Anda di halaman 1dari 76

Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Direito Penal III

Aulas Teóricas

Dra. Helena Moniz

10 Setembro 2013

Tentativa, concurso, participação

Texto das Jornadas direito criminal, 82/83 Dr. Faria Costa + Costa Andrade

Bibliografia: figueiredo dias, direito penal – as consequências jurídicas do crime –


Coimbra editora + consequências jurídicas do crime – Maria João Antunes
2010/2011

17 Setembro 2013

Avisos:

Atendimento: não há horário fixo, significa que será combinado antes e de acordo
com a disponibilidade a professora combina com o aluno.

Não há resposta a dúvidas por e-mail.

Aulas práticas iniciam-se 2 de Outubro

 Tentativa

Matéria trata sobre a forma do crime – titilo II do código penal.

A propósito da tentativa temos de refletir no inter criminis, diz respeito aos


estádios de realização do crime e antes se quer de um facto tentado, há estádios
que antecedem esse estado da tentativa. O primeiro estádio é a decisão ou
resolução criminosa e importa perceber a partir de quando os estádios começam a
adquirir importância criminal. A resolução criminosa não é relevante do ponto de
vista da punição criminal e vai ser importante falar da decisão criminosa mas não
isoladamente porque só ela não é relevante.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Depois, temos os actos preparatórios – art.º 21º código penal - não são puníveis
em regra, ou seja, é um estádio em que em regra não há punição, a mera preparação
de um crime não é punida, uma vez que a norma diz “salvo disposição em contrário”
e pode acontecer a dois propósitos: o legislador, na construção do ilícito típico,
inclui logo a fase da preparação e aí são isoladamente punidos porque já se
pressupõe, ou então, quando os actos preparatórios são punidos como crimes
autónomos - exemplo: contrafação de moeda – é um acto materialmente
preparatório, uma vez que a violação do bem jurídico (ordenamento social),
materializada numa ideia de segurança, só se da quando a moeda é posta em
2
circulação, mas a criação da moeda falsa já é punida. Quando o acto preparatório é
autónomo art.º 271º, tem efetivamente a epígrafe de actos preparação porque o
legislador decidiu antecipar a tutela penal no momento da preparação.

A decisão não é punida pois fala-se de um direito penal do facto e não um direito
penal intencional, o que interessa é o facto praticado, violador de um bem jurídico,
que se integra num comportamento qualificado como crime. Um exemplo de punição
de acto preparatório através de tipo legal de crime autónomo é contrafacção de
moeda porque se quer evitar a colocação em circulação de moeda falsa e antes que
isso aconteça pune-se a produção da própria moeda falsa.

Depois, também há situações em que o próprio código penal pune o acto


preparatório como tal, com o exemplo do art.º 271º, mas este diz que o acto
preparatório anterior à contrafacção de moeda também é punido e temos o
problema de punição de acto preparatório do acto preparatório. Teremos de saber
se será tal constitucional ou não, pois parece que estaremos a antecipar muito a
tutela penal, uma vez que poderá violar o art.º 18º CRP.

Finalmente, depois de preparar e antes de atingir a fase óbvia da consumação,


temos a fase da tentativa e é esse o nosso terceiro estágio. A tentativa é
punível? O art.º 22º responde e diz que, em regra, a tentativa é punida – Primeiro
actos de execução (mais) de um crime que decidiu cometer (decisão criminosa) sem
ter sido consumado.

No erro temos o Preenchimento do tipo objectivo de ilícito sem que haja


preenchimento subjectivo do tipo e isto difere da tentativa que é ao contrário pois
temos o preenchimento do tipo subjectivo mas não temos o preenchimento integral
do tipo objectivo.

Primeira questão: qual o fundamento para punir a tentativa? Qual a punição para
um facto meramente tentado? Há teorias objetivas, as teorias subjetivas e a
teoria seguida por nós.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

 Para as teorias objectivas, a tentativa deve ser punida porque representa


perigo próximo de lesão do bem jurídico, lesão típica.
 Nas teorias subjectivas o fundamento não é o perigo de consumação ou
lesão mas a existência de uma vontade delituosa, uma vontade de cometer o
crime.

Nenhuma destas responde razoavelmente à questão, pelo que nós seguimos as


teorias da impressão que têm um carácter aditivo, combinam as duas ideias,
dando-lhes relevo, ou seja, a ideia de que há um perigo de consumação e uma
vontade delituosa. Este carácter aditivo está ligado ao art.º 22º, nº1 que 3
combina não só a existência de actos de execução próximo da lesão do bem
jurídico, como combinam a existência da vontade delituosa, que tem de ser
exteriormente manifestada. Exemplo: Pensar matar o inimigo: se a vontade for
exteriorizada com actos de execução do crime, aí já há fundamento para punir a
tentativa.

Acentuando o que foi dito, quando se fala das teorias objectivas, diz-se que a
conduta já é perigosa e tem de ser punida e nós não as seguimos porque o nosso
código não fala em perigo, mas em decisão e actos de execução, pelo que,
precisamos de elemento claro que mostre, pelos actos de execução realizados, que
há decisão de cometer. Também não podemos aceitar as teorias porque se não,
podíamos nunca punir a tentativa e em alguns casos ela é punida, nos termos do
art.º 23º, nº3. Não aceitamos teorias subjectivistas porque acentuam a vontade,
e aprendeu-se que a ilicitude era um misto de desvalor de acção com desvalor do
resultado e a vontade não nos dá o desvalor do resultado.

Aqui chegados, temos segunda questão: quando é que estamos perante um acto
tentado? Um acto tentado pressupõe que haja, pelo art.º 22º, nº1, a decisão de
cometer o crime e, por outro lado, a prática de actos de execução. Por um lado o
elemento subjectivo - a decisão e o elemento objectivo - a prática de actos de
execução do crime, que não se chega a consumar. Quanto a estes elementos, no
caso do subjectivo (decisão), o tipo de subjectivo de ilícito da tentativa é o mesmo
que o tipo subjectivo de ilícito consumado, ou seja, é preciso preencher o dolo do
tipo e também, se os houver, os elementos subjectivos especiais, por exemplo,
motivações. Quer seja consumado, quer seja tentado, esses elementos têm de ser
preenchidos para que haja punição.

Não há tentativa nos crimes negligentes, por enquanto, e não há porque se dizemos
que um dos elementos da tentativa é a decisão, também sabemos que na negligência
não há decisão de cometer o crime porque a negligência do dolo é a vontade e
conhecimento da existência do tipo legal do crime e são estes que nos vão dar o
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

elemento da decisão. Se não há vontade e decisão, não há tentativa na negligência.


Se considerarmos que o dolo eventual é um dos tipos do dolo, em função do
elemento volitivo já estamos a dizer haver um elemento volitivo, uma vontade, e
conseguimos afirmar haver tentativa no dolo eventual mas isto não é claro porque
temos entre nós o Professor Faria Costa, que defende não poder haver tentativa
no dolo eventual.

O problema maior que nos coloca esta segunda questão é que maior dificuldade
está no elemento objectivo, que nos transposta para a terceira questão: como se
sabe se ainda se está na preparação ou se já se esta na execução do crime? 4
Quando se inicia a execução? Para saber quando se inicia, há teorias subjectivas
e objectivas e importa reflectir quer do ponto de vista teórico, quer do prático
sobre elas. O Art.º 22º, nº2 define o que são actos de execução. Em primeiro
lugar, fala-se de teorias subjectivas e segundo elas a fronteira entre a preparação
e a execução deve encontrar-se na intensidade da vontade do agente, ou seja, se a
vontade é mais intensa segundo uma dada qualidade, já é execução, se não for tão
intensa é preparação, tendo sempre por base a vontade do agente. Estas teorias
podem apenas assumir um papel instrumental em relação às objectivas. Estas
subjectivas são recusadas enquanto critério de distinção.

As teorias subjectivas podiam ser perigosas - exemplo: uma mulher queria


envenenar o marido, faz um bolo com veneno esperando que o marido chegue, o veja
e se ponha logo a comer. O acto de fazer o bolo é um acto de execução de uma
tentativa para, eventualmente, matar o marido. Imagine-se que a ideia era fazer o
bolo e servir o bolo ao marido ao jantar, nesta situação, o fazer o bolo é um acto
preparatório porque na primeira situação, ele só morria se o comesse e na segunda
situação ele só morre se ela o servir. Tudo isto é em função do que ela imaginou e
acaba-se por colocar tudo isto no plano do agente, o que é criticado, pois só isto
não chega, podemos recorrer ao plano do agente para definir melhor o nosso
critério que será objectivo e não subjectivo,

As teorias objectivas são:

 Formal objectiva: diz-se assim porque estamos fora do âmbito subjectivo


mas concentramo-nos no ponto formal pois o importante é olhar para o teor
literal da norma. É acto de execução se já estiver abrangido pelo teor
literal do tipo legal de crime. Esta teoria já tem eco no art.º 22º, nº2 a) –
os que preencherem o elemento constitutivo do tipo de crime, ou seja,
dessa forma já é execução.

Porém, tal não chega para admitir ser acto de execução. Exemplo: a quer matar B e
compra arma para o efeito - o teor diz “quem matar a pessoa”, mas todos os actos
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

que possamos pensar como carregar a arma, desbloqueá-la e estar com o dedo no
gatilho não será já acto de execução? O teor diz quem matar, mas parece repugnar
não ser um acto de execução

 Teorias materiais objectivas: há várias mas a principalmente apontada é a


fórmula de Frank. Esta ideia diz-nos que serão actos de execução, aqueles
que, de acordo com consideração natural, já são partes componentes da
acção típica, não têm de estar descritos mas, de acordo com o normal
acontecimento das coisas, já são acção típica.
5
Para além disso, é importante que esse acto acarrete perigo próprio de realização
do tipo. Estas duas ideias caracterizam essas teorias materiais objetivas e acaba
por estar prevista no art.º 22º, nº2 b) – a idoneidade relembra a teoria da
causalidade adequada. A ideia da adequação é, no fundo, uma ideia que foi
repescada da sua matéria para aqui, pois se o acto for adequado de acordo com as
regras da experiência, a vir a produzir o resultado tipo da consumação, então é
acto de execução.

Mas a norma não fica por aí e acrescenta alínea c). Exemplo - A sai de casa compra
arma e dirige-se à casa da vítima, espera-a no jardim e aponta a arma. Quando a
vítima vem a sair, questiona-se: onde começa a execução para definir a fronteira
entre preparação e execução? Quais os actos de execução do crime de
homicídio? A compra da arma já é ou ainda é preparação? Estas questões colocadas
no plano concreto levam a formular a alínea c), ou seja, esta alarga ainda mais o que
diziam as anteriores, pois diz que, numa sequência cronológica, espera-se que os
actos sigam os outros actos e o Dr. Figueiredo Dias diz que devemos procurar uma
dupla conexão: por um lado uma conexão de perigo e por outro, uma conexão típica
– conexão de perigo-típica e significa que:

 Conexão de perigo – apela a uma lógica cronológica inevitavelmente. E para


se definir se há ou não relação de perigo temos de fazer um juízo temporal
mas não só, esta conexão traduz-se em saber se entre o último acto
praticado e a realização típica há já uma relação de implicação, que traduza
um perigo para o bem jurídico, ou seja, entre os actos deve revelar-se já um
perigo para o bem jurídico. Exemplo: se comprar a arma porque é caçador e
vai usa-la para múltiplos fins, aí a compra não significa acto de execução.
Tudo depende da análise do caso concreto e para estabelecer a conexão de
perigo deve recorrer-se a ideias de perigo e temporais.

 Conexão típica – é típica numa ideia de saber se aquele acto já penetra no


âmbito de protecção da norma, não interessando o teor literal mas saber se
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

aquele acto já tem proximidade de lesão tal que já pode penetrar no âmbito
de protecção da norma sendo que, se concluirmos que sim, teremos conexão
de perigo. Esta questão é difícil e depende da análise, mais uma vez, do caso
concreto, o que exige que o jurista faça um tipo de raciocino que não é
formal.

Quando é que a tentativa é punível? Temos decisão e actos de execução,


qualquer tentativa é punível? Quando é punível? É preciso conhecer as condições de
punibilidade da tentativa que se reconduzem aos critérios do art.º 23º, nº1. A
tentativa só é punível se o crime consumável respectivo ultrapassar 3 anos de 6
prisão e o segundo critério é o de salvo disposição em contrário porque o
legislador, ainda que a moldura penal não ultrapasse 3 anos de prisão, pode decidir
punir – art.º 203º - crime de furto tentado.

Se se pune, como se pune o ilícito da tentativa? É uma questão decisiva no que


toca á tentativa e é a questão instrumental da nossa cadeira. Quando o crime for
tentado, tem uma especificidade e pelo art.º 23º nº2 significa que a tentativa
constitui causa de atenuação da pena, ou seja, circunstância modificativa
atenuante (atenua a moldura penal) geral (aplica-se independentemente do tipo em
concreto, em qualquer crime). Remeter para as regras do art.º 73º que nos dizem
quais as reras de atenuação da moldura por força da tentativa.

E no caso da tentativa impossível? É levada a cabo por meios inaptos ou então é


tentativa que incide por objecto inexistente, ou seja, ineptidão do meio.

Exemplo: A quer matar B e não sabe que a arma é uma réplica e dispara pensando
ser verdadeira – ele não mata o B porque o meio utilizado não é idóneo a produzir o
resultado pretendido. Ou então, A prepara-se para matar B e não se apercebe que
já está morto, A pensa que ele está a dormir e não estava, tinha morrido minutos
antes de ter adormecido, ele tenta matar mas já não há pessoa, ou seja objeto mas
sim cadáver – objecto inexistente.

É um bom exemplo das teorias da impressão porque saberemos se punimos ou não e


a resposta é depende, tendo em conta as circunstâncias do caso porque no art.º
23º, nº3 diz-se não ser punível a tentativa, quando for manifesta a ineptidão do
meio ou inexistência do objecto, ou seja, se toda a gente vê que é uma pistola de
carnaval, a tentativa não é punível mas se for uma réplica perfeita, não é manifesto
a existência e é punida. No caso do segundo exemplo, se a pessoa já tinha falecido
há umas horas, era fácil ver que era um cadáver, não seria punível desde que se
recorresse às regras da experiência comum, mas se parecesse estar a dormir já
seria punível.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Por vontade delituosa seria sempre punível a tentativa impossível nas teorias
subjectivas e para as objectivas nunca seria punida e no nosso caso penal nuns
casos é punido e noutros não. Não basta olhar só para a vontade delituosa ou só
para o perigo de realização típica e só há as duas coisas juntas quando não é
manifesto as condições do meio ou a existência do objecto.

Exemplo de quem defende teorias objectivas é o código penal espanhol onde a


tentativa nunca é punida.

 Comparticipação 7

Este problema coloca-nos perante a hipótese de o crime não ser cometido apenas
por uma pessoa. É a situação em que há uma pluralidade de agentes, realização do
facto ilícito típico por várias pessoas. Qual a responsabilidade de cada um? Cada
um tem o mesmo estatuto e responde da mesma forma? No universo dos
comparticipantes temos de distinguir os autores dos meros participantes porque
não é indiferente ser autor ou participante, do ponto de vista da punição. Os
autores são sempre as figuras centrais do ilícito, aqueles que realizam o tipo do
ilícito enquanto o participante é uma figura lateral, secundária que não realiza o
tipo mas participa nele, é um mero auxiliador que participa num ilícito realizado por
outrem.

 Da autoria (o autor): a norma relevante é o art.º 26º e ao longo da


evolução doutrinal houve várias teorias que procuraram definir de diferente
forma a autoria:

Para a teoria formal objectiva (atira-nos ao plano do agente) o autor é o que


realiza de forma total ou parcial a conduta prevista no tipo. Esta teoria não é
de recusar de todo e foi uma teoria importante no ponto de partida e também
no limite para a definição da autoria, contudo não é a seguida entre nós.

Para a teoria material objectiva - o autor há-de ser alguém que contribui de
uma forma causal para esse mesmo facto. Esta ideia de causalidade acabou por
prever que estávamos perante um conceito extensivo de autor e qualquer
pessoa que desse uma contribuição causal era autor e só teríamos de definir se
a contribuição era mais ou menos importante, sendo que não se distinguia o
autor do cúmplice.

A teoria subjectiva põe a tónica na vontade: é aquele que realiza o facto


tendo vontade de autor. Mais uma vez, não foi esta que deu origem ao art.º
26º
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

A doutrina do domínio do facto foi formada por ROXIN e mais uma vez
também tem carácter aglutinador de ambas as ideias. Não privilegia só as ideias
subjectivas, nem só a dos objectivistas, mas faz uma síntese das ideias,
valorizando a vontade que dirige o facto, o contributo e importância desse para
o facto. A ideia central é a de que o autor é aquele que é senhor, que define o
se e o como da realização típica, ele domina o facto de alguma forma, definindo
o se e o como da realização típica. Esta doutrina tem limites e está pensada
para os delitos de domínio, ou seja, crimes dolosos de acção, isto é, tudo o que
não seja crimes dolosos de acção, está fora desta teoria, fora deste domínio é
8
explicado com adaptações.

Olhando para o art.º 26º partimo-lo em 4 alternativas, ou seja, várias formas


de autoria:

1. É punível como autor quem executar o facto por si mesmo – autoria


imediata, a situação do chamado autor imediato e este é a situação de A
que pega na arma, dispara e mata B, ou seja, procede à realização típica
e leva a cabo o comportamento com o seu próprio corpo. Significa que,
do ponto de vista do facto, tem domínio sob o ponto de vista da acção,
sendo esta a alternativa mais simples.
2. É autor quem executar o facto por intermédio de outrem – diz
respeito à figura da autoria mediata, que supõe que pensemos em duas
pessoas que participam na execução do facto: temos de pensar no
homem de trás e no homem da frente, sendo o medito o de trás que
utiliza o homem da frente para a realização do crime. Ele usa-o como
instrumento para cometer o crime. Como?

Paradigmaticamente de uma de duas formas: ou por erro (A pede a B que leve o PC


para casa porque se esqueceu dele na sala e B não sabe que o PC não é de A,
cometendo um furto. A usa B para praticar o furto, B é o autor mediato e coloca B
em erro, não sendo B responsável e não vai responder. B será o responsável porque
usou A para praticar o crime de furto – aqui o homem de trás, tem o domínio de
facto sob a forma de domínio da vontade sob a forma de utilização do homem da
frente como instrumento), ou por coação. Ainda podemos usar a alternativa de uso
de um inimputável.

3. É autor quem tomar parte directa na execução de facto por acordo


ou juntamente com outros – co-autoria – exemplo: A, B e C planeiam
um crime e cada um tem uma tarefa atribuída e distribuída pelos vários
co-autores do crime.

Tem dois requisitos ou característicos:


Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

 1º - Existência de plano comum ou decisão conjunta de cometimento


de um facto ilícito típico
 2º - Repartição ou divisão de tarefas entre os vários agentes e cada
um domina a sua, sendo todas elas decisivas para a realização do
crime.

Roxin caracteriza aqui o domínio como sendo um domínio funcional do facto porque
cada co-autor domina o facto do ponto de vista da sua função e ao dominar a sua
função, acaba por dominar todo o facto – “condomínio do facto”
9
4. A instigação diz respeito à última parte do art.º 26º - o nosso sistema
jurídico-penal tem a instigação como uma forma de ser autor do crime e
tradicionalmente não o era e a doutrina alemã, na sua maioria, ainda a
defende como não sendo uma forma de autoria. 1º - Tradicionalmente
não era, então é o quê? Bom, não sendo autoria terá de ser participante,
o que é a tradicional doutrina alemã.

Há outra vez um homem da frente e um homem de trás, o de trás não faz nada,
pensa o ilícito e o homem da frente executa-o. A diferença está na cabeça, foi o
homem de trás que criou nele a intenção de praticar o crime mas o da frente
pratica-o com plena responsabilidade pois sabe, conhece e tem vontade de realizar
o crime. (A paga a B para matar C). Aqui o relevante é que a decisão de praticar o
crime foi criada pelo homem de trás, o instigador e o instigado é plenamente
responsável, pelo que respondem ambos. Esta distinção aparece no livro do Dr.
Figueiredo Dias pela primeira vez, a ideia de instigação – indução. O instigador tem
o domínio da decisão, pois é ele que coloca a decisão de actuar na cabeça de quem
realiza o facto ilícito, pelo homem de trás. O conteúdo material do ilícito é
dominado pelos dois, daí que ambos respondam.

Usamos apenas a expressão homem da frente que só é punido na instigação –


determinação e não na autoria mediata.

Para distinguir autoria medita e instigação usa-se a ideia de responsabilização do


homem da frente, ou seja Princípio da responsabilidade, sendo que se o homem da
frente for responsável é instigação e se não for será autoria mediata.

O que se viu sobre o início da execução para a tentativa pode ser repescado para
saber se punimos a instigação ou não, porque o homem da frente só é punido se já
tiver começado a execução, uma vez que o legislador diz que o instigador só é
punido se o instigado tiver iniciado a execução. Só quando há início da execução é
que sabemos que houve determinação do homem de trás par a actuação do homem
da frente. (Exemplo: A pessoa que queria matar o cônjuge e contratou um grupo
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

de senhores para o fazer e estes em vez de começar a executar, contrataram a PJ


e aqui esta entra no jogo pedindo para receber o valor – assim não chegou a haver

um acto de execução, apenas actos preparatórios).

1) Autor imediato 2) Autor mediato


(Domínio da Acão) (Domínio da Vontade) 10

AUTOR:

Domínio do Facto Homem da frente

Homem de (s/ cabeça) –

trás (irresponsável)

Instrumento (Sob
coação ou erro)

Diferente do Princípio da
Responsabilização

3) Co-autoria 4) Instigação

(Domínio funcional do facto (Domínio da decisão)


ou condomínio do facto –
decisão conjunta (repartição
de tarefas)

Homem de Homem da
trás frente

Instigador Instigado
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

 Participação

Se alguém participa no facto mas não é autor é participante e este será só um, o
cúmplice, a única forma de participação reconhecida em Portugal. Cumplicidade é
expressão legal e participação é expressão doutrinal mas só em Portugal. Está
prevista no art.º 27º, e este se não é autor, não tem domínio do facto, uma vez
que se limita a auxiliar o facto de outrem, do autor:

 Auxilio moral
 Auxilio material 11

Tanto é cúmplice o que empresta a chave para furtar uma habitação como aquele
que diz que o autor faz muito bem em furtar, ou seja, não tem de ser um auxilio
físico, pode também ser moral. Porém, consoante o tipo de auxílio, pode ser mais ou
menos difícil distinguir o cúmplice da autoria. Entre dar ajuda e instigar a
diferença está que, no primeiro, este apenas favorece o que o autor já tinha
decidido fazer e na instigação ele cria a pretensão de o fazer.

O cúmplice, pela doutrina do domínio do facto, não tem domínio do facto, ele não
determina o se e o como. Esta figura da cumplicidade é particularmente revelante
para saber como se pune o cúmplice, ou seja, se alguém não é autor mas punido pelo
art.º 27º como será punido? Não se aplica a mesma moldura, o art.º 27º diz que
se aplica a pena prevista para o autor, mas especialmente atenuada. É também uma
circunstância modificativa atenuante geral, nos mesmos termos da tentativa –
remissão para artigo 73º -, e sabe-se como é feita a atenuação com a ideia de que
o cúmplice não é tao punido como autor, é uma decisão com impactos práticos muito
relevantes.

A cumplicidade só é punida quando há duplo dolo, ou seja, é preciso que por um lado
o crime seja doloso e, por outro lado, é preciso que o próprio agente, próprio
cúmplice, tenha dolo, ou seja, tem de saber e querer auxiliar – se empresta a chave
mas não sabe para que efeito ele a quer, então não há dolo do cúmplice pois não
tem conhecimento e vontade em relação ao auxílio que está a prestar.

24 Setembro 2013

Há diversos tipos de consumação: a consumação formal ou consumação material ou


terminação, isto é, há crimes de perigo em que o agente não lesava o bem jurídico
mas colocava-o em perigo exemplo: condução em estado de embriaguez – não se
exige que o agente integre na sua conduta todo o tipo legal de crime, mas que
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

conduza com álcool superior ao exigido. E se ele matar efetivamente ou lesar


gravemente a integridade física ele comete o crime de perigo? Quando atinge o
resultado é a chamada terminação ou consumação material, se não se tivesse
efectivado seria consumação formal e tal releva para a tentativa.

Há uns meses surgiu um acórdão controverso porque havia 2 ou 3 rapazes que


resolveram furtar objectos de uma casa, um ficou na porta, os outros entram e um
desse extravasa o combinado e levava uma arma no bolso mas n estava combinado
matar ou lesar alguém. A certa altura, um dos assaltantes vinha embora com
objectos e o outro acaba por ficar na casa, sacar da arma e matar. O que ficou à 12
porta, porque era o que conhecia melhor o exaltado e sabia até onde podia ir,
seria ou não responsável, apesar de o matar não fazer parte do acordo que
estava por trás do assalto? O tribunal considerou que abrangia o acordo.

Teremos de ver a situação de um ou vários agentes cometer vários crimes e saber


se é punida por vários crimes e se é ou punida por todos eles. Quando alguém mata
outra pessoa à paulada, antes de a pessoa morrer, foi violada a integridade física e
não se pensa que houve dois crimes e leva-se logo para o homicídio. Porque dizemos
ser apenas crime de homicídio?

 Concepção do Dr. Figueiredo Dias: Princípio do mandato da esgotante


apreciação de toda a matéria desde que essa seja tipicamente
ilícita (conduta ilícita e tipificada no código penal como tal.)

Quando uma pessoa é submetida ao processo-crime, devemos analisar toda a


conduta e se essa constitui tipos legais de crime e quais os tipos que integram.
Porém, nesta análise não, podemos esquecer de um principio básico – ne bis in idem
- ninguém pode ser julgado mais uma vez pelo mesmo faco ilícito. É um princípio
importante porque, se considerarmos que o que bate noutra pessoa é um crime de
homicídio e deve ser punido pelos dois, então, a mesma conduta estava a ser
valorada e punida duas vezes porque apenas usou o pau para bater até conseguir o
objectivo que queria, que era matar a pessoa.

Também temos o Princípio da proibição da dupla valoração, usado em sede de


determinação da pena, no concurso de crimes, dizendo que não podemos valorar os
factos da mesma maneira, isto é, não pode ser valorado com violação da
integridade física e valorado como homicídio.

As teorias a este respeito foram imensas para se conseguir saber se estávamos ou


não perante uma dada conduta ou perante uma unidade ou pluralidade de infrações
e só há concurso de crimes se houver pluralidade de infrações e, aí, o agente será
punido por todos eles.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

A tese do Dr. Eduardo Correia dizia que estávamos perante pluralidade de


infrações consoante os tipos legais de crime violados, sendo que se só havia um tipo
legal de crime violador era unidade e se havia vários tipos de crimes violados,
estaríamos perante pluralidade de infrações.

Falava de unidade típica para abranger um tipo legal de crime ou vários tipos legais
de crime. Por vezes, isto não chegava e antes dele, a forma normal de distinção era
em função da unidade natural da conduta ou acção, isto é, olhava-se para a acção e,
sob o ponto de vista naturalístico, ver-se-ia se era uma acção ou mais do que uma -
exemplo da paulada - olhava-se e era apenas uma acção do ponto de vista 13
naturalístico porque o pau foi apenas um instrumento para chegar á morte.

Isto resolvia grande parte dos problemas e dava para distingurir entre concurso
real (quando o agente com várias acções integrava vários tipos legais de crime – vai
na rua, agride uma pessoa, depois furta-se a outra e ainda volta à primeira e
comete crime contra a honra) e concurso ideal (com uma só acção, integrava vários
tipos legais de crime – exemplo: alguém que quer destruir a casa do vizinho e sabe
que está sempre a emprega em casa e destrói a casa matando a empregada). Se
com a mesma acção – colocar a bomba para destruir a casa – ele destrói a casa e
mata a empregada, teríamos um concurso ideal porque com uma única acção
preenche o tipo legal de crime de dano contra a casa e o tipo legal de crime de
homicídio quanto à empregada e depois ver-se-á que, quanto a empregada, há dolo
necessário e quanto à casa, dolo directo.

Esta conceção não se encaixa no código penal porque por trás desta distinção havia
a ideia de que se havia de punir de forma diferente aquele que comete diversos
crimes em concurso real (deve ser punido por todos os crimes) e aquele que comete
diversos crimes em concurso ideal (pena mais grave que couber a cada um e deve
ser essa pena agravada em função da pena do doutro crime) – regime alemão.

O Dr. Figueiredo Dias diz não se poder aplicar porque, olhando para o art.º 30º
Código Penal, ele diz que “o nº de crimes determina-se pelo nº de tipos de crime
efectivamente cometidos, ou pelo nº e de vezes que o crime foi cometido”. Ora,
tanto na noção de concurso real como no concurso ideal, o nº de crimes cometidos
era o nº de crimes que cometeram. O código penal não distingue e o Dr. Figueiredo
Dias também considera que não se deve distinguir. A melhor maneira de
caracterizar o concurso de crimes não é em função da pluralidade de tipos de
crime violados, nem por quanta acções realizou. O critério ideal é analisar a
conduta, o filme todo, toda a situação e verificar qual o sentido de ilicitude
subjacente á situação, isto é, verificar se aquela situação concreta preenche
apenas um sentido de ilicitude ou vários sentidos de ilicitude, o que facilmente leva
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

a entender que o concurso de crimes, mais do que isso, é um concurso de ilícitos,


porque o Dr. Figueiredo Dias vai verificar se os sentidos são um ou vários sentidos
de ilícito ou se se podem integrar todos num bolo comum, que nos vai dar o sentido
dominante.

A partir desta valoração global de todo o comportamento do agente, ele acaba por
nos dizer que um concurso de crimes é sempre uma pluralidade de sentidos de
ilícito. Portanto, todas as situações em que nós olhamos para a conduta do agente e
se verifica que ela se vai integrar no crime de homicídio, poderemos dizer que se
pode integrar no crime de homicídio simples - art.º 131º ou então homicídio 14
qualificado – art.º 132º. Teríamos vários sentidos de ilicitude? Talvez só
tenhamos um sentido de ilicitude porque esta é um desvalor da acção e o desvalor
do resultado era aferido em função dos bens jurídicos lesados, ou colocados em
perigo e aqui o bem jurídico é o mesmo, apenas há uma desvalor da acção diferente.

O Dr. Figueiredo Dias diz que se o sentido do ilícito, tendo em conta o desvalor do
resultado, é idêntico, verdadeiramente não há concurso de crimes, mas concurso de
normas, uma situação que se consegue subsumir a diversas normas e tem de se
resolver pela interpretação independentemente do caso concreto. Neste caso, uma
é especial relativamente à outra, ou seja, o homicídio qualificado é especial em
relação ao homicídio simples e a norma especial derroga a geral pelo que se aplica a
norma especial.

Também não é concurso de crimes todas as situações subsidiárias relativamente às


outras – exemplo: omissão pura e impura (art.º 10º – equiparava-se a acção à
omissão) - grande parte das situações que se integram no art.º 10 também se
integravam no art.º 200º e aplica-se um em detrimento do outro porque o que
temos entre estas duas normas é um concurso de normas, isto é, o artigo 200º
funciona sempre que não estejamos perante situação que se possa integrar no
âmbito da omissão impura – quando estiver integrada num e noutro, aplica-se o
art.º 10º.

Art.º 292º, nº1 – é um caso de subsidiariedade porque o artigo diz,


expressamente, que se integrar outra disposição legal, se puder ser punida por ela
e se a pena aí for mais grave, então é pela pena do outro crime que será punido e
não pela pena do art.º 292º. Se conduziu com álcool e matou, aplica-se a pena do
homicídio e não a do art.º 291º.

Figueiredo Dias diz que, só há concurso de crimes se houver pluralidade de


sentidos de ilícito, ou seja, havendo concurso de crimes, o regime aplicável para
determinação da pena é o regime do art.º 77º, onde há uma determinação da pena
sempre em função dos diversos crimes que praticou.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Exemplo: se praticou crime de dano e homicídio, calcula-se as penas de ambos e, em


função, delas utiliza-se estas penas para construir uma moldura da pena e, a partir
dela, formular uma pena para o concurso mas não se somam as penas como no
regime americano. Faz-se uma análise global da pluralidade de sentidos ilícitos.

Mas nem sempre é assim, e aqui há uma diferença que terá importância quando
dermos a determinação da pena. Quais as outras situações? Imaginemos uma
situação muito comum e uma das com mais debate entre doutrina e jurisprudência –
alguém falsifica um documento pra burlar outra pessoa: temos um crime de
falsificação de documentos no art.º 256º, porém também temos um artigo de 15
punição do crime de burla no art.º 217º. O que a jurisprudência em geral diz é que
há dois tipos legal de crime e o agente é punido pelos dois, considerando haver
pluralidade de sentidos de ilícito mas a jurisprudência da relação de Lisboa mudou
ligeiramente quando houve alteração do código penal, dizendo que o agente só deve
ser punido pelo crime que represente o objectivo principal dele e recentemente o
Supremo, em acórdão de Julho de 2013, veio dizer que, ainda assim, há uma
pluralidade de ilícitos e o agente deve ser punido pelos dois tipos legais de crime.

Sobre isto, o Dr. Figueiredo Dias tem dito, coma a Dra. Helena Moniz que aquele
que falsifica para burlar tem apenas uma resolução criminosa e apenas usa a
falsificação para burlar. Aliás, o agente aceita que o meio para conseguir a burla
será um qualquer, portanto, havendo apenas uma resolução criminosa, o gente deve
ser punido por um apenas crime e só pode ser punido pelo crime de burla. O Dr.
Figueiredo Dias concorda com esta opinião da professora, mas dizia que não podia
ser só a resolução criminosa e diz que há certas situações em que, apesar de numa
primeira visão se perceber que o agente com a tal conduta, integre vários sentidos
de ilicitude, há uma ilicitude dominante e uma ilicitude dominada. Ou seja, há uma
ilicitude dominante - a de burla e uma ilicitude dominada - a falsificação de
documentos. Assim, o agente comete dois crimes, mas o ilícito dominante é o crime
de burla e o dominado é o crime de falsificação de documentos.

Outro exemplo: homem queria violar a mulher e não conseguindo a consumação do


acto sexual, praticou actos que integravam o crime de coação sexual. Questionava-
se se o agente praticava dois crimes e o Dr. Figueiredo Dias diz há vários sentidos
de ilicitude no seu comportamento, o sentido de ilicitude da tentativa de violação e
por outro lado, tem o sentido de ilicitude inerente à consumação de coação sexual
ou seja, deve ser punido pelo ilícito dominante (tentativa de violação),tendo em
conta o ilícito dominado (consumação do crime de coação sexual).

Porem, dizendo não ser isto uma pluralidade e o que temos é um concurso não
de normas mas concurso aparente de crimes, pune-se da mesma forma uma
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

situação e outra? Se olhar para Código Penal a resposta é sim, o art.º 77º não
faz nenhuma distinção quer para o concurso efectivo, em que há pluralidade de
sentidos, quer para o aparente em que há ilicitude dominante e ilicitude dominada
mas o Dr. Figueiredo Dias diz não se poder punir da mesma maneira aquele que
falsifica hoje um documento e que em 10 anos aproveita a falsificação para burlar
daquele que falsifica hoje para burlar amanha. A punição tem de ser diferente no
concurso efetivo ou no concurso aparente, sendo que no concurso efetivo, o agente
deve ser punido segundo as regras do art.º 77º. Já não assim quando estamos em
sede de concurso aparente, aí será punido com a pena do ilícito dominante, levando
16
para a determinação da pena concreta a ilicitude subjacente ao ilícito dominado, ou
seja, o agente deve ser punido com base na pena do ilícito dominante e esta pena
pode ser agravada pelo ilícito dominado que praticou. No nosso, caso, deve ser
punido usando a moldura do crime de burla, sendo agravado tendo em conta a
moldura do crime de falsificação.

 Critérios para saber se estamos perante um concurso aparente de


ilicitude.

O Dr. Figueiredo Dias apresenta diversos critérios.

1) Resolução criminosa, ou seja, é difícil hoje falsificar e daqui a 10 anos usar


para burlar, (porque as resoluções criminosas são muitos distanciadas num
concurso temporal) de falsificar hoje para burlar amanhã.
2) Critério da conexão temporal das resoluções
3) Desígnio criminoso, a vontade subjacente à conduta do agente, o que o
agente quis no momento e por este elemento se consegue distinguir. Se
quiser hoje falsificar para amanhã burlar, há unidade de sentido global de
ilícito.
4) Crime meio ou crime instrumento ~

 PENAL III

Olhando para o código, o ano passado em penal II deu-se tudo o que compreende do
art.º 30º ao art.º 40º. Este ano daremos os art.º 41º e ss até ao fim da parte
geral, isto é, art.º 130º.

 Consequências jurídicas do crime

 Âmbito de aplicação das penas e medidas de segurança


Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Como se chega á moldura penal concreta a um agente que comete um determinado


crime? Que penas existem? E medidas de segurança?

Quanto às penas, temos 3 grandes tipos:

 Principais – estão previstas num tipo legal de crime


 Substituição – é aplicada em vez de outra pena, da pena principal, esta
substitui a pena principal. O agente n cumpre a pena principal e não cumpre
a de substituição
 Acessórias – penas aplicadas conjuntamente ao lado da pena principal e não 17
é cumulativa.

(Aqui coloca-se o problema de Isaltino Morais – o facto de não poder concorrer não
seria acrescentar uma pena à pena que efectivamente já tem)

As penas principais que existem são as previstas num tipo legal de crime, ou seja,
em todos os crimes ou se diz que é punido com pena de prisão e multa, ou só de
prisão, ou só pena de multa. A pena de prisão é uma pena privativa de liberdade,
dizendo que é o único direito ao qual o agente deve ser limitado e a pena de multa é
uma pena pecuniária, não privativa da liberdade. A duração das penas principais
aparece no art.º 41º.

As penas de substituição são muitas e estão previstas no Código Penal, a partir


do art.º 41º, nº1, onde diz que a pena de multa pode aparecer sob forma de
substituição da pena principal. Por exemplo, o agente é condenado numa pena
principal de prisão de 6 meses e o juiz entende que esta deve ser substituída por
uma pena de multa que aparece como pena de substituição da pena principal de
prisão. Há ainda a pena de substituição prevista no art.º 43º, nº3 ou art.º 44º.
Neste ponto, art.º 44º, nº1 a), temos um regime de permanência na habitação
que é uma verdadeira pena de substituição da pena de prisão não superior a um ano,
e coisa diferente é o que está no art.º 44º, nº1 b), pois isso será uma forma
diferente de executar uma pena e não uma pena de substituição. Outra é a pena de
substituição da prisão por dias livres, que substitui a pena principal de prisão até
um ano, ou seja, ao gente vai para a prisão e essa pena é substituída por dias livres.

Temos também o regime de semi-detenção art.º 46º - a possibilidade de o


agente estar preso, mas poder sair para vir trabalhar. Por fim, temos ainda a pena
de substituição – suspensão da execução da pena de prisão – o agente é punido
com pena principal e esta será suspensa quando cumpridos todos os pressupostos –
deveres e regras de conduta art.º 50º e ss e ainda apena de substituição da pena
de prisão – a prestação de trabalho favor da comunidade, prevista no art.º 58º.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Até aqui falou-se das penas de substituição da pena de prisão como pena principal

A admoestação prevista no art.º 60º é a única substituição da pena de multa como


pena principal.

Abrindo o Código Penal, no art.º 158º, nº1, diz que “(… é punido com pena de
prisão até 3 anos ou com pena de multa)” – aqui as penas principais são a pena de
prisão ou pena de multa, aparecendo em alternativa, daí se falar da pena de multa
em alternativa, ainda que se mantenha como pena principal. Há critérios para o juiz
escolher umas das alternativas, por um lado, critérios teóricos e o sistema faz 18
ainda com que o critério seja outro para escolher a pena de prisão e não a de multa.

Não há já no nosso Código Penal o que se encontra no livro de Figueiredo Dias,


embora ainda exista em legislação extravagante – pena de multa complementar – ou
seja, no nosso Código Penal não diz, por exemplo, que o agente será punido com
pena de prisão e pena de multa até 200 dias, porém na legislação de infrações
económicas ainda lá está como pena complementar.

Em sumula, a pena de multa pode aparecer como pena principal, em alguns casos
pena principal alternativa; pode aparecer como pena de substituição ou ainda
aparecer como pena autónoma – art.º 366º, nº2 - simulação de contra
ordenação, coisa que assim já não é assim no nº1, e ainda no art.º 268º, nº3 –
estes são os únicos casos em que a pena de multa é a autónoma e surge como única
espécie de pena principal prevista na moldura penal no tipo legal de crime.

As penas acessórias para pessoa singular são a proibição do exercício de funções


prevista no art.º 66º; a pena de suspensão do exercício de função art.º 67º e
proibição de condução de veículos com motor do art.º 69º. Estas são as da parte
geral e há também penas acessórias previstas na parte especial, em concretos
tipos legais de crime, por exemplo, no crime de violência domestica, previsto no
art.º 152º, nº4 que prevê várias penas acessórias e o período desta será entre 6
meses e 5 anos. Outro caso é o do nº 5º e 6º.

O art.º 246º diz-nos que quem for condenado por crimes de discriminação social,
é pode, atenta a concreta gravidade do facto e a sua projeção na idoneidade cívica
do agente, ser incapacitado para vários cargos por períodos de 2 a 10 anos; art.º
179 enquanto pena acessória do art.º 163º a 166º.

Como perceber se é acessória ou não? O artigo remete para os tipos legais de


crime, (colocar nos artigos o art.º 179º. Sublinhar penas de substituição de uma
cor e as acessórias doutras.)
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Existem penas específicas para as pessoas colectivas e também elas têm penas
principais e de substituição, ainda que só estudemos apenas das pessoas singulares
este semestre.

O art.º 11º alargou muito a responsabilidade penal das pessoas colectivas e em


2007 criou-se uma série de penas para estas pessoas colectivas. Estas penas não
estão previstas em todos os tipos legais de crime, as penas principais aplicadas são
as previstas no art.º 90º - A nº1, ou seja, a pena de multa e a pena de
dissolução da pessoa coletiva, cujos pressupostos são desenvolvidos no art.º 90º
- F. Tal como as penas atribuídas as pessoas singulares, temos também penas de 19
substituição das pessoas colectivas que são a pena de admoestação, prevista no
art.º 90 – C; caução de boa conduta art.º 90º - D e vigilância judiciária art.º
90º - E. As penas acessórias são todas as previstas do art.º 90º - G ao
art.º90º - N.

Quanto às medidas de segurança, estas podem ser ou não privativas de liberdade e


aparecem nos art.º 91º e ss. São o internamento do inimputável e as medidas de
segurança não privativas da liberdade são as do art.º 100º e 101º.

Há uma coisa chamada indemnização prevista no art.º 129º que nos diz que esta é
regulada pela lei civil, ou seja, será uma pena? Não é, nem é consequência jurídica
do crime. Tanto não é porque os pressupostos de atribuição são os do código civil
porém, quando há um crime, o pedido de indemnização civil é junto com o processo
penal, isto é, segue no mesmo processo porque nós usamos o princípio de adesão,
previsto no art.º 71º do Código do Processo Penal. Regra geral, não há separação
de processo e um corre com o outro embora siga as regras do direito civil.

Atualmente, a dúvida pode surgir a partir da reforma de 2007 do Código do


processo penal, porque este criou o art.º 82º-A com epigrafe, “reparação da
vitima em casos especiais”, que nos pode a partida levar a pensar que é também
uma consequência jurídica do crime, principalmente se nos lembrarmos do que
existia no código de 1889, que também previa a reparação como consequência
jurídica do crime, uma reparação calculada oficiosamente e de conhecimento
oficioso que era aplicada conjuntamente com a pena. Esta nossa indemnização é
aplicada com a pena mas não pode ser vista como pena ao lado das outras penas
porque, apesar de ser de conhecimento oficioso, o artigo diz que, “em caso de
condenação e não tendo sido pedido indemnização civil, o tribunal pode arbitrar
uma quantia a título de reparação pelos prejuízos sofridos quando particulares
exigências de proteção da vitima o imponham”.

A partir do momento em que o Código do Processo Civil atribui a obrigatoriedade


de ambos os pedido seguirem conjuntamente, se o pedido não for feito, nunca mais
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

se podia fazer o pedido de indemnização civil, salvo muito poucas exceções. Há


crimes onde se não se pudesse fazer o pedido, isso pode ser prejudicial para a
vítima. Concluindo, não é uma consequência jurídica do crime, apenas uma proteção
da vítima.

Uma outra coisa bastante importante, ainda que não se estude para já, são os
pressupostos positivos e negativos de punibilidade:

São pressupostos para que uma pessoa possa ser punida, que têm de existir para
tal - positivos ou então pressupostos que não podem existir sob pena de a pessoa 20
não ser punida – negativos.

Os positivos são a queixa e a acusação particular, ainda que não estejam previstos
para todos os tipos legais de crime. Sucedem em todos os tipos legais de crime que
digam expressamente que o procedimento particular depende de queixa ou então
dependam de acusação particular – crimes contra integridade física. Há ainda
outros crimes que para além da queixa, exigem acusação particular - crimes contra
a honra.

01 Outubro 2013

Previsão da indemnização – art.º 129º Código Penal. A reparação não foi


acolhida entre nós como forma de sanção.
Vimos também que havia ainda pressupostos positivos e negativos de punição e
apenas fizemos o elenco mas vimos ter a queixa e acusação particular como
positivos e prescrição do procedimento criminal e prescrição da pena como
pressupostos negativos.

Significa que temos perante nós pressupostos de punição o que impõe que eles se
tenham de verificar para iniciar o procedimento criminal ou atribuir a pena, sendo
que sem eles não poderemos trabalhar.

 Pressupostos positivos de punição para que haja procedimento criminal.


Sem os quais não se pode iniciar o procedimento criminal e nem todos os tipos
legais de crime nos exige que se tenha de verificar para iniciar o procedimento
criminal. Os que exige queixa são chamados semi-públicos e os que exigem a queixa
e a acusação particular são chamados crimes particulares em sentido estrito.
Ambos costumam ser englobados numa categoria de crimes particulares em sentido
amplo para se contraporem aos chamados crimes públicos que não exigem queixa
nem acusação particular.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Para saber perante qual crime estamos, temos de olhar para o tipo legal de crime e
assim sabemos se é exigido ou não queixa ou acusação particular. Exemplo: art.º
143º – vemos no nº2 que, em princípio, será um crime semi-público. As agressões
do Jesus às autoridades, mesmo entendidas como agressão às autoridades, nunca
serão crime semi-público porque faz parte da exceção, contida no nº2 – passa a ser
um crime público.

Diz se, em principio, porque, às vezes, há alguns tipos legais de crime que começam
21
por dizer ser necessária queixa e depois, dentro da secção e capitulo, ainda exigem
uma acusação particular - exemplo – crimes contra a honra art.º 180º e ss –
crime de difamação e injurias – sabemos que se se olhar para cada tipo legal de
crime em separado, em nenhuma parte se diz que o procedimento criminal depende
de queixa mas continuando a percorrer os artigos, chegamos ao art.º 188º onde
se diz que o procedimento também depende de acusação particular, salvo exceções.
Quando o tipo legal de crime diz que só precisa de queixa, não há problema mas se
disser que precisa de acusação particular significa que antes disto, precisa de
queixa. Isto é assim para demonstrar que, em penal, há crimes que exigem que
sejam perseguidos e há outros que tendo em conta o bem jurídico protegido,
costuma-se exigir que o procedimento criminal fique na dependência daquilo que o
ofendido quer. Esta dependência pode ser total ou parcial porque nos crimes semi-
públicos a dependência é parcial, precisam que o ofendido se queixe para que o
processo corra até ao fim, ao passo que os particulares em sentido estrito
precisamos de 2 actos, a queixa e, findo o inquérito, precisamos de acusação
particular.

Estes pressupostos levam à descriminalização de facto, continuam a ser condutas


ilícitas mas o ofendido, se quiser, não manda punir o agente, bastando que não se
queixe.

Quem são os titulares do direito de queixa? Art.º 113º Código Penal – este diz
que quando o procedimento criminal depender de queixa, a legitimidade está no
ofendido, o titular dos interesses que a lei quis proteger com a incriminação, salvo
disposição em contrário.

 Pressupostos negativos da punição:


Na prescrição do procedimento criminal, verifica-se que, após decurso de um certo
prazo previsto no art.º 118º do C. Penal, não mais se pode iniciar ou prosseguir o
procedimento criminal
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Há ainda prazos de interrupção de prescrição – art.º 121º, onde finda a


prescrição, recomeça-se a contar um novo prazo. Os prazos de prescrição podem
ser de 15, 10 ou 2 anos e impedem que haja processo naquele crime. Ou seja, se não
se iniciou já não se inicia e se já tiver iniciado, retoma-se o prazo. Tal tem sido
criticado porque tem-se a ideia de que podia existir crimes imprescritíveis e há
quem comece a questionar os prazos de prescrição havendo, inclusive, uma
tentativa de aumentar o prazo de prescrição, principalmente nos crimes sexuais
contra menores.
22

A professora Helena Moniz tem dúvidas que residem no facto de o conceito do


prazo de prescrição se basear em ideia de esquecimento e é certo que a
comunidade esquece, mas quem viu o familiar a morrer, não se esquecerá e em
geral o criminoso pode estar já reintegrado. Porém, como se pode invocar uma ideia
de esquecimento quando nos crimes mais graves os órgãos de comunicação estão
sempre a relembrar o crime e a ressocializar o delinquente?

Prescrição da pena: significa que o agente foi encontrado, houve procedimento


criminal mas não se conseguiu encontrar o condenado e passou um tempo
considerável sem ele nunca ser preso e agora, passados 20 anos, nos termos do
art.º 122º, ainda faz sentido obriga-lo a cumprir pena? Ou a ideia de
socialização do delinquente deve prevalecer? Todo o raciocínio anterior também
aqui se aplica, é uma tentativa de contrabalançar interesses de, por um lado,
manter a norma em vigor e, por outro lado, com a ideia de socialização do
delinquente. Será o procedimento criminal, a consequência jurídica do crime ou
é um regime à parte que não é necessariamente consequência mas um elemento
que necessitamos para saber quem cometeu o crime e quais as penas
atribuídas durante um certo período de tempo?

Sabemos que há registo criminal nos termos do art.º 5º da lei 57/98 de 18


agosto e sabemos que há cancelamento provisório e definitivo de todas as penas ou
medidas de segurança ao fim de alguns anos – art.º 15º. O registo criminal é,
muitas vezes, necessário para entregar numa dada função ou exercício de
actividade, sendo certa que algumas informações não são descritas aquando dessa
entrega – art.º 10º.

 Sistema sancionatório:

Quais as características das sanções criminais que o sistema tem


Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

consagrado?

A primeira delas é a recusa explícita à aplicação da pena de morte ou da pena


de prisão perpétua; depois é a ideia de qualquer sanção privativa de liberdade
deve ser sempre encarada como última ratio de política criminal e em terceiro a
não automaticidade dos efeitos das penas e finalmente, o nosso sistema
sancionatório é tendencionalmente monista.

A primeira ideia da recusa explicita à aplicação da pena de morte ou da pena 23


de prisão perpétua é uma ideia cara, nós fomos os primeiros a abolir a pena de
morte e está consagrada na CRP, no art.º 24º, nº2, para a penal de morte e no
art.º 30º da CRP, para prisão perpétua.
No limite, isto pode criar uma medida de segurança de carácter perpétua ou
ilimitado. Decorre do Princípio de que todos os direitos fundamentais só podem ser
restringidos quando tal restrição se mostre proporcional, adequada e necessária á
finalidade de prevenção que se pretende. Por isto, no caso de pena de prisão,
temos como limite máximo – art.º 41º – 25 anos.

Toda a privação de liberdade é de última ratio, pois só se deve privar a liberdade


quando as outras sanções não correspondem às exigências impostas pelas
necessidades de prevenção. As finalidades de punição estão no art.º 40, nº1,
havendo uma preferência pelas penas não privativas, plasmado no art.º 70º.
Quanto às medidas de segurança, também há preferência das não privativas face
às privativas, e quando olhamos para o art.º 98º, ainda que não esclareça de todo
a preferência, determina que, em vez da medida de segurança privativa de
liberdade, devemos optar por uma medida de segurança não privativa da liberdade.

A não automaticidade das penas significa não há efeitos automáticos das penas,
não é por ter praticado um dado crime que automaticamente irá ter a consequência
prevista. O art.º 30º, nº4 diz expressamente não haver efeitos automáticos nas
penas. A pena acessória não é um efeito automático e vemos a mesma coisa no
art.º 65º do código penal, que é o primeiro artigo do capítulo 3º cujo título é
penas acessórias e efeitos das penas, além de ser uma cópia do art.º 30º nº4
CRP.

É um sistema tendencialmente monista porque ao mesmo agente, pelo mesmo


facto não pode ser aplicado pena e medida de segurança, ambas privativas da
liberdade. Iremos ver que há uma pena que, sob o ponto de vista da natureza, tem
um pouco de pena e de medida de segurança, todavia, ele cumpre a pena
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

globalmente como sendo uma coisa só.

Muitas vezes, pergunta-se porque somos monistas, e temos sempre de referir a


parte final, de ambas privativas de liberdade, porque se pode aplicar uma pena de
prisão e, conjuntamente, uma pena do art.º 100 ou 101º. Nunca se pode aplicar
duas sanções privativas de liberdade, pois se o pudéssemos, seriamos dualistas.

Temos um regime especial, o da Pena Relativamente Indeterminada, no art.º 83º


e ss em que, ao mesmo agente é aplicada uma pena e como tal entendida porque é
24
apenas uma sanção, apenas não tendo, à partida, um tempo estabelecido apenas se
sabe o período em que lá estará. Parte desse período tem características muito
idênticas às de prisão e a outra parte é uma sanção com características muito
semelhantes às da medida de segurança. Ela é aplicada em bloco e por ter esta
dupla natureza, dizemos ser tendencialmente monistas pois é aplicada apenas como
sendo uma.
Convém, desde já, dizer que a nossa caracterização como sendo um sistema
tendencionalmente monista ao é posta em causa pelo facto de existir o art.º 99º.
O que está previsto neste artigo, o chamado vicariato na execução é uma situação
em que o mesmo agente, por factos diferentes, vê-lhe aplicada uma pena e uma
medida de segurança privativa da liberdade. Normalmente, a medida de
internamento é executada antes da pena de prisão e nesta descontada, se for caso
disso.

Para que não haja confusão, nós somos monistas porque aplicamos ou uma pena de
prisão, ou também dita privativa da liberdade, ou uma medida de segurança
privativa da liberdade, ao mesmo agente, pelo mesmo facto. Note-se que é “OU” e
não é “MAIS”. O único problema que aqui se possa colocar é posto em causa porque
se acrescenta o tendencialmente, devido à Pena Relativamente Indeterminada, que
é uma pena num único bloco, mas com duas naturezas distintas, sob o ponto de vista
da natureza.

Este regime permite perceber até onde vai a pena e até onde vai a medida de
segurança e é completamente diferente do art.º 99º. Chama-se vicariato na
execução porque há uma medida que é cumprida como se fosse outra, embora não
seja ela. No vicariato na execução, o agente cumpre a medida de segurança como
se estivesse a cumprir a pena de prisão, pois se a pena é de 3 anos, ele cumpre o
internamento de 2 e depois desconta-se na pena e apenas cumpre um ano de prisão.

Tal como arranjámos uma solução para os delinquentes especialmente perigosos


Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

com a PRI, há também o problema da imputabilidade diminuída que é sancionada


com uma pena e medida de segurança, na medida da sua perigosidade. Como
fazemos isso? O art.º 20º, nº2 resolve a questão e aqui, quando se considerar
que tem uma capacidade de avaliação dos factos diminuída, pode ser declarado
inimputável e temos aqui uma solução em função da actuação do agente, não pondo
em causa o sistema tendencionalmente monista.

Com a reforma de 2007, houve uma extensão da responsabilidade penal de pessoas


colectivas a todos os tipos legais de crime enunciados no art.º 11º, nº2. – Art.º
25
90º A, nº1

Quando vimos as penas principais, dizemos que o que as distinguia era o facto de as
que são atribuídas às pessoas singulares estarem previstas no tipo legal de crime,
pois com as pessoas colectivas isso não está previsto. Quanto à pena de multa, nós
sabemos que há muitos crimes onde esta está prevista, mas o art.º 90º B, nº2
diz que a cada mês de prisão, correspondem 10 dias de pena de multa, portanto, se
no crime de maus tratos em relação à pessoa coletiva se considerar um ano de pena
de prisão, a pessoa colectiva é condenada em pena de multa de 120 dias. Porém aqui
não valem os limites da pena de multa que estão estabelecidos no art.º 47º, nº1.
Estes limites não valem porque sempre que usarmos a taxa de conversão
estabelecida no art.º 90º-B, nº 2 quanto a pessoas colectivas passaríamos os
limites em vários casos e não surtiria efeito.

A mesma coisa acontece quando temos uma situação de concurso de crimes porque,
olhando para as regras do art.º 77º, vimos que essa apena não pode exceder os 25
anos de prisão ou os 900 dias de multa mas, se for condenada uma pessoa colectiva
com 20 anos, já estaremos a exceder, em muito, os 900 dias.

Para além das penas principais, temos as penas acessórias e as penas de


substituição como vimos na semana passada.

 Princípios jurídico-constitucionais básicos na matéria das


consequências jurídicas do crime:
Fundamentalmente, são 6 princípios:
1) Princípio jurídico-constitucional de proteção do bem jurídico
através do direito penal.
Todo o tipo legal de crime visa proteger um determinado bem jurídico e é esse o
critério legitimador da construção do próprio tipo legal de crime. Só se justifica a
violação de um direito fundamental quando há necessidade de proteção de outro
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

direito fundamental, daí se chegar ao Principio da analogia substancial entre


direitos fundamentais e os bens jurídicos penalmente protegidos. Também
sabemos que, porque há a ideia de proteção de direitos fundamentais, essa
proteção só deve ocorrer quando não os consigamos proteger por outros meios e aí
aparece outro princípio: Princípio da subsidiariedade de proteção do direito
penal. Temos um princípio básico de necessidade de pena e só quando há essa
necessidade de atribuição de pena privativa da liberdade é que a usamos.

2) Princípio jurídico-constitucional da Culpa


26
Não há pena sem culpa, mas pode haver culpa sem pena quando as necessidades de
prevenção não precisarem de pena efetiva, por culpa diminuta e quando a pena for
inferior a 6 meses, ou pena de multa não superior a 120 dias.

3) Princípio jurídico-constitucional de proporcionalidade das sanções –


art.º 18º, nº2 CRP

4) Princípio jurídico-constitucional da legalidade


Não há crime sem lei escrita, estrita, certa e prévia

5) Principio jurídico-constitucional não automaticidade dos efeitos


das penas

6) Princípio jurídico-constitucional socialização dos condenados


É um princípio que não nos aparece de forma clara na CRP. O limite a partir do qual
o delinquente deve ter todas as condições para ser socializado e isso não implica
que esta seja imposta como refere a norma da liberdade condicional – art.º 61º,
nº1. A liberdade condicional foi um instituto criado para permitir que o condenado
se adapte à sociedade e nela viva sem voltar a praticar crimes. A socialização é
proposta e não imposta, dando ao delinquente a possibilidade de ele rejeitar a
liberdade condicional.

Todos estes princípios já nos aparecem defendidos em diversos acórdãos do


Tribunal Constitucional. Para estudar estes princípios, teremos de ler um texto de
Maria João Antunes que irá servir neste semestre e depois para processo penal –
a constituição e os princípios penais.

Por fim, temos de falar dos fins das penas.

Há teorias absolutas – ético-retributivas - e relativas – de prevenção, sendo certo


Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

que nestas o nosso código penal tende pelas chamadas teorias da prevenção geral
positiva ou integração da norma e as de prevenção especial positiva ou socialização
do delinquente.
É cada vez mais difícil a dizer isto tal como esta à sociedade, porque a comunidade
não é jurista e deveremos reagir sempre de forma imparcial, pelo que a reação não
pode ser intuitiva e impulsiva de “se a pessoa matou deve ser morta”, como se dizia
na idade média – art.º 40º. Este artigo não é unanime da doutrina pois há quem
considere que este não deia estar plasmado com força de lei.

27
08 Outubro 2013

Duas alterações: professora Helena Moniz pode pedir na pág. 16 um preciosismo –


dizer que não há crime sem lei, previa, certa, escrita e estrita. Se não for assim, é
simplesmente o Princípio da não retroatividade, apenas com as 4 indicações se
pode falar de um corolário do Princípio da legalidade. Na página 17, no último
paragrafo, a Dra. Maria João Antunes remete para o art.º 29º, tal como remeteu
para o Princípio da Legalidade mas isto para a nossa professora não deixa de ser
uma consequência do Princípio da não retroatividade, salvo se for mais favorável.

Sistema tendencionalmente monista – Pena Relativamente Indeterminada – ela era


uma pena de natureza mista e não se confundia com o vicariato de execução. Art.º
20º, nº2 imputáveis diminuídos – também entre nós, não são declarados
inimputáveis pela lei, apenas são imputáveis diminuídos que são equiparados a um
inimputável e é-lhe aplicada uma medida de segurança, pelo que é mais uma prova
do nosso sistema monista.

 Caracterização da Penas principais (pág. 22 a 36):

Olhando para o Código Penal, as duas penas principais são as de prisão e as de


multa.

Fala-se de pena de prisão como única, ou seja, é só uma e não tem características
diferentes enquanto pena de prisão principal, apenas pode ir-se modificando a
forma de executar esta pena de prisão, pois há execuções da pena em regime
aberto e em regime fechado. Temos penas de duração curta (até 1 ano), média
(até 5 anos), e de longa duração (superior a 5 anos) e isto vai ter reflexos quanto
às penas de substituição porque algumas só se aplicam quando a pena de prisão vai
até 1 ano, outras até 5 e veremos que não há uma pena de substituição para penas
de prisão superiores a 5 anos. Não há varias espécies nem formas de pena de
prisão, apenas as podemos distinguir sob o ponto de vista temporal.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Por outro lado, a pena de prisão é uma pena simples. Já se viu que não havia efeitos
automáticos das penas e o próprio Código Penal também nos diz isso.

Quais os limites da pena de prisão?

O limite mínimo é de um mês e o máximo é de 20 anos, sendo certo que


excecionalmente, a pena de prisão podia ir até 25 anos, na situação de concurso de
crimes – art.º 77º,nº2 ou na PRI, nos termos do art.º 81º, nº2 ou então na
parte especial no caso do art.º 132º,nº1 do homicídio qualificado. 28

Isto não significa que o condenado nunca possa estar 20/40 anos na prisão, apenas
não pode estar mais do que 25 anos na prisão por um crime só. Exemplo: Imagine-
se que praticou um crime de dolo, integridade, homicídio e foi-lhe atribuído uma
pena de 25 anos e imaginemos que está la há já 10 anos na prisão e no refeitório
espetou um garfo num outro preso e matou-o, cometendo outro crime de homicídio
– e o juiz atribui-lhe uma pena de 16 e aos 25 soma 16. Ou seja, os 25 anos são
atribuídos a um crime ou julgamento em concurso de crimes e os 16 são relativos a
um crime posterior ao julgamento de crimes.

Por outro lado, quando se diz que, em regra, a pena mínima tem a duração de um
mês, olhando para o art.º 45º verificamos que uma pena de curta duração pode
ser cumprida por substituição em dias livres e o nº3 diz que cada período consiste
em 5 dias de prisão continua mas isto é uma pena de substituição e não põe em
causa que a pena principal mínima tenha a duração de um mês. A regra geral é de
que a pena principal tem um mês no mínimo mas quando substituída, tem de se
fazer a conversão.

 Pena de multa – prevista no art.º 47º

Diz-nos ser fixada em dias de acordo com os critérios no nº1 do art.º 71º, ou
seja, são critérios de prevenção geral positiva e prevenção especial positiva, tendo
como limite a culpa. Temos aqui também limites máximos, em situações de concurso
de crimes – art.º 77º e art.º 218º, nº1: art.º 244º; art.º 205º, nº4 a), por
exemplo e limites mininos. No nº2 diz que o quantitativo diário pode ir dos 5 aos
200 €

Uma característica desta pena é o seu caracter pessoalíssimo. Significa que só a


pessoa que é condenada é que pode pagar a pena de multa, esta tem de ser
cumprida pela pessoa do próprio condenado porque é uma sanção e no art.º 30º,
nº3 da CRP é expressamente dito que a responsabilidade penal é insuscetível de
transmissão. O art.º 367º do Código Penal tem um crime de favorecimento
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

pessoal, quem tem de pagar tem de ser um condenado e não vale dizer não ser dele
o dinheiro e no art.º 127ºCP diz-se que a responsabilidade penal extingue-se por
morte, ou seja, se uma pessoa for condenada por pena de multa e depois morrer, a
herança não devia responder.

Como funciona o sistema dos dias de multa?

Nós temos este sistema para cumprir por um lado o Princípio da culpa e por outro,
para conseguir cumprir o Princípio da igualdade e estes têm de ser respeitados
quando aplicamos a pena de multa a alguém. Vimos não poder haver pena superior à 29
culpa e sabemos que queremos, perante um ilícito idêntico praticado por pessoas
diferentes se a culpa e ilicitude for a mesma, que a multa seja a mesma. Se
tivéssemos um sistema de ricos e pobres, para culpas idênticas o valor seria
diferente, assim a determinação da pena é sempre em função das exigências de
prevenção geral e especial, pelo que se estabeleceu um critério que quer a pessoa
fosse rica ou pobre, a pena fosse igualmente determinada para penas e ilicitude
iguais.

Nos dias de multa, construímos a pena concreta e depois dizemos que quer o pobre,
quer o rico, naquele caso, têm uma pena de 300 dias de multa e assim nos dois
casos a pena corresponde à culpa deles. Resta-nos um problema: 300 dias para um
rico ou pobre, não é pago da mesma forma, pois estabelecemos um quantitativo
para cada dia de multa de forma diferente, mas os dias de multa são iguais.

Em exemplo: estabelecendo 300 dias, de acordo com as exigências da prevenção


geral naquele cado concreto o mínimo seriam 100 dias e o máximo seria 360 dias, e
de acordo com a culpa de cada sujeito, o máximo estabelecido eram 320 e de
acordo com as exigências de prevenção especial chega-se à pena concreta de 300
dias, quer para A e quer para B.

Para que A e B sintam a pena da mesma maneira, estabelece-se um quantitativo


diário de maneira diferente, como indica o art.º 47º nº2, que o tribunal fixa de
acordo com os encargos pessoais e assim o rico tem uma pena de multa de 500
euros por dia e o pobre vai pagar 5 euros por dia. Assim, o pobre paga 1 500 euros
e o rico 150 000 euros e com isto conseguimos adaptar a pena cumprindo o
Princípio da culpa á situação económica do nosso agente.

 Imagine-se um pobre A, um Rico B e um pobre C mas este têm 6 filhos.

Nesta situação, deve-se dar atenção ao pobre C com muitos encargos pessoais
ainda que do ponto de vista patrimonial seja muito igual ao A. Assim estabelece-se
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

para o pobre A 10 euros por dia e 5 para o pobre C. Não podemos olhar apenas para
a situação patrimonial mas para todos os encargos pessoais para cumprir o Princípio
da legalidade.

Para além destas penas principais, temos as de substituição e vimos quais eram:
art.º 43º,nº1; nº2; art.º 44 a); etc.

Agora temos de as classificar e para tal temos de saber como as caracterizar.


Temos penas de substituição em:

 Sentido próprio – são penas de substituição não detentivas, ou seja, por um 30


lado, aplicam-se em vez da pena principal mas, por outro, têm como
característica ser não detentivas, o agente não é privado da liberdade –
exemplos suspensão execução da pena de prisão; proibição de exercício de
atividade; multa
 Sentido impróprio – prisão por dias livres, semi-detenção; permanência na
habitação – aqui também temos penas de substituição aplicadas em vez da
principal, mas já são penas detentivas.

Faz-se esta distinção porque as penas de substituição aparecem para evitar o


efeito criminógena da pena de curta e media duração, pelo que, se conseguirmos
atingir todas as finalidades de prevenção através de uma pena que não seja
detentiva, isso deve aplicar-se.

Para além destes dois tipos, a Dra. Maria João Antunes autonomiza a pena de
substituição que é a admoestação prevista o art.º 60º - é a única pena de
substituição da pena de multa. Esta pena de substituição é curiosa porque, no
fundo, consiste “numa solene censura oral feita ao agente, em audiência, pelo
tribunal” e vai ter uma grande implicação prática porque, antes de aplicar esta
pena, o juiz tem de perguntar ao Ministério Público e ao arguido se ele pretende
recorrer porque, se pretenderem, esta já não pode ser aplicada, porque se esta é
uma chamada de atenção em tribunal e se aplicarmos efectivamente essa pena,
significa que o condenado já sofreu a pena. Se ele recorrer e na relação o juiz
decidir que tem de pagar a pena de multa, está a ser punido duas vezes pelo mesmo
facto. Para que isto não suceda, a pena de admoestação só pode ser aplicada depois
do Ministério Público e o arguido, finda audiência de discussão e julgamento,
dizerem não querer recorrer.

Penas acessórias: são atribuídas em função da culpa e exigências de prevenção e


por isso não são efeitos automáticos.

 Medidas de segurança:
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Temos medidas de segurança de internamento e não privativas da liberdade e


estas são as previstas do art.º 100 ao art.º 102º. Todas estas medidas de
segurança não privativas da liberdade podem ser aplicadas, conjuntamente, com a
pena principal porque, o que caracteriza o sistema monista é a não aplicação de
pena e medida de segurança, ambas privativas da liberdade, ao mesmo agente pelo
mesmo facto. Só assim se compreende que o art.º 102º diga que se pode aplicar
uma medida de segurança de aplicação de regras de conduta a um reincidente, pois
por trás deste regime está uma ideia de culpa mais grave, que vai ter uma pena de
prisão e, por isso, pode ter cumulativamente uma medida de segurança não
31
privativa da liberdade.

No art.º 102º temos duas situações: ou o agente é reincidente, ou se não fosse


inimputável, seria reincidente. A reincidência só existe para imputáveis porque
pressupõe culpa grave. Dúvida da professora quanto à página 35, duas linhas a
contar do fim.

15 Outubro 2013

Como se determina a pena?

Sabemos que o juiz pode estabelecer a pena entre o limite máximo e mínimo
estabelecido no tipo legal de crime e depois temos de ver como é que o juiz
determina a pena.

Temos 3 momentos:

 Um primeiro momento em que o juiz investiga e determina a moldura


abstrata do perigo e fá-lo subsumindo o caso concreto ao tipo legal de
crime que considera relevante, perante os factos provados na audiência de
discussão e julgamento praticado pelo criminoso.

Nesta primeira etapa, pode existir eventualmente uma outra operação que nem
sempre ocorre, que é e escolha da pena, ou seja, quando o tipo legal de crime prevê
uma pena de prisão e uma pena de multa em alternativa, ele tem logo nesta primeira
etapa que proceder a uma escolha da pena, isto é, terá de escolher uma de duas,
sendo certo que só faz esta primeira operação, que pode ocorrer ou não consoante
haja ou não previsão de penas alternativas, tendo em conta os critérios do art.º
70º do CP: há uma preferência pela pena não privativa de liberdade, relativamente
à pena privativa da liberdade e, de acordo com este artigo, o juiz devera escolher
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

uma pena não privativa da liberdade se esta cumprir de forma suficiente as


exigências ou finalidades de prevenção. Também já sabemos que, para conseguir
concretizar o que sejam as finalidades de punição, temos de recorrer ao art.º 40º
do CP, ou seja, o artigo diz que as finalidades de punição são as de proteção dos
bens jurídicos e reintegração do agente na sociedade, ou seja, finalidades de
prevenção geral positiva ou de integração e finalidades de prevenção especial
positiva ou de socialização.

Por outro lado, não podemos esquecer que o art.º 40º nº2 diz que a culpa é limite
da pena e estes três elementos serão os fundamentais para a determinação da 32
medida concreta da pena (prevenção geral mais prevenção especial mais pena.)

 A primeira etapa é a da Moldura abstrata - (tipo legal de crime) –


escolha da pena de prisão ou de multa.
 A segunda etapa é a determinação da medida concreta da pena – é
concreta porque olhamos para o facto que foi cometido e temos um olhar
sobre o facto
 A terceira fase é eventual, é a escolha da pena - não é a mesma coisa
porque enquanto na primeira fase optamos entre penas principais, aqui
veremos se há ou não possibilidade, a partir da pena concreta a que
chegamos na segunda fase, de ser ou não possível aplicar uma pena de
substituição.

Se olharmos para todas as penas de substituição, verificamos que o máximo de


pena de prisão que permite a aplicação da pena de substituição é a pena de prisão
até 5 anos, pois superior a isso não há pena de substituição, ou seja, esta etapa só
é relevante se, na segunda fase se chegar a conclusão que a pena é de prisão não
superior a 5 anos.

Na primeira etapa, há a determinação da moldura abstrata, o juiz escolhe a pena


de prisão, por exemplo, e passamos a saber quais os mínimos e máximos. Para além
disto, a outra coisa é a alteração desta moldura abstrata por funcionamento das
circunstâncias modificativas que podem ser agravantes ou atenuantes. O
funcionamento destas circunstâncias permite alterar a moldura abstrata. O que
são estas circunstâncias? É algo que não está ligado ao tipo de ilícito, nem ao tipo
de culpa, nem aos pressupostos da punibilidade (segundo a Teoria do Dr. Figueiredo
Dias) mas tem reflexos na maior ou menor gravidade do facto, quando este é
analisado como um todo ou globalmente.

Exemplo: reincidência – tem vários pressupostos mas esta à partida, antes de ver
se foi A que matou B por alguma razão. É certo que se ele matou mais vezes
anteriormente ao homicídio de B vai ter reflexos logo à partida na determinação da
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

moldura abstrata que vai ser aplicada porque temos aí uma circunstância agravante
que vai alterar o limite mínimo da moldura abstrata, como explicita o art.º 75º.
No caso de uma circunstância modificativa atenuante, temos a tentativa e neste
regime, no art.º 23º, nº2 diz-se que a tentativa é punida mas especialmente
atenuada. Olhando para o regime da omissão impura – art.º 10º - verifica-se que o
nº3 diz que no caso previsto no nº anterior, a pena pode ser especialmente
atenuada. Sempre que o Código Penal nos diz que a pena é especialmente atenuada,
teremos sempre de seguir o regime previsto para a atenuação especial do art.º
72º e 73º.
33
Por outro lado, também no que diz respeito à classificação das circunstâncias,
podemos classifica-las de outro modo, não tanto do ponto de vista da circunstância
da medida da pena, mas do crime em geral: circunstâncias modificativas gerais,
que se aplicam a qualquer tipo legal de crime em geral, ou circunstâncias
modificativas especiais, exemplo: crime de furto art.º 206º – as circunstâncias
atenuantes são apenas respetivas ao tipo legal de crime em concreto.

E se tivermos várias circunstâncias modificativas? Por exemplo, jovem de 18


anos que furta um telemóvel, usa-o estraga-o mas restitui – art.º 206º CP e
art.º 4º do dec-lei 401/82. Pode haver aqui duas atenuações, uma com base no
art.º 206º nº1 e outra com base do dec-lei. Como se atenua? Art.º 73º CP,
menciona que sempre que houver lugar a atenuação especial da pena, remete-nos
para a moldura abstrata e se apenas é de 3 anos, ele diz que se retira um terço da
pena, ou seja, ficam 2 anos. Ao limite mínimo o que acontece? Este era de um mês
e não se aplica a parte da alínea porque ela só se aplica se o limite mínimo for igual
ou superior a 3 anos. Ou seja, ficamos com um mês como limite mínimo, por força
do art.º 73º b) 2ª parte. Falta ainda a atenuação por ser jovem, presente no
dec-lei, e agora? Partimos da moldura que construímos ou sumamos
sucessivamente as atenuações? Se o fizermos, no caso do limite máximo, se
reduzíssemos duas vezes, apenas ficava um ano mas se somássemos as duas,
ficaríamos com pena reduzida a zero, pelo que não se usa o sistema de acumulação
das atenuações.

Usamos o sistema do funcionamento sucessivo das atenuações, ou seja, com isto,


vamos pegar na moldura a que chegamos com a primeira atenuação e voltar a fazer
uma atenuação nos termos do art.º 73º - o mínimo é inferior a 3 anos, fica um mês
e o máximo é de 2 anos reduzido a um terço ou seja, 1 ano e 4 meses. Falta uma
pergunta: e se tivermos num mesmo caso, circunstâncias agravantes e
atenuantes, por onde começamos? Primeiro fazemos funcionar as circunstâncias
agravantes e depois as atenuantes, regra geral, com uma exceção, no caso da
reincidência por causa do art.º 76º, nº2. A reincidência era uma circunstância
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

agravante geral e aqui faz-se o contrário, primeiro funciona a atenuante e só no


fim é que aplicamos a agravante da reincidência. Isto é assim porque precisamos de
saber qual é a pena que se poderia ter aplicado ao agente, se ele não fosse
reincidente e nós precisamos de saber essa pena porque depois, quando aplicarmos
a agravação da reincidência e encontrarmos a pena concreta, temos de concluir que
a pena da reincidência, comparada com a pena que teria tido se não fosse
reincidente, na pode ser uma agravação superior à pena que tenha tido nos crimes
anteriores.

É preciso agora determinar a moldura concreta do crime e sabemos que esta é 34


estabelecida tendo em conta 3 pressupostos básicos: por um lado, as exigências
prevenção geral positiva, por outro, as exigências de prevenção especial positiva e
por outro, o limite da culpa. Sabemos que são estes 3 elementos porque nos diz o
art.º 71º, nº1.

Como se articulam estes elementos? Vamos seguir o modelo da prevenção,


desenvolvido pelo Dr. Figueiredo Dias e pela Dra. Anabela Rodrigues, pois os
outros modelos que existiam não se adaptam ao nosso Código Penal, nomeadamente,
ao que esta estabelecido no art.º 40º, nº1 e 2. Um dos modelos é chamado
Teoria do valor de posição ou de emprego – defendido por HORN e o outro é o
modelo da teoria da culpa exacta – defendida por Kawfman; modelo de espaço de
liberdade ou moldura da culpa - Roxin.

A teoria da posição ou de emprego vem-nos dizer que há uma distinção clara


entre, por um lado, a determinação da medida concreta da pena e, por outro lado, o
momento da escolha da pena, considerando que as exigências que se colocam no
momento da determinação da pena são exigências diferentes daqueles que se
colocam no momento da escolha da pena. O que esta teoria do valor da posição diz
é no momento da determinação da medida concreta da pena apenas valem as
exigências da culpa e a pena e determinada exclusivamente com as exigências da
culpa e só depois é que vamos, em função das exigências de prevenção, escolher a
pena. Significa que em todas as situações em que fosse possível escolher a pena, as
exigências iam ter papel activo no momento da escolha da pena. Nós, aquando a
determinação da pena, o art.º 70º nº1 diz que tem de haver atenção na culpa e
exigências de prevenção e se só a determinamos em função da culpa, não
cumprimos o que está, estabelecemos o que está no art.º 41º e não podemos
escolher este modelo da teoria da posição ou emprego.

Um outro modelo é o da teoria da culpa exata e segundo este modelo, a culpa


dáva-nos logo o quantum exato da pena; a medida da pena é fornecida pela culpa e a
culpa dá o plano exacto. Ora, também facilmente se consegue compreender que não
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

podemos usar este sistema porque, se o art.º 41º manda ter em conta exigências
de prevenção e este não as tem em conta, não o podemos usar. Para além disso, o
art.º 42º diz que a culpa apenas dá o limite máximo da pena e se estamos a dizer
que a culpa dá a pena exacta estamos a atribuir à culpa uma função para além da
atribuída no art.º 42º que é o limite da pena. Este sistema retira demais da culpa
para a determinação da medida concreta.

Há ainda um outro modelo antes do que utilizamos, o modelo de Roxin e, como o


nome indica, isto significa que, em função da culpa do agente, estabelece-se um
mínimo e um máximo da medida concreta da pena. Ou seja, olha para o caso e em 35
função da culpa estabelece um limite mínimo e máximo, sendo certo que esse limite
corresponde às exigências de prevenção geral, ou seja, na determinação da pena
tendo em conta a culpa e sabendo que nos dá os limites da pena, considera que
essas circunstâncias da prevenção geral estão cumpridas e será em função disso
que se determina a medida concreta, em função das exigências da prevenção
especial. À partida não só tem em conta a culpa do agente como também as
exigências de prevenção, como nos dita o Código Penal e parece que podíamos
adotar este modelo. Porém, o estipulado no art.º 40º, nº2 impede-nos de o
adoptar porque diz que a culpa é o limite máximo da pena, no entanto exigências de
prevenção podem determinar uma pena muito inferior – o primeiro obstáculo é o
disposto no art.º 40º, nº2. Por outro lado, também admitimos que a pena possa
ser inferior à culpa, em função das exigências de prevenção geral, isto é, a culpa
ser diminuta e até se chegar à conclusão que o agente não devia ser punido – vimos
isso a propósito do Princípio da unilateralidade da culpa (não há pena sem culpa mas
pode haver culpa sem pena) – exemplo: art.º 74º do Código Penal sobre dispensa
de pena.

Se defendemos este princípio da unilateralidade da culpa, não podemos utilizar o


modelo de Roxin na determinação da pena e é mais uma crítica que nos permite
afastar o modelo.

Nós vamos usar o modelo da prevenção e aqui, na segunda fase, a partir da


moldura abstrata que já construímos na primeira fase, iremos determinar a
moldura concreta, em função das exigências de prevenção geral e aí determinamos
o máximo e o mínimo da moldura penal concreta. Este máximo e este mínimo
correspondem ao ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e o mínimo social, ou
seja, mínimo de defesa dos bens jurídicos exigidos pela sociedade,
respetivamente, em função do caso concreto.

A partir do ponto opimo de tutela do bem jurídico e das desse mínimo social,
estabelecemos, segundo as exigências da prevenção especial a pena concreta,
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

estabelecendo como limite o limite máximo da culpa e aqui este limite, regra geral,
corresponde ao ponto ótimo de tutela do bem jurídico, porém, excecionalmente
pode não corresponder. Segundo o modelo da prevenção, começamos por
estabelecer um limite máximo e mínimo em função das exigências da prevenção
geral e depois tendo presente a culpa, estabelecemos a pena concreta em função
das exigências da prevenção especial.

Fatores de determinação da medida da pena; art.º 71º, nº2

Vai atender a todas aa circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, 36
(esta aqui a consagração do Princípio da proibição da dupla valoração) depuserem
a favor e contra o agente, considerando, nomeadamente, várias circunstâncias:
relativas a própria execução do facto (al a, b e c); intensidade do dolo e
negligência e sentimentos que determinaram o tipo de crime. Temos, depois,
factores relativos à personalidade manifestada no facto (conduta económica e
falta de consideração do facto – al d) e f)) e, finalmente, temos a conduta (al e)).

Todos estes fatores têm de ser tidos em conta para conseguir estabelecer a pena
concreta. É certo que há um princípio fundamental, o da proibição da dupla
valoração, isto é, se um determinado elemento já for tido em conta na construção
do tipo legal de crime e portanto na conjunção da moldura abstrata consagrada
nesse tipo legal de crime, não pode depois esse mesmo fator voltar a ser valorado
na determinação da medida concreta – art.º 132º Código Penal. Verificamos que
estão lá previstas várias circunstâncias que permitem indiciar que estamos perante
homicídio qualificado – o nº2 diz que factos revelam especial censurabilidade – o
que temos é uma agravação da pena devido à especial censurabilidade. Imaginemos
ser o facto de torturar a vítima antes de a matar e se já temos este elemento, não
podemos, novamente, invocar a tortura para, na segunda fase, impor maiores
exigências na prevenção especial.

Tomos também uma outra vertente a este principio, isto é não podemos valorar o
mesmo facto para as exigências da prevenção geral e especial e para a culpa –
exemplo: no âmbito da alínea e) não podemos valorar a conduta anterior do agente
para efeitos da determinação do limite máximo da culpa e depois para efeitos da
determinação do mínimo exigido na prevenção geral.

O último espaço é o da escolha da pena, os critérios estão no art.º 70º e são


exigências de prevenção geral e especial, não se falando de culpa a este nível. Os
critérios nesta última fase são apenas os decorrentes das exigências de prevenção
geral e especial positiva. É neste terceiro momento que se coloca a o problema da
aplicação da pena de substituição
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Estamos sempre a falar, até aqui, na determinação da pena de prisão, mas as


coisas mudam quando a pena é uma pena de multa? Os critérios na
determinação da moldura concreta da pena de prisão são os mesmos para a
pena de multa? São os mesmos critérios, os previstos no art.º 70º, nº1 e
também aqui se deverá estabelecer, em função da pena de multa, um mínimo
correspondente ao necessário para cumprir as exigências de proteção do bem
jurídico e um máximo correspondente ao ponto ótimo de tutela do bem jurídico e
depois, em função da culpa, se irá estabelecer o limite máximo e só assim será
estabelecida a pena concreta em função das exigências da prevenção especial.
37
Quanto à pena de multa temos um sistema de dias de multa, ou seja, não temos
nem um sistema de soma global de quantia fixa, nem um de soma global de quantia
variável, isto é, nos sistemas que usam a soma global, temos a atribuição de uma
pena de multa com um certo quantitativo que pode ser fixa, exemplo - 10 000 euros
ou variável, entre 10 e 5 000 euros. Se olharmos para o Código Penal, verificamos
que em parte alguma da parte especial os crimes falam disso porque usamos o
sistema de dias de multa, ou seja, estabelece-se um mínimo e um máximo em
função dos dias. Porquê? Porque consideramos que a pena de multa tem de ser
atribuída de acordo com a culpa do agente e se tivéssemos uma determinação da
pena num certo quantitativo, podíamos cumprir aí as exigências da culpa mas se
tivéssemos perante nos dois condenados, um rico e um pobre, mesmo que tivessem
a mesma culpa, o rico não sentiria essa pena, da mesma forma que o pobre a iria
sentir. É necessário cumprir o Princípio da culpa determinando uma pena que
corresponda à culpa mas também é preciso cumprir o Princípio da igualdade e com o
sistema da culpa global, nunca conseguiríamos aplicar uma pena de multa
correspondente à culpa, conseguindo distinguir o rico e o pobre.

Com o sistema dos dias de multa atribuímos uma pena, quer seja rico ou pobre, em
função da culpa e assim ambos, perante o mesmo facto ilícito e culpa, têm os
mesmos dias de multa e só depois se fixa um quantitativo diário em função das suas
situações económicas e encargos pessoas – art.º 47º, nº2 CP.

Não se pode olhar para o mesmo condenado com um ordenado de 600€, solteiro e
sem filhos como se olha para um solteiro com 4/5 filhos com os mesmos 600€ de
ordenado, porém, aqui já não estamos a determinar a pena, isso é feito tendo em
conta as exigências de prevenção na determinação dos dias de multa. Pelo art.º
409º código do processo penal, quando o arguido ou o Ministério Público no
interesse do arguido recorre, não pode ser-lhe aumentada a pena, pois caso
contrário, não iria recorrer uma vez que o direito de recurso é constitucionalmente
atribuído. Há apenas uma exceção, nos termos do nº2 se, após a decisão da 1ª
instancia tiver havido alteração económico-financeira do arguido e este artigo é a
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

prova de que o quantitativo diário a estabelecer para cada dia de multa não é o que
corresponde a exigências de prevenção de culpa.

Pode-se questionar o facto de o arguido ser rico mas quando é pobre e não tem
rendimentos para pagar os dias de multa pois ficou desempregado – há
possibilidades de facilitar o pagamento da pena de multa? Sim, esta pode ser
paga em prestações ou pode ser diferido o pagamento para um momento posterior,
nos termos do art.º 47º nº3. Se a situação económica do condenado for má, o
magistrado pode ainda permitir que ele pague num período de ano ou então permitir
que seja paga em prestações e, neste caso, essas não podem ter uma duração 38
superior a dois anos.

Será que isto adulterou a pena de multa? Isto faz com que o magistrado tenha
de escolher a pena de prisão para não ter uma pena de multa muito grave? A
Dra. Maria João Antunes diz que não considera que, nestas circunstâncias, o
magistrado deve aplicar a pena de multa e se não houver possibilidade de
pagamento desta, deve converte-la, nos termos do art.º 49º, em pena de prisão
subsidiária e depois, nos termos do art.º 49º nº3, deve suspender esta pena e
depois converte-la em dias de prestação social. O problema colocado foi que,
muitas vezes, mesmo perante situações económicas muito más, estabelecer 5 euros
diários para uma pena pesada, ainda torna difícil o cumprimento da pena e mesmo
dilatando o prazo para um ano ou impondo prestações, não tem rendimentos para
pagar, pelo que, alguma jurisprudência disse que, num primeiro momento, se deve
apagar uma pena de prisão mas isto seria contrariar o art.º 70º do CP e
subverter o sistema.

Como fazer então? Deve-se aplicar o regime do art.º 49º e alterar a pena para
prisão subsidiária, nos termos do nº1 e aí ele não pode cumprir a prisão subsidiária
apenas porque é pobre e, se o condenado provar que não paga por motivo não
imputável, esta é suspensão é traduzida em cumprimento de deveres e depois
destes cumpridos, a pena é extinta.

Reter: como se determina a pena? Quais são as fases de determinação da


pena? São 3 – determinação da moldura abstrata, determinação da moldura
concreta, escolha da pena.

1ª Fase – elementos que podem alterar a moldura abstrata estabelecida no tipo


legal de crime – circunstâncias modificativas agravantes e atenuantes gerais e
especificas. Regra geral e exceção. Na determinação da moldura abstrata pode
existir momento de escolha da pena
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

2ª Fase – saber qual o modelo usado na determinação da medida concreta da pena,


qual o modelo da prevenção e temos de saber os elementos básico de articulação e,
ainda, saber os fatores de determinação da medida da pena, sem esquecer a
proibição da dupla valoração

3ª Fase - Pode existir fase eventual da escolha da pena.

Também se aplica para a pena de multa, apenas saber que pena de multa temos, o
sistema de dias de multa e a justificação desse sistema. Também sabemos que há
necessidade de determinação do quantitativo diário e saber porque não faz parte 39
da determinação da pena. Exemplo do art.º 409º do código do processo penal.

Saber também que, mesmo sendo a situação económica muito má, não podemos
contrariar a regra de direito da pena de multa, estabelecida no art.º 71º, nº1 e
podemos usar a possibilidade do código.

29 Outubro 2013

 Determinação da pena em casos especiais:

Em que circunstâncias é que esta forma de determinação da pena pode ser


alterada, ou seja, quais ou casos especais de determinação da medida da
pena?

A situação de concurso de crimes é a primeira situação a pensar sobre esta


matéria. Já sabemos que este pode ser um concurso efectivo e um concurso
aparente e também vimos que este concurso aparente, na nova concepção do Dr.
Figueiredo Dias, é diferente do velho concurso aparente, defendido pelo Dr.
Eduardo correia. O nosso concurso, hoje, é o concurso de normas e tem em conta o
concurso dominante e o concurso dominado – art.º 77º. Vimos também que, pelo
Dr. Figueiredo Dias, o art.º 77º não se aplica no concurso aparente.

O que é o concurso efetivo? O agente cometeu diversos crimes e no concurso


aparente o agente também cometeu diversos crimes mas o objetivo básico dele era
burla, a falsificação era apenas um meio, sendo que assim temos um concurso
dominante e um dominado. Aí, o tipo legal de crime era definido com base na
moldura do ilícito dominante, tendo aqui relevo a moldura do ilícito dominado.

Quais os sistemas que existem quanto à determinação da pena do concurso? O


sistema mais percetível é o chamado sistema da acumulação material (soma), ou
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

seja, todas as situações em que o agente é punido por todos os crimes que
cometeu, sendo certo que, para cada um dos crimes, será dada uma pena e depois
serão somadas todas as penas de todos os crimes, na determinação concreta –
acontece no regime norte-americano. Aqui poderá haver uma violação do Principio
da culpa mas discute-se porque, quando olhamos cada pena isoladamente,
conseguimos ter em conta a culpa do agente, mas olhando para o valor da pena
depois de somadas todas as culpas, consideramos que aí excederá a culpa no facto
globalmente considerado. Este é o principal problema e que nos faz recuar.

Existe também o problema de saber se nos termos do art.º 40º, será que 40
uma pena de 200 anos corresponde às exigências de prevenção especial de
socialização do delinquente? Não pois esta pena, verdadeiramente será uma pena
perpétua. E ainda, se entendermos as penas como finalidades de prevenção geral, o
sistema também não cumpre essas exigências.

Nos regimes europeus mudou-se para um sistema de pena única, isto é, ao bolo de
crimes é dada apenas um apena, apenas teremos de saber como lá chegamos.

Segundo o regime tradicional, a ideia que se tem é no sentido de avaliar


globalmente todos os ilícitos cometidos pelo agente e assim determinar apenas uma
única pena, sabendo que na sua determinação teremos em conta as exigências de
prevenção geral, prevenção especial e a culpa do agente. Este sistema de pena
única é facilmente entendido num direito penal do agente, ou seja, pela pessoa que
praticou um crime, do que num direito penal do facto. Entendendo como um direito
penal do facto, a pena tem de ser determinada em função de cada facto e não em
função do agente que praticou crimes.

O outro sistema é o da pena conjunta, sendo certo que chegaremos a uma pena
que conjuga todos os crimes que foram praticados pelo agente. Vamos olhar para
todos os crimes que o agente cometeu e tentar encontrar uma pena que reflita
todos os ilícitos que ele cometeu. Esta forma será diferente consoante o método
que usarmos e há 3 métodos básicos:

1. Método da absorção – vamos continuar a determinar a pena para cada


crime isoladamente e vamos à pena mais grave que atingimos e punimos o
agente pela pena mais grave que lhe cabia. Todos os ilícitos são absorvidos
pela pena mais grave o agente é punido pela pena concreta mais grave.

2. Método da exasperação – vamos a olhar para a moldura mais grave dentro


de todos os crimes que o agente tenha praticado e se pensarmos no Código
Penal, o homicídio tem uma moldura de 8 a 16 anos, o crime de furto tem
uma pena até 3 anos e o crime de violação de integridade física simples,
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

será a de pena de prisão até 3 anos. Ou seja, a moldura mais grave é a de


homicídio e é a partir da moldura mais grave que se determina a pena do
concurso para todos os crimes que o agente tiver praticado. Há também aqui
um certo esconder dos outros crimes, sendo certo que nesta determinação
dever-se-á ter em conta todos os crimes que o agente tenha praticado.
Apesar de a moldura ser a mesma, o juiz não vai chegar à mesma conclusão.
3. Método do cúmulo jurídico, o que vamos utilizar e seguir – ou método da
pena única conjunta – aqui chegaremos a uma pena única mas não como no
sistema simples de pena única e olhamos para o concurso de crimes sabendo
41
que é composto por vários crimes.

Como é que determinamos a pena, não esquecendo que o agente cometeu


outros crimes?

Em primeiro lugar, teremos sempre de determinar a pena concreta de cada um dos


crimes que o agente cometeu como se não existisse concurso de crimes, depois, em
função dos valores a que tenhamos chegado, vamos construir a chamada moldura do
concurso de crimes e fazemo-lo de acordo com as regras do nosso Código penal,
nos termos do art.º 77º, nº2 que nos diz que a pena aplicável tem como limite
máximo a soma das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo
ultrapassar de 25 anos tratando-se de pena de prisão e 900 dias, tratando-se de
pena de multa. Diz também que como limite mínimo será a pena mais elevada das
penas concretamente aplicadas aos vários crimes do caso.

A partir desta moldura do concurso temos de, em função do mínimo necessário e do


ponto opimo para a proteção dos bens jurídicos, estabelecer a pena concreta do
concurso e chegamos a uma pena do concurso. Portanto, nestas operações temos
de, por um lado, começar por determinar as penas parcelares, depois, em função do
art.º 77º,nº2 determinar a moldura do concurso. Finalmente, determina-se a
pena concreta do concurso mas não são apenas as exigências de prevenção geral e
especial, tendo como limite a culpa do art.º 71º, que valem para a determinação
do concurso, temos também as exigências do art.º 77º, nº1, última parte.

Quando vamos determinar a pena concreta do concurso a partir da moldura


construída para o concurso, para além das exigências que temos de ter em conta
pelo art.º 71º, temos também que levar em atenção uma análise global (ou em
conjunto) dos factos praticados pelo agente e da personalidade do agente revelada
por aqueles factos, para a determinação da pena. Não nos podemos esquecer de ter
em conta sempre estes dois elementos.

Porém, há aqui outro ponto, pois podemos, eventualmente, ter uma moldura penal
baixa com uma pena concreta para cada um dos crimes de 1 ano, o que determinaria
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

uma moldura entre 1 e 3 anos e, segundo o regime, determinávamos uma pena


concreta de 2 anos. Aqui poderíamos ter ainda uma outra fase da escolha da pena,
isto é, atribuição de uma pena de substituição. O último passo de escolha da pena é
sempre eventual, em função da pena concreta a que tivermos chegado nos passos
anteriores.

Temos aqui ainda uma outra situação que é a situação do concurso aparente, onde
não se aplicava o art.º 77º ,segundo a concepção do Dr. Figueiredo Dias. Neste
concurso aparente o agente é punido pela moldura do ilícito dominante, levando em
conta o ilício dominado (exemplo: crime de falsificação de documentos e burla, 42
sendo que na falsificação é de 1 mês a 3 anos e quanto à burla, a pena é até 3 anos
ou pena de multa – a falsificação e documentos foi um meio para realizar o crime
de burla – se o ilícito dominante é a burla, o agente é punido por este, ou seja, a
moldura é de um mês a 3 anos e é a partir desta que será determinada a pena
concreta, sendo certo que se leva em conta o ilícito dominado). Aqui, o Dr.
Figueiredo Dias diz que nas circunstâncias de ser mais elevada a moldura do ilícito
dominado, o agente era punido pela moldura do dominado tendo em conta o ilícito
do dominante (confirmar no livro). Se nós aplicamos o art.º 77º ao concurso
efectivo e não o aplicamos ao concurso aparente, automaticamente não
conseguimos aplicar o regime do art.º 77º, nº4 que aplicamos ao concurso
efectivo e este regime é o das penas acessórias. Viu-se que estas são aplicadas
conjuntamente com a pena principal e o art.º 77º, nº4 vem dizer que sempre que
no âmbito do concurso, haja algum crime em que esteja prevista uma pena
acessória, mesmo que essa pena só exista para um dos crimes que integra o
concurso, ainda assim essa pena pode ser aplicada.

Se dissermos que é uma situação de concurso aparente, a partir do momento em


que se disse que não se aplica o art.º 77º, também não podemos aplicar o regime
da pena acessória e, em princípio, se tivermos uma situação desta, não o podemos
aplicar a não ser que o ilícito dominante preveja uma pena acessória.

Temos mais um problema, pois alguns crimes são punidos com pena de prisão e
outros com penas de multa. Exemplo: imagine-se que temos uma pena parcelar
de 3 anos de pena de prisão e uma pena de multa de 180 dias, como se faz a
moldura do concurso? O art.º 77º, nº3 diz que se as penas aplicadas forem umas
de prisão e outras de multa, a diferente natureza destas mantem-se na pena única
resultante da aplicação dos critérios estabelecidos nos números anteriores. 180
dias de pena de multa não é o mesmo que 3 anos de pena de prisão. Vimos que se a
multa não for paga voluntariamente, é cumprida a pena de prisão subsidiária
reduzida a 2/3 – isto é 120 dias. É exatamente o mesmo critério que temos de
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

fazer para converter a pena de multa em prisão para conseguirmos encontrar a


moldura do concurso.

E se o condenado quiser pagar a multa? Ele paga-a, destrói-se a pena de multa


convertida e restam os 5 anos de prisão. Se ele tiver um crime cuja pena parcelar
era de 5 anos de prisão e 120 dias convertido em prisão; um crime de 3 anos de
prisão e ele decidir pagar a multa, essa determinação desfaz-se e teremos de
construir a moldura de acordo com o que resta.

Temos sempre falado tendo por base a noção de concurso de crimes prevista no 43
art.º 77º, nº1 e o que nos diz este artigo é que há concurso de crimes quando
alguém tiver praticado vários crimes antes do trânsito em julgado de qualquer um
deles, portanto, só temos concurso de crimes se estivermos a fazer o julgamento
hoje e antes o agente tiver cumprido vários crimes. Depois do julgamento e
proferida a sentença, há um prazo de 20 dias para recurso e se este não existir, a
decisão transita em julgado. Se, por exemplo, tiver praticado um outro crime no
período de 20 dias antes do trânsito em julgado, ainda é concurso de crimes?
Se olharmos para o previsto no art.º 77º, nº1, ele fala de anterioridade ao
trânsito em julgado e segundo essa noção ainda é concurso de crimes.

O problema é o que está previsto no art.º 78º. Porque é que o artigo diz o que
diz? Acontece que temos o julgamento e antes deste tinham sido cometidos 3
crimes mas, no julgamento, só se conheceu do crime 1 e 3 e aplicam-se as regras do
concurso, e agora? Aplicar ou não o regime do concurso é mais benéfico ou menos
benéfico para o arguido porque, se levarmos para a determinação do concurso
todos os crimes, ele pode ter uma pena cujo limite máximo é a soma de todos os
crimes, e se levarmos apenas dois, a moldura é menor mas se, mais tarde, cumprir a
pena do crime não conhecido pode ter um regime menos benéfico do que teria no
concurso. Aqui, por desconhecimento do tribunal, o nosso agente vai ser
prejudicado? Não, aí colocamos também o crime não tido em conta na altura do
julgamento no concurso de crimes quando se estiver a julgar o crime 2 e aí
destruímos a pena já criada e voltamos a construir a pena do concurso, com base
em ambos os crimes.

Coloca-se um problema: a professora colocou a situação de um crime que foi


praticado antes do julgamento mas também se falou de que entre o julgamento e o
trânsito em julgado há um prazo para interposição de recurso, ora, neste caso,
havendo uma interposição de recurso, o prazo será maior até ao trânsito em
julgado e coloca-se a questão de saber: o que se faz aos crimes praticados entre
o julgamento e o trânsito e, julgado se este demorar anos? Teremos de saber o
que quis dizer o legislador quando se referiu, no artigo, ao “anteriormente ao
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

trânsito em julgado” – a Dra. Maria João Antunes diz que o art.º 78º nos
aparece para colmatar uma lacuna do tribunal e, segundo ela, lava-se para a
determinação da pena de concurso de situações de conhecimento superveniente
apenas os crimes praticados antes do julgamento, portanto, um crime praticado
depois do julgamento não será levado para concurso porque não há nenhuma lacuna
do tribunal porque, no dia em que o tribunal julgou o crime 1 e 3, o crime não tinha
sido praticado.

A professora Helena Moniz tem dúvidas em defender esta posição por uma razão:
no 3º ano fala-se que um Princípio fundamental em direito penal era o da legalidade. 44
Ora, uma decorrência deste era ao nível da interpretação e teria de se tirar da
letra da lei a interpretação que uma pessoa normal entende que lá esta escrito e da
letra não se retira que condenação é apenas o dia do julgamento e não o dia do
trânsito em julgado, e ainda pelo problema de saber o que é concurso de crimes
para efeitos do código penal e, neste sentido legal, se não houve trânsito em
julgado para nenhum dos crimes, então ainda deveria entrar para concurso o crime
praticado antes dos anteriores terem transitado.

Se eventualmente, após o conhecimento e refeita a moldura já passaram 3 anos


entre os julgamentos, por exemplo, e a pena concreta passa a ser de 6 anos, há
necessariamente um desconto da pena que já foi cumprida, não só por força do
art.º 78º, nº1 mas também pelo art.º 80º, nº1.

 Situações de reincidência – previstas no art.º 75º e ss.

Quando temos reincidência? Há dois pressupostos básicos para a aplicação desta:


um pressuposto material e um pressuposto formal. Quanto ao pressuposto
material, o que temos aqui é um agente que cometeu diversos tipos legais de
crimes, sendo certo que só há reincidência quando os outros crimes que o agente
prática ocorrem depois do trânsito em julgado da decisão porque, se acontecer
uma prática de diversos crimes antes do trânsito em julgado, temos uma situação
de concurso. O que temos é um delinquente que vai ter, por força da reincidência,
uma culpa mais grave que ocorre porque ele desrespeita a advertência que lhe foi
dada com a condenação anterior.

Art.º 75º “É punido como reincidência que, por si ou sob qualquer forma de
comparticipação, cometer um crime doloso que deva ser punido com prisão efetiva
superior a seis meses, depois de ter sido condenado por sentença transitada em
julgado em pena de prisão efetiva superior a seis meses por outro crime doloso, se,
de acordo com as circunstâncias do caso, o agente for de censurar por a
condenação ou as condenações anteriores não lhe terem servido de suficiente
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

advertência contra o crime”. Se não fosse uma situação de maior culpa, teríamos
um delinquente por tendência e, se assim fosse, ou seja, numa situação de maior
perigosidade, tínhamos uma situação de pena relativamente indeterminada e
quando esses pressupostos estão cumpridos, o agente é punido como delinquente
especialmente perigoso e por pena relativamente indeterminada porque, o art.º
76º, nº2 o diz expressamente. Na reincidência temos mais culpa porque ele
desrespeita a solene advertência contida nas sentenças anteriores. Só existe
reincidência pela prática de crimes depois do trânsito em julgado das sentenças
anteriores e, com isto, distinguimos a situação da reincidência do concurso de
45
crimes. Mas, se concluirmos que além de ter mais culpa é também mais perigoso,
temos um delinquente por tendência e aplicamos a Pena Relativamente
Indeterminada, cujo regime está nos art.º 83º e ss e esta pena prevalece sobre a
reincidência por força do art.º 76º, nº2.

Quais os pressupostos formais? O próprio art.º 75º nº1 diz-nos quais são eles,
isto é, é preciso que o crime que estamos a julgar seja doloso, que deva ser punido
com prisão efetiva (se considerarmos que, no crime, o agente deva ter uma pena de
substituição, já não estamos perante pena de prisão efetiva e não estamos perante
um dos pressupostos) superior a 6 meses. Aqui, o crime anterior praticado tem de
ter sido doloso, punido com prisão efetiva superior a 6 meses de igual forma. Ainda
tem de existir um outro pressuposto, ou seja, não pode ter passado um período
superior a 5 anos entre um e o outro crime praticado, sendo certo que entre esse
período tem de ser descontado o tempo que esteve na prisão.

Situação: crime um praticado em 2003, jugado em 2007 por uma pena de prisão de
2 anos e depois temos um crime praticado em 2012, julgado em 2013. Aqui não se
aplica a reincidência por força do art.º 75º, nº2.

Imagine-se um crime1 praticado em 2003, julgado em 2007 com pena de prisão de


2 anos e um crime2 praticado em 2004, julgado agora em 2013. Passou um ano e
aqui há reincidência porque o que se compara são os momentos da prática do facto
e não o momento do julgamento. Porém, há aqui uma ratoeira porque o outro
requisito é o trânsito em julgado do crime 1, que só foi julgado em 2007, pelo que o
crime 2 não é reincidência.

Nota: ver sempre os dois requisitos: o tempo entre a prática e o trânsito em


julgado.

Quais são as fases de determinação da pena em caso de


reincidência?
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Temos sempre de começar por determinar a pena da reincidência como se esta não
existisse, ou seja, definimos o tipo legal de crime, vimos a moldura abstrata e
aplicamos as regras de determinação concreta, tal como se a reincidência não
estivesse acontecido, porque o art.º 76º diz que há uma agravante decorrente da
reincidência e, na segunda parte, diz que a agravação não pode exceder a medida
da pena mais grave e isto só se sabe se, antes disso, se souber qual a pena
existente sem reincidência. Só depois de determinar a pena sem reincidência é que
se determina a pena com reincidência, aplicando a agravação do art.º 76º,
agravando o limite mínimo e mantendo o máximo inalterado. A partir da moldura
46
abstrata, constrói-se a moldura concreta correspondente e depois determina-se a
pena concreta. Se a pena concreta sem reincidência é de 2 anos e se a pena com
reincidência é de 3 anos, a agravação é de 1 ano. O art.º 76º nº1 diz que a
agravação não pode exceder a medida da pena mais grave e esta agravação de um
ano não excedeu a pena mais grave que era de 3 nos crimes anteriores.

Por isso se diz que esta primeira determinação é duplamente instrumental,


porque é necessária para cumprir o pressuposto do art.º 76º, nº1 segunda parte
mas também para cumprir um outro requisito, o do exercício de um crime doloso
superior a prisão efectiva de 6 meses – art.º 75º, nº1 1ª parte. É também por
isto que devemos fazer funcionar a atenuante da reincidência porque, se existirem
situações destas, tem de se primeiro aplicada para primeiro determinar a pena
concreta com atenuante sem reincidência e depois encontrar a pena concreta com
reincidência, daí que aqui esteja a exceção à regra geral. Precisamos também de
aplicar primeiro a atenuante para saber, ainda, se a pena ainda assim atenuada é ou
não superior a 6 meses.

05 Novembro 2013

Quanto à reincidência, falámos que havia pressupostos materiais e formais. Falou-


se da necessidade de conexão entre os crimes, esta deve ser íntima quanto aos
bens jurídicos que estão protegidos. Dissemos que havia uma culpa mais grave
porque o agente não cumpre a advertência da primeira sentença pelo que o trânsito
em julgado da primeira sentença é um elemento muito importante para avaliar sob
que situação estamos, isto é, concurso ou reincidência. Só se entende que não
cumpre esta solene advertência quando existe alguma conexão entre o primeiro e
segundo crime que é avaliada em função do bem jurídico.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Uma outra situação de determinação especial da pena é a situação do desconto,


prevista nos art.º 80º e ss do código penal. Esta situação ocorre porque o
agente é condenado numa pena de prisão quando, anteriormente já tinha, por
exemplo, quanto àquele mesmo crime, cumprido pena relativa. Se ele cumpriu ano e
meio integralmente, esse é descontado por inteiro no cumprimento da pena de
prisão.

A Dra. Maria João Antunes diz-nos expressamente que sim porque há uma
completa equiparação entre o tempo de suspensão e tempo de prisão nos termos do
art.º 50º, nº5, daí ela entender que também aqui deve haver desconto por 47
inteiro e não equitativo. Há também situações de desconta equitativo quando a
pena que se cumpriu e a que se vai cumprir, não têm a mesma natureza.

O art.º 80º nº2 diz que um dia de privação de liberdade corresponde a um dia de
multa. Quanto ao art.º 80º, nº1 ocorre quando há trânsito em julgado de
determinada sentença, onde foi atribuída uma pena e mais tarde verifica-se que o
caso deveria integrar uma situação de concurso e, havendo o conhecimento
superveniente de concurso, deve-se descontar.

6 Meses depois

Crime Crime Julgamento Julgamento


1 2 Crime 1 Crime 2

Quando chega a altura do julgamento crime 2, se entre os julgamentos passaram 6


meses, ele já esta a cumprir pena há 6 meses, o que significa que iremos agora, nos
termos do art.º 78º determinar em momento posterior ao julgamento do crime 2,
a pena do concurso: máximo 3 anos e mínimo 2 anos e teremos, depois da pena
concreta, de lhe descontar o meio ano, pelo que se lhe forem dados 2 anos, apenas
cumpre um ano e meio.

Seria a situação em que o crime1, em vez de ser punido com pena de prisão, era de
multa – aí quando fizéssemos o desconto, teria de ser equitativo.

Uma outra situação de determinação especial da pena são situações de


atenuação especial em que por força das regras do art.º 72º e 73º há
lugar a atenuação sempre que se verifiquem determinados pressupostos. São 3
situações em que pode, para além dos casos previstos na lei.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Exemplo: Imaginemos alguém que agride outro com uma faca e depois disso dá-lhe
uns arranhões, arrepende-se e tenta tratar – o juiz pode ter em conta uma
situação específica de atenuação especial porque houve uma tentativa de curar as
feridas. O nº seguinte densifica este critério.

Há um arrependimento que é relevante em sede de tentativa, nas situações de


desistência da tentativa em que em algumas situações deixa de ser punida. Atenua-
se pelas regras do art.º 73º – o limite máximo da pena de prisão é reduzido de
1/3 e o limite mínimo é reduzido a 1/5. Exemplo: pena abstrata entre 2 e 5 anos, o
limite máximo é reduzido de 1/3, ou seja, tínhamos um limite máximo de 60 meses 48
menos 20 meses, ou seja, 40 meses, isto é, 3 anos e 4 meses e o limite minino é de
1/5 se for igual ou superior a 3 o que não é pelo que será o mínimo legal de 1 mês
pelo art.º 41º.

Se o limite máximo não for superior a 3 anos, pode a mesma ser substituída,
dentro dos limites legais.

 Situações de dispensa de pena – art.º 74º

É preciso que os pressupostos estejam todos cumpridos, tem de se tratar de crime


punível com pena de prisão não superior a 6 meses ou pena de multa não superior a
120 dias, isto é, crimes de pequena criminalidade onde poderá ser condenado, mas
dispensado de cumprir pena. Esta situação existe porque são casos em que as
exigências de prevenção geral e especial não se fazem sentir, por um lado, e, por
outro, tendo em conta a culpa diminuta, apesar se esta existir, o agente já passou
por todo o processo e não precisa mais de ser punido. Se vamos aplicar uma pena,
significa que há culpa, mas há situações em que, apesar de haver culpa, não há pena.

Momento da escolha da pena

Pode existir numa fase inicial quando o próprio tipo legal de crime prevê mais do
que uma pena principal em alternativa.

As regras gerais são as previstas no art.º 70º do código penal. No art.º 71º a
determinação da pena é feita em função da culpa e exigências de prevenção e o
art.º 40º diz quais são as exigências de prevenção. Depois, os artigos que se
fundamentam na escolha da pena é o art.º 70º, o art.º 71 fundamenta a
determinação da pena.

No art.º 70º, o critério-base de escolha da pena é de prevenção especial. Só


depois de se ter chegado à conclusão de que as exigências de socialização do
delinquente estão cumpridas, é que iremos ver se eventualmente também as
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

exigências de prevenção geral admitem a aplicação de uma pena de substituição,


relativamente à pena principal.

Quando estamos na escolha da pena, a prevenção geral pode funcionar como travão
porque, apesar de entendermos que se justifica em função das exigências de
prevenção especial, a pena de substituição pode, se entender que as exigências de
prevenção geral não permitem a aplicação de uma pena, travá-la. Isto é a regra
porque o art.º 70º diz-nos que deveremos dar preferência às penas não privativas
de liberdade, sempre que esta realizar de forma adequada as finalidades de
punição. 49

Quando temos uma pena de prisão devemos substitui-la por pena de multa e essa
substituição é feita tendo em conta o próprio delinquente e considerando que era
melhor para a sua socialização, não ser já colocado na prisão. Se for um crime mais
grave, um roubo, por vezes, a pergunta a fazer é a de se se justifica ou não a
aplicação de uma pena de substituição, por ser um crime demasiado grave aos olhos
da sociedade e esta não aceitar a substituição nestas circunstâncias. Actualmente,
pode gerar-se o problema da exigência por parte da sociedade em que as pessoas
cada vez mais sejam punidas e vão para a prisão.

Quais as penas de substituição previstas?

A mais utilizada é a pena de multa (de substituição). A pena de prisão aplicada não
superior a um ano é substituída por pena de multa nos termos do art.º 43º. Uma
outra pena de substituição é a pena de proibição de exercício de profissão para as
situações em que a pena de prisão aplicada não seja superior a 3 anos.

Para além da pena de multa, nas penas aplicadas não superiores a um ano, temos
também o regime de permanência na habitação, art.º 44º, nº1 a) e ainda temos a
possibilidade de aplicar o regime de prisão por dias livres ou regime de semi-
detenção. Fala-se também da suspensão da pena de prisão e esta é possível de
aplicar a todas as penas aplicadas até 5 anos.

Quando a pena é até um ano, todas as penas de substituição funcionam; se a pena


de prisão for até 3 anos, já não funcionam as penas que são aplicadas a penas até
um ano, e para penas entre 3 e 5 anos apenas dá um regime. Fazer tabela.

Se a pena concreta for até 5 anos, o juiz deve explicar porque não aplica uma pena
de substituição. O art.º 70º diz que deve prevalecer a pena não privativa da
liberdade, pelo que, quando não se dá esta preferência, tem que fundamentar
porque não a aplica e conclui-se que o art.º 70º impõe um dever de fundamentação
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

no caso de o juiz não aplicar a pena de substituição – dever de fundamentação


negativo.

A pena de substituição calcula-se como? Regra geral, ates da última reforma do


Código Penal, havia um modo autónomo de cálculo das penas de substituição. No
entanto, isso mudou um pouco nas últimas alterações: nós continuamos a ter um
cálculo autónomo da pena de multa de substituição e da pena de proibição de
exercício de catividade. O próprio legislador estabelece a moldura, art.º 43º,
nº3 e em função das exigências de prevenção deve-se autonomamente calcular a
moldura. Quanto à multa, recorremos à moldura geral da pena de multa do art.º 50
47º que nos diz que é entre 10 dias e 360 dias, em sede de determinação
autónoma.

No caso da suspensão da pena de prisão, as coisas são diferentes, porque,


expressamente, o legislador veio dizer em quanto deve a pena ser suspensa, quando
há pena aplicada até 5 anos. Se tivermos uma pena de 4 anos de prisão, ela é
suspensa pelo mesmo período mas se a pena for de menos de um ano, a suspensão
terá de ser sempre de um ano pois é um período imposto pelo legislador, o que faz
com que, na prática, o sistema tenha sido invertido porque antes de existir o art.º
50º, nº5 podíamos ter uma pena de prisão de 2 anos e suspender a execução por
um período de 3 anos.

Hoje o juiz começa por calcular uma pena de prisão de 3 anos para depois
suspender por 3. Olhando para o art.º 45º, nº2 diz-se que a prisão por dias livres
corresponde a uma privação de liberdade em períodos de fim-de-semana, e temos
aqui uma completa equiparação contínua de prisão à pena de prisão por dias livres.

Uma outra pena de substituição é a de substituição da pena de multa principal – aí


apenas existe a pena de admoestação se a pena de multa for ate 240 dias. É certo
que isto vale como uma sentença condenatória e isso mesmo nos é dito no próprio
art.º 497º do Código do Processo Penal.

 Casos práticos:

Execução da pena de prisão:

A foi condenado, como cúmplice, pela prática de um crime punível com um


amoldura abstrata de 1 a 9 anos de pena de prisão. Qual a moldura abstrata
de que deve partir o juiz para determinar a pena concreta a aplicar

Temos aqui uma situação em que o A é cúmplice, sendo este o ponto principal, ou
seja, vendo o artigo da cumplicidade, art.º 27º, é punível como cúmplice e é-lhe
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

aplicado a pena do autor, especialmente atenuada ou seja, circunstância


modificativa especialmente atenuada.

Ser-lhe-ão aplicadas as regras de atenuação, nos termos do art.º 73º. Temos uma
moldura abstrata de 5 a 15 anos, ora 1/3 de 15 é 5, pelo que, no máximo, será de 10
anos e quanto ao limite mínimo, temos um mínimo de 5 anos e assim sendo, terá de
se reduzir a 1/5 que dá um ano. Ou seja, temos uma moldura abstrata entre 1 a 10
anos. Em regra, na determinação da medida da pena o juiz deve aplicar os limites
previstos no tipo legal de crime, salvo em circunstâncias modificativas, que é o caso
passando esta para 1 a 10 anos. O juiz, para a determinação da medida concreta da 51
pena, deverá partir da moldura abstrata construída a partir da moldura
especialmente atenuada.

A foi condenado como cúmplice pela prática de um crime punível como uma
moldura abstrata de 1 a 9 anos de prisão. Qual a moldura abstrata de que
deve partir o juiz para determinar a pena concreta a aplicar

Estamos também perante uma circunstância modificativa que dará lugar a uma
atenuação nos termos do art.º 73º, com a diferença de que o limite mínimo é de
um ano e assim este limite mínimo deverá ser reduzido ao mínimo legal porque o
mínimo é inferior a 3 anos, ou seja, nos termos do art.º 41º, é um mês.

Teremos um limite máximo de 6 anos e um mínimo de 1 mês.

A foi condenado pela prática de um crime punível com moldura de 3 a 12 anos


de pena de prisão. A foi cúmplice, o crime não chegou a consumar-se e o A
tem 19 anos. Qual é a moldura abstrata de que deve partir o juiz para
determinar a pena concreta a aplicar?

A é cúmplice, temos uma tentativa e tem 19 anos. A moldurara é entre 3 e 12 anos


e no caso diz-nos que não é cúmplice, houve tentativa - art.º 23º, nº2 e tem 19
anos - dec-lei 401/82, art.º 4º, o que nos dá 3 circunstâncias atenuantes. Este
caso serve para mostrar que usamos o sistema do funcionamento sucessivo das
atenuantes e rejeitamos o sistema da acumulação. Se olharmos para o art.º 73º
ele diz-nos que o limite máximo é reduzido de 1/3 pelo que seria 8 e se usássemos
o sistema de atenuação teríamos de atenuar 3 vezes, ou seja, tínhamos que ir tirar
aqueles 12 anos, os mesmos 12 das três circunstâncias atenuantes acumuladas e o
limite máximo da pena era de 0.

No nosso sistema, começando pela cumplicidade, sabemos que o máximo é reduzido


de 4 que dá 8 e o limite mínimo é reduzido para 1/5, sendo esta a primeira redução
derivada da cumplicidade. Para a tentativa vamos atenuar esta situação a que
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

chegamos, e 1/3 de 8 dá qualquer coisa como 5,8 e o mínimo ficará em um mês, que
é o mínimo legal por ser inferior a 3 anos. Ainda nos falta a terceira atenuação de
ser jovem delinquente, e aos 5,8 teremos de tirar 1/3, que daria 3 anos e qualquer
coisa e o mínimo permanecia inalterado. Ou seja, estas contas são sempre feitas
sucessivamente.

A cometeu um crime em 1 de março de 1998 – foi condenado em maio de


1999 em 4 anos de pena de prisão e voltou a cometer um segundo crime em
abril de 2004, punível cm pena de prisão de 3 a 12 anos. É reincidente?
52
Temos a prítica do crime 1 em 98 e a prática do crime 2 em 2004 – este elemento
é importante para verificar se está ou não prescrita a reincidência porque o art.º
75º, nº2 diz-nos que o crime anterior não releva para reincidência se entre a
prática do primeiro crime e a prática do crime seguinte tiveram decorrido mais de
5 anos.

Olhando para o caso, parecia ter passado o prazo mas o artigo também refere que
neste prazo não se conta o tempo em que tenha cumprido pena ou medida privativa
da liberdade. Apesar de entre março de 98 e abril de 2004 terem passados 6 anos,
ainda assim não passaram os 5 anos previstos no artigo porque a estes 6 anos
temos de retirar os 4 que esteve na prisão, por força do art.º 75º, nº2.

Para além disto era preciso saber se havia uma conexão intima entre um crime e
outro mas, o caso nada nos diz, ainda que devamos mencionar este elemento. Era
necessário verificar todos os pressupostos para que fosse considerado reincidente
e o facto de ter sido condenado nada nos diz sobre trânsito em julgado.

Se se verificarem todas as circunstâncias, ainda poderá ser reincidente porque um


outro pressuposto é que o primeiro crime seja doloso e tenha sido condenado com
prisão efectiva superior a 6 meses e também este pressuposto está preenchido.
Por outro lado, também era preciso que fosse condenado pelo segundo crime numa
pena não inferior a 6 meses de prisão efectiva, por um crime igualmente doloso e
sabemos que assim aconteceu. Há uma necessidade de determinação da pena de
prisão efectiva sem reincidência, para verificar que o pressuposto está cumprido e
ainda outro pressuposto que é o de saber se entre o primeiro e o segundo crime
não existe uma agravação superior à medida da pena mais grave que tenha sido
aplicada anteriormente, de acordo com o art.º 76º, nº1 1ª parte.

Estando cumpridos os pressupostos, como se determina esta pena?

Quais são as operações de determinação da pena em caso de reincidência?


Primeiro, temos de determinar a pena como se não fosse reincidente e entre 3 e 12
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

imagine-se que são 6 anos de pena de prisão. Depois temos de determinar a


moldura da reincidência que será, pelo art.º 76º, nº1, um máximo igual de 12 anos
e o mínimo é elevado em 1/3, ou seja, passa a 4 anos de pena de prisão.

A partir desta moldura, segundo o modelo de prevenção e critérios do art.º 71º, a


pena concreta entre 4 e 12 anos. Imagine-se que se escolhe uma medida concreta
de 12 anos e temos de ver se o pressuposto do art.º 76º, nº1 2ª parte – a
agravação é a diferença entre a pena que seria atribuída sem reincidência e a que é
atribuída com reincidência e aqui é de 6 anos. A pena do crime anterior era de 4
anos e o art.º 76º diz que a agravação não pode exceder a pena anterior mais 53
grave e assim ele não pode ter esta pena de 12 anos, ou seja, se a pena sem
reincidência é de 6, o único máximo que pode ter é 6 mais 4, neste caso 10, nunca
podendo ter uma pena com reincidência de 12 anos.

Pelo primeiro crime o agente foi condenado a 6 meses de pena de prisão, pelo
segundo crime é punido com uma moldura de 3 a 9 anos de pena de prisão.

1º Crime pena de 6 meses e 2º crime – moldura de 3 a 9 anos - ambos numa pena de


prisão.

A primeira operação é diuplamente instrumental, teríamos de saber, dentro da


moldura do crime 2, qual seria a pena sem reincidência, e imagine-se que era de 3
anos, daí que o pressuposto da pena de prisão efectiva superior a 6 meses está
cumprido. O outro pressuposto de que o 1º crime fosse condenado com pena
efectiva superior a 6 meses falha porque o artigo refere penas superiores a 6
meses de prisão efetiva por crime doloso, transitado em julgado.

A praticou um primeiro crime pelo qual foi condenado em 3 anos de pena de


prisão. Depois cometeu na forma tentada um crime de furto qualificada um
crime punível com a pena de prisão de 2 a 9 ANOS. Como se determina a
pena?

A ser alguma coisa, podia ser reincidência mas é preciso que o caso prático não diz
tudo pois não sabemos se houve ou não trânsito em julgado e só será reincidência
se tive havido trânsito em julgado. Se já tiver havido trânsito em julgado (se não
houver trânsito em julgado, será concurso) é reincidência e se assim for, temos
uma situação de reincidência mas temos também uma circunstância atenuante
geral, ou seja, temos um concurso entre duas circunstâncias modificativas da
moldura abstrata. Na regra geral, quando há concurso aplica-se primeiro a
modificativa agravante e só depois a atenuante mas na reincidência é ao contrário.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Primeiro aplica-se circunstâncias atenuantes e só no fim se aplica a circunstância


agravante. Temos então uma pena de prisão de 3 anos de um crime anterior e uma
tentativa com moldura de 2 a 9 anos. Se começássemos a aplicar a agravante,
partíamos da moldura de crime consumado que não foi o que o agente realizou pois
o crime que praticou foi de forma tentada e o que temos de fazer é partir de uma
moldura que se possa subsumir ao crime que praticou. São as atenuantes que darão
a moldura daquilo que efectivamente praticou e iremos encontrar a base no art.º
73º, pelo que o máximo ficará em 6 anos e o mínimo de um mês. Agora será com
base nesta moldura atenuada que iremos determinar a pena como se ele não fosse
54
reincidente para saber se teria ou não uma pena de prisão efectiva superior a 6
meses. Se lhe dermos 2 anos de pena de prisão, mas se o juiz considerar que pode
haver pena de substituição este pressuposto de pena por crime doloso com prisão
efectiva superior de 6 meses deixa de estar preenchido e não se pode aplicar a
reincidência. Ter atenção aos casos em que há pena de substituição num dos
crimes.

Se não houvesse uma pena de substituição, teríamos uma pena de prisão de 2 anos
e poderemos continuar o raciocínio. Agora teríamos de aplicar a agravante da
reincidência – o limite máximo permanece inalterado - art.º 76º nº1 e o mínimo é
elevado de 1/3, o que dá mais ou menos 2 anos e meio. Tínhamos aqui a moldura com
a reincidência, entre 2 anos e meio de 6 anos, podendo daqui determinar-se a pena
concreta e imaginemos que se dão 4 anos. Temos, finalmente de ver se a agravação
não ultrapassava a pena mais alta anterior e no caso a agravação é de 2 anos pelo
que a pena de 4 podia ser aplicada, uma vez que é inferior à pena mais grave
aplicada no crime anterior.

A foi punido por sentença transitada em julgado em 2001, com uma pena de
prisão efectiva de um ano, pela prática de um crime de homicídio privilegiado
cometido em 2000. Em 2003, depois de ter cumprido integralmente aquela
pena, A cometeu um crime de homicídio qualificado, art.º 132º. Determine a
pena aplicável a este crime.

Tínhamos de ver que estávamos perante um crime praticado apos o trânsito em


julgado do 1º crime, situação de reincidência que justifica o agravamento da
moldura penal, uma vez que não cumpriu a solene advertência, havendo uma conexão
íntima entre os dois crimes praticados estando assim os 2 pressupostos materiais
verificados. Quanto aos requisitos formais, os crimes tinham de ser dolosos, e
parece pelo artigo enunciado, que o crime era doloso ao remeter para o art.º 133º
e, por outro lado, o segundo crime na previsão do art.º 132º só é punido por crime
doloso. Por outro lado, tinha de ser punido com prisão efectiva superior de 6 meses
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

e mesmo sem fazer contas, o agente tem uma moldura de 12 e 25 anos e assim
nenhuma pena de substituição seria possível.

Vamos determinar a pena sem reincidência que ficará nos 20, e agora temos de
elevar o mínimo de 1/3 ou seja, a moldura seria entre 16 a 25 anos e assim
determinamos a pena com reincidência e imaginemos que damos 25. Agora, resta
saber se a agravação ultrapassou a pena concreta e esta é de 5 anos e tinha sido
condenado em 1 ano, o que não cumpre o pressuposto e pode ser aplicado aqui a
agravação não pode ser superior a 1 ano pelo que como pena máxima só poderia ter
21 anos. 55

12 Novembro 2013

 Forma de execução da pena de multa nas suas duas versões

Nos termos do art.º 489º do CPP, após o trânsito em julgado, o condenado tem
15 dias para proceder ao pagamento da multa de forma voluntária. Se o condenado
não tiver hipótese de pagar a pena de multa em quantitativo, nessas circunstâncias,
o Código Penal permite a substituição da pena de multa por trabalho, não se trata
de pena em substituição da pena de multa mas da possibilidade de cumprir a pena
de multa de uma outra forma porque o nosso condenado é condenado por uma pena
de multa verdadeiramente. Acontece que, a requerimento do próprio condenado,
após a condenação da pena de multa, este pode pedir para a substituir por dias de
trabalho e nos termos do art.º 48º CP isso diz-se. Aqui temos uma condição
necessária para que se possa cumprir a pena de multa através da prestação de
trabalho. Isto aparece também regulamentado no art.º 490º do CPP.

O condenado tem 15 dias para pagar a multa e é nesse prazo que pode fazer o
requerimento. Estas são as duas formas de pagamento voluntário da pena de multa
enquanto pena principal. O arguido pode requerer a possibilidade de pagamento no
prazo de até um ano ou em prestações nos termos do art.º 47º, nº3 do CP.

Se o nosso agente não pagar a pena de multa, o que acontece? Podemos


proceder ao pagamento coercivo, isto é, ver-se-á quais os bens que o condensado
tem na sua posse e procede-se à execução patrimonial desses bens para pagar a
multa – art.º 491º CPP. Nota: esse trânsito em julgado é o prazo de interposição
de recurso, isto é, a sentença só transita em julgado quando não há possibilidade
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

de recurso e o prazo para interposição é o do art.º 411º nº1 CPP, de 30 dias


após as alterações de 21 fevereiro de 2013.

Quando nem coercivamente não paga, temos uma situação de incumprimento do


pagamento da pena de multa e as soluções consoante estejamos perante pena de
multa principal ou pena de multa de substituição, têm regimes diferentes.

Comecemos por ver quais são as situações em que em caso de pena de multa
principal não se paga: o artigo que regula essa parte é o art.º 49º. No caso da
pena de multa paga no prazo de 15 dias temos o art.º 489º CPP e o art.º 47º CP 56
que nos dá possibilidade de pagamento da pena de multa no prazo de um ano ou em
prestações e se a multa não for paga voluntária ou coercivamente é cumprida
prisão subsidiária pela pena correspondente reduzida a 2/3. Mais uma vez, isto não
é pena de substituição, mas um meio que o legislador encontrou para coagir o
condenado ao pagamento da pena de multa.

Se depois quiser pagar, o que nos diz o nº2? O condenado pode, a todo o tempo,
evitar esta prisão subsidiária, pagando no todo ou em parte a pena de multa. Mas,
será assim para todas as situações de pena de multa não paga? Será que é
sempre assim, quer o não pagamento da pena de multa seja ou ocorra devido a
uma circunstância do próprio condenado ou há diferenças quando o condenado
não paga a pena de multa por motivo que não depende dele? No caso de não
pagamento da pena de multa temos eu distinguir duas situações: por um lado, a
situação do não pagamento ser imputável ao condenado ou estar perante situação
em que o não pagamento não seja imputável ao condenado.

Para além disso, temos de distinguir consoante estejamos perante pena de multa
principal ou pena de multa de substituição.

O regime de o agente não cumprir a pena, não pagar a pena nem voluntária nem
coercivamente, sendo a pena convertida em prisão subsidiara é o regime que se
aplica quando estamos perante uma pena de multa principal e cumprimento
imputável ao condenado nos termos do art.º 49º, nº1.

Se for pena de multa de substituição será assim? Não, porque como a


substituição visa cumprir as exigências do art.º 70º em ordem de cumprir
exigências de prevenção especial desde que as exigências de prevenção geral já
estejam asseguradas, a pena de substituição aparece porque se considera ser
suficiente e não cumpre a pena de prisão mas a de multa que substitui a pena
principal. Aqui, se não cumprir a pena de multa, terá de cumprir a pena de prisão
principal em que tenha sido condenado, isto é, não se aplica o regime do art.º 49º,
nº1 porque quando estamos a falar de pena de multa enquanto pena de
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

substituição, interessa-nos o art.º 43º e no nº2 diz-se que se a multa não for
paga, o condenado cumpre a pena de prisão pela qual foi condenado.

Isto sucede quando? Ele tem 15 dias para pagar a pena de multa após o trânsito
em julgado e depois, se o não o fizer, o magistrado emite despacho ordenando a
pena de prisão e aqui, se o condenado quiser pagar a pena de multa, já não é
dispensado da pena de prisão, art.º 43º, nº2 2ª parte e é assim porque não há
remissão do art.º 43º, nº2 para o art.º 49º, nº2 e nem tinha de existir.

Art.º 56º, nº2 a revogação determina o cumprimento da pena imposta 57


anteriormente e nada é devolvido. Isto parece simples mas as coisas, na prática,
por vezes, não são assim tão simples. Houve um acórdão (12/2013 de 16 Outubro)
onde o problema se colocou com um homem condenado em pena de prisão por
condução ilegal de viatura e tinha sido condenado em pena de prisão de 90 dias,
substituídos por igual tempo de multa à taxia diária de 5 euros, sem grande
explicação. O condenado não pagou a pena de multa, o juiz fez o despacho de não
recorrência e transitou em julgado, pedindo para que cumpra a pena de prisão
principal. Este senhor foi detido e diz não ter cumprido por não ter meios para
cumprir e pede para cumprir em prestações e colocou-se o problema de saber até
quando podia pedir para pagar aquela pena em prestação de trabalho. Ele podia
fazer isso no prazo de 15 dias a partir do trânsito em julgado e a partir do
momento em que não o fez, foi condenado na pena de multa principal.

Deste acórdão saiu uma uniformização de jurisprudência no sentido de ser


irrelevante o pagamento posterior da multa por não ser o caso de aplicação do
preceituado nº2 do art.º 49º, após os 15 dias do trânsito em julgado.

As pessoas/ os autores a escrever sobre isto são poucas e todas elas vão no mesmo
sentido. Podemos pensar ser injusto mas pensando como jurista, a pessoa teve
possibilidade de cumprir de outra forma e não o fez.

Não pagamento da pena não imputável ao condenado: se se tratar de uma pena


de multa principal é o mesmo se se tratar de uma pena de multa de substituição,
vale o art.º 49º, nº3 porque o art.º 43º, nº2 2ª parte para aí remete. Quando
fala de pena de multa não paga por motivo não imputável ao agente como pena
principal, esta suspende-se por iguais dias e depois são impostos deveres e regras
de conduta. Para não haver confusões, a professora colocou o esquema do nónio.

Resta ver o que diz respeito às impossibilidades de pagamento da pena de multa


pelo condenado. O regime é o mesmo, quer a impossibilidade ocorra no momento
da condenação ou ocorra numa impossibilidade superveniente, após a condenação e
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

é evidente que tem de ser invocado após o trânsito em julgado, naquele prazo de 15
dias.

Em que medida de executa a pena de prisão principal?

Há algumas formas diferentes de execução da pena de prisão antes da


possibilidade de concessão ou não da liberdade condicional. Ou seja, algumas vezes,
há possibilidade de execução da pena de prisão em regime de permanência na
habitação prevista no art.º 44º, nº1 b); art.º 44º, nº2 e art.º 62º CP. Isto
é, se tivermos uma pena de prisão efectiva e se o resto que falta cumprir não 58
exceder um ano, esse resto de pena de prisão, pode, nos termos deste artigo ser
cumprida em regime de permanência na habitação, excecionalmente o
remanescente pode ir até 2 anos se alguma das situações previstas no art.º 44º
nº2 estiverem cumpridas.

O art.º 44º, nº1 diz que há necessidade de consentimento e todas as alterações


da execução da pena, e se consentir, pode ser condenados em regime de
permanência na habitação sempre que o tribunal concluir que esta forma de
execução cumpre as exigências de prevenção geral e especial. Por outro lado,
vemos também que no âmbito da liberdade condicional, também nos termos do
art.º 62º, para efeitos desta, verificados os pressupostos, esta colocação pode
ser antecipada, ou seja, um ano antes de ser possível conceder a liberdade
condicional pode pedir o regime de permanência na habitação, como que uma
antecipação da liberdade condicional, não sendo uma efetivamente.

Temos duas outras situações em que se permite que a execução da pena de prisão,
cumpridas as exigências de prevenção possa ocorrer no âmbito da habitação.

E a liberdade condicional?

O regime está previsto no art.º 61º, sendo um primeiro requisito a necessidade


de consentimento do próprio condenado nos termos do nº1 e este é um elemento
que nos permite dizer que é um incidente da execução da pena de prisão. Esta pode
ser executada pelo regime de permanência na habitação e é uma outra
possibilidade, sendo um meio que se tem para irmos sucessivamente adaptando o
agente à realidade quotidiana e vivência comunitária. Para que isso seja possível,
entende-se que, progressivamente, devemos adaptar o condenado à vida em
liberdade.

É por isso que dizemos que isto ainda é uma forma de execução da pena de prisão e
isto é um elemento muito importante porque foi já objecto de diversas decisões e
há uma certa tendência da jurisprudência para sempre que o agente é colocado em
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

liberdade condicional e durante esse período cumprir outro crime, este leva
imediatamente à revogação deste regime mas o problema surge ao questionar que
pena de prisão se refere. A jurisprudência diz que se ao fim de 6 meses de
liberdade condicional o agente cometer outro crime, ele volta para a prisão para
cumprir o que restava cumprir quando saiu, ou seja, um ano se era isso que faltava
quando ele saiu em liberdade condicional, não vendo a liberdade condicional como
um incidente.

Acórdão 181/ 12 maio de 2010 – diz-nos que o Tribunal Constitucional


considerou que o entendimento maioritário no sentido de que o tempo de liberdade 59
condicional não conta quando o agente comete um crime e volta para a prisão não é
inconstitucional, ainda que com um voto de vencido da Dra. Maria João Antunes.
Há um argumento a favor desta interpretação: se olharmos para o art.º 64º
quanto a este regime, ele diz – “é correspondentemente aplicável o disposto nos
artigos (…), ou seja, ver normas e depois art.º 53º nº 1 e 2 e art.º 54º e al a)
e c) do art.º 55º ou ainda o art.º 56º, nº1 e art.º 57º - o nº1 do art.º 56º
diz-nos que a suspensão da pena de prisão, leia-se a liberdade condicional, é
revogada sempre que no seu decurso o condenado infringir (continuar), ou seja,
este artigo, expressamente, remete-nos para condições impostas no art.º 56º,
nº1. Sabendo que o art.º 64º, nº1 apenas remete para o art.º 56º, nº1 e não
para o nº2 e o nº2 do art.º 64º fala de pena ainda não cumprida se o legislador
quisesse que não contasse o tempo da prisão em liberdade condicional, tinha feito a
remissão que não fez.

 Pressupostos de aplicação da liberdade condicional

Art.º 61º, nº1 – toda a ideia subjacente à liberdade condicional corresponde às


necessidades de socialização, mas não pode ser imposta uma socialização coactiva.

O condenado é colocado em liberdade condicional, mediante consentimento, depois


de cumprir metade da pena, desde que já tenha cumprido pelo menos 6 meses de
pena e há um juízo de prognose favorável, no sentido de se poder dizer que o
agente não cometerá mais crimes, sendo capaz de prosseguir uma vida normal
(prevenção especial positiva) e que a necessária paz social é compatível com a
liberdade condicional (prevenção geral positiva) e estes últimos são os requisitos
constantes da al a) e b) do nº2.

O art.º 61º, nº2 diz expressamente que os requisitos são cumulativos através do
“e”, ou seja se a pena de prisão for de 8 meses não pode ser colocado em liberdade
condicional após 4, pois não cumpriu ainda os 6 meses mínimos. Ou seja, até 11
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

meses de pena de prisão efectiva, só ao fim de 6 meses é colocado em liberdade


condicional.

Como é que o juiz sabe que o arguido está em condições de conduzir o resto
da sua vida sem praticar mais crimes? Através de dois relatórios essenciais:
relatório dos serviços prisionais e o dos serviços de reinserção social – art.º 173º
código de execução de penas e medidas de segurança, aprovado pela lei
115/2009 de 12 de outubro, alterado pela lei 40/2010 de 3 de setembro e pela lei
21/2013 de 21 de fevereiro – que nos diz que 90 dias antes da data da
possibilidade de colocar o condenado em liberdade condicional, o tribunal solicita 60
estes dois relatórios e é com base neles com se chega à conclusão relativamente ao
preenchimento destes requisitos. Nos termos do art.º 179º é uma situação
passível de recurso.

Se olharmos apenas para o Código Penal, vemos que só pode ser colocado em
liberdade condicional os 2/3 da pena – art.º 61º, nº3. Considera-se que uma vez
cumpridos os 2/3 de prisão, tendo em conta que já foi cumprida bastante pena, não
se põe problemas relativamente a alterar a ordem e paz social e o legislador
presume que o requisito da prevenção geral já está cumprido, apenas se exigindo o
requisito da prevenção especial.

E entre o meio da pena e os 2/3, não pode ser colocado em liberdade


condicional? Pode porque entre o meio e os 2/3, há revisão anual da liberdade
condicional, perante o art.º 180º do código de execução de penas, desde que
não tenha sido concedida a liberdade condicional a meio da pena e ainda falta
cumprir mais do que um ano. Havendo renovação anual da instância, quais são os
requisitos? Temos de articular o art.º 180º com o art.º 61º, o que significa que
sempre que há renovação anual da instância até 2/3 são os requisitos pedidos: meio
da pena e quando passar os 2/3 se também aqui não for concedida a liberdade
condicional, os requisitos passam a ser os previsto para depois dos 2/3.

Se a pena de prisão for superior a 6 anos, há liberdade condicional digamos


“obrigatória” aos 5/6 da pena, ou seja, se numa pena inferior a 6 anos não há uma
liberdade condicional obrigatória, neste caso, se até aos 5/6 não for concedida
assim que os cumprir, é colocado obrigatório em liberdade condicional e diz-se
digamos porque apenas falta preencher o requisito do consentimento.

Em princípio, está em liberdade condicional pelo tempo que lhe couber cumprir,
salvo se o tempo que faltar cumprir for superior a 5 anos em que depois de 5 anos
a pena é declarada extinta. Em qualquer das modalidades, a liberdade condicional
tem duração igual ao tempo de prisão que falta cumprir até ao máximo de 5 anos,
considerando extinta a pena.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

E se, em vez de uma pena, tem várias penas para cumprir? Em que
circunstancias e quando é concedida a liberdade condicional? Rege o art.º 63º
do CP e o que se diz é que a pena de prisão do 1º crime é interrompida, o que
significa que quando está a cumprir a pena de prisão pelo homicídio de 12 anos, a 1ª
possibilidade que tinha era a meio da pena e então, nessa altura, ao fim de 6 anos é
interrompida a pena e não se vai nesse momento apreciar e verificar se os
pressupostos estão ou não cumpridos porque não faz sentido. O que se faz é
interromper a pena e o condenado começa a cumprir a 2ª pena que é de 4 anos e é
ao fim dos 2 anos de cumprimento da pena de prisão pelo crime de furto que se vai
61
avaliar em bloco se naquela situação está ou não em condições de ser concedida
liberdade condicional.

No caso da pena de prisão de 12 anos, após 6 anos sai em liberdade condicional


mas, imagine-se que comete um crime um ano após a estar em liberdade
condicional, aqui, voltará para a prisão para cumprir os restantes 5 anos mas tem
ainda os 5 anos do crime de integridade física. Se ainda tinha 5 anos, no meio
desses põe-se o problema da concessão de liberdade condicional e, nessa
altura, interrompe-se a primeira pena ao meio da parte que faltava? Não,
quando chega a metade do resto que falta cumprir do primeiro crime, é avaliado
quanto àquele crime, ele cumpre isso na prisão porque tem ainda outro crime para
cumprir e começar a cumprir a segunda parte do segundo crime. Quando o agente
está na prisão em consequência da revogação da liberdade condicional, aí não há
sucessão da execução da pena.

 Casos Práticos:

10/2003 12/2003 Hoje

Crime – art.º 144º Crime – art.º 132º


Julgamento
Violação de Homicídio qualificado
integridade física

Art.º 144º - pena de prisão de 2 a 10 anos e art.º 132º pena prisão de 12 a 25


anos.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Temos a prática de vários crimes antes do trânsito em julgado de qualquer um


deles, ou seja, concurso de crimes, o que permite distinguir e saber se foram
praticados antes ou depois do trânsito em julgado em qualquer um deles, sendo
concurso ou reincidência, respectivamente.

Aqui, como se disse, temos uma situação de concurso de crimes e a pena é


determinada ao abrigo do art.º 77º do CP.

Depois de subsumir cada facto no tipo legal de crime (art.º 144º e 132º), a coisa
a fazer é determinar a pena para cada um dos crimes praticados, segundo os 62
modelos de prevenção e o art.º 70º e estabelecer o mínimo e o máximo de
moldura concreta. A pena concreta é estabelecida a partir dessa moldura, perante
a prevenção especial.

Imagine-se que se dá uma pena concreta de 5 e 15 anos para cada tipo legal de
crime, respectivamente. Para determinar o máximo é feita a soma das duas penas
concretamente aplicadas, sendo que não poderá ultrapassar os 25 anos e neste
caso, o limite máximo será de 20 anos.

O mínimo terá de ser determinado pela mais elevada das penas concretamente
aplicadas, ou seja, 15 anos. Assim, a moldura do concurso será de 15 a 20 anos e
daqui volta-se a estabelecer a pena concreta, tendo em conta a prevenção geral e a
segunda parte do art.º 77º, nº1.

Sobre isto coloca-se o problema de se estar ou não a violar o Princípio da Proibição


da Dupla valoração. A reposta é não porque não estamos a valorar duas vezes a
mesma coisa porque, agora, para determinação da pena unitária conjunta do
concurso, analisam-se globalmente todos os factos e personalidade do agente e não
cada um só de per si. Uma coisa foi a valoração isolada de cada facto praticado e
outra é a análise feita globalmente, refletida em todos os factos praticados.

Daqui, tendo em conta o que foi dito, daríamos uma pena concreta de 17 anos.

Caso prático 9:

Existem 3 crimes: dois com pena de prisão até um ano e um com pena dê prisão de
2 a 8 anos. Não há sentença transitada em julgado.

Há aqui concurso, dois deles têm uma pena de prisão até um ano e o outro tem uma
pena de prisão de 2 a 8 anos e há concurso. É certo que há três crimes com penas
relativamente pequenas.

Imagine-se:
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Crime 1: 6 meses
Temos de fazer uma soma das penas para
Crime 2: 6 meses determinar o limite máximo da moldura legal, ou
seja, 3 anos e o limite mínimo será de 2 anos.
Crime 3: 2 anos

Imagine-se que se dá dois anos e meio de pena concreta. Numa pena de 17 anos
como a anterior, não podemos ir à possibilidade de escolha de pena de substituição
mas aqui podemos colocar a hipótese de saber se podemos substituir uma pena
principal por uma pena de substituição da pena de prisão. Por exemplo, poderíamos
aqui escolher a suspensão da pena de prisão ou qualquer outra que possa ser aqui 63
aplicada.

19 Novembro 2013

 Espécies de sanções criminais existentes no nosso sistema


Jurídico

 Medidas de Segurança

Quanto a estas, previstas no art.º 91º e seguintes do código penal, têm como
pressuposto a inimputabilidade do agente, há a inimputabilidade em razão da idade
(menores de 16 são considerados inimputáveis) e em razão da anomalia psíquica e
sobre esses que nos referimos quando estamos a aplicar uma medida de segurança,
desde que tenham sido declarados como tal, por força do art.º 20º. É esta
necessidade de verificação no caso concreto da possibilidade de determinação da
sua vontade de acordo com a pessoa sabe que vamos determinar a inimputabilidade,
através de exames psiquiatras.

Não é o perito que dirá se o agente é ou não inimputável, mas se tinha ou não
capacidade para avaliar a ilicitude de facto e determinar/controlar o seu
comportamento de acordo com o juízo feito. Essa capacidade de perceção e a
capacidade de domínio sobre si é o que o perito avalia e é em função disso que é
declarada a inimputabilidade do agente.

Temos também uma outra inimputabilidade normativa e /ou imposta por lei, que são
as situações de imputabilidade diminuída, para alguns factos têm uma
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

imputabilidade restringida e pode ser declarado inimputável para alguns factos –


art.º 20º, nº2- este é diferente das situações previstas no nº1 (quando o
agente, em virtude da anomalia não consegue perceber que é ilícito) e no nº2 (tem
capacidade para avaliar a ilicitude mas está sensivelmente diminuída, por uma
incapacidade parcial, não é inimputável mas equiparado nos termos da lei sempre
que o magistrado o assim declarar).

São estes inimputáveis que podem ter uma aplicação de medida de segurança
porque as outras sanções não são as adequadas para eles. Poderá também existir
situações de imputáveis especialmente perigosos e aí, diz-se que a pena é 64
insuficiente e aplica-se também a medida de segurança.

 Princípios de aplicação da Medidas de Segurança:

Princípio da Legalidade – na própria CRP, art.º 29º, nº1 e 2 ninguém pode ser
sentenciado criminalmente, (…) nem sofrer medida de segurança sem estarem
verificados os pressupostos. Sob o ponto de vista do direito internacional penal
quer do ponto de vista do direito penal interno, apenas aplicamos Medidas de
Segurança se o facto antes da sua prática estiver previsto como sendo um facto
criminoso.

Por outro lado, também tem de ser cumprido o princípio do ilícito típico que está
expressamente consagrado no art.º 91º, nº1 CP. Significa que só podemos
aplicar Medidas de Segurança ao delinquente que tenha praticado o facto ilícito e
típico, ou seja, só podemos aplicar Medidas de Segurança quando o comportamento
do agente se puder subsumir no tipo legal de crime previsto na lei, não há lugar a
aplicação da Medida de Segurança se o facto praticado não for um ilícito típico na
lei penal.

Princípio da perigosidade criminal – apenas aplicamos Medidas de Segurança se o


agente for considerado perigoso – art.º 91º, nº1 – havendo fundado receio que o
agente venha cometer outros factos da mesma espécie. A perigosidade terá de ser
analisada no último momento do processo e teremos de avaliar da perigosidade,
como último elemento processualmente possível.

Princípio da proporcionalidade – também a Medida de Segurança deve ser aplicada


em função do facto ilícito típico e deve ser proporcional à gravidade do facto
praticado – art.º 91º, nº1. O art.º 40º, nº3 diz-nos expressamente que a
Medida de Segurança só pode ser aplicada se for proporcional à gravidade do facto
e ilicitude do agente.

 Pressupostos de aplicação:
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

1º - É preciso que o agente seja declarado inimputável – nos termos do art.º


20º

2º Necessidade da prática de facto ilícito típico – a atribuição da medida de


segurança deve sempre depender de uma actuação com base num ilícito típico.

Hoje olhamos para as Medidas de Segurança como sendo algo do âmbito do direito
penal porque a Dra. Maria João Antunes pensa de outra maneira e entende que as
reacções para inimputáveis não devem ser de carácter penal. Porque está então se
não devia pensar? Ele apenas deveria estar sujeito a regras de carácter 65
administrativo, isto é, não há ideia de voltar atrás e pensar que não tenha de haver
um facto ilícito típico, há necessidade disso mas bastava uma medida de carácter
administrativo. Deixou de ser assim porque, antigamente, o direito administrativo
não tinha a proteção e segurança dos direitos fundamentais que hoje tem, sendo
completamente diferente de há 50 anos atrás.

O inimputável, verdadeiramente, nos termos no art.º 20º, nº1 não viola regras.
“Quando o maluquinho mata alguém, não se entende como pessoa a violar o
ordenamento penal e não se entende isso como sendo um crime mas como um
comportamento derivado da sua patologia”. Não havendo crime, não há violação de
um bem jurídico e não percebendo, não devia estar sujeito ao direito penal. Esta
autora acrescenta que se foi para o direito penal porque antes era preciso ir para
lá também por causa do que se vivia na altura em que as medidas de segurança
eram aplicadas existisse ou não ilícito típico e foram em busca das garantias do
direito penal.

O Dr. Figueiredo Dias diz que ainda assim há razões principalmente quando os
factos praticados pelo inimputável forem muito graves art.º 91º, nº2 que tem
uma redação diferente daquela que existia quando a Dra. Maria João Antunes
escreveu a sua tese. Também aqui há finalidades de prevenção geral positiva
segundo o Professor Figueiredo Dias e é aqui que há a grande divergência entre os
autores. Estes têm duas soluções muito díspares: Maria João Antunes diz que
apenas devem presidir finalidades de prevenção especial dirigidas ao próprio
delinquente que podem ser de socialização ou de tratamento para o caso de
patologias graves, mas nunca finalidades de prevenção geral, mas o Dr. Figueiredo
Dias diz que em crimes muito graves, também é preciso e há finalidades de
prevenção geral. É na última parte do nº1 que o Dr. Figueiredo Dias assenta a sua
perspetiva porque só há possibilidade de uma Medida de Segurança ter uma
periodicidade inferior de 3 anos se as finalidades de prevenção geral o
prosseguirem e estiverem cumpridas, pelo art.º 91º,nº2.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

A Dra. Maria João Antunes resolve isto fazendo uma interpretação restritiva do
art.º 91º nº2, dizendo não se aplicar a todos os inimputáveis, mas a apenas
alguns. Quais? Apenas aos imputáveis diminuídos ou inimputáveis declarados nos
termos do art.º 20º, nº2. Ou seja, o art.º 91º, nº2 apenas se aplica a estes e
as razões por trás das exigências de prevenção geral apenas fazem sentido neste
tipo de agentes. Apesar do art.º 40º, nº1 dizer que visa a proteção de bens
jurídicos e reintegração do agente na sociedade e usarmos este artigo para
sustentar as finalidades de prevenção geral, o Dr. Figueiredo Dias sustenta que
também estão aqui as finalidades de prevenção especial dos inimputáveis. E quanto
66
à prevenção geral, esta é apenas para imputáveis diminuídos. Se assim é e se
apenas a estes se aplica àqueles inimputáveis, significa que qualquer inimputável do
art.º 20º, nº1 não lhe vê aplicado o art.º 91º, nº2 por uma razão simples; se há
uns anos atrás, tratar um delinquente com uma anomalia psíquica grave demorava
muito tempo, atualmente, muitas das patologias graves permitem que a
perigosidade do agente seja tratada rapidamente e rapidamente consegue ficar
controlado, deixando de ficar perigoso.

Se a Medida de Segurança só deve ser aplicada enquanto o agente é perigoso, não


se justifica que o delinquente fique 3 anos de mínimo, ainda que tenha praticado os
crimes previstos no art.º 91º, nº2. Muitos psiquiatras, hoje, sustentam que
muitos dos presos possuem anomalia psíquica não detetada.

3º Perigosidade – o pressuposto da aplicação da Medida de Segurança é a


perigosidade do delinquente e para essa avaliação, temos de fazer um juízo de
prognose no último momento processualmente possível de verificação da sentença,
para ver se há ou não possibilidade de o delinquente vir a praticar factos da mesma
espécie. O art.º 92º, nº1 diz que a duração da medida de segurança é o
necessário até cessar a perigosidade.

Como é que o tribunal verifica? Por um lado, vê isso na sentença e depois


determina um quantitativo, sabendo que a Medida de Segurança nunca deve ser
maior do que o máximo da pena que poderia ser-lhe aplicado se tivéssemos perante
um imputável. Esta perigosidade deve ser regularmente avaliada durante o
cumprimento da Medida de Segurança. Se não houver requerimento por parte do
delinquente no sentido de pedir a cessação de medida de internamento porque a
perigosidade cessou, pode fazê-lo ao abrigo do art.º 93º, nº1 e a perigosidade é
avaliada ciclicamente de 2 em 2 anos, nos termos do art.º 93º, nº2.

A medida de segurança dura enquanto durar a perigosidade e nunca pode


ultrapassar o máximo da pena art.º 92º nº2. No entanto, ainda temos outro
problema: esta é a regra geral que está de acordo com o art.º 30º, CRP, porém
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

há uma norma no Código Penal que pode até contrariar completamente o disposto
na constituição. O art.º 92º, nº3 CP diz-nos que a medida de segurança pode ser
sucessivamente prorrogada sem limite, ou seja, até cessar o estado de
perigosidade criminal. Ou seja, este artigo contraria não só o art.º 30º, nº1 CRP
como contraria também o art.º 92º, nº3, isto é, nos termos deste artigo,
enquanto houver perigosidade do agente, a medida de segurança pode ser renovada
de 2 em 2 anos. Poderemos dizer ser inconstitucional esta norma.

Também sabemos e vimos já que nos termos do art.º 93 nº2 há possibilidade de


revisão periódica da medida de segurança mas pensemos noutra coisa: tal como nas 67
penas, também nas Medidas de Segurança há uma “liberdade condicional”,
designada por liberdade para prova e aqui, quando agente está no período de
liberdade para prova, está ainda a executar uma medida de segurança, o que terá
outra consequência, isto é, se dizemos que a liberdade para prova é ainda uma
forma de execução da medida de segurança, teremos de concluir que ele ainda é
perigoso. Não há liberdade para prova quando se concluir que já não é perigoso,
porque deixando de haver este pressuposto, já não há Medida de Segurança, muito
menos liberdade para prova porque é uma forma de execução da Medida de
Segurança. Vendo o art.º 94º, ele diz exatamente que se na revisão do artigo
anterior resultar que há razões para esperar que a finalidade da medida pode
(…continuar).

O agente colocado em liberdade para prova poderá ser sujeito a regras de conduta
e vigilância cautelar porque o art.º 94º, nº3 remete para regras do art.º 98º.

Tal como nas penas, também existe aqui uma medida de segurança de substituição,
aplicada em vez da Medida de Segurança principal o que está expressamente
previsto no art.º 98º, que é a suspensão da execução de internamento. O tribunal
que ordenar o internamento, determina, em vez dele, a suspensão da sua execução
se for razoavelmente de esperar que com a sua suspensão alcance as finalidades da
medida e aqui teremos de ver quais as finalidades de acordo com a perspetiva do
Dr. Figueiredo Dias ou da Dra. Maria João Antunes.

 Pena Relativamente indeterminada

Característica do ordenamento jurídico português para delinquentes por tendência,


especialmente perigosos – art.º 83º e ss CP. Para além de haver flexibilidade de
aplicação aos delinquentes alcoólicos (art.º 86º e ss) e delinquentes sob influencia
constante de estupefacientes.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Há dois tipos de Pena Relativamente Indeterminada, consoante os crimes que eles


tenham praticado. Para crimes mais graves, diz o art.º 83º do CP diz que quando o
agente tenha antes praticado dois ou mais crimes com pena de prisão de 2 anos ou
superior; quando sejam crimes menos graves, diz o art.º 84º do CP que todos os
agentes que cometam diversos factos dolosos com pena de prisão efetiva, só não
se exigindo que seja de dois anos ou superior.

Chama-se Pena Relativamente Indeterminada porque o condenado quando sai do


tribunal não sabe exatamente qual o tempo que irá cumprir. Ele sabe que vai
cumprir uma pena que pode oscilar um mínimo e um máximo. Diz-se “relativamente” 68
porque sabe que vai ter lá um mínimo e um máximo de anos, mas não sabe
exatamente quanto lá vai estar.

Criada pelo Professor Eduardo Correia, fala-se de culpa no direito penal pela má
formação da personalidade (nos delinquentes por tendência, a culpa era maior
porque demonstravam uma personalidade mais desconforme com o direito) contra o
direito mais que os outros.

Esta personalidade traduz-se numa Concepção de culpa baseado no livre arbítrio:


culpa por não ter agido de outra maneira quando podia e devia agir de outra
maneira. Essa pena, apesar de violar entre mínimo e máximo, é sempre uma pena
pela culpa, logo não é uma Medida de Segurança pela má formação da
personalidade.

É uma pena mas uma pena diferente, hoje em dia, a concepção de culpa é diferente,
(sendo a culpa uma atitude contra o direito personificada na prática do facto e só
aí é que o direito penal actual), o seu fundamento não é um livre arbítrio, este é um
fundamento da culpa. A culpa é aferida por aquilo que se extrai da prática do
facto. Qualquer pena que oscile entre mínimo e máximo é um problemática pois ou
esse máximo ainda corresponde à culpa do agente ou o agente já não está lá a
fazer nada.

A Pena relativamente indeterminada pode ultrapassar a parte da culpa. Determina-


se pelas regras do art.º 83º, nº2 do CP.

Nos casos de delinquentes por tendência com crime mais grave, o mínimo de 2/3 da
pena de prisão e no máximo, a pena de prisão será de mais 6 anos, sem exceder os
25 anos e isso é diferente e isto difere do art.º 84º, nº2 que se refere aos
delinquentes por tendência que pratiquem crimes menos graves onde o mínimo
corresponde a 2/3 da pena de prisão e o máximo será uma pena de prisão acrescida
de 4 anos sem exceder os 25. Isto ainda é diferente do art.º 86º que se refere
aos alcoólicos e equiparados onde o mínimo corresponde a 2/3 da pena de prisão e o
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

máximo corresponde à pena de prisão, acrescida de dois anos se for a primeira


condenação e quatro anos se for numa segunda, sem exceder os 25 anos.

Atendendo à regra do art.º 83º, nº2, para saber qual a pena relativamente
indeterminada que vamos aplicar, temos de saber primeiro qual a pena concreta –
critérios do art.º 71º, nº1 tendo em conta o modelo da prevenção que caberia em
concreto àquele crime.

Vamos imaginar que era uma pena de 12 anos, para determinar a PRI faríamos:
2/3*12 é igual a 8 anos, ou seja, 8 é o mínimo da PRI e depois temos 12 mais 6 anos 69
que é igual a 18 anos e tal corresponde ao máximo da PRI, isto é, oscilará entre os
8 e os 18 anos.

A culpa daquele facto dava apenas 12 anos se fosse apenas pela culpa. Se tem
mínimo de 8 e máximo de 18 anos, ele está na prisão mais 6 anos porquê? Ela
não está em função da culpa mas sim por ser um delinquente perigoso (período para
alem do máximo que a culpa permitia), ele está a cumprir uma sanção criminal
(medida de segurança que tem como pressuposto a perigosidade) que não
corresponde à culpa mas à perigosidade.

A PRI é até ao limite concreto da culpa, a pena é estabelecida quando fazemos a


determinação da medida ao certo e a PRI que o agente cumpre para além do limite
dessa pena é Medida de Segurança. Esta tem um caráter misto sob ponto de vista
dogmático mas sob o ponto de vista prático é visto como pena única, embora as
regras da libertação mostrem que o código penal vê a PRI como pena e medida de
segurança, para além do limite concreto da culpa

Art.º 90º do CP – expressamente nos indica que as regras para a libertação do


condenado são as de liberdade condicional e para além destas, liberdade para
prova.

Art.º 90º nº3 – a partir do momento em que se mostrar cumprida a pena que
concretamente caberia ao crime cometido. Aplica-se as regras da libertação para
prova.

Até à pena que concretamente caberia ao crime cometido aplica-se liberdade


condicional, a partir daí, há libertação para prova.

Mantemos a PRI porque o que temos aqui são delinquentes por tendência que
noutros ordenamentos jurídicos são punidos com penas e medidas de segurança
(são dualistas) e essa medida de segurança vai-se renovando se sucessivamente os
agentes livres considerados perigosos - é o que sucede, por exemplo, na Alemanha.
Mas na Alemanha desde 1978, há um preso a quem foi dada razão pelo tribunal
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

competente dos direitos humanos em relação prorrogação da medida de segurança


sucessivamente, ou seja, vai-se renovando a medida de segurança, o que acaba por
considerar-se uma prisão quase perpétua, daí darem-lhe razão

Art.º 83ºdo CP – pressupostos da Pena Relativamente Indeterminada:

 Ter cometido anteriormente dois ou mais crimes dolosos - Pretende-se,


assim, aplicar as penas da PRI no concurso de crimes.
 Tenha sido aplicada prisão efectiva superior a dois anos. Basta que se
chegue à conclusão que podia ser aplicada uma pena superior a 2 anos e 70
pretende-se abranger situações de concurso de crimes (determina-se a
pena em função da pena concreta de cada crime). O regime que prevalece é
o da Pena Relativamente Indeterminada se estiverem verificados os
pressupostos desta e simultaneamente os da reincidência – art.º 76º CP.

O problema é como vamos construir a PRI. Só podemos calculá-la a partir da pena


única do concurso, ou seja, se no concurso estiverem integrados crimes
relativamente aos quais e a todos eles se estiverem verificados os pressupostos da
PRI.

Exemplo: Crime 1; crime 2 (em 1 e 2 não estão verificados os pressupostos da PRI);


crime 3; crime 4 (em 3 e 4 estes pressupostos estão verificados) (na opinião da
Dra. Maria João Antunes, não se diz em local algum qual pena é que o agente irá
cumprir e a Dra. Helena Moniz diz que talvez se possa aplicar o art.º 99º por
analogia mas tem dúvidas. É diferente da jurisprudência que quando está a julgar o
crime 4 faz a pena única conjunta do concurso de crimes mas depois calcula a PRI.
A doutrina diz que isto não está correcto porque o agente tem Pena Relativamente
Indeterminada, integrando o crime 1 e 2 relativamente aos quais não estavam
reunidos o pressupostos da mesma.

Prazo de prescrição

Art.º 83º, nº3 – pressupostos de caracter formal são diferentes dos


pressupostos de caracter material (a Pena Relativamente Indeterminada é aplicada
a delinquentes por tendência, ou seja assenta na especial perigosidade do agente)

03 Dezembro 2013

Exames:

Exame 17.01.2013
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

1.

O art.º 69º do código penal fala-nos de proibição de veículo com motor. É uma
Pena acessória e o que as caracteriza é o facto de ser aplicada conjuntamente com
uma pena principal, mas não é de forma automática e chegamos a essa conclusão
através do próprio artigo ode menciona “por período entre 3 meses e 3 anos”, pelo
que se conclui que não só não é de aplicação automática como depende da fixação
do juiz em função da culpa. Aqui era preciso que era preciso ir buscar o art.º
30.º, nº4 da CRP.
71
2.

A foi condenado por decisão transitada em julgado em janeiro de 2011 pela


prática em 2009 de um crime de homicídio qualificado (art.º 132º), numa
pena de 12 anos de prisão.

Em janeiro de 2013 A foi condenado pela prática, em finais de 2012, de um


crime de furto (art.º 203) ocorrente no estabelecimento prisional, numa pena
de 3 anos de prisão.

Quando poderá A sair em liberdade condicional?

Temos de saber em que circunstâncias pode sair em liberdade condicional. É um


problema do art.º 63º liberdade condicional em execução sucessiva de penas. O
que caracteriza este problema é que o agente começa a cumprir uma pena e essa é
interrompida, começa a cumprir outra e só no final se avalia se está em condições
ou não de sair em liberdade condicional.

Uma vez cumprida metade da segunda pena, ou seja, no caso, ano e meio, é que o
tribunal verifica se pode ou não sair em liberdade condicional e aí ter-se-ia de
verificar se estão ou não cumpridos os pressupostos da liberdade condicional:
consentimento do arguido mas para alem disso, há pressupostos de prevenção geral
positiva e prevenção especial positiva art.º 61º, nº2 a) e b).

A seguir coloca-se o problema de e se, depois de metade da primeira pena mais um


ano e meio da metade da segunda pena, num total de 8 anos e meio, se o tribunal
não considerar estarem verificados os pressupostos, o que acontece?

Se não puder sair por estarem verificados esses pressupostos, quando é que volta
a ser possível a análise de verificação de pressupostos? Será anualmente, isto é,
um ano depois, nos termos do art.º 180º do código de execução de penas, o juiz
tem de novamente avaliar, exigindo os mesmos pressupostos do momento anterior.
Só quando já se atingem os 2/3 é que se passa a só exigir o pressuposto da
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

prevenção especial e se mesmo aos 2/3 não for possível, volta a fazer-se uma
renovação anual da instância, até chegar ao problema que nos é colocado pelo art.º
63º, nº3, neste haverá liberdade condicional “obrigatória” ou seja, verificado o
consentimento, este poderá ser colocado em liberdade condicional.

Nota: não sendo problema deste caso, convém chamar à atenção: as coisas seriam
diferentes se o condenado tivesse cumprido, por exemplo, a primeira pena de
prisão de 12 anos, tivesse saído em liberdade condicional ao fim de 6 e uma vez ca
fora tinha cometido um crime de furto e tinha de ser condenado em 3 anos de
prisão - aqui, volta a prisão para cumprir o resto da pena do primeiro crime segundo 72
a nossa visão de 5 anos e segundo a jurisprudência de 6 anos. Nesta situação de
revogação da liberdade condicional difere porque não vamos esperar por cumprir
metade do que falta e depois começar a cumprir a metade da segunda e analisar
globalmente o restante. Aqui, o nº4 do art.º 63º diz não ser essa solução
aplicável quando há revogação da liberdade condicional, aqui significava que cumpria
os 5 que faltava, a metade veríamos se podia ou não cumprir os requisitos da
liberdade condicional e se estivessem verificados, ele não saia mas começava a
cumprir a segunda.

3.

Acusado pelo crime art.º 218º, nº2, burla qualificada, sendo a qualificação em
função do prejuízo e pelo crime do art.º 283º, nº1.

1º Crime pena de prisão de 2 a 8

2º Crime: pena de prisão 1 a 8

É uma situação de concurso de crimes previsto no art.º 77º e para tanto é


preciso calcular as penas parcelares relativamente a cada crime segundo o modelo
da prevenção, com base no art.º 71º e art.º 40º do Código penal e com base
nisto determinamos a medida concreta.

De 2 a 8 anos podemos estabelecer uma pena concreta de 5 anos e no crime 2


podemos estabelecer uma pena concreta de 5 anos. Devíamos dizer que de acordo
com os critérios do art.º 71º e levando em conta para a determinação da pena
concreta os factores de determinação da medida da pena do art.º 71º, nº2
podíamos estabelecer uma moldura da prevenção entre 2 e 6 anos, sendo certo que
o limite da culpa seria 5.

Imaginando que para o 1º crime temos uma pena de 5 e para o 2º também 5 anos,
teríamos de aplicar as regras do art.º 77º, aqui o máximo seria 10, a soma de
ambas e o mínimo a pena mais alta.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Na determinação da pena única em sede de concurso temos de ter em conta todos


os critérios da segunda parte do nº1 do art.º 77º e muitos alunos esquecem isto,
ou seja, dizer quais os critérios e explicar que não poe em causa o Princípio da
dupla valoração.

4.

C portador de anomalia psíquica, foi acusado pela prática de crime de homicídio


qualificado. Em audiência de discussão e julgamento não só se provou a
inimputabilidade (…) 73
Este inimputável tinha praticado um facto ilícito típico e C poderá ser condenado
em que sanção? Não poderá ser uma pena, uma vez que o pressuposto da pena é a
culpa e o inimputável e desprovido de culpa, pelo que ser-lhe-ia aplicada numa
medida de segurança. É assim porque qualquer medida de segurança é aplicada nos
termos do art.º 90º, nº1 uma vez que qualquer inimputável tiver praticado um
facto ilícito típico.

Por outro lado, se por um lado a inimputabilidade tem de ser avaliado no momento
da prática do facto, a medida de segurança é avaliada em função da perigosidade
ao momento do julgamento.

Sendo uma situação de homicídio qualificado, poderemos integrar-nos num caso


muito específico, pois sendo um homicídio poderá ser uma situação integrada no
art.º 91º, nº2 e no nº1 diz-se que o agente seria puído numa pena de 12 a 25
anos, ou seja, há uma pena maior do que 5 anos e assim, o internamento teria de ser
no mínimo de 3 anos.

Esta aplicação automática é assim para o Dr. Figueiredo Dias e não é assim para a
Dra. Maria João Antunes, ela julga só se aplicar a situações de imputáveis
diminuídos, isto é, temos de dizer que há inimputável praticado facto ilícito típico
insuscetível de culpa pelo que se aplica uma Medida de Segurança. Esta deve ser
aplicada numa relação de proporcionalidade relativamente ao facto praticado. Foi
declarado inimputável no momento da prática do facto.

Teremos de problematizar a aplicação ou não do art.º 91º, nº2.

b) O objectivo desta questão é dizer que o cumprimento de uma Medida de


Segurança deve terminar logo que cesse a perigosidade do delinquente, salvo
situação do art.º 91º, nº2 e na perspetiva de Figueiredo Dias, mesmo que
termine antes, tem de la estar 3 anos. No entanto, pelo art.º 92º, nº3, o
internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos de 2 anos até se
verificar o nº1.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Se o magistrado incluísse isto no âmbito do art.º 92º, nº3 poderia prorrogar a


medida de segurança e à luz do art.º 30º, nº2 CRP

Em orais: conhece alguma situação em que o agente possa ser condenado numa
medida de segurança e ainda estar a cumpri-la ainda que se considere que já
não é perigoso? É a situação do art.º 91º, nº2, na perspetiva do Dr. Figueiredo
Dias, aí têm de estar internados no mínimo 3 anos haja ou não ainda perigosidade.

05.02.2013 74

1.

Art.º 46º - pena de substituição ou seja, uma pena aplicada em vez de uma pena
principal sendo certo que a pena principal não pode ser superior a um ano. Neste
âmbito classificámos estas em sentido próprio e em sentido improprio. Em sentido
próprio era aquelas que cumpriam os pressupostos básicos das penas de
substituição nomeadamente, no art.º 70º, ou seja, as verdadeiras penas de
substituição são as que substituem uma pena privativa de liberdade por uma outra
a que não correspondam a uma pena de privação de liberdade. O que temos aqui não
é em sentido próprio porque se trata de uma pena de substituição detentiva e
nesta medida seria bom caracteriza.la nas duas vertentes. Ver pagina 32 do livro
da Dra. Maria João Antunes.

Por outro lado, constituía critério de valorização - Maria João Antunes questiona
se esta pena de substituição poderá ser assim entendida como verdadeira pena de
substituição porque o que temos aqui é uma pena que exige o consentimento do
condenado – olhando para o art.º 46º, nº1 ele menciona se o condenado nisso
consentir, daí que há duvidas pensando que se trate de uma execução da pena de
prisão e não pena de substituição. Pagina 33

2.

Uma vez que se fala do art.º 250º, nº1 teremos de ir ver o que é dito e pune-se
com pena de multa até 120 dias.

O nº1 e nº5 interessam para este caso.

O que se pede é uma determinação da pena nos termos do nº1. Determinava-se a


pena usando o modelo da moldura de prevenção que seria o mínimo da pena de multa
expresso no art.º 47º, nº1 – 10 dias, e 120 dias, máximo. Teríamos de construir a
moldura da prevenção depois de saber a moldura legal.
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Depois de estabelecer o modelo de prevenção, temos de estabelecer o nº de dias e


finalmente o quantitativo diário em função da situação económica do agente

Dizia-se no caso que A está atualmente desempregado e estando este com


dificuldades de pagamento, poder-se-ia permitir o pagamento em prestações ou
mesmo suspender a execução do pagamento, permitindo o pagamento em trabalho.

Podia ainda haver lugar a dispensa de pena tendo em conta o art.º 250º, nº6.
Devia dizer-se que eventualmente podia haver lugar a dispensa de pena uma vez
que nos termos do nº6 isso é possível e deveria ser aplicado – art.º 74º, nº3 e 75
art.º 74º, nº1. Atenção a isto!

3.

Temos uma situação de reincidência. Precisamos do pressuposto material e


pressupostos formais da reincidência – art.º 71º. Verifica-se a ligação entre os
crimes, o 1º tem de ser doloso; punido com prisão efectiva superior a 6 meses,
transitado em julgado.

Seria a pena correspondente ao art.º 213º, nº2 a).

Aqui teríamos de determinar a pena de prisão e sendo esta moldura legal de 2 a 8


anos, estava desde logo o pressuposto da superioridade de 6 meses verificado.

Não nos podemos esquecer dos 5 anos, da prescrição. No caso havia prescrição e
assim determinávamos a pena mas não aplicávamos a circunstância modificativa
agravante da reincidência.

Apenas determinávamos a pena a aplicar como se de um criem normal se tratasse.

Se fosse pelo nº1, teríamos de determinar a pena para o dano qualificado logo
numa primeira operação com a escolha. Escolhendo a pena de multa, já havia um
pressuposto da reincidência que não se verificava. Teríamos de justificar o porquê
de uma pena de multa quando antes se tina aplicado pena de prisão. Teríamos de
dizer que não se aplicava reincidência e dizer porque não estavam os pressupostos
verificados.

4.

Janeiro 2008 punição por um crime de homicídio com prisão efecitva de 8 anos

Novembro 2008 julgado crime violação integridade física – pena de prisão de 6


anos
Penal III Aulas Teóricas 2013/2014

Janeiro 2013 – homicídio de um guarda prisional – moldura entre 12 e 25 anos.

Temos aqui um delinquente por tendência, um caos de provável aplicação de uma


PRI, nos termos do art.º 83º.

Temos de ver se entre os crimes julgados passaram ou não 5 anos. Se estiverem


cumpridos os pressupostos da PRI e reincidência, prevalece a PRI mediante o art.º
76º, nº2.

76

Anda mungkin juga menyukai