I
IPAF – Instituto de Psicologia Aplicada e Formação (Brasil / Portugal)
RESUMO
ABSTRACT
The object of study of this article describes the psychotherapy process supported in
the Social Historical Approach. The goal of psychotherapy, the general techniques
of intervention, and the theoretical approach are developed in this article showing
how the group of psychotherapists and psychologists of IPAF – Institute of Applied
Psychological and Training work. These professionals work with their clients using
the Social-Historical Approach. Concepts as Zone of Proximal Development,
conscience, language, activity, and human being development are applied in the
Psychotherapy Process.
Numa primeira fase, este projeto baseou-se no trabalho clínico de Rita Mendes Leal
nas décadas de 70 e 80, onde uma teoria de mudança deriva da relação entre
terapeuta e paciente, como recurso os instrumentos mediadores, tais como, os
brinquedos e a linguagem.
Assim, a psicoterapia é reconhecida como uma construção mútua. Tal como escrito
em relação à Psicologia do Desenvolvimento, Educacional, Social, também em
contexto clínico e psicoterapêutico, a zona de próximo desenvolvimento é um
“ local mágico onde as mentes se encontram, onde as coisas não são iguais para
todos os que as vêem, onde os significados são fluidos, e onde a construção de um
indivíduo pode preencher a de outro...” (Newman, Griffin e Cole, 1989, p227).
Através da internalização, as formas interpsicológicas (sociais / relacionais) são
transferidas para as formas intrapsicológicas (pessoais) de significados.
Para isto, o psicoterapeuta utiliza técnicas gerais e específicas, tais como análise
contingente, compreensão empática e nomeação, criando uma relação onde o
paciente pode construir novos significados e sentidos, lidando com as suas
necessidades e motivos. Isto facilita e/ou promove os processos de formação
partilhada e o registro individual de significados: consentidos pelo próprio, na
relação com uns outros e apontados ou nomeados por ambos como algo exterior.
Modelos concretos de trocas recíprocas e alternantes entre eventos /coisas
/indivíduos são indicadores de atenção alocada, gerando tensão e sugerindo uma
busca partilhada para a compreensão do significado da ocorrência de eventos em
vai-e-vem.
Tal como escreveu Aléxis Leontiev (1972), “ o verdadeiro problema não está na
aptidão ou inaptidão das pessoas para se tornar dono das aquisições da cultura
humana, fazer delas aquisições da sua personalidade e dar-lhes a sua contribuição.
A essência do problema é que cada humano tenha a oportunidade prática de tomar
o caminho de um desenvolvimento sem bloqueios” (p. 283).
Esta idéia pode ser encontrada em Rita Leal a qual enfatiza que cada humano pode
tornar-se mais feliz, inteligente e produtivo, se o ambiente social e relacional lhe
fornecer uma relação recíproca e alternante e a oportunidade para apreender a
cultura. Para que a realidade do mundo envolvente – o mundo dos objetos – ganhe
da existência para o humano, são necessárias duas condições: 1) que o humano
exerça uma atividade efetiva sobre os objetos, uma atividade efetiva relativamente
aos fenômenos objetivos ideais criados pelo humano – a linguagem, os conceitos e
as idéias, produtos da sua história. Para entender os eventos da sua própria vida, é
também necessário que o humano exerça uma atividade efetiva sobre esses
eventos, um produto da sua história. Podemos encontrar esta concepção em Rita
Leal, com a instrução técnica terapêutica de que o psicoterapeuta deve esperar pela
iniciativa e pelo tema do paciente e este deve verbalizar o evento; 2) Rita Leal
(1975) identifica também a uma segunda condição de Leontiev: a comunicação,
encarada na sua forma inicial de atividade partilhada ou na relação verbal
intensamente estudada por ela e objetivamente apresentada como o padrão inato
de contingência à própria iniciativa.
A interação externa dos humanos com outros humanos se for alterada, alterar-se-á
a consciência, atitude do humano com o meio, consigo próprio e com os outros.
Certamente não refiro que o paciente é uma criança. Mas alguns aspectos do seu
Eu, a sua consciência dos Outros e a sua consciência das relações com os eventos
da vida não estão ainda na sua consciência e não permitem que ele tome a sua
vida nas suas mãos, o que significa que a resposta reflexiva não é ainda uma
atitude. O desenvolvimento de si próprio pode ser indicador da maturidade, da
personalidade.
Como aparece nos trabalhos de Vygotsky e Luria é através do discurso, que uma
função interpsicológica partilhada por duas pessoas, mais tarde se transforma num
processo intrapsicológico de organização da atividade humana e, o humano
controla a resposta impulsiva à estimulação externa e o seu comportamento passa
a ser determinado por uma “ rede semântica interna” (Vygotsky e Luria, 1999,
p.221) e que reflete, geralmente, a situação envolvente, reformula os motivos que
estão na base do comportamento e dá o caráter consciente à atividade humana.
No trabalho psicoterapêutico, o paciente modifica o campo psicológico ou cria para
si próprio uma nova situação no seu campo e muda o seu estado, absente de
sentido, num outro, com sentido.
Luria refere (1976) que nós podemos realmente acreditar que a autoconsciência é
um produto do desenvolvimento sócio-histórico. Primeiro o comportamento é um
reflexo da realidade externa natural e social; mais tarde, através da influência
mediadora da linguagem, podemos encontrar a autoconsciência nas suas formas
complexas. Desta forma, temos que olhar para a autoconsciência como um produto
da consciência do mundo externo, do Eu e dos Outros.
Como escreveu Luria (1981), “ uma palavra pode ser utilizada para se referir a
objetos e para identificar propriedades, ações e relações. As palavras organizam as
coisas em sistemas. Ou seja, as palavras codificam a nossa experiência” . (Luria
1981, apud Robbins, 2003, p.126).
Claro que nós temos diferentes tipos de trabalho com diferentes grupos de
pacientes. Até porque diferentes grupos têm diferentes usos da palavra, do
significado e do sentido e, diferentes histórias, que produzem diferentes culturas.
Nós podemos reconhecer um enorme trabalho utilização de signos na psicose,
particularmente signos das próprias emoções: de construção de significados na
psicopatia, particularmente sobre os outros, e de sentidos na neurose,
particularmente sobre eventos da própria vida, mas a atitude é semelhante em
ambos os grupos.
Relacionando a teoria com a sua prática clínica em nível das psicoses, neuroses,
psicopatias e depressões, o seu trabalho tornou-se uma escola, o IPAF – Instituto
de Psicologia Aplicada e Formação, com largas centenas de psicoterapeutas, em
Lisboa, São Paulo, Madrid e Moscou; um congresso anual e uma revista científica, o
“ Jornal de Psicologia Clínica” .Esperamos encontrar outros colegas da abordagem
sócio-histórica que trabalhem na psicoterapia com adultos e partilhar com eles o
nosso trabalho. Eternamente, temos uma forte gratidão por Rita Mendes Leal, de
Lisboa, Elena Kravtova, Gita Vigodskaia, Janna Glozmann, Tatiana Akhutina, da
Rússia, Dorothy Robbins, dos EUA, Bella Kotik, de Israel, Serena Vagetti, da Itália e
muitos outros amigos que muitos nos têm ajudado a melhorar o nosso trabalho.
Referências bibliográficas
• Leal, R. (1975) An inquiry into socialization processes in the young child. Lisboa.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2006000100009