tanto sua
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conduta como sua ação provêm, principalmente, das emoções. Embora a alma possua três funções
principais, a maioria dos cristãos da alma**, ou carnais, pertence à categoria emocional. Toda a sua vida
parece girar grandemente em torno dos impulsos da emoção. Nas questões humanas, esta parece ocupar
um espaço muito maior do que a mente e a vontade. É evidente que seu papel na vida diária é bem maior
do que o das outras funções da alma. Por isso, quase todos os atos dos crentes da alma** se originam na
emoção.

A EMOÇÃO

Nossas emoções produzem grande quantidade de esta- dos da alma, como alegria, felicidade, júbilo,
agitação, euforia, estímulo, desalento, tristeza, pesar, melancolia, infelicidade, lamentos, abatimento,
confusão, ansiedade, zelo, frieza, afeição, aspiração, ambição, compaixão, bondade, preferências,
interesses, expectativas, orgulho, temor, remorso, ódio, e outros. A mente é a sede do pensamento e do
raciocínio. A vontade é responsável pelas nossas escolhas e decisões. Excluindo-se nosso pensamento,
vontade e o que se relaciona com eles, tudo o mais brota da emoção. Nossos incontáveis e variados
sentimentos são produtos dessa função. Os sentimentos compreendem uma área tão grande da nossa
existência, que a maioria dos cristãos carnais pertencem ao tipo emocional.
Nossa vida emocional é bastante abrangente, e por isso muitíssimo complicada. Para facilitar a
compreensão disso, vamos reunir todas as suas variadas manifestações em três grupos, que são os
seguintes: (1) afeição, (2) desejo e (3) sentimento. Neles, acham-se incluídos os três aspectos da
emoção. Se o crente vencer a todos, estará caminhando para ter um viver puramente espiritual.
Obviamente, o que chamamos de emoção são os múltiplos sentimentos naturais do homem. Ele pode
estar cheio de amor ou de ódio, estar alegre ou triste, animado ou abatido, interessado ou desinteressado.
Tudo isso, porém, é a expressão dos seus sentimentos. Se tivermos o cuidado de observar a nós mesmos,
perceberemos claramente como nossos sentimentos mudam. A emoção é um dos aspectos mais instáveis
da vida. Num momento, podemos estar de uma maneira, no seguinte, da maneira oposta. As emoções
mudam quando muda o sentimento, e como o sentimento pode mudar rapidamente! Portanto quem vive
ao sabor das emoções não vive segundo um princípio determinado.
As emoções do homem costumam provocar reações. Quando temos uma emoção num determinado
sentido, depois, às vezes, temos também uma reação contrária. Podemos ter uma alegria esfuziante, por
exemplo, seguida de uma tristeza inexprimível. Num determinado momento, temos grande euforia; e
logo depois uma enorme depressão. Experimentamos um fervor ardente e em seguida um profundo
recolhimento. Até mesmo com o amor pode ocorrer uma mudança radical. Podemos começar amando
alguém ou algo, e, devido a alguma mudança de humor, terminarmos com um ódio que é maior que o
amor que tivemos no início.

A VIDA EMOCIONAL DO CRENTE

Quanto mais buscamos conhecer as manifestações da vida emocional, mais convicção temos de quanto
ela é inconstante e de como é impossível confiar nela. Por isso, não devemos ficar surpresos ao ver que
um filho de Deus que vive pela emoção, e não pelo espírito, tem um comportamento instável. Ele
reclama que sua existência se caracteriza pela instabilidade. Às vezes parece viver no terceiro céu,
transcendendo a tudo. Em outras ocasiões, ele desce aos níveis mais baixos que um homem comum pode
atingir. Sua experiência é repleta de altos e baixos. Basta uma circunstância corriqueira para fazê-lo
mudar. Ele é incapaz de suportar o menor contratempo.
Esses fenômenos acontecem porque essa pessoa é controlada pelos sentimentos, e não pelo espírito. O
impulso dominante de sua vida continua sendo a emoção, que ele ainda não entregou à cruz. Com isso,
seu espírito não pode receber nenhum fortalecimento do Espírito Santo. Por conseguinte, esse espírito se
torna fraco, sem condições de subjugar as emoções, e, portanto, de dirigir todo o seu ser. Todavia, se,
pelo poder do Espírito Santo, ele crucificar sua vida emocional e aceitar o Consolador como Senhor de
tudo, com certeza absoluta poderá corrigir essas oscilações de sua existência.
A emoção pode tornar-se o inimigo mais terrível da vida espiritual. Sabemos que os filhos de Deus
devem andar pelo espírito. E para vivermos pelo espírito precisamos observar cada comando
proveniente do nosso homem interior. Todavia sabemos ainda que os sentidos do espírito são aguçados,
mas, também muito delicados. Só conseguiremos que nosso espírito assuma a direção de nossa vida se
esperarmos tranqüila e atentamente a revelação e o discernimento que chegam à nossa intuição
espiritual. Por conseguinte, se a emoção não estiver em completo silêncio, não conseguiremos andar
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pelo espírito. Muitas vezes o mover dele, que é pequeno e delicado, fica perturbado e encoberto pelo
"barulho" da emoção! Em hipótese nenhuma podemos nos queixar do fato de que a voz do espírito é
fraquinha, já que Deus nos concedeu a capacidade espiritual de ouvi-la. Só não percebemos a voz do
espírito por causa da intromissão de outras vozes. Quem mantém sua emoção em silêncio detecta
facilmente a voz da intuição.
Os altos e baixos dos sentimentos não apenas podem impedir o crente de andar no espírito, mas também
levá-lo diretamente a andar na carne. Se ele não consegue seguir o espírito, fatalmente seguirá a carne.
Não recebendo a direção de Deus através do espírito, o crente invariavelmente se volta para o seu
impulso emocional. Há um fato que precisamos saber: quando o espírito deixa de dirigir nosso ser, a
emoção toma o lugar dele. Nessa condição, o crente interpreta os impulsos emocionais como o mover da
inspiração. Um cristão emocional pode ser comparado a uma lagoa onde há areia e lama. Se ninguém
agitar a água, ela parece clara e limpa. Se, porém, a agitarmos, ainda que por um momento apenas, ela
logo revela seu verdadeiro caráter lamacento.

A INSPIRAÇÃO E A EMOÇÃO

Muitos crentes não sabem fazer distinção entre a inspiração e a emoção. Na verdade, não é preciso
muito esforço para identificarmos cada uma delas. A emoção vem sempre através do exterior do homem.
Já a inspiração tem origem no
Espírito Santo que opera no nosso espírito. Quando um crente contempla a beleza da natureza,
naturalmente percebe determinados sentimentos brotando dentro dele. Quando admira uma paisagem
fascinante, é movido pelo sentimento de prazer. Isso é emoção. Quando vê sua amada, brota nele um
sentimento indescritível, como se uma espécie de força estivesse a atraí-lo. Isso também é emoção.
Tanto a linda paisagem como a pessoa amada acham-se do lado de fora do homem. Dizemos, então, que
os estímulos provocados por esses elementos externos estão no domínio da emoção. Já a inspiração tem
um sentido oposto. Ela se realiza exclusivamente pelo Espírito Santo operando no interior do homem.
Somente o Espírito de Deus nos inspira. E como ele habita em nosso espírito, a inspiração deve vir de
dentro. Podemos recebê-la até mesmo no ambiente mais frio e tranqüilo. Para ela se manifestar, não
precisamos do estímulo de uma paisagem maravilhosa, nem da presença daqueles a quem amamos. Com
a emoção ocorre exatamente o oposto. Ela murcha no instante em que o estímulo exterior é removido. E
assim, uma pessoa emocional vive totalmente à mercê das circunstâncias especiais de determinado
momento. Com o estímulo, ela pode avançar. Sem ele, fica parada. Já a inspiração não necessita de ajuda
exterior. Pelo contrário; se a emoção sofrer uma influência indevida do ambiente externo, ela se torna
confusa.
Os filhos de Deus, porém, devem ter cuidado, para não enxergar a frieza e a ausência de estímulos como
termômetros de espiritualidade. Tal suposição acha-se longe da verdade. Sabemos que tanto a depressão
como a euforia são características da emoção. Sabemos, ainda, que a emoção nos tranqüiliza, mas
também pode nos agitar. Quando a emoção agita um homem, ele fica eufórico. Quando ela o tranqüiliza,
ele se sente deprimido. O crente que é guiado por emoções fortes comete muitos erros. Todavia, assim
que compreende isso, ele procura refrear completamente os seus sentimentos e passa a considerar-se
espiritual. No entanto o que ele não percebe é que isso não passa de uma reação produzida pela mesma
emoção. Não sabe que, após um período de agitação, necessariamente ocorrerá uma reação emocional.
Esse tipo de frieza e apatia, na verdade, faz com que o crente perca o interesse pela obra de Deus. Ele se
esvazia, também, do seu afeto fraternal para com os irmãos em Cristo. Quando o homem exterior do
crente reluta em trabalhar, seu homem interior fica imobilizado, e a vida do espírito não pode fluir.
Enquanto isso, ele pode até pensar que está vivendo segundo o espírito. É que, no seu íntimo,
ele acha que passou a ser uma pessoa bem fria, e não é mais descontroladamente agitado como antes.
Mal sabe esse cristão que ele continua a viver segundo a emoção, como antes. Só que agora vive de
acordo com o outro extremo da emoção!
Todavia são poucos os casos de cristãos que se tornam frios. A maioria continua impelida por suas
intensas emoções. Nos momentos de agitação fazem muita coisa que distoa do seu jeito normal.
Praticam ações que, nos períodos de calma subseqüentes, eles mesmos consideram ridículas e sem
sentido. Quando analisam esses atos retrospectivamente, sempre sentem pesar e remorso. Como é triste
constatar que os cristãos não possuem força espiritual para mortificar seus sentimentos desordenados, e
impedi-los de exercer controle!
Existem pelo menos dois motivos pelos quais muitos crentes vivem pela emoção. O primeiro é que, por
não terem compreendido o que é andar segundo o espírito, e jamais terem procurado viver dessa
- 83 -
maneira, eles fatalmente passam a andar segundo o mover da emoção. Por não terem aprendido a dizer
"Não" à agitação das emoções, eles simplesmente são arrastados por elas. Assim fazem coisas que não
deveriam. Seu sentido espiritual certamente lhes mostra o erro. Todavia, como não possuem poder
espiritual, desprezam completamente essa orientação dele, dando mais atenção aos sentimentos. Estes,
por sua vez, se tornam cada vez mais fortes, dominando totalmente o crente. Então este faz o que não
deveria e depois se arrepende. O segundo motivo é que, até mesmo os que conhecem a divisão entre o
espírito e a alma, que reconhecem que as agitações da emoção são provenientes da alma** e
prontamente resistem a elas, podem viver segundo a emoção. Isso se deve à imitação espiritual. Antes de
nos tornarmos espirituais, somos completamente dominados por nossos fortes sentimentos. Depois que
passamos a ser espirituais, nossa emoção procura sempre se passar por nossa percepção espiritual.
Olhando-as de fora, é muito difícil distinguir uma da outra, pois parecem quase idênticas. Assim, por
falta de conhecimento, os crentes podem se enganar, e, em conseqüência, manifestar muitas ações
carnais. Devemos nos lembrar de que, para vivermos segundo o espírito, todas as nossas ações devem
ser guiadas por princípios espirituais, uma vez que o espírito tem suas próprias leis e princípios. Viver
pelo espírito é andar segundo suas leis. Quando agimos segundo os princípios espirituais, enxergamos
tudo claramente definido. Temos um padrão exato de certo e errado. Se algo é " sim" , é sempre " sim",
seja o dia claro ou nublado. Se algo é "não", é sempre "não" , quer cause alegria ou tristeza. O cristão
deve viver de acordo com um padrão distinto. Se, porém, não mortificar sua emoção, não conseguirá
manter um padrão permanente. Então vai viver ao sabor dos seus sentimentos oscilantes, e não segundo
um princípio definido. Uma vida que segue princípios definidos difere muito de um viver emocional.
Quem age pela emoção não se preocupa nem com princípios nem com a razão, apenas com seus
sentimentos. Quando está entusiasmado, poderá ser tentado a fazer algo que normalmente sabe ser
desaconselhável. Quando, porém, se sente frio, melancólico ou abatido, nem mesmo sua obrigação
cumpre, pois seus sentimentos não lhe permitem. Se prestarmos um pouco de atenção às nossas
emoções, vamos ver que, na realidade, elas podem ser muito instáveis, daí ser perigoso viver por elas.
Muitas vezes a atitude do crente é esta: se a Palavra de Deus (princípio espiritual) concorda com seus
sentimentos, ele obedece a ela. Se não concorda, ele simplesmente a rejeita. Como a emoção pode se
tornar inimiga da vida espiritual! Quem deseja ser espiritual deve se conduzir diariamente de acordo
com os princípios espirituais.
Uma característica do crente espiritual é o fato de que ele mantém enorme calma em quaisquer
circunstâncias. Aconteça o que acontecer ao seu redor, sofra ele a provocação que sofrer, aceita tudo
calmamente, apresentando uma natureza inabalável. Ele é capaz de controlar todos os seus sentimentos,
pois já entregou sua emoção à cruz, e tanto sua vontade como seu espírito acham-se permeados pelo
poder do Espírito Santo. Não existe provocação capaz de perturbá-lo. Contudo quem ainda não permitiu
que a cruz corrija suas emoções, será facilmente influenciado, estimulado, perturbado e até mesmo
governado pelo mundo. Ademais sofrerá mudanças constantes, pois a emoção muda frequentemente. A
menor ameaça exterior, ou um pequenino aumento de trabalho, o transtornam, deixando-o fraco. Aquele
que genuinamente deseja ser perfeito deve permitir que a cruz opere de forma profunda em sua emoção.
Se os cristãos simplesmente procurassem se lembrar de que Deus não dá orientação a quem está
alvoroçado, pode- riam evitar muitos erros. Enquanto as emoções estiverem agitadas como um mar
revolto, não devemos decidir nem começar nada. É nos momentos de grande comoção emocional que
cometemos os erros. E nessas ocasiões, tampouco podemos contar com a mente, porque ela é facilmente
afetada pelos sentimentos. E com uma mente assim incapacitada, não podemos distinguir o certo do
errado. Mais ainda, nessas circunstâncias não podemos confiar nem mesmo em nossa consciência.
Quando a emoção pulsa, a mente se torna vítima de engano, e a consciência perde seu senso de
julgamento. Então, qualquer decisão que tomarmos ou qualquer plano que realizarmos estarão fadados a
tornar-se impróprios, causando-nos pesar depois. Devemos exercitar nossa vontade para resistir e pôr
fim a essa agitação dos sentimentos estimulados. Somente quando nossas emoções estiverem tranqüilas,
em perfeita quietude, é que podemos decidir o que iremos fazer.
De modo semelhante, devemos nos abster de fazer qualquer coisa que possa estimular nossa emoção
desnecessariamente. Às vezes ela se acha tranqüila e serena, mas em seguida fazemos algo de nossa
inteira vontade, ativando-a de maneira indevida. Isso acontece com freqüência, e causa grandes
prejuízos à nossa vida espiritual. Devemos rejeitar tudo aquilo que perturba a paz da nossa alma. E além
de nos abstermos de tomar decisões ou realizar algo durante as crises emocionais, devemos, também,
evitar tudo que possa desencadear tais crises. Será que disso aí podemos concluir simplesmente que a
recíproca é verdadeira? Será que podemos afirmar que, se tomarmos decisões ou praticarmos nossos
atos apenas em momentos de quietude emocional, não iremos cometer erros? De modo nenhum. É que,
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em vez de estarmos sendo guiados pelo espírito, podemos, infelizmente, estar sendo conduzidos por
nossa emoção "fria". Nesse caso, aquilo que fizermos logo ativará nossa " emoção quente". Aqueles que
têm tido experiências dessa natureza podem se lembrar de como suas emoções se tornaram agitadas,
simplesmente ao escrever uma carta ou se encontrar com uma pessoa. Isso demonstra que aquilo que
estavam realizando estava fora da vontade de Deus.

A EMOÇÃO E O SERVIÇO CRISTÃO

O que temos ressaltado até agora é que só podemos realizar uma obra espiritual no espírito. Qualquer
obra que não tenhamos realizado por meio dele é destituída de valor. Essa verdade é tão importante que
sentimos que precisamos reafirmá-la, acrescentando outros detalhes.
As pessoas hoje dão muita importância à psicologia. Até mesmo muitos dos que servem ao Senhor
acham que devem se aplicar ao estudo dessa ciência com grande diligência. É que pensam que, se suas
palavras, ensinamentos, apresentações, modos e interpretações forem psicologicamente atraentes,
poderão ganhar muitas almas para Cristo. A psicologia naturalmente trata, em grande parte, do
comportamento de nossas emoções. Algumas vezes ela até parece ser de alguma valia. Entretanto, o
filho de Deus que confia nas emoções não serve para nenhum propósito que seja útil ao Senhor.
Já reconhecemos que a suprema necessidade do homem é a regeneração do espírito. Qualquer obra que
não seja capaz de vivificar o espírito morto do homem, nem de comunicar-lhe a vida não-criada de
Deus, nem de conceder-lhe o Espírito Santo para habitar nesse espírito regenerado, é totalmente inútil.
Nem a psicologia dos crentes nem a dos não-crentes pode comunicar-lhes vida. Se o próprio Espírito
Santo não realizar essa obra, tudo que se fizer será em vão.
O cristão precisa compreender que sua emoção é um fenômeno inteiramente natural. Ela não é a fonte da
vida de Deus. Se de fato reconhecermos que ela não tem nada da vida de Deus, jamais tentaremos levar
outros à salvação pela força da emoção, como, por exemplo, com lágrimas, rosto triste, lamentos ou
outros recursos emocionais. Por maior que seja o esforço da emoção, jamais poderá tocar, ainda que da
maneira mais leve, o espírito humano que está em trevas. Se o Espírito Santo não conceder vida a um
homem, ele não poderá tê-la. Se não confiarmos nele, mas antes empregarmos a emoção, nosso trabalho
não produzirá frutos verdadeiros.
Quem trabalha para o Senhor precisa entender com clareza que não há nada no homem que possa gerar
em outrem a vida de Deus. Podemos empregar todos os recursos da Psicologia para estimular a emoção
de alguém, para despertar seu interesse pela religião, para fazê-lo sentir-se triste e envergonhado por
seus pecados, para criar nele um medo do castigo vindouro, para fazê-lo admirar a Cristo, para provocar
a busca da comunhão com os cristãos, ou para ser misericordioso com os pobres. Podemos até mesmo
fazer com que ele se sinta feliz nessas práticas, mas não podemos regenerá-lo! O interesse, a tristeza, a
vergonha, a admiração, a aspiração, a religiosidade e a alegria são apenas impulsos da emoção. Desse
modo, um homem pode experimentar tudo isso e continuar com o espírito morto, sem ter conhecido a
Deus pela sua intuição espiritual. Do ponto de vista humano, podemos até ser tentados a afirmar que
quem possui todas essas qualidades deve ser um cristão de alto gabarito. Entretanto elas não passam de
manifestações da emoção. Essa pessoa não provou a regeneração. O primeiro e mais notável sinal do
novo nascimento é que passamos a conhecer a Deus intuitivamente, pois nosso espírito foi vivi- ficado.
Não nos enganemos, nem fiquemos satisfeitos com nosso trabalho, só porque alguém mudou de atitude
para conosco, tornou-se mais amigo, e apresentou as manifestações que mencionamos acima. Isso não é
regeneração!
Nosso alvo é ajudar as pessoas a receberem a vida de Cristo. Se aquele que serve a Deus se empenhar
nisso, jamais irá empregar um enfoque emocional para levar os homens a aceitar os ensinamentos de
Cristo, ou preferir o cristianismo. Se reconhecermos claramente que a grande necessidade do homem
hoje é possuir a vida de Deus, ou seja, a vivificação do espírito, perceberemos, então, que a obra que nós
mesmos realizamos é inteiramente vã. Por mais extensa que seja a mudança operada no homem, ela de
nada adianta. A alteração efetuada pela emoção acontece exclusivamente dentro do âmbito do próprio
"ego". Ela não passa disso, nem troca sua vida pela de Deus. Que possamos todos entender
verdadeiramente que para alcançarmos "fins espirituais precisamos utilizar meios espirituais". Nosso
objetivo espiritual deve ser a regeneração do homem. Para realizar essa transformação devemos
empregar meios espirituais. E para isso a emoção é totalmente inútil.
O apostolo Paulo ensina que qualquer mulher que ora ou profetiza deve ter a cabeça coberta (1 Co 11).
Existem muitas interpretações para esse texto. Não estamos interessados em entrar em controvérsia,
adotando essa ou aquela interpretação. De um fato, porém, devemos estar certos: a intenção do apóstolo
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é limitar o papel da emoção. Ele dá a entender que tudo aquilo que possa intensificá-la deve ser coberto.
As mulheres, ao pregar, têm muita facilidade para agitar a emoção das pessoas. Fisicamente apenas a
cabeça está coberta. Espiritualmente, porém, tudo o que pertence ao sentimento precisa ser mortificado.
Embora a Bíblia não exija que os homens cubram a cabeça, no sentido físico, espiritualmente falando
eles também devem estar cobertos, à semelhança das mulheres.
Se não houvesse tantas manifestações de emoção na obra do Senhor, Paulo não daria uma ordem tão
proibitiva. Em nossos dias, a atração pessoal transformou-se quase que no maior problema do chamado
culto espiritual. Aqueles que por natureza são mais atraentes alcançam maior sucesso. Os outros, menos
atraentes, obtêm menor. O apóstolo, então, afirma que tudo aquilo que pertence à alma, seja
naturalmente atraente ou não, deve ser coberto. Que todos os servos do Senhor aprendam essa lição com
as irmãs. Nossa atração natural não nos ajuda na obra espiritual. E a falta dela também não constitui
empecilho. Se ressaltarmos nossa capacidade de atrair outros, estaremos pondo de lado nossa
dependência do Senhor. Por outro lado, se nos preocuparmos com o fato de que não a possuímos,
também não estaremos andando segundo o espírito. É muito melhor não pensar nesse assunto de modo
nenhum.
O que é que os servos do Senhor estão buscando hoje? Muitos almejam o poder espiritual. Para obtê-lo,
porém, é necessário pagar um preço. Quem morrer para suas emoções, poderá alcançá-lo. Contudo, se
ficar muito dependente delas e fortemente atado ao próprio desejo, à própria afeição e ao próprio
sentimento, ele perderá seu verdadeiro poder. Somente uma profunda operação da cruz em nossa alma
pode encher-nos de dinamite espiritual. Sem isso, não há como obtê-la. Quando a cruz opera em nosso
desejo, capacitando-nos a viver só para Deus, o poder espiritual se manifesta naturalmente em nós.
Se o crente não vencer a emoção, ela irá prejudicá-lo na obra espiritual. Enquanto a influência dela
predominar, seu espírito será incapaz de controlá-la. Em conseqüência, estará desqualificado para
realizar a suprema vontade de Deus. Vejamos a questão do cansaço físico, por exemplo. Precisamos
aprender a fazer distinção entre a necessidade de descansar devido ao cansaço físico, da necessidade de
descansar por causa do cansaço emocional e da necessidade de descanso devido aos dois. Deus não quer
que trabalhemos excessivamente. Quer que descansemos quando realmente estamos cansados. Todavia
precisamos discernir se nosso cansaço se deve à fadiga física ou emocional, ou às duas. Muitas vezes, o
que chamamos de cansaço é simplesmente preguiça. Nosso corpo exige descanso, nossa mente e nosso
espírito, também. Contudo ninguém deve descansar por causa da preguiça que brota da emoção da
natureza má. Muitas vezes a preguiça e a aversão pelo trabalho se unem e usam a fadiga como desculpa!
A emoção do homem visa, em grande parte, a satisfazer a si mesma. Por isso os crentes devem estar
atentos à preguiça, para não a misturarem ao descanso bom e adequado.

O CORRETO USO DA EMOÇÃO

Se os filhos de Deus permitirem que a cruz opere de maneira profunda em sua emoção, mais tarde vão
descobrir que ela não obstrui seu espírito, antes coopera com ele. A cruz disciplina a vida natural, na
área da emoção, renovando-a e fazendo dela um canal para o espírito. Conforme já dissemos, o homem
espiritual não é um espírito, mas também não é uma pessoa destituída de emoção. Pelo contrário; o
homem espiritual deve usar seus sentimentos para expressar a vida de Deus que há nele. Antes de Deus
corrigir a emoção, ela segue seus próprios caprichos. Por isso não pode ser um instrumento do espírito.
Depois que é purificada, porém, ela pode servir como um meio de ele se expressar. O homem interior
precisa da emoção para expressar sua vida, para declarar seu amor e simpatia para com o sofrimento de
seu semelhante, e também para fazer-nos sentir o mover de sua intuição. Geralmente a percepção
espiritual se manifesta por meio dos sentimentos de uma emoção que se tornou tranqüila e moldável. Se
esta estiver completamente submissa ao espírito, este, por meio dela, vai amar ou odiar exatamente
conforme a vontade de Deus.
Alguns cristãos, quando ficam sabendo que não se deve viver pelos sentimentos, pensam -erroneamente
-que a vida espiritual é totalmente destituída deles. Em conseqüência, tentam reprimi-los, tornando-se
tão insensíveis quanto um pau e uma pedra. Por não saberem o que significa a morte na cruz, não
entendem também o que é entregar as emoções à morte e viver pelo espírito. Não estamos dizendo que o
crente, para tornar-se espiritual, precisa ser excessivamente durão e destituído de afeição, à semelhança
dos objetos inanimados. A expressão "homem espiritual" não significa destituído de sentimentos, Muito
pelo contrário; o homem espiritual é a pessoa mais sensível, mais misericordiosa, mais amorosa e
compassiva que existe. Ser totalmente espiritual, isto é, entregar as próprias emoções à cruz, não
significa tornar-se, daí em diante, destituído de sentimentos. Já observamos inúmeros crentes espirituais,
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e verificamos que eles têm mais amor que os outros. Isso demonstra que o homem espiritual não é
destituído de emoções, nem que estas sejam diferentes das emoções de um homem comum.
Precisamos nos lembrar de que, ao entregar nossa alma à cruz, o que perdemos é a vida da alma, e não
sua função. Se esta fosse pregada na cruz, ficaríamos impedidos de pensar, decidir ou sentir. Portanto
precisamos nos lembrar desta verdade fundamental: perder a vida da alma significa negar persistente,
resoluta e continuamente seu poder natural. Significa ainda andar exclusivamente pelo poder de Deus,
isto é, não andar mais segundo o ego e seus desejos, mas Submeter-nos de forma incondicional à
vontade de Deus. Ademais, a cruz e a ressurreição são dois fatos inseparáveis. “Porque, se fomos unidos
com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua
ressurreição”. (Rm 6.5.) A morte na cruz não significa aniquilamento. É por isso que a emoção, a mente,
e a vontade da alma não são aniquiladas ao passar por essa experiência. Elas apenas entregam sua vida
natural na morte do Senhor, levantando-se novamente na sua vida ressurreta. Com essa morte e
ressurreição, os vários constituintes da alma perdem sua vida, a fim de passarem por urna renovação e
serem usados pelo Senhor. Em conseqüência, o homem espiritual não fica destituído de emoção. Pelo
contrário, sua emoção se torna mais perfeita e mais nobre, como se tivesse sido recém-criada pelas mãos
de Deus. Em suma, se alguém tem dificuldade nisso, o problema está em sua teoria, e não em sua
experiência, pois a experiência confirma a verdade.
A emoção deve passar pela cruz (Mt 10.38,39), para que sua natureza inflamada e confusa seja
destruída, para que ela possa submeter-se completamente ao espírito. A cruz tem como objetivo outorgar
autoridade a este último, para dirigir todas as atividades da emoção.

CAPÍTULO 13

A AFEIÇÃO

A EXIGÊNCIA QUE DEUS FAZ

A entrega de nossa afeição ao Senhor pode ser extremamente difícil. Apesar disso, Deus está mais
interessado em nossa afeição do que em qualquer outro aspecto de nosso ser. O Senhor exige que lhe
dediquemos toda nossa afeição, colocando-a debaixo do seu senhorio. Deus exige o primeiro lugar em
nossa afeição. Muitas vezes ouvimos pessoas falando de consagração, que, na verdade, é apenas o
primeiro passo no caminhar espiritual do crente. A consagração não é o ponto final da espiritualidade, é
apenas o começo. Ela nos conduz a uma posição de santidade. Em suma, sem consagração não pode
existir vida espiritual. Mesmo assim, o aspecto de maior importância em nossa consagração é a afeição.
A autenticidade da consagração se avalia pela entrega da afeição. Esse é o verdadeiro teste. Para nós, é
relativamente fácil entregar nosso tempo, dinheiro, poder e inúmeros outros elementos. Já dar a ele
nossa afeição é sobremaneira difícil. Isso não quer dizer que não amamos o. Cristo. Talvez amemos
muito ao Senhor. Todavia, se concedermos o primeiro lugar de nossa afeição a outrem, colocando a
Cristo em segundo plano, ou se amarmos mais a alguém ainda que amemos ao Senhor, ou se nós
mesmos administrarmos nossa afeição, então o que damos a ele não será consagração. É que não lhe
entregamos nossa afeição. Todo crente espiritual reconhece que precisa oferecer primeiro sua afeição.
Sem isso, na verdade, ele não entregou nada a Deus.
Deus, o Pai, exige amor absoluto de seus filhos. Ele não deseja compartilhar nosso coração com mais
ninguém, nem com mais nada. Mesmo que lhe demos a maior parte, ainda assim ele não fica satisfeito.
Deus exige todo o nosso amor. Naturalmente isso é um golpe fatal para a vida da alma. O Senhor manda
que nos separemos daquilo a que nos apegamos, porque isso divide nosso coração. Ele nos pede para
amá-lo de modo completo e segui-lo com um amor sem limite. “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento." (Mt 22.37.) A palavra "todo" mostra que
cada uma das partículas do coração, da alma e do entendimento é para o Senhor. A ordem divina é que
não deixemos nem mesmo a menor parte da nossa afeição sob nosso comando. Ele exige tudo. Ele é um
Deus zeloso (Êx 20.5), por isso não permite que ninguém lhe roube o amor dos seus filhos.
E no entanto, quantas pessoas, além de Deus, os crentes amam devotadamente! Talvez seja um Isaque,
um Jônatas ou uma Raquel. Por essa razão, Deus insiste conosco para que coloquemos nossos amados
sobre o altar. Ele não pode tolerar nenhuma concorrência. Tudo que é nosso tem de estar sobre o altar.
Esse é o meio pelo qual o cristão recebe o poder espiritual. E logo depois que colocamos o sacrifício
sobre o altar, ou melhor, só depois que colocamos ali o último sacrifício, é que descerá o fogo do céu.
Sem o altar, não pode haver fogo celestial. Então, como alguém poderá ter o poder do Espírito Santo, se
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não tomar sua cruz e oferecer ao Senhor todos aqueles a quem ama? E não se trata de um altar vazio,
pois O fogo consome o sacrifício que se encontra sobre ele. Contudo, se não houver sacrifício, o que é
que o fogo poderá consumir? Irmãos, não é tendo uma boa compreensão mental da cruz, nem falando
incessantemente sobre ela, que obteremos o poder do Espírito Santo. Só o conseguimos assumindo a
atitude de colocar tudo sobre o altar. Se continuarmos abrigando algum tipo de ligação oculta que não
cortamos, ou se retivermos secretamente em nosso coração algum boi ou ovelha e um Agague (veja 1
Sm 15), não estaremos em condições de experimentar a manifestação do poder do Espírito Santo em
nossa vida.
Como a obra de Deus tem sofrido por não deixarmos que o Senhor seja o Senhor das nossas afeições!
Muitos pais se apegam aos filhos, querendo-os para si mesmos, e com isso o reino de Deus sofre perdas.
Inúmeros maridos e esposas não estão dispostos a sacrificar, por isso não há colheita. Um grande
número de cristãos se apega tanto aos amigos, que ficam inativos, deixando que seus irmãos lutem
sozinhos na frente de batalha. É deplorável ver quantos pensam que podem amar seus queridos e ao
Senhor simultaneamente, sem entenderem que, amando aqueles, não podem amar o Senhor. Se não
pudermos dizer como Asafe: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na
terra" (SL 73.25), estaremos continuando a viver na alma.
Tenho de ressaltar a importância de amar ao Senhor de todo o nosso coração. Nada satisfaz o coração
dele tanto quanto o nosso amor. O Senhor não busca o nosso trabalho, e sim nosso amor por ele. De
acordo com Apocalipse 2, a igreja de Efeso trabalha e labuta para o Senhor. Mesmo assim ele não está
contente, porque ela abandonou o primeiro amor. Se servirmos ao Senhor por amor, ele certamente fica
satisfeito. Se nosso coração não estiver realmente posto em Deus, de que valerá trabalharmos com
diligência? Precisamos estar conscientes de que existe, sim, uma grande possibilidade de trabalharmos
para o Senhor e ainda assim não o amarmos. Peçamos-lhe para nos revelar qual é a razão que nos leva a
ser ativos. Nosso amor por Deus é forte? De que adianta clamar "Senhor, Senhor", e trabalhar
diligentemente para ele, se o coração estiver vazio de amor por ele? Possamos nós ter um coração
perfeito para com nosso amado Senhor!
Muitos crentes nunca chegaram a entender bem o quanto seus entes queridos podem impedir seu
crescimento espiritual. Quando começamos a ter outras afeições, além do amor pelo Altíssimo, vamos
descobrindo, pouco a pouco, que ele deixa de ter importância para nós. E se os nossos entes queridos
amam a Deus, é provável que nós o amamos por causa dos nossos queridos, e não por causa dele
mesmo. Por isso, nosso relacionamento com o Senhor cai da esfera espiritual para a carnal. Jamais
devemos amar a Deus por causa de qualquer outro ser. Devemos amá-lo apenas por causa dele mesmo.
Se amarmos o Senhor por causa dos nossos queridos, nossa devoção para com ele é governada por
aquele a quem amamos. Então é como se Deus estivesse recebendo um favor, já que essa pessoa é quem
direciona o nosso amor ao Senhor. Consequentemente, Deus fica em débito para com aquele a quem
amamos, pela devoção que lhe damos. Hoje um ente querido nos impulsiona a amar a Deus. Amanhã
essa mesma pessoa poderá levar-nos a abandonar esse amor.
Além do mais, quando devotamos nossa atenção a alguém, dificilmente conseguimos conservar calmo o
coração. Normalmente nossas emoções nos agitam, e buscamos com todo ardor agradar essa pessoa.
Ademais o nosso desejo de nos aproximarmos de Deus, provavelmente, será menor do que o desejo de
estarmos com a pessoa amada. Sem dúvida nenhuma, numa situação dessas, o crente demonstra pouco
interesse pelas realidades espirituais. Exteriormente nada parece ter mudado. Interiormente, porém, seu
coração está envolvido com a pessoa amada. Se o interesse espiritual não desaparecer por completo,
com certeza ficará muito reduzido. Além do mais, o anseio do crente pelas vaidades deste mundo fica
estimulado além dos limites. Desejando a atenção da pessoa amada, o crente buscará impressioná-la com
os valores deste século, como moda, beleza e glória. Aí então abandona a Deus e seus mandamentos.
Lembremo-nos de um fato. O ser humano só pode amar uma pessoa, e servir a apenas um Senhor de
cada vez. Se ele ama uma pessoa, não pode amar a Deus. Precisamos cortar todos os relacionamentos
secretos com outros.
E na verdade, somente Deus pode satisfazer nosso coração. Nenhum ser humano tem essa capacidade. O
erro de muitos está em buscar nas pessoas algo que só pode encontrar em Deus. Toda afeição humana é
vazia. Somente o amor do Altíssimo é capaz de satisfazer completamente nossos anseios. No momento
em que um crente busca outro amor, sua vida espiritual fracassa. Só podemos viver pelo amor de Deus.
Quer dizer, então, que não precisamos amar os outros? A Bíblia sempre nos manda amar os irmãos, e até
mesmo nossos inimigos. Consequentemente, sabemos que não é da vontade de Deus que não amemos as
pessoas. Todavia ele deseja administrar nossa afeição para com todos os homens. Deus não quer que
amemos os outros por nossa causa, mas sim por causa dele, e nele. Então nossas simpatias e antipatias
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naturais não têm nenhuma parte aqui. A afeição natural precisa perder o domínio que exerce sobre nós.
Deus quer que nós, por causa do amor, aceitemos o domínio dele. Quando o Senhor quiser que amemos
alguém, instantaneamente ele nos capacitará para isso. Se ele quiser que terminemos algum
relacionamento, seremos capacitados a fazê-lo também.
Isso é o caminho da cruz. Somente quando permitimos que ela opere profundamente em nós, quando
entregamos à morte a vida de nossa alma, é que podemos nos livrar do ego em nossas afeições. Se
realmente experimentarmos a morte, não estaremos presos a ninguém. Seremos guiados apenas pelo
mandamento de Deus. Assim que a vida de nossa alma experimenta a morte, ela perde sua força,
tornando-se como morta no tocante à afeição. Então Deus passa a nos guiar, renovando, nele mesmo,
nosso amor pelas pessoas. Deus quer que criemos nele um novo relacionamento com aqueles que
anteriormente amávamos. Nosso relacionamento natural findou. Através da morte e ressurreição,
estabelecemos novos relacionamentos.
Como esse caminho nos parece ir no sentido oposto! Entretanto, como ele é abençoado para aqueles que
o experimentam! Muitas vezes, Deus nos "despoja" daquilo que nos é valioso, a fim de confirmar nossa
consagração, para nosso próprio benefício. O Senhor procura conquistar para si o nosso amor, ou então
nos despojar dele. Neste último, ele faz com que nossos entes queridos mudem seu coração para
conosco, ou torna impossível nosso amor por eles, cria obstáculos circunstanciais, como mudança ou
falecimento. Se nos consagrarmos a Deus, de todo coração, e de modo sincero, ele nos privará de tudo,
para que só ele permaneça. Se queremos realmente possuir a vida espiritual, precisamos estar dispostos a
abandonar tudo o que amamos. Deus exige que abandonemos tudo que entra em conflito com nosso
amor por ele. A vida espiritual proíbe que dividamos com outrem nossa afeição. Deus considera
qualquer erro nessa área (seja ele de intenção, de propósito ou de extravagância) tão grave quanto o
ódio. O amor e o ódio, quando provêm de nós mesmos, são igualmente impuros à vista de Deus. Depois
de passar por um processo de purificação, o crente vai observar que sua afeição para com os outros
agora se tornou verdadeiramente isenta de mistura. Seu amor já não está contaminado pelo ego. Tudo é
para Deus, e tudo está em Deus. Anteriormente, ele amava o próximo, mas amava mais a si mesmo,
porque considerava seu ser mais importante do que o dos outros. Agora, porém, ele se acha em
condições de partilhar da tristeza e da alegria dos homens, de levar suas cargas, e de servir-lhes com
afeição. Ele já não ama aquilo que seu próprio ego ama, mas aqueles a quem Deus ama. Não se
considera superior aos outros, mas os estima, como a si próprio. Hoje ele está em Deus, e ama a si
mesmo e os outros, por causa de Deus. É por isso que pode amar os outros como a si próprio.
Precisamos saber que temos de aplicar o senhorio de Deus sobre nossas afeições para que possamos
crescer espiritualmente. E como nossas afeições são indisciplinadas e rebeldes! Então, se elas não
estiverem sujeitas à vontade de Deus, nossa caminhada espiritual ficará constantemente ameaçada. Não
é difícil corrigir um pensamento errado. Já uma afeição desorientada é praticamente incontrolável.
Devemos amar o Senhor de todo o nosso coração, permitindo-lhe administrar o nosso amor.

AMANDO O SENHOR COM A ALMA

Cabe, aqui, urna palavra de advertência. Não pensemos, jamais, que nós, por nós mesmos, somos
capazes de amar o Senhor. Deus rejeita tudo que procede diretamente de nós. Nessas condições, até
mesmo nosso amor por ele é inaceitável. Por um lado, se não tivermos uma profunda afeição para com o
Senhor, estaremos entristecendo-o grandemente. Por outro lado, porém, ele não quer que o amemos com
a força da alma. Nossa afeição, mesmo quando a exercitamos para amar o Senhor, deve estar
inteiramente sob a direção do espírito. Muitos amam o Senhor com um amor mundano. Poucos o amam
com o puro amor de Deus.
Hoje em dia, o povo de Deus emprega principalmente a força da alma * para interagir com as realidades
espirituais. Falam sobre Deus como Pai. Chamam-lhe de amado Senhor, e admiram o seu sofrimento.
Assim fazendo, sentem o coração cheio de alegria, e acham que agora estão amando o Senhor.
Concluem que esse sentimento vem de Deus. Algumas vezes, ao meditar na cruz do Senhor, nem
conseguem conter as lágrimas, pois parecem experimentar uma ardente e indescritível afeição pelo
Senhor Jesus. Entretanto tudo ISSO passa pela vida deles como barcos navegando pelo mar. Não deixam
nenhum vestígio duradouro. Assim é o amor de inúmeros cristãos. Mas, afinal, que tipo de amor é esse?
Só serve para tornar o ego feliz. Isso não é amar a Deus; é amar o prazer. A visualização dos sofrimentos
do Senhor parece ter tocado o coração, mas a verdade profunda que eles representam não afetou a vida.
Como o sofrimento do Senhor é destituído de poder no coração do crente, quando este o percebe apenas
de maneira mental e emocional! O crente que contempla o sofrimento de Jesus assim se torna
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envaidecido e orgulhoso, achando que seu amor pelo Senhor é maior do que o dos outros. Fala como se
fosse um ser celestial. Na verdade, porém, continua vivendo em seu deplorável ego. Dá a impressão de
amar muito ao Senhor, e por isso os outros o admiram. Mesmo assim, seu amor nada mais é que amor
próprio. Ele pensa no Senhor, fala nele e anela por ele, apenas porque fazendo assim pode sentir-se feliz.
Sua motivação para amar o Senhor é seu próprio prazer, e não o próprio Senhor. Essa meditação lhe
proporciona sensações de conforto e agradável satisfação, por isso ele continua a meditar. Tudo isso está
na alma** e é terreno. Não tem nada a ver com Deus ou com o espírito.
Então qual é a diferença entre o amor espiritual e o da alma**? Não é fácil distingui-los exteriormente;
interiormente, porém, todo cristão pode descobrir a verdadeira fonte desse amor. Como a alma é o nosso
próprio "eu", tudo o que se relaciona com ela inevitavelmente acha-se ligado ao "eu". A afeição da
alma** é aquela em que o ego está atuando. Amar a Deus pelo prazer que isso nos dá é um amor carnal.
O amor espiritual não permite que o " eu" interfira no amor a Deus. Isso quer dizer que amamos a Deus
pelo que ele é. Qualquer afeição que, no seu todo ou em parte, se destine a satisfazer o homem, ou tenha
outras razões que não o próprio Deus, tem sua origem na alma.
Outra maneira de se saber a origem do amor é examinando o que ele produz. O amor da alma* não
capacita o crente a livrar-se permanentemente do mundo. Ele continua a ter suas preocupações e a lutar
para se livrar da atração do presente século. O amor espiritual, porém, não é assim. Os interesses deste
mundo naturalmente perdem a importância: diante dele. Quem possui esse amor despreza as coisas
terrenas, considerando-as detestáveis e abomináveis. Daí por diante ele parece incapaz de enxergar o
mundo, pois a glória de Deus cegou seus olhos. E mais ainda, quem experimenta esse amor, torna-se
humilde como se tivesse se definhado diante dos homens.
O amor de Deus é imutável em sua natureza. Já o nosso amor muda com muita facilidade. Se amamos a
Deus com nossa afeição natural sempre que estivermos tristes ficaremos frios para com ele. Se tivermos
de passar por um longo período de provação, nosso amor se acabará. Se amarmos a Deus com esse tipo
de amor, e para nossa satisfação, todas as vezes que não sentirmos o prazer esperado, nossa afeição
diminuirá. Já o amor de Deus permanece firme, fazendo com que o amemos em quaisquer
circunstâncias. "Porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme ...as muitas
águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo." (Ct 8.6,7.) O crente que verdadeiramente
ama a Deus persistirá no seu amor por ele, a despeito do que tiver de enfrentar, ou de como estiver se
sentindo. A afeição da alma * desaparece quando desaparece o mover da emoção. Já a afeição espiritual
é forte e sempre inflexível, e jamais desiste.
O Senhor muitas vezes nos faz passar por experiências dolorosas, para que não venhamos a amá-lo por
interesse próprio. Quando um crente ama com sua própria afeição e para sua própria satisfação, só pode
amar quando sente a afeição do Senhor. Já aquele que ama com o amor de Deus e pelo que ele é, verá
que o próprio Senhor o leva a crer no amor divino, e não a senti-lo. No início de nossa vida cristã, Deus
usa inúmeros meios para nos atrair ao seu amor e convencer-nos de que ele nos ama. Mais tarde, porém,
como ele quer que cresçamos, retira esse sentimento de amor, levando-nos a crer no seu coração de
amor. É preciso observar que o primeiro passo, a atração por meio do sentimento de amor de Deus, é
necessário para que posteriormente alcancemos uma comunhão mais profunda com o Senhor. É que, se
não formos atraídos pelo seu amor, não teremos forças para abandonar tudo e segui-lo. No início da
nossa caminhada espiritual, o sentimento do amor de Deus é vital e útil. É algo que devemos buscar
diligentemente. Todavia, depois de um período adequado, não devemos nos agarrar a esse sentimento,
pois isso traria prejuízos à nossa vida espiritual. Nos diversos estágios da nossa caminhada espiritual,
Deus nos concede várias experiências espirituais. Então é correto e muito proveitoso passarmos por
determinada experiência em certo estágio da vida. Todavia, se a desejamos novamente num estágio mais
avançado, experimentamos um retrocesso e um atraso. Depois que Deus permite que sintamos seu amor,
ele quer que creiamos nele. Por isso, após o havermos experimentado por algum tempo em nossa
emoção, o Senhor remove esse sentimento (embora não de imediato), a fim de criar em nós a confiança
essencial de que seu amor jamais muda. Portanto, se passarmos algum tempo sentindo o amor de Deus, e
mais adiante perdermos esse sentimento, não devemos ficar surpresos. Está na hora de crer no amor
divino.

A AFEIÇÃO E O SEXO OPOSTO


Já aprendemos que, para andarmos segundo o espírito, precisamos manter nossas emoções sempre
serenas e tranqüilas; caso contrário não conseguiremos ouvir a voz da intuição. Se esta não estiver
completamente tranqüila sob a vontade de Deus, nosso coração será constantemente perturbado, o que
interrompe a direção do espírito. Devemos sempre observar, em nosso espírito, o que ou quem agita
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nossa emoção. Se Satanás não conseguir derrotar o crente em nenhuma outra área de seu ser, irá tentá-lo
envolvendo sua afeição. E muitos cristãos têm falhado nisso. Portanto precisamos tomar bastante
cuidado.
Normalmente o que mais agita nossa afeição são os amigos, e, em particular, os amigos do sexo oposto.
Devido às diferenças próprias da vida natural, os sexos opostos se atraem mutuamente. E o que temos aí
não é apenas um complemento físico, mas psicológico também. Todavia essa atração pertence à alma.
Ela é natural e devemos repudiá-la. Uma pessoa do sexo oposto pode facilmente estimular nossa afeição.
Isso é um fato estabelecido. Os estímulos que nos vêm dos indivíduos do mesmo sexo não é tão forte
quanto os do sexo oposto. Por alguma razão psicológica, a atração que sentimos pelo sexo oposto é
irresistivelmente maior. Essa é a tendência comum e natural da vida. Um pequeno estímulo que
recebemos de alguém do sexo oposto geralmente desperta em nós profunda afeição.
Obviamente estamos falando aqui da tendência natural do homem. Por esse motivo, o crente que deseja
andar pelo espírito deve estar atento a isso. Portanto, se em nossos relacionamentos, principalmente nas
questões de amor, tratarmos pessoas do mesmo sexo de uma forma e do sexo oposto de outra, podemos
saber que já nos achamos sob a influência da alma. Se tratarmos uma pessoa de forma diferente,
simplesmente porque é do outro sexo, essa afeição é a natural. Não resta dúvida de que o estímulo que
vem de alguém do sexo oposto pode estar associado a motivações justas. Todavia o cristão precisa
entender que, se houver motivações mistas na amizade com alguém, seu relacionamento não é
puramente espiritual.
O obreiro cristão, em seu trabalho, precisa vigiar para não vir a sofrer a influência da atração sexual. É
preciso resistir a todo desejo de obter glória junto às pessoas do sexo oposto. Todas as palavras e
maneirismos artificiais, resultantes da atração exercida pelo sexo, reduzem nosso poder espiritual.
Devemos fazer tudo serenamente, e com motivações puras. Lembremo-nos de que não é apenas o
pecado que corrompe; tudo o que brota da alma também nos corrompe.
Quer dizer então que o crente não deve ter amigos do sexo oposto? A Bíblia não ensina isso. O Senhor
Jesus, quando estava na Terra, tinha comunhão amigável com Marta, Maria e com outras mulheres.
Assim, a questão é fundamentalmente esta: nossa afeição se acha sob o controle total de Deus, ou não?
Ou será que de algum modo ela está contaminada pela operação da carne? É perfeitamente correto que
os irmãos e irmãs tenham comunhão entre si. Entretanto essa comunhão não deve estar contaminada
pela operação da alma.
Resumindo, temos de dedicar nossa afeição inteiramente a Deus. Se tivermos grande dificuldade para
entregar alguém ao Senhor isso é sinal de que essa área da nossa vida está sob o controle da alma.
Quando nossa afeição é incapaz de submeter-se plenamente à vontade de Deus, deve estar havendo
muita interferência não-espiritual. Todas as afeições da alma * * nos conduzem ao pecado e nos
empurram para o mundo. Uma afeição que não é inspirada pelo Senhor logo se transforma em lascívia.
Sansão não foi o único na história humana a fracassar nesse aspecto. Dalila ainda está cortando o cabelo
de muito homem em nossos dias!
Anteriormente afirmamos que o aspecto de nossa vida que temos mais dificuldade para entregar a Deus
é a afeição. Desse modo, o sinal da verdadeira espiritualidade, e nosso maior teste, é a consagração dela.
Aquele que não morreu para a afeição deste mundo não morreu para mais nada. A morte de nossa
afeição natural é prova de que morremos para o mundo. Quem deseja a afeição humana, quem anseia
por ela, demonstra que ainda não morreu para a vida do “eu". A prova concreta de que morremos para a
vida da alma é o abandono de qualquer afeição que não tenha como objeto a Pessoa de Deus. Como o
homem espiritual é transcendente! Ele vive muito acima da afeição humana natural.

CAPÍTULO 14

O DESEJO

O desejo ocupa a maior parte da nossa vida emocional. Ele se une com nossa vontade, para se rebelar
contra a vontade de Deus. Nossos inúmeros desejos criam em nós sentimentos confusos, de tal modo
que não podemos seguir o espírito de maneira serena. Eles despertam nossos sentimentos e promovem
inúmeras experiências turbulentas. Antes de nos libertarmos do poder do pecado, o desejo se une a este.
Com isso, passamos a amar a conduta pecaminosa, o que nos priva de liberdade. Depois que nos
libertamos da manifestação exterior do pecado, o mesmo desejo nos leva a buscar, para nós mesmos,
muitas coisas contrárias à vontade de Deus. E enquanto estivermos vivendo dominados pelas emoções,
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seremos controlados principalmente pelo desejo. Enquanto a cruz não operar profundamente em nós, e
não julgarmos o desejo à luz da cruz, não teremos como viver totalmente em espírito e para Deus.
Quando um cristão é carnal, é governado intensamente por seu desejo. Todos os desejos e anseios
naturais, ou da alma * * , acham-se ligados à vida do ego. Eles existem para o ego, pelo ego, e de acordo
com o ego. Enquanto esse crente continuar sendo carnal, sua vontade não estará completamente entregue
ao Senhor, por isso ele conserva muitas idéias próprias. Então seu desejo opera junto com as idéias, para
lhe proporcionar prazer naquilo que ele quer ter e para realizar essas idéias. Toda satisfação, glória,
exaltação próprias, todo amor próprio, auto-compaixão e senso de importância pessoal têm sua origem
no desejo do homem, e fazem do “eu” o centro de tudo. Será que existe algum desejo do homem que não
esteja ligado ao ego? Se nos examinarmos à luz do Senhor, veremos que todas as nossas aspirações, por
mais nobres que sejam, acham-se encerradas dentro dos limites do ego. Tudo deve ser para ele! Elas
visam à satisfação própria, ou então à glória própria. Como é que um cristão que se acha numa condição
dessas pode viver no espírito?

OS DESEJOS NATURAIS DO CRENTE

O orgulho brota do desejo. O homem aspira a obter um lugar para si, para sentir-se honrado diante de
seus semelhantes. Tudo aquilo de que, secretamente, nos gloriamos com base em nossa posição, família,
saúde, temperamento, habilidades, poder e boa aparência brota do desejo natural do homem. Além disso,
se pensamos muito em como vivemos, vestimos e nos alimentamos de forma diferente da dos outros e
nutrimos auto-satisfação por causa dessa diferença, isso também é obra da emoção. Até mesmo nossa
avaliação do dom que recebemos de Deus, considerando-o superior ao dos outros, é algo que procede do
desejo natural.
E como um crente que vive pela emoção gosta de se exibir! Tanto ele gosta de ver como de ser visto, e
não tolera as limitações impostas por Deus. Tenta por todos os meios se colocar na vanguarda. É incapaz
de ficar numa posição apagada, por obediência à vontade de Deus, ou de negar a si mesmo, quando não
está em evidência. Faz questão de que os outros o notem. E quando não recebe a consideração que julga
merecer, fica profundamente ferido em seu amor próprio. Se, porém, as pessoas o admiram, seu coração
se regozija. Ele aprecia os louvores de outros, considerando-os justos e verdadeiros. Procura também
elevar-se em seu trabalho, seja pregando, ou escrevendo, pois sua motivação egoística o impulsiona a
avançar. Em suma, uma pessoa que age assim ainda não morreu para o seu desejo de vanglória. Ainda
está buscando o que ela deseja, e algo que possa alimentar seu ego.
Essa inclinação natural toma o crente ambicioso. A ambição surge quando damos corda à nossa
inclinação e desejo naturais. Todo anseio de procurar nossa fama, de nos posicionarmos acima dos
demais, e de atrair a admiração do mundo, procede da vida emocional. Muitas vezes, no serviço cristão,
o desejo de ter sucesso, de dar frutos, ter poder e oportunidade de trabalhar não passam de um pretexto
para a auto-glorificação. Até mesmo em nossa busca do crescimento e da profundidade espiritual, ou de
maior experiência cristã, muitas vezes, nosso objetivo é a satisfação própria e a admiração dos outros. Se
analisarmos o curso de nossa vida e trabalho, desde a origem, poderemos ficar surpresos ao descobrir
que o que está por trás de muitas das nossas realizações são nossos desejos pessoais. Como vivemos e
trabalhamos tendo em vista a nós mesmos!
Por mais que, aos nossos olhos, a nossa conduta seja muito boa, correta e digna de louvor, se for
motivada pela ambição, Deus a considera como madeira, feno e palha. Essa conduta e esse esforço não
têm valor espiritual. Deus considera nosso anseio por fama espiritual algo tão corrupto quanto nosso
impulso para pecar. Se alguém anda segundo sua tendência natural, talvez se considere bom em tudo que
faz. Deus, porém, está extremamente insatisfeito com esse “ego”.
Esse desejo natural é ativo também em outros aspectos do nosso viver. A vida da alma * * ambiciona
relacionamentos mundanos. Ela nos incita a ver e a ler o que não deveríamos. Podemos até não fazer
isso de forma habitual. Contudo, devido a um forte impulso interior, às vezes o fazemos, mesmo
sabendo que não deveríamos. O desejo da alma** pode se manifestar também em nossas atitudes, e até
mesmo em nossos maneirismos, como, por exemplo, no modo de andar. Sem dúvida, porém, é em
nossos atos e palavras que o percebemos com mais facilidade. Evidentemente tudo isso são pequenos
detalhes. Entretanto todos os que querem andar fielmente segundo o espírito reconhecem que, se forem
impulsionados pelo desejo da alma**, não conseguirão viver pelo espírito. Todo crente precisa lembrar-
se sempre de que, nas questões espirituais, por menor que seja um obstáculo, ele vai impedir seu
progresso espiritual.
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Quanto mais espiritual for o crente, mais real ele se tornará, pois se uniu a Deus e descansa nele.
Entretanto, quando sua motivação provém de sua vida natural, ele se torna muito pretensioso. Mostra-se
imprudente, e gosta de ter atitudes ousadas, a fim de satisfazer a si mesmo e impressionar os outros.
Finge ser maduro e sábio, quando, na verdade, é imaturo em muitos dos seus empreendimentos! Mais
tarde, ele pode lamentar essa vaidade, mas por enquanto se sente alguém dotado de grandeza. Quem
vive impulsionado por tais desejos fatalmente experimentará uma mudança de rumos.
O gosto pelo prazer é outra grande manifestação do crente que vive pela emoção. É que esta não
consegue viver só para Deus. Ela fatalmente se rebela contra isso. Sempre que alguém aceita a exigência
da cruz para entregar à morte a emoção de sua alma**, e viver inteiramente para o Senhor, descobre, por
sua própria experiência, que a emoção não o aceita. Ela faz de tudo para conseguir uma pequena base
onde agir. É por essa razão que muitos cristãos se tornam destituídos de poder para viver seguindo
inteiramente o Senhor. Vejamos um exemplo. Quantos se acham em condições de se envolver na batalha
da oração durante um dia inteiro, sem reservar um pouco de tempo para recreação, para revigorar as
emoções? Para nós é difícil passar um dia inteiro vivendo no espírito. Sempre reservamos algum tempo
para conversar com os outros, a fim de aliviar nossas emoções. Só quando Deus nos encerra em algum
lugar de algum modo, e não vemos as pessoas nem o céu, mas ficamos vivendo no espírito e servindo-o
diante do trono, é que começamos a perceber o quanto a emoção exige de nós. Aí compreendemos que
nosso morrer para as emoções é muito imperfeito e que ainda vivemos para elas.
Ainda outro sintoma do cristão emotivo é o impulso da pressa. Quem se move por seu sentimento
natural não sabe esperar em Deus, nem conhece bem a direção do Espírito Santo. A emoção geralmente
é apressada. Um cristão emocionalmente agitado age com rapidez. Para ele, é extremamente difícil
esperar no Senhor, saber a vontade de Deus, e viver passo a passo de acordo com essa vontade. Na
verdade, o povo de Deus só é capaz de seguir o espírito, se realmente tiver entregado sua emoção à cruz.
Lembremo-nos de que, entre cem ações impulsivas, talvez apenas uma seja da vontade de Deus.
E é fato que precisamos de tempo para orar, para nos preparar, para esperar em Deus, e sermos
novamente cheios com o Espírito Santo. Portanto, se agirmos impulsivamente, estaremos cometendo um
erro. Como Deus conhece a impetuosidade da nossa carne, ele muitas vezes usa nossos colegas na obra,
nossos irmãos, familiares, as circunstâncias e outros fatores materiais para nos cansarem. O Senhor quer
que nossa pressa morra, para que ele possa operar por nós. Deus nunca realiza nada apressadamente. Por
conseguinte, não concede seu poder a quem é impaciente. Quem desejar agir pelo impulso deverá contar
apenas com a própria força. Não há a menor dúvida de que a pressa é uma obra da carne. E como Deus
não deseja que andemos segundo a carne, precisamos entregar à morte nossas emoções apressadas. Toda
vez que elas exigirem que ajamos com pressa, devemos dizer a nós mesmos: "emoção está me
estimulando a agir com pressa. Ó Senhor, que tua cruz possa operar em mim!" Quem anda pelo espírito
não deve ser apressado.
Deus não tem prazer naquilo que nós mesmos fazemos. Pelo contrário; ele se deleita quando esperamos
nele, aguardando suas ordens. Nossas ações devem ser determinadas por Deus. E só é empreendimento
dele aquilo que ele ordena em nosso espírito! Contudo isso é impossível para o crente que segue a
própria inclinação. Mesmo quando ele deseja fazer a vontade de Deus, fica extremamente impaciente.
Não entende que Deus, além de ter uma vontade, tem também um tempo próprio. Muitas vezes ele nos
revela sua vontade, mas manda que esperemos a hora certa determinada por ele. A carne não tolera essa
espera. À medida que crescemos espiritualmente, vamos aprendendo que o tempo determinado pelo
Senhor é tão importante quanto a vontade dele. Não tenhamos pressa em gerar um Ismael, para que ele
não se torne o maior inimigo de Isaque. Os que não conseguem esperar a hora de Deus, também não
conseguem obedecer à sua vontade.
O crente que vive pela emoção não consegue esperar em Deus por causa da sua vontade própria. Tudo
que realiza é feito por ele mesmo, pois não pode confiar em Deus, nem permitir que Deus opere por ele,
Não consegue deixar um problema inteiramente nas mãos de Deus, nem abster-se de solucioná-lo com
as próprias forças. Confiar é algo que está além de sua capacidade, pois isso exige autonegação.
Enquanto ele não refrear seu desejo, sua vontade própria continuará muito ativa. E como ele fica ansioso
por ajudar a Deus! Parece que o Todo-Poderoso trabalha devagar demais. Então precisa ajudá-lo! Isso é
uma operação da alma, motivada pelo desejo natural. Muitas vezes, Deus toma a obra do crente ineficaz,
com o objetivo de levá-lo a negar a si mesmo.
A auto-justificação é outra atitude comum entre os crentes que vivem pela emoção. Frequentemente os
crentes estão enfrentando mal-entendidos. Algumas vezes, o Senhor ordena que demos explicações; em
outras, não. Então, se não recebermos uma ordem do Senhor no sentido de dar explicações e as dermos,
estaremos sendo levados pela agitação de nossa alma. A vontade de Deus é que seu povo entregue todos
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os seus problemas nas mãos dele, sem procurar se defender. Mas como gostamos de falar em nosso
favor! Como é terrível para nós saber que alguém nos entendeu mal! Isso diminui nossa glória e reduz
nossa auto-estima. Nosso ego não consegue permanecer em silêncio quando alguém comete uma ofensa
injustificada contra nós. Ele não consegue aceitar aquilo que Deus lhe reserva, nem pode esperar até que
Deus mesmo o justifique. Acha que a justificação de Deus virá tarde demais. Exige que o Senhor o
justifique imediatamente, para que ninguém tenha nenhuma sombra de dúvida sobre seu caráter. Tudo
isso não passa de uma fermentação do desejo da alma**. Se o crente estiver disposto a se humilhar
debaixo da potente mão de Deus, sempre que for vítima de um mal-entendido, descobrirá que o
propósito divino é usar essa oportunidade para capacitá-lo a negar seu ego mais profundamente. Isso
significa renunciar mais uma vez ao desejo de sua alma * * .É a aplicação da cruz à vida do cristão.
Cada vez que aceitamos a cruz, passamos a experimentar a crucificação. Se, porém, seguirmos nossa
inclinação natural, e nos apressarmos em nos de- fender, na próxima vez em que tivermos de subjugar a
força do ego, teremos mais dificuldade para vencê-lo.
Enquanto não disciplinarmos nosso desejo natural do homem na hora do sofrimento, do desconforto ou
do abatimento, fatalmente iremos nos desabafar com alguém. Nossa emoção despertou bem no íntimo, e
ansiamos falar de nosso problema a outrem, a fim de liberar a pressão angustiante e obtermos alívio.
Nossa alma** possui a tendência natural de fazer com que os outros tomem conhecimento de sua dor,
como se isso fosse suficiente para aliviá-la. Agindo dessa maneira, o indivíduo está simplesmente
tentando conseguir a compaixão e o consolo dos outros. Esse anseio por tal piedade e comiseração é
intencional, pois isso lhe proporciona um certo sentimento de prazer. Ele não se contenta em saber que
Deus conhece seus problemas. Não consegue entregar suas cargas só ao Senhor, permitindo que ele
tranquilamente o conduza a mortificar seu ego mais profundamente, por meio desse problema. Ele busca
o consolo humano, em vez do de Deus. Seu ego anseia por aquilo que o homem pode dar-lhe,
desprezando os desígnios de Deus. Os crentes precisam entender que, buscando a compaixão e o
consolo humanos, jamais conseguirão perder a vida da alma, pois essas coisas simplesmente a
alimentam. A vida do espírito começa com Deus, e é nele que ela encontra toda a sua suficiência. Só
pelo poder do espírito é que temos capa citação para aceitar e suportar a solidão. Quando utilizamos
recursos humanos para aliviar nossos fardos, estamos preferindo a vida da alma. Deus quer que
mantenhamos silêncio, para que as cruzes que ele preparou para nós realizem seu propósito em nossa
vida. Cada vez que ficamos calados, em meio a um sofrimento, testemunhamos a operação da cruz.
Tomar a cruz consiste em ficar mudo! É verdade que quem não solta a língua, prova as amarguras dela.
Entretanto sua vida espiritual recebe fortalecimento pela cruz!

O PROPÓSITO DE DEUS

Deus quer que seus filhos vivam exclusivamente no espírito, dispostos a entregar a vida de sua alma à
morte, e isso de maneira completa. Para alcançar esse objetivo, ele tem de tocar severamente em nosso
desejo natural. Deus quer destruir nossas inclinações naturais. Quantas vezes o Senhor impede que um
filho seu faça ou possua algo que em si mesmo não é errado. (Aliás isso pode até ser inteiramente
legítimo e bom.) Deus o impede porque, levado por impulsos emocionais, esse filho o quer para si
mesmo. O cristão que anda segundo suas aspirações pessoais não consegue evitar uma atitude de
rebeldia para com Deus. O propósito do Senhor é destruir por completo o desejo ardente de seu filho
quando este se dirige para qualquer coisa que não seja o próprio Senhor. Deus não está preocupado com
a natureza de determinada coisa. Ele só quer saber se o que nos leva a essa coisa é nosso desejo ou a
vontade dele. Se nosso trabalho ou conduta, por melhores e mais nobres que sejam, brotarem do nosso
desejo, e não de uma revelação que chega ao nosso espírito, não possuem nenhum valor espiritual para
Deus. Muitas vezes um filho de Deus precisa interromper uma obra que o Senhor tem em mente para
ele. É que a motivação desse servo é o seu próprio desejo. Posteriormente, quando sua submissão a Deus
for completa, o Senhor voltará a conduzi-lo a essa obra. Deus quer que o princípio diretivo da nossa vida
e trabalho seja a sua vontade (que ele revela à nossa intuição). Ele não quer que estejamos atentos à
nossa própria tendência, mesmo quando esta parecer estar em harmonia com seus propósitos. Temos de
estar atentos à vontade de Deus. Temos de renunciar ao nosso próprio desejo. Aqui temos uma
demonstração da sabedoria de Deus. Por que será que ele nos proíbe de seguir nossa inclinação, mesmo
quando ela coincide com sua vontade? Porque ela ainda é o nosso desejo. Se nos for permitido obedecer
às nossas boas aspirações, aí haverá lugar para o nosso " ego" atuar.
Embora nossos desejos por vezes se harmonizem com a vontade de Deus, ele não tem prazer neles, pelo
fato de ainda serem nossos. Ele nos manda romper completamente com nosso anseio por qualquer coisa
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que não seja ele mesmo. E “qualquer coisa" pode ser até alguns dos nossos desejos mais elevados. E ele
não vai dar lugar a nenhum deles, se estiverem incluídos na categoria dos independentes. Devemos
depender do Senhor em tudo. Se tivermos ou realizarmos algo que não brota de uma total dependência
de Deus, ele o rejeita. Assim ele nos leva, passo a passo, a renunciar à vida de nossa alma.
Se alguém deseja ter uma vida verdadeiramente espiritual, deve cooperar com Deus, mortificando seu
desejo próprio. Precisa renunciar a todo interesse, toda inclinação e preferências. Devemos acolher de
bom grado a oposição, o desprezo e as duras críticas dos outros bem como a humilhação e os mal-
entendidos. Assim a vida da nossa alma vai sendo tratada por meio desses fatores, tão contrários ao
desejo natural. Devemos aprender a aceitar o sofrimento, a dor, ou uma posição humilde de acordo com
o desígnio de Deus para nós. Por mais que a dor castigue a vida do nosso ego, ou que nosso sentimento
natural seja ferido, devemos suportar tudo com paciência. Se nos dispusermos a carregar a cruz em
nosso viver diário, logo veremos a vida do nosso ego sacrificada nela pois carregar a cruz é ser
crucificado. Toda vez que aceitamos sem reclamar aquilo que contraria nossa disposição natural é mais
um cravo a pregar a vida de nossa alma à cruz, deixando-a mais firmemente presa. Toda vanglória tem
de morrer. Precisamos crucificar todo desejo de ser vistos, respeitados, cultuados, exaltados e
proclamados. Todo desejo de auto-exibição deve ser igualmente crucificado. Temos de nos descartar de
toda pretensa espiritualidade, que visa ao louvor próprio. O mesmo devemos fazer com a valorização e
exaltação próprias. Devemos renunciar ao nosso desejo, seja qual for a forma em que ele se expressa.
Tudo aquilo que parte de nós mesmos é reprovável aos olhos de Deus.
A cruz prática que Deus nos dá vai de encontro aos nossos desejos. O objetivo dela é justamente
sacrificá-los. E o aspecto de nosso ser que sofre mais feridas na cruz é a nossa emoção. Ela corta
profundamente tudo aquilo que diz respeito a nós. E isso é certo, pois, como nossa emoção pode estar
feliz, quando nosso desejo está morrendo? A redenção de Deus exige que a velha criatura seja
inteiramente removida. O deleite de nossa alma é incompatível com a vontade de Deus. Quem quer
seguir ao Senhor precisa opor-se ao seu desejo próprio.
Esse é o propósito de Deus para nós. Ele prepara provações difíceis para seus filhos, a fim de que o fogo
do sofrimento consuma todas as escórias do desejo. Um cristão pode almejar uma posição elevada, mas
o Senhor o abate. Pode acalentar muitas esperanças, mas o Senhor não permite que ele tenha sucesso em
nenhuma delas. Pode anelar por muitos prazeres, mas o Senhor pouco a pouco o priva de todos, até não
restar nem um sequer. Ele almeja a glória, mas o Senhor impõe sobre ele a humilhação. Parece que nos
planos do Senhor não há nada que coincida com o pensamento do cristão. Tudo parece fustigá-lo, como
se levasse varadas. Embora resista com todas as forças, logo ele percebe que está indo direto para a
morte. A princípio, não consegue discernir que é o Senhor quem o conduz para o sacrifício.
Tudo parece indicar um total desamparo, a perda de toda esperança de vida, e um comando para morrer.
Durante esse período em que a morte é certa, ele começa a reconhecer que esse fim vem de Deus, e
assim se submete, aceitando tudo com serenidade. Essa morte, porém, implica o término da vida da
alma, para que ele possa viver totalmente em Deus. E para realizar isso na vida do cristão, Deus opera
por muito tempo, e de maneira dura. E a verdade é que, depois de passar por ela, tudo se resolve, e o
objetivo de Deus para sua vida se realiza. A partir daí, ele pode avançar rapidamente em seu crescimento
espiritual.
Depois que o crente fica livre do apego ao ego, ele pode pertencer inteiramente a Deus. Agora está
pronto para ser moldado segundo a vontade do Senhor. Seu desejo deixa de lutar contra Deus. Pelo
contrário; ele não deseja mais nada, só Deus. Sua vida agora se torna bem simples. Ele não tem
expectativas, anseios ou sonhos, a não ser obedecer voluntariamente a Deus. E não há existência mais
simples nesta Terra do que essa vida de obediência ao propósito divino, pois aquele que vive assim só
busca seguir a Deus de maneira serena e nada mais.
~r Quando um cristão abandona seus anseios naturais, alcança uma vida de descanso genuíno. Antes ele
tinha muitos desejos, e, para satisfazê-los, planejava, tramava e maquinava, esgotando por completo suas
forças e sabedoria. O coração estava em permanente confusão. Enquanto maquinava, ele lutava para
alcançar seu desejo. Se era derrotado, agonizava por causa do fracasso. Não havia descanso para ele!
Além do mais, quem ainda não abandonou o que é seu para se dedicar às coisas de Deus está sempre
sendo ferido pelas circunstâncias. A solidão, as atitudes egoístas de outros, as instabilidades da vida, e
muitos outros elementos do mundo exterior lhe causam tristeza. Isso é uma característica muito comum
aos crentes emotivos. E os desejos naturais também podem despertar-lhes a ira. Quando as
circunstâncias exteriores contrariam seus desejos, ou não se realizam do modo como eles querem, ou
então quando vivem situações que parecem injustas e irracionais, esses crentes ficam transtornados,
perturbados, ansiosos e nervosos. Essas expressões emocionais são causadas por razões externas. Com
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que facilidade nossas emoções se agitam, se perturbam e ficam feridas! É por isso que o impulso natural
do homem é buscar o amor, o respeito, a compaixão e a intimidade do seu semelhante. E se ele não
consegue realizar esse desejo, murmura contra o céu e contra os homens. Existe alguém que se ache
livre dessa tristeza e dessa dor? Neste mundo amargo em que vivemos, alguém pode realmente ver seus
desejos plenamente realizados? Se isso é impossível, como, então, um crente emotivo pode alcançar o
descanso nesta vida? Não consegue. Já o filho de Deus que simplesmente segue o espírito, e não busca
seu próprio prazer, se satisfaz com aquilo que Deus lhe dá. Assim sua inquietação desaparece
imediatamente.
O Senhor Jesus disse aos seus discípulos: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma" (Mt 11.29). A palavra "alma" aí
refere-se principalmente à parte emocional do nosso ser. O Senhor reconhece que seu povo precisa
passar por muitas provas preparadas pelo Pai celestial, pelas quais eles ficarão sozinhos e serão
incompreendidos. Jesus sabe que assim como ninguém o entende, a não ser o Pai, ninguém entenderá
seus discípulos (Mt 11.27). Sabe que é necessário que o Pai celestial permita que os crentes passem por
muitas situações desagradáveis, para que se afastem do mundo. Ele também tem interesse em ver qual
será a reação da alma deles, quando passarem pelo fogo. Por essa razão, ele os conclama a aprenderem
com ele, para que possam encontrar descanso de suas emoções. Jesus é manso. Ele recebe qualquer
tratamento por parte dos homens. Aceita de bom grado a oposição dos pecadores. E Jesus também é
humilde. Ele se humilha a si mesmo, numa atitude sincera. Ele não tem ambição própria. O ambicioso,
quando não consegue realizar seus desejos, fica magoado, irado e inquieto. Já Cristo vive todo o tempo
com mansidão e humildade. Por isso suas emoções não têm vez para se agitarem e explodirem. Ele
ensina que devemos aprender com ele, e sermos mansos e humildes como ele é. Ele nos aconselha a
tomar sobre nós o seu jugo, usando-o como uma limitação para nós mesmos. Ele também toma o jugo, o
próprio jugo de Deus. Ele só se satisfaz em fazer a vontade do seu Pai. E, como o Pai o conhece e o
entende, por que se preocupar com a oposição dos outros? Ele aceita voluntariamente as limitações que
Deus lhe impõe. Ele diz que devemos tomar o seu jugo, aceitar sua limitação e fazer sua vontade, e não
dar liberdade à carne. Se fizermos isso, nada poderá perturbar ou agitar nossas emoções. Isso é a cruz.
Se alguém estiver disposto a receber a cruz de Cristo, e se submeter totalmente ao Senhor, encontrará
descanso para suas emoções.
Isso nada mais é que uma vida plena de satisfação. O cristão não almeja nada mais além de Deus. Daí
por diante ele se contenta em fazer a vontade dele. Deus preenche todos os seus anseios. Ele considera
bom tudo aquilo que Deus preparou para ele ou lhe deu; tudo aquilo que o Senhor lhe pediu ou de que o
encarregou. Se ele puder seguir a vontade de Deus, seu coração estará satisfeito. Já não busca seu
próprio prazer, não por ser forçado a isso, mas porque a vontade de Deus o satisfaz. Ele agora está
plenamente satisfeito, por isso não tem mais pedidos a fazer. Uma vida assim pode se resumir numa só
palavra: satisfação. A característica da vida espiritual é satisfação; não no sentido de egocentrismo, de
auto-suficiência ou de auto-enchimento. O sentido aí é de alguém cujas necessidades foram todas
plenamente supridas em Deus. Para ele a vontade de Deus é o melhor; já se acha realizado. Que mais ele
precisa pedir? Somente os cristãos emotivos encontram falhas nos desígnios de Deus e aspiram a ter
mais, criando inúmeras expectativas em seu co- ração. Todavia aquele que permitiu ao Espírito Santo
operar nele de modo profundo por meio da cruz já não anseia por nada mais para si mesmo. Seu desejo
já está realizado em Deus.
Nesse ponto, o desejo do crente é totalmente renovado. (Isso não quer dizer, porém, que daí em diante
ele não possa cometer mais falhas.) O anseio dele acha-se unido ao de Deus. Por um lado, ele não mais
resiste ao Senhor. Por outro, ele agora se deleita no prazer do Senhor. Não é que esteja reprimindo seus
anseios. O que ocorre é que ele simplesmente se deleita naquilo que Deus exige dele. Se Deus quer que
ele sofra, pede ao Senhor que o faça sofrer, e encontra satisfação em tal sofrimento. Se Deus quer que
ele seja afligido, ele voluntariamente busca tal aflição. Então passa a amar mais a aflição do que a cura.
Se Deus quer humilhá-lo, ele de bom grado coopera com ele, humilhando-se. Ele se deleita agora apenas
naquilo que é o prazer de Deus. O crente não almeja nada além de Deus. Não espera nenhum
soerguimento se Deus assim não quiser. Ele não resiste a Deus, antes acolhe com prazer tudo aquilo que
o Senhor lhe concede, seja doce ou amargo.
A cruz produz frutos. Cada vez que tomamos a cruz, o fruto da vida de Deus chega até nós. Todo aquele
que está disposto a aceitar a cruz que Deus lhe dá em seu viver diário, verá que tem uma vida espiritual
pura. Todos os dias, a cruz que Deus quer que carreguemos está sempre presente em nossa vida. E toda
cruz tem uma missão peculiar: operar uma obra especial em nossa vida. Que jamais venhamos a
desperdiçar qualquer cruz que venha sobre nós!
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CAPÍTULO 15

UMA VIDA DE SENTIMENTOS

A EXPERIÊNCIA DO CRENTE

O cristão que se apega ao Senhor através do afeto geralmente está experimentando uma vida de
sentimento. Essa experiência lhe é muito preciosa. Ele entra nessa fase da sua vida cristã logo depois
que se liberta do pecado, e antes de entrar num viver espiritual autêntico. Por falta de conhecimento
espiritual, muitas vezes, ele pensa que esse tipo de experiência é bastante espiritual e celestial. Acha isso
porque a provou após ser liberto do pecado. Ademais ela lhe proporciona grande prazer. O deleite que
ela confere lhe causa tanta satisfação que o crente tem dificuldade de desvencilhar-se dela e abandoná-
la.
Durante esse período, o cristão se sente tão próximo do Senhor que quase tem a impressão de que pode
tocar nele. Percebe com clareza a suave ternura do amor de Deus, e também seu próprio e intenso amor
por ele. Parece que dentro do seu coração arde um fogo que produz uma alegria indizível, e lhe dá a
sensação de que já está no céu. Sente algo em seu peito, proporcionando-lhe grande prazer, como se ele
estivesse de posse de um tesouro de valor inestimável.
Ele prossegue com sua vida p trabalho, e a sensação perdura. Toda vez que o crente passa por uma
experiência dessas, não sabe mais onde é sua morada. É que parece ter perdido sua habitação terrena, e
agora voa muito alto, junto com os anjos.
Quando isso acontece, a leitura da Bíblia se torna um verdadeiro prazer. Quanto mais ele lê, mais feliz se
sente. Orar também se torna mais fácil. Como é maravilhoso derramar o coração diante de Deus! Quanto
mais comunhão ele tem, mais intensa brilha a luz celestial. Ele se sente animado a tomar inúmeras
decisões diante do Senhor, demonstrando o quanto ama o Senhor. Tem grande desejo de ficar em
silêncio, a sós com Deus. Acha que, se pudesse fechar a porta para sempre e permanecer em comunhão
com o Senhor, sua alegria seria plena. Não existe língua que possa expressar, nem caneta que possa
descrever o gozo que encontra nisso. Antes ele era mais sociável, como se as pessoas e as multidões
pudessem satisfazer suas necessidades. Hoje ele aprecia a solidão, porque o que podia obter no convívio
com os outros jamais se compara à alegria que agora desfruta, quando está só com seu Senhor. Prefere o
isolamento à companhia humana, pois teme perder essa alegria estando entre os homens.
Ademais, o serviço cristão se caracteriza por uma grande espontaneidade. Até então ele parecia não ter
nada para dizer. Agora, porém, com o fogo do amor ardendo em seu coração, ele experimenta um
enorme prazer em falar do Senhor aos outros. E quanto mais ele fala, mais desejo tem de falar. A
possibilidade de sofrer por amor a Deus se torna agradável. Por senti-lo tão perto e tão amado, ele abraça
com alegria a idéia do martírio. Todas as cargas se tornam leves, e as adversidades deixam de ser
problema.
Com tamanha consciência da proximidade do Senhor, a conduta do cristão também sofre mudança.
Anteriormente, ele gostava de falar. Agora, porém, é capaz de manter silêncio. E, em seu coração, pode
até criticar os que falam incessantemente. Antes ele era bastante frívolo. Hoje se tornou sério. Tem forte
sensibilidade a qualquer tipo de impiedade praticada por outros irmãos, e os critica severamente. Em
suma, nesse estágio o cristão tem um cuidado cada vez maior com sua conduta exterior, e possui mais
discernimento das falhas dos outros.
Interiormente esse cristão está sempre com pena daqueles que não tiveram a experiência que ele está
vivendo. Considera sua alegria muitíssimo excelente. Que pena que outros irmãos não tenham
conhecimento dela! Ao observar outros que servem ao Senhor de maneira fria e tranqüila, julga que a
vida deles não tem "sabor". Será que a sua existência não é a mais elevada, já que transborda da alegria
de Deus? Ele sente como se estivesse flutuando nas nuvens, acima das montanhas, enquanto os crentes
comuns estão caminhando pelo vale, com passos lentos e pesados.
Contudo, será que esse tipo de experiência dura muito? Será que alguém pode experimentar tal
exultação diariamente e permanecer feliz pelo resto da vida? Muitos de nós não podemos manter uma
experiência dessas por muito tempo. E assim, o crente vê desaparecer repentinamente sua estimada
alegria, depois de tê-la experimentado, digamos, por um ou dois meses. E isso o entristece
profundamente. Ele se levanta pela manhã para ler a Bíblia, como sempre faz, mas agora, onde está o
antigo prazer? Ele ora como antes, mas depois de algumas palavras se sente cansado. Tem a sensação de
que perdeu algo. Há pouco tempo estava julgando os outros, porque se encontravam bem atrás dele na
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caminhada espiritual. Agora, porém, se vê como um deles. Seu coração se esfriou. A sensação de fogo
que lhe abrasava o coração se desfez. A consciência da presença e da proximidade do Senhor acabou.
Parece que Deus está longe dele. Começa a se indagar para onde o Senhor terá ido. O sofrimento se
torna real, pois ele já não sente a antiga alegria que antes experimentava em meio ao sofrimento. Além
disso, perdeu o interesse em pregar. Hoje, depois de pronunciar algumas palavras, não tem mais vontade
de prosseguir. Resumindo, durante esse período tudo parece seco, frio, morto e em trevas. Parece que o
Senhor abandonou o crente numa sepultura. Nada conforta seu coração. Sua antiga esperança de
felicidade duradoura se desvaneceu completamente.
Aí, então, o filho de Deus naturalmente começa a achar que pecou e que, por isso, o Senhor o
abandonou. (E se não pecou, raciocina ele, o Senhor não retiraria sua presença, ou será que retiraria?)
Assim, é provável que ele se ponha a examinar cuidadosamente sua conduta dos últimos dias, tentando
descobrir em que foi que pecou contra o Senhor. Sua esperança é que, depois que ele confessar o
pecado, o Senhor retorne, e o encha com o mesmo sentimento de intimidade e alegria que gozava antes.
Todavia, ao examinar a si mesmo, não consegue detectar nenhum pecado em especial. Parece que tudo
está como sempre. E assim o crente retoma, mais uma vez, sua investigação interior. E pensa: Se minha
condição atual levou o Senhor a se apartar de mim, por que então ele não me abandonou antes? E se eu
não pequei, digo então outra vez, por que ele me deixou? Ele fica completamente confuso. Para ele a
única conclusão possível é que de alguma forma deve ter pecado contra o Senhor. Isso explicaria o fato
de Deus o ter abandonado. E Satanás também o acusa, reforçando a falsa noção de que ele realmente
pecou. Por isso, em seu coração ele clama ao Altíssimo, pedindo perdão e esperando reconquistar o que
perdeu.
Todavia a oração do crente não produz nenhum efeito. Ele não consegue restaurar instantaneamente sua
experiência perdida. A cada dia que se passa, sente-se mais frio e mais ressequido interiormente. Perdeu
o interesse por tudo. Antes conseguia orar durante horas e horas. Agora até mesmo quando ora poucos
minutos o faz de modo forçado. Não sente nenhum desejo de orar. A leitura da Bíblia, que tempos atrás
muito lhe interessava, atualmente se tornou para ele como uma rocha maciça, da qual não extrai nenhum
alimento. Não experimenta nenhum prazer ao manter comunhão com outros, nem ao realizar qualquer
tarefa que seja. Pratica-as simplesmente porque isso é o que se espera de um cristão. Tudo lhe é
enfadonho e forçado.
Ao enfrentar uma situação dessas, muitos cristãos, não todos, recuam. Por ficarem desapontados,
abandonam muitas práticas que sabem ser da vontade de Deus. Param de cumprir várias de suas
obrigações. A conduta errada, que havia sido corrigida durante o período de êxtase, volta a se manifestar.
A experiência que, no passado, eles observavam e lamentavam em outros, agora é deles também.
Passam a adotar as tagarelices, os gracejos, as maneiras frívolas e o gosto pelas diversões. Embora
tenham experimentado uma mudança, esta não durou muito.
Quando o crente perde o sentimento de alegria, passa a achar que tudo acabou. Por ter deixado de sentir
a presença de Deus, sua conclusão é que por certo o Senhor não está com ele. Se não sente a calorosa
afeição do Senhor, certamente é porque fez algo que desagradou a Deus. À medida que essa experiência
vai se prolongando, ele parece perder até mesmo a consciência de Deus. Por isso, se não desfalecer em
seu coração, tentará ardentemente recuperar o que perdeu. Não é verdade que ama o Senhor e deseja
estar perto dele? Como é que vai poder suportar a falta do sentimento do amor de Deus?
Então sai à procura de Deus. Esforça-se para se livrar desse estado de desolação, mas sem sucesso.
Mesmo quando se esforça para ter uma boa conduta, seu coração secretamente o acusa de hipocrisia. E
não é fácil para ele realizar nada, pois suas falhas são muitas. Isso naturalmente torna seu sofrimento
mais intenso. Se alguém o elogia numa ocasião dessas, ele fica visivelmente embaraçado, pois ninguém
pode avaliar como se sente infeliz por dentro. Por outro lado, se alguém o culpa de algo, ele aceita, pois
entende sua própria fraqueza. Admira sobremaneira aqueles que estão crescendo espiritualmente e
gozam de comunhão com o Senhor. Considera todos ao seu redor melhores do que ele, pois eles, pelo
menos, têm algo de bom, enquanto ele não tem nada.
Será que essa condição de esterilidade perdura para sempre? Ou será que ele vai recuperar sua antiga
experiência? O que geralmente acontece é o seguinte. Depois de algum tempo, talvez no período de
algumas semanas, o sentimento desejado volta. Isso pode acontecer ao ouvir um sermão, ou depois de
uma oração fervorosa na sua hora silenciosa, ou no período da meditação da meia-noite. A ocasião pode
variar, o certo, porém, é que a alegria retorna. E nesse despertamento, o crente recupera tudo o que ele
havia perdido. A presença do Senhor é tão preciosa como antes. A chama do amor novamente se acende
no seu peito. A oração e a leitura da Bíblia se tornam tão agradáveis como nos dias anteriores, e o
Senhor é tão amoroso e accessível que quase pode tocá-lo. Aproximar-se dele não é'mais um fardo, mas
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um grande prazer. Tudo se transforma. J á não há mais trevas, sofrimento ou sequidão. Tudo agora é luz,
alegria e refrigério. Por achar que a causa do afastamento do Senhor foi uma infidelidade sua, daí em
diante ele usa toda a sua diligência para preservar o que reconquistou, a fim de não perder mais essa vida
de sentimento. É mais cuidadoso do que nunca com sua conduta exterior. Serve ao Senhor diariamente,
com toda sua força, esperando manter a alegria, e nunca mais errar como antes.
Todavia, por mais estranho que possa parecer, a despeito de toda essa fidelidade, logo depois o Senhor o
deixa novamente. Aquele enlevo prazeroso desaparece por completo. Ele volta a cair em angústia, trevas
e esterilidade.
Examinando a biografia de muitos cristãos, vamos descobrir que experiências desse tipo estão presentes
na vida de diversos deles. E são pessoas que foram libertas do pecado e que conheceram a Deus
pessoalmente. No início, o Senhor as levou a sentir seu amor, sua presença, sua alegria. Contudo esses
sentimentos logo desapareceram. Em seguida, porém, eles voltam, deixando-as extremamente felizes.
Todavia, não muito tempo depois, tudo desaparece pela segunda vez. Podemos afirmar que alguns
crentes experimentam esse vai-e-vem dos sentimentos por diversas vezes. É interessante observar que,
enquanto ele é carnal e ainda não aprendeu a amar o Senhor, não passa por isso. Ele só se defronta com
situações desse tipo depois que cresce espiritualmente e começa a amar a Deus.

O SIGNIFICADO DESSA EXPERIÊNCIA

Os crentes geralmente pensam que o auge da espiritualidade é possuir esse sentimento maravilhoso. A
ausência dele é o fundo do poço. Muitas vezes ele descreve seu caminhar como sendo cheio de altos e
baixos. Isso quer dizer que, quando está cheio de alegria, amando o Senhor e sentindo a presença dele,
acha-se no melhor da sua condição espiritual. Quando, porém, seu sentimento interior é marcado pela
sequidão e pela dor, aí então sua vida espiritual se acha no seu nível mais baixo. Em outras palavras, ele
crê que é espiritual enquanto o fogo ardente do amor estiver aceso em seu coração. Se, porém, seu
coração se tornar frio como gelo, aí ele está na alma**c Esse é o pensamento comum entre os cristãos.
Será que ele é correto? Não! Está completamente errado. E se não entendermos onde está o erro,
continuaremos sofrendo derrotas até o fim.
Todo cristão precisa entender que o sentimento não passa de uma função da alma. Quem vive pelo
sentimento, seja ele de que natureza for, é um crente da alma**. Tanto o cristão que se sente alegre, que
ama o Senhor e sente sua presença, como aquele que sente exatamente o oposto, está igualmente
vivendo pelos sentimentos. O crente cuja vida e trabalho são determinados por uma sensação de
felicidade, alegria e vigor é da alma**. Do mesmo modo, aquele cuja vida e trabalho são motivados por
sequidão, melancolia e dor também é da alma**. A verdadeira vida espiritual jamais pode ser dominada
pelo sentimento, nem vivida por meio dele. Pelo contrário, é ela quem regula o sentimento: Em nossos
dias, os crentes confundem uma vida de sentimento com espiritualidade. Isso acontece porque muitos
nunca alcançaram a espiritualidade genuína e, assim, interpretam a sensação de felicidade como sendo a
experiência espiritual. Não sabem que esse sentimento também é da alma * .Somente c aquilo que
acontece na intuição é experiência espiritual. O resto não passa de atividade da alma*. É nesse ponto que
o cristão comete um dos erros mais grosseiros possíveis. Estimulado pela moção, ele pode sentir que
subiu ao céu, entendendo, assim, que está vivendo em ascensão espiritual. Entretanto ele não percebe
que isso é apenas seu modo de sentir. Todas as vezes que tem consciência da presença do Senhor, acha
que possui o Senhor. E sempre que não consegue senti-lo, acha que o perdeu. O que ele não sabe é que
isso é apenas sua maneira de sentir. Sempre que tem uma sensação calorosa em seu coração, acredita
que está realmente amando o Senhor. Se, porém, essa sensação desaparece, ele conclui que de fato
perdeu seu amor por Deus. Mais uma vez ele está ignorando esta verdade: isso são apenas seus
sentimentos. Sabemos que o sentimento pode não estar de acordo com a realidade espiritual, pois a
emoção não merece nenhuma confiança. Na verdade, quer tenhamos muitas sensações ou não tenhamos
nenhuma sensação, a realidade continua a existir, pois é imutável. O crente pode sentir que está
crescendo espiritualmente, sem, no entanto, estar fazendo nenhum progresso. Por outro lado, pode,
também, sentir que está regredindo, sem que esteja. Tudo isso, porém, é o que ele está sentindo. Quando
ele está cheio de estímulos que o animam, acredita que está avançando espiritualmente. Na realidade,
está apenas experimentando uma agitação das emoções, que logo desaparece. Então, os que são da
alma*, ao vivenciarem esse despertar da emoção, pensam que estão crescendo. Entretanto é a operação
do Espírito que faz com que os espirituais cresçam. O crescimento de quem é da alma* é falso. Somente
o que conseguimos pelo poder do Espírito Santo é real.
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OS PROPOSITOS DE DEUS

Por que, então, Deus concede esses sentimentos para depois retirá-los? Porque ele quer atingir uma
porção de objetivos.
Primeiro. Deus concede alegria aos crentes a fim de atraí-los para mais perto dele. Usa seus dons para
atrair os homens para ele. O Senhor espera que, depois de nos ter mostrado como é cheio de graça e
amor para conosco, nós creiamos em seu amor, em quaisquer circunstâncias. Infelizmente, nós, os
cristãos, só amamos a Deus quando sentimos seu amor. Quando isso não acontece, esquecemo-nos dele.
Segundo. Deus emprega esse método para que nos conheçamos melhor. Sabemos que a lição mais difícil
de aprender é O auto-conhecimento, aquela condição em que conseguimos ver o quanto somos
corruptos, vazios, pecaminosos e destituídos do bem. E trata-se de uma lição que temos de aprender
durante a vida toda. Quanto mais a aprendemos, tanto mais percebemos como nossa vida e natureza são
impuras aos olhos de Deus. Todavia não encontramos prazer nesse aprendizado. Tampouco somos
capazes de aprendê-la em nossa vida natural. Por isso, o Senhor emprega os mais diversos meios para
nos ensinar e nos levar ao auto-conhecimento. Entre esses, o mais importante é o de conceder-nos
sentimentos alegres, e depois removê-los. Por esse processo, o cristão começa a perceber sua condição
de corrupção. Nos momentos de aridez, o crente enxerga como utilizou mal o dom de Deus nos dias
felizes de outrora. Ele descobre, então, que o empregou para autopromover-se e depreciar os outros.
Percebe que muitas vezes agiu motivado pelo fermento da emoção, e não pelo espírito. Tal
reconhecimento nos leva à humildade. Se ele tivesse compreendido que essa experiência foi planejada
por Deus para ajudá-lo a conhecer a si mesmo, não teria buscado as sensações de prazer tão
incessantemente, como se elas fossem o aspecto mais importante da vida. Deus quer que entendamos
que muitas vezes podemos agir de modo desonroso ao seu nome, tanto no estado de êxtase, quanto no de
angústia. Durante os períodos de alegria não crescemos mais do que nos de tristeza. Nossa vida é
igualmente corrupta, tanto numa condição como na outra.
Terceiro. O propósito de Deus é ajudar seus filhos a superar as circunstâncias que os cercam. Um cristão
não deve \permitir que elas interfiram em sua vida. Quem deixa que as circunstâncias alterem seu
caminhar não tem uma experiência profunda com o Senhor. Já vimos que só a emoção pode ser afetada
pelas circunstâncias. Então, quando nossa emoção recebe a influência dessas circunstâncias, nossa vida
sofre mudança. Portanto, para superá-las, precisamos subjugar as emoções. Para um crente derrotar as
circunstâncias, ele precisa subjugar as suas variadas sensações. Se ele não conseguir superar seus
sentimentos sempre oscilantes, como poderá vencer as circunstâncias de sua vida? Nossos sentimentos
são sensíveis a qualquer mudança nas circunstâncias, sendo levados por elas. Se não dominarmos nossas
sensações, nossa vida oscilará de acordo com as variações das emoções. Por isso, precisamos controlar
nossos sentimentos, para depois podermos vencer as circunstâncias à nossa volta.
Isso explica por que o Senhor nos permite ter sentimentos variados. É para nos ensinar a reprimi-los, e
desse modo triunfar sobre as circunstâncias que nos cercam. Se o crente puder subjugar suas sensações
fortes e contrastantes, certamente poderá dominar as mudanças no ambiente. Desse modo, ele terá um
caminhar firme e constante, sem flutuar de acordo com a maré. Deus deseja que seus filhos permaneçam
os mesmos, com ou sem o sentimento em nível elevado. Ele quer que seus filhos tenham comunhão com
ele, e o sirvam fielmente, estejam felizes ou tristes. Os filhos de Deus não devem reformular sua vida de
acordo com aquilo que sentem. Se estão servindo ao Senhor com fidelidade e intercedendo pelos outros,
devem fazer isso, quer estejam tristes ou alegres. Não devem servir a Deus apenas quando se sentem
restaurados, e parando de fazê-lo se sentirem ressequidos. Se não pudermos subjugar nossas inúmeras e
variadas sensações, de modo nenhum poderemos dominar as diversas circunstâncias que nos cercam.
Aquele que não supera as situações que enfrenta demonstra que ainda não subjugou seu sentimento.
Quarto. Deus tem ainda outro objetivo em vista. Ele pretende fortalecer nossa vontade. A vida espiritual
genuína não é uma vida de sentimentos; é uma vida de vontade. A vontade do homem espiritual já foi
renovada pelo Espírito Santo, e aguarda a revelação do espírito para poder emitir ordens para todo o ser.
Infelizmente, a vontade de muitos crentes às vezes é tão fraca que não consegue cumprir as ordens que
recebe. Acha-se sob a influência da emoção, e por isso rejeita a vontade de Deus. Portanto o treinamento
e o fortalecimento da vontade constituem um passo absolutamente essencial para o nosso crescimento.
Um cristão entusiasmado pode crescer com facilidade, porque tem o apoio da sua emoção exacerbada.
Caso fique abatido, porém, o crescimento se torna difícil, porque ele passa a depender exclusivamente
de sua vontade. Deus pretende fortalecer a vontade, mas não para agitar a emoção. De vez em quando
ele permite que um filho seu experimente uma espécie de sentimento de cansaço, esterilidade e
insipidez. O objetivo aí é forçá-lo a exercitar sua vontade, através da força do espírito, para realizar o
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mesmo que ele costuma fazer sob o estímulo emocional. Quando a emoção é estimulada, ela realiza a
tarefa. Agora, porém, Deus quer que a vontade do crente opere em lugar da emoção. A vontade só pode
se fortalecer durante os períodos em que não recebe nenhum auxílio do sentimento. E esse
fortalecimento ocorre gradualmente, por meio do exercício. Quantos crentes se enganam, pensando que
a emoção é o padrão da vida espiritual! Erroneamente interpretam o momento em que o sentimento está
forte como sendo o ápice dessa vida, e o momento em que ele está ausente como seu ponto mais baixo.
Não sabem que nossa verdadeira vida é vivida pelo espírito, através da vontade. A posição que a vontade
alcança nos momentos em que o sentimento está árido representa a realidade da realização cristã. Nossa
verdadeira vida é o modo como procedemos durante a sequidão.
Quinto. Agindo dessa forma, Deus deseja conduzir-nos a uma existência de nível mais elevado. Se
examinarmos cuidadosamente o viver cristão, verificaremos que, em cada situação em que o Senhor
desejou nos conduzir a um patamar espiritual mais elevado, primeiro ele nos concedeu, em nosso
sentimento, um gosto por essa vida. Podemos dizer que, cada vez que experimentamos uma vida de
sentimento, estamos subindo mais um degrau em nossa jornada espiritual. Deus nos concede um
antegozo daquilo que deseja que tenhamos, outorgando-nos primeiro o sentimento. Depois retira a
sensação, para que, por meio do espírito, exercitando a vontade, possamos conservar o que sentimos. Se
o espírito do cristão pode crescer com o auxílio da vontade, desprezando a emoção, ele poderá, então,
ver que de fato avançou em sua caminhada. Nossa experiência confirma isso. Enquanto estamos levando
uma existência caracterizada por altos e baixos, geralmente achamos que não crescemos nada.
Concluímos que, durante esses meses, ou anos, simplesmente fomos para frente e para trás, ou então
para trás e depois para frente. Entretanto, se compararmos nossa atual situação espiritual com a que
tínhamos no início dessa experiência oscilante, descobriremos que realmente fizemos algum progresso.
Nós crescemos, embora não tenhamos consciência disso.
Muitos erram porque não se apropriaram desse ensinamento. O que se passa é que eles se consagram
inteiramente ao Senhor, visando a apropriar-se de experiências como a santificação e a vitória sobre o
pecado, e de fato passam a experimentar um novo tipo de vida. Assim acreditam que cresceram
espiritualmente, pois estão transbordando de alegria, luz e leveza. Crêem que se encontram naquele
curso perfeito que admiravam e buscavam. Depois de algum tempo, porém, essa situação nova e feliz
evapora-se repentinamente. Lá se vão a alegria e a emoção. Muitos ficam desalentados. Julgam-se
desqualificados para a perfeita santificação, e incapacitados para ter a vida mais abundante que outros
possuem. Esse pensamento se baseia no fato de terem perdido aquilo que por muito tempo admiraram, e
por tão pouco tempo possuíram. O que eles não entendem é que estiveram experimentando uma das
principais leis espirituais que Deus estabeleceu: aquilo que experimentamos na emoção precisa ser
preservado na vontade. Somente o que se retém na vontade se torna verdadeiramente parte da nossa
vida. Deus retirou apenas o sentimento. Ele quer que exercitemos a vontade, para fazer aquilo que
anteriormente nosso sentimento nos estimulara a fazer. Em pouco tempo, descobriremos que o que
perdemos em nosso sentimento se tornou parte da nossa vida sem que tivéssemos consciência desse fato.
Isso é uma lei espiritual. Será muito bom que nos lembremos dela, para que não venhamos a nos
desanimar.
Desse modo, o problema todo está situado na vontade. Será que nossa faculdade de decisão continua
entregue ao Senhor? Está livre para seguir a direção do espírito, do mesmo modo que antes? Se está,
então, por maior que tenha sido a mudança do sentimento, não há com que nos preocupar. O que deve
ser motivo de nossa preocupação constante é que nossa vontade esteja sempre obediente ao espírito. Não
devemos dar muito lugar aos nossos sentimentos. Antes, estejamos atentos ao tipo de experiência que
tivemos por ocasião do novo nascimento. Quando uma pessoa se converte costuma ficar cheia de
sensações de alegria. Contudo pouco depois elas desaparecem. Será que ela perdeu a salvação?
Certamente que não! Ela passou a possuir vida em seu espírito. O que ela sente ou deixa de sentir não
faz a menor diferença.

O PERIGO DESSA VIDA

Podemos afirmar que não existe perigo se, depois de passarmos por essa experiência, compreendermos
seu significado e seguirmos vivendo de acordo com a vontade de Deus. Contudo, se não entendermos a
vontade de Deus e não resistirmos ao impulso de viver pelo sentimento, nossa vida espiritual estará
correndo um grande perigo. Em outras palavras, se avançarmos sem hesitação ao experimentarmos
sentimentos efusivos, mas, assim que eles passarem, ficarmos parados, corremos perigo. Quem vive
pelos sentimentos, fazendo deles seu princípio de vida, se expõe a muitos riscos.
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Todo aquele que caminha movido por emoções alegres geralmente tem vontade fraca. Esta é incapaz de
seguir a orientação do espírito. O crente que substitui a intuição do espírito pelo sentimento prejudica o
desenvolvimento do seu sentido espiritual. Passa a andar pela emoção. Por um lado, sua intuição é
sufoca da pela emoção. Por outro, se ele não a exercita, ela cresce muito pouco. A intuição só se torna
ativa quando a emoção está adormecida. Só assim ela pode comunicar seu pensamento ao homem. Se a
exercitarmos com freqüência, ela se fortalecerá. Quando o crente se apóia no sentimento, sua vontade
perde seu poder soberano. Sua intuição fica sufocada, sem poder transmitir uma mensagem distinta.
Como a vontade tende para um estado de fraqueza, o crente passa a exigir mais do sentimento, a fim de
levá-la a agir. A vontade se move pelo sentimento. Se este é forte, ela se toma ativa; mas, se o
sentimento desaparece, ela pára. Assim a vontade não tem poder para fazer nada por si mesma. Sempre
precisa ser ativada pela emoção para se mover. Nesse meio tempo, a vida espiritual do crente
naturalmente afunda mais e mais. Com isso, ele tem a impressão de que sempre que a emoção está
ausente não tem nenhuma vida espiritual. A operação da emoção se tornou como um narcótico para tais
pessoas! Como é trágico que alguns crentes não tenham consciência disso e busquem ?5 emoções
vendo-as como o ápice da vida espiritual!
A causa desse erro se acha no engano que o sentimento produz. Nos momentos de grande êxtase, o
crente não apenas sente o amor de Deus, mas também experimenta ele próprio um amor intenso para
com Deus. Então quer dizer que devemos rejeitar nosso sentimento de amor para com o Senhor? Será
que essa sensação calorosa de amor para com ele pode nos prejudicar? Essa pergunta, em si mesma,
revela insensatez.
A pergunta deve ser feita de outra maneira. Será que quando um crente está cheio de exultação, ele está
de fato amando o Senhor? Não será que ele está amando o sentimento de exultação? Vamos admitir que
essa alegria lhe seja concedida por Deus; mas também não é Deus quem a retira? Se o amássemos
genuinamente, nós o amaríamos com todo o fervor, em qualquer circunstância em que ele nos colocasse.
Se nosso amor só está presente quando o sentimos, talvez, então, não estejamos amando a Deus, e sim
ao nosso sentimento.
Além do mais, o cristão pode confundir esse sentimento com o próprio Deus, não sabendo que existe
uma enorme diferença entre Deus e a alegria que vem de Deus. Aí, quando chega o período de aridez de
sentimentos, o Espírito Santo lhe mostra que o que ele buscava fervorosamente não era Deus, mas a
alegria que ele concede. De fato, ele não ama a Deus; o que ele ama é o sentimento que o torna feliz. Na
verdade, a sensação lhe traz o sentimento do amor e da presença de Deus. Todavia ele não ama o Senhor
apenas por causa dele mesmo, mas porque se sente restaura- do, radiante e animado. Por isso, todas as
vezes que esse sentimento desaparece, ele anseia por experimentá-lo de novo. O que lhe traz prazer é a
alegria de Deus, e não o próprio Deus. Se ele estivesse realmente amando o Senhor, iria amá-lo mesmo
que tivesse de passar por "muitas águas"
e "rios" (Ct 8.7). Sem dúvida nenhuma essa lição é muito difícil de se aprender. Devemos, realmente,
possuir alegria, e o Senhor tem prazer em concedê-la a nós. Se desfrutamos da felicidade que ele nos dá
segundo sua vontade, esse prazer é proveitoso, e não prejudicial. (Isso quer dizer que nós mesmos não
buscamos tal alegria, embora sejamos gratos a Deus, caso ele no-la conceda. Todavia, ficamos
igualmente gratos, caso seja vontade dele que estejamos numa condição de aridez. Não devemos forçar a
situação.) Entretanto, se achamos que ela é muito agradável, e nos pomos a buscá-la diariamente, aí
então já abandonamos a Deus, trocando-o pela alegria que ele concede. A sensação de felicidade que
Deus nos dá jamais pode estar separada dele, que é o Doador. Se tentarmos desfrutar da sensação
prazerosa que ele concede, mas sem ele, nossa vida espiritual estará em perigo. Quero dizer, se acharmos
satisfação na alegria que Deus nos dá, mas não em Deus como nossa alegria, não poderemos crescer
espiritual- mente. Muitas vezes nós o amamos, não por causa dele mesmo, mas por causa de nós. Nós o
amamos porque, amando a Deus, experimentamos grande sensação de alegria. Isso revela claramente
que, na realidade, não o amamos. O que amamos é apenas a felicidade que ele proporciona, o que é um
erro, apesar de ela ser a alegria de Deus. Tal situação revela que estimamos mais a dádiva de Deus do
que o próprio Deus, que é o Doador! Prova também que continuamos a viver pela alma, sem conhecer a
verdadeira vida espiritual. Endeusamos a sensação de felicidade e, de maneira incorreta, a consideramos
prazerosa. Então Deus, para livrar seus filhos desse erro, remove o sentimento de alegria, segundo seu
querer, e os lança no sofrimento, para que saibam que O prazer está nele, e não na alegria que vem dele.
Se nossa verdadeira alegria for Deus, nós o louvaremos e o amaremos, mesmo nas horas de sofrimento.
Caso contrário, nos afundaremos nas trevas. E quando Deus age assim, o que visa não é destruir nossa
vida espiritual, mas todos os ídolos que cultuamos, já que não está sendo o Único que adoramos. Ele
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quer eliminar tudo aquilo que constitui obstáculo a uma vida espiritual. Ele quer que vivamos nele, e não
em nossos sentimentos.
Existe ainda outro perigo que pode ocorrer àqueles que vivem pela sensação e não pelo espírito através
da vontade. Eles podem ser enganados por Satanás. Precisamos estar bem conscientes disso. Satanás é
perito na imitação dos sentimentos que vêm de Deus. Se ele usa diversas sensações para tentar confundir
os cristãos que aspiram a viver inteiramente segundo o espírito, quanto mais procurará enganar os que
desejam andar pelos sentimentos. Essas pessoas que buscam a emoção caem direto nas mãos de Satanás,
pois este deseja proporcionar-lhes toda espécie de sentimentos. E elas pensam que eles estão vindo de
Deus.
O maligno é capaz de deixar as pessoas empolgadas ou deprimidas. E assim que o crente é enganado e
aceita o sentimento que Satanás lhe oferece, já cedeu terreno para o inimigo em sua alma. E o engano
vai continuando até Satanás assumir um controle quase total de seus sentimentos. Algumas vezes o
diabo o induz a experimentar até mesmo sensações sobrenaturais de tremor, eletricidade, congelamento,
transbordamento, flutuação no ar, fogo da cabeça aos pés que consome toda sua impureza, além de
outros. Quando o crente chega a esse ponto, todo o seu ser passa a viver pelos sentimentos. Sua vontade
fica totalmente paralisada, e sua intuição, cercada por completo. Ele passa a ter uma existência
totalmente focada no homem exterior. Seu espírito fica completamente amarrado. Nesse estágio, ele faz
a vontade de Satanás em quase tudo, pois o inimigo só precisa dar-lhe algum sentimento para levá-lo a
fazer o que quer. A grande tragédia disso tudo é que o crente não se acha ciente de que está sendo
enganado por Satanás. Pelo contrário; ele se julga mais espiritual do que os outros, por desfrutar dessas
experiências sobrenaturais.
Os fenômenos sobrenaturais como esses que descrevemos causam enorme prejuízo à vida espiritual de
muitos cristãos em nossos dias. São incontáveis os filhos de Deus que têm caído nesse laço do diabo.
Eles crêem que essas ocorrências sobrenaturais (que lhes dão a sensação física de poder espiritual e os
deixam alegres ou tristes, quentes ou frios, que os fazem rir ou chorar, e que lhes conferem visões,
sonhos, vozes, fogo e até mesmo sensações maravilhosas e indescritíveis) definitivamente provêm do
Espírito Santo. Portanto constituem sua maior vitória. Esses crentes não conseguem ver que essas
manifestações não passam de uma obra do maligno. Jamais imaginariam que o inimigo pudesse realizar
uma obra semelhante à do Espírito Santo.Ignoram completamente que o Espírito Santo opera é no
espírito do homem. Sempre que algo produz algum sentimento no corpo, na maioria das vezes, procede
do maligno. Por que, então, tantos crentes caem nessa armadilha? Simplesmente porque não vivem no
espírito, preferindo viver pelos sentimentos! Por conseguinte, dão oportunidade ao poder ímpio de
realizar seus truques. Os cristãos devem aprender a negar a vida de sensações. Caso contrário vão ceder
terreno ao inimigo, que irá enganá-los.
Devemos empregar todos os esforços para advertir a cada um dos filhos de Deus que observem seu
sentimento físico com muito cuidado. Não devemos permitir que nenhum espírito crie qualquer
sentimento em nosso corpo, contra nossa vontade. Devemos resistir a todos os sentimentos físicos que
provêm do exterior. Não devemos acreditar em nenhuma dessas sensações físicas. Em vez de dar lugar a
elas, devemos evitá-las, pois constituem um engano com que o inimigo inicia sua atuação. Devemos
seguir unicamente a intuição que se manifesta nas profundezas do nosso ser.
Estudando atentamente essa prática de viver pelo sentimento descobrimos um princípio fundamental
desse tipo de vida. Refiro-me ao fato de que tudo ocorre "por amor ao ego". Por que se busca tanto a
sensação de alegria? Por causa do ego. Por que se aborrece tanto a aridez? Também por causa do ego.
Por que buscar sensações físicas? Por causa do ego. Nós ansiamos por experiências sobrenaturais,
também por causa do ego. .Oh e o Espírito Santo possa abri nossos olhos, para vermos que essa "vida
espiritual" do sentimento é dominada pelo ego! Que o Senhor possa nos mostrar que, quando estamos
cheios de emoções alegres, nossa vida acha-se centrada no ego. É o amor pela auto-satisfação! A
maneira como tratamos o ego demonstra se nossa vida espiritual é falsa ou verdadeira.

CAPÍTULO 16

A VIDA DE FÉ

A Bíblia revela o curso normal do caminhar de um cristão, em passagens como: "O justo viverá por fé"
(Rm 1.17);
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."Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus" (GL 2.20); e, "Andamos por fé e
não pelo que vemos" (2 Co 5.7). É pela fé que devemos viver. Embora compreendamos esse princípio
facilmente, não o experimentamos na prática de imediato.
A vida de fé não apenas difere por completo da vida de sentimento, é diametralmente oposta a ela. Quem
vive pelas sensações só pode seguir a vontade de Deus ou buscar as coisas que são de cima nos
momentos em que está animado. Se sua sensação de felicidade cessa, pára toda atividade. Isso não
acontece com quem vive pela fé. É que a fé se acha ancorada naquele em quem ele crê, e não naquele
que exercita o crer, isto é, em si mesmo. A fé não olha para aquilo que nos acontece, mas para Aquele
em quem cremos. Embora o crente possa mudar por completo, aquele em quem confiamos nunca muda.
Por isso, podemos prosseguir sem parar. É a fé que estabelece nosso relacionamento com Deus. E a fé
não leva em conta os próprios sentimentos, porque está envolvida com Deus. A fé segue Aquele em
quem cremos. Já o sentimento se volta para a maneira como nos sentimos. A fé contempla a Deus,
enquanto o sentimento contempla o ego. Deus nunca muda. Ele é o mesmo tanto num dia nublado como
no ensolarado. Por isso aquele que vive pela fé é tão imutável quanto Deus. Manifesta o mesmo tipo de
vida tanto nas trevas como na luz. Já aquele que vive pelo sentimento certamente vai levar uma
existência de altos e baixos, porque seu sentimento está sempre mudando.
O que Deus espera de seus filhos é que não façam do prazer o objetivo máximo de sua vida. O Senhor
quer que eles vivam crendo nele. Eles devem prosseguir na corrida espiritual, quer sintam conforto, quer
angústia. Nunca mudam de atitude para com Deus por causa de suas sensações. Estas podem até ser
negativas, insossas ou sombrias. Todavia, enquanto estiverem certos de que estão fazendo a vontade de
Deus, continuam a avançar, confiando nele. Muitas vezes suas emoções parecem rebelar-se contra essa
atitude. E eles se tornam excessivamente tristes, melancólicos, desanimados, como se seus sentimentos
estivessem lhes pedindo para cessar toda atividade espiritual. No entanto, prosseguem como sempre,
ignorando por completo esse sentimento contrário, pois reconhecem que têm de realizar a obra. Esse é o
caminho da fé, que não atenta para a emoção, mas exclusivamente para a vontade de Deus. Se estão
convencidos de que Deus quer algo, empenham-se para realizá-lo, mesmo que seu sentimento não esteja
interessado nisso. Aquele que vive pelas sensações só realiza aquilo em que ele próprio está interessado.
Quem vive pela fé obedece por completo à vontade de Deus, sem nenhuma preocupação com seu
próprio interesse ou com sua indiferença.
Quem vive pelo sentimento deixa de permanecer em Deus e busca encontrar satisfação na alegria. Já o
crente que vive pela fé procura obter satisfação em Deus, sempre pela fé.
Como ele possui a Deus, seus sentimentos felizes nada acrescentam à sua alegria profunda. E suas
sensações dolorosas tampouco os tornam infelizes. O crente que vive pela emoção vive para si mesmo.
O que vive pela fé se acha capacitado a viver para Deus, sem dar lugar à vida do seu ego. Quando
satisfazemos o ego, não temos uma vida de fé, mas de sentimento. As boas sensações realmente agradam
ao ego. Quem anda segundo os sentimentos, demonstra que ainda não entregou sua vida natural à cruz.
Ainda reserva algum lugar para o ego, desejando fazê-lo feliz. Ao mesmo tempo continua trilhando o
caminho espiritual.
A experiência cristã, do princípio ao fim, é uma jornada de fé. Pela fé, entramos na posse de uma nova
vida, e por meio dela, vivemos essa nova vida. A fé é o princípio de vida do cristão. Todos os crentes
naturalmente reconhecem isso. Entretanto parece que muitos se descuidam dessa verdade em sua
experiência, o que é bastante estranho. Esquecem-se de que viver e agir pela emoção ou por sentimentos
alegres está relacionado com a vista, e não com a fé. E o que é a vida de fé? É a que vivemos de modo
contrário à vida de sentimento, desprezando-a totalmente. O cristão que deseja viver por esse princípio
jamais deve alterar sua conduta, ou se queixar amargamente ao se sentir frio, ressequido, vazio ou aflito,
como se tivesse perdido sua vida espiritual.

A OPERAÇÃO MAIS PROFUNDA DA CRUZ

Muitas vezes, quando afinal aprendemos a nos desfazer da felicidade física e dos prazeres mundanos,
temos a tendência de concluir que agora a cruz terminou sua obra per- feita em nós. Não percebemos
que na obra de Deus, que é anular a velha criatura em nós, existe ainda uma operação mais profunda da
cruz para nós. Deus quer que morramos para a alegria dele e vivamos para fazer sua vontade. Mesmo
que nos sintamos alegres por causa de Deus e da comunhão com ele (em contraste com a alegria que
temos com os valores carnais e terrenos), o objetivo de Deus não é que desfrutemos da alegria dele, e
sim que obedeçamos à sua vontade. A cruz deve continuar operando, até restar apenas a vontade divina.
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Se nos regozijamos na felicidade que Deus nos concede, mas rejeitamos o sofrimento que ele também
nos envia, ainda temos de experimentar uma circuncisão mais profunda, operada pela cruz.
Existe uma grande diferença entre a vontade de Deus e a alegria que vem dele. A primeira está sempre
presente, pois podemos entender o que Deus quer através das circunstâncias que ele prepara para nós. Já
a segunda nem sempre está presente, pois só a experimentamos em certas situações e ocasiões. Quando
um cristão busca a alegria de Deus, está assimilando uma parte do propósito divino: aquela em que Deus
quer lhe dar felicidade. Não está desejando sua vontade total. Ele decide obedecer à vontade de Deus
apenas quando o Senhor o toma feliz. Todavia, se Deus fizer com que ele sofra, imediatamente se
revoltará contra o seu querer. Aquele, porém, que acolhe essa vontade, vendo-a como sua própria vida,
sempre obedece a Deus, independentemente do modo como Deus o faça se sentir. É que ele consegue
discernir os desígnios de Deus, tanto na alegria quanto no sofrimento.
Durante o estágio inicial da nossa experiência cristã, Deus permite que nos deleitemos em sua alegria.
Entretanto, depois que avançamos um pouco em nossa caminhada espiritual, ele a remove, pois isso é
proveitoso para nós. Deus sabe que, se buscarmos esse tipo de felicidade por muito tempo, e
desfrutarmos dela, não poderemos viver por toda a palavra que procede da sua boca. Pelo contrário,
viveremos inteiramente por aquela que nos toma felizes. Assim estaremos vivendo pelo conforto de
Deus, e não pelo Deus que nos dá o conforto. Por essa razão o Senhor remove essas sensações de prazer,
a fim de que seus filhos possam viver exclusivamente por meio dele mesmo.
Sabemos que, no início da nossa caminhada espiritual, o Senhor normalmente nos conforta quando
sofremos por sua causa. Ele deixa o crente sentir sua presença, sua aprovação e seu amor, e experimentar
seu cuidado. Ele faz isso para evitar que ele se desanime. Quando um cristão compreende a vontade do
Senhor e obedece a ela, Deus normalmente lhe concede um enorme prazer. E embora ele possa até ter
pagado algum preço para seguir o Senhor, a alegria que sente ultrapassa em muito aquilo que ele perdeu.
Por isso ele se deleita em obedecer à vontade divina. Contudo o Senhor percebe um perigo nisso. É que
após receber conforto no sofrimento e sentir alegria ao fazer o que Deus quer, o crente naturalmente
espera esse conforto e essa alegria da próxima vez que sofrer ou obedecer à vontade divina. Ou então
espera que isso ocorra imediatamente. Assim ele sofre ou faz a vontade do Senhor, não apenas por amor
a ele, mas por amor à recompensa que espera: conforto e gozo. Sem essas muletas, falta-lhe poder para
seguir em frente. A vontade do Senhor torna-se menos importante que a alegria que ele concede ao
crente quando este obedece.
Deus entende que seus filhos anseiam por sofrer, caso sejam confortados depois, e têm prazer em seguir
sua vontade, se receberem a recompensa da alegria. Agora, porém, Deus deseja saber qual é a motivação
deles. Quer saber se sofrem exclusivamente por amor ao Senhor, ou por causa do conforto que ele dá.
Deseja ver se obedecem a Deus por- que isso é necessário, ou porque sentem alguma alegria ao fazê-lo.
Por essa razão, depois de eles haverem alcançado algum crescimento espiritual, Deus começa a retirar o
consolo e O prazer que lhes havia concedido em relação ao sofri- mento e à obediência. Agora, o crente
precisa sofrer sem nenhuma ministração de conforto da parte de Deus. Então ele sofre exteriormente,
mas por dentro se sente magoado. Tem de fazer a vontade de Deus, sem o estímulo de receber um
"prêmio" depois. Realmente tudo é árido e desinteressante. Com isso, Deus vai saber exatamente o que é
que leva esse crente a sofrer pelo Senhor e a obedecer à sua vontade. Deus está lhe perguntando: Você
está disposto a suportar tudo isso sem a compensação do meu conforto? Está pronto a suportar isso
simplesmente por amor a mim? Irá sujeitar-se a realizar um trabalho que não lhe interessa nem um
pouco? Fará isso apenas por ser essa a minha vontade? Será capaz de assumir isso por mim, mesmo se
sentindo deprimido, insípido e ressequido? Será capaz de fazer isso simplesmente porque é minha obra?
É capaz de aceitar com alegria o sofrimento físico, sem nenhuma compensação de consolo? Pode aceitar
isso simplesmente porque provém de mim?
Isso é a cruz colocada em prática. Por meio dela, o Senhor nos revela se vivemos para ele pela fé, ou se
vivemos para nós mesmos pelo sentimento. Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem: "Eu vivo para
Cristo". O que é que essa frase realmente significa? Muitos crentes entendem que, se estiverem
trabalhando para o Senhor, ou dedicando-lhe seu amor, estão vivendo para Cristo. Isso está bem longe de
ser verdade. Viver para Deus quer dizer viver para fazer sua vontade, para buscar o seu interesse e seu
reino. Nesse tipo de vida, não há lugar para o ego, nem a menor busca de conforto, alegria, ou
glorificação própria. É proibido obedecer ao Senhor por causa do conforto ou da alegria que podemos
obter. É totalmente inadmissível recuar na obediência, ou interrompê-la, ou retardá-la, quando nos
sentimos deprimidos, sem entusiasmo ou abatidos. Precisamos saber que não podemos ver o sofrimento
físico em si como algo que suportamos por amor ao Senhor. É que muitas vezes nosso corpo pode sofrer
dor, enquanto o coração está cheio de alegria. Se realmente sofremos por ele, não apenas nosso corpo
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sofre, nosso coração também sofre. E mesmo sem sentir a menor alegria, prosseguimos. Precisamos
entender que viver para o Senhor é não reservar nada para o ego, mas entregá-lo voluntariamente à
morte. Aquele que é capaz de aceitar com alegria tudo o que vem do Senhor, inclusive as trevas, a aridez
e a insipidez, sem fazer caso do ego, esse vive para ele.
Se vivermos pela emoção, só conseguiremos realizar o desejo de Deus quando nos sentirmos felizes.
Vivendo pela fé, porém, poderemos obedecer ao Senhor em quaisquer circunstâncias. Muitas vezes
reconhecemos que determinada prática ou atitude é realmente a vontade dele. Contudo, apesar disso, ela
não desperta em nós o menor interesse! Desse modo, sentimo-nos desanimados ao tentar realizá-la. Não
temos nenhuma confirmação de que o Senhor está satisfeito conosco, tampouco experimentamos sua
bênção ou um fortalecimento de sua parte. Pelo contrário, sentimos como se estivéssemos passando pelo
vale da sombra da morte, pois o inimigo está contestando aquilo que fazemos. E infelizmente os poucos
crentes que obedecem à vontade do Senhor fazem apenas a parte dela que lhes interessa. E ainda há um
número incalculável de pessoas que absolutamente não a seguem. E os que obedecem visam apenas
satisfazer sua emoção e seu desejo! O fato é que, se não vivermos pela fé, acabaremos fugindo para
Társis. (Ver Jonas 1.3; 4.2.)
Vamos perguntar novamente: O que é uma vida de fé? É uma vida que crê em Deus, em quaisquer
circunstâncias: "Se ele me matar, ainda assim confiarei nele", diz Jó (13:15 - Darby). Isso é fé. Se uma
vez amamos a Deus, cremos e confiamos nele, havemos de crer, amar e confiar em quaisquer
circunstâncias em que ele nos coloque, e mesmo que nosso corpo e coração sofram. Hoje em dia, os
filhos de Deus esperam sentir paz, mesmo quando acometidos de dor física. Quem tem coragem de abrir
mão desse consolo, para apenas crer em Deus? Quem é capaz de aceitar alegremente a vontade de Deus,
entregando-se a ele de maneira incessante, mesmo com a sensação de que o Senhor o aborrece e deseja
matá-lo? Essa é a vida mais elevada que pode existir. Obviamente Deus nunca vai nos tratar desse modo.
Contudo muitos cristãos mais edificados parecem viver momentos em que experimentam um aparente
abandono da parte de Deus. Será que permaneceríamos firmes em nossa fé em Deus, caso nos
sentíssemos assim? Observemos o que declarou João Bunyan, o autor do livro O Peregrino, quando
desejavam enforcá-lo. Disse ele: "Se Deus não intervier, passarei à eternidade com uma fé cega, seja
para o céu, ou para o inferno!" Esse era um herói da fé! Será que na hora do desespero podemos também
dizer: "á Deus, mesmo que me abandones, ainda assim crerei em ti"? No momento em que sentimos as
trevas, a emoção começa a vacilar, ao passo que a fé se agarra a Deus, mesmo diante da morte.
Como são poucos os que alcançam esse nível! E como nossa carne resiste à idéia de viver só com Deus!
Nossa natural relutância em carregar a cruz tem impedido o crescimento espiritual de muitos. Nossa
tendência é reservar um pouco de prazer para nosso próprio deleite. Perder tudo no Senhor, até mesmo a
auto-satisfação, é uma morte por demais radical, uma cruz muito pesada! Às vezes um crente pode estar
inteiramente consagrado ao Senhor, pode estar sofrendo dores indescritíveis por causa do Senhor, e até
mesmo pagar um preço por seguir a vontade de Deus, mas não consegue renunciar àquele insignificante
sentimento de prazer próprio. Muitos valorizam demais esse conforto momentâneo. Sua vida espiritual
se apóia nessas reduzidíssimas centelhas de emoção. Se exercitassem coragem para se sacrificar na
fornalha de fogo de Deus, sem nenhuma demonstração de pena ou amor pelo ego, dariam grandes passos
na carreira espiritual. Entretanto muitíssimos crentes permanecem subordinados à sua vida natural
confiando naquilo que vêem e sentem, como segurança e proteção. Não têm coragem nem fé para
buscarem o que não vêem e não sentem, nem o caminho desconhecido. Já fizeram um círculo ao seu
redor. Sua alegria ou tristeza depende de um pouco que ganham aqui e um pouco que perdem ali. Não
aceitam nada mais elevado. Desse modo, ficam limitados por seu próprio ego, o objeto do seu amor.
Se o cristão reconhecesse que o propósito de Deus é que ele viva pela fé, não murmuraria com tanta
freqüência, nem daria lugar a pensamentos de insatisfação. Se tão-somente pudéssemos aceitar a
sensação de aridez que vem de Deus, e considerar excelente tudo que ele nos dá, nossa vida natural logo
seria tratada pela cruz. Não fosse por nossa ignorância ou falta de disposição, tais experiências
corrigiriam a vida de nossa alma de modo bem prático, capacitando-nos a realmente viver no espírito.
Como é triste que muitos crentes só alcancem na vida um pouco de sentimento de alegria! Os fiéis,
porém, guiados por Deus, experimentam a genuína vida espiritual. Como sua vida é espiritual!
Examinando retrospectivamente suas experiências, reconhecem que tudo que o Senhor faz é perfeito,
pois somente por causa delas é que eles renunciaram à vida da alma. A grande necessidade hoje é de
crentes que se entreguem totalmente a Deus, ignorando seus sentimentos.
Todavia é bom ressaltar que não devemos entender isso de forma errada, como se daqui por diante nos
tornássemos pessoas destituídas de alegria. A "alegria no Espírito Santo" é a maior bênção do reino de
Deus (Rm 14.17). Além do mais, o fruto do Espírito Santo é alegria (GL 5.22). Sendo assim, como
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resolver esse aparente paradoxo? Muito simples. Embora percamos a alegria da emoção, temos outra
alegria, a que brota de uma fé pura, e que não pode ser destruída. Essa alegria é bem mais profunda que
a emoção. Quando nos tornamos espirituais, abandonamos o antigo desejo de auto-satisfação e a velha
busca da felicidade. Já a paz e a alegria do espírito, que nascem da fé, permanecem para sempre.

SEGUNDO O ESPÍRITO

Para viver segundo o espírito, o cristão não pode permitir que a menor centelha de sentimento
permaneça em sua vida. Deve caminhar pela fé, eliminando as "muletas" das sensações maravilhosas às
quais a carne naturalmente se apega. Quando ele está seguindo o espírito, não teme, ainda que não
receba ajuda do sentimento, ou mesmo que o sentimento se oponha a ele. Todavia, quando sua fé está
fraca e ele não segue o espírito, aí busca o apoio do que é visível sensível e palpável. Sempre que nossa
vida espiritual se torna fraca, a emoção toma o lugar da intuição no comando do nosso ser. Quem
permanece no sentimento verá que, depois de buscar as sensações agradáveis por algum tempo, irá
procurar também o auxílio do mundo, porque o sentimento só se apóia no mundo. Um cristão emotivo
costuma seguir seus próprios anseios, e busca a ajuda do homem. Para andar segundo o espírito, é
necessário ter fé, porque esta geralmente se opõe ao sentimento. Sem fé ninguém pode realmente
crescer. Uma pessoa da alma**l no momento em que se torna deprimida, pára de servir a Deus. Já
aquele que vive pela fé, se fica triste, não cessa de servir-lhe enquanto está esperando que sua alegria
retome. Ele simplesmente avança e, ao mesmo tempo, suplica a Deus que fortaleça o seu espírito, a fim
de poder vencer todo sentimento de depressão que lhe sobrevenha.

A VIDA DA VONTADE

Podemos chamar a vida de fé de vida da vontade, visto que a fé não é afetada pela maneira como nos
sentimos. Nessa vida, exercitamos a volição para obedecer a Deus. Embora o cristão às vezes se sinta
como se não estivesse obedecendo a Deus, na realidade ele quer lhe obedecer. Há dois tipos opostos de
cristãos. Um vive pelas emoções, o outro confia na sua vontade que se acha renovada. O cristão que
confia no sentimento só obedece a Deus quando recebe o estímulo dos sentimentos nesse sentido; ou
seja, quando é estimulado por um sentimento. Entretanto aquele que depende da vontade faz o propósito
de servir a Deus em meio a quaisquer circunstâncias ou sentimentos. Então sua vontade é que reflete sua
verdadeira condição. Seu sentimento, porém, só é ativado por estímulos de fora. Quando fazemos a
vontade de Deus movidos por uma sensação de prazer, isso não tem nenhum valor para o Senhor. Quem
age assim, simplesmente está sendo levado pela alegria de Deus, e não por desejar, de todo o coração,
fazer a vontade divina. Se o cristão não decidir fazer a vontade de Deus, mesmo sem sentir a menor
alegria e sem receber nenhum estímulo de sentimentos agradáveis, não pode atribuir nenhum valor ao
seu ato de obediência. É que ele não parte de um coração sincero, e portanto não expressa seu respeito
por Deus nem sua negação do ego. A distinção entre aquele que é espiritual e o que é da alma * * reside
precisamente nisto. O que é da alma** considera primeiro a si mesmo, e, por isso, só obedece quando
sente que seu desejo foi satisfeito. Já no espiritual, a vontade coopera plenamente com Deus e, assim,
aceita os desígnios divinos sem vacilar, mesmo sem receber auxílio ou estímulo exterior.
De que temos de nos gloriar, se obedecemos a Deus apenas quando experimentamos alegria em nosso
corpo? Ou como podemos nos gabar, se desfrutamos do conforto do Senhor em meio ao sofrimento?
Aos olhos de Deus, é muito valiosa a nossa determinação de obedecer à sua vontade, e sofrer por ele,
mesmo quando não temos o conforto, o amor, o auxílio, a presença e a alegria do Senhor.
Um grande número de cristãos não tem ciência de que viver pelo espírito é seguir uma vontade que está
unida a Deus. (Se nossa vontade não estiver unida ao Senhor, é volúvel e indigna de confiança. Para
decidirmos fazer aquilo que o espírito deseja, é preciso que nossa vontade esteja totalmente submissa a
Deus.) Há crentes que, no estágio inicial de sua experiência cristã, ouvem falar de homens de Deus que
desfrutaram de indescritível felicidade ao praticar atos de obediência ou em meio ao sofrimento. Então
passaram a admirar grandemente essa vida. Por isso também se ofereceram exclusivamente ao Senhor,
na esperança de possuírem esse viver mais elevado. E de fato, após sua consagração a Deus, eles
experimentaram, algumas vezes, a intimidade e o amor do Senhor. Assim chegaram à conclusão de que
seu desejo havia se realizado. Pouco tempo depois, porém, essas maravilhosas experiências se
desvaneceram.
A questão é que eles não sabiam que a expressão da verdadeira vida espiritual não brota do sentimento, e
sim da vontade. Por essa razão, muitos sofrem dores intermináveis, crendo que, se não sentem mais as
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sensações de alegria, então perderam sua vida espiritual. O que tais crentes precisam fazer, ao descobrir
que seu sentimento diminuiu, é verificar se o seu propósito original de consagração mudou, ou se ainda
nutrem o desejo de fazer a vontade de Deus. Têm de ver se ainda estão dispostos a sofrer por ele. Houve
mudança em sua disposição de fazer tudo, ou de ir a algum lugar por amor a Deus? Se nada disso se
alterou, sua vida espiritual não retrocedeu. Se, porém, houve alguma mudança, a vida no espírito
realmente voltou atrás.
A regressão do crente não se deve à perda da alegria, mas ao enfraquecimento de seu desejo de obedecer
a Deus. Do mesmo modo, seu crescimento não se dá pelos sentimentos de prazer que ele agora possui e
que antes não possuía, mas porque sua vontade se acha mais unida à de Deus. É isso que o torna mais
inclinado a fazer a vontade de Deus, e estar mais submisso aos desejos dele. A pedra de toque de uma
genuína vida espiritual é a intensidade com que a vontade do crente se acha unida à de Deus. As
sensações agradáveis ou desagradáveis, bem como os sentimentos de felicidade ou de tristeza, de
maneira nenhuma servem como indicadores do nosso grau de espiritualidade. Se alguém se dispõe a ser
fiel a Deus até à morte, por mais árido que esteja se sentindo, tem a caminhada espiritual mais nobre
possível. A espiritualidade se mede por nossa vontade, pois esta revela nossa condição sem disfarces.
Quando entregamos a Deus nossas escolhas e decisões, podemos dizer com segurança que nos
submetemos a ele e deixamos de ser senhores de nossa vida. O ego sempre faz oposição à vida
espiritual. Com o quebrantamento do ego, ela pode crescer. Se o ego estiver forte, essa vida sofrerá.
Portanto podemos avaliar nossa espiritualidade examinando nossa vontade. Já com o sentimento a
situação é bem diferente. Mesmo experimentando as sensações mais gloriosas, estamos cheios do ego,
agradando e satisfazendo a nós mesmos.
Quem busca sinceramente o crescimento espiritual, mas pensa que o sentimento é o princípio básico de
sua vida, está enganado. É que assim estará sempre consciente de sensações vibrantes. Basta-nos saber
com certeza que devotamos nossa vontade totalmente ao Senhor. Não devemos levar em conta se temos
ou não alegria. Deus quer que vivamos pela fé. Quer também que estejamos satisfeitos apenas em fazer
a vontade dele, sem experimentar o consolo ou um prazer extático durante um bom tempo. Será que
estamos dispostos a viver assim? Devemos nos deleitar em fazer o que Deus quer, e não em sentir
alegria. A vontade de Deus, e somente ela, deve ser suficiente para nos tornar felizes.

O DEVER DO HOMEM

Enquanto o cristão for governado pelo sentimento, invariavelmente negligenciará sua obrigação para
com os outros. Isso acontece porque ele é o centro de si mesmo. Em conseqüência, torna-se incapaz de
atender às necessidades dos demais. Para cumprir seu dever, o cristão precisa de fé e vontade. Quem tem
senso de responsabilidade ignora o próprio sentimento. Nosso dever para com os homens é definido, e
nossa responsabilidade nas questões seculares da vida é certa. A variação nas emoções não os altera.
Temos de cumprir nosso dever de acordo com certos princípios.
Enquanto o cristão conhecer a verdade apenas em seu sentimento, com certeza estará impedido de
cumprir seu dever. É que se acha tão apegado à alegria da comunhão com o Senhor que não busca mais
nada. Sua maior tentação é não querer fazer nada, mas ficar a sós com o Senhor, e usufruir desse gozo.
Não gosta do trabalho com o qual estava anteriormente envolvido, pois ele não lhe oferece nenhuma
perspectiva de felicidade, só de provas e dificuldades. Quando está face a face com o Senhor,
experimenta uma intensa sensação de santidade e vitória. Todavia, quando se levanta para realizar suas
tarefas diárias, sente-se tão derrotado e maculado como antes. Seu desejo é escapar dos deveres. Então
acredita que, permanecendo bastante tempo na presença do Senhor, vai continuar santo e vitorioso por
mais tempo. Passa a ver suas obrigações como questões meramente terrenas e indignas de ocupar a
atenção de uma pessoa tão pura e triunfante como ele. Como se preocupa em achar tempo e lugar para
ter comunhão com o Senhor, e como detesta o trabalho que constitui seu dever, ele naturalmente
negligencia a necessidade e o bem-estar dos que o rodeiam. Os pais, por exemplo, que agem dessa
maneira, não cuidam bem dos filhos. Os empregados não servem a seus patrões com fidelidade, pois
consideram esses deveres seculares e, portanto, de valor insignificante. Acreditam que devem buscar
algo mais espiritual. Essa visão desequilibrada resulta do fato de o crente não viver pela fé. Continua
buscando algo que lhe sirva de apoio. Ainda não se uniu plenamente a Deus, por isso precisa de um
momento e de um lugar especial para ter comunhão com ele. Não aprendeu a ver o Senhor em tudo e a
cooperar com ele em todas as coisas. Não sabe se unir ao Senhor nos pequenos detalhes do dia-a-dia.
Sua experiência com Deus se limita à área do sentimento. Por essa razão, quer fazer uma tenda no monte
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e ficar ali permanentemente com o Senhor. Por outro lado, detesta a idéia de descer para a planície a fim
de expulsar o demônio.
Nenhuma experiência do cristão, nem mesmo a mais elevada, entra em choque com seus deveres. Lendo
as epístolas aos romanos, aos colossenses e aos efésios, vemos com clareza que o crente pode
perfeitamente cumprir seus deveres de cidadão. Sua espiritualidade não necessita de horas nem de
situações especiais para se manifestar. Pode expressar-se plenamente em qualquer ocasião e qualquer
lugar. Para o Senhor não existe dicotomia entre o trabalho caseiro, por exemplo, e a pregação ou a
oração. A vida de Cristo pode se manifestar através de qualquer tipo de atividade.
Quando vivemos pelas emoções, nos tornamos insatisfeitos com nossa condição atual e detestamos
realizar os deveres relacionados com ela. Revoltamo-nos contra essas obrigações porque nelas não
encontramos o prazer que buscamos. E no entanto o objetivo de nossa vida não é o prazer. Por que
então, insistimos em buscá-lo? Vivendo pelo sentimento, somos levados a negligenciar nossos deveres.
Vivendo pela fé, não abandonamos as responsabilidades que temos para com os amigos, nem para com
os inimigos. Se estivermos unidos a Deus em cada detalhe da vida, saberemos quais são esses deveres, e
como devemos cumpri-los adequadamente.

NA OBRA DE DEUS

Um dos requisitos básicos para servirmos a Deus é renunciar? Vida de emoção e passar a viver
inteiramente pela fé. Um cristão emotivo é inútil nas mãos do Senhor. Quem vive pelo sentimento sabe
desfrutar do prazer, mas não sabe trabalhar para Cristo. Ainda não alcançou a categoria de obreiro, pois
ainda vive para si mesmo, e não para Deus. E i viver para o Senhor é o pré-requisito para trabalharmos
para ele.
Para um cristão se tornar um instrumento útil para Deus e realizar de fato sua obra, ele precisa descobrir
a vida de fé. Caso contrário, seu objetivo de vida continuará sendo o prazer. Ele trabalha apenas por
causa dos sentimentos que experimenta, e, por isso, uma hora ele vai parar de trabalhar. Seu coração está
transbordando de amor próprio. Se o Senhor o colocar num campo onde haja bastante sofrimento físico
e emocional, ele começará a ter pena de si mesmo, e por fim abandonará o serviço. A verdadeira obra do
cristão, porém, deve ser a obra da cruz, exatamente como foi a do Senhor Jesus. Que prazer existe em tal
obra? Se os cristãos não entregarem à morte toda a sua emoção e seu amor próprio, dificilmente poderão
ser verdadeiros obreiros de Deus. Hoje Deus está precisando de seguidores que o acompanhem até o
fim. Muitos crentes trabalham para o Senhor quando a tarefa é próspera, se encaixa em seus interesses,
ou não põe em risco seus sentimentos. Entretanto, com que rapidez batem em retirada, assim que lhes
sobrevém a cruz, exigindo-lhes a morte, e não lhes oferecendo nenhum auxílio, salvo agarrar-se a Deus
pela fé! Sabemos que, se uma obra é realmente realizada por Deus, certamente irá produzir frutos.
Suponhamos, porém, que alguém tenha sido comissionado pelo Senhor, e tenha trabalhado oito ou dez
anos num determinado serviço sem conseguir nenhum resultado. Será que essa pessoa vai continuar
trabalhando com fidelidade, simplesmente porque Deus assim o ordenou? Quantos crentes se dispõem a
servir unicamente porque Deus assim o ordenou? E quantos trabalham apenas para produzir frutos? A
obra de Deus é eterna em sua natureza, por isso ele exige homens de fé para trabalhar nela. Os seres
humanos que estão presos ao tempo têm dificuldade em perceber e entender sua obra, pois o caráter dela
é eterno. Como, então, aqueles que vivem pelo sentimento podem engajar-se na obra de Deus, se nela
não há nada capaz de satisfazê-los? Se a morte pela cruz não penetrar profundamente em nossa alma, de
modo que não reservemos nada para nós mesmos, seremos incapazes de atuar na obra do Senhor, salvo
por curto espaço de tempo. Não conseguiremos ir além disso. Deus procura homens inteiramente
quebrantados, que o sigam até à morte, para trabalhar para ele.

NA LUTA CONTRA O INIMIGO

Quem vive pelo sentimento tem ainda menos poder na batalha espiritual. É que, na verdade, o combate
em oração é um exercício de autonegação. Que sofrimento incalculável está presente nesse combate!
Nele não pode haver nada para satisfazer o ego. Pelo contrário, na luta espiritual temos de derramar tudo
que possuímos em favor do corpo de Cristo e do reino de Deus. Como deve ser trabalhoso resistir ao
diabo e lutar contra ele em espírito! E que prazer o espírito experimenta por levar uma carga
indescritível por amor a Deus? Será que é interessante atacar o espírito maligno com todas as forças que
pudermos reunir? Trata-se de uma batalha em oração. Todavia, por quem é que o crente está orando?
Não por si mesmo, é certo, mas pela obra de Deus. E tal oração é a própria batalha, não havendo nela o
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interesse próprio das orações comuns. Será que existe nessa situação algum conforto, quando sofremos
dores de parto na alma e temos de orar no sentido de destruir ou edificar algo? Não há na~a na batalha
espiritual que possa trazer alegria à carne a menos, naturalmente, que a guerra esteja sendo trava- da
apenas na imaginação.
Um crente que vive pela emoção é facilmente derrotado no conflito com Satanás. Enquanto ele está
orando e atacando o inimigo, este, por meio de um espírito maligno, toca em sua emoção. Faz com que o
crente ache que a luta é penosa demais e que sua oração não tem vida. Desse modo, ele se sente infeliz,
apático, sombrio e ressequido. E pára de lutar imediatamente. Esse crente da emoção não tem poder para
guerrear contra Satanás, pois, tão logo seu sentimento é atacado pelo maligno, ele abandona o campo de
batalha. Se ainda não entregou sua emoção à morte, ele pode proporcionar ao diabo a oportunidade de
atacá-lo a qualquer momento. Cada vez que ele se levanta para resistir ao inimigo, Satanás o derrota
com um toque em seu sentimento. Será que alguém pode ter vitória sobre o maligno, se primeiro não
vencer sua vida de sensações?
Portanto, na batalha espiritual, precisamos ter uma atitude de morte total para os sentimentos e uma
confiança absoluta em Deus. Somente assim poderemos continuar resistindo ao inimigo sozinhos, sem
procurar companheiros, nem a aprovação do homem. Somente um cristão desse quilate consegue
perseverar quando se encontra dominado por todo tipo de sentimentos angustiosos. Ele não se preocupa
com a vida, nem com a morte, mas tão-somente com a direção de Deus. Não satisfaz nenhum interesse,
desejo ou anseio pessoal. Já se ofereceu à morte, e vive exclusivamente para Deus. Tampouco ele culpa
o Senhor pelo que lhe acontece, e não o compreende mal, pois considera maravilhoso tudo que ele faz.
Esse crente é capaz de se colocar na brecha. Embora tenha a impressão de que Deus o abandonou e os
homens se esqueceram dele, ainda assim ele continua em sua posição de comete. É um guerreiro de
oração. Esse vence Satanás.

O DESCANSO

Depois que a cruz realiza toda essa operação no crente, ele pode iniciar a vida de fé, que é a verdadeira
vida espiritual. E aquele que chega a essa condição entra numa vida de descanso. O fogo da cruz
consumiu todos os seus anseias. Finalmente ele aprendeu a lição. Reconhece que só a vontade de Deus
interessa. Tudo o mais, apesar de naturalmente desejável, é incompatível com a vida espiritual mais
elevada. Agora ele se regozija em abandonar tudo. Permite alegremente que o Senhor retire de seu viver
qualquer coisa que Deus, em sua sabedoria, julgue necessário retirar. Os suspiros, lamentos e tristezas
que antes experimentava por causa de suas antigas expectativas, buscas e esforços, hoje desapareceram
por completo. Ele reconhece que a vida mais elevada é aquela em que se vive para Deus, obedecendo à
sua vontade. Embora tenha perdido tudo, ainda assim está satisfeito com o cumprimento do propósito de
Deus em seu viver. Apesar de não ter ficado com nada para seu deleite pessoal, ele continua humilde,
vivendo de acordo com o propósito de Deus. Agora ele não se preocupa nem um pouco com o que lhe
acontece, desde que o Senhor fique satisfeito. E desse modo goza de perfeito descanso. Nada mais que
vem de fora poderá afetá-lo.
Agora a vontade do filho de Deus se acha unida ao Senhor e é por ela que ele vive. Como ela está cheia
de poder espiritual, é competente para controlar a emoção. Seu viver se torna firme, estável e tranqüilo.
Acabou aquela situação anterior, caracterizada por altos e baixos. Entretanto, mesmo assim, não
devemos tirar conclusões precipitadas, achando que daí em diante ele nunca mais será governado pela
emoção. É que, enquanto não entrarmos no céu, é impossível atingir uma perfeição total, sem pecado.
Contudo, comparando a condição anterior desse crente com a atual, podemos de fato dizer que agora ele
experimenta um descanso estável e permanentemente firme. Ele já não sofre aquelas intermináveis
confusões de antes, embora ocasionalmente possa perturbar-se com a agitação das emoções. Por isso é
indispensável que continue vigilante em oração. Vamos, então, acrescentar o seguinte. Não nos
enganemos. O que dissemos aqui não significa que daí por diante fica afastada a possibilidade de o
crente ter sentimentos, seja de alegria ou de tristeza. Enquanto nossa faculdade da emoção não for
aniquilada (e nunca será), continuaremos a ter sentimentos. Podemos, sim, sentir dor, escuridão, aridez e
tristeza. Todavia esse sofrimento pode penetrar apenas no nosso homem exterior; o interior permanece
intocado. Como alma e espírito são bem distintos um do outro, nossa alma pode ser perturbada e vir a
sofrer. Interiormente, porém, nosso espírito permanece calmo e sereno, como se nada houvesse
acontecido.
Quando o crente alcança essa posição de descanso, ele descobre que tudo o que antes havia perdido por
amor ao Senhor foi restaurado. Ele ganhou a Deus e, portanto, tudo o que pertence a Deus passou a lhe
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pertencer também. Então agora ele pode desfrutar, em Deus e da maneira devida, de tudo o que o Senhor
antes havia lhe retirado. Deus o fez passar por tantos sofrimentos no início, porque ele vivia pela vida da
alma. E esta buscava e pedia demais para si mesma, desejando até mesmo valores contrários à vontade
de Deus. O Senhor precisava limitar tal ação independente. Todavia agora que ele perdeu a si mesmo,
isto é, sua vida natural, ficou na condição correta para desfrutar da felicidade de Deus, dentro de seus
devidos limites. Antes ele não se achava qualificado para ter uma relação correta com a alegria do
Senhor. Daí por diante, porém, ele pode aceitar com ações de graças tudo o que Deus lhe conceder, pois
o anseio de conquistar algo para si mesmo foi reduzido a zero. E ele já não pede imoderadamente aquilo
que não recebeu.
Agora esse filho de Deus se acha numa base pura. Onde existe mistura, existe impureza. A Bíblia
considera a impureza como algo maculado. Antes de chegar a essa base sem mistura, ele não pode ter
um viver puro. Ele vive para Deus, mas vive para o ego também. Ama o Senhor, mas ama a si mesmo
também. Tem a intenção de buscar a Deus, mas ao mesmo tempo almeja glória, prazer e conforto para
seu ego. Uma vida assim é maculada. Ele vive pela fé, mas também pelas emoções. Segue o espírito,
mas segue também a alma. Embora ele realmente não retenha a maior parte de seu ser para si mesmo, a
parte menor, que ainda retém, é suficiente para macular sua vida. Somente o que é puro é limpo. Tudo o
que se mistura com matéria estranha se torna maculado.
Quando um crente experimenta a operação da cruz, na prática, alcança, por fim, uma vida pura. Aí tudo
é para Deus e está em Deus, e Deus está em tudo também. Nada é para o ego. Essa pessoa já crucificou
todos os desejos de agradar ao ego, até o menor deles. Já entregou à morte o amor próprio. Agora seu
objetivo de vida é singular: fazer a vontade de Deus. Nada mais lhe importa a não ser agradar a Deus.
Obedecer-lhe é seu único objetivo na vida. Não importa como ele se sente; o importante é obedecer a
Deus. Essa vida é uma vida pura. Embora Deus lhe conceda paz, conforto e felicidade, ele não desfruta
dessas bênçãos visando a satisfazer seu desejo. De agora em diante, ele vê tudo com os olhos de Deus. A
vida da alma** acabou, e o Senhor concedeu-lhe uma vida espiritual pura, tranqüila, verdadeira e de fé.
Embora seja Deus quem o destrói, de igual modo é Deus quem o edifica. Aquilo que é da alma** foi
destruído, ao passo que o que é espiritual foi estabelecido.

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