Universidade Pedagógica
Nampula
2018
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Supervisor:
Universidade Pedagógica
Nampula
2018
2
Índice
Lista de Tabelas
Declaração de honra
Declaro que esta monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do
meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
O Autor
____________________________________________
(Assane Alberto Chamacame)
Dedicatória
À meu primo Juma Chale que tanto apoio e deu para alcance deste sonho, que foi a minha
fonte de inspiração e aos meus pais que sempre me deram apoio moral e material para a
realização deste projecto.
vii
7
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradecer a Deus pela vida e saúde que têm- me concedido durante dia
após dia, ao meu Supervisor, Dr. Jemusse Abel Ntunduatha, pela sábia orientação;
A minha família, pais, irmãos, tios, primos, amigos e a todos que directa ou indirectamente,
contribuíram para que este trabalho se tornasse uma realidade.
Abreviaturas e Siglas
Resumo
A presenta monografia científica tem como tema: Conflitos de Terra: Estudo de caso do bairro de
Marrere (2013 – 2016). O trabalho teve como lugar de referência o bairro de Marrere, escolheu-se este
local simples facto de este ser um dos vários bairros da cidade de Nampula que tem registado conflitos
de terra devido a expansão da cidade. A escolha do bairro de Marrere, se deveu ao facto desta
circunscrição ser um dos principais locais onde de tempo a tempo, surgem focos sistemáticos de
conflitos de terra, quando os munícipes reclamam o Direito de Uso e Aproveitamento de terra
concedida pelo Departamento de Urbanização e Gestão de Terra, do Conselho Municipal de Nampula.
Também realça-se que o período entre 2013 à 2016, em Marrere ocorreu o parcelamento e atribuição
de terrenos, processo que visou como dar resposta ao fenómeno de ocupação desregrada dos solos. A
presente monografia teve como objectivo geral, Analisar os factores que originam os conflitos de terra
em Marrere e tem como objectivos específicos: Caracterizar o bairro de Marrere; Identificar os
factores que originam os conflitos de terra no bairro de Marrere e Descrever os factores do conflito de
terra e seu impacto no bairro de Marrere. E aponta-se como pergunta de partida: Quais são as
motivações que originam os conflitos da dupla ou tripla atribuição de terrenos em Marrere? Atento a
esta problemática surge como hipótese: A dupla atribuição de terrenos em Marrere resulta da falta de
clareza na concessão de títulos de uso e aproveitamento de terra; Falta de coordenação, comunicação e
controlo eficientes, entre as estruturas administrativas municipais e a comunidade, origina os conflitos
emergentes do uso, ocupação e aproveitamento de terra em Marrere Expansão e Fazer um
levantamento dos locais onde já existem conflitos como resultado da dupla ou tripla atribuição de terra
e/ou onde se prevê futuros conflitos. A metodologia usada para a elaboração da presente monografia
usou-se o método qualitativo, do tipo explicativo, quanto ao seu objectivo usou-se o método indutivo,
para a recolha de dados usou-se a pesquisa bibliográfica, a entrevista, observação e questionário como
procedimentos técnicos de recolha de dados. Pode-se concluir que enquanto permanecer a actual
metodologia de trabalho no processo de demarcação e atribuição de terrenos, os problemas resultantes
do Direito do Uso e Aproveitamento de Terra, continuarão a ser uma realidade na maioria dos
conflitos em Marrere.
Introdução
A nova lei de terra em Moçambique surgiu em 1997 e desde então um número significativo
de comunidades rurais reforçou o seu direito de uso e aproveitamento da terra. Este é uma
vitória, um marco social e histórico, digno de registo e apreciação, jamais visto na história
contemporânea, desde a Conferência de Berlim onde o continente africano foi divido para
melhor ocupar e governar. Apesar deste progresso em Moçambique, o desenvolvimento rural
não tem sido um processo pacífico. O conceito actual, tem atribuído o papel de liderança ao
sector privado que tem ocupado lugares-chave.
Este ambiente tem criado tendência de implantação de uma relação de cima para baixo nos
projectos e programas privados desenhados a nível nacional sem a participação verdadeira das
pessoas no local. Estas características muitas vezes não são compatíveis para assegurarem a
construção duma boa parceria, ficando a população rural sem espaço para decidir sobre o seu
próprio futuro em condições favoráveis para ela. Aliás o direito público comunitário
consagrado na legislação sobre terras.
Nesta óptica, a presente monografia científica tem o seguinte tema Conflitos de Terra um
estudo de caso do Bairro de Marrere2013 á 2016.
O trabalho teve como lugar de referência o bairro de Marrere, escolheu-se este local simples
facto de este ser um dos vários bairros da cidade de Nampula que tem registado conflitos de
terra devido a expansão da cidade.
A escolha do bairro de Marrere, se deveu ao facto desta circunscrição ser um dos principais
locais onde de tempo a tempo, surgem focos sistemáticos de conflitos de terra, quando os
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A presente monografia tem como objectivo geral: Analisar os factores que originam os
conflitos de terra em Marrere. E tem como objectivos específicos: Caracterizar o bairro de
Marrere; Identificar os factores que originam os conflitos de terra no bairro de Marrere e
Descrever os factores do conflito de terra e seu impacto no bairro de Marrere.
E na sonda dos objectivos que surge a seguinte pergunta de partida: Quais são as motivações
que originam os conflitos da dupla ou tripla atribuição de terrenos em Marrere?
Atento a esta problemática surge como hipótese: A dupla atribuição de terrenos em Marrere,
resulta da falta de clareza na concessão de títulos de uso e aproveitamento de terra; falta de
coordenação, comunicação e controlo eficientes, entre as estruturas administrativas
municipais e a comunidade, origina os conflitos emergentes do uso, ocupação e
aproveitamento de terra em Marrere Expansão e Fazer um levantamento dos locais onde já
existem conflitos como resultado da dupla ou tripla atribuição de terra e/ou onde se prevê
futuros conflitos.
No que respeita a sua abordagem usou-se a pesquisa qualitativa como forma de compreender
e classificar os processos vividos por vários grupos sociais, quanto a sua natureza a pesquisa é
aplicada que contribuiu para a criação de conhecimentos para a solução do problema exposto.
Para o alcance dos objectivos traçados usou-se o método indutivo; quanto aos procedimentos
técnicos foi usado o inquérito que contribuíram para a maior recolha de dados, usou-se ainda
a pesquisa bibliográfica como forma de fazer o cruzamento dos conceitos e teorias de vários
autores.
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O trabalho teve com universo e amostra toda a população residente de Marrere, local onde foi
feita a pesquisa, e teve a seguinte distribuição de acordo com o método de amostragem por
acessibilidade, e a escolhia foi aleatória num total de 25 residentes sendo 15 homens e 10
mulheres.
No que tange a sua estrutura, a presente monografia científica comporta (04) quatro Capítulos
distribuídos da seguinte maneira:
Esta pesquisa pretende mostrar análise de pesquisas bibliográficas e fontes que trabalham o
tema sobre os conflitos em Marrere procurando mostrar que no caso específico que pela
expansão da cidade e a entrada de vários estrangeiros tem vindo a criar-se conflitos pela posse
da terra.
Espera-se que a presente monografia traga uma nova visão em relação a importância na
gestão de conflitos em Marrere e que os resultados alcançados possam contribuir para uma
nova visão académica.
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1.1. Localização
A Cidade de Nampula, é o terceiro maior centro urbano de Moçambique, com uma superfície
total de 404 Km², tendo uma população estimada em 471.717 habitantes, cuja densidade
populacional é de 1.414.26 habitantes por Km² e 101.484 agregados familiares. (Perfil do
Município de Nampula, 2011).
No meu entender, a Cidade de Nampula, foi fundada com a finalidade de se manter o controlo
militar durante a penetração colonial portuguesa para as regiões do interior.
Bombeiros;
25 de Setembro;
1° de Maio;
Limoeiros;
Liberdade e
Militar
Muatala e
Mutauhanha
Muhala;
Namutaqueliua e
Muahivire
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Namikopo e
Mutava-Rex
Napipine e
Carrupeia
Natikire;
Marrupaniua e
Marrere. (Vide a tabele a baixo).
1.3.8. Habitantes
No âmbito do processo democrático em curso no País e com a realização das quartas eleições
autárquicas ao nível do país, havidas em 01 de Dezembro de 2013, cujos órgãos autárquicos
foram instalados em06 a 07 de Fevereiro de 2014 na Cidade de Nampula, nomeadamente a
Assembleia Municipal, Presidente do Conselho Municipal e Conselho Municipal, ao abrigo
dos artigos 38, 54 e n.º 1 do 61, todos da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro (Lei 2/97).
No âmbito da autonomia administrativa, o nº1 do artigo 18, da Lei 2/97, consagra o direito
das autarquias locais disporem de Quadro de Pessoal próprio, concebido e dotado para
satisfazer as respectivas necessidades de carácter permanente.
Este Quadro de Pessoal próprio da autarquia é aprovado pela Assembleia Municipal, nos
termos da alínea h) do nº3 do artigo 45, da Lei 2/97, sendo ainda o acto de aprovação do
Quadro de Pessoal sujeito à ratificação tutelar, nos termos da alínea d) do nº2 do artigo 6 da
Lei 7/97, de 31 de Maio (Lei 7/97).
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Nos termos da al. a), n.º 1 do artigo 50 da Lei 2/97, o Conselho Municipal da Cidade de
Nampula é constituído por um Presidente do Conselho Municipal e seguintes vereações:
Nesta situação, o sector informal tem vindo a desempenhar um papel preponderante para a
sobrevivência da população e da economia da cidade. As actividades informais incluem
principalmente o comércio informal e a produção agrícola. Muitas famílias na cidade têm
machambas, dentro ou fora da área municipal, nas quais cultivam mandioca, amendoim,
batata-doce, milho ou hortaliças para consumo próprio e para venda a pequena escala
(IBIDEM: 14).
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O presente capítulo aborda sobre aspectos relacionados com a revisão da literatura em torno
do tema em discussão. Estão aqui apresentados conceitos e teorias sobre o uso e
aproveitamento de terra assim como a sua gestão de conflitos envolvendo a terra. Estão
apresentados diversos pensamentos de vários autores que abordam sobre o assunto e um
pouco sobre a temática dos conflitos de terra na cidade de Nampula segundo vários autores.
2.1.1.Conflito
O conflito é uma situação que envolve um problema, uma dificuldade e pode resultar
posteriormente em confrontos, geralmente entre duas partes ou mais, cujos interesses, valores
e pensamentos observam posições absolutamente diferentes e opostas. (Dicionários online).
Conflito de acordo com GIDDENS e SUTTON (2016) é Luta entre grupos sociais pela
supremacia, envolvendo tensões, discórdia e choque de interesses. Ainda os mesmos autores
afirmam que:
Conflito é um termo bastante genérico que pode significar tanto as contendas entre
dois indivíduos, como uma guerra internacional entre diversos países, e engloba tudo
que houver entre esses dois extremos.
2.1.2.Terra
Terra Faz referência ao material quebradiço de que é composto o solo natural; ao terreno
destinado ao cultivo; e ao piso/chão que pisamos (o solo).
De forma geóide (esfera achatada pelos polos), a Terra tem um diâmetro de 12.700
quilómetros, sendo que 71% da sua superfície está coberta de água. Os especialistas
conceberam dois modelos para se referirem à estrutura interna do planeta: o modelo
geostático e o modelo geodinâmico.
O modelo geostático compreende três camadas: a crosta (a camada mais superficial, composta
pelo granito dos continentes e pelo basalto das bacias oceânicas), o manto (a camada
intermédia, cuja profundidade chega aos 2.900 quilómetros) e o núcleo (a camada mais
profunda, com uma espessura de 3.475 quilómetros).
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O modelo geodinâmico, por sua vez, prevê a litosfera (a parte mais superficial), a atmosfera
(que se comporta de maneira fluida), a mesosfera (igualmente conhecida como manto
inferior), a camada D (uma zona de transição) e a endosfera (a qual corresponde ao núcleo do
modelo geostático) (BARBOSA-LIMA e SILVEIRA JR, 2008).
Já Newman diz que Terra é o terceiro planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o
quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar. É também o maior dos quatro
planetas telúricos. É por vezes designada como Mundo ou Planeta Azul. Lar de
milhões de espécies de seres vivos, incluindo os humanos, a Terra é o único corpo
celeste onde é conhecida a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56 bilhões de
anos (NEWMAN, 2007).
O conceito de terra designa não apenas o solo, que serve para manter e nutrir as plantas, mas
também as forças que a natureza oferece de maneira mais ou menos espontânea. (Idem).
2.1.3. Gestão
Para Chiavenato Gestão é a ciência social que estuda e sistematiza as práticas usadas para
administrar. Gestão significa gerenciamento, administração, onde existe uma instituição, uma
empresa, uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou administrada. (CHIAVENATO, 200
2.1.4.Gestão de conflitos
Desta forma, ocorre uma dispersão das famílias rurais. Atraídas pela oferta de empregos e
obrigadas a vender a sua oferta de força de trabalho a unidades de agricultura empresarial.
Essas famílias foram obrigadas a instalar as suas residências e os seus campos de cultivo
familiares no espaço circundante das grandes unidades agrícolas, no entanto, segundo uma
organização territorial dispersa e irregular (MUANAMOHA 1995: 35).
Neste contexto, o período compreendido entre 1885 e 1930 foi considerado como o da:
“A intervenção do Estado Colonial durante esse período pode-se dizer como tendo sido no
sentido de evitar a formação de uma burguesia agrária africana desenvolvida, facto que não
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Moçambique, tal como a maioria dos Estados africanos, acederam à independência com um
sistema de posse dual de terra que teve a sua origem durante o período colonial (BRUCE,
1992: 7-8).
Tentaram fazer alterações básicas aos seus sistemas de posse da terra, considerando os
sistemas de posse consuetudinários da terra demasiado tradicionais para poderem
fornecer uma base adequada para o desenvolvimento agrícola (BRUCE, 1992: 7-8).
A explicação para tal atitude é a de que “as novas elites governamentais não estavam
inclinadas para estas formas, porque constituíam uma importante base de poder das
autoridades tradicionais, que elas procuravam substituir”. Por outro lado, “havia também o
desejo de ter um único sistema de posse da terra, eliminando-se a dualidade que havia sido
introduzida durante o período colonial” (BRUCE, 1992: 7-8).
Negrão, no seu trabalho sobre “Terra e Desenvolvimento Rural em Moçambique”, afirma que
com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, a terra foi nacionalizada e
passou a ser propriedade do Estado. Apesar da nacionalização, não houve uma redistribuição
de terras mas apenas a transformação das propriedades agrícolas privadas em machambas
estatais. As famílias rurais continuaram a trabalhar as terras onde se encontravam (NEGRÃO,
1998: 2-14).
As empresas estatais demonstraram deste modo que não eram apenas uma forma de
organização económica ou consequência de opções ideológicas. O sector estatal era,
ideologicamente, a forma superior de produção, por ser propriedade de todo o povo. As
empresas estatais tinham ainda uma função fundamental e primeira, a defesa e afirmação do
poder e a distribuição de recursos às elites burocráticas. Elas eram o instrumento de aplicação
da política económica, para exercer o controlo da economia, para concentrar a acumulação e,
em muitos casos, um meio de facilitar a acessibilidade e a distribuição da riqueza pelas elites
aquando das privatizações (MOSCA, 2005: 171).
Em 1979, foi publicada a lei n. 6/79 de 3 de Julho, a primeira lei de terras que
consagrava a propriedade estatal e as formas de exploração empresarial de tipo
socialista. Às famílias eram limitadas as áreas de forma a orientá-las para as
cooperativas agrárias e como força de trabalho das empresas estatais. Aos indivíduos
o Estado permitia a concessão dos direitos de uso e aproveitamento da terra através de
um título (NEGRÃO, 1998: 2).
A nova política era uma aplicação da teoria do desenvolvimento rural integrado, que defendia
a complementaridade entre a agricultura e a agro-indústria e que devia, para tal, utilizar
formas de trabalho intensivo nas grandes machambas, sejam elas propriedade do Estado ou
privadas.
Nisso, os produtores de pequena escala e o sector privado não eram incorporados nos planos
e, sem afectação administrativa de recursos, tiveram imensas dificuldades em reproduzir os
ciclos produtivos. A estratégia de transformação social e cultural dos camponeses partilhava o
princípio de concentrar a população no meio rural em aldeias comunais. Este processo de
aldeialização foi concebido basicamente como um movimento de urbanização e mudança de
habitat, sem consideração pelas implicações nos hábitos culturais, nos sistemas produtivos e
técnicas de produção, nas questões relacionadas com a terra e com o abandono de árvores de
fruto e de culturas de rendimento. As empresas estatais e as cooperativas6 eram consideradas
como a base da produção económica. Era ainda um modo de controlo da população no quadro
de um regime mono-partidário de natureza autoritária, sobretudo quando o conflito se alastrou
por uma importante parte do território.
Na República de Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por
qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada. Como meio universal de criação da
riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo
moçambicano.
As condições de uso e aproveitamento da terra são determinadas pelo Estado. O direito de uso
e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o
seu fim social. Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra o Estado
reconhece e protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva
legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuída a outra pessoa ou entidade.
O direito de uso e aproveitamento da terra, não pode ser concedido nas zonas de protecção
total e parcial, visto tratar-se de zonas de domínio público (zonas destinadas à satisfação do
interesse público). Nestas zonas só é permitido o exercício de determinadas actividades
mediante emissão de licenças especiais.
O direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas está sujeito ao
prazo máximo de 50 anos, renovável por igual período a pedido do interessado. Após o
período de renovação, um novo pedido deve ser apresentado. (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro).
Com o que acontece em Marrere e com base nos resultados da pesquisa no terreno, pode-se
considerar que deve-se manter a propriedade pública da terra, de forma a defender os
interesses das pessoas menos favorecidos que tem a terra como seu único meio para garantir a
sua subsistência.
O uso e aproveitamento de terra na Cidade de Nampula está a crescer desde a década 1980,
esta ocupação do solo foi sendo cada vez mais intensiva devido ao conflito armado (1977-
1992) que, de tempo a tempo, obrigava as populações a se deslocarem das suas zonas de
origem para as capitais distritais e da província em particular, em busca da segurança. Foi na
sequência desta situação que no Município de Nampula o uso, a ocupação e o aproveitamento
da terra passaram a ser processos cada vez mais conflituosos. Os nativos foram perdendo suas
machambas em proveito dos recém-chegados que ocupavam a terra para construir habitações
ou infra-estruturas económicas e sociais. Ora, na sequência desta realidade, com a criação do
Município de Nampula em 1998, no contexto da democracia multipartidária, a cidade capital
passou a ser um local onde se assistem sempre conflitos pela posse de terra.
Conflito significa litígio, disputa. Na base desta percepção, no estágio actual, em Marrere, se
assiste casos de conflitos pela posse da terra. Em alguns casos nota-se a expropriação da terra
que é retirada dos nativos em favor de novos concessionários, que adquirem terrenos pessoais
através do Município.
A Lei 19/97 de 1 de Outubro, no seu Artigo 1, nº 2, refere que o DUAT confere ao seu
detentor o direito de uso e aproveitamento da terra para diferentes fins. Presentemente, em
Marrere existem casos de pessoas com o título de propriedade (DUAT), que prova ser dono
do terreno, mas que na prática o espaço não lhe pertence porque há casos de dupla atribuição,
por erros ou má-fé dos agentes do município assim como os nativos que vendem terrenos para
uma ou mais pessoas. Nesta condição, normalmente o terreno passa a ser motivo de disputa
entre potenciais e diferentes proprietários. Em certos casos passa a reinar a lei do mais forte
31
que se apodera da terra recorrendo a processos menos claros e lícitos. Daisurgem conflitos de
várias ordens pela posse da terra e são eles:
Dada a pressa que os mesmos têm, de querer ocupar o espaço a qualquer preço, recorrem ao
Município e pressionam as autoridades para lhes conceder terreno que, não raras vezes, já é
propriedade de alguém. Esta atitude cria e agrava cada vez mais a situação de pobreza,
carência e vulnerabilidade das comunidades locais, pois os nativos acabam sendo vítimas da
desapropriação da terra. Por isso, quando um conflito envolve cidadãos e instituição
juridicamente constituída emerge o que se designa conflito público. O Município representa o
Estado, ele emite a licença de uso e aproveitamento da terra o DUAT (Direito de Uso e
Aproveitamento de Terra) em favor de um ou vários cidadãos emergindo deste acto o dito
conflito público. Em Marrere, os conflitos de uso de terra, cuja natureza é pública, dividem-se
em duas (02) categorias a saber:
O que actualmente se verifica é passar por cima duma lei já aprovada cuja aplicação é
irregular, sem rigor, por parte dos órgãos municipais. Daí que, alguns técnicos confiados para
fazer o parcelamento e atribuição de talhões aproveitam-se da fragilidade do conhecimento
dos beneficiários em matéria de legislação de terras, e entram em esquemas de actos ilícitos.
No bairro de Marrere, foi notório uma tensão ou disputa entre cidadãos motivados pela prática
de não cumprimento das linhas mestres legais na atribuição de terras como versa a Lei no
19/97 de 1 de Outubro, que dá poderes de aquisição, titulação, transmissão e utilização
gratuita da terra, no tocante ao DUAT.
Os conflitos em Marrere, entre os líderes comunitários e os moradores, são na sua maioria por
falta de confiança na arbitragem dos conflitos de terra, uma vez que os mesmos muitas vezes
estão envolvidos em esquemas de venda ilegal de talhões com beneplácito dos técnicos do
município, prejudicando sobremaneira os moradores. Esta prática, retira o prestígio
depositado pelas comunidades aos seus dirigentes, gerando-se uma anarquia total na condução
dos destinos da comunidade.
33
Conflito de Natureza Privada é aquele que envolve apenas os cidadãos, sem intervenção de
entidade ou autoridade pública, neste caso se envolvem apenas os particulares. Pode-se dar o
caso de um cidadão, proprietário de uma parcela de terra, vender esta a duas pessoas ou mais.
Havendo desentendimentos, começa a disputa entre particulares. Cada um pensa que tem
razão, mas ninguém apresenta documentos de legalização do terreno porque, normalmente,
esta se faz a posterior após a compra do mesmo. De salientar que, a preocupação das pessoas
que compram pedaços de terra, é procurar ocupá-la numa primeira fase, enquanto decorre a
legalização, a posterior.
Estes conflitos são originados pelo não respeito de direitos costumeiros e pelo desejo de se ter
êxito económico sem observância da lei, resultando na venda ilegal de terras. Em casos do
género, o agente municipal faz tudo para satisfazer pessoa com posse financeira porque ele
quer ganhar algum valor resultante do apadrinhamento na aquisição da terra ou da
manipulação e falsificação de documentos. As vezes o pagamento faz-se em troca de uma
outra parcela de terra ao em vez de dinheiro. Este funcionário ao receber um terreno em jeito
de agradecimento, não leva em conta que está praticando um crime atrás de outro crime.
Assim sendo, as expectativas individuais de registo da terra não são atendidas, registam-se
carências de informação ou perda de tempo na tramitação de documentos envolvidos na
legalização da terra. Outra prática irregular tem a ver com a distribuição desigual da terra na
alocação aos munícipes. Isto acontece, algumas vezes, porque as populações são coagidas
pelas autoridades municipais a cederem terra, devido a desactualização do cadastro existente
no Município sobre as terras não ocupadas. É assim que, na falta de dados, o mesmo terreno é
atribuído a duas ou mais pessoas.
34
Ademais, aliado a falta de planos de ordenamento e não havendo comunicação em tempo útil
sobre as terras livres, os líderes comunitários são surpreendidos com casos de pessoas que
receberam o DUAT sem seu conhecimento.
Entre os Agentes Económicos e a comunidade;
Entre Membros da mesma Família;
Entre Membros da mesma Comunidade;
Entre Membros de Comunidades Diferentes.
É importante realçar que, a política de terras preconiza que, qualquer ocupação de terra deve
merecer o consentimento das comunidades para se ter relacionamento são entre os diferentes
intervenientes a nível interno, na gestão de solos urbanos, como é o caso do Conselho
Municipal da Cidade de Nampula. Neste caso, recomenda-se a defesa dos interesses dos
cidadãos lesados, visto que, são o motor de desenvolvimento económico do país.
Daqui surge uma proposta segundo a qual na atribuição de um talhão, noutro deve-se respeitar
todos os trâmites legais, incluindo a consulta comunitária, como forma de solucionar o
problema de dupla atribuição de terrenos, acto que compromete o corpo técnico, minando a
capacidade institucional na gestão de terra.
35
Embora não muito frequentes, registam-se em Marrere conflitos entre membros de uma
mesma família relacionados, essencialmente, com questões de herança. Basicamente, as
disputas surgem quando a divisão das terras entre os filhos não é feita de maneira equitativa e
agravam-se quando a qualidade dos solos das áreas atribuídas a uns é considerada pelos
outros. Os conflitos acontecem, também, naqueles casos em que o homem, por motivos de
separação (pouco frequentes) ou morte da esposa, regressa à sua comunidade de origem, onde
não encontra espaço para construir a sua habitação e fazer a sua machamba, pois o seu
anterior espaço já foi ocupado pelas irmãs e seus maridos.
O conflito inter-familiar ocorre quando duas ou mais famílias entram em concorrência pelo
acesso e posse de um mesmo espaço. Basicamente, estes conflitos relacionam-se com a não
observância dos limites e o desrespeito pelos marcos que separam as áreas de uma e outra
família. Estes ocorrem com maior incidência nas regiões próximas das vias de acesso, visto
que as condições favorecem a saída e entrada para o bairro de Marrere.
Um dos factores que concorre para o surgimento deste tipo de conflitos é o crescimento
demográfico que o bairro vem registando.
Considerando o objectivo geral deste trabalho, fez-se o mapeamento dos conflitos de uso e
aproveitamento e a terra em Marrere, para obter uma visão geral sobre a situação real do
fenómeno de usurpação de terra de forma a encontrar um enquadramento nas análises deste
fenómeno considerando o que Sacuro afirma que Gestão, significa o trabalho de gerir as
organizações sem qualquer pretensão do que a de assegurar que se contemple com esta
tradição, tanto a dimensão “administrativa” em cuidar do desempenho da organização
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No entender de PINTO (2006) citado por LAVIEQUE, (2015: 45), gerir é coordenar as
actividades das pessoas e os recursos da organização para prosseguir com os objectivos, que
em certos casos também são estabelecidos por entidades exteriores à organização, como órgão
de tutela, que estabelece os principais objectivos para uma organização do sector público.
Na presente pesquisa, buscou-se a percepção do termo “Gestão de Terras” com base nas
teorias acima referenciadas e por via da consulta de autores que abordam este assunto. Na
visão de RUBIN (2008), citado por LAVIEQUE, (2015:45). A Gestão da terra é o mecanismo
usado para o controlo da terra, seu manuseamento, o planeamento e ordenamento do
território, a forma de uso e transferência de propriedade ou da terra e resolução de conflitos
resultantes da alocação da terra. Este termo passa necessariamente pela observância de
aspectos como:
O controlo da terra;
O processo de transferência de direitos sobre a terra;
A regulação dos processos sobre a obtenção do DUAT;
Cadastro e ordenamento territorial; e
A tributação sobre o uso e aproveitamento da terra.
É com base na implementação e aplicação de instrumentos legais desenhados pelo Governo
de Moçambique, que se pode superar o espírito de deixa andar e avançar-se na matéria de
defesa dos interesses dos cidadãos, no concernente aos conflitos de uso e aproveitamento de
terra.
Em relação aos Conflitos estrutural e de interesse, o que acontece em Marrere, não é nada
mais do que, por um lado, a distribuição desigual ou injusta da terra aos nativos e alocação de
técnicos sem categoria profissional nas zonas de expansão, com vista ao parcelamento de
terra, amando das elites do poder municipal, e por outro lado, a forma como uma disputa deve
ser resolvida entre a comunidade e as autoridades municipais. De realçar que, na vertente
interesse, a que se ter em conta, a situação favorável à satisfação de uma necessidade,
excluindo a situação favorável à satisfação de uma necessidade distinta. Isto se pode
constatar, quando uma pessoa possui um interesse que se sobrepõe ao interesse do outro.
Por este artigo entende-se que os conflitos de terra podem ser dirigidos por via formal, através
dos Tribunais Judiciais, e por via informal através de outras instâncias não judiciais de
resolução de conflitos.
No plano extrajudicial, onde são resolvidos a maior dos conflitos, podem-se recorrer as
seguintes instâncias:
Estas instâncias não judiciais têm recorrido a conciliação e a mediação, com vista a encontrar
uma solução por mútuo acordo de qualquer litígio (Lei nº 11/99, de 8 de Julho).
Como foi referenciado anteriormente, a análise e interpretação de dados terá como base a
avaliação das respostas colectadas através de entrevista com perguntas abertas, com finalidade
de perceber quais são as motivações que originam os conflitos de terra em Marrere.
Com base nesta inquietação, foram elaborados seis (06) questões para Membros da
Comunidade e sete (07) para Membros do Conselho Municipal, com vista a responderem os
objectivos desta pesquisa.
A análise das respostas teve como base a transcrição de respostas dos vinte e cinco (25)
entrevistados. Processo que seguiu a reprodução de textos sequenciados das respostas de cada
entrevistados, tendo sido posteriormente atribuído um código, que parte de um (01) a vinte e
cinco (25). Deste modo, para as entrevistas efectuadas aos Membros do Conselho Municipal
foram codificados em MCMN (n) o que significa Membro do Conselho Municipal de
Nampula; R (n) o que significa Regulo; MCM (n) significa Membro da Comunidade de
Marrere e (n) número dos entrevistados.
Neste caso, é de referir que os dados patentes nesta pesquisa reflectem os sentimentos dos
Membros da Comunidade de Marrere, colhidos das respostas às entrevistas efectuadas.
Como forma de melhor perceber-se acerca dos Conflitos de terra, formulou-se algumas
perguntas onde a partir das respostas fornecidas por estas, vai-se compreender até que ponto a
comunidade sabe desta temática. Para tal coloca-se as seguintes questões:
MCMN (10) diz que já se envolveu em conflito de terra em 2014, quando uma brigada técnica
do Conselho Municipal, composta por supostos técnicos apareceu fora da hora normal de
expediente e eram 18:00 horas, com lanternas, tendo parcelado a minha machamba, deste
modo, perdi a mesma. O cenário terminou, quando a brigada dos técnicos do Conselho
Municipal, foi perseguida com pedras e paus, por uma fúria de populares, o que culminou
com o cancelamento do Plano de Urbanização na minha U/C.
MCM (1, 5, 7, 8, 15) afirmam que: a dupla atribuição de terrenos é o resultado da falta de
confiança dos técnicos afectos aos locais de trabalho por parte dos gestores da instituição.
Eles não devem passar por cima dos topógrafos. Eles acrescentam que outros técnicos
destacados por confiança política, sem dominar aspectos ligados a matéria topográfica,
originando conflitos e prática de actos ilícitos. No lugar de se atribuir talhões, os mesmos,
passaram a ser vendidos, aumentando cada vez mais os conflitos de terra, por incumprimento
das regras de demarcação e atribuição de talhões nas comunidades, fenómeno que têm se
registado até os dias de hoje.”
De acordo com a MCM (14), conta que no espaço onde era a sua machamba, o Conselho
Municipal de Nampula, fez demarcações sem prévia consulta, tendo perdida a sua machamba,
uma vez que, o espaço foi atribuído a outro munícipe que construiu a sua habitação.
Para esta questão todos os entrevistados responderam de forma semelhante ao afirmar que
sim, já ouviram falar do Régulo, o que indica que este é uma figura popular dentro da
comunidade.
MCM (1, 7 e 5) afirmam que: para além de ouvirmos falar, convivemos com o Régulo por ser
um individuo que se encontra perto de nós como vizinho e familiar.
MCM (2, 3, 4, e 6) afirmaram que: O Régulo é nosso amigo, mesmo o seu Pai a quem ele
sucedeu era amigo. Por isso não se trata somente de ouvir falar, mas sim de uma figura que
vive connosco.
MCM (1, 3, 14 e 5) definem eles que: As Autoridades Tradicionais são as pessoas que mais
respeitamos dentro da comunidade e que orientam-nos a viver de forma pacífica. São elas que
resolvem os nossos problemas, consideramos elas como os Pais da Comunidade.
MCM (2, 4 e 15) definem que: As Autoridades Tradicionais são os presidentes ou Deuses
(Mulucu) das nossas Comunidades, que trabalham para manter os nossos hábitos e costumes e
é neles que reportamos as nossas preocupações.
Respostas dadas indicam que quer, seja de forma individual ou colectiva os entrevistados já
viram os seus problemas a serem resolvidos com o Régulo.
MCM (2, 3 e 5, 9 e 13) enaltecem que: Se não fosse o esforço de Régulo que contactou o
conselho Municipal para junto com ele actualizar os limites das Machambas, nós estaríamos
sem campo de produção de comida a favor de um grupo de Chineses, Nigerianos que queriam
nos arrancar as nossas Machambas. E Têm feito grande ajuda para todos, o exemplo de
pedidos que ele faz ao Governo em nome da comunidade, como abastecimento de Água
potável assim como a instalação de corrente ecléctica para as populações.
43
MCM (2, 3, 4, 12 e 14) reconhecem ter-se beneficiado dos serviços do Régulo: Tivemos
grandes problemas na delimitação das de Varias áreas ocupação desregrada, e só foi com a
intervenção do Régulo que conseguimos resolver e recuperar as nossas terras uma vez que ele
conhece os limites ocupados por alguns investidores. Não foi fácil mas ele teve que lutar para
defender a invasão da sua comunidade. Ele luta bastante para beneficiar todos.
MCM (6,7,8,11, 12) afirmaram que: acerca dos conflitos de terra, as comunidades não foram
ouvidas e nem respeitadas em matéria de resolução de conflitos. Em alguns casos os
investidores nem chegaram a ter contacto directo com as comunidades utilizaram o régulo
como vínculo intermediário entre os investidores e as comunidades.
MCM (1,2, 3, 4, 5,6,7,8,11, 12 e 14) afirmaram que não estão satisfeitos com a edilidade
porque têm registado muitos problemas na demarcação de talhões. O terreno não se aumenta
mas as pessoas estão a aumentar, eu tenho filhos e os meus filhos têm filhos, e todos estes têm
que conviver no mesmo espaço.
MCM (9,10,13 e 15) afirmaram que o município tem satisfeito algumas questões mas em
matéria de terras não tem satisfeito a 100% porque os benefícios Vindos do Município só
beneficiam os ricos em detrimento dos pobres.
MCM (6,7,8,11, 12) afirmaram que: acerca dos conflitos de terra, as comunidades não foram
ouvidas e nem respeitadas em matéria de resolução de conflitos. Em alguns casos os
investidores nem chegaram a ter contacto directo com as comunidades utilizaram o régulo
como vínculo intermediário entre os investidores e as comunidades.
Em relação a questão colocada, constatou-se que todos os Régulos entrevistados têm uma
média de dez (05) Anos exercendo este cargo, outros como sucessores dos Pais e outros de
Irmãos.
Os Régulos defendem que para se sentir juntos com a sua População têm convocado reuniões
para obter informações de tudo o que acontece na Comunidade e informá-la de eventuais
acontecimentos a terem lugar dentro da mesma. E estão sempre abertos para ouvir e resolver
as preocupações da Comunidade.
R (2) acrescenta que: Se não existisse a Comunidade eu não teria espaço para trabalhar, por
isso é nela que devo-me juntar e buscar apoio de modo que juntos solucione-mos os nossos
problemas. Por isso que, antes de tomar decisões reúno-me com a minha População para
tomarmos decisões unânimes.
4.3. Acção Levadas a Cabo pelas Autoridades Tradicionais para Poder Ligar a
Comunidade e o Conselho Municipal de Nampula
R (2) sustenta que: apenas represento a Comunidade, não tenho muita coisa para ajudar no
caso de existirem preocupações. Por isso peço sempre a colaboração de Governo. O governo
tem-se reunido connosco para saber dos nossos problemas e nos informar dos projectos que
pretende desenvolver nas nossas Comunidades.
R (1 e 2) sustentam que: Sempre contamos com a colaboração do Governo para nos ajudar a
resolver os problemas que a Comunidade enfrenta. Sempre nos preocupamos em fortificar as
nossas relações, de modo, a nos manter informados uns aos outros a cerca de tudo o que
acontece ou que se pretende realizar.
Os Régulos confirmaram que lutam para estabelecer fortes relações entre o Governo e a
Comunidade através das auscultações dos problemas que afectam a População e a posterior
apresentação destes ao Governo. E como resposta disso, muitos problemas apresentados
foram reduzidos pelos esforços efectuados pelo Governo e nota-se agora a intervenção deste
na resolução dos problemas comunitários.
R (2) afirma que: A minha grande função é de ligar os Dois porque não estou em condições
de sozinho resolver os problemas da Comunidade. Por isso, sempre levo preocupação de
Comunidade e informo ao Governo e também apresento a Comunidade as respostas dadas
pelo Governo.
MCMN (2 e 6), Dizem que são 250 talhões distribuídos por ano.
E com estas duas respostas fica claro que há falta de comunicação institucional.
MCMN (2) diz que a distribuição de terrenos ou talhões tem sido regular.
MCMN (1) diz que não tem sido regular porque a demanda ou seja a procura é maior e a
capacidade de resposta pelo município é menor.
MCMN (1,2,3,6,7), afirmam que: as autoridades locais são envolvidas sim para garantir o
pagamento das compensações das benfeitorias as populações e não só a interacção com as
comunidades.
MCMN (1 e 2), dizem que os conflitos ocorrem no acto de parcelamento, e também no acto
de pagamentos das compensações das benfeitorias as populações nativas. Os nativos não
concordam com os valores oficiais que devem ser pagos sobre as benfeitorias.
MCMN (1,2,3,4,5,6,7), afirmam que são os nativos que muitas das vezes saem a perder.
MCMN (1,2 e 6) diz que tem sido via negocial e se não se achar a solução recorre-se aos
órgãos judiciais.
MCMN (1) afirmou que na via negocial aquele que foi o primeiro a obter a licença, fica com
o terreno, e o segundo, é atribuído outra parcela, caso haja talhões na mesma zona ou em
outra zona distinta. Caso a pessoa não se sinta satisfeito com a decisão, aconselha-se a
recorrer ao tribunal administrativo. Também, afirmou que o Conselho Municipal de Nampula,
não possui cadastro de conflitos de dupla atribuição de terreno.
Quais as Leis que usam nos conflitos de terra? Leis costumeiras, Lei formal ou Lei
Mista?
MCMN (1,2,3,4,5,6 e 7) afirmaram que tem sido usada a lei mista, porque para resolver estes
conflitos nós convidamos os líderes comunitários e religiosos. Primeiro, vamos ao terreno,
avaliamos e, dependendo do caso, fazemos uma divisão por igual e as duas partes ficam
satisfeitas e, em caso de dificuldades, os casos são reportados aos tribunais comunitários, com
conhecimento do Conselho Municipal e, posteriormente, ao tribunal judicial da cidade. Os
líderes comunitários têm o papel de auscultar as partes envolvidas, visitar o espaço em disputa
e deliberar sobre o processo.
MCMN (1,4,6,7), afirmaram que o governo papel tem um papel preponderante na resolução e
prevenção de conflitos porque garante os direitos de uso e aproveitamento da terra adquiridos
por ocupação e facilitar o acesso à terra para o investimento, tanto nacional como estrangeiro;
tem envolvimento de cidadãos na alocação de novos direitos; tem fiscalizado os DUATs:
identificação de terras na situação de ociosidade, cancelamento e redimensionamento em caso
de infracções e tem tomado medidas em casos de venda de terras e de ocupações ilegais, isto
para evitar sucessivos casos de conflitos.
MCMN (2,3 e 4), dizem que para prevenir ou evitar conflitos de terra o governo tem
assegurado a posse de terra para as comunidades; Assegurar as terras para as comunidades
tem em vista criar as bases para que as comunidades não percam as suas terras quando
venham investidores a se interessarem pela terra da comunidade; Sendo assim, o processo de
delimitação, para além de reconhecer os limites da terra da comunidade, procura realizar
48
Conclusão
O conjunto de leis actuais em Moçambique afirma que a terra é do Estado, mas no concreto,
sempre que há interesses empresariais de vulto, recorre-se a uma autêntica expropriação da
terra, mesmo quando esta está a ser utilizada pelas comunidades rurais para sua agricultura de
subsistência ou outra actividade. Acresce ainda que as multinacionais acabam por ter acesso
às terras comunitárias, impedindo assim as famílias de realizarem a sua actividade agrícola.
Outro factor prende-se com a alocação de terras a pessoas consideradas de elite e que
açambarcam grandes extensões da mesma sem, no entanto, realizarem qualquer investimento.
Tais terras pertencem às comunidades rurais que se vêem privadas de sua utilização pacífica.
Este ambiente tem criado tendência de implantação de uma relação de cima para baixo nos
projectos e programas privados desenhados a nível nacional sem a participação verdadeira das
pessoas no local. Estas características muitas vezes não são compatíveis com a construção
duma parceria genuína, ficando a população rural sem espaço para decidir sobre o seu próprio
futuro em condições favoráveis para ela. Aliás o direito público comunitário consagrado na
legislação sobre terras, artigo 13 ponto 3, relativo à consulta comunitária, se não ignorada, é
deficiente.
Existe uma continuidade na questão dos conflitos de terra entre o período colonial e o período
pós-independência. As comunidades rurais foram tratadas como sujeitos de importância
secundária. Os camponeses continuam desprovidos de instrumentos de defesa face aos
assaltos que ocorrem à sua terra.
Durante a pesquisa, foi notório a problemática dos conflitos de uso e aproveitamento de terra
no Município de Nampula, concretamente no bairro de Marrere. Ficou clara e evidente que, o
não cumprimento das normas emanadas pelo estado moçambicano, tendo em conta, a
formação ou capacitação dos técnicos, reestruturação do sector, domínio da legislação
vigente, implantação dos planos de urbanização e ineficiência na comunicação institucional,
são os principais catalisadores dos conflitos de terra em Moçambique e consequentemente em
50
Qualquer uma das formas de ocupação da terra previstas por lei (costume, boa-fé e DUAT) é
susceptível de provocar conflitos de terra. As áreas disputadas podem ser machambas
familiares ou singulares, áreas abandonadas de antigas empresas estatais, ocupadas pela
população e, actualmente, concessionadas aos investidores privados.
Sugestões
O Conselho Municipal de Nampula, como uma instituição da administração pública local, não
esta isenta de princípio de servir mais e melhor os munícipes desta autarquia.
Neste sentido, avança-se com algumas sugestões que possam melhorar o desempenho do
Referências bibliográficas
Fontes orais
N/o Código dos Profissão ou Ocupação Instituição Sexo
entrevistados
01 MCMN1 Planeador Físico CMCN- DUGT- Litígios M
02 MCMN2 Secretário do Bairro de CMCN- Direcção Social M
Marrere de Marrere
03 MCMN3 Geógrafa CMCN- DUGT- F
Concessão e Controlo
de Uso de Terra
Fontes escritas
BARBOSA-LIMA, Maria da Conceição; R.N, SILVEIRA JR. Conceitos sobre a terra. Rio
de Janeiro. 2008.
BOBBIO, Norberto. etal.Dicionário de Política. 11ª ed. Vol. I. Brasília, Editora UnB, 1998.
Maputo, 2004.
PÉLISSIER, René. História de Moçambique: formação e oposição 185 - 1918. 3 ª ed. Vol. I.
Lisboa, Editorial Estampa., 2000.
Legislação usada
Decreto-Lei que Aprova a Lei de Terras. In: Boletim da República, I Série-Número 40, de 7
de Outubro de 1997.
Decreto-Lei que Aprova o Regulamento do Solo Urbano. In: Boletim da República, I Série-
Número 51, de 26 de Dezembro de 2006.
Decreto-Lei que Aprova o Regulamento da Lei de Terras. In: Boletim da República, I Série-
Número 48, de 8 de Dezembro de 1998.
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Lei 2/97 de 18 de Fevereiro – Aprova o quadro jurídico para a implantação das autarquias
locais.
Apêndices
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Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.
Eis, a seguir as questões por responder:
Alguma vez foi ouvido ou consultado algo em matéria de conflitos existentes em Marrere?
Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.
Eis, a seguir as questões por responder:
Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.
Quais as Leis que usam nos conflitos de terra? Leis costumeiras, Lei formal ou Lei Mista?
Fonte:Autor da Pesquisa
67
Anexos
68
Glossário
Para efeitos da presente monografia, entende-se por:
Pessoa singular estrangeira: qualquer pessoa singular cuja nacionalidade não seja
moçambicana.
Plano de exploração: documento apresentado pelo requerente do pedido de uso e
aproveitamento da terra, descrevendo o conjunto das actividades, trabalhos e
construções que se compromete a realizar, de acordo com determinadocalendário.
Plano de uso da terra: documento aprovado pelo Conselho de Ministros, que visa
fornecer, de modo integrado, orientações para o desenvolvimento geral e sectorial de
determinada área geográfica.
Plano de urbanização: documento que estabelece a organização de perímetros
urbanos, a sua concepção e forma, parâmetros de ocupação, destino das construções,
valores patrimoniais a proteger, locais destinados à instalação de equipamento,
espaços livres e o traço esquemático da rede viária e das infra-estruturas principais.
Propriedade da terra: direito exclusivo do Estado, consagrado na constituição da
República de Moçambique, integrando, para além de todos os direitos do proprietário,
a faculdade de determinar as condições do uso e aproveitamento por pessoas
singulares ou colectivas.
Requerente: pessoa singular ou colectiva que solicita, por escrito, autorização para
uso e aproveitamento da terra ao abrigo da Lei de terra.
Titular: pessoa singular ou colectiva que detém o direito de uso e aproveitamento da
terra, ao abrigo duma autorização ou através de ocupação.
Título: documento emitido pelos serviços Públicos de Cadastro, gerais ou urbanos,
comprovativo do direito de uso e aproveitamento da terra.
Zona de protecção da natureza: bem de domínio público, destinado à conservação
ou preservação de certas espécies animais ou vegetais, da biodiversidade, de
monumentos históricos, paisagísticos e naturais, em regime de maneio
preferencialmente com a participação das comunidades locais, determinado em
legislação específica.