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Conjuntos e Funções

Ivan Eugênio da Cunha


18/07/2011
1

Conteúdo
Capítulo I – Conjuntos e Relações ......................................................................................... 5
1 – Noções Elementares Sobre Conjuntos....................................................................... 5
1.1 – Conjunto e elemento ......................................................................................... 5
1.2 – Pertinência ........................................................................................................... 5
1.3 – Representação ..................................................................................................... 5
1.4 – Conjunto unitário e vazio ............................................................................... 6
1.5 – Conjunto universo ............................................................................................. 7
1.6 – Subconjuntos e igualdade entre conjuntos ............................................ 7
1.7 – União e intersecção ........................................................................................... 9
1.8 – Diferença e complementar ........................................................................... 14
1.9 – Conjunto das partes e partição de conjuntos ...................................... 18
1.10 – Diferença simétrica..................................................................................... 20
1.11 – Generalizações .............................................................................................. 21
Exercícios I – 1..................................................................................................................... 24
2 – Pares Ordenados e Produto Cartesiano......................................................... 26
2.1 – Par ordenado ..................................................................................................... 26
2.2 – Produto cartesiano............................................................................................... 27
Exercícios I – 2..................................................................................................................... 29
3 – Noção de Cardinalidade ........................................................................................ 30
3.1 – Cardinalidade de alguns conjuntos finitos ..................................................... 30
3.2 – Alguns exemplos .................................................................................................. 31
Exercícios I – 3..................................................................................................................... 34
4 – Relações ....................................................................................................................... 35
4.1 – Plano cartesiano............................................................................................... 36
4.2 – Relações binárias ............................................................................................. 37
4.3 – Funções ................................................................................................................ 40
4.4 – Relações de equivalência.............................................................................. 42
4.5 – Relações de ordem total ................................................................................ 45
Exercícios I – 4..................................................................................................................... 48
1 – Características Gerais ........................................................................................... 51
1.1 – Definição de função e notações.................................................................. 51
1.2 – Igualdade entre funções................................................................................ 51
1.3 – União de funções .............................................................................................. 53
2

1.4 – Imagens e pré-imagens de funções ........................................................... 55


Exercícios II – 1 ................................................................................................................... 60
2 – Funções Injetoras, Sobrejetoras e Bijetoras ................................................ 62
2.1 – Definições ............................................................................................................ 62
2.2 – Imagens e pré-imagens de injeções, sobrejeções e bijeções;
função inversa .................................................................................................................. 64
Exercícios II – 2 ................................................................................................................... 66
3 – Conjuntos Indexados e Generalizações .......................................................... 67
3.1 – Conjuntos indexados ...................................................................................... 67
3.2 – Generalizações .................................................................................................. 69
Exercícios II – 3 ................................................................................................................... 73
4 – Produtos Cartesianos: Caso Geral .................................................................... 74
4.1 – O Axioma da Escolha ...................................................................................... 74
4.2 – Generalização do produto cartesiano ..................................................... 75
Exercícios II – 4 ................................................................................................................... 79
5 – Operações Unárias e Binárias; Estruturas Algébricas Básicas ........... 80
5.1 – Operações e Relações ..................................................................................... 80
5.2 – Comutatividade, associatividade e distributividade........................ 80
5.3 – Grupos .................................................................................................................. 82
5.4 – Anéis ...................................................................................................................... 86
5.5 – Corpos ................................................................................................................... 86
Exercícios II – 5 ................................................................................................................... 91
6 – Composição de Funções; Mais Sobre Grupos .............................................. 92
6.1 – Composição de funções ................................................................................. 92
6.2 – Morfismos de grupos ...................................................................................... 97
6.3 – Grupo de permutações................................................................................... 99
6.4 – Grupos diedrais .............................................................................................. 101
Exercícios II – 6 ................................................................................................................. 106
Capítulo III – Conjuntos Numéricos ................................................................................. 108
1 – Conjunto dos Naturais ......................................................................................... 108
1.1 – Axiomas de Peano .......................................................................................... 108
1.2 – Soma e produto de números naturais ................................................... 110
1.3 – Relação de ordem em ℕ ............................................................................... 112
1.4 – Potência de números naturais ................................................................. 116
3

1.5 – Somatório e produtório ............................................................................... 117


1.6 – Teorema Binomial de Newton .................................................................. 129
Exercícios III – 1 ............................................................................................................... 133
2 – Conjuntos Finitos e Infinitos; Aritmética de Cardinais ........................ 136
2.1 – Conjuntos finitos ............................................................................................ 136
2.2 – Conjuntos infinitos........................................................................................ 140
2.3 – Conjuntos enumeráveis............................................................................... 142
2.4 – Equipotência de conjuntos ........................................................................ 144
2.5 – Números cardinais ........................................................................................ 145
2.6 – Ordenação de números cardinais ........................................................... 146
2.7 – Cardinais finitos ............................................................................................. 151
2.8 – Aritmética de cardinais ............................................................................... 153
2.9 – Generalizações e o Teorema de König .................................................. 159
2.10 – Generalizações de máximos e mínimos; equivalências do
Axioma da Escolha; resultados finais ................................................................... 163
4
5

Capítulo I – Conjuntos e Relações

A noção de conjunto é uma das mais fundamentais da matemática, pois


(quase) toda a matemática pode ser construída com base no conceito de conjunto e
suas propriedades. Nessa parte do texto serão apresentados alguns rudimentos da
Teoria “Ingênua” dos Conjuntos e o que se denominam relações binárias, que
desempenham papel significativo na matemática (inclusive na construção de
diversos conjuntos de interesse).

1 – Noções Elementares Sobre Conjuntos


1.1 – Conjunto e elemento

As noções de conjunto e elemento são primitivas, ou seja, não são definidas,


mas temos uma noção intuitiva. Um conjunto, intuitivamente, é um agrupamento
de objetos (de qualquer natureza), esses chamados de elementos. Para a

exemplo, conjunto ) e letras minúsculas para indicar elementos (por exemplo,


representação, se usa comumente letras maiúsculas para indicar conjuntos (por

elemento ).

1.2 – Pertinência

Outra noção primitiva é a de pertinência, que faz a relação entre elementos

símbolo “∈”. Por exemplo, dado um conjunto , para indicar que um elemento 
e conjuntos. Para indicar que um elemento pertence a um conjunto, se usa o

pertence a , se escreve  ∈ . Também se pode indicar que um determinado


elemento  não pertence a um dado conjunto . Para isso, usa-se a indicação “∉” e,
assim, se escreve  ∉  para indicar que não pertence.

É interessante notar que, como um elemento de um conjunto pode ser


qualquer objeto, pode-se ter que um conjunto pertença a outro. Ou seja, podemos
ter conjuntos cujos elementos também são conjuntos. Normalmente esses
conjuntos, quando explicitado que se trata de conjuntos formados de conjuntos, são
chamados de famílias de conjuntos ou coleções de conjuntos.

1.3 – Representação

A representação de um conjunto pode ser feita de diversas maneiras. Uma

elementos do conjunto. Ou seja, sendo  um conjunto e ,  e  seus elementos (por


forma que, em vezes, é conveniente consiste em simplesmente explicitar os

exemplo), escrever:

 =
, , 

A utilização de chaves ao início e fim da listagem de elementos, além da


utilização de vírgula para a separação desses, é uma convenção e será adotada
nesse texto.
6

Quando o conjunto é infinito, pode-se representar na forma de listagem, mas


apresentando alguns elementos que tornem evidente qual conjunto se está tratando

conjunto dos naturais como sendo ℕ =


1,2,3,4, ⋯ . Mas as reticências também
e acrescentando reticências no final da listagem. Por exemplo, podemos escrever o

podem ser usadas em conjuntos finitos, bastando que, após as reticências, se

números naturais pode ser dado por  =


1,2,3, ⋯ ,500 .
indique o último elemento. Por exemplo, o conjunto dos quinhentos primeiros

que caracterize esse. Ou seja, sendo  um conjunto e  uma propriedade exclusiva


Outra forma de representar um conjunto é destacando alguma propriedade

dos elementos desse conjunto, representar  por:

 =
 |    

Lê-se “Conjunto  dos elementos  tal que  possui a propriedade ” (a barra


vertical, |, é lida como “tal que”). É interessante ressaltar que a propriedade pode,

o conjunto  é formado pelos números naturais pares menores que 100 ( =


na verdade, ser uma combinação de propriedades. Por exemplo, podemos dizer que

 ∈ ℕ |  é    < 100 )

Uma terceira forma de representar um conjunto  é através do diagrama de


Euler-Venn. Essa representação consiste em representar o conjunto como sendo um
círculo onde se coloca o elemento dentro do círculo para dizer que ele pertence ao

elementos  e  pertencem ao conjunto  (,  ∈ ) enquanto o  não pertence ( ∉


conjunto ou fora, caso o elemento não pertença ao conjunto. No exemplo abaixo, os

):

Uma última observação a ser feita é que a notação ,  ∈  significa  ∈  e


 ∈ .

1.4 – Conjunto unitário e vazio

Ou seja, se  é unitário e ,  ∈ , então  = .


Definição 1.4.1: Um conjunto é dito unitário se possui um único elemento.

Exemplo 1.4.1: O conjunto formado pelas soluções da equação 2 + 3 = 0 é


&
unitário. A saber, o conjunto solução, #, é # = $− '(.

Definição 1.4.2: O conjunto vazio é aquele que não possui elementos.


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Mais comumente, o conjunto definido acima é representado pelo símbolo ∅,


mas também pode ser representado por
. Esse conjunto pode aparecer quando a

números reais tais que  ≠  ( =


 ∈ ℝ |  ≠  ) é o conjunto vazio, pois nenhum
propriedade dada ao conjunto é logicamente falsa. Por exemplo, o conjunto dos

número real satisfaz essa condição.

1.5 – Conjunto universo

existência de um conjunto universo (genericamente representado por -). Tal é o


Em geral, no desenvolver de certos assuntos em matemática, admite-se a

conjunto ao qual pertencem todos os elementos envolvidos no assunto. Por exemplo,


se a solução que se procura para um problema é um número real, o conjunto
universo adotado é o dos números reais (tal situação será muito comum nesse
texto).

1.6 – Subconjuntos e igualdade entre conjuntos

Definição 1.6.1: Um conjunto . é dito ser subconjunto de um conjunto  se


todos os elementos de . forem também elementos de . Ou seja, para todo ,
 ∈ . ⟹  ∈  (o símbolo ⟹ se lê “implica”). Com mesmo significado também se diz
que . está incluído em  ou que . é parte de . Representamos a implicação dada
simplesmente escrevendo . ⊂ . Também é comum a utilização da notação . ⊆ ,
que será esclarecida logo abaixo.

Definição 1.6.2: Se . ⊂ , mas existe algum  tal que  ∈  e  ∉ ., a


inclusão é própria (podemos reescrever isso como ∃ |  ∈    ∉ ., onde ∃ se lê
“existe algum”). Diz-se, então, que . é um subconjunto próprio de  (ou parte
própria de ).

Uma forma equivalente de apresentar essa definição é dizendo que . ⊂  é


uma inclusão própria quando, para todo ,  ∈ . ⟹  ∈ , mas existe algum  tal
que  ∈  ⇏  ∈ ., onde o símbolo ⇏ significa “não implica”. Ou seja, existe algum
 que pertence a , mas não a ..

Definição 1.6.3: O caso oposto, quando se tem . ⊂  e todos os elementos


de  pertencem a ., ou seja, para todo ,  ∈ . ⇔  ∈ , é o que define a igualdade
entre dois conjuntos (o símbolo ⇔ é uma composição da implicação ⇒ com a ⇐ e

suficiente”). Quando a condição  ∈ . ⇔  ∈ , para todo , é satisfeita, se escreve


pode ser lido como “é equivalente”, “se, e somente se,” ou “é condição necessária e

. = .

notação . ⊂  exclusivamente quando . é um subconjunto próprio de  e . ⊆ 


Agora se pode entender as duas notações usadas: em alguns textos, se usa a

quando se admite a possibilidade de . =  (é uma notação análoga ao de  ≤  nos


números reais quando se quer dizer que  é menor ou igual a ). Mas aqui
usaremos a notação . ⊂  mesmo que exista a possibilidade de . = . Quando . for
subconjunto próprio de , exclusivamente, tal fato será explicitado. Abaixo está a
representação diagramática do que foi discutido.
8

própria e na direita a igualdade entre conjuntos. De forma geral, quando . ⊂ ,


Observação: Na esquerda, está, na verdade, representada a inclusão

pode ocorrer uma (e, claro, apenas uma) das duas situações.

Exemplo 1.6.1: Sendo o conjunto  =


, , , 1,2,3 e . =
1, , 3 , temos
. ⊂ , pois cada elemento de . também é elemento de .

Exercício 1.6.1: Dado  =


, ,  e . =
, ,  , mostre que  = .. Veja que,
de forma geral, a igualdade entre conjuntos não depende da ordem em que são
listados os elementos.

Exercício 1.6.2: Se um conjunto  é dado por  =


, ,  e . é dado por
. =
, , , , , ,  , podemos dizer que  = .? SUGESTÃO: Use a Definição 1.6.3.

apresentadas. Dizemos que um conjunto . não é subconjunto do conjunto , e


Existem também as relações de negação referentes às definições

denotamos isso por . ⊄ , quando existe algum  ∈ . tal que  ∉ . Perceba que
isso é a negação da afirmação  ∈ . ⟹  ∈  para todo . Não estamos dizendo que
nenhum elemento de . pertença a , mas sim que, para algum ,  ∈ . ⇏  ∈ . Ou
seja, deve existir algum elemento de . que não pertence a . Uma observação geral

(como o ⟹ para indicar implicação), a negação é dada pelo mesmo símbolo


é que, muito comumente, se se tem um símbolo para representar uma afirmação

o exemplo, representamos “não implica” por ⇏).


acrescentando um corte (como já ocorreu várias vezes nesse texto e, para completar

Para a igualdade, dizer que um conjunto  é diferente de um conjunto .


(denotamos  ≠ .) é equivalente a dizer que existe algum elemento de  que não
pertence a . ou que existe algum elemento de . que não pertence a . Aqui temos a
situação onde há um ou inclusivo. Isso quer dizer que não necessariamente uma ou
9

verdadeiras também se diz que  é diferente de . (como é intuitivo). Também é


(exclusivo) outra afirmação deva ser verdadeira. Se ambas as afirmações forem

possível ver que isso é a negação da definição de igualdade apresentada.  ≠ . é o


mesmo que dizer que, para algum ,  ∈ . ⇎  ∈ . Perceba que a dupla
implicação é a composição de duas implicações (⇒ e ⇐) e, dessa forma, basta que
uma das implicações seja falsa para a dupla implicação ser falsa. Assim, se  ≠ .,
uma das seguintes situações acontece:

1) Para algum ,  ∈ . ⇏  ∈  e, para todo ,  ∈ . ⇐  ∈  (pela definição


1.6.2, essa seria uma inclusão própria de  em .)
2) Para algum ,  ∈ . ⇍  ∈  e, para todo ,  ∈ . ⇒  ∈  (pela definição
1.6.2, essa seria uma inclusão própria de . em )
3) Para algum ,  ∈ . ⇏  ∈  e, para algum ,  ∈ . ⇍  ∈  (nem  nem .
são subconjuntos um do outro).

Exemplo 1.6.2: Sendo  =


, , , 1 e . =
, , , 2 ,  ≠ ., pois 1 ∈ , mas
1 ∉ .. Também se tem que 2 ∈ ., mas 2 ∉ .

Usaremos conjuntos arbitrários , . e ;.


Listemos algumas propriedades da inclusão em forma de teoremas.

Teorema 1.6.1: ∅ ⊂ 

propriedade lógica não muito comum. Pela definição, . ⊂  é equivalente a


Demonstração: A demonstração é anti-intuitiva, pois parte de uma

 ∈ . ⟹  ∈  para todo . Assim, devemos mostrar que essa implicação é


verdadeira quando . = ∅. Ou seja, mostrar que, para todo ,  ∈ ∅ ⟹  ∈ . De
fato a implicação é verdadeira, pois  ∈ ∅ é falso para todo  (afinal, o conjunto
vazio não possui elementos), mas  ∈  pode ser verdadeiro ou falso. Isso fica mais
claro quando escrevemos, de forma equivalente, que, para todo ,  ∉  ⟹  ∉ ∅
(tal implicação, de forma geral, é intuitiva, pois, se . ⊂ , um elemento que não
pertença a  não pode pertencer a .). Como se pode ver, a implicação é verdadeira.
Isso mostra que qualquer conjunto possui como subconjunto o conjunto vazio.

QED

Teorema 1.6.2:  ⊂  (propriedade reflexiva)

Teorema 1.6.3: (. ⊂  e  ⊂ .) ⇒ A=B (anti-simetria)

Teorema 1.6.4: (; ⊂ . e . ⊂ ) ⇒ ; ⊂  (transitividade)

Exercício 1.6.3: Demonstre esses últimos três teoremas.

1.7 – União e intersecção

Para os conjuntos, são, inicialmente, definidas duas operações: união e


intersecção.
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Definição 1.7.1: Dado um conjunto universo - e sendo , . ⊂ - (essa


notação indica que  ⊂ - e . ⊂ -), a união entre  e ., denotada por  ∪ ., é
definida por:

 ∪ . =
 ∈ - |  ∈  =  ∈ .

Isso quer dizer que, se  pertence a  e . simultaneamente, ele ainda pertence à


Uma observação que deve ser feita é que o “ou” dessa definição é inclusivo.

(a de que  ∈  e a de que  ∈ .).


união. Ou seja, não se exclui os casos em que ambas as afirmações são verdadeiras

Definição 1.7.2: Dado um conjunto universo - e sendo , . ⊂ -, a


intersecção entre  e ., denotada por  ∩ ., é definida por:

 ∩ . =
 ∈ - |  ∈    ∈ .

Deve-se perceber que, nesse caso, o elemento deve, para ser um elemento da
intersecção, pertencer simultaneamente a ambos os conjuntos.

Abaixo são apresentadas as principais propriedades dessas operações.


Também são apresentadas algumas representações na forma de diagramas de
Euler-Venn, para tornar algumas propriedades mais claras.

Teorema 1.7.1: A união e intersecção são comutativas. Ou seja,  ∪ . = . ∪


 e∩. =.∩

Demonstração: Tomando a definição:

 ∪ . =
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . =
 ∈ - |  ∈ . =  ∈  = . ∪ 

QED

Ou seja, ? ∪ .) ∪ ; =  ∪ ?. ∪ ;) e ? ∩ .) ∩ ; =  ∩ ?. ∩ ;) quaisquer que sejam


Teorema 1.7.2: A união e a intersecção possuem propriedade associativa.

, ., ; ⊂ -.
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Demonstração: Pela definição:

? ∪ .) ∪ ; =
 ∈ - |  ∈  ∪ . =  ∈ ;
=
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . =  ∈ ;
=
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . ∪ ;
=  ∪ ?. ∪ ;)

QED

Teorema 1.7.3: A união e a intersecção são operações fechadas. Ou seja, o

equivalente, , . ⊂ - ⟹ ? ∪ . ⊂ -   ∩ . ⊂ -).
conjunto resultante ainda é um subconjunto do conjunto universo. De forma

Demonstração: O resultado é imediato, pois todos os elementos dos

conjunto dado pela união ou intersecção de subconjuntos de - ainda serão


conjuntos usados pertencem ao conjunto universo. Dessa forma, os elementos do

elementos de -.

QED

 ∪  =  e  ∩  = .
Teorema 1.7.4: A união e intersecção são operações idempotentes. Ou seja,

Demonstração: Pela definição:

 ∪  =
 ∈ - |  ∈  =  ∈  =
 ∈ - |  ∈  = 

QED

Teorema 1.7.5: As seguintes equivalências são verdadeiras:

. ⊂  ⟺∪. =  ⟺∩. =.

Demonstração: Pela definição de inclusão, para todo  ∈ -,  ∈ . ⟹  ∈ .


Dessa forma  ∪ . =
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . =
 ∈ - |  ∈  = . Reciprocamente,
se  ∪ . = , suponhamos por absurdo que . não seja subconjunto de . Assim,
existe  pertencente a . tal que  não pertence a , mas isso leva a um absurdo,
pois  ∪ . =  ⇒
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . =
 ∈ - |  ∈  . Ou seja, o  mencionado
tem que pertencer a .

QED

Teorema 1.7.6: Dados  e . quaisquer, as seguintes afirmações são


verdadeiras:
12

, . ⊂  ∪ .  ∩ . ⊂ , .

Demonstração: Basta mostrar que  ⊂  ∪ ., pois os conjuntos são


arbitrários. Pela definição,  ∪ . =
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . . Dessa forma, para todo
 ∈ -,  ∈  ⇒  ∈  ∪ ., que, pela definição de subconjunto, é o mesmo que dizer
que  ⊂  ∪ ..

QED

“nulo” da intersecção. Ou seja,  ∪ ∅ =  e  ∩ ∅ = ∅. Também se tem que o


Teorema 1.7.7: O conjunto vazio é o elemento neutro da união e o elemento

 ∩ - = .
conjunto universo é o elemento neutro da intersecção, ou, de forma equivalente,

seja , ∅ ⊂  (Teorema 1.6.1) e, pelo Teorema 1.7.5, ∅ ⊂  ⇔ ∅ ∪  = ,


Demonstração: Usemos alguns resultados já demonstrados. Qualquer que

demonstrando o resultado.

QED

Teorema 1.7.8: A união é distributiva em relação à intersecção e a

sejam , ., ; ⊂ -,  ∪ ?. ∩ ;) = ? ∪ .) ∩ ? ∪ ;) e  ∩ ?. ∪ ;) = ? ∩ .) ∪ ? ∩ ;).
intersecção é distributiva em relação à união. Isso quer dizer que, quaisquer que

Demonstração: Pela definição:

 ∪ ?. ∩ ;) =
 ∈ - |  ∈  ∪
 ∈ - |  ∈ .   ∈ ;
=
 ∈ - |  ∈  = ? ∈ .   ∈ ;)
=
 ∈ - | ? ∈  =  ∈ .)  ? ∈  =  ∈ ;)
=
 ∈ - |  ∈  =  ∈ . ∩
 ∈ - |  ∈  =  ∈ ;
= ? ∪ .) ∩ ? ∪ ;)

QED
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Por fim, listemos as propriedades apresentadas:

 ∪ . = . ∪  e  ∩ . = . ∩  (comutativa)
? ∪ .) ∪ ; =  ∪ ?. ∪ ;) e ? ∩ .) ∩ ; =  ∩ ?. ∩ ;) (associativa)
1)

, . ⊂ - ⟹ ? ∪ . ⊂ -   ∩ . ⊂ -) (fecho)
2)
3)
 ∪  =  e  ∩  =  (idempotência)
. ⊂⟺∪. = ⟺∩. =.
4)

, . ⊂  ∪ . e  ∩ . ⊂ , .
5)

 ∪ ∅ = ,  ∩ ∅ = ∅ e  ∩ - =  (elementos neutros e “nulos”).


6)

 ∪ ?. ∩ ;) = ? ∪ .) ∩ ? ∪ ;) e  ∩ ?. ∪ ;) = ? ∩ .) ∪ ? ∩ ;)
7)
8)
(distributiva)

Essas propriedades são básicas e é importante que se tenha familiaridade


com elas.

Exercício 1.7.1: Os teoremas acima foram demonstrados apenas para a


união. Faça as demonstrações que faltam (referentes à intersecção). Faça também a
representação dessas propriedades na forma de diagramas de Euler-Venn quando
não for uma propriedade imediata.

apresentados acima:  ∪ ? ∩ .) =  e  ∩ ? ∪ .) = .
Exercício 1.7.2: Demonstre os seguintes corolários dos teoremas

Definição 1.7.3: Se  e . são conjuntos quaisquer e  ∩ . = ∅,  e . são


ditos conjuntos disjuntos. Quando isso ocorre, a união  ∪ . é chamada de união
disjunta.

No decorrer do texto será dito algumas vezes que certas uniões são
disjuntas, mas não se estará, em geral, acrescentando uma propriedade à união e
sim ressaltando a propriedade referida acima.
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equivalente a “ e . são disjuntos se, e somente se, para todo ,  ∈  ⇒  ∉ .”.


Exercício 1.7.3: Mostre que a definição acima para conjuntos disjuntos é

Justifique porque não é necessário impor que, para todo ,  ∈ . ⇒  ∉ .

1.8 – Diferença e complementar

Definição 1.8.1: Dados , . ⊂ - (- o conjunto universo), a diferença entre 


e ., denotada por  − . (lê-se “ menos .”) ou \., é o conjunto dado por:

 − . =
 ∈ - | ∈    ∉ .

“subtraindo” de  os elementos que pertencem a .. Mas se deve perceber que os


Essa definição concorda com a noção intuitiva de diferença, pois se está

elementos de . que não pertencem a  não interferem na diferença. Por exemplo,


se  =
1,2,3,4 e . =
3,4,5,6,7,8 ,  − . =
1,2 .

Teorema 1.8.1: Dado - um conjunto universo e , ., ; ⊂ -, tem-se que:

 − ?. ∪ ;) = ? − .) ∩ ? − ;)

Demonstração:  − ?. ∪ ;) =
 ∈ - | ∈    ∉ . ∪ ;

=
 ∈ - | ∈    ∉
 ∈ . =  ∈ ;
=
 ∈ - | ∈    ∉ .   ∉ ;
=
 ∈ - | ∈    ∉ . ∩
 ∈ - | ∈    ∉ ;
= ? − .) ∩ ? − ;)

QED
15

Corolário:  − ? ∪ .) = ∅

Teorema 1.8.2: Dado - um conjunto universo e , ., ; ⊂ -, tem-se que:

 − ?. ∩ ;) = ? − .) ∪ ? − ;)

Demonstração:  − ?. ∩ ;) =
 ∈ - | ∈    ∉ . ∩ ;

=
 ∈ - | ∈    ∉
 ∈ .   ∈ ;
=
 ∈ - | ∈   ? ∉ . =  ∉ ;)
=
 ∈ - | ∈    ∉ . ∪
 ∈ - | ∈    ∉ ;
= ? − .) ∪ ? − ;)

QED

para a terceira linha. Perceba que  não pertencer à intersecção significa que ele
A parte que pode ser confusa na demonstração é a passagem da segunda

não pertence a . e ; simultaneamente. A condição  ∉ . =  ∉ ; nos diz que,


lembrando que se trata de um “ou” inclusivo, ou  pertence a ., mas não a ;, ou 
pertence a ;, mas não a ., ou  não pertence nem a ; nem a .. De forma mais
sucinta, dado um , existem as três possibilidades seguintes:  ∈ .   ∉ ;,
 ∉ .   ∈ ; ou  ∉ .   ∉ ;. Isso é o mesmo que dizer que o elemento  não

 ∈ .   ∈ ;).
pertence à intersecção (que é a única possibilidade que não pode acontecer, a saber,

Corolário:  − ? ∩ .) =  − .

Teorema 1.8.3: ?. ∩ ;) −  = ?. − ) ∩ ?; − ), com , ., ; ⊂ - e - sendo o


conjunto universo.

Teorema 1.8.4: ?. ∪ ;) −  = ?. − ) ∪ ?; − ), com , ., ; ⊂ - e - sendo o


conjunto universo.

Exercício 1.8.1: Demonstre esses dois últimos teoremas. Faça também as


representações diagramáticas.
16

Exercício 1.8.2: Mostre que  ∩ ?. − ;) =  ∩ . −  ∩ ;.

Definição 1.8.2: Se . ⊂ , o conjunto  − . é chamado de complemento de


. em relação a . Tal conjunto é denotado por:

∁F . =  − .

como se pode ver na condição de que . ⊂ . Vemos que o complemento é o conjunto


A noção de complemento só faz sentido se um conjunto for parte de outro,

de todos os elementos de  que não pertencem a . (diagrama abaixo).

Quando se tem um conjunto universo - e se quer o complementar de um


conjunto  ⊂ - em relação a -, a notação usada é:

G = ∁H  = - − 

abaixo tomando ., ; ⊂  ⊂ -. Existem as propriedades que podem ser


Algumas propriedades elementares da complementação são apresentadas

generalizadas e isso será feito mais adiante.

Teorema 1.8.5: ?∁F .) ∩ . = ∅ e ?∁F .) ∪ . = 

Demonstração: ?∁F .) ∩ . =
 ∈ - | ∈    ∉ . ∩
 ∈ - | ∈ .

=
 ∈ - | ∈    ∉ .   ∈ . = ∅

Perceba que a conclusão foi devida ao fato de não poder existir  que
pertença a . e, ao mesmo tempo, não pertença a ..

QED

Exercício 1.8.3: Demonstre que ?∁F .) ∪ . = .

Teorema 1.8.6: ∁F  = ∅ e ∁F ∅ = 

Demonstração: ∁F  =
 ∈ - | ∈    ∉  = ∅

QED

Exercício 1.8.4: Demonstre que ∁F ∅ = .

Teorema 1.8.7: ∁F ?∁F .) = .

Demonstração: ∁F ?∁F .) =
 ∈ - | ∈    ∉ ;F .

=
 ∈ - | ∈    ∉
 ∈    ∉ .
=
 ∈ - | ∈    ∈ . = .
17

QED

O resultado é intuitivo, pois o complemento de . em relação a  ?∁F .) são


todos os elementos de  que não pertencem a . e o complemento do complemento
de . em relação a  (∁F ?∁F .)) são todos os elementos de  que não pertencem ao
complemento de .. Isto é, o próprio ..

Teorema 1.8.8: ∁F ?. ∩ ;) = ?∁F .) ∪ ?∁F ;)

Demonstração: Por definição, ∁F ?. ∩ ;) =  − ?. ∩ ;). Usando o Teorema


1.8.2:
MNOPNQR S.U.'
IJJJJJJJJJJKJJJJJJJJJJL
∁F ?. ∩ ;) =  − ?. ∩ ;) = ? − .) ∪ ? − ;) = ?∁F .) ∪ ?∁F ;)

QED

Teorema 1.8.9: ∁F ?. ∪ ;) = ?∁F .) ∩ ?∁F ;)

Exercício 1.8.5: Demonstre esse teorema e represente em forma de


diagrama. SUGESTÃO: Use o Teorema 1.8.1.

Teorema 1.8.10: Sendo ., ; ⊂ , ; − . = ; ∩ ∁F .

Demonstração: Usando o Exercício 1.8.2, temos que ; ∩ ∁F . = ; ∩


? − .) = ; ∩  − ; ∩ . = ; − ; ∩ . = ; − ..

QED

Exercício 1.8.6: Mostre que, se . ⊂ , então essa é uma inclusão própria se,
e somente se, ∁F . ≠ ∅.
18

Pode-se também apresentar as mesmas propriedades quando o complemento

G = ∁H  = - − , com  ⊂ -. Assim, as propriedades tomam a forma:


é em relação a um conjunto universo. Como já dito, nesse caso, a notação usada é

G ∩  = ∅ e G ∪  = -
- G = ∅ e ∅G = -
1)

?G )G = 
2)

? ∪ .)G = G ∩ .G
3)

? ∩ .)G = G ∪ .G
4)
5)

foi tratado (apenas usando o próprio - como subconjunto de -). As propriedades 4 e


As demonstrações já foram realizadas, pois é um caso particular do que já

5 listadas são chamadas de regras de De Morgan (Augustus De Morgan) e uma


generalização delas será feita mais adiante.

1.9 – Conjunto das partes e partição de conjuntos

Definição 1.9.1: Dado um conjunto , chamamos de conjunto das partes de


, denotado por ?), o conjunto formado por todos os subconjuntos de . Ou seja:

?) =
V| V ⊂ 

Exemplo 1.9.1: Dado  =


,  , então ?) = W
 ,
 ,
,  , ∅X, pois esses
são todos os subconjuntos que podem ser extraídos de . Também se diz que ?) é
a coleção de todos os subconjuntos de .

Antes de passar a definição de partição, é interessante que sejam definidos


os “operadores grandes” de união e intersecção.

Definição 1.9.2:
S

Y Z = S
Z[S

\ \^S

Y Z = ]Y Z _ ∪ \
Z[S Z[S

Essa definição é uma recorrência. Mas `\Z[S Z só está bem definido se


Z[S Z
`\^S está bem definido. Ou seja, para se usar
`Z[S Z = a`Z[S Z b ∪ \ , deve-se saber o que é `Z[S Z . No final das contas, essa
\ \^S \^S

definição nos permite escrever a união de  conjuntos de forma mais compacta. Se


continuarmos a recorrência até  − ? − 1) = 1, obteremos o seguinte resultado:
\

Y Z = S ∪ ' ∪ ⋯ ∪ \
Z[S
19

Uma observação a ser feita é que os conjuntos S , ' , ⋯ , \ não são

distinção foi dada pelos índices 1,2, . . . , .


necessariamente iguais. Não se usou diferentes letras para distingui-los, mas a

Exemplo 1.9.2: Seja S =


, ,  , ' =
, 1,2 e & =
, , c, d, e . A união
desses conjuntos é:
&

Y Z = S ∪ ' ∪ & =
, , , 1,2, c, d, e
Z[S

Definição 1.9.3:
S

f Z = S
Z[S

\ \^S

f Z = ]f Z _ ∩ \
Z[S Z[S

A discussão desse operador é inteiramente análoga a do anterior. Apenas


repitamos a seguinte observação:
\

f Z = S ∩ ' ∩ ⋯ ∩ \
Z[S

Exemplo 1.9.3: Usando os mesmos conjuntos S , ' e & do Exemplo 1.9.2:


&

f Z = S ∩ ' ∩ & =

Z[S

Antes da definição, convencionemos que os elementos do conjunto g, que


vamos definir, são chamados de Z (eventualmente h ) com  (ou i) podendo ser
qualquer número natural de 1 até  (sendo  o número de elementos de g). Dessa
forma, índices diferentes indicam elementos distintos de g.

Observação importante: Será visto no capítulo seguinte que existe a


possibilidade de índices distintos corresponderem a um mesmo elemento do
conjunto. Então convencionaremos que será admitida a possibilidade de índices
distintos referirem a elementos iguais somente quando chamarmos o conjunto de
família (família de elementos ou família de conjuntos).

Definição 1.9.4: Uma partição de  é um conjunto g formado de


subconjuntos não vazios Z de  tal que as seguintes propriedades sejam
satisfeitas:

a) Se Z , h ∈ g e  ≠ i, então Z ∩ h = ∅.
b) Sendo  o número de subconjuntos de  que existem na partição g, `\Z[S Z =
.
20

condição diz que, dados dois elementos (subconjuntos de ) quaisquer que


Alguns comentários podem tornar a definição mais clara. A primeira

pertençam à partição g, se não se trata do mesmo elemento (que é o significado de


 ≠ i), então esses elementos são disjuntos. Ou seja, um elemento de g é disjunto de
todos os outros elementos de g (diz-se que os elementos são disjuntos aos pares). A

elementos de g resulta no próprio .


segunda condição simplesmente afirma que a união (disjunta) de todos os

Perceba que uma partição de  “divide” (particiona)  em uma coleção de


subconjuntos disjuntos uns dos outros. Observemos também que g ⊂ ?) e que

partição de .
essa inclusão é própria. Abaixo está apresentado o diagrama de uma possível

Exemplo 1.9.4: Dado  =


, ,  , uma partição possível é g = W
,  ,
 X.
Mas também poderia ser g′ = W
 ,
 ,
 X. No entanto nem . = W
 ,
 X nem
; = W
,  ,
,  X são partições de .

Exercício 1.9.1 (importante): Se uma coleção de subconjuntos de , k,


possui a propriedade: para cada  ∈ ,  pertence a um, e somente um, Z ∈ k,
mostre que k é uma partição de . Mostre também que há recíproca. Ou seja, que,
se k é uma partição de  (pela definição 1.9.4), k possui a propriedade apresentada
na primeira parte desse exercício. Observação: Cada elemento de k é notado por Z ,
com as mesmas convenções prévias adotadas para g.

1.10 – Diferença simétrica

Definição 1.10.1: Dados , . ⊂ -, a diferença simétrica entre  e .,


simbolizada por ∆., é o conjunto dado por:

∆. =
 ∈ - | ∈  ∪ .   ∉  ∩ .

De forma equivalente: ∆. =  ∪ . −  ∩ ..

Isto é, a união dos conjuntos, mas tirando os elementos da intersecção.


21

Exercício 1.10.1: Mostre que ∆. = ? − .) ∪ ?. − ) é uma definição


equivalente para a diferença simétrica.

tomando - como conjunto universo e , . e ; conjuntos arbitrários. As


Abaixo estão listadas as principais propriedades da diferença simétrica

demonstrações delas são deixadas como exercício.

Teorema 1.10.1: ∆. = .∆ (comutatividade)

Teorema 1.10.2: ?∆.)∆; = ∆?.∆;) (associatividade)

Teorema 1.10.3: ∆∅ =  (elemento neutro)

Teorema 1.10.4: ∆ = ∅

Teorema 1.10.5:  ∩ ?.∆;) = ? ∩ .)∆? ∩ ;) (distributividade da


intersecção em relação à diferença simétrica)

Teorema 1.10.6: ∆. ⊂ ?∆;) ∪ ?.∆;)

Exercício 1.10.2: Demonstre os teoremas acima. Represente os diagramas


correspondentes. SUGESTÃO: Leia a estratégia apresentada na subsecção seguinte
para demonstrar igualdades entre conjuntos.

1.11 – Generalizações

Agora generalizaremos alguns teoremas apresentados durante essa secção.


A indicação entre parênteses no início de cada teorema será referente ao teorema
que se está generalizando.

Teorema 1.11.1 (1.8.1): Seja  um conjunto e ℬ uma família arbitrária


(qualquer) de conjuntos .Z , com  podendo tomar valores naturais de 1 até , ou
seja, existem  conjuntos na família ℬ (o índice faz a distinção entre os conjuntos).
Então:
\ \

 − Y .Z = f? − .Z )
Z[S Z[S

Demonstração: Se  ∈ ? − `\Z[S .Z ), então  ∉ `\Z[S .Z , afinal,  pertence a


 tirando os elementos de todos os .Z . Assim, também se conclui que  ∉ .Z para
todo  de 1 até  (se não pertence à união dos conjuntos, não pertence a nenhum
conjunto da união). Mas  pertence a  e, assim, sempre temos que  ∈ ? − .Z )
para qualquer  de 1 até . Se isso acontece,  pertence à intersecção de todos os
conjuntos ? − .Z ), pois  pertence a cada um desses conjuntos. Concluímos, então,
que  ∈ ?n\Z[S? − .Z )). Ou seja, se  ∈ ? − `\Z[S .Z ), então  ∈ ?n\Z[S? − .Z )). Mas
isso não prova a igualdade, o que acabamos de mostrar é que  − `\Z[S .Z ⊂
n\Z[S? − .Z ), como se pode ver pela definição de subconjunto.

Mostremos agora a recíproca. Se  ∈ ?n\Z[S? − .Z )), então  não pertence a


nenhum conjunto .Z , pois, se pertencesse existiria  tal que  ∈ .Z e, então, não
22

pertenceria a  − .Z para esse  em particular, o que levaria a concluir que  não


pertence a intersecção dada. Dessa forma, com  não pertencendo a nenhum .Z , 
não pertence à união deles, ou seja,  ∉ `\Z[S .Z . Assim,  ∈ ? − `\Z[S .Z ). Isso
mostra que  ∈ ?n\Z[S? − .Z )) implica  ∈ ? − `\Z[S .Z ). Pela definição de
subconjunto, acabamos de mostrar, nessa parte da demonstração, que n\Z[S? −
.Z ) ⊂ ? − `\Z[S .Z ). Ora, mostramos logo acima que  − `\Z[S .Z ⊂ n\Z[S? − .Z ) e,
então, juntando as duas informações e tendo o Teorema 1.6.3, concluímos que:
\ \

 − Y .Z = f? − .Z )
Z[S Z[S

QED

Até agora demonstramos igualdades entre conjuntos de forma direta.


Simplesmente partíamos do conjunto inicial e seguíamos por igualdades até o
conjunto que se queria demonstrar a igualdade. Essa forma torna a recíproca
imediata, pois basta seguir as igualdades no caminho inverso. Mas, de forma geral,
provar diretamente igualdades entre conjuntos pode ser muito complicado e a
estratégia acima, de provar primeiro que um conjunto é subconjunto do outro e,
depois, a recíproca, pode tornar o trabalho mais simples. Fica como sugestão que,
ao tentar demonstrar a igualdade entre conjuntos, se use a estratégia apresentada
acima.

Corolário (1.8.9): Sendo  um conjunto qualquer e ℬ uma família de


subconjuntos .Z de  (com  podendo tomar valores naturais de 1 até ), tem-se que:
\ \

∁F ]Y .Z _ = f?∁F .Z )
Z[S Z[S

Teorema 1.11.2 (1.8.2): Seja  um conjunto e ℬ uma família arbitrária


(qualquer) de conjuntos .Z , com i podendo tomar valores naturais de 1 até . Então:
\ \

 − f .Z = Y? − .Z )
Z[S Z[S

Demonstração: Se  ∈ ? − n\Z[S .Z ), então  ∉ n\Z[S .Z . Assim, para ao


menos um ,  ∉ .Z , pois se pertencesse a todos os .Z , pertenceria à intersecção
n\Z[S .Z . Dessa forma se pode concluir que  pertence a ? − .Z ) para algum . Então
 ∈ `\Z[S? − .Z ). Logo,  ∈ ? − n\Z[S .Z ) implica  ∈ `\Z[S? − .Z ). Como antes, isso

? − n\Z[S .Z ) ⊂ `\Z[S? − .Z ).
ainda não conclui a demonstração, pois o que mostramos, na verdade, é que

A recíproca é um caminho de retorno pelo raciocínio feito acima. Se  ∈


`\Z[S? − .Z ),  pertence a ? − .Z ) para algum , pois, se não pertencesse a nenhum
? − .Z ), não pertenceria à união desses conjuntos. Dessa forma,  ∉ .Z para algum
23

. Podemos concluir, então, que  ∉ n\Z[S .Z , pois existe .Z ao qual  não pertence.
Assim, sabendo que  pertence a ,  ∈ ? − n\Z[S .Z ). Ou seja,  ∈ `\Z[S? − .Z )
implica  ∈ ? − n\Z[S .Z ). Logo, `\Z[S? − .Z ) ⊂ ? − n\Z[S .Z ). Chagamos finalmente,
tendo demonstrado essa inclusão e a anterior, que:
\ \

 − f .Z = Y? − .Z )
Z[S Z[S

QED

Corolário (1.8.8): Sendo  um conjunto qualquer e ℬ uma família de


subconjuntos .Z de  (com  podendo tomar valores naturais de 1 até ), tem-se que:

\ \

∁F ]f .Z _ = Y?∁F .Z )
Z[S Z[S

Exercício 1.11.1: Demonstre os corolários apresentados. SUGESTÃO: use os


teoremas 1.11.1 e 1.11.2.

Quando  é o conjunto universo, usando a notação já apresentada para a


complementação em relação ao conjunto universo, os corolários apresentados
tomam a forma:
\ G \

]f .Z _ = Y?.Z G )
Z[S Z[S

e
\ G \

]Y .Z _ = f?.Z G )
Z[S Z[S

Teorema 1.11.3 (1.8.3): Seja  um conjunto e ℬ uma família arbitrária de


conjuntos .Z , com  podendo tomar valores naturais de 1 até . Então:
\ \

]f .Z _ −  = f?.Z − )
Z[S Z[S

Teorema 1.11.4 (1.8.4): Sendo  um conjunto e ℬ uma família arbitrária de


conjuntos .Z , com  podendo tomar valores naturais de 1 até , tem-se que:
\ \

]Y .Z _ −  = Y?.Z − )
Z[S Z[S

Teorema 1.11.4 (1.7.8): Dado o conjunto  e uma família ℬ arbitrária de


conjuntos .Z , com  podendo tomar valores naturais de 1 até , tem-se que:
24

\ \ \ \

 ∪ f .Z = f? ∪ .Z )   ∩ Y .Z = Y? ∩ .Z )
Z[S Z[S Z[S Z[S

Esse último teorema é a generalização das leis distributivas do Teorema


1.7.8.

Exercício 1.11.2: Demonstre esses últimos três teoremas.

As generalizações apresentadas aqui ainda não são as mais gerais possíveis.


As demonstrações dos casos mais gerais são quase idênticas às feitas para esses
casos menos gerais, mas não faremos tais generalizações aqui, pois falta a
apresentação de conceitos que permitem entendê-las.

Exercícios I – 1
1 – Represente os seguintes conjuntos listando seus elementos.

a) Conjunto dos cinco primeiro números primos.


b) Conjunto dos números naturais pares.
c) Conjunto das letras da palavra “matemática”.

2 – Indique quais dos conjuntos abaixo são vazios.

 =
 ∈ ℕ | − 1 −  > 0
 =
 ∈ ℤ |  ∙ 0 = 1
a)

 =
 ∈ ℕ |  − 1 > 0
b)

 =
 ∈ ℕ |  > 3   > 4
c)
d)

3 – Dados  =
, , 3,4,5 , . =
, 4,6,7,8, , r e ; =
, 3,4, , r , dê os
conjuntos abaixos.

∪;
.∩;
a)

. ∪ ? ∩ ;)
b)

?. ∪ ) ∩ ;
c)

∆;
d)

. ∩ ?.∆)
e)
f)

4 – Seja  =
1,2,3,4,5,6 , . =
2,3,4 , ; =
3,4,5,6 e s =
3,4 . Represente os
seguintes conjuntos por uma lista de elementos e por diagramas de Euler-Venn.

∁F .
∁t s
a)

∁F ?. ∪ ;)
b)

?∁F .) ∪ ;
c)

?∁F .) ∩ ?∁F ;)
d)

?∁t s) ∪ ?∁u s)
e)

∁F ?.∆;)
f)
g)
25

5 – Sendo S =
1,2,3,4,5,6 , ' =
4,5,6,7,8,9 , & =
4,9,10 e w =
1,4,10 ,
represente os seguintes conjuntos:

a) `wZ[S Z
b) nwZ[S Z
c) `&Z[S?Z ∩ ZxS )
d) `&Z[S?Z ∆ZxS )

6 – Dado o conjunto  =
, ,  , represente o conjunto ?) (conjunto das
partes de ) e dê dois exemplos de partições de ?).

7 – Dados os conjuntos  =
1,2,3,4,5,6 , . =
2,4,6,8 , ; =
4,6,8,10 e
s =
6,8,10 , encontre:

a) ? − .) ∪ ? − ;) ∪ ? − s)
b) ? − .) ∩ ? − ;) ∩ ? − s)

SUGESTÃO: Use os teoremas 1.11.1 e 1.11.2.

8 – A Teoria “Ingênua” dos Conjuntos permite que se defina o seguinte


conjunto:

 =
. | . ∉ .

Mas surge um problema ao se definir esse conjunto, chamado de Paradoxo


de Russell. Esse paradoxo mostrou que a formulação original da teoria dos
conjuntos, a “ingênua”, (de Cantor e Frege), levava a contradições. No entanto esse
problema é evitado na teoria de conjuntos moderna, a Teoria Axiomática dos
Conjuntos. Você consegue identificar o paradoxo?

9 – Encontre o conjunto V tal que


1,2,3,4 ∪ V =
1,2,3,4,5 ,
3,4 ∪ V =

1,3,4,5 e
2.3.4 ∩ V =
3 .

10 – Sejam V e y conjuntos disjuntos e z =


, ,  . Sabe-se que z ⊂ V ∪ y,
;{∪| z =
, , }, ~ e V∆z =
, , } . Encontre os conjuntos V e y.

11 – Demonstre os seguintes teoremas:

a)  ∪ . =  ∩ . se, e somente se,  = ..


b) Se  ⊂ ., então  ∪ ; ⊂ . ∪ ; e  ∩ ; ⊂ . ∩ ; qualquer que seja ;.
c) Se  ⊂ ; e . ⊂ s, então  ∪ . ⊂ ; ∪ s. SUGESTÃO: Perceba que, usando o
resultado do exercício anterior, que se pode fazer  ∪ . ⊂ ; ∪ ..
d) Se  ⊂ ., então ?) ⊂ ?.) com ?) = ?.) se, e somente se,  = ..
SUGESTÃO: O resultado é imediato para  = ., então mostre, supondo que
a inclusão  ⊂ . seja própria, que ?) ⊂ ?.) é uma inclusão própria.

12 – Seja ℬ uma família arbitrária de conjuntos .Z com  podendo tomar


valores naturais de 1 até . Sendo  um conjunto arbitrário, mostre que:
26

\ \ \ \

Y f? − .Z )€ =  − f Y .Z €
h[S Z[h h[S Z[h

SUGESTÃO: Use os teoremas 1.11.1 e 1.11.2 e, quando for conveniente,


chame `\Z[h .Z = h . Tome `\Z[h .Z = `Z[S .hx?Z^S) e n\Z[h? − .Z ) = nZ[S a −
?\xS)^h ?\xS)^h

.hx?Z^S) )

13 – Sendo ℬ uma família arbitrária de conjuntos .Z com  podendo tomar


valores naturais de 1 até  e k outra família arbitrária de conjuntos h com i
podendo tomar valores naturais de 1 até , mostre que:

\ Q \ Q Q \

Y ‚Y?h ∩ .Z )ƒ = ]Y .Z _ ∩ Y h € = Y „Y?.Z ∩ Z )…
Z[S h[S Z[S h[S h[S Z[S

\ Q \ Q Q \

f ‚f?h ∪ .Z )ƒ = ]f .Z _ ∪ f h € = f „f?.Z ∪ Z )…
Z[S h[S Z[S h[S h[S Z[S

Eliminando os colchetes, podemos escrever o teorema como sendo:

\ Q \ Q Q \

Y Yah ∩ .Z b = ]Y .Z _ ∩ Y h € = Y Yah ∩ .Z b
Z[S h[S Z[S h[S h[S Z[S

\ Q \ Q Q \

f fah ∪ .Z b = ]f .Z _ ∪ f h € = f fah ∪ .Z b
Z[S h[S Z[S h[S h[S Z[S

SUGESTÃO: Use o Teorema 1.11.4 diversas vezes.

2 – Pares Ordenados e Produto Cartesiano


2.1 – Par ordenado

Um par ordenado é uma lista de dois elementos,  e , denotado por ?, )


com ,  ∈ V (V um conjunto genérico), onde existe distinção entre ser o primeiro
elemento (no caso: ) ou o segundo (no caso: ). Ou seja, ?, ) não é o mesmo que
?, ). Em outras palavras, ?, ) = ?, ) se, e somente se,  =  e  = . É comum
que se chame o primeiro elemento do par de primeira coordenada e o segundo de
segunda coordenada.
27

Essa apresentação de par ordenado é intuitiva, mas não é formal. No


entanto vamos tomá-la, sem necessidade de uma apresentação formal do conceito
de par ordenado, durante o texto.

2.2 – Produto cartesiano

Definição 2.2.1: Dados dois conjuntos,  e ., chamamos de produto


cartesiano de  por ., denotado por  × ., o conjunto de todos os pares ordenados
?, ) tal que  ∈  e  ∈ .. De forma mais sucinta:

 × . =
?, ) |  ∈    ∈ .

Uma observação que podemos fazer é que, em geral,  × . ≠ . × . Isso


porque, como visto logo acima, em geral, ?, ) não é o mesmo que ?, ), pois a

todos os pares ?, ), com  ∈  e  ∈ ., não é o mesmo que o formado por todos os
ordem dos elementos é diferente. Dessa forma, em geral, o conjunto formado por

pares ?, ), com  ∈ . e  ∈ . Outra observação é que o produto cartesiano faz
sentido quaisquer que sejam os conjuntos  e . (podendo esses até serem produtos
cartesianos entre outros conjuntos).

Quando se tem o produto cartesiano entre conjuntos iguais, usa-se mais


comumente a seguinte notação:

 ×  = '

Se, no produto cartesiano  × .,  ou . forem vazios, o produto cartesiano


de  por . é definido como sendo o conjunto vazio. Ou seja:

 × ∅ = ∅, ∅ × . = ∅  ∅ × ∅ = ∅

peguemos dois conjuntos,  e ., finitos definidos como  =


,  e . =
1,2 . O
Exemplo 2.2.1: Para fixar a idéia de conjunto de pares ordenados,

produto cartesiano  × . é dado pelo conjunto:

 × . =
?, 1), ?, 2), ?, 1), ?, 2)

Exercício 2.2.1: Faça o conjunto . ×  tomando  e . definidos como no


exemplo acima.

Exemplo 2.2.2: O produto cartesiano ℝ × ℝ = ℝ' (produto cartesiano entre


o conjunto dos reais e ele próprio) é o conjunto de todos os pares ordenados ?, ‡)
onde o primeiro elemento é um número real ( ∈ ℝ) e o segundo também é (‡ ∈ ℝ).
Uma forma de representação desse conjunto é o plano cartesiano, onde os pares

Percebemos que ainda é válido, de forma geral, que um par ?, ) não é o mesmo
ordenados são pares de coordenadas que indicam a posição de um ponto no plano.

que ?, ), como pode-se ver na representação abaixo.


28

Tendo , . e ; conjuntos arbitrários, seguem os teoremas abaixo.

união e intersecção. Ou seja,  × ?. ∪ ;) = ? × .) ∪ ? × ;) e  × ?. ∩ ;) =


Teorema 2.2.1: O produto cartesiano é distributivo à esquerda em relação à

? × .) ∩ ? × ;).

Demonstração: Pela definição:

 × ?. ∪ ;) =
?, ‡) |  ∈   ‡ ∈ . ∪ ;
=
?, ‡) |  ∈   ?‡ ∈ . = ‡ ∈ ;)
=
?, ‡) | ? ∈   ‡ ∈ .) = ? ∈   ‡ ∈ ;)
=
?, ‡) |  ∈   ‡ ∈ . ∪
?, ‡) |  ∈   ‡ ∈ ;
= ? × .) ∪ ? × ;)

QED

união e intersecção. Ou seja, ?. ∪ ;) ×  = ?. × ) ∪ ?; × ) e ?. ∩ ;) ×  =


Teorema 2.2.2: O produto cartesiano é distributivo à direita em relação à

?. × ) ∩ ?; × ).

Demonstração: Pela definição:

?. ∪ ;) ×  =
?, ‡) |  ∈ . ∪ ;  ‡ ∈ 
=
?, ‡) | ?‡ ∈ . = ‡ ∈ ;)  ‡ ∈ 
=
?, ‡) | ? ∈ .  ‡ ∈ ) = ? ∈ ;  ‡ ∈ )
=
?, ‡) |  ∈ .  ‡ ∈  ∪
?, ‡) |  ∈ ;  ‡ ∈ 
= ?. × ) ∪ ?; × )

QED

Exercício 2.2.2: Demonstre a parte referente à intersecção nos dois teoremas


acima.

diferença. Ou seja, dados , . e ; quaisquer,  × ?. − ;) =  × . −  × ;.


Teorema 2.2.3: O produto cartesiano é distributivo à esquerda em relação à

Demonstração: Pela definição:


29

 × ?. − ;) =
?, ‡)|  ∈   ‡ ∈ ?. − ;)
=
?, ‡)|  ∈   ‡ ∈ .  ‡ ∉ ;
=
?, ‡)|  ∈   ‡ ∈ .   ∈   ‡ ∉ ;
=
?, ‡)|  ∈   ‡ ∈ . −
?, ‡)|  ∈   ‡ ∈ ;
=×.−×;

QED

A passagem da terceira para a quarta linha se deu pelo fato de  pertencer a


, mas ‡ não pertencer a ; implica que o par ?, ‡) que pertence a  × ?. − ;) não
pertence a  × ;.

Exercício 2.2.3: Demonstre que há também distributividade pela direita.

Existe a necessidade de se demonstrar a distributividade pela esquerda e


pela direita (separadamente) devido ao fato do produto cartesiano não ser
comutativo. Mas, mais rigorosamente, devemos ver que chamar essas propriedades
de distributividade foi um abuso de linguagem, pois as operações união, intersecção
e diferença não tem como resultado conjuntos de pares ordenados entre os
conjuntos considerados ao passo que o produto cartesiano tem. Vemos que, no caso
dos números reais, onde se tem a distributividade da multiplicação em relação à
soma, tanto a multiplicação quanto a adição possuem como resultados números
reais.

Teorema 2.2.4: Sendo , ., ; e s conjuntos, temos ? × .) ∪ ?; × s) ⊂


? ∪ ;) × ?. ∪ s).

Demonstração: Mostremos que  × . ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s). ?, ) ∈  × . se,


e somente se,  ∈  e  ∈ .. Mas  ⊂  ∪ ; qualquer que seja ; e . ⊂ . ∪ s para
qualquer s. Ou seja, para todo  ∈  e  ∈ .,  ∈  ∪ ; e  ∈ . ∪ s. Dessa forma,
?, ) ∈ ? ∪ ;) × ?. ∪ s) pela definição de produto cartesiano. Segue, então, que
 × . ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s). De forma inteiramente análoga, se conclui que ; × s ⊂
? ∪ ;) × ?. ∪ s) e, sabendo que a operação de união é fechada, ? × .) ∪ ?; × s) ⊂
? ∪ ;) × ?. ∪ s) (tome ? ∪ ;) × ?. ∪ s) como conjunto universo e consulte o
Teorema 1.7.3).

QED

Exercícios I – 2
1 – Seja  =
, 2,  e . =
1, , e ; =
, , 3 , represente os seguintes
conjuntos:

×.
.×
a)

? × .) ∩ ?; × .)
b)

;×.
c)

?. × ) × .
d)
e)
30

2 – Mostre que ? × .) ∩ ?. × ) = ? × ) ∩ ?. × .) = ' ∩ .' . SUGESTÃO:


Parta da definição de produto cartesiano.

3 – Mostre que ? ∩ .)' = ' ∩ .' e conclua que ? × .) ∩ ?. × ) = ? ∩ .)' .


SUGESTÃO: Use o resultado do exercício anterior.

4 – Sendo  =
1,2,3,4,5 e . =
4,5,6,7,9 , use o resultado do exercício
anterior para obter ? × .) ∩ ?. × ).

5 – Demonstre que, se  ⊂ ., então, para qualquer ;,  × ; ⊂ . × ;.

6 – Mostre que, sendo , ., ; e s conjuntos, ? × ;) ∩ ?. × s) = ? ∩ .) ×


?; ∩ s) (veja que o resultado do exercício 3 é um corolário desse caso mais geral).

3 – Noção de Cardinalidade
3.1 – Cardinalidade de alguns conjuntos finitos

Inicialmente vamos nos ater a uma noção intuitiva de cardinalidade, pois,


para uma definição mais formal e geral, é necessária a introdução do conceito de
função e os números naturais, que não foram apresentados.

Tendo um conjunto finito, é natural que se queira saber quantos elementos


ele possui. Ou seja, contar o número de elementos. Quando contamos (número de

elemento contado. Ou seja, chamamos o primeiro contado de 1 e prosseguimos na


fotos de um álbum, por exemplo), associamos números naturais sucessivos a cada

seqüência – 2,3, . . . ,  – até chegar no último elemento. O número natural associado


ao último objeto contado nos dá o número de elementos do conjunto que se estava
contando e chamamos esse número de cardinalidade do conjunto ou número
cardinal do conjunto.

Se  é um conjunto finito, denotamos por || a cardinalidade de . Essa é o


número natural  (|| =  ∈ ℕ) que indica a quantidade de elementos do conjunto
.

Teorema 3.1.1: Se  e . são conjuntos finitos e . ⊂ , então |.| ≤ || com


|.| = || se, e somente se,  = ..

Esse resultado é intuitivo, pois todos os elementos de . pertencem a  e,


assim, o número de elementos de . não pode ultrapassar o de .

Teorema 3.1.2: Se  e . são conjuntos finitos, então:

| ∪ .| = || + |.| − | ∩ .|

Em particular, se  ∩ . = ∅, então | ∪ .| = || + |.| − |∅| = || + |.|, pois a


cardinalidade do conjunto vazio é 0 (e é o único conjunto com cardinalidade 0). Tal
resultado é intuitivo, pois, se não há elementos compartilhados entre os conjuntos,
31

a união deles terá um número de elementos igual à soma do número de elementos


de cada conjunto.

Teorema 3.1.3: Se  é um conjunto finito com || = , então ?) (conjunto


das partes de ) possui 2\ elementos. Ou seja, |?)| = 2\ .

Teorema 3.1.4: Se  e . são conjuntos finitos e || =  e |.| = , então:

| × .| =  ∙ 

Teorema 3.1.5: Sendo  e . conjuntos finitos, temos | − .| = || − | ∩ .|.


Em particular, se . ⊂ , então | − .| = |∁F .| = || − |.|.

temos uma definição rigorosa do que significa um conjunto finito possuir 


A demonstração desses teoremas será feita no Capítulo III, pois ainda não

resultados. No Teorema 3.1.2, pode-se ver que, ao tomar || + |.|, nessa soma se
elementos. Mas podemos dar algumas justificativas não rigorosas para esses

está contando duas vezes os elementos da intersecção e, assim, para ter o número

intersecção. Já no Teorema 3.1.4, pode-se ver que, para cada elemento de , esse
correto de elementos da união, deve-se subtrair uma vez a cardinalidade da

forma um par ordenado com cada um dos  elementos de .. Como existem 


\ ˆN‰NŠ
IJJJJKJJJJL
elementos em , o número total de pares ordenados será  +  + ⋯ +  =  ⋅ . O

contando os elementos que pertencem a  e . simultaneamente. Para o Teorema


Teorema 3.1.5 pode ser entendido imediatamente, pois se está simplesmente não

3.1.3 não há uma justificativa simples, mas uma demonstração relativamente


simples é dada no Capítulo III (Teorema 2.7.3).

3.2 – Alguns exemplos

Exemplo 3.2.1: Sendo  e . conjuntos finitos tais que  ⊂ ., | ∩ .| = 3 e


| × .| = 27, qual a cardinalidade de  e de .?

Resolução: Pelo Teorema 1.7.5, se  ⊂ ., então  ∩ . = . Assim, | ∩ .| =


|| = 3. Pelo Teorema 3.1.4, | × .| = || ∙ |.| = 3 ∙ |.| = 27. Ou seja, |.| = 27Œ3 = 9,
completando a resolução.

Exemplo 3.2.2: Numa cidade circulam três jornais diferentes (jornais ,  e


). Ao se entrevistar 2000 moradores, se descobriu que 400 lêem o jornal , 800
lêem o jornal , 500 lêem o jornal , 200 dos que lêem o jornal  também lêem o
jornal , 100 dos que lêem o jornal  lêem também o jornal  e nenhum dos que
lêem o jornal  lêem o jornal . Quantos dos entrevistados não lêem nenhum dos
três jornais?

Resolução: Devemos transformar esse problema em um problema de


encontrar a cardinalidade do conjunto dos entrevistados que não lêem nenhum dos

(chamaremos de conjunto .), cuja cardinalidade é |.| = 2000. A cardinalidade do


três jornais. Claramente, o nosso conjunto universo é o dos entrevistados
32

conjunto dos entrevistados que lêem o jornal  (chamaremos de conjunto .R ) é


|. | = 400, dos que lêem o jornal  (chamaremos de conjunto . ) é |. | = 800 e dos
que lêem o jornal  (chamaremos de conjunto .G ) é |. | = 500. Mas, como não
existem pessoas que lêem o jornal  e  simultaneamente, |. ∩ . | = 0, pois a

conjunto . ∪ . é |. ∪ . | = |. | + |. | = 400 + 500 = 900. Queremos saber


intersecção é vazia. Dessa forma, usando o Teorema 3.1.2, a cardinalidade do

nenhum). Então, devemos encontrar a cardinalidade de .R ∪ . ∪ .G . Usando o


quantas pessoas lêem algum jornal (para ser possível dizer quantas não lêem

Teorema 3.1.2, temos que:

|.R ∪ . ∪ .G | = |. ∪ ?.R ∪ .G )| = |. | + |.R ∪ .G | − |. ∩ ?.R ∪ .G )|

Sabemos a cardinalidade de . e de .R ∪ .G , mas não sabemos a


cardinalidade de . ∩ ?.R ∪ .G ). Usando a distributividade da intersecção em
relação à união: . ∩ ?.R ∪ .G ) = ?. ∩ .R ) ∪ ?. ∩ .G ). Assim, a cardinalidade dessa
intersecção é:

|?. ∩ .R ) ∪ ?. ∩ .G )|= |?. ∩ .R )| + |?. ∩ .G )| − |?. ∩ .R ) ∩ ?. ∩ .G )|


= |?. ∩ .R )| + |?. ∩ .G )| − |. ∩ .R ∩ . ∩ .G |
= |?. ∩ .R )| + |?. ∩ .G )| − |. ∩ . ∩ ?.R ∩ .G )|

Juntamos a intersecção de .R com .G porque já sabemos que essa é vazia, o


que garante que |. ∩ . ∩ ?.R ∩ .G )| = |. ∩ . ∩ ∅| = |∅| = 0. Já |?. ∩ .R )| é o
número de leitores que lêem tanto o jornal  quanto o , ou seja, 200 e |?. ∩ .G )| é
o número de leitores que lêem tanto o jornal  quanto o , que é 100, segue, então,
que |. ∩ ?.R ∪ .G )| = |?. ∩ .R ) ∪ ?. ∩ .G )| = 200 + 100 = 300. Voltando à união
.R ∪ . ∪ .G , temos agora que a cardinalidade dessa união é:

|. | + |.R ∪ .G | − |. ∩ ?.R ∪ .G )| = 800 + 900 − 300 = 1400

Sabendo que a união .R ∪ . ∪ .G é subconjunto do conjunto universo . e


que o complemento dessa união, ?.R ∪ . ∪ .G )G , é o conjunto dos entrevistados que
não lêem nenhum dos jornais, temos que a cardinalidade desse complemento dá o
número de pessoas que não lêem nenhum dos jornais. Usando o Teorema 3.1.5,
temos:

|?. ∪ . ∪ . ) | = |.| − |. ∪ . ∪ . | = 2000 − 1400 = 600

Ou seja, 600 entrevistados não lêem nenhum dos jornais.

Não é realmente necessário que a resolução seja feita de forma tão


cuidadosa (talvez preciosista) como foi feita acima, mas foi feita de tal maneira
para mostrar que o resultado foi obtido inteiramente através das propriedades dos
conjuntos.

Uma forma mais simples de tratar o problema é usando diagramas de


Euler-Venn. Para descobrir a solução, representamos os conjuntos na forma de
diagramas e damos valores correspondentes às cardinalidades às partes dos
conjuntos. O diagrama abaixo representa o problema anterior.
33

Vemos que, para cada área limitada (que não pode ser cortada por nenhuma
linha), se atribui um valor (a cardinalidade). O procedimento, nesse caso, é atribuir
valores às intersecções e só depois atribuir valores às partes dos conjuntos que não
fazem parte das intersecções. Tal procedimento é válido mesmo que não se conheça
a cardinalidade de alguma intersecção, pois se pode atribuir alguma incógnita à
cardinalidade da intersecção. O exemplo abaixo ilustra isso.

terças ou quintas. 60% dos alunos fazem às terças e 75% fazem às quintas. Qual a
Exemplo 3.2.3: Numa escola, os alunos podem fazer educação física às

percentagem dos alunos que fazem tanto quinta quanto terça?

Resolução: A percentagem total deve ser claramente 100%. Comecemos a

 e dos que fazem às quintas de  e colocando uma incógnita, , no lugar da


completar o diagrama do problema chamando o conjunto dos que fazem às terças de

percentagem da intersecção.

A percentagem da parte do conjunto  que não faz parte da intersecção é


60% −  e a da parte de  que não faz parte da intersecção é 75% − . Coloquemos
essas informações no diagrama.

A soma dessas percentagens deve ser 100%. Assim:


34

?60% − ) +  + ?75% − ) = 100%

60% + 75% −  = 100%

 = 60% + 75% − 100% = 135% − 100% = 35%

Ou seja, 35% dos alunos fazem educação física às terças e quintas.

Não se usou diretamente a cardinalidade dos conjuntos (não sabemos de


quantos alunos o problema trata), mas, mesmo assim, é possível trabalhar apenas

deve dar 100%).


com a percentagem da cardinalidade associada ao conjunto (lembrando que o total

Exercícios I – 3
1 – Sejam  e . conjuntos finitos com | ∪ .| − | − .| = 4, | ∪ .| +
| − .| = 10. Quanto são as cardinalidades | ∪ .| e | − .|? É possível determinar
as cardinalidades de  e . a partir das informações dadas?

2 – Sabendo que | × .| = 6, . ⊂  e
?2, −1), ?−1,1) ⊂  × ., dê o conjunto
 × . listando seus elementos.

3 – Se  e . são finitos e disjuntos com | ∪ .| = 5, | × .| = 6 e || > |.|,


qual a cardinalidade de  e de .?

4 – Sendo  e . conjuntos finitos, mostre que |∆.| = | ∪ .| − | ∩ .| =


|| + |.| − 2| ∩ .|.

5 – Considere os conjuntos  e . finitos. Sabe-se que | × ?. − )| = 15,


|| = 3 e |∆.| = 8. Qual a cardinalidade de  ∩ . e qual a cardinalidade de .?
SUGESTÃO: Use o resultado do exercício anterior.

6 – Sendo  =
, , ,  , quantos subconjuntos de  possuem  ou ?

7 – Sendo || + |.| = 7 e | ∩ .| = 2, dê a cardinalidade de ?∆.) e


a?∆.)b.

8 – Sejam  e . conjuntos finitos. Sabendo que | ∪ .| ≤ 2|.| e | × .| >


|.|' , mostre que  e . não são disjuntos.

9 – Sendo , ., ; e s conjuntos finitos tais que | ∩ ;| = 5 e |. ∩ s| = 7, qual


a cardinalidade de ? × .) ∩ ?; × s)? SUGESTÃO: Consulte o exercício 6 da secção
anterior.

10 – Uma pesquisa de mercado, sobre as marcas de sabão em pó , . e ;,


mostrou os seguintes resultados:
35

a) Qual a percentagem de consultados que usam apenas a marca ?


b) Quanto vale a percentagem dos que usam apenas a marca ; entre os

c) Qual a percentagem de usuários consultados que usam as marcas  e ;, mas


consultados?

não usam a .?
d) Qual a percentagem de consultados que não usam nenhuma das três
marcas?

11 – Num clube de natação e tênis, o número de pessoas que praticam


natação é o dobro do que praticam tênis e um terço dos que praticam tênis também
praticam natação. Sabendo que 30 pessoas praticam tênis, quantas pessoas
praticam tanto natação quanto tênis e quantas praticam somente natação?

12 – Numa escola, os alunos podem estudar espanhol, português, inglês e


francês. Sabe-se que todos devem estudar português e podem estudar, no máximo,
duas línguas além do português. Também se sabe que nenhum dos que estudam
francês estuda espanhol. Além disso, apenas metade dos que estudam português
estuda alguma das outras línguas e, dessa metade, 2/3 estuda inglês, 1/3 estuda
espanhol e 1/3 estuda francês, sendo que o número de pessoas que estudam inglês e
espanhol (simultaneamente) é igual ao que estudam inglês e francês (também
simultaneamente). Qual fração do total:

a) estuda francês?
b) estuda tanto francês quanto inglês?
c) estuda apenas espanhol?
d) Se o número de alunos que estuda apenas espanhol é 50, quantos alunos a
escola possui?

13 – Observe o diagrama abaixo:

Sabendo que | ∪ . ∪ ;| = 100, quanto é ?

4 – Relações
Como foi feito até agora, admitiremos conhecidos resultados básicos sobre
números reais e naturais. Esses conjuntos numéricos serão tratados com mais
cuidado no Capítulo III.
36

4.1 – Plano cartesiano

Definição 4.1.1 (Plano Cartesiano): Sendo  e ‡ dois eixos


perpendiculares em 0 (figura abaixo), esses determinam o plano c. Sendo  um
ponto qualquer de c ( ∈ c), criemos duas retas, ’ e ‡’, tal que ’ seja paralela ao
eixo , ‡’ seja paralela ao eixo ‡ e a intersecção ocorra no ponto  (figura).
Chamemos a intersecção entre ′ e o eixo ‡ de ’ e a intersecção de ‡’ com o eixo 
de “ . Com isso seguem as seguintes definições:

a) A abscissa de  é o (único) número real ” representado por “ .


b) A ordenada de  é o (único) número real ‡” representado por ’ .
c) As coordenadas de  são indicadas pelo par ?” , ‡” ) com a abscissa sendo o

d) O eixo  é dito ser o eixo das abscissas.


primeiro elemento do par.

e) O eixo ‡ é chamado de eixo das ordenadas.


f) O sistema formado pelos eixos das abscissas e das ordenadas é o sistema

g) O ponto 0 é chamado de origem do sistema.


cartesiano de eixos ortogonais.

h) O plano c determinado pelos eixos  e ‡ é o plano cartesiano.

cartesiano e o conjunto ℝ' (= ℝ × ℝ).


Teorema 4.1.1: Existe uma correspondência biunívoca entre o plano

demonstrar que para cada ponto  existe um único par de pontos “ e ’ . De fato, só
Demonstração: a demonstração é dada em duas partes. Primeiro vamos

existe um, pois, pelas definições apresentadas, a reta ’ intersecta o eixo ‡ em um


único ponto e a reta ‡’ intersecta o eixo  em um único ponto. Sendo assim, existe
um único par de pontos “ e ’ e, pelas definições (a), (b) e (c), um único par
ordenado de coordenadas ?” , ‡” ) correspondente ao ponto . Isso mostra que cada
P corresponde a um par ?, ‡) ∈ ℝ'.

Agora vamos demonstrar que cada ?, ‡) ∈ ℝ' corresponde a um único ponto
 do plano cartesiano. De fato isso ocorre, pois, a cada ?” , ‡” ), ” é representado
por “ e ‡” representado por ’ . Criando uma reta ’ que passa por ’ e é paralela
37

ao eixo das abscissas e outra, ‡’, que passa por “ e é paralela ao eixo das
ordenadas, essas duas retas se intersectam em um único ponto . Concluímos,
então, que cada par ?, ‡) ∈ ℝ' corresponde a um único ponto do plano cartesiano e
isso completa a demonstração.

QED

Exemplo 4.1.1: Localizemos no plano cartesiano abaixo os pontos


?1,1), ?3,2), ?2,3), ?−1,2), ?−2, −2) e • , 2–.
S
'

Também é possível representar subconjuntos de ℝ' no plano cartesiano. O


exemplo abaixo ilustra isso.

Exemplo 4.1.2: Representemos o conjunto  =


?1,1), ?2,2), ?3,3), ?3,2) no
plano cartesiano.

4.2 – Relações binárias

Definição 4.2.1: Dados dois conjuntos,  e ., qualquer subconjunto não


vazio — do produto cartesiano  × . é chamada de relação de  em .. Ou seja:

— é relação binária de  em . ⟺ — ⊂  × . e — ≠ ∅.
38

O conjunto  é chamado de conjunto de partida da relação — e . é chamado


de conjunto de chegada (ou contradomínio) da relação —.

representá-la (estamos usando — para representar o caso geral). Em alguns casos,


Para cada tipo de relação, em geral, se tem um símbolo diferente para

se um par ?, ‡) pertence a — (?, ‡) ∈ —), é conveniente usar a notação —‡ e  ‡


quando ?, ‡) ∉ —.

Podemos representar relações binárias de forma diagramática. Essa


representação consiste em representar os conjuntos como se fez até agora, na forma

elementos do conjunto de saída e de chegada. Por exemplo, se ?, ‡) pertence à


de diagramas de Euler-Venn, e usar setas para representar a relação entre os

relação binária, representamos isso com uma seta que parte do elemento , no
conjunto de partida, e vai até o elemento ‡ no conjunto de chegada.

Exemplo 4.2.1: Sejam  =


, , ,  e . =
1,2,3,4,5,6 e uma relação binária
— dada por — =
?, 2), ?, 4), ?, 1), ?, 5) .  representação diagramática dessa
relação é:

Definição 4.2.2: Dado um conjunto , uma relação — ⊂  ×  é chamada de


relação binária em .

Definição 4.2.3: Sendo  e . conjuntos e — ⊂  × . uma relação entre eles,


chamamos de domínio da relação — (denotamos s?—)) o conjuntos dos elementos
 pertencentes a  tal que ?, ‡) ∈ — para algum ‡ pertencente a .. Ou seja:

s?—) =
 ∈  | ?, ‡) ∈ —  ˜~= ‡ ∈ .

Definição 4.2.4: Sendo  e . conjuntos e — ⊂  × . uma relação binária


entre eles, chamamos de imagem da relação — (denotamos ™?—)) o conjuntos dos
elementos ‡ pertencentes a . tal que ?, ‡) ∈ — para algum  pertencente a . Ou
seja:

™?—) =
‡ ∈ . | ?, ‡) ∈ —  ˜~=  ∈ 

Perceba que, sendo — um subconjunto de  × ., não é de se esperar que


todos os pares ordenados ?, ‡) ∈  × . pertençam à relação —. Ou seja, em geral,
existem pares ?, ‡) ∈  × . que não pertencem à relação —. O conjunto s?—) nos
dá todos os elementos  ∈  tais que exista algum ‡ tal que ?, ‡) ∈ — e o conjunto
™?—) nos dá todos os elementos ‡ ∈ . tais que exista algum  tal que ?, ‡) ∈ —.
39

diagramática dada acima. Sendo  o conjunto de partida, . o conjunto de chegada e


Podemos pensar essas duas últimas definições em termos da representação

— uma relação binária de  em ., o domínio da relação binária é o conjunto de todos


os elementos de  de onde parte alguma seta e a imagem da relação binária é o
conjunto de todos os elementos de . onde termina alguma seta (elementos que são
“flechados”). No entanto vemos que ?, ‡) ∉ — não implica necessariamente que 
não pertença ao domínio da relação, nem que ‡ não pertença à imagem da relação,
mas implica que uma das duas seguintes situações ocorre:  ∉ s?—) ou ‡ ∉
™?—). O exemplo abaixo ilustra isso.

ALERTA: embora essas definições possuam relação com os conceitos de


domínio e imagem de funções, como será visto logo a seguir, as noções não devem
ser identificadas. Função é um tipo particular de relação binária e possui
particularidades em relação ao domínio e imagem. Na verdade, o que difere os tipos
de relações binárias são as restrições (condições) que impomos sobre o domínio e
imagem da relação.

Exemplo 4.2.2: Dados  =


1,2,3,4 , . =
1,2,3,4,5 e uma relação binária
— ⊂  × . dada por — =
?1,2), ?2,2), ?3,2), ?4,2) , a representação em forma de
diagrama dessa relação é:

Vemos que todos os elementos de  pertencem ao domínio da relação, mas


pares como ?1,1), ?1,4), ?2,1), etc não pertencem à relação —.

Definição 4.2.5: Sendo  e . conjuntos arbitrários não vazios e uma relação


binária — ⊂  × ., chama-se de relação inversa de — o conjunto — ^S ⊂ . ×  tal que:

— ^S =
?‡, ) ∈ . ×  | ?, ‡) ∈ —

Ou seja, ?‡, ) ∈ — ^S se, e somente se, ?, ‡) ∈ —. Assim, para se ter a relação
inversa, basta inverter a ordem de  e ‡ em cada par pertencente a —. Alguns
resultados imediatos são:

a) s?— ^S ) = ™?—) e ™?— ^S ) = s?—)


b) ?— ^S )^S = —

Nem sempre a relação inversa é do tipo da relação original. Ou seja, nem


sempre as restrições que impomos na relação original são aplicáveis na relação
inversa. Um exemplo disso são as funções, cuja definição é dada mais adiante.
40

— =
?1,2), ?2,2), ?3,2), ?4,2) — ^S ⊂ . ×  — ^S =
Exemplo 4.2.3: Tomando os conjuntos do Exemplo 4.2.2, a relação inversa a

?2,1), ?2,2), ?2,3), ?2,4) . Em forma de diagrama:


de é dada por

O efeito sobre o diagrama, ao se tomar a relação inversa, é, então,


simplesmente inverter o sentido das setas.

4.3 – Funções

Essa talvez seja a relação mais importante das que serão apresentadas. O
conceito de função permeia toda a matemática e acaba recebendo vários nomes
dependendo do contexto em que está sendo usado (como, por exemplo, operação,
aplicação, produto...).

Antes da definição de função, vejamos primeiro alguns exemplos intuitivos,


para servir de motivação para a definição que será dada.

Exemplo 4.3.1: Se um trabalhador recebe um determinado acréscimo no


salário a cada hora extra que trabalha, é intuitivo que o total acrescido varia de
acordo com quantas horas extras são trabalhadas. Diz-se que o acréscimo (total)
está em função da quantidade de horas extras que se trabalha, pois existe uma
dependência do ganho extra com as horas extras trabalhadas.

Exemplo 4.3.2: Quando se vai a um posto de gasolina abastecer, o preço


(total) pago pela gasolina é tanto maior quanto mais se coloca gasolina no carro.
Então, como acima, se diz que o preço pago está em função da quantidade de
gasolina colocada no carro.

Uma observação que podemos fazer é que não faz sentido, por exemplo, que
se possa colocar alguma quantidade de gasolina no carro, mas não exista nenhum
valor correspondente a essa quantidade (nem mesmo zero, pois zero seria um
valor). Isso motiva a condição (a) da definição de função que será dada abaixo.

Exemplo 4.3.3: Ao se jogar uma pedra verticalmente para cima, a posição


da pedra pode ser dada em função do tempo (vemos que, se ligamos um cronômetro
no instante em que se joga a pedra, podemos associar cada instante à posição –
altura – em que a pedra se encontra). Percebamos que a pedra irá subir e descer,
ou seja, as posições que a pedra vai assumir durante a subida serão repetidas na
descida, mas em instantes diferentes dos que estavam associados às mesmas
posições durante a subida. Por exemplo, se a pedra vai até uma altura de 10
metros, ela passará pela altura 5 metros durante a subida (em um instante t) e
41

passará pela mesma altura 5 metros durante a descida (mas num instante
posterior – portanto, diferente – ao t). No entanto não faz sentido associar duas
posições diferentes a um mesmo instante. Por exemplo, a pedra não pode estar no
chão e na altura 5 metros no mesmo instante.

Definição 4.3.1 (função): Dados dois conjuntos,  e ., e š ⊂  × . uma


relação binária de  em ., o terno ?š, , .) (trinca ordenada) é dita ser uma função
de  em . ou aplicação de  em . quando satisfaz ambas as seguintes condições:

a) s?š) = 
b) ?, ‡) ∈ š e ?, ‡′) ∈ š implica ‡ = ‡′.

A primeira condição diz que, para todo  pertencente a , existe algum ‡


pertencente a . tal que ?, ‡) ∈ š (mas não é necessário que ™?š) = .). Já a
segunda nos assegura que, dado um , o elemento correspondente a  na imagem
de š é único. Em outras palavras, a função leva cada  do domínio a um único ‡ da

que nada proíbe que existam dois elementos distintos,  e ’, pertencentes ao
imagem (o Exemplo 4.3.3 dá uma motivação para se definir assim). Mas perceba

domínio de š (e, portanto, a ) tais que ?, ‡) ∈ š e ? › , ‡) ∈ š com mesmo ‡ (vemos

altura). Por causa da unicidade do elemento ‡, na imagem, correspondente a um


que, no Exemplo 4.3.3, se pôde associar dois instantes diferentes a uma mesma

dado  do domínio, é comum usar a notação a, š?)b para indicar os elementos da
função š. Ou seja, š?) = ‡. Atentemos desde já que será comum chamarmos š de
função embora a função seja, na verdade, a trinca ordenada ?š, , .).

Exemplo 4.3.4: Dados os conjuntos  =


1,2,3 e . =
,  , então š =

?1, ), ?2, ), ?3, ) é uma função de  em ., pois o domínio da relação é o próprio 
e, para cada elemento de , esse é associado a apenas um elemento em .. Mas
perceba que œ =
?1, ), ?2, ), ?2, ) não é função de  em . porque não satisfaz

função š.
nenhuma das duas condições necessárias. Abaixo está representado o diagrama da

função quer dizer que, de cada elemento de , deve partir alguma seta e a condição
Vemos, então, que, em termos de diagramas, a condição (a) da definição de

(b) quer dizer que só pode partir uma única seta de cada elemento de .

 =
1,2,3 ; =
, ,  ,
š=
?1, ), ?2, ?3,
), ) continua sendo uma função, mas de  em ; (pois continua
Exemplo 4.3.5: Dados agora e

satisfazendo as condições (a) e (b)) e o diagrama é dado abaixo.


42

Exercício 4.3.1: A relação dada no Exemplo 4.2.2 é uma função? E a dada


no Exemplo 4.2.1?

Trabalharemos funções de forma mais detalhada no capítulo seguinte, mas

sempre é uma função. Se š ⊂  × . é uma função e a imagem dessa não é o próprio


perceba que, dadas as restrições (a) e (b), a relação inversa de uma função nem

., a relação inversa não pode ser uma função, pois o domínio dessa relação inversa
não é . e, pela definição, é necessário que o domínio de uma função seja o próprio
conjunto de partida.

Mesmo que a relação inversa tenha como domínio ., essa relação inversa
ainda tem que levar cada elemento de . a um único elemento de  para ser uma
função (condição (b) da definição). Como, em geral, se pode ter ?, ‡) ∈ š e ? › , ‡) ∈ š
com mesmo ‡, a relação inversa não será uma função se isso ocorrer. Afinal, se
teria, na relação inversa, um ‡ ∈ . levado a dois (ou mais)  diferentes na imagem.

imagem de š ⊂  × . for o próprio . e não ocorrer de ?, ‡) ∈ š e ? › , ‡) ∈ š com


Por fim, só é possível que a relação inversa seja uma função quando a

 ≠ ′. Ou seja, usando a notação ?, š?)), se š?) = ‡, não exista ′ ≠  tal que
š?′) = ‡. Quando a relação inversa de uma função é uma função também, dizemos
que essa relação inversa é a função inversa.

Exercício 4.3.2: Por que as relações inversas das funções apresentadas nos
exemplos 4.3.4 e 4.3.5 não são funções? Dê um exemplo de função cuja relação
inversa também é uma função. Note que isso só é possível quando a cardinalidade
do conjunto de partida (conseqüentemente, do domínio) é a mesma que a do
contradomínio (esse termo é mais comum quando se trata de funções).

4.4 – Relações de equivalência

Além das funções, as relações de equivalência também são presentes em


vários campos da matemática. Informalmente podemos dizer que uma relação de
equivalência estabelece uma condição que define uma “igualdade” entre elementos
de um conjunto.

Definição 4.4.1: Dado o conjunto  e sendo  ⊂  ×  uma relação binária


em ,  é uma relação de equivalência em  quando forem satisfeitas as seguintes
propriedades:

a) ?, ) ∈  para todo  ∈  (reflexibilidade).


b) ?, ‡) ∈  implica ?‡, ) ∈  (simetria).
43

c) Se ?, ‡) ∈  e ?‡, ž) ∈ , então, ?, ž) ∈  (transitividade).

Normalmente se usa o símbolo ~  para indicar a equivalência pela relação


. Ou seja, quando os elementos , ‡ ∈  são equivalentes por , escrevemos ~  ‡.
Se os elementos , ‡ ∈  não são equivalentes por , se escreve  ≁  ‡. No caso em
que não há perigo de confusão, se escreve simplesmente ~‡ para indicar que os
elementos  e ‡ são equivalentes pela relação de equivalência considerada e  ≁ ‡
caso não sejam equivalentes. Assim, as condições dadas acima podem ser reescritas
como sendo:

a’) ~ para todo  ∈  (reflexibilidade).

b’) ~‡ implica ‡~ (simetria).

c’) Se ~‡ e ‡~ž, então, ~ž (transitividade).

Tomamos a relação de equivalência com o conjunto de partida sendo  e o de


chegada ele mesmo e isso é necessário. Perceba que as propriedades são tais que
não existe possibilidade de existir uma relação de equivalência com o conjunto de
partida diferente do de chegada.

conjunto. Uma é relação identidade (ou diagonal), onde, dado um conjunto ,


Duas relações de equivalência sempre são possíveis de serem feitas num

, ‡ ∈  são equivalentes quando  = ‡ (por essa relação de equivalência, os


elementos de  só são equivalentes a eles mesmos). A outra é a que os elementos
, ‡ ∈  são equivalentes quando esses pertencem a  (por essa relação de
equivalência, todos os elementos de  são equivalentes a todos os elementos de ).

Exemplo 4.4.1: Dado o conjunto  =


, ,  e uma relação binária em 
dada por  =
?, ), ?, ), ?, ), ?, ), ?, ) , essa relação binária é uma relação de
equivalência em  (verifique!).

Exemplo 4.4.2: Definamos uma relação de equivalência em ℝ da seguinte


forma: dizemos que  é equivalente a ‡ quando  − ‡ é racional (? − ‡) ∈ ℚ). Ou
seja,  ⊂ ℝ × ℝ tal que:

 =
?, ‡) ∈ ℝ × ℝ | ? − ‡) ∈ ℚ

Mostremos que tal relação é, de fato, uma relação de equivalência:

a) ~, pois  −  = 0, que é racional (demonstrando a simetria).


b) Se  − ‡ é racional, então ‡ −  é racional, pois ‡ −  = −? − ‡) e o oposto de
um número racional é racional. Assim, ~‡ implica ‡~ (demonstrando a
reflexibilidade).

Usemos isso para demonstrar a transitividade. Se  − ‡ é racional e ‡ − ž é


c) Pela propriedade demonstrada anteriormente, y-z racional implica z-y racional.

racional, então ? − ‡) − ?ž − ‡) =  − ‡ − ž + ‡ =  − ž é racional, pois a


subtração de racionais (no caso, ? − ‡) e ?ž − ‡)) é um número racional. Ou
seja, ~‡ e ‡~ž implica ~ž (demonstrando a transitividade).
44

Sendo  um conjunto não vazio e  uma relação de equivalência em , dado


um elemento  do conjunto , é, em geral, interessante ter o conjunto de todos os
elementos equivalentes a  (tal conjunto definido abaixo).

Definição 4.4.2: Seja  um conjunto e  ⊂  ×  uma relação de


equivalência em . Para cada  ∈  definimos a classe de equivalência de  (pela
relação de equivalência ) pelo conjunto:

£¤ =
‡ ∈  | ?, ‡) ∈ 

Vemos que, fixado , o conjunto £¤ é o de todos os elementos equivalentes a


 e que sempre se tem  ∈ £¤, devido à propriedade (a) da definição de relação de
equivalência, ou seja, o conjunto £¤ nunca é vazio. Abaixo seguem um lema e um
teorema referentes a essa definição. O teorema é a razão das relações de
equivalências serem tão presentes na matemática e é chamado de Teorema
Fundamental das Equivalências.

Lema 4.4.1: Sendo  ⊂  ×  uma relação de equivalência em , se , ‡ ∈ 


são tais que ~‡, então £¤ = £‡¤.

Demonstração: Com efeito, se ~‡, então ‡ ∈ £¤ e, se ‡~ž, então ž ∈ £‡¤.


Ora, se ~‡ e ‡~ž, então ~ž (transitividade), que implica ž ∈ £¤. Ou seja, todo
elemento que pertence a £‡¤ também pertence a £¤, que é o
£‡¤ ⊂ £¤. De forma inteiramente análoga conclui-se que £¤ ⊂ £‡¤. Logo, pelo
mesmo que dizer que

Teorema 1.6.3, £¤ = £‡¤.

QED

Teorema 4.4.1: Se ℰ é o conjunto de todas as classes de equivalências de 


pela relação de equivalência , ℰ é uma partição de .

Demonstração: Usaremos o resultado que foi pedido para ser demonstrado

mostrar que ℰ é uma partição de , devemos mostrar que, para cada  ∈ , esse
no Exercício 1.9.1 para demonstrar esse teorema. Pelo enunciado do exercício, para

deve pertencer a uma, e somente uma, classe de equivalência pertencente a ℰ.

De fato, para todo elemento  ∈ , esse pertence a, ao menos, uma classe de


equivalência, pois sempre se tem que  ∈ £¤, e, se  ∈ £‡¤ para algum ‡ ∈ , ~‡,
que nos leva a concluir, pelo Lema 4.4.1, £¤ = £‡¤. Ou seja, para todo  ∈ , 
pertence a uma, e somente uma, classe de equivalência pertencente a ℰ, que é o
mesmo que dizer que ℰ é uma partição de .

QED

Esse último teorema nos diz que um conjunto  pode ser dado pela união
disjunta de todas as classes de equivalência (distintas) de uma relação de
equivalência.

O conjunto ℰ, que pode ser escrito como ℰ =


£¤ |  ∈  , é chamado,
também, de conjunto quociente de  por  e pode ser representado por ℰ = /.
45

Vemos que a relação de equivalência  realmente “divide”  com as classes de


equivalências.

A recíproca do teorema acima também é verdadeira: toda partição de um


conjunto é um conjunto de todas as classes de equivalência de alguma relação de
equivalência, mas a demonstração dessa recíproca será omitida.

Exemplo 4.4.3: Usando o conjunto  e a relação de equivalência dada no


Exemplo 4.4.1, se vê que a classe de equivalência dos elementos  e  é £¤ =

,  = £¤ (Lema 4.4.1) e a do  é £¤ =


 . O conjunto das classes de equivalência
é, então, ℰ = W
,  ,
 X, que é uma partição de .

Exemplo 4.4.4: Usando a relação de equivalência nos reais apresentada no


Exemplo 4.4.2, mostremos que o conjunto dos racionais é uma das classes de
equivalência daquela relação.

Evidentemente a subtração de racionais é um racional, ou seja, se  é


racional e ‡ é racional, então já se tem que  é equivalente a ‡ pela relação dada.

pois, se fosse, chegaríamos à seguinte contradição: suponha que  é racional e ‡ é


Mas também se tem que nenhum irracional pode ser equivalente a um racional,

irracional, mas  − ‡ é racional. Um racional pode ser escrito como a divisão entre
§ § P
dois números inteiros. Dessa forma, escrevamos  = e  − ‡ = − ‡ = , com ,©,
¨ ¨ Š
§ P §Š^P¨
e r números inteiros (com © e r não nulos). Assim, ‡ = − =
¨ Š ¨Š
, que é um
número racional, entrando em contradição com a hipótese de ‡ ser irracional.
Concluímos, então, que uma das classes de equivalência de  =
?, ‡) ∈ ℝ ×
ℝ | ? − ‡) ∈ ℚ é ℚ.

Observação: a soma (ou subtração) de um racional com irracional nunca


será um racional, mas é possível se ter soma ou subtração de irracionais com
resultado racional (diferente de zero, inclusive). Por exemplo, √2 − a√2 − 1b = 1. √2
é irracional e √2 − 1 também é, mas a subtração dada é um número racional.

Foi dito no início dessa subsecção que a relação de equivalência estabelecia


uma “igualdade” entre elementos de um conjunto. A igualdade não é, em geral,
entre os elementos, mas aparece entre as classes de equivalência, como mostrado
pelo Lema 4.4.1. As classes de equivalência são, então, “agrupamentos” dos
elementos com mesmas propriedades, de acordo com a relação de equivalência
dada.

4.5 – Relações de ordem total

outro. Por exemplo, no conjunto dos números inteiros, dizemos que 2 é maior que
Em alguns conjuntos é natural dizermos que um elemento é maior que

−1 e representamos isso por 2 > −1. A relação que nos permite dizer isso nos
permite ordenar os números inteiros (por exemplo, podemos ordenar de forma
crescente os números inteiros). Uma relação de ordem é total quando sempre é
possível dizer, dados dois elementos de um conjunto com relação de ordem, se um
46

elemento é maior, igual ou menor que outro. Mas as relações de ordem não se
restringem a conjuntos numéricos (naturais, inteiros, racionais...). Veremos que,
dado um conjunto qualquer, sempre é possível criar uma relação de ordem total no
conjunto.

Definição 4.5.1: Sendo  um conjunto e — ⊂  ×  uma relação binária em


, — é uma relação de ordem total em  se forem satisfeitas as seguintes condições:

Para todo  ∈ , ?, ) ∈ — (reflexibilidade).


Se ?, ‡) ∈ — e ?‡, ž) ∈ —, então ?, ž) ∈ — (transitividade).
a)

Se ?, ‡) ∈ — e ?‡, ) ∈ —, então  = ‡ (anti-simetria).


b)

Para todo , ‡ ∈ , ?, ‡) ∈ — ou ?‡, ) ∈ — (totalidade).


c)
d)

notação  ≥¬ ‡ para indicar que ?, ‡) ∈ — e  ≱¬ ‡ para indicar que ?, ‡) ∉ —.


De forma análoga ao que foi feito para relações de equivalência, usamos a

Quando não há perigo de confusão, o índice R é omitido. Usando essa notação,


podemos reescrever as condições:

a’) Para todo  ∈ ,  ≥  (reflexibilidade).

b’) Se  ≥ ‡ e ‡ ≥ ž, então  ≥ ž (transitividade).

c’) Se  ≥ ‡ e ‡ ≥ , então  = ‡ (anti-simetria).

d’) Para todo , ‡ ∈ ,  ≥ ‡ ou ‡ ≥  (totalidade).

O símbolo ≥ é lido como “maior ou igual” e isso logo se justifica. A primeira


condição apenas impõem que ?, ) deve pertencer a relação, pois pela mesma
relação, através da propriedade (c), se conclui que  = , como deve ser. Essas
propriedades são bem familiares, pois são as mesmas das relações de ordem dos
números naturais, inteiros, racionais e reais (esses servem de exemplos para esse
tipo de relação binária).

Um conjunto com uma relação de ordem total — é dito totalmente ordenado


ou linearmente ordenado (pela relação —). Existem outras relações de ordem (que
não serão tratadas aqui) e por isso se explicita que a relação de ordem é total.

Exercício 4.5.1: Dada uma família arbitrária não vazia de conjuntos, k,


criemos uma relação de ordem em k tal que dizemos que, para , . ∈ k,  ≥ . se
. ⊂ . Por que essa relação não é, em geral, uma relação de ordem total? Qual
condição deve ser satisfeita para que a relação dada seja uma relação de ordem
total?

vazio , é sempre possível encontrar uma relação de ordem — tal que  é totalmente
Teorema 4.5.1 (Teorema do Bom Ordenamento): Dado um conjunto não

ordenado por essa relação.

Não demonstraremos esse teorema, pois, além de outras razões, esse


teorema garante, na verdade, que é possível obter uma relação de ordem tal que o
conjunto é dito bem ordenado (noção que não foi apresentada) por essa relação de
47

ordem. Mas é possível demonstrar que todo conjunto bem ordenado é


completamente ordenado pela mesma relação de ordem.

de ordem total em conjuntos como o ℕ × ℕ? Podemos obter tal relação usando o fato
Sabendo da veracidade desse teorema, fica a questão: como ter uma relação

de ℕ já possuir uma relação de ordem. Tal construção é apresentada abaixo.

Chamaremos a relação de ordem de ℕ de — e a de ℕ × ℕ de #. Definamos a


relação de ordem total em ℕ × ℕ da seguinte forma: dados ?, ‡), ?®, ž) ∈ ℕ × ℕ,
?, ‡) ≥¯ ?®, ž) se  ≥¬ ® ou se  = ®, mas ‡ ≥¬ ž. Ou seja, se  >¬ ®, já se tem
?, ‡) ≥¯ ?®, ž) (independente de ‡ ≥¬ ž ou não), mas, se  = ® a relação passa a ser
entre a segunda coordenada e se tem ?, ‡) ≥¯ ?®, ž) quando ‡ ≥¬ ž. Por exemplo,
?3,1) > ?2,5) e ?2,1) < ?2,5).

de ordem total em ℕ × ℕ.
Exercício 4.5.2: Mostre que essa relação apresentada é de fato uma relação

Exemplo 4.5.1: Peguemos o subconjunto  =


?1,1), ?1,2), ?1,3), ?2,1), ?2,2),
?2,3), ?3,1), ?3,2), ?3,3) de ℕ × ℕ. Usando a relação de ordem apresentada acima
para ℕ × ℕ, temos que ?3,3) > ?3,2) > ?3,1) > ?2,3) >. . . > ?1,1). Abaixo está

preto é o ?2,2) e os maiores que ?2,2) são vermelhos e os menores verdes.


ilustrada, no plano cartesiano, a relação de ordem desse conjunto, onde o ponto

Perceba que os elementos menores que ?2,2) são os que estão à esquerda ou
abaixo desse e os maiores os que estão à direita ou acima.

possuem uma relação de total pode ser generalizada. Se  é um conjunto com uma
Essa forma de ordenar totalmente produtos cartesianos de conjuntos que já

relação de ordem total —, podemos fazer com que \ (=  ×  × ⋯ ×  n vezes) seja


totalmente ordenado por uma relação # fazendo ?S , ⋯ , \ ) ≥¯ ?‡S , ⋯ , ‡\ ) quando, se
as i primeiras coordenadas forem iguais, hxS >¬ ‡hxS . Ordens desse tipo, onde se
usa uma relação de ordem total em  para induzir uma relação de ordem total em
\ da forma como foi feita, são chamadas de ordens lexicográficas por razões que
ficarão claras a seguir.

como foi feito acima, pode-se fazer o produto cartesiano entre  conjuntos obtendo
Observação: Ainda não generalizamos a noção de produto cartesiano, mas,

um conjunto cujos elementos são “pares ordenados” (na verdade, chamados de n-


48

uplas) com  elementos ordenados (com cada elemento pertencendo ao conjunto


correspondente à posição que se encontra na n-upla). Por exemplo, sendo , . e ;
conjuntos não vazios,  × . × ; é o conjuntos de todas as trincas ordenadas ?, ‡, ž)
onde  ∈ , ‡ ∈ . e ž ∈ ;.

Tal forma de ordenação pode parecer estranha a primeira vista, mas um


caso desse tipo de ordem é bastante comum e bem familiar a todos. A ordem

Perceba que ordenamos inicialmente o alfabeto (dizemos que  > , por exemplo) e,
alfabética (usada para ordenar palavras de um dicionário) é uma ordem desse tipo.

ao ordenar palavras, pegamos duas palavras e vamos comparando as letras das


palavras (a partir do início dela) até que se encontre uma “coordenada” distinta
entre essas palavras. Ou seja, comparamos as primeiras letras e, se as letras forem
iguais, passamos a comparar a segunda e assim por diante até que haja diferença.
Quando é encontrada a diferença, se usa a ordem já dada para o alfabeto para dizer
que uma palavra é “maior” que outra (no sentido de que, dadas as duas letras
distintas, uma aparece depois da outra no alfabeto). Por exemplo, comparemos as

?, , r, ) e ?, , r, ). As três primeiras letras são iguais, mas  >  (no sentido de 
palavras casa e caso. Vamos primeiro colocar as letras como quadras ordenadas:

aparecer depois de  no alfabeto). Assim, ?, , r, ) > ?, , r, ), fazendo caso
aparecer depois de casa no dicionário. Claro, o exemplo foi simplificado, pois nem
todas as palavras possuem quatro letras, de forma que seriam necessárias mais
“coordenadas” e algum elemento que preencha as “coordenadas” sem letras, e
existem letras com acentos, hífens, etc., que devem ser acrescidos no “alfabeto”.

1 – No plano cartesiano abaixo, encontre os pontos ?0,0), ?−2, −1), a1Œ3 , 0b,
Exercícios I – 4

?2,3) e •5Œ3 , 4Œ3–.

2 – Sendo  =
1,2,3,4,5,6 e . =
, , , ,  , represente as seguintes relações
binárias de  em . em forma de diagramas:
49

— =
?1, ), ?3, ), ?3, ), ?6, )
— =
?1, ), ?2, ), ?3, ), ?4, ), ?5, ), ?6, )
a)

— =
?1, ), ?3, ), ?4, ), ?5, ), ?6, )
b)

— =
?1, ), ?2, ), ?3, ), ?3, ), ?5, ), ?6, )
c)

— =
?1, ), ?2, ), ?3, ), ?4, ), ?5, ), ?6, )
d)
e)

indique quais relações são funções de  em ..


3 – Dê o domínio e a imagem das relações apresentadas no exercício 2 e

4 – Escreva as relações inversas das relações binárias apresentadas no


exercício 2 e represente-as em forma de diagramas.

5 – A partir dos diagramas de relações binárias apresentados abaixo,


represente as relações binárias listando seus elementos e dê o domínio e a imagem
de cada relação.

a)

b)

c)

6 – Sendo  =
1,2,3 , indique quais das relações abaixo são relações de
equivalência em A. Caso não seja, indique qual(ais) condição(ões) falha(m).
50

 =
?1,1), ?2,2), ?3,3)
 =
?1,1), ?2,2), ?3,3), ?2,1), ?3,2), ?3,1)
a)

 =
?1,1), ?2,2), ?3,3), ?1,2), ?2,1)
b)

 =
?1,1), ?2,2), ?3,3), ?1,2), ?2,3), ?3,2)
c)

 =
?1,1), ?2,2), ?1,2), ?2,3), ?3,2)
d)

 =
?1,1), ?2,2), ?3,3), ?1,3), ?3,1), ?2,3), ?3,2)
e)

 =
?1,1), ?2,2), ?3,3), ?1,3), ?3,1), ?2,3), ?3,2), ?2,1), ?1,2)
f)
g)

7 – Escolha, no exercício acima, uma relação que seja de equivalência e uma

equivalência, faça também a representação do conjunto ' no plano cartesiano e


que não seja e represente-as em forma de diagrama. No caso da relação de

destaque (circulando, por exemplo) os pontos que compõem a relação de


equivalência.

existentes no exercício 6 e dê o conjunto quociente ⁄ em cada caso. SUGESTÃO:


8 – Represente as classes de equivalências das relações de equivalência

Para poupar trabalho, use o Lema 4.4.1.

9 – Mostre que uma relação de equivalência em um conjunto  é uma função


de  em  se, e somente se, é a relação identidade.

sim, indique-a e, representando ' no plano cartesiano, destaque os pontos que


10 – Alguma relação binária do exercício 6 é uma relação de ordem total? Se

compõem a relação.

11 – Defina para ℕ& uma relação binária  tal que ?, , )~  ?, , }) (ou seja,
a?, , ), ?, , })b ∈ ) se  +  +  =  +  + }. Mostre que essa relação é uma
relação de equivalência.

12 – Defina uma relação análoga a feita no exercício anterior, mas para ℕ' .
Dê as classes de equivalência de ?1,1), ?2,2) e ?3,3). Represente essas classes de
equivalência no plano cartesiano.

13 – Seja V definido como ℤ × ?ℤ −


0 ). Defina uma relação  em V fazendo
com que a?, ), ?, )b ∈  (ou ?, )~  ?, )) se  = . Mostre que essa relação é
uma relação de equivalência.

14 – Usando a ordem lexicográfica definida para ℕ& , escreva, em cada caso


abaixo, os pontos na ordem crescente.

?1,1,1), ?1,3,1), ?4,2,6), ?4,2,2)


?2,1,3), ?2,3,5), ?3,1,4), ?2,5,5)
a)

?1,1,2), ?2,2,3), ?2,1,4), ?1,45,2)


b)

?4,6,7), ?3,5,2), ?3,4,8), ?6,3,7), ?6,4,1)


c)
d)

15 – Se || = 5, |⁄ | = 3 (cardinalidade do conjunto quociente ⁄ ) e um


elemento é equivalente a, no máximo, um elemento distinto, quanto é ||
(cardinalidade da relação de equivalência)?
51

Capítulo II – Funções e Estruturas

Nesse capítulo será apresentado um tratamento mais geral de funções.


Como já foi dito no capítulo anterior, o conceito de função é presente em toda a
matemática e por isso o estudo dele é de particular importância. Também serão
apresentadas estruturas algébricas básicas, tais como grupos, anéis e corpos, onde
o conceito de função estará sempre presente.

1 – Características Gerais
1.1 – Definição de função e notações

Reapresentemos a definição de função.

Definição 1.1.1 (função): Dados dois conjuntos,  e ., e š ⊂  × . uma


relação binária de  em ., a trinca ordenada ?š, , .) é dita ser uma função de  em
. ou aplicação de  em . quando satisfaz ambas as seguintes condições:

a) s?š) = 
b) ?, ‡) ∈ š e ?, ‡′) ∈ š implica ‡ = ‡′.

Algumas novas notações devem ser introduzidas. No lugar de ?š, , .),


passaremos a representar funções por š:  → . (lê-se “função š definida de  em
.”). Como já foi introduzido no capítulo anterior, também escrevemos ‡ = š?),
devido à unicidade de ‡ na imagem correspondente a um  no domínio. Também
devido a esse fato, é comum indicar que um dado  do domínio corresponde a um
determinado ‡ na imagem por  ↦ ‡ (ou  ↦ š?)). Outra conseqüência dessa
unicidade é que, se ‡ = š?), então ‡ é chamado de imagem de  sob š (com certo
abuso de linguagem, é comum omitir o “sob š”).

Como o conjunto de partida de uma função é sempre igual ao domínio,


chamamos o conjunto de partida simplesmente de domínio da função e o conjunto
de chegada é mais comumente referido como o contradomínio da função (lembrando

o contradomínio são subentendidos, representamos a função simplesmente por š.


que a imagem da função é um subconjunto do contradomínio). Quando o domínio e

letras minúsculas para representar funções. Por exemplo, }:  → ..


Atentemos também ao fato de, a partir de agora, usarmos com freqüência

1.2 – Igualdade entre funções

Antes de apresentarmos a igualdade entre funções, notemos que, como a


imagem de uma função não necessariamente é igual ao contradomínio, é possível
alterar o contradomínio de uma função sem alterar outras características dessa. De
fato isso acontece, como mostra o teorema seguinte.

Teorema 1.2.1: Seja }:  → . uma função e }:  → ; tal que ™?}) ⊂ ; (a


imagem de }:  → . está contida em ;). Então }:  → ; é uma função.
52

Demonstração: Se ?, ‡) ∈ }, então  ∈  e ‡ ∈ ™?}). Já que ™?}) ⊂ ;,


temos que ‡ ∈ ;. Assim, o par ?, ‡) ∈  × ;, mostrando que } ⊂  × ;. Concluímos,
então, que }:  → ; é uma função, pois, como } satisfaz as condições (a) e (b) da
definição de função, elas continuam sendo satisfeitas.

QED

podemos estabelecer um padrão na obtenção do ‡ na imagem a partir do  do


Uma função pode ser definida a partir de uma “regra”. Isso quer dizer que

domínio. Ou seja, escrevemos }?) em termos de . Sabendo a regra que define a


´:F→t
função, podemos escrever a função como “↦´?“) , onde }?) é a regra em questão.

Exemplo 1.2.1: Seja }: ℕ → ℕ tal que }?) = 2 (pode-se, também, escrever


´:ℕ→ℕ
“↦'“
). As imagens de  = 1,  = 2 e  = 4 são respectivamente }?1) = 2 ⋅ 1 = 2,
}?2) = 2 ⋅ 2 = 4 e }?4) = 2 ⋅ 4 = 8. O diagrama abaixo ilustra a função.

A última função também exemplifica o teorema demonstrado logo acima. A


imagem da função é composta por todos os números pares positivos. Vemos, então,

outros aspectos da função. Ou seja, poderíamos fazer }: ℕ →  , onde  é o conjunto


que se pode reduzir o contradomínio a somente os pares positivos sem alterar os

maior. Por exemplo, a função poderia ser }: ℕ → ℝ. Um abuso de linguagem que é


dos números pares positivos. Mas também poderíamos tomar um contradomínio

função, }?), de função, mas se deve sempre estar atento para não confundir os
bastante freqüente (e cometeremos aqui também) é chamar a regra definidora da

conceitos.

A função propriamente dita é a trinca ?}, , .) (embora seja comum


chamarmos a relação } de função). Assim, no teorema anterior, se ; é diferente de
., a função }:  → . é diferente de }:  → ;, pois ?}, , .) ≠ ?}, , ;). Afinal,
?}, , .) = ?~, ;, s) se, e só se, } = ~,  = ; e . = s. Perceba, então, que, no exemplo
anterior, quando mudamos o contradomínio, mudamos a função. No teorema

uma forma equivalente de afirmar } = ~.


abaixo, já se está tomando os domínios e os contradomínios iguais, mas apresenta
53

Teorema 1.2.2: Sejam }:  → . e ~:  → . funções. Então }:  → . é igual a


~:  → . se, e somente se, para todo  ∈ , }?) = ~?).

Demonstração: Se as funções são iguais, então } = ~. Segue que a?, ‡) ∈


}b ⇔ a?, ‡) ∈ ~b. Usando a notação ‡ = }?), a equivalência é escrita como
a?, }?)) ∈ }b ⇔ a?, ~?)) ∈ ~b, donde segue que }?) = ~?), pois o ‡ é único. A
recíproca é obtida seguindo a demonstração no sentido contrário.

QED

Exemplo 1.2.2: As funções }: ?ℝ −


1 ) → ℝ e ~: ?ℝ −
1 ) → ℝ, tais que
“ µ ^S
}?) = e ~?) =  + 1, são iguais. Para mostrar isso, observemos que os
“^S
domínios e contradomínios já são iguais. Assim, basta mostrar que }?) = ~?)
para todo  ∈ ?ℝ −
1 ). Vemos que
“ µ ^S ?“xS)?“^S)
“^S
= “^S
e, dessa forma, sabendo que

=  + 1 = ~?) para todo  ∈ ?ℝ −


1 ),
“ µ ^S ?“xS)?“^S)
 ≠ 1, se tem }?) = =
“^S “^S
mostrando que as funções são iguais.

Exercício 1.2.1: Sejam }: ?ℝ −


−1,0 ) → ℝ e ~: ?ℝ −
−1,0 ) → ℝ tais que
?“xS)µ ^?“ µ ^S) '
}?) = “ µ x“
e ~?) = “. Mostre que essas funções são iguais.

1.3 – União de funções

É comum que a regra definidora de uma função não seja a mesma em todo o
domínio. Assim, existirão funções cujas imagens serão definidas por mais de uma
regra (cada regra referente a um subconjunto do domínio). Os dois exemplos abaixo
ilustram isso.

Exemplo 1.3.1: Seja  um subconjunto de um conjunto não vazio V.


Podemos criar uma função ¶F : V →
0,1 de forma que:

1 r  ∈  ¸
¶F ?) = ·
0 r  ∈ ?V − )

Ou seja, se  pertence a , a imagem desse  é 1, mas, se não pertence, a


imagem é 0. Essa função é chamada de função característica de .

Exemplo 1.3.2: Pode-se ter }: ℝ → ℝ definida por:

r  ≥ 1
}?) = ·²¸
 r  ≤ 1

}:  →
1 tal que }?) = 1 e a segunda ~: ?V − ) →
0 tal que ~?) = 0. Juntando
No primeiro exemplo, podemos decompor a função em duas. A primeira

os domínios ( ∪ ?V − ) = V, já que  ⊂ V) e os contradomínios (


0 ∪
1 =
0,1 )

competem, conseguimos a função original. Ou seja, ¶F = } ∪ ~. No segundo


dessas duas funções e usando as regras respectivas nas partes do domínio que as

~: ?−∞, 1¤ → ℝ tal que }?) =  e ℎ: £1, ∞) → ℝ tal que }?) =  ' , a intersecção dos
exemplo, situação semelhante ocorre, mas devemos tomar cuidado, pois, sendo
54

domínios não é vazia (é


1 ), mas é fácil ver que as regras coincidem nessa

função original ( ~ ∪ ℎ = }).


intersecção. Como no caso anterior, podemos ver que, ao unir as funções, obtemos a

números reais, mas já adiantemos que ?−∞, 1¤ =


 ∈ ℝ| ≤ 1 e £1, ∞) =
Observação: Definiremos no capítulo seguinte o conceito de intervalo de

 ∈ ℝ| ≥ 1 .

Motivados por esses exemplos, enunciemos o seguinte teorema.

Teorema 1.3.1: Sejam }:  → . e ~: ; → s funções tais que }?) = ~?) para


todo  ∈  ∩ ;. Então a união } ∪ ~ define uma função ℎ de  ∪ ; em . ∪ s (função
de domínio  ∪ ; e contradomínio . ∪ s). Ou seja:

?ℎ = } ∪ ~):  ∪ ; → . ∪ s

tal que:

}?)¸ r  ∈ 
ℎ?) = ·
~?) r  ∈ ;

Demonstração: } e ~ são relações binárias. Assim, } ⊂  × . e ~ ⊂ ; × s.


Segue que } ∪ ~ ⊂  × . ∪ ; × s. Mas  × . ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s), afinal, ao se unir
um conjunto ao conjunto  e outro ao conjunto ., não se está tirando elementos que
pertençam a  × . (veja o Teorema 2.2.4 do Capítulo I). De forma semelhante
; × s ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s). Assim, ? × .) ∪ ?; × s) ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s). Concluímos,
então, que:

ℎ = } ∪ ~ ⊂ ? × .) ∪ ?; × s) ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s)

Ou seja, ℎ ⊂ ? ∪ ;) × ?. ∪ s), que é o mesmo que dizer que ℎ é uma relação


binária de  ∪ ; em . ∪ s. Já que } e ~ são funções e }?) = ~?) para todo
 ∈  ∩ ;, ℎ?) é definido de forma única em todo o domínio,  ∪ ;, mostrando que é
de fato uma função.

QED

Exemplo 1.3.3: Sejam  =


1,2,3 , . =
2,3,5,6 , ; =
1,2, ,  e s =
2,3,4 .
Sejam também }:  → . tal que } =
?1,2), ?2,3), ?3,3) e ~: ; → s tal que ~ =

?1,2), ?2,3), ?, 3), ?, 4) . Então a relação ℎ = } ∪ ~ =


?1,2), ?2,3), ?3,3), ?, 3), ?, 4)
define uma função ℎ:  ∪ ; → . ∪ s, cuja representação diagramática é dada abaixo.
55

Exercício 1.3.1: Dê o domínio e a imagem das funções }, ~ e ℎ apresentadas


no exemplo anterior.

No Teorema 1.3.1, quando . = s e  ⊂ ;, ~: ; → s é dita ser uma extensão


de }:  → ..

1.4 – Imagens e pré-imagens de funções

Definição 1.4.1: Seja }: V → y uma função e  ⊂ V. A imagem de  sob },


denotada por }?), é o conjunto de todas as imagens }?) tais que  ∈ . Numa
notação mais compacta:

}?) =
}?)| ∈ 

Perceba que a imagem de  sob } é um subconjunto da imagem da função


}: V → y, isto é, }?) ⊂ ™?}). Em particular, a imagem de V sob } é a própria
imagem da função. Embora a semelhança nas notações }?) e }?), deve-se atentar
que }?) é um elemento da imagem enquanto }?) é um subconjunto da imagem.

Exercício 1.4.1: Mostre que }?V) = ™?}).

no caso geral, que “}?) = ™?}) se, e somente se,  = V”, onde V é o domínio da
Exercício 1.4.2: Mostre com um contra-exemplo que não é possível afirmar,

função.

Definição 1.4.2: Seja }: V → y uma função e . ⊂ y. A pré-imagem de . sob


}, denotada por } ^S ?.), é o conjunto de todos os elementos do domínio tais que
}?) ∈ .. Em notação mais sucinta:

} ^S ?.) =
|}?) ∈ .

A pré-imagem de um subconjunto do contradomínio da função é, então, um

. pode ser qualquer subconjunto do contradomínio e esse pode possuir elementos


subconjunto do domínio da função. Mas nessa nova definição devemos perceber que

que não pertençam à imagem da função. Ou seja, em geral, pode existir ‡ ∈ . tal
que ‡ ≠ }?) para todo  ∈ V.
56

 r  é  ¸
Exemplo 1.4.1: Seja }: ℕ → ℕ tal que }?) = ·
 + 1 r  é 
. A imagem
de  (conjunto dos pares) sob } é o próprio conjunto dos pares, mas a pré-imagem
de  sob } é ℕ. Afinal, se  é ímpar,  + 1 é par, mostrando que }?) ∈  para todo
 ∈ ℕ.

Exemplo 1.4.2: Seja V =


1,2,3,4,5 , y =
6,7,8,9 e }: V → y uma função
definida por } =
?1,6), ?2,7), ?3,7), ?4,8), ?5,8) . Sendo  =
1,2 , a imagem de  sob
} é o conjunto }?) =
6,7 . Já sendo . =
7,8,9 , a pré-imagem de . sob } é
} ^S ?.) =
2,3,4,5 . Segue abaixo a representação diagramática.

Vemos, então, que, em termos de diagramas, a imagem de  sob } é o

elementos de . Já a pré-imagem de . sob } é o conjunto dos elementos no domínio


conjunto dos elementos no contradomínio onde terminam as setas que começam nos

de onde partem as setas que terminam nos elementos de ..

Nesse último exemplo podemos ver que }?) =


6,7 , mas } ^S a }?)b =

1,2,3 . Ou seja,  ⊂ } ^S a }?)b. Também se tem que, sendo } ^S ?.) =


2,3,4,5 ,
}a} ^S ?.)b =
7,8 , que implica }a} ^S ?.)b ⊂ .. Esses resultados são gerais e
apresentaremos como um teorema.

Exercício 1.4.3: Faça a representação diagramática do que foi discutido no


parágrafo acima.

Teorema 1.4.1: Sendo }: V → y uma função arbitrária e  ⊂ V e . ⊂ y


subconjuntos quaisquer do domínio e contradomínio, respectivamente, valem as
inclusões:

 ⊂ } ^S a }?)b  }a} ^S ?.)b ⊂ .

Demonstração: ( ⊂ } ^S a }?)b): Se  ∈ , então }?) ∈ }?), donde segue,


pela definição, que  ∈ } ^S a }?)b. Ou seja,  ∈  ⇒  ∈ } ^S a }?)b que, pela
definição de subconjunto, quer dizer  ⊂ } ^S a }?)b.

(}a} ^S ?.)b ⊂ .): Se ‡ ∈ }a} ^S ?.)b, então existe  ∈ } ^S ?.) tal que }?) = ‡,
que nos leva a concluir que ‡ ∈ .. Ou seja, ‡ ∈ }a} ^S ?.)b ⇒ ‡ ∈ . levando, por fim,
a }a} ^S ?.)b ⊂ ..

QED
57

O comentário feito sobre o Exemplo 1.4.2 já mostra que, no caso geral, as


inclusões demonstradas não podem ser substituídas por igualdades, afinal, as
inclusões apresentadas no comentário são próprias.

Exemplo 1.4.3: Seja }: ℤ → ℤ tal que }?) =  ' . }?


1,2 ) =
1' , 2' =
1,4 e
} ^S ?
−1,1,2 ) =
−1,1 , pois não existe quadrado de inteiro cujo resultado seja −1
nem quadrado inteiro com resultado 2. No entanto, } ^S a}?
1,2 )b = } ^S ?
1,4 ) =

−2, −1,1,4 , pois ?−2)' = 4 e ?−1)' = 1, e }a} ^S ?


−1,1,2 )b = }?
−1,1 ) =

?−1)' , 1' =
1 , concordando com o teorema. Abaixo a representação da função é
feita no plano cartesiano, onde os pontos pretos são os pertencentes a }.

1,2 → }?
1,2 ) → } ^S a}?
1,2 )b e
−1,1,2 → } ^S ?
−1,1,2 ) → }a} ^S ?
−1,1,2 )b. No
É interessante que, na representação feita acima, se observe os caminhos

primeiro caso, o caminho “segue” pelas linhas vermelhas de


1,2 a
1,4 e, depois,
“volta” pelas linhas vermelhas até
−2, −1,1,2 . Já no segundo caso, o elemento 1 é o
único que pode “seguir” pela linha vermelha, e faz o conjunto
−1,1,2 “ir” para

−1,1 . Depois o conjunto “volta” pelas linhas vermelhas até


1 .

Exercício 1.4.4: Se }: ℕ → ℕ é uma função tal que }?) =  + 1, mostre que,


para todo subconjunto . do contradomínio tal que 1 ∉ ., }a} ^S ?.)b = ..

Teorema 1.4.2: Sendo }: V → y uma função, valem as afirmações abaixo.

}?∅) = ∅
}?
 ) =
}?)
a)

Se  ⊂ . ⊂ V, então }?) ⊂ }?.).


b)

Se ; ⊂ s ⊂ y, então } ^S ?;) ⊂ } ^S ?s).


c)
d)

Demonstração: (a): Não existe  ∈ ∅, logo, não existe }?) ∈ }?∅), de onde
se conclui }?∅) = ∅.
58

(b): Pela definição }?


 ) = W}?)¼ ∈
 X, como só há um  em
 e o }?)
correspondente é único, }?
 ) =
}?) .

(c): Se ‡ ∈ }?), então existe  ∈  tal que }?) = ‡. Mas  ∈  ⇒  ∈ . e,


disso, se conclui que ‡ ∈ }?.) para todo  ∈ . Ou seja, }?) ⊂ }?.).

(d): Se  ∈ } ^S ?;), então }?) ∈ ;. Como ; ⊂ s, então }?) ∈ s. Dessa forma,


 ∈ } ?s). Ou seja,  ∈ } ^S ?;) ⇒  ∈ } ^S ?s), que é o mesmo que } ^S ?;) ⊂ } ^S ?s).
^S

QED

Exemplo 1.4.4: Sendo }: ℤ → ℤ tal que }?) =  + 3, tem-se }?


2 ) =
}?2) =

5 .

Exercício 1.4.5: Dê um exemplo de função }: ℕ → ℕ tal que, para algum


subconjunto . do domínio, exista  ⊂ . de forma que essa inclusão seja própria e
}?.) = }?). Ou seja, um contra-exemplo para a afirmação “se  ⊂ . ⊂ V, com V
sendo o domínio, então }?) = }?.) se, e somente se,  = .”.

“}?) ⊂ }?.) somente se  ⊂ .” e “} ^S ?;) ⊂ } ^S ?s) somente se ; ⊂ s” são falsas. Ou


Exercício 1.4.6: Encontre contra-exemplos que mostrem que as afirmações

seja, mostrar que não existe a recíproca das partes (c) e (d) do teorema acima.

Teorema 1.4.3: Seja }: V → y uma função e , . ⊂ V. Então:

a) }? ∪ .) = }?) ∪ }?.)


b) }? ∩ .) ⊂ }?) ∩ }?.)

Demonstração: (a): Se ‡ ∈ }? ∪ .), então existe  ∈  ∪ . tal que }?) = ‡.


Mas  ∈  ∪ . ⇒  ∈  ou  ∈ .. Logo, ‡ ∈ }?) ou ‡ ∈ }?.), que, pela definição de
união, é o mesmo que ‡ ∈ }?) ∪ }?.). Ou seja, ‡ ∈ }? ∪ .) ⇒ ‡ ∈ }?) ∪ }?.),
donde segue que }? ∪ .) ⊂ }?) ∪ }?.).

Reciprocamente, se ‡ ∈ }?) ∪ }?.), então existe  ∈  ou  ∈ . tal que


‡ = }?). Disso se tem que  ∈  ∪ . e, dessa forma, ‡ ∈ }? ∪ .). Ou seja, ‡ ∈
}?) ∪ }?.) ⇒ ‡ ∈ }? ∪ .) e, por seguinte, }?) ∪ }?.) ⊂ }? ∪ .). Dessa inclusão e
a anterior, finalmente temos que }? ∪ .) = }?) ∪ }?.).

(b): Se ‡ ∈ }? ∩ .), então existe  ∈  ∩ . tal que ‡ = }?). Ou seja,  ∈  e


 ∈ . e, dessa forma, ‡ ∈ }?) e ‡ ∈ }?.), donde se tem ‡ ∈ }?) ∩ }?.). Assim,
‡ ∈ }? ∩ .) ⇒ ‡ ∈ }?) ∩ }?.), que é o mesmo que }? ∩ .) ⊂ }?) ∩ }?.).

QED

Essas duas propriedades podem ser generalizadas e faremos isso mais


adiante.

Na parte (b) do teorema, não é possível obter, em geral, a igualdade e o


exemplo seguinte mostra isso.
59

Exemplo 1.4.5: Seja  =


1,2 , . =
3 e }:  → . tal que } =
?1,3), ?2,3) .
Sendo S =
1 e ' =
2 , tem-se S ∩ ' = ∅ e, portanto, }?S ∩ ' ) = }?∅) = ∅.
Mas }?S ) =
3 e }?' ) =
3 e, assim, }?S ) ∩ }?' ) =
3 , que é diferente de
}?S ∩ ' ). Abaixo segue a representação diagramática.

Teorema 1.4.4: Seja }: V → y uma função e , . ⊂ y. Então:

a) } ^S ? ∪ .) = } ^S ?) ∪ } ^S ?.)
b) } ^S ? ∩ .) = } ^S ?) ∩ } ^S ?.)

Demonstração: (a): Se  ∈ } ^S ? ∪ .), então }?) ∈  ∪ ., que é o mesmo


que }?) ∈  ou }?) ∈ .. Disso segue que  ∈ } ^S ?) ou  ∈ } ^S ?.), ou seja,
 ∈ } ^S ?) ∪ } ^S ?.), mostrando que } ^S ? ∪ .) ⊂ } ^S ?) ∪ } ^S ?.), pois  ∈
} ^S ? ∪ .) ⇒  ∈ } ^S ?) ∪ } ^S ?.). Reciprocamente, se  ∈ } ^S ?) ∪ } ^S ?.), então
 ∈ } ^S ?) ou  ∈ } ^S ?.), donde se tem }?) ∈  ou }?) ∈ ., que implica }?) ∈  ∪
.. Portanto  ∈ } ^S ? ∪ .) e acabamos de mostrar que  ∈ } ^S ?) ∪ } ^S ?.)
⇒  ∈ } ^S ? ∪ .), que, por definição, quer dizer } ^S ?) ∪ } ^S ?.) ⊂ } ^S ? ∪ .).
Mostrada essa inclusão e a anterior, concluímos que } ^S ? ∪ .) = } ^S ?) ∪ } ^S ?.).

QED

Exercício 1.4.7: Demonstre a parte (b) do teorema acima.

Também generalizaremos esse último teorema mais adiante.

Teorema 1.4.5: Seja }: V → y uma função e , . ⊂ y. Então:

} ^S ? − .) = } ^S ?) − } ^S ?.)

Demonstração: Se  ∈ } ^S ? − .), então }?) ∈  − ., que quer dizer


}?) ∈  e }?) ∉ .. Assim  ∈ } ^S ?) e  ∉ } ^S ?.) e, portanto,  ∈ } ^S ?) − } ^S ?.).
Dessa forma, } ^S ? − .) ⊂ } ^S ?) − } ^S ?.). Reciprocamente, se  ∈ } ^S ?) −
} ^S ?.), então  ∈ } ^S ?) e  ∉ } ^S ?.). Disso temos }?) ∈  e }?) ∉ ., que é o
mesmo que }?) ∈  − .. Por seguinte,  ∈ } ^S ? − .), donde se conclui } ^S ?) −
} ^S ?.) ⊂ } ^S ? − .). Demonstradas essa inclusão e a anterior, } ^S ? − .) =
} ^S ?) − } ^S ?.).

QED

Exercício 1.4.8: Mostre com um contra-exemplo que }? − .) = }?) − }?.)


não é, em geral, verdadeiro.
60

Exemplo 1.4.6: Seja }: V → y uma função com V =


1,2,3,4 e y =
5,6,7,8 e
} =
?1,5), ?2,5), ?3,7), ?4,8) . Sendo  ⊂ y tal que  =
5,6,7 e . ⊂ y tal que . =

7,8 . } ^S ? − .) = } ^S ?
5,6 ) =
2 . Por outro lado, } ^S ?) − } ^S ?.) = } ^S ?
5,6,7 ) −
} ^S ?
7,8 ) =
2,3 −
3,4 =
2 , que é o resultado anterior.

Exercício 1.4.9: Demonstre o seguinte corolário do Teorema 1.4.5:

} ^S ?y − .) = V − } ^S ?.)

Exercícios II – 1
1 – Sendo  =
1,2,3 e . =
, ,  , indique quais relações abaixo são funções
de A em B e, nos casos que são, dê a imagem.

} =
?1, ), ?1, ), ?1, )
} =
?1, ), ?2, ), ?3, )
a)

} =
?1, ), ?1, ), ?2, ), ?3, )
b)

} =
?1, ), ?2, ), ?3, )
c)

} =
?1, ), ?2, ), ?3, )
d)
e)

que } é uma função de  em ..


2 – No exercício anterior, faça a representação diagramática dos casos em

3 – Indique quais diagramas abaixo representam funções de  =


1,2,3 em
. =
, , ,  .

a)

b)

c)
61

d)

4 – Seja }: ℕ → ℕ uma função definida por:

 − 1 r  é 
}?) = ½² r  é  ã ¸
1 r  é 

Encontre }?2), }?5), }?12), }?9) e }?11).

5 – Mostre que, se }: V → y e ~: V → y são funções e } ⊂ ~, então } = ~.


SUGESTÃO: Só falta mostrar que ~ ⊂ }.

6 – Dê a imagem da função ´:
S,',w →ℕ
“↦“²x¿
.

7 – Considere os conjuntos  =
1,2,3 , . =
3,4,5 , ; =
, ,  e s =
1, ,  .
Em cada caso abaixo, onde } e ~ são funções, verifique se a relação ℎ = } ∪ ~ define
uma função. Caso defina, represente ℎ listando seus elementos.

}:  → . e ~: ; → s tais que } =
?1,3), ?2,3), ?3,4) e ~ =
?, 1), ?, ), ?, ) .
}:  → ; e ~: . → s tais que } =
?1, ), ?2, ), ?3, ) e ~ =
?3,1), ?4, ), ?5, ) .
a)

}:  → s e ~: . →  tais que } =
?1,1), ?2, ), ?3,1) e ~ =
?3,1), ?4,2), ?5,3) .
b)

}: ; →  e ~: s → . tais que } =
?, 3), ?, 2), ?, 1) e ~ =
?1,4), ?, 3), ?, 5) .
c)

}:  →  e ~: . → . tais que } =
?1,2), ?2,1), ?3,3) e ~ =
?3,3), ?4,5), ?5,4) .
d)

}: s →  e ~: s → s tais que } =
?1,1), ?, 2), ?, 3) e ~ =
?1, ), ?, ), ?, ) .
e)
f)

SUGESTÃO: O enunciado já afirma que } e ~ são funções. Então, pelo


Teorema 1.3.1, basta verificar, para cada  ∈ s?}) ∩ s?~), que }?) = ~?)
para mostrar que h é uma função.

8 – No exercício anterior, represente a relação ℎ = } ∪ ~ por diagramas,


quando essa definir uma função, e dê a imagem da função.
62

9 – No exercício 4, encontre }?
1,2,3 ), }?
4,5,9 ) e } ^S ?
5,9,2 ). SUGESTÃO:
Chame o conjunto dos primos positivos de ℕ§ .

10 – Dado }:  → . tal  =
1,2,3,4 , . =
, , , , 
} =
?1, ), ?2, ), ?3, ), ?4, ) , encontre:
que e

}?
1,2,3 );
a) a imagem da função;

}?
1,2,4 );
b)

}?
1,2,3,4 );
c)

} ^S a}?
1,2,4 )b;
d)
e)
} ^S ?
,  );
} ^S ?
, , ,  );
f)

} ^S ?
, ,  ).
g)
h)

11 – Seja }: V → y uma função,  ⊂ V e . ⊂ y. Mostre que:

a) }a ∩ } ^S ?.)b = }?) ∩ .


b) }a} ^S ?.)b = }?V) ∩ .

12 – Sejam V e y conjuntos não vazios e considere as funções { : V × y → V


tal que { ?, ‡) =  e | : V × y → y tal que | ?, ‡) = ‡. Sendo — ⊂ V × y (— é uma
relação de V em y), mostre que { ?—) = s?—) e | ?—) = ™?—). A função { é
chamada de projeção canônica sobre V e | de projeção canônica sobre y.

2 – Funções Injetoras, Sobrejetoras e Bijetoras


Funções injetoras, sobrejetoras e bijetoras são tipos de funções que possuem
uma importância especial em diversos casos. Assim, é importante que se tenha
familiaridade com as noções apresentadas nessa secção.

2.1 – Definições

Definição 2.1.1 (função injetora): Seja }: V → y uma função. }: V → y é


dita injetora (ou injetiva) quando é satisfeita a condição: se , ′ ∈ V e }?) = }?′),
então  = ′.

Uma forma equivalente de definir é substituir a condição por: se , ′ ∈ V e


 ≠ ′, então }?) ≠ }?′).
´:ℕ→ℕ
“↦&“
Exemplo 2.1.1: Seja uma função. Essa função é injetora, pois, se
 ≠ ′, temos que }?) = 3 ≠ 3 = }? › ).
›

Exemplo 2.1.2: Seja }:  → . tal que  =


1,2,3 , . =
4,5,6,7 e } =

?1,4), ?2,5), ?3,6) . Essa função é injetora, pois não existem elementos distintos no
domínio com a mesma imagem. A representação diagramática segue abaixo.
63

Perceba que, em termos de diagramas, a condição para que a função seja


injetora é que cada elemento na imagem deve ser “flechado” uma única vez.
´:ℕ→ℕ
Exercício 2.1.1: Mostre que a função “↦'“^S é injetora.

Definição 2.1.2 (função sobrejetora): Seja }: V → y uma função. }: V → y


é dita sobrejetora quando é satisfeita a condição: se ‡ ∈ y então existe  ∈ V tal que
‡ = }?). De forma equivalente, uma função é sobrejetora quando }?V) = y.
Podemos chamar funções sobrejetoras simplesmente de sobrejeções.

de X tal que  ⊂ V seja uma inclusão própria. Então a função característica de A


Exemplo 2.1.3: Seja X um conjunto não vazio e A um subconjunto não vazio

(consulte o Exemplo 1.3.1) é uma função sobrejetora, pois existem  ∈  e  › ∈


?V − ) e, portanto, x tal que }?) = 1 e x’ tal que }? › ) = 0.

Exemplo 2.1.4: Seja }:  → . uma função tal que A={1,2,3,4}, B={5,6,7} e


} =
?1,5), ?2,6), ?3,7), ?4,7) . Essa função é sobrejetora, pois }?) = .. Abaixo está a
representação diagramática.

Podemos ver, então, que, em termos de diagramas, a condição para uma


função ser sobrejetora é que todos os elementos do contradomínio devem ser
“flechados”.

Definição 2.1.3 (função bijetora): Seja }: V → y uma função. }: V → y é


dita bijetora quando é, simultaneamente, injetora e sobrejetora. É comum que se
chame as funções bijetoras de bijeções ou correspondências um-para-um.

Exemplo 2.1.5: Sendo A um conjunto, a relação identidade, ™F =


?, ‡) ∈
'|
  = ‡ define uma função bijetora ÀÁ“↦“
:F→F
. Para mostrar que essa função é
bijetora, devemos mostrar que é injetora e sobrejetora. Com efeito, pois, se  ≠
64

 › , ™F ?) =  ≠  › = ™F ? › ) e, se ‡ ∈  (contradomínio), existe  ∈  (domínio) tal que


™F ?) = ‡, esse é  = ‡.

Não é necessário escrever ÀÁ :F→F


“↦“
, pois a notação ™F já indica que é a relação
identidade e, portanto, basta escrever ™F :  →  sem explicitar a regra.

Exemplo 2.1.6: Seja }:  → . tal que, A={1,2,3}, B={a,b,c} e


} =
?1, ), ?2, ), ?3, ) . Essa função é injetora, pois não existem elementos distintos
no domínio com mesma imagem, e é sobrejetora, pois }?) = .. Portanto, a função é
bijetora. Podemos ver no diagrama abaixo que as condições já apresentadas, em
termos de diagramas, para ser injetora e sobrejetora são simultaneamente
satisfeitas: todos os elementos da imagem são “flechados” uma única vez (é
injetora) e todos os elementos do contradomínio são “flechados” (é sobrejetora).

2.2 – Imagens e pré-imagens de injeções, sobrejeções e bijeções;


função inversa

Para esses tipos especiais de funções, muitos teoremas podem ser


melhorados. Abaixo, está enunciada uma “extensão” do Teorema 1.4.1 para esses
tipos de funções.

Teorema 2.2.1: Seja }: V → y uma função com  ⊂ V e . ⊂ y, então:

a) } ^S a}?)b =  se } é injetora.
b) }a} ^S ?.)b = . se } é sobrejetora.
c) } ^S a}?)b =  e }a} ^S ?.)b = . se } é bijetora.

Demonstração: (a): Já foi demonstrado para o caso geral que  ⊂


} a}?)b, então devemos mostrar que } ^S a}?)b ⊂  quando } é injetora. Se
^S

 ∈ } ^S a}?)b, então }?) ∈ }?). Assim, para algum  › ∈ , }? › ) = }?), mas,
sendo } injetora, necessariamente  = ′, donde segue que  ∈ . Ou seja,  ∈
} ^S a}?)b ⇒  ∈ , que é o mesmo que } ^S a}?)b ⊂ . Usando esse resultado e o já
conhecido, temos } ^S a}?)b = .

1.4.1. Sabemos que }a} ^S ?.)b ⊂ ., então é apenas necessário demonstrar que
(b): Como anteriormente, usaremos o que já foi demonstrado no Teorema

. ⊂ }a} ^S ?.)b quando } é sobrejetora. Se ‡ ∈ ., segue de } ser sobrejetora que


‡ = }?) para algum  ∈ V. Então, ‡ = }?) ∈ ., que implica  ∈ } ^S ?.). Assim,
}?) ∈ }a} ^S ?.)b para todo ‡ = }?) ∈ .. Ou seja, ‡ ∈ . ⇒ ‡ ∈ }a} ^S ?.)b, que,
65

equivalentemente, nos diz . ⊂ }a} ^S ?.)b. Logo, tendo esse resultando e o já


demonstrado, }a} ^S ?.)b = ..

(c): Se } é bijetora, então é injetora e sobrejetora. Dos resultados anteriores


segue que } ^S a}?)b =  e }a} ^S ?.)b = ..

QED

No capítulo anterior foi dito que, em geral, a relação inversa de uma função
não é uma função, mas que existia a possibilidade da relação inversa ser uma
função. Veremos agora, precisamente, qual a condição deve ser satisfeita para a
relação inversa ser uma função.

Teorema 2.2.2: Se }: V → y é uma bijeção, então } ^S : y → V é uma bijeção.

Demonstração: Vamos, inicialmente, mostrar que } ^S é uma função. Como


} é sobrejetora, }?V) = y = ™?}). Bem se sabe do capítulo anterior que
s?} ^S ) = ™?}). Assim, o domínio da relação } ^S é Y (o próprio conjunto de
partida), satisfazendo a condição (a) da definição de função. Se ?‡, ), ?‡,  › ) ∈ } ^S
então ?, ‡), ?′, ‡) ∈ }, mas o fato de } ser injetora diz que, se ?, ‡), ? › , ‡) ∈ }, então
 = ′. Assim, ‡ ∈ y corresponde a um único  ∈ V, satisfazendo a condição (b) da
definição de função e mostrando que } ^S é uma função.

Agora demonstraremos que } ^S é bijetora. Suponhamos que ?‡, ), ?‡′, ) ∈


} ^S , então ?, ‡), ?, ‡′) ∈ }, donde segue ‡ = ‡ › pelo próprio fato de } ser uma
função e, portanto, } ^S é injetora. Do capítulo anterior, já sabemos que ™?} ^S ) =
s?}) = V, que nos leva a concluir que } ^S é sobrejetora, mostrando, junto ao
resultado anterior, que } ^S é bijetora.

QED

Observação: Na demonstração de que } ^S é bijetora, não foi necessário


supor que } é sobrejetora ou injetora. Ambas as características usadas, a de que
?, ‡), ?, ‡′) ∈ } implica ‡ = ‡ › e que s?}) = V, advêm simplesmente do fato de }
ser uma função. Disso obtemos a recíproca do teorema como um corolário.

Corolário: Se }: V → y e } ^S : y → V são funções, então }: V → y é bijetora.

supor que } era bijetora, então já demonstramos que } ^S é bijetora. Usando o


Demonstração: Como dito, na segunda parte do teorema não foi necessário

teorema, } ^S bijetora implica que ?} ^S )^S é bijetora. Mas ?} ^S )^S = }, como já se

Então } é bijetora.
sabe do capítulo anterior (a relação inversa da relação inversa é a própria relação).

QED

Definição 2.2.1: Se }: V → y e } ^S : y → V são funções, então } ^S : y → V é


chamada de função inversa de }: V → y.
66

Dizemos que uma função possui inversa quando a relação inversa é uma
função. Assim, o teorema e o corolário nos dizem que uma função possui inversa se,

}: V → y de correspondência um-para-um entre X e Y.


e somente se, é bijetora. Devido ao teorema, é comum que se chame uma bijeção

Observação: Deve-se tomar cuidado para não confundir a notação } ^S de


função inversa com a } ^S de pré-imagem.
´:ℕ→”
“↦'“
Exemplo 2.2.1: A função , onde P é o conjunto dos pares positivos, é
´ :”→ℕ
ÂÃ
Ä .
“↦
uma função bijetora e sua inversa é
µ

Exemplo 2.2.2: Seja }:  → . tal que, A={1,2,3,4}, B={x,y,z,t} e } =

?1, ), ?2, ‡), ?3, ž), ?4, ) . Essa função é bijetora (verifique!). A relação inversa é
} ^S =
?, 1), ?‡, 2), ?ž, 3), ?, 4) , que também é uma bijeção, mas de B em A.

Exercícios II – 2
1 – Dados os diagramas de funções abaixo, classifique cada função como
injetora, sobrejetora ou bijetora (caso possam ser classificadas como tais).

a)

b)

c)

d)
67

2 – No exercício 7, Exercícios II – 1, quando ℎ definir uma função,


identifique se a função é injetora, sobrejetora, bijetora ou não pode ser classificada
dessa forma.

3 – No exercício anterior, quando ℎ for bijetora, encontre a função inversa e


represente essa em forma de diagrama.

4 – Seja }: V → y uma função sobrejetora e , . ⊂ y. Mostre que, se } ^S ?) =


} ^S ?.), então  = ..

5 – Sendo }: V → y uma função injetora e , . ⊂ V, mostre que }? − .) =


}?) − }?.).

6 – Considerando as funções { e | como definidas no exercício 12,


Exercícios II – 1, mostre que essas funções são sobrejetoras. Em que condições { é
injetora?

7 – Considere as funções }:  → . e ~: ; → s tais que }?) = ~?) para todo


 ∈  ∩ ;. Mostre que:

a) se } e ~ são injetoras e . ∩ s = ∅ =  ∩ ;, então ℎ:  ∪ ; → . ∪ s tal que


ℎ = } ∪ ~ é injetora.
b) se } e ~ são sobrejetoras, então ℎ:  ∪ ; → . ∪ s tal que ℎ = } ∪ ~ é
sobrejetora.

8 – Dê um exemplo de função bijetora entre os naturais e os inteiros (só é


necessário conjecturar).

3 – Conjuntos Indexados e Generalizações


3.1 – Conjuntos indexados

Em muitos casos, é bastante útil utilizarmos índices para diferenciar


elementos de um conjunto. Isso já foi feito ao longo do texto quando se usou

conjunto k dos conjuntos Z com i natural de 1 até n). Apresentaremos agora,


famílias de conjuntos contendo um número finito de conjuntos (por exemplo,

formalmente, como indexar elementos de um conjunto.

indexado pelo conjunto Λ quando existe uma função sobrejetora }: Λ → A. Os


Definição 3.1.1: Seja A um conjunto não vazio arbitrário. Dizemos que A é

elementos de Λ são chamados de índices e a imagem de um Ç ∈ Λ é escrita como È ,


onde È ∈ .
68

Sempre é possível indexar um conjunto, pois podemos tomar Λ =  e } a


função identidade.

conjunto com o conjunto {1,2,3,4,5}. Para tanto, chamamos }?1) = S , }?2) =


Exemplo 3.1.1: Seja A um conjunto de 5 elementos. Podemos indexar esse

' , ⋯ , }?5) = ¿ . Ou seja,  =


S , ' , & , w , ¿

Observemos que indexação vale para qualquer conjunto de cinco elementos.


Assim, podemos tomar conjuntos indexando seus elementos sem a necessidade de
explicitar os elementos do conjunto.

conjuntos. Para isso, basta tomar um conjunto Λ de forma que exista }: Λ → k


Em especial, como foi feito até agora, podemos indexar famílias de

sobrejetora, onde k é a família de conjuntos.

A idéia de indexar elementos de um conjunto é, na verdade, simples. Apenas


se troca a necessidade de usar símbolos diferentes para diferenciar elementos pela
de usar índices diferentes. Mas, como a função não é necessariamente bijetora,
pode-se indexar um elemento duas ou mais vezes, de forma que podem existir

conjuntos k =
ℕ, ℤ, ℝ, ℝ com o conjunto {1,2,3,4} chamando S = ℕ, ' = ℤ, & = ℝ
elementos com mais de um índice. Por exemplo, podemos indexar a família de

e w = ℝ, mesmo tendo & = w . Esse detalhe será considerado quando


generalizarmos a noção de produto cartesiano.

Observação: Lembremos que foi convencionado que só admitiremos a


possibilidade de índices distintos se referirem a elementos iguais quando
chamarmos o conjunto de família. Ou seja, se o conjunto não for chamado de
família (de conjuntos ou elementos), então a função indicada na definição será
bijetora.

Às vezes não é importante qual é a função sobrejetora }: Λ → A, mas apenas


se ela existe. Por vezes se omitirá o conjunto indexado e associaremos os índices
diretamente aos elementos.

Exemplo 3.1.2: Seja k uma família de conjuntos tal que seja indexada pelo
conjunto ℕ. Então um elemento qualquer de k é Z tal que  ∈ ℕ e o conjunto k
pode ser representado por k =
S , ' , ⋯ , Z , ⋯ .

primeiros números naturais (ℕ\ =


1,2, ⋯ ,  ) e até mesmo para os indexados por
Podemos introduzir uma notação para conjuntos indexados pelos n

todos os naturais. Podemos escrever o conjunto  =


S , ' , ⋯ , \ simplesmente
como sendo  =
Z \Z[S (
Z \Z[S =
S , ' , ⋯ , \ ) e o conjunto . =
‡S , ‡' , ⋯ como
. =
‡Z É
Z[S (
‡Z Z[S =
‡S , ‡' , ⋯ ). Ou seja, nos exemplos 2.2.1 e 2.2.2 poderíamos
É

escrever  =
Z ¿Z[S e k =
Z É Z[S respectivamente.

Observação: Passaremos a adotar a notação ℕ\ para representar o


conjunto dos n primeiros números naturais (
1,2, ⋯ ,  ).
69

A notação apresentada é particular de conjuntos indexados por naturais,

conjunto Λ, então podemos chamar o conjunto A de  =


È È∈Ê . Em particular, um
mas podemos ter uma notação mais geral. Seja A um conjunto indexado pelo

conjunto A indexado pelos naturais (Λ = ℕ) pode, também, ser representado por


 =
Z Z∈ℕ . Quando escrevemos
È È∈Ê já se está informando que o conjunto é
indexado e qual conjunto de índices, mostrando que essa notação é concisa.

Observação: Podemos ainda escrever o conjunto  =


È È∈Ê como  =

È |Ç ∈ Λ .

3.2 – Generalizações

Em posse da definição de indexação, podemos generalizar alguns resultados


e fazer algumas redefinições. No que se segue, a indicação entre parênteses nas
definições são referentes à definição que se está redefinindo e nos teoremas ao
teorema que está sendo generalizado.

vazio e
È È∈Ê uma família arbitrária não vazia de subconjuntos de X. A união e
Definição 3.2.1 (1.9.2 – I e 1.9.3 – I): Seja X um conjunto arbitrário não

intersecção de todos os conjuntos È são definidas, respectivamente, por:

Y È =
 ∈ V| ∈ È  ˜~= Ç ∈ Λ
È∈Ê

algum È .
Ou seja, é o conjunto de todos os elementos de X tais que esses pertençam a

f È =
 ∈ V| ∈ È   Ç ∈ Λ
È∈Ê

todos os subconjuntos È .
Ou seja, o conjunto dos elementos de X que pertençam, simultaneamente, a

Para o caso particular de Λ = ℕ\ , ainda é conveniente usar a notação


apresentada no primeiro capítulo. Quando Λ = ℕ, também é comum serem usadas
Z[S Z e nZ[S Z .
as notações `É É

Exercício 3.2.1: Mostre que:

a) `È∈Ë?È ∪ .È ) = ?`È∈Ë È ) ∪ ?`È∈Ë .È )


b) nÈ∈Ë?È ∩ .È ) = ?nÈ∈Ë È ) ∩ ?nÈ∈Ë .È )

comutativa e associativa, na (a) podemos imaginar que juntamos todos os È num


Tente visualizar esses resultados de forma intuitiva. Pelo fato da união ser

“lado” da seqüência de uniões e todos os .È no outro. Por exemplo `&Z[S?Z ∪ .Z ) =


?S ∪ .S ) ∪ ?' ∪ .' ) ∪ ?& ∪ .& ) = ?S ∪ ' ∪ & ) ∪ ?.S ∪ .' ∪ .& ) = a`&Z[S Z b ∪
a`&Z[S .Z b.

k = W
1,2 ,
1,3 ,
1,4 ⋯ X. Podemos indexar os conjuntos com os naturais de forma
Exemplo 3.2.1: Considere a seguinte família de conjuntos:
70

conveniente: sendo Z =
1,  + 1 . Ou seja, podemos escrever k =
Z Z∈ℕ =
W
1,  + 1 XZ∈ℕ . Assim, a união desses conjuntos é dada por:

Y Z = Y
1,  + 1 = ℕ
Z∈ℕ Z∈ℕ

afinal, contem o número 1 e o sucessor de cada natural.

Já a intersecção dos conjuntos é:

f Z = f
1,  + 1 = f?
1 ∪
 + 1 ) =
1 ∪ ]f
 + 1 _ =
1 ,
Z∈ℕ Z∈ℕ Z∈ℕ ÌÍÍÍÍÍÎÍÍÍ
Z∈ℕ ÍÍÏ
ÐNhR O MNOPNQR &.'.S

pois, sendo
 + 1 e
 › + 1 com  ≠ ′, então  + 1 ≠  › + 1, que implica que
 + 1 ≠

 › + 1 .

Vamos redefinir agora a noção de partição de conjuntos.

g =
È È∈Ê tal que cada È seja subconjunto não vazio de A e as seguintes
Definição 3.2.2 (1.9.4 – I): Uma partição de um conjunto A é um conjunto

condições sejam satisfeitas.

a) Se È , ÈÑ ∈ g e Ç ≠ Ǜ , então È ∩ ÈÑ = ∅.


b) `È∈Ê È = 

O que foi pedido para ser demonstrado no Exercício 1.9.1 – I permanece


válido nesse caso mais geral. Então o Teorema Fundamental das Equivalências
continua válido.

Exemplo 3.2.2: Podemos particionar o conjunto ℤ da seguinte forma:

Tendo o conjuntos dos inteiros não negativos, ℤx =


0,1,2,3, ⋯ , podemos
indexar o conjunto g = W
0 ,
1, −1 ,
2, −2 , ⋯ X de forma conveniente com ℤx
chamando Z de Z =
, − . Assim, g = W
0 ,
1, −1 ,
2, −2 , ⋯ X =
Z Z∈ℤÒ =
W
, − XZ∈ℤ . Demonstremos que esse conjunto é uma partição de ℤ:
Ò

a)
, − ,
i, −i ∈ g e  ≠ i, então
, − ∩
i, −i = ∅. Isso porque, se  ≠ i então
− ≠ −i. É bom lembrar que , i ∈ ℤx e, portanto, não há perigo de  = −i.
b) `Z∈ℤÒ
, − = ℤ. Isso de fato acontece, pois notemos que `Z∈ℤÒ
, − =
`Z∈ℤÒ?
 ∪
− ) = a`Z∈ℤÒ
 b ∪ a`Z∈ℤÒ
− b. Ou seja, todos os inteiros não

`Z∈ℤÒ
, − = ℤ.
negativos pertencem à união e também os inteiros não positivos. Portanto,

Exercício 3.2.2: No capítulo anterior foi afirmado que o teorema


fundamental das relações de equivalência possui recíproca. Portanto, a partição
apresentada acima está ligada a uma relação de equivalência. Qual é ela?
71

Agora generalizaremos os teoremas apresentados na subsecção 1.11 do


Capítulo I.

Teorema 3.2.1: Seja X um conjunto arbitrário não vazio,


.È È∈Ê uma
família arbitrária não vazia de subconjuntos de X e A um conjunto qualquer. Então:

(1.11.1 – I)  − `È∈Ê .È = nÈ∈Ê? − .È )


(1.11.2 – I)  − nÈ∈Ê .È = `È∈Ê? − .È )
a)

(1.11.3 – I) ?nÈ∈Ê .È ) −  = nÈ∈Ê?.È − )


b)

(1.11.4 – I) ?`È∈Ê .È ) −  = `È∈Ê?.È − )


c)

(1.11.5 – I)  ∪ nÈ∈Ê .È = nÈ∈Ê? ∪ .È )   ∩ `È∈Ê .È = `È∈Ê? ∩ .È ).


d)
e)

Demonstração: Demonstraremos apenas a (a) para mostrar a semelhança


com a demonstração já feita para o caso menos geral. O restante será deixado como
exercício.

Se  ∈ ? − `È∈Ê .È ), então  ∉ `È∈Ê .È . Assim, também se conclui que  ∉ .È


para todo Ç ∈ Λ, afinal,  ∉ `È∈Ê .È significa que x não pertence a nenhum .È . Mas x
pertence a A e, assim, sempre temos que  ∈ ? − .È ) para qualquer Ç ∈ Λ.Então,
por definição, x pertence à intersecção de todos os conjuntos ? − .È ), ou seja,
 ∈ ?nÈ∈Ê? − .È )). Isto é, se  ∈ ? − `È∈Ê .È ), então  ∈ ?nÈ∈Ê? − .È )). Assim,
acabamos de mostrar que  − `È∈Ê .È ⊂ nÈ∈Ê? − .È )

Mostremos, agora, a recíproca. Se  ∈ ?nÈ∈Ê? − .È )), então, por definição,


 ∈  − .È para todo Ç ∈ Λ, donde se tem que  ∉ .È qualquer que seja Ç ∈ Λ. Dessa
forma, com x não pertencendo a nenhum .È , x não pertence à união deles, ou seja,
 ∉ `È∈Ê .È . Assim,  ∈ ? − `È∈Ê .È ). Isso mostra que  ∈ ?nÈ∈Ê? − .È )) implica
 ∈ ? − `È∈Ê .È ). Assim, temos ?nÈ∈Ê? − .È )) ⊂ ? − `È∈Ê .È ). Ora, mostramos
logo acima que  − `È∈Ê .È ⊂ nÈ∈Ê? − .È ), o que nos leva a concluir:

 − Y .È = f? − .È )
È∈Ê È∈Ê

QED

Corolário: Se
.È È∈Ê é uma família de subconjuntos de A, temos:

a) (Corolário – 1.11.1 – I): ∁F `È∈Ê .È = nÈ∈Ê?∁F .È ) e ?`È∈Ê .È )G = nÈ∈Ê?.È G ).


b) (Corolário – 1.11.2 – I): ∁F nÈ∈Ê .È = `È∈Ê?∁F .È ) e ?nÈ∈Ê .È )G = `È∈Ê?.È G ).

Em cada parte do corolário, a expressão após o “e” é a notação quando A é o


conjunto universo.

Exercício 3.2.2: Demonstre as partes que faltam no teorema acima e o


corolário.

Agora generalizaremos os teoremas 1.4.3 e 1.4.4.

Teorema 3.2.2 (1.4.3): Seja }: V → y uma função e


È È∈Ê uma família
arbitrária de subconjuntos de X. Então:
72

a) }?`È∈Ê È ) = `È∈Ê }?È )


b) }?nÈ∈Ê È ) ⊂ nÈ∈Ê }?È )

Demonstração: (a) Se ‡ ∈ }?`È∈Ê È ), então existe  ∈ `È∈Ê È tal que


}?) = ‡, que é o mesmo que existir  ∈ È , para algum Ç ∈ Λ, tal que }?) = ‡.
Assim, ‡ ∈ }?È ) para algum Ç ∈ Λ. Por definição, isso significa que ‡ ∈ `È∈Ê }?È ).
Mostramos, então, que }?`È∈Ê È ) ⊂ `È∈Ê }?È ). Reciprocamente, ‡ ∈ `È∈Ê }?È ) é o
mesmo que ‡ ∈ }?È ) para algum Ç ∈ Λ. Assim, existe  ∈ È , para algum Ç ∈ Λ, tal
que }?) = ‡, que, por definição, implica  ∈ `È∈Ê È . Por seguinte, temos que
‡ ∈ }?`È∈Ê È ), levando-nos a concluir que `È∈Ê }?È ) ⊂ }?`È∈Ê È ). Demonstrada
essa inclusão e a anterior, temos, finalmente, }?`È∈Ê È ) = `È∈Ê }?È ).

(b): Se ‡ ∈ }?nÈ∈Ê È ), então existe  ∈ nÈ∈Ê È tal que }?) = ‡, que é


equivalente a existir  ∈ È , para todo Ç ∈ Λ, tal que }?) = ‡. Assim, ‡ ∈ }?È ) para
todo Ç ∈ Λ, que significa ‡ ∈ nÈ∈Ê }?È ). Mostramos, então, que }?nÈ∈Ê È ) ⊂
nÈ∈Ê }?È ).

QED

Teorema 3.2.3 (1.4.4): Seja }: V → y uma função e


.È È∈Ê uma família
arbitrária de subconjuntos de Y. Então:

a) } ^S ?`È∈Ê .È ) = `È∈Ê } ^S ?.È )


b) } ^S ?nÈ∈Ê .È ) = nÈ∈Ê } ^S ?.È )

Demonstração: (a): Se  ∈ } ^S ?`È∈Ê .È ), então }?) ∈ `È∈Ê .È , que é o


mesmo que }?) ∈ .È para algum Ç ∈ Λ. Dessa forma,  ∈ } ^S ?.È ) para algum Ç ∈ Λ,
que é equivalente a  ∈ `È∈Ê } ^S ?.È ). Mostramos, então, que } ^S ?`È∈Ê .È ) ⊂
`È∈Ê } ^S ?.È ). Reciprocamente, se  ∈ `È∈Ê } ^S ?.È ), então  ∈ } ^S ?.È ) para algum
Ç ∈ Λ. Assim, }?) ∈ .È para algum Ç ∈ Λ, que, equivalentemente, significa }?) ∈
`È∈Ê .È . Logo, `È∈Ê } ^S ?.È ) ⊂ } ^S ?`È∈Ê .È ) e, demonstradas essa inclusão e a
anterior, concluímos que } ^S ?`È∈Ê .È ) = `È∈Ê } ^S ?.È ).

(b): Na demonstração acima, ao trocarmos ` por n e a expressão “para


algum” por “para todo”, obtemos a demonstração de (b).

QED

Exercício 3.2.3: Faça as mudanças sugeridas na parte (b) do teorema


acima.

A parte (b) do Teorema 3.2.2 pode ser melhorada para funções injetoras,
como mostrado no teorema abaixo.

Teorema 3.2.4: Seja }: V → y uma função injetora e


È È∈Ê uma família
arbitrária de subconjuntos de X. Então:

} ]f È _ = f }?È )
È∈Ê È∈Ê
73

Demonstração: Já foi demonstrado que }?nÈ∈Ê È ) ⊂ nÈ∈Ê }?È ) para o


caso geral, então precisamos mostrar que nÈ∈Ê }?È ) ⊂ }?nÈ∈Ê È ) quando } é
injetora.

Se ‡ ∈ nÈ∈Ê }?È ), então ‡ ∈ }?È ) para todo Ç ∈ Λ. Assim, para todo Ç ∈ Λ,


existe È ∈ È tal que }?È ) = ‡. Mas, por } ser injetora, temos que todos esses È
devem ser iguais e, portanto, chamemos de Ó . Como Ó é único, esse deve pertencer
a todos os È , ou seja, Ó ∈ È para todo Ç ∈ Λ, que é o mesmo que Ó ∈ nÈ∈Ê È . Por
seguinte, sabendo que }?Ó ) = ‡, ‡ ∈ }?nÈ∈Ê È ), demonstrando, então, que
nÈ∈Ê }?È ) ⊂ }?nÈ∈Ê È ), pois ‡ ∈ nÈ∈Ê }?È ) implica ‡ ∈ }?nÈ∈Ê È ). Concluímos,
dessa forma, que }?nÈ∈Ê È ) = nÈ∈Ê }?È ).

QED

Exercícios II – 3
1 – Considere o conjunto  = W
2,4, ⋯ ,
4,6,8, ⋯ ,
6,8,10, ⋯ , ⋯ X. Indexe esse
conjunto com os naturais de forma que  =
S , ' , ⋯ e mostre que:

a) `Z∈ℕ Z = , onde  =
2,4, ⋯ .
b) nZ∈ℕ Z = ∅

conjuntos Z pela propriedade que os caracterizam. Na (b), mostre que, dado um


SUGESTÃO: Faça uma indexação que seja conveniente e represente os

elemento Z do conjunto Z , existe um conjunto ZÑ ao qual Z não pertence.

as famílias de conjuntos não vazias


È È∈Ê , e
.Ô Ô∈∆ , mostre que:
2 – Generalize os resultados do exercício 13, Exercícios I – 1. Ou seja, dadas

Y Y?È ∩ .Ô ) = ]Y È _ ∩ ]Y .Ô _ = Y Y?È ∩ .Ô )
È∈Ê Ô∈∆ È∈Ê Ô∈∆ Ô∈∆ È∈Ê

f f?È ∪ .Ô ) = ]f È _ ∪ ]f .Ô _ = f f?È ∪ .Ô )
È∈Ê Ô∈∆ È∈Ê Ô∈∆ Ô∈∆ È∈Ê

3 – Dada a família de conjuntos não vazia


.È È∈Ê e um conjunto A não
vazio, mostre que:

a)  × ?`È∈Ê .È ) = `È∈Ê? × .È ) e ?`È∈Ê .È ) ×  = `È∈Ê?.È × )


b)  × ?nÈ∈Ê .È ) = nÈ∈Ê? × .È ) e ?nÈ∈Ê .È ) ×  = nÈ∈Ê?.È × )

4 – Sendo
È × .È È∈Ê uma família de conjuntos, mostre que:

Y?È × .È ) ⊂ ]Y È _ × ] Y .ÈÑ _
È∈Ê È∈Ê ÈÑ ∈Ê

SUGESTÃO: Use o fato da união ser uma operação fechada.


74

5 – Seja
}È : È → .È È∈Ê uma família não vazia de funções tais que }È ?) =
}ÈÑ ?) para todo  ∈ È ∩ ÈÑ . Mostre que ℎ: `È∈Ê È → `È∈Ê .È , tal que ℎ = `È∈Ê }È , é
uma função. SUGESTÃO: Use o resultado do exercício anterior e reveja como foi
demonstrada a forma menos geral desse teorema.

4 – Produtos Cartesianos: Caso Geral


Até o momento nos atemos a uma noção intuitiva de conjunto sem tocar
diretamente em algum ponto da Teoria Axiomática dos Conjuntos. Mas vamos
apresentar agora um axioma que garantirá que a definição generalizada de produto
cartesiano de fato pode ser feita e que o objeto procurado existe.

4.1 – O Axioma da Escolha

A Teoria Axiomática dos Conjuntos é composta de uma série de axiomas,


mas apresentaremos apenas um deles, o Axioma da Escolha, pois é suficiente para
discutirmos o caso geral de produtos cartesianos.

Axioma 4.1.1 (Axioma da Escolha): Se


È È∈Ê é uma família não vazia de
conjuntos È não vazios, então é possível tomar (“escolher”) um, e apenas um,

elementos. Mais precisamente, o axioma diz que existem funções }: Λ → `È∈Ê È tais
elemento de cada um desses conjuntos e formar um conjunto A com esses

que }?Ç) ∈ È para todo Ç ∈ Λ. Ou seja, funções cuja imagem de um Ç ∈ Λ é um


elemento de È (conjunto correspondente ao índice).

axioma, a existência da função }: Λ → `È∈Ê È tal que }?Ç) ∈ È , para todo Ç ∈ Λ,


Observação: Indiretamente, na forma mais técnica de se enunciar o

garante a existência do conjunto A ao qual pertence um elemento de cada È . O


conjunto A é a imagem da função.

se “escolhe” um elemento de cada conjunto È e se constrói um conjunto A, chamado


A função do tipo apresentado no axioma é chamada de função escolha, pois

de conjunto escolha, com esses elementos.

Exemplo 4.1.1: Sendo S =


,  , ' =
,  e & =
,  , uma função
escolha possível é }:
1,2,3 → S ∪ ' ∪ & tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) = . O
conjunto escolha nesse caso é  =
,  .

Exercício 4.1.1: Encontre mais dois exemplos de funções escolha no exemplo


acima, dê os conjuntos escolha e represente a funções diagramaticamente.
75

Uma maneira informal de se ver o que o axioma garante é a seguinte: tendo


uma quantidade de cestas (talvez infinitas) com, cada uma, tendo pelo menos um
objeto, o axioma garante que podemos pegar exatamente um objeto de cada cesta e
formar um conjunto com esses objetos. Vendo dessa forma, o axioma parece dizer o
obvio, mas não é possível obter o axioma de afirmações mais fundamentais.

Existem casos, mesmo com


È È∈Ê infinito, em que não é necessário o

se pode exibir explicitamente uma função escolha }: Λ → `È∈Ê È tal que }?Ç) ∈ È
axioma da escolha para garantir a existência do conjunto escolha, mas nesses casos

para todo Ç ∈ Λ. No caso geral, ou seja, para uma família


È È∈Ê qualquer não
vazia de conjuntos È não vazios, nem sempre é possível exibir tais funções, mas o
axioma da escolha garante que elas existem.

Um exemplo simples de situação onde se usa o axioma da escolha é quando,

construímos um conjunto  ⊂ V “escolhendo” um elemento de cada classe de


tendo um conjunto X não vazio, criamos uma relação de equivalência E em X e

equivalência (sem uso de uma regra para obter esses elementos). Os elementos
“escolhidos”, nesse caso, são chamados de representantes das classes de
equivalência. O teorema abaixo, que será muito utilizado ao longo do texto, ilustra
esse procedimento.

Teorema 4.1.1: Seja }:  → . uma função sobrejetora. Existe ~ ⊂ } tal que


~: V → . é uma bijeção, onde V = s?~) ⊂ .

Demonstração: Construamos uma relação de equivalência em  da


seguinte forma: , › ∈  são equivalentes se }?) = }?› ). De } ser sobrejetora
temos que, para cada  ∈ ., existe } ^S ?
 ) = £¤ para algum  ∈  e esse £¤ é uma

tenhamos V com um elemento de cada classe de equivalência. Assim, ~: V → . é


classe de equivalência pela definição de pré-imagem. Usando o axioma da escolha,

sobrejetora, pois ~?V) = . por V possuir um elemento de cada classe de


equivalência, e é injetora, já que, se , › ∈ V, então £¤ ≠ £› ¤ e, portanto, }?) ≠
}?› ).

QED

Com um certo abuso de linguagem, podemos chamar ~: V → . de }: V → .,


pois apenas se mudou o domínio da função (mas também podemos usar ~ = }{ ). É
possível também restringir o domínio junto ao contradomínio da função em alguns
casos, mas deve-se sempre tomar os devidos cuidados com essas “manobras”.

4.2 – Generalização do produto cartesiano

Tendo a idéia de par ordenado e produto cartesiano, definimos o conceito de


função. Agora usaremos funções para redefinir a noção de produto cartesiano entre
dois conjuntos.

cartesiano entre A e B, denotado por  × ., o conjunto de todas as funções }:


1,2 →
Definição 4.2.1: Dados os conjuntos A e B, chamamos de produto
76

 ∪ . tais que }?1) ∈  e }?2) ∈ .. Ou seja, é o conjunto  × . =


}:
1,2 →  ∪
.|}?1) ∈   }?2) ∈ . .

Ainda podemos dizer que o conjunto  × . é o conjunto de todos os pares


ordenados ?, ) com  ∈  e  ∈ .. Para isso, dizemos que o par ordenado ?, ) é a
função }:
1,2 →  ∪ . em que }?1) =  ∈  e }?2) =  ∈ .. Ou seja, ?, ) é uma
função em que  é a imagem de 1 (por ser a primeira coordenada) e  a imagem de
2 (por ser a segunda coordenada).

ATENÇÃO: Essa forma de tomar par ordenado e produto cartesiano não é


rigorosamente igual a que já foi apresentada anteriormente e, portanto, o par
ordenado usado quando definimos conceitos anteriores como, por exemplo, funções
não é o mesmo apresentado aqui. Mas, para efeitos práticos, não distinguiremos
eles.

Exemplo 4.2.1: Usemos a definição para construir o conjunto  × . em que


A={a,b} e B={1,2,3}.

Devemos encontrar todas as funções possíveis de se fazer com


1,2 sendo o
domínio,  ∪ . =
, , 1,2,3 sendo o contradomínio e tendo }?1) ∈  e }?2) ∈ ..
Listemo-las:

}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 1 = ?, 1)
}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 2 = ?, 2)
a)

}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 3 = ?, 3)
b)

}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 1 = ?, 1)
c)

}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 2 = ?, 2)
d)

}:
1,2 →  ∪ . tal que }?1) =  e }?2) = 3 = ?, 3)
e)
f)

Ou seja,  × . =
?, 1), ?, 2), ?, 3), ?, 1), ?, 2), ?, 3) , mas com esses pares
ordenados definidos como acima.

Exercício 4.2.1: Construa o conjunto  × . tal que A={x,y,z} e B={k,l,m} da


forma como foi feita acima.

Ainda não acrescentamos nada de novo em termos práticos, pois já tínhamos


uma definição de produto cartesiano e apenas a substituímos por outra. Mas,
usando a mesma idéia, podemos definir o produto cartesiano entre um número
finito de conjuntos como segue abaixo.

Definição 4.2.2: Sendo


Z \Z[S uma família de conjuntos Z não vazios, o
produto cartesiano entre os conjuntos dessa família, denotado por S × ' × ⋯ × \ ,
é o conjunto de todas as funções }:
1,2, ⋯ ,  → `\Z[S Z tais que }?) ∈ Z para todo
 ∈
1,2, ⋯ ,  . Ou seja:

S × ' × ⋯ × \ = ½¸}:
1,2, ⋯ ,  → Y Z Õ }?) ∈ Z    ∈
1,2, ⋯ ,  Ö
Z[S
77

Nesse caso, as funções são chamadas de n-uplas e denotadas por ?S , ⋯ , \ ),


onde Z = }?) ∈ Z . O papel da função }:
1,2, ⋯ ,  → `\Z[S Z é, então, dispor os
elementos
S , … , \ , com Z ∈ Z , numa ordem: o 1 tem como imagem um elemento
de S e está associado à primeira coordenada, o 2 tem como imagem um elemento
de ' e está associado à segunda coordenada e assim por diante até chegar a \ .

 × . × ;.
Exemplo 4.2.2: Sendo A={a,b}, B={b,c} e C={x,y}, encontremos o conjunto

Primeiro notemos que são três conjuntos que compõem o produto cartesiano.

funções com domínio {1,2,3} e contradomínio  ∪ . ∪ ; =


, , , , ‡ tais que
Então o conjunto de índices é {1,2,3}. Como antes, devemos encontrar todas as

}?1) ∈ , }?2) ∈ . e }?3) ∈ ;. Façamos a lista delas:

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) = ‡ = ?, , ‡)
a)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
b)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) = ‡ = ?, , ‡)
c)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
d)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) = ‡ = ?, , ‡)
e)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
f)

}:
1,2,3 →  ∪ . ∪ ; tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) = ‡ = ?, , ‡)
g)
h)

Assim, o conjunto procurado é  × . × ; =


?, , ), ?, , ‡), ?, , ),
?, , ‡), ?, , ), ?, , ‡), ?, , ), ?, , ‡) , com essas trincas ordenadas definidas
como feito acima.

conjunto  × . × .
Exercício 4.2.2: Com os conjuntos A e B definidos como acima, construa o

basta tomar um conjunto não vazio de índices qualquer, Λ.


É possível generalizar ainda mais o conceito de produto cartesiano. Para isso

Definição 4.2.3: Seja


È È∈Ê uma família não vazia de conjuntos não vazios
È . O produto cartesiano entre esses conjuntos, denotado por ∏È∈Ê È é o conjunto
de todas as funções }: Λ → `È∈Ê È tais que }?Ç) ∈ È para todo Ç ∈ Λ. Ou seja:

Ù È = Ú¸}: Λ → Y ÈÑ Õ }?Ç′) ∈ ÈÑ   Ǜ ∈ ΛÛ


È∈Ê ÈÑ ∈Ê

Nas duas primeiras definições, representamos os elementos do produto

representação. Assim, chamamos os elementos de ∏È∈Ê È de ∏È∈Ê?È ), onde È ∈


cartesiano por listas ordenadas, mas geralmente não é possível fazer tal

È . No caso particular de Λ =
1,2, ⋯ ,  , ∏Z∈ℕÜ Z = S × ' × ⋯ × \ e ∏Z∈ℕÜ ?Z ) =
?S , ⋯ , \ ) onde Z ∈ Z .

Também é possível usar a notação ∏È∈Ê?È ) = ?È )È∈Ê , que é um pouco mais
curta. Nesse caso, ∏Z∈ℕÜ?Z ) pode ser escrito como ∏Z∈ℕÜ?Z ) = ?Z )\Z[S . Como se pode
78

conjuntos indexados. Podemos pensar ?È )È∈Ê como um “conjunto ordenado” de


ver, essa é uma notação semelhante à apresentada na secção anterior para

elementos È .

Se por acaso todos os È forem iguais, chamamos esses de A (È =  para


todo Ç ∈ Λ) e usamos a notação ∏È∈Ê È = Ê . Por exemplo, podemos chamar o
produto cartesiano ℝ × ℝ de ℝ
S,' , mas é mais comum ser escrito como ℝ' . Com as
generalizações, podemos ainda ter ℝ& = ℝ
S,',& , ℝ\ = ℝ
S,',⋯,\ e até mesmo
ℝℕ = ℝ
S,',⋯ (esse último mais comumente representado por ℝÉ ). Vemos que Ê é o
conjuntos de todas as funções de Λ em A, afinal, }: Λ → `È∈Ê È = }: Λ → A quando
todos os È são iguais. Em particular, se Λ = A, então }: Λ → A = }: A → A e, assim,
Ý é o conjunto de todas as funções de A em A.

Exemplo 4.2.3: Sendo  =


,  , o conjunto & é o conjunto de todas as
funções }:
1,2,3 →  ∪  ∪  = }:
1,2,3 → 

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
a)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
b)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
c)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
d)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
e)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
f)

}:
1,2,3 →  tal que }?1) = , }?2) =  e }?3) =  = ?, , )
g)
h)

& =
?, , ), ?, , ), ?, , ), ?, , ), ?, , ), ?, , ), ?, , ),
?, , ) .
Ou seja,

Podemos observar que todas as funções usadas nas definições apresentadas


são funções escolha. Então o que foi feito nos exemplos 4.2.1, 4.2.2 e 4.2.3 é

garante que o produto cartesiano ∏È∈Ê È é não vazio sempre que Λ é não vazio e
encontrar todas as funções escolha. Vemos, então, que o Axioma da Escolha

nenhum È é vazio. Incrivelmente, não seria possível, sem o Axioma da Escolha,


demonstrar de forma geral que o produto cartesiano entre conjuntos não vazios é
não vazio.

Exemplo 4.2.4: Um tipo de função especialmente importante (em especial

Sendo
È È∈Ê uma família não vazia de conjuntos È não vazios, a projeção
na Topologia) com domínio sendo um produto cartesiano são as projeções canônicas.

canônica sobre o conjunto ÈÞ (ÇÓ ∈ Λ é um índice fixo) é a função ÈÞ : ∏È∈Ê È → ÈÞ
tal que ÈÞ ??È )È∈Ê ) = ÈÞ . O que a função faz, na verdade, é simples: sabendo que
?È )È∈Ê é uma função escolha e a imagem possui um elemento È de cada È (em
especial, um elemento ÈÞ ∈ ÈÞ ), a projeção canônica “pega”, na imagem de cada
?È )È∈Ê , o elemento que pertence a ÈÞ e “devolve” ao conjunto ÈÞ .

ÈÞ ∈ ÈÞ , então existe uma função escolha ?}: Λ → `È∈Ê È ) ∈ ∏È∈Ê È tal que
Demonstremos que toda projeção canônica é sobrejetora. Com efeito, se
79

}?ÇÓ ) = ÈÞ . Ou seja, existe ?}: Λ → `È∈Ê È ) ∈ ∏È∈Ê È tal que ÈÞ ??È )È∈Ê ) = ÈÞ ,
mostrando que a função é sobrejetora (lembrando que ?È )È∈Ê = }: Λ → `È∈Ê È ).

No caso especial de Λ =
1,2, ⋯ ,  = ℕß , a função ZÞ : ∏Z∈ℕÜ Z → ZÞ tal que
ZÞ ?S , ⋯ , \ ) = ZÞ é a projeção canônica sobre ZÞ (lembrando que ∏Z∈ℕÜ Z = S ×
' × ⋯ × \ ). Pode-se observar que existe uma projeção canônica sobre cada

canônicas. No exercício 12, Exercícios II – 1, as funções { e | lá definidas são


conjunto do produto cartesiano. Ou seja, no caso dado, existem n projeções

projeções canônicas sobre X e Y respectivamente.

Exercício 4.2.3: Mostre que, se ÈÞ : ∏È∈Ë È → ÈÞ é injetora para algum
ÇÓ ∈ à, então ÈÑÞ : ∏È∈Ë È → ÈÑÞ é injetora para todo Ç›Ó ∈ Λ. Ou seja, se uma projeção
canônica é bijetora (já que todas são sobrejetoras), todas as outras são. SUGESTÃO:

ÈÞ : ∏È∈Ë È → ÈÞ não é injetiva (contrariando a hipótese).


Suponha que alguma outra não seja injetiva e mostre que isso implica que a

conjunto ÈÑÞ do produto cartesiano é não unitário, ÈÑÞ : ∏È∈Ë È → ÈÑÞ não é injetora.
Exercício 4.2.4: No exercício anterior, mostre, no entanto, que, se algum

Assim, nenhuma projeção canônica será injetiva se algum conjunto ÈÑÞ possuir mais
de um elemento. SUGESTÃO: Tome dois elementos distintos ?È )È∈Ê e ?ț )È∈Ê com
todo È = ț para Ç ≠ Ç›Ó e ÈÞ ≠ ț Þ .

Definimos o produto cartesiano entre conjuntos não vazios como um


conjunto de funções escolha, mas não devemos abandonar a noção intuitiva que já
tínhamos de produto cartesiano. Embora seja necessário saber que os elementos do
produto cartesiano são funções (funções escolha) em alguns casos, podemos

“conjuntos ordenados”. Por exemplo, não é necessário saber que os elementos de ℝ'
“esquecer” esse detalhe caso o interesse seja apenas no fato dos elementos serem

são funções escolha de {1,2} em ℝ para trabalhar com relações de equivalência em


ℝ.

Exercícios II – 4
1 – Sejam  e . conjuntos não vazios e — ⊂  × . uma relação binária de 
em .. Use o axioma da escolha para mostrar que existe } ⊂ — tal que } define uma
função }: s?—) → ™?—). Ou seja, mostre que toda relação binária contém uma

equivalência na imagem de — de forma que, sendo ,  ∈ ™?—),  ∼  se existe  ∈ 


função com mesmo domínio da relação. SUGESTÃO: Defina uma relação de

tal que ?, ), ?, ) ∈ —.

2 – Considere a família de conjuntos não vazios


∏Ô∈â ÔÈ È∈Ê . Mostre que:

Y ]Ù ÔÈ _ ⊂ Ù ]Y ÔÈ _
È∈Ê Ô∈â Ô∈â È∈Ê

Essa é uma generalização do exercício 4, Exercícios II – 3.


80

5 – Operações Unárias e Binárias; Estruturas Algébricas


Básicas
5.1 – Operações e Relações

Definição 5.1.1: Uma operação é uma função }: Ê → , onde A é não vazio


e Λ um conjunto de índices não vazio.

que o conjunto Ê é não vazio. Quando o conjunto Λ é finito, a operação é dita


O Axioma da Escolha garante que essa função sempre existe, pois garante

finitária e é possível nesse caso, como foi feito na secção anterior, tomar Λ = ℕß sem
perda de generalidade. Assim, a operação }: Ê →  toma a forma }: ℕÜ →  ou
}: ß → , que é mais comum e conveniente, e é chamada de operação n-ária.

Exemplo 5.1.1: Seja }: ℝß → ℝ definida da seguinte forma: ?S , … , \ ) ↦


“Ã x⋯x“ã
\
. Essa é uma operação n-ária sobre ℝ. Por exemplo, podemos ter }: ℝ& → ℝ
“x’x‰ 'xSx&
tal que ?, ‡, ž) ↦ &
e, nesse caso, }?2,1,3) = &
= 2.

Em particular, uma operação 2-ária é uma função do tipo }: ' →  e uma


operação 1-ária uma função do tipo }:  → . Mais comumente, esses tipos de
operações são referidos por binária e unária, respectivamente, e são os casos de
maior relevância.

reais. A operação soma é a função +: ℝ' → ℝ tal que +?, ‡) =  + ‡.


Exemplo 5.1.2: Um exemplo de operação binária é a soma de números

Exemplo 5.1.3: Nos reais também é possível encontrar um exemplo simples

Ou seja, }: ℝ → ℝ tal que }?) = −.


de operação unária. Esse é a operação que leva cada elemento a seu oposto aditivo.

Analogamente, uma relação — ⊂ Ê é dita ser uma relação finitária quando


Λ é finito. Como anteriormente, nos casos em que R é uma relação finitária,
podemos tomar Λ = ℕß sem perda de generalidade e, nesse caso, R é dita uma

binária, ou seja, — ⊂ ' ) e exemplos relevantes desse tipo de relação já foram


relação n-ária. O tipo mais importante de relação já foi apresentado: é a 2-ária (ou

apresentados no capítulo anterior.

da operação }: Ê →  a cardinalidade do conjunto Λ. Por exemplo, o tipo de uma


Um detalhe adicional, em relação à nomenclatura, é que chamamos de tipo

função binária é 2. Analogamente, o tipo de uma relação — ⊂ Ê é a cardinalidade


de Λ.

5.2 – Comutatividade, associatividade e distributividade

binárias, chamada de notação mesofixa. Dada uma operação binária ä: ' → ,


Inicialmente, devemos introduzir uma notação muito comum para operações

temos que ?, ‡) ↦ ä?, ‡), mas é mais comum que se represente como ?, ‡) ↦ ä‡,
ou seja, colocando o símbolo da operação entre as duas coordenadas. Um exemplo é
81

a operação soma entre números reais, +: ℝ' → ℝ, onde, sendo , ‡ ∈ ℝ,


simbolizamos +?, ‡) por  + ‡.

Definição 5.2.1: Uma operação ä: ' →  é dita comutativa quando, para


todo , ‡ ∈ , ä?, ‡) = ä?‡, ), ou seja, em notação mesofixa, quando ä‡ = ‡ä. É
comum também que se chamem operações binárias comutativas de abelianas.

Definição 5.2.2: Uma operação ä: ' →  é dita associativa quando, para


todo , ‡, ž ∈ , äa, ä?‡, ž)b = ä?ä?, ‡), ž), ou seja, em notação mesofixa, quando
ä?‡äž) = ?ä‡)äž. Nesse caso, não há ambigüidade ao se escrever ä‡äž (e
usaremos esse fato inúmeras vezes).

Exemplo 5.2.1: Exemplos bem familiares de operações que possuem essas

que, sendo +: ℝ' → ℝ e ∙: ℝ' → ℝ as operações soma e multiplicação


duas propriedades são a soma e multiplicação de números reais. De fato se sabe

respectivamente,  +  =  + ,  ∙  =  ∙ ,  + ? + ) = ? + ) +  e  ∙ ? ⋅ ) =
? ⋅ ) ⋅ .
“x’
Exemplo 5.2.2: Tomemos a operação ä: ℝ' → ℝ definida por ä‡ = '
.
“x’ ’x“
Essa operação é comutativa, mas não é associativa. De fato, '
= '
pelo próprio
åÒæ
“x '“x’x‰
fato da operação soma ser comutativa e, por um lado, ä?‡äž) = 'µ = w ,
ÄÒå

mas, por outro lado, ?ä‡)äž =
“x’x'‰ '“x’x‰
µ
'
= w
, que, em geral, é diferente de w
e,
portanto, de ä?‡äž).

Exercício 5.2.1: Dê um exemplo de operação entre números reais que não


seja comutativa.

Observação: Podem-se definir operações nos conjuntos numéricos (tais


como os reais, racionais, etc.) e chamá-las de multiplicação ou adição (soma) sem
que sejam o que normalmente chamamos de soma ou multiplicação (às vezes, nem
mesmo possuem características que normalmente atribuímos a essas operações).
Por isso será comum usarmos os termos multiplicação usual e adição usual para
nos referirmos as operações multiplicação e adição como normalmente são
definidas. Mas, se não for dito o contrário, sempre estaremos nos referindo às soma
e multiplicação usuais.

Abaixo está definida outra propriedade importante envolvendo operações


binárias, mas, nesse caso, a propriedade é uma relação entre duas operações.

Definição 5.2.3: Sejam ä: ' →  e ç: ' →  duas operações binárias.


Dizemos que a operação ä é distributiva à esquerda em relação à ç quando, para
todo , ‡, ž ∈ , äa, ç?‡, ž)b = çaä?, ‡), ä?, ž)b, ou seja, em notação mesofixa,
ä?‡çž) = ?ä‡)ç?äž).

Definição 5.2.3: Sejam ä: ' →  e ç: ' →  duas operações binárias.


Dizemos que a operação ä é distributiva à direita em relação à ç quando, para todo
82

, ‡, ž ∈ , ä?ç?, ‡), ž) = çaä?, ž), ä?‡, ž)b, ou seja, em notação mesofixa,


?ç‡)äž = ?äž)ç?‡äž).

Quando uma operação ä é distributiva tanto pela esquerda quanto pela


direita em relação à ç, dizemos simplesmente que a operação ä é distributiva em
relação à ç. Naturalmente, se as operações ä e ç são comutativas, a operação ä é
distributiva à esquerda em relação à ç se, e somente se, é distributiva à direita. Na
verdade, a comutatividade apenas de ä já garante que, se ä é distributiva à
esquerda de ç, também é à direita (e vice-versa).

Exercício 5.2.2: Mostre isso.

Exemplo 5.2.3: Novamente temos como exemplo a multiplicação e soma

à soma, ou seja,  ∙ ?‡ + ž) = ?‡ + ž) ∙  = ? ∙ ‡) + ? ∙ ž). É esse fato que nos


entre reais. Afinal é bem conhecida a distributividade da multiplicação em relação

permite, tendo definido 1 + 1 ≔ 2 e sabendo que  = 1 ∙ , que afirmemos que


 +  = 2 ∙ . De fato, pois  +  = 1 ∙  + 1 ∙  = ?1 + 1) ∙  = 2 ∙ .

Exercício 5.2.3: Por que, no Capítulo I, foi um abuso de linguagem chamar


as propriedades demonstradas nos teoremas 2.2.1, 2.2.2 e 2.2.3 de
distributividades?

sabemos do capítulo anterior que as operações binárias ∪ e ∩ (união e intersecção),


Exemplo 5.2.4: Sendo A um conjunto e P(A) o conjunto das partes de A, já

definidas de ?)' em ?), são distributivas uma em relação à outra. Essas


também são exemplos de operações comutativas e associativas.

5.3 – Grupos

Começaremos a apresentar agora algumas estruturas algébricas, mas, para


tanto, devemos saber antes o que é uma estrutura e como a representamos.

Definição 5.3.1: Seja A um conjunto não vazio, ℱ uma coleção de operações


(não necessariamente finitárias) sobre A e ℛ uma coleção de relações (não
necessariamente finitárias) sobre A. Chama-se estrutura sobre A a tripla ?, ℱ, ℛ).

A notação não é fixa e tanto ℱ quanto ℛ podem ser vazios. Se ℛ = ∅, mas


ℱ ≠ ∅, então o par ?, ℱ) é chamado de estrutura algébrica (foco do que será
apresentado). Mas, quando ℱ = ∅ e ℛ ≠ ∅, o par ?, ℛ) é chamado de estrutura
relacional. É comum que, quando a estrutura é subentendida, escrever
simplesmente A para indicar a estrutura sobre o conjunto A.

Exemplo 5.3.1: Um exemplo de estrutura algébrica pode ser construído a


partir do Exemplo 5.2.4. Tomando um conjunto A e seu conjunto das partes, P(A),

e intersecção entre elementos de P(A). Representamos essa estrutura por ??),∪


podemos criar uma estrutura algébrica sobre P(A) introduzindo as operações união

,∩). Vemos que a notação para estruturas é flexível e é comum explicitar as


operações de uma estrutura algébrica. O importante ao se representar uma
estrutura é que esteja claro de qual estrutura se está tratando.
83

Definição 5.3.2 (grupo): Seja G um conjunto e ∗: œ ' → œ uma operação


binária, chamada produto, sobre G. Dizemos que a estrutura ?œ,∗) é um grupo
quando as seguintes condições forem satisfeitas:

a) Para todo , ,  ∈ œ vale que  ∗ ? ∗ ) = ? ∗ ) ∗  (associatividade).


b) Existe um elemento  ∈ œ tal que, para todo  ∈ œ,  ∗  =  ∗  = 

c) Para todo  ∈ œ existe um elemento  tal que  ∗  =  ∗  = . Comumente


(elemento neutro).

representamos esse elemento b por ^S (elemento inverso).

Quando, além de apresentar essas propriedades, o produto ∗ for comutativo,


o grupo é chamado de grupo Abeliano.

A definição de grupo é simples, mas, por exigir poucas propriedades, existe


uma grande variedade de estruturas que são grupos. A Teoria de Grupos é a parte
da matemática que estuda as propriedades dessas estruturas. Infelizmente, na
situação pedestre que nos encontramos, não será possível explicitar a importância
dos grupos nem suas aplicações, pois essas aparecem em assuntos avançados de
Matemática e Física (na Física, ganha destaque uma classe de grupos chamados
grupos de Lie).

Algumas propriedades elementares dos grupos são apresentadas abaixo.

Teorema 5.3.1: Seja ?œ,∗) um grupo. Então valem as seguintes afirmações:

Sendo  ∈ œ, o elemento inverso de ,  ^S, é único.


a) O elemento neutro, e, é único.

?^S )^S =  para todo  ∈ œ.


b)

Valem as leis de corte  ∗  =  ∗  ⇒  =  e  ∗  =  ∗  ⇒  =  para todo


c)

, ,  ∈ œ.
d)

e) Para todo ,  ∈ œ as equações  ∗  =  e ‡ ∗  =  possuem solução única


em G.

Demonstração: (a): Suponhamos que exista um elemento  › tal que


 › ∗ ~ = ~ para todo ~ ∈ œ. Então  › =  › ∗  = , mostrando a unicidade.
› ›
(b): Suponhamos que exista ^S tal que  ∗ ^S = . Então, usando a
associatividade, ^S =  ^S ∗  = ^S ∗ a ∗  ^S b = ?^S ∗ ) ∗  ^S =  ∗ ^S = ^S ,
› › › ›

mostrado a unicidade. Naturalmente, o inverso de  é ele próprio, pois  ∗  = .

(c): Usando a associatividade:

? ^S )^S = ?^S )^S ∗  = ?^S )^S ∗ ? ^S ∗ ) = ?? ^S )^S ∗  ^S ) ∗  =  ∗  = 

(d): Se  ∗  =  ∗ , então:

? ∗ ) ∗  ^S = ? ∗ ) ∗  ^S ⟹  ∗ ? ∗  ^S ) =  ∗ ? ∗  ^S )

⟹∗ =∗ ⟹=


84

Analogamente se demonstra a segunda parte da afirmação.

(e): Se  ∗  = , então:

^S ∗ ? ∗ ) = ^S ∗  ⟹ ? ^S ∗ ) ∗  = ^S ∗ 

⟹  ∗  =  ^S ∗  ⟹  = ^S ∗ 

Analogamente se demonstra a segunda parte da afirmação.

QED

Exercício 5.3.1: Sendo ?œ,∗) um grupo, mostre que, para quaisquer ,  ∈ œ,


? ∗ )^S =  ^S ∗  ^S . Observe que, se œ é Abeliano, ? ∗ )^S = ^S ∗  ^S (mostre que
isso só ocorre se œ é Abeliano).

Exemplo 5.3.2: A estrutura ?ℤ, +) é um grupo Abeliano, pois a operação


soma é associativa e comutativa. Além disso, existe um elemento neutro da soma,
0, e, para cada elemento  ∈ ℤ, existe um elemento chamado –  tal que  + ?−) =
0.

estrutura ??), ∆), onde ∆: ?)' → ?) é a operação diferença simétrica, é um


Exemplo 5.3.3: Seja A um conjunto e P(A) o conjunto das partes de A. A

neutro é o conjunto vazio e, para cada  ∈ ?), tem-se ∆ = ∅, ou seja, A é seu
grupo Abeliano. De fato é, pois a operação é associativa, comutativa, o elemento

próprio elemento inverso.

Exemplo 5.3.4: Outro exemplo simples de grupo é a estrutura ?ℤw , ⨁) onde


ℤw =
0,1,2,3 e a adição entre ,  ∈ ℤw é definida como sendo a ⨁ = r 
Rx
w
.
Mas a notação mais comumente empregada para representar esse resto é
Rx
r  = £ + ¤?4) (lê-se “a mais b módulo quatro”). Por exemplo,
w
3 ⨁ 2 = £3 + 2¤?4) = 5 ?4) = 1, pois 1 é o resto da divisão de 5 por 4.
Demonstremos que essa estrutura é um grupo Abeliano.

A operação é associativa e comutativa, pois ?⨁)⨁ = £? + ) +


¤?4) = £ + ? + )¤?4) = ⨁?⨁) ⨁ = £ + ¤?4) = £ +
¤?4) = ⨁. O elemento neutro da operação é o elemento 0, pois ⨁0 =
e

£ + 0¤?4) =  ?4) = , afinal, lembremos que  ∈


0,1,2,3 . O elemento
inverso de um  ∈ ℤw é o elemento ^S = £4 − ¤?4). Para mostrar isso, primeiro
demonstremos que ^S ∈ ℤw . De fato isso acontece, pois  ∈ ℤw , e, dessa forma,
0 < 4 −  < 4 quando  ≠ 0 e, portanto ^S = £4 − ¤?4) = 4 −  ∈ ℤw nesse caso.
Mas, se  = 0, ^S = 4 ?4) = 0 (o resto de 4 dividido por 4 é 0). Conclui-se,
então, que ^S ∈ ℤw . Agora, demonstremos que esse ^S é realmente o inverso de .
De fato, afinal, ⨁^S = £ + ?4 − )¤?4) = 4 ?4) = 0. Mostramos, portanto,
que ?ℤw , ⨁) é um grupo.
85

O que foi feito acima é facilmente generalizado para mostra que ?ℤ\ , ⨁) é
um grupo, onde n é um natural, ℤ\ =
0,1,2,3, ⋯ ,  − 1 e ⨁ = r 
Rx
\
= £ +
¤?): basta substituir 4 por n.

Observação: Passaremos a adotar a notação ℤ\ =


0,1,2,3, ⋯ ,  − 1 .

Grupos podem ser finitos ou infinitos. O grupo apresentado no Exemplo


5.3.2 é infinito, mas, no Exemplo 5.3.4, o grupo é claramente finito. Damos o nome
de ordem do grupo à cardinalidade do conjunto do grupo. Embora a maioria dos
exemplos que podemos encontrar de grupos sejam infinitos, existem muitos grupos
finitos importantes.

Para grupos finitos, é possível construir uma tabela, chamada tabela de


Cayley, onde a primeira linha possui o símbolo da operação e um elemento do grupo
em cada outro espaço da linha e o mesmo acontece na primeira coluna. O resultado

coluna dos elementos em questão. Por exemplo, o resultado de  ∗  está no


da operação entre dois elementos é escrito no espaço onde se cruzam a linha e a

cruzamento da linha de  com a coluna de . Como exemplo, façamos a tabela de ℤw


com a operação ⨁ definida acima.

Exemplo 5.3.5: A estrutura ?ℕ,∙) não é um grupo, pois, embora o produto de


números naturais seja associativo e possua elemento neutro, 1, apenas o número 1

satisfeitas, chamamos a estrutura de monóide. Ou seja, a estrutura ?ℕ,∙) é um


possui elemento inverso. Quando apenas essas duas características de grupo são

monóide (mais especificamente, monóide Abeliano, pois a operação também é


comutativa).

Ao tomarmos um subconjunto î ⊂ œ, onde G é um grupo, é interessante


verificar se H é, ele mesmo, um grupo com relação à mesma operação.
Naturalmente, como se trata da mesma operação que torna G um grupo, a operação
já é associativa, mas seguem na definição abaixo as outras condições que tornam H
um grupo.

Definição 5.3.3: Seja ?œ,∗) um grupo, onde e é o elemento neutro, e î ⊂ œ.


Dizemos que H é um subgrupo de G quando:

a) ℎS ∗ ℎ' ∈ î para todo ℎS , ℎ' ∈ î.


86

b)  ∈ î
c) Se ℎ ∈ î, então ℎ^S ∈ î.

Claro, sempre se tem que


 e G são subgrupos de G. O subgrupo
 é dito
trivial.

Exercício 5.3.2: Mostre que a condição (b) da definição acima decorre, na


verdade, das condições (a) e (c).

Exemplo 5.3.6: A estrutura ?, +), onde  =


⋯ , −4, −2,0,2,4, ⋯ é o
conjunto dos números pares, é um subgrupo de ?ℤ, +). Com efeito, se  e  são
números pares, então  +  é um número par (verifique sabendo  =
 ∈ ℤ| =
2  ˜~=  ∈ ℤ ), o elemento neutro, 0, pertence ao conjunto P e, se  ∈ ,
então –  ∈ , já que, se  = 2, para algum n inteiro, então − = −2 = 2′, onde
› = −, que é um número inteiro.

5.4 – Anéis

operações binárias, +: ' →  e ∙: ' → . A estrutura ?, +,∙) é dita um anel quando
Definição 5.4.1 (anel): Seja A um conjunto onde estão definidas duas

são satisfeitas as seguintes condições:

Para todo ,  ∈   +  =  +  (comutatividade de +).


Para todo , ,  ∈   + ? + ) = ? + ) +  (associatividade de +).
a)

Existe um elemento 0 tal que  + 0 = 0 +  =  (elemento neutro de +).


b)
c)
Para todo  ∈  existe um elemento denominado –  tal que  + ?−) =
?−) +  = 0 (elemento inverso por +).
d)

e) Para todo , ,  ∈   ∙ ? ∙ ) = ? ∙ ) ∙  (associatividade de ∙).


f) Para todo , ,  ∈   ∙ ? + ) =  ∙  +  ∙  e ? + ) ∙  =  ∙  +  ∙ 

(operação ∙) nem essa precisa ser comutativa. Como se pode ver, todo anel é um
Observação: Não é exigido um elemento neutro para a multiplicação

grupo Abeliano em relação à adição (operação +) e, assim, o que já foi demonstrado


para grupos continua valendo para a adição no anel. É comum que um anel tenha

 ∙ 1 = 1 ∙  =  para todo  ∈  e alguns autores até incluem essa propriedade como


elemento neutro para a multiplicação, ou seja, um elemento, chamado de 1, tal que

exigência na definição de anel, mas aqui chamaremos tais anéis de anéis com
unidade.

Anéis são presentes em quase toda a matemática e também possuem uma


área destinada ao estudo de suas propriedades, a Teoria de Anéis.

Exemplo 5.4.1: Um exemplo de anel é a estrutura ?ℤ, +,∙). Mais


especificamente, esse anel é um anel comutativo com unidade, pois a operação
multiplicação é comutativa e existe elemento neutro para essa, o número 1.

5.5 – Corpos
87

Definição 5.5.1 (corpo): Seja ï um conjunto onde estão definidas duas


operações binárias, +: ï' → ï e ∙: ï' → ï. A estrutura ?ï, +,∙) é dita um corpo
quando são satisfeitas as seguintes condições:

1 – Propriedades da adição (+):

a) Para todo ,  ∈   +  =  +  (comutatividade de +).


b) Para todo , ,  ∈ ï  + ? + ) = ? + ) +  (associatividade de +).
c) Existe um elemento 0 ∈ ï, chamado de elemento nulo, tal que  + 0 = 0 +
 =  (elemento neutro de +).
d) Para todo  ∈ ï existe um elemento denominado –  ∈ ï tal que  + ?−) =
?−) +  = 0 (elemento inverso por +).

2 – Propriedades da multiplicação ?∙):

a) Para todo ,  ∈ ï  ∙  =  ∙  (comutatividade de ∙).


b) Para todo , ,  ∈ ï  ∙ ? ∙ ) = ? ∙ ) ∙  (associatividade de ∙).
c) Existe um elemento 1 ≠ 0, chamado de unidade tal que  ∙ 1 = 1 ∙  = 
(elemento neutro de ∙).
d) Para todo  ∈ ?ï −
0 ) existe um elemento denominado  ^S ∈ ï tal que
 ∙ ^S = ^S ∙  = 1 (elemento inverso por ∙).

todo , ,  ∈ ï,  ∙ ? + ) =  ∙  +  ∙ . Naturalmente, é distributivo à direita


3 – Distributividade: o produto é distributivo em relação à adição. Ou seja, para

também, já que a multiplicação é comutativa.

A condição 1 ≠ 0 pode parecer estranha (tente não associar quantidades a

acontece se 1 = 0). Veremos mais adiante que as estruturas ?ℚ, +,∙) e ?ℝ, +,∙) são
esses símbolos), mas é necessária para não cair num caso trivial (verifique o que

corpos e, na verdade, não é de se espantar com isso, pois essas estruturas


inspiraram a definição posta.

Observação 1: É comum omitir o símbolo da multiplicação ao se fazer a


operação e faremos isso com freqüência.

Observação 2: É comum ser usada a notação ï −


0 = ï∗ e a usaremos.

Claramente, todo corpo é um grupo Abeliano, em relação à adição, e um


anel. Assim, o que foi demonstrado para grupos continua valendo para a adição em
um corpo. Um corpo não é um grupo em relação à multiplicação pelo simples fato

Mas ?ï∗ ,∙) é um grupo Abeliano e, assim, as propriedades demonstradas para


de 0 não possuir inverso multiplicativo (veja a afirmativa (a) do teorema abaixo).

grupos valem na multiplicação quando não consideramos o elemento 0. Algumas


outras propriedades gerais de corpos são apresentadas no teorema abaixo.

Teorema 5.5.1: Se ?ï, +,∙) é um corpo, então valem:

a)  ∙ 0 = 0 ∀ ∈ ï
b) Sendo ,  ∈ ï,  ∙  = 0 ⇔  = 0 ou  = 0.
88

c)  ∙ ?−) = ?−) ∙  = −? ∙ ) e ?−) ∙ ?−) =  ∙  (regras dos sinais).


d) Definindo  ∙  ≔ ' , se ' =  ' , então  = ±.

Lembrando que ∀ significa “para todo” e ⇔ significa “se, e somente se”.

Demonstração: (a): Usando a distributividade,  ∙ 0 +  =  ∙ 0 +  ∙ 1 =  ∙


?0 + 1) =  ∙ 1 = . Ou seja,  ∙ 0 +  =  =  + 0, que, sabendo que vale a lei de
corte para a soma, equivale a  ∙ 0 = 0.

(b): Como  e  são arbitrários, suponhamos que  ≠ 0. Assim, sendo


 ∙  = 0, temos, ao multiplicar ambos os lados por  ^S, que  ∙  ∙  ^S = 0 ∙  ^S =
0 ⇔  = 0.

(c): Usando a distributividade, temos  ∙ ?−) +  ∙  =  ∙ ?− + ) =  ∙ 0 =


0, onde usamos o que foi demonstrado em (a). Assim,  ∙ ?−) +  ∙  = 0 e, somando
– ? ∙ ) em ambos os lados, temos  ∙ ?−) +  ∙  + •– ? ∙ )– =– ? ∙ ) ⇔  ∙ ?−) +
0 =– ? ∙ ) ⇔  ∙ ?−) = −? ∙ ). De forma análoga se conclui que ?−) ∙  = −? ∙
). Usando esse fato, temos que ?−) ∙ ?−) = −£ ∙ ?−)¤ = −£−? ∙ )¤ =  ∙ .

(d): ' =  ' ⇔ ' + ?− ' ) = 0 ⇔  ∙  + £−? ∙ )¤ =  ∙  +  ∙  + £−? ∙ )¤ +
£−? ∙ )¤ =  ∙ ? + ) +  ∙ ?−) +  ∙ ?−) =  ∙ ? + ) + ? + ) ∙ ?−) = ? + ) ∙
 + ? + ) ∙ ?−) = ? + ) ∙ a + ?−)b = 0. Ou seja, ' + ?− ' ) = ? + ) ∙
a + ?−)b = 0. De (b), sabe-se que ? + ) ∙ a + ?−)b = 0 ⇔ ? + ) = 0 ou
a + ?−)b = 0, que ocorre só quando  = − ou  = .

QED

Exercício 5.5.1: Na letra (d) do teorema anterior, em cada passo da


demonstração, indique qual propriedade (de corpos) ou teorema foi utilizado.
SUGESTÃO: Lembre-se da validade do teorema demonstrado para grupos.

úteis (e bastante familiares nos corpos ℝ e ℚ). Para tanto, usaremos as notações
Através das propriedades dos corpos, é possível criar mais duas operações

 + ?−) =  − , essa chamada de diferença, e  ∙  ^S = /, chamada de quociente.


Claro, nesse último caso,  ≠ 0, pois 0 não possui inverso multiplicativo.

Definição 5.5.2: Sendo ?ï, +,∙) um corpo, as operações ^:ïµ →ï


?R,)↦R^ e /:ï×ï∗ →ï
?R,)↦R/
são chamadas, respectivamente, de subtração e divisão.

Algumas propriedades (bem familiares) da divisão estão listadas abaixo.

Teorema 5.5.2: Considerando o corpo ?ï, +,∙) e definida a operação divisão,


tem-se que:
R G RxGò
a) Sendo  ≠ 0 e  ≠ 0,  + ò =
ò
.
R G RG
b) Sendo  ≠ 0 e  ≠ 0, • – •ò– = ò.
R ^S 
c) Sendo  ≠ 0 e  ≠ 0, • – = R.

89

R G Rò
d) Sendo  ≠ 0,  ≠ 0 e  ≠ 0, Œ =
 ò G
.

que / =  ∙  ^S.


Exercício 5.5.3: Demonstre o teorema acima. SUGESTÃO: Lembre-se de

Exercício 5.5.4: Mostre que – ? + ) = − − . SUGESTÃO: Observe que


– ? + ) = −£1? + )¤.

Exemplo 5.5.1: Tomemos a estrutura ?ℤ' , ⨁, ⨀) onde a soma ⨁ é definida


como já foi feito e ⨀ ≔ £ ⋅ ¤?2), onde ⋅ é a multiplicação usual em ℤ.
Montemos a tabela de Cayley para a soma e multiplicação nessa estrutura, que,
como será mostrado, é um corpo:

Já sabemos que ?ℤ' , ⨁) é um grupo Abeliano, então as propriedades da


adição (em corpos) são satisfeitas (e observe o curioso fato de 1⨁1 = 0, mostrando
que 1 é seu próprio inverso). Devemos demonstrar, então, as propriedades da
multiplicação e a distributividade. Para a multiplicação, vemos na tabela que a

pois ?⨀)⨀ ≔ £? ⋅ ) ⋅ ¤?2) = £ ⋅ ? ⋅ )¤?2) = ⨀?⨀). Também se vê


operação é comutativa e a unidade é 1. A associatividade existe em geral,

mesmo. Distributividade se obtém vendo que ⨀?⨁) = £ ⋅ ? + )¤?2) =


que o único elemento diferente de 0 é 1 e o inverso multiplicativo desse é ele

£ ⋅  +  ⋅ ¤?2) = ?⨀)⨁?⨀). Mostramos, finalmente, que ?ℤ' , ⨁, ⨀) é um


corpo.

Pela definição de corpo que tomamos (exigindo 1 ≠ 0), o corpo construído no


exemplo anterior é o menor corpo que se pode obter. Note que a comutatividade,

imediatamente dessas propriedades na soma e produtos usuais em ℤ (verifique!).


associatividade, existência da unidade e a distributividade decorrem

Isso nos leva a questionar se a estrutura ?ℤ\ , ⨁, ⨀) não é um corpo para todo  > 1
natural. Na verdade, nem sempre ?ℤ\ , ⨁, ⨀) é um corpo porque nem sempre todos
os elementos diferentes de 0 possuem inverso multiplicativo por ⨀. No entanto, é
possível demonstrar (embora não façamos aqui) que ?ℤ\ , ⨁, ⨀) é um corpo se, e
somente se, n é primo.

Exemplo 5.5.2: Outro exemplo “exótico” de corpo é a estrutura aℚa√2b, +,⋅b,


onde as operações são as usuais do corpo dos reais e
ℚa√2b = W + √2 ∈ ℝ ¼ ,  ∈ ℚX, ou seja, conjunto dos números reais da forma
 + √2 com  e  racionais. Durante a demonstração que se segue, usaremos o fato
de ?ℚ, +,⋅) ser um corpo e alguns conhecimentos operacionais básicos.
90

Primeiro mostremos que aℚa√2b, +b é um subgrupo do grupo Abeliano


?ℝ, +). Com efeito, a + √2b + a + √2b = ? + ) + ? + )√2 ∈ ℚa√2b, 0 + 0√2 =
0 ∈ ℚa√2b e, se  + √2 ∈ ℚa√2b, então – a + √2b = − + ?−)√2 ∈ ℚa√2b.
Usamos, respectivamente, o fato da soma de racionais ser racional, 0 ser um
número racional e, se  é racional, então –  também é.

Para a multiplicação, observemos que a operação ⋅ é comutativa, associativa,


possui unidade e é distributiva em relação à + pelo simples fato dessas operações
serem as usuais. O que devemos mostrar é que a operação está bem definida, ou
seja, a + √2ba + √2b ∈ ℚa√2b e que, para todo  ∈ aℚa√2b −
0 b,  ^S pertence a
ℚa√2b.

a) a + √2ba + √2b =  + √2 ⋅ √2 + √2 + √2 = ? + 2) +


? + )√2. Isso mostra que a operação está bem definida, ou seja, que
a + √2ba + √2b ∈ ℚa√2b.
b) Seja  = a + √2b ∈ ℚa√2b com  ≠ 0 ou  ≠ 0 (de forma que  + √2 ≠ 0).
Nos reais, esse elemento possui inverso multiplicativo e, assim, existe
S
 ^S ∈ ℝ tal que  ^S = 1. Dessa forma, a + √2b ^S = 1 ⇔  ^S = =
aRx√'b
S aR^√'b R^√' R ?^)
⋅ = = + √2, mostrando que  ^S ∈ ℚa√2b.
aRx√'b aR^√'b R µ ^'µ R µ ^'µ R µ ^'µ
S aR^√'b

aRx√'b aR^√'b
Observe que só foi possível a manipulação pois, se b não é

nulo, √2 é irracional (a multiplicação de um racional não nulo por um


irracional é sempre irracional), fazendo com que a diferença  − √2 fosse,
garantidamente, não nula.

Definição 5.5.3: Um corpo ?ï, +,∙) é dito um corpo ordenado quando existe
um subconjunto próprio  ⊂ ï (chamado de conjunto dos números positivos) com as
seguintes propriedades:

a) ∀  ∈ ï, uma, e apenas uma, das seguintes opções é verdadeira:  ∈  ou


–  ∈  ou  = 0 (tricotomia).
b) Se ,  ∈ , então  +  ∈  (fecho por adição).
c) Se ,  ∈ , então  ∈  (fecho por multiplicação).

Usamos a notação  ≥  para indicar que  −  = 0 ou ? − ) ∈ . Também


é bastante comum ser usada a notação  >  para indicar que ? − ) ∈ . Um
resultado imediato é que, se  ∈ , então ? − 0) ∈  e, portanto,  > 0.

Demonstremos que se trata de uma relação de ordem total:

a) ∀  ∈ ï, evidentemente temos que  ≥ , pois  −  = 0 (reflexibilidade).


b) ∀ , ,  ∈ ï, temos que, se  ≥  e  ≥ , então  ≥ , afinal,  >  ⇔
? − ) ∈  e  >  ⇔ ? − ) ∈ , donde temos que ? − ) + ? − ) =
? − ) ∈  ⇔  >  (transitividade).
91

c) ∀ ,  ∈ ï,  ≥  e  ≥  implica a  = . De fato, já que não se pode ter


? − ) ∈  e ? − ) ∈  simultaneamente, concluímos que  −  = 0 (anti-

d) ∀ ,  ∈ ï ou  ≥  ou  ≥ . Isso é evidente pela definição (totalidade).


simetria).

Observação: Se omitiu os casos em que as diferenças são nulas por serem


casos triviais.

Teorema 5.5.3: ∀  ∈ ï, ' ≔  ⋅  ≥ 0.

Demonstração: Se  ∈  ou  = 0, nada se tem para demonstrar, mas, se


 ∉  e  ≠ 0, temos que –  ∈  e, portanto ?−)?−) ∈ , mas se sabe que
?−)?−) =  ⋅ . Assim,  ⋅  = ' ∈ .

QED

Uma conseqüência desse teorema é que 1 > 0, pois 1 ≠ 0 e 1 ⋅ 1 = 1 ∈ .

Exemplos de corpos ordenados são os racionais e reais (como veremos no

?ℤ' , ⨁, ⨀) não é ordenado, pois, sendo ∅,


1 ,
0 e
0,1 os subconjuntos de ℤ' , a
próximo capítulo). Mas nem todo corpo pode ser ordenado. Por exemplo, o corpo

única escolha que poderíamos ter para ser o conjuntos dos positivos é
1 , mas se
sabe que, nesse corpo, 1⨁1 = 0, que viola o fecho por adição.

Teorema 5.5.4 (monotonicidade da adição): Se  > , então, para todo


 ∈ ï, tem-se  +  >  + .

Demonstração: Se  > , então ? − ) ∈ . Mas se tem que  −  =  +  −


 −  = ? + ) − ? + ), donde se tem que £? + ) − ? + )¤ ∈  e, portanto,
 +  >  + .

QED

Teorema 5.5.5 (monotonicidade da multiplicação): Se  >  e  > 0,


então,  > . Mas, se  < 0, então  < .

Demonstração: Se  >  e  > 0, temos que ? − ) ∈ . Como ? − ) =


 − , pelo fecho por multiplicação, temos que ? − ) ∈  e, assim,  > . Por
outro lado, se  < 0, então –  ∈  e, portanto, −? − ) = ? − ) ∈ , que nos
leva a concluir que  < .

QED

Exercícios II – 5
1 – Considere œ =
, ~S , … , ~\ com a estrutura ?œ,∗) sendo um grupo
Abeliano. Sendo  = ~S ∗ … ∗ ~\ , mostre que  ∗  = .

2 – Considerando o anel com unidade ?, +,⋅), mostre que o conjunto de todos
os elementos que possuem inverso multiplicativo desse anel forma um grupo com a
operação de multiplicação.
92

3 – Seja ?œ,∗) um grupo e îS , î' ⊂ œ subgrupos de œ. Mostre que:

a) îS ∪ î' é subgrupo de œ.
b) îS ∩ î' é subgrupo de œ ⇔ îS ⊂ î' ou î' ⊂ îS .

4 – Mostre que a equação  ∗  ∗  =  tem solução num grupo ?œ,∗) se, e


somente se,  ∗  = ~ ∗ ~ para algum ~ em œ.

5 – Mostre que, sendo ï um corpo ordenado e , ‡, ®, ž ∈ ï, se  < ® e ‡ < ž,


então  + ‡ < ® + ž.

6 – Sendo ï um corpo ordenado e , ‡, ®, ž ∈ ï, mostre que, se 0 <  < ® e


0 < ‡ < ž, então 0 < ‡ < ®ž. Uma conseqüência disso é que, se 0 <  < 1 e
0 < ‡ < 1, então 0 < ‡ < 1.

7 – Sendo ï um corpo ordenado e  ∈ ï, mostre que, se 0 <  < 1, então


 ' <  e, se  > 1, então  ' > .

8 – Considerando o corpo ordenado ï com  ∈ ï, mostre que, se  > 0, então


 ^S
> 0.

9 – Mostre que, num corpo ordenado ï onde , ‡ ∈ ï, temos que, se 0 <  <
‡, então 0 < ‡ ^S <  ^S .

6 – Composição de Funções; Mais Sobre Grupos


6.1 – Composição de funções

máquina, onde se insere um dado  e essa máquina nos dá um produto }?) (Figura
Uma forma um tanto pictórica de imaginar uma função é ver ela como uma

1). Vendo dessa forma, não parece estranho combinarmos máquinas. Ou seja,
inserir , obter }?), mas, combinando com uma máquina ~, obter ~a}?)b (Figura
2). Podemos identificar o processo feito pelas duas máquinas como sendo o de uma
única máquina, ℎ, de forma que ℎ?) = ~a}?)b (Figura 3).
93

Para podermos combinar as máquinas } e ~, é necessário que seja possível


inserir }?) em ~. De forma mais precisa, é preciso que ™?}) ⊂ s?~). Motivados
por essa apresentação, definamos a composição de funções.

Definição 6.1.1: Sejam }: V → y e ~: y → z funções. A função composta é a


função ~ ∘ }: V → z (lê-se “g bola f”) tal que ?~ ∘ })?) = ~a}?)b. Ou seja:

~ ∘ } =
?, ž) ∈ V × z | r ‡ ∈ y  } ©= ?, ‡) ∈ }  ?‡, ž) ∈ ~

Pode-se ver que o domínio da função composta é o domínio de }, mas o


contradomínio é o contradomínio de ~. Claro, é possível fazer mais de uma
composição bastando fazer a composição da função composta ~ ∘ } com outra
função.

Exemplo 6.1.1: Seja ´:ℝ→ℝ


“↦“x'
e ö:ℝ→ℝ
“↦“ µ
funções. A função composta ~ ∘ }: ℝ → ℝ
tal que ?~ ∘ })?) = ~a}?)b é definida por:

~a}?)b = ~? + 2) = ? + 2)' =  ' + 4 + 4

Mas também é possível a composição } ∘ ~: ℝ → ℝ e dessa composição


obtemos ?} ∘ ~)?) = }a~?)b = }? ' ) =  ' + 2, que é diferente, em geral, de
~a}?)b. Ou seja, em geral, ~ ∘ } ≠ } ∘ ~.

Exemplo 6.1.2: Considere os conjuntos  =


1,2,3 , . =
, , ,  e ; =

c, d, e e as funções }:  → . tal que } =


?1, ), ?2, ), ?3, ) e ~: . → ; tal que
~ =
?, c), ?, c), ?, e), ?, e) .
~ ∘ } =
?1, c), ?2, c), ?3, e) .
Usando a definição, vemos que
94

Na representação diagramática acima, as setas vermelhas em 1 destacam o

(lembremos que, efetivamente, a função composta ~ ∘ } é uma função de A em C).


“caminho” da função composta. Em 2, o conjunto B, que é intermediário, é omitido

Embora, a composição de funções não seja comutativa, ela é associativa,


como mostra o teorema abaixo.

}: V → y, ~: y → z e ℎ: z → ÷ funções, tem-se que ?ℎ ∘ ~) ∘ } = ℎ ∘ ?~ ∘ }).


Teorema 6.1.1: A composição de funções é associativa. Ou seja, sendo

em W. Como sabemos pelo Teorema 1.2.2, para mostrarmos que ?ℎ ∘ ~) ∘ } = ℎ ∘


Demonstração: Devemos perceber que ambas as funções são funções de X

?~ ∘ }), devemos mostrar que £?ℎ ∘ ~) ∘ }¤?) = £ℎ ∘ ?~ ∘ })¤?). Ora, pela definição,
£?ℎ ∘ ~) ∘ }¤?) = ?ℎ ∘ ~)a}?)b = ℎ •~a}?)b– = ℎa?~ ∘ })?)b = £ℎ ∘ ?~ ∘ })¤?).
Portanto, ?ℎ ∘ ~) ∘ } = ℎ ∘ ?~ ∘ }).

QED

Devido a esse teorema, podemos escrever, sem ambigüidade, ℎ ∘ ~ ∘ }.

´:ℕ→ℕ ö:ℕ→ℝ ø:ℝ→ℝ


Exemplo 6.1.3: Considere as funções “↦“xS Ä
“↦ “↦“ µ
, e . Temos, então que
µ
a composição dessas funções é } ∘ ~ ∘ ℎ: ℕ → ℝ tal que:

+1 +1 '


?ℎ ∘ ~ ∘ })?) = ℎ •~a}?)b– = ℎa~? + 1)b = ℎ ù ú=ù ú
2 2

Teorema 6.1.2: Sendo }: V → y uma função, valem as afirmações abaixo:

a) Se existe uma função ~: y → V tal que ~ ∘ } = ™{ , então } é injetora. A função


~ é chamada de inversa à esquerda de }.
95

b) Se existe uma função ℎ: y → V tal que } ∘ ℎ = ™| , então } é sobrejetora. A


função ℎ é chamada de inversa à direita de }.

Observação: As funções ™{ : V → V e ™| : y → y são as funções identidades.

Demonstração: (a): Suponhamos que ~ ∘ } = ™{ , ou seja, ?~ ∘ })?) = .


Assim, se }?S ) = }?' ), temos:

S = ~a}?S )b = ~a}?' )b = '

Ou seja, S = ' , mostrando que } é injetora.

(b): Supondo que } ∘ ℎ = ™| , temos que:

}?) = }aℎ?‡)b = ?} ∘ ℎ)?‡) = ™| ?‡) = ‡

Isso demonstra que, para todo ‡ ∈ y, existe  ∈ V tal que ‡ = }?). Pela
definição de função sobrejetora, mostramos que } é sobrejetora.

QED

Exercício 6.1.1 (importante): Considerando a função }: V → y, mostre que


™| ∘ } = } = } ∘ ™{ .

Claro, se existem ~: y → V e ℎ: y → V tais que ~ ∘ } = ™{ e } ∘ ℎ = ™| , então


}: V → y é bijetora. Demonstraremos abaixo que, quando isso acontece, ~ = ℎ = } ^S ,
onde } ^S : y → V, é a função inversa (lembremos que uma função possui inversa se, e
somente se, é bijetora). Mas antes vejamos outros resultados bastante úteis.

Teorema 6.1.3: Sejam }: V → y e ~: y → z funções. Então:

a) Se } e ~ são injetoras, então ~ ∘ }: V → z é injetora.


b) Se } e ~ são sobrejetoras, então ~ ∘ }: V → z é sobrejetora.

Demonstração: (a): Sejam S e ' dois elementos quaisquer de X, Supondo


que ?~ ∘ })?S ) = ?~ ∘ })?' ), temos que ~a}?S )b = ~a}?' )b. Por ~ ser injetora, se
conclui que }?S ) = }?' ). Mas } também é injetora e, portanto, S = ' . Logo,
?~ ∘ })?S ) = ?~ ∘ })?' ) ⇒ S = ' , mostrando que a composição é injetiva.

(b): A função ~ é sobrejetora, portanto, ~?y) = z e, assim, para todo ž ∈ z,


existe ‡ ∈ y tal que ~?‡) = ž. Mas, sendo } sobrejetora, }?V) = y e, dessa forma,
para todo ‡ ∈ y, existe  ∈ V tal que }?) = ‡. Ou seja, podemos escrever qualquer
‡ ∈ y como }?). Disso temos que, para todo ž ∈ z, ž = ~?‡) = ~a}?)b = ?~ ∘ })?)
para algum  ∈ V, mostrando que ?~ ∘ })?) é sobrejetora.

QED

Os resultados, na verdade, são intuitivos (faça alguns exemplos com

} e ~ são bijeções, então ~ ∘ } é uma bijeção.


diagramas para ambos os casos). Uma conseqüência imediata do teorema é que, se
96

Teorema 6.1.4: Sendo }: V → y uma função bijetora e } ^S : y → V sua


inversa, temos } ^S ∘ } = ™{ e } ∘ } ^S = ™| .

Demonstração: Por definição, } ^S ∘ } é o conjunto dos pares ?, ′) tais que
exista ‡ ∈ y de forma que ?, ‡) ∈ } e ?‡, ′) ∈ } ^S. Ora, } ^S é o conjunto dos pares
?‡, ) tais que ?, ‡) ∈ } e, pelo fato de } ^S ser uma função, ?‡, ), ?‡,  › ) ∈ } ^S ⇒  =
′. Segue que } ^S ∘ } =
?, )| ∈ V = ™{ . A segunda parte do teorema se
demonstra analogamente observando que } = ?} ^S )^S.

QED

Pode-se ver que a função inversa } ^S realmente “inverte” o que a função }


faz. } leva um determinado  ∈ V a um ‡ ∈ y e a função inversa leva esse ‡ de volta
ao  em questão, fazendo a composição levar  a ele mesmo (função identidade).

Corolário 1: Sejam }: V → y e ~: y → z funções bijetoras e ~ ∘ }: V → z a


composição dessas funções. Então a função ?~ ∘ })^S : z → V é igual à função
} ^S ∘ ~^S : z → V. Ou seja, ?~ ∘ })^S = } ^S ∘ ~^S.

Demonstração: Sendo ?~ ∘ })^S = ?~ ∘ })^S ∘ ™û , do teorema temos que


?~ ∘ })^S ∘ ™û = ?~ ∘ })^S ∘ ?~ ∘ ~^S ). Mas ainda se tem ~ ∘ ~^S = ?~ ∘ ™| ) ∘ ~^S = ~ ∘
?} ∘ } ^S ) ∘ ~^S, pois, pelo teorema, } ∘ } ^S = ™| . Dessa forma, ?~ ∘ })^S ∘ ?~ ∘ ~^S ) =
?~ ∘ })^S ∘ £~ ∘ ?} ∘ } ^S ) ∘ ~^S ¤ = £?~ ∘ })^S ∘ ?~ ∘ })¤ ∘ } ^S ∘ ~^S = ™{ ∘ } ^S ∘ ~^S =
} ^S ∘ ~^S , onde, novamente, usamos o teorema. Assim, ?~ ∘ })^S = } ^S ∘ ~^S.

QED

Corolário 2: Considerando as funções ~: y → ÷, ~› : y → ÷, ℎ: V → ÷,


ℎ : ÷ → y e }: V → y, sendo essa última bijetora, então ~ ∘ } = ~› ∘ } ⇔ ~ = ~› e
›

} ^S ∘ ℎ = } ^S ∘ ℎ› ⇔ ℎ = ℎ›

Demonstração: Basta observar que ~ ∘ } = ~› ∘ } ⇔ ~ ∘ } ∘ } ^S = ~› ∘ } ∘


} ⇔ ~ = ~› , onde usamos o teorema para ter } ∘ } ^S = ™| . A segunda parte se
^S

demonstra analogamente.

QED

Teorema 6.1.5: Se }: V → y é uma função e existem ~: y → V e ℎ: y → V de


forma que ~ ∘ } = ™{ e } ∘ ℎ = ™| , então ~ = ℎ = } ^S .

Demonstração: Do teorema anterior temos que } ^S ∘ } = ™{ , então ~ ∘ } =


} ^S ∘ }. Como } ^S é definida de Y em X, é possível a composição ?~ ∘ }) ∘ } ^S : y → V.
?~ ∘ }) ∘ } ^S = ?} ^S ∘ }) ∘ } ^S ⇔ ~ ∘ ?} ∘ } ^S ) = } ^S ∘ ?} ∘ } ^S ) ⇔ ~ ∘ ™| =
} ∘ ™| ⇔ ~ = } ^S. Analogamente se demonstra que ℎ = } ^S . Conclui-se, então, que
Assim,
^S

~ = ℎ = } ^S .

QED

Exercício: 6.1.2: Faça a demonstração de que ℎ = } ^S no teorema acima.


97

“
Exemplo 6.1.3: A função }: ℝ → ℝ tal que }?) = + 1 é injetora, pois pode-
'
se ver que, tendo ~: ℝ → ℝ tal que ~?) = 2 − 2, ?~ ∘ })?) = ~a}?)b = ~ • + 1– =
“
'
“
2 •' + 1– − 2 =  + 2 − 2 = . Ou seja, ~ ∘ } = ™ℝ . Mas }: ℝ → ℝ também é
sobrejetora, pois, com o mesmo ~, temos ?} ∘ ~)?) = }a~?)b = }?2 − 2) =
'“^'
+
'
1 =  − 1 + 1 = . Dessa forma, ~: ℝ → ℝ é a função inversa de }: ℝ → ℝ , ou seja,
~ = } ^S.

}: ℝ → ℕ
 r  ∈ ℕ ¸
Exemplo 6.1.4: Considere a função tal que
}?) = · . Se considerarmos a função ℎ: ℕ → ℝ tal que ℎ?) = ,
1 r  ∈ ?ℝ − ℕ)
vemos que } ∘ ℎ: ℕ → ℕ é tal que ?} ∘ ℎ)?) = }aℎ?)b = }?) =  = ™ℕ , pois ℎ?) ∈ ℕ.
Ou seja, }: ℝ → ℕ é sobrejetora.

Teorema 6.1.6: Considerando as funções }:  → . e ~: . → ; e o conjunto


s ⊂ , ~a}?s)b = ?~ ∘ })?s).

Demonstração: Com efeito, ~a}?s)b = Wž ∈ ;¼ž = ~a}?)b  ˜~=  ∈ sX


e ?~ ∘ })?s) =
ž ∈ ;|ž = ?~ ∘ })?)  ˜~=  ∈ s . Como ~a}?)b = ?~ ∘ })?),
segue o resultado.

QED

6.2 – Morfismos de grupos

Definição 6.2.1: Sejam as estruturas ?œ,∗) e ?î,⋆) grupos onde ý e þ são


os elementos neutros de ?œ,∗) e ?î,⋆) respectivamente. Uma função : œ → î é dita
ser um morfismo ou homomorfismo de G em H se:

a) ?ý ) = þ
b) ? ∗ ) = ?) ⋆ ?) para todo ,  ∈ œ.

Note que, na condição (b), o primeiro produto é o de G e o segundo é o de H.


Morfismos de grupos são definidos através dessas propriedades porque elas fazem

serem preservadas através da função . Com efeito, como veremos abaixo, a


as propriedades algébricas do grupo G (ao menos as que fazem de G um grupo)

imagem de um homomorfismo de G em H é sempre um subgrupo de H.

Exemplo 6.2.1: Considerando os grupos ?ℝ, +) e ?ℝ −


0 ,∙), a aplicação
: ℝ → ℝ −
0 , tal que ?) = 2“ , é um homomorfismo de ?ℝ, +) em ?ℝ −
0 ,∙). De
fato, pois ?0) = 2Ó = 1 e ? + ‡) = 2“x’ = 2“ 2’ = ?)?‡).

Exercício 6.2.1: Demonstre que a propriedade (b) implica a propriedade (a).

homomorfismo. SUGESTÃO: Observe que ?ý ∗ ý ) = ?ý ) = ?ý ) ⋆ ?ý ).


Assim, basta demonstrar a propriedade (b) para mostrar que uma aplicação é um

Lema 6.2.1: Sendo : œ → î um homomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆), esse


preserva inversa. Ou seja, ? ^S ) = ?)^S .
98

Demonstração: Por definição, ?ý ) = þ , assim, ? ∗  ^S ) = ?) ⋆


?^S ) = þ . De forma análoga se tem ? ^S ) ⋆ ?) = þ . Portanto ?^S ) =
?)^S .

QED

Teorema 6.2.1: Se : œ → î é um homomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆), então


™?) ⊂ î é um subgrupo de ?î,⋆).

Demonstração: (a): A operação é fechada, pois, se ?), ?) ∈ ™?), então


?) ⋆ ?) = ? ∗ ), que pertence a ™?).

(b): Por definição, ?ý ) = þ ∈ ™?).

(c): Do lema acima temos que ?^S ) = ?)^S. Portanto, se ?) ∈ ™?),
então ?)^S ∈ ™?).

QED

Exercício 6.2.2: Considere os grupos ?œ,∗) e ?î,⋆) e o homomorfismo


: œ → î. Mostre que, se ?œ,∗) é um grupo Abeliano, então ?™?),⋆), que é um
subgrupo de H, é um grupo Abeliano. Veja que homomorfismos preservam a
propriedade Abeliana.

Alguns homomorfismos recebem nomes especiais dependendo de alguma


propriedade extra que possuam.

Definição 6.2.2: Sendo ?œ,∗) e ?î,⋆) grupos e : œ → î e : œ → œ


homomorfismos:

Se  é injetivo, então esse homomorfismo é dito ser um monomorfismo.


Se  é sobrejetivo, então esse homomorfismo é dito ser um epimorfismo.
a)

Se  é uma bijeção, então esse homomorfismo é dito ser um isomorfismo.


b)

 é chamado de endomorfismo.
c)

Se  é um isomorfismo, esse é chamado automorfismo.


d)
e)

especial. Se existe um isomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆), então existe um isomorfismo


Dentre as definições acima, a (c), de isomorfismo, merece uma atenção

de ?î,⋆) em ?œ,∗) (isso será mostrado abaixo). Enquanto grupos, a existência de um


isomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆) significa que esses são algebricamente idênticos. Isso
quer dizer que, para toda propriedade algébrica que o produto ∗ de G tenha, existe
uma inteiramente análoga em termos do produto ⋆ de H. Pode-se dizer que, se
existe um isomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆), esses grupos são “iguais a menos dos
nomes dos elementos”.

Lema 6.2.2: Se ?œ,∗) e ?î,⋆) são grupos e : œ → î é um isomorfismo, então


 ^S
: î → œ é um isomorfismo.

Demonstração:  ^S : î → œ é uma bijeção porque : œ → î o é. Basta


mostrar que  ^S : î → œ é um homomorfismo. De fato é, pois:
99

a) Por definição, ?ý ) = þ , então  ^S a?ý )b =  ^S ?þ ) ⇔ ? ^S ∘ )?ý ) =


 ^S ?þ ) ⇔ ™ý ?ý ) =  ^S ?þ ) ⇔ ý =  ^S ?þ ), onde se usou a definição de

b) Por definição, ? ∗ ) = ?) ⋆ ?), assim  ^S a? ∗ )b =  ^S a?) ⋆


função composta e o Teorema 6.1.4.

?)b ⇔ ? ^S ∘ )? ∗ ) =  ^S a?) ⋆ ?)b ⇔ ™ý ? ∗ ) =  ^S a?) ⋆


?)b ⇔  ∗  =  ^S a?) ⋆ ?)b.

QED

Por causa desse lema, podemos dizer que, se : œ → î é um isomorfismo,


esse é um isomorfismo entre G e H.
:ℤ→ℤ
“↦'“
Exemplo 6.2.2: A função é um automorfismo entre o grupo dos
inteiros (com operação de soma) e o (sub)grupo dos pares.

Exemplo 6.2.3: Sendo ?œ,∗) um grupo e  ∈ œ, R : œ → œ tal que R ?~) =  ∗


~∗ ^S
é um endomorfismo (verifique!).

Definição 6.2.3: Sendo G e H grupos, se existe algum isomorfismo : œ → î,


então G e H são ditos isomorfos e simbolizamos isso por œ ≅ î.

Teorema 6.2.2: A relação de isomorfia é uma relação de equivalência.

mesmo, esse é  = ™ý .
Demonstração: (a): Sempre existe um isomorfismo entre o grupo G e ele

(b): Do lema e da definição acima temos que, se œ ≅ î, então î ≅ œ.

(c): Sendo ?œ,∗), ?î,⋆), e ?,⋄) grupos com œ ≅ î e î ≅ , temos que œ ≅ 


bastando fazer a composição dos isomorfismos. Com efeito, sendo : œ → î e
: î →  isomorfismos,  ∘ : œ →  é um isomorfismo, pois  ∘  é uma bijeção pelo
fato de  e  o serem e ? ∘ )? ∗ ) = a? ∗ )b = a?) ⋆ ?)b = a?)b ⋄
a?)b = ? ∘ )?) ⋄ ? ∘ )?).

QED

Na parte (c) da demonstração acima, o fato apresentado, de que a


composição de isomorfismos é um isomorfismo, vale, na verdade, para
homomorfismos em geral. Ou seja, a composição de homomorfismos é um
homomorfismo.

Podemos observar que, se : œ → î é um monomorfismo de ?œ,∗) em ?î,⋆), o


grupo ?œ,∗) é isomorfo a ?™?),⋆) e podemos interpretar isso como “existe uma
“cópia” de ?œ,∗) em ?î,⋆)”. Quando isso ocorre dizemos que o grupo G está imerso
em H

6.3 – Grupo de permutações

Nas demonstrações dos corolários do Teorema 6.1.4 e do Teorema 6.1.5,


podemos observar que manipulamos a composição de funções como se fosse uma
100

operação (tal como soma ou multiplicação). De fato podemos pensar a composição


de funções como uma operação, mas, como toda operação, devemos definir o
conjunto onde ela está definida.

Dado um conjunto não vazio A, uma estrutura importante que pode ser
construída de forma que a composição de funções é uma operação é o grupo de
permutações de A. Mas, antes de definirmos esse grupo, definamos o que é uma
permutação.

Definição 6.3.1: Sendo A um conjunto não vazio, toda função }:  → 


bijetora é dita uma permutação em A (ou de A).

Exemplo 6.3.1: Sendo  =


1,2,3 , uma possível permutação em A é a
função }:  →  tal que }?1) = 2, }?2) = 3 e }?3) = 1. Vemos, dessa forma, que o
nome permutação se justifica, pois uma bijeção de A em A permuta os elementos de
A.

?) =
}:  →  | }:  →  é i . A estrutura ??),∘), onde a operação
Agora, consideremos o conjunto de todas as permutações de A, ou seja,

∘: ?)' → ?) é a composição de funções, é um grupo. Demonstremos isso.

a) Antes de tudo, devemos verificar se a operação ∘: ?)' → ?)


está bem definida. Ou seja, se ~ ∘ } ∈ ?) para quaisquer }, ~ ∈
?). Com efeito, está bem definida, pois, conforme mostrado na
subsecção anterior, a composição de bijeções é uma bijeção.
b) A composição de funções é associativa, como mostrado na subsecção

c) Como } é definida de A em A, ™F ∘ } = } = } ∘ ™F , donde temos que ™F é o


anterior.

elemento neutro e esse pertence a ?), pois funções identidades são

d) O fato de }:  →  ser uma bijeção implica que } ^S :  →  também é uma


sempre bijeções.

bijeção, como bem se sabe, e, assim, } ^S ∈ ?). Do Teorema 6.1.4,


temos que } ^S ∘ } = ™F = } ∘ } ^S . Portanto, } ^S é o elemento inverso de }.

Com essas demonstrações concluímos que a estrutura ??),∘) é, de fato,


um grupo. O interesse em estudar grupos de permutações reside no fato de que se
pode mostrar que todo grupo é um subgrupo de algum grupo de permutações.

Um caso especial de grupo de permutações é quando  =


 \Z[S = ℕ\ . Esse é
chamado de grupo de permutações de n elementos e simbolizado por #\ .

Para simplificar a notação, vamos representar as permutações : #\ → #\ por


matrizes da seguinte forma:

1 ⋯ 
=ù ú
?1) ⋯ ?)

Na primeira linha estão os números naturais (em ordem crescente) até n e


na segunda estão as respectivas imagens dos elementos.
101

Exemplo 6.3.2: O grupo #' é o conjunto dado pelas funções (matrizes):

1 2 1 2
S = • –  ' = • –
1 2 2 1

Como se pode ver, S é a função identidade e ' possui a si próprio como


inversa. Para #& , temos as matrizes:

1 2 3 1 2 3 1 2 3
S = • – = ™ ' = • – & = • –
1 2 3 2 1 3 3 2 1
1 2 3 1 2 3 1 2 3
w = • – ¿ = • –  = • –
1 3 2 2 3 1 3 1 2

& ∘ ¿ .
Para ver como se realiza a composição dessas funções, vejamos a composição

& ∘ ¿ = ù1 2 3 ú ∘ ù1 2 3ú = ù1 2 3ú = 
3 2 1
2 3 1 2 1
3
'

em ¿ , 2 possui imagem 3, mas, em & , 3 corresponde a 1. Assim, a composição leva


Os símbolos sobrescritos destacam o “caminho” da imagem de 2. Vemos que,

2 a 1.

Exercício 6.3.1: faça as composições ' ∘ ¿ ,  ∘ ¿ e S ∘ ' .

Nessa notação, para invertermos uma função, basta inverter as linhas


(listas horizontais de números) e reorganizar as colunas (listas verticais de
números), como mostrado abaixo:

1 2 3 3 1 2 1 2 3
 = • – → ^S = • – = • – = ¿
3 1 2 ÌÍ
1 ÍÎÍ
2 ÍÏ
3 ÌÍ
2 ÍÎÍ
3 ÍÏ
1
POGR òRŠ Z\øRŠ PNOPöR\Z‰RçãO

possui ? − 1)? − 2) ⋯ 1 elementos. Por exemplo, o grupo #& possui 3 ∙ 2 ∙ 1 = 6


Não demonstraremos aqui, mas o grupo de permutações de n elementos

elementos, como visto.

6.4 – Grupos diedrais

Grupos diedrais são outros exemplos de estruturas que possuem a


composição de funções como operação. Mas, antes de apresentarmos o que são
grupos diedrais, faremos uma breve digressão relacionada à definição de distância
no plano (que podemos identificar com o plano cartesiano). Isso porque o grupo que
será apresentado possui interpretação geométrica.

Considerando os pontos S = ?, ) e ' = ?, ) no plano, a distância entre


esses dois pontos é definida por:

?S , ' ) = ? − )' + ? − )'


102

Uma propriedade imediata (e intuitiva) é que, se S = ' , então ?S , ' ) = 0

positiva). Também se pode ver que ?S , ' ) = ?' , S ), que é outra propriedade
e essa é a única situação em que isso ocorre (em todos os outros casos a distância é

intuitiva geometricamente.

quaisquer que sejam S , ' e & , ?S , ' ) ≤ ?S , & ) + ?' , & ). Essa é chamada de
Temos, ainda, mais uma propriedade (essa não tão evidente), que é:

desigualdade triangular e, como se pode ver na ilustração abaixo, o nome se


justifica. Não a demonstraremos, mas a ilustração dá uma justificativa geométrica.

Observemos que os pontos S , ' e & formam um triângulo e bem se sabe

terceiro. O caso de igualdade na expressão ocorre quando S = & ou ' = & .


que a soma dos comprimentos de dois lados de um triângulo é sempre maior que do

Definição 6.4.1: Considerando  ⊂ ℝ' , uma aplicação ä:  →  é dita uma


simetria de A quando ä é sobrejetora e preserva distâncias. Ou seja, ?S , ' ) =
aä?S ), ä?' )b para todo S , ' ∈ .

Embora não esteja explícito, a função ä é, também, injetora e, portanto, uma

seja injetora. Para isso ocorrer, devemos ter que exista ä?S ) = ä?' ) com S ≠ ' .
bijeção de A em si próprio. Para mostrar isso, suponhamos, por absurdo, que não

Mas se sabe que, se S ≠ ' , então ?S , ' ) ≠ 0 e, sendo ä?S ) = ä?' ),
aä?S ), ä?' )b = 0, contrariando a hipótese de que a distância é preservada.

O conjunto de todas as simetrias de um conjunto  ⊂ ℝ', chamado de ?),


forma um grupo pela composição de funções. Para efetuarmos a demonstração,
observemos que já foi mostrado que o conjunto das bijeções sobre um conjunto é um
103

grupo. Então basta mostrar que o conjunto das simetrias é subgrupo do grupo de
permutações de A.

a) A função identidade é uma simetria, pois a™?S ), ™?' )b = ?S , ' ).


b) Sendo ä uma simetria, a inversa também é, afinal, ?S , ' ) =
 •äaä^S ?S )b, äaä^S ?' )b– = aä^S ?S ), ä ^S ?' )b.
c) Dadas duas simetrias, ä e , a composição dessas é uma simetria. Com
efeito, aä ∘ ?S ), ä ∘ ?' )b =  •äa?S )b, äa?' )b–
= a?S ), ?' )b = ?S , ' ).

permuta os pontos de uma figura no plano (um subconjunto de ℝ' ) sem causar
Observemos que uma simetria é uma transformação (aplicação) que

“deformações internas” (as distâncias são preservadas). Isso implica que a

particular em que  ⊂ ℝ' é um polígono regular de n lados, uma simetria é uma


transformação “transporta” a figura para o caso transformado rigidamente. No caso

transformação que leva vértices adjacentes em vértices adjacentes. Assim, pode-se


tomar o conjunto A como formado apenas pelos vértices do polígono regular, pois o
grupo será isomorfo aos grupos em que se tomam todos os pontos dos lados da
figura ou incluindo, também, os internos.

Definição 6.4.2: Chamamos de grupo diedral de ordem 2 a estrutura


??),∘) onde A é um polígono regular de n lados. Mais comumente, nesse caso,
denotamos ?) por s\ .

vértices de S , ' , & e w como na figura abaixo.


Exemplo 6.4.1: Consideremos A como sendo um quadrado. Chamemos os

ä ∈ sw ,
ä = £ä?S ), ä?' ), ä?& ), ä?w )¤. O conjunto de simetrias é dado, então, por:
Dada uma simetria vamos representá-la por

äS = ™ = £S , ' , & , w ¤ ä' = £' , & , w , S ¤ ä& = £& , w , S , ' ¤ äw = £w , S , ' , & ¤

ä¿ = £w , & , ' , S ¤ ä = £& , ' , S , w ¤ ä = £' , S , w , & ¤ äU = £S , w , & , ' ¤
104

ä = £w , ' , & , S ¤, pois, ao fazermos isso (inverter o ponto S com o w ), a distância
Nem todas as permutações são simetrias. Por exemplo, não podemos ter

entre ' e S muda, afinal, a distância, que era o comprimento do lado, se tornou o
comprimento da diagonal. Abaixo estão representadas, geometricamente, três das
simetrias.
105


Vemos que as simetrias são rotações e reflexões. ä' é uma rotação de 
'
no sentido anti-horário, ä¿ é uma reflexão em torno do eixo que passa pelos pontos
médios dos lados S w e ' & e äU é uma reflexão em torno do eixo que passa pela
diagonal S & . Poderíamos ter chamados os vértices de 1, 2, 3 e 4 e notado que o
grupo apresentado é isomorfo a um subgrupo de #w . De fato é comum tomarmos
esse subgrupo como sendo o grupo diedral de ordem oito e dizermos que sw ⊂ #w .
Em geral podemos dizer que s\ ⊂ #\ . Embora não demonstremos aqui, grupos
diedrais possuem 2 elementos (a ordem é dobro do número de vértices) onde 
desses são rotações (considerando a identidade como uma rotação de 0 ) e  são
reflexões.

Aqui podemos observar como os grupos se “manifestam”. As transformações


feitas sobre o quadrado não mudam ele. O rodam ou refletem, mas sempre
mantendo a distância entre os vértices invariante. Grupos estão relacionados a
transformações que mantêm algo invariante por essas transformações. Mas, muitas
vezes, os grupos não são tão simples quantos os diedrais e nem a invariância está
ligada a algo tão visível quanto distância e posição de pontos.

Exercício 6.4.1: Dado um triângulo eqüilátero de vértices S , ' e & ,


construa o grupo diedral de ordem seis. Dê a representação geométrica de cada uma
dessas simetrias e monte a tabela de Cayley.

Como exemplo de como a composição dois elementos de sw atuam sobre o


quadrado, façamos a composição ä' ∘ ä :

ä' ∘ ä¿ = £' , & , w , S ¤ ∘ £w , & , ' , S ¤ = £S , w , & , ' ¤ = äU

aqui se omite a primeira linha da matriz. Por exemplo, em ä' , ' tem como imagem
O processo é muito semelhante ao feito nos grupos de permutações, mas

& e, em ä¿ , & tem imagem w , de forma que a composição leva ' a w . Na


ilustração abaixo podemos observar que o quadrado realmente se transformou
como refletido e depois rodado.

Exercício 6.4.2: Realize as composições ä ∘ ä' , äw ∘ ä& ∘ ä' e ä¿ ∘ ä& ∘ ä¿ .


Represente-as geometricamente.

Façamos também a tabela de Cayley do grupo sw.


106

Pode-se ver algumas características do grupo a partir dessa tabela.

tabela do grupo ℤw (feita na subsecção 5.3). Vemos que o subgrupo destacado é


Observemos o subgrupo destacado (quadro em destaque) e comparemos com a

isomorfo ao grupo ℤw (basta fazer a correspondência ä\ ↦ ? − 1)). Ou seja, ℤw está


imerso em sw. Em geral se pode ter que ℤ\ está imerso em s\ . Além disso, pode-se
ver que o subgrupo destacado é o das rotações. Podemos ver ainda que a composição
reflexões resulta numa rotação, a composição de uma rotação com uma reflexão (ou
vice-versa) é uma reflexão e que reflexões são suas próprias inversas.

Exercícios II – 6
1 – Chama-se monóide a estrutura ?,∗) com  não vazio tal que a operação
binária ∗ seja associativa e possua elemento neutro. Sendo F o conjunto de todas
as funções de  em  (não apenas bijeções), a estrutura ?F ,∘) é um monóide
(verifique). Mostre que, se  não é unitário, ∘ não é comutativa. A estrutura ?F ,∘) é
chamada de monóide das transformações de .

2 – Mostre que, sendo }:  → . uma função bijetora, } ^S ∘ ~ ∘ }:  →  é


injetora se, e somente se, ~: . → . é injetora. Enuncie e demonstre uma afirmação
análoga para } ^S ∘ ~ ∘ }:  →  sobrejetora.

3 – Seja ?œ,∘) de tal forma que ∘ é a composição de funções e


œ = W}R, ∈ ℝℝ ¼,  ∈ ℝ   ≠ 0X, onde ´“↦R“x
, :ℝ→ℝ
. Mostre que ?œ,∘) é um grupo.

4 – Sendo ?œ,∗) e ?î,⋆) grupos, mostre que a estrutura ?œ × î,⋅) tal que
?~, ℎ) ⋅ ?~′, ℎ′) = ?~ ∗ ~′, ℎ ⋆ ℎ′) é um grupo. Essa estrutura, comumente denotada por
œ ⊕ î, é chamada de soma direta ou produto direto dos grupos œ e î.

5 – No exercício acima, mostre que œ ⊕ î é isomorfo a î ⊕ œ.

6 – Pode-se fazer uma generalização da noção de produto direto entre

necessariamente iguais)
?œÈ ,∗) È∈Ê , definimos o produto direto desses grupo pela
grupos. Tendo uma família não vazia de grupos (com operações não
107

estrutura ?∏È∈Ê œÈ ,⋅) tal que ?~È )È∈Ê ⋅ ?ℎÈ )È∈Ê = ~ ⋅ ℎ = ?~È ∗ ℎÈ )È∈Ê , onde
?~È )È∈Ê , ?ℎÈ )È∈Ê ∈ ∏È∈Ê œÈ e se usou ?~È )È∈Ê = ~ e ?ℎÈ )È∈Ê = ℎ . Mostre que essa
estrutura é um grupo.

7 – No exercício acima, mostre que o conjunto de todos os ?~È )È∈Ê tais que

subgrupo de ?∏È∈Ê œÈ ,⋅). Esse subgrupo é chamado de soma direta dos grupos ?œÈ ,∗)
apenas um número finito de coordenadas é diferente da identidade forma um

e é denotado por ⊕È∈Ê œÈ . Observe que, se existirem finitos grupos no produto


cartesiano ∏È∈Ê œÈ , a soma direta coincide com o produto direto. SUGESTÃO: O
fecho do produto é obtido observando que, se ?~È )È∈Ê e ?ℎÈ )È∈Ê possuem um número
finito de coordenadas diferentes da identidade, ?~È )È∈Ê ⋅ ?ℎÈ )È∈Ê também possuirá
um número finito de coordenadas diferentes da identidade (isso deve ser mostrado).

8 – Obtenha a tabela de Cayley do grupo #' ⊕ #' .

9 – Sendo : œ → î um homomorfismo do grupo ?œ,∗) em ?î,⋆), mostre que o


conjunto ?) =
~ ∈ œ|?~) = þ forma um subgrupo de œ. O conjunto ?) é
chamado de núcleo do homomorfismo .

10 – No exercício anterior, mostre que ?) =


ý se, e somente se,  é
injetivo (um monomorfismo). Veja que, se ?) =
ý e ™?) = î, então  é um
isomorfismo.

11 – Considerando os grupos ?ℤw ,⊕) e ℤw ⊕ ℤw , mostre que a função


:ℤ ×ℤ →ℤ
?“,’)↦?“⊕’)
é um homomorfismo e obtenha o núcleo (?)) desse. Generalize para
?ℤ\ ,⊕) e ?ℤ, +).
:ý→ý
12 – Mostre que “↦“ ÂÃ
é um homomorfismo se, e somente se, ?œ,∗) é
Abeliano.

13 – Seja #& o grupo de permutação de três elementos. Obtenha as imagens


de µ : #& → #& tal que µ ?) = ' ∘  ∘ '^S e  : #& → #& tal que  ?) = & ∘  ∘
&^S.

14 – Dado o grupo de permutações #\ e um elemento fixo  ∈ ℕ\ , mostre que


o conjunto de todas as permutações tais que ?) =  forma um subgrupo de #\ .

15 – Sendo s\ e sQ grupos diedrais com  >  e gQ o conjunto dos vértices


do polígono regular referente ao grupo sQ , mostre que demonstrar que s\ está
imerso em sQ é equivalente a encontrar um subconjunto de  vértices em gQ que
forme um polígono regular.

16 – Sendo s& e s os grupos diedrais de ordem 6 e 12, demonstre que s&


está imerso em s. Explicite o subgrupo isomorfo a s&. SUGESTÃO: Use a
interpretação geométrica das transformações.
108

Capítulo III – Conjuntos Numéricos

Começaremos agora o estudo de alguns conjuntos numéricos (dos naturais,


inteiros, racionais e reais). Construiremos os conjuntos e exporemos suas
propriedades básicas. Também iremos tratar, de forma precisa, das características
de conjuntos finitos e infinitos, com uma breve introdução à aritmética de
cardinais.

1 – Conjunto dos Naturais


A idéia de números naturais está ligada com a de contar elementos de um
conjunto, e essa é uma motivação para defini-los. Mas trataremos dessa relação na
secção seguinte. Nessa secção vamos, a partir de axiomas e definições, obter as
principais propriedades dos números naturais.

1.1 – Axiomas de Peano

Os axiomas apresentados abaixo, chamados de Axiomas de Peano, são as


três propriedades básicas que definem os números naturais.

Axioma 1.1.1: Existe uma função injetiva r: ℕ → ℕ. A imagem r?) é


chamada de sucessor de .

Axioma 1.1.2: Existe um único número natural, 1 ∈ ℕ, tal que r?) ≠


1 ∀  ∈ ℕ.

Axioma 1.1.3: Se um conjunto V ⊂ ℕ é tal que 1 ∈ V e r?V) ⊂ V, ou seja,


 ∈ V ⇒ r?) ∈ V, então V = ℕ.

Expliquemos brevemente os axiomas. O primeiro axioma define uma função,


mas, além disso, afirma a existência dessa função e, portanto, afirma a existência
do conjunto dos naturais (ℕ). Já o segundo diz que existe um (único) número
natural que não é sucessor de nenhum outro número natural (intuitivamente,
podemos pensar esse número como o primeiro número natural). Esse axioma
afirma, claro, que o conjunto dos naturais não é vazio, mas, mais que isso, como
veremos mais adiante, garante que o conjunto dos naturais é infinito. O terceiro
axioma, chamado de Princípio da Indução, dá a base para um método de
demonstração chamado método de indução. Esse método consiste na seguinte

para n, obtemos que P vale para r?), então a propriedade P vale para todo  ∈ ℕ”.
afirmativa: “se uma propriedade P vale para o número 1 e, ao supor* que P valha

Um exemplo de demonstração por esse método segue no teorema abaixo.

Observação: A suposição referida no destaque feito por * é chamada de

? ˜  ) ⇒ a ˜  r?)b é verdadeira e, dessa forma, usar a hipótese “
hipótese indutiva. Veja que o que se deve mostrar é que a implicação

vale para n” na demonstração da validade para r?) é lícito.


109

Teorema 1.1.1: ∀  ∈ ℕ tem-se r?) ≠ .

Demonstração: Pelo Axioma 1.1.2, já temos que a afirmação vale para 1,


ou seja, r?1) ≠ 1. Supondo que valha para n, isto é, r?) ≠ , temos que rar?)b ≠
r?), afinal a função é injetiva e, se tivéssemos rar?)b = r?), teríamos r?) = ,
contrariando a hipótese indutiva.

QED

deveríamos ter definido um subconjunto V ⊂ ℕ tal que V =


 ∈ ℕ|r?) ≠  e seguir
Observação 1: Na demonstração acima, sendo mais preciosistas,

a demonstração mostrando que 1 ∈ V e que  ∈ V ⇒ r?) ∈ V, mas esse detalhe foi


omitido e muitas vezes se fará isso. No entanto, existem casos em que é útil fazer a
demonstração considerando esse detalhe.

Observação 2: Muitos são tentados a se convencerem de alguma suposta


propriedade dos números naturais através de exemplos. Ou seja, mostrando a
validade para casos particulares. Mas lembremos que os naturais são infinitos e,
por mais que mostremos que uma propriedade vale para muitos naturais, sempre
existirá uma infinidade deles para os quais não se pode garantir que valha.
“Coincidências” podem servir de motivação para conjecturar que alguma
propriedade valha para todos os naturais, mas devemos mostrar tal validade e o
princípio da indução é o que nos permite, muitas vezes, realizar a demonstração.

naturais, }?) = ' +  + 41, que, com paciência, podemos verificar que gera
Um exemplo de porque não devemos ceder à tentação é a função, definida nos

números primos até  = 39, mas falha em gerar um número primo para  = 40,
pois }?40) = 40' + 40 + 41 = 40?40 + 1) + 41 = 40 ⋅ 41 + 41 = ?40 + 1) ⋅ 41 = 41' .

suas sutilezas. Na hipótese indutiva,  deve ser “livre” no sentido de que não exista
O terceiro axioma (Princípio da Indução) merece explicações extras devido a

impor uma condição que obrigue  ≠ 5 por exemplo). Sendo assim, na hipótese
alguma condição que o impeça de ser determinados valores naturais (não se pode

indutiva se está supondo para um  em particular, mas, como  pode ser qualquer

contraditório diante do fato de termos de provar para r?) logo em seguida, mas a
natural, de certa forma se está supondo para todos os naturais. Isso parece

? ˜  ) ⇒ a ˜  r?)b). Junto à primeira parte do processo, mostrar
demonstração importante nessa parte do processo é a da implicação (mostrar que

para  = 1, podemos observar a intuição por trás do axioma. Mostrando para uma
propriedade para  = 1 e a implicação da indução, temos que a afirmação vale para
r?1), mas r?1) é um número natural e, assim, também temos que vale para rar?1)b
e assim por diante percorrendo todos os naturais. Ou seja, em essência, o Princípio

diversas aplicações da função sucessor sobre o número 1 (tornando possível


da Indução consiste em afirmar que todo número natural pode ser obtido através de

percorrer os naturais por sucessões a partir do 1). Isso nos leva a perguntar se o
axioma não é dispensável já que os dois primeiros nos garantem que só o número 1
não é sucessor de outro natural e a função é injetora. Não seria estranho
conjecturar que qualquer número natural pode ser obtido aplicando a função
110

sucessor diversas vezes sobre o número 1 apenas com os dois primeiros axiomas.

1.1.1), que garante que r?) ≠ . Sem esse teorema, nada garante que, em algum
No entanto, foi necessária a indução para mostrar o Teorema 1.1.1 (veja Exercício

momento r?) =  e, assim, não se conseguiria percorrer todos os naturais por


sucessões a partir do 1. Ou seja, o Princípio da Indução não pode ser obtido a partir
dos outros dois axiomas.

Exercício 1.1.1: Encontre um conjunto onde valham os dois primeiros


axiomas, mas não valha o Teorema 1.1.1.

Exercício 1.1.2: Encontre um conjunto onde valham os dois primeiros


axiomas, o Teorema 1.1.1, mas não valha o Princípio da Indução. SUGESTÃO: Use
os naturais mais um “apêndice” consistente com os dois primeiros axiomas e o
teorema.

1.2 – Soma e produto de números naturais

Definição 1.2.1: A operação +: ℕ' → ℕ, tal que:

a)  + 1 = r?)
b)  + r?) = r? + ), sempre que  +  está definida,

é chamada de soma.

Definição 1.2.2: A operação ⋅: ℕ' → ℕ, tal que:

a)  ⋅ 1 = 
b)  ⋅ r?) =  ⋅  + , sempre que  ⋅  está definido,

é chamada de produto.

Observação 1: Como definimos acima que r?) =  + 1, no método de


indução a condição “ ∈ V ⇒ r?) ∈ V” pode ser reescrita como “ ∈ V ⇒  + 1 ∈ V”.

Observação 2: Podemos omitir o símbolo do produto e escrever  ⋅  = .

Exercício 1.2.1: Demonstre que  +  ≠  ∀ ,  ∈ ℕ.

Não demonstraremos aqui, mas essas operações são consistentes com os


axiomas e são únicas (isto é, as propriedades apresentadas são suficientes para

naturais, façamos a soma 2 + 3:


definir as operações). Como ilustração de como obtemos a soma entre dois números

r?1) ≔ 2
2 + 1 = r?2) ≔ 3
2 + 2 = r?2 + 1) = r?3) ≔ 4
2 + 3 = r?2 + 2) = r?4) ≔ 5

Agora demonstraremos algumas propriedades básicas dessas operações.


Devemos ficar atentos a quais propriedades já foram demonstradas, pois, muitas
vezes, usaremos teoremas já demonstrados sem aviso.
111

Teorema 1.2.1 (associatividade da soma):  + ? + ˜) = ? + ) +


˜ ∀ , , ˜ ∈ ℕ.

Demonstração: Fixemos  e  arbitrários. Vamos mostrar a propriedade


por indução sobre ˜.

Para ˜ = 1 é verdade, pois  + ? + 1) =  + r?) = r? + ) = ? + ) + 1.


Supondo que valha para ˜ = , ou seja,  + ? + ) = ? + ) + , temos que vale
para ˜ =  + 1, afinal,  + a + ? + 1)b =  + a + r?)b =  + ar? + )b =
ra + ? + )b = ra? + ) + b ∗= ? + ) + r?) = ? + ) + ? + 1).

QED

Observação: Na passagem destacada com *, parece que usamos o que


queremos demonstrar para chegar à nossa conclusão, mas veja que o que usamos
foi a hipótese indutiva, o que é lícito.

Lema 1.2.1:  + 1 = 1 +  ∀  ∈ ℕ.

Demonstração: Para  = 1 vale claramente, pois 1 + 1 = 1 + 1. Supondo


para  = , ou seja,  + 1 = 1 + , então vale para  =  + 1, afinal, ? + 1) + 1 =
r?) + 1 = r? + 1) = r?1 + ) = 1 + r?) = 1 + ? + 1).

QED

Exercício 1.2.2: Mostre que 1 ⋅  =  ∀  ∈ ℕ.

Teorema 1.2.2: (comutatividade da soma):  +  =  +  ∀ ,  ∈ ℕ.

teorema é válido para  = 1, pois  + 1 = 1 +  pelo Lema 1.2.1. Supondo para


Demonstração: Fixemos um n arbitrário e façamos a indução sobre m. O

 = , isto é,  +  =  + , temos que vale para  =  + 1, já que  + ? + 1) =  +


r?) = r? + ) = r? + ) =  + ? + 1) =  + ?1 + ) = ? + 1) + . Nas últimas
duas passagens, usamos o Lema 1.2.1 e a associatividade respectivamente.

QED

 ⋅ ? ⋅ ˜) = ? ⋅ ) ⋅
˜ ∀ , , ˜ ∈ ℕ.
Teorema 1.2.3 (associatividade do produto):

Teorema 1.2.4 (comutatividade do produto):  ⋅  =  ⋅  ∀ ,  ∈ ℕ.

Exercício 1.2.3: Demonstre os dois últimos teoremas.

Teorema 1.2.5 (distributividade):  ⋅ ? + ˜) =  ⋅  +  ⋅ ˜ ∀ , , ˜ ∈ ℕ.

Demonstração: Tomemos  e  arbitrários e prossigamos por indução


sobre ˜. A afirmação vale para ˜ = 1, pois  ⋅ ? + 1) =  ⋅ r?) =  ⋅  +  por
definição. Supondo para ˜ = , ou seja,  ⋅ ? + ) =  ⋅  +  ⋅ , obtemos que vale
para ˜ =  + 1, pois  ⋅ a + ? + 1)b =  ⋅ a + r?)b =  ⋅ r? + ) =  ⋅ ? + ) +
 = ? ⋅  +  ⋅ ) +  =  ⋅  + ? ⋅  + ) =  ⋅  +  ⋅ ? + 1).
112

QED

Teorema 1.2.6 (leis de corte): ∀ , , ˜ ∈ ℕ valem que:

a) ? + ˜ =  + ˜) ⇔ ? = )
b) ?˜ = ˜) ⇔ ? = )

Demonstração: (a): Considerando  e  fixos e fazendo a indução sobre ˜,


temos que a propriedade vale para ˜ = 1, pois  + 1 =  + 1 ⇔ r?) = r?) ⇔  =
, já que r: ℕ → ℕ é injetora. Supondo que valha para ˜ = , ou seja, ? +  =  +
 ) ⇔ ? = ), obtemos que vale para ˜ =  + 1, afinal,  + ? + 1) =  + ? + 1) ⇔
 + r?) =  + r?) ⇔ r? + ) = r? + ) ⇔  +  =  + , que, pela hipótese
indutiva, é equivalente a  = .

QED

Exercício 1.2.4: Faça a demonstração da parte (b) do teorema acima.

Exercício 1.2.5: Caso tenha dúvida em algum teorema demonstrado,


identifique as propriedades (definições e teoremas) usadas em cada passo da
demonstração.

O que foi feito até agora (e esse é o objetivo desse capítulo) foi uma
formalização de propriedades operacionais que nos são comuns desde a infância.
Observamos que, do ponto de vista formal, as propriedades não são tão evidentes.

Observação: “Mas e o zero?” Muitos aprendem os naturais com o zero


incluído. A opção tomada aqui, de não incluí-lo, foi devida a “gosto” e algumas

ℕ com o zero incluído, ou não, permanece o mesmo, pois a única mudança nos
facilidades em termos de demonstrações e definições. Axiomaticamente, o conjunto

mudança está na estrutura formada sobre ℕ, onde o zero faz o papel de elemento
axiomas é a troca do símbolo “1” pelo “0”, que é uma mera questão de notação. A

neutro da soma e nulo do produto, ou seja, a soma e produto são definidos de forma
diferente.

1.3 – Relação de ordem em ℕ

de ordem em ℕ através da definição abaixo.


Tendo à disposição as propriedades da adição, podemos definir uma relação

Definição 1.3.1: Dizemos que  é menor que  e denotamos por  < 


quando existe  ∈ ℕ tal que  +  = . Dizemos que  é maior que  e denotamos
 >  quando  < .

Muitas vezes também é útil termos à disposição as relações  ≤  (lê-se “n é


menor ou igual a m”) e  ≥  (“n é maior ou igual a m”), que significam,
respectivamente, “ <  =  = ” e “ >  =  = ”.

Teorema 1.3.1: O número 1 é o menor número natural. Ou seja,  = 1 ou


 > 1 ∀  ∈ ℕ.
113

Demonstração: A propriedade claramente vale para  = 1, pois 1 = 1. Se


 ≠ 1, temos, pelo Axioma 1.1.2 (1 é o único natural que não é sucessor de outro),
que existe  ∈ ℕ tal que  = r?) =  + 1 e, portanto,  > 1.

QED

Teorema 1.3.2 (transitividade da ordem): Se , , ˜ ∈ ℕ são tais que


 >  e  > ˜, então  > ˜.

Demonstração: Sabendo que  >  ⇔  =  + S e  > ˜ ⇔ ˜ =  + ' ,


temos ˜ = ? + S ) + ' =  + ?S + ' ) =  + & ⇔  > ˜, onde & = S + ' .

QED

Teorema 1.3.3 (monotonicidade da ordem):  >  ⇔  +  >  +  e


 >  ⇔  ⋅  >  ⋅ .

Exercício 1.3.1: Demonstre o teorema acima.

Exercício 1.3.2: Demonstre que, se  >  e  > ©, então  +  >  + © e


 ⋅  >  ⋅ ©. SUGESTÃO: Use os dois últimos teoremas.

Teorema 1.3.4 (tricotomia): Dados ,  ∈ ℕ quaisquer, vale uma, e apenas


uma, das afirmações:  > ,  >  e  = .

Demonstração: Primeiro mostremos que só pode valer uma dessas


afirmativas. Ou seja, ao ser uma verdadeira, as restantes não podem ser.

a) ? >    > ): Se  > , então  =  + S para algum S ∈ ℕ. Isso já


exclui a possibilidade de  =  (Exercício 1.2.1). Supondo, por absurdo que
também vale  > , temos que  =  + ' e, assim,  = ? + S ) + ' =  +
?S + ' ) ⇔  > , que é um absurdo. Bastando inverter  e  se consegue
a demonstração para  > .
b) ? = ): Se  = , não se pode ter  >  nem  > , pois implicariam,
respectivamente, que  =  + S e  =  + ' .

Agora mostremos que para todo ,  ∈ ℕ alguma dessas propriedades deve


ser satisfeita. Sendo  um natural arbitrário fixo, consideremos o conjunto
VQ =
 ∈ ℕ| =  =  >  =  >  . Vamos mostrar, por indução sobre n, que
VQ = ℕ. Temos que 1 ∈ VQ pelo Teorema 1.3.1. Supondo que  ∈ VQ , vamos ter que
 + 1 ∈ VQ . Mas, para prosseguir a demonstração (provar que  ∈ VQ ⇒  + 1 ∈
VQ ), devemos separar nos casos  < ,  >  e  = .

a) ( < ): Nesse caso, existe  ∈ ℕ de forma que  =  + . Caso  = 1,


 =  + 1 e, assim,  + 1 ∈ VQ . Mas, se  ≠ 1, observemos que existe © ∈ ℕ
tal que  = r?©) = © + 1, ou seja,  =  +  =  + ?© + 1) = ? + 1) + ©, que é
o mesmo que  >  + 1. Logo  + 1 ∈ VQ também nesse caso.
b) ( > ): Vemos, nesse caso, que  =  +  para algum  ∈ ℕ. Obtendo o
sucessor de ambos os membros, temos  + 1 = ? + ) + 1 =  + ? + 1) e,
dessa forma, concluímos que  + 1 > , que implica  + 1 ∈ VQ
114

c) ( = ): Basta observar que  + 1 =  + 1. Assim, como se pode ver,


 + 1 > , mostrando que  + 1 ∈ VQ .

Mostramos, portanto, que VQ = ℕ.

QED

Observação: Veja que, tomando como relação de ordem a dada por “≥”, a

uma ordem total. Pode-se dizer que ℕ é totalmente ordenado por >, pois, para que
transitividade continua valendo e, junto à tricotomia, faz dessa relação de ordem

acrescentar os pares ?, ) ∈ ℕ' tais que  = .


se encaixe precisamente na definição que damos para relação de ordem total, basta

Para demonstrar o Teorema 1.3.7, que é um dos resultados mais


importantes da relação de ordem, vamos usar uma nova formulação da indução,
dada abaixo.

Teorema 1.3.5 (Indução Completa): Se V ⊂ ℕ, 1 ∈ V e £?


1,2, ⋯ ,  ⊂ V) ⇒
? + 1 ∈ V)¤, então V = ℕ.

Demonstração: Seja o conjunto V ⊂ ℕ tal que 1 ∈ V e £?


1,2, ⋯ ,  ⊂ V) ⇒
? + 1 ∈ V)¤. Consideremos também o conjunto y ⊂ ℕ definido por
y =
 ∈ ℕ|
1,2, ⋯ ,  ⊂ V . Observemos que y ⊂ V. Mostraremos que y = ℕ e,
portanto, que V = ℕ.

1 ∈ y, pois
1 ⊂ V é equivalente a 1 ∈ V, que é verdade por hipótese.
Supondo que  ∈ y, ou seja,
1,2, ⋯ ,  ⊂ V, temos que  + 1 ∈ y, pois, pela hipótese
indutiva e a propriedade do conjunto V, temos que  + 1 ∈ V e, assim,
1,2, ⋯ , ,  +
1 ⊂ V. Logo, y = ℕ e, por seguinte, V = ℕ.

QED

demonstrado: não existe número natural entre  e  + 1. A demonstração fica como


Na demonstração do teorema acima, usamos um fato que ainda não foi

exercício.

Exercício 1.3.3: Sendo  um natural e  + 1 seu sucessor, mostre que não


existe número natural  tal que  <  <  + 1. SUGESTÃO: Não é necessário usar
indução.

Pode-se ter, ainda, mais uma generalização da indução, como mostrado


abaixo.

Teorema 1.3.6: Se V ⊂ ℕ, Ó ∈ V e, para todo  > Ó tal que  ∈ V, se tem


 + 1 ∈ V, então V = ℕ −
1, ⋯ , Ó − 1 .

Demonstração: Consideremos o conjunto y =


1 ⋯ , Ó − 1 ∪ V. Tem-se que
1 ∈ y e, se  ∈ y, então  + 1 ∈ y (seja porque  ∈ ?y − V =
1 ⋯ , Ó − 1 ) ou porque
 ∈ V, donde  + 1 ∈ y pela propriedade do conjunto V). Logo, y = ℕ e V = y −

1 ⋯ , Ó − 1 = ℕ −
1 ⋯ , Ó − 1 .
115

QED

entre naturais, chamaremos  −  o número natural tal que ? − ) +  = . Veja


Observação: Embora não seja possível definir uma operação de subtração

que devemos ter  <  para que  −  seja natural.

Exemplo 1.3.1: O número de diagonais de um polígono convexo de 


\?\^&)
vértices é \ = .
'
Façamos a demonstração desse teorema da geometria por
&?&^&)
indução. O resultado é válido para  = 3 (triângulo), pois = 0 e se sabe que o
'
triângulo não possui diagonais. Supondo que valha para  = , mostremos que vale
para  =  + 1. Tendo um polígono convexo de  vértices, ao acrescentar um novo
vértice, todas as diagonais do polígono anterior continuam a ser diagonais do novo
e um dos lados se torna uma diagonal (afinal, o novo vértice aparece entre dois já

diagonal). Além disso, se formam mais  − 2 diagonais, que são os seguimentos de


existentes e o seguimento de reta que liga esses dois já existentes se torna uma

Assim, esse novo polígono possuirá um número de diagonais igual a xS =  + 1 +


reta que ligam o novo vértice a cada vértice não adjacente (isto é, não vizinho).

?ÒÃ)µ

−2 = −1=
?^&) ?^&)x'^' IJ
 µJKJJL^&^&
x'xS ?xS)µ ^&?xS) ?xS)a?xS)^&b
'
+ '
= '
= '
=
'
,
mostrando o resultado. Abaixo está ilustrada a passagem de um quadrilátero para
um pentágono.

Observação 1: No exemplo acima usamos um pouco de liberdade sem nos


prender só ao que temos formalmente estabelecido até o momento.

ângulo interno inferior a  .


Observação 2: Chamasse polígono convexo o que, em cada vértice, tem o

Definição 1.3.2 (mínimo e máximo): Diz-se que  é o elemento mínimo (ou


menor elemento) de um conjunto V e denotamos por  = min V, quando  ∈ V e,
∀ ‡ ∈ V, ‡ ≥  (≥ é uma relação de ordem total). De forma análoga, diz-se que  é o
elemento máximo (ou maior elemento) de um conjunto V e denotamos por  =
max V, quando  ∈ V e, ∀ ‡ ∈ V, ‡ ≤ .


1,3,6,7,9 ,
min
1,3,6,7,9 = 1 e max
1,3,6,7,9 = 9.
Exemplo 1.3.2: Considerando o conjunto temos que

Definição 1.3.3 (boa ordem): Um conjunto V é dito bem ordenado quando


todo subconjunto não vazio de V possui menor elemento. Em símbolos, ∀ y ∈
??V) −
∅ ), ∃  ∈ y| = min y, onde ?V) é o conjunto das partes de V.
116

Observação: As duas últimas definições não se restringem apenas aos


naturais.

único. Com efeito, se ‡ e  são mínimos (máximos) de um conjunto V, então  ≤ ‡


Pode-se ver que, se um conjunto possui elemento mínimo (máximo), ele é

( ≥ ‡), pelo fato de  ser um mínimo (máximo), e ‡ ≤  (‡ ≥ ), pelo fato de ‡ ser
um mínimo (máximo). Logo  = ‡.

Exercício 1.3.4: Mostre que ℕ não possui elemento máximo.

Lembrando do Teorema 4.5.1 – I (Teorema do Bom Ordenamento), esse,


como foi alertado lá, afirma que todo conjunto pode ser bem ordenado por alguma

encontrar uma relação de ordem total em ℕ' , nem sempre é possível explicitar a
relação de ordem. Embora tenhamos usado esse teorema como motivação para

relação de ordem que faz do conjunto bem ordenado e tal fato se justifica: o
Teorema do Bom Ordenamento é equivalente ao Axioma da Escolha. Bem se viu
que o Axioma da Escolha garante a existência de certas funções (funções escolha),
mas nem sempre é possível explicitá-las. Então não é espantoso que essa
característica, a de garantir a existência embora, muitas vezes, haja a
impossibilidade de mostrar explicitamente, se mantenha no Teorema do Bom
Ordenamento. Como veremos abaixo, no conjunto dos naturais é possível explicitar
a ordem que o faz bem ordenado e essa é a ordem que definimos.

Definição 1.3.4: Dado V ⊂ ℕ, esse é dito limitado se existe  ∈ ℕ de forma


que, ∀  ∈ V,  ≤ .

Teorema 1.3.7 (Princípio da Boa Ordem): ℕ é bem ordenado.

Demonstração: Consideremos a existência de um conjunto y ⊂ ℕ que não

V = ℕ − y, 1 ∈ V, pois é o menor número natural e, assim, não pode pertencer a y.


possui menor elemento. Mostraremos que esse só pode ser o conjunto vazio. Sendo

Suponhamos que
1,2, ⋯ ,  ⊂ V, então temos que  + 1 ∈ V, pois, se tivéssemos
 + 1 ∈ y, esse seria o menor elemento de y. Pelo Teorema 1.3.5, V = ℕ e, portanto,
y = ∅.

QED

Exercício 1.3.5: Considerando V ⊂ ℕ limitado, mostre que esse possui


elemento máximo.

1.4 – Potência de números naturais

Com as operações de soma e produto definidas, pode-se definir a potência de


números naturais.

Definição 1.4.1: Sendo ,  ∈ ℕ definimos:

a) S = 
b) \xS = \ ∙  sempre que \ está bem definido.
117

encontremos & . Através da definição, temos S = , ' = SxS = S ∙  =  ∙  e


Exemplo 1.4.1: Como exemplo de como obter potências de naturais,

& = 'xS = ' ∙  =  ∙  ∙ .

Teorema 1.4.1: 1\ = 1 ∀  ∈ ℕ.

Demonstração: Demonstremos por indução sobre n. Para  = 1, 1S = 1 por


definição. Supondo que valha para  = , ou seja, 1 = 1, temos que 1xS = 1 ∙ 1 =
1 ∙ 1 = 1, mostrando que vale para  =  + 1 e, por seguinte, ∀  ∈ ℕ.

QED

Teorema 1.4.2: ∀ , , ,  ∈ ℕ valem:

a) Qx\ = Q ∙ \
b) Q∙\ = ?Q )\ = ?\ )Q
c) ? ∙ )\ = \ ∙  \

Demonstração: (a): Sendo  um natural arbitrário, demonstraremos a


propriedade por indução sobre . Para  = 1 temos QxS = Q ∙  = Q ⋅ S por
definição. Supondo para  = , isto é, Qx = Q ∙  , temos que vale para  =  +
1, pois Qx?xS) = ?Qx)xS = Qx ∙  = Q ∙  ∙  = Q ∙ xS , completando a
demonstração.

(b): Novamente tomaremos  arbitrários e prosseguiremos por indução


sobre . Para  = 1 temos Q∙S = Q = ?Q )S = ?S )Q pela definição. Observemos
que basta mostrar que Q\ = ?Q )\ , pois a segunda igualdade é imediata pela
comutatividade do produto. Supondo para  = , ou seja, Q = ?Q ) , temos
Q?xS) = QxQ = Q Q = ?Q ) ?Q )S = ?Q )xS , onde usamos a parte (a) do
teorema, demonstrada acima.

(c): ?)S =  = S S , mostrando que a propriedade vale para  = 1.


Supondo que valha para  = , ou seja, ?) =    , vemos que vale para  =  +
1, afinal, ?)xS = ?) ?)S =     =     = xS  xS . Isso completa a
demonstração.

QED

Exemplo 1.4.1: 2\ > 2 + 1 para todo  ≥ 3. Para  = 3 temos 2& = 8 > 7 =


2 ⋅ 3 + 1. Supondo para  = , isto é, 2 > 2 + 1, temos que vale para  =  + 1,
afinal, sendo  ≥ 3, 2 > 2 + 1, por hipótese, e 2 > 2, temos 2xS = 2 ⋅ 2 = 2 +
2 > 2 + 1 + 2 = 2? + 1) + 1 (isso porque, lembrando do Teorema 1.3.3, se  >  e
 > ©, então  +  >  + ©).

Exercício 1.4.1: Mostre que, para todo  ≥ 4, temos 2\ ≥ '. SUGESTÃO:


Use o resultado do exemplo acima.

Exercício 1.4.2: Demonstre que 2\ >  ∀  ∈ ℕ.

1.5 – Somatório e produtório


118

Para um tratamento mais geral (embora não o mais geral possível) dos

?, +,∙) com as seguintes propriedades:


operadores que serão apresentados, consideraremos uma estrutura qualquer

b) A operação ∙ (produto) é comutativa, associativa, distributiva em relação à


a) A operação + (soma) é comutativa e associativa.

soma e possui unidade (elemento, chamado de “1”, tal que 1 ⋅  =  ∀  ∈ ).

Definição 1.5.1 (somatório): Sendo . ⊂  uma família de elementos tal


que . =
Z \Z[S , ou seja, indexado pelos  primeiros números naturais, definimos o
operador somatório desses elementos por:

a) ∑SZ[S Z = S
b) ∑\Z[S Z = ∑\^S
Z[S Z + \ sempre que ∑Z[S Z está definido.
\^S

Como exemplo, obtemos o somatório dos elementos do conjunto . =


Z &Z[S :
S

& Z = S
Z[S

' S

& Z = & Z + ' = S + '


Z[S Z[S

& '

& Z = & Z + & = S + ' + &


Z[S Z[S

Observação: Pode-se ver que, ao mudarmos o índice "" por qualquer outro,
"i",
∑Z[S Z = ∑h[S h . Diz-se que os índices são mudos.
por exemplo, o somatório não se altera, ou seja,
\ \

Teorema 1.5.1: ∑\Z[S Z = S + ⋯ + \ ∀  ∈ ℕ.

Demonstração: Demonstremos por indução sobre n. Para  = 1 é verdade


por definição. Supondo que seja verdade para  = , ou seja, ∑Z[S Z = S + ⋯ +  ,
temos que é verdade para  =  + 1, afinal, ∑xS
Z[S Z = ∑Z[S Z + xS = S + ⋯ +  +


xS .

QED

Z \Z[S.
Corolário: O somatório não depende de uma particular indexação de

Demonstração: Sendo ∑\Z[S Z = S + ⋯ + \ a soma por uma indexação,


consideremos outra indexação tal que ∑\Z[S Z› = S› + ⋯ + \› . Pela associatividade e
comutatividade da soma, a soma S + ⋯ + \ deve ser igual à S› + ⋯ + \› ,
mostrando que não depende da indexação.

QED
119

O teorema apresentado é a motivação para se definir o somatório, e justifica


seu nome. Como veremos, a vantagem da notação de somatório vai além de ser uma
notação compacta: muitas manipulações complexas de serem realizadas são mais
simples através de somatórios.

Abaixo são apresentadas algumas propriedades do somatório.

Teorema 1.5.2: ∑\Z[S  =  ∀ ? ∈ ℕ  ,  ∈ )

Demonstração: Para  = 1 a afirmação é verdadeira já que ∑SZ[S  =  =  ⋅


1. Supondo que seja verdadeira para  = , isto é, ∑Z[S  = , será verdadeira para
Z[S  = ∑Z[S  +  =  +  = ? + 1).
 =  + 1, já que ∑xS 

QED

Observação: Estamos chamando de  ∈  o resultado da soma de n


unidades (1 + ⋯ + 1 n vezes), ou seja,  = ∑\Z[S 1.

∑\Z[S Z =  ∑\Z[S Z ∀ ? ∈ ℕ,  ∈


 
Z Z[S ⊂ )
Teorema 1.5.3 (homogeneidade):
\

relação à soma, temos que ∑\Z[S Z = S + ⋯ + \ = ?S + ⋯ + \ ) =  ∑\Z[S Z .
Demonstração: Do Teorema 1.5.1 e da distributividade do produto em

QED

∑\Z[S?Z + Z ) = ∑\Z[S Z +
∑Z[S Z ∀ ? ∈ ℕ,
Z Z[S ⊂  
Z \Z[S ⊂ ).
Teorema 1.5.4 (propriedade aditiva):
\ \

∑\Z[S?Z + Z ) = ?S + S ) + ⋯ + ?\ + \ ) = S + ⋯ + \ +


S + ⋯ + \ = ∑\Z[S Z + ∑\Z[S Z , onde se usou o Teorema 1.5.1 e a associatividade e
Demonstração:

comutatividade da soma.

QED

exigidas para a estrutura sobre , a soma possuir elemento neutro para a soma
Teorema 1.5.5 (propriedade telescópica): Se, além das propriedades já

(esse chamado de 0) e todo elemento de  possuir elemento inverso pela soma, ou


seja, ∀  ∈  ∃?−) ∈ | + ?−) =  −  = 0, então ∑\Z[S?Z − ZxS ) = S −
\xS ∀ a ∈ ℕ 
Z \xS
Z[S ⊂ b.

Demonstração: ∑\Z[S?Z − ZxS ) = ?S − ' ) + ?' − & ) + ⋯ + ?\^S − \ ) +


?\ − \xS ) = S + ?−' + ' ) + ⋯ + ?−\ + \ ) − \xS = S − \xS , onde foi apenas
necessário “deslocar” os parênteses (usando associatividade) de forma que os
termos que se anulam fossem somados.

QED
120

Exemplo 1.5.1: O somatório (de números reais) ∑\Z[S


S
Z?ZxS)
pode ser obtido
S S S S S
= − (verifique!). De fato, pois, sendo Z = , ZxS =
Z?ZxS) Z ZxS Z ZxS
vendo que , que, pelo

teorema acima, nos leva a ∑\Z[S = ∑\Z[S • −


S S S S S S
– = − =1−
Z?ZxS) Z ZxS S \xS \xS
.

Exercício 1.5.1: Mostre que ∑\Z[S R(ÒÃ =


R^S R ã ^S
R ãÒÃ
onde  ∈ ℝ. SUGESTÃO: Use a
propriedade telescópica.

Sabe-se que a indexação de


Z \Z[S é obtida por uma função sobrejetora
}: ℕ\ → ., onde . =
Z \Z[S . É natural que possa existir alguma regra que defina
essa função e, assim, muitas vezes se pode escrever ∑\Z[S Z = ∑\Z[S }?). Como
também é possível ter o mesmo conjunto . como a imagem de }: ℕ\ →  (com

 e obter . como a imagem.


mesma regra definidora), é mais comum definirmos as funções com contradomínio

Para algumas “classes” de conjuntos, é possível obter uma fórmula fechada

fechada para subconjuntos de ℕ da forma ℕ\ =


1, … ,  , ilustra isso.
para o operador somatório. O exemplo abaixo, onde encontramos uma fórmula

Exemplo 1.5.2: Considere o subconjunto ℕ\ de ℕ. O somatório desse


conjunto é dado por ∑\Z[S  =
\?\xS)
'
. A demonstração de tal resultado pode ser obtida
por indução. De fato, o resultado é válido para  = 1 e, ao supor que seja válido
para  = , isto é, ∑Z[S  = temos que o resultado vale para  =  + 1, afinal,
?xS)
'
,

Z[S  = ∑Z[S  + ? + 1) =
∑xS  ?xS) ?xS) ?x')?xS)
? + 1) =
'?xS)
+ + ' = =
' ' '
?xS)a?xS)xSb
'
.

reais, devemos tomar cuidado com o que estamos simbolizando por  = \Ñ. Estamos
Observação: Como ainda não temos os naturais como um subconjunto dos
\

›  =  (veja que é necessário que  seja um múltiplo inteiro de › para que a


considerando que os três números da expressão são naturais e eles são tais que

é o número natural  tal que 2 =


\?\xS)
'
expressão possua sentido). Ou seja,
? + 1). No entanto, embora seja necessário salientar tais detalhes para um
tratamento mais rigoroso, vezes iremos manipular expressões omitindo essas
explicações “preciosistas”.

Em alguns casos, podemos querer a soma dos elementos de


Z \Z[S de  = ©
(1 < © ≤ ) a  =  e não de  = 1 a  = . Definimos, para esses casos, ∑Z[§ Z = § e
§

∑¨Z[§ Z = ∑¨^S
Z[§ Z + ¨ sempre que ∑Z[§ Z está definido. Também é possível que se
¨^S

queira não considerar algum elemento de


Z \Z[S e, nesse caso, sendo  (1 <  ≤ )
o elemento não considerado, definimos ∑\Z[¨ Z = ∑^S
Z[¨ Z + ∑Z[xS Z .
\

Z)

normalmente, associado à soma com o inverso aditivo ( −  =  + ?−)), mas,


Observação 1: Nas definições acima, usamos o sinal de menos, que está,
121

mesmo que a estrutura sobre A (conjunto do qual


Z \Z[S é subconjunto) não admita
inverso aditivo para seus elementos, é possível definir uma “subtração” em A da
forma como foi feita com os números naturais (veja a observação após o Teorema
1.3.6).

Observação 2: Considerando a expressão ∑\Z[¨ Z , chamamos © de limite


inferior do somatório e  de limite superior do somatório.

Observação 3: Uma definição alternativa, em alguns casos, para ∑Z[§ Z é


¨

∑¨Z[§ Z = ∑¨Z[S Z − ∑§^S


Z[S Z , mas nem sempre é conveniente.

Exercício 1.5.2: Mostre que ∑\Z[¨?Z − ZxS ) = ¨ − \xS com  ≥ ©.

Exemplo 1.5.3: Usando o que foi mostrado no Exemplo 1.5.2, podemos ver
que

\ \ ¨^S
? + 1) ?© − 1)a?© − 1) + 1b ' +  − © ' + ©
& = & − &  = − =
2 2 2
Z[¨ Z[S Z[S
? + ©)? − ©) + ? + ©) ? + ©)a? − ©) + 1b
= = ,
2 2

onde © ≤ .

Exercício 1.5.3: Mostre que ∑\Z[S?2 − 1) = ' de duas formas: por indução e
usando as propriedades do somatório.

Exercício 1.5.4: Mostre que ∑\Z[S Z = ∑Z[S Z + ∑\Z[§ Z . Essa propriedade é


§^S

chamada de abertura e uma manipulação útil que pode ser feita é ∑\Z[S Z = ∑SZ[S Z +
∑\Z[' Z = S + ∑\Z[' Z .

seja, ter expressões da forma ∑\Z[S •∑h[S Zh – , ∑\Z[S •∑\h[Sa∑[S


Muitas vezes se deseja aplicar o operador somatório mais de uma vez, ou
\ \
Zh b–, etc.. Para o
Ñ Ñ ÑÑ

somatório duplo (expressão da forma ∑\Z[S •∑\h[S Zh –), pode-se ver que isso é possível
Ñ

se tivermos o conjunto
Z \Z[S de forma que Z = ∑\h[S Zh ∀  ∈ ℕ\ (o que faz com que
Ñ

∑\Z[S?Z ) = ∑\Z[S •∑\h[S Zh –). Veja que na expressão Z = ∑h[S


\
Zh o índice  não está
Ñ Ñ

sendo somado e sim pode admitir um valor arbitrário em ℕ\ . Um índice que


apareça dessa forma é chamado de índice livre. Observamos também que existe

livre recebe mesmo “nome” (no caso, ) em ambos os lados da expressão.


uma coerência do índice livre em ambos os membros da expressão, ou seja, o índice

Pelo Teorema 1.5.1 obtemos que o somatório de um conjunto


Z \Z[S tal que
Z = ∑\h[S Zh é dado por:
Ñ

\ \ \Ñ

&?Z ) = & & Zh € = SS + S' + ⋯ + S\Ñ +


Z[S Z[S h[S
122

+'S + '' + ⋯ + '\Ñ +

+\S + \' + ⋯ + \\Ñ

Exemplo 1.5.4: Seja


Z &Z[S ⊂ ℕ de forma que Z = ∑&h[S  ⋅ i. Nesse caso
temos:
&

S = & 1 ⋅ i = 1 + 2 + 3 = 6
h[S
& &

' = & 2 ⋅ i = 2 & i = 2?1 + 2 + 3) = 12


h[S h[S
& &

& = & 3 ⋅ i = 3 & i = 3?1 + 2 + 3) = 18


h[S h[S

& & &

& Z = & &  ⋅ i = 6 + 12 + 18 = 36


Z[S Z[S h[S

pouco mais curta, como feito abaixo (com ˜ somatórios):


Para um somatório múltiplo (duplo, triplo,...), podemos ter uma notação um

\Ã \µ \+ \Ã ,\µ ,⋯,\+

& & … & ZÃ Zµ ⋯Z+ = & ZÃ Zµ ⋯Z+


ZÃ [S Zµ [S Z+ [S ZÃ ,Zµ ,⋯,Z+ [S

Por exemplo, podemos denotar o somatório duplo ∑\Z[S •∑\h[S Zh – por
Ñ

∑Z,h[S
\,\
Zh . No caso de todos os limites superiores coincidirem, basta escrevê-lo uma
Ñ

Z,h[S Zh = ∑Z,h[S Zh ). Também é comum omitir os limites


única vez (por exemplo, ∑\,\ \

trabalhando sempre com somatórios de 1 até , se subentende ∑Z Z por ∑\Z[S Z .


inferiores e superiores caso sejam subentendidos. Por exemplo, se se está

Teorema 1.5.6 (comutatividade do somatório): ∀ ?, › ∈ ℕ e


Z \Z[S ⊂ 
tal que Z = ∑h[S
\
Zh ) tem-se ∑\Z[S •∑\h[S Zh – = ∑\h[Sa∑\Z[S Zh b ou, em notação mais
Ñ Ñ Ñ

compacta, ∑Z,h[S
\,\
Zh = ∑h,Z[S
\ ,\
Zh = ∑\,\
Z,h[S hZ (veja que essa última igualdade vem do
Ñ Ñ Ñ

fato dos índices serem mudos – apenas se renomeou  por i e vice-versa).

Demonstração: Demonstremos por indução sobre ′ tomando um 


arbitrário. Para › = 1, o resultado é verdadeiro, pois ∑\Z[Sa∑Sh[S Zh b = ∑\Z[S ZS =
∑Sh[Sa∑\Z[S Zh b. › = ,
∑\Z[Sa∑h[S Zh b = ∑h[Sa∑\Z[S Zh b, › =  + 1,
Supondo que valha para ou seja,
temos que vale para afinal,
123

∑\Z[Sa∑h[S
xS
Zh b = ∑\Z[S,a∑h[S Zh b + Z?xS) - = ∑\Z[Sa∑h[S Zh b + ∑\Z[S Z?xS) =
∑h[Sa∑\Z[S Zh b + ∑\Z[S Z?xS) = ∑xS
h[S a∑Z[S Zh b.
\

QED

Para visualizar melhor a última passagem, lembre-se que ∑\Z[S Zh = Z e,


assim, ∑\Z[S Z?xS) = xS .

Corolário: ∀ ?, › ∈ ℕ e
Z \Z[S ⊂  tal que Z = ∑\h[S Zh ) tem-se 2 ∑\,\
Z,h[S Zh =
Ñ Ñ

∑\,\
Z,h[SaZh + hZ b.
Ñ

Esse corolário, que é uma conseqüência imediata do teorema, é um resultado


muitas vezes útil.

Se admitirmos na estrutura sobre A um elemento neutro para a soma


(elemento 0), podemos definir uma função, chamada de Delta de Kronecker, que é
muito útil algebricamente.

denotado 0, tal que 0 +  =  ∀  ∈ , então definimos a função .: ℕ' →  de forma


Definição 1.5.2 (Delta de Kronecker): Se existe em A um elemento,

que:

.?, i) = .Zh = 1 r  = i¸
/
.?, i) = .Zh = 0 r  ≠ i

A principal propriedade dessa função é ∑\Z[S .Zh Z = h (1 ≤ i ≤ ). Para


mostrar essa propriedade, basta vermos que ∑\Z[S .Zh Z = S .Sh + ⋯ + h .hh + ⋯ +
\ .h\ = h (pois .hh = 1 e todos os outros termos se anulam). Naturalmente, a
propriedade também vale caso existam outros índices livres além de i, ou seja,
∑\Z[S .Zh Z = h (k e j são índices livres). Em particular, temos ∑\Z[S .Zh .Z = .h .

Exercício 1.5.5: Mostre que ∑\Z[S ∑\h[S .h .hZ .Z = . . SUGESTÃO: Veja que
sempre vale .Zh = .hZ .

∑\,\
Z,h[S .Zh Zh
Ñ
Exemplo 1.5.5: O somatório é dado por
∑Z,h[S .Zh Zh = ∑Z[S
01ßW\,\Ñ X
\,\Ñ
ZZ = SS + '' + ⋯ + 01ßW\,\Ñ X 01ßW\,\Ñ X (veja a Definição 1.3.2).

De fato, pois ∑\,\


Z,h[S .Zh Zh = ∑Z[S •∑h[S .Zh Zh – = ∑Z[S ZZ . O min
, › é devido ao
Ñ
\ \ Ñ 01ßW\,\Ñ X

fato de que, sendo 1 ≤  ≤  e 1 ≤ i ≤ ′, .Zh se anula para todo i >  (caso › > ) ou
para todo  > › (caso  > ›).

∑',w
Z,h[S .Zh Zh .
Exercício 1.5.6: Verifique explicitamente o resultado do exemplo anterior
para

Exercício 1.5.7: Mostre que ∑\Z,h[S .Zh = . SUGESTÃO: Observe que


.Zh = .Zh .Zh .
124

convenções, às vezes é necessário realizar uma fatoração do tipo ∑\h[S .Zh h + Z =
Exemplo 1.5.6: Para adequarmos algumas expressões a determinadas

∑\h[S .Zh h +  ∑\h[S .Zh h = ∑\h[Sa.Zh h + .Zh h b = ∑\h[Sa.Zh + .Zh bh , onde usamos a
propriedade Z = ∑\h[S .Zh h .

Sendo  = ∑\Z[S Z e  = ∑\Z[S Z , quanto é  ⋅ ? Num primeiro impulso,


poderíamos pensar que  ⋅  = ?∑\Z[S Z ) ⋅ ?∑\Z[S Z ) = ∑\Z[S?∑\Z[S Z )Z = ∑\Z[S ∑\Z[S Z Z ,

mostre a falsidade dessa expressão. Com efeito, ∑'Z[S ∑'Z[S Z Z = S S + ' ' ao passo
onde se usou o Teorema 1.5.3, mas é simples encontrar um contra exemplo que

que  = ∑'Z[S Z = S + ' ,  = ∑'Z[S Z = S + ' e  ⋅  = ?S + ' )?S + ' ) = S S +


S ' + ' S + ' ' . Mas o que há de errado na manipulação feita inicialmente?
Devemos ver que os índices são independentes (a “variação” de um não influencia

índices para garantir a independência. Ou seja, a expressão correta é  ⋅  =


na do outro) e, ao fazer o produto posto, devemos renomear ao menos um dos

?∑\Z[S Z ) ⋅ a∑\h[S h b = ∑\h[S,?∑\Z[S Z )h - = ∑\h[S ∑\Z[S?Z h ). Aqui podemos ver uma das
vantagens da notação de somatório. O que está “dentro” de um somatório pode ser

passagem simplesmente se considerou h uma constante e, assim, pelo Teorema


manipulado da mesma forma como é feito caso não existisse o somatório (na última

1.5.3, pôde “entrar” no somatório de índice ).

Exemplo 1.5.7: Considerando a soma ∑h[S


\
∑\Z[S  ⋅ i, podemos ver que
Ñ

∑h[S ∑\Z[S  ⋅ i = ∑\h[S?i ∑\Z[S  ) = ∑\h[S •i ∑h[S i


\?\xS) \?\xS) \Ñ \?\xS) \Ñ a\Ñ xSb
\
– = = ⋅ =
Ñ Ñ Ñ

' ' ' '


\\Ñ ?\xS)a\Ñ xSb
w
, onde se usou o resultado obtido no Exemplo 1.5.2.

Consideremos, para o próximo teorema, que a estrutura sobre  constitui,


mais precisamente, um corpo ordenado.

resultado preliminar: quaisquer que sejam , , ,  ∈  com  ≥  e  ≥  temos


Para que tenhamos o próximo resultado, teremos que considerar um

 +  ≥  + . Com efeito, pela monotonicidade da soma,  +  ≥  +  e  +  ≥  +


 e, portanto,  +  ≥  + .

Teorema 1.5.7: Considerando os conjuntos


Z \Z[S ,
Z \Z[S ⊂  com  sendo
um corpo e a relação de ordem ≥ a de um corpo ordenado, se, ∀  ∈ ℕ\ , Z ≥ Z , então
∑\Z[S Z ≥ ∑\Z[S Z .

Demonstração: A propriedade vale para  = 1, pois ∑SZ[S Z = S ≥ S =


∑SZ[S Z por hipótese. Supondo que valha para  = , ou seja, ∑Z[S Z ≥ ∑Z[S Z , temos
que vale para  =  + 1, pois temos ∑xS Z[S Z = ∑Z[S Z + xS ≥ ∑Z[S Z + xS =
 

∑xS
Z[S Z , afinal, xS ≥ xS e ∑Z[S Z ≥ ∑Z[S Z .
 

QED

Exercício 1.5.8: Mostre que o resultado acima vale para  = ℕ, com a


relação de ordem definida para ℕ (subsecção 1.3). Veja que ℕ não é um corpo.
125

Exemplo 1.5.8: Considerando }?) =  Z e ~?) =  ' com }, ~: ℕ → ℕ, temos


que ∑\Z[S }?) = ∑\Z[S  Z ≥ ∑\Z[S  ' = ∑\Z[S ~?), pois }?) =  Z ≥  ' = ~?) ∀  ∈ ℕ\
(mostre isso). Veja que, embora não saibamos os resultados explícitos dos
somatórios, é possível dizer que um somatório é maior que o outro.

Exercício 1.5.9: Mostre que QxS ≥ ∑\Z[S  Q ≥ Q ∀ ,  ∈ ℕ. SUGESTÃO:


Lembre-se do Teorema 1.5.2.

O teorema seguinte garante uma manipulação bastante útil em várias


situações.

Teorema 1.5.8 (mudança de variável): Sendo }: ℕ → , temos que


∑¨Z[§ }?)
= ∑Z[§x }? − ) = ∑Z[§^ }? + ), onde ,  e © são tais que as subtrações
¨x ¨^

feitas sejam positivas (num caso mais geral, que não apresentaremos agora, essa
restrição pode ser eliminada).

teorema é válido para © = , pois, por um lado, ∑Z[§ }?) = }?) e, por outro lado,
Demonstração: Usemos o Teorema 1.3.6 para realizar a demonstração. O
§

∑§x
Z[§x }? − ) = }a? + ) − b = }?). Supondo que valha para © = , ou seja,

∑Z[§ }?) = ∑Z[§x


x
}? − ), temos que vale para © =  + 1, afinal, ∑Z[§x }? − ) =
?xS)x

Z[§x }? − ) = ∑Z[§x }? − ) + }?£? + ) + 1¤ − ) = ∑Z[§ }?) + }? + 1) =


∑?x )xS ?x ) 

∑xS
Z[§ }?). A segunda igualdade se demonstra analogamente.

QED

Exemplo 1.5.9: Embora possa parecer estranha a manipulação apresentada

}: ℕ →  de forma que queiramos o somatório de 5 a 8. Ou seja, ∑UZ[¿ }?) = }?5) +


no Teorema 1.5.8, podemos ver o quanto ela é simples por um exemplo. Considere

}?6) + }?7) + }?8). Mas vemos que o somatório não se altera ao somarmos 2 aos
limites do somatório e subtrairmos 2 da variável. De fato, pois ∑Ux' Z[¿x' }? − 2) =
∑Z[ }? − 2) = }?7 − 2) + }?8 − 2) + }?9 − 2) + }?10 − 2) = }?5) + }?6) + }?7) +

}?8).

Podemos definir em um corpo uma potência de expoente “inteiro”, como feito


abaixo.

Definição 1.5.3 (potência com expoente inteiro): Sendo ?, +,⋅) um


corpo, ?S) =
 ∈  | = 0 =  = ∑\Z[S 1  ˜~=  ∈ ℕ ,  ∈  e  ∈ ?S) ,
definimos:

a) Ó = 1
b) \ = \^S ⋅  sempre que \^S está definido.
S S
c) ^\ = Rã se Rã está definido.

naturais continuam válidas para esse caso. Temos ainda que S = Ó ⋅  = 1 ⋅  = .


Não é difícil verificar que as propriedades demonstradas para a potência de
126

Pela definição, 0Ó = 1, mas, sendo  ≠ 0, 0\ = 0. Isso parece contraditório,


fazendo-nos pensar se é realmente uma definição apropriada, mas o resultado
apresentado é conveniente por diversos motivos.

Duas outras propriedades dessa definição de potência são dadas no teorema


abaixo.

Teorema 1.5.9: Sendo ?, +,⋅) um corpo com a potência de expoente inteiro
definida como acima, temos que:

R2
a)
R3
= ¨^§ se  ≠ 0 ou  = 0.
R \ Rã
• – = se  ≠ 0.
 ã
b)

Demonstração: (a): Se  = 0, a expressão só fica definida com  = 0 e,


Ó2
nesse caso, temos ÓÞ
= 0¨ = 0¨^Ó . No caso de  ≠ 0, qualquer expoente  é válido e,
assim, demonstremos o resultado por indução sobre  já observando que o resultado
R2
é válido para  = 0, pois RÞ
= ¨ = ¨^Ó . O resultado vale para  = 1 já que

= ¨^S e, ao supormos que valha para  = , isto é,


R2 R2 R⋅R 2ÂÃ R2

= R
= R R
= ¨^ , temos
que vale para  =  + 1, afinal,
R2 R2 R2 S S R
= R ⋅R = R ⋅ R = ¨^ ⋅ R = ¨^^S ⋅ R = ¨^?xS),
R ÒÃ
mostrando o resultado.

(b): Demonstremos por indução sobre  já vendo que o resultado é válido


R Ó RÞ R S R RÃ
para  = 0, afinal, • – = 1 = Þ . O resultado vale para  = 1, já que • – =  = Ã , e,
R 
ao supor que valha para  = , ou seja, • – = , obtemos que o resultado vale para
R

R xS R 
 =  + 1,
R R R R⋅R  R ÒÃ
pois • – = • – ⋅ • – =  ⋅  = ⋅ = Òà e isso completa a
demonstração.

QED

Defninição 1.5.4 (produtório): Sendo . ⊂  uma família de elementos tal


que . =
Z \Z[S , definimos o operador produtório desses elementos por:

a) ∏SZ[S Z = S
b) ∏\Z[S Z = a∏\^S
Z[S Z b ⋅ \ sempre que ∏Z[S Z está definido.
\^S

Essa definição é semelhante à de somatório (apenas se trocou a soma pelo

(mostre isso), ou seja, ∏\Z[S Z = S ⋅ ' ⋅ … ⋅ \ e o corolário também continua válido.


produto). A propriedade demonstrada no Teorema 1.5.1 possui análogo nesse caso

Como será visto, existem outras mais características do operador produtório que
são análogas a alguma do somatório.

Observação: Os índices do produtório também são mudos. Ou seja, o


produtório não muda se mudarmos o nome dos índices.
127

a estrutura sobre  é um corpo ordenado. Mas algumas das propriedades podem


Para simplificar o tratamento do que será visto a seguir, vamos admitir que

valer para outras estruturas se forem tomados os devidos cuidados.

Muitas demonstrações serão deixadas como exercício devido à semelhança


com as já feitas para o somatório.

Teorema 1.5.10: Para o produtório valem as seguintes afirmações:

a) ∏\Z[S  =  \ ∀  ∈ 
b) ∏\Z[S  ⋅ Z =  \ ∏\Z[S Z ∀  ∈  
Z \Z[S ⊂ 
c) ∏\Z[S Z ⋅ Z = ∏\Z[S Z ⋅ ∏\Z[S Z ∀
Z \Z[S ,
Z \Z[S ⊂ 

Exercício 1.5.10: Mostre o teorema acima.

Salvo alguns detalhes, podemos ver que essas propriedades são análogas às
mostradas nos teoremas 1.5.2, 1.5.3 e 1.5.4.
/:F×F∗ →F
?R,)↦R/
Lembremos que num corpo é sempre possível definir uma operação ,
R
chamada divisão, onde  =  ⋅  ^S . Assim, temos o teorema seguinte.

Teorema 1.5.11: Sendo


Z \Z[S ,
Z \Z[S ⊂  com Z ≠ 0 ∀  ∈ ℕ\ , temos que
vale:

∏ã
a) ∏\Z[S • G( – = (à (

( ∏ã
(Ã G(

b) ∏\Z[S •
(Òà ãÒÃ
– = se Z ≠ 0 ∀  ∈ ℕ\ .
( Ã

Exercício 1.5.11: Mostre o teorema acima.

análoga a uma propriedade não apresentada do somatório: ∑\Z[S?Z − Z ) = ∑\Z[S Z −


A propriedade apresentada na parte (a) do teorema acima na verdade é

∑\Z[S Z (mostre isso considerando a operação subtração definida para corpos). Já a


apresentada na parte (b) é a propriedade telescópica do produtório.

Exemplo 1.5.10: Sendo }: ℕ → ℝ tal que }?) = Z + 1, quanto é ∏\Z[S }?) =


S

∏\Z[S • + 1–? Podemos resolver tal questão observando que


S S ZxS
+1=
Z Z Z
. Assim,
∏\Z[S • + 1– = ∏\Z[S •
S ZxS
–. Ora, sendo Z = , temos
Z Z
que esse produtório é telescópico
∏\Z[S • + 1– = ∏\Z[S • – =  + 1.
S ZxS
Z Z
e, dessa forma,

Z
Exemplo 1.5.11: Considerando }: ℕ → ℝ tal que }?) = ZxS, podemos usar o
resultado anterior para encontrar o produtório ∏\Z[S }?) = ∏\Z[S ZxS. De fato, pois
Z

∏ã
e, portanto, ∏\Z[S ZxS = ∏\Z[S (ÒÃ = (Ã S
Z S Z S S
= (ÒÃ (ÒÃ = \xS.
ZxS ∏ã
( ( (Õ ( –

Exercício 1.5.12: Sendo }: ℕ → ℝ tal que }?) = 1 + + µ , encontre ∏\Z[S }?).


' S
Z Z
128

conjunto
Z \Z[S ⊂  de © (1 ≤ © ≤ ) a  e, para esse caso, definimos ∏Z[¨ Z = ¨ e
De forma análoga ao somatório, é possível que se queira o produtório de um
¨

Z[¨ Z b ⋅ § sempre que ∏Z[¨ Z está definido. Também podemos não


∏\Z[¨ Z = a∏\^S \^S

querer considerar um determinado elemento de


Z \Z[S e, sendo  o indesejado
(1 ≤  ≤ ), definimos ∏\Z[S Z = a∏^S
Z[S Z b ⋅ ?∏Z[xS Z ).
\
Z)

Exercício 1.5.13: Mostre que ∏\Z[¨ •


(Òà ãÒÃ
– = com  ≥ ©.
( 2

S Z µ ^S
Exercício 1.5.14: Mostre que, sendo }: ℕ → ℝ tal que }?) = 1 − =
Zµ Zµ
,

∏\Z['
Z µ ^S \xS
=
Zµ '?\^S)
.

Exercício 1.5.15: Mostre que ∏\Z[S Z = a∏Z[S Z b ⋅ a∏\Z[§ Z b. Essa é a


§^S

propriedade de abertura para o produtório.

Também não é estranha a idéia de produtório duplo, triplo, etc.. Assim,


podemos ter expressões do tipo ∏\Z[S ∏\h[S Zh . Como o caso é análogo ao do
Ñ

somatório, podemos adotar todas as notações já introduzidas para somatórios


múltiplos.

Teorema 1.5.12 (comutatividade do produtório): ∀ ?, › ∈ ℕ e


Z \Z[S ⊂
 tal que Z = ∏h[S
\
Zh ) tem-se ∏\Z[S •∏\h[S Zh – = ∏\h[Sa∏\Z[S Zh b ou, de forma mais
Ñ Ñ Ñ

compacta, ∏Z,h[S
\,\
Zh = ∏h,Z[S
\ ,\
Zh = ∏\,\
Z,h[S hZ (essa última igualdade vem do fato dos
Ñ Ñ Ñ

índices serem mudos – apenas se renomeou  por i e vice-versa).

Exercício 1.5.16: Mostre o teorema acima.

∀ ?, › ∈ ℕ
Z \Z[S ⊂  Z = ∏h[S
\
Zh )
Ñ
Corolário: e tal que tem-se
'
•∏Z,h[S
\,\
Zh – = ∏\,\
Z,h[SaZh ⋅ hZ b.
Ñ Ñ

Exercício 1.5.17: Demonstre o corolário acima.

Esse corolário é o resultado análogo ao obtido para o somatório.


?ZxS)h
Exemplo 1.5.12: Considerando }: ℕ' →  tal que }?, i) = Z?hxS), temos que

= ∏\Z[S 4•
ZxS \ \
– ∏h[S •hxS–5 = ∏\Z[S 4•
ZxS \
⋅ \xS5 = ?\xS)ã ⋅
?ZxS)h
∏\Z,h[S }?, i) = ∏\Z,h[S
h S S
–
Z?hxS) Z Z
?ZxS)ã ?\xS)ã ?ZxS)ã
∏\Z[S = ?\xS)ã = 1, onde se usou o fato de ∏\Z[S
Zã Zã
ser um produto telescópico
e os resultados dos exemplos 1.5.10 e 1.5.11. Poder-se-ia obter o mesmo resultado
?ZxS)h ' ?ZxS)h ?hxS)Z
usando o corolário do teorema. De fato, pois •∏\Z,h[S Z?hxS)– = ∏\Z,h[S Z?hxS) ⋅ h?ZxS) =
∏\Z,h[S 1 = 1.

Teorema 1.5.13 (mudança de variável): Sendo }: ℕ → , temos que


∏¨Z[§ }?) = ∏Z[§x }? − ) = ∏Z[§^ }? + ), onde ,  e © são tais que as subtrações
¨x ¨^
129

feitas sejam positivas (é possível tirar essa restrição num caso mais geral, que não
será apresentado agora).

Demonstração: Usemos o Teorema 1.3.6. O teorema é válido para © = ,


pois, por um lado, ∏Z[§ }?) = }?) e, por outro lado, ∏Z[§x }? − ) = }a? + ) −
§ §x

b = }?). Supondo que valha para © = , isto é, ∏Z[§ }?) = ∏Z[§x


x
}? − ), temos
que vale para © =  + 1, afinal, ∏Z[§x }? − ) = ∏Z[§x }? − ) = •∏Z[§x }? −
?xS)x ?x )xS ?x )

)– ⋅ }?£? + ) + 1¤ − ) = a∏Z[§ }?)b ⋅ }? + 1) = ∏xS


Z[§ }?). A segunda igualdade se
demonstra analogamente.

QED

1.6 – Teorema Binomial de Newton

Consideraremos a estrutura ?, +,⋅) um corpo e, para auxiliar as definições


?S) ⊂ 
?S) =
 ∈ | = 0 =  = ∑Z[S 1  ˜~=  ∈ ℕ .
que serão feitas, definiremos o conjunto tal que
\

expressões da forma ? + ‡)\ (, ‡ ∈    ∈ ?S) ), chamados de binômios, em um


O Teorema Binomial de Newton é o teorema que nos permite expandir

polinômio (expressão da forma ©S  \ + ©'  \^S + ⋯ + ©\  + ©\xS ). Não é difícil ver


que a expressão ? + ‡)\ dá origem a um polinômio, mas o teorema que será
demonstrado nos permite encontrar os coeficientes do polinômio (os ©S , ©' , … , ©\xS )
facilmente.

Definição 1.6.1 (fatorial): Definimos a função fatorial !: ?S) →  por:

a) 0! = 1
b) ! =  ⋅ ? − 1)! sempre que ? − 1)! está definido.

De imediato podemos ver que 1! = 1 ⋅ ?1 − 1)! = 1 ⋅ 0! = 0! = 1.

Um resultado que podemos ter é que ! = ∏\Z[S  = 1 ⋅ 2 ⋅ … ⋅  se  > 0.


Demonstremos isso por indução. O resultado vale para  = 1, pois ∏SZ[S  = 1 = 1! e,
ao supor que valha para  = , ou seja, ! = ∏Z[S , temos que vale para  =  + 1,
Z[S  = ∏Z[S  ⋅ ? + 1) = ? + 1) ⋅ ! = ? + 1)!.
pois ∏xS 

?\x§)!
= ∏Z[S? + ) = ? + 1) ⋅ ? + 2) ⋅ … ⋅ ? + ) se  > 0
§
\!
Outro resultado é
(mostre isso). O fatorial é útil em várias áreas na matemática. Em especial, na
Análise Combinatória.

Para a próxima definição, tomemos # = W?, ) ∈ '?S) | ≥ X.

pela função ( ):# →  tal que:


Definição 1.6.2 (coeficiente binomial): O coeficiente binomial é definido

.  !
• – ?, ) = • – =
.  ! ? − )!
130

Duas propriedades que podemos perceber dessa função são a\Ób = a\\b = 1 e
\! \! \! \!
a\xS
\
b =  + 1. De fato, pois a\\b = \!?\^\)! = \!Ó! = 1 = Ó!\! = Ó!?\^Ó)! = a\Ób e a\xS
\
b=
?\xS)! ?\xS)\!
= =  + 1.
\!a?\xS)^\b! \!S!

Exercício 1.6.1: Mostre que •\§– = •\^§


\
–.

Essa definição também é muito freqüente na matemática em diversas áreas.


Abaixo segue um teorema que nos será necessário na demonstração do Teorema
Binomial de Newton.

Teorema 1.6.1 (relação de Stifel): Sendo ,  ∈ a?S) −


0 b com  ≥ 
temos que:

+1  
ù ú = • –+• –
  −1

Demonstração: Sendo  ≥ , pode-se ver que existe  em ?S) tal que


 =  + . Assim, tomando o lado direito da expressão:

  + + ? + )! ? + )!


• –+• –=ù ú+ù ú= +
 −1  −1 ! a? + ) − b! ? − 1)! a? + ) − ? − 1)b!
? + )! ? + )! ? + )! ? + )!
= + = +
! ! ? − 1)! ? + 1)! ? − 1)! ! ? − 1)! ! ? + 1)
? + )! 1 1 ? + )!  + 1 + 
= ù + ú= ù ú
? − 1)! !   + 1 ? − 1)! ! ? + 1)
? + )! a? + 1) + b ? +  + 1)!
= =
? − 1)!  ⋅ ! ? + 1) ! ? + 1)!
? +  + 1)! ++1 +1
= =ù ú=ù ú
! ?? +  + 1) − )!  

QED

Teorema 1.6.2 (Teorema Binomial de Newton): Para quaisquer  ∈  e


 ∈ ?S) , vale que:

\xS

?1 + ) = & •
\
–  \^?^S)
−1
[S

Demonstração: Demonstraremos por indução sobre  já observando que o


resultado é satisfeito para  = 0, pois ∑S[SaÓ b  Ó^?^S) = aÓSb Ó^?S^S) = 1 = ?1 + )Ó .

Podemos ver que o resultado vale para  = 1 já que ∑'[Sa^S


S
b  S^?^S) =
aSÓb S^?S^S) + aSSb S^?'^S) =  S +  Ó =  + 1. Ao supor que valha para  = , isto é,
?1 + )§ = ∑§xS
[Sa^Sb 
§ §^?^S)
, temos que vale para  =  + 1. Com efeito:
131

§xS

?1 + )§xS
= ?1 + ) § ?1
+ ) = & • –  §^?^S) € ?1 + )
−1
[S
§xS

= &? + 1) • –  §^?^S)
−1
[S
§xS
 
= & 4 • –  §^?^S) + • –  §^?^S) 5
−1 −1
[S
§xS §xS
 
= &• –  §xS^?^S) + & • –  §^?^S)
−1 −1
[S [S
§xS §xS
  
=• –  §xS^?S^S) + & • –  §xS^?^S) + & • –  §^?^S)
1−1 −1 −1
[' [S
89òR\çR òN ˆRPZáˆN
[S IJJJJJKJJJJJL
7
§xS §x'
 §xS  
= • – +&• – §xS^?^S)
+&• –  §^?^')
0 −1 −2
[' ['
§xS 3Â?µ) §xS
 
=  §xS + & • –  §xS^?^S) + & •
IJJJKJJJL
–  §^?^') +
−1 −2
[' ['
[S
IJJJKJ
 JJL §^a?§x')^'b

IJJJJKJJJJL
+ù ú
+2−2
§xS §xS
 
= §xS
+&• –  §^?^') + & • –  §^?^') + 1
−1 −2
[' ['
§xS
 
=  §xS + & 4• –  §^?^') + • –  §^?^') 5 + 1
−1 −2
['
3ÒÃ
@ ÂÃ C
[a b ?¬N RçãO òN ¯ Z´N )
= B §^?^') F
§xS
? IJJJJJKJJJJ
JL
=  §xS + & <? • –+• – B E+1
−1 −2
[' ? B
;> A D
§xS
 + 1 §^?^')
=  §xS + & Gù ú H+1
−1
['
§xS
 + 1 §^?S^')  + 1 §^?^') +1
=ù ú + & Gù ú H+ù ú  §^?§x'^')
1−1 −1 +2−1
['
§x' ?§xS)xS
 + 1 §^?^')  + 1 §xS^?^S)
= &ù ú = & ù ú
−1 −1
[S [S

E esse é o resultado procurado.

QED

Mas o que queremos é o resultado para ? + ‡)\ em geral, embora o


resultado acima já seja realmente útil. Poderíamos ter demonstrado já para o caso
132

geral, mas tornaria a demonstração mais complicada. Demonstrado o teorema


acima, o resultado geral é um corolário.

Corolário: Para quaisquer , ‡ ∈  e  ∈ ?S), vale que:

\xS

? + ‡) = & •
\
–  \^?^S) ‡ ^S
−1
[S

Demonstração: Como o resultado é claro para ‡ = 0 (esse é um dos motivos


de 0 = 1 ser conveniente), vamos demonstrar para ‡ ≠ 0. Nesse caso, temos:
Ó

MOPNQR
IJJJJJJKJJJJJJL
\xS \xS
 \   \^?^S)  1
? + ‡) = ‡ ù + 1ú = ‡ & •
\ \ \
–ù ú =‡ &•
\
–  \^?^S) \^?^S)
‡ −1 ‡ −1 ‡
[S [S
\xS \xS
 ‡ \
 1
= &• –  \^?^S) \ ^?^S) = & • –  \^?^S) ^?^S)
−1 ‡ ‡ −1 ‡
[S [S
\xS

= &• –  \^?^S) ‡ ^S
−1
[S

QED

Existem generalizações do teorema para  fracionário e negativo, mas esses


casos resultam em polinômios de infinitos termos (uma série infinita – foram esses
os casos que Newton realmente estudou).

Observação importante: Devido à nossa escolha de não incluir o zero nos


naturais, tivemos que enunciar o teorema como feito acima. No entanto pode-se ver

teorema como ? + ‡)\ = ∑\[Óa\ b  \^ ‡  , que é uma expressão visivelmente mais
que, por uma mudança de variável (por enquanto ilícita), podemos reescrever o

simples. Dentro do que temos, podemos “improvisar” definindo ∑\[Ó }?) = }?0) se
 = 0 e ∑\[Ó }?) = }?0) + ∑\[S }?) se  ∈ ℕ, onde }: ℕ ∪
0 →  com 0 ∈ .

Alguns resultados imediatos do teorema são:

a) 2\ = ∑\[Óa\ b, onde se usou o teorema com  = 1.


b) 0 = ∑\[Ó?−1) a\b se  > 0, onde se usou o teorema com  = −1.

O Teorema Binomial de Newton transforma expressões da forma ? + ‡)\


em uma soma onde, basicamente, se precisa apenas calcular os coeficientes a^S
\
b
(ou a\ b se a soma começa de 0). É muito mais simples, em geral, calcular esses
coeficientes que a expressão ? + ‡)\ por multiplicações sucessivas, mas a relação
de Stifel nos traz mais um resultado facilitador. Considerando os binômios ? + ‡)\
e ? + ‡)\xS , com coeficientes binomiais, respectivamente, da forma a\ b e a\xS

b, a
relação a\xS

b = a\ b + a^S
\
b pode ser vista como “o coeficiente  + 1 (lembrando que a
soma começa de  = 0) do binômio ? + ‡)\xS é igual à soma dos coeficientes  + 1 e
 do binômio ? + ‡)\ ”. Essa afirmação só faz sentido caso  não corresponda a uma
133

extremidade do binômio ( = 0 ou  =  + 1 no caso de ? + ‡)\xS ), no entanto se


sabe que nas extremidades o coeficiente binomial é 1.

Começando pelos binômios ? + ‡)Ó = 1, donde se tem que o coeficiente é 1, e


? + ‡)S =  + ‡, que possui coeficientes binomiais 1 e 1, podemos obter os
coeficientes dos binômios com  > 1 pela relação de Stifel. Por exemplo, os
coeficientes de ? + ‡)' são 1, 2 e 1, onde o primeiro e o último são 1 por serem
extremidades e o segundo se obtêm por a'Sb = aSxS S
b = aSSb + aS^S
S
b = 2. Realizando
sucessivamente esse processo obtemos os seguintes resultados:

 = 0: 1
 = 1: 1 1
 = 2: 1 2 1 2=1+1
 = 3: 1 3 3 1 3 = 1 + 2 = 2 + 1
 = 4: 1 4 6 4 1 4 = 1 + 3 = 3 + 1 6 = 3 + 3

Como se pode ver, é simples obter essa sucessão (chamada de Triângulo de


Pascal).

que, considerando o binômio ? + ‡)\ = ∑\[Óa\ b  \^ ‡  , o expoente de  decresce de


Mas, além dos coeficientes, temos que ter os expoentes. Não é difícil verificar

 até 0 ao passo que o de ‡ cresce de 0 até . Assim, por exemplo, a expressão


? + ‡)w pode ser escrita como ? + ‡)w =  w + 4 & ‡ + 6 ' ‡ ' + 4‡ & + ‡ w , onde
usamos o Triângulo de Pascal.

S ¿ ’ w
Exercício 1.6.2: Faça a expansão dos binômios ? + ‡) , • + “– e •’ − “ – .
“

Exercícios III – 1

ordem são a de um corpo. Considere também que ?S) =


 ∈ | = 0 =  =
Durante os exercícios, considere que as propriedades operacionais e de

∑\Z[S 1  ˜~=  ∈ ℕ . Nos exercícios 6, 7 e 8, as demonstrações não precisam ser


de todo rigorosas (como feito no Exemplo 1.3.1).

1 – Mostre que o Princípio da Boa Ordem implica o Princípio da Indução


(Axioma 1.1.3).

2 – Um número natural  é dito par se existe  ∈ ℕ tal que  = 2 e um


número © é dito ímpar se existe ˜ ∈ ℕ tal que © = 2˜ − 1. Mostre que, dado um  ∈
ℕ,  é par ou ímpar e não pode ser ambos. Mais precisamente, sendo  o conjunto
dos naturais pares e ™ o conjunto dos naturais ímpares, mostre que ℕ =  ∪ ™ e que
 ∩ ™ = ∅.

3 – Dado V ⊂ ℕ não vazio tal que ,  ∈ V ⇔ , ? + ) ∈ V, mostre que


existe  ∈ ℕ de forma que V =
 ∈ ℕ| = ©  ˜~= © ∈ ℕ (conjunto dos
múltiplos de ).
134

4 – Mostre que todo natural par  > 1 pode ser escrito como  = 2\ c para
algum  ∈ ℕ e c ímpar.

5 – Usando indução, mostre que:

a) 6 ⋅ ∑\Z[S  ' = ? + 1)?2 + 1)


b) 4 ⋅ ∑\Z[S  & = a? + 1)b
'

c) ∑\Z[S 2Z^S = 2\ − 1
d) ! > 2\ ∀  ≥ 4
e) § ≥ ¨ se  ≥ © e  ≥ .

6 – Torre de Hanói é um conhecido jogo constituído de três hastes (1, 2 e 3) e


um conjunto de discos com diâmetros distintos, os quais colocados em ordem
crescente de diâmetro na haste 1 (contando de cima para baixo). O objetivo é passar
esses discos para a haste 3 com o menor números de movimentos possível (um
movimento consiste em passar um disco de uma haste para outra). As regras são as
seguintes:

a) Só se pode mover um disco de cada vez.


b) Só se pode mover o disco de menor diâmetro numa haste.
c) Um disco de diâmetro menor nunca poderá estar embaixo de um disco de
diâmetro maior.

Hanói com  discos é 2\ − 1. Compare o resultado com o do item (c) do exercício


Mostre que o menor número possível de movimentos para uma Torre de

 ( > 1) discos, precisamos colocar  − 1 primeiros discos na haste 2 para ser


anterior e interprete-o. SUGESTÃO: Use indução e observe que, para uma torre de

possível passar o último (de diâmetro maior) para a haste 3.

7 – Considere  retas num plano. Mostre que o “mapa” formado por essas
retas pode ser colorido com duas cores sem que regiões vizinhas sejam coloridas
com a mesma cor (uma região é vizinha de outra se existe um segmento de reta
separando-as).
135

8 – Considere o grupo diedral s\ e os grupos diedrais s' \ , onde  ∈ ℕ.


Mostre que existe um único subgrupo de s' \ que é isomorfo a s\ . SUGESTÃO:

regular de 2  vértices para um de 2xS  vértices se dobra o número de vértices.


Consulte o resultado do exercício 15, Exercícios II – 6. Observe que de um polígono

Pode-se imaginar a construção desse polígono com o dobro de vértices


acrescentando esses vértices nos lados do polígono anterior, como ilustrado abaixo,
onde se passa de um triângulo para um hexágono.

9 – Os seguintes “teoremas”, claramente falsos, possuem falhas em suas


“demonstrações”. Encontre essas falhas:

Teorema 1: Uma função }: V → y tal que V possui  elementos (indexado


pelos  primeiros números naturais) necessariamente é uma função constante*.

Demonstração: Demonstremos por indução. O resultado é válido para  = 1,


pois }?
 ) =
}?) . Supondo que seja válida para  = , isto é, }?V) =
‡ com
‡ ∈ y e V possuindo  elementos, temos que é válida para  =  + 1. De fato, pois,
considerando V com  + 1 elementos e tomando dois elementos quaisquer distintos
,  ∈ V, temos que V › = V −
 e V ›› = V −
 possuem  elementos e, pela
hipótese indutiva, }?V › ) =
‡ e }?V ›› ) =
‡ , que implica }?V) = }?V › ∪ V ›› ) =
}?V › ) ∪ }?V ›› ) =
‡ , mostrando o resultado.

*: De forma geral, uma função }: V → y é dita constante quando }?V) =


‡
para algum ‡ ∈ y, ou seja, quando a imagem de } é um conjunto unitário.

Teorema 2: Considerando  ∈  e  ∈ a?S) −


0 b, temos \ = .

teorema. O resultado é válido para  = 1, pois S = . Supondo que seja válido para
Demonstração: Usaremos a indução completa para demonstrar esse

todo  ∈
1, … ,  , temos que é válido para  =  + 1, afinal xS = '^?^S) =
R  ⋅R R⋅R
= = .
R ÂÃ R

10 – Sendo }: ℕ → ?S) e  ∈ , mostre que


136

Ù  ´?Z) = ∑(Ã ´?Z)


ã

Z[S

11 – Encontre formulas para as seguintes expressões:

a) ∑\Z[  ' com  ≤ .


b) ∑\Z[  & com  ≤ .
c) ∑\Z[S ∏Zh[S •1 + –
µ S
h
d) ∏\Z[S 2Z?ZxS)
e) ∏\Z,h[S Zh
f) ∏\Z[S ∑Z[ÓaZ b

12 – Mostre que:

a) a§b •\§– = a\ b •\^


§^
–
b) ?−1)'\ = 1 e ?−1)'\^S = −1 com  ∈ ?S)
c) ∑\ZÃ ,…,ZI[Sa.ZZÃ .ZIh ∏Q^S
[S .Z+ Z+ÒÃ b = .Zh
d) ∏\Z[S ∑\[Óa\ b  ^\ = ? + 1)\
e) ∑\[Ó a\ b = 2\^S
f) ∑\[Óa§x

b = a§x\xS
\
b
g) ∑\[Óa§ba\^
¨
b = a§x¨
\
b SUGESTÃO: Aplique o teorema binomial à ? +
1) ? + 1) .
§ ¨

h) ∑\[Óa\ b = a'\
'
\
b

i) ∑\[Ó
?^S) aã
b S
= ?\xS)?\x')
x'

13 – Considere a função }: ℕ' →  de forma que }?, i) = −}?i, ). Demonstre


que ∑\Z,h[S£}?, i)¤'^S = 0, onde  ∈ a?S) −
0 b.

14 – Seja
}Z \Z[S uma família de funções }Z : Z → ZxS , mostre que ?}\ ∘ … ∘
}S )^S = }S^S ∘ … ∘ }\^S.

2 – Conjuntos Finitos e Infinitos; Aritmética de Cardinais


Uma das motivações para se ter o conjunto dos naturais é conseguir contar
elementos de um conjunto. Nessa secção daremos uma noção rigorosa do que seja
contar elementos de um conjunto (finito). Além disso, veremos também que existem
infinitos distintos e que o conjunto dos naturais possui a menor cardinalidade
infinita.

2.1 – Conjuntos finitos

Definição 2.1.1 (conjunto finito): Dado um conjunto V dizemos que esse é


finito se é vazio ou existe  ∈ ℕ tal que }: ℕ\ → V é bijetora.
137

Vemos que isso significa que o conjunto V é vazio ou é indexado por ℕ\ e,


assim, podemos escrever V =
Z \Z[S (quando não é vazio). A bijeção } é chamada de
contagem dos elementos de V e  é chamado de números de elementos ou número
cardinal de V. É comum denotarmos |V| como o número cardinal de V (notação já
introduzida no primeiro capítulo). Para o conjunto vazio, associamos o símbolo 0
para indicar sua cardinalidade, isto é, |∅| = 0.

A definição corresponde ao que entendemos intuitivamente por contar

entre os naturais do conjunto ℕ\ e os elementos de V (1 ↦ }?1) = S , 2 ↦ }?2) =


elementos de um conjunto, pois se está fazendo uma correspondência um-para-um

' , … ,  ↦ }?) = \ ).

Teorema 2.1.1: Se  ⊂ ℕ\ é uma inclusão própria, então não existe bijeção


}:  → ℕ\ . De forma equivalente, se  ⊂ ℕ\ , então }:  → ℕ\ pode ser bijetora
somente se  = ℕ\ .

para os quais existe uma bijeção }:  → ℕ\ com  ⊂ ℕ\ sendo uma inclusão própria.
Demonstração: Consideremos o conjunto de todos os números naturais

elemento, chamemos esse de Ó . Logo se vê que Ó > 1, pois não existe natural
Segue do Princípio da Boa Ordem (Teorema 1.3.7) que esse conjunto possui menor

menor que 1.

Sendo }:  → ℕ\Þ uma bijeção e  ⊂ ℕ\Þ uma inclusão própria, peguemos


 ∈  tal que }?) = Ó . Ora, se redefinirmos } para }: ? −
 ) → aℕ\Þ ^S b, teremos
uma bijeção entre  −
 e ℕ\Þ ^S, contrariando a hipótese de que Ó era o menor
natural para o qual isso seria possível.

QED

Desse resultado podemos obter como corolários alguns resultados


fundamentais sobre conjuntos finitos.

Corolário 1: Sendo }: ℕ\ → ℕQ uma bijeção, então  = .

Demonstração: Se  < , então } é uma bijeção entre ℕ\ e ℕQ e, se  < ,


então } ^S é uma bijeção entre ℕQ e ℕ\ . Ambas as situações absurdas pelo teorema.

QED

Corolário 2: Se }: ℕ\ →  e ~: ℕQ →  são bijeções, então  = .

Demonstração: Ora, se } e ~ são bijeções, então } ^S ∘ ~: ℕQ → ℕ\ é uma


bijeção e, pelo corolário acima, isso só pode acontecer se  = .

QED

Esse corolário mostra que o número cardinal está bem definido. Ou seja, que
um conjunto finito só pode ser associado a um único número cardinal.
138

Corolário 3: Se  é um conjunto finito, então }:  →  é injetora se, e


somente se, é sobrejetora.

Demonstração: Sendo  finito, existe uma bijeção ä: ℕ\ →  para algum


 ∈ ℕ. A função }:  →  é injetora ou sobrejetora se, e somente se, ä^S ∘ } ∘ ä: ℕ\ →
ℕ\ é injetora ou sobrejetora respectivamente (é uma composição de funções
injetoras ou sobrejetoras). Chamemos ä^S ∘ } ∘ ä de ~. Se ~ é injetora, então é
sobrejetora, pois, sendo ~?ℕ\ ) = V, ~: ℕ\ → V é uma bijeção e, pelo teorema, só
ocorre se V = ℕ\ . Por outro lado, se ~ é sobrejetora, então existe y ⊂ ℕ\ tal que
~: y → ℕ\ é uma bijeção e, usando o teorema, isso só ocorre se y = ℕ\ . Portanto ~
também é uma bijeção nesse caso.

QED

Corolário 4: Sendo  um conjunto finito não vazio e . ⊂  uma inclusão


própria, não existe bijeção }:  → ..

Demonstração: Suponha que exista uma bijeção }:  → .. Como  é finito e


não vazio, existe uma bijeção ~: ℕ\ →  para algum  ∈ ℕ e, assim, } ∘ ~: ℕ\ → . é
uma bijeção. Ora, já que a inclusão . ⊂  é própria, ~^S ?.) = V ⊂ ℕ\ deve ser uma
inclusão própria. Chamando ~{ : V → . a bijeção obtida pela restrição do domínio a
V, ~{^S ∘ } ∘ ~: ℕ\ → V é uma bijeção e isso é uma contradição pelo teorema.

QED

Lema 2.1.1: Se  e . são finitos e }:  → . é uma bijeção, então, sendo  ∈ 


e  ∈ ., existe uma bijeção ~:  → . tal que ~?) = .

Demonstração: Sendo }?) =  › e }?› ) = , definamos ~ tomando ~?) =


, ~?› ) =  › e ~?) = }?) quando  ∈ , mas distinto de  e › . Facilmente se vê
que ~ definida dessa forma é uma bijeção.

QED

Teorema 2.1.2: Um subconjunto de um conjunto finito é também um


conjunto finito.

Demonstração: Sendo  um conjunto finito, o teorema é claro para  = ∅.


Quando  não é vazio, existe bijeção }: ℕ\ → . Demonstremos o teorema por
indução sobre . O teorema é evidente para  = 1 e, ao supor que vale para  = ,
isto é, sendo }: ℕ →  uma bijeção, um subconjunto de  é finito, temos que vale
para  =  + 1. Mostremos isso. Considerando a bijeção }: ℕxS → › e um
subconjunto V ⊂ › , se V = › nada se tem para mostrar, mas, se a inclusão é
própria, existe › ∈ › tal que › ∉ V. Usando o lema, podemos fazer }? + 1) = › e,
dessa forma, V ⊂ ?› −
› ) e }: ℕ → ?› −
› ) é uma bijeção. Disso obtemos que
› −
› é finito com  elementos que, pela hipótese indutiva, implica que V é finito.

QED

Corolário 1: Sendo  um conjunto finito, temos que:


139

a) Se }:  → . é sobrejetora, então . é finito.


b) Se }: . →  é injetora, então . é finito.

Demonstração: (a): Como } é sobrejetora, existe V ⊂  tal que }: V → . é


bijetora. Pelo teorema, temos que V é finito e, portanto, existe ~: ℕ\ → V bijetora.
Logo, já que } ∘ ~: ℕ\ → . é uma bijeção (composição de bijeções), . é finito.

(b): Por }: . →  ser injetora, podemos restringir o contradomínio a ™?}) =


V ⊂  e disso obter }: . → V bijetora. Do teorema temos que V é finito e, assim,
existe bijeção ~: ℕ\ → V. Dessa forma, } ^S ∘ ~: ℕ\ → . é uma bijeção, mostrando que
. é finito.

QED

Corolário 2: Um subconjunto de ℕ é finito se, e somente se, é limitado.

Demonstração: Se é finito, então podemos escrever


Z \Z[S ⊂ ℕ.
Considerando o somatório desses elementos, ∑\Z[S Z , temos que h ≤ ∑\Z[S Z
qualquer que seja h ∈
Z \Z[S , pois ∑\Z[S Z = h + ∑(Ã
\
Z . Logo,
Z \Z[S é limitado.
(JK

Reciprocamente, se V ⊂ ℕ é um conjunto limitado, esse possui máximo (veja


Exercício 1.3.5) e, sendo esse  ∈ ℕ, logo se vê que V ⊂ ℕ\ . Como ℕ\ é finito, pelo
teorema concluímos que V é finito.

QED

Corolário 3: Se
È È∈Ê é uma coleção de conjuntos tais que ao menos um é
finito, então nÈ∈Ê È é finito.

Demonstração: Seja ÈÞ um conjunto finito. Sabendo que nÈ∈Ê È ⊂ ÈÞ , o


resultado segue imediatamente do teorema.

QED

Teorema 2.1.3: Se  e . são conjuntos finitos, então  ∪ . é finito.

Demonstração: No caso se algum desses conjuntos ser vazio, o resultado é

não vazios, temos que existem bijeções }: ℕ\ →  e ~: ℕQ → ., mas também


imediato, então vamos supor que não são vazios. Por esses conjuntos serem finitos

podemos ver que ℎ: ℕQ →


 +  QZ[S tal que ℎ?) =  +  é uma bijeção. Dessa forma,
^S

~ ∘ ℎ : +  Z[S → . é uma bijeção. Fazendo a união dessa função com a } e vendo
Q

que ℕ\ ∪
 +  QZ[S = ℕ\xQ , temos a sobrejeção } ∪ ~ ∘ ℎ : ℕ\xQ →  ∪ .,donde,
^S

pelo Corolário 1 do teorema acima, concluímos que  ∪ . é finito.

QED

Observando bem esses resultados, pode-se ver que todos são “óbvios” pelo
que entendemos intuitivamente por conjunto finito.

Observação importante: De forma geral, dada uma estrutura ?,∗) e um


elemento  ∈ , é comum serem usadas as notações ∗. =
140

 ∈ | =  ∗   ˜~=  ∈ . e . ∗  =


 ∈ | =  ∗   ˜~=  ∈ . , onde
. ⊂ . Por exemplo, poderíamos ter escrito o conjunto
 +  Q Z[S como  + ℕQ =

 ∈ ℕ| =  + i  ˜~= i ∈ ℕQ . Outro exemplo é que podemos escrever o


conjunto dos naturais pares como 2 ⋅ ℕ =
 ∈ ℕ| = 2  ˜~=  ∈ ℕ .

Exercício 2.1.1: Sendo  e . conjuntos finitos, mostre que  × . é finito.


Generalize para o caso ∏\Z[S Z com
Z \Z[S sendo uma família de conjuntos finitos.

Exercício 2.1.2: Mostre que, se


Z \Z[S é uma família de conjuntos finitos,
então `\Z[S Z é finito.

Z[S? + ℕ\ ) =  + ℕ∑I
Exercício 2.1.3: Mostre que `Q (Ã \
=  + ℕ\⋅Q .

2.2 – Conjuntos infinitos

Definição 2.2.1 (conjunto infinito): Um conjunto é infinito quando não é


finito.

Essa definição parece vazia, mas é equivalente a dizer que um conjunto  é


infinito quando não é vazio e não existe bijeção }: ℕ\ →  qualquer que seja  ∈ ℕ.
Ou seja, não existe  ∈ ℕ tal que esse seja o número de elementos de um conjunto
infinito, o que é intuitivo.

Teorema 2.2.1: ℕ é infinito.

Demonstração: A função sucessor, r: ℕ → ℕ tal que r?) =  + 1, é injetora


sem ser sobrejetora. Do Corolário 3 do Teorema 2.1.1, ℕ não é finito e, portanto, é
infinito.

QED

Lema 2.2.1: Se  é infinito e . é finito, então  − . é infinito.

Demonstração: Sabendo que  − . =  −  ∩ . e que  ∩ . ⊂ , mostremos


que  ∩ . ≠ . Ora, por  ∩ . ⊂ ., temos que esse é finito e, assim, é evidente que
 ∩ . ≠ .

QED

Teorema 2.2.2: Se  é infinito, então existe função injetora }: ℕ → .

Demonstração: Definamos uma coleção


}Z : ℕZ →  Z∈ℕ de funções injetivas
de forma indutiva. }S =
?1, S ) com S ∈  e }' = }S ∪
?2, ' ) onde ' ∈ ? −
S ).
Supondo já conseguidos as  primeiras funções injetivas
}Z : ℕZ →  \Z[S com
}Z = }Z^S ∪
?, Z ) para  > 1, onde Z ∈ ? − ™?}Z^S )), podemos fazer }\xS = }\ ∪

? + 1, \xS ) com \xS ∈ ? − ™?}\ )), já que  − ™?}\ ) ≠ ∅ pelo lema. Tomando
š: ℕ →  definida por š?) = }\ ?), essa é injetora, pois, sendo  > , š?) ∈
™?}Q^S ) ao passo que š?) ∈ ? − ™?}Q^S )), donde temos que š?) ≠ š?).

QED
141

Corolário: Um conjunto  é infinito se, e somente se, existe bijeção entre


esse e alguma parte própria sua.

Demonstração: Pelo teorema, se  é infinito, então existe função injetora


}: ℕ → . Denotemos a imagem dessa função por
Z Z∈ℕ . Dessa forma, temos as
bijeções }: ℕ →
Z Z∈ℕ e } › : ?ℕ −
1 ) → ?
Z ℕ −
S ). Como a função sucessor
definida como r: ℕ → ?ℕ −
1 ) é uma função bijetora, a composição } › ∘ r ∘
} ^S :
Z Z∈ℕ → ?
Z ℕ −
S ) é uma bijeção. Por simplicidade, vamos escrever
} › ∘ r ∘ } ^S = ~. Considerando a função ℎ: ? −
Z Z∈ℕ ) → ? −
Z Z∈ℕ ) tal que
ℎ?) = , ao unirmos essa função com a anterior, obtemos ~ ∪ ℎ:  → ? −
S ), que
é uma função bijetora entre  e sua parte própria  −
S . Reciprocamente, se
existe bijeção entre  e um subconjunto próprio desse,  é infinito em virtude do
Corolário 4 do Teorema 2.1.1.

QED

Observação: Observe que, na demonstração do corolário, se demonstrou a

}: ℕ →  implica a existência de uma bijeção entre  e alguma parte própria desse


recíproca do teorema, pois se mostrou que a existência de uma função injetora

conjunto.

O resultado do corolário é contra-intuitivo. Ao vermos que uma bijeção é


uma correspondência um-para-um, ou seja, uma relação que toma um elemento de
um conjunto e relaciona a um único de outro conjunto, a idéia de que possa existir
uma bijeção entre um conjunto e alguma parte própria desse parece absurda. No
entanto o corolário acima nos diz que isso não só pode acontecer, mas também que é
necessário para considerarmos um conjunto infinito.

Além da função sucessor, pode-se ver que ´:ℕ→”


\↦'\
, onde  é o conjunto dos
pares naturais, é uma bijeção. Intuitivamente poderíamos pensar que o conjunto

bijeção entre ℕ e  nos diz que “existem tantos pares quanto naturais” ou, de forma
dos pares naturais corresponde à metade dos naturais, mas a existência de uma

equivalente, que “os pares são tão numerosos quanto os naturais”.

Teorema 2.2.3: Se  é infinito e  ⊂ ., então . é infinito.

Demonstração: Como  é infinito, existe função injetora }: ℕ → , bastando


estender o contradomínio para ., temos a função injetora }: ℕ → ., mostrando que
. é infinito.

QED

Corolário 1: Seja
È È∈Ê uma coleção de conjuntos de forma que ao menos
um seja infinito. Então `È∈Ê È é infinito.

Demonstração: Basta observar que, sendo ÈÞ ∈


È È∈Ê um conjunto
infinito, ÈÞ ⊂ `È∈Ê È , donde o resultado segue imediatamente do teorema.

QED
142

Corolário 2: Considerando os conjuntos  e ., temos:

a) Se  é infinito e existe }:  → . injetora, então . é infinito.


b) Se . é infinito e existe }:  → . sobrejetora, então  é infinito.

Exercício 2.2.1: Demonstre o último corolário.

2.3 – Conjuntos enumeráveis

Definição 2.3.1: Um conjunto  é dito enumerável se é finito ou existe


bijeção }: ℕ → , essa chamada de enumeração dos elementos de .

Como no caso de conjuntos finitos, quando existe bijeção }: ℕ → ,


escrevemos }?1) = S , }?2) = ' , … , }?) = \ , …. Assim, temos  =
Z Z∈ℕ .

Observamos que, sendo  um conjunto infinito, existe função injetora


}: ℕ →  e, assim, existe . ⊂  tal que }: ℕ → . é bijetora. Ora, . é, então, infinito e
enumerável, ou seja, poderíamos enunciar o Teorema 2.2.2 como “todo conjunto
infinito possui um subconjunto infinito enumerável”. Veremos mais adiante que
isso significa que o infinito enumerável é o menor dos infinitos.

Teorema 2.3.1: Todo subconjunto  de ℕ é enumerável.

Demonstração: Se  é finito, nada temos o que demonstrar, então seja 


infinito. Definamos }:  → ℕ de forma que }?) = |ℕ\ ∩ |. Essa função é injetora,
pois, sendo  >  (,  ∈ ), ℕ\ ∩  ⊂ ℕQ ∩  é uma inclusão própria, fazendo
|ℕ\ ∩ | ≠ |ℕQ ∩ |. A demonstração de que é sobrejetora pode ser feita por
indução: sendo S o menor elemento de , }?S ) = ¼ℕ\Ã ∩ ¼ = |
S | = 1 e, supondo
já conseguidos, }?S ) = ¼ℕ\ ∩ ¼ = 1, … , }? ) = ¼ℕ\ ∩ ¼ =  com Z = mina −
ℕ\(ÂÃ ) (1 <  ≤ ), tenhamos }?xS ) fazendo xS = mina − ℕ\ b, donde se tem
}?xS ) = ¼ℕ\Òà ∩ ¼ = L•ℕ\ ∪
 Z[\ – ∩ L = Laℕ\ ∩ b ∪ •
 Z[\ ∩ –L =
\
ÒÃ \ÒÃ
 xS  xS

¼ℕ\ ∩ ¼ + L
 Z[\ ∩ L =  + 1, onde foi utilizado o fato não demonstrado ainda
\ÒÃ
 xS

de que | ∪ .| = || + |.| − | ∩ .| (veja o Teorema 2.7.2).

QED

Corolário 1: Se  é enumerável, . ⊂  é enumerável.

Demonstração: Se  ou . é finito, nada temos para demonstrar, então


suponhamos que ambos sejam infinitos. De  ser infinito, temos a existência da
bijeção }: ℕ → . Tomando Ω = } ^S ? − .), temos a bijeção }: ?ℕ − Ω) → .. Ora, pelo
teorema, ℕ − Ω é enumerável e, assim, existe ~: ℕ → ?ℕ − Ω) bijetora e, portanto,
temos } ∘ ~: ℕ → . bijetora, completando a demonstração.

QED

Corolário 2: Considerando os conjuntos  e . e uma função }:  → . temos:

a) Se } é injetora e . é enumerável, então  é enumerável.


143

b) Se } é sobrejetora e  é enumerável, então . é enumerável.

Demonstração: (a): Basta observar que existe ~: ℕ → . bijetora e, assim,


~ ∘ }:  → ℕ é injetora. Tomando V ⊂ ℕ tal que ~^S ∘ }:  → V seja bijetora, essa é
^S

uma bijeção entre  e um subconjunto de V, o qual enumerável pelo teorema.

(b): Tomando V ⊂  tal que }: V → . é bijetora, do Corolário 1, V é


enumerável e, portanto, . é enumerável.

QED

Com a parte (b) do corolário acima, podemos afirmar que um conjunto  é


enumerável quando existe função sobrejetora }: ℕ → .

Corolário 3: O produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é


enumerável.

Demonstração: Com efeito, sejam  e . conjuntos enumeráveis. Existem


sobrejeções }: ℕ →  e ~: ℕ → . e, dessa forma, ℎ: ℕ' →  × . tal que ℎ?, ) =
a}?), ~?)b é uma sobrejeção. Então basta mostrar que ℕ' é enumerável. Pelo
Corolário 2, é suficiente ter uma aplicação injetiva ä: ℕ' → ℕ. Tal é obtida definindo
ä?, ) = 2\ 3Q , pois a decomposição de um natural em primos é única (Teorema
Fundamental da Aritmética, que será demonstrado na próxima secção).

QED

Corolário 4: Sendo
Z Z∈ℕ uma família de conjuntos enumeráveis,  =
`Z∈ℕ Z é enumerável.

funções sobrejetoras
}Z : ℕ → Z Z∈ℕ . Definamos a coleção
}Z› : ℕ ×
 → Z Z∈ℕ de
Demonstração: De esses conjuntos serem enumeráveis, temos a família de

forma que }Z› ?, ) = }Z ?). Essas funções também são sobrejetoras. Como os

função sobrejetora `Z∈ℕ }Z› : `Z∈ℕ ℕ ×


 → `Z∈ℕ Z . Observando que `Z∈ℕ ℕ ×
 = ℕ ×
domínios dessas funções são disjuntos, ao tomarmos a união de todas, temos a

`Z∈ℕ
 = ℕ × ℕ e que `Z∈ℕ Z = , temos, finalmente, que `Z∈ℕ }Z› : ℕ × ℕ →  é uma

conjuntos, isto é, `\Z[S Z , basta termos a família


Z Z∈ℕ com h = \ para i > .
sobrejeção, demonstrando o teorema. Para o caso da união de um número finito de

QED

Exercício 2.3.1: Mostre que ℕ\ com  natural é enumerável.

enumeráveis, vamos decompor ℕ numa coleção infinita enumerável de conjuntos


Exemplo 2.3.1: Como exemplo de uma união enumerável de conjuntos

infinitos enumeráveis disjuntos dois a dois. Ou seja, ℕ = `Z∈ℕ Z onde cada Z é


infinito e disjunto de todos os outros (veja que se trata de uma partição de ℕ).
Definamos a coleção
Z Z∈ℕ da seguinte forma: S =
2i − 1 h∈ℕ (conjunto dos
ímpares) e \ =
2\^S ?2i − 1) h∈ℕ para  > 1. Demonstremos que
Z Z∈ℕ é uma
partição de ℕ. Os conjuntos são disjuntos, pois, dado  ∈ ℕ e sendo \ e Q com
144

 < , se  ∈ \ , então  ∉ Q . Com efeito, se \ = S , vê-se isso pelo fato de Q ser


um conjunto de pares qualquer que seja  > 1. Para o caso de \ ≠ S , seja
 =  +  e um elemento  = 2\^S c ∈ \ (c ímpar). Se 2\^S c ∈ \x§ , então
2\^S c = 2\x§^S d para algum d ímpar, mas isso leva a um absurdo, pois teríamos
c = 2§ d, contrariando a hipótese de que c é ímpar. Agora demonstraremos que um
natural pertence a algum desses conjuntos. De fato, pois, se  ∈ ℕ é ímpar, então
 ∈ S e, se  é par, existe  natural e c ímpar de forma que  = 2\ c. Assim,
ℕ = `Z∈ℕ Z e Z ∩ h = ∅ sempre que  ≠ i.

de ℕ são o conjunto dos inteiros e o dos racionais. Mas já deixamos a entender que
Como veremos, exemplos de conjuntos enumeráveis além dos subconjuntos

existem conjuntos infinitos que não são enumeráveis. De fato existem. O conjunto
dos reais não é enumerável, como será mostrado mais adiante. Um exemplo mais
simples de conjunto não-enumerável segue abaixo.

0,1 ℕ
Exemplo 2.3.2 (conjunto não-enumerável): Consideremos o conjunto

nenhum subconjunto enumerável de


0,1 ℕ pode ser igual a
0,1 ℕ. Com efeito, o
. Vamos mostrar que ele não é enumerável. Para tanto, mostraremos que

conjunto
0,1 ℕ é o conjunto de todas as seqüência com zeros e uns (seqüências do
tipo ?1,0,1,0,0,1,0,1,1, … )). Também podemos pensar
0,1 ℕ como o conjunto de todas
as funções r: ℕ →
0,1 . Tomando um subconjunto enumerável
rZ Z∈ℕ ⊂
0,1 ℕ , seja
r\ ?) o m-ésimo termo da seqüência . Construamos a seqüência r com r?) = 0 se
r\ ?) = 1 e r?) = 1 se r\ ?) = 0, ou seja, para todo  natural, temos r?) ≠ r\ ?).
Dessa forma, r não pertence a
rZ Z∈ℕ , pois r ≠ r\ qualquer que seja  já que
r?) ≠ r\ ?). Assim, fica demonstrado que
rZ Z∈ℕ ≠
0,1 ℕ. Portanto,
0,1 ℕ não é
enumerável.

O raciocínio desenvolvido acima para demonstrar que


0,1 ℕ não é
enumerável é chamado de método da diagonal e é devido a Georg Cantor. O
exemplo ainda mostra que o produto cartesiano de uma coleção enumerável de
conjuntos em geral não é enumerável.

2.4 – Equipotência de conjuntos

É natural, para conjuntos finitos, que tenham mesmo número de elementos


quando existe bijeção entre esses, mas não se pode falar em números de elementos
para conjuntos infinitos como se faz mais costumeiramente. No entanto a
existência de bijeção entre conjuntos infinitos continua sendo um critério intuitivo
para afirmar que são de mesmo “tamanho”.

Definição 2.4.1 (equipotência): Dados os conjuntos  e . esses são ditos


equipotentes quando existe bijeção }:  → .. Nesse caso, escrevemos ~..

Pode-se ver que ~ e, além disso, se ~., então .~ e, se ~. e .~;,
então ~; (demonstre essas afirmações). Ou seja, a relação de equipotência possui
as propriedades de uma relação de equivalência. No entanto não se trata de uma
relação de equivalência porque a definição se estende a todos os conjuntos e não
145

existe um conjunto de todos os conjuntos. Entretanto segue que, em toda coleção de


conjuntos, a relação de equipotência é uma relação de equivalência.

para funções bijetoras: }: ~..


Observação: Podemos, através da definição, introduzir a seguinte notação

Nos teoremas que se seguem, vamos considerar todos os conjuntos em


questão não vazios.

Teorema 2.4.1: Se ~; e .~s com  ∩ . = ∅ = ; ∩ s, então existe ℎ:  ∪


.~; ∪ s.

Demonstração: Seja }: ~; e ~: .~s. Como os domínios e contradomínios


são disjuntos, temos ?} ∪ ~ = ℎ):  ∪ .~; ∪ s.

QED

Corolário: Se ? − .)~?. − ), então ~..

Demonstração: Tomando }: ? − .)~?. − ) e a função identidade


™F∪t^Fât , pode-se ver que ? − .) ∩ ? ∪ . − Δ.) = ∅ = ?. − ) ∩ ? ∪ . − Δ.),
? − .) ∪ ? ∪ . − Δ.) =  e ?. − ) ∪ ? ∪ . − Δ.) = .. Dessa forma, usando o
teorema, temos ?} ∪ ™F∪t^Fât ): ~..

QED

SUGESTÃO: Lembre-se que O. = ? − .) ∪ ?. − ) e use diagramas para


Exercício 2.4.1: Complete os detalhes na demonstração do corolário acima.

visualizar o resultado.

Teorema 2.4.2: Se ~; e .~s, então  × .~; × s.

Demonstração: Dados }: ~; e ~: .~s, definamos ℎ:  × . → ; × s de


forma que ℎ?, ) = a}?), ~?)b. Não é difícil verificar que tal função é uma bijeção
e que, portanto,  × .~; × s.

QED

Exercício 2.4.2: Dados os conjuntos  e ., mostre que  × .~. × .

2.5 – Números cardinais

Para conjuntos finitos, a idéia de número cardinal está ligada à de indicar


quantos elementos um conjunto tem. Nessa subsecção, buscaremos não só ligar
números cardinais aos conjuntos finitos, mas também aos infinitos. Os números
cardinais associados aos conjuntos infinitos indicam quantidade de elementos num
sentido mais amplo e não mais restrito à simples contagem. Como já foi percebido,
e ficará mais claro ao longo do texto, não nos importa muitas vezes o que sejam os
objetos matemáticos em si, mas como podemos manipulá-los. Por exemplo, não é
interessante saber o que é um número natural e sim como os manipulamos. De fato
introduzimos os naturais através de suas propriedades e a idéia de número natural
146

foi tomada como primitiva (não definida). Seguindo essa linha, vamos introduzir os
números cardinais de forma axiomática, como os naturais, ditando não o que seja
um número cardinal, mas sim suas propriedades.

Axioma 2.5.1: Cada conjunto  está associado a um número cardinal,


denotado ||, e cada número cardinal  está associado a algum conjunto . de forma
que |.| = .

Axioma 2.5.2: || = 0 ⇔  = ∅

Axioma 2.5.3: Se ~
 \Z[S para algum  ∈ ℕ, então || = .

Axioma 2.5.4: Dados os conjuntos  e ., || = |.| ⇔ ~..

finitos e afirmam que 0 e cada número natural são números cardinais. Os axiomas
Os axiomas 2.5.2 e 2.5.3 se referem aos números cardinais dos conjuntos

2.5.1 e 2.5.4 podem ser obtidos como resultados no caso de conjuntos finitos, mas
lembremos que queremos tratar também dos cardinais associados a conjuntos
infinitos e, nesse caso, esses axiomas são necessários, pois afirmam a existência de
números cardinais associados a esses conjuntos e como podemos dizer que um
número cardinal é igual a outro.

Pode-se, de forma um pouco simplista, pensar um número cardinal como a

ele. A unicidade do número cardinal é garantida pelo fato de que ~, pois, pelo
propriedade que um conjunto compartilha com todos os conjuntos equipotentes a

Axioma 2.5.4, se || =  e ||› = , então  = .

Os números cardinais associados a conjuntos finitos são chamados de

transfinitos. Exemplos de números cardinais transfinitos são |ℕ| e ¼


0,1 ℕ ¼.
cardinais finitos e os associados a conjuntos infinitos são chamados de cardinais

2.6 – Ordenação de números cardinais

naturais e podemos dizer, por exemplo, que 5 > 2. Mas para cardinais transfinitos
Para cardinais finitos, existe uma ordem (total) herdada da dos números

os axiomas que tomamos apenas indicam quando são iguais. No entanto é de se


esperar que possamos dizer que um cardinal transfinito é maior que outro. Não
podemos aplicar a ordem dos naturais aos cardinais transfinitos e também não é
satisfatório que tenhamos critérios diferentes para tratar a ordem de cardinais
finitos e transfinitos. Assim, o que buscamos é uma definição que reproduza a
ordem dos cardinais finitos e seja aplicável aos cardinais transfinitos. A definição
abaixo é intuitiva cumpre esse papel.

Definição 2.6.1: Considerando os conjuntos  e ., dizemos que || é menor


ou igual a |.| e denotamos || ≤ |.| quando existe aplicação injetiva }:  → ..

Vamos convencionar que, para todo número cardinal , 0 ≤ .

Exercício 2.6.1: Mostre que, para os cardinais finitos distintos de 0, essa


definição reproduz a ordem de números naturais. SUGESTÃO: Basta mostrar que
147

para esses cardinais || ≤ |.| é equivalente a || = |.| ou existe  ∈ ℕ tal que
|| +  = |.|.

Como se sabe, se }:  → . é injetora, então existe ; ⊂ . tal que }:  → ; seja


bijetora. Ou seja, poderíamos reescrever a definição afirmando que || ≤ |.| quando
~; para algum ; ⊂ .. Também é interessante termos a notação || < |.| para
indicar que ~; para algum ; ⊂ ., mas não existe ; ⊂ . tal que ~; e ; = ., ou
seja, que  só é equipotente a subconjuntos próprios de ..

Exemplo 2.6.1: |ℕ| < ¼


0,1 ℕ ¼, como demonstrado no Exemplo 2.3.2.

Observação: A partir de agora passaremos a usar a notação |ℕ| = ℵÓ (lê-se


“álef-zero”).

Teorema 2.6.1: Para todo cardinal transfinito , ℵÓ ≤ .

Demonstração: Pelo Axioma 2.5.1,  está associado a algum conjunto


(infinito). Seja esse . Pelo Teorema 2.2.2, existe função injetora }: ℕ → . Logo,
ℵÓ ≤ .

QED

Como já havia sido mencionado, o enumerável é o menor dos infinitos.

Exercício 2.6.2: Mostre que  < ℵÓ para todo cardinal finito .

Teorema 2.6.2: Se  ⊂ ., então || ≤ |.|.

Demonstração: Basta tomar ´:F→t


“↦“
(uma função injetora), donde se conclui o
resultado.

QED

uma ordem total, já observando que  ≤  qualquer que seja o número cardinal .
Demonstraremos agora que a ordem apresentada possui as propriedades de

Teorema 2.6.3 (transitividade): Sejam ,  e  números cardinais tais que


 ≤  e  ≤ , então  ≤ .

sejam esses , . e ; respectivamente. Por definição, existem as funções injetoras


Demonstração: Com efeito, esses cardinais estão associados a conjuntos e

}:  → . e ~: . → ;. Bastando fazer a composição, temos a função injetora ~ ∘ }:  →


;, donde se conclui que  ≤ .

QED

Exercício 2.6.3: Mostre que, se  ⊂ . ⊂ ; e ~;, então .~;.

As duas propriedades que ainda faltam serem demonstradas para completar


as características de ordem total não são resultados triviais. Demonstraremos
148

primeiro a anti-simetria (Teorema de Schröder-Bernstein), mas, para isso,


demonstraremos um caso particular como lema.

Observação 1: Estamos falando de características de uma relação de ordem


total porque não existe um conjunto de todos os números cardinais. Ou seja, não é
uma relação (binária) de fato, mas podemos ter conjuntos formados por números
cardinais (ℕ é um exemplo) e, assim, pode-se afirmar que todo conjunto formado
por números cardinais é totalmente ordenado com a definição de ordem acima.

Observação 2: Na verdade, os números cardinais são bem ordenados (todo


conjunto de números cardinais possui menor elemento), mas não demonstraremos
isso.

Lema 2.6.1: Se . ⊂  e existe função injetora }:  → ., então ~..

Demonstração: Devemos mostrar que existe bijeção ~:  → .. Se . = ,


basta ~ = ™F , então suponhamos que . ⊂  seja uma inclusão própria. Comecemos
definindo ; = `Z∈
Ó ∪ℕ } Z ? − .) onde } Ó = ™F , } S = } e }  = } ^S ∘ } para  > 1.
~?) = }?) r  ∈ ; ¸
Agora seja ~:  →  tal que ·
~?) =  r  ∈ ? − ;)
. Façamos algumas observações.
? − .) ⊂ ;, pois } Ó ? − .) = ™F ? − .) =  − .. Também temos que }?;) ⊂ ;,
afinal, }?;) = }a`Z∈
Ó ∪ℕ } Z ? − .)b = `Z∈
Ó ∪ℕ } •} Z ? − .)– = `Z∈
Ó ∪ℕ } ZxS ? − .) =
`Z∈ℕ } Z ? − .) ⊂ ;. Por último, sendo  > , } \ ? − .) ∩ } Q ? − .) = ∅, pois
} \ ? − .) = } Qx§ ? − .) = } Q a} § ? − .)b e, supondo que existam ,  › ∈ ? − .)
tais que } \ ?) = } Q ? › ), temos } Q a} § ?)b = } Q ? › ) ⇒ } § ?) =  › ∈ . ∩ ? − .), que
é uma contradição (lembrando que o contradomínio de } é .). Assim:

~?) = ~? − ;) ∪ ~?;)


= ? − ;) ∪ }?;)

=  − Y } Z ? − .)€ ∪ ]Y } Z ? − .)_
Z∈
Ó ∪ℕ Z∈ℕ

= Q − ? − .) ∪ Y } Z ? − .)€R ∪ ]Y } Z ? − .)_


Z∈ℕ Z∈ℕ

= •a − ? − .)b ∩ a − }?;)b– ∪ }?;)


= •a − ? − .)b ∪ }?;)– ∩ •a − }?;)b ∪ a}?;)b–
= a − ? − .)b ∩ 
= a − ? − .)b
= ∁F ?∁F .)
=.

Onde usamos a − ? − .)b ∪ }?;) = a − ? − .)b devido ao fato de que


}?;) ∩ ? − .) = ∅. Segue do resultado que ~?) = ™?~) = .. Como essa função é
injetora, ~:  → . é uma bijeção e, portanto, ~..
149

QED

O esquema abaixo ilustra o raciocínio usado na demonstração acima.

Teorema 2.6.4 (Teorema de Schröder-Bernstein): Dados os conjuntos 


e ., se  é equipotente a um subconjunto de . e . é equipotente a um subconjunto
de , então ~..

Demonstração: Sejam › ⊂  e .› ⊂ . tais que ~.› e .~› e consideremos


as bijeções }: ~.› e ~: .~› . Restringindo o domínio de ~ a .› , ~' : .› → › é uma
função injetora. Assim, ~' ∘ }:  → › é injetora. Pelo lema, existe ℎ: ~› e, dessa
forma, temos ~^S ∘ ℎ: ~., mostrando o resultado.

QED

Corolário: Sendo  e  números cardinais tais que  ≤  e  ≤ , então


 = .

Exercício 2.6.4: Demonstre esse corolário.

Exercício 2.6.5: Mostre que || ≤ |.| se, e somente se, existe função
sobrejetora }: . → .

Agora será demonstrada a totalidade para essa ordem.

Lema 2.6.2: Sendo  e . conjuntos não vazios, ou existe função injetora de 


em . ou existe função injetora de . em .

Demonstraremos esse lema ao final dessa secção porque alguns conceitos


devem ser introduzidos.

Teorema 2.6.5: Considerando os conjuntos  e ., || ≤ |.| ou |.| ≤ ||.

Demonstração: Supondo falso |.| ≤ ||, não existe função injetora de . em


, mas, pelo lema, isso implica que existe função injetora }:  → ., donde
concluímos que || ≤ |.|.

QED
150

Até agora, temos apenas os números cardinais ℵÓ e ¼


0,1 ℕ ¼ como exemplos
de cardinais transfinitos. Podemos nos perguntar se existem apenas esses e, mesmo
existindo outros, se existe algum que seja maior que todos os outros. O teorema
abaixo, devido a Cantor, mostra que existe uma infinidade de outros cardinais
transfinitos e, além disso, podemos concluir através dele que não existe um número
cardinal maior que todos os outros.

Teorema 2.6.6 (Teorema de Cantor): Sendo  um conjunto, || < |?)|.

Demonstração: É fato que |∅| = 0 < 1 = |?∅)|, então seja  não vazio. A
função }:  → ?) tal que }?) =
 é injetora e, assim, está demonstrado que
|| ≤ |?)|. Resta-nos mostrar que não se tem ~?). Suponhamos que exista
~: ~?) e seja . =
 ∈ | ∉ ~?) (conjunto dos elementos de  que não
pertencem a suas imagens). Como . ∈ ?) e ~: ~?), segue que existe Ó tal que
~?Ó ) = .. Isso leva a uma contradição, pois, se Ó ∈ ., então, pela definição de .,
Ó ∉ ~?Ó ), mas ~?Ó ) = . (contradição) e, se Ó ∉ ., então ~?Ó ) = . ⇒ Ó ∉ ~?Ó )
e, pela definição de ., Ó ∈ . (novamente uma contradição). Segue, portanto, que
não existe ~: ~?) e, assim, || < |?)|.

QED

Corolário: Não existe número cardinal maior que todos os outros.

Demonstração: Supondo que exista, seja esse . Estando esse associado ao


conjunto , tenhamos  = |?)|. Do teorema temos que  < , contrariando a
hipótese de que  era o maior de todos.

QED

Observação: Vendo atentamente a demonstração do Teorema de Cantor,


pode-se perceber que o argumento usado é o método da diagonal já apresentado no
Exemplo 2.3.2.

cardinal  tal que |ℕ| <  < |?ℕ)|. A afirmação de que não existe é chamada de
Uma questão natural que surge com esse teorema é se existe número

hipótese do contínuo e foi conjecturada pelo próprio Cantor. No entanto, após mais
de meio século depois de ser conjecturada, foi demonstrado que a hipótese do
contínuo não pode ser mostrada nem verdadeira nem falsa através dos axiomas da
Teoria Axiomática de Conjuntos. O primeiro passo foi dado por Kurt Gödel, que, em
1938, mostrou que a afirmação é consistente com os axiomas da teoria de conjuntos
e, em 1963, Paul Cohen finalmente mostrou que a hipótese do contínuo não pode
ser demonstrada pelos axiomas da teoria de conjuntos.

Exercício 2.6.6: Considerando os conjuntos  e ., mostre que, se ~., então


?)~?.).

Exercício 2.6.7: Usando o resultado do exercício anterior, mostre que, se  é


infinito e enumerável, então ?) não é enumerável.
151

2.7 – Cardinais finitos

Antes de introduzirmos a aritmética de cardinais de forma geral,


demonstremos os teoremas enunciados na Secção 3 do Capítulo I e alguns outros
resultados importantes.

Teorema 2.7.1: Se  e . são finitos e . ⊂ , então |.| ≤ || com |.| = || se,
e somente se,  = ..

Demonstração: Já foi demonstrado que |.| ≤ || de forma geral, então


basta mostrar que |.| = || ⇔  = .. Com efeito, pelo Corolário 4 do Teorema 2.1.1,
não existe bijeção }: ~. se . ⊂  é uma inclusão própria e claramente existe se
 = ..

QED

Teorema 2.7.2: Se  e . são finitos, então | ∪ .| = || + |.| − | ∩ .|.

Demonstração: Existem }: ℕ\ ~ e ~: ℕQ ~.. Se  ∩ . = ∅, basta tomarmos


~› : ? + ℕQ )~. e termos } ∪ ~› : ℕ\xQ ~ ∪ ., donde segue que | ∪ .| = || + |.|.
Mas se  ∩ . ≠ ∅, esse é finito com  elementos ( ≤  e  ≤ ). Definindo : ℕ\ ~
de forma que ?ℕ ) =  ∩ . (isso é possível pelo Lema 2.1.1) e tendo r: ℕQ^ ~?. −
 ∩ .), podemos definir r › : ? + ℕQ^ )~?. −  ∩ .) e ter  ∪ r › : ℕ\xQ^ ~a ∪
?. −  ∩ .)b =  ∪ r › : ℕ\xQ^ ~a ∪ ?. − )b =  ∪ r › : ℕ\xQ^ ~? ∪ .). O resultado
segue da última igualdade, pois || = , |.| =  e | ∩ .| = .

QED

Teorema 2.7.3: Se  é finito com || = , então ?) (conjunto das partes de
) possui 2\ elementos. Ou seja, |?)| = 2\ .

maçante. Demonstremos por indução já observando que |?∅)| = 1 e


Demonstração: Aqui omitiremos detalhes para não tornar a demonstração

convencionando 2Ó = 1. O resultado vale para  = 1, pois os únicos subconjuntos de


 são ∅ e . Supondo para || = , ou seja, |?)| = 2 , tomemos › =  ∪

(Ó ∉ ). Vemos que | ∪
Ó | =  + 1. A união de subconjuntos de  pertence a
?), mas, para cada . ∈ ?), . ∪
Ó ∉ ?). Portanto ?› ) possui ao menos
2 ⋅ 2 = 2xS elementos. Para ver que esses são os únicos elementos, basta observar
que o único conjunto formado com Ó independente de ?) é
Ó , mas logo se vê
que
Ó =
Ó ∪ ∅ e isso completa a demonstração.

QED

Teorema 2.7.4: Se  e . são finitos com || =  e |.| = , então | × .| =


 ⋅ .

Demonstração: Considerando a função }S : ℕ\ ×


1 → ℕ\ tal que }S ?i, 1) = i
Q
e a coleção de funções W}Z : ℕ\ ×
 →
i Z\
h[?Z^S)\ X tais que }Z ?i, ) = ? − 1) + i, não
Z['
é difícil observar que são todas funções bijetoras. Como os domínios são disjuntos
152

Z[S ℕ\ ×
 → ℕ\ ∪ `Z['
i h[?Z^S)\ bijetora.
assim como as imagens, obtemos }: `Q Q Z\

Z['
i h[?Z^S)\ = ℕ∑I
Observando que ℕ\ ∪ `Q Z[S ℕ\ ×
 = ℕ\ ×
= ℕ\⋅Q e que `Q
Z\
(Ã \

`QZ[S
 = ℕ\ × ℕQ , podemos escrever }: ℕ\ × ℕQ ~ℕ\⋅Q . Sabendo que existem
~S : ℕ\ ~ e ~' : ℕQ ~., podemos definir a função ~: ℕ\ × ℕQ →  × . tal que ~?, i) =
a~S ?), ~' ?i)b, que, como se pode verificar, é uma bijeção. Ora, a função ~ ∘
} ^S : ℕ\⋅Q →  × . é, então, bijetora, o que demonstra o resultado.

QED

O resultado geral é obtido como um corolário.

Corolário: Se
Z Q
Z[S é uma família de conjuntos finitos com |Z | = Z , então
|∏Z[S Z | = ∏Z[S Z .
Q Q

Demonstração: Façamos a demonstração por indução sobre . O resultado


é claro para  = 1 e, supondo para  = , isto é, ¼∏Z[S Z ¼ = ∏Z[S Z , temos que vale
para  =  + 1. Com efeito, ∏xS  
Z[S Z ~a∏Z[S Z b × xS e, pelo teorema, ¼a∏Z[S Z b ×
xS ¼ = ¼∏Z[S Z ¼ ⋅ |xS | = a∏Z[S Z b ⋅ xS = ∏xS
Z[S Z , o que completa a
demonstração.

QED

Exercício 2.7.1: Mostre que ∏xS 


Z[S Z ~a∏Z[S Z b × xS .

Teorema 2.7.5: Sendo  e . finitos, | − .| = || − | ∩ .|. Em particular,


se . ⊂ , então | − .| = |∁F .| = || − |.|.

Demonstração: Seja || = , |.| =  e | ∩ .| =  ( <  e  < ). Sendo


 − . =  −  ∩ ., consideremos a }: ℕ\ ~ de forma que }?ℕ ) =  ∩ .. Assim,
temos }:
 Z[xS
\
~? −  ∩ .) e, como ~: ℕ\^ →
 Z[xS
\
com ~?i) =  + i é uma
bijeção, concluímos que | − .| = |ℕ\^ | =  −  = || − | ∩ .|.

QED

Teorema 2.7.6: Tendo  finito com || = , existem exatamente a\Zb


subconjuntos de  com  elementos em ?) (0 ≤  ≤ ).

vale para  = ∅. Se || = 1, então ?) =


∅,  e o resultado vale. Supondo para
Demonstração: Demonstremos por indução, já observando que o resultado

|| = , ou seja, que existem aZ b subconjuntos de  com  elementos em ?)


(0 ≤  ≤ ), demonstremos que vale para |› | =  + 1. Com efeito, seja › =  ∪

com Ó ∉ . Tomando  arbitrário, se  = 0, o resultado vale, pois axS
Ó
b = 1 e se sabe
que o único conjunto com 0 elementos é o vazio. Mas, se  ≠ 0, a união de
Ó com
algum . ∈ ?) com  − 1 elementos será um conjunto com  elementos. Por
hipótese, já existem aZ b subconjuntos de › com  elementos e aZ^S 
b com  − 1
elementos (esses são subconjuntos de ). Portanto existem ao menos aZ b + aZ^S

b=
axS
Z
b subconjuntos de › com  elementos. Para ver que são os únicos, observemos
153

que os elementos de ?› ) que não pertencem a ?), são os obtidos por . ∪

com . ∈ ?) e que |. ∪
Ó | =  se, e somente se, |.| =  − 1.

QED

Com efeito, ∑\Z[Óa\Zb = 2\ , como já foi observado na secção anterior.


Podemos obter o Teorema 2.7.3 como um corolário desse último teorema.

Teorema 2.7.7: Dado  e . finitos com || =  e |.| = , o conjunto . F de


todas as funções de  em . possui Q elementos.

Demonstração: Ora, sabendo que . F = ∏R∈F ., temos que  é um conjunto


de índices e, tendo que existe }: ℕQ ~, podemos observar que ∏R∈F . ~ ∏Q
Z[S . .
Dessa forma, |∏R∈F .| = |∏Z[S .| = ∏Z[S  =  .
Q Q Q

QED

∏R∈F . ~ ∏Q Z[S . é observando que, existindo }: ℕQ ~, a função š: ∏R∈F . → ∏Z[S .


Observação importante: Uma forma mais detalhada de ver que
Q

tal que š?~) = ~ ∘ }?: ℕQ → .) é injetora, pois, sendo ~ ≠ ~› , ~ ∘ } ≠ ~› ∘ } já que } é


bijetora, e, de forma análoga, que œ: ∏Q
Z[S  → ∏∈t  tal que œ?ℎ) = ℎ ∘ }
^S

é injetora. Pelo Teorema de Schröder-Bernstein, conclui-se que ∏R∈F . ~ ∏Q


também
Z[S . .

finitos. Dessa forma, fica demonstrado que t ~u se .~; (sendo esses conjuntos
Observe que, nesse argumento, não foi necessário usar o fato dos conjuntos serem

finitos ou infinitos).

2.8 – Aritmética de cardinais

Para cardinais finitos, já temos uma aritmética (soma, produto e potência).


No entanto a forma como definimos essas operações para os naturais não podem
ser aplicadas a cardinais transfinitos. O que buscamos, então, são novas definições
que abranjam os cardinais transfinitos e reproduza a aritmética de cardinais
finitos.

Definição 2.8.1 (soma): Sendo  e  números cardinais, a soma desses,


denotada por  + , é dada por  +  = | ∪ .|, onde  e . são disjuntos, || =  e
|.| = .

Podemos garantir que existem conjuntos correspondentes a  e  disjuntos


observando que ~ ×
1 e .~. ×
2 quaisquer que sejam  e ., donde se tem a
união disjunta  ×
1 ∪ . ×
2 . Já o fato de que |› ∪ .› | = | ∪ .| se ~› , .~.› e
› ∩ .› = ∅ é garantido pelo Teorema 2.4.1.

definição de soma que já temos para cardinais finitos. Por exemplo, 2 + 3 =


Embora não demonstremos explicitamente, essa definição corresponde à

|
1,2 ∪
3,4,5 | = |
1,2,3,4,5 | = 5.

Teorema 2.8.1: A soma de números cardinais é comutativa e associativa.


154

Demonstração: Segue imediatamente do fato da união ser comutativa e


associativa.

QED

cardinais transfinitos. O exemplo abaixo mostra que é possível  +  =  com  ≠ 0.


Nem todas as propriedades comuns a cardinais finitos se estendem aos

Exemplo 2.8.1: Tomando o conjunto  dos números naturais pares e ™ dos


naturais ímpares, temos que ~™~ℕ e  ∩ ™ = ∅. Segue, portanto, que ℵÓ + ℵÓ =
| ∪ ™| = |ℕ| = ℵÓ .

Teorema 2.8.2: Sendo ,  e  números cardinais com  ≤ , tem-se


 +  ≤  + .

Corolário: Dados os números cardinais , ,  e  com  ≤  e  ≤ , temos


 +  ≤  + .

podemos substituir ≤ por < e que ℵÓ +  = ℵÓ qualquer que seja o cardinal finito .
Exercício 2.8.1: Mostre o teorema e o corolário acima. Mostre ainda que não

Terorema 2.8.3: Dado um número cardinal transfinito , temos que


 +  =  para qualquer cardinal finito .

demonstramos que existe função bijetora }S : ~? −


S ) qualquer que seja o
Demonstração: Observando a demonstração do corolário do Teorema 2.2.2,

conjunto infinito  (o qual estamos tomando com || = ). Assim, já temos que
? −
Z \Z[S )~a −
Z \xS
Z[S b pelo fato de  −
Z Z[S ser infinito (Z ∈ ). Ora, supondo
\

que ~? −
Z \Z[S ), temos que ~a −
Z \xS Z[S b, donde segue o resultado, pois,
tendo a bijeção }: ~? −
Z Z[S ), podemos definir a bijeção ~:  ∪ ℕ\ ~ tal que
\

}?) r  ∈ ? −
Z \Z[S )¸
~?) = · , onde admitimos, por simplicidade, que  ∩ ℕ\ = ∅.
Z r  = 

QED

forma “invertida”. Primeiro mostramos que ? −


Z \Z[S )~a −
Z \xS
Observação: Na demonstração acima usamos indução implicitamente e de
Z[S b e depois
supomos que ~? −
Z Z[S ) para chegar ao resultado (e o primeiro passo da
\

indução é o resultado ~? −


S )).

O teorema acima pode ser generalizado (teorema abaixo), mas a


demonstração será apresentada só no final dessa secção, pois envolve resultados e
conceitos ainda não apresentados.

Teorema 2.8.4: Sendo  um cardinal transfinito e  ≤ , temos  +  = .


Em particular,  +  = .

Agora definiremos o produto de números cardinais de forma que


corresponda ao produto já conhecido para cardinais finitos.
155

Definição 2.8.2 (produto): O produto entre os cardinais  e , denotado


por , é dado por  = | × .|, onde || =  e |.| = .

Pode-se ver que, para cardinais finitos, essa definição dá resultados


coerentes com os do Teorema 2.7.4. O fato de a definição estar bem definida é
garantido pelo Teorema 2.4.2.

Teorema 2.8.5: O produto de números cardinais é comutativo, associativo e


distributivo em relação à soma.

Exercício 2.8.2: Demonstre o teorema acima.

Duas conseqüências imediatas da definição são que 1 ⋅  =  e 0 ⋅  = 0 para


qualquer número cardinal, pois
1 × ~ e ∅ ×  = ∅ com || = .

Exemplo 2.8.2: ℵÓ ℵÓ = ℵÓ , afinal, se sabe que ℕ × ℕ~ℕ.

Teorema 2.8.6: Considerando os números cardinais ,  e  com  ≤ , tem-


se  ≤ .

Corolário: Tendo os números cardinais , ,  e  com  ≤  e  ≤ , temos


 ≤ .

Exercício 2.8.3: Mostre o teorema e o corolário acima.

Teorema 2.8.7: Dados os números cardinais  e  tais que  é transfinito e


 ≥ , temos  = . Em particular,  ⋅  = .

Demonstraremos esse teorema no final dessa secção.

A operação de números cardinais de maior interesse é, no entanto, a


exponenciação (ou potência). Essa é definida abaixo através da definição (geral) de
produto cartesiano.

Definição 2.8.3 (potência): Considerando os números cardinais  e  tais


que  = || ≠ 0 e  = |.| ≠ 0, definimos  = |t |.

finitos  ≠ 0 e  ≠ 0 tais que  = || e  = |.|, temos |t | = Q . Para o número


Essa definição é consistente com o Teorema 2.7.7, pois, para cardinais

cardial 0, definimos 0R = 0, Ó = 1 e 0Ó = 1, onde  ≠ 0.

seja, verificar se ~; e .~s implicam |t | = |; S |. De fato isso ocorre, pois, tendo
Mas precisamos verificar se essa definição está de fato bem definida. Ou

que t = ∏∈t  e ; S = ∏ò∈S ; e as bijeções }: ~; e ~: .~s, podemos definir


š: t → ; S de forma que š?ℎ) = } ∘ ℎ ∘ ~^S e œ: ; S → t de forma que œ?r) = } ^S ∘
r ∘ ~. Ambas as funções são injetoras, afinal, tomando ℎ, ℎ› ∈ t , temos š?ℎ) =
š?ℎ› ) ⇔ } ∘ ℎ ∘ ~^S = } ∘ ℎ› ∘ ~^S ⇔ } ∘ ℎ ∘ ~^S ∘ ~ = } ∘ ℎ› ∘ ~^S ∘ ~ ⇔ } ∘ ℎ = } ∘ ℎ› ⇔
} ^S ∘ } ∘ ℎ = } ^S ∘ } ∘ ℎ› ⇔ ℎ = ℎ› e, de forma análoga, se conclui que œ: ; S → t é

concluímos que t ~; S e, por seguinte, que |t | = |; S |.


injetora também (verifique!). Assim, pelo Teorema de Schröder-Bernstein,
156

Observação: Lembre-se que t é o conjunto de todas as funções de . em .

(apresentada no Exemplo 1.3.1): sendo . um subconjunto de um conjunto não vazio


Para o próximo exemplo, lembremos da definição de função característica

, definimos a função característica de . por ¶t :  →


0,1 de forma que ¶t ?) =
1 “∈t ¸
$ ŠN ŠN
0 “∈?F^t)
.

Exemplo 2.8.3: Dado  não vazio, tenhamos ?) e


0,1 F (conjunto das
funções de  em
0,1 ). Definindo a função }: ?) →
0,1 F de forma que }?.) = ¶t ,
onde . ∈ ?) e ¶t :  →
0,1 é a função característica de ., essa é bijetora. Com
efeito, é injetora pelo fato de que, dados ., .› ∈ ?) distintos, ¶t ≠ ¶tÑ (verifique!)
e é sobrejetora já que, tendo } ∈
0,1 F , podemos tomar na imagem de } o conjunto
; =
 ∈ ™?})|}?) = 1 e isso faz de } a função característica de ; ⊂  (; ∈ ?)).
Assim, podemos concluir que |?)| = |
0,1 F | = |
0,1 ||F| = 2|F| . Esse resultado é
consistente com o Teorema 2.7.3.

Exercício 2.8.4: Sendo  um número cardinal, mostre que  ⋅  = ' .

Será demonstrado agora que algumas características da potência de


números cardinais finitos se estendem aos cardinais transfinitos. Isto é, valem em
geral.

Teorema 2.8.8: Sendo ,  e  números cardinais,  G = xG .

Demonstração: Sejam , . e ; conjuntos tais que || = , |.| =  e |;| = 


com . ∩ ; = ∅. Basta-nos mostrar que t × u ~t∪u . Ora, definindo a função
š: t × u → t∪u através de š?}, ~) = } ∪ ~ (} ∈ t e ~ ∈ u ), essa é bijetora, pois,
} ∪ ~ ≠ } ∪ ℎ se ~ ≠ ℎ ∈ u (veja que } ∩ ~ = ∅ já que os domínios são disjuntos) e
todo r ∈ t∪u pode ser decomposto como r = } ∪ ~ para algum } ∈ t e ~ ∈ u ,
afinal r: . ∪ ; → .

QED
G
Teorema 2.8.9: Dados os números cardinais ,  e , G = a b .

Demonstração: Sendo , . e ; conjuntos tais que || = , |.| =  e |;| = ,


precisamos mostrar que t×u ~?t )u . O conjunto ?t )u é o conjunto de todas as
funções ~: ; → t , ou seja, temos ~?) = ℎ ∈ t . Podemos, então, usar a notação
~?) = ~G = ℎ. Já o conjunto t×u é o conjunto de todas as funções }: . × ; → .
Assim, definimos š: t×u → ?t )u com š?}) = ~ quando, para cada  ∈ . e  ∈ ;,
temos }?, ) = ~G ?). Antes de continuar, verifiquemos que š é de fato uma função.
Com efeito, se š?}) = ~ = ~› , temos que ~G ?) = ~G› ?). Assim, vendo que ~G ?) =
ℎ?) = ℎ› ?) = ~G› ?) ∀  ∈ ., temos que ℎ = ℎ› e, visto ~?) = ℎ = ~› ?) ∀  ∈ ;,
temos que ~ = ~› . Logo, a função é imediatamente injetora, pois š?}) = š?} › ) ⇒
}?, ) = } › ?, ) ⇒ } = } › . Tomando œ: ?t )u → t×u com œ?~) = } quando, para
cada  ∈ . e  ∈ ;, temos ~G ?) = }?, ), pode-se verificar que se trata de uma

resultado esperado: t×u ~?t )u .


função injetora e, assim, pelo Teorema de Schröder-Bernstein, chega-se no
157

QED

projeção canônica. Considerando a família


È È∈Ê de conjuntos È não vazios, a
Antes de apresentarmos o próximo teorema, nos lembremos da definição de

projeção canônica sobre o conjunto ÈÞ é a função ÈÞ : ∏È∈Ê È → ÈÞ tal que
ÈÞ ??È )È∈Ê ) = ÈÞ . Em particular, se a família de conjuntos é
, . , temos as
projeções canônicas são F :  × . →  tal que F ?, ) =  e t :  × . → . tal que
t ?, ) = .

Teorema 2.8.10: Sendo ,  e  números cardinais, temos que G  G = ?)G .

Demonstração: Considerando , . e ; conjuntos tais que || = , |.| =  e


|;| = , basta mostrar que u × .u ~? × .)u . Para tanto, definamos š: ? × .)u →
u × .u tal que š?}) = ?F ∘ }, t ∘ }), onde }: ; →  × .. š é injetora, pois, sendo
š?}) = š?} › ), temos que ?F ∘ }, t ∘ }) = ?F ∘ } › , t ∘ } › ) ⇔ ?F ∘ } = F ∘ } ›  t ∘
} = t ∘ } › ), donde se obtém, observando que }?) = ?, ) e } › ?) = ?› ,  › ), que
 = › e  =  › e, finalmente, que } = } › . Para mostrar que é sobrejetora, basta, ao
ter ?~, ℎ) ∈ u × .u , decompor essas funções como ~ = F ∘ } e ℎ = t ∘ } com
}: ; →  × . definida por }?) = a~?), ℎ?)b.

QED

Teorema 2.8.11: Tendo os números cardinais ,  e , se  ≥ , então:

a)  ≥  
b)  R ≥  G

Demonstração: (a): Sendo os conjuntos , . e ; tais que || = , |.| =  e


|;| = , sem perda de generalidade, podemos tomar ; ⊂ , donde o resultado é
obtido, pois ; t ⊂ t , ou seja, |; t | ≤ |t |.

(b): Nesse caso também podemos tomar ; ⊂ . Assim, observando que .u é o


conjunto de todas as funções }: ; → ., temos que, para todo } ∈ .u , podemos definir
}?) r  ∈ ; ¸. Bastando definir a função
} › ∈ . F de forma que } › ?) = ·
Ó ∈ ™?}) r  ∈ ? − ;)
(injetora) š: .u → . F tal que š?}) = } › , obtemos |.u | ≤ |. F |.

QED

Corolário: Considerando os números cardinais , ,  e  tais que  ≥  e


 ≥ , temos que  ≥  ò .

Demonstração: Pelo teorema, temos que  ≥   e   ≥  ò , donde


concluímos que  ≥  ò .

QED

Como dito, as propriedades da potência apresentadas acima são conhecidas


para cardinais finitos, mas, como já aconteceu nas outras operações, há resultados
158

que se aplicam apenas aos cardinais transfinitos e alguns desses são apresentados
abaixo.

Teorema 2.8.12: Sendo  um cardinal transfinito e  é um número cardinal


tal que 2 ≤  ≤ 2R , temos que  R = 2R = R .

Demonstração: Usando os teoremas 2.8.11, 2.8.9 e 2.8.7, temos 2R ≤  R ≤


?2R )R = 2R⋅R = 2R , por onde concluímos que  R = 2R . Para ver que 2R = R , basta
observar que 2 ≤  ≤ 2R

QED

Corolário: Considerando o cardinal transfinito  e um número cardinal ,


se 2 ≤  ≤ , então  R = 2R .

Demonstração: É imediato pelo teorema, pois 2 ≤  ≤  ≤ 2R ⇒  R = 2R .

QED

Teorema 2.8.13: Se  é um cardinal transfinito e  > 0 é um cardinal finito,


então \ = .

Demonstração: O resultado é imediato para  = 1. Supondo para  = ,


isto é,  = , temos que vale para  =  + 1, pois xS =   =  ⋅  = .

QED

Observação: Veja que as propriedades aritméticas dos cardinais


transfinitos são tais que um cardinal transfinito é “resistente” à mudança pelas
operações apresentadas, podendo ser “vencido”, quase sempre, apenas por um
cardinal transfinito maior.

Exemplo 2.8.4: Pelo Teorema 2.8.12, temos que ℵÓÞ = ℵÞ = 2ℵÞ ( ∈ ℕ), pois

ℵÓ < 2ℵÞ (Teorema de Cantor) assim como  < 2ℵÞ . Ou seja, vendo que ℵÓÞ = ¼ℕℕ ¼ e

que 2ℵÞ = |?ℕ)|, “existem tantas funções de ℕ em ℕ quanto subconjuntos de ℕ”.


Mas, explicitamente, 2ℵÞ = ¼
1,2 ℕ ¼, donde também concluímos que “existem tantas
funções de ℕ em
1,2 quanto de ℕ em ℕ”, o que é um resultado contra-intuitivo.

Exemplo 2.8.5: |?ℕ\ )| = 2ℵÞ = 2ℵÞ = |?ℕ)|, onde foi usado o Teorema
ã

2.8.13 para ter ℵ\Ó = ℵÓ .

Exemplo 2.8.6: ¼?ℕ)ℕ ¼ = |?ℕ)|ℵÞ = ?2ℵÞ )ℵÞ = 2ℵÞ ⋅ℵÞ = 2ℵÞ = |?ℕ)|.

'ℵÞ
La?ℕ)b L = a2|”?ℕ)| b
”?ℕ) 'ℵÞ
= a2' Þ b = 2' = 2' =
ℵ ℵÞ 'ℵÞ ℵÞ
Exemplo 2.8.7:
¼a?ℕ)b¼.
159

Exercício 2.8.5: Mostre que, sendo  um conjunto infinito, ¼\ ?)” ?F) ¼ =
I

|\ ?)| para todo ,  ∈ ?


0 ∪ ℕ) com  < , onde \ ?) = a?… ?) … )b e
ÌÍÍÍÍÎÍÍÍÍÏ
\ ”Ñ Š
Ó ?)
 = .

enumerável é enumerável. Ou seja, se  é enumerável, o conjunto ´Z\ ?) =


Exemplo 2.8.8: O conjunto dos subconjuntos finitos de um conjunto

. ∈ ?)| . é } é enumerável. Tal fato é evidente se  é finito, então tomemos


|| = ℵÓ . Nesse caso, observemos que ´Z\ ?) = `Z∈ℕ Z ?), onde
Z ?) =
. ∈ ?)| |.| =  − 1 ( − 1, pois estamos incluindo o conjunto vazio). Como

Z ?) é enumerável. Para  = 1, isso é claro pelo fato de S ?) =


∅ . Também
a união enumerável de conjuntos enumeráveis é enumerável, basta mostrar que

obtemos que vale para  = 2, pois ' ?) =


. ∈ ?)| |.| = 1 = W
 XR∈F . Supondo
para  = , ou seja, que  ?) é enumerável, demonstremos que vale para  =  + 1.
Para tanto, observemos que todo . ∈ xS ?) pode ser escrito como ?. −
 ) ∪

para todo  ∈ . e que ?. −
 ) ∈  ?). Ora, assim temos que |xS ?)| ≤
| ?) × ' ?)| ≤ |ℕ × ℕ| = ℵÓ , pois a função }: xS ?) →  ?) × ' ?) tal que
}?.) = a?. −
 ),
 b, com  ∈ ., é injetora.

Observação: Veja que não se explicita a forma como se escolhe cada  ∈ .


na função definida acima. Ou seja, se trata de uma função escolha.

2.9 – Generalizações e o Teorema de König

A soma e o produto de números cardinais foram definidos através da união e


do produto cartesiano. Mas temos noções generalizadas dessas operações de
conjuntos, o que nos leva a tentar generalizar as noções de soma e produto entre
números cardinais.

Definição 2.9.1: Dada uma coleção de conjuntos


È È∈Ê disjuntos dois a
dois com |È | = È , definimos a soma entre esses números cardinais por:

& È = ÕY È Õ
È∈Ê È∈Ê

de existir
È È∈Ê com conjuntos disjuntos dois a dois é garantido de forma análoga
Como antes, é necessário verificar que a definição está bem definida. O fato

ao que já foi feito. Já o fato de que, se


È È∈Ê e
ț È∈Ê são tais que |È | = |ț |,
temos |`È∈Ê È | = |`È∈Ê ț |, é garantido da seguinte forma: para cada Ç ∈ Λ, temos
que existe }È : È ~ț , então basta definir ?} = `È∈Ê }È ): `È∈Ê È → `È∈Ê ț , que é
bijetora, pois os domínios dos }È são disjuntos entre si assim como os
contradomínios.

Teorema 2.9.1: Sendo


È È∈Ê e
È È∈Ê famílias de números cardinais tais
que È ≤ È ∀ Ç ∈ Λ, temos:

& È ≤ & È
È∈Ê È∈Ê
160

Demonstração: Sendo
È È∈Ê e
.È È∈Ê tais que |È | = È e |.È | = È ,
}È : È → .È
?} = `È∈Ê }È ): `È∈Ê È → `È∈Ê .È , que é injetora pelo fato dos domínios dos }È serem
existem funções injetoras e, assim, podemos definir

disjuntos uns dos outros assim como os contradomínios. Logo, |`È∈Ê È | ≤ |`È∈Ê .È |,
donde segue o resultado.

QED

Exemplo 2.9.1: Segue do último teorema um resultado esperado: ∑Z∈ℕ 1 =


ℵÓ . Isso porque 1 ≤ ℵÓ e ∑Z∈ℕ 1 ≥ ℵÓ (mostre isso). Assim, ℵÓ ≤ ∑Z∈ℕ 1 ≤ ∑Z∈ℕ ℵÓ ,
donde o resultado é obtido observando que ∑Z∈ℕ ℵÓ = |`Z∈ℕ Z |, com |Z | = ℵÓ e
¼Z ∩ h ¼ = .Zh ℵÓ (.Zh é o Delta de Kronecker), e que |`Z∈ℕ Z | = ℵÓ (`Z∈ℕ Z ~ℕ pelo
fato da união enumerável de conjuntos enumeráveis ser enumerável).

Teorema 2.9.2: Dado Λ de forma que |Λ| =  e um número cardinal , temos


que:

&  = 
È∈Ê

Demonstração: Sendo ∑È∈Ê  = |`È∈Ê È |, tomemos um ÈÞ ∈


È È∈Ê . Por
hipótese, existem as bijeções }È : ÈÞ ~È . Definindo }: ÈÞ × Λ → `È∈Ê È tal que
}?, Ç) = }È ?), vê-se que se trata de uma bijeção e, portanto, `È∈Ê È ~ÈÞ × Λ.
Assim, ∑È∈Ê  = |`È∈Ê È | = ¼ÈÞ × Λ¼ = ¼ÈÞ ¼|Λ| = .

QED

Corolário: Sendo  um cardinal transfinito e


È È∈Ê uma coleção de
números cardinais não nulos tal que |Λ| =  e  = max
È È∈Ê, temos que ∑È∈Ê È =
.

Demonstração: Por um lado, È ≤  ∀ Ç ∈ Λ e, assim, ∑È∈Ê È ≤ ∑È∈Ê  = ,


onde usamos o teorema. Por outro lado,  ≤ ∑È∈Ê È e  = ∑È∈Ê 1 ≤ ∑È∈Ê È . Ora,
dessa forma temos que  ≤  ∑È∈Ê È . Mas, sendo  um cardinal transfinito e
 ≤ ∑È∈Ê È , temos que  ∑È∈Ê È = ∑È∈Ê È (Teorema 2.8.7), donde se conclui que
 ≤ ∑È∈Ê È . Logo, ∑È∈Ê È =  pelo corolário do Teorema de Schröder-Bernstein.

QED

exemplo, ℕ não possui máximo). Assim, o corolário acima vale apenas para
Observação: Nem todo conjunto de números cardinais admite máximo (por

conjuntos onde esse máximo exista. No entanto o corolário pode ser generalizado ao
acrescentar a noção de supremo de um conjunto (veja o Teorema 2.10.1).

Teorema 2.9.3: Considerando as famílias de números cardinais


È È∈Ê e

Ô Ô∈â , temos que:

& & È Ô = & & È Ô


È∈Ê Ô∈â Ô∈â È∈Ê
161

Demonstração: Tomemos as coleções de conjuntos


È È∈Ê e
.È È∈Ê de
forma que |È | = È e |.È | = È . Assim, ∑È∈Ê ∑Ô∈â È Ô = |`È∈Ê `Ô∈â È × .Ô | =
|`Ô∈â `È∈Ê È × .Ô | = ∑Ô∈â ∑È∈Ê È Ô .

QED

`È∈Ê `Ô∈â È × .Ô = `Ô∈â `È∈Ê È × .Ô . SUGESTÃO: Use o exercício 3, Exercícios II


Exercício 2.9.1: Para completar a demonstração acima, mostre que

– 3.

Agora generalizaremos a noção de produto entre números cardinais.

Definição 2.9.2: Sendo


È È∈Ê uma coleção de conjuntos com |È | = È ,
definimos o produto entre esses números cardinais por:

Ù È = ÕÙ È Õ
È∈Ê È∈Ê

Esse produto está bem definido, pois, se


È È∈Ê e
ț È∈Ê são tais que
|È | = |ț |, então existem funções }È : È ~ț e, assim, podemos definir a bijeção
š: ∏È∈Ê È → ∏È∈Ê ț tal que š?È )È∈Ê = a}È ?È )b , por onde se conclui que
È∈Ê
|∏È∈Ê È | = |∏È∈Ê ț |. Convencionaremos que ∏È∈Ê È = 0 quando È = 0 para algum
Ç ∈ Λ.

Algumas características do produto (já válidas em casos menos gerais)


continuam válidas nesse caso mais geral, como mostram os teoremas abaixo.

Teorema 2.9.4: Sendo Λ tal que |Λ| =  e considerando o número cardinal ,


temos que ∏È∈Ê  =  .

Demonstração: Tomemos  tal que || = . Assim, ∏È∈Ê  = |∏È∈Ê | =


¼ ¼ = |||Ê| =  .
Ê

QED

Teorema 2.9.5: Dadas as famílias de números cardinais


È È∈Ê e
È È∈Ê
tais que È ≤ È ∀ Ç ∈ Λ, temos:

Ù È ≤ Ù È
È∈Ê È∈Ê

Demonstração: Sendo
È È∈Ê e
.È È∈Ê coleções de conjuntos tais que
|È | = È e |.È | = È para todo Ç ∈ Λ, podemos, sem perda de generalidade, tomar
È ⊂ .È e, assim, temos que |∏È∈Ê È | ≤ |∏È∈Ê .È |, pois ∏È∈Ê È ⊂ ∏È∈Ê .È .

QED

Teorema 2.9.6: Considerando a família de números cardinais


È È∈Ê e o
número cardinal , vale que:
162

]Ù È _ = Ù ȍ
È∈Ê È∈Ê

Demonstração: Tomemos uma coleção de conjuntos


È È∈Ê de forma que
|È | = È e um conjunto . tal que |.| = . Como ?∏È∈Ê È ) = ?|∏È∈Ê È |)|t| =
|?∏È∈Ê È )t |, devemos mostrar que ?∏È∈Ê È )t ~ ∏È∈Ê Èt . Para tanto, definamos
š: ?∏È∈Ê È )t → ∏È∈Ê Èt tal que š?}) = ?È ∘ })È∈Ê , onde ?}: . → ∏È∈Ê È ) ∈
?∏È∈Ê È )t e ÈÞ : ∏È∈Ê È → ÈÞ é a projeção canônica sobre ÈÞ . š é injetora, pois,
sendo š?}) = š?} › ), temos que ?È ∘ })È∈Ê = ?È ∘ } › )È∈Ê ⇔ ?È ∘ } = È ∘ } › ∀ Ç ∈ Λ ),
donde se obtém que } = } › (mostre isso). Para mostrar que é sobrejetora, basta
escrever cada ?~È )È∈Ê ∈ ∏È∈Ê Èt como ?~È )È∈Ê = ?È ∘ })È∈Ê com }: . → ?∏È∈Ê È )t
definida por }?) = a~È ?)bÈ∈Ê .

QED

Teorema 2.9.7: Sendo


È È∈Ê uma família de números cardinais e  um
número cardinal, tem-se que:

Ù  RT =  ∑T∈U RT
È∈Ê

Demonstração: Sendo
È È∈Ê uma coleção de conjuntos disjuntos dois a
dois tais que |È | = È e . um conjunto tal |.| = . Basta-nos mostrar que
∏È∈Ê . FT ~.`T∈U FT . Ora, definindo a função š: ∏È∈Ê . FT → .`T∈U FT através de
š?}È )È∈Ê = `È∈Ê }È (}È ∈ . FT ), essa é bijetora, pois, `È∈Ê }È ≠ `È∈Ê }ț se }È ≠ }ț para
algum Ç ∈ Λ (veja que }È ∩ }ÈÑ = ∅ se Ç ≠ Ǜ , já que os domínios são disjuntos) e todo
r ∈ .`T∈U FT pode ser decomposto como r = `È∈Ê }È para algum ?}È )È∈Ê ∈ ∏È∈Ê . FT ,
afinal r: `È∈Ê È → ..

QED

Observação: Veja as demonstrações dos teoremas 2.8.8 e 2.8.10, que são os


casos menos gerais dos dois últimos teoremas.

Exercício 2.9.2: Mostre que r ∈ .`T∈V FT pode ser decomposto como r =


`È∈Ë }È para algum ?}È )È∈Ë ∈ ∏È∈Ë . FT .

Em geral é bastante complexo analisar produtos de números cardinais, mas


vejamos alguns exemplos.

Exemplo 2.9.2: ∏Z∈ℕ ℵÞ = ∑(∈ℕ ℵÞ = ℵÞ .

Exemplo 2.9.3: ∏Z∈ℕ  ≥ ∏Z∈ℕ 2 = 2ℵÞ , pois  ≥ 2 ∀  ≥ 2. Mas também temos


que ∏Z∈ℕ  ≤ ∏Z∈ℕ ℵÓ = ℵÓÞ = 2ℵÞ (veja o Exemplo 2.8.4), donde segue que ∏Z∈ℕ  =

2 ℵÞ .

Exemplo 2.9.4: ∑Z∈ℕ 2ℵÞ = ?2ℵÞ )ℵÞ = 2ℵÞ ℵÞ = 2ℵÞ e ∏Z∈ℕ 2ℵÞ = 2∑(∈ℕ ℵÞ = 2ℵÞ ,
donde segue que ∑Z∈ℕ 2ℵÞ = ∏Z∈ℕ 2ℵÞ = 2ℵÞ , um resultado contra-intuitivo.
163

O último exemplo mostra que o próximo teorema não é um resultado trivial.

cardinais
È È∈Ê e
È È∈Ê tais que È < È ∀ Ç ∈ Λ, tem-se que:
Teorema 2.9.8 (Teorema de König): Dadas as famílias de números

& È < Ù È
È∈Ê È∈Ê

Demonstração: Primeiramente, demonstremos que ∑È∈Ê È ≤ ∏È∈Ê È . Para


isso, consideremos
È È∈Ê e
.È È∈Ê tais que |È | = È e |.È | = È . Sem perda de
generalidade, podemos tomar È ⊂ .È . Como as inclusões È ⊂ .È são próprias,
pode-se, usando o Axioma da Escolha, ter um conjunto V com um elemento È de
cada conjunto .È − È . Tomando š: `È∈Ê È → ∏È∈Ê .È de forma que š?) = ?È )È∈Ê
 r  ∈ È ¸
com È = · , essa função é injetora (verifique!), mostrando que ∑È∈Ê È ≤
È r  ∉ È
∏È∈Ê È .

Agora suponhamos, por absurdo, que ∑È∈Ê È = ∏È∈Ê È . Sendo


.È È∈Ê tal
|.È | = È , deve ser possível encontrar uma coleção
VÈ È∈Ê de conjuntos
disjuntos dois a dois de forma que |VÈ | = È , VÈ ⊂ ∏È∈Ê .È e `È∈Ê VÈ = ∏È∈Ê .È
que

(
VÈ È∈Ê é uma partição de ∏È∈Ê .È ). Mas, para cada Ç ∈ Λ, tomemos }È : VÈ → .È tal
que }È ?ÈÑ )ÈÑ ∈Ê = È ?È ∈
ÈÑ ÈÑ ∈Ê ) e È = ™?}È ) ⊂ .È . Portanto temos que |È | ≤
|VÈ | < |.È | (para ver que |È | ≤ |VÈ |, basta observar que }È : VÈ → È é sobrejetora).
Assim, È ⊂ .È é uma inclusão própria e, portanto, existe, para cada Ç ∈ Λ, È ∈ .È
tal que È ∉ È . Ora, dessa forma, ?ÈÑ )ÈÑ ∈Ê * não pertence a nenhum VÈ , pois, por
definição, se È ∉ È , então ?ÈÑ )ÈÑ ∈Ê ∉ VÈ e isso vale para cada Ç ∈ Λ. Assim,
?ÈÑ )ÈÑ∈Ê ∈ ∏È∈Ê .È , mas ?ÈÑ )ÈÑ ∈Ê ∉ `È∈Ê VÈ , o que contraria nossa hipótese de que
`È∈Ê VÈ = ∏È∈Ê .È e mostra o absurdo.

QED

tomou um elemento de cada .È − È sem explicitar nenhum procedimento.


Observação: Veja que em * acabamos usando o Axioma da Escolha, pois se

A utilização do Axioma da Escolha na demonstração acima foi crucial e, de


fato, não poderia ser diferente, pois a afirmação acima é equivalente ao Axioma da

a afirmar que ∏È∈Ê .È ≠ ∅ se Λ ≠ ∅ e .È ≠ ∅ ∀ Ç ∈ Λ (veja a Definição 4.2.3). O


Escolha. Podemos mostrar isso observando que o Axioma da Escolha é equivalente

mesmo resultado é obtido através do teorema, pois, sendo Λ ≠ ∅ e |.È | > 0, ∑È∈Ê 0 =
0 < ∏È∈Ê|.È | = |∏È∈Ê .È |, donde segue que ∏È∈Ê .È ≠ ∅.

Cantor. Com efeito, pode-se ver que, sendo 1 < 2, tem-se |Λ| = ∑È∈Ê 1 < ∏È∈Ê 2 =
O Teorema de König pode ser visto como uma generalização do Teorema de

2|Ê| . Percebe-se, então, que a característica marcante do teorema e o que lhe dá


importância é o fato de se garantir a desigualdade com “<” em vez de “≤”.

2.10 – Generalizações de máximos e mínimos; equivalências do


Axioma da Escolha; resultados finais
164

Nessa subsecção vamos realizar as demonstrações pendentes, mas, antes


devemos apresentar alguns conceitos e resultados novos.

Inicialmente, vamos relembrar algumas definições e acrescentar algumas


outras que nos serão pertinentes não só aqui, mas ao longo de todo o texto. A
primeira definição a ser relembrada é a de ordem total, já apresentada no final do
Capítulo I.

Definição 2.10.1 (ordem total): Sendo  um conjunto e — ⊂  ×  uma


relação binária em , temos que — é uma relação de ordem total em  se forem
satisfeitas as seguintes condições:

Para todo  ∈ ,  ≥  (reflexibilidade).


Se  ≥ ‡ e ‡ ≥ ž, então  ≥ ž (transitividade).
a)

Se  ≥ ‡ e ‡ ≥ , então  = ‡ (anti-simetria).
b)

Para todo , ‡ ∈ ,  ≥ ‡ ou ‡ ≥  (totalidade).


c)
d)

Com  ≥ ‡ definido por ?, ‡) ∈ —.

Mas podemos “enfraquecer” a ordem tirando a última condição (a (d)) e

quando se tem uma família k de conjuntos e definimos, para , . ∈ k, que  ≥ .


mantendo as outras. Tal ordem é dita parcial e um exemplo natural dessa ocorre

quando . ⊂ .

Observação: Veja que toda ordem total é também uma ordem parcial.

Notemos que é possível que existam subconjuntos de um conjunto

considerada. Por exemplo, na família k considerada acima, pode existir alguma


parcialmente ordenado que sejam, na verdade, totalmente ordenados pela ordem

coleção de conjuntos onde valha a propriedade (d) da definição.

Relembremos agora as noções de mínimo e máximo, mas estendendo para


ordens parciais.

Definição 2.10.2 (mínimo e máximo): Diz-se que  é o elemento mínimo


(ou menor elemento) de um conjunto V e denotamos por  = min V, quando  ∈ V e,
∀ ‡ ∈ V, ‡ ≥  (≥ é uma relação de ordem parcial). De forma análoga, diz-se que  é
o elemento máximo (ou maior elemento) de um conjunto V e denotamos por
 = max V, quando  ∈ V e, ∀ ‡ ∈ V, ‡ ≤ .

Observação: Uma nomenclatura comum (e adotá-la-emos) é chamar os


subconjuntos totalmente ordenados de um conjunto parcialmente ordenado de
cadeias.

Exemplo 2.10.1: Considerando o conjunto ℕ' , esse pode ser parcialmente


ordenado pela relação — ⊂ ?ℕ' )' onde ?, ) ≥¬ ?, ©) se  = © e  ≥ © (essa última
ordem é a usual dos naturais). Pode-se notar que, se  ≠ ©, os elementos ?, ) e
?, ©) não são comparáveis (não se pode dizer que um é maior que o outro), mas,
para cada  ∈ ℕ, o conjunto
 × ℕ =
?, ©) ∈ ℕ' | =  é uma cadeia de ℕ' .
165

Definição 2.10.3 (cadeia maximal): Sendo um conjunto V parcialmente


ordenado e sendo  ⊂ V uma cadeia,  é dito uma cadeia maximal quando não
existe cadeia . ⊂ V tal que  ⊂ . seja uma inclusão própria. Isto é,  é uma cadeia
maximal quando não está incluída propriamente numa outra cadeia.

Segue da definição acima uma forma de generalização das noções de máximo


e mínimo.

V parcialmente ordenado,  ∈ V é dito um elemento maximal quando  = max 


Definição 2.10.4 (elementos maximais e minimais): Dado um conjunto

para alguma cadeia maximal  de V. Analogamente,  ∈ V é dito um elemento


minimal quando  = min  para alguma cadeia maximal  de V.

De forma equivalente, poder-se-ia definir elemento maximal como  ∈ V tal


que ‡ ≥  ⇒  = ‡ e elemento minimal por  ∈ V tal que ‡ ≤  ⇒  = ‡ (≤ sendo
uma ordem parcial), que são definições mais práticas, mas, no entanto, não deixam
clara a intenção da definição.

Exercício 2.10.1: Mostre a equivalência entre as definições (citada acima).

 =
1,2,3

1 ,
2 ,
3 ,
1,2 ,
1,3 ,
2,3 ,
1,2,3
Exemplo 2.10.2: Consideremos o conjunto e
?) = W∅, X. Observa-se que ?) é parcialmente
ordenado pela relação de inclusão (com . ≤ ; quando ., ; ∈ ?) e . ⊂ ;). Além
disso, por essa relação, W∅,
1 ,
1,2 ,
1,2,3 X, W∅,
1 ,
1,3 ,
1,2,3 X, W∅,
2 ,
2,1 ,
1,2,3 X,
W∅,
2 ,
2,3 ,
1,2,3 X, W∅,
3 ,
3,1 ,
1,2,3 X e W∅,
3 ,
3,2 ,
1,2,3 X são todas cadeias
maximais. O elemento maximal (e máximo também) desse conjunto é
1,2,3 =  e o
minimal (e também mínimo) é ∅.

Com efeito, basta, no exemplo acima, tomar o conjunto ?) −


∅,  com a mesma
Observação: Nem sempre os elementos maximal e minimal são únicos.

ordem e observar que os elementos


1 ,
2 e
3 serão os elementos minimais e os
elementos
1,2 ,
1,3 e
2,3 serão maximais.

Definição 2.10.5 (cotas superiores e inferiores): Sendo um conjunto V


parcialmente ordenado e  ⊂ V,  ∈ V é dito uma cota superior de  se  ≥  ∀  ∈ .
De forma semelhante,  ∈ V é dito uma cota inferior de  se  ≤  ∀  ∈ .

Observe que, em particular, se  possui máximo, esse é uma cota superior


de  e o análogo também ocorre caso  tenha mínimo. É interessante muitas vezes
definir o conjunto de todas as cotas superiores ou inferiores de  ⊂ V. Isto é, ter
;#?) =
 ∈ V| ≥  ∀  ∈  e ;™?) =
 ∈ V| ≤  ∀  ∈  .

Observação: Outro nome comum para cota superior é majorante e, para


cota inferior, minorante.

Junto com a idéia de conjunto das cotas superiores e inferiores vem mais
uma generalização da definição de mínimo e máximo, como segue abaixo.
166

Definição 2.10.6 (ínfimo e supremo): Considerando um conjunto V


parcialmente ordenado e  ⊂ V,  ∈ V é dito o ínfimo de  e denotamos por inf , se
 = max ;™?), isto é, a maior das cotas inferiores. De forma semelhante,  ∈ V é
dito o supremo de , e denotamos sup , se  = min ;#?), ou seja, a menor das
cotas superiores.

Observemos que tanto o supremo como o ínfimo de  podem ou não


pertencer ao conjunto  (dependendo de se  possui ou não máximo ou mínimo).
Além disso, não é garantido, em geral, que um conjunto  ⊂ V possua ínfimo ou
supremo.

Exercício 2.10.2: Mostre que o supremo e o ínfimo, quando existem, são


únicos.

Exemplo 2.10.3: Dado o conjunto ℕ ∪


ℵÓ com a ordem definida para
cardinais, embora ℕ não possua máximo, ℵÓ ≥  ∀  ∈ ℕ e, obviamente, ℵÓ =
min
ℵÓ , donde se tem que ℵÓ = sup ℕ. Também se pode ver que 1 = inf ℕ.

Podemos agora generalizar o corolário do Teorema 2.9.2.

Teorema 2.10.1: Sendo  um cardinal transfinito e


È È∈Ê uma coleção de
números cardinais não nulos tal que |Λ| =  e  = sup
È È∈Ê, temos que ∑È∈Ê È =
.

Demonstração: Por um lado, È ≤  ∀ Ç ∈ Λ e, assim, ∑È∈Ê È ≤ ∑È∈Ê  = ,


onde foi usado o Teorema 2.9.2. Por outro lado, ÈÑ ≤ ∑È∈Ê È ∀ Ǜ ∈ Λ e assim,
 ≤ ∑È∈Ê È , pois  é a menor das cotas superiores. Além disso,  = ∑È∈Ê 1 ≤ ∑È∈Ê È .
Ora, dessa forma temos que  ≤  ∑È∈Ê È . Mas, sendo  um cardinal transfinito e
 ≤ ∑È∈Ê È , temos que  ∑È∈Ê È = ∑È∈Ê È (Teorema 2.8.7), donde se conclui que
 ≤ ∑È∈Ê È . Logo, ∑È∈Ê È =  pelo corolário do Teorema de Schröder-Bernstein.

QED

Vê-se que a demonstração sofreu apenas uma pequena modificação.

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