Grupo de Trabalho 20
Marxismo e Ciências Sociais
Introdução
O objetivo deste trabalho é retomar uma discussão sobre uma parte do debate
teórico sobre as classes sociais no interior da teoria marxista no campo das ciências
sociais, na ciência política e a sociologia em particular, mas que tem consequências
teóricas, na análise dos processos políticos contemporâneos e na prática, na luta de
classes.
Focaremos, frente a um leque de possibilidades, o que denominamos o Nicos
Poulantzas de matriz estruturalista, fundamentalmente nas suas obras Poder Político e
classes sociais (1968) e As classes sociais no capitalismo hoje (1974) e o Erik Ollin
Wright na sua fase anterior ao marxismo analítico, centralmente no seu livro Classe,
Crise e Estado (1979).
Estes dois autores, tem visões diferentes no interior da teoria marxista, o que não
significa que não tenham elementos comuns na sua tentativa de contribuir ao
entendimento das formações econômico-sociais capitalistas. Os dois teóricos apresentam
problemáticas relevantes, teóricas e/ou empíricas, para quem pretende analisar os
processos políticos contemporâneos.
Esta escolha não desconhece que existe um debate mais amplo no interior do
marxismo no plano teórico e político sobre o tema, seja no marxismo anglo-saxão com as
contribuições de Ralph Miliband e de Edward Thompson e no Europeu continental, onde
além de outros teóricos estruturalistas como Louis Althusser encontramos teorizações das
matrizes do marxismo de caráter abertamente mais partidários, como as elaborações dos
Partidos Comunistas oficiais (pro-URSS) como o Frances (PCF) e o Italiano (PCI) e a
corrente trotskista, com as contribuições de membros do Secretariado Unificado da
Quarta Internacional, em particular a do teórico e dirigente belga Ernest Mandel.
Tampouco desconhecemos o impacto posterior a derrota de revolução em Europa, os
triunfos da segunda Revolução Chinesa em 1949 sob a direção de Mao Tse Tung, que
tem influência em Poulantzas; assim como a Revolução Cubana de 1959 e sua definição
como socialista em 1961 e as lutas anticoloniais na África, em particular na Argélia,
colônia francesa e Ásia, com repercussão internacional.
Existem vários trabalhos em língua portuguesa a disposição no Brasil, da qual
mencionaremos inicialmente três textos.
3
No livro Poder Político e classes sociais, Nicos Poulantzas nos apresenta uma
visão na qual existe uma determinação estrutural1 das classes sociais, na qual podemos
identificar no mínimo três dimensões.
Numa primeira dimensão as classes não podem ser definidas fora da luta de
classes as classes não são coisas; numa segunda dimensão as classes sociais designam
posicionamentos objetivos na divisão social do trabalho, são independentes da vontade
dos agentes e em uma terceira dimensão são estruturalmente determinadas não só no
nível económico senão também nos níveis político e ideológico.
Poulantzas rejeita a divisão hegeliana retomada por Lukacz de relegar a transformação de
uma classe em sim para uma classe para sim, senão que estão na própria determinação
dos posicionamentos de classe.
A determinação estrutural da burguesia se focaliza no nível económico, definida
não em termos jurídicos, superestruturais, senão em termos das dimensões substantivas
que caracterizam as relações sociais de produção, a propriedade económica e a posse. A
1
Os autores estruturalistas como Poulantzas, discípulo de Louis Althusser, utilizam constantemente o
conceito de estrutura, mas poucas vezes definem explicitamente esse conceito. A estrutura não se refere as
instituições sociais concretas que conformam una sociedade senão as inter-relações sistemáticas funcionais
entre estas instituições. Maurice Godelier formulou isto da seguinte forma:
“Las estructuras no deben confundirse con las ‘relaciones sociales’ visibles, puesto que
constituyen un nivel invisible de la realidad que está, sin embargo, presente detrás de las
relaciones sociales visibles” (Godelier: System, structure and contradiction in Marx´s
Capital 1972:336)
A análise da estrutura da sociedade capitalista é a análise das relações funcionais que diversas instituições
mantem com o processo de produção e apropriação do mais-valor.
5
propriedade económica deve ser entendida como a real propriedade económica, é dizer,
como o controle dos médios de produção, em tanto que a posse deve ser compreendida
como a capacidade de acionar os médios de produção. De jeito nenhum, para Poulantzas,
a separação entre propriedade económica e posse2 podem ser tomadas como separadas do
local do capital, o capital continua dentro de uma posição estrutural unitária dentro das
relações de classe, se bem as funções do capital se diferenciam.
No livro As classes sociais no capitalismo hoje Poulantzas articula as análises teóricas
com as análises concretas e apresenta sua interpretação sobre o significado das classes
sociais para a teoria marxista.
Primeiro define a classe social como um conjunto de agentes sociais
determinados, principalmente, mas não de forma exclusiva, pelo seu lugar no processo de
produção, na esfera econômica. Uma característica do marxismo é que o local do
econômico é determinante, mas a superestrutura, política e ideológica tem um papel
muito importante, para a reprodução das relações de produção. Diferencia estruturalismo
de economicismo e entende “o econômico” na teoria marxiana do ponto de vista da
totalidade, já que o marxismo não é uma suma e justaposição de fatores. O espaço do
“econômico”, em termos marxianos compreende não só a esfera da produção senão o
conjunto do ciclo ‘produção-consumo-distribuição do produto social’ como momentos
diferenciados de uma mesma unidade no processo de produção.
Para realizar sua elaboração sobre as classes sociais toma elementos de sua
própria elaboração teórica anterior Poder político e classes sociais no capitalismo e
Fascismo e Ditadura (1971), critica o texto de Etienne Balibar no livro Lire O capital e o
e um analise crítico da autocrítica realizada por Balibar e toma centralmente diferentes
obras de Karl Marx e Fredrich Engels, como o Manifesto do Partido Comunista e O
XVIII Brumário de Luis Bonaparte, alguns textos de Lenin, e Analise das classes na
sociedade chinesa de Mao Tse Tung, destacando que para estes últimos as classes sociais
não se referem só a um critério econômico senão também de forma explícita a critérios
ideológicos e políticos, definindo ideologia não como um sistema de ideias ou um
discurso coerente senão como um conceito que concebido como um conjunto de práticas
materiais.
2
Para o cientista político greco-francés e uma separação importante a partir do advento do capitalismo
monopolista.
6
Olin Wright tem outra preocupação, dar uma terceira resposta que contribua a
reação dos marxistas na academia a hegemonia positivista e empirista no interior das
ciências sociais. Pretende realizar pesquisas empíricas enraizadas não só nas categorias
marxistas senão na lógica da teoria marxista. Para isso propõe realizar um novo estilo de
pesquisa empírica que faça avançar a teoria marxista, sendo seu esforço como fazer que o
marxismo elabore proposições sobre o mundo real (o mundo das aparências) que possam
ser estudadas empiricamente sem abandonar o estudo da realidade estrutural subjacente,
isto para o marxismo é diferente da imagem hegeliana onde a aparência é uma expressão
externa de essências.
8
trabalhadora que é que esta posição pode, potencialmente, formar objetivos de apoio a
luta de classes socialista.
Neste contexto, é possível distinguir entre os interesses imediatos de classes, que
são aqueles que são interesses dentro das relações sociais dadas (não é um falso interesse,
são, em qualquer caso interesses incompletos) e os interesses fundamentais que são os
interesses que se concentram em questionar a estrutura das relações sociais de produção
capitalistas.
Ambos os tipos de interesse são ligados dialeticamente não são separados uns dos
outros. Em uma situação revolucionária os interesses imediatos e fundamentais começam
a coincidir totalmente, portanto, a situação revolucionária pode assim ser resumida como
uma situação em que a luta por objetivos no modo de produção reforça a luta sobre e
contra o modo de produção.
Há também um conjunto de situações definidos por fora das relações de
produção, mas são determinadas pelos interesses fundamentais das classes definidas no
âmbito das relações sociais de produção, como por exemplo é o caso das donas de casa;
os estudantes; os pensionistas; os desempregados, os beneficiários dos funcionários
providência.
As donas de casa, por exemplo, têm diferentes interesses de classe, como às de
sua família, ou seja, a divisão sexual do trabalho não cria uma divisão de interesses de
classes diferentes entre donas de casa e os maridos. A posição de classe de estudantes,
situação pré-escolar, a ser definido pelo posicionamento de classe que terá de terminar
seus estudos. A posição dos pensionistas deve ser enxergada como um estado pós-classe
entendido em termos da história das posições de classe a que estão ligados.
Finalmente, os funcionários dos aparatos políticos e ideológicos, que são na
superestrutura pode ser colocado em três categorias funcionais:
a) As posições burguesas, onde colocamos aqueles que controlam a criação de
políticas de Estado em consideração a política e construção de equipamentos ideologia
nos aparelhos ideológicos (altos cargos no Estado, nas igrejas, nas universidades e outras
instituições);
b) situações contraditórias, onde colocamos as pessoas que executam as políticas
dos Estados e ideologias spread (comandantes da polícia, acadêmicos) e
c) posições proletárias em que colocamos os excluídos da criação de ideologias e
implementação das políticas estatais (caixeiros, empregados em uma delegacia de polícia
12
em um datilógrafo escola). Para isto deve ser adicionado a noção de posições de classe
pequeno-burgueses, que inclui os intelectuais independentes, autônomas e semi posições.
Face ao exposto, o autor agora é capaz de executar uma definição ampliada de
classes dentro de sociedades capitalistas avançadas, definindo a classe trabalhadora como
aquelas posições que:
a) ocupam a posição da classe trabalhadora dentro das relações sociais de
produção, incluindo aqui a todos os funcionários que estão excluídos do controlo
monetário sobre o capital físico ou de trabalho;
b) estão ligados à classe trabalhadora através de caminhos de família imediata ou
classe e
c) posições da classe operária em aparatos políticos e ideológicos, ou seja, que
são excluídos, como eu mencionei acima criando ideologias e implementação das
políticas estatais.
Em troca, a classe média pode ser definida como aquelas posições que:
a) ocupam uma posição dentro das relações sociais burguesas de produção, isto é,
as posições de controle sobre, capital ou trabalho físico monetária;
b) estão diretamente ligados à burguesia pelos caminhos da família imediata ou
classe ou]
c) ocupam posições dentro dos aparatos políticos e ideológicos da burguesia, isto
é, exercer o controle da criação de ideologias e implementação das políticas estatais.
A última distinção é feita pelo autor entre interesses de classe e capacidades de
classe. O ponto de partida é a tese de Karl Marx que a classe trabalhadora não só
interessados no socialismo, mas também tem a capacidade de lutar e construir uma
sociedade socialista. Estas capacidades de classe, seja estrutural (o trabalhador coletivo)
ou organizacional, são definidos por relações sociais dentro de uma classe, que se ligam
aos agentes desse em formação. Em seguida, os interesses de classe são a estrutura de
classes da ligação, as relações sociais entre classes e luta de classes.
As capacidades estruturais das classes podem ser consideradas possibilidades de
estruturação para a auto-organização e as capacidades organizativas das classes, são
verdadeiras ligações de membros de uma classe criada pelas organizações de classe
conscientemente dirigidas por eles.
Com base na análise de Poulantzas sobre o duplo papel do Estado capitalista, isto
é desorganizar organizar a classe operária e a burguesia, Olin Wright argumenta que, na
13
Conclusão
Apresentadas as teorias das classes destes autores e sua comparação nos interessa
destacar as consequências políticas de cada uma destas teorias e finalizaremos com uma
conclusão destacando que é o que pode nos ser utilidade em esta revisitada teórica no
14
Referências Bibliográficas:
ALTHUSSER, L. e BALIBAR E.; 1998; Para leer El Capital; México DF: Siglo XXI.
CHILCOTE, R. Teoria de classe In Revista BIB; Rio de Janeiro, semestre 1 ano 1995,
pp.85-101.
MAO TSE TUNG; 1974; Análise das classes na sociedade chinesa; Coimbra: Centella.
MARX, K.; O XVIII Brumário de Luis Bonaparte; São Paulo, Boitempo; 2007.
MARX, K.- ENGELS, F.; Manifesto do Partido Comunista. Editora Boitempo, São
Paulo; 2007; p. 38-85.
MILIBAND, R.; Marxismo e Política; Rio de Janeiro: Zahar Editores. [II. Classe e
conflito de classe p.22-44; V. Classe e Partido p. 111-141 e VI. Reforma ou revolução
142-173]; Rio de Janeiro: Zahar Editores; 1979.
_____; 2008; Poulantzas e o Estado capitalista. In: Revista Crítica Marxista 27 São
Paulo: Editora UNESP, (p. 93-104).
MOZZICAFREDDO, J.; Sobre a teoria das classes sociais. As contribuições de Erik Olin
Wright e Nicos Poulantzas In Revista Critica de Ciências Sociais n 6, maio 1981.
POULANTZAS, N.; 1997; Poder político e classes sociais; São Paulo; Martins Fontes
_____; 1978; As classes sociais no capitalismo de hoje; Rio de Janeiro: Zahar Editores.
_____; A crise das ditaduras. Portugal, Grécia, Espanha. Petrópolis: Paz e Terra,
1976.
_____; 1978; Fascismo e Ditadura; São Paulo; Martins Fontes
_____; O Estado, o poder, o socialismo; São Paulo: Graal/ Paz e Terra.
_____; O Problema do Estado capitalista. In: Ideologia na ciência social. Ensaios
críticos sobre a teoria social BLACKBURN R. (org.) Rio de Janeiro: Paz e Terra.
16
_____; 2008; O Estado capitalista: uma resposta a Miliband e Laclau. In Revista Crítica
Marxista 27 São Paulo: Editora UNESP, (p. 105-127).
WRIGHT, E.O.; Classe, crise e o Estado; Rio de Janeiro: Zahar Editores; 1981.