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Assane Alberto Chamacame

Conflitos de Terra: Estudo de Caso do Bairro de Marrere (2013 á 2016)

(Licenciatura em História Política e Gestão publica com Habilitações em Gestão de Unidades


Territoriais)

Universidade Pedagógica
Nampula
2018
1

Assane Alberto Chamacame

Conflitos de Terra: Estudo de Caso do Bairro de Marrere (2013 á 2016)

Monografia Científica apresentada ao


Departamento de Ciências Sociais e Filosóficas,
(DCSF) Delegação de Nampula, no âmbito da
obtenção do grau de licenciatura em História
Política e Gestão Pública (HIPOGEP).

Supervisor:

dr: Jemusse Abel Ntunduatha

Universidade Pedagógica
Nampula
2018
2

Índice

Declaração de honra ............................................................................................................ 5


Dedicatória .......................................................................................................................... 6
Agradecimentos ................................................................................................................... 7
Abreviaturas e Siglas ........................................................................................................... 8
Resumo ................................................................................................................................ 9
Introdução.......................................................................................................................... 10
CAPÍTULO I: PERFIL DO MUNICÍPIO DE NAMPULA ............................................. 13
1.1. Localização................................................................................................................. 13
1.2. Breve História da cidade de Nampula ........................................................................ 13
1.3. Divisão administrativa................................................................................................ 14
1.3.1. Posto Administrativo de Urbano Central ................................................................ 14
1.3.2. Posto Administrativo de Muatala ............................................................................ 14
1.3.3. Posto Administrativo de Muhala ............................................................................. 14
1.3.4. Posto Administrativo de Namikopo ........................................................................ 15
1.3.5. Posto Administrativo de Napipine .......................................................................... 15
1.3.6. Posto Administrativo de Natikire ............................................................................ 15
1.3.7. Localização geográfica do bairro Marrere .............................................................. 15
1.3.8. Habitantes ................................................................................................................ 16
1.4. Organigrama do conselho Municipal de Nampula ..................................................... 16
1.5. Departamento de Urbanização e Gestão de Terra suas Competências ...................... 17
1.5.1. Serviço Municipal de Urbanização e suas competências ........................................ 18
1.5.2. Unidade Municipal de Urbanismo e Cadastro e suas Competências ...................... 19
1.5.3. Unidade Municipal de Endereçamento e Toponímia e suas Competências............ 19
1.5.4. Serviço Municipal de Concessão e Controlo de Uso de Terra e suas Competências
........................................................................................................................................... 19
1.5.5. Unidade Municipal de Controlo de Uso de Terra, Analise de Projectos e
Licenciamento e suas competências .................................................................................. 20
1.6. Importância Económica da Cidade de Nampula ........................................................ 20
CAPITULO II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................... 22
2.1. Definição dos Conceitos............................................................................................. 22
2.1.1.Conflito..................................................................................................................... 22
2.1.2.Terra ......................................................................................................................... 22
2.1.3. Gestão ...................................................................................................................... 23
3

2.1.4.Gestão de conflitos ................................................................................................... 23


2.1.5. Gestão da terra ......................................................................................................... 24
2.2. Sistemas de posse da terra no período colonial .......................................................... 24
2.3. Sistemas de posse da terra no pós-colonial ................................................................ 25
2.4. Direito de Uso e Aproveitamento da Terra na República de Moçambique ............... 27
2.5. Formas de Acesso à Terra na República de Moçambique ......................................... 28
2.6. Sujeitos com Direito de DUAT na República de Moçambique ................................. 28
2.7. Conflitos Provenientes do Uso e aproveitamento de terra na cidade de Nampula .... 30
2.7.1 Tipos de Conflitos de Terra existentes em Marrere ................................................. 30
2.7.1.1. Conflito de Natureza Pública ............................................................................... 31
2.7.1.1.1. Conflito Entre o Conselho Municipal e a Comunidade .................................... 32
2.7.1.1.2. Conflito entre os Líderes Comunitários e a Comunidade ................................. 32
2.7.1.2. Conflito de Natureza Privada ............................................................................... 33
2.7.1.3. Conflito Entre os Agentes Económicos e a Comunidade .................................... 34
2.7.1.4. Conflito Intra-Familiar ......................................................................................... 35
2.7.1.5. Conflito Inter-Familiar ......................................................................................... 35
2.7.1.6. Conflito de Inter-Comunitários ............................................................................ 35
2.8. Gestão de Terras e seus Conflitos .............................................................................. 35
2.9. Causas e Factores dos Conflitos em Marrere ............................................................. 36
2.9.1. Resolução de conflitos ............................................................................................ 38
2.9.2. Impacto dos Conflitos de Uso e Aproveitamento de Terra em Marrere ................. 39
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ... 40
4.1. Conflitos de Terra....................................................................................................... 40
4.2. Relações Existentes entre Autoridades Tradicionais e a Comunidade de Marrere .... 41
4.3. Acção Levadas a Cabo pelas Autoridades Tradicionais para Poder Ligar a
Comunidade e o Conselho Municipal de Nampula ........................................................... 44
4.4. Informações sobre os conflitos de terra em Marrere .................................................. 45
Conclusão .......................................................................................................................... 49
Sugestões ........................................................................................................................... 51
Referências bibliográficas ................................................................................................. 53
Apêndices .......................................................................................................................... 58
Anexos............................................................................................................................... 67
Glossário............................................................................................................................ 68
4

Lista de Tabelas

Tabela 1: Divisão Administrativa do Município de Nampula .................................................. 15


Tabela 2: Divisão Administrativa de Marrere .......................................................................... 16
v5

Declaração de honra

Declaro que esta monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do
meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.

O Autor
____________________________________________
(Assane Alberto Chamacame)

Nampula, aos _________ de_____________________ de 201__


vi6

Dedicatória

À meu primo Juma Chale que tanto apoio e deu para alcance deste sonho, que foi a minha
fonte de inspiração e aos meus pais que sempre me deram apoio moral e material para a
realização deste projecto.
vii
7

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradecer a Deus pela vida e saúde que têm- me concedido durante dia
após dia, ao meu Supervisor, Dr. Jemusse Abel Ntunduatha, pela sábia orientação;

Aos meus colegas da faculdade, companheiros de todos estes anos de formação na


Universidade Pedagógica de Moçambique, agradeço pela força, pelo apoio moral que me
transmitiram na realização deste trabalho, em especial ao corpo docente pelo apoio e força
que deram ao longo da caminhada;

A minha família, pais, irmãos, tios, primos, amigos e a todos que directa ou indirectamente,
contribuíram para que este trabalho se tornasse uma realidade.

A todos, muito obrigado.


viii
8

Abreviaturas e Siglas

CC- Código Civil


CFJJ- Centro de Formação Jurídica e Judiciária
CMCN- Conselho Municipal da Cidade de Nampula
CRM- Constituição da República de Moçambique
DCSF- Departamento de Ciências Sociais e Filosóficas
DUAT- Direito de Uso e Aproveitamento de Terra
DUGT- Departamento de Urbanização e Gestão de Terras
FRELIMO- Frente de Libertação de Moçambique
HIPOGEP- História Política e Gestão Pública
IDH- Índice de Desenvolvimento Humano
INE- Instituto Nacional de estatística
IPCC- Instituições de Participação e Consulta Comunitária
MDM- Metas de Desenvolvimento do Milénio
MDM- Movimento Democrático de Moçambique
MICOA-Ministério para Coordenação da Acção Ambiental
OSC- Organizações da Sociedade Civil
ORAM- Organização Rural de Ajuda Mútua
PAN- Posto Administrativo Natikire
PCM- Presidente do Conselho Municipal
PEU- Plano de Estrutura Urbana
PEOT- Planos Especiais de Ordenamento do Território
PGU- Plano Geral de Urbanização
PGA- Plano de Gestão Ambiental
POT- Plano de Ordenamento Territorial
PPDT- Planos Provinciais de Desenvolvimento Territorial
PP- Plano de Pormenor
PPU- Plano Parcial de Urbanização
RLT- Regulamento de Lei de terra
U/C- Unidade Comunal
ix
9

Resumo

A presenta monografia científica tem como tema: Conflitos de Terra: Estudo de caso do bairro de
Marrere (2013 – 2016). O trabalho teve como lugar de referência o bairro de Marrere, escolheu-se este
local simples facto de este ser um dos vários bairros da cidade de Nampula que tem registado conflitos
de terra devido a expansão da cidade. A escolha do bairro de Marrere, se deveu ao facto desta
circunscrição ser um dos principais locais onde de tempo a tempo, surgem focos sistemáticos de
conflitos de terra, quando os munícipes reclamam o Direito de Uso e Aproveitamento de terra
concedida pelo Departamento de Urbanização e Gestão de Terra, do Conselho Municipal de Nampula.
Também realça-se que o período entre 2013 à 2016, em Marrere ocorreu o parcelamento e atribuição
de terrenos, processo que visou como dar resposta ao fenómeno de ocupação desregrada dos solos. A
presente monografia teve como objectivo geral, Analisar os factores que originam os conflitos de terra
em Marrere e tem como objectivos específicos: Caracterizar o bairro de Marrere; Identificar os
factores que originam os conflitos de terra no bairro de Marrere e Descrever os factores do conflito de
terra e seu impacto no bairro de Marrere. E aponta-se como pergunta de partida: Quais são as
motivações que originam os conflitos da dupla ou tripla atribuição de terrenos em Marrere? Atento a
esta problemática surge como hipótese: A dupla atribuição de terrenos em Marrere resulta da falta de
clareza na concessão de títulos de uso e aproveitamento de terra; Falta de coordenação, comunicação e
controlo eficientes, entre as estruturas administrativas municipais e a comunidade, origina os conflitos
emergentes do uso, ocupação e aproveitamento de terra em Marrere Expansão e Fazer um
levantamento dos locais onde já existem conflitos como resultado da dupla ou tripla atribuição de terra
e/ou onde se prevê futuros conflitos. A metodologia usada para a elaboração da presente monografia
usou-se o método qualitativo, do tipo explicativo, quanto ao seu objectivo usou-se o método indutivo,
para a recolha de dados usou-se a pesquisa bibliográfica, a entrevista, observação e questionário como
procedimentos técnicos de recolha de dados. Pode-se concluir que enquanto permanecer a actual
metodologia de trabalho no processo de demarcação e atribuição de terrenos, os problemas resultantes
do Direito do Uso e Aproveitamento de Terra, continuarão a ser uma realidade na maioria dos
conflitos em Marrere.

Palavras - Chave: Conflito, Gestão de Terra, DUAT, Marrere.


10

Introdução

Moçambique é considerado um dos países mais pobres do mundo. O Índice de


Desenvolvimento Humano (IDH) na sua edição de 2009 classifica o país na 172ª posição,
entre 182 países considerados, com um IDH de 0,402.39. A esperança média de vida da
população é de apenas 52 anos. Apesar da redução da pobreza em Moçambique, com a
possibilidade de alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM) e reduzir pela
metade, até 2015, o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, 45% da
população moçambicana continua a viver com menos que USD 1 por dia e não tem acesso a
serviços básicos, como água potável, escolas e instalações médicas. A agricultura constitui o
meio de subsistência predominante das comunidades rurais seguida da agro-pecuária, ambas
actividades extremamente dependentes da disponibilidade de terra fértil e de água.

A nova lei de terra em Moçambique surgiu em 1997 e desde então um número significativo
de comunidades rurais reforçou o seu direito de uso e aproveitamento da terra. Este é uma
vitória, um marco social e histórico, digno de registo e apreciação, jamais visto na história
contemporânea, desde a Conferência de Berlim onde o continente africano foi divido para
melhor ocupar e governar. Apesar deste progresso em Moçambique, o desenvolvimento rural
não tem sido um processo pacífico. O conceito actual, tem atribuído o papel de liderança ao
sector privado que tem ocupado lugares-chave.

Este ambiente tem criado tendência de implantação de uma relação de cima para baixo nos
projectos e programas privados desenhados a nível nacional sem a participação verdadeira das
pessoas no local. Estas características muitas vezes não são compatíveis para assegurarem a
construção duma boa parceria, ficando a população rural sem espaço para decidir sobre o seu
próprio futuro em condições favoráveis para ela. Aliás o direito público comunitário
consagrado na legislação sobre terras.

Nesta óptica, a presente monografia científica tem o seguinte tema Conflitos de Terra um
estudo de caso do Bairro de Marrere2013 á 2016.

O trabalho teve como lugar de referência o bairro de Marrere, escolheu-se este local simples
facto de este ser um dos vários bairros da cidade de Nampula que tem registado conflitos de
terra devido a expansão da cidade.

A escolha do bairro de Marrere, se deveu ao facto desta circunscrição ser um dos principais
locais onde de tempo a tempo, surgem focos sistemáticos de conflitos de terra, quando os
11

munícipes reclamam o Direito de Uso e Aproveitamento de terra concedida pelo


Departamento de Urbanização e Gestão de Terra, do Conselho Municipal de Nampula.
Também realça-se que o período entre 2013 à 2016, em Marrere ocorreu o parcelamento e
atribuição de terrenos, processo que visou como dar resposta ao fenómeno de ocupação
desregrada dos solos.

A presente monografia tem como objectivo geral: Analisar os factores que originam os
conflitos de terra em Marrere. E tem como objectivos específicos: Caracterizar o bairro de
Marrere; Identificar os factores que originam os conflitos de terra no bairro de Marrere e
Descrever os factores do conflito de terra e seu impacto no bairro de Marrere.

E na sonda dos objectivos que surge a seguinte pergunta de partida: Quais são as motivações
que originam os conflitos da dupla ou tripla atribuição de terrenos em Marrere?

Atento a esta problemática surge como hipótese: A dupla atribuição de terrenos em Marrere,
resulta da falta de clareza na concessão de títulos de uso e aproveitamento de terra; falta de
coordenação, comunicação e controlo eficientes, entre as estruturas administrativas
municipais e a comunidade, origina os conflitos emergentes do uso, ocupação e
aproveitamento de terra em Marrere Expansão e Fazer um levantamento dos locais onde já
existem conflitos como resultado da dupla ou tripla atribuição de terra e/ou onde se prevê
futuros conflitos.

No que respeita ao desenvolvimento do trabalho, este obedeceu aos procedimentos


metodológicos com regras de carácter científico como recomenda a Universidade Pedagógica,
neste âmbito, para a elaboração da presente monografia científica foi usada tipo de pesquisa
explicativa com o objectivo de identificar os factores que determinam ou contribuem para a
ocorrência destes conflitos.

No que respeita a sua abordagem usou-se a pesquisa qualitativa como forma de compreender
e classificar os processos vividos por vários grupos sociais, quanto a sua natureza a pesquisa é
aplicada que contribuiu para a criação de conhecimentos para a solução do problema exposto.

Para o alcance dos objectivos traçados usou-se o método indutivo; quanto aos procedimentos
técnicos foi usado o inquérito que contribuíram para a maior recolha de dados, usou-se ainda
a pesquisa bibliográfica como forma de fazer o cruzamento dos conceitos e teorias de vários
autores.
12

O trabalho teve com universo e amostra toda a população residente de Marrere, local onde foi
feita a pesquisa, e teve a seguinte distribuição de acordo com o método de amostragem por
acessibilidade, e a escolhia foi aleatória num total de 25 residentes sendo 15 homens e 10
mulheres.

No que tange a sua estrutura, a presente monografia científica comporta (04) quatro Capítulos
distribuídos da seguinte maneira:

 No Capítulo I. perfil do município de Nampula, Localização, Breve História da cidade


de Nampula, Divisão administrativa e a Organigrama do conselho Municipal de
Nampula e o perfil do Bairro de Marrere, Localização geográfica, Habitantes,
Conflitos Provenientes do Uso e aproveitamento de terra na cidade de Nampula, Tipos
de Conflitos de Terra existentes em Marrere, Gestão de Terras e seus Conflitos em
Marrere, Causas e Factores dos Conflitos em Marrere, Resolução de conflitos e
Impacto dos Conflitos de Uso e Aproveitamento de Terra em Marrere
 No Capítulo II. Neste segundo capitulo visa construir a base teórica que sustentará os
resultados da entrevista;
 No Capítulo III. Análise, interpretação de dados, aqui far-se-á, a análise e
interpretação de dados terá como base a avaliação das respostas colectadas através de
entrevista com perguntas abertas, com finalidade de perceber quais são as motivações
que originam os conflitos de terra em Marrere.

Esta pesquisa pretende mostrar análise de pesquisas bibliográficas e fontes que trabalham o
tema sobre os conflitos em Marrere procurando mostrar que no caso específico que pela
expansão da cidade e a entrada de vários estrangeiros tem vindo a criar-se conflitos pela posse
da terra.

Espera-se que a presente monografia traga uma nova visão em relação a importância na
gestão de conflitos em Marrere e que os resultados alcançados possam contribuir para uma
nova visão académica.
13

CAPÍTULO I: PERFIL DO MUNICÍPIO DE NAMPULA

O presenta capítulo aborda sobre o perfil do Município de Nampula, apresenta a sua


localização, número de habitantes, assim como também faz menção sobre o bairro de Marrere
dando um breve historial sobre a sua localização geográfica.

1.1. Localização

Nampula é a cidade capital da província do mesmo nome, em Moçambique e é conhecida


como a Capital do Norte. Está localizada no interior da província e a sua população é, de
acordo com o censo de 2007, de 471 717 habitantes (INE. 2007).

A Cidade de Nampula, é o terceiro maior centro urbano de Moçambique, com uma superfície
total de 404 Km², tendo uma população estimada em 471.717 habitantes, cuja densidade
populacional é de 1.414.26 habitantes por Km² e 101.484 agregados familiares. (Perfil do
Município de Nampula, 2011).

1.2. Breve História da cidade de Nampula

O nome da cidade deriva do nome de um líder tradicional, M'phula ou Whampula. A cidade


tem origem militar, uma característica que ainda hoje se mantém. Uma expedição militar
portuguesa, chefiada pelo Major Neutel de Abreu acampou nas terras de Whampula a 7 de
Fevereiro de 1907, o que levou à construção do comando militar de Macuana. A povoação foi
criada em 6 de Dezembro de 1919 tendo-se tornado a sede da Circunscrição Civil de Macuana
em Junho de 1921. Nampula torna-se o Quartel-General do exército português durante a
guerra colonial, o qual, com a independência nacional, passou a Academia Militar Samora
Machel. A chegada do caminho-de-ferro, a partir do Lumbo, contribuiu para o
desenvolvimento da povoação, que foi elevada a vila em 19 de Dezembro de 1934 e a cidade
em 22 de Agosto de 1956 (DE ARAÚJO, 2005).

A história da Cidade de Nampula, a sua importância política, económica e estratégica,


começou a revelar-se a partir dos finais século XIX. Portanto, esta evolução, foi o resultado
da emigração de alguns comandos militares a partir das zonas costeiras de Mossuril, Ilha de
Moçambique e Angoche, com objectivo de descobrir o interior da Província de Nampula e
elaborar-se alguns mapas cartográficos que pudessem facilitar os portugueses a penetrarem no
interior da mesma.
14

O Posto de Netia (a norte do Monapo) foi aberto a 2 de Setembro de 1906. A 6 de Outubro de


1906, Neutel de Abreu, com base no Sangage, fez instalar o posto de Liúpo e, após ter
preparado o terreno por uma visita (Abril de 1906) ao régulo Mucapera-Muno, criou o posto
de Corrane (4 de Janeiro de 1907) com o acordo do Mucapera-Muno, ao qual estava ligado
pelo pacto de sangue - cerimónia dramática e, que saibamos, única nos anais coloniais luso-
africanos. Neutel de Abreu, um cabo, um intérprete e vinte e cinco sipaios avançaram mais
para o oeste e alcançaram, em reconhecimento, a 7 de Fevereiro de 1907, Nampula”
(PÉLISSIER, 2000:295).

No meu entender, a Cidade de Nampula, foi fundada com a finalidade de se manter o controlo
militar durante a penetração colonial portuguesa para as regiões do interior.

1.3. Divisão administrativa

Dizer que, Administrativamente a cidade de Nampula é um município, o município possui


seis Postos Administrativos Municipais, 18 bairros urbanos, 121 Unidades Comunais e 1.224
Quarteirões. (Perfil do Município de Nampula, 2011:1).

1.3.1. Posto Administrativo de Urbano Central

 Bombeiros;
 25 de Setembro;
 1° de Maio;
 Limoeiros;
 Liberdade e
 Militar

1.3.2. Posto Administrativo de Muatala

 Muatala e
 Mutauhanha

1.3.3. Posto Administrativo de Muhala

 Muhala;
 Namutaqueliua e
 Muahivire
15

1.3.4. Posto Administrativo de Namikopo

 Namikopo e
 Mutava-Rex

1.3.5. Posto Administrativo de Napipine

 Napipine e
 Carrupeia

1.3.6. Posto Administrativo de Natikire

 Natikire;
 Marrupaniua e
 Marrere. (Vide a tabele a baixo).

Tabela 1: Divisão Administrativa do Município de Nampula

N/O Postos Administrativos Habitantes Bairros Unidades Número de


Comunais Quarteirões
1 Central 17.986 06 06 62
2 Muhala 151.301 3 26 238
3 Muatala 106.489 2 20 247
4 Napipine 86.235 2 28 189
5 Namicopo 59.009 2 18 189
6 Natikiri 50.697 3 23 305
Total 06 471.717 18 121 1.224

Fonte: Conselho Municipal Cidade de Nampula, 2015.

1.3.7. Localização geográfica do bairro Marrere

Norte- Bairro de Natikire;


Sul- Posto Administrativo de Namaita;
Este- Bairro de Mutauanha;
Oeste- Bairro de Natikire e Rapale.
16

1.3.8. Habitantes

 Sexo Masculino- 3.351


 Sexo feminino- 3.483
Total- 6.834 (Fonte: Projecto da população 2015- INE).

Tabela 2: Divisão Administrativa de Marrere

N/O Unidades Comunais Habitantes Número de


Quarteirões
Por sexo 40
M F
1 06 3.351 3.483
Total 06 6.834 40

Fonte: Projecto da população 2015- INE.

1.4. Organigrama do conselho Municipal de Nampula

No âmbito do processo democrático em curso no País e com a realização das quartas eleições
autárquicas ao nível do país, havidas em 01 de Dezembro de 2013, cujos órgãos autárquicos
foram instalados em06 a 07 de Fevereiro de 2014 na Cidade de Nampula, nomeadamente a
Assembleia Municipal, Presidente do Conselho Municipal e Conselho Municipal, ao abrigo
dos artigos 38, 54 e n.º 1 do 61, todos da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro (Lei 2/97).

O Conselho Municipal da Cidade de Nampula, como pessoa colectiva pública goza de


autonomias administrativa, financeira e patrimonial.

No âmbito da autonomia administrativa, o nº1 do artigo 18, da Lei 2/97, consagra o direito
das autarquias locais disporem de Quadro de Pessoal próprio, concebido e dotado para
satisfazer as respectivas necessidades de carácter permanente.

Este Quadro de Pessoal próprio da autarquia é aprovado pela Assembleia Municipal, nos
termos da alínea h) do nº3 do artigo 45, da Lei 2/97, sendo ainda o acto de aprovação do
Quadro de Pessoal sujeito à ratificação tutelar, nos termos da alínea d) do nº2 do artigo 6 da
Lei 7/97, de 31 de Maio (Lei 7/97).
17

Na criação dos seus Serviços Técnicos e Administrativos o Conselho Municipal cinge-se-nos


pressupostos contidos no Decreto nº 51/2004, de 1 de Dezembro, que regula a organização e
funcionamento dos Municípios. É com base nestes dispositivos legais que foi preparado o
presente Estatuto Orgânico e respectivo Quadro de Pessoal, tendo em vista uma cada vez
melhor administração e prestação de serviços aos munícipes.

Nesta perspectiva, foram tomadas em conta as experiências acumuladas durante a vigência


dos dois Mandatos Autárquicos saídos das Eleições anteriores. Apesar de toda a imaginação e
esforço empreendido na sua concepção, é importante salientar que esta não é uma obra
acabada, uma obra perfeita, mas sim uma base de aperfeiçoamento contínuo da organização e
funcionamento do Município. Por isso, onde e quando se mostrar necessário, a organização
irá sendo ajustada, sempre com a finalidade de aperfeiçoar o seu funcionamento.

Para tanto, é obrigatório reafirmar que só com o empenhamento de todos os intervenientes na


vida do Município será possível caminhar com segurança e dinamismo, rumo a uma
administração modernizada, como a que o presente e o futuro exigem dos órgãos da autarquia
Nampulense.

Nos termos da al. a), n.º 1 do artigo 50 da Lei 2/97, o Conselho Municipal da Cidade de
Nampula é constituído por um Presidente do Conselho Municipal e seguintes vereações:

 Institutional, Desenvolvimento e cooperação;


 Finanças, Planificação e Património;
 Infra-estruturas, Urbanização e Meio Ambiente;
 Manutenção, Obras e Saneamento;
 Promoção Económico, Gestão de Mercados e Feiras;
 Salubridade, Higiene e Gestão Funerária;
 Transportes, Comunicações e Trânsito;
 Educação, Cultura, Juventude e Desporto;
 Saúde, Mulher e Acção Sociais e
 Polícia e Fiscalização Municipal. (Vide no Anexo).

1.5. Departamento de Urbanização e Gestão de Terra suas Competências

De acordo com o Artigo 40 do Estatuto do CMCN de 2014 aponta as seguintes competências


deste departamento:
18

 Coordenar e acompanhar as actividades de urbanização, construção, uso e


aproveitamento do solo Municipal;
 Coordenar e acompanhar as actividades de construção de raiz de novos edifícios do
Conselho Municipal;
 Realizar outras tarefas similares e afins no âmbito das suas funções, bem como
coordenar nos termos das suas atribuições;
 Garantir o cumprimento das decisões e recomendações superiormente definidas;
 Produzir relatórios periódicos relativos ao cumprimento de plano de actividades
sectorial;
 Preparar, dactilografar e expedir toda a documentação do Departamento;
 Receber e garantir a circulação do expediente que entra no Departamento;
 Organizar o sistema do arquivo da documentação e correspondências recebidas e
expedida;
 Elaborar mapas de efectividade e remeter aos Serviços de Administração e Recursos
Humanos.

1.5.1. Serviço Municipal de Urbanização e suas competências

Compete especialmente a este Serviço:


 Controlar a execução de planos de acção com vista ao parcelamento de novos talhões
para extensão da área habitacional nas zonas identificadas no plano de estrutura da
cidade;
 Supervisionar a prevenção e o combate a utilização das zonas de risco Controlar o
cumprimento integral do plano de estrutura da cidade e de desenvolvimento
municipal;
 Monitorar, em coordenação com os serviços municipais de ambiente, os estudos com
vista a identificar novos planos de desenvolvimento da indústria, comércio, turismo
em bairros pilotos;
 Elaborar proposta concretas do sector com vista a melhoria das condições de prestação
de serviços. (Artigo 41 do Estatuto Orgânico do Conselho Municipal de Nampula,
2014).
19

1.5.2. Unidade Municipal de Urbanismo e Cadastro e suas Competências

Compete especialmente a esta Unidade:


 Executar planos de acção com vista ao parcelamento de novos talhões para extensão
da área habitacional, comercial e industrial nas zonas identificadas no plano de
estrutura da cidade;
 Prevenir e combater a utilização das zonas de risco e de protecção;
 Promover o cumprimento integral do plano de estrutura da cidade e de
desenvolvimento municipal;
 Organizar o sistema de arquivo e cadastro por forma responder com celeridade e
eficiência as necessidades técnicas quotidianas;
 Organizar o Gabinete de Desenho Técnico;
 Recuperar a documentação em estado de degradação;
 Realizar outras tarefas que lhe sejam incumbidas;
 Emitir certidões e títulos de uso e aproveitamento de solo urbano. (Artigo 42 do
Estatuto Orgânico do Conselho Municipal de Nampula, 2014).

1.5.3. Unidade Municipal de Endereçamento e Toponímia e suas Competências

Compete a esta Unidade:


 Acompanhar a o crescimento do território autárquico;
 Acompanhar o crescimento urbano, com relação ao surgimento de novas infra-
estruturas;
 Actualizar a toponímia da cidade, através de atribuição de nomes a ruas, Avenidas,
Praças, parques e infra-estruturas desportivas;
 Realizar outras tarefas a ela relacionadas. (Artigo 43 do Estatuto Orgânico do
Conselho Municipal de Nampula, 2014).

1.5.4. Serviço Municipal de Concessão e Controlo de Uso de Terra e suas Competências

Compete a este Serviço:


 Emitir pareceres técnicos sobre pedidos de legalização e concessão de licenças de
construção e trespasse de parcelas;
 Apreciar e dar parecer técnico sobre pedidos de reabilitação, ampliação, demolição e
construção de edifícios;
20

 Acompanhar e controlar a execução de obras particulares e públicas de alvenaria no


município;
 Gerir a ocupação do solo com base no Plano de Estrutura da Cidade, plantas e outros
instrumentos para o efeito;
 Apresentar proposta do sector para melhoramento de prestação de serviços. (Artigo 44
do Estatuto Orgânico do Conselho Municipal de Nampula, 2014).

1.5.5. Unidade Municipal de Controlo de Uso de Terra, Analise de Projectos e


Licenciamento e suas competências

Compete a esta Unidade:


 Gerir conflitos na área de uso do solo urbano;
 Sistematizar um cadastro sobre os casos resolvidos e não solucionados sobre os
conflitos de uso do solo urbano;
 Propor medidas concretas para mitigação de conflitos de uso de solo urbano;
 Propor ao serviço de contencioso o envio ao Gabinete de Estudo e Assessoria os casos
que necessitem de tratamento jurídico-legal;
 Elaborar relatórios periódicos sobre as actividades do sector;
 Zelar e analisar os pedidos de legalização e concessão de licenças de construção e
transpasse de parcelas;
 Analisar os processos pedidos de reabilitação, ampliação, demolição e construção de
edifícios e dar os pareceres técnicos;
 Garantir a conservação dos processos que dão entrada no sector e que aguardam pelo
seu desfecho;
 Emitir propostas concretas do sector para melhoria das condições de prestação de
serviços aos munícipes;
 Realizar outras actividades que lhe sejam incumbidas. (Artigo 45 do Estatuto
Orgânico do Conselho Municipal de Nampula, 2014).

1.6. Importância Económica da Cidade de Nampula

Desde a instalação dos primeiros órgãos autárquicos no Município de Nampula, em 1998,


muitos esforços têm sido envidados no sentido de desenvolver a economia local, melhorar as
condições ambientais e de vida dos munícipes e tornar a cidade cada vez mais atractiva
para investimentos públicos e privados(Perfil do Município de Nampula, 2011: 7).
21

Localizada no entroncamento da via-férrea de Nacala com os eixos rodoviários que a


Província da Zambézia e do Litoral demandam o norte e o interior, a cidade de Nampula foi
implantada num planalto, para servir de centro militar colonial para todo o norte de
Moçambique. Ela é atravessada pelo “corredor de desenvolvimento de Nacala”, constituído
pelos eixos ferroviário e rodoviário que ligam o litoral (porto de Nacala) com o interior do
país e com a República do Malawi. Também é cruzada pelo eixo rodoviário centro-nordeste,
vital para o desenvolvimento a norte do rio Zambeze e que, a partir daqui, se ramifica em
direcção à província de Cabo Delgado, a norte, a provincial do Niassa, a ocidente, e o litoral,
a oriente. É esta localização que lhe confere o papel de centro económico e de ligação de todo
o território a norte do rio Zambeze, pelo que se lhe ajusta o título de “capital nortenha” ou
“rainha do norte” (DE ARAÚJO citado por LAVIEQUE, 2015: 30).

A Cidade de Nampula é o principal centro administrativo e comercial na região norte


de Moçambique e as actividades comerciais incluem a comercialização e
armazenamento dos produtos agrícolas das três províncias do norte, bem como o
comércio grossista e a retalho de equipamentos, bens de consumo e alimentos. Porém,
a economia formal da Cidade de Nampula está bastante fraca, pois nas últimas
décadas a actividade industrial do sector formal diminuiu drasticamente pela paragem
das maiores fábricas, frequentemente por motivos ligados a sua privatização (nos
casos de Texmoque, Sogere, Cinap, Mademo e Romon). A actividade industrial está
virada principalmente ao ramo alimentar. A grande maioria das fábricas e oficinas em
funcionamento são de pequena escala (DE ARAÚJO citado por LAVIEQUE, 2015:
13).

Nesta situação, o sector informal tem vindo a desempenhar um papel preponderante para a
sobrevivência da população e da economia da cidade. As actividades informais incluem
principalmente o comércio informal e a produção agrícola. Muitas famílias na cidade têm
machambas, dentro ou fora da área municipal, nas quais cultivam mandioca, amendoim,
batata-doce, milho ou hortaliças para consumo próprio e para venda a pequena escala
(IBIDEM: 14).
22

CAPITULO II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O presente capítulo aborda sobre aspectos relacionados com a revisão da literatura em torno
do tema em discussão. Estão aqui apresentados conceitos e teorias sobre o uso e
aproveitamento de terra assim como a sua gestão de conflitos envolvendo a terra. Estão
apresentados diversos pensamentos de vários autores que abordam sobre o assunto e um
pouco sobre a temática dos conflitos de terra na cidade de Nampula segundo vários autores.

2.1. Definição dos Conceitos

Apresentam-se a seguir alguns conceitos básicos relevantes ao tema.

2.1.1.Conflito

O conflito é uma situação que envolve um problema, uma dificuldade e pode resultar
posteriormente em confrontos, geralmente entre duas partes ou mais, cujos interesses, valores
e pensamentos observam posições absolutamente diferentes e opostas. (Dicionários online).
Conflito de acordo com GIDDENS e SUTTON (2016) é Luta entre grupos sociais pela
supremacia, envolvendo tensões, discórdia e choque de interesses. Ainda os mesmos autores
afirmam que:
Conflito é um termo bastante genérico que pode significar tanto as contendas entre
dois indivíduos, como uma guerra internacional entre diversos países, e engloba tudo
que houver entre esses dois extremos.

2.1.2.Terra

Terra Faz referência ao material quebradiço de que é composto o solo natural; ao terreno
destinado ao cultivo; e ao piso/chão que pisamos (o solo).

De forma geóide (esfera achatada pelos polos), a Terra tem um diâmetro de 12.700
quilómetros, sendo que 71% da sua superfície está coberta de água. Os especialistas
conceberam dois modelos para se referirem à estrutura interna do planeta: o modelo
geostático e o modelo geodinâmico.

O modelo geostático compreende três camadas: a crosta (a camada mais superficial, composta
pelo granito dos continentes e pelo basalto das bacias oceânicas), o manto (a camada
intermédia, cuja profundidade chega aos 2.900 quilómetros) e o núcleo (a camada mais
profunda, com uma espessura de 3.475 quilómetros).
23

O modelo geodinâmico, por sua vez, prevê a litosfera (a parte mais superficial), a atmosfera
(que se comporta de maneira fluida), a mesosfera (igualmente conhecida como manto
inferior), a camada D (uma zona de transição) e a endosfera (a qual corresponde ao núcleo do
modelo geostático) (BARBOSA-LIMA e SILVEIRA JR, 2008).

Já Newman diz que Terra é o terceiro planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o
quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar. É também o maior dos quatro
planetas telúricos. É por vezes designada como Mundo ou Planeta Azul. Lar de
milhões de espécies de seres vivos, incluindo os humanos, a Terra é o único corpo
celeste onde é conhecida a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56 bilhões de
anos (NEWMAN, 2007).

O conceito de terra designa não apenas o solo, que serve para manter e nutrir as plantas, mas
também as forças que a natureza oferece de maneira mais ou menos espontânea. (Idem).

2.1.3. Gestão

Gestão é uma perspectiva especializada da Administração, cuja visão está predominantemente


em 3° pessoa, ou seja, um olhar além da matéria e o espaço em questão. Uma visão de cima,
onde é possível obter uma imagem do todo com suas relações externas, contudo, sem muitos
detalhes. A intenção é efectuar uma análise indutiva e definição de uma decisão geral
(SANTIAGO, 2016).
No entender de PINTO (2006), gerir é coordenar as actividades das pessoas e os
recursos da organização para prosseguir com os objectivos, que em certos casos
também são estabelecidos por entidades exteriores à organização, como órgão de
tutela, que estabelece os principais objectivos para uma organização do sector público.

Para Chiavenato Gestão é a ciência social que estuda e sistematiza as práticas usadas para
administrar. Gestão significa gerenciamento, administração, onde existe uma instituição, uma
empresa, uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou administrada. (CHIAVENATO, 200

2.1.4.Gestão de conflitos

É a parte da gestão de uma organização especializada na administração dos conflitos entre


indivíduos, entre indivíduos e grupos internos à organização, entre grupos pertencentes à
organização ou conflitos da organização com outras organizações, através de utilização de
técnicas, práticas e processos. Para determinar como esta gestão deve ser feita, existe a
necessidade de estudar o processo do conflito, seu início e estágios (ROBBINS, 2005).
24

2.1.5. Gestão da terra

É o mecanismo usado para o controlo da terra, seu manuseamento, o planeamento e


ordenamento do território, a forma de uso e transferência de propriedade ou da terra e
resolução de conflitos resultantes da alocação da terra. Este termo passa necessariamente pela
observância de aspectos como: O controlo da terra; O processo de transferência de direitos
sobre a terra; A regulação dos processos sobre a obtenção do DUAT; Cadastro e ordenamento
territorial; e A tributação sobre o uso e aproveitamento da terra (RUBIN, 2008).

2.2. Sistemas de posse da terra no período colonial

Os sistemas da posse em Moçambique surgiram no período pós-Conferência de Berlim. Este


transportava consigo uma concepção de subsistências das populações enquanto trabalhavam
nas plantações e fazendas. Entretanto, nesse período existiam dois sistemas: o consuetudinário
e o convencional. Significa que durante o período colonial os direitos das populações eram
legalmente reconhecidos pelo governo colonial português, mas de uma forma mais ou menos
controlada, reflectindo os interesses prevalecentes da época. A exclusão das famílias rurais
das melhores áreas de cultivo reflectia-se, contudo, no seu modo de vida. O mesmo acontece
no Moçambique actual (TANNER, citado por ALFREDO, 2009:42).

A diminuição das áreas de cultivo pelas famílias contribuía para o aumento da


dependência do mercado de trabalho como forma de obter rendimento em numerário
indispensável para a sobrevivência e reprodução da família rural (NEGRÃO, 1995).

Desta forma, ocorre uma dispersão das famílias rurais. Atraídas pela oferta de empregos e
obrigadas a vender a sua oferta de força de trabalho a unidades de agricultura empresarial.

Essas famílias foram obrigadas a instalar as suas residências e os seus campos de cultivo
familiares no espaço circundante das grandes unidades agrícolas, no entanto, segundo uma
organização territorial dispersa e irregular (MUANAMOHA 1995: 35).

Neste contexto, o período compreendido entre 1885 e 1930 foi considerado como o da:

Mudança de estruturação do espaço em Moçambique, dado que a emergência da


economia colonial durante esse período, permitiu a introdução da agricultura
comercial no espaço rural, ocasionando uma redistribuição da população
(MUANAMOHA 1995: 36).

“A intervenção do Estado Colonial durante esse período pode-se dizer como tendo sido no
sentido de evitar a formação de uma burguesia agrária africana desenvolvida, facto que não
25

impediu uma crescente diferenciação do campesinato como resultado da sua subordinação às


relações de produção capitalista” (CASTEL-BRANCO, 1994: 44).

Obviamente, a situação da dualidade dos sistemas de posse de terra introduzida no período


colonial manteve-se até a proclamação da independência de Moçambique, em 1975.

2.3. Sistemas de posse da terra no pós-colonial

Moçambique, tal como a maioria dos Estados africanos, acederam à independência com um
sistema de posse dual de terra que teve a sua origem durante o período colonial (BRUCE,
1992: 7-8).

Segundo o mesmo autor, o momento posterior à proclamação da independência da maior


parte dos países africanos nos anos 60 é apontado como o momento em que os governos
africanos:

Tentaram fazer alterações básicas aos seus sistemas de posse da terra, considerando os
sistemas de posse consuetudinários da terra demasiado tradicionais para poderem
fornecer uma base adequada para o desenvolvimento agrícola (BRUCE, 1992: 7-8).

A explicação para tal atitude é a de que “as novas elites governamentais não estavam
inclinadas para estas formas, porque constituíam uma importante base de poder das
autoridades tradicionais, que elas procuravam substituir”. Por outro lado, “havia também o
desejo de ter um único sistema de posse da terra, eliminando-se a dualidade que havia sido
introduzida durante o período colonial” (BRUCE, 1992: 7-8).

Negrão, no seu trabalho sobre “Terra e Desenvolvimento Rural em Moçambique”, afirma que
com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, a terra foi nacionalizada e
passou a ser propriedade do Estado. Apesar da nacionalização, não houve uma redistribuição
de terras mas apenas a transformação das propriedades agrícolas privadas em machambas
estatais. As famílias rurais continuaram a trabalhar as terras onde se encontravam (NEGRÃO,
1998: 2-14).

Segundo documentos do Partido Frelimo, resultante da realização do seu III Congresso em


Fevereiro de 1977, foi adoptada a política de socialização da terra que definia:

A mobilização e a organização do Povo em machambas estatais e cooperativas e a


constituição de aldeias comunais”. Considerava-se ser necessário o “desenvolvimento
do sector estatal agrícola tornando-o dominante e determinante, ‘o que implicava’ a
organização das unidades de produção sob o controlo do Estado e a integração
horizontal e vertical com o sector agro-industrial estatal (PARTIDO FRELIMO, 1977:
33-34).
26

Entretanto, a agricultura foi considerada a base do desenvolvimento. A produção de bens


alimentares produzidos pelos camponeses era uma prioridade. Os investimentos públicos
realizados para esse fim foram concentrados no sector estatal, em grandes projectos.

As empresas estatais demonstraram deste modo que não eram apenas uma forma de
organização económica ou consequência de opções ideológicas. O sector estatal era,
ideologicamente, a forma superior de produção, por ser propriedade de todo o povo. As
empresas estatais tinham ainda uma função fundamental e primeira, a defesa e afirmação do
poder e a distribuição de recursos às elites burocráticas. Elas eram o instrumento de aplicação
da política económica, para exercer o controlo da economia, para concentrar a acumulação e,
em muitos casos, um meio de facilitar a acessibilidade e a distribuição da riqueza pelas elites
aquando das privatizações (MOSCA, 2005: 171).

Em 1979, foi publicada a lei n. 6/79 de 3 de Julho, a primeira lei de terras que
consagrava a propriedade estatal e as formas de exploração empresarial de tipo
socialista. Às famílias eram limitadas as áreas de forma a orientá-las para as
cooperativas agrárias e como força de trabalho das empresas estatais. Aos indivíduos
o Estado permitia a concessão dos direitos de uso e aproveitamento da terra através de
um título (NEGRÃO, 1998: 2).

A nova política era uma aplicação da teoria do desenvolvimento rural integrado, que defendia
a complementaridade entre a agricultura e a agro-indústria e que devia, para tal, utilizar
formas de trabalho intensivo nas grandes machambas, sejam elas propriedade do Estado ou
privadas.

Era um modelo que visava incorporar o dualismo sectorial estruturalista no modelo de


desenvolvimento rural, o que acabava por validar o antigo sistema de dualismo no novo
contexto sobre a posse da terra. Por outras palavras, podemos dizer também que se pretendia a
socialização do meio rural através de um processo radicalizado, onde a estatização do sector
privado constituía um dos eixos de desenvolvimento.

A cooperativização agrícola e a formação das aldeias comunais eram consideradas vias da


socialização do campo para envolver os camponeses na colectivização produtiva e social.
Essas formas de produção eram consideradas como integrantes no sistema de planificação
centralizada e como instrumentos fundamentais para a materialização da política socialista do
então governo da República Popular de Moçambique. NEGRÃO 1998: 15).

De acordo com Casal, o movimento cooperativo introduzido pelas políticas estatais


tem sido apontado como um dos factores que esteve na origem da crise estrutural
revolucionária que ocorreu nas zonas rurais de Moçambique na década de 80
(CASAL, 1988).
27

Nisso, os produtores de pequena escala e o sector privado não eram incorporados nos planos
e, sem afectação administrativa de recursos, tiveram imensas dificuldades em reproduzir os
ciclos produtivos. A estratégia de transformação social e cultural dos camponeses partilhava o
princípio de concentrar a população no meio rural em aldeias comunais. Este processo de
aldeialização foi concebido basicamente como um movimento de urbanização e mudança de
habitat, sem consideração pelas implicações nos hábitos culturais, nos sistemas produtivos e
técnicas de produção, nas questões relacionadas com a terra e com o abandono de árvores de
fruto e de culturas de rendimento. As empresas estatais e as cooperativas6 eram consideradas
como a base da produção económica. Era ainda um modo de controlo da população no quadro
de um regime mono-partidário de natureza autoritária, sobretudo quando o conflito se alastrou
por uma importante parte do território.

2.4. Direito de Uso e Aproveitamento da Terra na República de Moçambique

Na República de Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por
qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada. Como meio universal de criação da
riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo
moçambicano.

As condições de uso e aproveitamento da terra são determinadas pelo Estado. O direito de uso
e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o
seu fim social. Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra o Estado
reconhece e protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva
legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuída a outra pessoa ou entidade.

O direito de uso e aproveitamento da terra, não pode ser concedido nas zonas de protecção
total e parcial, visto tratar-se de zonas de domínio público (zonas destinadas à satisfação do
interesse público). Nestas zonas só é permitido o exercício de determinadas actividades
mediante emissão de licenças especiais.

A aprovação do pedido do DUAT não dispensa a obtenção de licenças ou outras autorizações


exigidas por legislação aplicável ao exercício de actividades económicas pretendidas (agro-
pecuária ou agro-industriais, industriais, turísticas, comerciais, pesqueiras e mineiras e à
protecção do meio ambiente). As referidas licenças terão o seu prazo definido de acordo com
a legislação aplicável, independentemente do prazo autorizado para o exercício do direito de
uso e aproveitamento da terra.
28

O direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas está sujeito ao
prazo máximo de 50 anos, renovável por igual período a pedido do interessado. Após o
período de renovação, um novo pedido deve ser apresentado. (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro).

2.5. Formas de Acesso à Terra na República de Moçambique

Temos três formas de acesso à terra que são:

 Via das normas e práticas costumeiras;


 Por ocupação de boa-fé em benefício de pessoas singulares (passados dez anos têm o
direito com todas as garantias jurídicas), mas também;
 Por via de pedido junto do Estado.

Esta última é, fundamentalmente, para os investidores do sector privado ou pessoas


colectivas. Assim o Estado pode responder com um processo que se inicia com a identificação
da área; nesse passo de identificação o requerente deve começar a discutir e a negociar com as
comunidades locais e depois disso segue-se o processo formal de consulta comunitária. Os
membros da comunidade sentam-se com o requerente, perante o Estado, e discutem se a terra
está disponível para a ocupação. Pode estar, pode não estar, pode estar ocupada, mas a
comunidade pode ceder em troca de contrapartidas e parcerias, normalmente contrapartidas
sociais.
O requerente quer dez mil hectares e a comunidade vai perder algumas áreas, mas
pode beneficiar com a construção de uma escola, ou com o melhoramento da estrada
ou da ponte ou um hospital. Podem também pedir benefícios económicos ou
implementar uma actividade económica conjunta. (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro).

2.6. Sujeitos com Direito de DUAT na República de Moçambique

Podem ser sujeitos do DUAT os seguintes:

 As pessoas nacionais, colectivas e singulares, homens e mulheres, bem como as


comunidades locais.
 As pessoas singulares e colectivas estrangeiram, desde tenham projecto de
investimento devidamente aprovado e observem as seguintes condições;
 Sendo pessoas singulares, desde que residam há pelo menos 5 anos na República de
Moçambique;
Sendo pessoas colectivas, desde que estejam constituídas ou registadas na República de
Moçambique.
29

O direito de uso e aproveitamento da terra é adquirido por:


 Ocupação por pessoas singulares e comunidades locais, segundo as normas e práticas
costumeiras no que não contrariem a Constituição;
 Ocupação por pessoas singulares nacionais que, de boa-fé, estejam a utilizar a terra há
pelo menos dez anos;
 Autorização do pedido apresentado por pessoas singulares ou colectivas na forma
estabelecida por Lei.

Actualmente, em Moçambique os dispositivos legais relativos à possibilidade, termos e


condições para a transmissão de direitos sobre a terra são de grande relevância. Alguns
aspectos que emergiram da elaboração da Lei de Terras, constituem elementos para resolver a
problemática de conflitos de terra. Com base na legislação de terras em vigor e a experiência
da sua aplicação ao longo destes anos, nota-se o incumprimento da mesma, pois, são
crescentes os sistemas corruptos de uso e aproveitamento de terra. (Lei nº 19/97, de 1 de
Outubro).

Com o que acontece em Marrere e com base nos resultados da pesquisa no terreno, pode-se
considerar que deve-se manter a propriedade pública da terra, de forma a defender os
interesses das pessoas menos favorecidos que tem a terra como seu único meio para garantir a
sua subsistência.

Na actual Lei nº 19/97, de 1 de Outubro, e o respectivo Regulamento, aprovado pelo Decreto


66/98 de 8 de Dezembro, bem como o Regulamento do Solo Urbano, aprovado pelo Decreto
60/2006 de 26 de Dezembro, existem princípios e regras fundamentais relativas à
transmissibilidade de direitos sobre a terra. Com base nestes diplomas legais, na legislação
sobre o direito civil e demais legislação em vigor no país, vale a pena referir, algumas formas
de transmissão de direitos sobre a terra, para clarificar as práticas obscuras aplicadas na
matéria, pelos responsáveis na atribuição de terras no Município de Nampula, são eles:

 Transmissão em casos de morte;


 Transmissão através de intermediários;
 Por transmissão de prédios urbanos;
 Por separação de áreas comunitárias;
 Por uso da terra urbana;
 Por transmissão de infra-estruturas, construções e benfeitorias e
30

 O caso das licenças especiais.


A Transmissão da terra em casos de morte, está prevista no Artigo 16 da Lei nº 19/97 de 1 de
Outubro, aplicáveis as normas de direito sucessório em vigor no país, constantes no Artigo
2024 e seguintes do Código Civil.

2.7. Conflitos Provenientes do Uso e aproveitamento de terra na cidade de Nampula

O uso e aproveitamento de terra na Cidade de Nampula está a crescer desde a década 1980,
esta ocupação do solo foi sendo cada vez mais intensiva devido ao conflito armado (1977-
1992) que, de tempo a tempo, obrigava as populações a se deslocarem das suas zonas de
origem para as capitais distritais e da província em particular, em busca da segurança. Foi na
sequência desta situação que no Município de Nampula o uso, a ocupação e o aproveitamento
da terra passaram a ser processos cada vez mais conflituosos. Os nativos foram perdendo suas
machambas em proveito dos recém-chegados que ocupavam a terra para construir habitações
ou infra-estruturas económicas e sociais. Ora, na sequência desta realidade, com a criação do
Município de Nampula em 1998, no contexto da democracia multipartidária, a cidade capital
passou a ser um local onde se assistem sempre conflitos pela posse de terra.

2.7.1 Tipos de Conflitos de Terra existentes em Marrere

Conflito significa litígio, disputa. Na base desta percepção, no estágio actual, em Marrere, se
assiste casos de conflitos pela posse da terra. Em alguns casos nota-se a expropriação da terra
que é retirada dos nativos em favor de novos concessionários, que adquirem terrenos pessoais
através do Município.

O termo expropriação tem a ver com a acção de apoderar-se de forma astuciosa ou


violentamente de uma coisa de que alguém legitimamente usufruiu ou lhe pertence. Pela
usurpação alguém obtém algo sem direito ou por meio de fraude, adquirindo o direito de
propriedade de forma ilegítima. (MATAVEL, 2011 citado por LAVIEQUE, 2015).

A Lei 19/97 de 1 de Outubro, no seu Artigo 1, nº 2, refere que o DUAT confere ao seu
detentor o direito de uso e aproveitamento da terra para diferentes fins. Presentemente, em
Marrere existem casos de pessoas com o título de propriedade (DUAT), que prova ser dono
do terreno, mas que na prática o espaço não lhe pertence porque há casos de dupla atribuição,
por erros ou má-fé dos agentes do município assim como os nativos que vendem terrenos para
uma ou mais pessoas. Nesta condição, normalmente o terreno passa a ser motivo de disputa
entre potenciais e diferentes proprietários. Em certos casos passa a reinar a lei do mais forte
31

que se apodera da terra recorrendo a processos menos claros e lícitos. Daisurgem conflitos de
várias ordens pela posse da terra e são eles:

Conflito de Natureza Pública

 Entre o Conselho Municipal e os Munícipes e


 Entre os Líderes Comunitários e Munícipes.

Conflito de Natureza Privada

 Entre os Agentes Económicos e a Comunidade;


 Entre Membros da mesma Família;
 Entre Membros da mesma Comunidade;
 Entre Membros de Comunidades Diferentes, (Lei 19/97 de 1 de Outubro).

2.7.1.1. Conflito de Natureza Pública

No bairro de Marrere este conflito, manifesta-se quando o Conselho Municipal faz as


demarcações de talhões e atribui a novos proprietários sem nenhuma auscultação comunitária
junto dos nativos e autoridades comunitárias locais. Em alguns casos, os beneficiários são
investidores nacionais ou estrangeiros, que possuem algum capital económico e financeiro.
Estes procuram terrenos para investir sem consentimento dos nativos e isto provoca conflitos
porque ao quererem investir rapidamente nos sectores de negócios como comércio e serviços
em geral, não respeitam as leis costumeiras locais.

Dada a pressa que os mesmos têm, de querer ocupar o espaço a qualquer preço, recorrem ao
Município e pressionam as autoridades para lhes conceder terreno que, não raras vezes, já é
propriedade de alguém. Esta atitude cria e agrava cada vez mais a situação de pobreza,
carência e vulnerabilidade das comunidades locais, pois os nativos acabam sendo vítimas da
desapropriação da terra. Por isso, quando um conflito envolve cidadãos e instituição
juridicamente constituída emerge o que se designa conflito público. O Município representa o
Estado, ele emite a licença de uso e aproveitamento da terra o DUAT (Direito de Uso e
Aproveitamento de Terra) em favor de um ou vários cidadãos emergindo deste acto o dito
conflito público. Em Marrere, os conflitos de uso de terra, cuja natureza é pública, dividem-se
em duas (02) categorias a saber:

 Entre o Conselho Municipal e comunidade


32

 Entre os Líderes Comunitários e a comunidade.

2.7.1.1.1. Conflito Entre o Conselho Municipal e a Comunidade

O conflito entre o município e a comunidade é um conflito público tendo em conta o Decreto


nº 51/2004 de 01 de Dezembro, que aprova o Regulamento de Organização e Funcionamento
dos Serviços Técnicos e Administrativos dos Municípios, nota-se que a sua implementação
ainda não atingiu os níveis desejáveis de forma a evitar os conflitos no uso da terra.

O que actualmente se verifica é passar por cima duma lei já aprovada cuja aplicação é
irregular, sem rigor, por parte dos órgãos municipais. Daí que, alguns técnicos confiados para
fazer o parcelamento e atribuição de talhões aproveitam-se da fragilidade do conhecimento
dos beneficiários em matéria de legislação de terras, e entram em esquemas de actos ilícitos.

No bairro de Marrere, foi notório uma tensão ou disputa entre cidadãos motivados pela prática
de não cumprimento das linhas mestres legais na atribuição de terras como versa a Lei no
19/97 de 1 de Outubro, que dá poderes de aquisição, titulação, transmissão e utilização
gratuita da terra, no tocante ao DUAT.

2.7.1.1.2. Conflito entre os Líderes Comunitários e a Comunidade

No tocante aos conflitos advenientes do uso da terra, em Marrere é nota-se o como é


importante o papel dos líderes comunitários, pois, são o garante da legalidade, uma vez que
nesta é depositada toda confiança no que diz respeito a condução dos destinos da comunidade.
É nesse contexto que os líderes comunitários fazem parte da governação local como
complemento do governo municipal, segundo versa a Lei nº 9/97 de 31 de Maio. Portanto, é
imprescindível que os líderes comunitários de base transmitam a justeza, a clareza e a
transparência nos seus métodos de trabalho, para não ferir as sensibilidades das comunidades
locais.

Os conflitos em Marrere, entre os líderes comunitários e os moradores, são na sua maioria por
falta de confiança na arbitragem dos conflitos de terra, uma vez que os mesmos muitas vezes
estão envolvidos em esquemas de venda ilegal de talhões com beneplácito dos técnicos do
município, prejudicando sobremaneira os moradores. Esta prática, retira o prestígio
depositado pelas comunidades aos seus dirigentes, gerando-se uma anarquia total na condução
dos destinos da comunidade.
33

2.7.1.2. Conflito de Natureza Privada

Conflito de Natureza Privada é aquele que envolve apenas os cidadãos, sem intervenção de
entidade ou autoridade pública, neste caso se envolvem apenas os particulares. Pode-se dar o
caso de um cidadão, proprietário de uma parcela de terra, vender esta a duas pessoas ou mais.
Havendo desentendimentos, começa a disputa entre particulares. Cada um pensa que tem
razão, mas ninguém apresenta documentos de legalização do terreno porque, normalmente,
esta se faz a posterior após a compra do mesmo. De salientar que, a preocupação das pessoas
que compram pedaços de terra, é procurar ocupá-la numa primeira fase, enquanto decorre a
legalização, a posterior.

Em Marrere registam-se casos semelhantes, em que cidadãos detentores de terrenos vendem


para duas ou mais pessoas e isto só se descobre quando um deles vai ao conselho municipal
para legalizar e muitas vezes o mais rápido ou quem tem posses é que vai tratar os documento
ou seja DUAT. Quanto a estes tipos de casos o Conselho Municipal opta por parar com os
procedimentos legais remetendo aos conflituantes para que, entre eles, primeiro resolverem o
problema, e para depois prosseguir com o processo de legalização. Imposta salientar que, o
Conselho Municipal procura não se envolver directamente nestas contendas.

Estes conflitos são originados pelo não respeito de direitos costumeiros e pelo desejo de se ter
êxito económico sem observância da lei, resultando na venda ilegal de terras. Em casos do
género, o agente municipal faz tudo para satisfazer pessoa com posse financeira porque ele
quer ganhar algum valor resultante do apadrinhamento na aquisição da terra ou da
manipulação e falsificação de documentos. As vezes o pagamento faz-se em troca de uma
outra parcela de terra ao em vez de dinheiro. Este funcionário ao receber um terreno em jeito
de agradecimento, não leva em conta que está praticando um crime atrás de outro crime.
Assim sendo, as expectativas individuais de registo da terra não são atendidas, registam-se
carências de informação ou perda de tempo na tramitação de documentos envolvidos na
legalização da terra. Outra prática irregular tem a ver com a distribuição desigual da terra na
alocação aos munícipes. Isto acontece, algumas vezes, porque as populações são coagidas
pelas autoridades municipais a cederem terra, devido a desactualização do cadastro existente
no Município sobre as terras não ocupadas. É assim que, na falta de dados, o mesmo terreno é
atribuído a duas ou mais pessoas.
34

Ademais, aliado a falta de planos de ordenamento e não havendo comunicação em tempo útil
sobre as terras livres, os líderes comunitários são surpreendidos com casos de pessoas que
receberam o DUAT sem seu conhecimento.
 Entre os Agentes Económicos e a comunidade;
 Entre Membros da mesma Família;
 Entre Membros da mesma Comunidade;
 Entre Membros de Comunidades Diferentes.

2.7.1.3. Conflito Entre os Agentes Económicos e a Comunidade

Em Marrere nota-se a existência deste tipo de conflito por incumprimento do plano de


enquadramento, ou seja, quando os técnicos do município usam vias mais simplificadas para
legalizar o uso da terra, que consistem em atribuição de terreno a um agente económico, sem
uma prévia consulta comunitária. Este, por sua vez, quando pretende implantar o seu projecto
não faz consulta junto a comunidade que, reagindo, impede a implantação do dito projecto.
Tratando-se dum indivíduo estranho, desconhecem-se as suas verdadeiras e reais intenções,
culminando com um clima de tensão nas comunidades.

É importante realçar que, a política de terras preconiza que, qualquer ocupação de terra deve
merecer o consentimento das comunidades para se ter relacionamento são entre os diferentes
intervenientes a nível interno, na gestão de solos urbanos, como é o caso do Conselho
Municipal da Cidade de Nampula. Neste caso, recomenda-se a defesa dos interesses dos
cidadãos lesados, visto que, são o motor de desenvolvimento económico do país.

O presente estudo constatou que a política de parcelamento e atribuição de talhões permite a


extensão de zonas habitacionais, donde devem ser adoptadas práticas correctas nos processos
de alocação de terra, prevenindo a ocorrência de sistemas corruptos de venda da terra. Para
tanto importante, se torna indicar onde e quando reclama, quando alguém se vê lesado.

Daqui surge uma proposta segundo a qual na atribuição de um talhão, noutro deve-se respeitar
todos os trâmites legais, incluindo a consulta comunitária, como forma de solucionar o
problema de dupla atribuição de terrenos, acto que compromete o corpo técnico, minando a
capacidade institucional na gestão de terra.
35

2.7.1.4. Conflito Intra-Familiar

Embora não muito frequentes, registam-se em Marrere conflitos entre membros de uma
mesma família relacionados, essencialmente, com questões de herança. Basicamente, as
disputas surgem quando a divisão das terras entre os filhos não é feita de maneira equitativa e
agravam-se quando a qualidade dos solos das áreas atribuídas a uns é considerada pelos
outros. Os conflitos acontecem, também, naqueles casos em que o homem, por motivos de
separação (pouco frequentes) ou morte da esposa, regressa à sua comunidade de origem, onde
não encontra espaço para construir a sua habitação e fazer a sua machamba, pois o seu
anterior espaço já foi ocupado pelas irmãs e seus maridos.

2.7.1.5. Conflito Inter-Familiar

O conflito inter-familiar ocorre quando duas ou mais famílias entram em concorrência pelo
acesso e posse de um mesmo espaço. Basicamente, estes conflitos relacionam-se com a não
observância dos limites e o desrespeito pelos marcos que separam as áreas de uma e outra
família. Estes ocorrem com maior incidência nas regiões próximas das vias de acesso, visto
que as condições favorecem a saída e entrada para o bairro de Marrere.
Um dos factores que concorre para o surgimento deste tipo de conflitos é o crescimento
demográfico que o bairro vem registando.

2.7.1.6. Conflito de Inter-Comunitários

O procedimento acima referido pode aplicar-se, igualmente, naqueles casos em que as


famílias em disputa pertencem a comunidades vizinhas. A diferença é que, neste caso, os
conflitos são resolvidos com o envolvimento das autoridades comunitárias das comunidades
em conflito, podendo, por vezes, recorrer-se à ajuda das autoridades administrativas, também
das comunidades envolvidas. E estes conflitos em Marrere acontecem.

2.8. Gestão de Terras e seus Conflitos

Considerando o objectivo geral deste trabalho, fez-se o mapeamento dos conflitos de uso e
aproveitamento e a terra em Marrere, para obter uma visão geral sobre a situação real do
fenómeno de usurpação de terra de forma a encontrar um enquadramento nas análises deste
fenómeno considerando o que Sacuro afirma que Gestão, significa o trabalho de gerir as
organizações sem qualquer pretensão do que a de assegurar que se contemple com esta
tradição, tanto a dimensão “administrativa” em cuidar do desempenho da organização
36

presente e do seu aperfeiçoamento quotidiano, como dimensão empreendedora do gestor, o de


direccionar recursos de áreas de baixo desempenho para aquelas onde se esteja obtendo
crescentes ou melhores resultados. (SACURO, 2013 citado por LAVIEQUE, 2015: 45).

Em jeito de pôr as coisas ou acções planificadas a serem executadas, pode-se considerar o


termo gestão, como ponto dianteiro que leva as acções planificadas a acontecer.

No entender de PINTO (2006) citado por LAVIEQUE, (2015: 45), gerir é coordenar as
actividades das pessoas e os recursos da organização para prosseguir com os objectivos, que
em certos casos também são estabelecidos por entidades exteriores à organização, como órgão
de tutela, que estabelece os principais objectivos para uma organização do sector público.

Na presente pesquisa, buscou-se a percepção do termo “Gestão de Terras” com base nas
teorias acima referenciadas e por via da consulta de autores que abordam este assunto. Na
visão de RUBIN (2008), citado por LAVIEQUE, (2015:45). A Gestão da terra é o mecanismo
usado para o controlo da terra, seu manuseamento, o planeamento e ordenamento do
território, a forma de uso e transferência de propriedade ou da terra e resolução de conflitos
resultantes da alocação da terra. Este termo passa necessariamente pela observância de
aspectos como:
 O controlo da terra;
 O processo de transferência de direitos sobre a terra;
 A regulação dos processos sobre a obtenção do DUAT;
 Cadastro e ordenamento territorial; e
 A tributação sobre o uso e aproveitamento da terra.
É com base na implementação e aplicação de instrumentos legais desenhados pelo Governo
de Moçambique, que se pode superar o espírito de deixa andar e avançar-se na matéria de
defesa dos interesses dos cidadãos, no concernente aos conflitos de uso e aproveitamento de
terra.

2.9. Causas e Factores dos Conflitos em Marrere

Analisando as causas e os factores dos conflitos de uso e aproveitamento de terra, assunto em


curso em Marrere ao nível do Município de Nampula, não se distancia da categoria geral das
causas dos conflitos defendidas por MOORE (1996).
37

Em relação aos Conflitos estrutural e de interesse, o que acontece em Marrere, não é nada
mais do que, por um lado, a distribuição desigual ou injusta da terra aos nativos e alocação de
técnicos sem categoria profissional nas zonas de expansão, com vista ao parcelamento de
terra, amando das elites do poder municipal, e por outro lado, a forma como uma disputa deve
ser resolvida entre a comunidade e as autoridades municipais. De realçar que, na vertente
interesse, a que se ter em conta, a situação favorável à satisfação de uma necessidade,
excluindo a situação favorável à satisfação de uma necessidade distinta. Isto se pode
constatar, quando uma pessoa possui um interesse que se sobrepõe ao interesse do outro.

O conflito de interesses é o elemento material da lide, sendo seus elementos formais a


pretensão e daqueles que a resistem que tratamos nesta abordagem e relacionando com as
causas de conflitos de terra em Marrere são os conflitos entre indivíduos diferentes, com
interesses diversos e distintos. Também, é preciso se ter em conta que, quando se emprega a
violência, ocasiona a dissolução da sociedade, surgindo a composição dos conflitos que se
convertem em um interesse colectivo, despertando interesse externo e isto cria um
descontentamento e a consequente manifestação.

Em relação aos conflitos de relação e de valores, em Marrere zona de periferia da Cidade de


Nampula, o conflito de relação, surge quando o Conselho Municipal, órgão de tutela na gestão
de terra, faz o parcelamento da terra, sem a devida auscultação da comunidade. Já, o conflito
de valores, surge no processo de levantamento das benfeitorias dos munícipes abrangidos pelo
processo de parcelamento de terra, e por sua vez, não se honra o compromisso de pagamento
dos bens avaliados.

Conflito de dados ou de informação, o que acontece em Marrere é a ausência de cadastro


municipal actualizado e um banco de dados, capaz de satisfazer as preocupações dos cidadãos
relativamente ao número exacto da parcela atribuída, assim como, fiscal de obra, capaz de ler
e interpretar uma planta, esclarecendo os aspectos positivos e negativos do projecto ora
desenhado.

Entretanto, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula, concretamente no Departamento de


Urbanização e Gestão de Terra, a comunicação na instituição, não é das melhores, uma vez
que, reina elitismo, o que traz como consequência, a exclusão de funcionários com
competência profissional, apatia no desempenho das actividades, falta de motivação dos
técnicos, ausência de aplicação das leis do DUAT e a prática de actos ilícitos, o que propicia o
aumento de conflitos de uso e aproveitamento de terra em Marrere.
38

2.9.1. Resolução de conflitos

O artigo 4 da Constituição da República em vigor em Moçambique prevê o pluralismo


jurídico ao consagrar que o estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de
conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os
valores e os princípios fundamentais da Constituição.

Por este artigo entende-se que os conflitos de terra podem ser dirigidos por via formal, através
dos Tribunais Judiciais, e por via informal através de outras instâncias não judiciais de
resolução de conflitos.

No plano extrajudicial, onde são resolvidos a maior dos conflitos, podem-se recorrer as
seguintes instâncias:

 As comunidades locais Segundo a alínea b) do número 1 do artigo 24 da Lei de Terras,


nas zonas rurais, as comunidades participam na resolução de conflitos, utilizando,
entre outras, as normas e práticas costumeiras;
 Aos tribunais comunitários, criados pela Lei nº 4/92, de 6 de Maio, são parte
integrante do direito e da justiça oficiais, mas, por outro lado, a lei refere que eles
operam fora da organização judiciária. Estes localizam-se nas comunidades, os juízes
comunitários fazem parte da comunidade e julgam com base nos usos e costumes,
tendo em conta a diversidade étnica e cultural da sociedade;
 As associações não-governamentais (Liga dos Direitos Humanos, Centro de Práticas
Jurídicas, Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, Associações de Médicos
Tradicionais e, outras), entidades religiosas, as autoridades tradicionais (régulos,
curandeiros, chefes religiosos e outros), a polícia, os órgãos administrativos locais,
funcionam como instâncias de resolução de litígios.

Estas instâncias não judiciais têm recorrido a conciliação e a mediação, com vista a encontrar
uma solução por mútuo acordo de qualquer litígio (Lei nº 11/99, de 8 de Julho).

No plano judicial, em caso de conflito os cidadãos podem recorrer:

 Aos tribunais Administrativos quando o conflito ocorre entre Estado e particular, ou


por outra, se tem origem numa decisão das entidades competentes para autorização
dos pedidos, revogação da autorização provisória ou extinção do direito, o tribunal
39

competente é o Tribunal Administrativo, o qual já se pronunciou sobre vários conflitos


relacionados com a terra;
 Aos Tribunais comuns que têm igualmente apreciado e julgado um grande número de
casos relativos a conflitos entre particulares sobre direitos à terra. São a seguir
apresentados alguns casos, com o objectivo de analisar as diferentes abordagens
adoptadas, os argumentos legais e as soluções escolhidas.

2.9.2. Impacto dos Conflitos de Uso e Aproveitamento de Terra em Marrere

A Avaliação de Impacto é o processo de identificação das futuras consequências de uma


acção em curso ou proposta. O Impacto é a diferença entre o que aconteceria sem acção e o
que aconteceria com acção.

No Município de Nampula, concretamente em Marrere é o local onde surgem os conflitos de


uso e aproveitamento de terra. E estes conflitos vêm desde que a cidade foi municipalizada.
Mas ganhou mais ímpeto com a entrada de cidadãos estrangeiros que dia a pós dia procuram
terrenos para construção assim como para actividades económicas.

A matriz de análise dos elementos qualitativos ou quantitativos dos efeitos benéficos ou


malefícios dos conflitos de uso e aproveitamento de terra em Marrere são resultantes da acção
ineficaz empreendida pelos órgãos da Administração Municipal em Nampula.

Fazendo um balanço da natureza do impacto dos conflitos de uso e aproveitamento de terra


em Marrere, pode-se perceber que o mesmo foi de carácter negativo para os lesados, uma vez
que, algumas famílias, perderam as suas terras e benfeitorias, chegando-se ao ponto de se
levantar estado de tensão entre os Técnicos do Conselho Municipal, os secretários dos bairros
e a comunidade local.
40

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Como foi referenciado anteriormente, a análise e interpretação de dados terá como base a
avaliação das respostas colectadas através de entrevista com perguntas abertas, com finalidade
de perceber quais são as motivações que originam os conflitos de terra em Marrere.

Com base nesta inquietação, foram elaborados seis (06) questões para Membros da
Comunidade e sete (07) para Membros do Conselho Municipal, com vista a responderem os
objectivos desta pesquisa.

A análise das respostas teve como base a transcrição de respostas dos vinte e cinco (25)
entrevistados. Processo que seguiu a reprodução de textos sequenciados das respostas de cada
entrevistados, tendo sido posteriormente atribuído um código, que parte de um (01) a vinte e
cinco (25). Deste modo, para as entrevistas efectuadas aos Membros do Conselho Municipal
foram codificados em MCMN (n) o que significa Membro do Conselho Municipal de
Nampula; R (n) o que significa Regulo; MCM (n) significa Membro da Comunidade de
Marrere e (n) número dos entrevistados.

Em seguida agrupou-se as respostas semelhantes, o que facilitou o processo de análise. As


informações obtidas permitiram perceber a visão que a Comunidade de Marrere tem em
relação ao Conselho Municipal, a figura do Regulo na resolução de conflitos, assim como
perceber como é que o Régulo se sente diante da Comunidade e do Governo.

Neste caso, é de referir que os dados patentes nesta pesquisa reflectem os sentimentos dos
Membros da Comunidade de Marrere, colhidos das respostas às entrevistas efectuadas.

4.1. Conflitos de Terra

Como forma de melhor perceber-se acerca dos Conflitos de terra, formulou-se algumas
perguntas onde a partir das respostas fornecidas por estas, vai-se compreender até que ponto a
comunidade sabe desta temática. Para tal coloca-se as seguintes questões:

Já ouviu falar de Conflito de Terra?

Os entrevistados MCMN (1,2,3,4,5,6,7...........15) foram unânimes em afirmar que já ouviram


falar de Conflito de Terra.
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Nesta Bairro há Conflitos de Tarra?

Os entrevistados MCMN (1,2,3,4,5,6,7...........15), foram unânimes em afirmar que o Bairro


tem registado muitos Conflitos de Terra que já ouviram falar de Conflito de Terra.

Alguma vez já se envolveu em algum Conflito de Terra?

MCMN (10) diz que já se envolveu em conflito de terra em 2014, quando uma brigada técnica
do Conselho Municipal, composta por supostos técnicos apareceu fora da hora normal de
expediente e eram 18:00 horas, com lanternas, tendo parcelado a minha machamba, deste
modo, perdi a mesma. O cenário terminou, quando a brigada dos técnicos do Conselho
Municipal, foi perseguida com pedras e paus, por uma fúria de populares, o que culminou
com o cancelamento do Plano de Urbanização na minha U/C.

Na sua opinião o que leva a dupla ou tripla atribuição de terrenos?

MCM (1, 5, 7, 8, 15) afirmam que: a dupla atribuição de terrenos é o resultado da falta de
confiança dos técnicos afectos aos locais de trabalho por parte dos gestores da instituição.
Eles não devem passar por cima dos topógrafos. Eles acrescentam que outros técnicos
destacados por confiança política, sem dominar aspectos ligados a matéria topográfica,
originando conflitos e prática de actos ilícitos. No lugar de se atribuir talhões, os mesmos,
passaram a ser vendidos, aumentando cada vez mais os conflitos de terra, por incumprimento
das regras de demarcação e atribuição de talhões nas comunidades, fenómeno que têm se
registado até os dias de hoje.”

De acordo com a MCM (14), conta que no espaço onde era a sua machamba, o Conselho
Municipal de Nampula, fez demarcações sem prévia consulta, tendo perdida a sua machamba,
uma vez que, o espaço foi atribuído a outro munícipe que construiu a sua habitação.

4.2. Relações Existentes entre Autoridades Tradicionais e a Comunidade de Marrere

Como forma de melhor perceber-se as relações existentes entre as Autoridades Tradicionais e


a Comunidade, formulou-se um inquérito para os Membros da Comunidade e Régulos onde a
partir das respostas fornecidas por estas, vai-se compreender até que ponto estes se
relacionam. Para tal coloca-se o seguinte inquérito:
42

Já ouviu falar das Autoridades tradicionais (Régulo)?

Para esta questão todos os entrevistados responderam de forma semelhante ao afirmar que
sim, já ouviram falar do Régulo, o que indica que este é uma figura popular dentro da
comunidade.

MCM (1, 7 e 5) afirmam que: para além de ouvirmos falar, convivemos com o Régulo por ser
um individuo que se encontra perto de nós como vizinho e familiar.

MCM (2, 3, 4, e 6) afirmaram que: O Régulo é nosso amigo, mesmo o seu Pai a quem ele
sucedeu era amigo. Por isso não se trata somente de ouvir falar, mas sim de uma figura que
vive connosco.

O que entende por Autoridades Tradicionais (Régulo)?

Respondendo a questão, os entrevistados entende-as como figuras reconhecidas ao nível da


comunidade, indivíduos responsáveis pela comunidade e que resolvam e apresentam os
problemas da comunidade a nível das hierarquias superiores.

MCM (1, 3, 14 e 5) definem eles que: As Autoridades Tradicionais são as pessoas que mais
respeitamos dentro da comunidade e que orientam-nos a viver de forma pacífica. São elas que
resolvem os nossos problemas, consideramos elas como os Pais da Comunidade.

MCM (2, 4 e 15) definem que: As Autoridades Tradicionais são os presidentes ou Deuses
(Mulucu) das nossas Comunidades, que trabalham para manter os nossos hábitos e costumes e
é neles que reportamos as nossas preocupações.

Alguma vez se beneficiou dos serviços do Régulo?

Respostas dadas indicam que quer, seja de forma individual ou colectiva os entrevistados já
viram os seus problemas a serem resolvidos com o Régulo.

MCM (2, 3 e 5, 9 e 13) enaltecem que: Se não fosse o esforço de Régulo que contactou o
conselho Municipal para junto com ele actualizar os limites das Machambas, nós estaríamos
sem campo de produção de comida a favor de um grupo de Chineses, Nigerianos que queriam
nos arrancar as nossas Machambas. E Têm feito grande ajuda para todos, o exemplo de
pedidos que ele faz ao Governo em nome da comunidade, como abastecimento de Água
potável assim como a instalação de corrente ecléctica para as populações.
43

MCM (2, 3, 4, 12 e 14) reconhecem ter-se beneficiado dos serviços do Régulo: Tivemos
grandes problemas na delimitação das de Varias áreas ocupação desregrada, e só foi com a
intervenção do Régulo que conseguimos resolver e recuperar as nossas terras uma vez que ele
conhece os limites ocupados por alguns investidores. Não foi fácil mas ele teve que lutar para
defender a invasão da sua comunidade. Ele luta bastante para beneficiar todos.

Alguma vez foi ouvido ou consultado algo em matéria de conflitos existentes em


Marrere?

MCM (6,7,8,11, 12) afirmaram que: acerca dos conflitos de terra, as comunidades não foram
ouvidas e nem respeitadas em matéria de resolução de conflitos. Em alguns casos os
investidores nem chegaram a ter contacto directo com as comunidades utilizaram o régulo
como vínculo intermediário entre os investidores e as comunidades.

Na sua opinião o Município tem satisfeito as vossas necessidades?

MCM (1,2, 3, 4, 5,6,7,8,11, 12 e 14) afirmaram que não estão satisfeitos com a edilidade
porque têm registado muitos problemas na demarcação de talhões. O terreno não se aumenta
mas as pessoas estão a aumentar, eu tenho filhos e os meus filhos têm filhos, e todos estes têm
que conviver no mesmo espaço.

MCM (9,10,13 e 15) afirmaram que o município tem satisfeito algumas questões mas em
matéria de terras não tem satisfeito a 100% porque os benefícios Vindos do Município só
beneficiam os ricos em detrimento dos pobres.

MCM (6,7,8,11, 12) afirmaram que: acerca dos conflitos de terra, as comunidades não foram
ouvidas e nem respeitadas em matéria de resolução de conflitos. Em alguns casos os
investidores nem chegaram a ter contacto directo com as comunidades utilizaram o régulo
como vínculo intermediário entre os investidores e as comunidades.

Há quanto tempo é Régulo?

Em relação a questão colocada, constatou-se que todos os Régulos entrevistados têm uma
média de dez (05) Anos exercendo este cargo, outros como sucessores dos Pais e outros de
Irmãos.

R (1 e 2) afirmam que: Estamos a 08 e 14 Anos, como Régulos, em substituição de Pai e


Irmão.
44

R (1 e 2) afirmam que: Estamos a 06 e 11 Anos, como Régulos, em substituição do Irmão.

Como é que se relaciona com a Comunidade?

Os Régulos defendem que para se sentir juntos com a sua População têm convocado reuniões
para obter informações de tudo o que acontece na Comunidade e informá-la de eventuais
acontecimentos a terem lugar dentro da mesma. E estão sempre abertos para ouvir e resolver
as preocupações da Comunidade.

R (1 e 2) afirmam que: temo-nos reunido com a Comunidade, como forma de promover a


comunicação e é desta forma que devemos trabalhar porque nós representamos a Comunidade
e fizemos tudo para o bem dela.

R (2) acrescenta que: Se não existisse a Comunidade eu não teria espaço para trabalhar, por
isso é nela que devo-me juntar e buscar apoio de modo que juntos solucione-mos os nossos
problemas. Por isso que, antes de tomar decisões reúno-me com a minha População para
tomarmos decisões unânimes.

4.3. Acção Levadas a Cabo pelas Autoridades Tradicionais para Poder Ligar a
Comunidade e o Conselho Municipal de Nampula

É de extrema importância identificar o trabalho feito pelas Autoridades Tradicionais de


Marrere, no sentido de ligar a Comunidade e o Conselho Municipal. Para tal, far-se-á análise
das respostas fornecidas pelos entrevistados (Régulos), partindo das seguintes questões:

Como é que se relaciona com o Conselho Municipal?

Os posicionamentos dos Régulos mostram que têm se reunido frequentemente com o


Governo, porque eles representam uma pequena parcela do Bairro assim como da Cidade,
mas não têm recursos para sustentar as necessidades que assolam a Comunidade e nem todos
os problemas que cabem a decisão deles. Por isso, sempre pedem o apoio de Governo para
lhes ajudar na resolução de diversas preocupações que existem dentro das áreas das suas
jurisdições. Além disso, o Governo nada pode fazer dentro da Comunidade sem o
conhecimento prévio dos Régulos. Esta relação justifica-se, pelo facto de que constantemente
reúne-se no sentido de o Governo auscultar dos Régulos as preocupações que assolam a
Comunidade e em conjunto traçar as melhores formas de soluciona-las.
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R (2) sustenta que: apenas represento a Comunidade, não tenho muita coisa para ajudar no
caso de existirem preocupações. Por isso peço sempre a colaboração de Governo. O governo
tem-se reunido connosco para saber dos nossos problemas e nos informar dos projectos que
pretende desenvolver nas nossas Comunidades.

R (1 e 2) sustentam que: Sempre contamos com a colaboração do Governo para nos ajudar a
resolver os problemas que a Comunidade enfrenta. Sempre nos preocupamos em fortificar as
nossas relações, de modo, a nos manter informados uns aos outros a cerca de tudo o que
acontece ou que se pretende realizar.

O que faz para ligar a Comunidade com o Conselho Municipal?

Os Régulos confirmaram que lutam para estabelecer fortes relações entre o Governo e a
Comunidade através das auscultações dos problemas que afectam a População e a posterior
apresentação destes ao Governo. E como resposta disso, muitos problemas apresentados
foram reduzidos pelos esforços efectuados pelo Governo e nota-se agora a intervenção deste
na resolução dos problemas comunitários.

R (1 e 2) afirmam que: temos apresentado os pedidos da Comunidade para o Governo, e a


partir de momento que este aparece para satisfazer os tais pedidos sentimo-nos a ligar os Dois.
Além disso nós sempre informamos e encaminhamos a palavra do Governo até as zonas onde
ele não chega.

R (2) afirma que: A minha grande função é de ligar os Dois porque não estou em condições
de sozinho resolver os problemas da Comunidade. Por isso, sempre levo preocupação de
Comunidade e informo ao Governo e também apresento a Comunidade as respostas dadas
pelo Governo.

4.4. Informações sobre os conflitos de terra em Marrere

Quantas unidades comunais o bairro de Marrere tem?

MCMN (1,2,3,4,5,6,7) todos afirmam que tem 6 Unidades Comunais.

Quantos talhões são distribuídos por ano?

MCMN (2 e 6), Dizem que são 250 talhões distribuídos por ano.

MCMN (1) diz que são mais ou menos 300.


46

E com estas duas respostas fica claro que há falta de comunicação institucional.

A distribuição de talhões tem sido regular?

MCMN (2) diz que a distribuição de terrenos ou talhões tem sido regular.

MCMN (1) diz que não tem sido regular porque a demanda ou seja a procura é maior e a
capacidade de resposta pelo município é menor.

Mais uma vez fica evidente que há falta de comunicação institucional.

No processo de demarcação e atribuição de talhões, as autoridades locais são inclusas?

MCMN (1,2,3,6,7), afirmam que: as autoridades locais são envolvidas sim para garantir o
pagamento das compensações das benfeitorias as populações e não só a interacção com as
comunidades.

Em que circunstâncias ou moldes ocorrem os conflitos?

MCMN (1 e 2), dizem que os conflitos ocorrem no acto de parcelamento, e também no acto
de pagamentos das compensações das benfeitorias as populações nativas. Os nativos não
concordam com os valores oficiais que devem ser pagos sobre as benfeitorias.

Quem são os envolvidos nos conflitos?

MCMN (1,2,3,4,5,6,7), afirmam que são os nativos que muitas das vezes saem a perder.

Qual e a natureza dos conflitos existentes no bairro de Marrere?

MCMN (1,2,3,4,5,6,7), foram unânimes ao afirmarem que: os conflitos existentes em


Marrere, são de carácter público e privado. Conflito público porque manifesta-se através da
dupla atribuição de terreno, ou seja, licença passada para duas pessoas com o mesmo número
de talhão, licença emitida pelo Município. Mas existem também conflitos privados, que
manifestam-se quando o nativo, isto é, dono da terra, vende a duas pessoas através de acordos
particulares. No tocante as vítimas de conflitos, são todas as pessoas de todos estratos sociais,
exceptuando as crianças. Os burladores não escolhem suas vítimas ao acaso, eles estudam a
pessoa, vão enganando até convencê-los a pagar pelo terreno.
47

Quais as formas utilizadas para a resolução de conflitos de terra?

MCMN (1,2 e 6) diz que tem sido via negocial e se não se achar a solução recorre-se aos
órgãos judiciais.

MCMN (1) afirmou que na via negocial aquele que foi o primeiro a obter a licença, fica com
o terreno, e o segundo, é atribuído outra parcela, caso haja talhões na mesma zona ou em
outra zona distinta. Caso a pessoa não se sinta satisfeito com a decisão, aconselha-se a
recorrer ao tribunal administrativo. Também, afirmou que o Conselho Municipal de Nampula,
não possui cadastro de conflitos de dupla atribuição de terreno.

Quais as Leis que usam nos conflitos de terra? Leis costumeiras, Lei formal ou Lei
Mista?

MCMN (1,2,3,4,5,6 e 7) afirmaram que tem sido usada a lei mista, porque para resolver estes
conflitos nós convidamos os líderes comunitários e religiosos. Primeiro, vamos ao terreno,
avaliamos e, dependendo do caso, fazemos uma divisão por igual e as duas partes ficam
satisfeitas e, em caso de dificuldades, os casos são reportados aos tribunais comunitários, com
conhecimento do Conselho Municipal e, posteriormente, ao tribunal judicial da cidade. Os
líderes comunitários têm o papel de auscultar as partes envolvidas, visitar o espaço em disputa
e deliberar sobre o processo.

Que papéis têm o governo na resolução e prevenção de conflitos de terra?

MCMN (1,4,6,7), afirmaram que o governo papel tem um papel preponderante na resolução e
prevenção de conflitos porque garante os direitos de uso e aproveitamento da terra adquiridos
por ocupação e facilitar o acesso à terra para o investimento, tanto nacional como estrangeiro;
tem envolvimento de cidadãos na alocação de novos direitos; tem fiscalizado os DUATs:
identificação de terras na situação de ociosidade, cancelamento e redimensionamento em caso
de infracções e tem tomado medidas em casos de venda de terras e de ocupações ilegais, isto
para evitar sucessivos casos de conflitos.

MCMN (2,3 e 4), dizem que para prevenir ou evitar conflitos de terra o governo tem
assegurado a posse de terra para as comunidades; Assegurar as terras para as comunidades
tem em vista criar as bases para que as comunidades não percam as suas terras quando
venham investidores a se interessarem pela terra da comunidade; Sendo assim, o processo de
delimitação, para além de reconhecer os limites da terra da comunidade, procura realizar
48

actividades adicionais que contribuem para fortalecer a comunidade em termos de


conhecimento das leis de terras.
49

Conclusão

Têm surgido conflitos sobre a posse da terra, resultantes da corrupção, fragilidade da


legislação sobre a sua posse e erros nas políticas de governação, que afectam os interesses das
populações em relação ao seu acesso e uso. A distribuição da terra em Marrere ainda não se
faz de forma a permitir que as populações beneficiem da mesma para realizar as suas
actividades económicas de forma adequada.

O conjunto de leis actuais em Moçambique afirma que a terra é do Estado, mas no concreto,
sempre que há interesses empresariais de vulto, recorre-se a uma autêntica expropriação da
terra, mesmo quando esta está a ser utilizada pelas comunidades rurais para sua agricultura de
subsistência ou outra actividade. Acresce ainda que as multinacionais acabam por ter acesso
às terras comunitárias, impedindo assim as famílias de realizarem a sua actividade agrícola.
Outro factor prende-se com a alocação de terras a pessoas consideradas de elite e que
açambarcam grandes extensões da mesma sem, no entanto, realizarem qualquer investimento.
Tais terras pertencem às comunidades rurais que se vêem privadas de sua utilização pacífica.
Este ambiente tem criado tendência de implantação de uma relação de cima para baixo nos
projectos e programas privados desenhados a nível nacional sem a participação verdadeira das
pessoas no local. Estas características muitas vezes não são compatíveis com a construção
duma parceria genuína, ficando a população rural sem espaço para decidir sobre o seu próprio
futuro em condições favoráveis para ela. Aliás o direito público comunitário consagrado na
legislação sobre terras, artigo 13 ponto 3, relativo à consulta comunitária, se não ignorada, é
deficiente.

Existe uma continuidade na questão dos conflitos de terra entre o período colonial e o período
pós-independência. As comunidades rurais foram tratadas como sujeitos de importância
secundária. Os camponeses continuam desprovidos de instrumentos de defesa face aos
assaltos que ocorrem à sua terra.

Durante a pesquisa, foi notório a problemática dos conflitos de uso e aproveitamento de terra
no Município de Nampula, concretamente no bairro de Marrere. Ficou clara e evidente que, o
não cumprimento das normas emanadas pelo estado moçambicano, tendo em conta, a
formação ou capacitação dos técnicos, reestruturação do sector, domínio da legislação
vigente, implantação dos planos de urbanização e ineficiência na comunicação institucional,
são os principais catalisadores dos conflitos de terra em Moçambique e consequentemente em
50

Marrere. Existem diferentes interesses políticos, económicos, sociais e culturais à volta da


terra que podem condicionar o surgimento de conflitos entre os diferentes utilizadores. Os
estudos de caso acima apresentados podem ajudar o leitor na compreensão dos tipos de
conflitos sobre a ocupação da terra existentes no país, suas causas, actores envolvidos, tipo de
direitos reivindicados e as formas de resolução mobilizadas em cada contexto.

No geral, o desconhecimento dos marcos e a não-observância dos limites, as normas de


sucessão e herança vigentes segundo a sociedade (matrilinear ou patrilinear), a venda de terras
no meio urbano, as deficiências na realização das consultas comunitárias no âmbito dos
projectos de investimento, a fraca capacidade institucional de aplicar a Lei de Terras,
sobretudo quando há interesses económicos poderoso envolvidos, as alianças clientelistas
feitas por algumas elites ligadas ao sistema do poder junto aos investidores, as difíceis
condições em que as famílias reassentadas se encontram nos novos espaços e as
compensações e indemnizações, que nem sempre correspondem ao valor real das
propriedades das famílias (culturas, habitações, lugares sagrados e de culto), estão entre as
principais causas dos conflitos.

Qualquer uma das formas de ocupação da terra previstas por lei (costume, boa-fé e DUAT) é
susceptível de provocar conflitos de terra. As áreas disputadas podem ser machambas
familiares ou singulares, áreas abandonadas de antigas empresas estatais, ocupadas pela
população e, actualmente, concessionadas aos investidores privados.

Portanto, existem vários problemas no Departamento de Urbanização e Gestão de Terra, mas


que a maior parte deles, estão ligados à implementação de um sistema burocrático que impede
o cumprimento das metas, no concernente a entrega de títulos de uso e aproveitamento de
terra, que vai desde o depósito bancário até a transcrição do despacho.
Por fim, leva-nos também a admitir que, enquanto permanecer a actual metodologia de
trabalho no processo de demarcação e atribuição de terrenos, os problemas resultantes do
Direito do Uso e Aproveitamento de Terra, continuarão a ser uma realidade na maioria dos
conflitos em Marrere.
51

Sugestões

O Conselho Municipal de Nampula, como uma instituição da administração pública local, não
esta isenta de princípio de servir mais e melhor os munícipes desta autarquia.

Neste sentido, avança-se com algumas sugestões que possam melhorar o desempenho do

Departamento de Urbanização e Gestão de Terra do Conselho Municipal de Nampula, para


uma melhor gestão dos conflitos de uso e aproveitamento de terra e sugere-se o seguinte:

 Melhorar a metodologia de trabalho no processo de parcelamento e atribuição de


talhões, através da montagem de uma estrutura sólida e capacitá-la;
 Desencorajar a prática de actos ilícitos por parte dos funcionários do Conselho
Municipal de Nampula;
 Eliminar o sistema burocrático no acto de concessão de títulos de uso e
aproveitamento de terra que vai desde o depósito bancário até a emissão do documento
formal exigido;
 Desenvolver e implementar os planos de urbanização ao nível do Conselho Municipal
de Nampula, através de uma injecção financeira para o efeito;
 Melhorar o cadastro urbano para o controle de limites;
 Promover encontros e/ou capacitação aos funcionários, com vista a divulgação das leis
vigentes no DUAT;
 Promover encontros e/ou capacitação aos funcionários, com vista a divulgação das leis
vigentes no DUAT;
 Fazer valer a legislação de terra, como forma de responder as exigências do actual
momento que a instituição atravessa;
 Que forme os líderes comunitários (régulos, mambos, chefes dos quarteirões, chefes
de 10 casas) em matérias sobre legislação de terra e da família para todos bairros da
cidade de Nampula com especial atenção para o bairro de Marrere, uma vez que estes
constituem a primeira estrutura de resolução dos conflitos de terras. Por outro lado,
esta capacitação revelar-se-á importante para evitar casos de violação do direito dos
cidadãos a terra muitas vezes praticados com base na lei costumeira;
 Garantir a assistência jurídica gratuita às comunidades em casos de conflito, disputa de
terra ou outros recursos, entre as comunidades e os investidores de modo a assegurar
que os direitos e interesses das comunidades são devidamente respeitados;
52

 Sugere-se que sejam promovidas campanhas de consciencialização para a denúncia de


casos de usurpação ou dupla atribuição de terrenos;
 Deve ser promovida a legalização das parcelas de terras comunitárias, embora não seja
exigência da lei, permite uma maior segurança jurídica;
 Consciencializar e capacitar as comunidades locais em matéria de lei de terra;
 Capacitar as autoridades governamentais locais e juízes comunitários em matéria da
lei de terra;
 É necessário que durante os processos de consulta pública se exijam as actas assinadas
dos referidos encontros e que sejam firmados contractos que detalhem todas as
promessas feitas às comunidades, bem como os prazos para o cumprimento das
mesmas com sanções propostas para o caso de incumprimento;
 Haja envolvimento das comunidades desde o início, em qualquer processo que possa
resultar no reassentamento das mesmas, desde a escolha do local até ao tipo de infra-
estruturas a ser implantadas; este envolvimento deve ser abrangente para evitar
situações de corrupção e abuso de poder por parte dos líderes comunitários ou pessoas
em posições de poder; e garantir que o local e as condições de reassentamento sejam
melhores do que anteriormente, respeitando o seu modo de vida e necessidades para
assegurar a sua sustentabilidade;
 Definir as áreas disponíveis para quaisquer novos investimentos, com clara distinção e
definição de áreas comunitárias, diferenciando entre pequenos e médios
investimentos; e
 Estabelecer mecanismos que permitam uma monitoria mais eficiente sobre todo o
processo de estabelecimento de investimentos a nível local e interacção com as
comunidades locais, de modo a evitar futuros conflitos.
53

Referências bibliográficas

Fontes orais
N/o Código dos Profissão ou Ocupação Instituição Sexo
entrevistados
01 MCMN1 Planeador Físico CMCN- DUGT- Litígios M
02 MCMN2 Secretário do Bairro de CMCN- Direcção Social M
Marrere de Marrere
03 MCMN3 Geógrafa CMCN- DUGT- F
Concessão e Controlo
de Uso de Terra

04 MCMN4 Chefe do Gabinete Técnico CMCN- DUGT- M


Urbanismo
e Cadastro

05 MCMN5 Motorista CMCN- DUGT- F


Fiscalização
06 MCMN6 Chefe do Posto de Natikire CMCN- PAN M
07 MCMN7 Mapeador CMCN- DUGT- F
Urbanismo
e Cadastro

08 MCM1 Funcionário Público Incaju M


09 MCM2 Reformado MADEMO M
10 R1 Regulo Marrere M
11 MCM3 Comerciante Mercado local
12 MCM4 Doméstica Moradora de Marrere F
13 MCM5 Carpinteiro Conta Própria
14 MCM7 Comerciante Mercado local F
15 MCM6 Docente universitário Unilúrio
16 MCM7 Enfermeira Hospital de Marrere F
17 R2 Régulo Marrere M
54

18 MCM8 Polícia de Transito MINT M


19 MCM9 Electricista EDM M
20 MCM10 Professora EPC de Marrere F
21 MCM11 Militar AMCMM
22 MCM12 Estudante Universitário UCM F
23 MCM13 Docente Escola Secundaria de M
Natikire
24 MCM14 Doméstica Moradora de Marrere F
25 MCM15 Camponês Moradora de Marrere M

Fontes escritas

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eAproveitamento da Terra e os Conflitos Emergentes em Moçambique. Tese (Doutorado em
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Decreto-Lei que Aprova a Lei de Terras. In: Boletim da República, I Série-Número 40, de 7
de Outubro de 1997.

Decreto-Lei que Aprova o Regulamento do Solo Urbano. In: Boletim da República, I Série-
Número 51, de 26 de Dezembro de 2006.

Decreto-Lei que Aprova o Regulamento da Lei de Terras. In: Boletim da República, I Série-
Número 48, de 8 de Dezembro de 1998.
57

Lei 2/97 de 18 de Fevereiro – Aprova o quadro jurídico para a implantação das autarquias
locais.

Lei nº 11/99, de 8 de Julho. Lei da Arbitragem, Conciliação e Mediação.

Legislação Sobre Descentralização 2009-2012. Disponível em: http://www.mae.gov.mz.


Arquivo acesso em 1 de Março de 2017.

Regulamento do solo urbano em Moçambique. Disponível em: https://www.google.co.mz.


Arquivo acesso em 1 de Março de 2017.
58

Apêndices
59

Apêndice I: Guia de entrevista dirigida aos moradores de Marrere.


A presente entrevista é parte integrante da recolha de dados para a elaboração do trabalho do
fim do curso (Monografia) do discente Assane Alberto Chamacame estudante da
Universidade Pedagógica Delegação de Nampula no curso de História Política e Gestão
Pública (HIPOGEP) com Habilitações em Gestão de Unidades Territoriais.Com o seguinte
tema: conflitos de Terra: Estudo de caso do Bairro de Marrere(2013 á 2016).

Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.
Eis, a seguir as questões por responder:

Já ouviu falar de Conflito de Terra?

Nesta Bairro há Conflitos de Tarra?

Alguma vez já se envolveu em algum Conflito de Terra?

Já ouviu falar das Autoridades tradicionais (Régulo)?

O que entende por Autoridades Tradicionais (Régulo)?

Alguma vez se beneficiou dos serviços do Régulo?

Alguma vez foi ouvido ou consultado algo em matéria de conflitos existentes em Marrere?

Na sua opinião o Município tem satisfeito as vossas necessidades?


60

Apêndices II: Guia de entrevista dirigida aos Régulos de Marrere.


A presente entrevista é parte integrante da recolha de dados para a elaboração do trabalho do
fim do curso (Monografia) do discente Assane Alberto Chamacame estudante da
Universidade Pedagógica Delegação de Nampula no curso de História Política e Gestão
Pública (HIPOGEP) com Habilitações em Gestão de Unidades Territoriais.Com o seguinte
tema: conflitos de Terra: Estudo de caso do Bairro de Marrere (2013 á 2016).

Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.
Eis, a seguir as questões por responder:

Há quanto tempo é Régulo?

Como é que se relaciona com a Comunidade?

Como é que se relaciona com o Conselho Municipal?

O que faz para ligar a Comunidade com o Conselho Municipal?


61

Apêndices III: Guia de entrevista dirigida aos membros do Conselho Municipal de


Nampula
A presente entrevista é parte integrante da recolha de dados para a elaboração do trabalho do
fim do curso (Monografia) do discente Assane Alberto Chamacame estudante da
Universidade Pedagógica Delegação de Nampula no curso de História Política e Gestão
Pública (HIPOGEP) com Habilitações em Gestão de Unidades Territoriais.Com o seguinte
tema: conflitos de Terra: Estudo de caso do Bairro de Marrere (2013 á 2016).

Nome Completo_______________________________________Idade________Sexo______.
Profissão ou Ocupação_______________________________________________________.
Instituição __________________________________________________________________.

Eis, a seguir as questões por responder:

Quantas unidades comunais o bairro de marrere tem?

Quantos talhões são distribuídos por ano?

A distribuição de talhões tem sido regular?

No processo de demarcação e atribuição de talhões, as autoridades locais são inclusas?

Em que circunstâncias ou moldes ocorrem os conflitos?

Quem são os envolvidos nos conflitos?

Qual e a natureza dos conflitos existentes no bairro de Marrere?

Quais as formas utilizadas para a resolução de conflitos de terra?

Quais as Leis que usam nos conflitos de terra? Leis costumeiras, Lei formal ou Lei Mista?

Que papéis têm o governo na resolução e prevenção de conflitos de terra?


62

Apêndices IV: Peloiro que lida com a gestão de Terra

Fonte: Autor da Pesquisa


63

Apêndices V: Posto Administrativo de Natikire

Fonte: Autor da Pesquisa


64

Apêndices VI: Direcção Social de Marrere


65

Fonte: Autor da Pesquisa


66

Apêndices VII: Exemplo de algumas obras embarcadas devido ao conflito de Terra

Fonte:Autor da Pesquisa
67

Anexos
68

Glossário
Para efeitos da presente monografia, entende-se por:

 Landgrab- Usurpação de terras.


 Habitat- área ecológica ou ambiental que é habitada por uma determinada espécie de
animal, planta ou outro organismo.
 Comunidade local: agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa
circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de
água e áreas de expansão.
 Direito de uso aproveitamento da terra: direito que as pessoas singulares ou
colectivas e as comunidades locais adquirem sobre a terra, com as exigências e
limitações da Lei de terra.
 Domínio público: áreas destinadas à satisfação do interesse público.
 Exploração florestal: actividade de exploração da terra visando responder às
necessidades do agregado familiar, utilizando predominantemente a capacidade de
trabalho do mesmo.
 Licença especial: documento que autoriza a realização de quaisquer actividades
económicas nas zonas de protecção total ou parcial.
 Mapa de uso da terra: carta que mostra toda a ocupação da terra, incluindo a
localização da actividade humana e os recursos naturais existentes numa determinada
área.
 Ocupação: forma de aquisição de direito de uso e aproveitamento da terra por pessoas
singulares nacionais que, de boa-fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos dez anos,
ou pelas comunidades locais.
 Pessoa colectiva nacional: qualquer sociedade ou instituição constituída e registada
nos termos da legislação moçambicana com sede na República de Moçambique, cujo
capital social pertença, pelo menos em cinquenta por cento a cidadãos nacionais,
sociedades ou instituições moçambicanas, privadas ou públicas.
 Pessoa colectiva estrangeira: qualquer sociedade ou instituição constituída nos
termos de legislação moçambicana ou estrangeira, cujo capital social seja detido em
mais de cinquenta por cento por cidadãos, sociedades ou instituições estrangeiras.
 Pessoa singular nacional: qualquer cidadão de nacionalidade moçambicana.
69

 Pessoa singular estrangeira: qualquer pessoa singular cuja nacionalidade não seja
moçambicana.
 Plano de exploração: documento apresentado pelo requerente do pedido de uso e
aproveitamento da terra, descrevendo o conjunto das actividades, trabalhos e
construções que se compromete a realizar, de acordo com determinadocalendário.
 Plano de uso da terra: documento aprovado pelo Conselho de Ministros, que visa
fornecer, de modo integrado, orientações para o desenvolvimento geral e sectorial de
determinada área geográfica.
 Plano de urbanização: documento que estabelece a organização de perímetros
urbanos, a sua concepção e forma, parâmetros de ocupação, destino das construções,
valores patrimoniais a proteger, locais destinados à instalação de equipamento,
espaços livres e o traço esquemático da rede viária e das infra-estruturas principais.
 Propriedade da terra: direito exclusivo do Estado, consagrado na constituição da
República de Moçambique, integrando, para além de todos os direitos do proprietário,
a faculdade de determinar as condições do uso e aproveitamento por pessoas
singulares ou colectivas.
 Requerente: pessoa singular ou colectiva que solicita, por escrito, autorização para
uso e aproveitamento da terra ao abrigo da Lei de terra.
 Titular: pessoa singular ou colectiva que detém o direito de uso e aproveitamento da
terra, ao abrigo duma autorização ou através de ocupação.
 Título: documento emitido pelos serviços Públicos de Cadastro, gerais ou urbanos,
comprovativo do direito de uso e aproveitamento da terra.
 Zona de protecção da natureza: bem de domínio público, destinado à conservação
ou preservação de certas espécies animais ou vegetais, da biodiversidade, de
monumentos históricos, paisagísticos e naturais, em regime de maneio
preferencialmente com a participação das comunidades locais, determinado em
legislação específica.

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