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“Pensar é estar doente”

Pessoa vive o paradoxo do pensar/sentir, ou seja, para ele pensar é


positivo mas ao mesmo tempo traz sofrimento e, por isso, deseja
experienciar estados de inconsciência. Para Pessoa, quanto maior a
nossa noção da realidade, o nosso conhecimento e a nossa
consciência das coisas, mais responsáveis e mais racionais nos
tornámos, o que leva a uma perda da espontaneidade e, como tal, a
um maior sofrimento. A dor de pensar de Pessoa torna-se maior pois
este nem sempre consegue entender todas as coisas. Há por isso o
desejo (inatingível) de ser inconsciente e ter consciência disso, de
deixar fruír a vida sem pensamento, sem racionalização, o que é
impossível na nossa vivência em sociedade.
Para mim, ter a capacidade de pensar é um dom, tendo em conta a
qualidade do pensamento. Há grandes pensamentos que geram
grandes feitos, todavia há também o contrário e essa é a parte má do
ser humano. O Homem é um ser projectivo, logo tem sempre a
necessidade de pensar. Todos temos a necessidade de pensar sobre o
que vamos fazer ou sobre o que já fizemos, a nossa mente não é
uma mistura de ideias soltas, mas sim a junção dessas ideias que
formam os nossos pensamentos.
Às vezes era bom não pensar, perder a noção da realidade, o que nos
tornaria em seres meramente sonhadores no sentido em que o que
vivíamos era irreal; pensar já é tão natural no ser humano que este
já não dá conta que o faz, tal como respirar. Na minha opinião, o
pensamento é como a liberdade: se a temos não reparámos nela,
quando nos tiram é que sabemos quão grande era o seu valor.
Numa visão mais futurista, se o ser humano passasse a ter os seus
pensamentos controlados por máquinas, ia perder parte da sua
natureza e viveria uma realidade virtual, forçada. Pensar integra-nos
no mundo e ajuda-nos a sobreviver nele. Imagino que, se não
pensasse, este texto não existia; pensar é uma parte integrante da
nossa vida.
Publicada por Sílvia M em 00:03 2 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

Actividade de expressão escrita sobre a felicidade

Ao contrário do que se possa pensar, a felicidade começa em nós;


somos os “impulsionadores” da felicidade. Esta está presente nas
mais pequenas coisas, e, às vezes, nem nos apercebemos disso e
sentimo-nos tristes. Fazemos “dramas” com os nossos problemas
insignificantes e dizemos que jamais seremos felizes; todavia, basta
pensar nas pessoas que passam dificuldades para vermos que afinal
somos bastante felizes.
Essas pessoas (muitas vezes sem dinheiro, sem alimentos, sem
casas, com problemas de saúde, ...) conseguem encontrar a
felicidade em vários aspectos da sua vida.
Relembro agora uma reportagem sobre voluntários que percorriam as
ruas do Porto para distribuir alimentos aos sem-abrigo; um desses
sem-abrigo afirmou que não eram os alimentos que os voluntários
traziam que significavam muito para ele (eram apenas uma ajuda),
mas sim o tempo que essas pessoas dispensavam para falar com ele
e para proporcionar-lhe um pouco de convivência.
Na adolescência, fase crítica da nossa vida, passamos por momentos
de instabilidade a vários níveis; há picos de grande felicidade e
também de grande tristeza. Num só dia, conseguimos passar por
esses dois sentimentos, tudo num período em que devíamos estar
felizes sempre pois não temos grandes preocupações nem
responsabilidades.
A felicidade em nós está sempre presente, mesmo quando estamos
muito tristes. Como conseguíamos sair desse estado se a felicidade
não se encontrasse em nós? Deve-se ter pensamento positivo,
encontrar aspectos positivos nos nossos problemas. Os momentos de
crise geram o desenvolvimento, tornam-nos mais fortes, mais
experientes, por isso tornam-nos também mais felizes. Se pensamos
que somos felizes, vamos sentir que o somos mesmo e passar essa
mensagem aos outros. Essa felicidade, que começa em nós, vai atraír
então mais felicidade; nós somos o ponto de partida para que o sol
brilhe na nossa vida.
Publicada por Sílvia M em 00:02 0 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

Síntese da poesia de Pessoa Ortónimo

Características temáticas:

arte pessoana marcada pela teoria do fingimento;


intelectualização do sentir;
obsessão de auto-análise;
sofrimento resultante da dor de pensar;
distância entre sonho e realidade;
incapacidade de fruir a plenitude da vida;
evocação da infância como símbolo de uma felicidade mítica,
imaginária e perdida;
fragmentação do eu;
o tédio, a angústia existencial, a náusea, a solidão interior, a
melancolia.

Características formais:

linguagem simples e sóbria, a nível lexical e sintáctico;


reminiscências da lírica tradicional popular – repetições, rima interna,
cruzada e emperelhada, métrica curta (redondilha menor e maior),
estrofes curtas;
suavidade rítmica e musical.
Publicada por Sílvia M em 00:00 2 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

Sábado, 26 de Janeiro de 2008


Ricardo Reis

Formação clássica
Maior influência de poetas latinos
Cultura greco-latina
Poesia pensada, onde estão presentes os órgãos dos sentidos
Através da influência greco-latina, Reis defende o “Carpe Diem”, o
carácter da predestinação do ser humano -» tentativa de viver cada
momento como se fosse o último, sem pensar no futuro (evitar o
sofrimento)
Aparente ausência de emoção
Vida como adiamento da morte; consciência de que não somos nada
-» resignação perante isso
Não chegamos a conhecer a verdadeira realidade das coisas
Encontra a harmonia e a felicidade na aceitação de tudo o que o
rodeia

“Vem sentar-te comigo, Lídia...” – p. 118

1:
pedido associado à expressão de um desejo
existe cumplicidade e intimidade
“fitemos” – atenção presa
o rio simboliza a passagem da vida/transoritoriedade/tudo passa, é
impossível ver o que ficou para trás e antecipar o futuro

2:
§ tendo consciência que são ambos adultos, ele queria conservar o
pensamento de criança
§ cada acontecimento é único
§ o destino é, na poesia de Reis, assumido como uma entidade mítica
acima dos próprios deuses
§ a vida passa para cumprir o destino

3:
conflito entre a vontade e aquilo que o s. p. considera certo
a proximidade é desgastante
façamos o que fizermos, caminhamos sempre para o fim
passar sem preocupações nem aborrecimentos
4:
tenta viver a vida sem perturbar aquilo que o destino tinha reservado
para ele
sentido de inevitabilidade ® como é inevitável, não vale a pena
preocuparmo-nos com isso

5:
amarmo-nos sem excessos, com tranquilidade
a paixão impede-nos de ver a passagem da vida e de a aproveitar

6:
aproveitar as coisas simples da vida
colher da vida aquilo que ela nos dá
tentativas de suavizar o momento
não acreditam em nada a não ser naquele momento
assistimos ao passar da vida, sem acreditar em mais nada que não
seja o presente e sem querer saber nada do futuro

7:
se um dia ele morrer, ela vai lembrá-lo suavemente, pois nucna
viveram o amor com muita loucura, sem intensidade -» vivência do
amor

8:
se for ela a primeira a morrer, ele também não vai sofrer porque
aquilo que ele tem para se lembrar dela é algo suave
ela será, na memória dele, alguém que acreditava apenas no
momento e com as flores que animavam aquele momento

Conclusão: No poema é perceptível uma atitude amorosa que aponta


para uma concepção de amor tipicamente clássica associada ao
dantismo e platonismo. Tudo nos aponta para uma poética em que se
pretende o racionalismo puro, daí a existência de dicotomias como
enlaçar/desenlaçar, observar/pensar, observar/aprender,
pensar/aprender. O s. p. nega-se a qualquer sentimento extremado
essencialmente pela necessidade e obrigatoriedade de não sofrer.
Neste poema estão implícitos os conceitos de epicurismo e
estoicismo, bem como as marcas de uma estética neoclássica.

Epicuro vê na Filosofia o caminho para alcançar a felicidade entendida


como a libertação das paixões. Para ele, o prazer está na sensação
elementar de existir. O epicurismo não é o abandono ao prazer mas o
cálculo e a medida dos prazeres.

Estoicismo – teoria filosófica que tem como características principais


a apologia da autodisciplina, da moderação, da indiferença, da
abdicação e aceitação do destino.
Publicada por Sílvia M em 23:58 0 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

Pessoa Ortónimo

Modernismo – em Portugal distinguem-se dois momentos (1º


Modernismo e 2º Modernismo)

O início do séc.XX em Portugal e na Europa: - não foi pacífico; -


alterações na sociedade; - período da 2ª Guerra Mundial; - instala-se
a ditadura em Portugal

O Modernismo – expressões artísticas

Texto 1:

Mário de Sà-Carneiro, Almada Negreiros, António Botto e Fernando


Pessoa não tiveram muita importância no seu tempo;
Fernando Pessoa (considerado o melhor poeta depois de Camões) só
foi descoberto durante e após a 2ª Guerra Mundial;
Estava no horizonte uma nova época literária, mas ainda de forma
modesta (surgem muitos escritores, mas a poucos se dá relevância);
Os novos escritores têm pouca influência sob a sociedade da época
(só vão alcançar essa influência mais tarde);
Surgem obras de arte que visavam criticar a sociedade e o que
estava errado na época;
O grupo de jovens escritores e artistas só conseguiu ser recebido com
sarcasmo, desprezo ou indignação pela maioria do público (só
recebem o seu reconhecimento mais tarde);
Muitos escritores tiveram as suas obras publicadas só após a sua
morte;
Chama-se a atenção no texto para o pintor Amadeo de Souza-
Cardoso;
O novo Modernismo não só influenciou a literatura como também as
outras artes (pintura, música, etc.).

Texto 2:

Situamos o Modernismo entre finais do séc.XIX até finais dos anos 50


(apanha tempos extremamente conturbados – 1ª e 2ª Guerra
Mundial);
Auge do Modernismo – anos 20 e 30;
O grande número de publicações que surge na época são revistas e
jornais;
Torna-se difícil conseguirmos enquadrar (dentro de 1ª e 2ª
Modernismo) grupos de escritores e pintores devido às suas
características muito distintas;
É difícil também juntar as diferentes características – explica-se
assim o surgimento de todos estes “ismos”;
A arte e os diversos movimentos reflectem-se nas diferentes
expressões artísticas (cinema, música, etc.).

Orpheu – Revista e Geração:

A 1ª edição sai em 1915 (em Março);


Escritores que contribuiram – Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-
Carneiro, Côrtes-Rodrigues,...;
A revista foi muito mal recebida; os poetas e os seus poemas não
foram bem aceites → “poetas paranóicos”;
O que provocava a não aceitação deste tipo de poesia –
espontaneidade, inocência, pureza, dizia as verdades todas que nem
sempre se podem dizer;
O que causou o espanto dos leitores foi a mistura de complexidade
com simplicidade, a espontaneidade mas também o surgimento da
poesia sobre o quotidiano da época (sobre as máquinas, os motores,
as fábrcas, etc.), que não agradava aos leitores;
“Orpheu acabou. Orpheu continua” – a revista não voltou a ser
editada, mas deixou influências.

Fernando Pessoa:

Nasceu em Lisboa, em 13 de Junho de 1888;


Foi educado na África do Sul, no Liceu de Durban e na Universidade
(inglesa) do Cabo da Boa Esperança;
Ortónimo – ele mesmo;
Heterónimo – outros autores que ele criou;
Considera que os anos terminados em 5 têm um significado especial
na sua vida, devido às coisas importantes que aconteceram nesses
anos;
Decide vir para Portugal frequentar o Curso Superior de Letras (em
1905) mas rapidamente desiste;
Começa a trabalhar no ramo do comércio, considerando que ser
escritor era vocação e não profissão;
Em 1915 “nasce” a revista Orpheu (fruto da sua cumplicidade com
Mário de Sá-Carneiro);
Morrer consideravelmente cedo.

“Ó sino da minha aldeia...” (p. 18)

Simboliza a saudade;
Conceito de “aldeia” – muito ligada à sua infância e ao mundo onde
foi criado, o seu mundo onde se sentia perfeitamente integrado;
Pessoa nunca se sentiu integrado no mundo nem no tempo como se
sentiu na sua “aldeia”;
Pessoa tinha uma grande dificuldade em lidar com as relações
amorosas e isso aconteceu de forma abrupta quando perdeu o pai e
viu a sua mãe voltar a casar – a rotura da sua relação com a mãe
manifesta-se num certo descrédito nas relações amorosas.

Pessoa ortónimo considera que o acto criativo só é possível pela


conciliação das oposições entre as realidades objectivas (físicas ou
psíquicas) e realidades mentalmente construídas (artísticas). Daí a
necessidade de intelectualizar o que sente ou pensa, re-elaborando
essa realidade graças à imaginação criadora. A unidade dos opostos
sinceridade/fingimento não é mais do que a concretização do
processo criativo, que é vital para o ser humano e que só é possível
ao afastar-se da realidade, da qual parte, para percepcionar e
produzir uma nova realidade. É nesta intersecção mas também nas
dicotomias do sentir/pensar e consciência/inconsciência que o
ortónimo procura responder às inquietações da vida e produzir a
emoção estética através do poema que simula a vida, tal como a
afirma. Em Pessoa, a consciência da efemeridade cria o desejo de ser
criança de novo, a nostalgia da infãncia como bem perdido leva-o à
desilusão perante a vida real. Ao não conseguir fruír a vida por ser
consciente e ao não conseguir conciliar o que deseja ou idealiza com
o que realiza, sente-se frustrado, o que traduz o drama da
personalidade de ortónimo. A poesia ortonímica ora segue
formalmente os modelos da poesia tradicional portuguesa, ora
procura as experiências modernistas. Na vertente tradicional, com
poemas de métrica curta, abundam aliterações e rimas internas
numa linguagem sóbria e intimista, mas de grande suavidade musical
e rítmica. Na vertente de feição modernista, há uma ruptura que lhe
permite inovações como a do paulismo caracterizado pelo vago, pelo
subtil e pelo sonho com o refinamento de processos simbolistas ou o
interseccionismo que mistura várias sensações numa só.

“Autopsicografia” (p.31)

1º momento – sente
2º momento – pensa e intelectualiza o sentimento
3º momento - passa para a escrita o que sentiu, depois de
intelectualizar
=
Teoria do fingimento

2ª estrofe – o poeta provoca emoção estética no leitor


3ª estrofe – intersecção da razão com os sentimentos ® surge o
poema
“Isto” (p. 32)

1ª estrofe – o s. p. assume que é do conhecimento dos outros tudo o


que escreve; reafirma a necessidade de intelectualizar os sentimentos
2ª estrofe – “sonho ou passo” -» tudo o que lhe acontece; “falha ou
finda” -» aliteração; o s.p. compara tudo o que tem a ver com
emoções com um terraço: é como se estivesse abaixo do terraço o
que sente, no terraço a intelectualização e acima os sentimentos
intelectualizados; “Essa coisa é que é linda” -» o que é inatingível,
insatisfação por não atingir a perfeição
3ª estrofe – o s. p. escreve no meio em que sentiu, no que pensou e
naquilo que ainda não atingiu; “enleio” -» sentimentos; o s. p. tem
consciência que aquilo que escreve já não tem sentimentos pois estes
estão intelectualizados; o s. p. sabe que aquilo que tem está longe
daquilo que quer atingir; o sentimento é próprio do leitor e é
provocado pelo que o poeta escreve

“Quando as crianças brincam” (p. 39)

Para Pessoa, a infância confunde-se com o local onde viveu


Como adulto e não conseguindo atingir o ideal, Pessoa refugia-se na
infância, mas numa infância imaginada por ele
1ª estrofe – o s. p. observa o comportamento das crianças (este
comportamento desperta no s. p. sentimentos de alegria; vem-lhe à
memória não a infância que teve, mas a que imaginou)
2ª estrofe – a alegria não foi de ninguém porque nunca existiu, está a
existir agora -» o s. p. relembra a infância que não teve
3ª estrofe – o s. p. não sabe quem foi nem o que sentiu na infância;
o s. p. não sabe se terá a oportunidade de sentir outra vez o que
sente; o s. p. sente a alegria, não a dele, mas a das crianças que
brincam
Passado – enigma; Presente – sente a alegria das crianças que
brincam; Futuro – (pre)visão

“Ela canta, pobre ceifeira” (p. 36)

1ª estrofe – ela na sua inconsciência julga-se feliz, mas o poeta tem


uma visão diferente; ao olhar dos outros a sua viuvez passa
despercebida, ninguém repara neste aspecto da vida dela
2ª estrofe – a comparação acentua a beleza e a naturalidade do
canto da ceifeira; associa-se tanto o canto da ceifeira ao vôo da ave,
que até se imagina as curvas no canto dela como no vôo da ave -»
curvas associadas ao canto
3ª estrofe – o s. p. alegra-se por ouvir o canto da ceifeira, mas
entristece-se por saber que ela é infeliz inconscientemente; a vida
não corresponde à alegria que ela tem, ela consegue superar a
própria vida
4ª estrofe – ela não tem motivos para cantar; intromissão entre o
sentimento e a razão, o s. p. sente ao olhar para a ceifeira mas o
pensamento leva-o à razão (que ela não é feliz, não tem motivos
para cantar, ...); passamos do “ela” para “tu”; ele queria ter a
espontaneidade da ceifeira, sentir o canto dela sem pensar
5ª estrofe – ele queria ter a inconsciência da ceifeira para ser alegre
e ao mesmo tempo queria ter a consciência disso -» representação do
ideal; “ciência” -» saber, ter conhecimentos
6ª estrofe – quanto mais conhecemos a realidade das coisas, mais
responsáveis nos tornamos -» a vida torna-se mais pesada -» a vida
passa tão depressa que o melhor era não ter tanta responsabilidade
para não haver tanto sofrimento; a vida é breve e demasiado pesada,
o s. p. esconde um desejo de morte que seria o alívio em relação ao
peso que a vida provoca na sua alma

“Gato que brincas na rua” (p.35)

comparação entre o gato e o ser humano; o gato sente-se muito á


vontade na rua (o seu habitat natural) como o ser humano se sente à
vontade na cam, numa determinada época da sua vida (na infância);
o gato sente-se tão à vontade na rua como se sentia no seu “ninho”
quando era pequeno (outra possibilidade de interpretação).
o s. p. inveja a vida despreocupada do gato, visto que é natural e não
é uma questão de sorte. “Invejo a sorte que é tua”: inconsciência,
liberdade, deambulação, “permanência eterna na infância”.
tudo aquilo que acontece com o gato já está predestinado e este
aceita facilmente aquilo que lhe está destinado; o gato é um bom
servo porque não tem consciência, obedece às leis da natureza.
o gato não racionaliza, age por instinto e é condicionado por ele;
enquanto que o s. p. sente e re-elabora o sentimento, o gato apenas
se limita a sentir.
a felicidade do gato vem da sua inconsciência e da sua ausência de
capacidade de pensar.
noção máxima de liberdade; é um simples gato mas é dono de si
próprio; mesmo que o gato não tenha nada ou o pouco que tenha é
dele; o gato não tem responsabilidade, não tem que obedecer a
nada.
o s. p. não é dono de si próprio pois vive em sociedade, com regras,
não vive institivamente; há coisas que o s. p. faz naturalmente,
conforme a sua natureza mas outras coisas são feitas por obrigação
porque vive em sociedade.

“Não sei, ama, onde era” (p. 40)

TEMA: re-criação do mundo da infância através do sonho

O s. p. tenta relembrar e desvendar algo que aconteceu no passado.


Há um diálogo entre o s. p. e a ama.
O s. p. é feminino; há intimidade entre o s. p. e a ama.

o s. p. diz que há algo que não consegue identificar num determinado


lugar e nunca saberá;
juventude, despertar para a vida, alegria;
aqui aconteceria alguma coisa
a ama também não sabe o que se passou e afirma que ninguém
sabe; as reticências acentuam a indeterminação;
repetição anafórica; normalmente o céu já é azul mas ali o azul
conseguia ser mais intenso; associa-se o azul do céu a algo
agradável;
naquele tempo e naquele lugar, era tudo dela mas não era por ela ser
a rainha;
a ama responde que ninguém sabia por que era tudo dela mesmo ela
não sendo a rainha;
sabe que o jardim tinha flores de muitas cores, mas não conseguia
lembrar-se delas;
os pensamentos/recordações trazem dor/nostalgia; saudades do que
não chegou a existir (mistura de sentimentos);
havia algo que lhe traria mais alegria;
a vida é aquilo que acontece, e o que gostaríamos que acontecesse
(sonho);
contos para fazê-la sonhar;
os contos relembram-lhe aquilo que ela sonhou; o s. p. na realidade
esteve naquele jardim e gostava de ter sido feliz -» mundo da
infância

“O menino da sua mãe” (p. 42)

pode ser num qualquer cenário de guerra; não temos o cenário


geográfico mas imaginamos o sítio;
dá-nos a ideia que ele tem mesmo que estar morto;
ele não só está morto, como no momento após a morte já arrefece;
a farda está suja de sangue (mostra-nos a frieza e a agressividade
com que foi morto);
estas características contrapõem-se ao cenário de guerra;
o olhar dele ficou parado e perdido a olhar para o céu;
ele era tão jovem que nada fazia prever o que aconteceu; a
juventude remete para a felicidade;
não se consegue definir a idade dele agora porque está morto;
como ele era filho único, a dor da família foi ainda maior;
pouco usada; significa a brevidade da vida dele; a cigarreira era um
objecto de ligação à mãe;
a cigarreira sobreviveu, ele é que não;
o lenço está a esvoaçar; branco associado à infância, à pureza; foi-
lhe oferecido pela criada velha, era como um elo de ligação com ela;
ele foi lutar pelos valores do Império e morreu em defesa deste;
ele arrefeceu e agora o corpo já está em decomposição;
mesmo com o corpo a decompôr-se, continua a ser o menino da sua
mãe.

“Não sei quantas almas tenho” p. 46

® introspecção
® viagem do s. p. ao interior de si próprio
® a diminuição do tamanho da imagem significa a aproximação do
interior e o desconhecimento de si próprio
® dificuldade do poeta em auto-definir-se

não há espaço para a existência física;


viver tudo intensamente, emocionalmente; agir por instinto;
quando analisamos, somos apenas o que vemos; o ser está
incompleto, o sentimento sem a razão torna-nos incompletos;
se eu estiver atenta ao que vejo, torno-me naquilo que os outros
querem;
não se controlam os sonhos nem os desejos;
é como se fosse mais do que um eu e conseguisse observar-me na
paisagem;
o s. p. vai-se analisando e aprendendo sobre ele próprio
para além daquilo que é visível, ele vê aquilo que não sentiu;
só Deus sabe se o s. p. é ele próprio ou não.
Publicada por Sílvia M em 23:55 0 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

"Os Lusíadas" - Luís de Camões

Renascimento:

Recuperação dos valores da Antiguidade


Tomada de consciência daquilo que foi importante para a História
Recuperação da cultura greco-latina ® “fonte” de Camões

“Os Lusíadas”, de Luís de Camões

Em “Os Lusíadas”, Camões conseguiu fazer a síntese entre o mundo


pagão e o mundo cristão.
“Os Lusíadas”, publicados em 1572, são a principal obra épica da
Renascença. Luís de Camões, influenciado pelo mundo antigo, pelas
epopeias clássicas de Homero (Ilíada e Odisseia) e de Virgílio
(Eneida), canta o povo intrépido, historia a viagem de Vasco da Gama
e as descobertas, exaltando o espírito do povo português que foi
capaz da formação de Portugal e da expansão imperial. Tomando o
povo como herói colectivo, camões re-elabora a história, celebra o
apogeu e pressente a decadência do Império.

Lusíadas inserem-se no Renascimento


=
Mesma estrutura da epopeia clássica
=

4 partes constituintes (estrutura interna):


Proposição – sumário do poema em que o poeta enuncia o objectivo
do poema e quam vai cantar;
Invocação – pedido de ajuda às musas – Tágides;
Dedicatória – o poema é dedicado a D. Sebastião;
Narração – iniciada in media res, a narração da viagem de Vasco da
Gama até à Índia começa a ser feita quando os Portugueses já
percorreram metade do caminho, no Oceano Índico, mais
precisamente no canal de Moçambique. A parte inicial é narrada
posteriormente, num processo de retrospectiva, flashback, ou
analepse, pelo próprio herói, Vasco da Gama, ao rei de Melinde.

4 planos:
Plano da Viagem (plano central) – relato da viagem de Vasco da
Gama;
Plano da Intriga dos Deuses ou da Mitologia (plano paralelo) –
Deuses contra ou a favor dos Portugueses;
Plano da História de Portugal (plano encaixado) – episódios da
história (p.ex., episódia de Inês de Castro);
Plano do Poeta (plano ocasional) – reflexões em relação às várias
histórias e episódios que vai contando.

Estrutura externa:
Forma narrativa;
Versos decassílabos;
Rimas com esquema rimático abababcc (rima cruzada e
emparelhada);
Estâncias – oitavas;
Poema dividido em dez cantos.

Proposição – p. 146

1ª estância:

o poeta começa a sua história na viagem de Vasco da Gama à India;


glorifica os feitos do povo português;
domínios que nunca tinham sido ultrapassados;
Novo Reino – império que os portugueses iam construir no Oriente;
o poeta pretende cantar as navegações e conquistas dos portuguese
no Oriente nos reinados de D. Manuel a D. João III.

2ª estância:

pretende cantar as vitórias em África e a organização do país na


primeira dinastia;
pretende valorizar aqueles que se tornam imortais pelos seus feitos;
vai cantar os feitos dos portugueses por todo o mundo – quer que
todo o mundo conheça esses feitos.

3ª estância:

que se esqueça tudo o que tem a ver com a Antiguidade Clássica –


porque o poeta considera que os portugueses estão num plano
superior → os Deuses do mar e da guerra obedeceram aos
portugueses.

Mensagem: que se esqueça tudo o que a poesia épica cantou e que


se dê lugar aos feitos e façanhas dos portugueses nos mares que os
levaram à India. Os portugueses conquistam o direito à imortalidade
pelos seus feitos históricos.

Invocação – p. 149

O poeta pede auxílio/inspiração às Tágides (Ninfas do Tejo) para ter


um estilo tão grandioso como os factos que pretende cantar.

4ª estância

As Tágides deram-lhe um novo talento;


O poeta cantou em verso humilde o rio (Tejo) – poesia lírica;
Até aqui o poeta sempre sempre cantou em verso humilde, agora
pede um estilo grandioso que leva à criação da poesia épica – para
cantar os feitos e façanhas dos portugueses;
Ele pretende pôr as águas do Tejo acima das águas de Hipocrene –
ele pretende que as águas do Tejo lhe tragam mais inspiração do que
as de Hipocrene.

5ª estância

O poeta pede um estilo tão grandioso que provoque alterações em


quem o ler – exaltação de sentimentos → alteração de atitudes e
comportamentos;
Os portugueses ajudam Marte – por isso estão num plano superior;
O carácter universal da mensagem d’ “Os Lusíadas”.

Processos linguísticos de coesão textual


Camões escreveu “Os Lusíadas” para exaltar os feitos dos
portugueses. Ainda hoje estudamos esta obra como exemplo do
género épico.

“Os Lusíadas” → esta obra → Anáfora – processo linguístico que


permite retomar uma ideia que é antecedente à expressão utilizada.
O autor de “Os Lusíadas”, Camões acabou por morrer na miséria.

Camões → O autor de “Os Lusíadas” → Catáfora – processo


linguístico de retoma de uma ideia posteriormente apresentada.

Camões foi um dos maiores poetas portugueses. O poeta de “Os


Lusíadas” enalteceu como ninguém os feitos dos portugueses. O
grande poeta renascentista surpreendeu o mundocom a
grandiosidade da sua obra.

Co-referência – processo linguístico que utilizando expressões
diferentes remete para a mesma ideia, o mesmo sujeito ou objecto.

Dedicatória – p.150-151

6ª estância:

D. Sebastião, dado ao mundo por Deus, foi temido pelos Mouros e o


grande responsável pela expansão do Cristianismo.

7ª estância:

D. Sebastião encontra-se numa posição privilegiada, pois está


protegido por Deus.

8ª estância:

O Império português ia desde o sítio onde o Sol nasce até onde ele se
põe – era quase infinito;
Esperam que D. Sebastião vença todos aqueles que não partilham a
religião cristã.

10ª estância:

D. Sebastião vai ter o amor da pátria – amor incondicional, em troca


de nada, que vai durar para sempre;
O poeta vai apregoar a nação grandiosa que tem;
O nome de D. Sebastião vai ser engrandecido pelo seu povo.

11ª estância:
Tudo o que o poeta vai cantar corresponde a factos grandiosos e
verdadeiros;
As façanhas dos portugueses excedem aquelas que foram sonhadas;
O poeta recorre ao exemplo de outras personagens da História para
engrandecer os feitos dos portugueses.

15ª estância:

O rei está numa posição tão elevada que o poeta não pode cantar-
lhe;
Se o rei souber governar, os portugueses vão continuar os feitos
grandiosos do passado – os portugueses vão tomar as terras de
África e do Oriente;

18ª estância:

Enquanto o tempo se arrasta que D. Sebastião prosseguisse a tarefa


de governar;
O poeta pede ao rei para que ajude os portugueses, para que a sua
epopeia seja verdadeira;
D. Sebastião vai ser invocado pelo seu reinado de glória.

Canto I – p.159:

Referência aos Mouros que aparentemente são amigos, mas que não
estão a ser verdadeiros – os portugueses descobriram isso;
O objectivo dos portugueses afigura-se muito difícil porque têm que
passar por muitos perigos, nunca sabem com o que hão-de contar –
há momentos em que sabem que podem não chegar à India com vida
→ quanto maiores forem os perigos que passarem, maior será a sua
glória;
No mar há imensos perigos, tantas vezes os portugueses estão perto
da morte;
Por terra também há dificuldades (guerras, traições, inveja);
Haverá algum lugar no mundo onde a vida é segura e onde os
Deuses não se indignem contra os portugueses? Não há nenhum
lugar onde estejam totalmente seguros.

Canto V – p. 160

Fala de várias personagens da História – o poeta defende que a arte


é que imortaliza o Homem e não os seus feitos guerreiros;
É importante ser capitão, mas não há nenhum bom capitão que não
seja culto e sabedor das coisas;
Em Portugal é por falta de conhecimento que não há nenhuma
epopeia a cantar os feitos dos portugueses, não por falta de vontade
e de arte;
O poeta dá importância ao culto da arte e da poesia como forma de
glorificação dos grandes feitos dos portugueses; o seu ideal de herói
não inclui apenas os feitos de armas mas sobretudo a protecção das
artes e das letras.

Canto VI – p. 161-162

Os portugueses durante a viagem têm enfrentado grandes perigos,


mas mesmo assim vão vencendo os obstáculos que lhes aparecem;
Os portugueses decobrem coisas agradáveis, mas não são estas que
os vão fazer atingir a fama e a glória;
Tudo aquilo que os leva a alcançar o que lhes estava prometido não é
bom nem agradável;
Desta forma, vencendo todos os obstáculos e não ficando apenas nas
sombras das glórias do passado, os portugueses conseguem superar
os seus objectivos – elogio aos marinheiros que acabaram de cumprir
a missão que lhes tinha sido concedida; faz ainda alusão a uma série
de renúncias e actos que deve praticar todo aquele que quiser
alcançar as honras imortais.

Renúncias: viver à sombra da glória dos antepassados; os luxos e os


requintes desnecessários; os manjares, os passeios, os prazeres, os
apetites.
Actos que devem praticar: a busca esforçada; a disponibilidade para
a guerra; as navegaçõe árduas por regiões inóspitas à custa e
sofrimento; a vitória sobre as limitações pessoais de forma a
enfrentar as situações mais difíceis ou dolorosas.

Canto VII (3ª invocação) – p. 162 – 163

estância 78:

O poeta pede inspiração às Ninfas do Tejo e do Mondego; compara a


escrita à viagem e o meio que utiliza para esa viagem é frágil (fraco
batel); pede para que as Ninfas o ajudem nessa “viagem”.

estância 79:

Anda a cantar os feitos dos portugueses há muito tempo por entre


viagens com muitos problemas: uns no mar, outros na guerra;
Neste percuro, ele numa mão traz a pena para escrever e na outra
traz a espada para se defender.

estância 80:

O poeta continua a enumerar os perigos: pobreza, terras


desconhecidas;
O poeta que tinha esperança, agora está a perdê-la; enfrenta
situações em que a sua vida é posta em causa – dados
autobiográficos;
O escapar com vida de determinadas situações é um milagre tão
grande como o concedido ao Rei judaico (ver nota 3).

estância 81:

O poeta dirige-se às Ninfas: como se não bastasse ter passado tantos


problemas, deram-lhe ainda mais trabalhos e preocupações que o
deixaram cada vez mais frustrado, com falta de ânimo;

estância 82:

Continua a dirigir-se às Ninfas e a queixar-se dos senhores poderosos


cujos feitos canta – factor de desmotivação para os novos escritores;

estância 83:

Já que os grandes senhores o abandonaram, ele pede às Ninfas que


não o façam também – jura que não vai desperdiçar o seu talento
com quem não merece; vai cantar aqueles que realmente merecem
→ argumento para que as Ninfas não o abandonem.

estância 84:

Ele não vai dar fama àqueles que puserem em primeiro lugar os seus
interesses; vai dar fama a quem puser primeiro os interesses do Rei,
da nação e da humanidade;
Ele não vai cantar ninguém só por ambição de ter grandes cargos.

estância 85:

Não vai cantar ninguém que use o seu poder para servir os seus
desejos;
Não vai cantar ninguém que não seja verdadeiro, que seja hipócrita.

estância 86:

Também não vai cantar aqueles que servem o bem o Rei mas não
servem os direitos da humanidade;
Também não vai cantar aqueles que por serem insensíveis só
percebem as suas preocupações e não as dos outros.
3ª invocação – invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego em que o
poeta aproveita para se lançar em considerações autobiográficas:

v O poeta pede às Ninfas que lhe dêem inspiração para a composição


da sua obra pois receia não ser capaz de cumprir o seu propósito
inicial;
v Camões faz uma retrospectiva dos trabalhos e danos que enfrentou
nos mares ao mesmo tempo que ia escrevendo “Os Lusíadas”;
v O poeta revela a sua amargura em relação à ingratidão de que foi
alvo;
v Finalmente promete às Musas que cantará somente aqueles que
pelo seu esforço pessoal e pelas obras “valerosas” merecem ser
cantados.

Canto VIII (crítica) – p. 164

estância 96:

Já chegados à India, tentam ir a terra fazer negociações e amizades,


mas Baco arma-lhes uma cilada;
O dinheiro tem poder tanto sobre os ricos como sobre os pobres –
deixam-se vender por dinheiro.

estância 98:

O dinheiro/ouro: transforma os amigos em inimigos; obriga a que


aqueles que se consideram nobres façam coisas más e entregou
vasco da Gama (que foi traído por dinheiro) aos capitães inimigos;
Por dinheiro mesmo os mais puros se deixam corromper;
O dinheiro faz com que aquilo que é conhecido/provado (ciências)
mude – faz com que as pessoas fiquem “cegas”.

estância 99:

As leis alteram-se face ao poder/dinheiro;


Até os padres/sacerdotes são corruptos, no entanto disfarçam essa
corrupção mas isso não é visível;
O dinheiro provoca prejuízos entre os povos e torna os reis em
tiranos.

Conselhos dados aos portugueses:

v Despertar do ócio que escraviza a alma;


v Refrear a cobiça e a ambição;
v Recusar a tirania;
v Ser justo;
v Bater-se na guerra contra os mouros;
v Apoiar e defender o rei e o reino.

O poeta critica, indirectamente, todos aqueles que levam uma vida de


ócio, procurando a riqueza fácil.

Canto IX – p. 164 -165

estância 90:

Os portugueses passaram por obstáculos/trabalhos/preocupações,


tinham Baco contra eles, mas Vénus e os outros Deuses estavam do
seu lado;
O prémio do povo português seria doce, alegre e deleitoso.

estância 91:

Prémios pelo feitos que fizeram, cujo esforço os elevou ao lugar de


Deuses;
“carne humana” – elo de ligação entre Deuses e homens – criador da
harmonia, o amor é o centro do mundo;
Todos os Deuses cometiam erros que os identificavam com os
homens.

estância 93:

Devem conter/reprimir a inveja e ambição;


Evitar a tirania, pois esta não dá dignidade;
Melhor é merecer as honras sem as ter do que t~e-las sem as
merecer.

estância 94:

Para conseguir as honras devem lutar contra os mouros e defender o


rei.

estância 95:

Invocação ao rei ilustre – com os conselhos, com as forças/instintos


guerreiros, etc.;
Não façais aquilo que é impossível porque quem quis sempre pôde –
chegada á Ilha dos Amores (de Vénus).

“Velho do Restelo”

v Simboliza o discurso dos que eram contra os Descobrimentos;


v Este velho simboliza a voz da experiência, da razão.

estância 94:

Velho com um aspecto digno de ser admirado; tinha um perfil que


impunha respeito e admiração;
Olhava, descontente, para os marinheiros;
“experto peito” – sabedoria.

estância 95:

O velho, numa apóstrofe, dirige-se, fazendo uma crítica, à ambição →


critica o Homem pela sua ambição e tenta demonstrar as
consequências dessa ambição – gradação (mortes, perigos,
tormentas).

estância 96:

Consequências – estagnação do reino (mesmo a nível económico) e


por outro lado também fica desprotegido;
O povo por ser ingénuo deixa-se enganar pela aparência.

estância 97:

Interrogações retóricas – indirectamente, o que ele considera


negativo;
Construção anafórica – “Que”;
Quer mostrar que é com enganos e promessas que o povo é
enganado;
Ele considera que isto só trará perigos e mortes como anteriormente.

estância 98:

Aos homens é prometida uma coisa mas ele acha que acontecerá
outra;
Dirige-se ao ser humano, ao Homem;
Adão condenou-nos para sempre à condição de comuns mortais – o
Homem no paraíso estava protegido e quando foi expulso de lá,
começou a usar a armas (castigo pelo seu pecado) → aumentou a
violência;
O Homem em vez de expandir o seu território por terra, expande-se
pl mar.

estância 99:

Acusa o Homem – em vez de fazer tudo pela vida, ao querer ir mais


longe, desvaloriza a vida e coloca-a em jogo.
estância 100:

O velho está indignado;


Se eles queriam aumentar o território, então o velho é a favor (em
vez de apoiar as conquistas do Oriente).

estância 101:

Os homens ao partirem para longe deixam o reino desprotegido e


este vai enfraquecendo;
O perigo é ainda maior porque é desconhecido.

estância 102:

Fala na primeira embarcação, naquele que permitiu as navegações;


Sinédoque – “Nas ondas...”;
Acha que o primeiro navegador devia ser castigado para sempre;
Lança uma maldição – que o Homem nucna venha a ser louvado por
isto.

estância 103:

O fogo trouxe mortes e desonras;


Prometeu teria sido melhor para nós se não fosse buscar o fogo.

estância 104:

Exemplos através dos quais o velho quer demonstrar que a ambição


só traz coisas negativas;
Se a ambição trouxexe coisas positivas, o Homem teria sorte.

Estâncias 94 – 97: condena a ambição;


Estâncias 98 – 101: propõe como alternativa conquistas no Norte de
África;
Estâncias 102 - 104: amaldiçoa o primeiro navegador e Prometeu por
ter roubado o fogo divino.

O velho do Restelo simboliza a autoridade, a sabedoria, a perfeição, a


discordância, a repreensão, o valor da experiência e tem uma atitude
convincente.
É uma personagem colectiva e simbólica (representa uma corrente
desfavorável à expansão para o Oriente e mais tolerante em relação
às conquistas no Norte de África).
Representa o medo do desconhecido e a exaltação face à novidade.
É também uma personagem alegórica pois representa a voz do bom
senso e da razão. Tem o papel de coro trágico apresentando
reflexões sentenciosas sobre a condição humana e pelo seu carácter
colectivo.
Publicada por Sílvia M em 23:53 1 comentários
Etiquetas: Português 12º ano

"Mensagem" - Fernando Pessoa

“Mensagem” – carácter épico-lírico

Pessoa ao escrever “Mensagem” aponta o futuro como algo a


construir tendo em conta que o que ficou do passado não foi
suficiente para concretizar o presente. O herói da “Mensagem” move-
se por valores de justiça, de lealdade, de coragem e de respeito. É
nitidamente um herói espiritual e não um herói valente ou com
instinto guerreiro. O poeta apresenta o mito como explicação do
passado e a grande alternativa para um futuro que se revela urgente.
A voz do poeta está sempre presente bem como a sua emotividade
face aos acontecimentos históricos. Isto transforma um discurso
épico tradicional num discurso predominantemente lírico, daí a sua
poesia recorrer sistematicamente à metáfora e à expressividade da
pontuação nomeadamente na utilização de perguntas retóricas.

Brasão

I. Os Campos

Primeiro / O dos Castelos

É como se a Europa estivesse morta sobre os cotovelos – apática,


decadente, melancólica;
Ideia de apatia intensificada pela repetição do verbo jazer; toda a
Europa está parada, em inércia;
O retrato físico da Europa – figura feminina; noção de beleza e
harmonia que tem muito a ver com a perfeição ® antiguidade
clássica,
Cotovelo direito disposto em ãngulo recto;
“aquele” – cotovelo;
Um dos cotovelos da europa corresponde à Itália e o outro à
inglaterra;
Olhar de perfil e fatal;
Olhar num determinado sentido, com atenção;
A europa olha para as conquistas passadas;
Pessoa coloca Portugal no topo – rosto da Europa.
II. Os Castelos

Primeiro / Ulisses

Mito – algo que não corresponde à realidade; serve como explicação


para a realidade; chega a confundir-se com a realidade;
Nada – enquanto não é explicado;
Tudo – a partir do momento em que o desvendamos; passa a ser
uma revelação;
Brilhante – algo que chama a atenção; sinónimo de luz;
Sol como mito que é mudo se não o percebemos, se não
conseguimos olhar para ele; brilhante a partir do momento em que o
percebemos;
Morto – enquanto não o vemos e não o conseguimos explicar; a
partir do momento em que o concretizamos (Cristo) torna-se vivo;
Ulisses - a sua importância veio de ser um fundador mítico; foi
suficiente para nós sem existir, fundou a cidade de Lisboa;
A lenda é repetida ao longo do tempo e vai entrando na realidade;
O mito enriquece a realidade; acrescenta-lhe coisas;
A vida sem o mito fica reduzida a metade; a vida morre e o mito
permanece – o mito imortaliza;
É como se existissem níveis diferentes para o mito (em cima) e para
a realidade (em baixo).

Síntese: o poeta utiliza o nome de Ulisses, fundador mítico de Lisboa,


pela sua identificação com a coragem, o instinto guerreiro e a ligação
ao mar. Também os portugueses se vão revelar como um povo
heróico e guerreiro, construtor do império marítimo. O mito é
apresentado no poema de forma paradoxal, é o nada enquanto está
por desvendar e o tudo quando revelado e explicado, desvenda a
verdade.

Sexto / D. Dinis

Importância dada à arte e à escrita;


D. Dinis incentivou ao culto das letras;
D. Dinis mandou plantar o pinhal de Leiria que mais tarde iria, a sua
madeira, servir para construir as naus;
“silêncio múrmuro” – silêncio interior, dentro dele;
“cantar, jovem e puro” - cantar de todo um povo, toda uma nação;
“busca o oceano por achar” – oceano desconhecido, com
potencialidades desconhecidas porque ainda ninguém o explorou;
“marulho obscuro” – não se descodifica ainda;
“mar futuro” – realidade desse mar que está por descobrir (no
futuro);
Terra que se quer expandir, o mar é o que resta, por onde a terra se
quer expandir;
Comparação do rumor dos pinhais com o trigo – aproximação da
terra com o mar – a ambição dos portugueses é tão grande que têm
de se expandir para o mar;
Ondulação do trigo – ondulação do mar.

Síntese: D. Dinis, personagem histórica, assume um papel de dupla


importância: o incentivo das letras e da cultura, com o seu próprio
contributo como poeta e, por outro lado, o de preparar as grandes
viagens marítimas com a célebre plantação do pinhal de Leiria. D.
Dinis foi o poeta que sonhou e concretizou o sonho, que lançou as
sementes dos descobrimentos marítimos.

III. As Quinas

Quinta / D. Sebastião, Rei de Portugal

Dá-se importância à loucura;


Loucura ligada à ideia de que é alguém que vai à procura, que quer
mais; sonho;
Grandeza pela qual temos que lutar; alguém que pretende ir mais
além sem esperar pela sorte;
D. Sebastião fala na 1ª pessoa;
Aquilo que ele tinha por certo era maior do que ele próprio;
No areal ficou o corpo que houve (enquanto figura histórica); aquilo
que ele representava permaneceu (mito);
Que outros peguem na loucura dele;
Sem a loucura, o Homem é incompleto, é apenas um animal, vive
para morrer e para além disso procria;
Sem o mito, o Homem fica reduzido a metade;
Fernando Pessoa espera um império espiritual constituído por uma
reconstitução da cultura – Quinto Império.

Síntese: Fernando Pessoa caracteriza D. Sebastião apontando a


loucura como busca da grandeza. Desejar o impossível é loucura mas
é a única forma de se conseguir realizar algo de importante. D.
Sebastião representa o próprio Portugal, um Portugal moribundo que
se pretende ressuscitar. Valoriza-se o herói pela sua atitude de
recusa de favores da sorte. O poeta acentua a diferença entre o que
houve que corresponde à realidade e o que há que corresponde ao
mito, o que perdura, o sonho de grandeza, a memória que
permanece.

O Encoberto

I. Os Símbolos
Primeiro / D. Sebastião

Presença de Deus – entidade mítica que está num plano acima dos
homens;
Sonhar – mito; apesar de Deus estar acima dos homens, deixa-nos
sonhar; o Homem quer ter o papel de Deus (transcende-se);
“Que importa o areal e a morte e a desventura / Se com Deus me
guardei?” – interrogação retórica – põe em causa o passado histórico;
o que importa a morte se o sonho permaneceu?;
“eu” – identificado com o sonho, que é eterno;
“É Esse que regressarei.” – crença no regresso de D. Sebastião
(sebastianismo) – é o mito que regressa.

Síntese: o poeta afirma a crença no regresso de D. Sebastião. Desta


forma, prepara-se para a missão a cumprir. A afirmação da existência
de Deus e o chamamento divino remetem para o messianismo
presente no sebastianismo.

Segundo / O Quinto Império

O poeta caracteriza as pessoas que vivem em casa num sentido


antitético;
Triste de quem se contenta com aquilo que é imediato;
Alguém que não tem sonhos ® alguém que vive a vida de forma
incompleta;
Falta ao tal homem a “asa” que lhe permita concretizar o sonho;
Lareira ® conforto, bem-estar;
O homem que vive contente com aquilo que tem se tivesse um sonho
poderia voar, ir mais longe;
Quem é feliz é porque se contenta com pouco ® é permanentemente
feliz com o imediato;
Vive por viver; não vive, sobrevive;
A alma deste homem não possui mais nada a não ser a espera da
morte;
O tempo vai passando;
Transmite a ideia de que o descontentamento é característica do
homem ® ser descontente é querer sempre mais;
O nosso sentido da visão não vê; aquilo que realmente vê é a alma;
Implícita a ideia da existência de quatro impérios;
Algo vai renascer ® renovação, luminosidade, caminho do
conhecimento;
Implícita a ideia de esperança no futuro;
“Dia claro” ® sucessão da noite;
Estes quatro impérios vão dar lugar ao Quinto Império
(verdadeiramente um império espiritual);
Tudo passa com o tempo;
Morreu D. Sebastião histórico, mas ficou o mítico para dar
continuidade.

Síntese: Pessoa considera que tradicionalmente existem quatro


impérios materiais: o da Babilónia, o Persa, o da Grécia e o de Roma.
De acordo com o esquema português, os impérios são espirituais; o
primeiro é o da Grécia que simboliza a civilização ocidental e a
origem do que somos espiritualmente; o segundo é o de Roma que se
relaciona com a formação da língua; o terceiro é o da Cristandade
que constitui a referência religiosa e moral do ocidente; o quarto é o
da Europa laica depois da Renascença. O Quinto Império terá de ser
então o de Portugal representando a nova civilização universal.

II. Os Avisos

Terceiro

“à beira mágoa” – duplo significado → mágoa provocada pelo império


que se desfez e por estar triste, desiludido, nostálgico em relação à
grandiosidade do passado;
O coração não tem nada que o preencha – sente-se vazio;
Água das lágrimas;
Dirige-se a Deus, razão de viver dele – o que o faz viver é a
esperança, o sonho, a crença na concretização do sonho;
Os dias dele são vazios;
O que preenche os dias dele é o sentir e o pensar em Deus –
cumplicidade entre ele e Deus;
Remete para o regresso de D. Sebastião;
Cristo – é aquele que concretiza Deus; morre e ressuscita para nos
salvar, assim com D. Sebastião sob a forma de mito;
Este Messias vem despertar o Quinto Império;
D. Sebastião: o mito antes de ser descodificado tem algo de obscuro;
Deus deu-lhe a vida e ele para já é apenas isso → o que completa a
vida do Homem é o sonho e a concretização desse sonho;
A esperança manifesta-se desde incício; quando voltar D. Sebastião,
a esperança transforma-se em amor à pátria renovada;
A pátria sente saudade desde que D. Sebastião morreu;
D. Sebastião é sonho.

Síntese: o poeta apresenta-se triste e desiludido perante a realidade


do mundo e do seu país. Por outro lado, conserva a esperança do
regresso de um D. Sebastião mítico e desse modo atenua o
sofrimento. Podemos então concluir que todo o percurso do poema
vai do desespero à esperança. A esperança num futuro em que o
sonho se concretize. As interrogações sucessivas mostram a urgência
do poeta em saber quando chegará o Encoberto, o D. Sebastião
mítico que representa a esperança e a concretização do sonho.

III. Os Tempos

Quinto / Nevoeiro

Clima de aborrecimento;
Neste momento, Portugal não é nada que se distinga do resto da
terra; passa-nos despercebido;
Portugal cada vez mais triste;
“Brilho sem luz” → paradoxo – a ideia de brilho remete para a luz;
Indefinição das pessoas que constituem o país;
O Homem não está completo;
Ânsia de recuperar o que foram no passado; desejo que D. Sebastião
regresse;
Não há nada definido, como se tudo acabasse; perda de identidade
que tem a ver com a alma;
Hoje Portugal é indefinição; reticências → esperança;
Está na hora de começar a construir um Portugal novo.

Síntese: o poema apresenta um tom de melancolia, reflexo do estado


de espírito do s. p. que entristece ao mesmo tempo que vê o seu país
perder a identidade. O próprio título remete para algo de indefinido,
de obscuro e que antecede a renovação. Finalmente, termina fazendo
um apelo a todos os portugueses que considera irmãos, dizendo-lhes
que chegou hora de decidir, de reconstruir, de inovar. Esta esperança
do poeta continua a identificar-se com o mito sebastianista que prevê
o regresso de D. Sebastião e a constituição do Quinto Império.

Mar Português

I. Possessio Maris

Primeiro / O Infante

Existência de uma tríade perfeita: a obra nasce do sonho (grandeza


de espírito), do Homem e da vontade de Deus;
“Deus quis que a terra fosse toda uma” – exemplo para provar que a
tese é verdadeira; que não houvesse diferenças, que a terra se
unisse;
Foi através do mar que Portugal deu a conhecer novos mundos ao
mundo; o mar deixou de ser um obstáculo;
O poeta trata o Infante po tu – ideia de cumplicidade e emotividade;
“foste desvendando” – perifrástica; ideia de continuidade – remete
para os obstáculos que tiveram de enfrentar;
“orla branca” – sinónimo de visibilidade, luminosidade; aquilo que é
desconhecido passa a ser conhecido;
“Clareou, correndo, até ao fim do mundo” – ideia de que o mundo era
mais pequeno antes dos Descobrimentos;
“azul profundo” – azul do mar; adjectivo restritivo;
Há sempre a ideia da intervenção divina; necessidade de recorrer
àquilo que transcende o Homem para explicar o próprio Homem;
Infante – simboliza um herói colectivo (povo português); os
portugueses fizeram com que se conhecesse o mundo;
“Cumpriu-se” – a missão dos portugueses era predestinada;
“o Império se desfez” – decadência;
“Senhor, falta cumprir-se Portugal!” – o Império desfez-se mas
Portugal ainda existe → subjacente à ideia de Quinto Império
(império espiritual).

Síntese: o poeta apresenta uma concepção messiânica da História,


apresentando o sopro criador do sonho como resultado de uma lógica
em que Deus é a causa primeira, o Homem o intermediário e a obra o
resultado final. A esta visão equivale aquilo que n’Os Lusíadas
aparece como narrativa épica dos Descobrimentos, das façanhas do
povo corajoso que é o povo português, das glórias e das tormentas
por que passou.

Décimo / Mar Português

“quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!” – hipérbole; o


sofrimento implicado foi enorme;
“Quantos filhos em vão rezaram!” – rezaram mas eles não voltaram;
“Quantas noivas ficaram por casar” – muitas noivas “enviuvaram”
mesmo antes de casar;
“Para que fosses nosso, ó mar!” – para que o mundo fosse nosso em
troca muitas mães choraram, muitos filhos em vão rezaram e muitas
noivas ficaram por casar → teoria do heroísmo (o herói para o ser
tem que sofrer);
“Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” – se a
alma tiver a grandeza que era característica de D. Sebastião; a alma
só é grande quando existe o sonho, a vontade de ir mais além;
“Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor.”
– teoria do heroísmo → era preciso sofrer, ultrapassar muitos
obstáculos;
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o
céu.” – o mar representa o perigo e o abismo, mas nele é que se
reflecte o céu – o herói enfrenta o perigo e o abismo mas depois
também acede à felicidade.
Síntese: o poema revela através da apóstrofe inicial a emotividade
que associa o mar e as lágrimas. Apresenta a teoria do heroísmo
também presente n’ Os Lusíadas e segundo a qual a glória se atinge
depois de ultrapassado o sofrimento. O mar é o elemento simbólico
da conquista suprema dos portugueses e é ao mesmo tempo
elemento conciliador entre aquilo que é o prazer absoluto, o poder da
descoberta e o obstáculo a ultrapassar que, inevitavelmente, conduz
ao sofrimento.

Sebastianismo e o mito

O Sebastianismo na Mensagem exprime o drama de um país


moribundo, a necessitar de acreditar de novo nas suas capacidades e
nos valores que lhe permitiram a conquista dos mares e a sua
afirmação no mundo. A figura de D. Sebastião evoluiu do símbolo de
um príncepe desaparecido em Alcácer Quibir para o mito que surgirá
associado à criação do Quinto Império. D. Sebastião, acompanhado
por Deus, é apresentado também como O Encoberto ou o Desejado.

O Quinto Império

O intenso sofrimento patriótico leva o poeta a antever um império


que se encontrava para além do material. Pessoa apresenta uma
concepção messiânica da História e procura ser a voz da consciência
de identidade de que Portugal necessitava.
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Apontamentos – “Memorial do Convento”

1. As personagens

Baltasar representa na obra um operário consciente dos objectivos do


seu trabalho e por isso se dedica de forma apaixonada ao projecto de
construção da Passarola. Baltasar, como elemento do povo, adquire
características individuais. O seu trabalho é visto com dignidade e
exercido de forma autónoma e voluntária. Nisto opõe-se aos
operários que trabalham na construção do convento, que são
tratados como escravos, realizando um trabalho forçado no qual não
se envolvem. Como argumento para convencer Baltasar a colaborar
no seu projecto, o padre Bartolomeu ajuda-o a ultrapassar o seu
complexo da doença física comparando-o a Deus. Por outro lado,
Baltasar representa o sonho – à medida que o seu trabalho progride,
a sua expectativa e o seu entusiasmo aumentam, ou seja, Baltasar
não pode ser considerado um mero trabalhador que se aliena da sua
força de trabalho. Para concluir, podemos ainda dizer que Baltasar,
juntamente com Blimunda, representa a totalidade da união
amorosa.
Blimunda apresenta a característica mais curiosa das personagens da
obra que é a capacidade de ver os outros por dentro. Aproveitando
este dom, Blimunda recolhe as “vontades” que permitirão fazer voar
a Passarola; utiliza, também, no momento crucial em que Baltasar
vai ser queimado pela Inquisição. É uma personagem cuja sabedoria
a afasta do seu mundo de origem. Blimunda ajuda na construção da
Passarola e partilha com Baltasar as alegrias, as tristezas e as
preocupações da vida. A união de Blimunda e Baltasar confere-lhe um
outro nome, um nome simbólico que representa uma identidade
cósmica através da qual se projecta no Universo, cujas leis se
confundem e se recriam, onde luas e sóis convivem harmonicamente.
A história de amor entre Baltasar e Blimunda perdura no tempo,
projectando-se para uma dimensão intemporal, uma vez que a
“vontade” de Baltasar voa ao encontro da amada – “O amor existe
sobre todas as coisas”.
D. João V – personagem histórica, poderoso e rico mas insatisfeito
por não possuir descendência. Este é o motivo que o leva a fazer a
promessa que conduz à acção central do romance. A caracterização
do rei é feita, essencialmente, de forma indirecta e de algum modo é
desvalorizado em relação às personagens fictícias.
D. Maria Ana – a rainha surge no romance desvalorizada no seu papel
como mulher, tendo como única função a de “dar” infantes a
Portugal. É frágil, insegura e doentiamente religiosa. Como não se
permite uma existência própria como mulher, tudo aquilo que possa
remeter para o universo feminino lhe surge em sonhos e, portanto,
de forma inconsciente.
Padre Bartolomeu Lourenço – personagem com fundamento histórico
também, uma vez que consta que veio do Brasil para Portugal pelo
interesse por questões científicas. As suas experiências no campo da
aeroestática levam-no à construção da Passarola. É perseguido pela
Inquisição, o que o leva à fuga para Espanha.
O povo – é à custa do seu sacrifício que se constrói o convento. É
gente humilde e oprimida, servem de meio para que os privilegiados
atinjam os seus fins.

2. O Destino Humano

O autor preocupa-se com a condição humana, levando-nos a reflectir


sobre a miséria em que vivem os homens e que lutam até à exaustão
para alcançar um mundo melhor. Esta luta revela-se difícil porque,
sistematicamente, os poderosos exploram os mais frágeis. Saramago
coloca-se ainda a questão “Onde é que nos leva a razão?” e conclui,
então, numa visão realista, que esta não é impedimento para a falta
de respeito pelo outro, a injustiça e as desigualdades. Apesar de
tudo, o sonho e a aliança entre pessoas que partilham as mesmas
vontades podem fazer deste mundo um mundo diferente. Podemos
então concluir que o autor faz uma caricatura da sociedade
portuguesa da época, utiliza a ironia para ridicularizar algumas
situações, nomeadamente os elementos da corte, opondo e
valorizando a importância do povo que leva uma vida de trabalhos e
preocupações e ainda assim consegue manter-se fiel ao espírito que
leva à mobilização das vontades.

3. Elementos simbólicos

Os nomes Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas –


complementaridade, união e perfeição, magia e totalidade (isto reside
na simbologia do número três, revelador de uma ordem intelectual e
espiritual traduzida na união do céu e da terra).
Os mutilados – luta desmedida na construção de algo demasiado
grande em relação à condição humana; a perda de parte do seu lado
esquerdo (Baltasar) significa a amputação da sua parte mais negativa
e a aquisição de uma dimensão mais espiritual marcada pela
perseverança, pela força, pela luta e pelo sentido de futuro.
Riqueza interior de Blimunda – é representada pela sua capacidade
de clarividência e vista como um poder mágico.
As duas mil vontades – vontades humanas que ao longo do tempo
originaram o progresso; são metaforizadas pelas nuvens porque
ocupam um lugar ascendente e intermédio em relação à terra e ao
céu. As nuvens estão carregadas de um carácter positivo mas de
acesso difícil, por isso só Blimunda lhes consegue aceder.
Os números – número 9: simboliza a insistência e determinação
(Blimunda procura o homem amado durante nove anos); número 7:
data e hora da sagração do convento; sete anos vividos em Portugal
pelo músico Scarlatti; sete vezes que Blimunda passa por Lisboa;
sete igrejas visitadas na Páscoa; sete bispos que baptizaram Maria
Francisca; sete sóis de ouro e de prata colocados no altar-mor.

4. Estatuto do narrador

O narrador assume vários pontos de vista, muitas vezes


contraditórios. Torna-se assim uma voz polifónica que se traduz como
marca de modernidade do romance. A focalização omnisciente do
narrador provém da sua intemporalidade. O discurso que utiliza é um
discurso anti-épico quando rebaixa heróis que a História glorifica e
nos apresenta como heróis gente anónima em que se incluem
personagens com defeitos físicos como Baltasar ou homens
andrajosos como os operários da construção do convento.

5. Acção
5.1. Construção do Convento:
Constrangimentos da relação entre o rei e a rainha que estão na
origem da sua construção;
Trabalho forçado dos trabalhadores que o construíram;
Denúncia da vaidade do rei e prepotência da Igreja; a exploração dos
humildes e a instauração de um clima de medo à custa da ignorância
do povo e da injustiça da história que serve o jogo de poder.

5.2. A passarola:

O amor livre de Blimunda e Baltasar;


O entusiasmo da construção do projecto;
A solidariedade da tríade construtora que conseguiu aliar a
sabedorias do padre Bartolomeu à arte de Baltasar e a magia de
Blimunda;
Instrumento da transfiguração do real mobilizada por uma carga
imaterial que são as vontades recolhidas por Blimunda.

CONCLUSÃO: a construção da passarola é uma actividade


transgressora tal como o romance porque nem a sua estrutura
obedece às normas da construção do romance clássico nem o seu
discurso respeita as normas de pontuação.
Ao contrário do que nos fazem supor as falsas pistas, não é a história
do convento que se pretende contar mas a história dos sonhos
materializados pela vontade dos homens que permitem criar um
espaço de evasão e de liberdade. A construção do convento
representa a repressão do homem, enquanto a construção da
passarola representa a sua capacidade de libertação.

6. O Espaço

Espaço Físico – em termos físicos, os espaços privilegiados são Lisboa


e Mafra, locais que correspondem à construção dos dois projectos
impulsionadores da acção e de observação privilegiada dos autos-de-
fé como autoridade reguladora que representa o poder da Igreja;
Espaço Social – corresponde à recriação de ambientes da época,
neste caso o portugal do século XVIII marcado pelo Iluminismo
trazido pelos estrangeirados e ao mesmo tempo pelo obscurantismo
da população e o medo do poder da Inquisição.

É esta recriação de ambientes que aproxima o romance do romance


histórico enquanto que a situação do narrador num tempo que não
corresponde ao tempo cronológico, o distancia desse mesmo género
litarário.

7. Referências temporais:
Idades das personagens que funcionam como protagonistas;
A história de amor;
A batalha de Jerez de Los Caballeros;
A chegada da nau de Macau;
O nascimento e baptizado de D. Maria Bárbara e D. Pedro.

7.1. O tempo da História

Decorre entre 1711 e 1739 (28 anos), não é um tempo contínuo uma
vez que o discurso do narrador cria espaços dentro desse período
cronológico para o integrar num tempo uno em que passado,
presente e futuro se misturam.
Publicada por Sílvia M em 23:50 23 comentários
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“Felizmente há luar” – Luís de Sttau Monteiro

O tempo da história

No primeiro quartel do século XIX, alguns movimentos tentaram


implantar entre nós o regime liberal tendo como figura central o
general Gomes Freire de Andrade, que embora nunca apareça, está
sempre presente e condiciona toda a estrutura interna da obra.
Em 1817 – primeiras manifestações dos movimentos liberais com a
conspiração abortada de Gomes Freire de Andrade;
Em 1834 – acordo de Évora-monte; implantação definitiva do regime
liberal. Esta revolução contra o regime absolutista pretendia acabar
com a crise económica em Portugal e com a tirania britânica exercida
por Beresford que influenciava a Regência portuguesa.

Objectivos da rebelião:

Implantar um regime liberal, tendo como base uma constituição


assente em características populares;
A liberdade de religião, de imprensa e de palavra;
A limitação severa às prerrogativas do rei.

O conselho de Regência via nos movimentos liberais uma ameaça de


destruição da estrutura tradicional do reino e a supressão dos
privilégios de que as classes mais favorecidas gozavam.
O povo, pelo contrário, via nesses movimentos a única solução para
ultrapassar a situação em que vivia, depositando neles todas as
esperanças.
Conclusão: apesar de a conspiração ter sido descoberta, e execução
dos doze indivíduos, incluindo Gomes Freire de Andrade, contribuiu
para uma forte tomeda de consciência liberal. Os opositores ao
regime convenceram-se das tiranias dos governantes e da
impossibilidade de alterar a situação com meios pacíficos. No final da
obra, Matilde representa a necessidade e o desejo de que essa luta
continue – “Olhem bem! Felizmente – felizmente há luar!”.

O tempo da escrita

1961 corresponde à época da escrita da obra, época de contestações


anível interno. Este clima é fruto de uma situação política, económica
e social de desagrado geral. Vivia-se sob o regime ditatorial de
Salazar e a desigualdade entre classes era cada vez maior. O povo
vivia reprimido e explorado, abundava a mi´seria, o medo e o
analfabetismo. Vivia-se no obscurantismo. A censura cortava tudo o
que era contra o governo e existiam severas medidas de repressão e
de toruta. Sttau Monteiro evoca situações e personagens do passado
para falar do presente, para poder crititicar a sociedade do seu
tempo.

Estrutura Interna – Acção dramática

Inicialmente é-nos apresentada a situação do país. A história surge


no conjunto de situações em que cada uma tem uma lógica intrínseca
que se revela completa. Em relação às personagens, estas
apresentam a função social que o indivíduo deve exercer dentro do
grupo em que vive. Todos os elementos físicos como os cenários, a
música, a luz são factores importantes e têm um significado
indispensável na construção do sentido, isto porque o que se
pretende não é reproduzir uma realidade mas sim levar à reflexão, a
uma análise crítica. A unidade da peça não depende da sequência de
acções mas da personagem que as origina e que é Gomes Freire de
Andrade, que apesar de nunca estar presente, funciona como
elemento estruturador das diversas situações que constituem os
episódios da obra.
Coclusão: a peça propõe então uma reflexão sobre a dialéctica da
revolução e da contra-revolução que deve ser encarada numa
perspectiva histórica. O herói é gradualmente mitificado pelo povo
que revela uma intenção crítica e atribui ao general o estatuto
unificador da história contada pelas outras personagens.

Gomes Freire de Andrade e o tempo da acção

O general é uma figura carismática que aflige os grandes e que


arrasta os pequenos. Vai permitir ao autor desmascarar situações e
denunciar injustiças. A personagem, provocando uma grande
concentração da acção, quase permite falar em unidade de tempo.
Não podemos, no entanto, ignorar que várias peripécias se
desenvolvam até á detenção de Gomes Freire. É Sousa Falcão que
nos informa que depois de encerrado numa masmorra, só ao fim de
alguns dias lhe deram de comer, o que nos deixa pressupor que tudo
se precipita até ao desenlace.

Didascálias

As didascálias são textos que nos fornecem indicações


fundamentalmente sobre o cenário, sobre a movimentação das
personagens, o jogo fisionómico, o traje, a luminosidade e o som. Ao
mesmop tempo que as palavras proferidas pelas personagens surgem
como explicação, denúncia e explicitação da linguagem destas. Muitas
vezes, têm as funções da descrição do narrador interventivo, de uma
focalização interna e de um convite à reflexão, entre outros.

As personagens

Encontramos ao longo da obra dois tipos de personagens:


personagens que representam tipos sociais e personagens que para
além das causas sociais se impõem pela sua individualidade.

Gomes Freire d’ Andrade – é uma personagem virtual pois não


aparece em cena mas está sempre presente. Para o povo é um herói.
É a sua figura que move a acção das personagens. Representa
simbolicamente a integridade e a recusa da subserviência. A sua
capacidade de liderança e os exemplos de coragem representam o
Portugal do passado. Gomes Freire é caracterizado pelas outras
personagens. É o símbolo da audácia e da intrepidez do povo a que
pertence, ele é o elemento que pela simples razão de existir se torna
incómodo – “A sua vida inteira foi uma conspiração permanente
contra o que esta gente representa”.
Matilde de Melo – é uma mulher de carácter forte, vibrante nas
palavras de paixão, corajosa, recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e
o materialismo. Não suporta a separação do homem que ama.
Matilde é o alter-ego (o outro eu) de Gomes Freire, do qual é
impossível dissociar o clamor da revolta. Será ela a tentar provar a
inocência do general. Como mulher, simboliza o feminino – “Sou a
mulher dele, António...e ele...o meu homem”. Arquétipo da mulher
que ama e que sofre por amor. Representa o sofrimento íntimo
daqueles que vendo-se afastados do ser que os completa, se sentem
despojados da unidade que simbolizam. O ser individual supera o ser
social, discurso que funciona como resposta ao discurso oficial e que
se apoia em textos bíblicos. Reivindica a sua felicidade e a do homem
que ama apresentando um discurso de conotações políticas.

Elementos simbólicos

Saia verde – Matilde ao utilizar a saia verde faz com que o luto dê
lugar à esperança. O verde simboliza a renovação da natureza, a
longevidade e a imortalidade; eventualmente o reencontro entre
Matilde e Gomes Freire numa outra vida.
A noite – sofrimento e morte; símbolo do poder maldito e das
injustiças dos governadores; “tempo das germinações e
conspirações”.
O luar – prefigura a morte da Terra mas pelas suas diferentes fases
associa-se a rituais de renovação e de mudança da natureza.

A ambiguidade do título

Tem um sentido disfórico, conotado com o medo e o fim de uma


rebelião quando é proferido por D. Miguel. Tem um sentido contrário
quando é dito por Matilde. Representa a esperança numa nova era
em que o povo se revoltará contra o poder dos governantes. A
repetição do advérbio “felizmente” profetiza o dealdar da rebelião que
havia de conduzir ao triunfo do movimento liberal em 1820.
Publicada por Sílvia M em 23:49 21 comentários
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Lusíadas e Mensagem

“D’ Os Lusíadas à Mensagem” – p. 168-169

Tanto Camões como Pessoa têm como objectivo cantar a pátria onde
vivem;
Camões n’ Os Lusíadas evocava o passado, que apesar de recente, já
lhe provocava nostalgia;
Camões incita o rei a continuar os feitos gloriosos do passado, para
ter sempre feitos para cantar;
Quatrocentos anos depois, Pessoa assiste também à decadência e faz
o esforço de retomar esse império glorioso (império espiritual, feito
de sonhos);
“Os Lusíadas” -» presentes deuses pagãos e um Deus cristão;
“Mensagem” -» não há uma religião, ocultismo;
“Mensagem” e “Os Lusíadas” a par;
“Mensagem” de Pessoa dirige-se aos jovens, capazes de amar a
cultura do seu país – será através da reinvenção da cultura que
surgirá o Quinto império.

“O Portugal de 1934” – p. 171-172

Portugal -» regime ditatorial, em contensão de despesas;


A cultura foi posta de lado (pela falta de liberdade de expressão);
SPN -» seleccionava o que era ou não publicável;
“Mar português” – passou a fazer parte dos estudos escolares.
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Álvaro de Campos

Álvaro de Campos, ao contrário do que acontece com Reis e com


Caeiro, não desaparece do universo literário pessoano mas, por outro
lado, ensaia um outro tipo de texto literário num estilo original e que
corresponde a uma fase diferente. Constatamos então a existência de
três fases em Álvaro de Campos: a do “opiário”, a do futurismo na
“Ode triunfal” e uma terceira de carácter mais pessoal presente em
poemas como “Casa branca, nau preta”.

1ª fase: Decadentismo

O Decadentismo liga-se ao cansaço de uma civilização que julga estar


em declínio, ao tédio, à busca de sensações novas mais intensas,
extravagantes, por vezes mórbidas e nos requintes da forma.
A sensibilidade decadentista foi explicada historicamente por uma
espécie de angústia de vida moderna; o artista decadente sucumbia à
sedução do antivital, por sentir exausta a força criadora.

2ª fase: O Futurismo e o Sensacionismo

Álvaro de Campos desponta nesta segunda fase com uma vitalidade


transbordante, é visível o seu amor pelo ar livre e pelo belo atroz
(beleza que vem daquilo que é chocante). Nesta época, surgia o
entusiasmo por uma poesia que reflectisse a civilização industrial. Em
França e na Itália, Marinetti divulgara a cultura estabelecida; a
exaltação dos instintos guerreiros, a apologia do novo Homem isento
de sensibilidade, saudável, amoral e dominador. Assim, Campos
adopta o verso livre num estilo esfuziante, torrencial, espraiado em
longos versos, anafórico, exclamativo, interjectivo, monótono pela
simplicidade dos processos, pela repetição de apóstrofes e
enumerações.

3ª fase: a abulia e o tédio (Intimismo)

Exprime o cansaço e o desencanto provocado pelas frustrações da


vida. Traduz-se numa espécie de cansaço permanente, o tédio e a
abulia. Após a exaltação heróica e a obsessão dos mecanismos em
fúria, cai no desânimo e na frustração. Campos sente-se vazio, um
marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo,
angustiado e cansado – “O que há em mim é sobretudo cansaço...”.
O abatimento lembra o decadentismo que traduz a reflexão intimista
e angustiada de quem apenas sente o vazio depois da aminhada
heróica – “Fui em tempos poeta decadente; hoje creio que estou
decadente e já o não sou”.
“Ode Triunfal” – p. 94, 95, 96, 97

o ambiente em que o s. p. se encontra é urbano → está dentro de


uma fábrica; “dolorosa luz” – luz forte, cansaço do trabalho na
fábrica; febre – necessidade de transpôr para o papel aquilo que
sente; o s. p. está nervoso, sofre uma transformação em que mostra
quase um carácter animalesco; isto é qualquer coisa de actual para o
s. p.;
reprodução do ruído das máquinas, que quase fere pela intensidade
do som; atribuição de sentimentos a máquinas/objectos → animismo;
fúria = velocidade; estes sons e toda a velocidade ligam-se ao s. p.
“Em fúria fora e dentro de mim”; o s. p. é invadido pelo movimento e
sons exteriores e isso reflecte-se em reacções fisiológicas → excesso;
há, em todo este presente de máquinas e tecnologia, as figuras da
antiguidade clássica;
todos os ruídos feitos pelas máquinas mexem com as sensações –
tudo isto é excessivo;
o s. p. conclui que o ser humano não é tão completo como uma
máquina; o automóvel associa-se à passagem, ao movimento; o s. p.
deseja apreender tudo o que é artificial e negro – mundo das
máquinas;
o s. p. sente-se bem onde há muita gente; o retrato da sociedade da
época é feito atrvés de figuras-tipo; retrato de uma sociedade que
vive de aparências, mas que não é totalmente vazia (afinal têm
alma);
sociedade → corrupções, escândalos, agressões, ... ;
a sociedade não é assim tão verdadeira; os políticos não são sinceros,
há notícias que não são muito importantes, crimes; as notícias e tudo
o que é novo aumentam a uma velocidade que quase não é
controlada pelo Homem; sensacionismo – sente o meio urbano,
industrial, as novas tecnologias; relação de prazer entre o Homem e
a máquina;
mesmo o que remete para a agricultura é visto como algo que
evoluiu;
consumismo → “Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!”; o
progresso é que permite as guerras, na medida em que evolui o
armamento;
o s. p. ama tudo aquilo de que foi falando; a máquina, no sentido em
que lhe proporciona essas coisas boas e que ele não controla
totalmente, é como se fosse Deus;
coisas que a máquina permitiu criar; compara a máquina a uma
mulher – relação entre o Homem e a máquina – relação física;
relação de prazer através da dor sofrida e da que se provoca;
apreensão do prazer sexual através da visão;
dirige-se a tudo o que é simbólico do progresso; culto do excessivo,
do que é impossível;
enumeração das consequências do progresso – enumeração esta sem
tristeza;
refere tudo aquilo que é natural e artificial;
trabalho das máquinas → onomatopeias; só a representação do ruído
das máquinas pode representar o que o s. p. queria dizer.

O s. p. projecta os sonhos e os desejos na máquina irracional e


exterior: “Ah poder exprimir-me todo como um motor...”. a sua
poesia oscila entre os versos: “Falhei em tudo” e os versos que
prolongam o seu anseio de ser mais completo “Mais análogo serei a
Deus. Porque seja ele quem for concerteza que é tudo”. Futurisa,
canta a civilização industrial e intoduz na linguagem poética a
terminologia desse mundo mecânico, citadino e cosmopolita,
contemporâneo das máquinas e da luz eléctrica. Aproxima-se muito
de Pessoa ao recusar as verdades definitivas:
exaltação da energia, da velocidade, da força;
corte e aniquilamento do passado;
necessidade de uma nova vida futura (consciência da sensação, do
poder e do triunfo);
intelectualização das sensações, desordem, integração na civilização
da máquina pela pressa mecanicista e pela inquietude (versos livres,
vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos,
das emoções – “Sentir tudo de todas as maneiras”).

“Ode Marítima”

descreve a entrada do navio; manhã calma; idea de suavidade;


depois começa a haver mais movimento, mas mesmo assim suave; o
s. p. sente-se farto das coisas, psicologicamente;
o sítio onde se chega é também o sítio de onde se parte – por um
lado é bom chegarmos onde queríamos, mas por outro também é
triste porque sabe-se que se tem que partir; os navios remetem para
mundos diferentes, mundos que ainda não alcançamos; o atracar e
arrancar do navio simbolizam os objectivos a que chegamos e a que
ainda queremos chegar; nunca estamos onde queremos estar;
quando alcançamos o que queríamos, queremos sempre outra coisa;
saudade constante, que é impossível desfazer – saudade por parte de
quem fica; angústia por o barco estar a partir; sensação momentânea
de haver duas pessoas dentro do s. p.; saudade que tem a ver
consigo próprio; quando partimos em direcção ao desconhecido,
temos saudades do que ficou para trás;
interroga-se sobre a saudade da outra pessoa, sobre aquele espaço e
tempo – sem pretender resposta, o s. p. conduz-se à reflexão;
o s. p. exalta todas estas pessoas ligadas á ideia de progresso;
exclamações ligadas á ideia de aumento da velocidade;
o navio simboiza a viagem – é o navio que permite chegar ao cais e
partir para outro; os homens da tripulação do navio fazem a ponte
enre nós e o desconhecido – chegaram a lugares onde o s. p. nunca
esteve; estes homens tiveram a coragem de se lançar ao mar e de
enfrentar a impossibilidade de alcançarem o seu objectivo;
passa-se do exterior, da realidade do navio, para o interior do s. p. –
sente-se no s. p. um certo desânimo, há qualquer coisa que fica por
fazer dentro do s. p.;
ritmo mais rápido com as interrogações; navio como símbolo da vida
do s. p. – o s. p. quer que a vida dele passe, pelo tédio e cansaço de
viver; o navio está a meio do rio – é algo que ele vê; depois torna-se
mais pequeno; à medida que se vai afastando, maior a angústia pois
não se domina; o não conseguir cumprir os seus objectivos provoca
no s. p. uma angústia; quando vê que a vida passa e não tem
objectivos fica triste também – melancolia – insatisfação do ser
humano

A “Ode Marítima” é uma espécie de reflexão do poeta feita a partir da


observação do navio cuja aproximação é lenta passando depois para
um acentuar do movimento e consequentemente do ritmo da escrita.
Através de frases interrogativas e exclamativas, o s. p. faz não só
referência à tripulação e às funções que exerce no navio como exalta
cada um destes elementos como constituintes importantes do todo.
Numa construção que remete para a circularidade, no final volta a um
ritmo lento que lhe permite a passagem do exterior para o interior,
para o mundo das emoções em que o s. p. identifica a viagem com a
sua própria vida e assume sentimentos de ambivalência que identifica
como sendo “alegre e triste” o momento simultâneo da chegada e da
partida.

Texto – p. 106

nada do poema está escrito ao acaso, apesar de aparentemente


haver um certo desleixo;
o movimento do navio, o amanhecer, remete para uma reflexão do s.
p., reflexão essa que nos habituamos a ver mais à noite;
movimento circular presente na forma do poema – o poema acaba da
mesma forma como começa;
sentimentos de uma certa duplicidade e conflito;
ambiguídade do porto de partida/porto de chegada.

“Esta velha angústia” – p. 111

A abulia e o tédio (intimismo):

Após a exaltação heróica e a obsessão dos mecanismos em fúria, cai


no desânimo e na frustração. Campos sente-se vazio, um marginal,
um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e
cansado – “O que há em mim é sobretudo cansaço...”. O abatimento
lembra o decadentismo que traduz a reflexão intimista e angustiada
de quem apenas sente o vazio depois da caminhada heróica – “Fui
em tempos poeta decadente; hoje creio que estou decadente e já o
não sou”.

Síntese da poesia de Álvaro de Campos

Características temáticas:

1ª fase:
expressão do tédio e do desencanto;
saturação da civilização moderna – revolta contra a ordem
estabelecida;
estilo confessional;
busca de novas sensações – “queria outro ópio mais forte”.

2ª fase:
sensacionismo – “sentir tudo de todas as maneiras”;
futurismo – exacerbamento da força, da energia, da civilização
mecânica, aniquilamento do passado, exaltação do presente e do
futuro;
atitudes sadomasoquistas;
erotismo doentio e febril.

3ª fase:
regresso ao abatimento, ao cansaço da vida;
tom introspectivo e reflexivo;
dor de ser lúcido;
a infância como paraíso perdido;
a fragmentação do “eu”.

Características formais:
versos e estrofes longas;
estilo torrencial e excessivo;
linguagem marcada por um tom excessivo e intenso: exclamações,
apóstrofes, enumerações, adjectivação abundante, anáforas,
interjeições, onomatopeias, aliterações, etc.
Publicada por Sílvia M em 23:45 0 comentários
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Fernando Pessoa – Alberto Caeiro


“O Guardador de Rebanhos” (p.63)

paradoxo; contrário daquilo que estavamos à espera dos poemas de


“O Guardador de Rebanhos”;
esta noção de guardar rebanhos é abstracta, mas o s. p. pretende
que seja concreta;
concretização daquilo que é abstracto;
está em harmonia, um equilíbrio perfeito entre a alma do s. p. e a
natureza; segue o ritmo da natureza, a olhar tudo aquilo que o rodeia
e que é a natureza;
ele exclui o elemento humano desta comunhão entre ele e a
natureza;
fala num sentimento (algo que não é visível) comparando-o com o
pôr-do-sol (algo visível, concreto);
esta tristeza é fruto da nossa imaginação -» intelectualização de
sentimentos
ele limita-se a ver e a sentir; revela adaptação do s. p. à natureza e
aos ciclos dela; ele está em paz com a natureza pois vive resignado
com os ciclos dela;
quando a alma começa a pensar e a ter noção dos sentimentos, esta
tristeza deixa de ser natural; o s. p. deixa de sentir a paz e sossego e
sente inquietação;
porque não são verdadeiramente pensamentos; são os elementos
que constituem o rebanho ® elementos da natureza;
a partir do momento em que o s. p. toma consciência de que os
sentimentos existem, tudo muda;
a consciência e o pensamento são sinónimos de dor.

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