Quando uma mulher se torna mãe, ela passará por muitas mudanças e
adaptações, e esse acontecimento também afetará sua família e suas relações
(1, 2, 3). Para a criança que nasce, as mudanças também são intensas: ela sai de
sua condição intra-uterina e se depara com uma realidade que não entende e
diante da qual se encontra ainda indefesa. No início da vida, ela só pode contar
com seu corpo para dizer ao mundo como se sente e do que precisa. Assim, a
mãe precisa ter disponibilidade suficiente para se adaptar ao bebê e fornecer
tudo o que ele precisa (4). Entretanto, essa comunicação não-verbal pode ser
um desafio para quem cuida de um bebê.
Quando, por qualquer razão, a mãe não consegue entender as
necessidades da criança e atendê-las satisfatoriamente (sejam elas físicas, de
atenção ou de acolhimento diante de possíveis angústias e medos), o corpo do
bebê indicará essa dificuldade. Além do choro, as suas principais funções de
regulação funcional podem ser afetadas (5, 6).
Sendo assim, sintomas nas áreas do sono, alimentação, digestão,
respiração, pele e comportamento podem também estar relacionados a
alguma dificuldade na relação do bebê com seus pais/cuidadores ou com o
contexto (7, 8, 9). Dessa forma, quanto mais precocemente essas dificuldades
forem detectadas, maior a possibilidade de minimizar ou evitar danos ao
desenvolvimento infantil (7, 10).
No Brasil, assim como em outros países (11, 12, 13), os estudos sobre as
manifestações somáticas funcionais dos bebês ainda são escassos e
desvalorizados na prática clínica (14, 15, 16). Em função disso, esta cartilha aborda
a temática dos sintomas somáticos funcionais na primeira infância, com o
objetivo de auxiliar os profissionais e agentes comunitários de saúde que
trabalham na assistência de famílias com bebês.
Esse material é um produto derivado de uma pesquisa que envolveu a
UFCSPA, a UFRGS e a UNISINOS, intitulada "Sintomas Psicofuncionais:
Mapeamento e Avaliação" - SINBEBÊ, realizada no estado do Rio Grande do Sul
entre os anos de 2012 e 2016. Tal estudo objetivou mapear a presença de
sintomas somáticos funcionais (ou sintomas psicofuncionais) em bebês de seis
a 12 meses de vida. Esperamos que esse material seja útil para a sua prática
profissional. Boa leitura!
de olho na relação mãe-bebê
Função
Somática Afetada principais sinais e sintomas
REFERÊNCIAS
1. Brazelton, T. B., & Cramer, B. G. (1992). As primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes.
2. Klaus, M. H., & Kennel, J. H. (1992). Pais-bebê: A formação do apego. Porto Alegre: Artmed.
3. Bornstein, M. H., Putnick, D. L., & Suwalsky, J. T. (2016). Emotional interactions in European American mother-infant first born and
second born dyads: A within-family study. Developmental Psychology, 52(9), 1363-1369.
4. Mellier, D. (2014). The psychic envelopes in psychoanalytic theories of infancy. Frontiers of Psychology, 5(734), 1-9. doi:
10.3389/fpsyg.2014.00734
5. Kreisler, L. (1978). A criança psicossomática. Lisboa: Estampa.
6. Marcelli, D., & Cohen, D. (2016). Infância e Psicopatologia. Porto Alegre: Artmed
7. Batista-Pinto, E. (2004). Os sintomas psicofuncionais e as consultas terapêuticas pais/bebê. Estudos de Psicologia, 9(3), 451-457.
8. Mazet, P., & Stoleru, S. (1990). Manual de psicopatologia do recém-nascido. Porto Alegre: Artes Médicas.
9. Robert-Tissot, C., Rusconi-Serpa, S., Bachman, J.-P., Besson, G., Cramer, B., Knauer, D., Muralt, M. de, & Palácio-Espasa, F. (1989).
Le questionnaire “Sympton Check-List”. In S. Lebovici. P. Mazet, & J.-P. Visier (Orgs.), L’evaluation des interactions précoces entre le
bébé et ses partenaires (pp. 179-186). Paris: Eshel.
10. Feliciano, D. S., & Souza, A. S. L. (2011). Para além do seio: Uma proposta de intervenção psicanalítica pais-bebê a partir de
dificuldades na amamentação. Jornal de Psicanálise, 44(81), 145-161.
11. Robert-Tissot, C., Cramer, B., Stern, D. N., Rusconi Serpa, S., Bachmann, J-P., Palacio-Espasa, F., Knauer, D., Muralt, M., Berney, C.,
Mendiguren. G. (1996). Outcome evaluation in brief mother-infant psychotherapies: Reports on 75 cases. Infant Mental Health
Journal, 17(2), 97-114.
12. Squires, C., Lalanne, C., Murday, N., Simoglou, V., & Vaivre-Douret, L. (2014). The influence of eating disorders on mother' sensitivy
and adaptation during feeding: a longitudinal observational study. BMC Pregnancy Childbirth, 14(274). doi: 10.1186/1471-2393-14-274
13. Tissot, H., Favez, N., Frascarolo, F., & Despland, J. N. (2016). Coparenting behaviors as mediators between postpartum parental
depressive symptoms and toddler’s symptoms. Frontiers of Psychology, 7(1912). doi: 10.3389/fpsyg.2016.01912
14. Rocha, M. A. R. S. (2009). A clínica da parentalidade: Atendimentos precoces e psicoprofiláticos em direção à saúde física e
mental. Dissertação de Mestrado. PUCSP, São Paulo.
15. Scalco, M. O., & Donelli, T. M. S. (2014). Os sintomas psicofuncionais e a relação mãe-bebês gêmeos aos nove meses de idade.
Temas em Psicologia, 22(1), 55-66.
16. Scalco, M. O., & Donelli, T. M. S. (2014). Transtornos respiratórios e relação mãe-bebê no primeiro ano de vida. Psicologia
Argumento, 32(79), 131-141.
17. Bowlby, J. A. (1989). Apego: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes.
18. Winnicott D W. (1958/1988). Textos selecionados: da Pediatria à Psicanálise. Francisco Alves.
19. Marty, P. (1993). A psicossomática do adulto. Porto Alegre: Artes Médicas.
20. McDougall, J. (1996). Teatros do corpo: O psicossoma em Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.
21. Winnicott, D. W. (1960/1990). Teoria do relacionamento paterno-infantil. Em: O ambiente e os processos de maturação (pp.
38-54). Porto Alegre: Artes Médicas.
22. Bion, W. R. (1973). Atenção e interpretação. Rio de Janeiro: Imago.
23. Jerusalinsky, J., & Berlinck, M. T. (2008). Leitura de bebês. Estilos da Clinica, 13(24), 122-131.
24. Simpson, T. E., Condon, E., Price, R. M., Finch, B. K., Sadler, L. S., & Ordway, M. R. (2015). Demystifying infant mental health:
What the primary care provider needs to know. Journal of Pediatric Health Care, 30(1), 38-48. doi:
http://dx.doi.org.ez41.periodicos.capes.gov.br/10.1016/j.pedhc.2015.09.011
25. Ahlqvist-Björkroth, S., Vaarno, J., Junttila, N., Pajulo, M., Räihä, H., Niinikoski, H., & Lagström, H. (2016). Initiation and exclusivity
of breastfeeding: association with mothers’ and fathers’ prenatal and postnatal depression and marital distress. Acta Obstetricia
et Gynecologica Scandinavica, 95, 396-404. doi: 10.1111/aogs.12857
26. Bob, P., Selesova, P., & Kukla, L. (2015). Dissociative symptoms and mother's marital status in young adult population. Medicine
(Baltimore), 94(2), e408. doi: 10.1097/MD.0000000000000408.
27. Daryanani, I., Hamilton, J. L., McArthur, B. A., Steinberg, L., Abramson, L. Y., & Alloy, L. B. (2017). Cognitive vulnerabilities to
depression for adolescents in single-mother and two-parent families. Journal of Youth and Adolescence, 46: 213-227.
doi:10.1007/s10964-016-0607-y
28. Emmott, E. H., & Mace, R. (2015). Practical support from fathers and grandmothers is associated with lower levels of
breastfeeding in the UK Millennium Cohort Study. PLoS ONE, 10(7). e0133547. doi:10.1371/journal.pone.0133547
29. Holden, L., Dobson, A. J., Ware, R. S., Hockey, R., & Lee, C. (2015). Longitudinal trajectory patterns of social support: Correlates
and associated mental health in an Australian national cohort of young women. Quality of Life Research, 24(9), 2075-2086.
doi:10.1007/s11136-015-0946-2
30. Rudzik, A. E. F., & Ball, H. L. (2015). Exploring maternal perceptions of infant sleep and feeding method among mothers in the
United Kingdom: A qualitative focus group study. Maternal and Child Health Journal, 20, 33-40. doi: 10.1007/s10995-015-1798-7
* Robert-Tissot C. et al. (1989). Le questionnaire “Sympton Check-List”. In S. Lebovici. P. Mazet, J. P. Visier (Orgs.), L’evaluation des
interactions précoces entre le bébé et ses partenaires (pp. 179-186). Paris: Eshel